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Pássaros do mundo Sabiá, a ave nacional do Decreto de 1968 foi substituído pelo que começou a vigorar em 2002 Mackenzie 6 T rinta e quatro anos se pas- saram até que importante posto fosse ocupado pelo seu dono de direito, a criaturinha de tem- peramento dócil, que canta e inspira – o sabiá laranjeira (Turdus rufiven- tris), pássaro brasileiro, escolhido para ser a ave-símbolo do Brasil. Em toda a sua simplicidade, ela vai jun- tar-se aos outros quatro símbolos nacionais – a bandeira, o hino, o brasão de armas e o selo. Terá a mesma importância deles na repre- sentação do Brasil. Nação representada por uma ave não é novidade (veja quadro, nas páginas 8 e 9). A vaga brasileira, porém, só foi preenchida em 2002, pelo decreto de 3 de outubro que instituiu o sabiá-laranjeira como ave- símbolo nacional, evento a ser come- morado no dia 5 de outubro de cada ano, o Dia da Ave. Imortalizado na “Canção do Exí- lio”, de Gonçalves Dias, o sabiá-laran- jeira mede cerca de 25 centímetros, tem plumagem parda, com exceção da região do ventre, destacada pela cor vermelho-ferrugem, levemente alaranjada, e bico amarelo-escuro. No reino de sua majestade, machos e fêmeas não apresentam diferenças aparentes e ambos têm a incumbên- cia de construir o ninho. O sabiá, que pode viver entre 25 e 30 anos, migra para regiões mais quentes no inverno, voltando para o ponto de partida sempre que o calor o convida. Segundo Johan Dalgas

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P á s s a r o s d o m u n d o

Sabiá, a ave nacional do Decreto de 1968 foi substituído pelo que começou a vigorar em 2002

Mackenzie6

Trinta e quatro anos se pas-saram até que importanteposto fosse ocupado pelo seu

dono de direito,a criaturinha de tem-peramento dócil, que canta e inspira– o sabiá laranjeira (Turdus rufiven-tris), pássaro brasileiro, escolhidopara ser a ave-símbolo do Brasil. Emtoda a sua simplicidade, ela vai jun-tar-se aos outros quatro símbolosnacionais – a bandeira, o hino, obrasão de armas e o selo. Terá amesma importância deles na repre-sentação do Brasil.

Nação representada por uma avenão é novidade (veja quadro, naspáginas 8 e 9). A vaga brasileira,porém, só foi preenchida em 2002,pelo decreto de 3 de outubro queinstituiu o sabiá-laranjeira como ave-símbolo nacional, evento a ser come-morado no dia 5 de outubro de cadaano, o Dia da Ave.

Imortalizado na “Canção do Exí-lio”, de Gonçalves Dias, o sabiá-laran-jeira mede cerca de 25 centímetros,tem plumagem parda, com exceçãoda região do ventre, destacada pelacor vermelho-ferrugem, levemente

alaranjada, e bico amarelo-escuro. Noreino de sua majestade, machos efêmeas não apresentam diferençasaparentes e ambos têm a incumbên-cia de construir o ninho.

O sabiá, que pode viver entre 25e 30 anos, migra para regiões maisquentes no inverno, voltando para oponto de partida sempre que o caloro convida. Segundo Johan Dalgas

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Frisch, engenheiro formado peloMackenzie, com carreira de renomena ornitologia, são 12 as espécies desabiás no Brasil, sendo que o pássaroassume outras denominações em re-

giões diferentes.Assim, ele tanto po-de ser caraxué (AM), sabiá-coca (BA),sabiá-laranja (RS) e ainda sabiá-de-barriga-vermelha, sabiá-ponga e sa-biá-piranga em lugares diferentes.

De hábitos simples, o pássaronão faz cerimônia para comer: “Osabiá-laranjeira tem alimentaçãomista – tanto consome vermes e in-setos nos bosques e florestas, quan-to pode ser encontrado nos quin-tais, nutrindo-se de pequenos fru-tos. Aprecia também minhocas –tem um tino incrível para localizá-las – e, como sobremesa, gosta depitangas, frutos da aroeira, palmitodoce, bananeira, figueira, amoreira,mamoeiro, goiabeira, cajueiro, amei-xa-amarela, sementes de magnólia elaranja, cuja casca perfura para atin-gir a polpa açucarada”, revela opesquisador.

O pássaro, que no Nordeste étratado como “a sabiá”, foi escolhidoentre quase 2.000 espécies, causan-do divisão na preferência dos ornitó-logos.Alguns achavam que a araraju-ba deveria representar o país, pelacoloração verde e amarelo, identifi-cada com as cores do Brasil; outrosforam cabos eleitorais do tucano, de-vido à associação que a ave tem comos trópicos;outros ainda queriam umpássaro de canto mais raro.“Não é sóbeleza, ou só trinado mais harmo-nioso que conta para ser ave-símbolode um país”,afirma Dalgas.“É precisofazer parte da cultura, do folclore, terpresença na literatura, na poesia, namúsica e viver perto das pessoas. Ocoleira-da-serra-do-mar canta melhorque o sabiá-laranjeira.Todavia,o sabiáse aproxima das pessoas, é um com-panheiro do homem que vive nocampo ou na cidade. Não adiantauma ave-nacional com a qual o povonão tem contato”, avalia o ornitólo-go. E prossegue na defesa do cantodo seu preferido:“O sabiá tem a qua-lidade do som. Não existem, doissabiás com a mesma música. O som

dele é mais auditivo ao homem, estádentro da faixa auditiva mais agra-dável”. E continua:“Na primavera, é oprimeiro canto que se ouve, antesmesmo de clarear o dia.O Mackenzieestá cheio de sabiás-laranjeiras voan-do pelo pátio. É a ave que inspira osjovens”, declama.

A instituição do Dia da Ave e aindicação do Turdus rufiventris paraave-símbolo nacional tem muito aver com a dedicação do mackenzistaFrisch. Em 1968, ele defendeu comêxito a criação do Dia da Ave mas,por uma falha na redação do textodo decreto nº 63.234, a ave represen-tante não foi incluída. Em 1987, fez-se a tentativa de corrigir o texto dodecreto, grafando o nome do sabiácomo a ave escolhida para ser sím-bolo do Brasil. Desta vez, faltou dizerna edição reformulada o nome cien-tífico da ave. O país continuou semave-símbolo!

Dois anos depois, o escritor Jor-ge Amado já manifestava seu apoioà “causa” do sabiá-laranjeira. Maistarde, em agosto de 2002 a aveobteve 91,7% dos votos em en-quete do jornal Folha do Meio Am-biente. Finalmente, em 2002, o en-tão presidente Fernando HenriqueCardoso revogou o decreto de1968, proclamando de maneira ine-quívoca o sabiá-laranjeira como aave-símbolo e ave nacional do Bra-sil, e mantendo o 5 de outubro co-mo o Dia da Ave. O gesto atendeuaos apelos dos ministros Chefe daSecretaria-Geral da Presidência daRepública, Euclides Scalco, de Es-tado da Educação, Paulo RenatoSouza e de Estado do Meio Am-biente, José Carlos Carvalho. E dosmembros da Associação de Pre-servação da Vida Selvagem, quetem Dalgas Frisch na presidência ecomo sócios os empresários Ro-gério Marinho (O Globo e Extra), eCiro Porto (EPTV/Globo), o vice-presidente.

BrasilO sabiá vive também nas matas ribeirinhas,

como a do rio São Benedito (PA). No mapa daAmérica do Sul, a cor alaranjada assinala extensa

região de maior incidência da espécie (detalhe).

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Aves símbolo de vários paísesAves-símbolo de vários países

Nova Zelândia – Kiwi(Apterux australis) –Simboliza a ma-gia dos na-tivos. Re-presentaa sorte,o amore a felici-dade dos povos da ilha.

Bélgica – Falcão(Falco tinnunculus)– Exímio caçadorde roedores, éadorado pe-los cam-poneses.

Noruega – Cinclus(Cinc lus

cinclus)– Ave típicados peque-nos riachos

que nascemnos fjords.

Tem canto bem alegre.

Nigéria – Grou(Balaearia pavoni-na) – Inspirou as tri-bos da região comsuas danças,incorpora-das aos ri-tuais fol-clóricos.

Dinamarca – Cotovia(Alauda arvensis)– A avetem lindo esingelo canto.Canta em plenomergulho de vôo sobre as planíciesda Jutlândia.

Chile – Bonito-do-Piri ou Papa-piri(Tachurisrubrigastra)– Vive emharmonia einspirou a vesti-menta dos campo-neses nos juncais chilenos.

Sri Lanka – Galo

(Galus galus) – Primeira espécie aser domesticada pelos asiáticos,representa o despertar da vida.

Alemanha – Cegonha(Ciconia ciconia) –Aninha-se naschaminés dascasas das fa-zendas e re-presenta alenda de quetrazia as crian-ças ao mundo.

Áustria – Andorinha

(Hurundo rústica) –Expressa liberdade elembra a chegada daprimavera e do verão.

Panamá – Harpia(Harpia harpyja) – É amaior águia das Amé-ricas. Símbolo de po-der e prestígio pela

construção do Canaldo Panamá.

Índia – Pavão(Pavo cristatus)

– Simboliza abeleza e apujança deuma Índiamisteriosa

e rica, e deum povo pacífi-

co e religioso.

Cuba – Tocororo(Priotelus temnurus) – É conhecidapela inspiração que provoca nospoetas cubanos por seu canto.

Suécia – Tordo(Turdus merula) – Comseu canto a ave anunciaa primavera, após olongo inverno ár-tico, além deser muitopopular.

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Islândia –Gir Falcon(Falco ruti-

colis) – Re-presenta a força

e o esplendor dasterras gélidas e

brancas do país.

Grã-Bretanha –Robyn(Erithacus rubec-ula) – A ave e seucanto inspiraramShakespearena composi-ção do roman-ce Romeu e Julieta.

Luxemburgo– Goldcrest

( R e g u l u sregulus) –

É uma avepequena e co-

roada, assim como o Luxemburgo,um reino pequeno e coroado.

Nepal – Faisão-do-Nepal

(Lophophorusimpejanus) – E uma das mais belasaves do Himalaia e o orgulho sa-grado dos moradores da região.

Argentina – Hornero ou João-de-barro (Furnarios rufus) – Repre-senta o gaúcho dos pampas. Abri-ga-se no seu ninho de barro parafugir do vento minuano.

Guatemala –Quetzal (Pharo-machrus mocinno)– É uma espéciede surucuá das maislindas do mundo.

Austrália –Menura

(Menura novo-hollandiae) –Com a caudaem forma de

leque ou de uma lira, representaa beleza e o exotismo da natu-reza australiana.

Estados Unidosda América –Águia de cabeçabranca(Haliaeetus leuco-phala) – Águiapesqueira que,pela força ebeleza, tornou-sesímbolo da uniãoterritorial do país.

África do Sul – Blue Crane(Anthropoides paradisea) – Estaespécie de grou inspirou poetas ecompositores sul-africanos.

Fonte: jornal Folha do Meio Ambiente, edição de julho de 2002, página 21.Ilustrações: The Illustrated Encyclopedia of Birds • Prentice Hall Press

Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabiá;As aves que aqui gorjeiam,Não gorjeiam como lá.Nosso céu tem mais estrelas,Nossa várzea tem mais flores,Nossos bosques têm mais vida,Nossa vida mais amores.Em cismar, sozinho, à noite,Mais prazer encontro eu lá;Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabiá.Minha terra tem primores,Que tais não encontro eu cá;Em cismar – sozinho, à noite –Mais prazer encontro eu lá;Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabiá.Não permita Deus que eumorra,Sem que volte para lá;Sem que desfrute os primoresQue não encontro por cá;Sem qu’inda aviste aspalmeiras,Onde canta o Sabiá.

Coimbra – Julho, 1843

Antonio Gonçal-ves Dias, poeta,professor, críticode história, etnó-logo, nasceu emCaxias, MA, em10 de agosto de1823, e faleceu em naufrágio nobaixio dos Atins, MA, em 3 denovembro de 1864. É o patrono daCadeira nº 15 da Academia, porescolha do fundador Olavo Bilac.Era filho de João Manuel Gonçal-ves Dias, comerciante português,natural de Trás-os-Montes, e deVicência Ferreira, mestiça.

Canção do ExílioCanção do ExílioGonçalves Dias