PSICOTERAPIA BREVE INFANTIL: REVISÃO DA LITERATURA E DELINEAMENTO DE MODELOS DE INTERVENÇÃO

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    EncontroRevista de PsicologiaVol. XI, N. 16, Ano 2007

    Iran Tomiatto de Oliveira

    Universidade Presbiteriana Mackenzie

    [email protected]

    PSICOTERAPIA BREVE INFANTIL: REVISODA LITERATURA E DELINEAMENTO DEMODELOS DE INTERVENO

    BRIEF PSYCHOTHERAPY FOR CHILDREN:LECTURE REVIEW AND DELINEATION OF

    INTERVENTION MODELS

    RESUMO

    A psicoterapia breve infantil (PBI), aqui entendida como uma mo-

    dalidade de interveno teraputica com durao limitada e obje-tivos circunscritos, dirigida a crianas e pais, um importante re-curso para que se possa oferecer assistncia psicolgica a uma par-cela mais ampla da populao. Apesar disso, e de seu potencialpreventivo, tem sido alvo de um nmero restrito de estudos. Estetrabalho tem o objetivo de contribuir para seu desenvolvimento,oferecendo um panorama dos conhecimentos da rea, atravs deum levantamento e uma anlise crtica da evoluo histrica destamodalidade de interveno, desde 1942 at os dias de hoje. Propeainda o delineamento de modelos de trabalho em PBI, com o intui-to de organizar as contribuies de diferentes autores.

    Palavras-Chave: Psicoterapia breve infantil, psicoterapia da criana,psicoterapia breve, orientao de pais, modelos de psicoterapia breve.

    ABSTRACT

    Brief psychotherapy for children (BPC), here understood as a mo-dality of therapeutic intervention with limited duration and cir-cumscribed objectives, directed at children and parents, is an im-portant resource in the offering of psychological assistance to agreater part of the population. Despite this, and its preventive po-

    tential, it has been the object of a restricted number of studies. Thiswork aims at contributing to its development, offering an over-view of the knowledge in the area through a survey and criticalanalysis of the historical evolution of this modality of intervention,from 1942 to the present day. It also proposes the delineation ofmodels of BPC, with the intention of organizing the contributionsof different authors.

    Keywords: Brief psychotherapy for children, child psychotherapy, briefpsychotherapy, parents guidance, models of brief psychotherapy.

    Anhanguera Educacional S.A.

    Correspondncia/ContatoAlameda Maria Tereza, 2000Valinhos, So PauloCEP. [email protected]

    Coordenao

    Instituto de Pesquisas Aplicadas eDesenvolvimento Educacional - IPADE

    Artigo OriginalRecebido em: 12/03/2007Avaliado em: 20/03/2007

    Publicao: 27 de outubro de 2008

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    1. INTRODUO

    A psicoterapia breve tem sido reconhecida como um importante instrumento de traba-

    lho, do qual o profissional pode lanar mo sempre que necessitar realizar uma inter-

    veno psicoteraputica com objetivos circunscritos e durao limitada. Em vista disso,

    tem despertado grande interesse e sido objeto de um expressivo nmero de pesquisas

    e estudos em mbito nacional e internacional, no que se refere sua utilizao com a

    populao adulta. O mesmo no ocorre com a populao infantil. Apesar da relevncia

    do assunto, e da demanda por esse tipo de trabalho, a produo cientfica da rea tem

    se mostrado bastante restrita.

    Este artigo visa contribuir para o desenvolvimento dos conhecimentos sobre a

    psicoterapia breve infantil de abordagem psicodinmica, inicialmente tecendo um pa-norama das principais propostas desenvolvidas por autores norte-americanos, euro-

    peus e sul-americanos, desde o marco inicial, em 1942, at os dias de hoje. O objetivo

    no s descrev-las, mas realizar uma anlise crtica sobre sua evoluo histrica, iden-

    tificar influncias e contextualizar as diferentes propostas, para permitir uma melhor

    avaliao de seu significado. A partir desse panorama vamos propor o delineamento

    de modelos de trabalho em psicoterapia breve infantil, buscando uma melhor compre-

    enso e organizao do conhecimento da rea.

    2. ORIGEM E EVOLUO

    No tarefa fcil localizar a poca do incio da utilizao de psicoterapias breves com

    crianas, uma vez que vrios autores consideram que elas so uma tradio na psiquia-

    tria infantil, e mesmo no incio da psicanlise de crianas.

    No entanto, a primeira proposta referida na literatura que abordou especifi-

    camente a psicoterapia breve infantil (PBI) foi a de Allen (1942), um discpulo de Rank,

    este considerado um dos precursores mais importantes das psicoterapias breves de

    adultos. Allen (1942) se concentrou no significado da produo da criana no aqui-

    agora da relao teraputica, com o objetivo de ajud-la a suportar ligaes patolgicas

    com os pais e aceitar seu papel como um indivduo diferenciado.

    Este trabalho pioneiro reflete uma forte influncia de Rank (1929, apudMAR-

    MOR, 1979), especialmente em relao importncia dada questo da separao e da

    perda. relevante ainda observar que ele surgiu no mesmo perodo em que Alexander

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    e French (1956) estavam buscando desenvolver um modelo mais breve de psicoterapia

    para adultos. Estes estudos, levados a cabo no perodo de 1938 a 1945, so considera-

    dos um marco na histria das psicoterapias psicodinmicas breves (YOSHIDA, 1990).

    A proposta de Allen (1942) evidencia ainda que, j em seu nascedouro, a idia de um

    processo breve com crianas trouxe implcita uma preocupao com a relao entre es-

    tas e os pais, e considerou decisivo o trabalho com eles. Veremos posteriormente como

    essa idia se desenvolveu de diferentes maneiras.

    Em 1946, o prprio Rank (apud PROSKAUER, 1971) descreveu o caso de uma

    criana tratada em vinte sesses, utilizando intervenes relacionadas a um foco, in-

    centivando um relacionamento positivo com o terapeuta e encorajando-a para direes

    mais saudveis de desenvolvimento.

    Dez anos depois do livro pioneiro de Allen (1942), surgiu o trabalho de Arthur

    (1952), que descreveu um caso atendido por um perodo de seis meses. Percebe-se aqui

    claramente a influncia de Alexander e French (1956), principalmente quanto impor-

    tncia atribuda a um papel mais ativo por parte do terapeuta, que, segundo Arthur

    (1952), exige um alto grau de inventividade.

    Aps essa fase inicial, mais de quinze anos se passaram at que surgissem ou-

    tros trabalhos expressivos sobre o assunto na Amrica do Norte, mais especificamente

    nos Estados Unidos e Canad. O perodo mais profcuo no desenvolvimento de inter-

    venes breves com crianas se localiza entre o final de dcada de 60 e o incio da de

    70, especialmente devido a Mackay (1967), Lester (1967, 1968) e Proskauer (1969, 1971).

    Eles so os autores mais referidos por outros estudiosos do assunto, especialmente pe-

    los norte-americanos, embora cada um deles tenha escrito apenas um ou dois artigos a

    esse respeito, o que d tambm uma clara idia da escassez de trabalhos relacionados

    ao tema.

    Os anos seguintes se caracterizaram, especialmente nos Estados Unidos, pela

    preocupao principal em demonstrar a eficcia das psicoterapias, ou comparar os re-

    sultados de intervenes breves com os de psicoterapias de longa durao. clara, a-

    qui, a influncia de motivos de natureza poltica e econmica, e das agncias de segu-

    ro-sade, que exigiam comprovao da melhor relao custo-benefcio dos tratamen-

    tos. Estes trabalhos utilizaram-se predominantemente de metodologia quantitativa,

    mas muitos deles apresentam problemas conceituais e metodolgicos, com descries

    que no permitem uma compreenso clara sobre a forma como a psicoterapia foi de-senvolvida.

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    Por outro lado, vrias outras pesquisas desenvolvidas nesse perodo se propu-

    seram a trabalhar com amostras homogneas e a utilizar modelos de interveno deta-

    lhados, que pudessem ser reproduzidos, o que, como apontam Dulcan e Piercy (1985),

    criou situaes artificiais e dificultou que os resultados pudessem ser efetivamente uti-

    lizados nas situaes reais da clnica.

    Na dcada de 90, com as contribuies de Messer e Warren (MESSER &

    WARREN, 1995; WARREN & MESSER, 1999), encontramos novas idias na rea, na

    medida em que eles retomaram a discusso sobre a psicoterapia breve de crianas,

    buscando uma integrao entre as concepes psicodinmicas e as teorias do desen-

    volvimento infantil.

    Na Europa, os trabalhos sobre psicoterapia breve infantil seguiram um cami-

    nho um tanto diferente e, a nosso ver, pode-se falar verdadeiramente de uma escola,

    surgida a partir do marcante trabalho publicado por Cramer em 1974, na Sua. Este ar-

    tigo apresenta uma proposta discutida de forma aprofundada, que inclui um referenci-

    al terico, a exposio detalhada da tcnica e da teoria da tcnica, e deu incio a uma

    srie de outros, com a colaborao de uma equipe que se denomina Grupo de Genebra,

    particularmente atuante durante a dcada de 80. Este grupo inclui autores como Pala-

    cio-Espasa e Manzano (PALACIO-ESPASA, 1984; PALACIO-ESPASA, & MANZANO,

    1982; PALACIO-ESPASA, & MANZANO, 1987), e influenciou fortemente outros auto-res, como Macias (1987).

    A caracterstica principal do Grupo de Genebra colocar no foco central da

    compreenso do caso e da interveno a relao pais-criana, considerando tambm a

    transmisso transgeracional. Trabalharam especialmente com crianas em idade pr-

    escolar, com nfase na preveno. Esta nfase fez com que o grupo se dirigisse a popu-

    laes cada vez mais novas, a ponto de, na dcada de 90, terem se voltado totalmente

    para a psicoterapia me-beb.

    Uma reviso histrica permite observar o abismo que se instalou entre os au-

    tores norte-americanos e os europeus, no havendo quase referncias ou citaes, nas

    publicaes de uns, das publicaes dos outros. Contribui para modificar este panora-

    ma o grupo de Muratori (MURATORI & MAESTRO, 1995; MURATORI, CASELLA,

    TANCREDI, MILONE, & PATANELLO, 2002), que desenvolve seu trabalho na Uni-

    versidade de Pisa, na Itlia, no s sob a influncia mas, especialmente no incio, sob a

    superviso direta de Palacio-Espasa, um dos membros do Grupo de Genebra. A impor-tncia do grupo italiano est no s em ter finalmente iniciado uma integrao dos co-

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    nhecimentos dos dois continentes, mas em ter ampliado a aplicao da tcnica desen-

    volvida em Genebra para outras faixas etrias, incluindo crianas em idade escolar e

    pr-adolescentes. A ampliao da faixa etria atendida tem grande relevncia em nos-

    so meio, no qual, como se sabe, a maior parte das crianas que procura ajuda psicolgi-

    ca est em idade escolar (OLIVEIRA, 1999a).

    A Amrica do Sul, com Aberastury, tambm ofereceu sua contribuio pionei-

    ra na rea. Em 195, Aberastury iniciou uma aproximao com a odontopediatria,

    quando foi solicitada a escrever um artigo para a Revista da Associao Odontolgica

    Argentina (ABERASTURY de PICHON-RIVIRE, 1951). A partir da, desenvolveu

    uma tcnica que denominou psicoterapia analtica com fins e tempo determinado,

    utilizada pelo grupo de trabalho que se reunia em torno da autora, o que resultou no

    livro El psicoanalisis de nios y sus aplicaciones, compilado por Aberastury, em 1972.

    Sob sua influncia, Knobel (1969; 1977) props sua psicoterapia de tempo e

    objetivos limitados, para tratar, com o que considera uma melhor adequao reali-

    dade, certo tipo de fenmenos, determinado tipo de processos, com a maior economia

    de tempo possvel (1977, p. 232, grifos do autor).

    No Brasil, a partir de 1989, um grupo de profissionais congregados no Ncleo

    de Estudos e Pesquisas em Psicoterapia Breve, do qual a autora fez parte e que mante-

    ve suas atividades at o ano 2000, dedicou-se ao estudo, pesquisa, ao atendimento

    clnico e formao de profissionais na rea da psicoterapia breve infantil de orienta-

    o psicodinmica. Tomando como referncia a escassa bibliografia disponvel na po-

    ca sobre o assunto e a experincia clnica privada e institucional dos membros do gru-

    po, foram elaboradas algumas propostas adaptadas realidade brasileira, descritas em

    artigos e captulos de livros publicados (Mito, 1996, 2001; Mito; Yoshida, 2004; Oliveira,

    2001, 2002a, 2002b; Oliveira; Mito, 1997).

    3. PRINCIPAIS PROPOSTAS DE PSICOTERAPIA BREVE COM CRIANAS

    Vamos a seguir apresentar os aspectos principais das propostas desenvolvidas por di-

    ferentes autores, que consideramos estar entre as mais relevantes sobre o assunto, e

    posteriormente estabelecer comparaes entre elas. Sero considerados os trabalhos

    surgidos a partir do final da dcada de 60, quando a produo se tornou mais significa-

    tiva e contnua, realizados com crianas, e no com bebs (que no so aqui nosso alvo

    de ateno), a partir de um referencial psicodinmico, de forma individual.

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    3.1. Os autores norte-americanos

    Jacques Mackay

    Este autor ressalta a importncia da busca de uma melhor compreenso do processo

    teraputico e de como ele opera, e de se levar em conta, na avaliao de resultados, o

    indivduo como um todo, e no apenas a remisso de sintomas, que pode ocorrer s

    custas do fortalecimento de defesas patolgicas.

    Baseia-se no conceito de experincia emocional corretiva de Alexander e

    French (1956), o qual considera o fator teraputico bsico de qualquer forma de psico-

    terapia, que permite modificar as caractersticas da relao de objeto.

    Enfatiza as evidncias tericas e clnicas da maior plasticidade da criana pararesponder positivamente interveno teraputica, e de sua maior permeabilidade s

    influncias do meio, o que pode significar maior capacidade de internalizar bons obje-

    tos, se estes estiverem disponveis, e, portanto, maior impacto da atitude de aceitao

    por parte do terapeuta. O fato de elas serem mais dependentes dos pais pode tambm

    ser utilizado como um instrumento de trabalho, na medida em que mudanas nas ati-

    tudes dos pais podem resultar em melhoras surpreendentes na criana. Por isso, atri-

    bui especial importncia interveno sobre as atitudes parentais patognicas.

    O atendimento se inicia com um psicodiagnstico que visa uma formulao

    dinmica clara do problema bsico do paciente, e com o estabelecimento de um foco

    sobre o conflito especfico mais provvel de ser modificado no tratamento, ao lado de

    um foco similar sobre as atitudes patognicas dos pais e a avaliao de sua acessibili-

    dade a mudanas. A durao do processo psicoterpico varia de uma a 30 sesses se-

    manais, de acordo com o caso, com um nmero mdio de 6 a 12 sesses. A forma do

    atendimento tambm decidida de acordo com o caso, sendo que os pais podem ser

    atendidos pelo mesmo terapeuta, em conjunto com a criana ou separadamente, ou por

    um socialworker. Sua tcnica sugere a interpretao precoce e sistemtica, para a crian-

    a, do conflito emocional central, em suas manifestaes mais acessveis, inteligveis e

    tolerveis, visando fazer da parte sadia do ego do paciente um aliado dos esforos do

    terapeuta.

    A importncia das contribuies de Mackay, a nosso ver, se relaciona princi-

    palmente com sua viso mais abrangente e aprofundada do processo, que leva em con-

    ta a totalidade do indivduo, e importncia que atribui relao teraputica. Alm

    disso, discute a relevncia de se pensar a psicoterapia breve no como um mtodo para

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    resolver problemas imediatos, como a demanda elevada, mas de se avaliar seu efetivo

    papel como um instrumento teraputico, de aplicao flexvel, como indicao princi-

    pal ou paliativa, e tambm com contra-indicaes especficas.

    A tcnica utilizada com a criana, muito semelhante da psicanlise clssica,

    privilegia as interpretaes transferenciais e a anlise de material inconsciente, o que

    tambm uma caracterstica das propostas desenvolvidas com adultos nessa mesma -

    poca (YOSHIDA, 2004).

    Eva P. Lester

    Esta autora, que desenvolveu seu trabalho no Canad, considera que a psicoterapia

    breve uma forma especfica de interveno, caracterizada principalmente por ter ob-

    jetivos limitados e bem definidos (LESTER, 1967, 1968). Como na psicanlise, a inter-

    pretao o principal agente teraputico, mas a atitude do terapeuta mais ativa e ele

    se utiliza tambm de outros tipos de interveno.

    A partir da concepo de que a maioria, seno todos os distrbios infantis re-

    presentam desvios do desenvolvimento normal causados por falta de suprimento ex-

    terno vital, por interferncia externa no impulso normal da criana para se adaptar e

    dominar seu ambiente, por limitaes internas da prpria criana para o crescimento

    normal ou por uma combinao desses fatores, ressalta que uma interveno breve

    mas apropriada, e realizada no momento adequado, pode reverter os desvios do curso

    normal e abrir caminho para o progresso posterior.

    Em termos tcnicos, o trabalho dividido em quatro estgios (a diviso, se-

    gundo a autora, artificial e tem finalidade didtica): o primeiro contato, o diagnsti-

    co, a fase teraputica propriamente dita e o trmino. Deve haver uma preocupao,

    desde o incio, com o estabelecimento de uma aliana teraputica, e tambm desde o

    incio deve ficar clara a natureza interpretativa do tratamento. A partir de uma formu-

    lao diagnstica, e feita a indicao para a psicoterapia breve, o mesmo terapeuta se

    encarrega da criana e dos pais, em sesses conjuntas ou separadas. A intensidade do

    envolvimento dos pais no processo depende da idade da criana e da natureza do pro-

    blema, sendo mais alta em crianas pequenas e com sintomas reativos. Com eles, vale-

    se principalmente de clarificao, explicao, direo e re-educao, e menos de inter-

    pretao.

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    Esta proposta dirigida a crianas cujo estado global de desenvolvimento no

    esteja seriamente prejudicado, com famlias suficientemente flexveis para mudar e se

    acomodar s mudanas da criana.

    A no ser pelo estabelecimento de objetivos limitados e pela maior atividade

    do terapeuta, esta proposta muito prxima da psicanlise de crianas, inclusive com

    a utilizao de interpretaes transferenciais. No caso dos pais, no entanto, embora

    Lester indique a importncia de relacionar suas dificuldades com os sintomas da crian-

    a, parece propor mais uma orientao e uma re-educao.

    Stephen Proskauer

    Este autor, influenciado por James Mann (1973), publicou dois importantes artigos so-

    bre PBI entre o final da dcada de 60 e o incio da de 70 (PROSKAUER, 1969, 1971). Sua

    Psicoterapia Focal de Tempo Limitado com Crianas realizada em um total de 6 a 20

    horas, distribudas num perodo de 2 a 6 meses, focalizado desde o incio numa ques-

    to especfica, com data de trmino estabelecida e explicitada tambm desde o incio

    para os pais e para a criana. Para o autor, isto fundamental para colocar em foco o

    problema crucial da separao e perda, da mesma forma que preconizava Mann (1973),

    seguindo Rank (1929 apudMARMOR, 1979).

    O processo teraputico pode ser dividido em trs fases. A primeira fase obje-

    tiva a formao de uma aliana teraputica atravs da busca de uma forma de comuni-

    cao aceitvel para a criana e da definio mtua de um foco, que inclui aspectos

    centrais que demandam ateno e podem ser trabalhados, pelo menos parcialmente,

    no tempo disponvel. Na segunda fase, de interveno teraputica propriamente dita, o

    objetivo facilitar mudanas numa rea limitada de funcionamento. O terapeuta deve

    guiar-se pelo foco escolhido e, a partir de uma compreenso de tantos significados ine-

    rentes ao material simblico quanto for possvel, selecionar a que dar nfase, e dirigirsuas intervenes para objetivos realistas. A compreenso dinmica utilizada para

    auxili-lo a estruturar uma relao de ajuda com a criana. A terceira fase a de trmi-

    no, e visa a estabilizao dos ganhos conquistados. Quanto maior a dificuldade do pa-

    ciente com a constncia de objeto, mais tempo e esforo precisa ser despendido com

    esse trabalho.

    O follow-up considerado como um segundo estgio essencial do processo.

    Entrevistas feitas em intervalos de 3 a 6 meses permitem acompanhar a evoluo, rea-

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    lizar novas intervenes, se necessrio, e re-assegurar a criana do interesse do tera-

    peuta.

    Proskauer no se detm na anlise da participao dos pais, embora afirme

    que eles tm influncia importante nos resultados da maioria das psicoterapias infan-

    tis.

    A nosso ver, as contribuies deste autor ao tema so extremamente relevan-

    tes porque ele discute com profundidade vrios aspectos da tcnica, com uma preocu-

    pao especialmente centrada na relao que se estabelece com a criana, respeitando

    suas possibilidades de comunicao e enfatizando os aspectos positivos de seu funcio-

    namento psquico e de seu comportamento. No faz apenas uma transposio das tc-

    nicas breves utilizadas com adultos, nem da psicanlise infantil. Modifica a forma das

    intervenes, tirando do lugar central as interpretaes, especialmente as transferenci-

    ais, e levando em conta a importncia da comunicao simblica com a criana, dando

    mais importncia ao que vivido na relao do que ao que verbalizado. Alm disso,

    fornece relevantes orientaes para o trabalho com pacientes institucionalizados, o que

    extremamente raro entre os autores da rea.

    Stanley B. Messer e C. Seth Warren

    Estes autores chamam a ateno para a fragilidade da ligao histrica entre psicotera-

    pia e teorias do desenvolvimento na prtica da psicoterapia psicodinmica breve, e pa-

    ra a ausncia de pesquisa e teoria clnica sobre a PBI.

    Os conhecimentos sobre o desenvolvimento acrescentam contribuies impor-

    tantes ao campo das psicoterapias breves, uma vez que podem sugerir focos teraputi-

    cos localizados em momentos especficos, e os problemas podem ser identificados no

    somente em termos de estruturas da personalidade e de sintomas, mas tambm em

    termos de falhas para enfrentar os desafios determinados pelo curso do desenvolvi-

    mento. Isto adiciona outra dimenso teoria psicodinmica e enriquece a abordagem

    teraputica.

    Partindo deste ponto de vista, sugerem que a formulao de um foco terapu-

    tico se apie sobre o desafio desenvolvimental esperado, que ento compreendido no

    contexto particular de cada paciente. O problema definido em termos de uma falha

    adaptativa, usualmente em face de novas demandas que surgem a partir da situao

    de vida do paciente, acidentais ou resultantes do prprio processo de desenvolvimen-to. A interveno visa reduzir ou eliminar a distncia entre os recursos adaptativos e as

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    Leva em conta o conceito de crise e a pr-transferncia positiva que ela tende

    a potencializar, favorecendo que intervenes breves, nessas situaes, sejam no s

    bem toleradas, mas tenham seus efeitos amplificados. Assim, prope que a interveno

    seja o mais precoce possvel, a partir de uma identificao do ndulo do conflito ou da

    angstia central, que deve ocorrer, de preferncia, desde a primeira sesso.

    Sua tcnica aplica-se, sobretudo, a casos de perturbaes no desenvolvimento,

    que esto no limite entre as perturbaes reativas e as neuroses; pode ser utilizada com

    casos mais graves e crnicos, mas apenas com objetivos circunscritos, ligados a agra-

    vamentos sbitos ou apario de novos sintomas.

    O autor desenvolve um referencial terico alicerado especialmente nas con-

    cepes de Mahler (1982) sobre a simbiose primria e o processo de separao-

    individuao, e nas de Winnicott (1978) sobre o caminho da dependncia absoluta

    independncia relativa. Estuda as caractersticas especficas da relao pais-criana (e,

    em especial, da relao me-criana), dentro da qual se constitui o indivduo, num pro-

    cesso que leva da fuso primria a uma diferenciao progressiva. Quando, durante o

    processo de desenvolvimento da criana, seus conflitos em determinada fase so parti-

    cularmente ansigenos para os pais, ocorre nestes uma regresso, com des-

    diferenciao parcial do self, que favorece as projees e identificaes macias. O obje-

    to da interveno teraputica , ento, o que denomina rea de mutualidade psqui-ca, uma rea comum e indiferenciada entre os pais e a criana, fruto das projees e

    identificaes recprocas, e busca-se a origem gentica do conflito, que est na relao

    dos pais com seus prprios pais. A terapia visa restabelecer os limites entre o selfda

    criana e o do genitor, permitindo a retomada do processo de individuao.

    Em relao tcnica, assume desde o incio uma postura teraputica e inter-

    pretativa, para testar a capacidade de mudana dos pais, e decide a indicao terapu-

    tica j durante a primeira entrevista, que realizada em conjunto com os pais e a crian-a. A partir da, e de acordo com as caractersticas do caso, vai estabelecendo quem de-

    ve ser atendido em cada sesso: a criana e os pais, um dos pais, o casal ou a criana

    sozinha. De qualquer forma, as intervenes sero sempre dirigidas interao psqui-

    ca pais-criana, e no aos fenmenos intrapsquicos. O nmero de sesses estabeleci-

    do a partir do desenvolvimento do processo (em mdia, de 3 a 10). O autor no parece

    dar ateno especial fase de trmino, embora ressalte que preciso estar consciente

    de seus efeitos.

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    Psicoterapia breve infantil: Reviso da literatura e delineamento de modelos de interveno

    Encontro: Revista de Psicologia Vol. XI, N. 16, Ano 2007 p. 49-74

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    Na dcada de 80, Cramer e os outros membros do Grupo de Genebra, especi-

    almente Palcio-Espasa e Manzano, publicaram diversos outros trabalhos, seguindo

    essas mesmas direes bsicas (PALACIO-ESPASA, 1981, 1984; PALACIO-ESPASA;

    CRAMER, 1989; PALACIO-ESPASA; MANZANO, 1982, 1987). O trabalho desses auto-

    res, no entanto, seguindo sua nfase preventiva, foi se dirigindo a crianas cada vez

    mais novas, at que se concentrou totalmente na psicoterapia me-beb. Na dcada de

    90 publicaram dois livros traduzidos para o portugus: Tcnicas psicoterpicas me-

    beb (CRAMER; PALACIO-ESPASA, 1993) e Segredos femininos: de me para filha

    (CRAMER, 1997), um emocionante trabalho que aborda especificamente a transmisso

    das heranas psquicas atravs das geraes.

    Tambm na dcada de 90, Manzano e Palacio-Espasa (1993) relatam que am-

    pliaram seu trabalho de psicoterapia breve para crianas de todas as idades, incluindoos adolescentes, utilizando os mesmos princpios tericos e tcnicos. A diferena que

    as projees mtuas entre pais e crianas mais velhas abarcam aspectos do conflito e-

    dpico. A tcnica de trabalho inclui atendimentos conjuntos, que visam permitir que os

    pais e a criana tomem conscincia do conflito que engendram uns nos outros, e que se

    auto-alimenta em um crculo vicioso.

    O trabalho do grupo apresenta muitos pontos importantes a serem ressalta-

    dos: a coerncia e o aprofundamento de seu embasamento terico, a preocupao emdetalhar a tcnica e em fundament-la, o cuidadoso e contnuo trabalho de pesquisa.

    Os limites de sua utilizao residem principalmente no fato de que exige formao psi-

    canaltica e terapeutas com grande experincia clnica para que possa ser realizado da

    forma como proposto; alm disso, dirige-se principalmente a crianas muito peque-

    nas ou em idade pr-escolar, em especial quelas em que as dificuldades so princi-

    palmente reativas, e que podem se beneficiar de uma mudana na dinmica do rela-

    cionamento familiar, e cujos pais sejam permeveis a essa mudana. Nossa experinciamostra que, em nosso meio, estes casos representam a minoria dos que buscam aten-

    dimento psicolgico.

    O grupo italiano: Filippo Muratori e colaboradores

    Este grupo desenvolveu sua proposta de psicoterapia breve a partir do modelo da Es-

    cola de Genebra (MURATORI; MAESTRO, 1995). Justifica sua adoo a partir das pes-

    quisas sobre psicoterapia infantil, especialmente as de meta-anlise, como os de Target

    e Fonagy (1994), que tm demonstrado que a psicoterapia infantil tem resultados posi-

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    Iran Tomiatto de Oliveira

    Encontro: Revista de Psicologia Vol. XI, N. 16, Ano 2007 p. 49-74

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    tivos, que a melhora maior quando a criana tem menos de 11 anos, quando tem um

    conjunto circunscrito de sintomas ligados a um conflito internalizado central, quando

    h tratamento simultneo dos pais, e que a amplitude dos resultados no est ligada

    maior durao ou intensidade do tratamento. No entanto, ressaltam que h poucos es-

    tudos sobre o processo psicoterpico, mostrando o que os terapeutas realmente fazem,

    e sobre que aspectos do tratamento so significativos para a obteno de resultados

    positivos.

    Seu trabalho realizado em contexto clnico naturalista, com crianas de 6 a 11

    anos, com desordens emocionais caracterizadas por ansiedade ou depresso, sem as

    caractersticas de uma sndrome especfica. O objetivo elucidar um tema conflituoso

    central que, durante a infncia, repousa na interao da criana com os pais. nesse

    contexto que o terapeuta trabalha, destacando este tema e elucidando suas relaescom os sintomas da criana e com o mundo representacional dos pais. Uma vez que

    consideram que os sintomas infantis freqentemente tm uma dupla funo expres-

    sar tanto a dinmica individual quanto a familiar -, a presena da criana e dos pais

    necessria, pois permite ao terapeuta atuar sobre eles e sobre suas interaes sintom-

    ticas. Diferentemente da Escola de Genebra, acrescentam como rotina sesses indivi-

    duais com a criana, pois, uma vez que trabalham com pacientes na fase de latncia,

    preciso considerar que h maior internalizao do conflito, e que os temas conflituososcompartilhados tm uma elaborao pessoal da criana que precisa ser trabalhada.

    O processo composto por 3 fases, e dura cerca de 4 meses. So realizadas 5

    sesses com a famlia, focalizadas no conflito transgeracional, 5 sesses com a criana,

    com o mesmo terapeuta, com foco na percepo que ela tem do problema e em seu es-

    tilo defensivo, e uma sesso final com a famlia, para voltar a apontar o tema conflituo-

    so central, sua relao com o sintoma da criana e com as representaes dos pais.

    Ressaltando a dificuldade de encontrar instrumentos adequados para avaliaros resultados e para interpret-los, os autores afirmam que suas pesquisas indicam que

    a terapia efetiva para acelerar o processo de reduo dos sintomas, e que esta reduo

    implica numa melhora do funcionamento global da criana. Indicam ainda que as mu-

    danas ocorrem primeiro na interao pais-criana e, s aps um perodo de tempo, no

    comportamento da criana.

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    Encontro: Revista de Psicologia Vol. XI, N. 16, Ano 2007 p. 49-74

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    3.3. Os autores sul-americanos

    Arminda Aberastury

    A autora prope o que denomina psicoterapia analtica com fins e tempo determina-

    dos (ABERASTURY, 1972), para ser utilizada em situaes especficas, especialmente

    as emergenciais e agudas, como preparao para cirurgias, adoo, separao dos pais

    ou migrao. O objetivo a cura sintomtica ou a soluo de um conflito determinado,

    e no a cura de conflitos psicolgicos profundos ou a modificao de estruturas men-

    tais. A estratgia inclui dar criana e aos pais toda a informao referente situao e

    trabalhar com os emergentes que surgirem, utilizando a interpretao, adaptada aos

    limites de uma psicoterapia breve. O atendimento realizado individualmente com a

    criana, e individualmente ou em grupo com os pais.

    Na verdade, esta no exatamente uma proposta de psicoterapia breve, mas

    de aplicao, em situaes especficas, da psicoterapia analtica modificada. Assim, no

    h uma descrio detalhada do modelo de trabalho, mas orientaes gerais, alm do

    relato de casos clnicos, que podem ajudar a compreender melhor como se d o proces-

    so. No entanto, decidimos inclu-la aqui por sua relevncia, tanto em termos de pionei-

    rismo, em especial na Amrica do Sul, quanto pela influncia que exerceu sobre outros

    autores importantes, como Knobel.

    A proposta de Aberastury (1972) continua gerando frutos at hoje, no expres-

    sivo crescimento da psicologia aplicada rea da sade, incluindo a psicologia hospi-

    talar. Apenas para citar alguns exemplos de trabalhos desenvolvidos em nosso meio,

    voltados para o atendimento de crianas hospitalizadas, temos o de Silveira e Outeiral

    (1998), descrevendo atendimento pr-cirrgico, e o de Trinca (2003), que utilizou o

    Procedimento de Desenhos-Estrias como instrumento de comunicao, em atendi-

    mentos psicolgicos breves a crianas que aguardavam procedimentos cirrgicos.

    Maurcio Knobel

    A Psicoterapia de Tempo e Objetivos Limitados visa tratar certos tipos de fenmenos

    com a maior economia de tempo possvel e a melhor adequao realidade. O traba-

    lho dirigido a um foco, atravs de interpretaes parciais e ateno seletiva. Evita-se

    deliberadamente a regresso e a neurose de transferncia (KNOBEL, 1997), sendo que

    a transferncia utilizada para compreender o paciente e ajud-lo a discriminar a con-fuso que dela resulta, diluindo-a no aqui e agora de sua vida. A elaborao se baseia

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    Encontro: Revista de Psicologia Vol. XI, N. 16, Ano 2007 p. 49-74

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    em insightscom maior participao cognitiva do que afetiva (compreenso de um con-

    flito e de suas causas), e as intervenes visam mudar a informao falsa para informa-

    o verdadeira, o que leva, segundo o autor, mudana parcial nos objetos e vnculos

    objetais alterados pela distoro cognitiva. O nmero de sesses deve ser fixado previ-

    amente, e no deve exceder 12 ou 14.

    O atendimento aos pais considerado fundamental, especialmente em virtude

    da dependncia da criana. De acordo com o caso pode ser uma orientao teraputica,

    ou uma psicoterapia, realizada concomitantemente, em conjunto ou mesmo em substi-

    tuio psicoterapia da criana. Se isto no for levado em conta e os pais no estive-

    rem preparados para as mudanas que o processo ocasionar na criana, sua ao pato-

    gnica ser reforada.

    4. NCLEO DE ESTUDOS E PESQUISA EM PSICOTERAPIA BREVE (NEPPB),NO BRASIL: IRAN TOMIATTO DE OLIVEIRA E TEREZA I. HATAE MITO

    O trabalho do NEPPB desenvolveu-se em So Paulo, a partir do interesse de seus

    membros em pesquisar tcnicas de psicoterapia breve adaptadas realidade brasileira

    (YOSHIDA; ENAS, 2004). O grupo, que se reuniu em 1987, voltou-se inicialmente pa-

    ra o atendimento de adultos, mas a demanda por assistncia a crianas deu incio s

    tentativas de desenvolver uma proposta de trabalho para essa populao. Com esse

    objetivo, a autora uniu-se ao grupo em 1989. Logo de incio, ficaram evidentes as difi-

    culdades envolvidas nessa tarefa: a ausncia de referncias na bibliografia, a comple-

    xidade oriunda das condies tpicas da infncia, como a dependncia da criana, que

    gera a necessidade de envolver os pais no processo, e a variedade de faixas etrias e

    nveis de desenvolvimento.

    A forma de trabalho que aos poucos foi sendo desenvolvida e pesquisada re-

    sulta de uma sntese da influncia de vrios autores, especialmente do Grupo de Ge-

    nebra e de Proskauer, que, associada experincia clnica dos profissionais envolvidos,

    resultou numa proposta adaptada nossa populao e s condies de nosso meio. O

    conceito de rea de mutualidade psquica, de Cramer (1974), representou um marco

    importante, pois permite enfocar de incio os pais como parte do processo, integrando-

    os na compreenso dinmica do caso e abrindo novas possibilidades de interveno. O

    trabalho desse autor, no entanto, dirige-se a crianas pequenas, especialmente quelas

    com idade entre 3 e 6 anos, e, tambm por isso, sua nfase principal dada ao atendi-mento dos pais. Isto contrasta com nossa populao clnica, constituda especialmente

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    por crianas mais velhas, em idade escolar, que necessitam de um trabalho que leve

    em conta, de maneira mais significativa, sua prpria organizao psquica e sua manei-

    ra pessoal de organizar as influncias que recebe do ambiente familiar. Nesse sentido

    foram extremamente relevantes para o desenvolvimento de nosso trabalho as idias de

    Proskauer (1971), que aborda mais detalhadamente o processo com a criana, dando

    nfase busca de uma forma possvel de comunicao e ao estabelecimento de uma re-

    lao com o terapeuta, que possa ser utilizada por ela como um modelo de relao po-

    sitiva.

    Assim, o trabalho que desenvolvemos, de certa forma, se aproxima do que

    posteriormente foi elaborado por Muratori e pelo grupo italiano (MURATORI et al.,

    2002), que adaptou a proposta do Grupo de Genebra para crianas mais velhas, consi-

    derando que, com elas, preciso levar em conta que h maior internalizao do confli-to, e que preciso trabalhar a elaborao pessoal que a criana j fez dos temas confli-

    tuosos compartilhados. A diferena que estes autores organizaram um modelo de a-

    tendimento que tem pr-determinado o nmero de sesses e a seqncia em que so

    atendidos os pais e a criana, visando maior uniformizao do processo para fins de

    pesquisa, enquanto nosso modelo mais flexvel, e procura se adaptar s caractersti-

    cas de cada caso em particular, e s condies em que o trabalho realizado.

    Embora ele tenha sido desenvolvido em grupo, cada um dos profissionais en-volvidos guarda suas prprias especificidades, fruto, entre outros aspectos, de sua

    prpria experincia, de suas caractersticas pessoais e, em conseqncia, de seu prprio

    olhar clnico e de sua forma de atuao. O que ser aqui apresentado uma proposta

    norteada pelas especificidades do trabalho da autora.

    Inicia-se com uma avaliao diagnstica breve, mas cuidadosa, buscando co-

    nhecer o funcionamento psquico da criana, seu desenvolvimento, as caractersticas

    dos pais e das relaes familiares. Nesta fase, o objetivo que os pais no apenas for-neam informaes sobre a criana e sua histria, mas sejam envolvidos no processo e

    revejam sua prpria histria.

    A partir dessa avaliao, decide-se se o caso demonstra condies de se bene-

    ficiar de um atendimento breve. No utilizamos propriamente critrios de indicao,

    mas critrios de excluso, para os casos em que no se percebe possibilidades de bene-

    fcio, ou nos quais se evidencia a existncia de riscos iatrognicos significativos (Olivei-

    ra, 2002a). As concluses diagnsticas tm o objetivo principal de alicerar um plane-jamento teraputico que leve em conta as caractersticas do caso (que inclui criana e

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    Encontro: Revista de Psicologia Vol. XI, N. 16, Ano 2007 p. 49-74

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    pais), suas necessidades e possibilidades, alm das possibilidades do terapeuta e do

    contexto de atendimento. A idia no ter um plano rgido de trabalho, mas estabele-

    cer parmetros compatveis com a situao, em relao s reas conflitivas com maio-

    res necessidades e possibilidades de serem trabalhadas, aos tipos de interveno mais

    adequados, a quem ser atendido e com que freqncia, e durao do processo.

    A fase teraputica propriamente dita inclui intervenes flexveis e adaptadas

    s caractersticas do caso. Com os pais trabalha-se especialmente sua forma de vivenci-

    ar esse papel, suas expectativas em relao criana e a ligao entre essas expectati-

    vas e aspectos de seu passado, buscando-se maior diferenciao e discriminao de i-

    dentidades. Com a criana, dependendo do caso, so trabalhados conflitos especficos,

    a construo de uma relao positiva que possa servir como um novo modelo, a ex-

    presso de afetos e emoes, a auto-imagem, sempre respeitando suas possibilidadesde comunicao e a importncia da experincia vivida na relao teraputica, e da

    brincadeira expressiva. Os focos do processo dos pais e do processo da criana so pa-

    ralelos e complementares.

    D-se especial ateno fase de trmino, que vivida pelos pacientes de a-

    cordo com sua histria de perdas e com as possibilidades que tiveram de elabor-las.

    Considera-se que importante trabalhar os sentimentos ambivalentes que surgem nes-

    sa fase, evitando que o encerramento seja vivido como um abandono, o que compro-meteria os resultados alcanados. Sempre que possvel, desejvel realizar entrevistas

    de follow-up, que permitem aos pais e criana se re-assegurar do interesse do tera-

    peuta e da possibilidade de contar com uma ajuda disponvel, se sentirem necessidade.

    Alm disso, permite ao terapeuta intervir precocemente se surgirem novas dificulda-

    des, e avaliar o trabalho realizado e a manuteno dos resultados alcanados.

    Com a finalidade de facilitar a compreenso e a comparao, a Tabela 1 sinte-

    tiza as principais idias dos diferentes autores citados, em relao a alguns dos aspec-tos abordados nos diferentes modelos de trabalho.

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    Tabela 1. Principais aspectos das propostas de PBI de diferentes autores ou grupos de autores.

    Foco Objetivos Estratgias Pais Nmero

    de sesses

    Forma de

    atendimento

    Mackay Conflito especfi-co mais provvelde ser modifica-do; atitudesparentais patog-nicas

    Modificar rela-es de objeto eimagens paren-tais

    Interpretao pre-coce e sistemticadas manifestaesmais acessveis doconflito emocionalcentral.

    Interveno sobreatitudes patogni-cas

    Mdia de 6 a12

    Separada ouconjunta, com omesmo terapeutaou no

    Lester Padres de com-portamento ina-dequados (re-gresses ou ini-bies)

    Desenvolvimentodo auto-conhecimento eamenizar oueliminar sintomasdesadaptativos

    Principalmenteinterpretao, aolado de outras for-mas de interveno.

    Clarificao,explicao, orien-tao e re-educao

    Separada ouconjunta, com omesmo terapeuta

    Proskauer Aspectos centraisque possam sertrabalhados notempo disponvel

    Facilitar mudan-as numa readelimitada

    Estruturar umarelao de ajuda(aliana teraputi-ca) atravs da co-municao verbal

    ou simblica. Aten-o especial sepa-rao.

    Foco em suaprpria patologiae/ou sua relaocom a criana

    Mdia de 6 a20

    No deixa claro,mas d a enten-der que a criana atendida indi-vidualmente

    Messer eWarren

    Falhas adaptati-vas frente sdemandas situa-cionais, no con-texto dinmico erelacional

    Reduzir ou eli-minar a distnciaentre os recursosadaptativos e asdemandas situa-cionais

    Continncia doterapeuta parapossibilitar ativida-de criativa e expres-so de afetos eemoes.

    Envolvimentodireto como alia-dos no trabalho

    Depende docaso e dascondiesreais

    Separada ouconjunta

    Grupo deGenebra

    rea de conflitomtuo

    Restabelecer oslimites entre oselfda criana eo dos pais, propi-ciando a retoma-

    da do curso dodesenvolvimento

    Interpretaes diri-gidas relaopais-criana, suarelao com a hist-ria dos pais e outros

    tipos de interven-o.

    Intervenesdirigidas relaocom a criana e relao entre asituao atual e o

    passado dos pais

    Mdia de 8 a10

    Flexvel, de acor-do com o desen-rolar do processo,mesmo terapeuta

    Muratori ecols.

    Conflito atual esua relao como conflito trans-geracional

    Elucidar um temaconflituoso cen-tral da relao

    pais-criana, sualigao com ossintomas e repre-sentaes mtuas

    Interpretao dotema conflituosocentral e de suarelao com sinto-mas e com mundorepresentacional, eoutros tipos deinterveno.

    Elucidar o confli-to atual e suarelao com oconflito transgera-cional

    No mximo11 (entrecriana e pais)

    Sesses conjun-tas e s com acriana, mesmoterapeuta

    Aberastury Conflito emsituao especfi-ca, especialmenteemergencial e

    aguda

    Cura sintomticaou resoluo deum conflito de-terminado

    Fornecer informa-es sobre a situa-o vivida e traba-lhar com emergen-

    tes atravs da inter-pretao adaptada P.B.

    Informao sobrea situao atual einterpretao

    Criana indivi-dualmente, paisindividual-menteou em grupo

    Knobel Situaes emer-genciais ou pro-blemas psiqui-tricos diversos(no especifica)

    Favorecer o plenoexerccio das

    potencialidades eo desenvolvimen-to do processoevolutivo

    Interpretaes par-ciais que evitemregresso, transfor-mar informaofalsa em verdadeira

    Orientao tera-putica, acompa-nha-mento tera-putico ou psico-terapia

    Separada, con-junta, s pais oupsicoterapiafamiliar

    Oliveira reas conflitivascom maioresnecessidades/possibilidades deserem trabalha-das, envolvendoa relao pais-criana

    Realistas e adap-tados s possibi-lidades do caso es condies doatendimento

    Flexveis e adapta-das ao caso, tantoem abrangnciaquanto em nvel deaprofunda-mento.

    Foco no papel depais e na relaocom a criana, eligao com as-pectos do passado

    Varivel, deacordo com ocaso e com oslimites reais.

    Separada e/ouconjunta, mesmoterapeuta outerapeutas dife-rentes, bem inte-grado

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    Encontro: Revista de Psicologia Vol. XI, N. 16, Ano 2007 p. 49-74

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    Reflexes sobre o delineamento de modelos de psicoterapia

    breve infantil

    Analisar as diferentes propostas de PBI e tentar organiz-las em modelos de trabalho

    uma tarefa que se torna difcil pela prpria restrio do material disponvel. Muitos

    dos autores que estudaram a psicoterapia psicodinmica breve aplicada a adultos de-

    senvolveram extensamente suas propostas, no s do ponto de vista de suas bases te-

    ricas, mas tambm em relao tcnica e teoria da tcnica; realizaram pesquisas cui-

    dadosas, escreveram livros e inmeros artigos, e algumas vezes at manuais para o

    treinamento de terapeutas. Da resulta no s um elevado nvel de desenvolvimento

    do trabalho, mas tambm a transmisso mais abrangente das idias e concluses que

    emergiram.

    Como j ressaltamos anteriormente, o mesmo no se aplica aos autores que se

    propuseram a realizar esse tipo de interveno com crianas. Na grande maioria das

    vezes, sua produo sobre o assunto bastante limitada, restringindo-se a um ou dois

    artigos, que no tm seqncia em trabalhos posteriores.

    Apesar das dificuldades, no entanto, consideramos que pode ser til fazer

    uma tentativa de classificao das formas de trabalho em PBI, uma vez que isto ajuda-

    ria a organizar as idias em torno do tema e perceber melhor sua evoluo. Vamos, pa-

    ra isso, utilizar os parmetros dos quais se valeram Messer e Warren (1995) para classi-

    ficar as psicoterapias breves de adultos, a partir da concepo de modelos tericos a-

    plicados psicanlise por Greenberg e Mitchell (1994). J nos referimos a esta formula-

    o em trabalho anterior (OLIVEIRA, 1999b), e ela tambm citada por Yoshida (2004),

    tendo trazido uma organizao e uma perspectiva bastante teis para a compreenso

    da evoluo na rea.

    Messer e Warren (1995) dividem as propostas de tcnicas psicoterpicas bre-

    ves para adultos em trs modelos principais: o pulsional/estrutural (adotamos a tra-

    duo para o termo sugerida por Yoshida, 2004), o relacional e o integrativo ou eclti-

    co. Os dois primeiros referem-se ao que Greenberg e Mitchell (1994) consideram os

    dois grandes modelos tericos existentes na psicanlise, que tm origem em diferentes

    vises do homem e refletem diferentes enfoques: o modelo pulsional/estrutural se re-

    fere viso freudiana e o modelo relacional caracteriza a Teoria das Relaes Objetais e

    a Psicologia do Self. O terceiro modelo, integrativo, fruto de uma tendncia a integrartcnicas e conceitos de diferentes tradies teraputicas, com o objetivo de aumentar a

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    eficincia e as possibilidades de aplicao das psicoterapias. Essa busca tem ocorrido

    de trs maneiras principais: na procura de fatores comuns s diversas propostas de

    trabalho, que poderiam ser responsveis pelo sucesso de diferentes tipos de psicotera-

    pias, na maior flexibilidade tcnica, e nas tentativas de integrao terica.

    Segundo Yoshida (2004), o modelo pulsional/estrutural o adotado pelo que

    denomina a primeira gerao de autores dentro da psicoterapia breve, que a propuse-

    ram como uma psicoterapia de orientao psicanaltica aplicada a situaes especficas.

    Esses autores, entre os quais esto Malan, Sifneos e Davanloo, introduziram modifica-

    es tcnicas em relao psicanlise, tais como maior atividade do terapeuta, o esta-

    belecimento de foco e objetivos limitados, mas mantm princpios como a neutralidade

    do terapeuta, a busca da reconstruo gentica do sintoma e a associao livre. Desta

    forma, a nfase permanece na compreenso do conflito intra-psquico e de como ele semanifesta na transferncia, e a principal ferramenta de trabalho continua sendo a in-

    terpretao.

    No campo da psicoterapia breve infantil, reconhecemos esta forma de traba-

    lho em Mackay (1967) e Lester (1968). No por acaso so trabalhos surgidos entre o fi-

    nal da dcada de 60 e o incio da de 70, perodo includo naquele em que surgiu a pri-

    meira gerao de autores da psicoterapia breve de adultos. Ambos ressaltam a inter-

    pretao do material inconsciente como principal instrumento de trabalho e propemuma forma de interveno breve com crianas que se aproxima bastante daquelas des-

    tinadas aos adultos.

    Um caso particular, aqui, o de Aberastury (1972). Como seguidora da escola

    kleiniana, ela se vincularia, a rigor, teoria das relaes objetais. No entanto, denomi-

    na sua proposta exatamente da mesma forma que Yoshida (2004) utiliza para descrever

    aquelas dos autores do modelo pulsional/estrutural: psicoterapia de orientao anal-

    tica aplicada a situaes especficas. Tambm, sua proposta, em termos tcnicos equanto aos seus objetivos, assemelha-se a esse modelo, priorizando a interpretao de

    material inconsciente como instrumento de trabalho (embora ressalte que necessria

    alguma adaptao da interpretao aos limites de uma interveno breve). Em virtude

    disso, consideramos que a proposta de Aberastury est mais prxima do modelo pul-

    sional/estrutural.

    Dois aspectos principais podem ser ressaltados neste modelo. O primeiro

    que, com exceo da utilizao do material ldico, a estrutura do processo teraputicoparece muito semelhante dos modelos para adultos, tanto em termos de objetivos,

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    quanto de tipos de interveno e do tipo de relao que o terapeuta estabelece com o

    paciente. Consideramos que a isso que se referem Warren e Messer (1999) quando

    avaliam haver, em algumas formas de trabalho com crianas, uma contaminao da-

    quelas desenvolvidas para adultos. O segundo aspecto diz respeito insero dos pais

    no processo. Todos os autores ressaltam a necessidade de se levar isso em conta, mas

    os que estamos considerando nesse primeiro modelo no explicitam claramente como

    isso feito, ou sugerem indicaes semelhantes s utilizadas algumas vezes pela psi-

    canlise de crianas: grupos de orientao de pais ou psicoterapia individual. Nossa

    opinio que, embora esses autores considerem a importncia do papel dos pais tanto

    na gnese das dificuldades infantis quanto em seu tratamento, sua forma de trabalhar

    com crianas, muito semelhante utilizada com adultos, dificulta a possibilidade de

    encontrar uma maneira de incluir os pais no processo.O modelo relacional fruto de uma filosofia da cincia que reconhece a natu-

    reza contextualizada do conhecimento, e que se refletiu na psicanlise especialmente

    atravs da nfase nas relaes objetais, gerando uma nova viso da teoria da persona-

    lidade, da psicopatologia e da tcnica psicoterpica. O critrio que Messer e Warren

    (1995) utilizam para identificar esse modelo de psicoterapia breve a nfase nas rela-

    es objetais como clinicamente centrais. Assim, o relacionamento humano a questo

    central, e o objetivo da psicoterapia compreender suas representaes, alm das ex-pectativas, ansiedades e defesas envolvidas nos padres de relacionamento interpesso-

    al que o indivduo estabelece. A prpria relao teraputica passa a ser uma questo

    central, sobrepondo-se a outras preocupaes tcnicas e flexibilizando a forma de tra-

    balho.

    Consideramos que, nas psicoterapias breves infantis, esta viso colocou como

    foco de ateno a relao pais-criana. Em outras palavras, se o principal objetivo mo-

    tivacional do comportamento humano o relacionamento interpessoal, e se, no casodas crianas, a relao com os pais exerce papel fundamental, ento ela que centraliza

    as possibilidades de compreenso e de mudana das dificuldades infantis. Os pais, que

    no modelo pulsional/estrutural tinham sua importncia reconhecida, mas no um lu-

    gar bem definido no trabalho, passam aqui a ser o objeto central da interveno psico-

    terpica. Isto pode ser visto claramente na proposta do Grupo de Genebra (CRAMER,

    1974; PALACIO-ESPASA, 1981), que focaliza a relao pais-criana, enfatizando a

    transmisso geracional de padres de relacionamento, que tambm se repetem na rela-

    o transferencial com o terapeuta. A psicoterapia, focalizada no que Cramer (1974)

    denomina rea de conflito mtuo entre os pais e a criana, visa explicitar esses mo-

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    delos de relacionamento e, a partir de sua compreenso, discriminar as situaes pas-

    sadas das atuais, modificando a viso que os pais tm da criana e de sua relao com

    ela, e favorecendo a discriminao de identidades. O fato de terem trabalhado prefe-

    rencialmente com crianas em idade pr-escolar, portanto com maior grau de depen-

    dncia e mais suscetveis s influncias parentais, tornou ainda mais importante o pa-

    pel dos pais no processo psicoterpico. Tambm a proposta do grupo de Muratori

    (MURATORI et al., 2002), inspirada na do Grupo de Genebra, um exemplo desse

    modelo, o que fica ainda mais claro quando eles ressaltam a influncia que receberam

    de Luborsky, um dos principais representantes do modelo relacional na psicoterapia

    breve de adultos.

    O modelo integrativo lana mo de maior flexibilidade e da adaptao da tc-

    nica a cada caso, buscando em diferentes fontes tericas ou tcnicas os recursos para otrabalho. Mann considerado um precursor da tcnica integrativa na psicoterapia bre-

    ve de adultos (MESSER; WARREN, 1995), pois, embora faa parte da primeira gerao

    de autores (YOSHIDA, 2004), tentou integrar construtos de diferentes escolas psicana-

    lticas (ego, pulso, objeto e self) e adotou uma tcnica flexvel, adequada a cada paci-

    ente. Consideramos que Proskauer (1971), influenciado por ele, exerce esse mesmo pa-

    pel na psicoterapia breve infantil: d menos importncia interpretao como instru-

    mento de trabalho, e maior importncia aliana teraputica e ao que vivido na rela-o, respeitando as possibilidades de comunicao da criana. Assim, tanto a explicita-

    o do foco quanto as prprias intervenes no precisam ser expressas verbalmente,

    mas podem ser compartilhadas no nvel da comunicao simblica e da experincia

    vivida. Alm disso, ao invs de adotar critrios de seleo de pacientes, prope mu-

    danas tcnicas que adaptem o trabalho e tornem possvel o atendimento de casos con-

    siderados pouco indicados para psicoterapia breve, inclusive de crianas instituciona-

    lizadas. Percebe-se aqui no uma transposio da tcnica da psicanlise infantil, nem

    da psicoterapia breve de adultos, mas um modelo especfico, que busca uma forma

    breve de interveno, respeitando as caractersticas tpicas da infncia.

    Messer e Warren (1995) demonstram essa mesma preocupao, criticando o

    que consideram uma contaminao do trabalho com adultos nas propostas para crian-

    as: interpretaes muito complexas e intelectualizadas, confrontao de defesas, nfa-

    se na utilizao dos limites de tempo, cujo conceito a criana pode ainda no ter bem

    estabelecido. Ressaltam a importncia de se levar em conta as possibilidades da crian-

    a, em termos de compreenso e comunicao, e de se valorizar, a atividade criativa e a

    brincadeira expressiva, e a expresso de afetos e emoes, mais do que a tentativa de

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    torn-los conscientes. O foco, que considerado mais um guia para o terapeuta, deve

    incorporar aspectos do desenvolvimento, psicodinmicos, ambientais e referentes

    crise imediata. Buscam, como referencial, uma integrao entre a teoria psicanaltica e

    as teorias de desenvolvimento infantil, e levam em conta, na compreenso do caso, a

    adaptao entre os recursos individuais e as demandas impostas pelo processo de de-

    senvolvimento.

    Consideramos tambm de tipo integrativo a proposta de Knobel, que d nfa-

    se aos aspectos cognitivos, que, para ele, na psicoterapia breve, tm maior participao

    no processo de elaborao do que os aspectos afetivos. Assim, busca alterar as distor-

    es cognitivas, e com isso possibilitar mudanas parciais nos vnculos objetais. Alm

    disso, postula a utilizao de elementos tcnicos advindos de outros referenciais teri-

    cos, sempre que se considere que isto pode aumentar a eficincia e abreviar a duraoda psicoterapia.

    Nossa forma de trabalho tambm de tipo integrativo. Busca-se, a princpio,

    uma compreenso bio-psico-social do caso, que inclui os aspectos psicodinmicos, a

    dimenso do desenvolvimento, a adaptao ao meio, o referencial transgeracional e os

    padres de relacionamento interpessoal. A partir dessa compreenso, o planejamento

    teraputico adaptado s caractersticas e possibilidades do caso, do terapeuta e das

    condies externas, inclusive no que diz respeito aos tipos de interveno utilizados,no contnuo suportivo-expressivo. O importante, a nosso ver, que, qualquer que seja

    o tipo de interveno, ela se baseie numa compreenso dinmica de sua motivao e

    numa avaliao da utilizao que determinado paciente pode fazer dela. O trabalho

    com uma populao ampla e heterognea, os contextos institucionais e a experincia

    de supervisionar terapeutas em formao conduziu-nos naturalmente a uma postura

    mais flexvel.

    5. CONCLUSO

    Realizamos, neste estudo, um levantamento das principais propostas de psicoterapia

    breve infantil apresentadas por diferentes autores norte-americanos, europeus e sul-

    americanos, desde que esse termo foi utilizado pela primeira vez por Allen, em 1942.

    Alm disso, buscamos elaborar uma anlise crtica dessas diferentes propostas, entre as

    quais inclumos a nossa, e contextualizar a evoluo da rea, especialmente em relao

    evoluo dos trabalhos de psicoterapia breve de adultos, que sempre lhe serviram de

    referncia. A partir da, pode-se verificar a existncia de uma variedade de propostas

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    de PBI, mas tambm a escassez de estudos mais amplos e sistemticos, que possam ali-

    cerar a prtica clnica.

    Visando contribuir para a melhor compreenso e organizao dos conheci-

    mentos sobre essa modalidade de interveno psicoteraputica, utilizamo-nos do refe-

    rencial proposto por Messer e Warren (1995) para realizar um delineamento de dife-

    rentes modelos de trabalho, localizando cada um dos autores citados dentro desses

    modelos: o pulsional/estrutural, o relacional e o integrativo.

    Consideramos que a psicoterapia breve representa uma alternativa importan-

    te na oferta de assistncia psicolgica populao, especialmente em nossa realidade

    social e nos dias atuais, e que as crianas e os pais podero auferir benefcios expressi-

    vos se houver maior evoluo dos conhecimentos sobre sua aplicabilidade, seus pro-

    cessos e resultados.

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    Iran Tomiatto de Oliveira

    Coordenadora do Curso de Psicologia do Cen-tro de Cincias Biolgicas e da Sade da Uni-

    versidade Presbiteriana Mackenzie So Paulo.Doutora em Psicologia Clnica pela Universida-de de So Paulo.