Psicoterapia Com o Idoso

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Página 1 de 15 Integração do Psicólogo no serviço de Apoio Domiciliário (intervenção com o idoso) Rui Grilo Psicólogo Clínico Índice I Introdução II Envelhecimento psicológico III Apoio domiciliário IV Interdisciplinaridade e a importância da Psicologia V Avaliação psicológica do idoso e fases VI Aspectos relevantes da intervenção do psicólogo no domicílio VII Aspectos sobre o ser Cuidador VIII Patologias mais frequentes e abordagem psicológica IX Características do psicólogo X Estratégias para lidar com a morte XI Propostas XII Considerações finais XIII Referencias bibliográficas Tudo nele e dele era velho, menos os olhos, que eram da cor do mar, alegres e não vencidos…” Hernest Hemingway O Velho e o Mar

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Integração do Psicólogo no serviço de Apoio Domiciliário

(intervenção com o idoso)

Rui Grilo Psicólogo Clínico

Índice

I – Introdução

II – Envelhecimento psicológico

III – Apoio domiciliário

IV – Interdisciplinaridade e a importância da Psicologia

V – Avaliação psicológica do idoso e fases

VI – Aspectos relevantes da intervenção do psicólogo no domicílio

VII – Aspectos sobre o ser Cuidador

VIII – Patologias mais frequentes e abordagem psicológica

IX – Características do psicólogo

X – Estratégias para lidar com a morte

XI – Propostas

XII – Considerações finais

XIII – Referencias bibliográficas

“Tudo nele e dele era velho, menos os olhos, que eram da cor do mar, alegres e não vencidos…”

Hernest Hemingway

O Velho e o Mar

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I – Introdução

A temática da terceira idade reveste-se

de extrema importância, já que na actualidade existe uma elevada percentagem de pessoas idosas em Portugal, e como tal, a elaboração de estratégias e a prevenção da institucionalização é o objectivo essencial dos técnicos ligados à área do Serviço de Apoio Domiciliário.

Com o presente trabalho pretende-se discutir alguns aspectos relacionados com a integração do psicólogo no S.A.D., percebendo quais as limitações e possibilidades da sua intervenção no domicilio.

Pretende-se demonstrar a importância do trabalho interdisciplinar, de forma a realçar o papel da psicologia no trabalho com a população idosa.

As características do psicólogo neste âmbito, são algo de muito importante a considerar, já que se trata de uma forma de intervenção muito peculiar, com um grau bastante elevado de exigência e flexibilidade por parte do técnico.

Será meu objectivo também, referir quais as patologias mais frequentes e qual a abordagem terapêutica a utilizar, nunca descurando uma observação global do funcionamento do idoso e da sua história de vida.

Finalmente, gostaria de evidenciar a importância do cuidador na vida das pessoas idosas, e de que forma, o psicólogo poderá contribuir para um aumento da satisfação e consequentemente, para a prevenção do aparecimento de perturbações psíquicas.

II – Envelhecimento psicológico

O envelhecer, “…é uma fase da

existência dominada por grandes transformações nos planos físico, psíquico e social, de origem interna ou externa; naturais e esperadas umas, súbitas e imprevistas outras. Tais transformações reflectem-se tanto no comportamento como na experiência subjectiva da pessoa que envelhece, concorrendo muitas vezes para o aparecimento de certas formas de doença psíquica. A fronteira entre o normal e o anormal é aqui especialmente difícil de delimitar.” (Barreto, J., 1988).

Perante a ideia anterior, a incerteza sobre os processos psicológicos na terceira idade, é algo que ainda poderá ser bastante explorado e que de certa forma, o psicólogo poderá assumir um papel importante.

O envelhecimento é um fenómeno que pode ser apreendido a diversos níveis, quer biológico em que existe um aumento das doenças e das modificações do aspecto, quer social em que ocorre uma mudança de estatuto provocada pela passagem à reforma, e ao nível psicológico em que existem modificações das actividades intelectuais e das motivações dos idosos. Daí poderão resultar dificuldades de adaptação a novos papeis; dificuldade em planear o futuro, baixa auto – estima e desvalorização pessoal.

Conhecendo algumas noções sobre a psicologia do idoso, permitirá ao psicólogo, compreender as necessidades afectivas da pessoa idosa, criar relações humanas de boa qualidade e explicar algum comportamento considerado mais confuso.

Uma das características essenciais do envelhecimento psicológico, diz respeito à dificuldade de capacidade de adaptação. Acima de tudo, o idoso deseja manter um ambiente estável, e qualquer

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mudança, pode correr o risco de ser rejeitada e originar alterações emocionais. Esta capacidade de adaptação está muito relacionada com os factores de personalidade construídos pela pessoa ao longo da sua vida.

Existe igualmente uma diminuição da eficiência intelectual, notando-se dificuldades na resolução de problemas novos e alterações na aprendizagem, imaginação e intuição. As funções intelectuais estão também atingidas relativamente à visão e audição, levando ao isolamento e a sentimentos de fragilidade psíquica.

O envelhecimento da memória é também muito frequente nos gerontos, já que deixa de ser exigida pelo próprio. A dificuldade não consiste na aquisição de nova informação, mas sim, na recuperação da mesma.

A psicologia deverá então intervir sobre todos estes factores, reforçando sempre que possível, os aspectos positivos do envelhecimento.

III – Apoio domiciliário

“O serviço de apoio domiciliário (S.A.D) é uma resposta social que consiste na prestação de cuidados individualizados e personalizados no domicilio, a indivíduos e famílias quando, por motivo de doença, deficiência ou outro impedimento, não possam assegurar temporária ou permanentemente, a satisfação das suas necessidades básicas e/ou actividades da vida diária.”

Núcleo de documentação técnica e divulgação

(Bonfim, C; Veiga, S; 1998)

De acordo com a definição anterior, torna-se clara a importância do Serviço de Apoio Domiciliário, não só ás pessoas idosas que acabam por ser a população privilegiada neste apoio, bem como, pessoas que por algum motivo, estão incapacitadas de organizar e satisfazer as suas necessidades do dia a dia. Assim, os objectivos gerais do Serviço de Apoio Domiciliário são:

a) Contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos indivíduos e famílias; b) Contribuir para retardar ou evitar a institucionalização;

Os objectivos específicos do Serviço de Apoio Domiciliário são, nomeadamente:

a) Assegurar aos indivíduos e famílias satisfação de necessidades básicas; b) Prestar cuidados de ordem física e apoio psico-social aos indivíduos e famílias, de modo a contribuir para o seu equilíbrio e bem-estar; c) Colaborar na prestação de cuidados de saúde.

O Serviço de Apoio Domiciliário deve ainda proporcionar os seguintes serviços:

a) Prestação de cuidados de higiene e conforto b) Arrumação e pequenas limpezas no domicilio c) Confecção, transporte e/ou distribuição de refeições d) Tratamento de roupas

IV – Interdisciplinaridade e a importância da psicologia

A psicologia integrada no Serviço de Apoio Domiciliário (S.A.D.), pretende como objectivo geral, intervir maioritariamente com a população idosa em situações de risco e de perda, prevenindo-as ou trabalhando-as quando

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são um facto e já estão instaladas. Assim, para se intervir de uma forma eficaz com o idoso, o psicólogo não deverá centrar-se apenas na patologia e nos aspectos relativos à personalidade, mas sim, ter uma visão global e abrangente da pessoa e das redes de suporte social e familiar, de forma a poder salientar e trabalhar os aspectos positivos.

No fundo, será importante o psicólogo averiguar as situações, no sentido de adequar uma resposta às necessidades do indivíduo, aumentando com isso, a sua autonomia e independência.

Até então, as áreas respeitantes à gerontologia, privilegiaram os aspectos cognitivos, salientando as perdas e os défices, hoje em dia com a inclusão da psicologia neste panorama, contemplam-se aspectos como os: “…problemas sócio – familiares, as condições de ‘ajustamento ’ da pessoa nas suas relações com o meio que a rodeia e o debater temas ligados à personalidade, sexualidade, etc.” (Jerónimo, L; 2000). Seguindo esta perspectiva, deixamo-nos de nos centrar nos défices, para privilegiar as competências psicossociais.

Desta forma, a interdisciplinaridade é extremamente importante, já que “…constitui um número (variável) de profissionais com competências complementares mas unidos por um objectivo comum: contribuir para o bem-estar e melhoria da qualidade de vida dos idosos.” (Jerónimo, L; 2000)

De entre os vários profissionais que poderão coexistir no modelo de interdisciplinaridade, destaca-se o médico, técnico de serviço social, psicólogo, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, nutricionista, enfermeiro, monitores, pessoal auxiliar, entre outros.

Então, “ … o trabalho em equipa permite a divisão de responsabilidades na

tomada de decisões quanto ao direcionamento dos tratamentos. Isso não significa que a responsabilidade de cada profissional diminua em relação ao paciente, mas sim que várias pessoas, pensando sobre os casos a partir de pontos de vista diferentes, têm maiores hipóteses de levar em conta as implicações existentes antes de decidirem condutas.” (Laham, C; 2000).

Penso que a ideia anterior explícita adequadamente o conceito de interdisciplinaridade, contudo será relevante não descurar as diferenças óbvias entre as diversas disciplinas enumeradas, já que o que nos interessa principalmente, será reforçar a ideia de complementaridade estando as tarefas na linha umas das outras.

Assim, a comunicação entre os diversos profissionais deverá fluir, e para tal, é importante que cada um dos profissionais entenda os objectivos de cada uma das áreas, e não apenas da sua.

Geralmente, os profissionais de saúde tendem a perceber o paciente de uma forma muito objectiva, sempre associada à sua área de intervenção, contudo, o psicólogo poderá trazer alguma subjectividade do próprio paciente aos outros elementos da equipa, aos cuidadores e à família. Seria importante, que o psicólogo fosse igualmente um facilitador na comunicação entre a equipa e os pacientes / familiares.

Acima de tudo, o trabalho em equipa favorece os profissionais, na medida que poderão partilhar informação sobre o mesmo utente e arranjar estratégias de intervenção em conjunto, como também o idoso, que terá ao seu dispôr uma série de técnicos habilitados na área da gerontologia.

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V – Avaliação psicológica do idoso e fases

Após a integração do psicólogo no Serviço de Apoio domiciliário, terá de existir por parte do mesmo, um conhecimento dos casos sinalizados pela técnica de serviço social como os que poderão necessitar de apoio psicológico. Será então, que o técnico irá fazer uma avaliação da situação, no sentido de perceber se existe realmente indicação para iniciar um tratamento.

Contudo, terá que ter em atenção alguns aspectos relevantes para que possa efectuar essa avaliação, e José Ermida, descreve alguns itens que contribuem para a compreensão da importância da avaliação nos cuidados do idoso:

1. “ O idoso é um individuo física, psíquica e socialmente diminuído e cuja capacidade de recuperar e repor o seu equilíbrio é mais lenta e difícil.”

2. “ O padrão de doença de um idoso decorre de um terreno diminuído, de uma patologia múltipla e frequentemente pouca expressiva, e tem uma relação com o social.”

3. “As soluções para os problemas do idoso têm quase sempre um carácter multidisciplinar e interdisciplinar, e envolvem profissionais de sectores diversos.”

(Ermida, J; 1994)

De certa forma, pretende-se fazer uma avaliação que compreenda o estado de saúde do idoso nos planos físico, mental e funcional, bem como, um

enquadramento na realidade familiar e social em que vive.

Assim, torna-se relevante, o psicólogo elaborar:

1. Anamnese: Através desta metodologia, o psicólogo centra-se numa entrevista ao idoso, aos familiares e às pessoas com quem vive, sendo que, a recolha desta história de vida nem sempre se torna fácil ou credível devido às diminuições do idoso. 2. Exame físico: Aqui é extremamente importante uma colaboração dos familiares ou pessoas mais próximas, no sentido de esclarecer o psicólogo das alterações físicas que ocorreram devido ao envelhecimento, bem como, quais as doenças orgânicas existentes e que medicação é utilizada. 3. Exame mental: O psicólogo deverá avaliar o estado psíquico e mental do idoso. Não se trata de um exame mental muito profundo, mas sim, do estado afectivo e cognitivo. Além de um conhecimento acerca das alterações sobre o envelhecimento psicológico, deverá igualmente estar atento às mudanças comportamentais e deterioração mental. 4. Avaliação funcional: Obviamente que nas deslocações à casa do idoso, o psicólogo deverá ter em atenção todos os aspectos referidos anteriormente, como também todos os aspectos que condicionam a autonomia e que retiram qualidade de vida ao geronto. Assim, é muito importante que o psicólogo percebe quais as tarefas que a pessoa idosa consegue executar sozinha ou com ajuda, a que José Ermida chama de

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Actividades de Vida Diária (A.V.D.) e que são:

- Tomar banho, vestir-se, alimentar-se, andar e comunicar

Além das anteriores descritas, existem ainda as

Actividades Instrumentais de Vida Diária (A.I.V.D.) e que são:

- Escrever, ler, telefonar, cozinhar, arrumar a casa, fazer as compras, utilizar transportes, lidar com dinheiro e tomar medicação

Luís Jerónimo define algumas fases acerca da intervenção do psicólogo ao nível do apoio domiciliário, fases essas que espero poder complementar com base na minha prática profissional.

Avaliação / Diagnóstico – Será importante procedermos a uma primeira avaliação da situação com base nos 4 aspectos definidos anteriormente, contudo, a primeira avaliação nunca será efectuada pelo psicólogo, já que será primordialmente a técnica de serviço social que estará à frente da instituição, que fará uma primeira sinalização e que encaminhará ao psicólogo. De qualquer forma, cabe sempre ao psicólogo avaliar em termos psíquicos o idoso e efectuar o seu parecer final. È também muito importante, que na primeira vista domiciliária, o psicólogo possa ser acompanhado da técnica responsável pela instituição, no sentido do idoso não percepcionar o profissional como um intruso. No que diz respeito ao diagnóstico, penso que não será num primeiro instante relevante definir, mas sim, perceber o estado afectivo, relacional, familiar e cognitivo do idoso, bem como, a rede de suporte social e as

competências psicossociais. Obviamente que posteriormente será importante perceber o diagnóstico, até porque nos vai ajudar na complementaridade da nossa intervenção, sendo que as patologias predominantes, centram-se na depressão e nas demências. Então, será importante o psicólogo ter um conhecimento profundo e saber por que é que estas patologias estão associadas à pessoa idosa.

Planeamento de intervenção – Aqui é extremamente pertinente elaborar objectivos terapêuticos individuais para cada uma das situações, planeando quais os aspectos em que se devem centrar a intervenção do psicólogo. No fundo, pretende-se individualizar o idoso como pessoa e adequar o melhor tratamento para ela. Deve-se igualmente estipular a planificação das visitas domiciliárias, sendo que numa primeira fase, é importante fazer visitas semanalmente. Contudo, nem sempre isso é possível, passando as visitas a ter um intervalo quinzenal. Os registos sistemáticos das visitas domiciliárias, são igualmente importantes.

(Re) avaliação e (re) definição de estratégias do plano de intervenção – No decorrer do apoio, o técnico vai estabelecendo uma relação com utente e conseguindo perceber as problemáticas associadas ao sofrimento. Geralmente, após um espaço de 6 meses, deverá fazer-se uma reavaliação da estrutura psiquica do individuo, alterando se necessário, os objectivos e as estratégias deliniadas incialmente. Contudo, penso que nunca será de mais, o psicólogo ir fazendo constantes avaliações, no sentido de ir percebendo os avanços e retrocessos.

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Recuperação e reposição do equilíbrio mental, melhorando a qualidade de vida – Esta será a fase mais desejada mas mais complexa de alcançar. Acima de tudo, podemos verificar uma redução na sintomatologia depressiva e ansiogénica, mas quase sempre, acompanhada de uma instabilidade emocional acentuada. Importante, será podermos contribuir para um aumento da qualidade de vida.

Os testes de avaliação psicológica também poderão ser utilizados, mas talvez mais ao nivel da definição do diagnóstico.

Acima de tudo, o psicólogo deverá avaliar como o paciente está a enfrentar a sua situação de doença, se em negação ou aceitação, e quais os recursos psíquicos que estão disponíveis no utente.

VI – Aspectos relevantes da intervenção do psicólogo no domicílio

A casa da pessoa idosa – domicílio – é o contexto e o local privilegiado para o psicólogo intervir, já que fornece várias indicações que poderão levar à compreensão dos sintomas e do sofrimento do idoso. Assim, ao contrário do modelo hospitalar que até aqui tem subsistido, “…o domicílio do paciente tende a tornar-se o foco e a possibilidade de uma intervenção e assistência mais humanizada…” (Leite, E; 2002), onde o idoso passa a ter uma participação activa – Empowerment – no seu processo de reabilitação, bem como no planeamento e na execução dos cuidados. Este contexto sugere acima de tudo, uma fonte de segurança e uma possibilidade de autonomia, de mudança e de auto estima. No domicílio, consegue-se perceber a dinâmica familiar de uma

forma mais precisa, bem como, todos os aspectos que possam parecer insignificantes mas que poderão ter um elevado grau de importância, e que raramente acontecem no meio institucional.

Não poderemos partir do pressuposto que todos os idosos dependentes e com doenças crónicas, ou que os seus familiares, necessitem de apoio psicológico, já que alguns deles utilizam mecanismos de defesa eficazes para lidarem com a situação. (Laham, C; 2000). A religião, acaba por desempenhar um papel muito importante na vida destas pessoas, sendo raras as situações em que o idoso não demonstre um apego extraordinário pela temática da Fé. Ainda assim, existem inúmeros casos em que esse mesmo apego é evidente, mas não suficiente. Recordo uma paciente, Sra. I. de 76 anos, que adere bastante bem ao tratamento no que diz respeito à psicologia, contudo, afirma que é a temática da Fé que a faz sobreviver ao sofrimento em que vive diariamente, e dedica todo o seu tempo a rezar e a contemplar o divino, sendo o seu quarto muito similar a um templo.

Obviamente, que nem todas as pessoas idosas possuem mecanismos de defesa que as façam suportar o sofrimento e a dor, sendo a psicologia uma óptima estratégia para reduzir esses sentimentos angustiantes.

Assim, existem algumas situações importantes a ter em conta, aquando das deslocações do psicólogo aos domicílios.

O profissional terá de ter algum cuidado, no sentido de não tentar impor as suas ideias e valores, sobretudo porque falamos de uma faixa etária com ideais e crenças muito próprias, com a sua forma de viver em família, com horários de refeições diferentes e com gostos

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pessoais de arrumação de casa. Em qualquer circunstância, o psicólogo deverá respeitar as ideias do utente, nunca esquecendo que numa fase inicial, poderá ser considerado como um intruso num espaço que não é seu.

Outro aspecto deveras importante, é transmitir uma imagem de profissionalismo tanto ao idoso como à família, já que a ida do psicólogo ao domicílio não constitui uma visita social, e se necessário, este deverá colocar limites se perceber que a família pretende que o relacionamento ultrapasse o campo profissional. Neste contexto em específico em que existe um nível elevado de intrusão como anteriormente foi referido, existe uma tendência natural para que o vínculo paciente/idoso seja mais conseguido, mas que também necessita de um maior controlo por parte do profissional. Obviamente, que não se deverá rejeitar um café ou um chá, já que isso poderia ser considerado como uma falta de respeito na nossa cultura, mas deverá em todos os momentos, adequar uma postura séria e profissional.

Ao contrário do contexto psicoterapêutico, em que o setting está claramente definido à priori e em que existem uma série de regras, ao nível do apoio domiciliar isso é imprevisível, já que está repleto de limitações, quer em termos de lugar, tempo, constância. Contudo será importante nunca perder o foco pretendido, que é o apoio psicológico daquele paciente. Outro exemplo desta imprevisibilidade, é o facto do psicólogo raramente saber em que local da casa se vai fazer o atendimento, já que vai depender da vontade do idoso. Aqui, será a pessoa idosa ou os familiares que darão as directrizes de como o psicólogo se deverá comportar na sua casa, onde se senta, se pode ou não utilizar a casa de banho, entrar no quarto, enfim, na intimidade da família. Com o decorrer

das visitas domiciliárias, vão-se criando alguns rituais por parte dos idosos, já que por vezes, a cadeira do psicólogo já está no sítio da última visita, os pertences do técnico já tem local onde ficar, etc.

Torna-se muito difícil para o psicólogo controlar todas as variáveis que circundam o ambiente, já que poderão ocorrer inúmeras interferências como o telefone ou a campaínha a tocar, a televisão poderá estar ligada no momento do atendimento, poderão estar presentes no domicílio mais que uma pessoa, etc.

Nem sempre o técnico pode seguir o que estava previsto inicialmente em termos do número de sessões a efectuar, o horário e o tempo de cada sessão. Muitas vezes, acontece que se tem de desmarcar sessões à última da hora, e isso, terá que ser explicado atempadamente. Geralmente os contactos são feitos por via telefone numa fase inicial, por motivos que dizem respeito a questões de memória dos utentes, mas numa fase posterior, esses contactos deixam de acontecer porque já se criou e estabeleceu uma relação com o técnico.

O estabelecimento da relação é um dos factores mais importantes no trabalho do psicólogo, contudo, com o decorrer do apoio, essa relação pode transformar-se em dependência por parte do idoso, daí o técnico ter que ter alguma perspicácia em perceber essa situação, e a capacidade para a anular.

O sigilo profissional é também relevante, não sendo raro ser quebrado, já que determinados atendimentos podem acontecer num determinado espaço do domicílio, e em que poderá estar presente um familiar ou uma visita do paciente.

No que diz respeito à farmacologia, o psicólogo depara-se nas visitas domiciliárias com frequentes solicitações

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da pessoa idosa, no sentido de auxílio na compreensão da medicação. Então, independentemente das doenças orgânicas ou psíquicas, o técnico deverá possuir um conhecimento dos fármacos mais utilizados pelos idosos, e perante o surgimento de dúvidas, deverá ler em voz alta as indicações terapêuticas do fármaco, esclarecendo quais os efeitos secundários, e quais os intervalos diários que devem decorrer entre a toma do mesmo.

Relembro o Sr. A de 86 anos, que insistentemente revela extrema ansiedade e nervosismo após consulta com a médica de família, em que lhe é receitado nova medicação. De certa forma, este idoso não lida bem com situações que alterem o seu dia a dia e a sua rotina, assim um conhecimento profundo da farmacologia por parte do profissional, ajuda a clarificar e de certa forma a evitar que ocorram alterações de humor que poderão originar situações bem mais graves.

Como podemos perceber pelo que foi referido anteriormente, a psicologia não terá apenas a função de apoiar psicologicamente o idoso, mas também poderá auxiliá-lo nas actividades instrumentais da vida diária referidas anteriormente, bem como nas competências sociais. Possíveis encaminhamentos para unidades de saúde, também serão aspectos a considerar pelo técnico caso sejam necessárias, já que ele terá uma relação privilegiada com o utente e poderá actuar de uma forma mais rápida e efectiva.

VII – Aspectos sobre o ser Cuidador

Segundo Liliana Sousa et al., o conceito de cuidador refere-se a elementos da rede social do idoso (familiares, amigos, vizinhos, …) que lhes prestam cuidados regulares, mas que não são remunerados. Contudo, perante a população idosa que temos actualmente, existe um maior número de cuidadores, mas que são familiares e que assumem este papel durante um longo período de tempo. Usualmente, o papel de cuidador é assumido pelo próprio de uma forma inesperada e livre de poder decidir sobre esse mesmo papel, apesar da progressiva perda de autonomia do idoso. No fundo, o familiar inicia a prestação de cuidados sem se dar conta, e sem tomar consciência do encargo e da dedicação que terá de ter, independentemente dos anos que a situação se mantenha.

Todavia, existem situações em que o cuidador poderá tomar consciência da possível prestação dos cuidados, caso ocorram no idoso incapacidades súbitas, viuvez, etc. Perante isso, o familiar parece ter algumas motivações subjacentes no assumir este papel tão difícil, tais como o dever moral e/ ou social em que o cuidador sente que deve dar em troca para não se sentir culpado; solidariedade conjugal, filial ou familiar que assenta sobretudo no sentimento de gratidão para com o cuidado; questões relacionadas com o cristianismo; sentimentos de amor e piedade; recompensa material e evitamento de institucionalização.

De certa forma, a prestação de cuidados é frequente ser realizada pelo conjuje feminino, contudo, hoje verifica-se muitos cuidadores do sexo masculino. Na maioria dos casos, os filhos também participam activamente nesta prestação de cuidados, sendo mais usuais serem do sexo feminino.

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Geralmente, a duração dos cuidados por parte do cuidador tende a ser bastante longa, e isso poderá gerar impactos negativos, mesmo apesar dos mesmos considerarem ser uma função muito gratificante e uma oportunidade de enriquecimento pessoal.

Alguns desses impactos poderão ser a sobrecarga, que no fundo caracteriza-se por um conjunto de problemas físicos, psicológicos e sócio económicos que decorrem da tarefa de cuidar, nomeadamente ao nível das relações familiares e sociais, a carreira profissional, intimidade, liberdade e equilíbrio emocional. Outro aspecto relevante, é a saúde física e mental, em que esta tarefa pode ser física e psicologicamente esgotante. Muito frequentemente os cuidadores referem-se ao cansaço físico e sensação de deterioração gradual do estado de saúde. A depressão e ansiedade são também dois problemas significativos para a maioria dos cuidadores, associados a sentimentos de tristeza, desespero, frustração e inquietação.

Aspectos como a actividade profissional e o tempo livre são igualmente afectados, já que o familiar acaba por ter muito menos tempo para dedicar ás coisas que gosta de fazer, já no trabalho, poderá existir um desgaste já que existe um acumular de horas e consequentemente uma diminuíção no rendimento laboral.

Concerteza que existirão também aspectos positivos a salientar, todavia será aqui importante especificar e centrarmo-nos no que o psicólogo poderá fazer para apoiar os familiares.

Estes cuidadores apresentam necessidades de apoio emocional e aconselhamento, logo será importante o profissional ser alguém com quem o cuidador poderá falar acerca das suas experiências, dificuldades e preocupações, no fundo, alguém que as compreenda e com quem possam desabafar. Aqui o psicólogo também terá

um papel de valorizar e apreciar o trabalho que é concretizado pelos familiares, no sentido de sentirem que são úteis e que estão realmente a desempenhar bem a sua função.

O psicólogo também deverá avaliar a forma como o cuidador está a enfrentar a doença do idoso, e se acima de tudo, tem tido cuidado consigo, e os efeitos que o exercício de cuidar tem tido na sua vida. Cabe também ao psicólogo a tarefa de orientar este cuidador para possíveis reacções emocionais do paciente, tornando-os mais conscientes das suas possibilidades e limites.

Com os familiares, o psicólogo terá de promover boas relações, através do envolvimento, colaboração e capacitação. De certa forma, o profissional através do envolvimento terá como função a criação de laços afectivos, promover a compreensão e o respeito mútuo e canais de comunicação. Relativamente à colaboração, deverá instituir-se uma parceria vincada no reconhecomento de objectivos e estratégias comuns. Finalmente, a capacitação envolve a partilha de poder e responsabilidade, existindo um clima de confiança. (Sousa, L. et al, 2004).

VIII – Patologias mais frequentes e abordagem psicológica

As patologias e as sintomatologias disruptivas que se verificam nas pessoas idosas, passam maioritariamente por situações com uma componente depressiva e ansiogénica demarcada, bem como, situações associadas a psicoses de inicio tardio e demências.

“A depressão major é a forma mais grave de perturbação do humor no idoso. Ocorre em cerca de 1% dos indivíduos com mais de 65 anos (…) e é a razão de quase 50% das admissões de pessoas idosas em hospitais psiquiátricos em geral e está presente em cerca de 30%

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dos idosos com doenças agudas e crónicas do foro médico.” (Spar, J; Rue, A; 1998).

Normalmente, a depressão não é diagnosticada nem tratada, já que é considerada “normal” no idoso. Por vezes, esta depressão pode ser uma resposta pouco adequada às perdas sucessivas do envelhecimento, ou poderá ser o resultado da incapacidade do indivíduo em fazer os lutos do seu longo historial de vida. Muitas vezes, esta depressão está mascarada por sintomas físicos, e pode assumir a forma de comportamentos parasuicidários (não comer ou beber).

Outra das patologias predominantes na terceira idade, são as demências que “…caracterizam-se pelo desenvolvimento de défices cognitivos múltiplos (incluindo diminuição de memória) …”, (D.S.M. IV, 1994.), sendo a mais frequente, a doença de Alzheimer. Esta demência é irreversível, não existido regressão dos sintomas, e geralmente a evolução dá-se continuamente ao longo do tempo. Existe uma deterioração progressiva principalmente da parte intelectual e cognitiva. A idade de instalação é normalmente acima dos 40 anos, mais frequentemente acima dos 50 anos. Muito resumidamente, podemos falar de 4 fases. Na primeira, esquecimento, ocorrem defeitos de memória, ansiedade e depressão. Os doentes sentem as suas falhas e esquecem informação do dia a dia. A segunda fase, denominada de confusão, existe um agravamento do defeito da memória e desorientação espacial e temporal. Na terceira fase, a demência, os doentes já têm um comportamento invulgar, perdendo-se frequentemente, não reconhecendo familiares ou amigos. A depressão vai desaparecendo, e o doente vai negando as dificuldades, perdem autonomia, discurso repetitivo e pobre e por vezes têm alucinações. Por último, temos a fase de estado vegetativo, em que o doente fica confinado à cama, apático e entubado. Finalmente dá-se infecção respiratória e morte.

No que diz respeito à abordagem psicoterapêutica a utilizar, fará mais sentido a integracionista, tendo em conta o funcionamento global e as várias vertentes relacionadas com o sujeito. Através desta perspectiva, pretende-se autonomizar o idoso, reforçar a auto estima e valorização pessoal tendo como base a complementaridade de várias vertentes psicoterapêuticas.

Contudo, defendo igualmente a utilização da abordagem psicodinâmica, apelando à escuta activa do indivíduo. É importante escutarmos e estarmos disponíveis para ouvir a história de vida do idoso, aos aspectos mais ligados ao inconsciente e a situações traumáticas não ultrapassadas anteriormente. Então se “ na memória reconstruímos o equilíbrio e a identidade, não se tratará de explicar, mas permitir a todos os intervenientes, idosos e não só, compreender o que se passa.” (Jerónimo, L; 1997). Desta forma, o apelar ás recordações pode ser extremamente terapêutico, e apenas o facto do idoso poder falar sobre a sua vida, ajuda-o a integrar com a ajuda do psicólogo, determinados aspectos na sua vida que forma mal resolvidos.

Obviamente, que estamos a falar de uma geração idosa com uma série de ideias preconcebidas no que diz respeito à psicologia, sendo ainda vista como uma ciência muito direccionada para os “malucos”. O psicólogo depara-se por vezes com enormes resistências do idoso na adesão ao tratamento, porque segundo eles, se até então “nunca tiveram este tipo de apoio e sobreviveram, também não será agora que vão necessitar”.

Outra situação que o profissional muitas vezes se depara, é com o facto de ser considerado muito jovem pelo idoso, não lhe atribuindo a credibilidade que realmente merece, podendo afirmar que o mesmo não tem a experiência de vida necessária para o ajudar. Então, cabe ao psicólogo demonstrar todo o seu profissionalismo, e esclarecer ao idoso, que independentemente da idade, está

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preparado técnica e relacionalmente para lidar e intervir com a população idosa e com este tipo de situações.

No que diz respeito ao número de sessões, julgo ser indicadas sessões semanais numa fase inicial. Após uma avaliação e observando-se algumas melhorias na pessoa idosa, penso que se poderão alargar as sessões para uma situação quinzenal. Seguindo a abordagem psicodinâmica, e ao contrário da abordagem cognitiva – comportamental em que existe um número mínimo de sessões para a resolução dos problemas, não poderemos especificar quantas sessões decorrerão ao longo do acompanhamento. Não nos poderemos esquecer, que estamos a falar de uma população idosa com histórias de vida bastante longas, e que as resistências à mudança não se devem apenas a factores de personalidade, mas acima de tudo, a factores respeitantes à idade, e em que uma série de faculdades intelectuais foram sendo diminuídas. Relativamente ao tempo, cada sessão poderá demorar entre 60m a 90m, consoante o decorrer da mesma. Importante será nunca quebrar o raciocínio do idoso com base no factor tempo, à semelhança do que eventualmente poderá ocorrer no contexto psicoterapêutico tradicional.

Existe uma enorme probabilidade de ocorrer o fenómeno de transferência ou contratransferência. Será extremamente importante estar atento a estas questões, sendo muito frequente o psicólogo ser encarado ou tratado como marido/ mulher; filho/ filha, neto/ neta do idoso, bem como, o psicólogo encarar o idoso como pai/ mãe; avó/ avô, podendo originar uma reactivação dos problemas relacionais.

Como último factor que acho relevante mencionar, diz respeito à frustração que o terapeuta poderá vir a sentir no decorrer das sessões, já que estamos a falar de um processo moroso, rodeado de extrema angustia e dor, em que as melhorias no individuo poderão ser

escassas ou menos visíveis, principalmente pelos outros técnicos integrados na equipa.

IX – Características do psicólogo

O psicólogo deverá conhecer acima de tudo, as características do envelhecimento normal: modificações biológicas, psicológicas e sociais. Assim, será mais fácil o profissional perceber quais as perturbações predominantes da 3ª idade e os efeitos da idade sobre as perturbações do humor e ansiedade. É também extremamente importante, que entenda quais os problemas sociais e físicos subjacentes à terceira idade, como o luto, perda de papeis, dor, perturbações do sono, etc.

Deverá sem dúvida alguma, estar disponível para trabalhar em equipa, já que actuando isoladamente sem contemplar aspectos como o social e o familiar, não terá resultados significativos.

No contacto com os idosos, o psicólogo deverá ter a capacidade para transmitir informação, tendo para isso que adoptar uma postura empática e ser paciente. Essa informação deverá ser concretizada com frases curtas e com linguagem adaptada ao idoso, elevando se necessário, o tom de voz.

O técnico deverá aceitar e não desencorajar com objectivos terapêuticos nem muito limitados, nem muito abrangentes, tendo a capacidade de manter o optimismo terapêutico.

O psicólogo deverá também, estar disponível para explorar os seus afectos acerca do envelhecimento, e a discutir com o idoso, as dúvidas quer os mesmos têm em relação aos profissionais mais jovens e à sua sabedoria.

Acima de tudo, o psicólogo deverá evitar implementar soluções na vida dos idosos

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que não correspondam à sua história de vida e ao seu grupo etário.

No contexto de apoio domiciliário, o psicólogo deverá evidenciar alguma flexibilidade, não só na forma de intervir com a população idosa, como também ao nível da mobilidade. Ao contrário do que descreve Claudia Laham acerca do psicólogo deslocar-se de carro para a casa dos utentes, em Portugal isso ainda não acontece devido à escassez de recursos e pelo facto deste serviço ser muito recente, logo, o psicólogo não tem disponíveis meios de transporte que o ajudem a deslocar-se para a casa dos utentes de uma forma mais rápida. Devido a esse factor, poderá existir o inconveniente de possíveis atrasos e desgaste físico psicólogo.

Por fim, é relevante que o psicólogo consiga conviver com situações dolorosas, como o sofrimento intenso e diário, e todos os aspectos que envolvem a morte.

X – Estratégias para lidar com a morte

Intervir com doentes crónicos que já não respondem ao apoio, e com um elevado grau de detioração fisica e mental, significa o vivenciar de um processo de luto por parte dos cuidadores e da própria pessoa. De certa forma, vivencia-se uma situação emocional intensa e desgastante, e o psicólogo terá que de adequar a melhor conduta a seguir junto da família e do paciente. Numa primeira instância, deverá rever e esclarecer se todas as alternativas terapêuticas foram esgotadas.

Posteriormente, os medos e as incertezas do paciente e dos familiares deverão ser escutados atentamente, e os seus desejos devem sempre ser respeitados. No fundo, o psicólogo actua

como um facilitador no processo de morrer, facilitando a expressão dos afectos, possibilitando a resolução de conflitos existentes através da comunicação.

Apesar da morte ser considerada pelos familiares com um processo normal no idoso, esta origina sempre desiquilibrios e um enorme sofrimento humano, daí ser importante trabalhar a crise e a inaptidão que evidenciam perante a realidade que lhes é imposta. (Leite, E. 2002)

XI – Propostas

De seguida, gostaria de referir algumas propostas que venham no sentido de uma consequente melhoraria na comunicação e nas relações interpessoais entre familiares – cuidadores/ técnicos, e técnicos/ técnicos

Grupos de Apoio aos Familiares (cuidadores)

Como falámos anteriormente, os familiares, quando existem, são as pessoas com um contacto mais próximo do idoso, e como tal, estão sujeitos a uma enorme pressão ao nível emocional e afectivo.

Várias são as dúvidas que os avassalam, no que diz respeito aos sentimentos provocados pela situação que estão a vivenciar, e na minha perspectiva, penso ser benéfico a criação de grupos de apoio aos familiares de forma a poderem partilhar as suas experiências, os seus sucessos e fracassos. É importante que os familiares sintam que têm disponível um espaço e um técnico que os compreenda e que lhes possa oferecer um apoio diferente.

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Reuniões de Equipa

Julgo ser extremamente importante a partilha de informação e uma comunicação persistente entre os diversos técnicos que compõem a equipa interdisciplinar. A eficiência no tratamento do paciente nos mais variados níveis, depende da comunicação que os técnicos têm, bem como, um conhecimento profundo sobre o idoso. Estas reuniões deveriam ser quinzenais, contudo, perante situações mais graves, essas reuniões poderão ser com mais frequência.

Acima de tudo, e não querendo minimizar a importância das outras áreas, teremos de adequar a nossa intervenção à realidade actual. Nas instituições não temos ainda acesso a este tipo de equipas, então será importante que o psicólogo e a técnica de serviço social, que é quem está geralmente na linha da frente do apoio domiciliário, possam partilhar da informação sobre o mesmo utente.

Reuniões com as auxiliares de acção directa

Estas reuniões são extremamente importantes, já que permitem às auxiliares de acção directa, que estão sujeitas a um desgaste intenso, poderem partilhar das suas angustias e as suas duvidas no que diz respeito à relação que estabelecem com os idosos que cuidam. Além disso, a temática da morte é sempre algo de difícil verbalização por parte das mesmas, já que criam laços afectivos muito fortes com os utentes.

O psicólogo, podere ter aqui uma função de suporte emocional, e mais importante ainda, estar disponivel para escutar.

Formação dirigida ás auxiliares de acção directa

Formações e sessões de esclarecimento nas mais diversas áreas, são também muito importantes, já que poderão esclarecer algumas dúvidas que as profissionais tenham na relação entre si e com os idosos. A psicofarmacologia e os efeitos dos mesmos, a gestão de conflitos, a assertividade e questões ligadas com a morte, são exemplos de possíveis temáticas a debater.

XII – Considerações finais

A psicologia é uma ciência relativamente recente ao nível do apoio domiciliário, contudo, penso estar-se a caminhar a passos largos para uma efectividade da sua integração neste contexto tão específico. A população idosa é sem dúvida uma aposta a considerar por parte dos psicólogos, já que poderão desempenhar e ter uma função extremamente útil, contribuindo claramente para proporcionar aos idosos uma melhor satisfação e qualidade de vida, minimizando o isolamento social.

O psicólogo integrado nas equipas interdisciplinares do apoio domiciliário, deverá ser encarado como um técnico especializado na compreensão da história de vida dos idosos, na intervenção perante situações de crise e perda, nas relações interpessoais, e acima de tudo, como um “colaborador” disposto a reduzir situações demarcadas por uma componente ansiogénica e depressiva.

Tal como foi descrito ao longo do trabalho, a intervenção do psicólogo ao nível do domicílio terá concerteza desvantagens, contudo, penso que as vantagens as superam em larga medida já que, se “a montanha não vai a Maomé, vai Maomé à montanha”, ou seja, se o

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utente não pode ir até ao serviço, irá o serviço até ao utente.

Acima de tudo, o psicólogo deverá fazer ver aos demais (técnicos e utentes) a importância do seu trabalho, tendo como resistências, não só uma população geriátrica pouco habituada a lidar com esta ciência, como também, a obtenção de resultados ao nível de melhorias visíveis nos idosos.

Finalmente, julgo ser extremamente importante capacitar o idoso de forma a que ele participe activamente no seu processo de reabilitação, e tal como na frase descrita anteriormente por Hernest Hemingway, a pessoa idosa não se deve considerar vencida pela doença orgânica ou psíquica. A psicologia poderá ajudar a reforçar a auto-estima, o auto-conceito, a valorizar, a compreender, a escutar, estar disponível, enfim, a relação.

XIII – Referências Bibliográficas

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Barreto, J; (1988). Aspectos psicológicos do envelhecimento, VI, 2: 159- 170, Porto.

Bonfim, C.J; Veiga, S; (1998). Serviços de Apoio Domiciliário – Núcleo de documentação técnica e divulgação, 2ª edição, Lisboa.

Ermida, J.G; (1994). Avaliação Geriátrica Compreensiva, pp. 42-52, Lisboa.

Jerónimo, L; (2000). O Trabalho interdisciplinar com idosos: Da avaliação à intervenção. O papel do psicólogo nas equipas de apoio domiciliário. Estudo de um caso, 13, 123 (17-25) 00, Lisboa.

Laham, C., F., (2000). As Peculiaridades do Atendimento Psicológico em

Domicílio e o Trabalho em Equipe, http://www.cepsic.org.br/revista/Artigos

Leite, É., P; (2202). Atendimento psicológico Domiciliar: Interdisciplinaridade e Cuidados Paliativos.

Sousa, L; Figueiredo, D; Cerqueira, M; (2004). Envelhecer em Família

- Os cuidados familiares na velhice, 1ª edição, Porto, Âmbar.

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