PSYCHOLOGICA · 2017-04-27 · DIRETOR / DIRECTOR Rui Paixão EDITOR / EDITOR Rui Paixão...
Transcript of PSYCHOLOGICA · 2017-04-27 · DIRETOR / DIRECTOR Rui Paixão EDITOR / EDITOR Rui Paixão...
A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis,
UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e
Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em https://digitalis.uc.pt/pt-pt/termos.
Conforme exposto nos referidos Termos e Condições de Uso, o descarregamento de títulos de
acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s)
documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença.
Ao utilizador é apenas permitido o descarregamento para uso pessoal, pelo que o emprego do(s)
título(s) descarregado(s) para outro fim, designadamente comercial, carece de autorização do
respetivo autor ou editor da obra.
Na medida em que todas as obras da UC Digitalis se encontram protegidas pelo Código do Direito
de Autor e Direitos Conexos e demais legislação aplicável, toda a cópia, parcial ou total, deste
documento, nos casos em que é legalmente admitida, deverá conter ou fazer-se acompanhar por
este aviso.
Psychologica 59-2 - Revista Completa
Autor(es): Paixão, Rui (Dir.)
Publicado por: Imprensa da Universidade de Coimbra
URLpersistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/41360
DOI: DOI:https://doi.org/10.14195/1647-8606_592
Accessed : 1-Apr-2020 00:08:41
digitalis.uc.pt
PSYCHOLOGICA
IMPRENSA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRACOIMBRA UNIVERSITY PRESS
FACULDADE DE PSICOLOGIA E DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
VOLUME 59 Nº 2 2016
EDIÇÃO / EDITION:Imprensa da Universidade de Coimbra
Email: [email protected]: www.uc.pt/imprensa_uc
Vendas online: http://livrariadaimprensa.uc.pt
PROPRIETÁRIO / OWNER: Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra
Rua do Colégio Novo, s/n, 3000-115 CoimbraNIPC.: 501617582
Sede de Redação: Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, Rua do Colégio Novo, s/n, 3000-115 Coimbra
ASSINATURAS / SUBSCRIPTIONS: Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra
Rua do Colégio Novo, s/n, 3000-115 CoimbraTel.: 239 851 450 - Fax: 239 851 468
URL: http://www.uc.pt/fpce/publicacoes/psychologica/
DISTRIBUIÇÃO / DISTRIBUTION:Imprensa da Universidade de Coimbra
e-mail: [email protected]
Depósito legal / Legal deposit: 260686/07Estatuto Editorial / Editorial Statute: http://www.uc.pt/fpce/psychologica/estatutoeditorial
Impressão / Printing: Sersilito, Empresa Gráfica, Lda. Travessa Sá e Melo, 209 , Apartado 1208, Gueifães 4471 MaiaGrafismo / Graphics: Imprensa da Universidade de Coimbra
Periodicidade /Regularity: Semestral Preço deste número / Price - this issue: 13.50 Euros (Inc. IVA)
ISSN: 0871-4657DOI: https://doi.org/10.14195/1647-8606_59 -2
A PSYCHOLOGICA é uma revista com revisão por pares e uma publicação oficial da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra.
A PSYCHOLOGICA existe desde 1988 e em 2012 foi re-fundada, passando a publicar artigos científicos, em Inglês e Português, avaliados entre pares. Esta revista visa divulgar o trabalho científico nacional e estrangeiro realizado nas diversas áreas da Psicologia, seguindo os mais altos padrões científicos. Pretende, igualmente, ser um espaço para a troca de ideias,
problemas e experiências, decorrentes da teoria e da prática do desenvolvimento humano, social e cultural.
A PSYCHOLOGICA é publicada duas vezes por ano, em papel e on-line, e está indexada em várias bases de dados: PsycINFO, Latindex e Psicodoc. Publicação anotada na ERC.
PSYCHOLOGICA is a peer-reviewed journal and an official publication of the Faculty of Psychology and Educational Sciences of the University of Coimbra. PSYCHOLOGICA exists since 1988 and in 2012 was re-founded, publishing, since then, peer-
reviewed papers in English and Portuguese. This journal aims to disseminate national and international scientific work carried out in various areas of Psychology, following the highest scientific standards. It intends also to be a place for the exchange of
ideas, problems, and experiences, stemming from the theory and practice of human, social and cultural development.
PSYCHOLOGICA is published twice a year, in paper and online, and is indexed in several databases: PsycINFO, Latindex and Psicodoc. Annotated publication in ERC.
Tiragem: 200 exemplares
SOLICITA-SE PERMUTA/EXCHANGE REQUESTED
Psychologica constitui um espaço de partilha de ideias, problemas e experiências, nos diversos domínios da Psicologia. A difusão do conhecimento produzido e reflectido por investigadores nacionais e estrangeiros é nesta revista assumida
como um importante estímulo para novas investigações, bem como para a configuração e problematização de diferentes intervenções psicológicas.
Psychologica aims to disseminate national and international scientific work carried out in the various areas of Psychology. It equally intends to be a place for the exchange of ideas, problems, and experiences, stemming from the theory and practice
of human, social and cultural development.
PSYCHOLOGICA
IMPRENSA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRACOIMBRA UNIVERSITY PRESS
FACULDADE DE PSICOLOGIA E DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
VOLUME 59 Nº 2 2016
DIRETOR / DIRECTORRui Paixão
EDITOR / EDITORRui Paixão
[email protected] do Colégio Novo, s/n, 3000-115 Coimbra
Universidade de Coimbra, Portugal
EDITORES ASSOCIADOS /ASSOCIATE EDITORS
CONSELHO EDITORIAL / EDITORIAL BOARD
Alcyr Oliveira Jr. | [email protected] Universidade Federal de Ciências da Saúde, Porto Alegre, Brasil
Ángel Fernández | [email protected] de Salamanca, Espanha
António Damásio | [email protected] of Southern Califomia, Los Angeles, EUA
António Roazzi | [email protected] Federal de Pernambuco, BrasilCaroline Howarih | [email protected]
London School of Economics and Political Science, Reino UnidoDario Spini | [email protected] de Lausanne, SuíçaDavid Blustein | [email protected]
Boston College, EUADouglas L. Medin | [email protected]
Northwestern University, EUAEdwiges Silvares | [email protected] de São Paulo, Brasil
Eiríkur Örn Arnarson | [email protected] of lceland, Islândia
Eliane C. Miotto | [email protected] de São Paulo, Brasil
Emily K. Sandoz | [email protected] of Louisiana, Lafayette, EUA
Francisco Javier Moreno-Martínez | [email protected] Nacional de Educación a Distancia, Espanha
Fred Vondracek | [email protected] State University, EUA
Gerardo Prieto | [email protected] de Salamanca. Espanha
Joaquim Armando Ferreira | [email protected] de Coimbra, PortugalJohn T. Wixted | [email protected]
University of California, San Diego, EUAJonathan Passmore | [email protected]
Universidade de Évora, PortugalJosé Maria Peiró | [email protected]
Universidad de Valência, EspanhaJosé M. Marques | [email protected]
Universidade do Porto, PortugalKeith Dobson | [email protected]
University of Calgary, Canadá
Larry R. Squire | [email protected] of California, San Diego, EUA
Leandro da Silva Almeida | [email protected] do Minho, Portugal
Leonel Garcia-Marques | [email protected] de Lisboa, Portugal
Leslie Hammer | [email protected] State University, EUA
Luiz Pasquali | [email protected] de Brasília, Brasil
Marco Depolo | [email protected] Mater Studiorum - Universidad de Bolonia, Itália
Maria do Céu Salvador | [email protected] de Coimbra, PortugalMark Savickas | [email protected]
Northeastem Ohio Universíty College of Medicine, EUAMiguel Gonçalves | [email protected]
Universidade do Minho, PortugalOrlando Lourenço | [email protected]
Universidade de Lisboa, PortugalÓscar F. Gonçalves | [email protected]
Universidade do Minho, PortugalPaul Gilbert | [email protected]
Mental Health Research Unit, University of Derby, Reino UnidoRicardo Primi | [email protected]
Universidade de S. Francisco, ltatiba, S. P., BrasilRichard Haase | [email protected]
State University, New York, EUARichard Young | [email protected] of British Columbia, Canadá
Roy Martin | [email protected] University, EUA
Ruth Baer | [email protected] of Kentucky, EUA
Steven Hayes | [email protected] of Nevada, EUA
Willem Doise | [email protected] de Geneve, Suíça
Xenia Chryssochoou | [email protected] Panteion de Atenas, Grécia
Paula Paixã[email protected]
Universidade de Coimbra, Portugal
Joaquim Pires [email protected]
Universidade de Coimbra, Portugal
Margarida Pedroso de Lima
Coimbra, Portugal
Leonor [email protected]
Universidade de Coimbra, Portugal
Salomé [email protected]
Universidade de Coimbra, Portugal
José Tomás da [email protected]
Universidade de Coimbra, Portugal
Maria João Seabra SantosMargarida Pedroso de Lima
Eduardo SantosJosé Pinto-Gouveia
PSYCHOLOGICA
ANTIGOS EDITORES/ PAST EDITORS
José Pires Ferreira da SilvaAura Montenegro Ferrão
Manuel Amâncio Viegas Abreu
Nicolau de Almeida Vasconcelos RaposoLuísa Maria de Almeida Morgado
FUNDADORES/FOUNDING TEAM
ÍNDICE / INDEX
Representações sociais da saúde e doença mental: Um estudo qualitativo com Profissionais de Saúde Mental .................................. 7António Martins e Joana Sequeira
Jogo patológico em 3D: Variáveis familiares, conjugais e individuais ............................ 23Diana Cunha, Gabriela Fonseca e Ana Paula Relvas
Early memories of warmth and safeness and eating psychopathology: The mediating role of social safeness and body appreciation ............................. 45Sara Oliveira, Cláudia Ferreira and Ana Laura Mendes
Assessing delusional ideation: A narrative review of self-report instruments .............. 61Maria João Martins, Paula Castilho, Célia Barreto-Carvalho, Ana Telma Pereira, Filipa Tróia, Ondina Matos, Prazeres Santos, Tiago Santos e António Macedo
Perceção do apoio dos professores no desenvolvimento de carreira das crianças e jovens adolescentes: Validação de uma escala de avaliação .............. 83Rute David, José Tomás da Silva e Maria Paula Paixão
Avaliação da cultura organizacional: Adaptação e validação da versão portuguesa do Denison Organizational Culture Survey.........................101Eva Petiz Lousã e A. Duarte Gomes
Artigo por convite / Invited paperMore than words:
Promoviendo la integración laboral de personas con discapacidad ................ 123Marina Romeo y Montserrat Yepes-Baldó
Artigo por convite / Invited paperAnálisis de las características de estabilidad emocional en hombres y mujeres ......... 137
Esther Gracia, Naiara Vidal-Sellés y Vicente Martínez-Tur
Normas de Colaboração / Authors Guidelines................................................................ 149
7
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Representações sociais da saúde e doença mental
Representações sociais da saúde e doença mental: Um estudo qualitativo com Profissionais de Saúde Mental • pág. 7-22
DOI: https://doi.org/10.14195/1647-8606_59_2_1
Representações sociais da saúde e doença mental: Um estudo qualitativo com Profissionais de Saúde Mental
António Martins1 e Joana Sequeira2
Social representations of mental ill ‑health: A qualitative study with Mental Health Professionals
Abstract
The aim of this work is to study the social representations of Psychiatrists, Psychiatrist Interns, Child Psychiatrists and Clinical Psychologists about mental health and mental illness. A qualitative and exploratory study was developed based epistemologically on social constructionism and theoretically on social representations. Through the course of the research 30 health professionals participated in a semi -structured interview whose content was analysed by means of the NVivo 10 Programme. The results showed that the social representations of mental illness are heterogeneous, emphasizing operatio-nal, etiologic -explanatory and relativist conceptions. Mental health is conceptualized by health professionals according to the flexibility, adaptation, functionality and the biopsychosocial well -being of individuals. Implications of this study to the theoretical framework of social representations of mental health/illness are considered.
Keywords: mental illness; mental health; mental health professionals; social representations
1 Instituto Superior Miguel Torga. Email: [email protected]
2 Instituto Superior Miguel Torga. Email: [email protected] recebido a 05 -08 -2015 e aprovado a 15 -07 -2016.
8 António Martins e Joana Sequeira
Resumo
Este trabalho pretende conhecer as representações sociais de Psiquiatras, Internos de Psiquiatria, Pedopsiquiatras e Psicólogos Clínicos sobre a saúde e doença mental. É um estudo qualitativo de carácter exploratório, pontuado epistemologicamente pelo constru-cionismo social e teoricamente pelo quadro das representações sociais. Participaram 30 profissionais de saúde mental, tendo sido realizada uma entrevista semiestruturada que foi analisada quanto ao seu conteúdo – através do programa NVivo 10. Da análise dos resultados, salienta -se que as representações dos profissionais quanto à conceptualização da doença mental são heterogéneas, destacando -se conceções operacionais, etiológico--explicativas e relativistas. A saúde mental é conceptualizada pelos profissionais de saúde em função da flexibilidade, adaptação e funcionalidade e do bem -estar biopsicossocial dos indivíduos. Implicações do presente estudo para o quadro teórico das representações sociais da doença mental são consideradas.
Palavras ‑chave: doença mental; saúde mental; profissionais de saúde mental; represen-tações sociais
INTRODUÇÃO
O campo da psicopatologia é caracterizado pela heterogeneidade e incerteza (Morant, 2006), coexistindo múltiplos discursos, teorias e hipóteses sobre os dis-túrbios psicopatológicos (Pires, 2003). Várias são as teorias e os conceitos elencados para compreender e explicar a doença mental e delinear estratégias terapêuticas (Georgaca, 2001). Modelos biológicos, psicológicos, sociológicos e biopsicossociais concorrem no campo da saúde mental fornecendo grelhas teórico -práticas aos profissionais (Scheid & Brown, 2010).
O modelo biológico conceptualiza a doença mental como uma doença do cérebro (Cowan, Harter, & Kandel, 2000; Joffe, 2001). Esta assunção emerge de evidências científicas que apontam as variáveis genéticas da doença mental e dos avanços farmacêuticos das terapias medicamentosas que impulsionaram o conhecimento da química cerebral (Schwartz & Corcoran, 2010). Também os avanços na neu-roanatomia têm permitido correlacionar a estrutura cerebral e o comportamento humano (Schwartz & Corcoran, 2010).
O modelo psicológico, tradicionalmente, parte do pressuposto de que as pertur-bações têm uma origem e causalidade psicológica (Gleitman, Fridlund, & Reisberg, 2011. Segundo Peterson (2010) vários são os modelos psicológicos que oferecem
9
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Representações sociais da saúde e doença mental
um conjunto de asserções sobre a natureza do comportamento humano normal e patológico – por exemplo, o modelo psicanalítico/psicodinâmico, o modelo cognitivo -comportamental e o modelo humanista/existencial.
O modelo sociológico advoga a saúde e doença mental como produto de circuns-tâncias sociais (Horwitz, 2010; Thoits, 2010), privilegiando os fatores situacionais, comparativamente à omnipresença dos fatores disposicionais presentes nos modelos psicológicos e biológicos (Thoits, 2010). Metaforicamente, os proponentes deste modelo compreendem a doença mental como um colapso do indivíduo perante condições sociais/ambientais adversas (Thoits, 2010).
Por seu turno, o modelo biopsicossocial (Engel, 1977) pressupõe o papel das variáveis biológicas, psicológicas e sociais e a sua articulação como determinantes no processo saúde -doença. Por oposição ao reducionismo psicológico e sociológico, mas principalmente ao reducionismo biológico, surge a proposta biopsicossocial que delimita uma nova base, conceptual e metodológica, para o estudo da saúde e doença (Engel, 1977; Reis, 1999; Ogden, 2004). Propõe uma metateoria subjacente à teoria e prática clínica (Reis, 1999) que considera os mecanismos biológicos, os processos psicológicos e as inf luências sociais na saúde e doença mental (OMS, 2001; Peterson, 2010).
Os vários modelos descritos exibem múltiplas perspetivas sobre a saúde e doença mental que focam diferentes aspetos, e esse foco determina intervenções e posicionamentos distintos por parte dos profissionais de saúde mental, com implicações na vida dos doentes, famílias e comunidades (Morant, 2006; Walmsley, 2004). Partindo do quadro teórico das representações sociais (Moscovici, 1961), entendidas como “uma modalidade de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático e contribuindo para a construção de uma realidade comum a um conjunto social” (Jodelet, 2002, p. 22), verificamos que poucas foram as investigações que tiveram como objeto de estudo as representações sociais de profissionais de saúde mental (Morant 1995, 1998, 2006). Poderemos, no entanto, destacar o trabalho de Zani (1994), que posiciona os Psiquiatras mais próximos do modelo biológico e os Psicólogos mais próximos de conceções psicossociais sobre a saúde e doença mental. Em Nascimento -Schulze, Garcia e Arruda (1995) a saúde é definida pelo sentimento de bem -estar subjetivo, estando associada à ideia de harmonia, e a doença, pelo contrário, conceptualizada como desequilíbrio associado à disfunção do corpo. Com Morant (1995) emergem as representações sociais da doença mental próximas da narrativa biológica e represen-tações sociais funcionais que conceptualizam a doença mental como incapacidade para “funcionar e lidar com”.
Assim, é objetivo geral do presente estudo conhecer as representações sociais que os profissionais de saúde mental têm sobre a saúde e doença mental. Especificamente,
10 António Martins e Joana Sequeira
pretende -se: (a) conhecer as principais dimensões de significação, através dos dis-cursos que estruturam as representações dos Psicólogos, Psiquiatras, Pedopsiquiatras e Internos de Psiquiatria sobre o conceito de doença mental e o conceito de saúde mental; (b) verificar as semelhanças e diferenças em função da formação de base dos profissionais.
MÉTODO
Tipo de estudo
Trata -se de um estudo qualitativo – pois atende à compreensão e aos sig-nificados do processo narrativo, de acordo com os atores intervenientes no processo (Coutinho, 2013; Giorgi & Sousa, 2010) – de carácter exploratório--descritivo – na medida em que pretende a aproximação a uma problemática pouco estudada (Coutinho, 2013).
Assume -se como quadro de referência a teoria das representações sociais (Moscovici, 1961) pontuado epistemologicamente pelo construcionismo social (Gergen, 1985). Sustenta -se, deste modo, que as experiências e os significados não são apenas criados pelo indivíduo, mas existem na cultura e são inf luen-ciados por ela (Gergen, 1985; Quartilho, 2001), constituindo a narrativa ou a representação social um elo de ligação entre a experiência individual e o sistema sociocultural.
Participantes
A seleção dos participantes obedeceu aos critérios da amostragem por conveniência (Coutinho, 2013). Os critérios de inclusão foram: a formação de base dos profissionais de saúde mental a exercer clínica em contexto institu-cional público ou privado. Participaram 30 profissionais de saúde mental, 13 Psicólogos Clínicos e 10 Médicos Psiquiatras, dois Médicos Pedopsiquiatras e cinco Médicos Internos de Psiquiatria. Treze são do sexo masculino e 17 do sexo feminino. Dos Psicólogos, três participantes são do sexo masculino e 10 são do sexo feminino. Dos Psiquiatras, oito são do sexo masculino e dois do sexo feminino. Dos Pedopsiquiatras, um é do sexo masculino e outro
11
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Representações sociais da saúde e doença mental
feminino. Dos Internos de Psiquiatria, um é do sexo masculino e quatro do sexo feminino.
A idade média desses profissionais é de 39 anos (DP = 10.79), sendo que o mais novo tem 25 anos e o mais velho tem 60. No grupo dos Psicólogos a idade média é de 38 (DP = 10.48), dos Psiquiatras 44 (DP = 11.68), dos Pedopsiquiatras 37 (DP = 0.71) e dos Internos de Psiquiatria 29 (DP = 3.03). Quanto à escolari-dade, 14 participantes são licenciados, seis mestres e 10 doutores. Quanto aos Psicólogos três têm licenciatura, dois mestrado e oito têm doutoramento. Dos Psiquiatras sete têm licenciatura, um mestrado e dois têm doutoramento. Quanto aos Pedopsiquiatras dois têm licenciatura. Dos Internos de psiquiatria dois têm licenciatura e três têm mestrado.
Tabela 1Dados Sociodemográficos de uma Amostra de Profissionais de Saúde Mental
Total N = 30
Psicólogos N = 13
Psiquiatras N = 10
Pedopsiq. N = 2
Int. Psiq. N = 5
M DP M DP M DP M DP M DPIdade 38.53 10.79 38.31 10.48 44.10 11.68 36.50 0.71 28.8 3.03
N % N % N % N % N %GéneroMasculino 13 43.3 3 23.1 8 80 1 50 1 20Feminino 17 56.7 10 76.9 2 20 1 50 4 80EscolaridadeLicenciatura 14 46.7 3 23.1 7 70 2 100 2 40Mestrado 6 20 2 15.4 1 10 0 0 3 60Doutoramento 10 33.3 8 61.5 2 20 0 0 0 0
Nota: N = número total de sujeitos; M = Média; DP = Desvio de Padrão; Int. Psiq. = Internos de Psiquiatria.
Instrumentos
Tendo em consideração a especificidade dos objetivos, o enquadramento episte-mológico e o referencial teórico, foram construídos dois instrumentos para recolha de dados: o questionário sociodemográfico - que permitiu a caracterização dos participantes quanto às variáveis sociodemográficas, profissionais e académicas - idade dos participantes, sexo, atividade profissional, graduação académica e local onde exerce a atividade profissional - e a entrevista semiestruturada - que se tradu-ziu em duas questões de carácter aberto: (1) O que entende por doença mental? (2) O que entende por saúde mental?
12 António Martins e Joana Sequeira
Procedimentos
A recolha de dados realizou -se entre Janeiro e Junho de 2013. Num primeiro período o questionário sociodemográfico e profissional e a entrevista semiestru-turada foram construídos e testados com dois especialistas da área da psicologia e psiquiatria. O segundo período correspondeu à aplicação do questionário e da entrevista aos participantes da investigação. Nos dois períodos da investigação, a entrevista semiestruturada foi gravada em suporte digital, à exceção de um par-ticipante que respondeu por escrito às questões da entrevista. Posteriormente, as entrevistas foram transcritas para o processador de texto Word. Nenhuma expressão dos entrevistados/participantes foi modificada.
Foi solicitada, aos diretores de serviço de psiquiatria, permissão para recolha de dados no espaço institucional – Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e Centro Hospitalar Baixo Vouga.
Os participantes foram contactados via e -mail, solicitando a colaboração no estudo, tendo depois sido agendado um encontro com os mesmos no seu local de trabalho. A recolha de dados contou sempre com a presença do investigador e os participantes deram o seu consentimento informado e voluntário ficando assegu-rado o anonimato dos participantes e a confidencialidade dos dados.
O tempo de duração de aplicação do protocolo variou entre os 15 minutos e os 50 minutos.
Análise de dados
A técnica utilizada no processo de análise de dados foi a análise de conteúdo (Bardin, 2011; Vala, 2009), compreendendo as orientações de Vala (2009) – (1) delimi-tação dos objetivos e definição de um quadro teórico de referência, (2) constituição do corpus, (3) definição de categorias e (4) definição de unidades de análise. Depois da construção da entrevista semiestruturada, recolha dos dados e respetiva transcrição, procedeu -se, numa primeira fase, à leitura f lutuante. De seguida foi efetuada uma leitura pormenorizada dos dados e identificadas as categorias temáticas. Todo este processo contou com o apoio do programa de análise de dados qualitativos NVIVO10.
As entrevistas semiestruturadas foram codificadas separada e individualmente por dois juízes que acordaram quanto às categorias emergentes. De referir, ainda, que para a análise e tratamento dos dados recolhidos através do questionário sociodemográfico e profissional, e com o intuito de se proceder à análise estatística descritiva da amostra, foi utilizado o programa informático de análise estatística Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 19.0.
13
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Representações sociais da saúde e doença mental
RESULTADOS
Conceções sobre a doença mental
Atendendo à conceptualização de “Doença Mental” (Tabela 2), a categoria emergente mais referenciada é “Perturbação”, que conta com 36 referências de 20 entrevistados. Aqui a doença mental é contextualizada de forma equivalente a ”alteração”, “transtorno”, “limitação” ou “incapacidade” que condiciona e limita o funcionamento (seja ele “psicológico”, “neurobiológico”, “biopsicossocial” ou “adaptativo”). “A doença mental é pela sua própria condição alguma coisa que perturba, que está localizado na mente e que perturba o funcionamento adequado do sujeito, segundo ele próprio, ou segundo o feedback que recebe da interação social, da família, etc.” (E13, Psicólogo).
O “mal -estar e sofrimento”, com oito referências de sete participantes, é a segunda categoria mais saliente. “Tem a ver com sofrimento, mal -estar, com uma busca de qualquer coisa.” (E11, Psicólogo).
A categoria “Desvio da normalidade estatística” surge referenciada por quatro vezes por quatro participantes.
Doença mental para mim é um desvio da normalidade comportamental, cognitiva e emocional, que se traduz, de facto, por uma diferença também estatística da normalidade, mas também no sentido biológico, ou seja as doen-ças mentais terão subjacentes anomalias, de facto, do Sistema Nervoso Central (E3, Psiquiatra).
Pontuando a atividade subjetiva e intersubjetiva, psicológica e social da doença mental, emerge a categoria “Relatividade Psicológica e Sociocultural”, com sete refe-rências totais por cinco participantes. Sendo que, das sete referências, três referências correspondem a dois Psiquiatras e outras três a dois Psicólogos, verificando -se uma distribuição homogénea entre os dois grupos profissionais. “O que é patologia ou doença mental num determinado sítio pode não o ser num outro local dependendo do enquadramento que lhe é dado.” (E9, Psicólogo).
Outro conceito que emerge na estrutura das conceções de doença mental é o de doença mental como “ausência de saúde”, com duas referências de dois participan-tes, um Psiquiatra e um Psicólogo. “A saúde mental (…) um bem -estar psicológico, social, etc. a todos os níveis, sem dúvida quando existe doença mental há esta ausência de bem -estar também a vários níveis.” (E21, Psicólogo).
14 António Martins e Joana Sequeira
Em resumo, observamos que o campo conceptual da doença mental é múltiplo, complexo e heterogéneo. No entanto, no grupo dos psicólogos, destacam -se conce-ções operacionais, neutras do ponto de vista teórico, com pontos de ancoragem à definição de doença mental do DSM -IV -R (APA, 2006). No grupo dos Psiquiatras e dos Internos de Psiquiatria destacam -se conceções etiológico -explicativas, com-prometidas do ponto de vista teórico com o modelo biomédico. No grupo dos psiquiatras, sobressaem ainda conceções relativistas sobre a doença mental.
Tabela 2Conceções sobre a Doença Mental
Dimensão ConceptualDoença Mental Entrevistados Total Referências Total
Psiq Psic Int Pedo Psiq Psic Int PedoPerturbação
Psicológica 3 6 1 0 10 3 6 2 0 11Neurobiológica 2 2 1 0 5 3 8 2 0 13Adaptativa 1 2 0 1 4 1 4 0 2 7Biopsicossocial 0 0 1 0 1 1 0 0 0 1
Total Parcial 32Mal -estar e sofrimento 2 4 1 0 7 2 5 1 0 8Relatividade Psic. e SocioCult. 2 2 1 0 5 3 3 1 0 7Desvio da normalidade estatística 3 0 1 0 4 3 0 1 0 4Ausência de Saúde Mental 1 1 0 0 2 1 0 1 0 2Total 55
Nota: Psiq = Psiquiatra; Psic = Psicólogo; Int = Interno de Psiquiatria; Pedo = Pedopsiquiatra; Relatividade Psic. e Socio -Cult. = Relatividade Psicológica e Sociocultural.
Conceções sobre a saúde mental
No que diz respeito à saúde mental (Tabela 3), a maioria dos participantes enquadra -a no sentido mais amplo da saúde, ou seja, como um “bem -estar” integral ou biopsicossocial, que se traduz na subcategoria “Bem -estar biopsicossocial”, que conta com 20 referências de 16 participantes. Destas 20 referências, 10 foram feitas por oito Psiquiatras, seis por quatro Psicólogos, três por três Internos de Psiquiatria e um por um Pedopsiquiatra.
Entendo por saúde mental uma saúde integrada, também não existe só saúde mental, então nesse aspeto faria mais sentido falar em saúde do contexto da defi-nição da OMS, de um bem -estar integrado que é social, que é psicológico, que é
15
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Representações sociais da saúde e doença mental
físico e portanto a saúde mental é uma parte desse todo, mas ninguém tem saúde mental se não tiver saúde nos vários outros campos, nas várias outras áreas da vida (E11, Psicólogo).
Filiada à categoria “Bem -estar”, para além da referida subcategoria “Bem -estar Biopsicossocial”, surgem duas outras subcategorias: o “Bem -estar Psicossocial” e o “Bem -estar Psicológico”.
O “Bem -estar Psicossocial” apresenta sete referências de seis participantes - emerge da constatação do processo de funcionamento harmonioso do indivíduo no seu ambiente social, promotor de um encaixe adaptativo indivíduo -meio. Das sete referências, cinco são de quatro Internos de Psiquiatria, uma de um Psiquiatra e uma de um Pedopsiquiatra.
Então a saúde mental seria de uma forma assim mais resumida, o conjunto de condições que o indivíduo tem do ponto de vista psicológico que o permite fazer a sua vida de uma forma adaptada, a ele, aos outros e à sociedade (E12, Psiquiatra).
O “Bem -estar Psicológico” conta com um total de cinco referências de cinco participantes – duas referências de dois Internos de Psiquiatria, duas de dois Psicólogos e uma de um Pedopsiquiatra. “Saúde mental acho que tem mais a ver com o bem -estar psicológico. O facto de se sentir bem.” (E15, Psicólogo).
Associada à estrutura conceptual “Bem -estar” emerge a categoria “Flexibilidade, adaptação e funcionalidade” com 21 referências por 11 participantes, salientando -se o grupo profissional dos Psicólogos com 20 referências de nove participantes. “[O indivíduo] é tão mais saudável quanto mais capaz for de construir multi -respostas tão alternativas quanto possível, numa multi -realidade quanto possível num processo sistemático.” (E7, Psicólogo).
Da saúde mental perspetivada negativamente, emerge a conceção de saúde mental como “Ausência de Doença”, com nove referências de oito participantes. Quatro emergem do discurso de quatro Psicólogos, três de três Psiquiatras e duas de um Interno de Psiquiatria.
Em oposição ao que é a minha perspetiva da doença mental, portanto, a saúde mental será o oposto, ou seja, neste caso, num sentido estrito, a ausência dessas anomalias de facto biológicas do SNC que correspondem à ou melhor, às doenças mentais (E3, Psiquiatra).
Do ter ao não ter saúde mental, da qualidade ou falta dela, surge a Saúde Mental como um ”continuum saúde -doença”, com quatro referências de quatro Psicólogos,
16 António Martins e Joana Sequeira
duas de dois Internos de Psiquiatria e um de um Psiquiatra, o que contabiliza sete referências de sete participantes. “A diferença entre saúde e doença não é qualitativa, mas é mais quantitativa, isto é, as fronteiras muitas vezes são ténues, são esbatidas e portanto é mais uma questão do quão saudável está ou quão doente está.” (E30, Interno de Psiquiatria).
Se para alguns participantes a doença mental é um conceito complexo, para outros a saúde mental é ainda mais difícil de conceptualizar. Neste sentido, emerge a categoria “Conceito Lato e Complexo” com seis referências de cinco partici-pantes. Destas, três referem -se a três Psiquiatras e as outras três a dois Internos de Psiquiatria. “É mais difícil definir saúde do que doença.” (E29, Psiquiatra). A questão da saúde “é muito mais ampla, muito mais lata que a doença.” (E30, Interno de Psiquiatria).
Para um Psiquiatra, que conta com três referências, a questão da saúde desloca -se do domínio da ciência num sentido estrito para o conceito definido politicamente. “Saúde mental é um conceito, enfim, falado muito pela organização mundial de saúde e por políticas de saúde mais do que por instituições de saúde (…) envolve mais questões não médicas, questões também muito políticas.” (E14, Psiquiatra).
Sintetizando, constatamos que a saúde mental é fundamentalmente concep-tualizada pelos profissionais de saúde em função do equilíbrio psicossocial do indivíduo - função da f lexibilidade, adaptação e funcionalidade - e do bem -estar biopsicossocial.
Tabela 3Conceções sobre Saúde Mental
Dimensão ConceptualSaúde Mental Entrevistados Total Referências Total
Psiq Psic Int Pedo Psiq Psic Int PedoBem -estar
Biopsicossocial 8 4 3 1 16 10 6 3 1 20Psicossocial 0 2 2 1 5 1 0 5 1 7Psicológico 1 0 4 1 6 0 2 2 1 5
Total Parcial 32Flexibilidade, adaptação e func. 1 9 1 1 12 1 20 1 1 23Ausência de doença 3 4 1 0 8 3 4 2 0 9Continuum saúde -doença 1 4 2 0 7 1 4 2 0 7Conceito Lato e complexo 3 0 2 0 5 3 0 3 0 6Conceito Político 1 0 0 0 1 3 0 0 0 3Total 80
Notas: Psiq = Psiquiatra; Psic = Psicólogo; Int = Interno de Psiquiatria; Pedo = Pedopsiquiatra; Flexibilidade, adaptação e func. = Flexibilidade, adaptação e funcionalidade
17
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Representações sociais da saúde e doença mental
DISCUSSÃO
Considerando a doença mental e as representações sociais dos profissionais de saúde mental, salientamos o seu carácter heterogéneo que, tal como nos estudos de Morant (1995, 2006), expõem a incerteza e ambiguidade do conceito. Estas representações são, pelo menos, teoricamente expectáveis, sobretudo, devido ao facto de o universo conceptual da doença mental ser construído sob múltiplas visões sobre o que significa doença mental (Morant, 2006; Rothes, 2006). Trata -se de um universo não consensual, onde predominam, pelo cariz complexo do objeto de referência, representações polémicas que conduzem ao debate e negociação constantes entre os profissionais de saúde mental (Cabecinhas, 2009; Morant, 2006; Vala, 2006). Neste sentido, encontramos frequentemente nas narrativas dos participantes, representações da doença mental como perturbação, alteração, transtorno, limitação ou incapacidade.
Não obstante a heterogeneidade, algumas temáticas comuns emergiram dos dados. De salientar:
(1) a doença mental como perturbação psicológica e geradora de mal -estar e sofrimento, que ref lete uma conceção de cariz operacional, não etiológica, com pontos de ancoragem à definição de doença mental do DSM -IV -TR (2006), que a conceptualiza como
uma síndrome ou padrão comportamentais ou psicológicos clinicamente sig-nificativos que ocorrem num sujeito e que estão associados com ansiedade actual (por exemplo, um sintoma doloroso) ou incapacidade (por exemplo, incapacidade em uma ou mais áreas importantes do funcionamento). Qualquer que seja a sua causa original, deve ser considerada como uma manifestação de uma disfunção comportamental, psicológica ou biológica no sujeito.” (p. xxxi).
Esta definição tem um valor fundamental para os participantes deste estudo na medida em que operacionaliza o conceito e permite, através de processos sociocognitivos, transformar um fenómeno comportamental não familiar e com-plexo em familiar e inteligível (Flick, Fischer, Schwarz, & Walter, 2002; Foster, 2001). Embora esta conceção seja proeminente na maioria dos profissionais consultados, não é contudo consensual, nem tão pouco na literatura científica (Wakefield, 1992, 2007), onde o debate ontológico e epistemológico se prolonga no tempo sobre o que é a doença mental, o que não é ou se é mesmo algo ou alguma coisa. Deste modo, a validade conceptual do conceito proposto pelos autores do DSM -IV -TR (2006) e a própria doença mental é questionada (Aragona, 2009; Wakefield, 1992, 2007);
18 António Martins e Joana Sequeira
(2) a doença mental com substrato neurobiológico emerge maioritariamente das narrativas dos médicos. Trata -se de uma conceção etiológico -explicativa. Aqui, a doença mental é sinónimo de doença do e no cérebro. Esta tese, mais consensual na biomedicina, privilegia explicações organicistas (Nordenfelt, 2007; Quartilho, 2001). A doença mental como uma alteração do funcionamento neurobiológico, encontrada neste estudo, tem correspondência no estudo de Zani (1994) e de Morant (1995), que sugerem que os psiquiatras estão mais próximos do modelo biológico;
(3) a doença mental dependente e relativa aos contextos socioculturais. No sentido inverso, alguns psiquiatras participantes consideram que a doença mental é conceptualizada em função dos contextos sociais e dos processos de significação que aí ocorrem. Esta linha de raciocínio é extensamente debatida na comunidade científica e filosófica (Aragona, 2009; Moncrieff, 2010; Szasz, 1978; Wakefield, 1992, 2006, 2007), na medida em que se questiona se o conceito de doença mental é um conceito científico, objetivo e universal ou um conceito sociopolítico relativo à dinâmica espaço -tempo. Este debate surge frequentemente polarizado: de um dos lados, os defensores da doença como facto (científico) e, do outro, os que percebem a doença como dependente dos valores (sociais).
No entanto, algumas tentativas de elaboração de um conceito híbrido emergiram entre diversos autores, de onde destacamos Wakefield (1992, 2006, 2007), que con-ceptualiza a doença mental como uma disfunção prejudicial – disfunção, refere -se à incapacidade de o sistema psicofisiológico desempenhar a sua função. Prejudicial refere -se à desadequação num contexto social particular (Aragona, 2009; Wakefield, 1992, 2006, 2007). Vemos, deste modo, que a incerteza conceptual que existe no campo da doença mental tem também o seu paralelo nas narrativas dos participantes.
Sobre as conceções acerca da Saúde Mental salienta -se duas representações entre os participantes. A saúde como bem -estar biopsicossocial, mais comum nos Psiquiatras e a saúde como flexibilidade, adaptação e funcionalidade, mais comum nos Psicólogos.
A saúde como bem -estar biopsicossocial vai ao encontro dos resultados de outros estudos qualitativos sobre as representações sociais da saúde e da doença, nomeadamente os de Nascimento -Schulze et al. (1995) com médicos e Flick et al. (2002) com médicos e enfermeiros. Neste quadro de referência, a saúde é biológica, psicológica e social no seu todo (Peterson, 2010). Não faz sentido, para grande parte destes profissionais, falar de saúde simplesmente como ausência de doença, nem tão pouco de saúde biológica, ou de saúde psicológica, ou de saúde social, por si só. A saúde é um processo biopsicossocial. Este quadro enunciativo sugere como ponto de ancoragem o conceito de saúde da Organização Mundial de Saúde (OMS). Esta organização define saúde como o estado de bem -estar físico, mental e social, total, e não apenas a ausência de doença (OMS, 2001) e surge, de alguma forma, como contraponto à conceção negativa de saúde (Almeida Filho & Jucá, 2002),
19
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Representações sociais da saúde e doença mental
como ausência de doença (Dalgalarrondo, 2008) ou como silêncio do corpo ou dos órgãos (Loureiro, 2008). No entanto, a conceção de saúde como completo bem--estar biopsicossocial e não simplesmente como ausência de doença (OMS, 2001), por um lado, é um conceito muito criticável, por ser lato, complexo, impreciso e, consequentemente, difícil de definir e objetivar (Dalgalarrondo, 2008). Por outro lado, permanece, segundo Nordenfelt (2007), idealista e utópico, na medida em que poucas pessoas se encaixariam na categoria saudável.
A saúde como f lexibilidade, adaptação e funcionamento encontra o seu referente na visão de saúde como equilíbrio do indivíduo perante si, na sua relação com os outros e com o ambiente, ref letindo a ideia de harmonia (Nordenfelt, 2007). Esta narrativa é encontrada nos resultados globais do estudo, já referido, de Nascimento--Schulze et al. (1995), onde as narrativas emergentes se enquadram exatamente na noção referida de equilíbrio e harmonia.
CONCLUSÕES
Os estudos das representações sociais sobre a saúde e doença mental têm normal-mente como foco as racionalidades leigas (Foster, 2001; Jodelet, 1989; Loureiro, 2008). O presente estudo permitiu ir além das racionalidades leigas e conhecer as narrativas sociais dos conceitos de saúde e doença mental de especialistas da área da saúde men-tal. Dos dados recolhidos e analisados pudemos constatar dimensões distintas sobre a doença mental: operacionais, não etiológicas, enfatizando o mal -estar e sofrimento; e etiológicas -explicativas, que salientam o determinismo psicológico, neurobiológico ou social na génese da doença mental. As narrativas sobre a saúde mental também são heterogéneas, com pontos de ancoragem ao modelo biopsicossocial da saúde e a características como flexibilidade e equilíbrio psicossocial. Estes dados são importantes, pois permitem observar de que forma os modelos teóricos moldam as representações dos profissionais de saúde mental. Esta influência dos modelos teóricos tem o poder de tornar inteligível o processo de saúde -doença, balizando -o narrativamente do ponto de vista cognitivo e social. Estes resultados poderão constituir -se como con-tributo para a investigação na área das representações sociais, na medida em que se expõe as diferenças conceptuais entre os profissionais da área, o que apela à reflexão e questionamento da teoria e prática clínica. Por fim, tendo em conta a importância do estudo das representações sociais, seria importante, no futuro, estudar, por um lado, a congruência entre as representações sociais dos profissionais de saúde mental e a prática clínica efetiva e, por outro lado, estudar a forma como as representações sociais dos profissionais moldam as representações sociais leigas.
20 António Martins e Joana Sequeira
REFERÊNCIAS
Almeida -Filho, N., & Jucá, V. (2002). Saúde como ausência de doença: Crítica da teoria funcionalista de Christopher Boorse. Ciência e Saúde Coletiva, 7(4), 879 -889. doi: 10.1590/s1413 -81232002000400019
Aragona, M. (2009). The concept of mental disorder and the DSM -V. Dialogues in Philosophy, Mental and Neuro Sciences, 2(1), 1 -14.
Associação Americana de Psiquiatria (APA). (2006). Manual de diagnóstico e estatística das pertur-bações mentais (4ª ed.). Lisboa: Climepsi Editores.
Bardin, L. (2011). Análise de conteúdo (4ª ed.). Lisboa: Edições 70.Cabecinhas, R. (2009). Investigar representações sociais: Metodologias e níveis de análise. In M.
M. Baptista (Eds.), Cultura: Metodologias e investigação (pp. 51 -66). Lisboa: Verso Edições.Coutinho, C. P. (2013). Metodologia de investigação em ciências sociais e humanas: Teoria e prática
(2ª ed.). Coimbra: Almedina. Cowan, W. M., Harter, D. H., & Kandel, E. R. (2000). The emergence of modern neuroscience: Some
implications for neurology and psychiatry. Annual Review of Neuroscience, 23, 343 -391. doi:10.1146/annurev.neuro.23.1.343
Dalgalarrondo, P. (2008). Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais (2ª ed.). São Paulo: Artmed Editora.
Engel, G. L. (1977). The need for a new medical model: A challenge for biomedicine. Science, 196(4286), 129 -136. doi: 10.1126/science.847460
Flick, U., Fischer, C., Schwartz, F. W., & Walter, U. (2002). Social representations of health held by health professionals: The case of general practitioners and home -care nurses. Social Science Information, 41(4), 581 -602. doi: 10.1177/0539018402041004005
Foster, J. (2001). Unification and differentiation: A study of the social representations of mental ill-ness. Papers on Social Representations, 10, 1 -18. Consultado em http://www.psych.lse.ac.uk/psr/PSR2001/10_3Foste.pdf
Georgaca, E. (2001). O discurso da psicopatologia: Uma abordagem crítica ao dispositivo teórico da psiquiatria. In M. M. Gonçalves & O. F. Gonçalves (Eds.), Psicoterapia, narrativa e discurso: A construção conversacional da mudança (pp. 331 -373). Coimbra: Quarteto.
Gergen, K. J. (1985). The social constructionist movement in modern psychology. American Psycho-logist, 40(3), 266 -275. doi: 10.1037/0003 -066X.40.3.266
Giorgi, A., & Sousa, D. (2010). Método fenomenológico de investigação em psicologia. Lisboa: Fim de Século.Gleitman, H., Fridlund, A., & Reisberg, D. (2011). Psicologia (9ª ed.). Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian. Horwitz, A. V. (2010). An overview of sociological perspectives on the definitions, causes, and responses
to mental health and illness. In T. L. Scheid & T. N. Brown (Eds.), A handbook for the study of mental health (2nd ed., pp. 6 -19). New York: Cambridge University Press.
Jodelet, D. (1989). Folies et représentations sociales. Paris: PUF.Jodelet, D. (2002). Representações sociais: Um domínio em expansão. In D. Jodelet (Eds.), As repre-
sentações sociais (pp. 17 -44). Rio de Janeiro: Eduerj.Joffe, R. T. (2001). Progress in the biology of psychiatry. Journal of Psychiatry and Neuroscience,
26(2), 101 -102. Consultado em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1407759/pdf/jpn00090 -0015.pdf
Loureiro, L. (2008). Representações sociais da loucura: Importância para a promoção da saúde mental (Tese de doutoramento não publicada). Universidade do Porto, Porto.
21
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Representações sociais da saúde e doença mental
Moncrief, J. (2010). Psychiatric diagnosis as a political device. Social Theory and Health, 8(4), 370 -382. doi: 10.1057/sth.2009.11
Morant, N. (1995). What is mental illness? Social representations of mental illness among British and French mental health professionals. Papers on social representations, 4(1), 41 -52. Consultado em http://www.psych.lse.ac.uk/psr/PSR1995/4_1995Moran.pdf
Morant, N. (1998). The social representation of mental ill -health in communities of mental health practitioners in the UK and France. Social Science Information, 37(4), 663 -685. doi: 10.1177/053901898037004006
Morant, N. (2006). Social representations and professional knowledge: The representation of mental illness among mental health practitioners. British Journal of Social Psychology, 45(4), 817 -838. doi: 10.1348/014466605X81036
Moscovici, S. (1961) La psychanalyse, son image et son publique. Paris: PUF.Nascimento -Schulze, C. M., Garcia, A. I. F., & Arruda, D. C. (1995). Health paradigms, social repre-
sentations of health and illness and theirs central nucleus. Papers on Social Representations, 4(2), 187 -198. Consultado em http://www.psych.lse.ac.uk/psr/PSR1995/4_1995Nasci.pdf
Nordenfelt, L. (2007). The concepts of health and illness revisited. Medicine, Health Care, and Phi-losophy, 10(1), 5 -10. doi: 10.1007/s11019 -006 -9017 -3
Ogden, J. (2004). Psicologia da Saúde (2ª ed.). Lisboa: Climepsi Editores.OMS (Organização Mundial de Saúde). (2001). Saúde mental, nova concepção, nova esperança: Relatório
sobre a Saúde no Mundo. Consultado a 30 Julho 2013 em http://www.who.int/whr/2001/en/whr01_djmessage_po.pdf
Peterson, C. (2010). Psychological approaches to mental illness. In T. L. Scheid & T. N. Brown (Eds.), A handbook for the study of mental health (2nd ed., pp. 89 -105). New York: Cambridge Uni-versity Press.
Pires, C. M. L. (2003). Manual de psicopatologia (2ª ed.). Leiria: Editorial Diferença.Quartilho, M. (2001). Cultura, medicina e psiquiatria: Do sintoma à experiência. Coimbra: Quarteto Editora.Reis, J. (1999). Modelo metateórico da psicologia da saúde para o séc. XXI: Interacção ou integração
biopsicossocial? Análise Psicológica, 3(XVII), 415 -433. Consultado em http://www.scielo.mec.pt/pdf/aps/v17n3/v17n3a02.pdf
Rothes, I. (2006). Suicídio juvenil: Representações sociais dos médicos e dos psicólogos (Dissertação de mestrado não publicada). Universidade do Porto, Porto.
Scheid, T. L., & Brown, T. N. (Eds.). (2010). Handbook for the study of mental health (2nd ed.). New York: Cambridge University Press.
Schwartz, S., & Corcoran, C. (2010). Biological theories of psychiatric disorders: A sociological approach. In T. L. Scheid & T. N. Brown (Eds.), A handbook for the study of mental health (2nd ed., pp. 64 -88). New York: Cambridge University Press. doi.org/10.1017/CBO9780511984945
Silva, A. (2003). Formação, percursos e identidades. Coimbra: Quarteto Editora.Szasz, T. (1978). A fabricação da loucura: Um estudo entre a inquisição e o movimento de saúde mental
(2ª ed.). Rio de Janeiro: Zahar.Thoits, P. A. (2010). Sociological approaches to mental illness. In T. L. Scheid & T. N. Brown (Eds.),
A handbook for the study of mental health (2nd ed., pp. 106 -124). New York: Cambridge Uni-versity Press.
Vala, J (2006). Representações sociais e psicologia social do conhecimento quotidiano. In J. Vala & M. B. Monteiro (Eds.), Psicologia social (7ª ed., pp. 457 -502). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
Vala, J. (2009). A análise de conteúdo. In A. S. Silva & J. M. Pinto (Eds.), Metodologia das ciências sociais (15ª ed., pp. 101 -128). Porto: Edições Afrontamento.
22 António Martins e Joana Sequeira
Wakefield, J. C. (1992). The concept of mental disorder: On the boundary between biological and social values. American Psychologist, 47(3), 373 -388. doi: 10.1037/0003 -066X.47.3.373
Wakefield, J. C. (2006). What makes a mental disorder mental? Philosophy, Psychiatry, e Psychology, 13(2), 123 -131. doi: 10.1353/ppp.2007.0010
Wakefield, J. C. (2007). The concept of mental disorder: Diagnostic implications of the harmful dysfunction analysis. World Psychiatry, 6(3), 149 -156. Consultado em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2174594/
Walmsley, C. J. (2004). Social representation and the study of professional practice. International Journal of Qualitative Methods, 3(4), 78 -103. Consultado em https://journals.library.ualberta.ca/ijqm/index.php/IJQM/article/view/4380/3566
Zani, B. (1994). Social representations of mental illness: Lay and professional perspectives. In G. M. Breakwell & D. V. Canter (Eds.), Empirical approaches to social representations (pp. 315 -330). Oxford: Clarendon Press.
23
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Jogo patológico em 3D
Jogo patológico em 3D: Variáveis familiares, conjugais e individuais • pág. 23-44DOI: https://doi.org/10.14195/1647-8606_59_2_2
Jogo patológico em 3D: Variáveis familiares, conjugais e individuais
Diana Cunha1, Gabriela Fonseca2 e Ana Paula Relvas3
3D Pathological gambling: Family, marital and individual variables
Abstract
This work integrates and articulates the main results of the project “Pathological gambling in 3D: Family, marital and individual variables”, presented in five scientific articles. The results show that pathological gamblers are a heterogeneous group with different severities of the gambling problem, revealing a positive relationship between increasing severity of pathological gambling and the amount and intensity of individual, marital and family difficulties associated. The order in which these difficulties appear seems to put family difficulties and differentiation of the self in the last place and marital and individual difficulties in the first one. There is little consensus regarding the marriage and family areas between gambler(s) and their spouse(s), whereby the perspective of the former is less marked by deficit or more optimistic than the latter’s. The articulation of these data has led to a comprehensive reflection on the theme, systematized by the reformulation of the Integrative Systemic Model of Pathological Gambling.
Keywords: pathological gambling; family; couple; individual
1 Aluna de doutoramento da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. Email: [email protected]
2 Aluna de doutoramento da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. Email: [email protected]
3 Professora Catedrática da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. Investigadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Email: [email protected] recebido a 30-03-2016 e aprovado a 16-06-2016.
24 Diana Cunha, Gabriela Fonseca e Ana Paula Relvas
Resumo
Este trabalho integra e articula os principais resultados do projeto “Jogo patológico em 3D: Variáveis familiares, conjugais e individuais”, dispersos por cinco artigos científicos. Os resultados indicam que os jogadores patológicos constituem um grupo heterogéneo com diferentes severidades do problema jogo, revelando-se uma relação positiva entre o aumento da gravidade do jogo patológico e da quantidade e intensidade de dificuldades individuais, conjugais e familiares associadas. A ordem pela qual estas dificuldades se fazem notar parece colocar as dificuldades familiares e a diferenciação do self em último lugar e as dificuldades conjugais e individuais em primeiro. As áreas conjugal e familiar são pouco consensuais entre jogador(es) e cônjuge(s), sendo a perspetiva do(s) primeiro(s) menos marcada pelo défice ou mais otimista do que a do(s) segundo(s). A articulação destes dados conduziu a uma reflexão integradora sobre o tema, sistematizada através da reformulação do Modelo Sistémico Integrador do Jogo Patológico.
Palavras‑chave: jogo patológico; família; casal; indivíduo
INTRODUÇÃO
O presente trabalho consiste numa reflexão holística sobre os resultados principais do projeto “Jogo patológico em 3D: Variáveis familiares, conjugais e individuais”. Na fase inicial do projeto, desenvolveu-se o Modelo Sistémico Integrador do Jogo Patológico (MSIJP) (Cunha & Relvas, 2014a) e todos os estudos subsequentes têm como base teórica este modelo. O MSIJP é uma ferramenta sistémica compreensiva do desenvolvimento e manutenção do jogo patológico. Este modelo organiza as evidências da literatura sobre o assunto e interpreta-as como um todo coerente, incluindo quatro níveis de compreensão que se influenciam uns aos outros: o contexto social, a família, o casal e o indivíduo.
Os resultados dos estudos realizados no âmbito do referido projeto encontram-se dispersos por diferentes artigos científicos, procurando-se, neste trabalho, proceder à sua articulação integradora. Apesar de termos consciência de que os grupos amos-trais dos jogadores patológicos não são sempre coincidentes nos diferentes estudos considerados, decidimos analisar/trabalhar descritivamente os dados daí decorren-tes. Trata-se, portanto, de uma articulação de dados fundamentalmente ref lexiva.
Mais especificamente, visa-se uma leitura compreensiva da relação entre a gravidade do jogo patológico e as variáveis psicossociais analisadas nos cinco estudos, considerando: 1) as características psicossociais dos jogadores patológicos, 2) a comparação sobre a perspetiva de jogadores patológicos com a de cônjuges de
25
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Jogo patológico em 3D
jogadores patológicos, e 3) a reavaliação do Modelo Sistémico Integrador do Jogo Patológico (MSIJP) (Cunha & Relvas, 2014a).
De seguida descrevem-se, sucintamente, os objetivos, metodologia e principais resultados dos cinco estudos.
APRESENTAÇÃO SUCINTA DOS CINCO ESTUDOS CONSIDERADOS
Estudo 1 - Pathological gambling: Psychopathology and family variables in a non-clini-cal sample. (Cunha & Relvas, 2014b)
O objetivo principal é comparar 32 jogadores patológicos de uma amostra clínica com 52 participantes de uma amostra não clínica (não-jogadores/jogadores sociais) em relação às seguintes variáveis: sintomatologia psicopatológica, ajustamento conjugal, funcionamento familiar e qualidade de vida. Aplicaram-se os seguintes instrumentos: questionário de dados sociodemográficos, Systemic Clinical Outcome and Routine Evaluation – 15 (SCORE-15) (Stratton, Bland, Janes, & Lask, 2010; versão portuguesa de Vilaça, Silva, & Relvas, 2014), Qualidade de Vida (QOL-VR) (Cunha & Relvas, 2017), Escala de Ajustamento Diádico (DAS) (Spanier, 1976; versão portuguesa de Lourenço, 2006), Inventário de Sintomas Psicopatológicos (BSI) (Derogatis & Spencer, 1982; versão portuguesa de Canavarro, 1999) e South Oaks Gambling Screen (SOGS) (Lesieur & Blume, 1987; versão portuguesa de Lopes, 2009). Os resultados mostraram que os jogadores patológicos não percebem as suas características familiares (funcio-namento familiar, qualidade de vida familiar, ajustamento conjugal) de forma mais negativa do que os não-jogadores/jogadores sociais. Os dois grupos diferem no que diz respeito aos sintomas psicopatológicos, apresentando os jogadores patológicos níveis mais elevados de sintomatologia. Os problemas financeiros são referidos por ambos os grupos como o seu principal problema familiar, no entanto, de forma significativamente superior no grupo de jogadores patológicos.
Estudo 2 - Gambling behavior severity and psychological, family and contextual variables: A comparative analysis. (Cunha, de Sousa, Fonseca, & Relvas, 2016)
Este estudo compara três grupos – 162 indivíduos sem problemas de jogo, 117 indivíduos com alguns problemas de jogo e 52 jogadores patológicos – atendendo
26 Diana Cunha, Gabriela Fonseca e Ana Paula Relvas
a quatro níveis de análise: social (i.e., acessibilidade e aceitação social do jogo a dinheiro), familiar (i.e., aspetos relacionados com transgeracionalidade, funcionamento familiar e qualidade de vida), conjugal (i.e., satisfação e ajustamento conjugais) e individual (i.e., congruência, diferenciação do self e sintomatologia psicopatológica). Para além disso, fez-se uma análise de clusters no grupo de jogadores patológicos. Adicionalmente aos instrumentos referidos no Estudo 1, utilizaram-se os seguintes: Escala de Avaliação da Satisfação em Áreas da Vida Conjugal (EASAVIC) (Narciso & Costa, 1996), Escala de Congruência (CS) (Lee, 2002b; versão portuguesa de Cunha, Silva, & Relvas, 2014), Inventário de Diferenciação do Self - Revisto (DSI-R) (Skowron & Schmitt, 2003; versão portuguesa de Major, Rodríguez-González, Miranda, Rousselot, & Relvas, 2014) e seis questões independentes que avaliam os aspetos transgeracionais e relativos ao contexto social (aceitação e acessibilidade) supramencionados. Os resultados indicam que, embora os dois grupos de jogado-res não patológicos apresentem diferentes níveis de gravidade quanto ao seu jogo, não se diferenciam estatisticamente um do outro, sugerindo que os problemas relacionados com o jogo apenas são evidentes quando se atinge o nível patológico. Ambos os grupos consideram o jogo patológico um problema individual, bene-ficiando de terapia individual em detrimento de abordagens familiares (questão complementar do SCORE-15). Os jogadores patológicos apresentam um maior número de dificuldades familiares, conjugais e individuais em comparação com os outros dois grupos. No que respeita à aceitação social do jogo, os grupos não se diferenciam, apresentando uma opinião dividida entre a aceitação e a crítica; relativamente à acessibilidade todos os grupos consideram que o acesso a este tipo de jogos é extremamente fácil. Quanto aos aspetos transgeracionais os grupos não se diferenciam. O mesmo acontece no que respeita às dificuldades financeiras, referidas pelos diferentes grupos. Além disso, os jogadores patológicos revelaram-se um grupo heterogéneo, dividido por dois clusters: um, essencialmente não clínico, que, apesar do seu envolvimento problemático com o jogo, mantém uma vida mais ou menos normativa, sem grandes dificuldades associadas (cluster jogo patológico moderado) e outro composto tanto por participantes clínicos como por não clínicos, com patologia de jogo mais severa e com mais dificuldades tanto individuais, como conjugais e de funcionamento familiar (cluster jogo patológico severo).
Estudo 3 - Professional gamblers: Psychopathology, individual and family characteris-tics (Cunha & Relvas, 2014c)
O principal objetivo é caracterizar uma amostra de indivíduos que se consideram jogadores profissionais; estes são caracterizados em termos
27
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Jogo patológico em 3D
da sua atividade de jogo, variáveis familiares, conjugais e individuais. Utilizou-se uma amostra de 41 jogadores profissionais, dos quais 12 foram classificados como jogadores patológicos, atendendo ao SOGS. Utilizaram-se os mesmos instrumentos referidos no Estudo 2. Os jogadores profissionais sem problemas associados com o jogo evidenciam valores normativos de funcionamento familiar, qualidade de vida, satisfação e ajustamento conjugais, sintomatologia psicopatológica, congruência e diferenciação do self. Em contraste, os jogadores profissionais patológicos (em comparação com os não patológicos) apresentaram mais problemas conjugais (tanto no que respeita ao ajustamento – DAS - como à satisfação - EASAVIC), mais sintomatologia psicopatológica e menor diferenciação do self (fusão com os outros). Face aos aspetos transgeracionais, relativos aos contextos social e financeiro, os dois grupos não se diferenciam, reiterando os resultados do Estudo 2.
Estudo 4 - The pathological gambler and his spouse: How do their narratives match? (Cunha, Sotero, & Relvas, 2015)
Este trabalho compara as narrativas de um jogador patológico e do seu cônjuge (estudo de caso) sobre aspetos familiares, conjugais e individuais, através da identificação das narrativas de cada um dos protagonistas indi-vidualmente (análise de questionários de autorrelato – os mesmos referidos no Estudo 1) e em interação (análise das sessões de terapia de casal/processo terapêutico). A narrativa do cônjuge é mais representativa nas dimensões stress familiar (66.67%) e dificuldades da conjugalidade (85%) e, em particular, nos temas dificuldades de comunicação e partilha emocional (85%), dificuldades na partilha das tarefas do quotidiano (90%), dificuldades na intimidade sexual (80%), peso da desconfiança na conjugalidade (87.50%) e desafios familiares (75%). Já a narrativa do jogador é mais representativa nas dimensões forças da conjugalidade (55.56%) e dificuldades sentidas na esfera individual (62.16%), particularmente nos temas satisfação com os tempos livres/amigos (36.36%), perceção positiva do outro ou da conjugalidade (20%) e consequências laborais do jogo (no jogador) (28.58%). A perspetiva familiar e conjugal do jogador é mais positiva, reconhecendo mais forças da conjugalidade e familiares. Mesmo no que respeita às dificuldades, o jogador é menos perentório a referi-las: “não há nada na minha vida familiar que me possa levar a jogar…talvez os con-f litos”. No entanto, os aspetos individuais são lidos mais negativamente pelo jogador. Para este os problemas quase se circunscrevem à esfera individual,
28 Diana Cunha, Gabriela Fonseca e Ana Paula Relvas
sendo o cônjuge quem aponta dificuldades relacionais (familiares e conjugais), atribuindo-lhes especial importância.
Estudo 5 - Gambling and the couple: Comparing gamblers’ and spouses’ views on family, marital and individual levels (Cunha & Relvas, 2015a)
Este estudo compara, quantitativamente, a perspetiva de 19 jogadores patológicos e de 13 cônjuges de jogadores patológicos (entre si e com resultados normativos), no que se refere à família (funcionamento e qualidade de vida familiar), conju-galidade (satisfação conjugal e ajustamento) e variáveis individuais (congruência, diferenciação do self e sintomatologia psicopatológica). Administraram-se os mesmos instrumentos referidos no Estudo 2. No que se refere ao funcionamento individual, tanto jogadores como cônjuges apresentam sintomatologia psicológica, com os valores típicos das populações emocionalmente perturbadas. Para além disso, os jogadores também apresentam dificuldades relativas à congruência. Os resultados mostram ainda que a perspetiva dos jogadores na vida familiar e conjugal é menos afetada por dificuldades do que a dos cônjuges, sendo esta diferença mais evidente no que respeita à vida conjugal. Relativamente às difi-culdades financeiras, ambos os grupos as reconhecem como um dos principais problemas familiares.
CARACTERÍSTICAS PSICOSSOCIAIS DOS JOGADORES PATOLÓGICOS
A primeira nota a realçar é que as áreas onde os jogadores com patologia apresentam níveis superiores de dificuldade (face aos respetivos grupos de comparação), não são as mesmas em cada um dos estudos considerados. Assim, os jogadores patológicos parecem organizar-se, essencialmente, por quatro subgrupos, com gravidade crescente do problema jogo e dificuldades associadas. A) Um subgrupo (essencialmente não clínico) que, apesar do seu envolvimento problemático com o jogo, mantém uma vida mais ou menos normativa, sem grandes dificuldades associadas (Estudo 2, cluster jogo patológico moderado). B) Um subgrupo (não clínico) que apresenta mais sintomatologia psicopatológica (BSI) do que o grupo de comparação (jogadores não patológicos), com valores muito próximos dos caraterísticos de populações emocionalmente perturbadas (Índice de Sintomas Positivos - ISP = 1.66, ponto de corte = 1.70) (Estudo 1). C) Um terceiro subgrupo que faz do jogo a sua profissão, talvez seguindo o
29
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Jogo patológico em 3D
conselho de Jack Dreyfus, um perito financeiro americano, don’t be born with a gambling instinct unless you have a good sense of probabilities. Este subgrupo, no que respeita aos resultados médios das principais variáveis em estudo, ocupa uma posição intermédia no grupo de jogadores patológicos, apresentando mais sintomatologia psicopatológica (BSI) e mais dificuldades em termos de ajusta-mento diádico (DAS), do que o grupo de comparação (jogadores profissionais sem patologia) (Estudo 3). D) E, por fim, um último subgrupo (jogadores clínicos e não clínicos) com patologia de jogo mais severa e com mais dificuldades tanto individuais [não só em termos de sintomatologia psicopatológica (BSI) como de diferenciação do self (DSI-R)], como conjugais [ajustamento diádico (DAS)] e de funcionamento familiar (SCORE-15) (Estudo 2, cluster jogo patológico severo) (Figura 1). Estes resultados são concordantes com a ideia de Martínez, Navarro e Romero (1993), se aplicada ao caso específico dos jogadores patológicos, segundo a qual, as dificuldades associadas ao jogo se fazem sentir à medida que a sua severidade aumenta.
Continuum de gravidade (SOGS): subgrupos de jogadores patológicos
Figura 1. Representação do continuum de gravidade observado no grupo de jogadores patológicos, com indicação das variáveis em que se sinalizam dificuldades (análise descritiva da comparação de grupos).
Uma vez que só os subgrupos A e D, ou seja, os representados nos clus-ters do Estudo 2, foram comparados entre si estatisticamente, a utilização de valores de referência para a população normativa e de pontos de corte dos instrumentos foi essencial enquanto referencial de comparação (Tabela 1), dando consistência e complementando a análise descritiva anterior. Esta análise corrobora, em grande parte, a distribuição apresentada anteriormente
Grupo A (não clínico,
cluster 2, estudo 2)
Grupo B (não clínico,
estudo 1)
BSI
Grupo C (profissionais,
estudo 3)
BSIDAS
Grupo D (não clínico +
clínico, cluster 1, estudo 2)
BSIDSI‑RDAS
SCORE‑15
30 Diana Cunha, Gabriela Fonseca e Ana Paula Relvas
dos jogadores patológicos, por quatro subgrupos com 1) severidade crescente de jogo patológico e 2) severidade e diversidade crescentes de dificuldades associadas. Acrescenta, no entanto, algumas diferenças no que respeita à conjugalidade: 1) a satisfação conjugal (EASAVIC) surge como uma área de dificuldade adicional no grupo D e 2) como a única área de dificuldade no grupo A; e 3) no grupo C, o ajustamento diádico (DAS) mantém-se dentro dos valores considerados normativos (apesar de na comparação de grupos – Estudo 3 – constituir uma área de maior dificuldade relativa); no entanto, a satisfação conjugal (EASAVIC) mostra-se inferior à da população geral (ape-sar de na comparação de grupos – Estudo 3 – as diferenças entre grupos não terem atingido a significância estatística).
Tabela 1 Comparação dos Valores Totais dos Instrumentos em Cada Grupo de Jogadores Patológicos com os Valores de Referência para a População Normativa ou, Quando Existentes, com os Pontos de Corte.
InstrumentosIntervalo normativode referência (M-DP – M+DP)
Ponto de corte
M (total)
Grupo A Grupo B Grupo C Grupo D
SOGS - - 7.38 8.44 9.25 10.67
BSI-ISP - ≥1.7 1.20 1.66 1.96 2.03
EC 68.05-88.77 - 68.17 - 69.70 71.54
DSI-R 3.36-4.40 - 4.02 - 3.56 3.35
EASAVIC 177.01-239.21 - 175.50 - 159.26 148.50
DAS - < 100 112.81 115.50 103.50 96.89
SCORE-15 1.44-2.60 - 1.87 2.02 2.33 2.84
QOL-VR 51.66-74.28 - 67.38 70.86 59.00 55.33
Os dois grupos com severidade de jogo inferior (A e B) apresentam duas áreas de dificuldade – a sintomatologia psicopatológica (BSI) e a satisfa-ção conjugal (EASAVIC), embora com valores muito limiares. O grupo C apresenta uma severidade intermédia de jogo e dificuldades ao nível da sintomatologia psicopatológica (BSI) e da satisfação conjugal (EASAVIC) com valores mais expressivos. O grupo D, com a maior severidade de jogo, apresenta dificuldades (ainda mais expressivas) relacionadas com a sinto-matologia psicopatológica (BSI), a satisfação conjugal (EASAVIC), o ajus-tamento diádico (DAS), a diferenciação do self (DSI-R) e o funcionamento familiar (SCORE-15). Completando a Figura 1 com estes dados obtém-se a informação que consta da Figura 2.
31
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Jogo patológico em 3D
Continuum de gravidade (SOGS): subgrupos de jogadores patológicos
Figura 2. Representação do continuum de gravidade observado no grupo de jogadores patológicos com indicação das variáveis em que se sinalizam dificuldades (análise complementar com os valores de referência e pontos de corte).
O jogo patológico à medida que se agrava parece associar-se a mais e mais severas dificuldades. De facto, esta associação positiva entre a severidade de jogo e a diversidade de consequências associadas já havia sido considerada por outros autores, embora de forma indireta (estudo da remissão espontânea) (Toneatto et al., 2008). Também parece que o funcionamento familiar e a diferenciação do self são as áreas mais resistentes/“impermeáveis” ao jogo patológico, em detrimento da satisfação conjugal e da sintomatologia psicopatológica que parecem ser mais vulneráveis a este problema. Em relação a este aspeto, a literatura refere-se ao sistema conjugal como aquele que sente em primeiro lugar as dificuldades associadas ao problema jogo (Montero & Megías-Lizancos, 2011). No entanto, neste estudo, esse lugar é partilhado com a sintomatologia psicopatológica e dada a reduzida dimensão da amostra (sobretudo de jogadores casados), bem como a natureza transversal do estudo, parece pouco prudente afirmar esta lógica evolutiva. No entanto, atendendo à literatura, é uma hipótese que pode ter alguma relevância. Repare-se que os jogadores patológicos habitualmente apresentam sintomatologia psicopatológica diversa (ansiedade, depressão, entre outros sintomas), ainda que em menor escala, mesmo quando a severidade de jogo é moderada ou menos elevada (Toneatto et al., 2008). Para além disso, se o jogador é casado, é natural que o subsistema conjugal seja o seu contexto rela-cional mais próximo e importante, que mais o afeta e vice-versa (Relvas, 1996),
Grupo A (não clínico,
cluster 2, estudo 2)EASAVIC
Grupo B (não clínico,
estudo 1)
BSI
Grupo C (profissionais,
estudo 3)
BSIDAS
EASAVIC
Grupo D (não clínico +
clínico, cluster 1, estudo 2)
BSIDSI‑RDAS
EASAVICSCORE‑15
32 Diana Cunha, Gabriela Fonseca e Ana Paula Relvas
associando-se-lhe, mais facilmente, os problemas de jogo (satisfação conjugal), do que ao contexto familiar. À medida que o problema se torna mais grave, provavelmente causando uma situação financeira catastrófica, multiplicam-se as dificuldades ao nível individual (sintomatologia psicopatológica e diferenciação do self ) e conjugal (ajustamento diádico) e o problema estende-se à família (fun-cionamento familiar). A evidência de dificuldades ao nível da diferenciação do self (grosso modo associada à dependência), concomitante com a evidência das dificuldades familiares e das dificuldades conjugais (com maior severidade), cor-robora a forte relação entre estes aspetos, descrita na literatura: níveis superiores de diferenciação do self associam-se a níveis superiores de satisfação conjugal (Peleg, 2008) e de funcionamento familiar (Kim et al., 2014).
Esta caracterização do jogador patológico, em particular através dos resul-tados do Estudo 3, também permitiu perceber que a maior parte (cerca de 2/3) dos jogadores profissionais não apresenta qualquer problema relacionado com o jogo, como seria de esperar, atendendo às características específicas e distin-tivas destes indivíduos (e.g., disciplina) (Weinstock, Massura, & Petry, 2013). No entanto, o jogo profissional parece constituir um contexto de potencial risco para o desenvolvimento de relações patológicas com o jogo. Note-se que, em Portugal, segundo Lopes (2009), a prevalência de jogo patológico é idêntica à da maioria dos países europeus [e.g., Espanha apresenta uma taxa de preva-lência entre 1.4% e 1.7% (Iglesias, 1999)]. Ora, numa amostra de 41 jogadores profissionais (Estudo 3), se o risco de desenvolver jogo patológico fosse seme-lhante ao da população geral, no máximo 1 jogador apresentaria problemas com o jogo (em detrimento dos 12 identificados). Obviamente que o método de seleção da amostra, mais especificamente a autoclassificação como jogador profissional, pode ter aumentado este número. No entanto, não deixa de ser um dado relevante. Percebeu-se, ainda, que os jogadores não patológicos (grupos de comparação dos Estudos 1 a 3) parecem constituir um grupo relativamente homogéneo, na medida em que não apresentam problemas associados com o jogo, mesmo aqueles que, segundo o SOGS, se classificam como jogadores com alguns problemas de jogo (Estudo 2). São jogadores profissionais ou sociais e, neste último caso, ocasionais, que percebem que perder é a consequência mais frequente de jogar (Clímaco, 2004).
Em suma, os jogadores patológicos apresentam diferentes severidades do problema jogo, constituindo um grupo heterogéneo. Quanto maior a gravi-dade do problema jogo, maior a quantidade e intensidade de dificuldades individuais, conjugais e familiares associadas, sendo que as dificuldades familiares e ao nível da diferenciação do self são as que se evidenciam mais tardiamente.
33
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Jogo patológico em 3D
COMPARAÇÃO DAS PERSPETIVAS DE JOGADORES PATOLÓGICOS E DE CÔNJUGES
As áreas conjugal e familiar são pouco consensuais entre jogador(es) e cônjuge(s), sendo a perspetiva do(s) primeiro(s) menos marcada pelo défice ou mais otimista do que a do(s) segundo(s). Como se percebeu pelos resultados do Estudo 2, o problema jogo é localizado na esfera individual, tanto pelos próprios jogadores patológicos como pelos jogadores não patológicos. Ora se o principal problema familiar “sou eu” (perspetiva do jogador), torna-se mais difícil evocar/reconhecer as dificuldades familiares e conjugais [“sinto um pouco o peso do irresponsável, se tivesse sido mais responsável não estaríamos nesta situação”/“ falhei nas decisões que me diziam respeito” – unidades de registo contabilizadas no tema “autoperceção de irresponsabilidade/falha” (jogador, Estudo 4)]. É um pouco o que acontece com algumas vítimas de violência na intimidade – “o problema é o álcool porque de resto é um bom marido”. Este processo (efeito de idealização/alívio da culpa) é concordante com as características de negação, reconhecidas nos jogadores pato-lógicos que os leva a não reconhecer o problema jogo e outros que lhe estejam associados (efeito de negação). Por outro lado, se os cônjuges consideram que o jogador e o seu problema são a principal dificuldade familiar [“ele (o jogador) põe em causa o futuro dos filhos…por exemplo perdi a terapia da fala (do filho) porque não havia dinheiro (…)” – unidade de registo contabilizada no tema “difi-culdades financeiras” (cônjuge, Estudo 4)], facilmente amplificam as dificuldades familiares e conjugais, colocando a lente da raiva e da retaliação [“passa-me tudo pela cabeça…até matá-lo. Sinto zanga (…)”– unidade de registo contabilizada no tema “zanga, raiva, falta de empatia” (cônjuge, Estudo 4)] (efeito de desilusão/retaliação). Poderia, ainda, pensar-se que, uma vez que os jogadores e cônjuges analisados no Estudo 5 não constituem casais, a diferença de perspetivas se devesse, essencialmente, a aspetos metodológicos, nomeadamente à possibilidade de os jogadores pertencerem maioritariamente ao grupo A e os cônjuges constituírem pares diádicos de jogadores do grupo C (cf. Figura 1). Esta hipótese é pouco pro-vável, uma vez que os jogadores deste estudo parecem integrar-se no subgrupo C (apresentam mais dificuldades de funcionamento familiar e menor satisfação conjugal do que a população geral) e, para além disso, os resultados obtidos são congruentes com os do Estudo 4, onde foi analisada a díade conjugal.
Portanto, a gravidade do problema jogo patológico depende da “lente” utilizada para a avaliar: se se utilizar uma “lente” mais sujeita aos efeitos de idealização/alívio da culpa e/ou de negação obter-se-ão, provavelmente, perspetivas mais otimistas (jogadores). Contudo, se utilizadas “lentes” mais permeáveis ao efeito de desilusão/retaliação, a avaliação do problema será mais catastrófica (cônjuges).
34 Diana Cunha, Gabriela Fonseca e Ana Paula Relvas
Arriscaríamos ainda afirmar que a opção entre uma “lente” e outra nem sempre é possível, nomeadamente (não exclusivamente, mas é a situação mais evidente) no grupo B (cf. Figura 1), uma vez que seria pouco provável que os cônjuges conheces-sem o problema e/ou a sua dimensão. Ou seja, enquanto as dificuldades/problemas associados ao jogo patológico se circunscreverem às próprias práticas de jogo (e.g., tentativas de resgate dos montantes perdidos) e/ou à sintomatologia psicopatológica do jogador patológico (grupo B), provavelmente, este último fará tudo o que estiver ao seu alcance para esconder o problema dos seus familiares e do seu cônjuge (e.g., mentiras, encobrimentos) (Bertrand, Dufour, Wright, & Lasnier, 2008). De facto, a maior parte das vezes conseguem fazê-lo durante longos períodos de tempo, por vezes anos. O problema torna-se visível (para a família), por norma, quando já atingiu consequências verdadeiramente catastróficas (McComb, Lee, & Sprenkle, 2009). Por isso, o jogo patológico é, muitas vezes, designado por adição escondida/invisível (Ashley & Boehlke, 2012; Graves, 2006), o que torna a sua identificação precoce muito difícil, dada a sua evolução silenciosa, em termos relacionais.
REAVALIAÇÃO DO MODELO SISTÉMICO INTEGRADOR DO JOGO PATOLÓGICO (MSIJP)
Decorrida a investigação, importa perceber que aspetos do MSIJP se verificaram empiricamente ou merecem ser reformulados. Começando pelo nível mais exterior do modelo, o contexto social, este refere-se à aceitação social das condutas de jogo e à disponibilidade ou acessibilidade do mesmo como fatores condicionantes do desenvolvimento do problema. Neste nível, seria importante acrescentar o con-texto económico. São vários os autores que defendem que em contextos de crise económica, aumenta o recurso ao jogo a dinheiro e consequentemente o número de pessoas que desenvolvem problemas com essa atividade (Brieva, 2006; Clímaco, 2004; Domínguez-Álvarez, 2009). Repare-se que os aspetos financeiros constituem uma das áreas de maior dificuldade na vida dos jogadores patológicos e das suas famílias (McComb et al., 2009). E, por isso, esperava-se que, nesta investigação, os jogadores patológicos e cônjuges apresentassem mais dificuldades a este nível. Os jogadores patológicos (Estudos 1, 2, 3 e 5) e os cônjuges (Estudo 5) indicaram a existência de problemas financeiros. No entanto, os grupos de jogadores não patológicos (Estudos 1, 2, 3) também apontaram como um dos principais proble-mas familiares os aspetos financeiros, esbatendo, assim, as dificuldades financeiras dos jogadores patológicos, nos Estudos 2 e 3. Talvez, no Estudo 1, as diferenças entre grupos sejam mais significativas porque a amostra foi recolhida no início
35
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Jogo patológico em 3D
de 2011, ou seja, numa fase pré-austeridade. Assim, fruto da atual conjuntura eco-nómica, as dificuldades financeiras parecem ser um problema transversal a todos os participantes na investigação, embora mantendo a sua expressividade [também através da dimensão Bem-Estar Financeiro do QOL-VR (pontuações inferiores nos jogadores patológicos e cônjuges, Estudo 2 e Estudo 5, respetivamente)] no grupo de jogadores patológicos e no grupo de cônjuges.
Quanto à aceitação social, percebeu-se que o jogo a dinheiro continua, na pers-petiva dos jogadores (com e sem patologia), a dividir opiniões. Apesar de não ter ainda conquistado uma aceitação social plena, parece ter perdido a conotação abso-lutamente negativa de outros tempos [atividade associada à imoralidade (Garrido, Jaén, & Dominguez, 2004)], prevalecendo, porém, uma avaliação mais crítica do mesmo (Estudo 2). Estes resultados são congruentes com a ideia de Clímaco (2004), segundo a qual persiste um clima social de ambivalência moral em relação ao jogo a dinheiro. Se a nossa sociedade continuar a avançar no sentido de uma cada vez maior aceitação social, como é esperado, é natural que este aspeto contribua para o aumento das práticas de jogo a dinheiro (Abbott, Cramer, & Sherrets, 1995). A acessibilidade ao jogo parece ser muito fácil para todos os jogadores analisados (Estudo 3), reforçando a ideia de que os jogos de sorte e azar estão fortemente disseminados. De facto, tem-se assistido a uma crescente acessibilidade ao jogo a dinheiro permitida pelas novas tecnologias (jogo online) e pela liberalização ocorrida no próprio setor (Clímaco & Ramos, 2003).
Tendo em consideração as ref lexões anteriores, este nível passaria a designar-se contexto socioeconómico, onde se destacam as variáveis: contexto económico, acei-tação social e acessibilidade ao jogo. Para além disso, deixaria de ocupar a posição mais externa do modelo e funcionaria como “porta de entrada” para os outros três níveis (Figura 3). Esta alteração prende-se com o seguinte: enquanto as variáveis presentes nos outros níveis representam potenciais áreas de dificuldade associadas ao jogo patológico, o contexto socioeconómico funciona como um elemento que favorece ou inibe a prática de jogo. Ou seja, à medida que aumentam a acessibilidade ao jogo e a aceitação social do mesmo, aumenta o número de pessoas que jogam e consequentemente a prevalência de jogo patológico na população (Allcock, 1986). O mesmo acontece com o contexto socioeconómico como foi referido anteriormente. Obviamente que um contexto de crise económica também condiciona as variáveis consideradas nos restantes níveis do modelo, como por exemplo, o funcionamento familiar, o ajustamento conjugal e/ ou a saúde mental (Cunha & Relvas, 2015). Em suma, o contexto socioeconómico funciona como uma leitura complementar dos restantes níveis que constituem o cerne do modelo (familiar, conjugal e individual).
O segundo nível do MSIJP destaca a família em duas vertentes: transgera-cional e relacional. A primeira pode relacionar-se com o problema, positiva ou
36 Diana Cunha, Gabriela Fonseca e Ana Paula Relvas
negativamente, por via direta [(transmissão de comportamentos, pensamentos, crenças, entre outros, diretamente relacionados com o jogo (e.g., hábitos de jogo na família)] ou indireta (e.g., significado atribuído ao dinheiro nas famílias de origem). A segunda vertente (relacional) foca o funcionamento da família. O Estudo 3 analisou a transgeracionalidade direta (avaliação do potencial aditivo/problemático do jogo) e a transgeracionalidade indireta (significado atribuído ao dinheiro, ambiente familiar, recurso a práticas violentas), con-cluindo que os grupos comparados – jogadores patológicos, jogadores com alguns problemas e jogadores sem problemas – não se diferenciam entre si. Este aspeto se, por um lado, contraria a literatura sobre o tema que encontra um conjunto de regularidades nas famílias de origem dos jogadores patológicos (e.g., maus tratos infantis) (Lee, 2002a), por outro lado, também nos remete para uma propriedade dos sistemas, a equifinalidade, retirando, assim, peso à ideia de passado/origem, enquanto aspeto relevante de vulnerabilização para o jogo patológico. Também pode ter acontecido que esta avaliação realizada pelos jogadores patológicos acerca das suas origens possa ter sofrido o mesmo efeito (otimista), anteriormente referido acerca das dificuldades familiares e conjugais, sobretudo nas questões que remetem diretamente para o ambiente familiar e existência de práticas violentas. Por este motivo, embora não se negue a importância dos aspetos transgeracionais (até porque, por um lado, metodo-logicamente as ferramentas utilizadas não o permitem fazer, e por outro, ela surge implicitamente na relevância da diferenciação do self emergente em alguns dos nossos estudos), decidiu-se retirar esta vertente do modelo. A transmissão de hábitos/comportamentos de jogo nas famílias é outra das componentes da transgeracionalidade direta analisada no Estudo 2. Não foi referida anterior-mente porque, embora reformulada, será mantida no modelo. As diferenças entre grupos (Estudo 2) revelaram-se estatisticamente significativas, sugerindo que os jogadores patológicos têm mais pessoas significativas com problemas de jogo (não só familiares, mas também amigos) do que os grupos sem patologia de jogo. No Estudo 1, também se verificou que os jogadores patológicos conheciam mais pessoas amigas com problemas de jogo do que o grupo de comparação. Assim, faz sentido que esta variável, inicialmente definida como exclusiva das famílias de origem, passe a referir-se ao contexto relacional do jogador patológico. Ou seja, os jogadores patológicos tendem a inserir-se ou a estar inseridos numa esfera relacional ecleticamente representada por pessoas com problemas de jogo – familiares ou outras pessoas próximas, remetendo-nos, desta forma, para a aprendizagem dos comportamentos de jogo por modelação ou aprendizagem social (Blaszczynski & Nower, 2007; Griffiths, 1994; Ladouceur, Sylvain, Boutin, & Doucet, 2002; Petry, 2005). Para além disto, parece existir uma forte repre-
37
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Jogo patológico em 3D
sentação de cônjuges de jogadores patológicos com problemas de jogo, como se verificou no Estudo 4 e, também, no Estudo 5 (onde três participantes foram eliminados por integrarem simultaneamente os dois grupos estudados - cônjuges de jogadores patológicos e jogadores patológicos). Portanto, no MSIJP reformulado (MSIJP-R), a vertente transgeracional dá lugar ao contexto relacional próximo do jogador, deixando de integrar o nível familiar. À semelhança do sucedido com o contexto socioeconómico, esta variável passa a constituir mais um nível complementar do modelo, uma vez que também não representa dificuldades associadas ao jogo patológico, mas sim, características do contexto relacional (que trespassa o nível familiar e conjugal) dos jogadores patológicos (Figura 3). A vertente relacional, no que se prende essencialmente com o funcionamento familiar atual, mantém-se, na medida em que se verificou haver uma relação entre o problema jogo e as dificuldades a este nível no subgrupo D (cf. Figura 1). Já no que respeita à qualidade de vida familiar, dada a inconstância dos resultados a este nível nos diferentes estudos comparativos e a inexistência de pontuações totais inferiores aos valores de referência normativos, em todos os grupos de jogadores patológicos considerados (cf. Tabela 1), optou-se por não considerar esta variável no modelo reformulado.
No terceiro nível, encontra-se o casal. A primeira reformulação passa pelo lugar de destaque que inicialmente lhe foi atribuído. Por um lado, teoricamente faz sentido, na medida em que o subsistema conjugal é, geralmente, o primeiro a sentir os efeitos do jogo patológico (Montero & Megías-Lizancos, 2011) e é con-siderado o subsistema que mais afeta o indivíduo ao longo da sua vida (Relvas, 1996). Por outro, atendendo aos resultados desta investigação, parece ter tanta importância como o nível familiar e individual para compreender o problema jogo. Para além deste aspeto, neste nível da conjugalidade parece fundamental acrescentar a discrepância de perspetivas entre jogadores e cônjuges acerca dos problemas conjugais e familiares. A ideia inicial de que o jogo seria indicador da existência de perturbação numa ou mais funções vitais do subsistema conju-gal, apontando-se o exercício de controlo e poder na relação como uma dessas funções (Cunha & Relvas, 2014a), continua a fazer sentido (apesar de este aspeto não ter sido diretamente avaliado nesta investigação). Esta afirmação baseia-se, essencialmente, nos resultados relativos à diferenciação do self, uma vez que este constructo remete para o controlo e o poder relacional (e.g., dependência face a outros para confirmar crenças, convicções ou decisões; distanciamento emocional e comportamental em relação a outros) (Major et al., 2014). Tomando como exemplo o grupo D, no qual se verifica uma menor diferenciação do self por parte dos jogadores patológicos (acompanhada de níveis superiores de sin-tomatologia psicopatológica e de dificuldades no funcionamento familiar, bem
38 Diana Cunha, Gabriela Fonseca e Ana Paula Relvas
como de dificuldades conjugais, tanto no que respeita à satisfação conjugal como ao ajustamento diádico), ganha relevância a hipótese de que estes possam apresentar sentimentos de ausência de independência pessoal também na relação conjugal, como é sugerido pelo modelo. Aliás, é neste grupo (D) que as dificul-dades conjugais atingem resultados máximos, sendo o único grupo com níveis de ajustamento diádico considerados pobres (< 100) (Spanier, 1976). Este aspeto parece ser corroborado pelos resultados do estudo de caso (Estudo 4), onde o cônjuge assumia a maior parte das tarefas domésticas e, com o agravamento do problema, passou a assumir a gestão financeira do orçamento familiar, contro-lando grande parte das decisões familiares. Assim, de acordo com o modelo, o jogo permitiria ao jogador reencontrar um espaço individual para a satisfação da sua necessidade de controlo e poder (associada, por exemplo, às crenças erróneas de controlo dos resultados ou ao facto de levar a cabo uma atividade sem o consentimento do outro), possibilitando ao cônjuge exatamente o mesmo. Considera-se, no entanto, que a leitura desenvolvimental do sintoma jogo, que será apresentada adiante, deve considerar também os restantes níveis centrais do MSIJP (a família e o indivíduo), não só porque o casal deixou de ser um subsistema privilegiado nesta compreensão, mas também porque a diferenciação do self (variável utilizada para analisar alguns aspetos importantes da leitura desenvolvimental) constitui uma medida do funcionamento individual e muito relacionada com a conjugalidade (Peleg, 2008) e com o funcionamento familiar (Kim et al., 2014).
Por fim, o último nível de análise é o indivíduo. Os aspetos individuais avaliados nesta investigação mostram que, de facto, os jogadores patológicos apresentam níveis mais elevados de sintomatologia psicopatológica (grupo B, C e D) e níveis inferiores de diferenciação do self (grupo D) (cf. Figura 2 e Tabela 1). No que respeita à congruência, seguindo uma lógica semelhante à apresentada para a qualidade de vida familiar [inconstância dos resultados comparativos e valores totais contidos no intervalo de referencia normativo (cf. Tabela 1)], optou--se por retirar esta variável do modelo. O estudo de caso (Estudo 4) indicou, de forma concordante com o MSIJP, que fatores de stress na vida do jogador (e.g., problemas laborais) podem relacionar-se com o jogo patológico. Não obstante, parece redundante manter este aspeto no modelo, uma vez que “fatores de stress” podem ser representados por praticamente todas as variáveis consideradas. As características de personalidade (impulsividade, falta de controlo, etc.) e de fun-cionamento neurocerebral também não serão consideradas na versão reformulada do modelo porque constituem aspetos marcadamente etiológicos, o que não é o caso das restantes variáveis que o compõem (Figura 3) e, para além disso, não foram estudadas nesta investigação.
39
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Jogo patológico em 3D
Figura 3. Modelo Sistémico Integrador do Jogo Patológico – Reformulado (MSIJP-R)
Apresentadas e justificadas as reformulações do modelo, vale a pena clarificar que a leitura compreensiva do jogo patológico com base no MSIJP-R não constitui uma leitura etiológica e a distinção efetiva entre antecedentes e consequentes é, para a maior parte das variáveis, uma impossibilidade.
Atendendo aos resultados da investigação, muitas vezes questionámos, no que respeita aos restantes níveis (familiar, conjugal e individual) se estaríamos a estu-dar sobretudo consequências do problema, uma vez que aumentam de gravidade e diversidade à medida que a severidade do problema jogo também aumenta. No entanto, este facto também pode ser lido de outra forma: os jogadores patológicos que desenvolvem formas mais graves de relação com o jogo são aqueles que apre-sentam dificuldades prévias nestas áreas, eventualmente agravadas pelo problema. Portanto, esta é uma questão que fica sem resposta. Talvez mais importante do que conhecer as “causas” e os “efeitos”, seja perceber os “fatores de manutenção” do problema, ou por outras palavras, as áreas de dificuldade associadas ao mesmo.
Em síntese, o MSIJP-R é composto por cinco níveis interdependentes. Mais especificamente, por dois níveis complementares, o contexto socioeconómico
Jogo patológico em 3D PSYCHOLOGICA, Vol.59, Nº.2, 2016
25
podem ser representados por praticamente todas as variáveis consideradas. As
características de personalidade (impulsividade, falta de controlo, etc.) e de funcionamento
neurocerebral também não serão consideradas na versão reformulada do modelo porque
constituem aspetos marcadamente etiológicos, o que não é o caso das restantes variáveis
que o compõem (Figura 3) e, para além disso, não foram estudadas nesta investigação.
Figura 3. Modelo Sistémico Integrador do Jogo Patológico – Reformulado (MSIJP-R)
Micro
perspectiva M
acro perspectiva
Contexto socioeconómico
acessibilidade
aceitação social
Família
Funcionamento familiar: gestão emocional, crises, confiança/ segurança,
comunicação
Casal
Indivíduo
Diferenciação do self Sintomatologia psicopatológica
Perspetivas discrepantes contexto económico
controlo/poder
Ajustamento diádico Satisfação conjugal
intimidade (emocional e sexual) comunicação
Valor desenvolvimental
familiares
Contexto relacional
próximo com o problema jogo
cônjuges
amigos
40 Diana Cunha, Gabriela Fonseca e Ana Paula Relvas
e o contexto relacional próximo com o problema jogo (que podem favorecer ou inibir as práticas de jogo a dinheiro e o envolvimento patológico na ati-vidade), e três níveis principais, a família, o casal e o indivíduo. O nível da família remete para o funcionamento familiar, conciliando o modo como este é operacionalizado no SCORE-15, com aspetos relevantes na literatura sobre o tema, como por exemplo, relativos à gestão emocional, à confiança/segurança, à comunicação (Kalischuk, Nowatzki, Cardwell, Klein, & Solowoniuk, 2006), e ao apoio emocional (Dowling, Smith, & Thomas, 2009; Hardoon, Derevensky, & Gupta, 2002). Assim, o modelo sugere que as famílias com problemas de jogo tendem a apresentar algumas dificuldades relacionais. O nível da con-jugalidade reúne um conjunto de problemas associados ao jogo patológico, nomeadamente em termos de ajustamento diádico e satisfação conjugal. Para além disso, destacam-se, com base na literatura e nos resultados desta inves-tigação (especialmente do Estudo 5), dificuldades de intimidade emocional (e.g., sofrimento psicológico, raiva, culpa, frustração, ressentimentos) e sexual (insatisfação sexual), de comunicação (e.g., mentiras, enganos, tentativas de ocultar ou reparar os danos causados pelo problema) e de exercício de controlo/poder (e.g., poder desequilibrado nas decisões familiares; tarefas domésticas pouco repartidas). A conjugalidade é marcada pela divergência de perspetivas entre jogadores patológicos (menos focados no défice) e cônjuges de jogadores patológicos (mais focados no défice), aspeto que remete para o conceito de desconexão (Lee, 2015), apontado no modelo original, isto é, falta de cons-ciencialização, reconhecimento, aceitação e articulação das experiências de um dos parceiros com as experiências do outro. Por último, o nível individual é caracterizado por níveis inferiores de diferenciação do self e por níveis supe-riores de sintomatologia psicopatológica.
O modelo integral, tal com é apresentado, apenas faz sentido ou é aplicável a jogadores representados neste trabalho pelo grupo D, ou seja, aqueles que apresentam uma severidade de jogo superior/máxima e que melhor integram as dificuldades associadas ao jogo, apresentadas no modelo. No entanto, imagi-nando que se pretendia aplicar o modelo ao grupo A, poderia circunscrever-se a sua leitura ao nível do casal e aos níveis complementares. Ou, por exemplo, numa análise de jogadores não casados, também se poderia utilizar o modelo, ignorando o nível relativo à conjugalidade. Portanto, não se pretende aplicar/generalizar o MSIJP-R à população de jogadores patológicos, deseja-se, antes, que constitua uma ferramenta útil e f lexível para os casos em que é aplicável. Ou seja, uma grelha de leitura possível, entre outras, com a possibilidade de ser utilizado de forma mais global, integrando todos os níveis, ou de forma mais parcial, focando apenas alguns deles.
41
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Jogo patológico em 3D
LIMITAÇÕES E ESTUDOS FUTUROS
Este trabalho tem como principal limitação o facto de os quatro subgrupos de jogadores patológicos resultarem de uma análise descritiva dos resultados dos dife-rentes estudos, não tendo sido comparados estatisticamente entre si (exceto o A e o D), pelo que devem ser considerados com cautela, eventualmente como uma nova hipótese de investigação. Não obstante, este estudo produziu novos conhecimentos, nomeadamente no que respeita à caracterização integradora descritiva dos jogado-res patológicos, ao confronto de perspetivas de jogadores e à reconceptualização de uma grelha de leitura do problema jogo, o MSIJP-R, que contempla uma visão integradora e sistémica, também, por esse motivo, inovadora e que pode ser útil tanto para trabalhos futuros de investigação, como para fundamentar trabalhos de intervenção (preventiva ou remediativa).
De futuro seria útil analisar uma amostra de jogadores patológicos e profissionais, preferencialmente com uma dimensão superior, no sentido de testar empiricamente a existência dos quatro subgrupos propostos. Ainda a propósito destes quatro subgrupos, pensou-se que as dificuldades associadas ao jogo patológico evoluem do nível individual/conjugal para o nível familiar, à medida que a severidade do problema jogo aumenta. Seria interessante realizar um estudo longitudinal com jogadores a dinheiro (não apenas patológicos), seguindo as suas “carreiras de jogo” e analisando, no caso dos que desenvolvem uma relação patológica com o jogo, se as dificuldades seguem a ordem evolutiva sugerida. Perceber ainda que aspetos das trajetórias de vida dos jogadores funcionam como protetores em relação à patologia de jogo e estudar diferenças de género na relação estabelecida com o jogo. O estudo das trajetórias de vida de jogadores recuperados espontaneamente/naturalmente poderia fornecer pistas importantes para a intervenção (preventiva e remediativa).
As diferenças de perspetiva entre jogadores patológicos e cônjuges de jogadores patológicos, observada nesta investigação, será uma especificidade da conjugalidade ou verificar-se-á com outros elementos da família nuclear e da família de origem? Seria importante desenvolver estudos qualitativos (ou preferencialmente mistos) no sentido de cruzar perspetivas, verificando entre que elementos ocorrem as divergências e analisando os efeitos que estão na sua origem, nomeadamente, os sugeridos nesta investigação (efeito de idealização/alívio da culpa, efeito de negação, efeito de desilusão/retaliação). A utilização de amostras emparelhadas (elementos do mesmo casal e/ou da mesma família) seria uma mais-valia, permitindo estudar os subsistemas em questão e não apenas os elementos que os compõem. Por último, testar empiricamente o MSIJP-R seria um desafio interessante, sobretudo, se essa análise contemplasse diferentes grupos de jogadores patológicos em comparação, bem como os familiares e cônjuges dos jogadores.
42 Diana Cunha, Gabriela Fonseca e Ana Paula Relvas
REFERÊNCIAS
Abbott, D., Cramer, S., & Sherrets, S. (1995). Pathological gambling and the family: Practice implica-tions. Families in Society, 76(4), 213-219.
Allcock, C. C. (1986). Pathological gambling. Australian and New Zealand Journal of Psychiatry, 20(3), 259-265.
Ashley, L. L., & Boehlke, K. K. (2012). Pathological gambling: A general overview. Journal of Psychoac-tive Drugs, 44(1), 27-37. doi:10.1080/02791072.2012.662078
Bertrand, K., Dufour, M., Wright, J., & Lasnier, B. (2008). Adapted couple therapy (ACT) for patho-logical gamblers: A promising avenue. Journal of Gambling Studies, 24, 393-409. doi: 10.1007/s10899-008-9100-1
Blaszczynski, A., & Nower, L. (2007). Etiological processes. In G. Smith, D. Hodgins, & R. Williams (Eds.), Research and measurement issues in gambling studies (pp. 317-338). Toronto, Canada: Elsevier.
Brieva, J. R. (2006). Ludopatía: El otro lado del juego. Revista Estadística y Sociedad, 19, 9-11. Con-sultado em http://www.revistaindice.com/numero19/p9.pdf
Canavarro, M. C. (1999). Inventário de Sintomas Psicopatológicos: BSI. In M. Simões, M. Gonçalves, & L. Almeida (Eds.), Testes e provas psicológicas em Portugal (Vol. 2, pp. 95-109). Braga, Portugal: APPORT/SHO.
Clímaco, M. I. (2004). O jogo patológico: A adição menos visível. Revista Portuguesa de Clínica Geral, 20, 121-134.
Clímaco, M. I., & Ramos, L. M. (2003). Álcool, tabaco e jogo: Do lazer aos consumos de risco. Coimbra, Portugal: Quarteto.
Cunha, D., de Sousa, B., Fonseca, G., & Relvas, A. P. (2016). Gambling behavior severity and Psycholo-gical, family and contextual variables: A comparative analysis. Journal of Social Work Practice in the Addictions, 16(3), 266-289.
Cunha, D., & Relvas, A. (2014a). Pathological gambling and couple: Towards an integrative systemic model. Journal of Gambling Studies, 30(2), 213-228. doi:10.1007/s10899-013-9366-9
Cunha, D., & Relvas, A. P. (2014b). Pathological gambling, psychopathology and family variables in a non-clinical sample. Manuscrito submetido para publicação.
Cunha, D., & Relvas, A. P. (2014c). Professional gamblers: Psychopathology, individual and family characteristics. Manuscrito submetido para publicação.
Cunha, D., & Relvas, A. P. (2015a). Gambling and the couple: Comparing gamblers’ and spouses’ views on family, marital and individual levels. Journal of Gambling Issues. 31, 141-161. doi: 10.4309/jgi.2015.31.10
Cunha, D., & Relvas, A. P. (2015). Crise económica e dificuldades familiares: Duas faces da mesma moeda? Psychologica, 58(2), 25-39. doi: 10.14195/1647-8606_58-2_2
Cunha, D., & Relvas, A. P. (2017). Qualidade de Vida (QOL): Versão reduzida. In A. P. Relvas & S. Major (Eds.), Instrumentos de avaliação familiar: Vulnerabilidade, stress e adaptação (Vol. II, pp. 81-102). Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra.
Cunha, D., Silva, J., & Relvas, A. P. (2014). Escala de Congruência (EC). In A. P. Relvas & S. Major (Eds.), Avaliação familiar: Funcionamento e intervenção (Vol. I, pp. 113-139). Coimbra, Por-tugal: Imprensa da Universidade de Coimbra.
Cunha, D., Sotero, L., & Relvas, A. P. (2015). The pathological gambler and his spouse: How do their narratives match? Journal of Gambling Issues, 31, 111-140. doi: 10.4309/jgi.2015.31.9
43
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Jogo patológico em 3D
Derogatis, L. R., & Spencer, P. M. (1982). Administration and procedures: BSI. Manual I. Baltimore, MD: Clinical Psychometric Research.
Domínguez-Álvarez, A. M. (2009). Epidemiología y factores implicados en el juego patológico. Apuntes de Psicología, 27(1), 3-20. Consultado em http://copao.cop.es/files/contenidos/VOL.%2027_1_2009/vol.%2027_1_1.pdf
Dowling, N., Smith, D., & Thomas, T. (2009). The family functioning of female pathological gamblers. International Journal of Mental Health and Addiction, 7, 29-44. doi: 10.1007/s11469-007-9126-0
Garrido, M., Jaén, P., & Domínguez, A. (2004). Ludopatía y relaciones familiares: Clínica y tratamiento. Barcelona, Spain: Paidós.
Graves, L. (2006). Problem gambling: The hidden addiction. Olympia, Washington: Washington Department of Social and Health Services.
Griffiths, M. (1994). The role of cognitive bias and skill in fruit machine gambling. British Journal of Psychology, 85, 351-369. doi: 10.1111/j.2044-8295.1994.tb02529.x
Hardoon, K., Derevensky, J., & Gupta, R. (2002). An examination of the inf luence of familial, emotio-nal, conduct and cognitive problems, and hyperactivity upon youth risk-taking and adolescent gambling problems (Relatório para o Ontario Problem Gambling Research Centre). Consultado em http://youthgambling.mcgill.ca/en/PDF/OPGRC.pdf
Iglesias, E. (1999). Epidemiologia del juego patológico en España. Anuario de Psicología, 30(4), 7-19.Kalischuk, R., Nowatzki, N., Cardwell, K., Klein, K., & Solowoniuk, J. (2006). Problem gambling and
its impact on families: A literature review. International Gambling Studies, 6(1), 31-60. doi: 10.1080/14459790600644176
Kim, H. J., Smith, A., Douglas B., Ko, M., Wetchler, J., & Oh, J. (2014). Differentiation of self and its relationship with family functioning in South Koreans. American Journal of Family The-rapy, 42(3), 257-265. doi: 10.1080/01926187.2013.838928
Ladouceur, R., Sylvain, C., Boutin, C., & Doucet, C. (2002). Understanding and treating the pathological gambler. Ontario, Canada: John Wiley & Sons.
Lee, B. (2002a). Well-being by choice not by chance: An integrative system based couple treatment model for problem gambling (Relatório para o Ontario Problem Gambling Research Center). Consultado em https://www.uleth.ca/dspace/bitstream/handle/10133/568/Well_Being_Lee.pdf?sequence=1
Lee, B. (2002b). Development of a Congruence Scale based on the Satir Model. Contemporary Family Therapy: An International Journal, 24(1), 217-239. doi: 1014390009534
Lee, B. (2015). Towards a relational framework for pathological gambling (Part II): Congruence. Journal of Family Therapy, 37(1), 103-118. doi: 10.1111/j.1467-6427.2012.00591.x
Lesieur, H. R., & Blume, S. B. (1987). The South Oaks Gambling Screen (SOGS): A new instrument for the identification of pathological gamblers. American Journal of Psychiatry, 144(9), 1184-1188. doi: 10.1176/ajp.144.9.1184
Lopes, H. (2009). Epidemiologia de dependência do jogo a dinheiro em Portugal. Consultado em http://www.jogoremoto.pt/docs/extra/IrjRWr.pdf
Lourenço, M. (2006). Casal: Conjugalidade e ciclo evolutivo (Tese de doutoramento não publicada). Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal.
Major, S., Rodríguez-González, M., Miranda, C., Rousselot, M., & Relvas, A. P. (2014). Inventário de Diferenciação do Self – Revisto. In A. P. Relvas & S. Major (Eds.), Avaliação familiar: Fun-cionamento e intervenção (Vol. I, pp. 81-111). Coimbra, Portugal: Imprensa da Universidade de Coimbra.
44 Diana Cunha, Gabriela Fonseca e Ana Paula Relvas
Martínez, J., Navarro, C., & Romero, J. (1993). Trastornos asociados al juego patológico. Anales de Psicologia, 9(1), 83-92. Consultado em http://www.um.es/analesps/v09/v09_1/08-09_1.pdf
McComb, J. L., Lee, B. K., & Sprenkle, D. H. (2009). Conceptualizing and treating problem gambling as a family issue. Journal of Marital and Family Therapy, 35(4), 415-431. doi: 10.1111/j.1752--0606.2009.00146.x
Montero, J., & Megías-Lizancos, F. (2011). El paciente ludópata: Dificultades em la família y su entorno social. Paper presented at the XII Congresso Virtual de Psiquiatria y Neurociencias, Consultado em http://www.psiquiatria.com/psiq_general_y_otras_areas/el-paciente-ludopata-dificultades--en-la-familia-y-en-su-entorno-social/
Narciso, I., & Costa, M. E. (1996). Amores satisfeitos, mas não perfeitos. Cadernos de Consulta Psicológica, 12, 115-130. Consultado em https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/15550/2/83473.pdf
Peleg, O. (2008). The relation between differentiation of self and marital satisfaction: What can be learned from married people over the course of life? The American Journal of Family The-rapy, 36(5), 388-401. doi:10.1080/01926180701804634
Petry, N. (2005). Pathological gambling: Etiology, comorbidity and treatment. Washington, DC: Ame-rican Psychological Association.
Relvas, A. P. (1996). O ciclo vital da família: Perspetiva sistémica. Porto, Portugal: Afrontamento. Skowron, E. A., & Schmitt, T. A. (2003). Assessing interpersonal fusion: Reliability and validity of a
new DSI fusion with others subscale. Journal of Marital and Family Therapy, 29(2), 209-222. doi: 10.1111/j.1752-0606.2003.tb01201.x
Spanier, G. B. (1976). Measuring dyadic adjustment: New scales for assessing the quality of marriage and similar dyads. Journal of Marriage and the Family, 38(1), 15-28. Consultado em http://trieft.org/wp-content/uploads/2010/09/DAS%2BArticle.pdf
Stratton, P., Bland, J., Janes, E., & Lask, J. (2010). Developing a practicable outcome measure for systemic family therapy: The SCORE. Journal of Family Therapy, 32(3), 232-258. doi: 10.1111/j.1467--6427.2010.00507.x
Toneatto, T., Cunningham, J. A., Hodgins, D. C., Adams, M., Turner, N. E., & Koski-Jannes, A. (2008). Recovery from problem gambling without formal treatment. Addiction Research & Theory, 16(2), 111-120. doi: 10.1080/16066350801923638
Vilaça, M., Silva, J., & Relvas, A. P. (2014). Systemic Clinical Outcome Routine Evaluation (SCORE-15). In A. P. Relvas & S. Major (Eds.), Avaliação familiar: Funcionamento e intervenção (Vol. I, pp. 25-47). Coimbra, Portugal: Imprensa da Universidade de Coimbra.
Weinstock, J., Massura, C. E., & Petry, N. M. (2013). Professional and pathological gamblers: Similarities and differences. Journal of Gambling Studies, 29(2), 205-216. doi: 10.1007/s10899-012-9308-y
45
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Protective Mechanisms of Eating Psychopathology
Early memories of warmth and safeness and eating psychopathology: The mediating role of social safeness and
body appreciation
Sara Oliveira1, Cláudia Ferreira2 and Ana Laura Mendes3
Abstract
Research on human development and functioning has highlighted the importance of early emotional and relational experiences. Particularly, an association between the absence of early positive memories and the presence of disordered eating has been evidenced by recent investigations. However, the study of the mechanisms underlying this association remains unclear.Using a sample of 490 women, the hypothesis that early positive memories are negatively associated with disordered eating via social safeness and a positive relationship with one’s body image was tested via path analysis. The tested model explained 51% of eating psychopathology’s variance, and revealed a good adjustment to the empirical data. Addi-tionally, social safeness and body appreciation were revealed as mediators of the impact of early warm and safe memories on disordered eating, when controlling for the effect of BMI. These findings suggest the importance of targeting social safeness and acceptance, especially when defining potentially effective programmes for the prevention of eating disorders.
Keywords: early memories; social safeness; body appreciation; disordered eating
1 University of Coimbra, Portugal. Email: [email protected]
2 University of Coimbra, Portugal. Email: [email protected]
3 University of Coimbra, Portugal. Email: [email protected] recebido a 05-05-2016 e aprovado a 04-06-2016.
Early memories of warmth and safeness and eating psychopathology: The mediating role of social safeness and body appreciation • pág. 45-60
DOI: https://doi.org/10.14195/1647-8606_59_2_3
46 Sara Oliveira, Cláudia Ferreira e Ana Laura Mendes
Memórias precoces de calor e segurança e a psicopatologia alimentar: O papel do social safeness e da body appreciation
Resumo
A literatura tem sublinhado a importância das experiências afiliativas precoces no desenvol-vimento e funcionamento humano. Paralelamente, estudos recentes evidenciaram a relação entre escassez de memórias positivas precoces e o comportamento alimentar perturbado. No entanto, o estudo dos mecanismos subjacentes a esta associação permanece limitado.Este estudo testou um modelo que hipotetiza que memórias positivas precoces estão negativamente associadas à psicopatologia alimentar, através do social safeness e de uma relação positiva e de cuidado com o corpo. A análise path foi conduzida numa amostra de 490 mulheres e confirmou a adequabilidade do modelo, o qual explica 51% da variância da psicopatologia alimentar. Adicionalmente, o social safeness e a apreciação positiva do corpo (body appreciation) revelaram-se mediadores do impacto das memórias precoces de calor no comportamento alimentar perturbado, controlando o efeito do IMC.Estes resultados sugerem que o social safeness e a body appreciation poderão ter uma importante contribuição em programas de prevenção de psicopatologia alimentar.
Palavras‑chave: memórias precoces; social safeness; apreciação corporal; psicopatologia alimentar
INTRODUCTION
Literature has shown that early affiliative experiences seem to play an important role in our physical and psychological well-being (Collins, Maccoby, Steinberg, Heatherington, & Bornstein, 2000; Gilbert & Perris, 2000; Schore, 1994). In fact, growing evidence has highlighted that early emotional and relational experiences, either positive or negative, are crucial on human development and functioning (e.g., Bowlby, 1969, 1973; Gerhardt, 2004; Panksepp, 2010; Richter, Gilbert, & McEwan, 2009; Schore, 1994).
Several authors have demonstrated that negative rearing experiences, charac-terized by rejection, abuse, neglect and shame, are associated with a wide range of interpersonal and emotional difficulties and with higher vulnerability to psy-chopathology (Gilbert & Perris, 2000; Irons, Gilbert, Baldwin, Baccus, & Palmer, 2006), namely eating psychopathology (Ferreira, Matos, Duarte, & Pinto-Gouveia, 2014; Vartanian et al., 2014). In contrast, early experiences involving positive and
47
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Protective Mechanisms of Eating Psychopathology
affiliative signals (e.g., of reassurance, warmth, care or affection) are suggested to be linked to feelings of safeness and acceptance, and therefore promote the development of adaptive emotion regulation processes, and contribute to a greater well-being (e.g., Baldwin & Dandeneau, 2005).
Empirical studies have proposed that early affiliative experiences or interac-tions may be registered as powerful autobiographic memories, which can act as conditioned and highly available emotional memories (e.g., Gilbert & Irons, 2009; Matos & Pinto-Gouveia, 2010). However, in face of other’s behaviours, individuals may display different emotional responses (Gilbert, Cheung, Grandfield, Campey, & Irons, 2003). In this line, rather than focusing on interactions or others’ behaviours, recent research has privileged the study of the recall of early interpersonal interac-tions, i.e., the way one recalls feelings within early relationships (Gilbert et al., 2003).
In fact, early negative emotional memories (e.g., recollections of a sense of threat, subordination, and feeling ashamed or unvalued as a child; Gilbert et al., 2003) are associated with a higher vulnerability to psychopathology (Xavier, Cunha, & Pinto-Gouveia, 2015). Also, literature has shown that the inability to recall early warmth and safeness experiences can lead to negative emotional states (e.g., Mendes, Marta-Simões, & Ferreira, 2016; Richter et al., 2009). In contrast, research suggests that the evocation of memories of early support plays a crucial role in the promotion of feelings of self-warmth, self-compassion and self-soothing, considered relevant psychological adjustment indicators (Gilbert & Irons, 2009; Gilbert & Procter, 2006).
Within an evolutionary perspective, positive social interactions seem to stimulate the soothing affiliation system, which promotes feelings of connectedness, soothing and social safeness (e.g., Depue & Morrone-Strupinsky, 2005; Ferreira et al., 2014; Gilbert, 2009, 2010), and, thus, supports effective coping with adverse experiences (e.g., personal failures and setbacks; Dehart, Peham, & Tennen, 2006; Richter et al., 2009).
Social safeness is characterized by the presence of feelings of warmth, accept-ance and connectedness within interpersonal interactions (Gilbert et al., 2009) and seems to be negatively associated with several psychopathological indicators (such as inferiority, self-criticism and submissive behaviours) and with depressive and anxi-ety symptoms (e.g., Gilbert et al., 2008; Kelly, Zurroff, Leybman, & Gilbert, 2012). According to Gilbert (1989, 2005), individuals who perceive their social world as safe, warm, and soothing, tend to manage problems and challenging events more effectively and act in a more adaptive manner. On the other hand, when someone does not feel safe in their social contexts and perceives others as unsafe or threaten-ing, he/she needs to stay vigilant and to be ready for engaging in defensive responses (such as shame or submissive behaviours) and to strive for social acceptance.
In the field of body image and eating behaviour, research has highlighted that disordered eating and, specifically, drive for thinness, may emerge as a strategy
48 Sara Oliveira, Cláudia Ferreira e Ana Laura Mendes
intended to protect oneself from social threats (e.g., being ostracized or rejected due to one’s body shape or weight) and to compete for social advantages (such as being accepted, approved and valued by others; Ferreira, Pinto-Gouveia, & Duarte, 2013; Pinto-Gouveia, Ferreira, & Duarte, 2014). In this sense, in women who perceive themselves as being in a low social rank (e.g., inferior or unattractive), the engage-ment in rigid dieting or other weight control behaviours may be conceptualized as a maladaptive strategy aimed to serve the functional purpose of threat regulation and feeling safe in the social group (Goss & Allan, 2009; Goss & Gilbert, 2002).
The importance of nurturing a positive and caring relationship with one’s own body has been the subject of recent research (Homan & Tylka, 2015). Body appreciation, defined as a positive, accepting and respecting attitude towards body image, regardless of its appearance (Avalos, Tylka, & Wood-Barcalow, 2005; Tylka & Wood-Barcalow, 2015). Moreover, this construct entails more than being satis-fied with one’s own body image and can be understood as holding a compassionate attitude towards one’s own body image. Body appreciation is, therefore, the ability to accept and to be kind towards perceived defects or f laws in appearance, instead of being harshly self-critical, and also to recognize the unappreciated body charac-teristics as part of the common human experience (e.g., Tylka & Wood-Barcalow, 2015). Several studies showed that body appreciation is positively associated with outcomes such as optimism, positive affect, self-compassion and life satisfaction, as well as negatively linked with body dissatisfaction, body shame and body image avoidance, and eating psychopathology (e.g., Avalos et al., 2005). However, literature regarding body appreciation is still scarce.
The current study aimed to test an integrative model that explores the impact of the recall of early memories of warmth and safeness on eating psychopathology, and whether social safeness and body appreciation significantly act on this associa-tion. It was hypothesized that the recall of positive early affiliative experiences (in relationships with family figures and peers) may be associated with lower eating psychopathology’s severity, through higher levels of feelings of acceptance and con-nectedness in social relationships and body appreciation. In fact, there is evidence that the lack of warmth and safe affiliative memories are linked with the engage-ment in disordered eating attitudes and behaviours (e.g., Mendes, Marta-Simões, & Ferreira, 2016). Furthermore, research has pointed out that disordered eating may emerge as a strategy to compete with social acceptance and belonging (Ferreira et al., 2013; Pinto-Gouveia et al., 2014). Additionally, several authors have highlighted body appreciation as a protective strategy that seems to be highly and negatively associated with eating disorders (e.g., Avalos et al., 2005; Tylka & Barcalow, 2014). Nonetheless, no studies to date have explored a model that explains the paths between these variables and its impact on eating psychopathology.
49
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Protective Mechanisms of Eating Psychopathology
MATERIAL AND METHODS
Participants
The sample of this study comprised 490 women from the Portuguese general population, with ages ranging from 18 to 55 years old (M = 24.76; SD = 7.66). The majority of participants lived in an urban area (72.9%) and 27.1% in a rural one. Body Mass Index (BMI) ranged between 15.24 and 42.24, with a mean of 22.29 (SD = 3.87), which corresponds to normal weight values (BMI ranging from 18.5 to 24.9; WHO, 1995). Moreover, the sample s BMI distribution revealed to be equiva-lent to the female Portuguese population s BMI distribution (Poínhos et al., 2009).
Procedures
The present study is part of a wider Portuguese research about the impact of different emotional regulation processes in psychological functioning and mental health. The sample was obtained through online advertisements on social networks, and data collection and other study’s procedures respected all ethical and deonto-logical requirements, inherent to scientific research. Individuals who accepted to participate in this research were informed about the voluntary and confidential character of their participation and respective collected data, and gave their writ-ten informed consent before completing the test battery.
The initial sample was composed of 514 individuals (494 women and 20 men), with ages ranging from 17 to 57 years old. However, taking into account the purpose of the current study, data cleaning procedures excluded: (a) male participants and (b) participants younger than 18 years old and older than 55 years old.
Measures
Before answering self-report measures (described below), participants completed a series of questions regarding demographic data (e.g., age, gender, nationality, area of residence and education level) and current weight and height (used to calculate BMI).
Body Mass Index (BMI); BMI was calculated based on participants’ self-reported current weight and height using the Quetelet Index (Kg/m2).
50 Sara Oliveira, Cláudia Ferreira e Ana Laura Mendes
Early Memories of Warmth and Safeness Scale (EMWSS; Richter et al., 2009; Matos, Pinto-Gouveia, & Duarte, 2014); EMWSS is a self-report measure, composed of 21 items, that aims to assess the recall of early positive emotional experiences with close or family figures. Participants are asked to select, on a 5-point scale (0 = “No, Never” to 4 = “Yes, Most of the time”), the frequency of a set of childhood emotional memories characterized by warmth, safeness, soothing, and care in their relationship within family figures (e.g., “I felt that I was a cherished member of my family”). This measure presented a Cronbach’s alpha of .97, both in the original and Portuguese versions, and of .98 in the current study.
Early Memories of Warmth and Safeness Scale-Peers version (EMWSS_peers; Ferreira, Cunha, Marta-Simões, Duarte, Matos, & Pinto-Gouveia, 2016); EMWSS_peers is a 12-item instrument adapted from the EMWSS (Richter et al., 2009), which evaluates the recall of peer-related early positive emotional experiences. Participants are asked to indicate the frequency of recalled emotional experiences regulated by warmth, safeness and affection in their relationships with friends and colleagues during childhood and adolescence (e.g., “I felt loved by my peers/friends”). The response options are presented on a 5-point scale (0 = “No, Never” to 4 = “Yes, Most of the time”). This measure presented good psychometric proper-ties, with high levels of internal consistency in the original version (α = .97) and in the current study (α = .98).
Social Safeness and Pleasure Scale (SSPS; Gilbert et al., 2009; Pinto-Gouveia, Matos, & Dinis, 2008); SSPS is a self-report measure composed of 11 items designed to measure social safeness, i.e., the extent to which individuals feel a sense of acceptance and connectedness in their social relationships (e.g.“ ‘I feel accepted by people”). The response options are rated on a 5-point scale (1 = “Almost never” to 5 = “Almost all the time”). SSPS has shown good internal consistency in the original study (α = .92); concerning the current study, the Cronbach’s alpha was .94.
Body Appreciation Scale (BAS-2; Marta-Simões, Mendes, Oliveira, Trindade, & Ferreira, 2016; Tylka & Wood-Barcalow, 2015); BAS-2 is a self-report measure composed of 10 items that aim to assess individuals’ acceptance and respect for their bodies, even if not totally pleased with all its aspects (e.g., “I take a positive attitude towards my body”). The response options are rated on a 5-point scale (1 = “Never” to 5 = “Always”). BAS-2 has shown excellent internal consistency in the original study (with Chronbach’s alpha values ranging from .93 to .97 in different samples; Tylka et al., 2014) and in Portuguese version (α = .95). Also, in the current study BAS-2 presented high internal consistency (α = .95).
Eating Disorder Examination Questionnaire (EDE-Q; Fairburn & Beglin, 1994; Machado et al., 2014); EDE-Q is a self-reported measure composed of 36 items, adapted from the Eating Disorder Examination Interview (EDE,
51
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Protective Mechanisms of Eating Psychopathology
Fairburn, & Cooper, 1993), which assesses the frequency and intensity of dis-ordered eating attitudes and behaviours. It comprises four subscales: restraint, weight concern, shape concern and eating concern. The items are rated for the frequency of occurrence (items 1-15, on a scale ranging from 0 = “None” and 6 = “Every day”) or for severity (items 29-36, on a scale ranging from 0 = “None” and 6 = “Extremely”). EDE-Q’s internal consistency revealed to be high both in the original version and in the Portuguese validation study (α = .94), and also in the current study (α = .95).
Data analyses
Data analyses were performed using the software IBM SPSS Statistics 22.0 (SPSS IBM; Chicago, IL) and path analyses with the software AMOS (Arbuckle, 2008).
Descriptive statistics (means and standard deviations) were performed in order to examine the characteristics of the final sample. Additionally, to explore the associations between age, BMI, early memories of warmth and safeness with close figures (EMWSS) and with peers (EMWSS_peers), social safeness (SSPS), body appreciation (BAS-2) and eating psychopathology (EDE-Q), product-moment Pearson correlations analyses were performed.
The magnitudes of these relationships were discussed taking into account Cohen’s guidelines, in which correlations ranging between .1 and .3 are considered weak, moderate above .3, and strong when equal to or superior than .5, while considering a significance level of .05 (Cohen, Cohen, West, & Aiken, 2003).
Finally, path analyses were conducted to estimate the presumed relations within the proposed model (Figure 1), specifically the mediating effects of social safeness (SSPS) and body appreciation (BAS-2), in the relationship between early memories of warmth and safeness with family figures (EMWSS) and with peers (EMWSS_peers), and the engagement in disordered eating attitudes and behav-iours (EDE-Q). Thus, early memories of warmth and safeness were considered as exogenous variables, social safeness and body appreciation were hypothesized as endogenous mediator variables, and eating psychopathology as an endogenous variable. The Maximum Likelihood method was used to test regression coefficients and to compute fit statistics. Moreover, a series of goodness-of-fit indices were used to examine the adequacy of the overall model (e.g., CMIN/DF; TLI; CFI; RMSEA; Hu & Bentler, 1999). The significance of the paths was also examined, by resort-ing to the Bootstrap resampling method, with 5000 Bootstrap samples, and 95% bias-corrected confidence intervals around the standardized estimated of total, direct and indirect effects.
52 Sara Oliveira, Cláudia Ferreira e Ana Laura Mendes
RESULTS
Preliminary analyses
The assumption of the normality of the distribution of the variables was con-firmed by the analysis of Skewness and Kurtosis (Kline, 1998).
Preliminary analyses indicated that data followed the assumptions of homo-scedasticity, normality, linearity, independence of errors and multicollinearity and singularity among the variables (Field, 2004).
Descriptive analyses
The descriptive statistics referring to the study’s variables are presented, for the total sample (N = 490), in Table 1.
Table 1Means (M), Standard Deviations (SD) and Intercorrelation Scores Between the Study’s Measures (N = 490)Measures M SD 1. 2. 3. 4. 5. 6.1.BMI 22.29 3.87 - - - - - -2.EMWSS 62.58 17.64 -.14** - - - - -3.EMWSS_peers 34.11 11.13 -.12** .61*** - - - -4.SSPS 41.59 7.90 -.10* -.47*** .55*** - - -5.BAS-2 36.45 8.23 -.37*** -.34*** .33*** .42*** - -6.EDE-Q 1.35 1.25 .44*** -.20*** -.16*** -.17*** -.67*** -
Note: *p < .050, **p < .010, ***p < .001. BMI = Body Mass Index; EMWSS = Early Memories of Warmth and Safeness Scale; EMWSS_peers = Early Memories of Warmth and Safeness Scale-Peers version; SSPS = Social Safeness and Pleasure Scale; BAS-2 = Body Appreciation Scale; EDE-Q = Eating Disorder Examination Questionnaire
Descriptive and correlations analyses
Results demonstrated that age revealed non-significant associations with the variables in study, except with BMI. In turn, BMI presented negative associations, albeit weak, with early memories of warmth and safeness (with family figures - EMWSS and with peers – EMWSS_peers) and with social safeness (SPSS). Also,
53
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Protective Mechanisms of Eating Psychopathology
results showed that BMI was inversely associated with body appreciation (BAS-2) and positively linked to EDE-Q, both with moderate magnitudes.
EMWSS and EMWSS_peers revealed positive associations with SSPS and with BAS-2 (with moderate and strong magnitudes, respectively), and negative asso-ciations with EDE-Q. Moreover, a positive and moderate relationship was found between SSPS and BAS-2. Finally, results showed that SSPS and BAS-2 presented negative associations with EDE-Q, with different magnitudes, weak and strong, respectively (Table 1).
In addition, a partial correlation analysis controlling for age was conducted. Results revealed that the direction and magnitude of the correlations of the variables in study remained similar and therefore, age was not included in later analysis.
Path Analysis
Path Analysis was performed to test whether social safeness (SSPS) and body appreciation (BAS-2) mediate the impact of the recall of early memories of warmth and safeness with family figures and with peers (EMWSS and EMWSS_peers) on disordered eating attitudes and behaviours (EDE-Q), while controlling for the effect of Body Mass Index (BMI).
Firstly, the path model was tested through a saturated model (i.e., zero degrees of freedom), comprising 26 parameters, which explained 51% of eating psychopathol-ogy’s variance. Results indicated that three paths were not significant: the direct effect of early memories of warmth and safeness with family figures on EDE-Q (bEMWSS = -.001; SEb = .003; Z = -.38; p =.707); the direct effect of early memories of warmth and safeness with peers on EDE-Q (bEMWSS_peers = .002; SEb = .004; Z = .383; p =.702), and the direct effect of early memories of warmth and safeness with peers on body appreciation (bEMWSS_peers = .035; SEb = .038; Z = .916; p = .360). These paths were progressively eliminated and the model was readjusted.
The final model (Figure 1) presented an excellent fit with a non-significant Chi-Square [χ2(4) = 1.471; p = .832], and an excellent fit to the empirical data, as indicated by the analysis of well-known and recommended goodness of fit indices (CMIN/DF = .368; CFI = 1.00; TLI = 1.00; RMSEA = .000 ; p = .975 , IC = .00 / .04; Kline, 2005). This model, in which all path coefficients were statistically significant (p < .001), explained 51% of EDE-Q’s variance. Moreover, the model accounted for 33% and 30% of social safeness and body appreciation’s variances, respectively. Early memories of warmth and safeness with family figures presented a significant direct effect on social safeness of .22 (bEMWSS = .099; SEb = .021; Z = 4.760; p < .001) and of .15 on body image appreciation (bEMWSS = .071; SEb = .020; Z
54 Sara Oliveira, Cláudia Ferreira e Ana Laura Mendes
= 3.557; p < .001). Early memories of warmth and safeness with peers had a direct effect of .41 on social safeness (bEMWSS_peers = .291; SEb=.033; Z = 8.801; p < .001). In turn, social safeness had a direct effect of .31 on body appreciation (bSSPS = .326; SEb = .045; Z = 7.302; p < .001) and of -.12 on EDE-Q (bSSPS = .018; SEb =.006; Z = 3.297; p < .001). It was also verified that body appreciation had a direct effect of -.64 on EDE-Q (bBAS-2 = -.098; SEb = .006; Z = -17.132; p < .001).
The analysis of indirect effects showed that early memories of warmth and safeness with family figures, as well as with peers, presented indirect effects on EDE-Q through social safeness and body appreciation of .07 (95% CI = .03 / .14 ) and .13 (95% CI = .08 / .19), respectively. Early memories of warmth and safe-ness with family figures showed an indirect effect of -.12 (95% CI = -.18 / -.06) on EDE-Q, which was partially carried through the mechanisms of social safeness and body appreciation. Results also demonstrated that social safeness presented an indirect effect of -.20 (95% CI = -.27 / -.13) on eating psychopathology, which was partially mediated through body appreciation. Overall, the analysis of this model accounted for 51% of eating psychopathology’s variance, and revealed that social safeness and body appreciation mediate the impact of early memories of warmth and safeness with family figures and with peers on EDE-Q.
Figure 1. Final path model.
Note. ***p < .001; EMWSS = Early Memories of Warmth and Safeness Scale; EMWSS_peers = Early Memories of Warmth and Safeness Scale – Peers version; EDE-Q = Eating Disorder Exa-mination Questionnaire.
55
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Protective Mechanisms of Eating Psychopathology
DISCUSSION
Empirical studies have emphasized the existence of a link between early memories of warmth and safeness and adaptive emotional regulation processes and mental health (Ferreira et al., 2016; Richter et al., 2009; Schore, 1994). Additionally, the impact of the recall of early positive memories (within family figures and peers’ relationships) in eating psychopathology was recently documented (e.g., Mendes et al., 2016). Nevertheless, the role of social safeness and body appreciation, as potential mechanisms associated with decreased eating psychopathology symptomatology, remained scarcely explored.
This study intended to clarify the relationship between early memories, social safe-ness, body appreciation and disordered eating attitudes and behaviours. Specifically, the main aim of the current study was to test an integrative model that explored the effect of early memories of warmth and safeness on eating psychopathology’s severity and the mediating roles of social safeness and body appreciation in this association, while controlling the effect of BMI.
In accordance with the proposed hypotheses and with prior research, the results of correlation analyses showed that early memories of warmth and safe-ness (both with family figures and with peers) were significantly associated with adaptive emotions and processes, and with lower eating psychopathology’s severity (e.g., Ferreira et al., 2016; Mendes et al., 2016; Richter et al., 2009). Particularly, the current study extends current knowledge by demonstrating that the recall of positive emotional experiences is significantly associated with individuals’ sense of safeness and connectedness to others, and with a positive attitude towards one’s body, regardless of its characteristics. These findings are in line with theoretical and empirical evidence suggesting that the evocation of supportive memories plays a crucial role on the promotion of social and psychological adjustment (Gilbert & Irons, 2009; Gilbert & Procter, 2006). Nonetheless, this is the first study document-ing a positive link between these positive mechanisms (evocation of being nurtured and cared for within early relationships, current feelings of warmth, acceptance and connectedness, a respecting and caring attitude towards body image), and its inverse relation with the severity of eating psychopathology’s symptoms.
Path analysis’ findings revealed that the examined model showed an excellent fit to the empirical data, accounting for 51% of the variance of disordered eating attitudes and behaviours. Furthermore, results revealed that 33% of social safeness’s variance was explained by early memories of warmth and safeness, both with family figures and with peers. Additionally, this model suggested that 30% of the variance of body appreciation was directly explained by the evocation of early supportive memories with family figures, and by the indirect effect of family and peer-related
56 Sara Oliveira, Cláudia Ferreira e Ana Laura Mendes
early positive memories, through social safeness. Also, results revealed that early positive memories explained lower levels of disordered eating via higher levels of social safeness and body appreciation, while controlling for the effect of BMI.
This model proposes that women’s ability to recall early positive emotional experiences predicted lower levels of disordered eating behaviours, even when con-trolling the effect of BMI. However, these results seem to suggest that the relation-ship between early warmth and safeness memories and eating psychopathology’s severity is complex and inf luenced by different mechanisms. In fact, path analysis’ results indicated that the effect of the evocation of positive affiliative memories on disordered eating is mediated by the tendency to perceive the social world as safe, warm, and soothing and by a positive and caring relationship with one’s body. Indeed, this study suggests that affiliative memories with family figures and peers promote feelings of warmth, acceptance and connectedness with others. In turn, these positive memories and current feelings of social safeness seem to be linked to a more adaptive and positive relation with one s body, regardless of its characteris-tics. Also, feelings of acceptance and connectedness with others and the ability to relate with one s body in an accepting and caring manner seem to be targeted in psychological interventions to decrease eating psychopathology. These results can be understood in light of the evolutionary model (e.g., Baumeister & Leary, 1995; Gilbert, 2000, 2010), which emphasizes the central role of social acceptance and approval in well-being and mental health. Eating disorders’ symptoms, specifically weight and body image control, may arise from the perception of being in an unsafe position in relation to one’s social group (e.g., Pinto-Gouveia et al., 2014) and as a strategy to compete for others’ acceptance and positive attention (Ferreira et al., 2014). In this line, our results corroborate prior research by showing that nurtur-ing a positive and caring relationship with one’s body is negatively associated with eating psychopathology (Tylka & Wood-Barcalow, 2015), and is suggested as an important mediator mechanism in the explanation of disordered eating behaviours.
To sum up, it is possible to hypothesise that feelings of warmth and safeness in social relationships may explain the need to control or conceal body image in order to enhance social acceptance. Furthermore, early emotional experiences and current feelings of connectedness may allow women to recognize that some nega-tive experiences related to body image (e.g., perception of f laws in appearance) are shared among women, which enhances a sense of respect and acceptance towards body image, regardless of undesired characteristics. The promotion of a holistic and positive relationship with one’s own body may, therefore, play a powerful role in the prevention of disordered eating attitudes and behaviours.
Nevertheless, these findings cannot be understood without considering some limitations. One important limitation is that the cross-sectional design precludes
57
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Protective Mechanisms of Eating Psychopathology
causal conclusions to be drawn. Future research should test the relationships between the study’s variables in longitudinal or experimental design studies. Also, the use of a sample exclusively composed of female participants represents an important limitation. Even though eating psychopathology is more prevalent in women, men also experience weight and body image-related difficulties and this study sample does not allow the generalization of the obtained results. Thus, upcoming stud-ies should investigate this model in male samples and explore gender differences. Moreover, future research should also investigate these associations in larger samples and, in particular, the plausibility of this mediational model in clinical samples. Also, although the main aim of the current study was to specifically address the mediating role of social safeness and body appreciation, the complex nature of eating psychopathology presupposes the existence of other relevant vari-ables in the link between memories of warmth and safeness and disordered eating. Future studies should then expand on this model by testing different meditating mechanisms. Finally, our data may be constrained by limitations related to the use of self-report measures, specifically retrospective reports; nevertheless some stud-ies have shown that memories of early parenting are relatively reliable and stable over time, even in the face of considerable changes in mood and emotional states (e.g., anxiety, depression, and hostility; Brewin, Andrews, & Gotlib, 1993; Cunha, Xavier, Martinho, & Matos, 2014; Gerlsma, Kramer, Scholing, & Emmelkamp, 1994). Future studies should further validate the current findings by using other assess-ment methodologies, such as face-to-face interviews or observational instruments.
In conclusion, our results seem to support that women who evoke more early warmth and safeness experiences tend to perceive their current interpersonal interactions as supportive and safe, and present a positive, accepting and respect-ing attitude towards their body, regardless of its appearance. Moreover, this study offers new insights on how feelings of acceptance and connectedness with others and a positive and kind relationship towards one’s own body can be important mediating mechanisms of the link between early affiliative memories and lower tendency to engage in disorder eating, in women. In this line, our results seem to reveal that the impact of these early emotional memories on eating psycho-pathology may be highly dependent to the existence of feelings of acceptance and connectedness in social interactions and the ability to have compassionate attitudes towards one’s own body. Our findings provide an important contribu-tion to prevention and therapeutic interventions targeting women with body and eating difficulties. This study suggests that specific work promoting affiliative processes, and particularly a more positive relation with body image, may be help-ful to attenuate the impact of the lack of early memories of warmth and safeness within family figures and peers.
58 Sara Oliveira, Cláudia Ferreira e Ana Laura Mendes
REFERENCES
Arbuckle, J. (2008). Analysis of Moment Structures (AMOS) 17.0.0. Crawfordville, FL: AMOS Deve-lopment Corporation.
Avalos, L., Tylka, T., & Wood-Barcalow, N. (2005). The Body Appreciation Scale: Development and psychometric evaluation. Body Image, 2(3), 285-297. doi:10.1016/j.bodyim.2005.06.002
Baldwin, M., & Dandeneau, S. (2005). Understanding and modifying the relational schemas underlying insecurity. In M. Baldwin (Ed.), Interpersonal cognition (pp. 33-61). New York: Guilford Press.
Baumeister, R., & Leary, M. (1995). The need to belong: Desire for interpersonal attachments as a funda-mental human motivation. Psychological Bulletin, 117(3), 497-529. doi:10.1037/0033-2909.117.3.497
Bowlby, J. (1969). Attachment and loss. Vol. 1: Attachment. London: Hogarth Press. Bowlby, J. (1973). Attachment and loss. Vol. 2: Separation, anxiety and anger. London: Hogarth Press.Brewin, C., Andrews, B., & Gotlib, I. (1993). Psychopathology and early experience: A reappraisal of
retrospective reports. Psychological Bulletin, 113(1), 82-98. doi: 10.1037/0033-2909.113.1.82Cohen, J., Cohen, P., West, S., & Aiken, L. (2003). Applied multiple regression/correlation analysis for
the behavioural sciences (3th ed.). New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates.Collins, A., Maccoby, E., Steinberg, L., Heatherington, M., & Bornstein, M. (2000). Contemporary
research on parenting: The case for nature and nurture. American Psychologist, 55(2), 218-232. doi: 10.1037/0003-066X.55.2.218
Cunha, M., Xavier, A., Martinho, M., & Matos, M. (2014). Measuring positive emotional memories in adolescents: Psychometric properties and confirmatory factor analysis of the early memories of warmth and safeness scale. International Journal of Psychology and Psychological Therapy, 14(2), 245-259. Retrieved from: http://www.ijpsy.com/volumen14/num2/386/measuring--positive-emotional-memories-in-EN.pdf
DeHart, T., Peham, B., & Tennen, H. (2006). What lies beneath: Parenting style and implicit self--esteem. Journal of Experimental Social Psychology, 42(1), 1-17. doi: 10.1016/j.jesp.2004.12.005
Depue, R., & Morrone-Strupinsky, J. (2005). A neurobehavioral model of affiliative bonding: Impli-cations for conceptualizing a human trait of affiliation. Behavioral and Brain Sciences, 28(3), 313-395. doi: 10.1017/S0140525X05000063
Fairburn, C., & Beglin, S. (1994). Assessment of eating disorders: Interview of self-report questionnaire? International Journal of Eating Disorders, 16(4), 363-370. doi: 10.1002/1098-108X(199412)
Ferreira, C., Cunha, M., Marta-Simões, J., Duarte, C., Matos, M., & Pinto-Gouveia, J. (2016). Develop-ment of a measure for the assessment of peer-related positive emotional memories. Manuscript submitted for publication.
Ferreira, C., Matos, M., Duarte, C., & Pinto-Gouveia, J. (2014). Shame memories and eating psychopathology: The buffering effect of self-compassion. European Eating Disorders Review, 22(6), 487-494. doi: 10.1002/erv.2322
Ferreira, C., Pinto-Gouveia, J., & Duarte, C. (2013) Physical appearance as a measure of social ranking: The role of a new scale to understand the relationship between weight and dieting. Clinical Psychology and Psychotherapy, 20(1), 55-66. doi: 10.1002/cpp.769
Field, A. (2004). Discovering statistics using SPSS (3th ed.). London: Sage Publications.Gerhardt, S. (2004). Why love matters: How affection shapes a baby’s brain. London: Bruner-Routledge.Gerlsma, C, Kramer, J., Scholing, A., & Emmelkamp, P. (1994). The inf luence of mood on memo-
ries of parental rearing practices. British Journal of Clinical Psychology, 33(2), 159-172. doi:10.1111/j.2044-8260.1994.tb01107.x
59
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Protective Mechanisms of Eating Psychopathology
Gilbert, P. (1989). Human Nature and Suffering. Hove: Lawrence Erlbaum Associates.Gilbert, P. (2000). Social mentalities: Internal ‘social’ conf licts and the role of inner warmth and com-
passion in cognitive therapy. In P. Gilbert & K. Bailey (Eds.), Genes on the Couch: Explorations in evolutionary psychotherapy (pp. 118–150). Hove: Psychology Press.
Gilbert, P. (2005). Social mentalities: A biopsychosocial and evolutionary ref lection on social rela-tionships. In M. Baldwin (Ed.), Interpersonal cognition (pp. 299–335). New York: Guilford.
Gilbert, P. (2009). The compassionate mind: A new approach to life’s challenges. London: Constable Robinson.
Gilbert, P. (2010). Compassion focused therapy: Distinctive features. London: Routledge.Gilbert, P., Cheung, M., Grandfield, T., Campey, F., & Irons, C. (2003). Recall of threat and sub-
missiveness in childhood: Development of a new scale and its relationship with depres-sion, social comparison and shame. Clinical Psychology and Psychotherapy, 10(2), 108-115. doi:10.1002/cpp.359
Gilbert, P., & Irons, C. (2009). Shame, self-criticism, and self-compassion in adolescence. In N. Allen & L. Sheeber (Eds.), Adolescent emotional development and the emergence of depressive disorders (pp. 195-214). Cambridge: Cambridge University Press.
Gilbert, P., & Perris, C. (2000). Early experiences and subsequent psychosocial adaptation: An introduction. Clinical Psychology and Psychotherapy, 7(4), 243-245. doi:10.1002/1099-0879(200010)7:4<243::AID--CPP254>3.0.CO;2-H
Gilbert, P. & Procter, S. (2006). Compassionate mind training for people with high shame and self--Criticism: Overview and pilot study of a group therapy approach. Clinical Psychology and Psychotherapy, 13(6), 353 -379. doi: 10.1002/cpp.507
Gilbert, P., McEwan, K., Mitra, R., Franks, L., Richter, A., & Rockliff, H. (2008). Feeling safe and content: A specific affect regulation system? Relationship to depression, anxiety, stress, and self-criticism. The Journal of Positive Psychology, 3(3), 182-191. doi: 10.1080/17439760801999461
Gilbert, P., McEwan, K., Mitra, R., Richter, A., Franks, L., Mills, A., & Gale, C. (2009). An exploration of different types of positive affect in students and patients with bipolar disorder. Clinical Neuropsychiatry, 6(4), 135-143.
Goss, K., & Allan, S. (2009). Shame, pride and eating disorders. Clinical Psychology & Psychotherapy, 16(4), 303-316. doi:10.1002/cpp. 627
Goss, K., & Gilbert, P. (2002). Eating disorders, shame and pride: A cognitive-behavioural functional analysis. In P. Gilbert & J. Miles (Eds.), Body shame: Conceptualization, research & treatment (pp. 219-255). Hove, UK: Brunner-Routledge.
Homan, K., & Tylka, T. (2015). Self-compassion moderates body comparison and appearance self--worth’s inverse relationships with body appreciation. Body Image, 15, 1-7. doi: 10.1016/j.bodyim.2015.04.007
Hu, L., & Bentler, P. (1999) Cutoff criteria for fit indexes in covariance structure analysis: Conventional criteria versus new alternatives. Structural Equation Modelling: A Multidisciplinary Journal, 6(1), 1-55. doi: 10.1080/10705519909540118
Irons, C., Gilbert, P., Baldwin, M., Baccus, J., & Palmer, M. (2006). Parental recall, attachment rela-ting and self-attacking/self-reassurance: Their relationship with depression. British Journal of Clinical Psychology, 45(3), 297-308. doi:10.1348/014466505X68230
Kelly, A., Zuroff, D., Leybman, M., & Gilbert, P. (2012). Social safeness, received social support, and maladjustment: Testing a tripartite model of affect regulation. Cognitive Therapy and Research, 36(6), 815-826. doi: 10.1007/s10608-011-9432-5
60 Sara Oliveira, Cláudia Ferreira e Ana Laura Mendes
Kline, R. (1998). Principles and practice of structural equation modelling (2nd ed.) New York: The Guildford Press.
Machado, P., Martins, C., Vaz, A., Conceição, E., Bastos, A., & Gonçalves, S. (2014). Eating Disorder Examination Questionnaire: Psychometric properties and norms for the Portuguese population. European Eating Disorders Review, 22(6), 448-453. doi: 10.1002/erv.2318
Marta-Simões, J., Mendes, A. L., Oliveira, S., Trindade, I. A., & Ferreira, C. (2016, May). Validation of the Body Appreciation Scale-2 for the Portuguese population. Paper presented at the 3rd IPLeiria International Health Congress, Leiria, Portugal.
Matos, M., & Pinto-Gouveia, J. (2010). Shame as a traumatic memory. Clinical Psychology and Psycho-therapy, 17(4), 299-312. doi: 10.1002/cpp.659
Matos, M., Pinto-Gouveia, J., & Duarte, C. (2014). Psychometric properties of the Portuguese version of the Early Memories of Warmth and Safeness Scale. Manuscript Submitted for Publication.
Mendes, L., Marta-Simões, J., & Ferreira, C. (2016). How can the recall of early affiliative memories with peers inf luence on disordered eating behaviours? Eating and Weight Disorders. Advance online publication. doi: 10.1007/s40519-016-0267-7
Panksepp, J. (2010). Affective neuroscience of the emotional BrainMind: Evolutionary perspectives and implications for understanding depression. Dialogues in Clinical Neuroscience, 12(4), 533-545.
Pinto-Gouveia, J., Ferreira, C., & Duarte, C. (2014). Thinness in the pursuit for social safeness: An integrative model of social rank mentality to explain eating psychopathology. Clinical Psycho-logy and Psychotherapy, 21(2), 154-165. doi: 10.1002/cpp.1820
Pinto-Gouveia, J., Matos, M., & Dinis, A. (2008). Portuguese version of the social safeness and pleasure scale. Unpublished manuscript.
Poínhos, R., Franchini, B., Afonso, C., Correia, F., Teixeira, V. H., Moreira, P., … Almeida, M. D. V. (2009). Alimentação e estilos de vida da população Portuguesa: Metodologia e resultados preliminares. Alimentação Humana, 15(3), 43-60. Retrieved from: http://www.alimentacaosaudavel.dgs.pt/activeapp/wp-content/files_mf/1445339604alimenta%C3%A7%C3%A3oeestilosdevidadapopula%C3%A7%C3%A3oportuguesa.pdf
Richter, A., Gilbert, P., & McEwan, K. (2009). Development of an early memories of warmth and safeness scale and its relationship to psychopathology. Psychology and Psychotherapy: Theory, Research and Practice, 82(2), 171-184. doi: 10.1348/147608308X395213
Schore, A. (1994). Affect regulation and the origin of the self: The neurobiology of emotional develop-ment. Hillsdale: Lawrence Erlbaum.
Tylka, T., & Wood-Barcalow, N. (2015). The Body Appreciation Scale-2: Item refinement and psycho-metric evaluation. Body Image, 12, 53-67. doi:10.1016/j.bodyim.2014.09.006
Vartanian, L., Smyth, J., Zawadzki, M., Heron, K., & Coleman, S. (2014). Early adversity, personal resources, body dissatisfaction, and disordered eating. International Journal of Eating Disor-ders, 47(6), 620-629. doi:10.1002/eat.22313
Xavier, A., Cunha, M., & Pinto-Gouveia, J. (2015). Deliberate self-harm in adolescence: The impact of childhood experiences, negative affect and fears of compassion, Revista de Psicopatología Y Psicología Clínica, 20(1), 41-49. doi: 10.5944/rppc.vol.1.num.1.2015.14407
61
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Self-report assessment of delusions
Assessing delusional ideation: A narrative review of self-report instruments • pág. 61-81
DOI: https://doi.org/10.14195/1647-8606_59_2_4
Assessing delusional ideation: A narrative review of self‑report instruments
Maria João Martins1, Paula Castilho2, Célia Barreto-Carvalho3, Ana Telma Pereira4, Filipa Tróia5, Ondina Matos6, Prazeres Santos7, Tiago
Santos8 e António Macedo9
Abstract
According to recent models of recovery in psychosis, the patients’ perspectives about their own difficulties, symptoms and goals (health-related and in other areas) are of major importance in intervention. Self-report measures have been increasingly studied and several authors have pointed out their validity, relia-bility and clinical utility in people with psychotic-disorders. The present study
1 Cognitive and Behavioural Centre for Research and Intervention, Faculty of Psychology and Educational Sciences, Uni-versity of Coimbra. Portugal. Department of Psychological Medicine, Faculty of Medicine, University of Coimbra, Portugal. Email: [email protected]
2 Cognitive and Behavioural Centre for Research and Intervention, Faculty of Psychology and Educational Sciences, University of Coimbra. Portugal. Email: [email protected]
3 Cognitive and Behavioural Centre for Research and Intervention, Faculty of Psychology and Educational Sciences, Uni-versity of Coimbra. Portugal. Department of Educational Sciences, University of Azores, Portugal. Email: [email protected]
4 Department of Psychological Medicine, Faculty of Medicine, University of Coimbra, Portugal. Email: [email protected]
5 Community Intervention Unit, Department of Psychiatry and Mental Health, Baixo Vouga Hospital Centre, Portugal. Email: [email protected]
6 Community Intervention Unit, Department of Psychiatry and Mental Health, Baixo Vouga Hospital Centre, Portugal. Email: [email protected]
7 Community Intervention Unit, Department of Psychiatry and Mental Health, Baixo Vouga Hospital Centre, Portugal. Email: [email protected]
8 Community Intervention Unit, Department of Psychiatry and Mental Health, Baixo Vouga Hospital Centre, Portugal. Email: [email protected]
9 Department of Psychological Medicine, Faculty of Medicine, University of Coimbra, Portugal. Email: [email protected] recebido a 17-05-2016 e aprovado a 18-01-2017.
62 Maria João Martins, Paula Castilho, Célia Barreto-Carvalho, Ana Telma Pereira, Filipa Tróia, Ondina Matos, Prazeres Santos, Tiago Santos e António Macedo
sought to review and critically analyse the available self-report instruments for assessing delusions. Four instruments met the inclusion criteria: Characteristics of Delusions Rating Scale; Beliefs Rating Scale; Peters Delusions Inventory; and Conviction of Delusional Beliefs Scale. All scales assess delusions in a multidi-mensional perspective and present adequate psychometric properties, although with high variability within studies. Refining the psychometric studies of the existing instruments (mainly confirmatory factor analysis, reliability and diag-nostic accuracy analyses) and developing new instruments focused on coping are future areas of research interest.
Keywords: assessment; delusions; psychosis; self-report measures
Avaliação da ideação delirante: Uma revisão narrativa dos instrumentos de autorresposta
Resumo
As perspetivas dos pacientes acerca das suas próprias dificuldades, sintomas e obje-tivos (relacionados com a sua saúde e outras áreas) são de extrema importância para as intervenções, principalmente tendo em conta modelos recentes baseados na recuperação (no original recovery) das perturbações psicóticas. Cada vez mais os instrumentos de autorresposta têm sido estudados, sendo que vários autores têm defendido a sua validade, fiabilidade e utilidade clínica para pessoas com o diagnós-tico de uma perturbação psicótica. Este estudo teve como objetivo rever e analisar de forma crítica os instrumentos de autorresposta existentes para a avaliação da ideação delirante. Quatro instrumentos preencheram os critérios de inclusão: a escala de características dos delírios (Characteristics of Delusions Rating Scale), a escala de avaliação das crenças (Beliefs Rating Scale), o inventário de delírios de Peters (Peters Delusions Inventory) e a escala de convicção nas ideias delirantes (Conviction of Delu-sional Beliefs Scale). Todas as escalas avaliam as ideias delirantes de uma perspetiva multidimensional e todas apresentam propriedades psicométricas adequadas. No entanto elevada variablidade foi encontrada entre os estudos. O refinar dos estudos psicométricos destes instrumentos (principalmente o investimento em análises de estrutura factorial, fiabilidade e acuidade diagnóstica) e o desenvolvimento de novos instrumentos focados no coping com os delírios são áreas de investigação de interesse para o futuro.
Palavras‑chave: avaliação; delírios; psicose; instrumentos de autorresposta
63
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Self-report assessment of delusions
INTRODUCTION
Delusional beliefs are core symptoms in psychotic disorders and can be con-ceptualized as fixed and rigid cognitive representations that are not amenable to change despite clear or reasonable conflicting evidence (APA, 2013). It has long been argued that delusions should be assessed multi-dimensionally, laying particular emphasis on distress and content of beliefs (Lincoln, 2007). Nevertheless, different authors have suggested different dimensions to assess in delusional activity, such as conviction, extension, bizarreness, disorganization, pressure, affective response, deviant behaviour resulting from delusions (grouped into delusional involvement and delusional construct; Kendler, Glazer, & Morgenstern, 1983), distress, belief strength, obtrusiveness, concern (Garety & Hemsley, 1987), belief-certainty, self-monitoring, and emotional commitment (Harrow et al., 2004), among others.
The most common method to assess delusions is through clinical interviews of psychotic symptoms. The most psychometrically sound and widely used interviews specifically designed to evaluate psychotic symptoms are the Positive and Negative Symptom Scale (PANSS; Kay, Fiszbein, & Opler, 1987) and the Psychotic Symptom Rating Scales (PSYRATS; Haddock, McCarron, Tarrier, & Faragher, 1999). Both assess the presence of delusions, with PANSS evaluating delusions’ severity and PSYRATS assessing several dimensions of the delusional experience, namely preoc-cupation, duration, conviction, frequency and intensity of distress, and life disruption. A classical and very useful scale is the Dimensions of Delusional Experience (Kendler et al., 1983) that was developed to assess five dimensions of delusional experience (conviction, extension, bizarreness, disorganization and pressure). Other examples of relevant interviews are the Signs and Symptoms of Psychotic Illness rating scale (SSPI; Liddle, Ngan, Duffield, Kho, & Warren, 2002), the Brown Assessment of Beliefs (BABS; Eisen et al., 1998), both intending to assess conviction and insight on beliefs in a range of possible diagnoses. Nevertheless, comprehensive assessment of specific aspects (e.g., relationship with symptom, coping with symptom’s strategies) is often difficult. In this regard, Wessely and collaborators (1993) developed the Maudsley Assessment of Delusions Schedule (MADS) which includes a very useful section on behavioural reactions to the nuclear belief.
Although clinical interviews are extremely useful in clinical and research settings, they are usually time consuming and not well suited for the general population and/or populations with subclinical symptoms. Self-report instruments are increasingly popular, in clinical and research settings, considering its advantages in terms of their practicality (i.e. time, administration issues). Additionally, self-report allows the researcher to gain access to the respondents’ perceptions. This acknowledgement of the persons’ view of their difficulties, goals (health-related and in other areas)
64 Maria João Martins, Paula Castilho, Célia Barreto-Carvalho, Ana Telma Pereira, Filipa Tróia, Ondina Matos, Prazeres Santos, Tiago Santos e António Macedo
and life-orientation has been highly valued in more recent recovery-based models of psychosis. These types of models postulate autonomy, independence and empower-ment with consumers participating in all decisions (Frese, Knight, & Saks, 2009).
Although self-report measures may have some disadvantages in assessing psy-chotic symptoms or assessing other symptoms in populations with psychosis (e.g., due to possible cognitive deficits, lack of awareness and/or insight, shame-related difficulties, social desirability – for a review see Bell, Fiszdon, Richardson, Lysaker, & Bryson, 2007) some studies have been emerging defending the use of self-report in this context. Regarding insight, it has been found that patients with schizophre-nia are able to accurately report symptoms and personality characteristics and a distinction has been made between awareness of symptoms and awareness of illness (Bell et al., 2007), thus emphasizing the potential validity of self-report measures for this population. Rabinowitz et al. (2008) also found results supporting the reliability and validity of patient reports, specifically for symptom severity, with a significant linear trend emerging between the clinician and patient-rated measures (differences between the clinician’s and patient’s ratings attributed to poor insight). In a study comparing a self-report measure (BASIS-R) and a clinician-rated method (the Brief Psychiatric Rating Scale), Niv, Cohen, Mintz, Ventura, and Young (2007) found good concurrent validity and the self-report measure was found to identify moderate and severe psychosis. The authors argued the validity of using self-report assessment of psychotic symptoms, highlighting its advantages of practicality (easier to administer, interpret and score) and reliability. Considering the delusions assessment, Bell et al. (2007) also state that although self-report do not allow to perform diagnosis, such instruments may have utility in assessing specific information on delusions (e.g., distress, preoccupation) and comparing clinical and non-clinical populations.
Specifically, for delusions’ assessment, Lincoln, Ziegler, Lüllmann, Müller, and Rief (2010) found good agreement ratings between self (using several multidimensional questionnaires) and observer-rated assessment of delusions, the latter being an indicator of the reliability of patient information (although lack of insight may cause reduced reliability). The concordance of patient and clinician ratings did not vary according to symptom severity, duration of the disorder or patient status (in or outpatient).
Considering the growing body of research on psychosis assessment, reviews have been emerging on assessment instruments and methods for psychotic symptoms. In 2010, Ratcliff, Farhall, and Shawyer identified and explored ten scales measuring different aspects of auditory hallucinations and divided them into four categories: multidimensional assessment, coping strategies, rating of beliefs and acceptance or mindfulness scales. Killian et al. (2015) analysed ten instruments for assessing negative symptoms that included blunted affect, the focus of the review, consider-ing instrument type, characteristics, administration and psychometric properties.
65
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Self-report assessment of delusions
Another review, performed by Lako and collaborators (2012) focused on associated depressive symptoms in people with schizophrenia: six instruments met the criteria and were analysed regarding several psychometric properties, symptom dimen-sions, type of rater (self-report or clinician-rated), training needed, duration and other characteristics. With the aim of shedding light into the ‘simple delusional syndrome’ and specifically to describe and analyse the ‘Simple Delusional Syndrome Scale’ (SDSS), Forgácová (2008) brief ly reviewed the characteristics of three widely known rating scales: the Dimensions of Delusional Experience Scale (Kendler et al., 1983), the Belief Rating Scale (Jones & Watson, 1997) and the Brown Assessment of Beliefs Scale (Eisen et al., 1998), additionally to describing the SDSS. The authors also reviewed the importance of rating scales for clinical practice and evaluation of treatment efficacy. Notwithstanding the relevance of this review, considering the growing body of research over recent years, an updated review is in need in the field. Moreover, the aim of the cited review was not to provide a detailed analysis of the most relevant instruments in delusion assessment and several relevant and useful instruments were not described. Therefore, the aim of the present study was to provide an updated narrative review of existing valid and reliable self-report instruments for assessing several aspects of the delusional activity. We focused specifically on self-report measures considering the importance being given to the self-assessment of experiences in psychosocial interventions for psychosis. The patient’s perspective has been highly valued in recent research (e.g., Ashcroft, Barrow, Lee, & MacKinnon, 2012; Gumley & Macbeth, 2014) and self-report measures have been widely used in clinical trials either for assessing symptoms or therapeutic processes (for a review of clinical studies see Wykes, Steel, Everitt, & Tarrier, 2008).
METHOD
Search strategy
To identify relevant studies, two leading electronic databases were searched, namely MEDLINE/PUBMED and b-on. Google scholar was also searched; references from relevant articles and prior reviews were also analysed. Articles published in English language from the first available date until April 2016 were considered. Key words included a combination of two groups of terms: a) Assessment-related terms, which included key words as ‘assessment’, ‘evaluation’, ‘validation’, ‘psychometric’,
66 Maria João Martins, Paula Castilho, Célia Barreto-Carvalho, Ana Telma Pereira, Filipa Tróia, Ondina Matos, Prazeres Santos, Tiago Santos e António Macedo
‘instrument’, ‘measure’, ‘questionnaire’, ‘scale’; b) Delusion-related terms, including words as ‘delusion’, ‘delusional ideation’, ‘belief ’. In a first phase (screening) we examined titles and abstracts to select pertinent articles, then articles seemingly to have the eligibility criteria (see below) were retrieved and fully analysed.
Eligibility criteria
Our inclusion criteria included: a) self-report instruments; b) developed for assessing delusions in clinical populations; c) with at least one parameter regarding psychometric properties made available. Instruments based on clinician assessment or clinical interviews were excluded and self-report instruments developed only to assess overvalued beliefs in non-clinical populations (and therefore with no clinical application to people with psychosis) were also not subject of analysis. Instruments limited to assess specific types of delusions (e.g., persecutory delusions) were also excluded. Instruments without any psychometric study, although used in other (cross-sectional, treatment) studies, were not considered.
Analytic strategy
In the present review we analysed the specific aims of each instrument as well as their practical aspects, such as issues regarding administration, instructions, number of items, response scale. In terms of psychometric properties each instru-ment was evaluated regarding its reliability and validity. Reliability was assessed based on reported internal consistency with values above .70 being considered acceptable (Kline, 1999) and test-retest correlation when reported, with higher values indicating higher temporal stability. Validity comprised analysis of convergent and divergent validity. Magnitude of correlations was interpreted according to Cohen (1988). Whenever provided factor structure was analysed based on exploratory or confirmatory adjustment data.
RESULTS
Four instruments met the inclusion criteria. The psychometric properties avail-able for each scale are presented in Table 1 and the description of each instrument’s aims, instructions and response scale is presented below.
67
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Self-report assessment of delusions
Characteristics of Delusions Rating Scale (CDRS; Garety & Hemsley, 1987). The CDRS comprises eleven belief characteristics, namely conviction, preoccupation, interference (inf luence on behaviour), resistance (disliking the experience), dismissibility (from the mind), absurdity, self-evidentness, reassurance seeking (from others), worry, unhappiness (caused by belief), and pervasiveness (inability to attend other thoughts). The participant is asked to rate each belief characteristic using a visual analogue scale (with each end-point described) which is then converted into a 10-point scale.
Beliefs Rating Scale (BRS; Jones & Watson, 1997). In the BRS the par-ticipants are instructed to rate in twelve diagrams representing the belief characteristics, the degree to which each characteristic represents their expe-rience (1 to 5 – with higher scores meaning higher levels of endorsement). The twelve characteristics include conviction, inf luence on behaviour, inf lu-ence on cognition, truthfulness, importance (to the participant), frequency, acceptability (to others), use of imagination required, speed of formation, perceptual evidence, focused thought, and evoked affective content.
Peters Delusions Inventory (PDI; Peters, Joseph, & Garety, 1999). Although initially developed to assess delusions in non-clinical populations, the PDI has been used and has direct applicability to people with psycho-sis. The PDI has a 40-item (original) and a 21-item version. The original version was developed from the Present State Examination (Wing et al., 1974) and included eight categories (5 items each): delusions of control; misinterpretations, misidentification, and delusions of reference; delusions of persecution; expansive delusions; delusions concerning various types of inf luence and primary delusions; other delusions; simple delusions based on guilt, depersonalization, hypochondriasis; thought reading, insertion, echo, broadcast. Additionally to the ‘yes’ or ‘no’ answer, when the partici-pant gives a positive answer he is asked to rate the experience in a 5-point Likert scale for distress, preoccupation and conviction. The 21-item version was based on the highest loading items after a principal component analysis of the 40-item version.
Conviction of Delusional Beliefs Scale (CDBS; Combs et al., 2006). The CDBS is a specific measure to assess conviction in delusions and comprises nine items ref lecting emotional, cognitive and behavioural aspects of convic-tion. The participant is instructed to rate each item in a Likert scale ranging from 1 (not at all/never) to 5 (all the time/always) and the CDBS items are summed to obtain a total score, with higher scores ref lecting greater belief conviction. An important advantage for the specific population is that the CDBS items and instructions are written at a 5th grade reading level.
68 Maria João Martins, Paula Castilho, Célia Barreto-Carvalho, Ana Telma Pereira, Filipa Tróia, Ondina Matos, Prazeres Santos, Tiago Santos e António Macedo
Tabl
e 1
Ove
rvie
w o
f the
Psy
chom
etric
Pro
pert
ies o
f the
Rev
iew
ed In
strum
ents
Inst
rum
ent
Refe
renc
e an
d Sa
mpl
eRe
liabi
lity
Valid
ityD
imen
siona
l str
uctu
reC
onve
rgen
tD
iver
gent
Dia
gnos
tic a
ccur
acy
Cha
rac‑
teri
stic
s of
Del
usio
ns
Rat
ing
Scal
e*
Gar
ety
& H
emsle
y, 19
87N
=55;
with
del
u-sio
ns re
gard
less
of
diag
nosis
Tem
pora
l Sta
bilit
y: n
/a
Inte
rnal
cons
iste
ncy:
n/a
Clu
ster
ana
lysis
. Gro
up m
embe
rshi
p (h
igh,
mod
erat
e an
d lo
w
scor
es o
n ch
arac
teris
tics)
: Ass
ocia
tions
with
bot
h ps
ychi
atris
t di
agno
sed
‘clin
ical
dep
ress
ion’
and
self-
rate
d de
pres
sion
(WD
I)
wer
e fo
und.
Ass
ocia
tions
bet
wee
n ch
arac
teris
tics a
re p
rese
nted
(r
elat
ive
inde
pend
ence
of m
ost o
f the
var
iabl
es).
EFA
: PC
A w
ith V
R: 4
com
po-
nent
s (di
stre
ss, b
elie
f str
engt
h,
obtr
usiv
enes
s and
conc
ern)
(1
00%
of v
aria
nce
expl
aine
d)C
FA: n
/aBe
liefs
R
atin
g Sc
ale
Jone
s & W
atso
n,
1997
N=2
0 (p
aran
oid
schi
zoph
reni
a);
N=2
0 (A
nore
xia)
; N
=20
(con
trol
s)
It is
stat
ed th
at p
ilot s
tudi
es
confi
rmed
relia
bilit
y an
d te
mpo
ral s
tabi
lity,
alth
ough
va
lues
are
not
repo
rted
The
scal
e di
ffere
ntia
ted
the
delu
sion
in sc
hizo
phre
nia
from
the
over
valu
ed id
ea in
ano
rexi
a fo
r sev
en o
f the
12
belie
f var
iabl
es.
Sign
ifica
nt d
iffer
ence
s wer
e al
so fo
und
betw
een
delu
sions
and
no
rmal
relig
ious
bel
iefs
.
EFA
: n/a
CFA
: n/a
Pete
rs
Del
usio
ns
Inve
ntor
y
Orig
inal
stud
y:
Pete
rs, J
osep
h, &
G
aret
y, 19
99 (4
0-ite
m)
N=2
0 (in
patie
nts
with
psy
chos
is);
N=2
72 (n
on-c
linic
al
sam
ple)
Tem
pora
l Sta
bilit
y: r=
.82;
p<
.05
(non
-clin
ical
)In
tern
al co
nsis
tenc
y: a
l-ph
a=.8
8 (n
on-c
linic
al)
Perc
enta
ges o
f co
mm
on v
ari-
ance
bet
wee
n 33
% a
nd 5
8%
with
mea
sure
s of
schi
zoty
py
(STA
), ab
erra
nt
belie
fs (M
gI)
and
delu
sions
(D
SSI)
– n
on-
clin
ical
n/a
All
scal
es a
nd ra
tings
wer
e sig
nific
antly
hig
her i
n th
e cl
inic
al g
roup
.
EFA
: For
36
item
s (ite
ms w
ith
very
low
or v
ery
high
rate
s of
endo
rsem
ent w
ere
elim
inat
ed).
PCA
with
VR:
11
com
po-
nent
s (r
elig
iosit
y, pe
rsec
u-tio
n, g
rand
iosit
y, pa
rano
rmal
be
liefs
, tho
ught
s dist
urba
nces
, su
spic
ious
ness
, par
anoi
d id
ea-
tion,
neg
ativ
e se
lf, ‘c
atas
trop
hic
idea
tion
and
thou
ght b
road
-ca
st’, ‘
idea
s of r
efer
ence
and
in
fluen
ce’)
(59.
1% v
aria
nce
expl
aine
d)C
FA: n
/a
69
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Self-report assessment of delusions
Jung
et a
l., 2
008
(40-
item
, Kor
ean
vers
ion)
N=3
10 (n
on-
clin
ical
); N
=60
(inpa
tient
s with
ps
ycho
sis)
Tem
pora
l Sta
bilit
y: r=
.67(
-no
n-cl
inic
al)
Inte
rnal
cons
iste
ncy:
al-
pha=
.92
(non
-clin
ical
)
Sign
ifica
nt
mod
erat
e co
rrel
atio
ns
with
STA
and
ps
ycho
sispr
onen
ess
n/a
Hig
her e
ndor
sem
ent a
nd
ratin
gs in
clin
ical
gro
up.
EFA
: PC
A w
ith V
R: 1
0 co
m-
pone
nts (
som
atic
conc
ern,
gr
andi
ose
idea
s, re
ligio
us o
r su
pers
titio
usid
eas,
pass
ivity
exp
erie
nces
, pe
rsec
utor
y id
eas,
thou
ght
dist
urba
nces
, ‘je
alou
sy a
nd su
s-pi
ciou
snes
s’, pa
rano
rmal
bel
iefs
, ol
fact
ory
hallu
cina
tion,
idea
of g
uilt)
(57%
var
ianc
e ex
plai
ned)
CFA
: n/a
Verd
oux
et a
l., 1
998
(21-
item
, Fre
nch
vers
ion)
N=4
44 (n
on-
clin
ical
)
Tem
pora
l Sta
bilit
y: n
/a
Inte
rnal
cons
iste
ncy:
n/a
n/a
n/a
n/a
EFA
: PC
A w
ith V
R: 7
com
po-
nent
s (pe
rsec
utio
n, th
ough
t di
stur
banc
es, g
rand
iosit
y, re
ligio
sity,
para
norm
al b
elie
fs,
refe
renc
e gu
ilt a
nd ap
ocal
ypse
) (5
5.3%
var
ianc
e ex
plai
ned)
CFA
: n/a
Pete
rs, J
osep
h, D
ay,
& G
aret
y, 20
04 (2
1-ite
m)
N=3
3 (p
atie
nts w
ith
delu
sions
); N
=444
(n
on-c
linic
al)
Tem
pora
l Sta
bilit
y: r=
.78-
.81
Inte
rnal
cons
iste
ncy:
al
pha=
.82
(non
-clin
ical
) and
al
pha=
.90
(clin
ical
)
Stro
ng co
rrel
a-tio
ns w
ith D
SSI
No
corr
elat
ions
w
ith e
xtro
ver-
sion,
intr
over
-tiv
e an
hedo
nia
andc
ogni
tive
diso
rgan
izat
ion
(O-L
IFE)
Hig
her a
lpha
in th
e clin
ical
sa
mpl
e. A
ll ra
tings
hig
her
in th
e cl
inic
al g
roup
.
EFA
: PC
A w
ith a
forc
ed 1
-com
-po
nent
solu
tion
(100
% v
aria
nce
expl
aine
d)
Lópe
z-Ilu
ndai
n,
Pere
z-N
ieva
s & O
te-
ro, 2
006
(21-
item
; Sp
anish
ver
sion)
N=3
65 (n
on-
clin
ical
)
Tem
pora
l Sta
bilit
y: n
/a
Inte
rnal
cons
iste
ncy:
al
pha=
.75
n/a
n/a
n/a
EFA
: PC
A w
ith V
R: 7
com
-po
nent
s (in
fluen
ce, d
epre
s-siv
e, pa
rano
id, g
rand
iosit
y, re
fere
ntia
l, m
agic
thin
king
and
re
ligio
usne
ss) (
53.7
% v
aria
nce
expl
aine
d)C
FA: n
/a
70 Maria João Martins, Paula Castilho, Célia Barreto-Carvalho, Ana Telma Pereira, Filipa Tróia, Ondina Matos, Prazeres Santos, Tiago Santos e António Macedo
Linc
oln,
200
7 (2
1-ite
m; G
erm
an
vers
ion
repo
rtin
g re
sults
from
Lin
-co
ln, K
elle
r, &
Rie
f, 20
09 –
val
idat
ion
stud
y pu
blish
ed in
G
erm
an)
N=5
3 (s
chiz
ophr
e-ni
a); N
=359
(non
--c
linic
al)
Tem
pora
l Sta
bilit
y: n
/a
Inte
rnal
cons
iste
ncy:
al-
pha=
.89
(clin
ical
); al
pha=
.85
(non
-clin
ical
)
Stro
ng co
rrel
a-tio
n w
ith th
e SP
Q
n/a
n/a
EFA
: n/a
C
FA: n
/a
Pret
i et a
l., 2
007
(21-
item
; Ita
lian
vers
ion)
N=8
1 (m
enta
l di
sord
er w
ith
psyc
hotic
feat
ures
); N
=210
(non
-clin
ical
sa
mpl
e)
Tem
pora
l Sta
bilit
y: n
/a
Inte
rnal
cons
iste
ncy:
n/a
n/a
n/a
The
clin
ical
gro
up sc
ored
sig
nific
antly
hig
her o
n PD
I. In
mal
es, t
he P
DI
scor
es w
ere
stat
istic
ally
di
ffere
ntac
ross
gen
eral
gro
ups
(con
trol
, psy
chos
is,
orga
nic i
llnes
s, an
xiet
y)
but n
ot b
etw
een
psyc
hotic
di
agno
ses.
Cut-
off>8
pro
-vi
des t
he b
est c
ombi
natio
n of
sens
itivi
ty (0
.74)
, and
sp
ecifi
city
(0.7
9) (A
UC
, 0.
815)
. Pre
dict
ive
posit
ive
valu
e =
57%
;N
egat
ive
pred
ictiv
e va
lue
= 88
%
EFA
: n/a
C
FA: n
/a
Jone
s & F
erny
-ho
ugh,
200
7 (2
1-ite
m)
N=4
93 (n
on-
clin
ical
)
Tem
pora
l Sta
bilit
y: n
/a
Inte
rnal
cons
iste
ncy:
al
pha=
.77;
fact
or a
lpha
s ran
g-in
g fr
om .5
5 to
.80
n/a
n/a
n/a
EFA
: Prin
cipa
l axi
s fac
torin
g w
ith o
bliq
ue ro
tatio
n fo
r the
th
ree
fact
or st
ruct
ure
hypo
the-
sized
(34.
1% v
aria
nce
expl
aine
d;
load
ings
from
.32
to 9
6)C
FA: n
/a
71
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Self-report assessment of delusions
Fons
eca-
Pedr
ero,
Pa
ino,
San
taré
n-Ro
-se
ll, L
emos
-Girá
ldez
&
Muñ
iz, 2
012
(21-
item
, Spa
nish
ve
rsio
n)N
=660
(non
-cl
inic
al)
Tem
pora
l Sta
bilit
y: n
/a
Inte
rnal
cons
iste
ncy:
al
pha=
.91
Stat
istica
lly
signi
fican
t cor
-re
latio
ns (s
mal
l to
mod
erat
e)
with
trait
and
state
anxi
ety
(STA
I) an
d ne
gativ
e affe
ct
(PA
NA
S)
EFA
: n/a
Pr
inci
pal U
nwei
ghte
d le
ast
squa
res w
ith P
rom
in ro
ta-
tion:
uni
fact
oria
l str
uctu
re
(RM
SR=0
.097
; goo
dnes
s-of
fit
inde
x=0.
93)
CFA
: n/a
Kao,
Wan
g, L
u,
Chen
g, &
Liu
, 201
2 (2
1-ite
m; T
aiwan
ese
vers
ion)
N=1
54 (a
ffecr
ive
and
non-
affec
tive
psyc
hosis
); N
=99
(non
-clin
ical)
Tem
pora
l Sta
bilit
y: .8
1 (to
tal)
to .8
7 (6
mon
ths)
In
tern
al co
nsis
tenc
y:
alph
a=.9
0 (s
chiz
ophr
enia
); al
pha=
.94
(affe
ctiv
eps
ycho
sis);
alph
a=.9
4 (n
on-
clin
ical
)
Stat
istic
ally
sig
nific
ant c
or-
rela
tions
(sm
all
to m
oder
ate)
w
ith B
PRS
n/a
Endo
rsem
ent h
ighe
r in
clin
ical
gro
up. P
DI a
ble
to d
iscrim
inat
e be
twee
n cl
inic
al a
nd n
on-c
linic
al.
Cut-
off>5
pro
vide
s th
e be
st co
mbi
natio
n of
sens
i-tiv
ity (0
.81)
, and
spec
ifici
ty
(0.6
1) (A
UC
= 0
.752
)
EFA
: PC
A w
ith V
R: 1
0 co
mpo
nent
s (62
.48%
var
ianc
e ex
plai
ned)
CFA
: n/a
Proc
hwic
z & G
awe-
da, 2
015
(21-
item
, Po
lish
vers
ion)
N=4
21 (n
on-
clin
ical
)
Tem
pora
l Sta
bilit
y: n
/a
Inte
rnal
cons
iste
ncy:
Tot
al:
alph
a=.8
5; G
uttm
an’s
split
-hal
f re
liabi
lity=
0.84
; Sub
scal
es:
alph
as ra
nged
from
0.8
5 to
0.
87 an
d G
uttm
an’s
split
-hal
f re
liabi
lity
from
.83
to .8
5
n/a
n/a
n/a
EFA
: Prin
cipa
l axi
s fac
tor a
naly
-sis
with
obl
imin
rota
tion:
14
com
pone
nts (
58.6
8% v
aria
nce
expl
aine
d) C
FA: n
/a
72 Maria João Martins, Paula Castilho, Célia Barreto-Carvalho, Ana Telma Pereira, Filipa Tróia, Ondina Matos, Prazeres Santos, Tiago Santos e António Macedo
Con
vic-
tion
of
Del
usio
nal
Belie
fs
Scal
e
Com
bs, A
dam
s, M
i-ch
ael,
Penn
, Bas
so &
G
ouvi
er, 2
006
N=5
0; sc
hizo
phre
-ni
a, sc
hizo
affec
tive
diso
rder
or d
elu-
siona
l diso
rder
Tem
pora
l Sta
bilit
y: r=
.81;
p<
.05
(1 w
eek)
, r=.
83; p
<.05
(2
wee
ks),
r=.7
7; p
<.05
(4
wee
ks) a
nd r=
.70;
p<.
05 (
6 w
eeks
)In
tern
al co
nsis
tenc
y:
alph
a=.8
0
Mod
erat
e to
stron
g co
r-re
latio
ns w
ith
conv
ictio
n ite
ms (
BABS
an
d CD
S), %
of
conv
ictio
n ra
ting
scal
e and
BP
RS th
ough
t di
sord
er sc
ale
Wea
k co
rrela
-tio
ns w
ith o
ther
di
men
sions
of t
he
BABS
and
BPRS
an
ergi
a; ne
gativ
e co
rrela
tions
with
BP
RS aff
ect a
nd
diso
rgan
izatio
n,
insig
ht sc
ale an
d Zu
ng d
epre
ssio
n sc
ale
n/a
EFA
: PC
A: u
nidi
men
siona
l st
ruct
ure
CFA
: n/a
Not
e: EF
A=E
xplo
rato
ry F
acto
r Ana
lysis
; CFA
= C
onfir
mat
ory
fact
or an
alys
is; P
CA
= Pr
inci
pal C
ompo
nent
s Ana
lysis
; VR=
Varim
ax R
otat
ion;
n/a
: not
av
aila
ble;
BA
BS=
Brow
n A
sses
smen
t of B
elie
fs S
cale
; BPR
S= B
rief P
sych
iatr
ic R
atin
g Sc
ale;
CD
S=C
hara
cter
istic
s of D
elus
ions
Sca
le; D
SSI=
Del
usio
ns
Sym
ptom
-Sta
te In
vent
ory;
MgI
= M
agic
al Id
eatio
n Sc
ale;
O-L
IFE=
Oxf
ord-
Live
rpoo
l Inv
ento
ry o
f Fee
lings
and
Expe
rienc
es; P
AN
AS=
Posit
ive a
nd N
ega-
tive
Affe
ct S
ched
ule;
SPQ
=e S
chiz
otyp
al P
erso
nalit
y Q
uest
ionn
aire
; STA
= Sc
hizo
typa
l Per
sona
lity
Scal
e; S
TAI=
Stat
e-Tr
ait A
nxie
ty In
vent
ory;
WD
I=
Wak
efiel
d D
epre
ssio
n In
vent
ory.*
Psy
chom
etric
dat
a al
so av
aila
ble f
or th
e CD
RS (G
erm
an v
ersio
n) a
s an
expe
rt ra
ting
scal
e fro
m G
entn
er et
al.
(201
0).
73
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Self-report assessment of delusions
In summary, all four instruments represent delusions as dimensional constructs, two scales focus on belief characteristics (CDRS and BRS), one scale assesses different types of delusions regarding its presence and associated characteristics (PDI) and one scale specifically focuses on different aspects of the ‘conviction’ characteristic (CDBS).
Other relevant instruments not included in the review
Several instruments were excluded from the review for different reasons. Considering that persecutory delusions are the most common type of delusions (APA, 2013) several instruments have specifically focused on paranoid and per-secutory delusions. Although this specificity was not the aim of this review it is important to acknowledge the theoretical, clinical and psychometric relevance of some specific instruments. The majority of the available instruments focus on assessing the paranoid ideas’ presence, frequency, conviction and associated distress. Nevertheless, there are also scales aimed at assessing the beliefs the participant has about their paranoid thoughts and also the cognitive, emotional, physical and behavioural coping responses elicited by them. Other measures were excluded from the review because they were developed to assess delusion-like experiences in the clinical population and therefore lack applicability in clinical settings. One scale, that aims to assess willingness to experience delusions and acceptance of the delusional experience, fulfilled all criteria but was excluded from the review due to its current unpublished status. These relevant scales are cited in Table 2 along with the reasons for exclusion.
74 Maria João Martins, Paula Castilho, Célia Barreto-Carvalho, Ana Telma Pereira, Filipa Tróia, Ondina Matos, Prazeres Santos, Tiago Santos e António Macedo
Tabl
e 2
Relev
ant E
xclu
ded
Instr
umen
ts an
d Re
ason
s for
Exc
lusio
nIn
stru
men
tR
efer
ence
Rea
son
for e
xclu
sion
Para
noia
Sca
leFe
nigs
tein
, A. &
Van
able
. P.A
. (19
92).
Para
noia
and
self-
cons
ciou
snes
s. Jo
urna
l of P
erso
nalit
y an
d So
cial P
sych
ol-
ogy,
62(1
), 12
9-38
. doi
: 10.
1037
/002
2-35
14.6
2.1.
129
Spec
ifica
lly a
sses
s par
anoi
d/pe
rsec
utor
y/re
fere
ntia
l th
ough
ts
Ref
eren
tial Th
ink‑
ing
Scal
eLe
nzen
weg
er, M
.F., B
enne
tt, M
.E.,
& L
ilenf
eld,
L.R
. (19
97).
The
Refe
rent
ial Th
inki
ng S
cale
as a
mea
sure
of s
chiz
o-ty
py: S
cale
dev
elop
men
t and
initi
al co
nstr
uct v
alid
atio
n. P
sych
olog
ical A
sses
smen
t, 9,
452
–463
. doi
: 10.
1037
/104
0-35
90.9
.4.4
52Pa
rano
ia C
heck
list
Free
man
, D.,
Dun
n, G
., G
aret
y, P.
A.,
Bebb
ingt
on, P
., Sl
ater
, M.,
Kuip
ers,
E., F
owle
r, D
., G
reen
, C.,
Jord
an, J
., Ra
y, K
., 20
05a.
The
psyc
holo
gy o
f per
secu
tory
idea
tion
I: a
ques
tionn
aire
surv
ey. J
ourn
al o
f Ner
vous
and
Men
tal D
is-ea
se, 1
93, 3
02–3
08.
The
Belie
fs a
bout
Pa
rano
ia S
cale
Mor
rison
, A.P
., G
umle
y, A
.I., A
shcr
oft, K
., M
anou
sos,
I.R.,
Whi
te, R
., G
illan
, K.,
Wel
ls, A
., &
Kin
gdon
, D. (
2011
). M
etac
ogni
tion
and
pers
ecut
ory
delu
sions
: tes
ts o
f a m
etac
ogni
tive
mod
el in
a cl
inic
al p
opul
atio
n an
d co
mpa
rison
s w
ith n
on-p
atie
nts.
Briti
sh Jo
urna
l of C
linica
l Psy
chol
ogy,
50(3
), 22
3-23
3. d
oi: 1
0.13
48/0
1446
6510
X51
1141
Pers
ecut
ory
Idea
‑tio
n Q
uest
ionn
aire
McK
ay, R
., La
ngdo
n, R
., &
Col
thea
rt, M
. (20
06).
The
Pers
ecut
ory
Idea
tion
Que
stio
nnai
re. J
ourn
al o
f Ner
vous
and
M
enta
l Dise
ase,
194,
628
-631
. doi
: 10.
1097
/01.
nmd.
0000
2314
41.4
8007
.a5
Gre
en e
t al
Para
noid
Thou
ghts
Sc
ales
Gre
en, C
.E.,
Free
man
, D.,
Kuip
ers,
E., B
ebbi
ngto
n, P.
, Fow
ler,
D.,
Dun
n, G
., &
Gar
ety,
P.A
. (20
08).
Mea
surin
g id
eas
of p
erse
cutio
n an
d so
cial
refe
renc
e: th
e G
reen
et a
l. Pa
rano
id Th
ough
t Sca
les (
GPT
S). P
sych
olog
ical M
edici
ne,
38(1
), 10
1-11
. doi
: 10.
1017
/S00
3329
1707
0016
38R
eact
ions
to P
ara‑
noid
Thou
ghts
Sca
leLi
ncol
n, T
.M.,
Reum
ann,
R.,
& M
oritz
, S. (
2010
). Is
ther
e a
func
tiona
l way
of r
espo
ndin
g to
par
anoi
d in
tru-
sions
? Dev
elop
men
t of t
he R
eact
ions
to P
aran
oid
Thou
ghts
Sca
le. C
ogni
tive N
euro
psyc
hiat
ry, 1
5(4)
, 377
-96.
doi
: 10
.108
0/13
5468
0090
3378
211.
Car
diff
Belie
fs
Que
stio
nnai
rePe
chey
, R. &
Hal
ligan
, P. (
2011
). Th
e pr
eval
ence
of d
elus
ion-
like
belie
fs re
lativ
e to
soci
ocul
tura
l bel
iefs
in th
e ge
nera
l pop
ulat
ion.
Psy
chop
atho
logy
, 44(
2), 1
06-1
5. d
oi: 1
0.11
59/0
0031
9788
.D
elus
ions
‑Sym
p‑to
ms‑
Stat
es In
ven‑
tory
Bedf
ord,
A.,
& D
eary
, I. J
. (19
99).
The
Del
usio
ns-S
ympt
oms-
Stat
es In
vent
ory
(DSS
I): C
onst
ruct
ion,
appl
icat
ions
an
d st
ruct
ural
ana
lyse
s. Pe
rson
ality
and
Indi
vidu
al D
iffer
ence
s, 26
(3),
397-
424.
Incl
udes
oth
er sy
mpt
oms;
not s
peci
fic fo
r del
usio
ns
Will
ingn
ess a
nd
Acc
epta
nce
of D
elu‑
sion
s Sca
le
Mar
tins,
M.J.
, Car
valh
o, C
., C
astil
ho, P
., Pe
reira
, A.T
., Va
gos,
P., C
arva
lho,
D.,
Bajo
uco,
M.,
Mad
eira
, N.,
Nog
ueira
, V.
, & M
aced
o, A
. (20
16).
Ass
essin
g Ps
ycho
logi
cal F
lexi
bilit
y in
Psy
chos
is: D
evel
opm
ent a
nd in
itial
val
idat
ion
of
the
Will
ingn
ess a
nd A
ccep
tanc
e of
Del
usio
ns S
cale
. Man
uscr
ipt s
ubm
itted
for p
ublic
atio
n.
Non
-pub
lishe
d. S
ubm
itted
fo
r pub
licat
ion.
All
othe
r cr
iteria
are
met
and
pre
-lim
inar
y ps
ycho
met
ric d
ata
is av
aila
ble
from
Mar
tins e
t al
(201
5).
75
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Self-report assessment of delusions
DISCUSSION
Self-report measures for delusions have been shown to be not only clinically useful but also reliable (Lincoln et al., 2010). The present study sought to identify and review clinically significant and psychometrically studied instruments for assessing delusional activity in clinical population. Four self-report measures met the inclusion criteria and were analysed. All four instruments considered the delusional activity as a multidimensional phenomenon and try to assess one (conviction in the CDBS) or more (the others) dimensions and characteristics of delusions. The perspective of considering delusions as a multidimensional construct has been advocated by several authors (e.g., Garety & Hemsley, 1997) and assess-ment of positive symptoms has gradually included different aspects and dimensions of delusional activity (Steel et al., 2007). The assessment of dimensions such as distress, conviction or inf luence on behaviour is particularly useful in evaluating efficacy of psychosocial interventions for psychosis, since one of the aims of these interventions is promoting well-being, minimal impact of symptoms and function-ing additionally to symptom reduction and relapse prevention (Wykes et al., 2008).
Within the scales measuring more than one dimension of delusions (CDRS, BRS and PDI) the conviction people have regarding the delusion is always assessed and the CBDS assesses conviction thoroughly in its different components. The delusion conviction seems to be an important dimension to assess and has been an intervention target in psychological therapies for psychosis, with lower levels of conviction being found as a predictor of outcome (overall symptom reduction) for brief CBT in patients with delusions (Brabban, Tai, & Turkington, 2009). Studies delivering Acceptance and Commitment Therapy for psychosis have also found an important role of ‘symptom believability’ (conviction in psychotic symptoms such as delusions and hallucinations), namely as a mediator of the effect of the treatment condition on the reduction of rehospitalisation at the four month follow-up (Bach, Gaudiano, Hayes, & Herbert, 2013).
Other aspect the three multidimensional scales have in common is the inclusion of items assessing emotional and behavioural responses to the delusional activ-ity, such as distress, preoccupation, worry, inf luence on behaviour and cognition, unhappiness; coping responses are also assessed although they seem not to be a major aim (CDRS: reassurance seeking). The coping skills for dealing with symp-toms, specifically delusions, seem to be an area of important investment in terms of assessment measures. Psychosocial interventions for psychosis usually focus on coping strategies and this can be an important outcome in assessing efficacy of such interventions. There are clinician rated instruments for assessing coping strategies in regard to delusions, such as the Heidelberg Coping Scales for Delusions (Rückl
76 Maria João Martins, Paula Castilho, Célia Barreto-Carvalho, Ana Telma Pereira, Filipa Tróia, Ondina Matos, Prazeres Santos, Tiago Santos e António Macedo
et al., 2012) that assesses the five-factor model of coping (resource-oriented, medi-cal care, distraction, cognitive coping and depressive coping). Specific self-report measures for coping with delusions, such as the Reactions to Paranoid Thoughts Scale (specifically for paranoia), may be useful in clinical and research settings. To our knowledge, it seems that literature lacks a general delusion scale (without focusing on specific content) assessing coping with delusional thoughts.
The CDRS and BRS also assess characteristics inherent in delusions, such as characteristics concerning content (e.g., absurdity, use of imagination), belief formation process (e.g., speed of formation) and evidence-related content (e.g., truthfulness, acceptability to others, perceptual evidence). Only one instrument – PDI – offers the possibility to assess different delusion types (regarding delusion content) in a present/absence format prior to characteristics evaluation, which can have advantages in differentiating the characteristics of different delusions in different clinical presentations. In patients presenting more than one delusion this scale can be useful in the assessment of delusional content.
Psychometrically we can observe major dissimilarities; while for the majority of instruments only one psychometric study was found, for the PDI several studies in different populations (clinical and non-clinical) were available. The PDI is also the only instrument with psychometric data for a short version (21-item); nevertheless the other three instruments are very brief and practical and therefore a shorter version was unnecessary (nine to twelve items). Brief instruments have several advantages in research and clinical practice, particularly in people with psychotic disorders that may have cognitive deficits and/or attentional difficulties and for whom amotivation, avolition and other negative symptoms may be a problem.
Although there are several different studies analysing the PDI psychometric characteristics we can observe a great variety of results: exploratory factor analyses vary from ten to eleven components in the 40-item version; and for the 21-item version were found unifactorial solutions (two studies) and solutions with three, seven (two studies), ten and fourteen components. It is also important to highlight that the two studies that find a 7-component structure did not found the same item combination and did not standardize the naming of the variables. Additionally, the clinical populations were mostly used for reliability and criterion validity/diagnos-tic accuracy and no factor structure studies were performed for the responses of participants with psychosis alone (one study used a mixed sample). PDI reliability varied between .67 and .87 in terms of temporal stability and between .75 and .92 concerning internal consistency which indicate adequate properties. Significant associations were found with measures of schizotypy, aberrant beliefs, delusions, psychosis proneness, anxiety, negative affect, and psychiatric symptoms; and scores in clinical populations were found to be higher than in controls when compared.
77
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Self-report assessment of delusions
No reliability assessment is presented for the CDRS, this being a major limitation of the study. Criterion validity was studied through cluster analysis but correlations with other measures of delusions are also absent. Authors report associations with self-reported depressive symptoms and clinical depression (clinician-rated). An exploratory factor analysis found four components. The study of the BRS is mostly a group comparison study differentiating delusions of patients with schizophre-nia, overvalued beliefs (anorexia patients) and normal religious beliefs (controls). Adequate reliability is stated but no values are reported. No factorial structure study was performed. The CDBS study is robust: authors report temporal stabil-ity across four assessment times (ranging from .70 to .83 across a 6-week period) and good internal consistency. Convergent and discriminant validity are reported. Significant, moderate to strong, associations were found with other self-report items of delusion conviction and with a measure of thought disorder. Exploratory factor analysis suggested a unidimensional structure.
Although not approached in the present review, and similarly to other symp-toms of psychosis, such as voices (Shawyer et al., 2012), recent research has been focusing in assessing not only frequency, impact or conviction of delusions but also contextual aspects such as acceptance-based variables. The Willingness and Acceptance for Delusions Scale (WADS) is a recovery-inspired and contextual CBT-based instrument for assessing the relationship people have with their delusional thoughts. More than assessing delusions’ characteristics, the WADS focuses on participants’ ability (or inability) to perceive delusions as thoughts (not necessarily linked to reality), to be aware of thoughts emerging without reaction or judgment and to attain goals and pursue valued life directions independent of delusions. Preliminary psychometric properties have shown the instrument’s validity and reli-ability (Martins et al., 2015). Nevertheless, this is the only scale to our knowledge focusing on relationship with delusions, an important concept in recent develop-ments in interventions for psychosis (e.g., Acceptance and Commitment Therapy, Compassion-focused Therapy, Mindfulness-based interventions).
Although the present review is a valid contribution to the literature, some limita-tions need to be taken into account. This is a narrative review that followed rigorous search and selection procedures. Nevertheless, systematic review methods were not used. Thus, there is a possibility that relevant instruments, published in less popular journals and databases, might not have been found. Also, meta-analytic procedures could be useful particularly in instruments with more than one psychometric study (PDI). Concerning the broader application in clinical practice and research settings the main aim of this study was to review instruments that assess delusions regardless of the specific-types. Future reviews focusing in specific types might be useful particularly considering the proliferation of instruments for paranoia and persecutory delusions.
78 Maria João Martins, Paula Castilho, Célia Barreto-Carvalho, Ana Telma Pereira, Filipa Tróia, Ondina Matos, Prazeres Santos, Tiago Santos e António Macedo
CONCLUSION
The present study provides a narrative and critical review of self-report instru-ments to assess delusions. Instruments evaluating different aspects and character-istics of delusions were presented and gaps in the literature were found. Overall the identified instruments present adequate psychometric properties and seem useful in assessing delusions in clinical and non-clinical populations. Improvement in future studies can be achieved both in refining the psychometric studies of the existing instruments (mainly confirmatory factor studies but also more sophisticated reliability and diagnostic accuracy analyses) and in developing new instruments focused on coping and relationship people establish with their delusions.
REFERENCES
APA - American Psychiatric Association (2013). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th ed.). Washington, DC: Author.
Ashcroft, K., Barrow, F., Lee, R., & MacKinnon, K. (2012). Mindfulness groups for early psychosis: A qualitative study. Psychology and Psychotherapy: Theory, Research and Practice, 85(3), 327-34. doi: 10.1111/j.2044-8341.2011.02031.x
Bach, P., Gaudiano, B. A., Hayes, S. C., & Herbert, J. D. (2013). Acceptance and commitment therapy for psychosis: Intent to treat, hospitalization outcome and mediation by belie-vability. Psychosis: Psychological, Social and Integrative Approaches, 5(2), 166-174. doi: 10.1080/17522439.2012.671349
Bell, M., Fiszdon, J., Richardson, R., Lysaker, P., & Bryson, G. (2007). Are self-reports valid for schizophrenia patients with poor insight? Relationship of unawareness of illness to psycho-logical self-report instruments. Psychiatry Research, 30, 151(1-2), 37-46. doi: 10.1016/j.psychres.2006.04.012
Brabban, A., Tai, S., & Turkington, D. (2009). Predictors of outcome in brief cognitive behavior the-rapy for schizophrenia. Schizophrenia Bulletin, 35(5), 859-864. doi: 10.1093/schbul/sbp065
Cohen, J. (1988). Statistical power analysis for the behavioral sciences (2nd ed.). Hillsdale, NJ: Lawrence Earlbaum Associates.
Combs, R. D., Adams, S. D., Michael, C. O., Penn, D. L., Basso, M. R., Gouvier, W. D. (2006). The conviction of delusional beliefs scale: Reliability and validity. Schizophrenia Research, 86(1-3), 80-88. doi: 10.1016/j.schres.2006.06.023
Eisen, J. L., Phillips, K. A., Baer, L., Beer, D. A., Atala, K. D., & Rasmussen, S. A. (1998). The Brown Assessment of Beliefs Scale: Reliability and validity. American Journal of Psychiatry, 155(1), 102-108. doi: 10.1176/ajp.155.1.102
Frese, F. J., Knight, E. L., Saks, E. (2009). Recovery from schizophrenia: With views of psychiatrists, psychologists, and others diagnosed with this disorder. Schizophrenia Bulletin, 35(2), 370-380. doi:10.1093/schbul/sbn175
79
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Self-report assessment of delusions
Fonseca-Pedrero, E., Paino, M., Santarén-Rosell, M., Lemos-Giráldez, S., & Muñiz, J. (2012). Psycho-metric properties of the Peters et al. Delusions Inventory 21 in college students. Comprehensive Psychiatry, 53(6), 893-899. doi: 10.1016/j.comppsych.2012.01.007
Forgácová, L. (2008). Delusion assessment scales. Neuropsychopharmacologia Hungarica, 10(1), 23-30.
Garety, P. A., & Hemsley, D. R. (1987). Characteristics of delusional experience. European Archives of Psychiatry and Neurological Sciences, 236, 294-298.
Garety, P. A., & Hemsley, D. R. (1997). Characteristics of delusional experience. In P. A. Garety, & D. R. Hemsley (Eds.), Delusions: Investigations into the psychology of delusional reasoning. Hove, UK: Psychology Press.
Gentner, N. C., Büche, L., von Bock, A., Rückl, S., Marx, J., Kaiser, S., … Kronmüller, K. (2010). Psychometric evaluation of the characteristics of Delusions Rating Scale as an expert rating scale. Psychopathology, 43(6), 373-380. doi: 10.1159/000321068
Gumley, A., & Macbeth, A. (2014). A pilot study exploring compassion in narratives of individuals with psychosis: Implications for an attachment-based understanding of recovery. Mental Health, Religion & Culture, 17(8), 794-811. doi: 10.1080/13674676.2014.922739
Haddock, G., McCarron, J., Tarrier, N., & Faragher, E. B. (1999). Scales to measure dimensions of hallucinations and delusions: The psychotic symptom rating scales (PSYRATS). Psychological Medicine, 29(4), 879-89. doi: 10.1017/S0033291799008661
Harrow, M., Herbener, E. S., Shanldin, A., Jobe, T. H., Rattenbury, F., Kaplan, K. J. (2004). Follow up of psychotic outpatients: Dimensions of delusions and work functioning in schizophrenia. Schizophrenia Bulletin, 30(1), 147-161.
Jones, S. R., & Fernyhough, C. (2007). Reliability of factorial structure of the Peters et al. Delusions Inventory (PDI-21). Personality and Individual Differences, 43(4), 647-656. doi: 10.1016/j.paid.2007.01.018
Jones, E., & Watson, J. P. (1997). Delusion, the overvalued idea and religious beliefs: A comparative analysis of their characteristics. British Journal of Psychiatry, 170, 381-386.
Jung, H. Y., Chang, J. S., Yi, J. S., Hwang, S., Shin, H. K., Kim, J. H., Cho, I. H., & Kim, Y. S. (2008). Measuring psychosis proneness in a nonclinical Korean population: Is the Peters et al. Delu-sions Inventory useful for assessing high-risk individuals? Comprehensive Psychiatry, 49(2), 202-210. doi: 10.1016/j.comppsych.2007.08.011
Kao, Y., Wang, T., Lu, C., Cheng, T., & Liu, Y. (2012). The psychometric properties of the Peters et al. Delusions Inventory (PDI) in Taiwan: Reliability, validity, and utility. Social Psychiatry and Psychiatric Epidemiology, 47(8), 1221-1234. doi: 10.1007/s00127-011-0428-y
Kay, S. R., Fiszbein, A., & Opler, L. A. (1987). The positive and negative syndrome scale (PANSS) for schizophrenia. Schizophrenia Bulletin, 13(2), 261-76.
Kendler, K. S., Glazer, W. M., & Morgenstern, H. (1983). Dimensions of delusional experience. Ame-rican Journal of Psychiatry, 140(4), 466-469. doi: 10.1176/ajp.140.4.466
Killian, S., Asmal, L., Goosen, A., Chiliza, B., Phahladira, L., & Emsley R. (2015). Instruments measu-ring blunted affect in schizophrenia: A Systematic review. PLoS One, 10(6), 1-13. doi: 10.1371/journal.pone.0127740
Kline, P. (1999). The handbook of psychological testing (2nd ed.). London: Routledge.Lako, I. M., Bruggeman, R., Knegtering, H., Wiersma, D., Schoevers, R. A., Slooff, C. J., & Taxis,
K. (2012). A systematic review of instruments to measure depressive symptoms in patients with schizophrenia. Journal of Affective Disorders, 140, 38-47. doi: 10.1016/j.jad.2011.10.014 P
80 Maria João Martins, Paula Castilho, Célia Barreto-Carvalho, Ana Telma Pereira, Filipa Tróia, Ondina Matos, Prazeres Santos, Tiago Santos e António Macedo
Liddle, P. F., Ngan, E. T., Duffield, G., Kho, K., & Warren, A. J. (2002). Signs and Symptoms of Psychotic Illness (SSPI): A rating scale. British Journal of Psychiatry, 180, 45-50. doi: 10.1192/bjp.180.1.45
Lincoln, T. M. (2007). Relevant dimensions of delusions: Continuing the continuum versus category debate. Schizophrenia Research, 93(1-3), 211-20. doi: 10.1016/j.schres.2007.02.013
Lincoln, T. M., Ziegler, M., Lüllmann, E., Müller, M. J., & Rief, W. (2010). Can delusions be self-assessed? Concordance between self- and observer-rated delusions in schizophrenia. Psychiatry Research, 30, 178(2), 249-54. doi: 10.1016/j.psychres.2009.04.019
López-Ilundain, J. M., Pérez-Nievas, F., Otero, M., & Mata, I. (2006). Peter’s delusions inventory in Spa-nish general population: Internal reliability, factor structure and association with demographic variables (dimensionality of delusional ideation). Actas Españolas de Psiquiatría, 34(2), 94-104.
Martins, M. J., Castilho, P., Carvalho, C., Pereira, A. T., & Macedo, A. (2015). The Acceptance and Action Scale for Delusions: Development and preliminary results. 5th European Conference on Schizophrenia Research: Bridging gaps – improving outcomes. European Archives of Psychiatry and Clinical Neuroscience, 265(1-Suplement), 1-138.
Niv, N., Cohen, A. N., Mintz, J., Ventura, J., & Young, A. S. (2007). The validity of using patient self-report to assess psychotic symptoms in schizophrenia. Schizophrenia Research, 90(1-3), 245-50. doi: 10.1016/j.schres.2006.11.011
Peters, E. R., Joseph, S. A., & Garety, P. A. (1999). Measurement of delusional ideation in the normal population: Introducing the PDI (Peters et al. Delusions Inventory). Schizophrenia Bulletin, 25(3), 553-76. doi: 10.1016/0920-9964(95)95071-G
Peters, E. R., Joseph, S. A., Day, S., & Garety, P. A. (2004). Measuring delusional ideation: The 21-item Peters et al. Delusions Inventory (PDI). Schizophrenia Bulletin, 30(4), 1005-1022. doi: 10.1093/oxfordjournals.schbul.a007116
Preti, A., Rocchi, M. B., Mura, T., Manca, S., Siddi, S., Petretto, D. R., & Masala, C. (2007). The psychometric discriminative properties of the Peters et al. Delusions Inventory: A receiver operating characteristic curve analysis. Comprehensive Psychiatry, 48(1), 62-69. doi: 10.1016/j.comppsych.2006.05.003
Prochwicz, K., & Gaweda, L. (2015). The Polish version of the Peters et al. Delusions Inventory: Factor analysis, reliability and the prevalence of delusion-like experiences in the Polish population. Psychiatria Polska, 49(6), 1203-1222. doi: 10.12740/PP/42916
Rabinowitz, J., Levine, S. Z., Medori, R., Oosthuizen, P., Koen, L., & Emsley, R. (2007). Concordance of patient and clinical ratings of symptom severity and change of psychotic illness. Schizophrenia Research, 100(1-3), 359-360. doi: 10.1016/j.schres.2007.10.021
Ratcliff, K., Farhall, J., & Shawyer, F. (2011). Auditory hallucinations: A review of assessment tools. Clinical Psychology and Psychotherapy, 18(6), 524-34. doi: 10.1002/cpp.729
Rückl, S., Büche, L., Gentner, N. C., Heyne, J., von Bock, A., Barthel, A., … Kronmüller, K.T. (2012). Heidelberg Coping Scales for Delusions: Psychometric evaluation of an expert rating instru-ment. Psychopathology, 45(4), 244-251. doi: 10.1159/000330583
Shawyer F., Farhall J., Mackinnon A., Trauer T., Sims E., Ratcliff K., et al. . (2012). A randomised controlled trial of acceptance-based cognitive behavioural therapy for command halluci-nations in psychotic disorders. Behavior Research and Therapy, 50, 110-121. doi: 10.1016/j.brat.2011.11.007
Steel, C., Garety, P. A., Freeman, D., Craig, E., Kuipers, E., Bebbington, P., Fowler, D., & Dunn, G. (2007). The multidimensional measurement of the positive symptoms of psychosis. International Journal of Methods in Psychiatric Research, 16(2), 88-96. doi: 10.1002/mpr.203
81
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Self-report assessment of delusions
Verdoux, H., Maurice-Tison, B., Gay, B., van Os, J., Salamon, R., & Bourgeois, M. L. (1998). A survey of delusional ideation in primary-care patients. Psychological Medicine, 28, 127-134.
Wessely S., Buchanan A., Reed A., Cutting J., Everitt B., Garety P., & Taylor P. J. (1993). Acting on delusions: I. Prevalence. British Journal of Psychiatry, 163(1), 69-76. doi:10.1192/bjp.163.1.69
Wing, J. K., Cooper, J. E., & Sartorius, N. (1974) Measurement and classification of psychiatric symp-toms: An instruction manual for the PSE and CATEGO program. Cambridge: Cambridge University Press.
Wykes, T., Steel, C., Everitt, B., & Tarrier, N. (2008). Cognitive behavior therapy for schizophrenia: Effect sizes, clinical models, and methodological rigor. Schizophrenia Bulletin, 34(3), 523-37. doi: 10.1093/schbul/sbm114
83
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Perceção do apoio dos professores no desenvolvimento de carreira das crianças e jovens adolescentes
Perceção do apoio dos professores no desenvolvimento de carreira das crianças e jovens adolescentes: Validação de uma escala de avaliação • pág. 83-99DOI: https://doi.org/10.14195/1647-8606_59_2_5
Perceção do apoio dos professores no desenvolvimento de carreira das crianças e jovens adolescentes:
Validação de uma escala de avaliação1
Rute David2, José Tomás da Silva3 e Maria Paula Paixão4
Perceived teacher support on children and adolescent career development: Validation of a rating scale
Abstract
Specialized literature has been lately emphasizing the importance of the relational context in the career development process. Being school a meaningful context to children and young adolescents, we focused on the influence of teachers, specifically in the students’ perceptions of teachers’ support to their career development process, particularly in what concerns to their interests, perceptions of competence and, educational and occupational aspirations. Given the lack of valid measures to assess this construct, this study presents data from the validation of the translation and adaptation of the Portuguese version of the Teacher Support Scale (McWhirter, 1996). In a study with 498 participants from the 4th 6th and 8th grades, we found differences in teacher support perceptions, based on gender, school level (age), socioeconomic status and level of academic aspirations.
Keywords: career development; children and young adolescents’; teacher support
1 Trabalho realizado no âmbito da bolsa de Doutoramento (SFRH / BD / 68364 / 2010) financiada pela Fundação para Ciência e a Tecnologia, Portugal.2 Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal. E-mail: [email protected] Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, Coimbra, PortugalE-mail: [email protected] Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal E-mail: [email protected] recebido a 01-07-2016 e aprovado a 06-09-2016.
84 Rute David, José Tomás da Silva e Maria Paula Paixão
Resumo
A literatura especializada tem vindo a enfatizar a importância do contexto relacional no desenvolvimento de carreira. Sendo a escola um contexto significativo da vida das crianças e jovens adolescentes, debruçámo-nos sobre a influência dos professores, mais especificamente, na perceção de apoio dos professores por parte dos alunos no seu pro-cesso de desenvolvimento de carreira, nomeadamente ao nível dos interesses, perceções de competência e aspirações educativas e profissionais. Face à escassez de medidas deste constructo, apresentamos, neste artigo, dados da validação da tradução e adaptação da versão portuguesa da Teacher Support Scale (McWhirter, 1996). Num estudo com 498 participantes do Ensino Básico (4º, 6º e 8º anos de escolaridades) encontrámos diferenças na perceção do apoio dos professores em função do sexo, nível de escolaridade (idade), nível socioeconómico e nível de aspirações académicas.
Palavras‑chave: desenvolvimento de carreira; crianças e jovens adolescentes; apoio dos professores
INTRODUÇÃO
A importância da inf luência do contexto relacional no desenvolvimento de carreira tem vindo a ser destacada em vários estudos emergentes na área da psi-cologia vocacional (Blustein, 2011; Schultheiss, 2003), realçando a necessidade de se reconhecer o significado da esfera relacional na vida das pessoas e o apoio de figuras significativas na tomada de decisão de carreira e nas trajetórias de desenvol-vimento (Abreu, 1996; Metheny, McWhirter, & O’Neil, 2008). A conceptualização do trabalho enquanto um ato relacional (Blustein, 2011) implica a consideração do impacto de outras pessoas no processo de desenvolvimento de carreira do sujeito, em detrimento de um processo de formulação de projetos e escolhas profissionais feito de forma relativamente isolada do contexto relacional do sujeito, veiculado por algumas posições teóricas (Blustein, 2011).
Apesar de as variáveis contextuais serem há muito consideradas como fatores importantes na modelação do comportamento vocacional, só mais recentemente se incidiu na experiência relacional enquanto fator de contexto (Metheny et al., 2008). A Teoria Sociocognitiva de Carreira (e.g., Lent, Brown, & Hacket, 2000) tem vindo a destacar a importância de figuras significativas no ambiente do sujeito (fatores externos) e a sua inf luência nas expetativas de autoeficácia de carreira e de resultados positivos (fatores internos), bem como na transformação de interesses
85
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Perceção do apoio dos professores no desenvolvimento de carreira das crianças e jovens adolescentes
de carreira em objetivos e ações (Kenny & Medvide, 2013; Lent, Paixão, Silva, & Leitão, 2010; Metheny et al., 2008). A abordagem desenvolvimentista-contextualista (Vondracek, Lerner, & Schulenberg, 1986) é outra teoria que igualmente realça a interdependência entre variáveis pessoais e contextuais no desenvolvimento vocacional. Recentemente, outras teorias ou modelos emergentes têm vindo a conceptualizar a vertente relacional como essencial no trabalho e na vida, quer ao nível da construção dos significados atribuídos ao trabalho, quer ao nível do processo dialógico de construção da identidade vocacional (Blustein, 2011; Duffy, Blustein, Diemer, & Autin, 2016; Savickas, 2005; Schultheiss, 2003).
A literatura no âmbito da psicologia vocacional tem vindo a aprofundar o conhecimento do papel dos aspetos relacionais no desenvolvimento de carreira das crianças e adolescentes (Schultheiss, 2007). As pesquisas nesta temática têm evidenciado o contributo da inf luência dos pais (e família), dos colegas de escola, dos amigos, dos professores ou dos psicólogos e conselheiros escolares (Abreu, 1996; Kenny & Bledsoe, 2005; Paa & McWhirter, 2000; Schultheiss, Palma, & Manzi, 2005; Wall, Covell, & MacIntyre, 1999), nas expetativas e valores de carreira, autoeficácia e interesses, e na busca de objetivos educacionais e de carreira (Schultheiss, 2007).
Sendo a escola um dos contextos mais proeminentes no dia a dia das crianças e jovens, iremo-nos debruçar neste trabalho, especificamente, sobre a inf luência dos professores, porquanto, citando Abreu (1996)
(…) em tudo o que diz respeito ao comportamento dos alunos, desde o desen-volvimento cognitivo ao desenvolvimento vocacional, os professores encontram-se implicados ou envolvidos […] Fazem parte do mundo dos alunos, interactuam com eles de forma privilegiada, sistemática, quase quotidiana […] “Integram” a sua personalidade, inf luenciam, de forma positiva ou negativa, o seu desenvolvi-mento. (p. 115)
Apesar de a maioria dos estudos incidir sobre o rendimento académico, a centralidade do papel dos professores no desenvolvimento de carreira dos alunos também tem sido destacada pela literatura, tanto a nível nacional como interna-cional (Ferreira, Nascimento, & Fontaine, 2009; Gamboa & Paixão, 2014; Metheny et al., 2008, Oliveira, Taveira, & Neves, 2014).
As crianças desenvolvem os seus interesses e valores através da interação com os professores (bem como com os membros da família, grupo de pares e media) e estas transações influenciam as suas conceções gerais acerca do trabalho, as suas aspirações e expetativas de carreira, bem como decisões significativas que tomarão nas suas vidas (Hartung, Porfeli, & Vondracek, 2005). Os professores são agentes influentes e promotores do desenvolvimento vocacional dos alunos (Ferreira et al.,
86 Rute David, José Tomás da Silva e Maria Paula Paixão
2009; Gamboa & Paixão, 2014), contribuindo para a construção e/ou desconstrução dos seus interesses, para o processo de atribuição de significados acerca do trabalho, nomeadamente quando conferem instrumentalidade aos conteúdos curriculares que lecionam (Oliveira et al., 2014). As crianças e jovens são capazes de distinguir várias fontes de apoio social (e.g., família, grupo de pares, escola) e, quando se sentem apoia-das através de pelo menos uma dessas fontes, revelam-se otimistas em relação às suas vidas e acreditam terem mais controlo sobre as mesmas, tanto no presente como no futuro (Dubow & Ullman, 1989; Ryan, Stiller, & Lynch, 1994). Os adolescentes com níveis elevados de apoio social percebem mais facilmente as oportunidades, acreditam que terão acesso a ocasiões de progresso tanto a nível educacional como profissional e antecipam o sucesso futuro (Wall et al., 1999). O apoio dos professores, tal como o dos pares, complementa o apoio parental, e pode ser compensatório na ausência de um ambiente familiar em que o aluno não se sinta apoiado (Perry, Liu, & Pabian, 2010; Wall et al., 1999), constituindo-se como um fator protetor que promove a pre-paração de carreira, reduzindo o risco de desinvestimento escolar (Perry et al., 2010).
Os resultados de um estudo com crianças dos 4º e 5º anos de escolaridade, desenvolvido por Schultheiss et al. (2005), indicam que os professores são vistos pelos alunos como: inf luentes na aquisição de conhecimento e informação acerca das profissões, aparecendo como agentes educativos que fornecem apoio social, que identificam pontos fortes nos alunos, nomeadamente capacidades e a respe-tiva ligação ao desempenho de potenciais profissões futuras, sendo vistos como figuras-modelo, que criam experiências de exploração, que moldam as conceções de trabalho dos alunos e que enfatizam a importância da escola, transmitindo valores de vida. Alunos e professores reconhecem o papel que estes últimos desempenham no desenvolvimento dos alunos em termos pessoais, científicos e pedagógicos (inf luência geral), a sua ação específica no âmbito da disciplina que lecionam e respetiva ligação a projetos vocacionais, bem como a importância da cooperação dos professores com outros agentes educativos e comunitários (Pinto, Taveira, & Fernandes, 2003). As pesquisas de Noack, Kracke, Gniewosz e Dietrich (2010) indicam que quanto mais os alunos consideram o clima escolar como sendo de aceitação e de abertura, mais intenso é o comportamento de exploração ocupacional. Uma investigação de Kenny e Bledsoe (2005) evidenciou o papel dos professores na identificação dos jovens com a escola, sugerindo que estes podem contribuir positivamente para a forma como os primeiros valorizam o contexto escolar, para além do impacto exercido pelas crenças da família, dos amigos próximos e do grupo de pares. Dados de um estudo de Metheny et al. (2008) indicam que a perceção do apoio dos professores (e.g., ajuda no sucesso académico, transmissão de expetativas elevadas de sucesso escolar e acessibilidade como formas de apoio e de informação de carreira) está positivamente associada à autoeficácia na tomada de decisão de
87
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Perceção do apoio dos professores no desenvolvimento de carreira das crianças e jovens adolescentes
carreira e às expetativas de resultados vocacionais positivos (Kenny & Medvide, 2013). O estudo realizado por Perry et al. (2010) evidenciou a contribuição sig-nificativa do papel dos professores na preparação de carreira de alunos de meios urbanos desfavorecidos, para além da inf luência positiva igualmente identificada em termos de envolvimento escolar.
No entanto, as interações entre professores e alunos nem sempre são positivas e, por vezes, podem mesmo ter repercussões negativas no desenvolvimento académico e social dos jovens, logo nos primeiros anos de escolaridade (Kenny & Medvide, 2013). Um estudo de Mercer e DeRosier (2008) evidenciou que, ao nível do 3º ano de escolaridade, baixas preferências individuais dos professores em relação aos alunos estariam associadas à rejeição pelos pares, baixo desempenho académico e sintomas de depressão durante o 1º ciclo. Ao nível do ensino secundário, um estudo de Bae, Holloway, Li e Bempechat (2008) sugere que os alunos, especialmente aqueles com baixo rendimento académico, começam a distanciar-se da escola quando percecio-nam que as expetativas dos professores, relativamente ao seu comportamento na aula e desempenho, são baixas.
As pesquisas, para além do que já foi referido, têm igualmente demonstrado o efeito de variáveis como o sexo e a idade na perceção de apoio dos professores por parte dos alunos. As raparigas tendem a evidenciar perceções de apoio mais elevadas do que os rapazes (Dubow & Ullman, 1989; Malecki & Elliot, 1999; Ryan et al., 1994; Wall et al., 1999) e, nestas, estas perceções parecem estar relacionadas com a antecipação de oportunidades de educação e de carreira, o que não se veri-ficou nos rapazes (Wall et al., 1999). Outro dado interessante é que à medida que aumenta a idade dos alunos parecem diminuir as perceções de apoio em relação aos professores (Malecki & Elliot, 1999).
Apesar de o reconhecimento da importância do contexto relacional em termos concetuais e de intervenção se estar a expandir na literatura (Blustein, 2011), são necessários mais estudos neste âmbito que possam elucidar de que forma os pro-fessores (e a família) têm inf luência no desenvolvimento de carreira dos alunos (Kenny & Medvide, 2013; Pinto et al., 2003). A falta de instrumentos de avaliação fundamentais a estas pesquisas é uma razão que, frequentemente, é apontada para justificar a incipiência da investigação neste domínio. O presente trabalho procura colmatar essa lacuna ao nível da instrumentação ao examinar as características psicométricas de uma medida das perceções que os alunos têm do apoio aos seus projetos de carreira, por parte dos seus professores.
O estudo que efetuámos faz parte de uma investigação longitudinal mais abrangente sobre as aspirações vocacionais na infância. Os dados apresentados foram recolhidos no terceiro e último momento de avaliação, do estudo longitudinal, e são referentes a um corte transversal da amostra. Iremos abordar a influência de variáveis como
88 Rute David, José Tomás da Silva e Maria Paula Paixão
o sexo, a idade e o nível socioeconómico de pertença dos alunos, ao apresentarmos a tradução e adaptação da versão portuguesa da Teacher Support Scale (TSS).
MÉTODO
Participantes
A amostra deste estudo é composta por 498 participantes, a frequentar os 4º, 6º e 8º anos de escolaridade em estabelecimentos de ensino público, ensino particular e cooperativo da Região Centro de Portugal Continental, sendo 250 alunos do sexo masculino (50.2%) e 248 (49.8%) do sexo feminino. Relativamente ao nível socioeco-nómico (NSE), de acordo com a classificação delineada por Simões (1994), 32.7% dos alunos são provenientes de NSE Baixo, 38.5% de NSE Médio e 29.1% de NSE Elevado.
Instrumento
A Teacher Support Scale (McWhirter, 1996) é uma escala composta por 27 itens, construída para avaliar as perceções dos alunos acerca do apoio dos seus professores do ensino secundário. Os itens da versão original foram desenvolvidos com base em revisão bibliográfica existente na área e aprovados por um painel de professores. Os itens são avaliados através de uma escala com cinco alternativas de resposta que vão desde A = concordo fortemente a E = discordo. Apesar de a TSS se destinar originalmente a avaliar as perceções dos alunos relativamente ao apoio percebido por parte dos professores do ensino secundário, contactámos a autora da versão original que foi da opinião de que poderia ser utilizada com alunos mais novos, tendo, para isso, de ser necessária a adaptação da formulação original das questões. Dada a relevância da utilização desta escala no nosso estudo, bem como a escassez de instrumentos deste tipo desenvolvidos especificamente para alunos mais novos, considerámos que a aplicação da TSS seria um contributo muito importante na nossa pesquisa. Após obtermos a permissão da autora para a tradução e a utiliza-ção da escala original norte-americana no nosso estudo, procedemos à tradução e adaptação para a língua portuguesa. Neste processo contámos com a colaboração de uma psicóloga com vários anos de experiência em contexto escolar. Fizemos algumas adaptações para facilitar a compreensão de determinados itens por parte
89
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Perceção do apoio dos professores no desenvolvimento de carreira das crianças e jovens adolescentes
das crianças mais novas, por conterem vocabulário com o qual não estavam muito familiarizadas. A tradução foi revista por investigadores experientes e submetida a um grupo de alunos dos 4º, 5º, 6º e 8º anos de escolaridade. Não detetámos difi-culdades na compreensão das instruções e dos itens que traduzimos e adaptámos.
Os resultados de um estudo de Metheny et al. (2008) em que participaram 325 alunos finalistas do ensino secundário e no qual foi utilizada uma versão redu-zida da TSS com 21 itens, indicam a existência de quatro fatores: 1) investimento, 2) consideração positiva, 3) expetativas, 4) acessibilidade. O primeiro fator (oito itens), designado Investimento, diz respeito à perceção de que os professores se envolvem na facilitação (ajuda) de comportamentos direcionados para o sucesso futuro e desempenho dos alunos. O segundo fator (cinco itens), Consideração posi-tiva, está relacionado com a perceção de que os professores se preocupam e estão ligados emocionalmente e disponíveis para os alunos. O terceiro fator (cinco itens), Expetativas, contempla a perceção de que os professores transmitem expetativas positivas em relação ao sucesso educativo dos alunos. Finalmente o quarto fator (três itens), Acessibilidade, refere-se à perceção relativamente à disponibilidade do professor e à sua recetividade à busca de apoio ou informação por parte dos alunos.
Apresentamos de seguida os resultados da tradução e adaptação da versão portuguesa da TSS.
Análise de dados
Para uma primeira estimativa da distribuição dos itens pelos fatores e a mag-nitude da sua associação, recorremos à Análise Fatorial Exploratória (AFE) da matriz das correlações, com extração dos fatores pelo método da fatorização do eixo principal com rotação oblíqua Promax. Inicialmente foram extraídos quatro fatores, mas só foram retidos para análise posterior dois fatores comuns que apresentavam um valor próprio superior a 1 [resultado que é consonante com o teste da escarpa sedimentar (scree plot), e que foi ainda corroborado pela análise do método da análise paralela (Paralell Analysis: PA)]. Para determinar a validade da realização da AFE utilizaram-se os critérios habitualmente referidos na literatura. Na medida KMO [Kaiser-Meyer-Olkin], observou-se um valor de .95, considerado excelente de acordo com os critérios de classificação definidos em Marôco (2014a). O teste de esfericidade de Bartlett apresenta um p-value < .001, demonstrativo de que as variáveis estão significativamente correlacionadas e que é apropriado executar a AFE nos dados. Na totalidade estes dois fatores explicaram 50.3% de variância comum.
Seguidamente fez-se uma nova análise forçada a dois fatores e depois de elimi-nados os loadings abaixo de .40. Assim, o fator 1 apresenta loadings salientes em 14
90 Rute David, José Tomás da Silva e Maria Paula Paixão
itens e o fator 2 em oito itens. No entanto, a distribuição dos itens pelos fatores não permitiu distinguir dimensões semelhantes às que foram encontradas em estudos com a versão original da escala. Detetámos que no segundo fator se agrupavam os três itens do fator acessibilidade, mas em conjunto com itens relacionados com o fator de investimento e de consideração positiva.
De seguida, procedemos a uma análise fatorial confirmatória (AFC) com os 22 itens que se revelaram mais promissores na AFE, utilizando o software AMOS (v. 22, SPSS, da IBM Company Chicago, IL). O modelo bi-fatorial da adaptação portuguesa da TSS para uma amostra de 498 alunos, com 22 itens, revelou uma qualidade de ajustamento sofrível, de acordo com os critérios de classificação definidos em Marôco (2014b) [c2/gl = 4.372; CFI = .887; GFI = .859; RMSEA = .082; p(rmsea<.05) < .001]. Depois de eliminados os itens com loadings inferiores a .60 obtidos na EFA (itens 5, 9, 11, 12, 15, 19, 10, 14, 20, e 26), e correlacionados os erros de medida dos itens 6, 7, 18, 21, 23, 24 e 27, foi possível obter uma qualidade de ajustamento aceitável [c2/gl = 2.606; CFI = .973; GFI = .960; RMSEA = .057; p[rmsea<.05) = .168] com os 12 itens remanescentes: oito itens no fator 1 (que designámos Apoio Académico) e quatro itens no fator 2 (que designámos Apoio Social). Cada variável observada (item) está associada unicamente a uma das duas variáveis latentes mencionadas. Apresentamos o modelo final na Figura 1, onde se podem observar os valores dos coeficientes de regressão estandardizados e a fiabilidade individual de cada um dos itens no modelo final simplificado.
Figura 1. Modelo Bi-fatorial Ajustado à Amostra de 498 Alunos do Ensino Básico [c2/gl = 2.61; CFI = .973; GFI = .960; RMSEA = .057; p(rmsea<.05)=.168].
91
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Perceção do apoio dos professores no desenvolvimento de carreira das crianças e jovens adolescentes
O fator Apoio Académico engloba itens mais relacionados com as aprendizagens escolares, tais como: “esperam que eu seja aplicado/a (trabalhe muito) na escola”, “disponibilizam-se para me ajudar a ter melhores notas”, “incentivam-me a apren-der”, enquanto o fator Apoio Social5 integra itens de índole mais relacional, que não estão diretamente associados ao contexto académico, como: “falam comigo sobre o que eu desejo para o meu futuro (sobre as minhas aspirações futuras)”, “estão disponíveis para falar comigo sobre outros assuntos para além da escola”.
O grau de precisão das respostas nos itens de cada fator foi calculado com base no coeficiente alfa de Cronbach. Também estimámos este índice para o conjunto dos itens. O cômputo da pontuação global justifica-se pelo valor elevado da cor-relação interfatores (r = .75). Com efeito, considerando o total da escala (12 itens) a consistência interna é de .906, no Fator 1 (oito itens) é de .88 e no Fator 2 (quatro itens) de .83. Os resultados sugerem uma boa consistência interna do instrumento e são consonantes com os encontrados noutros estudos em que foi utilizada a versão original da TSS. Com efeito, considerando a escala total, Metheny et al. (2008) obti-veram um alfa de .96, enquanto no estudo Perry et al. (2010) esse valor foi de .94.
Considerando o total da amostra, as pontuações médias obtidas pelos 498 parti-cipantes situam-se, tanto na subescala Apoio Académico (M = 4.22, DP = 0.64) como na subescala Apoio Social (M = 3.71, DP = 0.81), acima do ponto médio (3) da escala de cinco pontos, acontecendo o mesmo em todos os 12 itens da escala (Tabela 1).
Tabela 1 Médias e Desvios Padrão dos 12 Itens Remanescentes da Versão Portuguesa da TSS
Item Fator M DP Correlação item-total
Item 1 Apoio Académico 4.28 0.81 .57Item 4 Apoio Académico 4.26 0.90 .67Item 6 Apoio Académico 4.40 0.74 .59Item 7 Apoio Académico 3.83 0.94 .55Item 13 Apoio Académico 4.24 0.88 .75Item 17 Apoio Académico 4.19 0.88 .69Item 18 Apoio Académico 4.39 0.78 .72Item 21 Apoio Académico 4.14 0.90 .71Item 23 Apoio Social 3.86 0.90 .63Item 24 Apoio Social 3.44 1.04 .64Item 25 Apoio Social 3.88 0.98 .69Item 27 Apoio Social 3.66 1.05 .69
5 Esta designação baseia-se na conceptualização de “apoio social” avançada por Cutrona (1996) que integra vários aspetos multidimensionais do mesmo (i.e. emocional, integração social, estima, tangibilidade e informação) e que foi utilizada no estudo de Schultheiss et al. (2005) acima referido.6 Na interpretação deste coeficiente deve ter-se em conta que o número de itens da versão Portuguesa é menor.
92 Rute David, José Tomás da Silva e Maria Paula Paixão
Quando desagregada a amostra em função do sexo dos participantes, verifi-camos a existência de diferenças estatisticamente significativas entre rapazes e raparigas (Tabela 2).
Tabela 2Comparação das Diferenças das Médias por Sexo
Rapazes(n = 250)
Raparigas(n = 248)
t pM DP M DP
Apoio Académico 4.13 0.69 4.30 0.57 -3.04 .002
Apoio Social 3.73 0.89 3.70 0.72 0.38 NS
Escala Total 4.00 0.69 4.10 0.53 -1.90 NS
Relativamente à subescala Apoio Académico as raparigas obtêm pontuações médias mais elevadas do que os rapazes, sendo essa diferença estatisticamente significativa, e a magnitude do efeito média [t(496) = -3.04, p = .002, d = 0.27] (Marôco, 2014a). Já na subescala Apoio Social, os rapazes demonstram perceções de apoio por parte dos professores mais elevadas do que as raparigas, mas essa diferença não assume significância estatística [t(496) = 0.38, p = .71, d = 0.03]. Considerando a escala total, não existem diferenças significativas entre rapazes e raparigas [t(496) = -1.90, p = .06, d = 0.17].
Considerando os três níveis de ensino da amostra (4º, 6º e 8º anos de escolaridade), verificamos que as pontuações médias tendem a baixar com a progressão na escola-ridade, tendência já evidenciada noutros estudos (Malecki & Elliot, 1999) (Tabela 3).
Tabela 3Comparação das Diferenças das Médias por Ano de Escolaridade
4º ano (n = 162)
6º ano (n = 196)
8º ano (n = 140)
F p Teste post-hoc
M DP M DP M DP
A. Académico 4.38 0.64 4.19 0.58 4.07 0.68 9.76 < .001 4>6; 4>8
A. Social 3.89 0.82 3.67 0.77 3.56 0.83 6.81 < .001 4>6; 4>8
Escala Total 4.22 0.62 4.02 0.57 3.90 0.67 10.65 <.001 4>6; 4>8
93
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Perceção do apoio dos professores no desenvolvimento de carreira das crianças e jovens adolescentes
As análises de variância (ANOVA) revelaram a existência de diferenças estatisti-camente significativas entre as médias dos três níveis de ensino: Apoio Académico: F(2, 495) = 9.76, p < .001, ηp
2= .04; Apoio Social: F(2, 495) = 6.81, p = .001, ηp2=
.03; Escala Total: F(2, 495) = 10.65, p < .001, ηp2= .04. Examinando os resultados
dos testes post-hoc (teste de Bonferroni), verificamos a existência de diferenças sig-nificativas quer ao nível da escala total, quer ao nível das duas subescalas entre os alunos mais novos (4º ano) e os alunos a frequentar os 6º e 8º anos de escolaridade, sendo a magnitude do efeito pequena. Apesar de os alunos do 6º ano de escolari-dade exibirem pontuações médias mais elevadas do que os alunos do 8º ano, essas diferenças não assumem significância em termos estatísticos.
Considerando o nível socioeconómico (NSE) dos participantes do nosso estudo, encontrámos diferenças estatisticamente significativas na subescala Apoio Académico e na Escala Total (Tabela 4).
Tabela 4Comparação das Diferenças das Médias por Nível Socioeconómico (NSE)
NSE B(n = 163)
NSE M(n = 190)
NSE E(n = 145)
F p Teste post-hoc
M DP M DP M DP
A. Académico 4.03 0.59 4.21 0.70 4.42 0.54 15.13 < .001 B<M<E
A. Social 3.69 0.78 3.69 0.86 3.76 0.78 0.34 NS -
Escala Total 3.92 0.59 4.04 0.69 4.20 0.53 8.01 < .001 B<E ; M<E
De um modo geral, as perceções de apoio dos professores tendem a ser mais elevadas consoante o nível socioeconómico (NSE) a que pertencem os alunos. Os participantes provenientes de NSE elevado obtêm pontuações médias mais eleva-das, considerando a escala total e as subescalas Apoio Académico e Apoio Social, do que os restantes participantes no estudo. Na subescala Apoio Académico foram registadas diferenças estatisticamente significativas entre as pontuações médias dos participantes provenientes dos três níveis socioeconómicos (baixo, médio e elevado), aumentando as pontuações à medida que aumenta o NSE, sendo a dimensão do efeito média [Apoio Académico: F(2, 495) = 15.13, p < .001, ηp
2= .06]. Considerando a escala total, foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os alunos de NSE elevado e NSE baixo e entre os alunos de NSE elevado e NSE médio, com baixa magnitude de efeito [Escala Total: F(2, 495) = 8.01, p < .001, ηp
2= .03]. Apesar de os participantes provenientes de NSE médio apresentaram perceções
94 Rute David, José Tomás da Silva e Maria Paula Paixão
de apoio relativamente aos professores da sua escola mais elevadas do que os par-ticipantes de NSE baixo, essas diferenças não são estatisticamente significativas. As perceções de apoio relativas à subescala Apoio Social não foram inf luenciadas pelo nível de NSE de pertença dos alunos, como sugere a interação não significativa entre os dois fatores [Apoio Social: F(2, 495) = 0.34, p = .71, ηp
2= .001].Ao questionarmos os participantes do nosso estudo acerca do nível de ensino
que pretendem completar, definimos dois níveis de aspirações educacionais: elevadas (quando pretendem completar estudos a nível superior) e baixas (quando pretendem apenas concluir a escolaridade obrigatória); 21 participantes não sabem ou não res-ponderam a esta questão e foram excluídos da análise. Encontrámos diferenças ao desagregar a amostra em função das aspirações educacionais dos alunos (Tabela 5).
Tabela 5Comparação das Diferenças das Médias por Aspirações Educacionais
Ensino Secundário (n = 108)
Estudos Superiores (n = 369)
t p
M DP M DP
Apoio Académico 4.00 0.55 4.31 0.61 -4.76 < .001
Apoio Social 3.64 0.74 3.74 0.82 -1.19 NS
Escala Total 3.88 0.55 4.12 0.60 -3.72 < .001
São os alunos que pretendem completar estudos a nível superior os que obtêm pontuações médias mais elevadas em todas a escalas, sendo essas diferenças sig-nificativas na subescala Apoio Académico [t(475) = -4.76, p < .001, d = 0.52] com dimensão do efeito elevada; e na escala total [t(475) = -3.72, p < .001; d = 0.41] com magnitude de efeito média (Marôco, 2014a). Relativamente à subescala Apoio Social não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os dois níveis de ensino que os alunos aspiram completar.
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Em termos das propriedades da medida examinada neste estudo validámos um constructo geral que traduz a perceção do aluno acerca do apoio recebido por parte dos professores, mas neste momento não há evidência que apoie os 4 fatores obtidos
95
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Perceção do apoio dos professores no desenvolvimento de carreira das crianças e jovens adolescentes
em estudos anteriores com a versão original da TSS. De notar que Metheny et al. (2008) reportaram a existência de um fator de primeira ordem na TSS, sugerindo a existência de um constructo comum a todas as dimensões.
As pontuações obtidas, acima do ponto médio em todos os itens, sugerem que, de um modo geral, os alunos percecionam positivamente o apoio que recebem por parte dos seus professores, com maior incidência no âmbito académico. Estes dados parecem consonantes que as conclusões dos resultados de um estudo de Kenny e Bledsoe (2005) que destaca a contribuição específica do apoio dos professores nas atitudes dos alunos em relação à escola (identificação com a escola), não tendo sido demonstrada nas outras variáveis de adaptabilidade de carreira (perceção de barreiras educacionais, expetativas de resultados de carreira, planeamento de carreira), quando outros fatores foram considerados em primeiro lugar.
Tal como já evidenciado noutros estudos com recurso a outros instrumentos de medida do apoio percebido (Malecki & Elliot, 1999; Ryan et al., 1994; Wall et al., 1999) as raparigas obtiveram pontuações mais elevadas (considerando a escala total e a subescala Apoio Académico, mas apenas nesta última essas alcançaram o nível de significância estatística) do que os rapazes. Wall e colaboradores (1999) mostraram que as raparigas reportam consistentemente níveis mais elevados de apoio (de fontes para além da família), perceção mais elevada de futuras oportunidades e expetativas mais elevadas tanto a nível de educação como de carreira, bem como aspirações educacionais mais elevadas do que os rapazes; ademais sugeriram que estas diferenças poderão estar relacionadas com o rendimento escolar (geralmente é superior no sexo feminino). Tal assunção parece-nos ir ao encontro dos resultados que obtivemos, já que na subescala Apoio Social não houve diferenças entre rapazes e raparigas (sendo, inclusive, os rapazes a obterem pontuações médias ligeiramente mais elevadas do que as raparigas).
Registámos que com o aumento do nível de escolaridade se verificou uma diminuição nas pontuações médias, tendência que pode estar relacionada com a importância que assumem outros elementos da rede social dos estudantes na for-mulação das perceções de apoio, nomeadamente o grupo de pares nos alunos mais velhos. Mais uma vez estes resultados estão de acordo com a literatura e com as evidências obtidas noutras pesquisas. Um estudo de Malecki e Elliot (1999), com alunos dos 7º ao 12º anos de escolaridade, revelou que a perceção de apoio por parte dos professores diminui com a idade (e nível de ensino), paralelamente ao que acontece relativamente à perceção do apoio dos adultos em geral, sugerindo a existência de diferenças desenvolvimentais nesta variável.
Verificámos que os alunos com aspirações educacionais mais elevadas (que pretendem concluir o ensino superior) têm perceções mais elevadas do apoio dos professores do que os alunos que pretendem apenas concluir estudos a nível
96 Rute David, José Tomás da Silva e Maria Paula Paixão
secundário, sendo essas diferenças significativas, considerando o total da escala e a subescala Apoio Académico. A mesma tendência de resultados parece emergir quando desagregamos a amostra por NSE, evidenciando que são os alunos oriun-dos de NSE mais elevados que percecionam maiores níveis de apoio por parte dos professores. Devemos sublinhar que grande parte dos alunos com aspirações educacionais mais baixas pertencem, igualmente, a NSE baixo (65.7%; 28.7% NSE Médio e 5.6% de NSE Elevado). Efetivamente, a literatura tem vindo a evidenciar o feito preditor do NSE nas aspirações dos alunos. Os jovens de NSE mais baixo lidam com conflitos entre as normas da escola, família, cultura e os grupos de pares, têm constrangimentos adicionais na formulação de aspirações educativas de nível superior, que incluem limitações físicas (como pressão financeira e distância geográfica) e barreiras psicológicas (Berzin, 2010); deste modo, quando percecionam níveis elevados de barreiras e níveis baixos de apoio demonstram aspirações baixas (Kenny, Blustein, Chaves, Grossman, & Gallagher, 2003). A pesquisa de Berzin (2010) evidenciou que os alunos de NSE mais baixo reportam, igualmente, níveis baixos de apoio social relativos a várias fontes, incluindo os professores. Esta autora salienta, ainda, que as atribuições positivas ao contexto escolar estão relacionadas com aspirações educacionais elevadas, sugerindo a importância de experiências escolares positivas e de sucesso precoce na amplificação das aspirações.
Nesta equação, é plausível a existência de uma relação estreita entre a perceção de apoio e o sucesso académico (Wall et al., 1999), variável que não estudámos e que tem sido destacada noutras pesquisas (Berzin, 2010; Perry et al., 2010).
CONCLUSÕES
Dada a relevância do contexto relacional no desenvolvimento de carreira das crianças e jovens, procurámos apresentar dados que contribuam para a compreensão da inf luência do apoio dos professores neste âmbito.
Concluímos que a perceção deste apoio varia em função do sexo, nível de esco-laridade (idade), nível socioeconómico e nível de aspirações académicas, parecendo estar mais relacionado com as aprendizagens escolares (subescala Apoio Académico) e não tanto com o apoio dos professores noutros contextos (subescala Apoio Social). Estando os professores fortemente associados ao contexto de sala de aula e à trans-missão de conteúdos no âmbito de disciplinas específicas, é verossímil que a perce-ção do apoio dos professores por parte dos alunos incida sobretudo nesta vertente.
Em alunos mais novos, a escala parece ter uma estrutura mais reduzida, bem como uma natureza tendencialmente unidimensional (fator de segunda ordem), o
97
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Perceção do apoio dos professores no desenvolvimento de carreira das crianças e jovens adolescentes
que poderá estar relacionado com aspetos desenvolvimentais (menor capacidade para diferenciar as perceções de apoio) ou mesmo com diferenças culturais. Um objetivo futuro seria o de aplicar a escala a participantes mais velhos, no sentido de verifi-car se a estrutura dimensional tende, efetivamente, para uma maior diferenciação.
Finalmente, embora realcemos a necessidade de futuramente clarificar as relações entre as variáveis estudadas, com outras igualmente importantes para a compreensão do processo de desenvolvimento vocacional na infância e na adolescência, nomea-damente com o rendimento escolar, concluímos que a versão portuguesa da TSS pode ser usada, com as adaptações sugeridas, na investigação do comportamento e do desenvolvimento vocacional de crianças e jovens, colmatando desta forma uma lacuna frequentemente referida na literatura especializada.
AGRADECIMENTOS:
Agradecemos à Susana Igreja Pereira pela colaboração prestada no processo de tradução e adaptação da versão portuguesa da TSS.
REFERÊNCIAS
Abreu, M. V. (1996). Pais, professores e psicólogos: Contributos para o desenvolvimento de uma prática relacional nas escolas. Coimbra: Coimbra Editora.
Bae, S., Holloway, S. D., Li, J., & Bempechat (2008). Mexican-American students’ perceptions of teachers’ expectations: Do perceptions differ depending on student achievement levels? Urban Review, 40(2), 210-225. doi:10.1007/s11256-007-0070-x
Berzin, S. (2010). Educational aspirations among low-income youths: Examining multiple conceptual models. Children & Schools, 32(2), 112-123. doi:10.1093/cs/32.2.112
Blustein, D. L. (2011). A relational theory of working. Journal of Vocational Behavior, 79(1), 1-17. doi:10.1016/j.jvb.2010.10.004
Cutrona, C. E. (1996). Social support in couples: Marriage as a resource in times of stress. Thousand Oaks, CA: Sage.
Dubow, E. F., & Ullman, D. G. (1989). Assessing social support in elementary school children: The survey of children’s social support. Journal of Clinical Child Psychology, 18(1), 52-64. doi:10.1207/s15374424jccp1801_7
Duffy, R. D., Blustein, D. L., Diemer, M. A., & Autin, K. L. (2016). The psychology of working theory. Journal of Counseling Psychology, 63(2), 127-148. doi: 10.1037/cou0000140
Ferreira, A. F., Nascimento, I., & Fontaine, A. M. (2009). O papel do professor na transmissão de represen-tações acerca de questões vocacionais. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 10(2), 43-56.
98 Rute David, José Tomás da Silva e Maria Paula Paixão
Gamboa, V. M., & Paixão, M. P. (2014). A qualidade da experiência de estágio e o desenvolvimento vocacional de estudantes dos cursos tecnológicos. Psicologia Ref lexão e Crítica, 27(2), 377-387. doi:10.1590/1678-7153.201427219
Hartung, P. J., Porfeli, E. J., & Vondracek, F. W. (2005). Child vocational development: A review and reconsideration. Journal of Vocational Behavior, 66(3), 385-419. doi:10.1016/j.jvb.2004.05.006
Kenny, M. E., & Bledsoe, M. (2005). Contributions of the relational context to career adaptability among urban adolescents. Journal of Vocational Behavior, 66(2), 257-272. doi: 10.1016/j.jvb.2004.10.002
Kenny, M. E., Blustein, D. L., Chaves, A., Grossman, J. M., & Gallagher, L. A. (2003). The role of per-ceived barriers and relational support in the educational and vocational lives of urban high school students. Journal of Counseling Psychology, 50(2), 142-155. doi:10.1037/0022-0167.50.2.142
Kenny, M. E., & Medvide, M. B. (2013). Relational inf luences on career development. In S. D. Brown & R. W. Lent (Eds.), Career development and counseling: Putting theory and research to work (2nd ed., pp. 329-356). Hoboken, NJ: John Wiley.
Lent, R. W., Brown, S. D., & Hackett, G. (2000). Contextual support and barriers to career choice: A social cognitive analysis. Journal of Counseling Psychology, 47(1), 36-49. doi: 10.1037//0022-0167.47.1.36
Lent, R. W., Paixão, M. P., Silva, J. T., & Leitão, L. M. (2010). Predicting occupational interests and choice aspirations in Portuguese high school students: A test of social cognitive career theory. Journal of Vocational Behavior, 76(2), 244-251. doi: 10.1016/j.jvb.2009.10.001
Malecki, C. K., & Elliot, S. N. (1999). Adolescents’ ratings of perceived social support and its impor-tance: Validation of the Student Social Support Scale. Psychology in the Schools, 36(6), 473-483. doi:10.1002/(SICI)1520-6807(199911)36:6<473::AID-PITS3>3.0.CO;2-0
Marôco, J. P. (2014a). Análise estatística com o SPSS Statistics (6ª ed.). Pêro Pinheiro: ReportNumber.Marôco, J. (2014b). Análise de equações estruturais: Fundamentos teóricos, software & aplicações (2ª
ed.). Pêro Pinheiro: ReportNumber.McWhirter, E. H. (1996). Teacher Support Scale (TSS): A measure of support experienced by high school
students from their high school teachers. Unpublished manuscript.Mercer, S. H. & DeRosier, M. E. (2008). Teacher preference, peer rejection, and student aggression:
A prospective study of transactional inf luence and independent contributions to emotional adjustment and grades. Journal of School Psychology, 46(6), 661-685. doi:10.1016/j.jsp.2008.06.006
Metheny, J., McWhirter, E. H., & O’Neil, M. E. (2008). Measuring perceived teacher support and its inf luence on adolescent career development. Journal of Career Assessment, 16(2), 218-237. doi:10.1177/1069072707313198
Noack, P., Kracke, B., Gniewosz, B., & Dietrich (2010). Parental and school effects on student’s occu-pational exploration: A longitudinal and multilevel analysis. Journal of Vocational Behavior, 77(1), 50-57. doi:10.1016/j.jvb.2010.02.006
Oliveira, I. M., Taveira, M. C., & Neves, L. F. (2014). Sensibilizar professores para o desenvolvimento de carreira dos alunos: Relato de uma experiência. Psicologia: Ciência e Profissão, 34(2), 512-523. doi:10.1590/1982-3703001612013
Paa, H. K., & McWhirter, E. H. (2000). Perceived inf luences on high school students’ current career expectations. Career Development Quarterly, 49(1), 29-44. doi:10.1002/j.2161-0045.2000.tb00749.x
Perry, J. C., Liu, X., & Pabian, Y. (2010). School engagement as a mediator of academic performance among urban youth: The role of career preparation, parental career support, and teacher sup-port. The Counseling Psychologist, 38(2), 269-295. doi: 10.1177/0011000009349272
Pinto, H. R., Taveira, M. C., & Fernandes, M. E. (2003). Os professores e o desenvolvimento vocacional dos estudantes. Revista Portuguesa de Educação, 16(1), 37-58.
99
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Perceção do apoio dos professores no desenvolvimento de carreira das crianças e jovens adolescentes
Ryan, R. M., Stiller, J. D., & Lynch, J. H. (1994). Representations of relationships to teachers, parents, and friends as predictors of academic motivation and self-esteem. Journal of Early Adolescence, 14(2), 226-249. doi:10.1177/027243169401400207
Savickas, M. (2005). The theory and practice of career construction. In S. Brown & R. Lent (Eds.), Career development and counseling: Putting theory and research to work (pp. 42-70). Hoboken, NJ: John Wiley.
Schultheiss, D. E. P. (2003). A relational approach to career counseling: Theoretical integration and practical application. Journal of Counseling and Development, 81(3), 301-310. doi:10.1002/j.1556-6678.2003.tb00257.x
Schultheiss, D. E. P. (2007). Career development in the context of children’s and adolescents’ relation-ships. In S. B. Skorikov & W. Patton (Eds.), Career Development in Childhood and Adolescence (pp. 169-180). Rotterdam, The Netherlands: Sense Publishers.
Schultheiss, D. E. P., Palma, T., & Manzi, A. (2005). Career development in middle childhood: A quali-tative inquiry. Career Development Quarterly, 53(3), 246-262. doi:10.1002/j.2161-0045.2005.tb00994.x
Simões, M. R. (1994). Investigações no âmbito da aferição nacional do teste das Matrizes Progressivas Coloridas de Raven (M.P.C.R.) (Tese de doutoramento, Universidade de Coimbra). Consultado em https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/946
Vondracek, F., Lerner, R., & Schulenberg, J. W. (1986). Career development: A life-span developmental approach. Hillsdale, NJ : Erlbaum.
Wall, J., Covell, K., & MacIntyre, P. D. (1999). Implications of social supports for adolescents’ educa-tion and career aspirations. Canadian Journal of Behavioural Science, 31(2), 63-71. doi:10.1037/h0087074
101
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Adaptação portuguesa do DOCS
Avaliação da cultura organizacional: Adaptação e validação da versão portuguesa do Denison Organizational Culture Survey • pág. 101-121
DOI: https://doi.org/10.14195/1647-8606_59_2_6
Avaliação da cultura organizacional: Adaptação e validação da versão portuguesa do
Denison Organizational Culture Survey
Eva Petiz Lousã1 e A. Duarte Gomes2
Evaluation of organizational culture: Adaptation and validation of the Portuguese version of the Denison Organizational Culture Survey
Abstract
This study presents the results of the adaptation and validation of Denison Organizational Culture Survey (2001) in a sample of 905 employees of 102 Portuguese companies. In the study we confirmed the four-dimensional structure and twelve of the questionnaire indicators. Both correlations between different indicators and dimensions as well their internal consistency, showed similar results to those obtained in the original version that justify the adaptation and validation of this instrument for the context of Portuguese companies in the study.
Keywords: adaptation; validation; confirmatory factor analysis; reliability
1 Eva Petiz Lousã é doutorada em Psicologia das Organizações, do Trabalho e dos Recursos Humanos pela Universidade de Coimbra e docente do Instituto Politécnico do Porto. É membro do Centro de Investigação em Comunicação e Educação (CICE) no Instituto Superior de Contabilidade e Gestão e professora na Escola Superior de Estudos Industriais e de Gestão, ambas as instituições integradas no referido Instituto Politécnico do Porto. Email: [email protected]
2 A. Duarte Gomes é doutorado em Psicologia do Trabalho e das Organizações, professor na Faculdade de Psicologia e de Ciências a Educação da Universidade de Coimbra. Email: [email protected] recebido a 19-10-2015 e aprovado a 01-07-2016.
102 Eva Petiz Lousã e A. Duarte Gomes
Resumo
Este estudo apresenta os resultados da adaptação e validação do questionário de Cultura Organizacional (Denison Organizational Culture Survey, 2001). O estudo incidiu sobre uma amostra de 905 colaboradores de 102 empresas Portuguesas. No estudo confirmá-mos a estrutura de quatro dimensões e de doze indicadores do referido questionário. Tanto as correlações entre os diferentes indicadores e dimensões, como a consistência interna das mesmas, apresentaram resultados semelhantes aos obtidos na versão original que justificam a adaptação e validação deste instrumento para o contexto de empresas portuguesas em estudo.
Palavras‑chave: adaptação; validação; análise fatorial confirmatória; fiabilidade
INTRODUÇÃO
A cultura organizacional constitui um objeto de estudo e uma área de intervenção que continua a despertar o interesse científico e a dar origem a numerosas publicações (e.g., Alvesson, 2002; Ashkanasy, Wilderom, & Peterson, 2011; Deal & Kennedy, 1982; Denison, 1990, 1996; Denison, Haaland, & Goelzer, 2003; Denison, Nieminen, & Kotrba, 2014; Gomes, 2000, 2004; Hartnell, Ou, & Kinicki, 2011; Jung et al., 2009; Rebelo & Gomes, 2011; Sackmann, 2011; Schein, 1990, 1992; Trice & Beyer, 1993). Décadas de investigação conduziram à emergência de variados modelos explicativos, assim como ao surgimento de diversos instrumentos de medida (Ashkanasy, Wilderom, & Peterson, 2011; Hartnell, Ou, & Kinicki, 2011; Jung et al., 2009; Sackmann, 2011; Wilderom, Glunk, & Maslowsky, 2000). No entanto, como assinalam Denison et al. (2014), o desenvolvimento de instrumentos de medida válidos e fiáveis não tem acompanhado o desenvolvimento teórico entretanto verificado. E, apesar de o número de instrumentos disponíveis não ter parado de crescer (Jung et al., 2009), são várias as questões de natureza metodológica que subsistem no seio da literatura da especialidade (Ashkanasy, Wilderom, & Peterson, 2011; Sackmann, 2011).
Uma dessas questões tem a ver com o que deve ser avaliado - o que é tácito ou informal, os pressupostos, valores, crenças e atitudes, ou os fenómenos mais observáveis, como os rituais e as normas de comportamento. O modo como os artefactos, os padrões de comportamento e as normas são medidos poderá
103
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Adaptação portuguesa do DOCS
ser diferente do modo adequado para medir atitudes, crenças, valores e pres-supostos. De igual modo, as relações de oposição ou as dicotomias geralmente estabelecidas - muitas vezes de forma ingénua, como sublinha Rousseau (1990) - entre, por exemplo, quantitativo e qualitativo, objetivo e subjetivo, superfi-cial e profundo, acessível e inacessível, longe de constituírem um apoio para o debate esclarecido e o progresso dos conhecimentos neste domínio, muitas vezes contribuem para o dificultar. Com efeito e como sublinha Furnham (1997), as dicotomias facilmente conduzem a que um dos polos de uma dada dimensão seja visto como bom e o outro como mau. Além disso, há questões de natureza ética em torno da investigação relacionada com a cultura, e ainda as que se relacionam com a adoção de diferentes níveis de análise. Do mesmo modo, a pluralidade de métodos, associada a uma pluralidade de orientações teóricas, fazem da avaliação e medida um tema pouco pacífico (Ashkanasy, Broadfoot, & Falkus, 2000; De Witte & van Muijen, 1999; Gomes, 2004; Rousseau, 1990; Wilderom, Glunk, & Maslowsky, 2000; Zammuto & Krakower, 1989).
Em relação aos métodos e sua utilização no contexto da investigação cen-trada sobre a cultural organizacional, Rousseau (1990) sistematiza muitos dos argumentos aqui mencionados e apresenta uma vasta lista dos instrumentos de medida. Cooke e Szumal (2000) e Ashkanasy, Broadfoot e Falkus (2000) acres-centaram a esta lista outros inventários ou questionários de cultura organizacio-nal. Posteriormente, Jung et al. (2009), numa revisão alargada sobre este tópico, identificaram 70 instrumentos de medida de cultura organizacional e Denison et al. (2014) atualizaram a referida lista. Estes últimos autores, recorrendo aos critérios de validade apresentados por Jung et al. (2009), acrescentaram uma análise aprofundada dos mencionados instrumentos e compararam a sua efi-cácia. Desta análise mereceu particular realce a versão atualizada e revista do Denison Organizational Culture Survey (DOCS). Este instrumento de medida (Denison, 2001; Denison & Neale, 1996), que utilizaremos e a que adiante nos referiremos com mais detalhe, tem em vista o estabelecimento de um perfil de cultura organizacional. Com efeito, é relevante poder dispor de instrumentos de medida válidos e fiáveis para que o conhecimento científico sobre uma dada questão de investigação possa progredir e consolidar-se. Para que esse conheci-mento possa ser cumulativo e para que sobre essa questão possam ser realizados estudos comparáveis, este é um passo de natureza metodológica que não pode ser ignorado. O presente artigo centra-se sobre a versão portuguesa do instru-mento de medida da cultura organizacional DOCS, sua adaptação e validação. E assume, à partida, que não basta traduzir e aplicar um questionário, em par-ticular quando o que está em causa é a avaliação da cultura organizacional, já que esta também implica uma validação intercultural.
104 Eva Petiz Lousã e A. Duarte Gomes
CARACTERIZAÇÃO DO MODELO DE DENISON ORGANIZATIONAL CULTURE
O questionário sobre cultura organizacional (Denison Organizational Culture - DOC) resultou de um conjunto de estudos empíricos qualitativos e quantitativos, focados nos fatores da cultura organizacional que têm mostrado ter impacto na sua performance e eficácia (Denison, 1984, 1990, 1996, 2001; Denison et al., 2014; Denison & Mishra, 1995; Denison & Neale, 1996; Fey & Denison, 2003). A revisão da literatura, represen-tando ideias de como criar uma cultura eficaz, mostrou ser consistente tanto com as opiniões de gestores como com a literatura da especialidade (Denison, 2001). As dimen-sões inerentes a este modelo revelaram-se, assim, úteis para o diagnóstico da cultura organizacional (Denison, 2001) e possibilitam a realização de análises comparativas.
No modelo, as crenças e os pressupostos de base ocupam um lugar central, no sentido preconizado por Schein (1992), remetendo para os níveis mais profundos da cultura organizacional. São eles que impulsionam o comportamento e a ação dos indivíduos no contexto organizacional e que possibilitam a existência da ligação que se estabelece entre a organização e os seus membros. Trata-se de um elemento importante para a formação de uma base comum a partir da qual é possível trabalhar em conjunto e comunicar. Por sua vez, os valores e as normas de comportamento fornecem uma orientação e dão origem a expectativas, contribuindo para a criação de uma identidade a nível organizacional. E porque são mais facilmente observáveis do que os pressupostos de base com os quais estão em relação, em momentos de mudança ou face a novos desafios, esses valores e essas normas poderão ser reexaminados.
O modo como a cultura é concebida pelo modelo aqui referido enfatiza ainda a importância dos significados socialmente construídos e tem em vista avaliar a natureza das relações entre os membros da organização (Denison & Mishra, 1989).
O modelo propõe a existência de quatro dimensões: Envolvimento, Consistência, Adaptabilidade e Missão. A dimensão Envolvimento reflete o quanto os membros da organização estão ou são envolvidos no processo de gestão. A dimensão Consistência reflete a partilha de valores fundamentais, o consenso e os objetivos e metas comuns, entre os membros de todos os níveis da organização, sendo importante para a estabi-lidade e integração interna. A dimensão Adaptabilidade refere-se à capacidade de as organizações se adaptarem rapidamente às mudanças da sua envolvente, assumindo riscos, aprendendo com os seus erros e acrescentando valor para os seus clientes, vendo aumentadas as suas oportunidades de sobreviver e crescer. A dimensão Missão fornece à organização uma direção estratégica, um propósito ou desígnio, que lhe permite definir os seus objetivos globais, bem como expressar a visão de como será no futuro, proporcionando aos seus membros um percurso apropriado de ação. A identificação dos membros com a missão da organização contribui para que haja
105
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Adaptação portuguesa do DOCS
dedicação a essa organização, a curto e a longo prazo. Cada uma destas quatro dimensões é medida através de três indicadores e cada um destes indicadores com-porta cinco itens. Resumidamente, o Envolvimento é medido através dos seguintes indicadores: empowerment (capacidade de iniciativa, responsabilização, poder gerir o próprio trabalho), orientação para a equipa (valorização do trabalho cooperativo em torno de objetivos comuns) e capacidade de desenvolvimento (investimento contínuo no desenvolvimento de competências dos colaboradores). A Consistência é medida a partir dos valores nucleares (valores comuns, identidade e expectativas conjuntas), acordo (capacidade de os membros da organização chegarem a acordo em aspetos críticos e de serem capazes de conciliação face a divergências), coordenação e inte-gração (capacidade de diferentes funções e unidades da organização trabalharem em conjunto para alcançarem metas comuns). A Adaptabilidade é avaliada mediante os seguintes indicadores: criação de mudança (capacidade de a organização interpretar a envolvente, reagir rapidamente a tendências atuais e antecipar mudanças futuras), foco no cliente (grau em que a organização está orientada para a satisfação das neces-sidades dos seus clientes), aprendizagem organizacional (capacidade de a organização receber, traduzir e interpretar sinais da envolvente e convertê-los em oportunida-des para encorajar a inovação, obter conhecimento e desenvolver capacidades). A Missão é medida através dos seguintes indicadores: direção estratégica e intenção (clareza quanto ao propósito da organização e participação empenhada dos membros da organização na direção definida), metas e objetivos (existência de metas e obje-tivos claros associados à missão, visão e estratégia da organização, proporcionando a todos uma clara orientação para o seu trabalho), visão (capacidade de traçar um futuro atrativo para a organização, devendo essa visão abarcar os valores nucleares e suscitar o comprometimento dos seus membros).
Definidas as quatro dimensões, importa ainda mencionar a relação entre elas e salientar que a importância relativa atribuída a cada uma dessas dimensões pode variar ao longo do ciclo de vida de uma organização. O modelo estabelece um contraste entre estabilidade e f lexibilidade, assim como entre foco interno e foco externo. Para a estabilidade contribuem as dimensões Consistência e Missão e para a f lexibilidade, Envolvimento e Adaptabilidade; o foco interno tem a ver com Envolvimento e Consistência e o foco externo, com Adaptabilidade e Missão. A complexidade das relações entre as dimensões aqui mencionadas é reconhecida, admitindo-se que possam existir tensões ou f lutuações entre elas, designadamente entre Consistência interna e Adaptabilidade externa, do mesmo modo que entre Missão e o Envolvimento. Assim, as organizações que mantêm um foco na pros-secução de oportunidades de mercado podem enfrentar problemas ao nível da sua integração interna, como aquelas que se encontram bem integradas e controladas podem ter dificuldades em se focar no cliente. E as organizações que enfatizam a
106 Eva Petiz Lousã e A. Duarte Gomes
missão, e que por isso privilegiam uma comunicação descendente (top-down), muitas vezes encontram dificuldades em pôr em prática o empowerment, por contraste com aquelas que dão maior importância ao envolvimento, e que por isso favorecem as dinâmicas de natureza ascendente (bottom-up), correndo o risco, deste modo, de perderem de vista a missão e a visão. Compatibilizar e enfrentar com eficácia estes desafios não é tarefa fácil e poderá dar origem a diferentes orientações culturais, assim como a diferentes estratégias de as gerir.
Este modelo é, segundo os seus autores, suscetível de ser aplicado a diferentes contextos e áreas geográficas, mantendo as suas características estruturais (Denison et al., 2014). Dada a inexistência de uma versão portuguesa deste questionário e de estudos para a sua validação, consideramos que o questionário de cultura organiza-cional (DOC) merece ser objeto de estudo e de adaptação ao contexto português atual e às suas organizações empresariais. Nesse sentido, o estudo que aqui apresentamos e que se insere no âmbito de uma investigação mais abrangente (Lousã, 2013), tem por objetivo investigar as características psicométricas do referido questionário, nomeadamente a sua fiabilidade (através da análise da sua consistência interna) e analisar a sua estrutura teórica subjacente, numa amostra de empresas portuguesas.
MÉTODO
Participantes
Os dados analisados neste estudo foram recolhidos em 102 empresas portuguesas de base tecnológica e de outros setores de atividade, no período de 2010 e 2011. A antiguidade das empresas varia entre os dois e os 115 anos, sendo a média de cerca de 19 anos (18.98) e o desvio-padrão de 19 anos também (18.97). A amostra é diversificada no que se refere à amplitude de idades das empresas (113 anos), mas no seu conjunto verifica-se um equilíbrio entre as empresas mais jovens e as mais antigas. O número de colaboradores por empresa varia entre dois e 643 pessoas, sendo o número médio de pessoas por empresa de 61.51 e o desvio-padrão de 114.86. Tendo em conta o número de pessoas que a empresa emprega, constatamos que 30.4% são Microempresas, 38.2% são Pequenas empresas; 24.5% são Médias empresas e 5.9% são Grandes empresas. Estes valores aproximam-se da distribuição do tecido empresarial português, visto que este é predominantemente constituído por micro, pequenas e médias empresas.
107
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Adaptação portuguesa do DOCS
No total participaram 905 colaboradores de ambos os sexos, com uma média de idades de 35 anos (DP = 9.1). A maioria dos respondentes tem idades compreendidas entre os 31 e 40 anos (38.2%), seguindo-se a faixa etária dos 21 anos aos 30 anos (34%). No que concerne às habilitações académicas constatamos que a grande maioria dos respondentes possui estudos de nível superior, sendo que 39.8% são licenciados, 9.5% possuem o mestrado, 2.4% o bacharelato, 5.3% o curso de especialização tecnológica e 1% possui o doutoramento. Dos respondentes que possuem estudos ao nível do secundário ou inferior, verifica-se que 17.5% possui o 12.º ano; 11.7% tem o 9º ano de escolaridade, 5.3% é detentor de um curso profissional ou tecnológico; 5% possui o 6º ano de escolaridade e 4.6% possui o 4º ano de escolaridade. Relativamente à função que os respondentes desempenham nas respetivas organizações, verificamos que 23.4% são técnicos, 16.1% são operários ou operadores, 13.5% pertencem à direção de departamento, 11.9% são administrativos, 9.9% desempenham a função comercial, 8.5% pertencem à chefia de secção, 3.4% são estagiários ou aprendizes e 2.5% desem-penham função de direção de topo e, em igual percentagem, a de encarregado. Quanto aos respondentes que mencionaram desempenhar outra função (12.2%), destacam-se funções como a de planeamento, consultores e designers. A maioria dos respondentes 26.5% exerce a mesma função há mais de 10 anos, seguindo-se 21.5% que exerce a função há mais de um ano e menos do que três anos; 17.5% há mais de três anos e menos do que cinco anos; 15.4% há mais de cinco anos e menos do que 10 anos; 10.6% mais de seis meses até um ano e 8.3% há menos de seis meses. Apenas 1.0% exerce a mesma função há mais de 10 até 15 anos. Quanto ao departamento em que os respondentes se inserem, a grande maioria (30.9%) está inserido no departamento de produção, 13.4% no departamento de investigação e desenvolvimento, 10.2% no departamento comercial, 7.4% no departamento administrativo. Os respondentes que referiram que se encontravam inseridos num outro departamento (18.2%), desempenhavam atividades específicas relacionadas com cada uma das organizações.
Instrumentos
Foram utilizados dois questionários para recolha de dados, o primeiro dos quais é de caracterização geral, no qual constam dados sociodemográficos relati-vos à empresa (idade da empresa, número de colaboradores) e relativamente aos participantes (sexo, idade, habilitações literárias), permitindo-nos efetuar a carac-terização da amostra. O segundo instrumento é o questionário DOCS (Denison Organizational Culture Survey) que é constituído por 60 itens, 12 indicadores e quatro dimensões. A dimensão Envolvimento (itens 1 a 15) é medida através dos indicadores Empowerment (itens 1 a 5), Orientação para a equipa (itens 6 a 10) e
108 Eva Petiz Lousã e A. Duarte Gomes
Capacidade de desenvolvimento (itens 11 a 15). A dimensão Consistência (itens 16 a 30) é medida através dos indicadores Valores nucleares (itens 16 a 20), Acordo (itens 21 a 25) e Coordenação e integração (itens 26 a 30). A dimensão Adaptabilidade (itens 31 a 45) é medida através dos indicadores Criação de mudança (itens 31 a 35), Foco no cliente (itens 36 a 40) e Aprendizagem organizacional (itens 41 a 45). Por sua vez, a dimensão Missão (itens 46 a 60) é medida através dos indicadores Direção estratégica e intenção (itens 46 a 50), Metas e objetivos (itens 51 a 55) e Visão (itens 56 a 60). A forma de resposta adotada considera uma escala de Likert de cinco pontos, variando de 1 (discordo totalmente) a 5 (concordo totalmente). Oito itens (itens 15, 24, 29, 34, 39, 43, 50, 58) encontram-se numa ordem invertida.
Procedimento
Inicialmente solicitámos a Denison e colaboradores autorização para utilização deste instrumento, tendo-nos sido enviada uma versão do instrumento em português do Brasil. Esta versão foi por nós adaptada para português de Portugal e comparada com a versão original em língua inglesa, tendo sido de seguida efetuada uma retroversão para garantir a equivalência de conteúdo e de significado (Brislin, 1980). Após ter sido submetido à apreciação de dois peritos (conhecedores da área da cultura organizacional e do inglês) e de se chegar a uma versão de consenso, foi aplicado a um grupo de 10 participantes portugueses. Através da reflexão falada efetuaram-se alguns ajustes ao nível da linguagem, sem que, no entanto, a compreensibilidade dos itens tenha sido afetada.
Posteriormente, as organizações foram contactadas via correio eletrónico, apre-sentando o estudo e solicitando a colaboração destas. Uma vez obtida a sua aceitação, foram autoadministrados os questionários em cada organização, usando para o efeito meios eletrónicos, sendo disseminados numa amostra de colaboradores pertencentes a diferentes departamentos, níveis hierárquicos e funcionais, representativos da estrutura da organização (cumprindo o critério de que os respondentes deveriam corresponder, pelo menos, a 10% de colaboradores representativos da estrutura de cada organização).
RESULTADOS
Realizou-se uma análise preliminar das respostas aos itens do instrumento, analisaram-se as suas características descritivas e passou-se à análise das propriedades psicométricas deste, nomeadamente a sua fiabilidade. Posteriormente, procurou confirmar-se se a estrutura fatorial obtida apoia a estrutura original.
109
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Adaptação portuguesa do DOCS
Análise das respostas aos itens do DOCS
No que concerne ao estudo dos dados omissos, verificou-se a existência de não respostas em 82 casos, correspondendo a omissos completamente aleatórios, tal como se pode constatar através do teste Little s MCAR, que foi não significativo [c2(3280)=308.728, p≥.05]. Eliminaram-se cinco casos, visto que tinham mais de 10% de itens não respondidos (Bryman & Crammer, 1993). Os restantes 77 foram substituídos através do método de estimação de regressão, retendo no final 900 questionários válidos, relativamente a esta escala de resposta. A distribuição dos itens variou entre um valor mínimo de 1 e um máximo de 5 e verificou-se a exis-tência de variabilidade de resposta e de discriminação dos itens. Como se pode observar na Tabela 1, o valor da média de respostas aos itens, variou entre 2.61 e 4.03 e o desvio padrão entre 0.79 e 1.08. Por sua vez, a análise da sensibilidade dos itens mostrou que estes se situam num intervalo aceitável a uma distribuição aproximadamente normal (|Sk|<3 e |Ku|<8; Kline, 2011). Em nenhum item se veri-ficou uma acentuada polarização das respostas e na generalidade foi utilizada uma grande amplitude de respostas, sendo que todos os itens foram incluídos na análise.
Tabela 1Coeficientes Alfa e Estatística Descritiva do Questionário de Cultura
Dimensão Indicador Item ra Média DP Sk KuEnvolvimento a=.90
Empowerment a=.80
1 .52 3.66 0.87 -0.59 0.112 .61 3.52 0.86 -0.69 0.583 .60 3.55 0.99 -0.44 -0.344 .63 3.52 0.89 -0.48 -0.015 .55 3.27 0.99 -0.43 -0.32
Orientação para a equipa a=.83
6 .61 3.59 0.98 -0.71 0.167 .69 3.73 0.88 -0.61 0.198 .67 3.55 0.96 -0.59 -0.119 .59 3.78 0.85 -0.63 0.39
10 .59 3.48 0.90 -0.56 0.10Capacidade de desenvolvimento a=.68
11 .52 3.47 0.95 -0.61 0.0612 .61 3.45 0.92 -0.53 0.1413 .60 3.39 1.04 -0.45 -0.4114 .65 3.63 0.98 -0.69 0.18*15 -.07 3.31 1.01 -0.19 -0.58
Consistência a=.87
Valores nucleares a=.68
16 .37 3.27 1.01 -0.45 -0.2917 .36 3.45 0.82 -0.36 0.3418 .61 3.54 0.87 -0.61 0.3719 .32 3.82 0.88 -0.68 0.4220 .53 3.79 0.91 -0.78 0.53
110 Eva Petiz Lousã e A. Duarte Gomes
Acordo a=.77
21 .56 3.65 0.85 -0.73 0.7122 .63 3.46 0.92 -0.52 0.1323 .66 3.3 0.90 -0.48 -0.23*24 .24 2.9 0.91 0.08 -0.6125 .48 3.41 0.86 -0.47 0.06
Coordenação e Integração a=.69
26 .31 3.14 0.85 -0.32 0.0627 .62 3.11 0.92 -0.31 -0.1828 .65 3.14 0.91 -0.37 -0.27*29 .16 3.28 1.01 -0.05 -0.6430 .55 3.33 0.82 -0.49 0.08
Adaptabilidade a=.85
Criação de mu-dança a=.69
31 .47 3.15 0.90 -0.19 -0.5532 .45 3.50 0.84 -0.59 0.4133 .58 3.56 0.90 -0.67 0.24*34 .25 2.95 0.99 0.06 -0.7035 .52 3.41 0.79 -0.48 -0.10
Foco no cliente a=.63
36 .51 3.68 0.81 -0.78 1.0037 .41 3.54 0.83 -0.42 0.2638 .41 3.33 0.94 -0.41 -0.29*39 .35 3.74 0.95 -0.55 -0.1040 .27 3.52 0.94 -0.61 0.14
Aprendizagem Organizacional a=.74
41 .59 3.99 0.86 -0.98 1.3142 .50 3.17 1.00 -0.38 -0.29*43 .34 2.82 1.05 0.16 -0.6444 .55 4.03 0.82 -0.93 1.3445 .59 3.53 0.86 -0.49 0.21
Missão a=.93
Direção estratégi-ca e intenção a=.84
46 .72 3.6 0.92 -0.61 0.1747 .48 3.28 0.87 -0.39 0.3748 .73 3.63 0.88 -0.71 0.5549 .79 3.50 0.96 -0.53 0.02*50 .52 3.26 1.08 -0.05 -0.77
Metas e objetivos a=.87
51 .68 3.41 0.83 -0.42 0.2252 .71 3.37 0.91 -0.53 0.0653 .73 3.42 0.95 -0.53 -0.0354 .73 3.44 0.91 -0.54 -0.0955 .62 3.52 0.88 -0.66 0.22
Visão a=.78
56 .67 3.24 0.90 -0.34 -0.1257 .61 3.50 0.88 -0.51 0.35*58 .22 2.61 0.88 0.29 -0.0559 .66 3.38 0.90 -0.44 0.0360 .64 3.36 0.84 -0.40 0.23
N = 900; *item invertido; DP= Desvio Padrão; Sk = Assimetria; Ku = Curtose
111
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Adaptação portuguesa do DOCS
Estudo da consistência interna e homogeneidade dos itens do DOCS
Os coeficientes alfa de Cronbach para os doze indicadores variaram entre .63 e .87. Os indicadores 3 (A informação é amplamente divulgada para que todos possam aceder à informação que precisam quando necessário.), 4 (Todos acredi-tam que podem exercer um impacto positivo.), 6 (Incentiva-se a cooperação entre diferentes áreas da organização.), 7 (Os colaboradores trabalham como membros de uma equipa.) e 8 (O trabalho é realizado em equipa e não com base em hie-rarquia) apresentaram valores de coeficientes alfa de Cronbach que variaram entre .63 e .69, indicativo de nível moderado (Hair et al., 2008). Os restantes apresentaram valores superiores a .70, indicativo de um nível de consistência interna adequado (Nunnally, 1978). As correlações item-total3 foram superiores a .50 para 41 dos 60 itens da escala. Observou-se o valor de alfa de Cronbach dos respetivos indicadores, caso o item fosse excluído, em cada um dos itens que obtiveram valores baixos nas correlações item-total. Constatou-se que o indicador 8 (Foco no cliente) apresenta um valor mais baixo de consistência interna a=.63.
Por sua vez, o item 40 (Incentivamos o contacto direto entre os nossos colabo-radores e os clientes.) apresenta um valor de correlação item-total de .27, contudo a sua exclusão não promove uma subida significativa do valor de alfa anterior-mente obtido. O item 15, que corresponde à afirmação Os problemas geralmente ocorrem por não termos as competências necessárias para fazer o trabalho, mos-trou valor de correlação item-total muito baixo e negativo, -.07. Optou-se pela sua exclusão porque esta promove o alfa de Cronbach do indicador Capacidade de desenvolvimento para o valor de .83 e de .92 para a dimensão Envolvimento. Num outro estudo, Denison et al. (2014) obtiveram um valor baixo de correlação item-total neste item (.22), tendo os autores sugerido que a inclusão deste devesse ser ponderada em estudos posteriores. Optou-se por reter os outros itens, uma vez que o nível de consistência interna dos indicadores é aceitável de .70 (Nunnally, 1978), ou situa-se num valor próximo (.68) e o seu conteúdo é válido e ajusta-se bem ao respetivo indicador.
Após exclusão do item 15, as correlações entre os 12 indicadores variam entre .45 e .79 (média r = .62), indicando relações moderadas e fortes (ver Tabela 2).
3 Cohen e Holliday (1982; citado em Bryman & Cramer, 1993) sugerem para a avaliação dos coeficientes de correlação, valores inferiores a .19 como uma correlação muito baixa e entre .20 e .30 como uma correlação baixa.
112 Eva Petiz Lousã e A. Duarte Gomes
Tabe
la 2
Mat
riz d
e Cor
rela
ções
par
a os
12
Indi
cado
res d
o Q
uesti
onár
io d
e Cul
tura
Dim
ensã
oIn
dica
dor
Méd
iaD
P1
23
45
67
89
1011
12
Envo
lvim
ento
(.92
)1.
Em
pow
erm
ent
3.50
0.68
(.80)
2. O
rient
ação
par
a a
equi
pa3.
630.
71.7
9(.8
3)
3. C
apac
idad
e de
des
en-
volv
imen
to3.
940.
79.7
3.7
2(.8
3)
Con
sistê
ncia
(.87
)4.
Val
ores
nuc
lear
es3.
580.
60.6
4.6
3.6
5(.6
8)5.
Aco
rdo
3.35
0.62
.71
.71
.69
.65
(.77)
6. C
oord
enaç
ão e
Inte
-gr
ação
3.20
0.60
.67
.65
.60
.57
.67
.(69)
Ada
ptab
ilida
de (.
85)
7. C
riaçã
o de
mud
ança
3.32
0.59
.66
.64
.65
.57
.66
.63
(.69)
8. F
oco
no cl
ient
e3.
560.
57.4
9.4
5.4
5.4
6.4
6.4
8.4
9(.6
3)9.
Apr
endi
zage
m O
r-ga
niza
cion
al3.
510.
65.7
0.6
5.6
6.5
9.6
7.6
4.6
9.5
6(.7
4)
Miss
ão (.
93)
10. D
ireçã
o es
trat
égic
a e
inte
nção
3.45
0.73
.63
.59
.62
.64
.61
.58
.62
.52
.68
(.84)
11. M
etas
e o
bjet
ivos
3.43
0.72
.69
.65
.65
.64
.66
.65
.62
.57
.70
.74
(.87)
12. V
isão
3.22
0.64
.67
.63
.61
.59
.64
.65
.64
.53
.67
.77
.79
(.78)
Not
a. N
=900
, p<.
001.
Os c
oefic
ient
es a
lfa sã
o ap
rese
ntad
os n
a di
agon
al e
m p
arên
tesis
. O It
em 1
5 fo
i exc
luíd
o da
aná
lise.
113
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Adaptação portuguesa do DOCS
Análise fatorial confirmatória do DOCS
Procedemos a uma análise fatorial confirmatória usando os 59 itens do ques-tionário da cultura como variáveis observadas, os 12 indicadores como fatores de primeira ordem e as quatro dimensões como fatores de segunda ordem. A análise preliminar para os 900 sujeitos mostrou que o índice de C. R. (Mardia’s normali-zed estimate of multivariate kurtosis) foi de 142, valor superior a cinco, apontado como ponto de corte por Bentler (2005; citado em Byrne, 2010). A análise de outliers multivariados foi efetuada com recurso à Distância Mahalanobis, tendo sido observados 130 casos outliers multivariados com os valores superiores a 90 (Marôco, 2010), os quais foram eliminados. Procedemos, seguidamente, a uma segunda análise confirmatória aos 770 sujeitos, encontrando-se os resultados na Tabela 3. Em termos da análise global do modelo, o teste do Qui-Quadrado revelou um valor estatisticamente significativo [c2(1634) = 5257.89; p < .001], o rácio de χ2/g.l. é de 3.22 e um índice de CFI de .85 e o índice de RMSEA o valor de .054, com um intervalo de confiança que varia entre .052 e .055 e cujo teste de aproxi-mação é significativo (p < .001). Este modelo hipotético, ainda que tendo alguns valores que se aproximam de um ajustamento aceitável, não se revelou como uma solução satisfatória. Com efeito, se analisarmos os valores de GFI e de AGFI veri-ficámos que estes estão abaixo do mínimo aceitável (Byrne, 2010), tendo valores respetivamente de .78 e .76.
Tabela 3Índices de Ajustamento do Modelo (n=770)
Modelo Qui‑quadrado
gl p RMSEA GFI AGFI CFI TLI
Modelo inicial
5257.893gl=49022gl=3268
1634c2/
gl=3.22
<.001 .054IC90=.052-
.055pclose=.002
.778 .760 .851 .841
Modelo (revisão1)
3830.713gl=26142gl=3921
1307c2/
gl=2.93
<.001 .050IC90=.048-
.052pclose=.458
.823 .806 .890 .884
Nota. RMSEA – Root Mean Square Error of Approximation; GFI – Goodness-of-Fit Index; CFI – Comparative Fit Index; AGFI –Adjusted Goodness of Fit; TLI – Tucker-Lewis index.
A análise aos itens 24 (Muitas vezes temos dificuldades para chegar a um acordo em relação a questões chave.), 29 (Trabalhar com alguém de outra área desta orga-nização é como trabalhar com alguém de outra organização.), 34 (As tentativas de criar mudanças são recebidas geralmente com resistência.), 39 (Os interesses do
114 Eva Petiz Lousã e A. Duarte Gomes
cliente são muitas vezes ignorados nas nossas decisões.), 43 (Muitas coisas caem no esquecimento.), 58 (O pensamento de curto prazo muitas vezes obscurece a nossa visão de longo prazo.), mostrou saturações fatoriais estandardizadas inferiores a .45 e R2 inferior <.30. Por sua vez, a análise dos índices de modificação do modelo mostrou um índice mais expressivo para a covariação entre os erros de medida e39 e e50, e29 e e39 e e34 e e58. Tomando em consideração estes dois resultados, decidimos excluir os itens 24, 29, 34, 39, 43, 58, por apresentarem índices de baixa saturação e erros de medida correlacionados.
Conduzimos uma nova reespecificação do modelo (revisão 1) e a análise dos índices aponta para um ajustamento aceitável: o teste do Qui-Quadrado revelou um valor estatisticamente significativo [c2(169) = 3830.71; p < .001], o rácio de χ2/g.l. é de 2.93 e um índice de CFI de .89 e o índice de RMSEA o valor de .05, com um intervalo de confiança que varia entre .048 e .052 e cujo teste de aproximação é não significativo (p = .458). Por sua vez, os valores dos índices de GFI e de AGFI encontram-se dentro do limites de ajustamento aceitável, tendo valores respeti-vamente de .82 e .81 (Tabela 3). Verificámos que outras correlações de erro não traziam melhorias notórias ao ajustamento, além de que o modelo poderia perder parcimónia. Assim sendo, retivemos este último modelo como estrutura fatorial da cultura a utilizar nesta investigação. Fazendo uma análise ao modelo inicial e ao revisto, constatamos um incremento em todos os índices, sendo as diferenças entre os qui-quadrados das diferentes revisões estatisticamente significativas [Modelo (inicial) e revisão 1: Dc2(327) = 1427.18; p < .001].
As Tabelas 4 e 5 apresentam os pesos fatoriais estandardizados de cada um dos 53 itens nos seus respetivos fatores.
Tabela 4Pesos Fatoriais Estandardizados dos Itens no Fator de 1ª Ordem e Respetivo Coeficiente de Deter-minação (R2)
Item 1. Empowerment2. Orien‑
tação para a equipa
3. Capacidade de desenvolvi‑
mento
4. Valores nucleares 5. Acordo
6. Coorde‑nação e
IntegraçãoR2
CO1 .59 .35CO2 .70 .49CO3 .73 .54CO4 .70 .49CO5 .68 .46CO6 .73 .53CO7 .70 .49CO8 .69 .48CO9 .68 .47CO10 .77 .59CO11 .64 .41
115
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Adaptação portuguesa do DOCS
CO12 .76 .57CO13 .76 .58CO14 .79 .62CO16 .65 .40CO17 .48 .23CO18 .71 .53CO19 .39 .15CO20 .63 .36CO21 .72 .53CO22 .79 .62CO23 .72 .51CO25 .61 .38CO26 .43 .18CO27 .70 .49CO28 .69 .48CO30 .79 .63
N=770
Tabela 5Pesos Fatoriais Estandardizados dos Itens no Fator de 1ª Ordem e Respetivo Coeficiente de Determinação (R2)
Item 7. Criação de mudança
8. Foco no cliente
9. Aprendizagem Organizacional
10. Direção estra‑tégica e intenção
11. Metas e objetivos
12.Visão R2
CO31 .60 .36CO32 .60 .35CO33 .78 .60CO35 .64 .41CO36 .56 .31CO37 .38 .14CO38 .68 .46CO40 .49 .24CO41 .70 .48CO42 .61 .38CO44 .68 .46CO45 .74 .56CO46 .80 .65CO47 .59 .35CO48 .82 .67CO49 .88 .77CO50 .63 .39CO51 .75 .56CO52 .73 .53CO53 .76 .58CO54 .78 .61CO55 .77 .59CO56 .79 .62
116 Eva Petiz Lousã e A. Duarte Gomes
CO57 .72 .51CO59 .80 .65CO60 .73 .53
N=770
Na generalidade, os pesos fatoriais estandardizados dos itens variam entre .60 e .88, indicando uma variância partilhada considerável dos itens que medem o mesmo conceito subjacente. Alguns dos itens (item 17 Há um estilo característico de gestão e um conjunto distinto de práticas de gestão; 19 Ignorar os valores fundamentais trar--lhe-á problemas.; 26 A nossa maneira de fazer negócios é muito uniforme e previsível.; 37 As nossas decisões são influenciadas diretamente pelo ponto de vista do cliente.; 40 Incentivamos o contacto direto entre os nossos colaboradores e os clientes.) têm valores de saturação fatorial inferiores a .50 e de R2 inferior a .25. Embora estejam abaixo da referência geralmente adotada, optámos por mantê-los na estrutura e não avançar com mais nenhuma reespecificação do modelo. Na base desta opção, pon-derámos razões de ordem estatística e qualitativa, tais como: os valores dos índices apontam para um ajustamento aceitável (Byrne, 2010); os pesos fatoriais dos itens encontram-se acima do .35 e o R2 acima de .15; a validade de conteúdo destes itens ajusta-se ao fator na estrutura considerada na versão de origem. Os pesos fatoriais estandardizados dos indicadores no fator de 2ª ordem e o seu R2, mantiveram-se, respetivamente, acima de .84 e de .70 (ver Tabela 6). As correlações entre os fatores de segunda ordem do modelo variam entre .85 e .95, indicando relações fortes.
Tabela 6Pesos Fatoriais Estandardizados dos Indicadores no Fator de 2ª Ordem e Respetivo Coeficiente de Determinação (R2)
Indicador Fator R2
Envolvimento Consistência Adaptabilidade Missão1. Empowerment .94 .962. Orientação para a equipa .96 .913. Capacidade de desenvolvimento .98 .884. Valores nucleares .95 .905. Acordo .96 .926. Coordenação e Integração .91 .837. Criação de mudança .94 .888. Foco no cliente .84 .709. Aprendizagem Organizacional .95 .9110. Direção estratégica e intenção .96 .8211. Metas e objetivos .90 .9212. Visão .96 .93
N=770. Todas as correlações são significativas ao nível de p < .01.
117
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Adaptação portuguesa do DOCS
Por último, comparando os resultados da consistência interna das dimensões e indicadores obtidos neste estudo com os da versão original (Denison et al., 2014), não encontramos grandes discrepâncias (ver Tabela 7).
Tabela 7Comparação entre a Fiabilidade da Medida do Questionário Original (Denison et al., 2014) e a Versão Adaptada para o Contexto Português no Presente Estudo
Variáveis aAdaptada
aOriginal
Envolvimentoa .92 .89Empowermentb .80 .76Orientação para a equipab .83 .82Capacidade de desenvolvimentob .83 .70
Consistênciaa .88 .88Valores nuclearesb .68 .71Acordob .79 .74Coordenação e Integraçãob .76 .78
Adaptabilidadea .85 .87Criação de mudançab .73 .76Foco no clienteb .63 .74Aprendizagem organizacionalb .77 .74
Missãoa .94 .92Direção estratégica e intençãob .84 .86Metas e objetivosb .87 .80Visãob .84 .79
Nota: a) dimensão; b) indicador
DISCUSSÃO
Poder dispor de um instrumento válido que permita medir e avaliar a cultura organizacional é relevante para a investigação e para a intervenção. O presente estudo incidindo sobre a versão portuguesa do questionário (DOCS) elaborado por Denison et al. (2014) representa uma contribuição nesse sentido. O seu principal objetivo foi adaptar e validar o referido questionário de modo a poder utilizá-lo em investigações ou intervenções levadas a cabo em empresas portuguesas. O reconhecimento de uma pluralidade de métodos e de orientações teóricas em torno da cultura organizacional tem feito da sua avaliação um tema de investigação (Ashkanasy, Broadfoot, & Falkus, 2000; Gomes, 2004; Wilderom, Glunk, & Maslowsky, 2000; Zammuto & Krakower, 1989). Recentes revisões da literatura mostraram progressos no desenvolvimento e
118 Eva Petiz Lousã e A. Duarte Gomes
validação de instrumentos que permitem diagnosticar a cultura organizacional, no qual se inclui o instrumento DOCS (Denison et al., 2014). O recurso a inventários de cultura ou a questionários tem como objetivo principal descrever a cultura ou traçar perfis de cultura, bem como avaliar o seu impacto ou eficácia. A sua utilização visa contribuir para uma resposta a questões como: em que medida determinadas orientações culturais promovem ou facilitam certos resultados?
Os resultados obtidos indicam que o instrumento é válido e que as propriedades psicométricas da versão portuguesa são semelhantes às do questionário homólogo, na sua versão original. A análise fatorial confirmatória e a consistência interna da escala obtiveram resultados satisfatórios. São contudo de salientar alguns aspetos que poderão ser melhorados em adaptações posteriores desta escala.
É de realçar que os resultados obtidos na análise dos 60 itens deste instrumento demonstraram, na generalidade, uma boa consistência interna, tendo-se optado pela exclusão do item 15, devido à baixa correlação item-total. Esta opção foi sustentada pela sugestão dos autores da versão original, que também haviam obtido um valor baixo em estudo anteriormente realizado (Denison et al., 2014). Neste sentido, uma versão inicial da escala ficou composta por 59 itens, sem contudo alterar a configu-ração dos 12 indicadores da versão original. No presente estudo de validação foram eliminados mais seis itens para se encontrar um ajustamento do modelo aceitável, ficando retidos apenas 53 itens. Após esta supressão, continuou a confirmar-se a estrutura hierárquica de 12 fatores de primeira ordem e de quatro fatores de segunda ordem, devendo ser assinalado que sete dos indicadores ficaram apenas com quatro itens (Capacidade de Desenvolvimento; Acordo; Coordenação e Integração; Criação de Mudança; Foco no Cliente; Aprendizagem Organizacional e Visão). Analisando globalmente os resultados obtidos, pode sustentar-se que estes não apresentam discrepâncias estruturais com o modelo teórico em estudo (Denison et al., 2014). Em suma, consideramos que os resultados obtidos neste estudo relativos à validade da versão portuguesa do instrumento DOCS asseguram o seu bom desempenho psicométrico, tornando-se uma medida multidimensional adequada para avaliação das dimensões de cultura organizacional. A sua aplicação poderá abarcar diferentes contextos, quer de investigação quer de diagnóstico organizacional.
O estudo aqui apresentado não está isento de limitações. Uma dessas limita-ções decorre da amostragem por conveniência que foi utilizada na investigação, bem como do seu desenho transversal. Estas são limitações a ter em conta numa eventual generalização dos resultados. A necessidade de estudos longitudinais, o aumento do tamanho da amostra, assim como a necessidade de aprofundar a validação intercultural, devem ser consideradas em investigações futuras. Outra questão a aprofundar e a complementar o presente estudo será analisar a validade convergente e discriminante deste instrumento. De igual modo, consideramos que
119
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Adaptação portuguesa do DOCS
no futuro merecerá ser objeto de desenvolvimento a seguinte questão que tem a ver com o modelo teórico subjacente a este questionário, mas que tem também implicações práticas: as quatro dimensões da cultura organizacional aqui destacadas são igualmente importantes em quaisquer contextos ou negócios ou estarão mais associadas a determinados resultados e a certos ciclos de vida das organizações? Em que medida determinadas orientações culturais promovem ou facilitam certos resultados, como a inovação ou aprendizagem organizacional (Rebelo & Gomes, 2011)? Atender, em simultâneo, às quatro dimensões contempladas pelo modelo poderá, em certas circunstâncias, revelar-se pouco adequado ou vantajoso, ou até inviável. E não sendo possível, quais privilegiar e com que efeitos?
Os autores do modelo apresentado admitem f lutuações ou tensões nas relações entre as quatro dimensões. A importância relativa atribuída a cada uma delas numa dada organização poderá estar associada a diferentes resultados considerados dese-jáveis – aspeto que importa aprofundar e desenvolver. O avanço do conhecimento nesse sentido trará clarificação conceptual, assim como terá implicações práticas e facilitará a intervenção nas organizações.
REFERÊNCIAS
Alvesson, M. (2002). Understanding organizational culture. London: Sage Publications. Ashkanasy, N. M., Broadfoot, L., & Falkus, S. (2000). Questionnaire measures of organizational cul-
ture. In N. M. Ashkanasy, C. P. Wilderom, & M. Peterson (Eds.), Handbook of organizational culture and climate (pp. 131-146). Thousand Oaks, CA: Sage.
Ashkanasy, N., Wilderom, C., & Peterson, M. (2011). Introduction. In N. Ashkanasy, C. Wilderom, & M. Peterson (Eds.), The handbook of organizational culture and climate (2nd ed., pp. 3-10). Thousand Oaks, CA: Sage.
Bentler, P. M. (2005). EQS 6 Structural equations program manual. Encino, CA: Multivariate Software.Brislin, R. W. (1980). Translation and content analysis of oral and written materials. In H. C. Triandis
& W. W. Lambert (Eds.), Handbook of cross-cultural psychology (Vol. 2, pp. 349-444). Boston, MA: Allyn & Bacon.
Bryman, A., & Cramer, D. (1993). Análise de dados em ciências sociais. Introdução às técnicas usando o SPSS (2nd ed.). Oeiras: Celta Editora.
Byrne, B. M. (2010). Structural equation modeling with AMOS: Basic concepts, applications and pro-gramming (2nd ed.). London: Lawrence Erlbaum.
Cohen, L., & Holliday, M. (1982). Statistics for social scientists. London: Harper and Row.Cooke, R. A., & Szumal, J. L. (2000). Using the organizational culture inventory to understand the
operating cultures of organizations. In N. M. Ashkanasy, C. P. Wilderom, & M. F. Peterson (Eds.), Handbook of organizational culture and climate. Thousand Oaks: Sage Publications.
De Witte, K., & Van Muijen, J. J. (1999). Organizational culture. European Journal of Work and Orga-nizational Psychology, 8(4), 497-502. doi: 10.1080/135943299398122
120 Eva Petiz Lousã e A. Duarte Gomes
Deal, T., Kennedy, A. (1982). Corporate culture: The rites and rituals of corporate life. Massachusetts, Addison-Wesley.
Denison, D. (1984). Bringing corporate culture to the bottom line. Organizational Dynamics, 13(2), 4-22.
Denison, D. (1990). Corporate culture and organizational effectiveness. New York: John Wiley & Sons.Denison, D. (1996). What is the difference between organizational culture and organizational climate?
A native’s point of view on a decade of paradigm wars. Academy of Management Review, 21(3), 619-654. Consultado em https://www.jstor.org/stable/pdf/258997.pdf
Denison, D. (2001). Organizational culture: Can it be a key lever for driving organizational change? In C. Cooper, S. Cartwright, & P. Earley (Eds.), The international handbook of organizational culture and climate (pp. 347-372). Chichester: John Wiley & Sons.
Denison, D., Haaland, S., & Goelzer, P. (2003). Corporate culture and organizational effectiveness: Is there a similar pattern around the world? Advances in Global Leadership, 3, 205-227.
Denison, D., & Mishra, A. K. (1989). Organizational culture and organizational effectiveness: A theory and some preliminary evidence. Academy of Management Proceedings, 1, 168-172. doi: 10.5465/AMBPP.1989.4980714
Denison, D., & Mishra, A. K. (1995). Toward a theory of organizational culture and effectiveness. Organization Science, 6(2), 204-223. doi: 10.1287/orsc.6.2.204
Denison, D., & Neale, W. (1996). Denison organizational culture survey. Ann Arbor, MI: Aviat.Denison, D., Nieminen, L. & Kotrba, L. (2014). Diagnosing organizational cultures: A conceptual and
empirical review of culture effectiveness surveys. European Journal of Work and Organizational Psychology, 23(1), 145-161. doi: 10.1080/1359432X.2012.713173
Fey, C., & Denison, D. R. (2003). Organizational culture and effectiveness: Can an American theory be applied in Russia? Organization Science, 14(6), 686-706.
Furnham, A. (1997). The Psychology of behavior at work. Hove: Psychology Press.Gomes, A. D. (2000). Cultura organizacional: Comunicação e identidade. Coimbra: Quarteto Editora.Gomes, A. D. (2004). Individus, cultures et organisations. In C. Bonardi, N. Gregori, J-Y. Menard, &
N. Roussiau (Eds.), Psychologie sociale appliquée: Emploi, travail et ressources humaines (pp. 289-309). Paris : Éditions IN PRESS.
Hair, J. F., Anderson, R. E., Tatham, R. L., & Black, C. W. (2008). Multivariate data analysis (7th ed.). Pearson Prentice-Hall.
Hartnell, C. A., Ou, A. Y., & Kinicki, A. (2011). Organizational culture and organizational effectiveness: A meta-analytic investigation of the competing values framework’s theoretical suppositions. Journal of Applied Psychology, 96(4), 677-694. doi: 10.1037/a0021987
Jung, T. S., Scott, T., Davies, H. T., Bower, P., Whalley, D., McNally, R., & Mannion, R. (2009). Instru-ments for exploring organizational culture: A review of the literature. Public Administration Review, 69(6), 1087-1096.
Kline, R. B. (2011). Principles and practice of structural equation modeling (3rd ed.). New York: Guilford Press.
Lousã, E. P. (2013). Liderança empreendedora e cultura de inovação em organizações de base tecnoló-gica e análise comparativa entre setores de atividade. (Tese de doutoramento não publicada). Universidade de Coimbra, Coimbra.
Marôco, J. (2010). Análise de equações estruturais: Fundamentos teóricos, software e aplicações. Pero Pinheiro: ReportNumber.
Nunnally, J. C. (1978). Psychometric theory. New York: McGraw-Hill.
121
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Adaptação portuguesa do DOCS
Rebelo, T., & Gomes, A. D (2011). The OLC questionnaire: A measure to assess an organization’s cultural orientation towards learning. In A. Mesquita (Ed.), Technology for creativity and innovation: Tools, techniques and applications. (pp. 216-236). Hershey, New York: IGI Global.
Rousseau, D. M. (1990). Assessing organizational culture: The case for multiple methods. In Schneider, B. (Eds.), Organizational climate and culture (pp. 153-192). San Francisco, Jossey-Bass.
Sackmann, S. A. (2011). Culture and performance. In N. Ashkanasy, C. Wilderom, & M. Peterson (Eds.), The handbook of organizational culture and climate (2nd ed., pp. 188-224).Thousand Oaks, CA: Sage.
Schein, E. H. (1990). Organizational culture. American Psychologist, 45(2), 109-119.Schein, E. H. (1992). Organizational culture and leadership. San Francisco, CA: Jossey-Bass.Trice, H., & Beyer, J. (1993). The cultures of work organizations. New Jersey: Prentice Hall.Wilderom, C. P., Glunk, U., & Maslowski, R. (2000). Organizational culture as a predictor of organi-
zational performance. In N. Ashkanasy, C. Wilderom, & M. Peterson (Eds.), The handbook of organizational culture and climate (2nd ed., pp. 193-209). Thousand Oaks, CA: Sage.
Zammuto, R. F., Krakower, J. Y. (1989). Quantitative and qualitative studies of organizational culture. In R. Woodman & W. A. Pasmore (Eds.), Research in organizational change and development (Vol. 5, pp. 83-114), Greenwich, Conn, JAI Press.
123
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Integración laboral de personas con discapacidad
More than words: Promoviendo la integración laboral de personas con discapacidade • pág. 123-136
DOI: https://doi.org/10.14195/1647-8606_59_2_7
More than words: Promoviendo la integración laboral de personas con
discapacidad
Marina Romeo1 y Montserrat Yepes-Baldó2
More than words: Promoting the labour integration of people with disabilities
Abstract
The main objective of this research is to analyse the degree of implementation of policies and strategies in various companies and special employment centres (CEE) in Spain. In both types of organizations, the most developed policies are those oriented towards external stakeholders. The management systems of selection and adaptation to the environment are those with the highest levels of deployment, while training and professional development are the least deployed. In companies, people with disabilities are perceived as the most involved group in terms of labour integration, while in the CEE the management team and the members of support units are perceived as more involved. This research helps HR managers to create the necessary conditions for all individuals to develop their competences, knowledge, experience and motivations in an employment context.
Keywords: corporate social responsibility policies; labour integration; disability; human resources management systems
1 Universidad de Barcelona. Email: [email protected]
2 Universidad de Barcelona. Email: [email protected] por convite recebido a 17-06-2016 e aprovado a 18-06-2016.
124 Marina Romeo y Montserrat Yepes-Baldó
Resumen
El objetivo de esta investigación es analizar el grado de despliegue de las políticas y estrategias de integración en diversas empresas ordinarias y centros especiales de empleo (CEE) en España. En ambos tipos de organizaciones, las políticas más desarrolladas son las que se orientan hacia los stakeholders externos. Los sistemas de gestión con mayor nivel de despliegue son los sistemas de selección y adaptación al entorno, mientras que los de formación y desarrollo profesional son los menos desplegados. La empresa ordinaria es la que percibe al colectivo de personas con discapacidad como el más implicado en cuanto a la integración laboral, mientras que en los CEE son el equipo directivo y los miembros de las unidades de apoyo. El artículo ayuda a los responsables de Recursos Humanos a crear las condiciones necesarias para que todos los individuos puedan desplegar sus habilidades, conocimientos, experiencias y motivaciones en el contexto laboral. Para ello es necesario desplegar políticas y sistemas de gestión que promuevan el desarrollo de sus capacidades, dotándoles de las competencias y de los recursos necesarios para que puedan establecer planes ambiciosos pero realistas, que persigan el alcance de niveles de excelencia.
Palabras clave: políticas de responsabilidad social corporativa; integración laboral; discapacidad; sistemas de gestión de los recursos humanos
More than words: Promovendo a integração laboral de pessoas com incapacidade
Resumo
Esta investigação tem como objetivo principal analisar o grau de implementação de políticas e estratégias de integração em várias empresas e centros de emprego especial (CEE) em Espanha. Em ambos os tipos de organizações, as políticas mais desenvolvidas são as orientadas para os stakeholders externos. Os sistemas de gestão mais utilizados são os de seleção e adaptação ao ambiente, enquanto a formação e o desenvolvimento profissional são aqueles a que menos se recorre. Nas empresas, as pessoas com incapacidades são percebidas como o grupo mais envolvido ao nível da integração laboral, enquanto nos CEE a equipa de gestão e os membros das unidades de apoio são percebidos como sendo os mais envolvidos. Este estudo ajuda os responsáveis de RH a criar as condições necessárias para que todos os indivíduos possam desenvolver as suas competências, conhecimentos, experiência e motivações em contexto laboral.
Palavras‑chave: políticas de responsabilidade social corporativa; integração laboral; incapacidade; sistemas de gestão de recursos humanos
125
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Integración laboral de personas con discapacidad
INTRODUCCIÓN
España es uno de los países de la UE con las tasas más altas de desempleo entre las personas con discapacidad (28.2%) (Eurostat, 2011) pese a la legislación existente desplegada para facilitar su inclusión.
En este sentido, la Constitución Española (1978) expresa la obligación pública de velar por los intereses de las personas con discapacidad. A partir del artículo 49, en el que reconoce la dignidad propia de las personas con discapacidad, se desarrolla la Ley 13/1982, de 7 de abril, de Integración Social de los Minusválidos (LISMI) constituyéndose ésta como el marco normativo específico en materia de discapacidad. En concreto, el artículo 38 de la LISMI hace referencia a la obligación de las empresas públicas o privadas de reservar como mínimo una cuota del 2% para personas con discapacidad sobre el total de la plantilla. El incumplimiento por parte del empresario de la LISMI está tipificado como infracción grave, aunque en virtud de la Ley 50/1998, de 30 de diciembre, de medidas Fiscales, Administrativas y del Orden Social, en su Disposición Adicional 11ª, de forma excepcional las empresas podrán quedar exentas de esta obligación, de forma parcial o total cuando las ofertas de empleo vacantes no puedan ser cubiertas por personas con discapacidad o bien cuando se acreditan razones específicas que dificultan la incorporación de personas discapacitadas en su plantilla.
En 2013, las tres leyes genéricas de discapacidad vigentes en España hasta ese momento (Ley 13/1982, de 7 de abril, de Integración Social del Minusválido, LISMI, Ley 51/2003, de 2 de diciembre, de igualdad de oportunidades, no discriminación y accesibilidad universal de las personas con discapacidad, LIONDAU, y Ley 49/2007, de 26 de diciembre, por la que se establece el régimen de infracciones y sanciones en materia de igualdad de oportunidades, no discriminación y accesi-bilidad universal de las personas con discapacidad, LISOS) fueron refundidas en el Real Decreto Legislativo 1/2013, de 29 de noviembre, por el que se aprueba el Texto Refundido de la Ley General de derechos de las personas con discapacidad y de su inclusión social.
Hay que apuntar que la nueva ley, en cuanto a su contenido, no ha cambiado sustancialmente en relación a sus predecesoras. En este sentido, el régimen sancio-nador de esta proviene de la antigua LISOS del año 2000 (Real Decreto Legislativo 5/2000, de 4 de agosto), las cuotas de reserva del Real Decreto 27/2000, de 14 de enero, y las medidas alternativas al cumplimiento de las cuotas de reserva esta-blecidas son las aprobadas en el Real Decreto 364/2005, de 8 de abril. No obstante, y como novedad, el texto refundido actual tiene como referente la Convención Internacional sobre los derechos de las personas con discapacidad, aprobada el 13 de diciembre de 2006 por la Asamblea General de las Naciones Unidas (Naciones
126 Marina Romeo y Montserrat Yepes-Baldó
Unidas, 2006) y que entró en vigor en España el 3 de mayo de 2008. Ello supone un cambio conceptual, más que estrictamente legal, dado que entiende a las personas con discapacidad como ciudadanos libres titulares de derechos que vendrán garan-tizados por los poderes públicos. Se supera de esta manera el concepto asistencial en que se asentaba la legislación anterior
A la regulación anterior cabe añadir la Ley 13/1982, de 7 de abril, que introdujo por primera vez los Centros Especiales de Empleo (CEE). Ello supuso un impor-tante cambio en el proceso de integración laboral y en la lucha por la igualdad de derechos de las personas con discapacidad. A partir de ese momento el Estado se comprometía a prestar los recursos necesarios con el objeto de dar cumplimiento a uno de los principios rectores de la política social y económica que establece la Constitución Española en el artículo 49. Según este, “los poderes públicos realizarán una política de previsión, tratamiento, rehabilitación e integración de los disminui-dos físicos, sensoriales y psíquicos, a los que prestarán la atención especializada que requieran y los ampararán especialmente para el disfrute de los derechos que este Título otorga a todos los ciudadanos” (Constitución Española 1978, art. 49).
Los CEE son definidos como organizaciones que deben tener como objetivo social la inclusión de las personas con discapacidad (Real Decreto 2273/1985, art. 42). Según el Real Decreto estos pueden ser creados directamente por las propias Administraciones Públicas, o bien por personas físicas o jurídicas que cumplan los requisitos civiles correspondientes, pudiendo ser de carácter público o privado, y con o sin ánimo de lucro según “repercutan en su totalidad en la propia insti-tución o se aproveche parte de ellos en otra finalidad distinta que haya de cubrir la Entidad titular del mismo” (RD 2273/1985, art. 5). Independientemente de su origen, cabe señalar que su gestión está sujeta a las mismas normas que afectan a cualquier empresa ordinaria.
En la actual normativa aplicable, el Real Decreto Legislativo 1/2013, el artículo 43 exige a los CEE “realizar una actividad productiva de bienes o de servicios, participando regularmente en las operaciones del mercado”, lo que supone que dispongan de “los instrumentos necesarios para poder tener estructuras, sistemas, procesos y formas de organización que garanticen su competitividad, no sólo para mantenerse de forma regular en el mercado, sino para incrementar su posición en él” (Baker & McKenzie, 2014, p. 24).
Muestra del importante papel que tienen los Centros Especiales de Empleo (CEE) en España es que del total de contratos realizados en 2013 a personas con discapa-cidad, 49.608, el 71% de estos se efectuaron en dichos centros (ODISMET, 2014).
El papel predominante de los CEE se ha visto claramente reforzado a lo largo de los años de crisis, apreciándose un cambio en la dinámica de contratación. En este sentido, en el año 2006 se observa cierta paridad entre la contratación desarrollada
127
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Integración laboral de personas con discapacidad
por parte de la empresa ordinaria (52.5%) con respecto a la realizada por los CEE (47.5%). Sin embargo, a medida que la tasa de paro aumentaba, las contrataciones de personas con discapacidad han ido disminuyendo paulatinamente en la empresa ordinaria y estas se han visto cubiertas por el paraguas del empleo protegido. Tal y como se observa a partir de los datos del Servicio Público de Empleo Estatal en España (SEPE), en 2013 el número de contrataciones en la empresa ordinaria representaba el 28.8% del total de contrataciones de personas con discapacidad mientras en el de CEE suponía un 71.2%. Además, otra de las consecuencias es el cambio que se ha producido en el tipo de contrato, pasando de un 36.8% de con-tratos indefinidos en 2006 a un 16.7% de 2013.
Paralelamente, el número de CEE ha venido creciendo de manera continuada y sostenida (especialmente a partir del año 2001) en el periodo 1991-2011. En este periodo se pasa de 7.793 trabajadores en el año 1991 a 69.691 en el año 2009, y de 289 CEE en el año 1991 a 1.900 en 2009. En 2010 se produjo un ligero descenso del número de CEE y de empleados insertados laboralmente en estos, pasando a tener 63.179 empleados, lo que supone una pérdida de 6.512 puestos de trabajo en un año (9.34%), y 1.871 CEE, desapareciendo un total de 29 centros (-1.53%). En el año 2011 se observa una recuperación, aumentando el número CEE en un 19% y el número de empleados en un 13.67% en relación al año anterior.
En este contexto es del todo necesario el desarrollo de la presente investigación, cuyo objetivo es analizar y diagnosticar el grado de despliegue de las políticas de integración en diversas organizaciones españolas. En concreto, se compara la situa-ción en los Centros Especiales de Empleo (CEE) con organizaciones de más de 50 empleados, las cuales tienen la obligatoriedad legal de incorporar a un porcentaje de personas con discapacidad no inferior al 2%.
Para ello partimos del modelo clasificatorio (Modelo DIL-D©) y del instrumento diagnóstico (RSC-D) (Asiento registral: 02/2015/4008), dado que permiten evaluar y diagnosticar el grado de desarrollo de las políticas y estrategias de integración laboral de personas con discapacidad en diferentes contextos empresariales (Romeo, Yepes-Baldó, Pérez Conesa, Pascual Haba, 2015).
El modelo clasificatorio DIL-D© se estructura en cuatro grandes dimensiones (Romeo & Yepes-Baldó, 2016):
- Políticas: Entendidas como las directrices, reglas y procedimientos establecidos con el propósito de apoyar los esfuerzos para lograr los objetivos planificados en materia de integración laboral de personas con discapacidad (Fred, 2003).
- Sistemas de gestión: Corresponde a la disponibilidad y utilización efectiva o no de las políticas de integración laboral impulsadas por la organización a través de sus sistemas de selección e incorporación, formación, desarrollo
128 Marina Romeo y Montserrat Yepes-Baldó
profesional, prevención de riesgos, adaptación del entorno de trabajo y comunicación (Quijano, Yepes-Baldó, & Navarro, 2006).
- Facilitadores: Incluye el conjunto de aspectos organizacionales que permiten y fortalecen el desarrollo de las políticas de discapacidad e integración laboral (Carlier, Llorente, & Grau, 2012). Dentro de estos tienen un papel especial los líderes organizacionales, tanto a la hora de desarrollar políticas inte-gradoras como facilitando la identificación, el compromiso, la satisfacción laboral y la efectividad de los empleados (Quijano, Navarro, Yepes-Baldó, Berger, & Romeo, 2008; Veríssimo & Lacerda, 2015).
- Cultura: conjunto de valores, creencias, estilos de trabajo y relaciones que distinguen a una organización de otra (Harrison, 1972).
De estas cuatro dimensiones, las políticas y la cultura configuran una dimensión estratégica de la intervención, es decir, aquellos aspectos vinculados al “hacia dónde va la organización”. En cambio, los sistemas de gestión y los facilitadores atienden a la vertiente más operativa, esto es, a los elementos que “debe poner en marcha la organización” para alcanzar los objetivos previamente establecidos.
Ambos aspectos, estratégicos y operativos deben ser tenidos en cuenta a la hora de analizar el grado de despliegue de las políticas de integración laboral de perso-nas con discapacidad, de ahí que sean consideradas en el instrumento diagnóstico (RSC-D) (Romeo & Yepes-Baldó, 2016; Romeo et al., 2015).
MÉTODO
La presente investigación tiene un diseño cualitativo seccional. Basándonos en el instrumento diagnóstico RSC-D (Romeo & Yepes-Baldó, 2016), hemos desarrollado una entrevista en profundidad que atendiera a las cuatro dimensiones anteriormente analizadas (políticas, sistemas de gestión, facilitadores y cultura). Nuestro objetivo al desarrollar dicha entrevista ha sido analizar la realidad de la inclusión laboral en empresas ordinarias y CEE desde una aproximación fenomenológica (Alvarez-Gayou, 2003), yendo más allá del análisis cuantitativo de estudios previos, a partir de obtener información en profundidad de informantes claves en el desarrollo de políticas y estrategias orientadas al colectivo de personas con discapacidad.
En total se realizaron 49 entrevistas en profundidad. La selección de los infor-mantes se basó en criterios de representatividad del colectivo. En el caso de las empresas ordinarias debían ser responsables de RRHH o RSC de organizaciones de más de 50 empleados, y por ello susceptibles de aplicación de la LISMI (n=42; 27
129
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Integración laboral de personas con discapacidad
hombres y 11 mujeres). En cuanto a los CEE, los respondientes fueron los máximos responsables de asociaciones y federaciones además de los responsables de RRHH de los propios centros (n=7; 6 hombres y 1 mujer). La edad media de los participantes es de 43 años (rango 27-70) y su antigüedad en el cargo es de 10 años (rango 1-40).
Las entrevistas fueron concertadas con los responsables de RRHH/RSC por correo electrónico, donde se les informaba de los objetivos, duración de la misma (no más de 15 minutos) y se acordaba el lugar y formato de realización (presencial o telefónicamente).
Las entrevistas fueron transcritas para su posterior análisis. La creación de categorías de clasificación de las respuestas se estableció en base al modelo DIL-D©. Para garantizar la validez interna en el proceso de clasificación de las respuestas, este fue realizado por dos investigadores de forma independiente, que asignaron los correspondientes verbatin a las categorías preestablecidas.
RESULTADOS
Con objeto de dotar a este apartado de mayor claridad expositiva, lo estructu-ramos a partir de las dimensiones planteadas por Romeo y Yepes-Baldó (2016), en el cual se ha basado la creación de las categorías de respuesta.
Políticas
De las entrevistas mantenidas tanto con los responsables de empresas ordi-narias como de CEE se deriva que la colaboración con la comunidad local y el tejido asociativo, así como el desarrollo de alianzas estratégicas con entidades especialistas en inclusión laboral de personas con discapacidad son las políticas más comúnmente desarrolladas.
Una diferencia entre ambos tipos de organización es que los CEE tienen expli-citadas las políticas corporativas que definen el compromiso y los objetivos de la organización en materia de integración, mientras que las empresas ordinarias lo hacen en menor medida. Además, los informantes de CEE indicaron que una política ampliamente desarrollada en estos centros se refiere a la existencia de unidades de apoyo a la actividad profesional que atienden a las necesidades específicas de los empleados con discapacidad. Muestra de la importancia de esta política es el volumen de personas que integran las unidades de apoyo, rondando el 10% del total de la plantilla, si bien existe una gran variabilidad, ya que en algunos CEE se acerca
130 Marina Romeo y Montserrat Yepes-Baldó
al 20% y en otros apenas un 1%. Los perfiles profesionales que integran mayori-tariamente dichas unidades de apoyo son psicólogos/as y trabajadores/as sociales.
Si bien las unidades de apoyo son específicas de los CEE, algunas acciones desarrolladas por las empresas ordinarias estarían en consonancia con estas. En concreto, las acciones de normalización más comúnmente desarrolladas por las empresas ordinarias son las de empleo con apoyo y voluntariado corporativo.
En general, en ambos tipos de organizaciones, ordinarias y CEE, se constata la existencia de planes estratégicos para la normalización de la discapacidad en el entorno empresarial y laboral dirigido a los principales grupos de interés de la compañía.
Sistemas de gestión
El sistema de gestión que se percibe como más ampliamente desarrollado en ambos tipos de organizaciones es la adaptación del entorno de trabajo a las nece-sidades del colectivo de personas con discapacidad, que se caracteriza por estar estrechamente vinculado al cumplimiento normativo-legal. Por el contrario, los sistemas de gestión que muestran un menor despliegue son los encargados del desarrollo profesional y de la formación de este colectivo, sistemas no tan estruc-turados bajo el sustento legal.
Muy especialmente, en los CEE se remarca que están escasamente desarrolladas las acciones formativas orientadas al desarrollo de competencias para la inclusión laboral de las personas con discapacidad en la empresa ordinaria, así como las relativas al desarrollo profesional, tanto en cuanto a la facilitación de una carrera profesional dentro del propio CEE como fuera de él.
El sistema de gestión percibido por los entrevistados como más desarrollado y adaptado a las necesidades específicas de las personas con discapacidad en los CEE es el sistema de gestión de selección. Se ofrecen ventajas y beneficios adaptados a las necesidades, se adaptan los procesos de selección asegurando la igualdad de oportunidades, y existen acuerdos con entidades y portales de empleo especializados en la selección de personas con discapacidad.
Por su parte, en las empresas ordinarias se percibe que el sistema de prevención de riesgos laborales es el que está más ampliamente desarrollado, coincidiendo de nuevo con un sistema altamente marcado por la legislación aplicable. En cambio, este sistema de gestión se encuentra medianamente adaptado en los CEE. Especialmente reseñable resulta que los responsables de dichos centros manifiestan que no se tienen especialmente en cuenta aspectos vinculados a los riesgos psicosociales, ni tampoco existen espacios específicos para difundir las políticas e información relativas a la discapacidad.
131
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Integración laboral de personas con discapacidad
Facilitadores
Con respecto a los elementos facilitadores de la puesta en marcha de las políticas y estrategias de integración laboral de las personas con discapacidad se ha analizado el papel de los stakeholders y el rol de los directivos. El stakeholder que se percibe con mayor implicación en las diferentes iniciativas puestas en marcha en las empresas ordinarias son las propias personas con discapacidad, seguidos del equipo directivo y el resto de empleados. En cambio, en los CEE se señala que, en general, los que se muestran más implicados son el equipo directivo y los miembros de las unidades de apoyo. En contraposición, en ambos entornos destacan los bajos niveles de implicación percibida por parte de los sindicatos, seguidos por la familia y la comunidad local.
En cuanto al rol de los directivos, se constata que en general estos conocen las políticas, están sensibilizados y son ejemplo de conducta integradora. La comentada sensibilidad por parte de los directivos contrasta con el hecho de atribuir, tanto en la empresa ordinaria como en los CEE, que no en todos los casos estos conocen las políticas que desarrolla la organización, ni son ejemplo de conducta inclusiva.
Cultura
Los participantes coinciden en atribuir como aspecto característico de la cultura organizacional de los CEE, el ser convencionales-dependientes (Cook & Lafferti, 1986). Se trata de culturas que se caracterizan principalmente por el acatamiento de órdenes, lo que comporta, según Cook y Lafferti (1986), que desde la organi-zación no se promueva que los empleados emprendan tareas nuevas e interesantes ni a pensar de manera original e independiente, sino que favorezcan relaciones interpersonales convencionales que atienden al orden establecido.
No obstante, cabe añadir que el conjunto de entrevistados considera importante que los empleados disfruten de su trabajo y se promueve la participación de estos, por lo que presentan algunas características de culturas orientadas a la realización-personas.
Por su parte, en la empresa ordinaria, los entrevistados las definen como empre-sas con cultura inclusiva, donde la dirección conoce y apoya de forma activa las políticas en materia de discapacidad.
DISCUSIÓN
El principal objetivo del presente trabajo ha sido comparar la percepción de responsables de empresas ordinarias y CEE en relación a las políticas y
132 Marina Romeo y Montserrat Yepes-Baldó
estrategias de integración laboral que en estos se desarrollan a partir del Modelo DIL-D©.
Los resultados indican que las políticas más desarrolladas, tanto en los CEE como en las empresas ordinarias, son la colaboración con la comunidad local y el tejido asociativo, así como el desarrollo de alianzas estratégicas con entidades especialistas en inclusión laboral de personas con discapacidad. Este tipo de políticas se caracterizan por tener un foco de actuación externo (Dahlsrud, 2008), mientras que las políticas de foco interno son las menos desarrolladas en ambos contextos. Autores como Kim, Lee, Lee y Kim (2010) señalan que sólo las políticas de RSC de foco interno tienen un impacto en la percepción que el empleado tiene de su organización. De ahí que, aquellos CEE y/o empresas ordinarias que presentan un mayor despliegue de sus políticas se muestran como las más comprometidas, yendo más allá del mero cumplimiento legal (Romeo & Yepes-Baldó, 2016). Todo ello hace del todo necesario pensar en acciones que promuevan el despliegue de las políticas de foco interno en ambos tipos de organizaciones.
En este sentido, los CEE se caracterizan, según los entrevistados, por desar-rollar políticas corporativas que definen su compromiso y objetivos en materia de integración, además de la existencia de planes estratégicos para la normalización de la discapacidad en el entorno empresarial y laboral dirigido a los principales grupos de interés de la compañía, a diferencia de lo afirmado por los responsables de las empresas ordinarias. Se constata que el conjunto de políticas desplegadas por los CEE marcan las líneas estratégicas a seguir por la organización para una efectiva integración de personas con discapacidad.
En cuanto a los sistemas de gestión, resulta obvio que el más desarrollado en los CEE sea el de selección, dado que este tipo de organizaciones se caracterizan, tal y como recoge el artículo 43.2 del Real Decreto Legislativo 1/2013, por el hecho de que “la plantilla de los centros especiales de empleo estará constituida por el mayor número de personas trabajadoras con discapacidad que permita la naturaleza del proceso productivo y, en todo caso, por el 70 por 100 de aquélla”.
En cambio, en la empresa ordinaria los responsables consideran que los proce-sos de selección no están adaptados para que personas con discapacidad puedan participar en igualdad de condiciones, siendo el sistema de prevención de riesgos el más desplegado. Tal y como apuntábamos anteriormente, este despliegue viene favorecido por el condicionante legal. En concreto, el artículo 25 de la Ley 31/1995 de 8 de noviembre de prevención de Riesgos Laborales, señala que
El empresario garantizará de manera específica la protección de los trabajadores que, por sus propias características personales o estado biológico conocido, incluidos aquellos que tengan reconocida la situación de discapacidad física, psíquica o
133
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Integración laboral de personas con discapacidad
sensorial, sean especialmente sensibles a los riesgos derivados del trabajo. A tal fin, deberá tener en cuenta dichos aspectos en las evaluaciones de los riesgos y, en función de éstas, adoptará las medidas preventivas y de protección necesarias. Los trabajadores no serán empleados en aquellos puestos de trabajo en los que, a causa de sus características personales, estado biológico o por su discapacidad física, psíquica o sensorial debidamente reconocida, puedan ellos, los demás tra-bajadores u otras personas relacionadas con la empresa ponerse en situación de peligro o, en general, cuando se encuentren manifiestamente en estados o situaciones transitorias que no respondan a las exigencias psicofísicas de los respectivos puestos de trabajo” (Ley 31/1995, art. 25).
Los CEE y las empresas ordinarias coinciden a la hora de señalar un bajo despliegue de los sistemas de gestión de la formación y desarrollo profesional de las personas con discapacidad. Algunos informantes de los CEE señalan muy especialmente la escasa atención a la realización de actividades formativas orientadas al desarrollo de competencias para la inclusión laboral de las personas con discapacidad en la empresa ordinaria, así como las relativas al desarrollo profesional, tanto en cuanto a la facilitación de una carrera profesional dentro del propio CEE como fuera de él. Este aspecto es del todo relevante, dado que los CEE son concebidos como cen-tros de transición hacia el mercado ordinario, por lo que los directivos de los CEE deberían generar los mecanismos que la faciliten.
No obstante, resulta importante señalar como los responsables de los CEE atribuyen cierto desinterés en dicha transición por parte de los propios empleados con discapacidad, de sus familias, los sindicatos y la comunidad local. Tal y como apuntan Calderón y Calderón (2012) “el CEE se convierte en el destino final como mínimo de la tercera parte de las personas con discapacidad que trabajan en ellos” (Calderón & Calderón, 2012, p. 236).
En este contexto, el principal reto que se presenta a los responsables de Recursos Humanos es ayudar al conjunto de miembros que configuran la organización, direc-tivos y empleados, a que orienten sus esfuerzos a estimular el desarrollo personal y profesional de los empleados. Es necesario desplegar políticas y sistemas de gestión que promuevan el desarrollo de sus capacidades, dotándoles de las competencias y de los recursos necesarios para que puedan establecer planes ambiciosos pero realistas, que persigan el alcance de niveles de excelencia (Royo, 2005).
Alcanzar este reto supone escuchar la voz de las personas con discapacidad, tal y como señala la Convención sobre los derechos de las personas con discapacidad: “las personas con discapacidad deben tener la oportunidad de participar activamente en los procesos de adopción de decisiones sobre políticas y programas, incluido los que les afectan directamente” (Naciones Unidas, 2006, p. 2).
134 Marina Romeo y Montserrat Yepes-Baldó
Ello comporta el despliegue de un estilo cultural orientado a la autorrealiza-ción de los empleados (Cook & Lafferty, 1986), el cual debe venir acompañado por el desarrollo de dos de los sistemas de gestión señalados como menos desple-gados, tanto por los CEE como en las empresas ordinarias (el sistema de gestión de la formación y el sistema de gestión correspondiente al desarrollo profesional, ambos caracterizados por tener un bajo imperativo legal). El hecho de que tengan un bajo nivel de despliegue comporta que no se desarrolla en los trabajadores nuevos conocimientos y habilidades para desempeñar el trabajo, ni se les facilita una carrera profesional.
Para finalizar, resulta clave que los responsables de RRHH tengan en cuenta todos los aspectos mencionados, dado su impacto en los niveles de satisfacción y motivación de los empleados (Ventura, 2014), su autoestima y autorrealización (Florez, 2007), así como en las tasas de absentismo y rotación laboral (Gan & Berbel, 2012).
REFERENCIAS
Alvarez-Gayou, J. L. (2003). Como hacer investigación cualitativa. Fundamentos y metodología. Bar-celona: Paidós.
Baker & McKenzie (2014). Las políticas de inserción laboral de las personas con discapacidad a través del mercado de trabajo protegido. Disponible en http://conacee.org/wp-content/uploads/2014/07/2014-01-BMcK-INFORME-MERCADO-PROTEGIDO.pdf
Calderón, M. J., & Calderón, B. (2012). Los Centros Especiales de Empleo como mecanismo de tránsito hacia el mercado de trabajo ordinario. CIRIEC-España, Revista de Economía Pública, Social y Cooperativa, 75, 223-249.
Carlier, S., Llorente, C., & Grau, M. (2012). Comparing work-life balance in Spanish and Latin-American countries. European Journal of Training and Development, 36(2), 286-307. doi: 10.1108/03090591211204751
Constitución Española. (1978). Boletín Oficial del Estado, 311 de 29 de diciembre de 1978. Disponible en https://www.boe.es/buscar/pdf/1978/BOE-A-1978-31229-consolidado.pdf
Cook, R. A., & Lafferti, J. C. (1986). Organizational culture inventory. Plymouth, MI: Human Synergistics.
Dahlsrud, A. (2008). How corporate social responsibility is defined: An analysis of 37 definitions. Corporate Social Responsibility and Environmental Management, 13, 1-13. doi: 10.1002/csr.132
Eurostat. (2011). Unemployment rate of people by type of disability, sex and age. Disponible en http://ec.europa.eu/eurostat/web/health/disability/data/database
Florez, J. (12 de mayo de 2007). La autoestima y la autoimagen en la discapacidad. Diario Montañés. Disponible en http://www.eldiariomontanes.es/prensa/20070512/sociedad/autoestima-autoi-magen-discapacidad_20070512.html
Fred, D. (2003). Conceptos de administración estratégica. México: Pearson Education.Gan, F., & Berbel, G. (2012). Manual de recursos humanos. Barcelona: Editorial UOC.
135
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Integración laboral de personas con discapacidad
Kim, H., Lee, M., Lee, H., & Kim, N. (2010). Corporate social responsibility and employee-company identification. Journal of Business Ethics, 95(4), 557-569. doi: 10.1007/s10551-010-0440-2
Harrison, R. (1972). Understanding your organization’s character. Harvard Business Review, 5(3), 119-128.Ley 13/1982 de 7 de abril, de Integración Social de los Minusválidos (LISMI). Boletín Oficial del Estado
núm. 103/1982. Jefatura del Estado.Ley 31/1995 de 8 de noviembre de Prevención de Riesgos Laborales. Boletín Oficial del Estado núm.
269/1995. Jefatura del Estado.Ley 50/1998 de 30 de diciembre, de Medidas Fiscales, Administrativas y del Orden Social. Boletín
Oficial del Estado núm. 313/1998. Jefatura del Estado.Ley 51/2003, de 2 de diciembre, de igualdad de oportunidades, no discriminación y accesibilidad
universal de las personas con discapacidad, LIONDAU. Boletín Oficial del Estado núm. 289/2003. Jefatura del Estado.
Ley 49/2007 de 26 de diciembre, por la que se establece el régimen de infracciones y sanciones en materia de igualdad de oportunidades, no discriminación y accesibilidad universal de las per-sonas con discapacidad (LISOS). Boletín Oficial del Estado núm. 310/2007. Jefatura del Estado.
Naciones Unidas (2006). Convención sobre los derechos de las personas con discapacidad. Disponible en http://www.un.org/esa/socdev/enable/documents/tccconvs.pdf
ODISMET. (2014). Informe cero. La situación de las personas con discapacidad en el mercado laboral. Disponible en http://www.odismet.es/es/informes/informe-cero-del-observatorio-sobre--discapacidad-y-mercado-de-trabajo/3/
Quijano, S., Yepes-Baldó, M., & Navarro, J. (2006). El modelo global de comportamiento organizativo que da Soporte al ASH. En S. Quijano (Dir.), Dirección de RRHH y consultoría en las organi-zaciones. (pp. 263-295). Barcelona: Icaria.
Quijano S., Navarro, J., Yepes-Baldó, M., Berger, R., & Romeo, M. (2008). Human System Audit (HSA) for the analysis of human behaviour in organizations. Papeles del Psicólogo, 29, 92-106.
Real Decreto 2273/1985, de 4 de diciembre, por el que se aprueba el Reglamento de los Centros Espe-ciales de Empleo definidos en el artículo 42 de la Ley 13/1982, de 7 de abril, de Integración Social del Minusválido. Boletín Oficial del Estado núm. 294/1985. Ministerio de Trabajo y Asuntos Sociales.
Real Decreto 27/2000, de 14 de enero, por el que se establecen medidas alternativas de carácter excepcional al cumplimiento de la cuota de reserva del 2 por 100 en favor de trabajadores discapacitados en empresas de 50 o más trabajadores. Boletín Oficial del Estado núm. 22/2000. Ministerio de Trabajo y Asuntos Sociales
Real Decreto 364/2005, de 8 de abril, por el que se regula el cumplimiento alternativo con carácter excepcional de la cuota de reserva en favor de los trabajadores con discapacidad. Boletín Oficial del Estado núm. 94/2005. Ministerio de Trabajo y Asuntos Sociales.
Real Decreto Legislativo 5/2000 de 4 de agosto, por el que se aprueba el texto refundido de la Ley sobre Infracciones y Sanciones en el Orden Social. Boletín Oficial del Estado núm. 189/2000. Ministerio de Trabajo y Asuntos Sociales.
Real Decreto Legislativo 1/2013 de 29 de noviembre, por el que se aprueba el Texto Refundido de la Ley General de derechos de las personas con discapacidad y de su inclusión social. Boletín Oficial del Estado núm. 289/2013. Ministerio de Sanidad, Servicios Sociales e Igualdad.
Romeo, M., & Yepes-Baldó, M. (2016). El Modelo DIL-D©: Diagnosticando la RSC centrada en la integración laboral de personas con discapacidad. Revista Española de Discapacidad (REDIS), 4(1), 119-133. doi: 10.5569/2340-5104.04.01.07
136 Marina Romeo y Montserrat Yepes-Baldó
Romeo, M., Yepes-Baldó, M., Pérez-Conesa, F. J., & Pascual, C. (2015). El impacto de la RSC para la inclusión laboral de personas con discapacidad: Haciendo tangible lo intangible. Revista Inclusiones, 2(4), 32-49.
Royo Morón, C. (2005). Las competencias como herramienta para el cambio cultural en una organización bancaria (Tesis doctoral inédita). Universitat de Barcelona, Barcelona.
Servicio Público de Empleo Estatal (SEPE). (2013). Informe del mercado de trabajo de las personas con discapacidad estatal. Datos 2013. Madrid: Servicio Público de Empleo Estatal, Subdirección General de Estadística e Información.
Ventura Dolores, E. (2014). Implicaciones del comportamiento organizacional en la productividad de los recursos humanos: Caso PRONAMED (Tesis doctoral inédita). Universidad Veracruzana, México.
Veríssimo, J., & Lacerda, T. (2015). Does integrity matter for CSR practice in organizations? The mediating role of transformational leadership. Business Ethics: A European Review, 24(1), 34-51. doi: 10.1111/beer.12065
137
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Estabilidad Emocional en Hombres y Mujeres
Análisis de las características de estabilidad emocional en hombres y mujeres • pág. 137-147DOI: https://doi.org/10.14195/1647-8606_59_2_8
Análisis de las características de estabilidad emocional en hombres y mujeres
Esther Gracia1, Naiara Vidal-Sellés2 y Vicente Martínez-Tur3
Analysis of emotional stability characteristics in men and women
Abstract
Literature points out that emotional stability, as a personality trait, affects human behaviour. This emotional stability is composed of two dimensions: The emotional disorder threshold (the easiness to experiment altered emotional states) and the emo-tional resilience (the ability to bounce back from negative emotional experiences to restore a stable system). The aim of this study is to test the differences between men and women in emotional stability taking into account both dimensions of emotional stability. A total 134 university students (range of age between 18 and 40 years old) participated in the study. Results showed that women have both a lower emotional disorder threshold to experience negative emotions and a lower emotional resilience than men. These results encourage continuing doing research in this line to get a better understanding of human behaviour.
Keywords: emotional stability; evolutionary theory; social role theory, men and women
1 Universidad de Valencia, Instituto de Investigación en Psicología de los Recursos Humanos, Desarrollo Organizacional y Calidad de Vida Laboral (IDOCAL). Email: [email protected]
2 Universidad de Valencia, Instituto de Investigación en Psicología de los Recursos Humanos, Desarrollo Organizacio-nal y Calidad de Vida Laboral (IDOCAL). Email: [email protected]
3 Universidad de Valencia, Instituto de Investigación en Psicología de los Recursos Humanos, Desarrollo Organizacio-nal y Calidad de Vida Laboral (IDOCAL). Email: [email protected] por convite recebido a 02-09-2016 e aprovado a 03-09-2016.
138 Esther Gracia, Naiara Vidal-Sellés y Vicente Martínez-Tur
Resumen
La investigación previa indica que la estabilidad emocional, como rasgo de personalidad, tiene una repercusión relevante sobre el comportamiento humano. Dicha estabilidad tiene dos dimensiones: El “umbral de alteración emocional” (facilidad para experimentar esta-dos emocionales alterados) y la “resiliencia emocional” (la capacidad para recuperarse de las emociones negativas y volver a la estabilidad emocional). El objetivo de este estudio consiste en analizar las diferencias entre hombres y mujeres en cuanto a sus niveles de estabilidad emocional, teniendo en cuenta ambas dimensiones. La muestra está formada por 134 estudiantes universitarios de edades comprendidas entre 18 y 40 años. Los resultados muestran que las mujeres poseen tanto un umbral más bajo para experimentar emociones negativas como una menor resiliencia emocional que los hombres. Dichos datos indican la necesidad de realizar más estudios en esta dirección para llegar a comprender mejor el comportamiento del ser humano.
Palabras clave: estabilidad emocional; teoría del rol social; teoría evolucionista; hombres y mujeres
Análise das características de estabilidade emocional em homens e mulheres
Resumo
A investigação prévia indica que a estabilidade emocional, como um traço de personalidade, tem uma repercussão relevante sobre o comportamento humano. Esta estabilidade tem duas dimensões: o “limiar de distúrbio emocional” (facilidade em experimentar estados emocionais alterados) e a “resiliência emocional” (capacidade para recuperar de emoções negativas e voltar à estabilidade emocional). O objetivo deste estudo é analisar as diferenças entre homens e mulheres quanto aos seus níveis de estabilidade emocional, tendo em conta as duas dimensões de estabilidade emocional. A amostra é constituída por 134 estudantes universitários com idades compreendidas entre os 18 e os 40 anos. Os resultados mostram que as mulheres têm um limiar mais baixo para experimentar emoções negativas e uma menor resiliência emocional. Estes resultados apontam para a necessidade de se realizarem mais estudos neste domínio para uma melhor compreensão do comportamento humano.
Palavras‑chave: estabilidade emocional; teoria do papel social; teoria evolucionária; homens e mulheres
139
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Estabilidad Emocional en Hombres y Mujeres
INTRODUCCIÓN
Existe creciente evidencia de que la gestión de las emociones es fundamental para llevar una vida satisfactoria en sus diferentes ámbitos. Las publicaciones especializa-das identifican constructos emocionales clave que se utilizan cada vez más tanto en la investigación como en los planes de formación personal o profesional. Este es el caso de la Inteligencia Emocional, considerada como el conjunto de habilidades que contribuyen a un funcionamiento psicológico y social óptimo a través de la detección, el entendimiento y la gestión de los estados emocionales, y que facilitan la interacción adecuada con otras personas de nuestro entorno (Brackett, Rivers, & Salovey, 2011). Otro ejemplo es el Trabajo Emocional, que implica mostrar la emoción apropiada en el contexto laboral de acuerdo con una regla implícita o explícita socialmente aceptada, entre otros aspectos. Este trabajo emocional, y la regulación emocional subyacente, afectan tanto al bienestar como al desempeño del trabajador (Gracia, Ramos, & Moliner, 2015). En este conglomerado de constructos de naturaleza emocional, la estabilidad emocional adquiere cada vez mayor interés. Entendida como rasgo de personalidad, la estabilidad emocional describe disposiciones relativamente estables de las personas en relación con la capacidad, ante una situación emocionalmente inestable, de manten-erse o volver a un estado de equilibrio, de manera automática y recursiva, sin haber operado ninguna fuerza externa (Li, Chun, Ashkanasy, & Ahlstrom, 2012). En otras palabras, existen diferencias en el grado en que las personas volvemos a un estado de equilibrio tras experimentar una situación emocionalmente inestable. Es decir, los individuos varían en su capacidad para mantener su estabilidad psicológica al hacer frente a las presiones difíciles del contexto (Li & Ahlstrom, 2016).
La investigación lleva una larga trayectoria demostrando la importancia de la esta-bilidad emocional en diferentes áreas. Se ha relacionado con cuestiones tan relevantes como el éxito académico (Flemming, 1928; Keys & Whiteside, 1930), un menor con-sumo de drogas especialmente en hombres jóvenes (Steffenhagen, Schmidt, & McAree, 1971), la habilidad para la resolución de problemas (Park & Woo, 1997) o la longevidad (una media de dos o tres años más) (Terracciano, Löckenhoff, Zonderman, Ferrucci, & Costa, 2008). También se ha observado que la estabilidad emocional se relaciona, en el ámbito laboral, con el liderazgo emergente, la satisfacción, la autoeficacia y el compromiso organizacional (Li & Ahlstrom, 2016). Concretamente, la estabilidad emocional parece tener un papel clave en situaciones de conflicto. Por ejemplo, Li et al. (2012) encontraron que el liderazgo emergente se daba en aquellas personas que recuperaban su estabilidad emocional de forma más fácil y rápida, y sobre todo en grupos conflictivos. En la misma línea, se ha comprobado que la estabilidad emocional amortigua la relación negativa entre el conflicto de relación grupal y el compromiso organizacional del individuo (Li & Ahlstrom, 2016).
140 Esther Gracia, Naiara Vidal-Sellés y Vicente Martínez-Tur
La estabilidad emocional se ha abordado desde la Teoría de la Auto-organización (Izard, Ackerman, Schoff, & Fine, 2000). Así, se asume que una emoción puede recuperar su estado de equilibrio automáticamente tras un periodo o situación de inestabilidad emocional. Esta disposición de las personas para adaptarse a los estresores está compuesta por dos dimensiones o subsistemas: El umbral de alteración emocional y la resiliencia emocional (Li & Ahlstrom, 2016). Por un lado, el umbral de alteración emocional describe la sensibilidad del sistema para experimentar estados emocionales alterados como el enfado, la ansiedad o el pánico. Por ello, se espera que una persona con un bajo umbral de alteración emocional se vea afectada más fácilmente por estados emocionales alterados producidos por el ambiente. Por otro lado, la resiliencia emocional hace referencia al tiempo requerido para recuperarse de la experiencia de emociones negativas y volver a la estabilidad. En este caso, una alta resiliencia emocional hace referencia a la capacidad del individuo para recuper-arse rápidamente de la experiencia de emociones negativas (Li & Ahlstrom, 2016).
Estudios previos han encontrado que existen diferencias significativas entre hombres y mujeres en cuanto a niveles de estabilidad emocional (Booth & Irwin, 2011; Rossier, Quartier, Enescu, & Iselin, 2007; Vecchione, Alessandri, Barbaranelli, & Caprara, 2012). Sin embargo, hasta la fecha no se han tenido en cuenta las dimensiones de estabilidad emocional que se plantean desde la teoría de la auto-organización. El presente trabajo da un paso más allá en el estudio de la estabilidad emocional examinando las diferencias entre hombre y mujeres teniendo en cuenta las dimensiones de umbral de alteración emocional y resiliencia emocional.
Las diferencias entre hombres y mujeres pueden explicarse desde dos grandes aproxi-maciones: la perspectiva evolucionista y la teoría de roles sociales (Eagly, 1987). Por un lado, desde una perspectiva evolucionista (Buss, 1991), se señala que las emociones tienen una función motivacional que da cualidades adaptativas relevantes a las emociones para muchas cuestiones. Por ejemplo, el miedo nos protege de agresiones físicas o verbales y la culpa nos lleva al razonamiento moral, a empatizar, a la reparación de relaciones dañadas (Izard, 2001). En general, las emociones negativas ejercen funciones de pro-tección y guía en los dominios físicos y mentales (Izard, 2001). Desde esta perspectiva evolucionista, también se señala que los hombres y las mujeres comparten la mayoría de estructuras funcionales universales y tan solo se diferencian en aquellos dominios en los que han tenido que hacer frente en su historia evolutiva a diferentes problemas adaptativos recurrentes (Buss, 1991; Buss, 1995). Así, por ejemplo, en el contexto del estudio del conflicto se ha visto que los hombres y las mujeres reaccionan de forma diferente ante una amenaza, de tal modo que los hombres reaccionan de forma más agresiva que las mujeres (Van Vugt, De Cremer, & Janssen, 2007).
Por otro lado, la teoría del Rol Social (Eagly, 1987) surge con la intención de explicar las diferencias de la conducta humana entre hombres y mujeres. Desde esta
141
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Estabilidad Emocional en Hombres y Mujeres
perspectiva, se señala que son las creencias estereotipadas las que determinan las interacciones sociales del día a día, lo cual lleva, a su vez, a la diferenciación sexual del trabajo y la jerarquía de género de la sociedad (Eagly, Wood, & Diekman, 2000). Cialdini and Trost (1998) caracterizan estas normas sociales como “cautelares o por mandato judicial”. Esto es, comportamientos que las personas perciben que deben hacer, o idealmente deberían hacer, por lo que, si no se llevan a cabo, producen malestar y desaprobación. Teniendo en cuenta que los roles familiares tradicionales diferenciados enmarcan a los hombres en especialistas en la instrumentalización y a las mujeres en expresividad (Parsons & Bales, 1955), podríamos esperar que las mujeres posean un umbral de alteración emocional más bajo que los hombres. Es decir, que ante un evento afectivo negativo se espera una mayor expresividad emocional entre las mujeres para actuar de acuerdo con lo que socialmente se espera de ellas. Por ello, se plantea la siguiente hipótesis:
Hipótesis 1. Las mujeres presentan una mayor facilidad para responder a un estímulo emocional negativo. Es decir, poseen un umbral de alteración emocional significativamente más bajo que los hombres.
En una misma línea, se ha visto que en grupos mixtos (compuestos por hombres y mujeres), los hombres se orientan más a la consecución de objetivos mientras que las mujeres se ocupan más del mantenimiento del grupo y de los posibles problemas o preocupaciones sociales (Strodtbeck & Mann, 1956). Con lo cual, las reacciones de las mujeres deben ser más persistentes antes pérdidas y agresiones que afecten a sus allegados. De este modo, es razonable pensar que, ante experiencias emocionales negativas, sea más difícil para las mujeres volver al estado inicial de equilibrio, y por ello la recuperación sea más lenta. Por ello, es probable que las mujeres sean capaces de mantener por más tiempo este estado negativo. Teniendo en cuenta estos argumentos, se plantea la siguiente hipótesis:
Hipótesis 2. Las mujeres poseen una capacidad de resiliencia emocional signifi-cativamente más baja que los hombres.
MÉTODO
Muestra
El presente estudio se ha llevado a cabo siguiendo los protocolos establecidos por el Comité de Ética de la Universidad de Valencia. Un total de 134 personas participaron
142 Esther Gracia, Naiara Vidal-Sellés y Vicente Martínez-Tur
voluntariamente en el estudio. Todos ellos son estudiantes con una edad media de 21.61 años (rango 18 - 40 años). De los cuales el 46% son hombres y el 54% son mujeres.
Variables
La escala de estabilidad emocional (ver Tabla 1) propuesta por Li et al. (2012) y validada por Li y Ahlstrom (2016) se compone de dos dimensiones:
Umbral de alteración o trastorno emocional. Esta dimensión se compone de cua-tro ítems en los que a los participantes se les pregunta si experimentan emociones negativas fácilmente. La escala de respuesta es tipo Likert de 1 a 6 (totalmente en desacuerdo/totalmente de acuerdo). Un ejemplo de ítem es “¿Sueles sentirte ansioso fácilmente? El coeficiente Alpha de Cronbach de esta dimensión es de .73.
Resiliencia emocional. Se compone de seis ítems que miden si la recuperación tras experimentar emociones negativas es rápida. La escala de respuesta es tipo Likert de 1 a 6 (totalmente en desacuerdo/totalmente de acuerdo). Un ejemplo de ítem es “¿Sueles calmarte rápidamente después de una situación ansiosa y no verte inf luido por ella? El coeficiente Alpha de Cronbach de esta dimensión es de .85.
Tabla 1 Ítems de los Subsistemas o Dimensiones de la Estabilidad Emocional
Subsistema ÍtemUmbral de alteración emocional
1 ¿Sueles sentir fácilmente como si estuvieses haciendo frente a un desastre inminente? 2 ¿Sueles sentir pánico, miedo o sentirte asustado fácilmente? 3 ¿Sueles sentirte ansioso fácilmente? 4 ¿Sueles sentirte enfadado fácilmente?
Resiliencia emocional
5 ¿Sueles recuperarte del sentimiento de infelicidad rápidamente y no verte influido por ella? 6 ¿Sueles calmarte rápido después de una situación ansiosa y no verte influido por ella? 7 ¿Sueles recuperarte del sentimiento de enfado rápidamente y no verte in-fluido por ella? 8 ¿Sueles recuperarte del pánico o miedo rápidamente? 9 ¿Sueles recuperarte de emociones negativas rápidamente? 10 ¿Sueles recuperarte del estrés o la preocupación rápidamente?
Análisis de datos
En primer lugar, se han realizado análisis descriptivos como frecuencias, medias y desviación típicas para analizar las propiedades de la muestra y se
143
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Estabilidad Emocional en Hombres y Mujeres
ha analizado la estructura factorial de la variable de estabilidad emocional mediante un análisis factorial confirmatorio (AFC) con el programa Amos (Arbuckle, 2006).
En segundo lugar, para poner a prueba nuestras hipótesis, se ha llevado a cabo una Prueba t de Student para muestras independientes, que nos permite comparar las diferencias entre los dos grupos: hombre vs. mujeres. Previamente, se han analizado las varianzas mediante la prueba de Levene que nos permite determinar si podemos asumir que las varianzas entre los grupos son iguales.
RESULTADOS
En la tabla 2 pueden observarse las medias y desviaciones típicas teniendo en cuenta a las mujeres y hombres por separado (Ver tabla 2).
Tabla 2 Descriptivos Atendiendo a la Variable Sexo
Subsistema Sexo n Media Desviación TípicaUmbral de alteración emocional Hombre 62 2.41 0.89
Mujer 72 2.85 1.06Resiliencia emocional Hombre 62 4.11 0.97
Mujer 72 3.41 1.03
La Figura 1 muestra los resultados del AFC para la estabilidad emocional. Como puede observarse, los coeficientes presentan un buen ajuste de los datos (χ2(34) = 52.785, p = .021; RMSEA = .06; CFI = .96, IFI = .96, TLI = .95), indicando efectivamente la existencia de las dos dimensiones o subsistemas de estabilidad emocional. Cabe tener en cuenta que el estadístico χ2 / G. L. presenta una alta sensibilidad al tamaño de muestra. Para muestras pequeñas, se produce un aumento de la probabilidad de error tipo II, mientras que para muestras grandes, hay una mayor probabilidad de error de tipo I.
144 Esther Gracia, Naiara Vidal-Sellés y Vicente Martínez-Tur
Figura 1. Análisis factorial confirmatorio de los subsistemas de estabilidad emocional.
Atendiendo a los resultados mostrados en la Tabla 3, la prueba de Levene con-firma que podemos asumir varianzas iguales entre ambos grupos. Por otro lado, la prueba t de Student muestra que las diferencias son significativas tanto en el umbral de alteración emocional [t (132) = -2.587, p < .011)] como en la resiliencia emocional. [t (132) = -4.046, p < . 000)]
Tabla 3Prueba de Levene y Prueba t de Student
Prueba de Lev-ene de igualdad
de varianzasPrueba t para la igualdad de medias
F Sig. t g.l. Sig. (bi-lateral)
Diferencia de medias
Diferencia de error estándar
95% de intervalo de confianza de la diferenciaInferior Superior
Umbral de alteración emocional
2.617 .108 -2,587 132 0.011 -0.443 0.171 -.782 -0.104
Resiliencia emocional 0.008 .929 4,046 132 0.000 0.705 0.174 .360 1.049
145
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Estabilidad Emocional en Hombres y Mujeres
De esta forma, se confirman las diferencias significativas entre hombres y mujeres en las dos dimensiones y en la dirección esperada. Las mujeres alteran más fácilmente sus estados emocionales que los hombres, es decir, ellas poseen un umbral más bajo de tolerancia para experimentar emociones negativas (hipótesis 1). Asimismo, las mujeres tienen una menor resiliencia emocional que los hombres (hipótesis 2).
DISCUSIÓN
El objetivo de este trabajo ha sido el de analizar las diferencias entre hombres y mujeres en cuanto a las dos dimensiones de estabilidad emocional: umbral de tolerancia y resiliencia emocional. Los resultados muestran que, efectivamente, existen diferencias considerables entre ambos grupos. Aunque los roles de género son un aspecto cultural dinámico (Eagly et al., 2000), que podría cambiar espe-cialmente ante sociedades industriales con un mayor progreso sociocultural en las normas (Costa, Terracciano, & McCrae, 2001), los resultados siguen insistiendo en la existencia de una adaptación heterogénea de hombres y mujeres ante eventos del ambiente. Los estereotipos conformados en nuestra sociedad pueden explicar parte de nuestras reacciones emocionales. Más específicamente, pueden determinar los niveles basales de alteración y nuestro tiempo de recuperación.
Además, este trabajo contribuye al avance del estudio de las emociones diferen-ciando entre las dos dimensiones de estabilidad emocional: umbral de tolerancia y resiliencia emocional. Para ello, tras revisar la investigación sobre estabilidad emo-cional, se ha utilizado una medida de estabilidad emocional que puede integrarse en el marco teórico de la auto-organización (Izard et al., 2000), y que además presenta una fácil operacionalización y aplicación a diferentes contextos (laboral, educativo, etc.). Todo ellos nos permiten avanzar en el conocimiento teórico y también esta-blecer estrategias de intervención más concretas y aplicadas a la sociedad actual.
Limitaciones
Este trabajo presenta una serie de limitaciones que sería recomendable tener en cuenta en futuros estudios. Los resultados deben tomarse con cautela ya que han sido obtenidos en una muestra de estudiantes. La ventaja que supone es que los hombres y mujeres que han participado comparten muchas características en común como el rango de edad o su nivel académico, lo cual permite controlar algunas variables. No obstante, futuros estudios deberían probar estos resultados
146 Esther Gracia, Naiara Vidal-Sellés y Vicente Martínez-Tur
en muestras más heterogéneas para examinar la generalización de los resultados. Otra limitación importante es que este estudio transversal no permite investigar cambios en el tiempo. Futuros estudios pueden analizar trayectorias para ver si estas diferencias se mantienen a través de todas las etapas de la vida de hombres y mujeres. Una última limitación consiste en la utilización de cuestionarios auto--cumplimentados en los que solo se evalúa la percepción subjetiva del sujeto. En estudios posteriores se podrían tener en cuenta reacciones fisiológicas que com-plementen estas medidas.
CONCLUSIONES
A pesar de estas limitaciones, este estudio contribuye a entender el concepto de la estabilidad emocional. En primer lugar propone una definición integrada en una perspectiva teórica, así como una operacionalización clara, sencilla y aplicada. Concretamente, este estudio pone de manifiesto diferencias significativas entre hombres y mujeres en los dos subsistemas que regulan la estabilidad emocional: el umbral de alteración emocional y la resiliencia emocional. Estos resultados nos permiten llegar a comprender mejor el comportamiento del ser humano, espe-cialmente el relacionado con las respuestas emocionales ante estímulos negativos.
REFERENCIAS
Arbuckle, J. L. (2006). Amos (version 7.0)[Computer program]. Chicago: SpSS.Booth, T., & Irwing, P. (2011). Sex differences in the 16PF5, test of measurement invariance and mean
differences in the US standardisation sample. Personality and Individual Differences, 50(5), 553-558. doi: 10.1016/j.paid.2010.11.026
Brackett, M. A., Rivers, S. E., & Salovey, P. (2011). Emotional intelligence: Implications for personal, social, academic, and workplace success. Social and Personality Psychology Compass, 5(1), 88-103. doi: 10.1111/j.1751-9004.2010.00334.x
Buss, D. M. (1991). Evolutionary personality psychology. Annual Review of Psychology, 42(1), 459-491. doi: 10.1146/annurev.ps.42.020191.002331
Buss, D. M. (1995). Psychological sex differences: Origins through sexual selection. American Psycholo-gist, 50(3), 164-1688. doi: 10.1037//0003-066X.50.3.164
Cialdini, R. B., & Trost, M. R. (1998). Social inf luence: Social norms, conformity, and compliance. In D. T. Gilbert, S. T. Fiske, & G. Lindzey (Eds.), The handbook of social psychology (Vol. 2, pp. 151-192). New York: McGraw-Hill.
147
PSYCHOLOGICA VOLUME 59 Nº 2 • 2016
Estabilidad Emocional en Hombres y Mujeres
Costa, J. P., Terracciano, A., & McCrae, R. R. (2001). Gender differences in personality traits across cultures: Robust and surprising findings. Journal of Personality and Social Psychology, 81(2), 322. doi: 10.1037//0022-3514.81.2.322
Eagly, A. H. (1987). Sex differences in social behavior: A social-role Interpretation. Hilsdale, NJ: Eribaum. Eagly, A. H., Wood, W., & Diekman, A. B. (2000). Social role theory of sex differences and similarities:
A current appraisal. In T. Eckes & H. M. Trautner (Eds.), The developmental social psychology of gender (pp. 123-174). New York: Psychology Press.
Flemming, E. G. (1928). The predictive value of certain tests of emotional stability as applied to college freshmen. Archives of psychology, 96.
Gracia, E., Ramos, J., & Moliner, C. (2014). El trabajo emocional desde una perspectiva clarificadora tras treinta años de investigación. Universitas Psychologica, 13(4), 1517-1529. doi: 10.11144/javeriana.upsy13-4.
Izard, C. E. (2001). Emotional intelligence or adaptive emotions? Emotion, 1(3), 249-257. doi: 10.1037/1528-3542.1.3.249
Izard, C. E., Ackerman, B. P., Schoff, K. M., & Fine, S. E. (2000). Self-organization of discrete emo-tions, emotion patterns, and emotion-cognition relations. In I. Granic & M. D. Lewis, Emotion, development, and self-organization: Dynamic systems approaches to emotional development (pp. 15-36). Toronto: Cambridge University Press
Keys, N., & Whiteside, G. H. (1930). The relation of nervous-emotional stability to educational achieve-ment. Journal of Educational Psychology, 21(6), 429. doi: 10.1037/h0070518
Li, Y., & Ahlstrom, D. (2016). Emotional stability: A new construct and its implications for individual behavior in organizations. Asia Pacific Journal of Management, 33(1), 1-28. doi: 10.1007/s10490-015-9423-2
Li, Y., Chun, H., Ashkanasy, N. M., & Ahlstrom, D. (2012). A multi-level study of emergent group leadership: Effects of emotional stability and group conf lict. Asia Pacific Journal of Manage-ment, 29(2), 351-366. doi: 10.1007/s10490-012-9298-4
Park, K. M., & Woo, N. H. (1997). Relationship between problem solving ability and emotional stability in preschool children. Korean Journal of Child Studies, 18(2), 267-282.
Parsons, T., & Bales, R. F. (1955). Family, socialization and interaction process. Glencoe, IL: Free Press. Rossier, J., Quartier, V., Enescu, R., & Iselin, A. (2007). Validation of the French version of the
Hierarchical Personality Inventory for Children (HiPIC). European Journal of Psychological Assessment, 23(2), 125-132. doi: 10.1016/j.paid.2010.11.026
Steffenhagen, R. A., Schmidt, F. E., & McAree, C. P. (1971). Emotional stability and student drug use. Journal of Drug Education, 1(4), 347-357. doi: 10.2190/R415-UQ4G-15YQ-HJN3
Strodtbeck, F. L., & Mann, R. D. (1956). Sex role differentiation in jury deliberations. Sociometry, 19, 3-11.Terracciano, A., Löckenhoff, C. E., Zonderman, A. B., Ferrucci, L., & Costa Jr, P. T. (2008). Personality
predictors of longevity: Activity, emotional stability, and conscientiousness. Psychosomatic medicine, 70(6), 621. doi: 10.1097/PSY.0b013e31817b9371
Van Vugt, M., De Cremer, D., & Janssen, D. P. (2007). Gender differences in cooperation and com-petition the Male-Warrior hypothesis. Psychological science, 18(1), 19-23. doi: 10.1111/j.1467-9280.2007.01842.x
Vecchione, M., Alessandri, G., Barbaranelli, C., & Caprara, G. (2012). Gender differences in the Big Five personality development: A longitudinal investigation from late adolescence to emerging adulthood. Personality and Individual Differences, 53(6), 740-746. doi: 10.1016/j.paid.2012.05.033
Normas de Colaboração / Authors Guidelines
A Revista PSYCHOLOGICA aceita artigos que, de forma geral, abordem as seguintes áreas:
• Psicologia Clínica;• Psicologia Educacional;• Psicologia do Desenvolvimento;• Psicologia do Trabalho, das Organizações e dos Recursos Humanos;• Psicologia Forense;• Psicologia Social;• Psicologia Experimental;• Psicologia da Saúde;• Avaliação Psicológica;• Psicologia do Conhecimento;• Neuropsicologia;• Psicogerontologia;• Aconselhamento Psicológico.
A PSYCHOLOGICA convida todos os profissionais envolvidos nestas áreas e em áreas relacionadas a submeter os seus artigos aos editores. Embora a atual linha editorial favoreça a publicação de artigos empíricos ou experimentais, são aceites os seguintes tipos de artigos:
• artigos relativos a investigações empíricas inéditas, com base em metodologia quantitativas e/ou qualitativas;
• artigos meta-analíticos;• artigos de revisão visando a análise crítica e atual de temas específicos da
Psicologia; • artigos sobre problemas específicos das metodologias desenvolvidas na
Psicologia.
Os artigos devem ser enviados, somente, por e-mail para: [email protected] submissões (8000 palavras por manuscrito) devem ser apresentadas em Português ou Inglês,
e de acordo com o Manual de Publicação da American Psychological Association, 6ª Edição.
Normas de Formatação
1. O manuscrito deve ser apresentado em formato Word e não deve exceder as 8000 palavras (incluindo resumos, figuras, tabelas, gráficos, notas de rodapé e referências).
2. A dimensão da folha deve ser A4 (21x29.7cm) com margens, superior, inferior e laterais de 2,54 cm.
3. O espaçamento entre linhas deve ser duplo.4. O tipo de letra utilizado deve ser Times New Roman a 12 pt. O alinhamento do
texto deve ser justificado, com avanço de 1,27 cm na primeira linha da cada parágrafo.5.1.No caso dos artigos escritos em Português: os autores devem complementar
o manuscrito introduzindo um documento autónomo onde conste o título do artigo em inglês e português, cabeçalho (‘running head ’) em português, nome, afiliação e email dos autores e endereço do autor para correspondência.
A página inicial do manuscrito deve conter em língua inglesa e portuguesa, a seguinte informação: título do manuscrito, resumo e entre 3 e 5 palavras-chave. O resumo não deve exceder as 200 palavras.
5.2 No caso dos artigos escritos em Inglês: os autores devem complementar o manuscrito introduzindo um documento autónomo onde conste o título do artigo em inglês e português, cabeçalho (‘running head ’) em inglês, nome, afiliação e email dos autores e endereço do autor para correspondência.
A página inicial do manuscrito deve conter em língua inglesa e portuguesa, a seguinte informação: título do manuscrito, resumo e entre 3 e 5 palavras-chave. O resumo não deve exceder as 200 palavras.
6. Os resumos nas duas línguas devem reportar com rigor a mesma informação e estar de acordo com as orientações referidas no Publication Manual of the American Psychological Association (APA; 2010, 6ª Ed., páginas 25 a 27).
7. As tabelas, figuras ou gráficos devem respeitar, no seu conteúdo e forma, as regras de formatação da APA (6ª ed., 2010, páginas 125 a 169) e devem ser apre-sentados no final do documento, em páginas separadas (uma página por tabela, figura, ou gráfico). A indicação do local aproximado onde devem ser colocados deve constar no texto do artigo. No entanto, por questões de paginação, o local identificado pelos autores pode ser alterado.
8. Os vocábulos estrangeiros devem ser apresentados em itálico e não entre aspas, exceto quando se trata de citações de textos.
9. Ao longo do manuscrito não deve constar qualquer informação identificativa dos autores.
10. Todas as referências das citações apresentadas no decorrer do texto devem ser apresentadas na secção “Referências”, obedecendo às Normas de Publicação da APA (6ª ed., 2010, páginas 169 a 224).
11. Na bibliografia final as referências devem incluir o doi (no final da referência) sempre que este exista. Os autores são aconselhados a rever todas as referências antes de submeterem o manuscrito. O doi apresentado deve começar por um “10” e conter o prefixo e o sufixo separados por uma barra (/). O prefixo é um número de quatro ou mais dígitos e o sufixo é o que identifica o objeto digital (associado a determinada editora). Exemplo de uma referência doi: 10.1037/a0037344
12. As referências estatísticas, incluindo a simbologia, devem ser feitas de acordo com as normas da APA (6ª ed.)
Disposições Gerais
1. Os artigos publicados são da responsabilidade dos respetivos autores.2. Apenas se aceitam trabalhos originais, não publicados anteriormente, e que
não estejam submetidos para avaliação em qualquer outra publicação científica. 3. A Revista Psychologica reserva-se o direito de não publicar os originais a
que o Conselho Editorial não atribua a qualidade adequada ou que não obedeçam às normas acima referidas. Os originais não publicados não serão devolvidos.
4. Os originais aceites para publicação ficam propriedade editorial da Revista. 5. Qualquer reprodução integral ou parcial dos mesmos apenas pode ser
efetuada após autorização escrita da Equipa Editorial.6. Os artigos publicados podem ser colocados em repositórios institucionais,
na sua versão publicada/pdf.7. A Revista Psychologica oferece um exemplar de cada volume ao 1.º autor
de cada artigo. 8. Os artigos publicados ficam disponíveis online em acesso livre, através do
endereço http://iduc.uc.pt/index.php/psychologica/issue/archive
Contacto para informações: [email protected]