Publicação da FUNDAÇÃO DE APOIO À...

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Publicação da FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA ANO I - NÚMERO 1 - DEZ'2004 e JAN/FEV'2005 03 ENTREVISTA EMERSON KAPAZ 08 EDUCAÇÃO SETORIAL E COMPETITIVIDADE NO BRASIL MARISA EBOLI 10 OS CURSOS SUPERIORES DE TECNOLOGIA, O PROFISSIONAL TECNÓLOGO E SUAS DINÂMICAS DIRCEU D’ALKMIN TELLES 16 A NOVA EDUCAÇÃO E O PAPEL DAS EMPRESAS RICARDO YOUNG 18 MERCADO DE TRABALHO: EMPREGO E DESEMPREGO NO FIM DO SÉCULO XX FRANCISCO SCARFONI FILHO E JACYRA C. MONTANARI 25 RECARGA ARTIFICIAL DE AQÜÍFEROS IVANILDO HESPANHOL 30 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO FAZ DIFERENÇA, SIM! LUIZ CARLOS MORAES REGO 32 O DESAFIO DAS ÁGUAS ANGELO ALBIERO FILHO 34 ARTE E CIÊNCIA NÃO SÃO INCOMPATÍVEIS, MAS A MÍDIA SE IMPORTA COM ISSO? ENIO SQUEFF 38 INOVAR É PRECISO, IMPROVISAR NÃO É PRECISO GUILHERME ARY PLONSKI

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Publicação da FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIAANO I - NÚMERO 1 - DEZ'2004 e JAN/FEV'2005

03 ENTREVISTA EMERSON KAPAZ

08 EDUCAÇÃO SETORIALE COMPETITIVIDADE NO BRASILMARISA EBOLI

10 OS CURSOS SUPERIORESDE TECNOLOGIA,O PROFISSIONAL TECNÓLOGOE SUAS DINÂMICASDIRCEU D’ALKMIN TELLES

16 A NOVA EDUCAÇÃOE O PAPEL DAS EMPRESASRICARDO YOUNG

18 MERCADO DE TRABALHO:EMPREGO E DESEMPREGONO FIM DO SÉCULO XXFRANCISCO SCARFONI FILHOE JACYRA C. MONTANARI

25 RECARGA ARTIFICIALDE AQÜÍFEROSIVANILDO HESPANHOL

30 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃOFAZ DIFERENÇA, SIM!LUIZ CARLOS MORAES REGO

32 O DESAFIO DAS ÁGUASANGELO ALBIERO FILHO

34 ARTE E CIÊNCIANÃO SÃO INCOMPATÍVEIS,MAS A MÍDIA SE IMPORTACOM ISSO?ENIO SQUEFF

38 INOVAR É PRECISO,IMPROVISARNÃO É PRECISOGUILHERME ARY PLONSKI

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02 DEZ'2004 e JAN/FEV'2005

Fundação de Apoio à Tecnologia – FAT foi criada em dezembro de 1987 porum grupo de professores da Faculdade de Tecnologia de São Paulo - Fatec-SP,e caracteriza-se como uma fundação de direito privado, sem fins lucrativos.

Sua criação originou-se da idéia de se ter uma entidade ágil, eficiente e eficaz quepudesse interagir e obter sinergia com o sistema produtivo, por meio do desenvolvi-mento de projetos de Educação, Pesquisa, Inovações Tecnológicas, Terceirização eDesenvolvimento Profissional, tendo em vista a difusão e a implantação de tecnologias.

Nossa filosofia de trabalho apóia-se no atendimento diferenciado de cada proje-to de assessoria, ensino, pesquisa e treinamento. A partir do conhecimento, daanálise dos problemas e das necessidades da organização, a FAT propõe, desenvolvee implanta soluções específicas para cada caso.

Por isso, é com enorme satisfação que estamos apresentando a primeiraedição da Revista da FAT.

Há algum tempo identificamos a necessidade da criação de um canal de comu-nicação com a sociedade, pelo qual pudéssemos compartilhar os conhecimentosadquiridos pela FAT ao longo desses 17 anos.

Durante esse longo período, a FAT vem se consolidando como instituição preocu-pada em cumprir com suas finalidades, buscando atingir os mais elevados níveisde excelência em suas atividades. Para isso, firmamos parcerias fortes e sólidascapazes de gerar novos conhecimentos que agreguem valor aos serviços prestados,partindo, sempre, da filosofia de que o respeito a uma instituição só é adquirido apartir do momento em que se pode corresponder aos anseios da sociedade.

Vivemos em uma época na qual a produção de informação é muito maior que anossa capacidade de absorção. A Revista da FAT visa estruturar e consolidar asinformações, de forma a facilitar o entendimento dos assuntos tratados.

Nossa proposta, com a Revista da FAT, é difundir o conhecimento adquiridoao longo desses anos, de forma a contribuir para o desenvolvimento social,econômico e tecnológico do nosso Estado e do nosso País.

A NOVA PROPOSTA DA FATCÉSAR SILVA [DIRETOR-PRESIDENTE DA FAT]

EDITORIAL

A

CÉSAR [email protected]

Diretor-presidente da FAT,professor da Fatec São Pauloe consultor na áreade gestão empresarial.

EXPEDIENTE

DIRETORIA EXECUTIVA

Diretor PresidenteProf. César Silva

Diretor AdministrativoProf. Francisco Scarfoni Filho

Diretor TécnicoProf. Luiz Roberto Vannucci

CONSELHO DE CURADORESProf. Dirceu D’Alkimin TellesProf. Francisco Antonio Pinto ÉboliProf. Almério Melquiades de Araújo Profa. Yolanda SilvestreProf. Victor SonnenbergProfa. Silvia Regina LuccaProf. Remo Alberto FevoriniProfa. Rosana Maria Siqueira

Presidente do Conselho de CuradoresProf. Kokei Uehara

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CONSELHO EDITORIALProf. Dr. Angelo Albiero FilhoProf. Dr. Claudio Felisoni de AngeloProf. Dr. Dirceu D´Alkmin TellesEnio SqueffProf. Dr. Guilherme Ary PlonskiProf. Dr. Ivanildo HespanholProf. Luiz Carlos Moraes RegoProf. Dra. Marisa EboliMarcus Vinicius SinvalRicardo YoungProf. Dr. Roberto Sbragia

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Editor/ Jornalista ResponsávelLuiz da Silva de Nogueira Mtb 15.61211 9639-6850 - [email protected]

Revisão de textos Hebe Ester Lucas

Projeto Gráfico/ Direção de Arte Ronie Prado

Editoração Eletrônica Mariângela Bueno

Fotos Júlio Hilário, Photodisc e Folha Imagem

Ilustração Enio Squeff

Fotolito, impressãoe acabamento

Tiragem 2.000 exemplares

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Revista da FAT - Publicação TRIMESTRALda Fundação de Apoio à TecnologiaAno I - Número 1 - DEZ’2004 e JAN/FEV’2005

Rua Três Rios, 131 - cj. 42 - Bom RetiroSão Paulo - SP - CEP 01123-001Telefones: (11) 3313-12003315-9511/ [email protected]

Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução doconteúdo desta revista em qualquer meio de comuni-cação, eletrônico ou impresso, sem autorização prévia.

Os conceitos emitidos em artigos assinados são deexclusiva responsabilidade dos autores.

Emerson Kapaz é engenheiro civil e tem 48 anos. No fim da década

de 1980, junto com um grupo de empresários, fundou o PNBE -

Pensamento Nacional das Bases Empresariais. Também participou da

criação da Fundação Abrinq. Foi secretário da Ciência, Tecnologia e

Desenvolvimento do Estado de São Paulo no governo Mário Covas. Em

2000, colaborou para a criação do Instituto Ethos, que incentiva as

empresas a incorporar o conceito de responsabilidade social.

Eleito deputado federal em 1998, participou ativamente da aprovação

da nova Lei das S.A.s, de projetos de lei de incentivo às micro e peque-

nas empresas, de aumento de crédito para a exportação e para tornar

mais transparente o balanço das empresas. Foi o relator da comissão

especial criada para elaborar a política nacional de resíduos sólidos.

Também lutou para garantir a aplicação do Estatuto da Criança e do

Adolescente e participou da aprovação da lei que permite que as

ONGs possam receber recursos públicos. Apresentou projeto para

assegurar aos alunos do ensino público a inscrição gratuita nos con-

cursos vestibulares de universidades federais e estaduais.

FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 03

A ÉTICA CONCORRENCIALNO SETOR EMPRESARIAL BRASILEIRO

ENTREVISTA EMERSON KAPAZ

Em entrevista inaugural da Revista da FAT, o presidente-executivo do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial -Etco fala sobre a importância do combate à concorrênciadesleal no Brasil e seus reflexos na economia.

Ele aborda também temas como a universidade, agestão de pessoas, o ensino tecnológico, o meio ambientee as PPP - Parcerias Públicas Privadas.

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desde que aprovadas de forma a não favorecerdeterminados grupos ou gerar possibilidadesde aumentar a corrupção dentro do governo.

Como conciliar o desenvolvimentoindustrial com a preservação ambiental?

Não dá para imaginar que é possívelcrescer sem preservar o meio ambiente,pois, caso contrário, o País não está crescen-do, está prejudicando gerações futuras edestruindo a sua capacidade de crescimen-to. Não consigo conceber um modelo dedesenvolvimento que não tenha como pré-condição a preservação ambiental.

Que projeções o senhor faria paraa economia brasileira nesse terceiromilênio?

O Brasil tem tudo para ser um país queocupe um espaço no cenário internacional àaltura do que merece. Temos matérias-primas, não temos problemas de raça, nemde religião, divisas internas, brigas regio-nais. Temos uma população ávida porconsumir. O que nos falta é criarcondições para esse desenvolvimento,principalmente na questão da dis-tribuição de renda, e de um planeja-mento estratégico. Quando o Brasildesatar esses nós, teremos um cresci-mento vigoroso.

Na área de processos e projetos,qual o atual estágio da indústrianacional?

A indústria nacional tem avançado muito.Tem conseguido investir estrategicamente ese adequar rapidamente às mudançassocioambientais que o Brasil provoca.Foram dezenas de planos econômicos,mudanças de moeda, juros altos, tributosaltos, e a empresa brasileira sobrevive porqueconsegue ter um planejamento estratégicopara isso, consegue se adequar rapidamente,tem uma velocidade de adaptação muitogrande. Isso transforma o empresário brasileiroem um dos mais criativos do mundo.

Como o senhor vê o desenvolvimentodos programas de responsabilidadesocial no Brasil?

Vejo muito bem. É uma área que estácrescendo e ocupando a cabeça dos em-presários, aumentando a percepção dasempresas de que responsabilidade social écondição prioritária para ser bem-aceita peloconsumidor. Hoje responsabilidade socialempresarial é uma das pré-condições parauma empresa crescer de forma vigorosa.

Qual é o modelo de balanço socialideal para as organizações brasileiras?

Não existe um modelo pronto. Não

temos ainda um formato. Isso foi discutidono Congresso, e fui inclusive relator do pro-jeto inicial sobre balanço social. Fizemosuma grande discussão e achamos que nãohavia ainda um modelo, porque balançosocial poderia ser algo obrigatório, mas nãodaria certo. O importante é a empresa se con-vencer de que essa prestação de contas faz bema ela e à sociedade. A partir daí, começa-se adefinir parâmetros, paradigmas. Existemalguns conceitos de apresentações, mas cadaempresa faz como achar melhor.

Qual a importância dos projetos devalorização profissional para o futurodas empresas?

A empresa que quiser estar bem no futuroprecisa entender que o capital humano é maisimportante que o capital fixo. Valorizaçãoprofissional é o conceito mais relevante eimportante, pois pode-se ter as máquinas maisavançadas, mas se não houver gente preparadapara operar, de nada adianta.

Na área de gestão de pessoas, o queo senhor acha da adoção pelas empre-sas de Universidades Corporativas?

É uma alternativa. Não sei se o investi-mento em recursos humanos pode chegar aponto da empresa adotar práticas deUniversidades Corporativas. O interessanteseria uma parceria de empresas com universi-dades para investimentos que possam serfeitos na melhoria de cursos. Acredito tam-bém na parceria estratégica entre universi-dade e empresa, mas existe um pouco de pre-conceito dos dois lados, tanto do empresário,que acha que a universidade sonha muito,como da universidade, que acha que o em-presário tem uma visão econômica pragmáti-ca demais. Essa aproximação seria fundamen-tal e pode ser valorizada no Brasil.

Como o marketing e a comunicaçãosocial podem melhorar o desempenhoe a rentabilidade das organizações em-presariais?

São instrumentos poderosíssimos dedesempenho profissional empresarial. Omarketing é uma alavanca de conhecimen-tos da empresa, dos produtos que ela faz.

Não dá para imaginar uma empresa quetenha bons produtos sem um bom marketing.E a comunicação deve ser integrada. Nãodeve ser feita só para fora da empresa, comopara dentro também, com os seus fun-cionários, com o que acontece dentro daempresa no seu dia-a-dia.

Qual é a sua análise das universi-dades públicas do País? Como demo-cratizar o acesso de pessoas carentesem seus cursos superiores?

Temos o melhor exemplo do que é umaboa universidade pública, apesar das difi-culdades. A USP, a Unicamp e a Unesp sãouniversidades exemplares do ponto de vistade autonomia, do repasse que o governovem fazendo constantemente a elas. Essaautonomia universitária está servindo deexemplo para a administração das universi-

dades federais. O que falta é uma per-cepção melhor do que pode significar auniversidade pública e quanto temosque direcionar a ela e ao ensino deprimeiro e segundo graus. É preciso terum ensino médio qualificado, de altíssi-mo nível, melhor do que o privado, parademocratizar o acesso às universidadespúblicas, que são de muita boa quali-dade no Brasil.

Como as instituições privadasde ensino poderiam atuar em caráterfilantrópico para permitir o acesso de pes-soas carentes em seus cursos superiores?

Dedicando uma parcela das vagas a pes-soas que têm um nível baixo de renda com-provado. Seria uma possibilidade, mas éuma discussão que precisa ser aprofundada.E voltando à questão anterior, deve-se terum adequado nível de preparação dessesalunos no ensino médio.

Como a tecnologia pode ser usadapara melhorar a qualidade de vida dosbrasileiros?

A tecnologia é um instrumento pode-rosíssimo de melhoria de qualidade de vida,desde que tenhamos em mente que ela éum instrumento, e não um fim em si mesmo.A tecnologia tem de estar a serviço daqualidade de vida e do ser humano.

Por [email protected]

FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 0504 DEZ'2004 e JAN/FEV'2005

Para situar nossos leitores, quais são osseus projetos atuais?

A minha vontade maior é continuar otrabalho que venho fazendo na sociedadecivil organizada, que é o de fortalecimentoda concorrência leal no Brasil, por meio doInstituto Brasileiro de Ética Concorrencial– Etco, ou seja, continuar nessa ONG, quefoi criada em janeiro de 2003, e fazer o tra-balho institucional em defesa da concor-rência. Um dos maiores problemas que oBrasil enfrenta hoje é a concorrênciadesleal, e o trabalho do Instituto vemsendo muito importante para a retomadado crescimento sustentado no Brasil.

Quais são os objetivos do Etco e comose dá a sua participação na gestãoda entidade?

Fui convidado para ser presidente-execu-tivo do Etco e nosso principal objetivo é ocombate à concorrência desleal, que abreeixos em sonegação, contrabando e falsifi-cação. Esses eixos nos levam a um trabalhoinstitucional voltado para a parceria comgovernos estaduais, federais, com o legisla-tivo e com o judiciário. Buscamos comba-ter a concorrência desleal por meio do quechamamos de desvios concorrenciais tri-butários, que são feitos para favorecerempresas a ter preços menores ilegalmente.

Quais são as estratégias da direçãodo Etco para ampliar e difundir o con-ceito de ética no País?

Num primeiro momento, é importantemarcar muito bem a posição do que é éticaconcorrencial, ou seja, a disputa entreempresas de um mesmo mercado de formaética, pagando seus tributos, suas con-tribuições. Num segundo momento estásendo ampliado um conceito de discussãoda questão da ética em si, porque a éticaconcorrencial implica também que asempresas não cedam à tentação de acharque é fácil ganhar a concorrência de umaoutra empresa, não pagando imposto ou

não registrando funcionários. Esse é o ca-minho fácil. O caminho difícil é mudar osistema tributário, é reduzir o número detaxas, é trazer para a formalidade empresasinformais. O Instituto tem como parceirosempresas brasileiras dos setores de com-bustíveis, cigarros, cervejas e refrigerantes.Estamos abrindo a possibilidade de partici-pação de empresas de outros segmentos,e é a partir desse instante que o trabalhocomeça a ganhar densidade.

Quais são as ações de destaque que oEtco está desenvolvendo com resulta-dos imediatos?

Nos setores de cervejas e refrigerantes, jáconseguimos uma mudança conceitual e deprática importante, que é a implantação dosmedidores de vazão para controle fiscal. Em2005, será iniciado o trabalho no setor decervejas; a partir daí, vamos tentar passar parao setor de refrigerantes. No caso dos com-bustíveis, foi muito forte a diminuição deliminares na distribuição do produto, queeram dadas para as distribuidoras fantasmas,ou laranjas, para não pagarem tributos. Emum trabalho com os juízes, conseguimosresolver isso e hoje não há mais nenhumaliminar em Cide tramitando no judiciário.Para o setor de cigarros, um efeito significa-tivo foi a prisão de Roberto Eleutério, co-nhecido como Lobão. Ele já está, inclusive,com sentença de prisão decretada. Alémdisso, outros trabalhos têm sido feitos. Omais importante deles é a criação doConselho de Combate à Pirataria e Defesa daPropriedade Intelectual, que começa a vigo-rar em novembro. É um marco na virada docombate à pirataria.

No quesito parceria, como as empre-sas/entidades podem interagir com o Etco?

As empresas em geral podem procurar oInstituto, seja para uma orientação de comofazer o seu trabalho, para uma aproximaçãoconcreta ou por meio de entidades de classe.Às vezes a empresa não quer se associar, masprovoca uma discussão dentro da sua enti-dade de classe, e esse órgão nos procura. Énesse momento que a empresa se aproximado Etco, inclusive para atuar no ConselhoNacional de Combate à Ilegalidade.

Que outras informações sobre asatividades do Etco o senhor poderia nosrelatar?

As pessoas que quiserem conhecer melhoro Instituto podem acessar o nosso site,que tem informações relevantes e quesão atualizadas diariamente. O endereçoeletrônico é www.etco.org.br.

Qual a importância do ensino tec-nológico para o desenvolvimento daeconomia do País?

Hoje a competição exige uma mão-de-obra qualificada, e existem trabalhadoresque não conseguem atingir um nível degraduação, ou precisam ter uma qualifi-cação para poder estar atentos às demandasde mercado. O ensino técnico sempre foicolocado como uma das prioridades noEstado de São Paulo, ou seja, preparar bem,treinar, qualificar a mão-de-obra, principal-mente por meio do ensino técnico. Hojeas empresas precisam cada vez mais dessetipo de qualificação, que é perfeita para asdemandas dessa competição no futuro.

Quais são as maiores dificuldadesque o Brasil enfrenta atualmente noscenários nacional e internacional?

No cenário nacional, é a nossa grandedívida interna, que provoca uma perma-nente necessidade de superávits fiscaisaltos. Em segundo lugar está a estruturatributária brasileira. Temos uma estruturade cobrança de tributos completamentefora de sintonia com os outros países domundo. O Brasil carece também de umplanejamento estratégico de médio e longoprazo. Precisaríamos ter um projetonacional construído com a sociedade civilorganizada. Ele iria definir a política indus-trial, tecnológica, científica e de financia-mento. Isso começaria a embasar a retoma-da sustentada do desenvolvimento. Outroproblema é a distribuição de renda. Nossomaior drama é ver a chaga social do Brasil,essa dificuldade de crescer e distribuirrenda ao mesmo tempo e, mais importanteainda, distribuir renda para poder crescer eincorporar milhões de pessoas que nãorecebem o suficiente para se alimentar.

Na sua opinião, a reeleição deGeorge W. Bush trará que tipo de con-seqüências para a economia brasileira?

Em um primeiro momento, nenhumaconseqüência mais trágica ou complicada.Talvez a médio prazo possa provocar danosao País, caso ele continue com essa visãointervencionista e militarista em algumasnações. Isso pode provocar uma crise inter-nacional, e a conseqüência para o Brasilpoderá ser muito séria, pois dependemos dofluxo de capital estrangeiro.

O que o senhor acha das PPP -Parcerias Públicas Privadas? Qual é obenefício que podem trazer para a áreade infra-estrutura do País?

O projeto das PPPs pode significar umavanço de investimentos em infra-estruturano Brasil. As PPPs seriam muito eficientes,

ENTREVISTA EMERSON KAPAZ

Nosso principalobjetivo é o combate à

concorrência desleal,que abre eixosem sonegação,

contrabandoe falsificação

ENTREVISTA EMERSON KAPAZ

Acredito naparceria estratégicaentre universidade

e empresa, masexiste um poucode preconceito dos dois lados

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06 DEZ'2004 e JAN/FEV'2005

Em 1347 a Europa foi vitimada pela pestebubônica. Em apenas um ano sucumbiram,vítimas da doença, nada menos que dois terçosda população européia. Os marinheiros vindosda Ásia contraíram a doença e a propaga-ram rapidamente em razão das péssimascondições de higiene do fim da Idade Médiae à enorme concentração de pessoas existentenas cidades do velho continente.

Trata-se, sem dúvida, de um episódiodramático e único na história. Depois decausar um número de mortes sem prece-dentes, a doença praticamente desapareceu:repentinamente, do mesmo modo que haviasurgido. Ela voltaria a atacar, mas não maiscom a mesma força letal.

Este fato incrível nos deixa ainda hoje estu-pefatos. Imaginem as reações das pessoas noséculo XIV. Muitas hipóteses foram levan-tadas. Os sábios franceses acreditavam que adoença era provocada pelos terremotos queestavam abalando territórios no ExtremoOriente. Outros atribuíam a causas aindamais vagas, para não falar daqueles que jul-gavam tratar-se de uma punição divina.

Deixa-nos também perplexos o tempodecorrido para que se descobrisse o mecanis-mo de transmissão da doença: nada menosque 500 anos! Somente em meados do sécu-lo XIX é que se conseguiu enfim saberexatamente o que havia de fato ocorridonaquele fatídico ano de 1347.

Essas considerações suscitam um paralelo.Infelizmente a Aids ainda mata. Entretanto,diferentemente do que ocorreu com a pestebubônica, ao surgirem os primeiros casosdescritos com a mesma sintomatologia, nofim da década de 1970, foram necessáriosapenas cinco anos para que o vírus fosse per-feitamente identificado.

A exemplo desses dois fatos no campo damedicina, seria possível listar muitas outrassituações igualmente emblemáticas. Taisdiferenças devem ser entendidas obviamentecomo resultantes diretas do desenvolvimen-to científico, particularmente o ocorrido nosdois últimos séculos.

Tal expansão se explica, em boa parte, pelavelocidade das comunicações. Ciência, e,

conseqüentemente, desenvolvimento tec-nológico, requerem geração e compar-tilhamento contínuo de informações.Gradativamente, graças ao progresso técnico,da simples estrada até a sofisticada comuni-cação eletrônica, vem se construindo, ao longodos anos, a aldeia global em que vivemos.

Esse desenvolvimento tecnológico quenos torna vizinhos globais evidentementeproduz extensos efeitos políticos e econômi-cos. Em termos políticos, um exemplo porcerto ilustraria essas mudanças. A guerra doIraque poderia se manter pelo mesmo tempoque se estendeu a do Vietnã? Muitoprovavelmente não. Qual o presidente ame-ricano que suportaria a pressão dos seuseleitores vendo (on-line) seus filhos sendomortos nos campos de batalha de um paíslongínquo?

Na área econômica, diversas são asdimensões do impacto do desenvolvimentocientífico e tecnológico. Fiquemos apenascom uma: a tendência à padronização. Ascomunicações mais rápidas têm aproxima-do padrões de comportamento de consumoentre diferentes culturas. O desenvol-vimento tecnológico tem imposto, porexemplo, uma forma particular de desenhodos automóveis. Por questões de aero-dinâmica, todos os veículos têm assumidouma forma de cunha. Os aparelhos de TV,por sua vez, não apenas se assemelham, sãopraticamente iguais. Isso não ocorre apenasno caso de produtos– os serviços seguema mesma trajetória.Se trocarmos asplacas de identifi-cação de um super-mercado pelo de seuconcorrente, seriadifícil que um con-sumidor percebessesignificativas dife-renças operacionaisque revelariam talmudança. O mesmoocorre com muitosoutros serviços.

O TEMPO NÃO APENAS NÃO PÁRA:

ACELERAPor CLAUDIO FELISONI DE ANGELO [FEA-USP]

A conseqüência desse fenômeno é umadificuldade crescente das empresas em pro-mover a diferenciação, tendo como resul-tante uma intensificação da competição. Asobrevivência torna-se muito mais compli-cada. Neste cenário, onde tudo se transfor-ma velozmente, a pré-condição para seguiradiante é buscar ampliar a dotação do recur-so produtivo mais valioso: a informação. Épreciso, não há dúvida, investir em equipa-mentos, instalações e sistemas. Entretanto, omais importante é o capital humano. Ocapital humano é o resultado dos investi-mentos em educação. O posicionamentocompetitivo depende de forma crescente dacapacidade das pessoas em levantar, sele-cionar e analisar informações. A perenidadejamais foi um atributo inquestionável domundo dos negócios: as organizações tam-bém desaparecem. No passado remoto, asleis de mercado operavam em outro ritmo:de 500 em 500 anos. Hoje, por certo, umqüinqüênio representa uma eternidade.

Lição de Anatomia do Dr. Nicolaes Tulp, 1632Rembrandt van Rijn,1632-1696Óleo sobre tela, 169.5 x 216.5 cmThe Hague, Mauritshuis

FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 07

CLAUDIO FELISONI DE [email protected]

Prof. Titular da FEA-USP.Coordenador Geral do Provar - Programade Administração de Varejo FundaçãoInstituto de Administração.

ÍNDICE

Publicação da FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIAANO I - NÚMERO 1 - DEZ'2004 e JAN/FEV'2005

02 EDITORIAL CÉSAR SILVA, diretor-presidente da FAT

03 ENTREVISTA EMERSON KAPAZ

07 O TEMPO NÃO APENAS NÃO PÁRA: ACELERACLAUDIO FELISONI DE ANGELO

08 EDUCAÇÃO SETORIAL E COMPETITIVIDADE NO BRASILMARISA EBOLI

10 OS CURSOS SUPERIORES DE TECNOLOGIA,O PROFISSIONAL TECNÓLOGO E SUAS DINÂMICASDIRCEU D’ALKMIN TELLES

15 ARGUMENTO OU INSTRUMENTO?MARCUS VINICIUS SINVAL

16 A NOVA EDUCAÇÃO E O PAPEL DAS EMPRESASRICARDO YOUNG

18 MERCADO DE TRABALHO: EMPREGO E DESEMPREGONO FIM DO SÉCULO XXFRANCISCO SCARFONI FILHO E JACYRA C. MONTANARI

25 RECARGA ARTIFICIAL DE AQÜÍFEROSIVANILDO HESPANHOL

30 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO FAZ DIFERENÇA, SIM!LUIZ CARLOS MORAES REGO

32 O DESAFIO DAS ÁGUASANGELO ALBIERO FILHO

34 ARTE E CIÊNCIA NÃO SÃO INCOMPATÍVEIS,MAS A MÍDIA SE IMPORTA COM ISSO?ENIO SQUEFF

36 AGENDAALTEC 2005 - XI SEMINARIO DE GESTIÓN TECNOLÓGICA

37 LEITURA RECOMENDADALANÇAMENTO DE LIVRO SOBRE AS RECENTESTRANSFORMAÇÕES NA EDUCAÇÃO

38 INOVAR É PRECISO, IMPROVISAR NÃO É PRECISOGUILHERME ARY PLONSKI

NOSSA CAPAObra do artista plástico Enio Squeff

“Vésperas Paulistanas”, 2002óleo, aquarela e carvão sobre tela,

100 x 70 cm

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Essa transformação renovou e deu maisqualidade ao debate sobre a necessidade de oBrasil adotar ou não uma política industrial.Uma das propostas mais inovadoras e aomesmo tempo polêmicas foi a de que a melhorpolítica industrial que o país pode adotar éinvestir os parcos recursos públicos em edu-cação, em vez de subsidiar setores industriais.

No Brasil, presenciamos um movimento,talvez sem precedentes na nossa história, nosentido de qualificar os trabalhadores para ele-var o patamar de competitividade do país.

No intuito de criar uma alternativa de altaqualidade, elevada flexibilidade, focada nasnecessidades dos diversos setores produtivos ede custo acessível aos interessados, surgiu aidéia de desenvolver projetos de educação seto-rial, dos quais participam, em consórcio,empresas, universidades e outras entidades deensino. Essa visão completa-se com um traba-lho de educação continuada que possa, inclu-sive, contemplar a presença de competidoresem um mesmo processo de capacitação.

Tais projetos fundamentam-se no conceitoampliado de Educação Corporativa ouUniversidade Corporativa (UC), para atender adiversas empresas de um mesmo setor produ-tivo, o que lhes confere uma condição deUniversidade Setorial. Valem basicamente osmesmos conceitos aplicados às UCs, só que ofoco não é uma empresa e sim um conjunto deempresas. Essas iniciativas têm se reveladouma peculiaridade e uma forte tendência darealidade brasileira em termos de UCs.

Uma vez que formar continuamente umempregado é uma tarefa complexa, audaciosa eonerosa, é normal que as micro e pequenasempresas (MPEs) tenham mais restrições edificuldades para conceber e implantar proje-tos eficazes de educação permanente. Noentanto, não se pode desconsiderar o forteimpacto das MPEs na economia brasileira.Segundo Silvano Gianni, diretor-presidente doSebrae, aproximadamente 65% da PEA(População Economicamente Ativa) está nasmicro e pequenas empresas.

Para equacionar esse problema, tem-seobservado um movimento crescente no Brasilde experiências bem-sucedidas de projetos deeducação para setores de atividades específicos,ou para determinadas categorias profissionais.Devido à sua escala, as Universidades Setoriais

podem viabilizar propostas de educação con-tinuada hoje praticamente inacessíveis paramuitas empresas desse porte.

São associações, sindicatos ou organizaçõesnão-governamentais que estão realizandoprofícuas e revitalizadoras parcerias, muitasvezes envolvendo algumas universidades,institutos técnicos ou de ensino superior. Oobjetivo é formar profissionais com o perfil decompetências exigido pelo setor, e tambémpromover a Gestão do Conhecimento Setorialmediante a realização de pesquisas e prestaçãode serviços.

Essas novas parcerias estão ativamenteenvolvidas em garantir que as necessidades decapacitação da força de trabalho sejam atendi-das, por meio da criação de programas conjun-tos de educação, e desenvolvam-se assim ascompetências necessárias para o sucesso numadeterminada indústria ou setor produtivo.

Algumas experiências no Brasil são:Educação Corporativa do Senac-SP; RedeEstratégica das UCs, criada pela ConfederaçãoNacional das Indústrias; UniSesi -Universidade Virtual do Sesi; UniversidadeAbrange, da Associação Brasileira de Medicinaem Grupo; Universidade Corporativa daIndústria da Paraíba – Ucip; Universidade deAlimentos – UAL; Universidade Secovi, doSindicato das Empresas de Compra, Venda,Locação e Administração de ImóveisResidenciais e Comerciais de São Pauloe Usen - Universidade Sebrae de Negócio,em Porto Alegre.

Resumidamente, podemos dizer que essasexperiências têm como objetivos comuns:

• Desenvolver competências críticas paraaumentar o padrão de desempenho do setorde atividade.

• Tornar-se um pólo de irradiação deconhecimentos e formação de profissionaispara o setor.

• Propagar crenças e valores do setor deatividade (cultura setorial) e do seu ambi-ente dos negócios.

• Formar categorias de profissionais compe-tentes para gerar o sucesso do setor e dasempresas componentes de toda a sua cadeiaprodutiva.

• Aumentar o valor de mercado das catego-rias profissionais envolvidas.

Desenvolver uma estrutura de rede de edu-

cação, por meio de uma associação ou sindica-to empresarial de um determinado setor pro-dutivo, voltada a disponibilizar conhecimen-tos de interesse das empresas congregadas,com certeza ajuda a promover a capacitação eo aperfeiçoamento de suas categorias profis-sionais.

Essas redes de educação, de modo geral, seinserem no contexto da ação principal da enti-dade, fornecendo meios para apoiar os esforçosde melhoria da competitividade das empresasassociadas e de seus respectivos setores produ-tivos.

Nesse sentido, pode-se dizer que essessistemas de Educação Empresarial geramum impacto positivo na competitividadedas empresas, dos setores produtivos e, con-seqüentemente, do país.

Penso que estas reflexões iniciais, além deconstituírem uma contribuição importantepara o entendimento sobre os desafios eperspectivas que se colocam para a capaci-tação empresarial, também interessam a todosque lutam por um sistema nacional de edu-cação de qualidade. Exige-se, no entanto, quetodos os atores sociais envolvidos participemdesse processo e que se integrem os esforçosnas esferas pública e privada para a formulaçãode políticas e práticas educacionais integradas,eficazes e competitivas.

FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 09

EDUCAÇÃO SETORIALE COMPETITIVIDADENO BRASIL Por MARISA EBOLI [FEA-USP]

MARISA [email protected]

Doutora em Administração pela Faculdade de Economia,Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo(FEA-USP), onde ministra a disciplina Educação Corporativa: Da Prática à Teoria nos cursos de pós-graduação (mestradoe doutorado). Autora do livro Educação Corporativa no Brasil:Mitos e Verdades, publicado pela Editora Gente em 2004.Atua como palestrante e consultora de empresas.

O desenvolvimento econômico e empresarial de um país há muito deixou de se basearna produção e exportação de produtos primários e intermediários, de baixo valor agrega-do, para se apoiar, cada vez mais, na capacidade de as empresas desenvolverem soluçõesoriginais. Este novo cenário envolve a geração e sustentação de instituições, empresas eindivíduos, capazes de transformar o conhecimento existente em negócios e, conseqüen-temente, em crescimento econômico e social.

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com predominância de uma delas. Esse tipo de curso é autorizadopelo Ministério da Educação (MEC) e, assim como os bachareladose licenciaturas, confere diplomas de graduação, possibilitando acontinuidade dos estudos em pós-graduação (lato e stricto sensu).

Atualmente são classificados em 20 áreas profissionais definidasna legislação: Agropecuária, Artes, Comércio, Comunicação,Construção Civil, Design, Geomática, Gestão, Imagem Pessoal,Indústria, Informática, Lazer e Desenvolvimento Social, MeioAmbiente, Mineração, Química, Recursos Pesqueiros, Saúde,Telecomunicações, Turismo e Hospitalidade e Transportes. Essescursos atendem sempre às necessidades específicas das empresas e,por isso, vêm conquistando cada vez mais espaço no mercado.

Os atuais cursos superiores de tecnologia se distribuem na redepública federal pelos CEFETs – Centros Federais de EducaçãoTecnológica, ligada diretamente ao MEC, na rede pública doEstado de São Paulo, na qual as FATECs - Faculdades deTecnologia são mantidas pelo CEETEPS – Centro Estadual deEducação Tecnológica Paula Souza, e pela extensa rede privadaque atravessa uma fase de grande expansão.

A Figura 1 ilustra a comparação entre os cursos superiores detecnologia e os de engenharia, envolvendo disciplinas e níveis.

FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 1110 DEZ'2004 e JAN/FEV'2005

OS CURSOS SUPERIORES DEO PROFISSIONAL

TECNOLOGIA,TECNÓLOGOE SUAS DINÂMICAS

Por DIRCEU D’ALKMIN TELLES [FATEC - SP]

Pesquisas realizadas pelo Instituto Nacional de Estudos e PesquisasEducacionais (Inep), vinculado ao MEC, apontaram o crescimentode 74,7% dos CST - Cursos Superiores de Tecnologia (conhecidoscomo cursos profissionalizantes de nível superior ou cursos deEducação Profissional Tecnológica). No período de 2000 a 2002, essecrescimento superou a expansão dos cursos convencionais degraduação, que registrou um aumento de 36%. Os cursos superiores detecnologia passaram de 364 (2000) para 636 (2002) no País. Nessecontexto, as instituições particulares de ensino superior responde-ram por 66% desses novos cursos.

O engenheiro de telecomunicaçõesMauro Sebastiany, gerente de projetos

na Tellabs do Brasil.

(São Paulo, SP, 22/04/2002.Foto: Fernando Santos/ Folha Imagem)

Dados parciais de 2004, fornecidos pela Secretaria de EducaçãoProfissional e Tecnológica (SETEC), do Ministério da Educação, con-firmam a continuidade desse crescimento, como mostra o Quadro 1.

1. Os cursos superiores de tecnologiaA formação dita tecnológica não é inovação brasileira; muito

pelo contrário, a criação dos cursos superiores de tecnologiabaseou-se nos cursos similares consagrados na Alemanha e emoutros exemplos internacionais, como os College of AdvancedTechnology, da Inglaterra, os Junior College, dos Estados Unidos,os Institutes Universitaires de Technology, da França e os TankiDaigaku, do Japão. Há notícias de que cursos tecnológicos se ini-ciaram no Brasil no princípio do século XX.

Conceitualmente, os cursos superiores em tecnologia são cursosde graduação concebidos e desenvolvidos para atender aos seg-mentos atuais e emergentes das diversas atividades produtivas(industrial, construção e de serviços), tendo em vista a constanteevolução tecnológica, e com elas compromissados. Devem ter cur-rículos flexíveis, compostos por disciplinas básicas e humanísti-cas, de apoio tecnológico e de formação específica voltados à apli-cação prática, com aberturas para o desenvolvimento da pesquisaaplicada. Conduzem ao diploma de Tecnólogo.

O ensino deve ser apoiado em projetos reais, estudo de casos eem laboratórios/oficinas específicos aparelhados para reproduzir ascondições do ambiente profissional. Exige uma variedade dedocentes, desde os que se dediquem integralmente ao ensino,como também os que se voltem às pesquisas e, preponderante-mente, os especialistas.

Os CST são abertos a candidatos que tenham concluído o ensi-no médio ou equivalente, abrangendo os diversos setores da econo-mia. Os graduados nesses cursos são profissionais de nível superior,especializados em segmentos de uma ou mais áreas profissionais,

ANO Novos CST Autorizados (*)

2001 432002 1062003 1132004 (Parcial) 102

Quadro 1 – Expansãodos cursos superioresde tecnologiaautorizados pela SETEC

Fonte: MEC (*) Não incluídos oscursos mantidos por universidadesestaduais e particulares.

A LDB (Lei 9.394, de 20.12.1996), legislação complementar,pareceres e as novas tendências nacionais para a educação estãoprovocando uma incontrolável agitação nas organizações dos cur-sos superiores de tecnologia e na profissão de tecnólogo.

DISCIPLINAS

NÍVEIS

NÍVE

IS

CURSOS DE ENGENHARIA

CURSOS DE TECNOLOGIA

ESPECÍFICOE

PRÁTICO

PROFISSIONAIS

BÁSICO INCLUSIVEHUMANÍSTICO

2. O profissional tecnólogoDe acordo com o Conselho Nacional de Educação, o tecnólogo

deve estar apto a desenvolver, de forma plena e inovadora, ativi-dades em uma determinada área profissional, devendo ter for-mação específica para a aplicação, o desenvolvimento, a pesquisa ea inovação tecnológica, podendo atuar junto à gestão de processosde produção de bens e serviços e ao desenvolvimento da capaci-dade empreendedora.

O tecnólogo pode atuar desde a criação até o domínio, aabsorção e a difusão dos conhecimentos, atingindo o pleno atendi-mento das necessidades estabelecidas. Trata-se de um profissionalcapaz de oferecer soluções criativas e de participar de equipeshabilitadas na concepção e no desenvolvimento de soluções. Ainterdisciplinaridade em sua formação e a polivalência em suaatuação facilitam a inserção em equipes produtivas de trabalho. Otecnólogo é o agente capaz de colocar a ciência e a tecnologia aserviço da sociedade, no atendimento de suas necessidades; é umprofissional emergente no ambiente competitivo, apto a implan-tar e administrar sua própria empresa.

Nas circunstâncias atuais e projetadas, o tecnólogo é visto comoo profissional que busca sistematicamente ampliar seus conheci-mentos, suas habilidades e suas aptidões, não só no âmbito

Figura 1 - Comparação entre os CST e o curso de engenharia comreferência a disciplinas e níveis.

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FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 13

Está prevista para 2005, pelo Centro Paula Souza, a abertura de3 (três) novas unidades, uma na zona sul da capital, outra emCarapicuíba e outra em São Bernardo do Campo.

4. Os CST, a LDB de 1996e os Decretos 2208/1997 e 5154/2004

A Lei Federal nº 9.394, de 20/12/1996 (LDB) estabeleceu asdiretrizes e bases da educação no Brasil. Em seu Título V, defineos níveis e as modalidades de educação e ensino. Neste título, emseu Capítulo I – Composição dos níveis escolares, determina:

“Artigo 21 – A educação escolar compõe-se de:I – educação básica, formada pela educação infantil, ensino

fundamental e ensino médio.II – educação superior.”

Aparentemente excluída da educação escolar, a educação profis-sional está enfocada no Artigo 39:

“A educação profissional, integrada às diferentes formas de edu-cação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia, conduz ao permanentedesenvolvimento de aptidões para a vida produtiva.”

São Paulo 10 880Sorocaba 4 240Jaú 4 160Baixada Santista 3 200Zona Leste 2 120Americana 2 120Taquaritinga 2 160Botucatu 2 80Guaratinguetá 1 40Indaiatuba 1 40Mauá 1 80Jundiaí 1 80Praia Grande 1 80Garça 1 80Mococa 1 80São José do Rio Preto 1 80Ourinhos (*) 200

(*) A FATEC-Ourinhos oferece 200 vagas anuais garantidas para cursar apenas os 2 (dois) primeiros semestres.

Número decursos

Número devagas porsemestreFaculdades de Tecnologia de

O parágrafo primeiro deste artigo estabelece: “o aluno matri-culado ou egresso do ensino fundamental, médio e superior, bemcomo o trabalhador em geral, jovem ou adulto, contará com a pos-sibilidade de aptidões para a vida produtiva”.

Só em 17/04/1997, por meio do Decreto 2208, é regulamenta-da a educação profissional referida no Artigo 39 da LDB de 1996.

Esse decreto estabelece:“Artigo 1º - A educação profissional tem por objetivos:

II – proporcionar a formação de profissionais aptos aexercerem atividades específicas no trabalho, com escolaridadescorrespondentes aos níveis médio, superior e de pós-graduação.”

Ainda o Decreto 2208, agora no seu Artigo 3º, define que aeducação profissional compreende os níveis básico e técnico.

Por outro lado, esse mesmo decreto, em seu Artigo 10,esclarece:

“Os cursos de nível superior, correspondentes à educação profis-sional de nível tecnológico, deverão ser estruturados para desen-volver os diversos setores da economia, abrangendo áreas especia-lizadas, e conferirão o diploma de Tecnólogo.” (grifo nosso)

O Decreto 5154, de 23/07/2004, que revoga o Decreto2208/97, reforma a regulamentação do Artigo 39 da LDB(Educação Profissional) e estabelece:

“Artigo 1º - A educação profissional, prevista no art. 39 da Leinº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Basesda Educação Nacional), observadas as diretrizes curricularesnacionais definidas pelo Conselho Nacional de Educação, serádesenvolvida por meio de cursos e programas de:

I - formação inicial e continuada de trabalhadores;II - educação profissional técnica de nível médio; eIII - educação profissional tecnológica de

graduação e de pós-graduação.Artigo 5º - Os cursos de educação profissional tecnológica de

graduação e pós-graduação organizar-se-ão, no que concerne aosobjetivos, características e duração, de acordo com as diretrizes cur-riculares nacionais definidas pelo Conselho Nacional de Educação.

Artigo 6º - Os cursos e programas de educação profissional téc-nica de nível médio e os cursos de educação profissional tecnoló-gica de graduação, quando estruturados e organizados em etapascom terminalidade, incluirão saídas intermediárias, que possibi-litarão a obtenção de certificados de qualificação para o trabalhoapós sua conclusão com aproveitamento.

§1º - Para fins do disposto no caput, considera-se etapa comterminalidade a conclusão intermediária de cursos de educaçãoprofissional técnica de nível médio ou de cursos de educação profis-sional tecnológica de graduação que caracterize uma qualificaçãopara o trabalho, claramente definida e com identidade própria.

§2º - As etapas com terminalidade deverão estar articuladasentre si, compondo os itinerários formativos e os respectivos per-fis profissionais de conclusão.

Artigo 7º - Os cursos de educação profissional técnica de nívelmédio e os cursos de educação profissional tecnológica de gradua-ção conduzem à diplomação após sua conclusão com aproveita-mento.” (grifos nossos).

5. Novas concepções e aspectos legaisrelativos aos CST

No início da década de 1990, principalmente após a LDB de1996, novas concepções e aspectos legais surgiram no âmbito daeducação envolvendo os CST. O Quadro 4 resume os principaisdestaques dessa desordenada situação que envolve profundosinteresses econômicos e sociais.

Quadro 3 - Faculdades de tecnologia do sistema CEETEPS, número decursos e vagas.

A rede de FATECs,que até 2002 contava9 (nove) unidades, foiexpandida pelo CEETEPS,contando atualmente 17(dezessete) unidades dis-tribuídas pelo Estado deSão Paulo, como mostrao Quadro 3.

Fachada do prédioda Fatec-SP[Faculdade de Tecnologia].(São Paulo, SP, 05/05/1998.Foto: Cleo Velleda/ Folha Imagem)

tecnológico, como no humanístico (comunicações e relaçõeshumanas), a fim de contribuir para o desenvolvimento holístico dasociedade em harmonia com o ambiente. Para tanto, ciência e tec-nologia constituem embasamentos que esse profissional utilizapara a concepção e desenvolvimento de produtos, processos emateriais, objetivando uma aplicação econômica e comprometidacom o bem-estar social e do ambiente.

A Figura 2 mostra o posicionamento do profissional tecnólogona educação superior em relação à graduação, à pós-graduação e aotipo de diplomação.

Conquistar o diploma de graduação em um tempo menor eainda ter mais chances de obter emprego são os principais atra-tivos para quem opta por um curso superior de tecnologia, ougraduações profissionalizantes, como também são conhecidos.Muitos afirmam que, por serem cursos mais direcionados e commaior teor prático, a absorção de seus profissionais por parte dasempresas é muito grande.

O fato é que o número de cursos superiores profissionalizantesvem crescendo cada vez mais e estes começam a ganhar cada vezmais adeptos.

O CEETEPS, por meio do seu sistema de AcompanhamentoInstitucional de Egressos, verificava a empregabilidade de seus tecnó-logos um ano após a graduação. No Quadro 2 verifica-se que, ao longodo período pesquisado, de 2000 a 2002, o número de trabalhadores,entre os egressos, aumenta após um ano de formatura, contrariandoos demais índices em acentuada queda, no período em que o Paísregistrou momentos difíceis no seu contexto econômico.

3. Os cursos de tecnologia do CEETEPSOs cursos superiores de tecnologia ministrados nas FATECs do

Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza, que atuano Estado de São Paulo, têm uma carga horária média de 2.700horas, com duração de 3 ou 4 anos. Com exceção dos cursos daFATEC de Ourinhos, não são modulares e não fornecem certifi-cações intermediárias.

As faculdades de tecnologia que o CEETEPS mantém têmorigem em 1968 por uma Resolução do Governo do Estado de SãoPaulo, criando um grupo de trabalho com o objetivo de “estudara viabilidade de implantação gradativa de uma rede de cursossuperiores de tecnologia”. Foram criadas as FATECs de São Pauloe de Sorocaba. A aula inaugural foi proferida em fevereiro de 1970pelo governador do Estado.

12 DEZ'2004 e JAN/FEV'2005

GRADUAÇÃO

Bach

arel

ado

Tecn

ólog

o

Lice

ncia

tura

Curt

a

Lice

ncia

tura

Plen

a

Outr

os T

ítulo

s

PÓS-GRADUAÇÃO

Certificados

Diplomas

Stricto Sensu

MestradoMestradoProfissional

Doutorado Especialização

MestreMestre Doutor Especialista

Latu Sensu

FormaçãoEspecífica

Cursos sequenciaisde complementação

de Estudos

FormaçãoEspecífica

Complementaçãode Estudos Extensão

EXTENSÃOSEQUÊNCIAIS

Figura 2 - Cursos,diplomas e certificadosna educação superior.

Fonte: Cadernos do MEC (adaptado).

Quadro 2 – Resultados das pesquisas de egressos de cursos superioresde graduação em tecnologia do CEETEPS Fonte: SAIE/ CEETEPS.

2000 1999 254 43.8 81% 87%2001 2000 210 29,9 82% 87%2002 2001 216 35,1 85% 88%

Ano dePesquisa

Ano deFormatura

NúmeroPesquisado

% sobre oNúmero deConcluintes Cadastro 1 ano depois

Estavam trabalhando

Estudantes de informática durante aula na Fatec de Mauá (SP).(Mauá, SP, 15/04/2004. Foto: Lalo de Almeida/ Folha Imagem)

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Só para variar, o grande desafio é conseguir colocarem prática, no mundo real, a teoria que se estuda ese aprende no mundo ideal. Nos livros, os modelossão perfeitos e no dia-a-dia, nem tanto. Daí uma dasdificuldades em promover a tecnologia por meio dacomunicação.

Ora, se fiz minha lição de casa e pesquisei, conhecie compreendi as necessidades do consumidor, teori-camente deveria estar apto a apresentar-lhe a tec-nologia como solução de seus problemas ou atendi-mento às suas necessidades.

Acontece que o consumidor, aquele que vai assis-tir ao filme publicitário, que vai ver o outdoor e lera revista, esse consumidor é um ser humano, comotodos nós, programado geneticamente para fugir dodesconforto e buscar o prazer; que tem capacidade dese adaptar, mas que também resiste natural e incons-cientemente ao novo, ao desconhecido.

E que palavras podem ser mais sinônimos de tec-nologia do que “novo”, “pioneiro”, “inédito”?

Além disso, normalmente a tecnologia, além derepresentar o “novo”, vem acompanhada de váriostermos, também novos, para explicá-la. Neologismose tecnicismos que mais confundem a cabeça doconsumidor do que esclarecem as vantagens econveniências de sua aplicação.

E este é o ponto: a conveniência.Aquilo que pode ser novo, novíssimo, mas que se

pode traduzir praticamente na vida do indivíduo portermos, expressões e palavras, todos já bem conheci-dos e de uso regular. Nada que se precise aprender,mas que signifique uma nova situação, de maiorfacilidade, de maior conforto, de maior conveniência.

Bom, mas aí voltamos ao convencional, ao popu-lar; e aquela tecnologia, supernova, que custou anosde pesquisas e tanto investimento para ser desen-volvida, nem apareceu, não pôde ser comunicada.

É assim mesmo, a tecnologia tem de aprender afalar a língua do consumidor e os profissionais demarketing e comunicação têm de aprender a línguada tecnologia, não para ensiná-la ao consumidor, maspara saber utilizá-la como ferramenta de comuni-cação, de relacionamento.

Na era da informação, é muito importante estarem dia com as possibilidades que a tal tecnologia,que não conseguimos comunicar, pode nos propor-cionar.

Database, datawharehouse, datamining e umasérie de outros “data-alguma coisa”, por exemplo, sãoalgumas noções técnicas necessárias para que acon-teça a comunicação com os verdadeiros conhecedorese operadores da tecnologia que vai nos ajudar a iden-tificar e localizar o consumidor, conhecer e entenderos seus hábitos e necessidades, a fim de que possamosfalar com ele, não esqueçam, sobre conveniência.

Existe um mundo não pequeno, mas menor doque o do consumo no varejo, que é o mundo dosnegócios entre empresas, de técnicos para técnicos,business to business, em que a tecnologia pode sercomunicada pelas suas características técnicas.

Na maioria dos casos, porém, tecnologia funcionamuito mais e melhor como instrumento do quecomo argumento.

FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 15

ARGUMENTO OU

INSTRUMENTO?Por MARCUS VINICIUS SINVAL [SEBRAE]

MARCOS VINICIUS [email protected]

Gerente de Marketing do Sebrae-SP.Administrador de empresas, especialistaem comércio exterior e emdesenvolvimento de pesquisas de mercadonas áreas de planejamento e marketing.

Diz a teoria que marketing é pesquisar, conhecer, compreender eatender às necessidades do consumidor. Seguindo esses passos, o profis-sional de marketing certamente terá êxito em suas empreitadas.Pois é, como se fosse simples assim.

Alvo Ensino/Professor Aprendizagem/Alunos(o que deve ser ensinado) (o que deve ser aprendido)

Foco Conteúdo Aprender

Avaliação do conhecimento Aprovação em disciplinas Obtenção de competências (saber fazer)adquirido pelos alunos

Avaliação das instituições Formalmente não existente • Exames aplicados nos alunos• Avaliação dos cursos• Avaliação das condições

de oferecimento dos cursos

Currículo mínimo Existente, para cada curso Não-exigência

Carga horária mínima* Exigência, não formal • Não-exigência • Limitações impostas pelos

conselhos profissionais

Diretrizes curriculares Sem regulamentação • Dec. 2208/97 (já revogado)e complementos, regulamenta as diretrizescurriculares dos CST - Dec. 5154/04 revogao Dec. 2208/97. A serem formalizados

Aceitação de créditos dos alunos Obtidos em disciplinas equivalentes De competências obtidasde cursos superiores inclusive na vida profissional

Certificações intermediárias Não existentes Permitidas

Número de CST Leve crescimento Explosão no número de novos cursos

Prazo mínimo para Informalmente, 3 anos Instituições oferecendo cursos superiores conclusão do CST de 2 anos, mas não deixam claro se são CST

e se conduzirão ao diploma de Tecnólogo

No fim de 2004 estão em curso dois processos que tambéminterferirão nos CST e na profissão de Tecnólogo. São eles:

• Reforma Universitária;• Elaboração de proposta de anteprojeto

da Lei de Educação Profissional e Tecnológica.

Além disso, está programada a implantação de novas insti-tuições de ensino e de cursos de graduação de “menor” duração –2 anos (1.600 horas) –, que podem ser confundidos com os CursosSuperiores de Graduação em Tecnologia.

As preocupações emergentes com essa descontrolada dinâmicasão com a qualidade e reconhecimento dos CST e com a reputaçãodo profissional tecnólogo.

14 DEZ'2004 e JAN/FEV'2005

Quadro 4 - Dinâmica das concepções e dos aspectos legais dos CST (*) Decisão do CONFEA – Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia datada de 30/04/2004

considera mantida a carga horária mínima de 2.400 horas para a formação de profissionais dos cursos de Tecnologia para fins de registros profissionais no sistema CONFEA/CREA.

TEMA ANTERIORES NOVAS

CONCEPÇÕES E ASPECTOS LEGAIS

FONTES CONSULTADAS• Legislação pertinente• Cadernos do MEC• Sistema de Avaliação Institucional de Egressos - CEETEPS• Portal Univérsia• Catálogo da FATEC-SP• Revista do Tecnólogo – SINTESP• Cursos Superiores de Graduação em Tecnologia – CEETEPS• Revista Ensino Superior – SEMESP

COLABORADORESAssistente Técnica de DireçãoMaria José Zecchinato Staicov - CEETEPSProf. Me. Décio Moreira - FATEC-SP/ SINTESPProfa. Dra. Eliana Magrini Fochi

DIRCEU D’ALKMIN [email protected]

Engenheiro civil, mestre e doutorem Engenharia pela Escola Politécnica

da USP. Atualmente é professore diretor da Fatec-SP e professor

convidado da pós-graduação da Epusp.

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idéias com mais eficácia e entender melhor oque ouve, enquanto o aprendizado de línguasestrangeiras o auxilia a lidar com outrassociedades e outros valores, aproximando-o domundo globalizado.

É uma educação para o desenvolvimento,que capacita as pessoas continuamente nessenovo conjunto de habilidades. O grandedesafio é criar condições para que o educandose aproprie desse novo ferramental e desenvol-va sua criatividade, seu sensode observação, tornando-seuma pessoa mais produtiva erealizada. O novo educador émenos responsável pela trans-missão de conhecimento emais pela instigação à investi-gação filosófica e pelo moni-toramento da maneira como oaluno está usando o ferramen-tal colocado à sua disposição.Seu papel é o de navegador doeducando na aventura de bus-car o conhecimento em todaparte, inclusive na sala deaula. Cabe também ao profes-sor criar condições para que oaluno amplie seu relaciona-mento, tanto no plano socialcomo no virtual.

A contribuição das empresasEmbora a educação seja por princípio uma

atribuição do Estado, a participação da ini-ciativa privada é extremamente desejável.Como diz Moura Castro, “educação e escolanão são assuntos de governo, mas de todos”.Portanto, as empresas, um dos pólos maisdinâmicos e inovadores da sociedade, podeme devem contribuir para o desenvolvimentoda educação em nosso país.

Essa contribuição pode se dar de pelomenos duas maneiras: 1) pela formação deseus colaboradores, que concorrerão para aconstrução do conhecimento de que aempresa necessita; 2) pelo apoio a projetosque beneficiem a educação da comunidadeem que a empresa se localiza.

Tornando-se co-responsável pela formaçãode seus funcionários, a empresa cria condiçõespara que a construção do conhecimentonecessário ao seu desenvolvimento seja con-tínua. O empresário deve compreender que oconhecimento, cujo processo é dinâmico einfindável, deixou de ser um bem que se possacomprar no mercado, pela contratação de pes-soas talentosas ou pela aquisição de tecnologia.Na verdade, a evolução do conhecimento pas-sou a se dar de forma dialógica. Devemos nos

conscientizar de que apenas contratar talentosprontos no mercado não é a solução. Mais doque isso, é preciso investir no aperfeiçoamentodo público interno, com a criação de umespaço para seu desenvolvimento contínuo,que pode ser tão simples como a qualificaçãode um operário por seu sindicato, ou tão com-plexo quanto o desenvolvimento de uma uni-versidade corporativa para complementara formação acadêmica dos profissionais da

empresa em sua área deatuação.

Para acumular e atualizaro conhecimento necessário aoincremento de seu desem-penho, a empresa pode agirde várias maneiras. Aaquisição sistemática deinformação em instituiçõesespecializadas e a emulaçãoda já mencionada universi-dade corporativa são exem-plos disso. Outra forma degarantir que o conhecimentocontínuo se verifique é esta-belecer uma nova interativi-dade com os centros depesquisa, tendo em vista umprincípio lógico, mas muitasvezes ignorado: a criaçãode conteúdo pela universi-

dade é importante para as empresas tantoquanto é importante para as instituiçõesacadêmicas a aplicação pela empresa doconteúdo que elas produzem.

Um exemplo de sucesso de interatividadede empresas com um centro de pesquisas é averdadeira revolução ocorrida no agribusinessbrasileiro nas últimas décadas, graças ao fabu-loso conhecimento gerado pelas váriasunidades da Empresa Brasileira de PesquisaAgropecuária (Embrapa). Dentre as muitasiniciativas de sucesso, destaca-se a inclusão docerrado brasileiro no sistema de produção degrãos. Quando a agroindústria passou a uti-lizar as tecnologias e os cultivares desenvolvi-dos pela Embrapa, as áreas que compõem ocerrado tornaram-se responsáveis por 41% daprodução brasileira de soja, arroz, feijão emilho. A soja, por exemplo, foi plenamenteadaptada às condições do País, que se tornou osegundo maior produtor do mundo (58 mi-lhões de toneladas na safra 2003/2004) e é hojeo maior exportador mundial do produto (8,2bilhões de dólares em 2003).

Apoio à comunidade localA segunda maneira que mencionamos de

contribuir para o desenvolvimento da edu-cação no País é a empresa agir na própria

comunidade de entorno, ajudando a promovercondições para que os centros de educaçãolocais cumpram seu papel de forma adequada.Essa participação pode se dar por meio deapoio a organizações não-governamentais queatuem na área da educação. Um exemplo dissoé o apoio de empresas à atuação do Comitêpara a Democratização da Informática (CDI)em favor da inclusão digital de populaçõescarentes em todo o País. A organização jáinstalou cerca de 800 unidades de sua Escolade Informática e Cidadania em 20 Estadosbrasileiros e em dez outros países, com mais de4,1 mil computadores instalados em toda arede, tendo formado mais de 501 mil alunos,com o apoio de 1,7 mil educadores e cerca demil voluntários.

Outro bom exemplo são as empresas queapóiam o projeto de aceleração de apren-dizagem feito pelo Instituto Ayrton Sennapara o Estado de Pernambuco, em parceriacom a Secretaria Estadual de Educação.A primeira etapa começou em maio de2003 e engloba 48 municípios pernambu-canos. Até 2009, o programa prevê alfabe-tizar anualmente 20 mil alunos com idadeentre 8 a 14 anos, bem como acelerar aaprendizagem de outros 447 mil crianças eadolescentes que acumulam reprovações,reduzindo assim a distorção entre a idadee a série que freqüentam.

A empresa pode também atuar diretamentenos centros de educação da comunidade em queestá instalada, seja criando condições para queesses centros tenham acesso efetivo a recursos,seja treinando professores, por exemplo. Ouestabelecendo parceria com uma escola públicalocal, desde que essa parceria se dê na área deatuação da empresa. É importante observar esseaspecto, pois somente atuando em sua área decompetência a empresa pode agregar valor.Se isso não for possível, é aconselhável nãoagir diretamente, mas por meio de parceriacom uma ONG, como nos casos já citados.

Seja de que modo for, investir nessa novaeducação, reestruturada, participativa, estimu-lante, é preparar cidadãos que irão edificaruma sociedade mais justa e eqüitativa paratodos os brasileiros.

FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 17

Desde o início da revolução tecnológica,vivemos uma ruptura de paradigmas emvários setores, e o impacto dessas inovaçõesé especialmente sentido na área da edu-cação. Até poucos anos atrás, o profissionalde educação era apenas um depositário doconhecimento em determinada área. Suafunção era transmiti-lo ao aluno de formaseqüencial e linear, em sessões com horamarcada. Do aluno só se esperava uma ati-tude passiva e cordata, pelo menos até queatingisse o nível universitário. Se haviaalguma reflexão coletiva, era em poucosestabelecimentos cujas propostas de ensinoeram mais avançadas, ou em nível demestrado e doutorado, longe do dia-a-diadas escolas.

Com a popularização da Internet, a partirdo início da década de 1990, o conhecimentojá não é mais um monopólio de poucos, e oprofessor deixou de ser um guardião do saber.Hoje é impossível alguém deter toda a infor-mação, que pode ser encontrada em todaparte, num fluxo que se constrói e se renova otempo todo. A rede mundial permitiu que oconhecimento acumulado pelas instituiçõesfosse reunido num único meio, deixando-o àdisposição de todos os interessados. Permitiuainda que esse riquíssimo conteúdo passasse aser atualizado e renovado permanentemente, oque conferiu à construção do conhecimentouma nova dinâmica.

Essa mudança radical e veloz traz grandesdesafios tanto para os alunos quanto para asinstituições de ensino. O primeiro deles é queo processo de aprendizado deixa de ocorrerapenas num certo espaço de tempo ou numdeterminado local, passando a ser contínuo,ininterrupto. Essa nova dinâmica exige queprofessores e alunos reajam mais prontamente,respondam com maior rapidez.

Outro desafio que se apresenta é a adoção

de uma nova postura em relação ao ato deensinar. O professor se tornou ao mesmotempo aprendiz e consultor do processo deconstrução do conhecimento. Na verdade,todas as pessoas passaram a ser potencial-mente aprendizes e consultoras desseprocesso. Assim, professor e aluno estãosendo desafiados a lidar com sua relação demaneira diferente, já que ambos são agentesdo conhecimento e essa condição exigeoutro grau de interação. Essa nova posturaimprime uma qualidade diferenciadano processo de aprendizagem, permitindooutras formas de colaboração entre edu-cador e educando, bem como uma maiorsociabilização do aluno – caminho para aconstrução da cidadania.

Segundo o educador Claudio de MouraCastro, da Rede Pitágoras deBelo Horizonte, “quanto maistempo ouvindo passivamentea aula, menos se aprende”.Em sua opinião, a partici-pação ativa do aluno é essen-cial: “Educação requer ouvir,falar, ler, discutir, escrever,trocar idéias. Se não são pra-ticadas todas essas ativida-des, o ensino está aleijado,fica faltando o outro lado.Portanto, não se pode espe-rar grandes resultados”1.

Concordamos com o so-ciólogo italiano Domenicode Masi, autor de obras comoO ócio criativo e A sociedade pós-industrial, para quem “a escoladeve estar sempre se atualizan-do e acompanhando as mudanças dasociedade. Se o mundo precisa de pessoas cria-tivas, a escola deve estimular esse lado. Nãopodemos mais continuar formando os jovens

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A NOVA EDUCAÇÃOE O PAPEL DAS EMPRESAS

Por RICARDO YOUNG [INSTITUTO ETHOS]

Texto originalmente publicado no livro Unesco Brasil“Investimentos em Educação, Ciência e Tecnologia - o que

pensam os empresários”, lançado em junho de 2004.

1 O despertar do gigante. Editora Universidade, 2003. 2 Entrevista à revista Nova Escola, da Fundação Victor Civita, em outubro de 2000.

Muito mais importanteque repassar conhecimentoé desenvolver no alunoa capacidade de aprender

apenas para o trabalho e o lucro. É precisooferecer a formação total”. Para De Masi,formação total significa “educar não apenaspara o trabalho, mas também para o estudo epara o ócio; para as satisfações e necessidadesmais essenciais do ser humano: o amor, a

amizade, a diversão, o con-vívio, a solidariedade, abeleza. Significa formar ocidadão em toda a suaamplitude de homemeconômico, estético, sociale ético”2.

Portanto, mais do quepassar conhecimento, a novaeducação forma indivíduosque aprendem a aprender, atornar-se ativos na busca dainformação, utilizando co-mo ferramentas básicas afilosofia, a matemática e ou-tras línguas, além de seupróprio idioma. A dimensãofilosófica conduz o aluno àlógica formal e ao desen-

volvimento de valores, que é a base para a for-mação da cidadania; a matemática o capacita aoperar o pensamento abstrato aplicado naprática; desenvolver a linguagem falada eescrita permite ao educando expressar suas

RICARDO [email protected]

Empresário da área de educação,presidente do Conselho Deliberativo

do Instituto Ethos e atualmentepresidente do UniEthos - Educaçãopara a Responsabilidade Social e o

Desenvolvimento Sustentável.

Para a nova educação que sepropõe, muito mais importanteque repassar conhecimento édesenvolver no aluno a capaci-dade de aprender. Isso redefine opapel da escola, atribuindo-lheoutros objetivos, entre os quais:

• estimular e aprofundar ashabilidades cognitivas do aluno;

• incentivar sua capacidadede discernimento, de trabalharcom processos lógicos esistêmicos que lhe permitamcorrelacionar as informaçõesobtidas e distinguir o quede fato é relevante;

• encorajá-lo a buscar seusvalores e os da comunidade queo cerca, e a refletir sobre eles;

• desenvolver suas habilidadesde comunicação.

O sociólogo italianoDomenico de Masi,durante entrevistaem São Paulo (SP).

Foto: Ormuzd Alves/Folha Imagem

Em resumo, uma agenda de edu-cação ideal para o nosso país teriade contemplar os seguintes pontos:

• inclusão digital;• desenvolvimento das

habilidades cognitivas;• capacitação do aluno

para sociabilizar-se;• diversidade cultural e

universalidade, incluindo o ensinode línguas estrangeiras;

• reflexão filosófica - capacidadepara refletir sobre valores;

• formação da cidadania naconcepção clássica, incluindo-sea introjeção de valores comoo processo coletivo, a construçãocoletiva do conhecimento,o intercâmbio e o diálogo,o respeito à diversidade e acompreensão da cidadania comodimensão da própria educação.

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1. IntroduçãoA sociedade, de maneira geral, e o mercado de tra-

balho, em particular, vêm sendo afetados significati-vamente pela reestruturação produtiva (econômica,tecnológica e organizacional) nas empresas com usointensivo de recursos informacionais e pelo processode globalização em andamento, que provoca, entreoutros efeitos, o rápido deslocamento de empresasentre países e, nesses, entre regiões.

A velocidade dessas mudanças assusta e causa asmais diversas reações nas pessoas, direta ou indireta-mente atingidas por esse processo, podendo sig-nificar ameaça ou oportunidade no novo contexto.De qualquer forma, o tipo de reação a essas transfor-mações depende diretamente da capacidade de cadaum de se adaptar às condições exigidas pela novaeconomia para a sobrevivência das empresas1.

É por meio do trabalho que produtos e serviços sãogerados para a satisfação das necessidades humanas,proporcionando renda para a aquisição desses bens eserviços, além de ser possível fonte de realizaçãoprofissional e satisfação pessoal, fatores que afetam aauto-estima. No mundo capitalista, como se sabe, aforma predominante de inserção no processo produ-

tivo e de prestação de serviços é o trabalho assalaria-do, isto é, o emprego.

Nas últimas décadas, a elevação das taxas de desem-prego tem sido uma das questões globais mais can-dentes, pois todos os países do mundo, em escalas eproporções diferentes, têm sido afetados. Esse proble-ma não se vincula somente a aspectos econômicos e dejustiça social, mas seus reflexos também podem sersentidos nas esferas coletiva e individual dos traba-lhadores.

O objetivo deste artigo é mostrar as mudanças ocor-ridas no mercado de trabalho nos últimos 20 anos e asconseqüências da reestruturação produtiva sobre asrelações de trabalho e sobre o dimensionamento domercado de trabalho, com a redução do número deempregos formais que vem ocorrendo no Brasil.

2. Breve histórico do mercadode trabalho nos últimos 20 anos

O mercado de trabalho e a questão do empregotêm sido fatores preocupantes, pois, do pós-guerraaté meados da década de 1970, houve um período deempregos estáveis, bem remunerados e conquistas

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MERCADO DE TRABALHO:EMPREGO E DESEMPREGONO FIM DO SÉCULO XX

Por FRANCISCO SCARFONI FILHO E JACYRA C. MONTANARI [PUC-SP]

RESUMO: Após um período inusitado com baixos índices de desem-prego, conquistas salariais e sociais que ampliaram seu poder de com-pra e lhe trouxeram maior segurança e bem-estar, o trabalhador se vê,hoje, com a reestruturação produtiva, à mercê de um mercado de tra-balho polarizado e diante de um sindicato desmobilizado, sem poderde luta. O objetivo deste artigo é mostrar as mudanças ocorridas nomercado de trabalho nos últimos 20 anos e as conseqüências da reestru-turação produtiva sobre as relações de trabalho e sobre o dimensiona-mento do mercado de trabalho, com a redução do número de empre-gos formais que vem ocorrendo no Brasil.

ABSTRACT: After an unusual periodof low unemployment rates, socialand salary advances that improvedthe workers’ purchase power andbrought them more security and sa-tisfaction, with the productive reor-ganization, the workers find them-selves today, at the mercy of a pola-rized job market and a weak Union.The subject of this article is to showthe changes that happened in the jobmarket in the last twenty years andthe effects of the productive reorgani-zation on the job relationships andthe size of the job market, and theconsequent reduction of the formalemployment in Brazil.

PALAVRAS-CHAVE:Reestruturação produtiva,relações de trabalho, empregoe desemprego.

KEYWORDS: productive reorganiza-tion, job relationships, employmentand unemployment.

1Entendendo-se por nova economia aquela cujas características fundamentais são a intensificação do uso da informação e do conhecimentopelos agentes econômicos para gerar produtividade e competitividade, impondo uma nova organização das atividades produtivas.

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modities e, como conseqüência, o sistemafinanceiro internacional se afastou, dificul-tando o acesso a novos créditos.

Ocorreu um processo de estagnação daeconomia, já que as receitas obtidas tiveramde ser utilizadas para cobrir as obrigaçõesfinanceiras advindas do processo de endivi-damento descontrolado da década de 1970.

O crescimento pouco expressivo daeconomia compromete o processo de desen-volvimento do País e poucas mudançasocorrem até 1986, quando algumas alte-rações no mercado de trabalho são notadas:a proporção de empregados em firmas par-ticulares cai de 50,5% em 1986 para48,8%, em 1990, aumenta a proporção deempregados públicos, de 9,2% para 9,7%,de não remunerados de 7,7% para 8,1% ede empregadores de 3,5% para 4,7%(SINGER, 1996, p. 3).

Esse aumento da proporção de empre-gadores e de não remunerados entre 1986 e1990 sugere que houve alguma descentra-lização do capital, com a multiplicação depequenas firmas, nas quais trabalham oempregador, empregados registrados e nãoregistrados. Esses empregadores podem sertrabalhadores demitidos que, com os recur-sos da rescisão do contrato de trabalho,montam um negócio próprio e empregamparentes e amigos próximos.

Pode-se inferir que nos anos 80 houvealguma alteração na dinâmica do mercadode trabalho, com os primeiros sinais deaumento do desemprego urbano e deterio-ração das condições de trabalho com oaumento da informalidade, apesar dosníveis relativamente baixos.

A grande alteração ocorreu na década de1990, com o nível da atividade econômicaatingindo índices bastante baixos, afetandodiretamente o mercado de trabalho, cujoprocesso de desestruturação, com a retraçãodas atividades econômicas e com a alteraçãoqualitativa das estruturas produtivas exis-tentes, provocou uma acentuada redução nacapacidade de geração de empregos formaise, por esses motivos, pela primeira vez nahistória a economia nacional mostrou-seincapaz de gerar postos de trabalho em ter-mos absolutos.

De acordo com dados do IBGE, nas duasúltimas décadas a economia brasileira teveos piores desempenhos do século, quando ataxa média de crescimento econômico ficouem 1,6% para os anos 80 e em 2,7% paraos anos 90. A correlação entre a falta dedinamismo da economia e a elevação dastaxas de desemprego é direta. Estima-seque durante os anos 90 cerca de 3,3 milhões

de empregos formais deixaram de existir naeconomia, atingindo principalmente aindústria de transformação em diversos seg-mentos, como o têxtil, o metalúrgico, omecânico, o químico e o farmacêutico, alémda indústria de construção civil e o setor deserviços financeiros.

Há muito tempo as pesquisas de opiniãopública registram o desemprego como amaior preocupação da população, afetando aspessoas de maneiras diferentes. Entre 1989 e1998, o desemprego cresceu relativamentemais entre os homens de mais idade (40 anosou mais), cônjuges e para os de maior esco-laridade. Ocorreu também alteração notempo de desemprego médio: de 15 semanas,em 1989, para 36 semanas, em 1998,atingindo 40 semanas no início de 1999.

O mercado de trabalho no Brasil tem sofri-do os efeitos do processo de ajuste estruturalda economia e o mais importante é o cresci-mento da taxa de desemprego, que chegou aonível de 8%, no fim de 1998, 7,6% no fimde 1999 e 7,1% no fim de 2000, conformedados do IBGE. Por outro lado, o crescimen-to do desemprego tem convivido comsalários reais crescentes, o que pode significarque quem conseguiu manter seu empregoteve ganhos reais de renda nos últimos anos equem não o conseguiu teve de procurar alter-nativas fora do trabalho formal.

O panorama econômico mundial é poucoalentador, pois a estagnação das trêsmaiores economias do planeta – EstadosUnidos, Europa e Japão – já arrasta quasetodos os países à recessão. A reestruturaçãoprodutiva em andamento baseia-se naracionalização de custos e na redução deineficiências, utilizando-se de tecnologiaspoupadoras de mão-de-obra, cujos efeitosna geração de desemprego não são compen-sados pelos investimentos feitos nas empre-sas da nova economia, alterando as relaçõesde trabalho e, em muitos casos, tornando-ascada vez mais precárias.

3. As novas relações de trabalhoO final do século XX assiste a uma

mudança nas relações de trabalho devido,sobretudo, à intensificação da competitivi-dade entre as empresas. O sistema de pro-dução fordista, cujos fundamentos são asegmentação do trabalho, a desqualificaçãoda mão-de-obra e o controle excessivo sobreo trabalhador, passa a ser questionadoquando o modelo japonês de produçãocomeça a ser conhecido por seus produtosde qualidade e baixo custo. Tais aspectossão conseqüência de uma mão-de-obra poli-valente e de uma tecnologia de organização

até então desconhecida do Ocidente: Just-in-Time (JIT), Círculo de Controle deQualidade (CCQ), Kaizen, Células deProdução (CEP), etc.

A reestruturação produtiva (conjugaçãoda introdução de novas tecnologias e novastécnicas gerenciais) pela qual os países indus-trializados tiveram de passar para poder sercompetitivos, tem provocado o surgimentode novas e variadas relações de trabalho.

Tanto se pode registrar a preocupação deempregadores em ter a sua mão-de-obraaltamente motivada por meio do enrique-cimento do trabalho ou por meio de parti-cipação nos lucros, como também umarelação de trabalho autoritária marcada pelaintensificação de seu uso, pelo controleexcessivo sobre o trabalhador e pela totaldissociação entre concepção e execução.

Os estudos feitos por Kern & Schumann(1989) sobre os Controladores de Sistemasnas indústrias alemãs automotivas e quími-cas mostra um grupo de trabalhadores deprodução altamente qualificado, motivado ede difícil supervisão. Tais trabalhadores têm

A médica Teresa Sacchettaé especialista eminformática médicae trabalha como webmanagerdo Laboratório Fleury.

(São Paulo, SP, 26/09/2001.Foto: Juca Varella/ Folha Imagem)

FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 21

sociais estabelecidas. Hoje as tendências sãooutras. Estudos recentes mostram umaumento significativo do emprego precário,do trabalho informal, queda generalizadanos salários reais e crescimento das taxas dedesemprego.

O problema do aumento do desempregonos países desenvolvidos tem sido acom-panhado por transformações tecnológicasque ocorrem em larga escala e grandevelocidade, refletindo num rápido declíniodo emprego industrial, principalmente nospaíses europeus com sólidas políticas debem-estar social.

O processo de reestruturação econômica,fruto da combinação ou conjugação daintrodução de novas tecnologias e novastécnicas organizacionais, conduz a umaredução no emprego industrial em todos ospaíses. Porém, de acordo com Castells(1999, p. 230), apesar da tendência geral, odeclínio do emprego industrial é irregular,“indicando de maneira clara a variedadefundamental das estruturas sociais de acor-do com as diferenças políticas, econômicase das estratégias empresariais. Assim,enquanto o Reino Unido, os EstadosUnidos e a Itália vivenciavam rápida desin-dustrialização (reduzindo a percentagem deemprego industrial, em 1970-90, de38,7% para 22,5%; de 25,9% para 17,5%;de 27,3% para 21,8%, respectivamente), oJapão e a Alemanha presenciavam umaqueda moderada da participação de suaforça de trabalho industrial: de 26,0% para23,6% no caso do Japão e de 38,6% paraum nível ainda bastante alto de 32,2% em1987, no caso da Alemanha”.

A taxa média anual de desemprego nospaíses desenvolvidos aumentou de 5,1%em 1974-79 para 7,4% em 1980-97. Essatendência vem acompanhada de um proces-so de desaceleração do crescimentoeconômico e a característica marcante daqueda da importância do emprego indus-trial vem ocorrendo em favor do empregono setor de serviços, ao mesmo tempo emque se confirma a tendência secular dequeda do emprego no setor agrícola.

A América Latina teve seu desenvolvi-mento prejudicado durante a década de1980 pela crise da dívida e pela deterio-ração dos preços das commodities no mer-cado internacional, pois, até esse período,

os países latino-americanos, com exceção doBrasil, dependiam fortemente dessas expor-tações. A queda dos preços dos produtosprimários se deve ao aumento da produtivi-dade agrícola nos países desenvolvidos e àtransformação tecnológica que substituiumatérias-primas tradicionais por produtossintéticos.

Porém, de acordo com Castells, os fatoresmais decisivos e os reais complicadores dodesenvolvimento da América Latina foramo endividamento irresponsável ocorrido nosanos 70 e as políticas monetárias nos anos80 na tentativa de conter a crise. Esses fatoscomprometeram o desenvolvimento nasúltimas duas décadas, com sensíveis refle-xos no mercado de trabalho.

Na América Latina, a incapacidade degeração de empregos tem sido uma propen-são clara e, diante do baixo dinamismo daeconomia, do aumento da produtividadedevido às transformações tecnológicas, doaumento da população e da liberação dasimportações, o número de desempregadosvem se elevando, registrando taxas de doisdígitos na Argentina (17,4%), no Uruguai(11,7%), na Venezuela (11,4%) e naColômbia (10,2%) em 1995. No Brasil,essa taxa era de 5,2% (GONÇALVES ePELEGRINO, 1997,p. 31).

Durante a década de1970, o Brasil viveuum período conhecidocomo “milagre econô-mico”, com altas taxasde crescimento da eco-nomia e, em conse-qüência, aumento daproporção de emprega-dos em empresas pri-vadas de 41,7% para52,2%; de empregospúblicos de 7,3% para8,8% e redução donúmero de autônomosde 33,8% para 25,2% ea de não remuneradosde 9,3% para 5,3%.Nesse período, o desen-volvimento era finan-ciado pela abundância efacilidade de acesso aocrédito internacional,levando o país a seendividar de maneiradescontrolada.

Na década de 1980,a história passou a serdiferente. Os países

desenvolvidos estavam preocupados emresolver seus problemas de inflação e suascrises internas causadas pelos elevados cus-tos das políticas de bem-estar social e pelarigidez dos investimentos em capital fixodo período fordista, iniciando a reestrutu-ração do sistema financeiro internacionalpara salvaguardar os seus interesses, princi-palmente nos países devedores.

Neste momento, o Brasil foi submetido aum choque múltiplo e simultâneo provoca-do pela alta da taxa de juros internacionais,pela recomposição do preço do petróleo, peladeterioração das relações do comércio inter-nacional com a queda dos preços das com-

20 DEZ'2004 e JAN/FEV'2005

Desempregados fazem fila naregional de Santo Amaro, emSão Paulo, durante cadastramentoem busca de vaga para empregostemporários. O desemprego deveaumentar até o início de 2002por causa da desaceleraçãoda economia, corte de vagase grande número de demissões.

(São Paulo, SP, 04/10/2001.Foto: Moacyr Lopes/ Folha Imagem)

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Com a abertura do mercado brasileiro a pro-dutos estrangeiros similares aos nacionais ecom a crise econômica dos anos 90, querestringiu o consumo interno, as empresasbrasileiras não viram outra saída a não ser semodernizarem para poder competir.

É justamente no fim dos anos 80 e iníciodos 90 que há, por parte das empresas, umgrande investimento na microeletrônica.As máquinas de controle numérico (CNC)tiveram um índice de crescimento de 42%em relação aos investimentos, em 1988,passando de 742 unidades para 1.052unidades instaladas, em 1989. Os sistemasCAD/CAM tiveram, em 1989, um índicede crescimento de aproximadamente 280%em relação a 1988, quando o número deunidades instaladas passa de 700 para2.650. (Sobracon: Retrospectiva da décadade 80 do setor de automatização industrial.LEITE, M.P., 1994, p. 567).

Quanto à tecnologia de organizaçãojaponesa (JIT/TQC), as empresas brasileirasencontraram e encontram problemas emsua implantação devido à baixa escolaridadedo trabalhador constatada por Humphrey(1994) e Fleury (1995). A baixa qualidadeda educação brasileira, no que diz respeitoao ensino fundamental, não condiz com asnecessidades das empresas hoje. O traba-lhador precisa ser alfabetizado e conhecerbem português e matemática para podertrabalhar com dados estatísticos. Ler einterpretar desenhos, tomar decisões sobreo seu trabalho e ter autonomia. São poucos ostrabalhadores com essas qualificações. Daí acorrida das empresas com programas de alfa-betização e treinamentos técnicos nos anos 90,apesar desses treinamentos serem em númeromenor, se comparados com os treinamentoscomportamentais. Segundo Leite (1994, p.577), “o treinamento destina-se a programascomportamentais ou motivacionais, que secaracterizam basicamente pela preocupaçãoem despertar nos trabalhadores uma posturacooperativa com relação às estratégias geren-ciais e que não podem ser confundidos comtreinamentos destinados a formar traba-lhadores mais qualificados”.

Ainda no que se refere ao treinamento,parece haver diferenças de tratamento entreo homem e a mulher no local de trabalho.Aos homens é dada a chance de se qualificarpor meio de treinamentos que lhes habili-

tam a trabalhar com as novas tecnologias(CNC, CAD/CAM E CLP) e com o CEP(Controle Estatístico do Processo) e às mu-lheres ficam reservados os trabalhos menos“nobres”, mais rotineiros e monótonos(HIRATA, 1998, p. 12-13).

Nos mesmos moldes das empresaseuropéias e americanas que se estruturaram eimplantaram o modelo japonês de produção,intensificando o trabalho, também asbrasileiras acabaram procedendo dessa forma.

Em pesquisa com supervisores de pro-dução realizadas por Montanari (1994, p.55 e 1998, p. 106), respectivamente emuma empresa de autopeças e em outra detransportadores de interiores, a reestrutu-ração produtiva e a implantação na pro-dução de JIT/TQC em ambas levaram àintensificação do trabalho, como ilustra odiscurso dos supervisores:

“Hoje a gente trabalha, não vamos dizerassim sob pressão, mas trabalhamos atrás demetas cirradas. Metas que não é qualquerum que tem condições físicas e psicológicaspara suportar...”

“A carga de trabalho é estressante. Aspressões caem sobre você e você precisa terhabilidade de repassar isso. A carga de tra-balho e estresse é maior e é uma questão deadministração... É como se estivesse trocandoo pneu com o carro andando, mas tendo demanter o nível de produção e a qualidade.”

5. A precarização dasrelações de trabalho

Se, de um lado, a reestruturação produti-va leva à maior produtividade e exige umamão-de-obra mais qualificada, autônoma eresponsável, de outro, para obter maiorflexibilidade e ganhar em economia, aempresa terceiriza tudo aquilo que não fazparte do seu negócio principal.

A terceirização tem por objetivo o ganhoem produtividade por meio da redução decustos e do acesso a tecnologias de ponta,sem, entretanto, investir nessa tecnologia. Oinvestimento fica por conta da empresa ter-ceirizada. A redução de custos, pelo que sepode observar, é a redução da mão-de-obra,acompanhada da precarização das relações detrabalho, como: salários reduzidos e benefí-cios sociais menores que os da empresanúcleo, jornadas mais extensas de trabalho,contrato temporário de trabalho, etc.

A precarização do trabalho não está restri-ta aos países em desenvolvimento: ela vemacontecendo também nos desenvolvidos.

A pesquisa realizada por Hirata (1997) noBrasil-França-Japão sobre “Reestruturaçãoprodutiva, trabalho e relações de gênero”,

mostra que a precarização não está atingin-do apenas os laços empregatícios (contratode trabalho, carteira profissional assinada,etc.), mas também a essência da organiza-ção do trabalho. Ela cria, além da intensifi-cação do trabalho, a dependência do traba-lhador com os seus pares e chefia. A reestru-turação produtiva gera também a polariza-ção da mão-de-obra. De um lado, temos umgrupo de trabalhadores qualificados, bempagos, com empregos estáveis e, de outro,um grupo com trabalhos temporários,tempo parcial e alguns ainda sem carteiraassinada, como é o caso do Brasil.

Há ainda a polarização da mão-de-obrasegundo o gênero. Ao trabalhador masculi-no são conferidos trabalhos mais qualifica-dos, criativos e maiores salários do que àmulher trabalhadora.

No Japão, segundo Hirata (1997), amulher é obrigada a trabalhar em tempoparcial, com baixa remuneração e emcondições bastante precárias. Na França, orecrutamento é feito em função de umaigualdade aparente entre o homem e a mu-lher. No entanto, as mulheres vão poucoa pouco sendo excluídas dos trabalhosqualificados, conforme a entrada damicroeletrônica e da nova tecnologia deorganização na produção. No Brasil, não hátrabalho em tempo parcial (lei constitu-cional de 1988) e as mulheres são con-tratadas para a produção com salários maisbaixos e com discriminação na função –como auxiliares de produção e os homenscomo operadores.

Dessa forma, a reestruturação produtivapara as mulheres, em vez de melhorar a suaqualificação e seu nível salarial, tem efeitocontrário: tira-lhes as chances de cresci-mento e desenvolvimento profissional,impõe-lhes ritmos de trabalho mais inten-sos do que aos homens e exclui-lhes achance de usar sua criatividade e habili-dades que, como menciona Leite (1995, p.339), são da natureza da mulher, tais como:atenção, concentração e destreza manual.

Nos Estados Unidos, segundo PaulSinger (1996), há uma divisão do mercadode trabalho a partir do fim dos anos 60 einício dos 70 em dois segmentos. Oprimário, com altos salários, empregoestável e perspectivas de carreira, e osecundário com situação contrária, ou seja,salários mais baixos, porém, os traba-lhadores são empregados com o mesmo tipode contrato que os do segmento primário.

São pertencentes ao segmento secundário:faxineiros, garçons, mensageiros, recepcionis-tas, estoquistas e vendedores de nível baixo.

FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 23

suas atividades valorizadas, pois precisamestar a par das mudanças. São os primeiros aperceber as irregularidades na maquinaria ea corrigi-las. Além disso, precisam ter com-petência social para desenvolver uma melhorcomunicação com engenheiros e técnicos. Éa polivalência que os transforma em ilhas nomercado de trabalho alemão.

Junto a esses trabalhadores polivalentessão encontrados aqueles sem qualificação,que fazem parte de estruturas dualistas comalta tecnologia/baixa tecnologia, comolinhas equipadas com robôs e pintura.

Em seus estudos sobre a reestruturaçãoprodutiva no Brasil-França-Japão, Hirata(1998, p. 9) mostra que a introdução damicroeletrônica no processo produtivo eda tecnologia japonesa de organização(JIT/TQC) não diminuiu o ritmo de traba-lho e o sofrimento do trabalhador. Segundoa autora, “ao contrário, a produção flexívele seus estoques conduziu, segundo apesquisa sobre condições de trabalho (C.T.),a uma maior intensificação do trabalho.Entre 1984 e 1993, o percentual deassalariados que declarou ter seu ritmo detrabalho determinado pela demanda dosclientes ou do público passou de 39% para58%”.

No que se refere ao sofrimento no traba-lho, além do provocado pela ameaça perma-nente de demissão, há, segundo Dessous eTorrente (1996, apud DEJOURS, 1998, p.28), “o sofrimento dos que temem nãosatisfazer, não estar à altura das imposiçõesda organização do trabalho: imposições dehorário, de ritmo, de formação, de infor-mação, de aprendizagem, de nível deinstrução e de diploma, de experiência, derapidez de aquisição de conhecimentosteóricos e práticos e de adaptação à ‘cultura’ou à ideologia da empresa, às exigências domercado, às relações com clientes, os par-ticulares ou o público, etc.“

De um lado, a reestruturação produtivaexige do trabalhador habilidades e com-petências tais como: autonomia, fidelidade,responsabilidade, comunicação, flexibili-dade, etc. e, do outro, traz a insegurança noemprego e na renda (MATTOSO, 1994, p.531-536), com a redução de empregosestáveis e permanentes para empregostemporários, de tempo parcial e muitasvezes sem carteira assinada, como acon-tece no Brasil.

Segundo Mattoso (1994, p. 525), a insta-bilidade e a insegurança no trabalho e narenda são resultado do que ele chama de

“modernização conservadora”, que passa aconsiderar as políticas de proteção ao tra-balhador, no que se refere às relações detrabalho e à segurança do emprego, respon-sáveis pelo crescimento do desemprego,reduzindo, dessa forma, os empregosestáveis ou permanentes.

Quanto à renda, a “modernização conser-vadora” introduz a flexibilização do salárioem lugar da negociação coletiva entreempresas e sindicatos. Essa flexibilização,segundo Mattoso (1994) torna os rendi-mentos do trabalho instáveis e tambémamplia a concentração da renda, acentuan-do a desigualdade social.

A terceirização, outro resultado dareestruturação produtiva, surge para me-lhorar a eficiência empresarial e contribuipara a precarização das relações e dascondições de trabalho, visto que as empre-sas terceirizadas não têm as mesmas políti-cas de contratação, remuneração e recom-pensas da empresa núcleo.

Segundo Hirata (1997, p. 25), o traba-lhador japonês “com carreira estável coex-iste com o receio de passar do ‘núcleo’ paraa periferia precária dos subcontratados dediferentes tipos com que conta a organiza-ção industrial japonesa para funcionar”.

Finalmente, a reestruturação produtivatraz novas formas de controle sobre o tra-balhador. Uma delas é a desmobilização dossindicatos por meio da adoção, por parte daempresa, do papel sindical, impedindo, pormeio de sua política de pessoal, possíveisconflitos coletivos.

Uma outra forma de controle e que tam-bém contribuiu para o enfraquecimento dosindicato é a mudança da empresa pararegiões de pouca ou nenhuma experiênciafabril, com grande oferta de mão-de-obra ealternativas escassas de emprego.

Isso faz com que haja menor rotatividadede pessoal e nenhuma mobilização coletivano sentido de reivindicação salarial e outrosbenefícios sociais. Além disso, permite àempresa ter “liberdade para reformular asrelações de produção de acordo com os seusinteresses” (SINGER, 1996, p. 10).

Uma terceira forma de controle é a vi-gilância constante sobre o trabalhador efe-tuada pelo grupo de trabalho, pela super-visão e pelos clientes internos. Os sistemasJIT e Total Quality Control (TQC) favore-cem a evidência dos erros, pois não per-mitem estocar, nem esconder peças erradas.Não há gargalos na produção com o sistemaJIT/TQC. O controle e a vigilância aumen-

tam mais quando é instituída a avaliação dodesempenho vinculada ao aumento salarial.

4. As novas relaçõesde trabalho no Brasil

A década de 1970 foi, para o Brasil, umperíodo de grande expansão das indústrias edo emprego industrial (milagre econômi-co), devido à entrada de capital estrangeiroem países do Terceiro Mundo em processode industrialização para atender aos merca-dos dos países industrializados (EstadosUnidos, Europa e Japão) com produtosmais baratos, elaborados por uma mão-de-obra menos qualificada e pior remunerada.

No que se refere à gestão da mão-de-obra, esta se caracterizava por políticasorganizacionais que não a valorizavam. Agestão de pessoal baseava-se no autoritaris-mo, com trabalho altamente fragmentado,rotineiro e monótono, condições estas pararecrutar pessoal sem qualificação e incenti-var sua alta rotatividade.

O fim dos anos 70 e início dos anos 80são marcados por constantes greves dos tra-balhadores e pelo fortalecimento dos sindi-catos, que, até então, vinham tendo umpapel pouco atuante. Esse período coincidecom a implantação nas empresas dosCírculos de Controle de Qualidade (CCQ),que tiveram pouca duração. Isso porque asempresas não modificaram suas formas deorganização do trabalho nos moldes domodelo japonês, nem o seu modo de geriras pessoas, mantendo ainda um comporta-mento autoritário, impedindo muitas vezesseus funcionários de participar das reuniõesou boicotando as idéias apresentadas.

Os CCQs foram abandonados e substituí-dos, na segunda metade dos anos 80, por pro-gramas de Qualidade Total (Total QualityControl), mas esbarrando ainda na resistênciados empresários no sentido de modernizarsuas formas de organização do trabalho,como, por exemplo, maior autonomia do tra-balhador em relação às suas atividades, maiorparticipação nas decisões e a formação deequipes de traba-lho. O trabalhadorbrasileiro, em vez de ser polivalente, é um“multitarefeiro”2, porque é um mero execu-tor de tarefas em vez de ser multifuncional.

2 Expressão usada pelo prof. Ruy de Quadros Carvalho no curso “Educação, Trabalho e Progresso Técnico” – PUC/SP, 1997.

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FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 25

1. IntroduçãoA prática de recarga artificial de aqüíferos com

efluentes domésticos tratados vem encontrando apli-cação em diversas partes do mundo, tanto em regiõesáridas e semi-áridas como em áreas com disponibili-dade hídrica elevada. No Brasil, a prática, que éainda pouco conhecida, vem suscitando reações dehidrogeólogos, biólogos, engenheiros ambientais econservacionistas em geral, que a consideram umametodologia com grande potencial para contaminaras águas subterrâneas.

A recarga natural de aqüíferos subterrâneos se

realiza diretamente, através da precipitação plu-viométrica e de run-off, ou através de rios, lagos ereservatórios. A recarga natural é evidentemente efe-tuada sem qualquer controle ou seleção, podendo vir,também, a poluir os aqüíferos subjacentes. Acondição mais crítica é, entretanto, quando a recargaé influenciada pela atividade antrópica não planejadaou inconsciente, submetendo os aqüíferos a umprocesso de contaminação por infiltração e/ou lixivia-ção associada à aplicação, no solo, de efluentes oubiossólidos e de fertilizantes e biocidas. Ocorre,ainda, pela infiltração de micropoluentes orgânicos e

RECARGAARTIFICIAL

DE AQÜÍFEROSPor IVANILDO HESPANHOL [ESCOLA POLITÉCNICA - USP]

IVANILDO [email protected]

Professor titular da Escola Politécnicada Universidade de São Paulo,

presidente do Centro Internacionalde Referência em Reuso

de Água-CIRRA/IRCWR.www.usp.brcirra

RESUMO: A prática de recarga artificial de aqüíferos com efluentesdomésticos tratados, embora já esteja consolidada internacionalmenteé, ainda, pouco conhecida no Brasil. Entretanto, quando estiver ade-quadamente regulamentada e praticada, trará benefícios, introduzindouma nova dimensão para a disposição de efluentes domésticos, propor-cionando, simultaneamente, aumento da disponibilidade de água, pro-teção de aqüíferos costeiros contra salinização, controle de subsidênciade solos e sustentação dos níveis de aqüíferos freáticos submetidos acondições inadequadas de demanda.

A recarga artificial pode ser efetuada diretamente através de poços deinjeção ou por sistemas de infiltração. Os métodos de infiltração sãomais econômicos e permitem utilizar a capacidade de remover polu-entes da camada insaturada e do próprio aqüífero, estabelecendo ascondições para projeto dos sistemas de tratamento e percolação desig-nados por tratamento solo-aqüífero ou TSA.

Esses sistemas proporcionam níveis de tratamento elevados em ter-mos de compostos orgânicos (remoção de DBO, DQO, CODT), orga-nismos patogênicos (coliformes fecais, criptosporídeos, giardia e vírus)e compostos inorgânicos (nitrogênio e metais pesados), a custos bas-tante inferiores aos associados a tratamento avançados convencionais,construídos na superfície.

24 DEZ'2004 e JAN/FEV'2005

Com a entrada da microeletrônica na produção, os trabalhosrotineiros e repetitivos foram substituídos por robôs, gerandodemissões em massa de trabalhadores que não conseguem, emcurto prazo, ter acesso a novos empregos. Em primeiro lugar,porque as mulheres acabam assumindo, em tempo parcial, os pos-tos de trabalho e, em segundo lugar, porque o seguro-desempregomuitas vezes paga melhor do que as novas ocupações.

Segundo Paul Singer (1996), nos Estados Unidos os traba-lhadores mais atingidos pelo desemprego foram os da produção;em seguida, vêm os trabalhadores de escritórios e técnicos, comoengenheiros, secretárias, contadores, mecânicos, eletricistas. Noque se refere à precarização do trabalho, os trabalhadores maisatingidos são os que pertencem ao segmento secundário, comogarçons, recepcionistas, mensageiros, etc.

A precarização só acontece nos países desenvolvidos e nos emdesenvolvimento porque as empresas conseguiram a desmobiliza-ção dos sindicatos. Entre outras razões, isso ocorreu devido àspolíticas de cooptação de pessoal ou, como mencionado anterior-mente, pelo deslocamento das empresas para regiões com pouca ounenhuma experiência sindical e com escassa oferta de trabalho paramobilizar os trabalhadores na luta pela ampliação dos seus di-reitos. Assim, as empresas se fortalecem e ditam as regras que maislhes convêm no que diz respeito às relações de trabalho. Comomenciona Paul Singer (1996, p. 9) quanto à precarização:

“A flexibilidade extensa procura traduzir para a gestão do pessoal oque representa o método just-in-time na gestão de estoques. Trata-sede evitar estoques de mão-de-obra sem utilidade imediata”.

6 – Considerações finaisRetomando o objetivo deste artigo, devido às mudanças ocorri-

das no mercado de trabalho e nas suas relações de trabalho nosúltimos 20 anos, em função da reestruturação produtiva queatingiu todos os países, desenvolvidos e em desenvolvimento,pode-se observar que o desemprego nos países desenvolvidos temsido acompanhado por transformações tecnológicas que ocorremem larga escala e grande velocidade, refletindo num rápido

declínio do emprego industrial, principalmente nos paíseseuropeus com sólidas políticas de bem-estar social.

Uma das principais conseqüências é a precarização das relaçõesde trabalho e das condições de trabalho, que se dá de maneirairregular, refletindo as diferenças políticas, econômicas, tecnoló-gicas e as estratégias empresariais de cada país.

Os países em desenvolvimento tiveram seu crescimento e desen-volvimento econômico prejudicados na década de 1980 pela crise dadívida e pela deterioração dos valores do comércio internacional,fatos que não só comprometeram o desenvolvimento nas últimasduas décadas, mas também tiveram sensíveis reflexos na geração deempregos e nas relações e condições de trabalho.

No Brasil, com o baixo índice de crescimento econômico nasdécadas de 1980 e 1990, houve extinção de postos de trabalho oca-sionada pela destruição de estruturas existentes na economiaindustrial, sendo que os investimentos feitos na nova estruturaeconômica não são suficientes para absorver o contingente de tra-balhadores desempregados, além da questão da qualificação dostrabalhadores, que se torna fator impeditivo de acesso aos novospostos de trabalho.

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JACYRA C. MONTANARI

Professora das Faculdades Costa Braga.Doutoranda em Ciências Sociais (PUC-SP).

FRANCISCO SCARFONI FILHO

Professor Pleno da Fatec-SP.Mestre em Administração, FGV-SP.Doutorando em Ciências Sociais (PUC-SP).

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FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 27

pode ser efetuada por meio de sistemas deinfiltração superficiais, tais como bacias deinfiltração, canais modificados ou dotadosde bermas ou ainda por meio de esquemasde inundação controlada. A Figura 1mostra, esquematicamente, como a recargaé efetuada através de bacias de infiltração.O efluente, após tratamento adequado, érecalcado para a bacia de infiltração, deonde percola até o aqüífero. Na figura sãomostrados os poços de observação, quepoderiam ter sido construídos na fase deelaboração dos perfis hidrogeológicos dolocal, e os poços de recuperação.

A percolação através do solo superficial,camada insaturada e o escoamento nopróprio aqüífero podem, dependendo dascaracterísticas locais, possibilitar níveis detratamento significativos. A remoção deorganismos patogênicos e de compostosorgânicos e inorgânicos depende da quali-dade do efluente a ser infiltrado e das ca-racterísticas hidrogeológicas da camadainsaturada e do aqüífero. Essa caracteriza-ção do solo é efetuada por meio de estudosgranulométricos e de perfis geológicosobtidos na zona de infiltração, fornecendoinformações sobre tipos de solos, perfillitológico da camada insaturada e doaqüífero, níveis de água, gradiente regio-nal, locação e volumes estimados da recar-ga natural, características de poços ebombeamentos existentes, parâmetros doaqüífero (transmissividade, condutividadehidráulica saturada, vazão específica, etc.),características de qualidade da água doaqüífero em termos dos principais cátions eânions, poluição existente ou potencial ori-unda de aterros ou quaisquer outras fontes equaisquer outros contaminantes do solo quepossam ser lixiviados durante a recarga.

A Figura 2 mostra, esquematicamente, osdiversos processos e operações unitárias quepodem ocorrer na zona insaturada, pro-movendo a diluição, o retardamento e aeliminação de poluentes presentes nos eflu-entes infiltrados. No aqüífero, por meio deescoamento horizontal, podem, também,ocorrer processos de filtração, precipitação etransformações bioquímicas, colaborandopara o polimento final do efluente infiltrado,antes que este atinja os poços de recuperação.As áreas hachuradas indicam, aproximada-mente, a eficiência relativa da remoção depoluentes, de acordo com a profundidade doaqüífero. Note-se que a camada superior desolo é a que tem maior potencial de remoçãodevido à formação, à medida que a infiltraçãoocorre, de “smutzdecke”, como ocorre em fil-tros lentos de areia.

4. Determinação experimentalda capacidade do soloem remover poluentes -Tratamento solo-aqüífero

A capacidade do aqüífero em removerpoluentes, designada como TratamentoSolo-Aqüífero, ou TSA, é avaliada pormeio de ensaios de laboratório, efetuadosem colunas com 0,30 m de diâmetro.Amostras indeformadas representativas sãocoletadas na área de infiltração e colocadasem uma bateria de colunas para permitir,simultaneamente, a recarga com diversastaxas de infiltração. Essas taxas variam de 0,3a 3,0 m/dia, dependendo das característicasdo solo. O efluente, após passar por trata-mento preliminar, é aplicado na superfície dacoluna a taxas de infiltração determinadas eamostras são coletadas na superfície e a diver-sas profundidades, por meio de pontos detomada colocados ao longo das colunas. Essesensaios permitem determinar, em função das

taxas de infiltração, a profundidade mínimade camada insaturada necessária para que oefluente apresente qualidade adequada paraintegrar o aqüífero.

O sistema TSA vem sendo empregado comsucesso em diversos países, entre os quais aHolanda (infiltração em dunas nas regiões deCastricum, Leiduin e Haia), Israel (região doDan), Chipre (Limassol), Estados Unidos(Cedar Creek, no condado de Nassau, e emdiversos sistemas localizados nos Estados daCalifórnia, Arizona e Nevada), Polônia(Wroclav) e Japão (Akishima).

Os Quadros 1 a 6 apresentam a capaci-dade de remoção de poluentes de diversosaqüíferos recarregados com efluentesdomésticos tratados, em operação nosEstados Unidos. O Quadro 1 mostra a con-centração de coliformes totais e fecais e deS. fecalis antes e após o TSA, efetuado pormeio de uma bacia de infiltração.

O Quadro 2 apresenta as eficiências de

inorgânicos presentes em áreas degradadas, oude combustíveis e chorume, oriundo de aterrossanitários ou depósitos de lixo a céu aberto.

A engenharia de recursos hídricos desen-volveu, com a finalidade de aumentar adisponibilidade de água e de, eventual-mente, resolver problemas localizados, atecnologia de recarga artificial, utilizandoefluentes adequadamente tratados. Essaprática, designada como “recarga gerencia-da”, permite o aumento das reservas subter-râneas com velocidade muito maior do queas que ocorrem naturalmente, proporcio-nando, ainda, maior segurança em termosde proteção dos aqüíferos, uma vez que aqualidade da água de recarga é adequada-mente monitorada.

2. Objetivos e vantagensA recarga artificial, vista como uma moda-

lidade de reuso, pode atender a uma gamasignificativa de objetivos, entre os quais:

• proporcionar tratamentoadicional de efluentes;

A infiltração e percolação de efluentestratados se beneficia da capacidade naturalde biodegradação, sorção, hidrólise, preci-pitação, complexação, troca iônica, fil-tração, etc. dos solos, proporcionando umtratamento in situ e permitindo, em funçãodo tipo de efluente utilizado, dos métodosde recarga, de condições hidrogeológicas edos usos previstos, eliminar a necessidadede sistemas de tratamento avançados. O sis-tema de tratamento proporcionado peloconjunto da camada insaturada e doaqüífero propriamente dito é designado porTratamento Solo-Aqüífero, ou TSA.

O processo de recarga contribui, ainda,para a perda de identidade entre efluentestratados e a água subterrânea, reduzindo oimpacto psicológico do reuso para fins bené-ficos diversos. A recarga artificial permite:

• aumentar a disponibilidade de águaem aqüíferos potáveis ou não potáveis;

Esta é uma das principais vantagens darecarga artificial, particularmente em áreascarentes de recursos hídricos. A transfor-mação de esgotos em água com qualidadepara o atendimento de usos benéficos, taiscomo a irrigação, se constitui, também, embenefício ambiental, evitando a descarga deefluentes em corpos d’água.

• proporcionar reservatórios de água emsubstituição a reservatórios superficiais;

Alguns usos de água, que apresentamdemanda sazonal, requerem grandes reser-vatórios para armazenamento ou métodosalternativos de descarga nos períodos de

baixa demanda. Esses reservatórios, quandoconstruídos na superfície, demandamgrandes áreas e estão sempre associados acustos elevados. Além dos impactos ambi-entais que causam, reservatórios superfi-ciais são afetados por poluição, evaporação,desenvolvimento de gostos e odores devidoà proliferação de algas, produção excessivade macrófitas e outros problemas queimplicam custos de operação e manutenção.

• que o aqüífero possa servircomo um eventual sistemade distribuição, permitindo eliminarcanais ou linhas troncos;

Dependendo das condições locais, os poçosde recuperação da água infiltrada podem serlocalizados em diversos pontos críticos dedemanda, permitindo redução de custos asso-ciados a sistemas de distribuição e de reser-vatórios de regularização.

• prevenir subsidência de solos;A subsidência de solos, definida como

"movimento para baixo ou afundamento dosolo causado pela perda de suporte subja-cente", constitui problema relevante emáreas onde ocorre excessivo bombeamentode água de aqüíferos não suficientementerecarregados naturalmente. A recarga deaqüíferos afetados por subsidência eliminaou minimiza o fenômeno da subsidência.

• prevenir a intrusão de cunhasalina em aqüíferos costeiros.

O bombeamento excessivo de água sub-terrânea de aqüíferos adjacentes a áreascosteiras pode provocar a intrusão de águasalina, tornando-os inadequados comofontes de água potável ou para outros usosque não toleram salinidade elevada. Bateriasde poços de injeção, ou bacias de infiltração,podem ser construídos em áreas críticas,criando barreiras para evitar a intrusão salina.

Efluentes tratados são injetados nos aqüíferosconfinados, estabelecendo um gradientehidráulico no sentido do mar, que previne apenetração de água salgada no aqüífero.

3. Técnicas de recarga artificialHá dois métodos básicos para se proces-

sar a recarga de aqüíferos:

• Injeção direta através de poçosA recarga por meio de injeção direta

requer a construção de poços projetadosespecificamente para esta finalidade, esten-dendo-se através da camada insaturada até oaqüífero. Os efluentes recuperados são inje-tados diretamente, sob pressão, geralmenteem aqüíferos profundos e bem confinados.A injeção direta é a mais adequada quandoos aqüíferos são muito profundos ou quan-do a topografia local ou a disponibilidadede área torna a técnica de infiltraçãoimpraticável ou excessivamente custosa.

Essa metodologia tem sido empregadacom êxito para a proteção de aqüíferoscosteiros visando evitar a intrusão de águasalgada. Há uma grande experiência inter-nacional sobre a proteção de salinização deaqüíferos costeiros, podendo ser salientadosos que operam na região de Los Angeles(Coastal Barrier Project, Orange CountySanitation District), em El Paso, Texas(Fred Harvey Water Reclamation andGroundwater Recharge Project) e noSultanato de Omã (Muskat e Salalah).

Os custos envolvidos na injeção direta sãosignificativamente elevados tanto no que serefere à construção de poços como em relaçãoaos níveis de tratamento necessários para aproteção da qualidade de água do aqüífero.

• Sistemas de infiltração superficialOcorrendo condições locais e característi-

cas hidrogeológicas favoráveis, a recarga

26 DEZ'2004 e JAN/FEV'2005

POÇO DE RECUPERAÇÃO POÇO DE OBSERVAÇÃO

BACIA DE RECARGA

AQÜÍFERO CALCÁREO ARENOSO

NÍVEL DE ÁGUA ORIGINAL

PARA O SISTEMADE ABASTECIMENTOPOÇO DE OBSERVAÇÃO

DUNA COM LENTES DE SILTE E ARGILA

CAMADA IMPERMEÁVEL

ELEVAÇÃO DO NÍVEL DE ÁGUA

Figura 1 - Esquema de um sistema de recarga artificial através de bacia de infiltração

SOLO

ZONA

SAT

URAD

AZO

NA IN

SATU

RADA

NÍVEL DE AQÜÍFERO

(N2)(H2S)(CH4)

(CO2)

VOLA

TIZA

ÇÃO

(CCL

4, C

2CL4

, ETC

)

FILT

RAÇÃ

OSO

RÇÃO

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AÇÃO

HIDR

ÓLIS

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DROD

INÂM

ICA

COM

PLEX

AÇÃO

DILUIÇÃO ELIMINAÇÃORETARDAMENTO

Figura 2 - Remoção de poluentes na camada insaturada e no aqüífero

Quadro 1 - Remoção de coliformes e organismos patogênicos em um sistema TSA

Quadro 2 - Remoção de material particulado e colóides em um sistema TSA

Bactérias (total) No./ mL 100.000 40 - 120

Coliformes totais NMP./ 100mL 400 0 - 20

E. coli NMP./ 100mL 50 0

S. fecalis NMP./ 100mL 150 0

PARÂMETRO UNIDADESConcentração média

antes do SATConcentraçõesdepois do SAT

DESEMPENHO

Sólidos Suspensos mg/L 34 <1 >99,5

Turbidez NTU 13 0,5 95

Algas No./mm3 100 0 100

DBO (particulado) mg/L 14 0 100

DQO (particulado) mg/L 38 0 100

Nitrogênio Orgânico

(particulado) mg/L 3 0 100

PARÂMETRO UNIDADES DESEMPENHO

Efluente Recuperado Eficiência (%)

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28 DEZ'2004 e JAN/FEV'2005

concerne à remoção dos elementos para osquais foi projetado.

O Quadro 6 mostra as eficiências naremoção de compostos orgânicos dissolvidos.Note-se a elevada remoção de DBO solúvel(superior a 90%) e de Carbono OrgânicoDissolvido (superior a 80%). A redução daAbsorbância em UV com comprimento deonda de 234 nm é também bastante signi-ficativa, demonstrando a capacidade deremoção de ácidos húmicos e fúlvicos, pre-cursores da formação de trihalometanos,quando é praticada a desinfecção com cloro.

O Quadro 7 ilustra a tecnologia de recar-ga artificial com efluentes tratados,mostrando as características de alguns sis-temas em operação nos Estados Unidos.Como pode ser verificado, as taxas anuaisde aplicação e as taxas de aplicação diáriasdependem da disponibilidade de efluentes,das características do solo e da operação dasbacias de infiltração. As características dosolo e do efluente sendo percolado estabele-cem as operações de manutenção da partesuperficial das bacias, evitando a colma-tação das camadas superiores.

5. Conclusões e recomendaçõesA prática de recarga artificial de aqüíferos

está bem estabelecida em nível internacionale não apresenta, quando projetada e operadaadequadamente, perigo de contaminação deaqüíferos. Constitui prática convencional deengenharia, que leva em conta todas asvariáveis de importância para projetarsistemas econômicos, operacionais e comriscos aceitáveis, tanto do ponto de vistaambiental como de saúde pública.

Quando adequadamente regulamentadae praticada no Brasil, a recarga artificialtrará benefícios, introduzindo uma novadimensão para a disposição de efluentesdomésticos, proporcionando, simultanea-mente, aumento da disponibilidade deágua, proteção de aqüíferos costeiros contrasalinização, controle de subsidência desolos e sustentação de níveis de aqüíferosfreáticos submetidos a condições inade-quadas de demanda.

A recarga artificial por injeção diretaenvolve custos elevados, tanto aqueles asso-ciados à construção de poços profundoscomo à necessidade da produção de eflu-entes para recarga com qualidade de águamuito próxima à da água potável.

A recarga por sistemas de infiltração,que se beneficia do tratamento solo aqüífero,demanda condições especiais para permi-tir que os efluentes percolados mante-nham a integridade dos aqüíferos.

Quadro 4 - Remoção de nitrogênio em um TSA

Amônea mg/L 5,0 < 0,02 -

N Orgânico mg/L 7,7 0,7 -

Nitrito mg/L 0,2 0,02 -

Nitrato mg/LL 0.1 6,5 -

N Total mg/L 13 7,2 45

N (filtrado) mg/L 10 7,2 28

PARÂMETRO UNIDADES DESEMPENHO

Antes do SAT Após SAT Eficiência (%)

Quadro 5 - Variação da capacidade de troca iônica em um TSA

Sódio mg/L 140 25 - 110 120 - 150

Potássio mg/L 24 1 - 5 20 - 25

LAS - 5,3 2,3 - 2,8 3,2 - 4,0

Boro mg/L 0,33 0.06 - 0,18 0,20 - 0,35

PARÂMETRO UNIDADES DESEMPENHO

Concentraçãomédia

antes do SAT

Concentraçãorecuperado

enquanto capacidadede troca é ativa

Concentraçãorecuperado

após exaustão dacapacidade de troca

Quadro 6 - Remoção de compostos orgânicos dissolvidos em um TSA

DBO mg/L 5 ?0,5 ?90,0

DQO mg/L 46 10,9 76

COD mg/L 18 3,2 82

KmnO4

(consumo como O2) mg/L 9 1,7 81

Absorbância, UV254 cm-1 x 103 239 48 80

Detergentes mg/L 1,1 0,25 77

Fenóis ?g/L 5 ?1,4 ?72

PARÂMETRO UNIDADES DESEMPENHO

Antes do SAT Após SAT Eficiência (%)

Quadro 7 - Características operacionais de alguns sistemas TSA em operação nos Estados Unidos

Camp Pendelton, CA - 2,4 Conforme a disponibilidade Areia grossa Rearranjo dos taludes ede efluente. remoção de sólidos da

superfície em anosalternados.

Hernet, CA 27 0,8 Carrega 1 dia (0,08m), Areia média Aração periódica drena 2 dias e seca 1 dia. e grossa das bacias

Oceanside, CA 44 1,4 Carrega até 0,90m, Areia grossa Escarificação periódicadrena, seca e recarrega. das bacias

Phoenix, AZ 128 0.8 Carrega 10 dias e Areia com argila e Escarificação periódicaseca 14 dias matéria orgânica na

superfície, areia grossae pedregulho

San Clemente, CA 131 1,5 - 3,0 Carregamento contínuo. Areia grossa Nenhuma manutençãoe pedregulho

St. Croix, Virgin Island 34 0,3 - 0,6 Carrega 18 dias e seca 30 dias. Silte, areia e argilaWhittier Narrows, CA 43 1,5 - 3,0 Carrega 7 dias (1,20m), Areia argilosa com Escarificação periódica

drena 7 dias e seca 7 dias. matéria orgânica

As condições e características consideradasideais para sistemas TSA são associadasaos seguintes fatores:

• solos permeáveis comtaxas de infiltração razoáveis;

• camada insaturada comespessura suficiente para estocaro volume de recarga necessário;

• ausência de camadas impermeáveissuspensas que causem excessivaacumulação da água infiltradaantes de atingir o aqüífero;

• distribuição granulométrica nacamada insaturada superior, quesuporte a prática do sistema TSA;

• coeficientes de transmissividadeque não causem retenção excessivade água no aqüífero e

• aqüíferos não confinados.

Os custos associados aos sistemas TSA são,em média, 40% menores do que os custos desistemas de tratamento convencionais equiva-lentes, operando na superfície.

Os sistemas TSA proporcionam níveis detratamento elevados em termos de compostosorgânicos (remoção de DBO, DQO, CODT),organismos patogênicos (coli-formes fecais,criptosporídeos, giardia e vírus) e compostosinorgânicos (nitrogênio e metais pesados).

TAXA DE TAXA DEAPLICAÇÃO PERCOLAÇÃO PROGRAMA DE MANUTENÇÃO DA(m/ ano) (%) (m/ dia) CARREGAMENTO TIPO DE SOLO SUPERFÍCIE DAS LAGOAS

remoção de sólidos suspensos, materialcoloidal, algas, DBO, DQO e nitrogênioorgânico associados a material particulado,presentes no efluente utilizado para recarga.

O Quadro 3 indica uma remoção de fós-foro de 98,5% e eficiências elevadas de ele-mentos traços. Com exceção de cádmio emolibdênio, que apresentam remoção de67%, os demais elementos traços sãoremovidos a valores superiores a 70%.

No Quadro 4 é apresentada a remoção denitrogênio. A amônia é removida a 99,6% e asremoções de nitrogênio orgânico e nitrito sãosuperiores a 90%. Note-se o acréscimo de98% na concentração de nitrato, após a pas-

sagem no sistema SAT, demonstrando a signi-ficativa nitrificação proporcionada na camadainsaturada e no próprio aqüífero.

As remoções de sódio, potássio, boro e avariação do Índice de Adsorção de Sódio –IAS são indicadas no Quadro 5. Note-se quea capacidade de troca de cátions do conjun-to solo aqüífero diminui significativa-mente ao longo do tempo, indicando que,se o TAS foi projetado para tratamento deefluentes com vistas à irrigação de culturas,será necessário fazer a recarga em outraárea, ou optar por um sistema de tratamen-to alternativo, uma vez que o aqüífero uti-lizado atingiu seu nível de saturação no que

Quadro 3 - Remoção de fósforo e elementos traços em um TSA

Fósforo mg/L 2,1 0,03 98,5

Cádmio µg/L 3 <1 >67

Cromo µg/L 10 <3 >70

Cobre µg/L 18 5 72

Molibdênio µg/L 9 <3 >67

Níquel µg/L 38 10 74

Selênio µg/L 8 <2 >75

PARÂMETRO UNIDADES DESEMPENHO

Antes do SAT Após SAT Eficiência (%)

O técnico da Sabesp, Eraldo Rodrigues Araújo,observa vidros de água sem tratamento e tratada;em cinco anos, degradação mais que dobrouos custos para tratá-la e deixá-la potável.

(São Paulo, SP, 23/07/2004.Foto: Marlene Bergamo/ Folha Imagem)

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recursos de TI próximos da obsolescência. Usuáriosinteligentes não são pioneiros, pelo contrário, sócompram depois que os mais afoitos sofreram o ônusda experimentação e que as melhores práticas epadrões tecnológicos daquela tecnologia tenham seconsolidado.

3. FOQUE NOS RISCOS, NÃO NAS OPORTUNIDADES:muitos grandes usuários de TI estão passando paraterceiros suas aplicações e redes de comunicação. Osgrandes bancos brasileiros terceirizaram suas redes dedados para prestadoras de serviços de comunicaçãoseguindo a lógica da concentração de recursos nasatividades-chave do negócio.

Paga-se o preço do aumento da vulnerabilidade eda redução da confiabilidade na comunicação comseus parceiros e clientes.

Priorize seus investimentos em TI: gaste mais nopreparo da organização para enfrentar eventuaisemergências do que no uso radical de TI em novasaplicações.

REPERCUSSÃO – A HBR é uma revista lida porCEOs dos quatro cantos do mundo acostumados aver os investimentos em TI nos primeiros lugares dassuas agendas. Obviamente as idéias de Carr geraramenormes controvérsias e protestos, principalmentepor parte dos fornecedores de tecnologia.Paradoxalmente, esses fornecedores são em parteresponsáveis pela crença de que a TI não contribuipara criar diferenciação estratégica relevante. Emlugar de promover a TI como uma poderosa ferra-menta de implementação de estratégia, a maioriadessas empresas apresentava seus produtos/serviçoscomo panacéias. Quando os resultados não se mate-rializaram, o humor dos CEOs migrou de umextremo para outro: “já que a TI não resolve todos osmeus problemas, então não é relevante”.

No entanto, poderíamos encontrar uma série decontra-argumentos para as proposições de Carr. Osdois mais importantes seriam os seguintes:

1. A EXTRAÇÃO DE VALOR DE TI EXIGE INOVAÇÃO NOSPROCESSOS DE NEGÓCIO: ou seja, sem mudança deprocessos, não tem sistema que dê jeito. A maioriadas empresas não aproveita o uso da tecnologia, poisnão transforma o modus operandi. Isso limita osbenefícios decorrentes. Empresas de sucesso auto-sustentado, como a Dell, a Wal-Mart e a Cisco,provam isso. Mesmo depois que os concorrentes imi-taram suas práticas de negócios, elas continuaram nafrente, distanciando-se cada vez mais em produtivi-dade e agilidade. Isso porque não pararam de inovar.Os avanços em TI criam novas possibilidades de

crescimento e competitividade que se estendem alémdos limites físicos da empresa e se espalham em todaa sua rede de valor. Se bem aproveitados, no momen-to certo, esses avanços criam novas vantagens com-petitivas difíceis de ser prontamente copiadas.

2. O IMPACTO ESTRATÉGICO DE TI SURGE DEINOVAÇÕES INCREMENTAIS E NÃO DE INICIATIVAS“BIG BANG”: raramente projetos de TI bem-sucedidossão gigantescos e baseados numa única inovação,como os de energia elétrica citados por Carr. Pelocontrário, em geral vão aparecendo paulatinamente esão focados em resultados de curto prazo, mas ali-nhados com a estratégia maior do negócio. Osavanços em TI estão longe de alcançar o ponto deretorno decrescente como aconteceu com ferrovias edistribuição de energia elétrica. Progressos emcapacidade de processamento, de armazenagem dedados e em velocidade de transporte de dados con-tinuam acontecendo em ritmo rápido e sustentado.Estamos à beira da eclosão de um novo paradigma,chamado pomposamente de “arquitetura de serviçodistribuída” e que na verdade engloba os conceitosde computação sob demanda e grid computing, nadamais do que o velho princípio do ASP (ApplicationService Provider) incrementado, em que se paga namedida em que se usa. Com isso, a computação seráacessível às pequenas e médias empresas que nãoteriam orçamento para comprar caras licenças desoftware ou equipamentos milionários. O resultadoserá um imenso impacto potencial na competiti-vidade global de uma região ou país.

De fato, a TI isoladamente não é relevante. Ela só érelevante num contexto de esforço conjunto de inovaçãobaseado nas novas possibilidades e oportunidades criadaspela tecnologia. Nessa perspectiva, a TI faz diferença econtinuará sendo assim por muito tempo.

FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 3130 DEZ'2004 e JAN/FEV'2005

A publicação do artigo “It doesn’t mat-ter” – ou a TI não importa –, do jornalistaNicholas G. Carr, na Harvard BusinessReview (HBR) de maio de 2003, causoutanto rebuliço no mercado internacional detecnologia que não demorou para que elefosse convidado a vir ao Brasil, o que ocor-reu no início de dezembro do mesmo ano.Em seu texto polêmico, Carr prevê umfuturo no qual a Tecnologia da Informação(TI) será commodity e passará a ser comer-cializada como energia elétrica e água,remunerada pelo consumo mensal.

A argumentação de Carr lembra o artigo“Strategy and the Internet”, de MichaelPorter, guru da estratégia e professor deHarvard, editado na HBR por Carr emmarço de 2000. No artigo, Porter classifica-va a Internet como mais uma tecnologia,como CAD (Computer Aided Design) ouVideo Streaming, sem a importânciaestratégica que lhe era atribuída na época. “Oartigo do Porter me influenciou muito”, con-fessou Carr à RNT (Revista Nacional deTelecomunicações). Vivia-se a ressaca da bolha,época em que as empresas americanasestavam investindo algo em torno de 50%dos seus orçamentos de capital em tecnologiada informação. Mundialmente as empresasgastavam US$ 2 trilhões por ano em TI.

Como outras tecnologias consumidas emescala global, a TI tornou-se “invisível”, ouseja, acessável e acessível por milhões. Na

visão de Carr, deixou de ser um bem escas-so e por isso perdeu seu valor estratégico:“Quando um recurso empresarial não éubíqüo e é escasso, aí sim podemos consi-derá-lo estratégico. As empresas ganhamvantagem competitiva possuindo ou fazen-do coisas que os concorrentes não podem ounão sabem fazer”.

Nos primórdios da TI, empresasvisionárias como a American Airlines, comseu sistema proprietário de reserva de pas-sagens aéreas, o Sabre, único na época, e aFederal Express, com o sistema de acom-panhamento de pacotes, ofereciam aosseus clientes serviços aparentemente ini-mitáveis. Hoje são apenas “mais uma”a oferecer esses serviços aos seus clientes.

DIFERENCIAÇÃO COMPETITIVA – Carrcita a eletricidade como exemplo de tecnolo-gia que hoje poucos usam como base de dife-renciação competitiva. Uma das rarasexceções é a indústria de alumínio, na qual aeletricidade é matéria-prima básica. O“apagão” de 2002 e o conseqüente raciona-mento provaram ter efeito devastador sobre aeconomia brasileira. Por ter investido emfontes próprias de energia próximas das suasplantas de processamento da bauxita, a CBA- Companhia Brasileira de Alumínio, doGrupo Votorantim, usufruiu dessa vanta-gem distanciando-se dos seus concorrentes,grandes grupos transnacionais.

Hoje, uma paralisia dos sistemas de TIimplantados nas empresas, causada porcatástrofes como enchentes ou atos de terroris-mo, podem ter efeitos igualmente negativos.Prejudica o relacionamento da empresa comseus clientes pelo atraso das entregas con-tratadas e cria custos de formação de estoquespor falta de troca de informações entre osmembros da rede de valor da empresa.Portanto, diz Carr, “administrar os riscos daausência dos sistemas” é mais relevante hojecomo fator de diferenciação competitiva que opróprio uso de TI.

No entanto, o risco maior está no inves-timento excessivo em recursos de TI,adverte Carr, como aconteceu com os datacenters implantados nos anos 2000 a 2002.Embaladas pela “euforia da demanda infini-ta” de capacidade de computação, algumasdessas empresas investiram demasiada-mente em recursos de TI para logo desco-brirem que o mercado não era tão grandepara justificar os investimentos realizados.

Com base nessas idéias, Carr resume suasrecomendações para usuários de TI emtempos nos quais o controle de custo e deriscos é mais importante que investimentoe inovação, nos seguintes pontos:

1. GASTE MENOS: avalie rigorosamente oretorno sobre os investimentos em TI.Separe os investimentos essenciais dossupérfluos, desnecessários ou contraprodu-tivos. Busque alternativas mais simples ebaratas, como a terceirização, e melhorecontinuamente a produtividade dos recur-sos disponíveis.

2. NÃO SEJA PIONEIRO: adie investimen-tos, procure reduzir custos de forma signifi-cativa e minimize o risco de comprar

MICHAEL PORTERpublicou o artigo“Strategy andthe Internet”na Harvard BusinessReview emmarço de 2001.

NICHOLAS G. CARRpublicou o artigo

“It doesn’t matter” - oua TI não importa - na

Harvard Business Reviewem maio de 2003.

LUIZ CARLOS MORAES [email protected]

Professor da FGV-Eaesp.

TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃOFAZ DIFERENÇA,

SIM!Por LUIZ CARLOS MORAES REGO [FGV-EAESP]

O polêmico Nicholas Carr, que escreveu que a TI não trazdiferencial competitivo, veio ao Brasil expor suas idéias.Neste artigo, o autor contra-argumenta algumas delas.

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No que se refere à escassez de água, atémesmo São Pedro chegou a ser responsabi-lizado pela falta de chuva na quantidadenecessária para o atendimento da população.A chamada “vassoura hidráulica” tambémvai para o banco dos réus, como exemplo dodesperdício de água na cidade.

Não é divulgada, no entanto, a respon-sabilidade do setor de saneamento pelas per-das médias de 40% da água tratada dos sis-temas públicos de abastecimento no Estado,o que significa cerca de 50 metros cúbicospor segundo, ou seja, quase 80% da águanecessária para o abastecimento da popu-lação da Região Metropolitana de São Paulo,não sendo tampouco informado qual é ocusto dessas perdas para a sociedade.

Não merecem nenhuma nota na mídiaos dados do Relatório de Situação dosRecursos Hídricos, publicados pelo Daee –Departamento de Águas e Energia Elétrica,em 2002, indicando que o setor industrialreduziu seu consumo de água em 18% e airrigação reduziu em 7%, enquanto o con-sumo doméstico aumentou cerca de 50% noperíodo de 1990 a 1998.

Quando o enfoque é a poluição, inva-riavelmente o vilão principal é o setor pro-dutivo. Estão também à caça dos usuáriosdas águas subterrâneas, culpados pelapoluição e pelo rebaixamento dos níveisdesse manancial, dentre os quaisenquadram-se os grandes condomínios,hotéis, restaurantes, hospitais e indústrias.

Não existe, contudo, a necessária preocu-pação com as causas, que no caso da maiorutilização de águas subterrâneas por parte degrandes consumidores em áreas urbanas, é ovalor excessivo das tarifas de água potávelfornecida pelas concessionárias públicas.

Em outras regiões, a causa principal são oselevados níveis de poluição da água dos rios,que acaba inviabilizando sua utilização,devido aos altos custos de tratamentonecessário para o seu aproveitamento, atémesmo para fins industriais.

Aliás, o aumento das tarifas mencionadasdecorre, em parte, justamente dos crescentescustos para tornar a água potável, tendo emvista o comprometimento da qualidade dosprincipais mananciais de abastecimento daRegião Metropolitana de São Paulo, como asrepresas Billings e Guarapiranga.

Normalmente, não é mencionado com amesma ênfase que a poluição desses reser-vatórios é resultante da ocupação irregularde cerca de dois milhões de pessoas, semnenhuma infra-estrutura, nas áreas deentorno e de preservação dos mesmos.

Essa responsabilidade é exclusiva do

poder público. A atual legislação ambiental,decantada por muitos como sendo de“Primeiro Mundo”, por ser extremamenterestritiva, acaba permitindo e fomentando aclandestinidade, que não encontra restriçãodevido à falta de fiscalização dos órgãoscompetentes, seja na esfera estadual ouna municipal.

Da mesma forma acontece com a poluiçãodos rios, que tem como principal culpado opoder público, pela falta de tratamento deesgotos. Essa situação é agravada em decor-rência, novamente, da legislação ambiental,que impõe limites para o lançamento de eflu-entes que requerem sistemas avançados para oseu atendimento, impedindo a execução desistemas mais simplificados, que trariamimensas melhorias ambientais e sociais.

Segundo dados do referido Relatório deSituação, apenas 25% da carga orgânica deorigem doméstica é removida, ou seja, umagrande parcela dos esgotos domésticoscontinua sendo lançada sem nenhumtratamento diretamente nos corpos de água,enquanto o setor industrial remove 96%da sua carga orgânica, atendendo à legisla-ção em vigor.

No âmbito do Programa de Despoluiçãodo rio Tietê, todas as fontes de poluição deorigem industrial foram controladas e cercade 1.250 empreendimentos adequaram seussistemas de tratamento de efluentes, sem seperceber, contudo, significativa melhora naqualidade de suas águas. De parte do po-der público, das cinco estações de trata-mento de esgotos construídas, a maioria estáociosa, operando em média com cerca de60% de sua capacidade.

A causa disso reside no fato de que os esgo-tos coletados não chegam às estações por faltade planejamento, eficiência e gestão integra-da dos órgãos responsáveis, quer no âmbitoestadual quer no municipal, mas, sobretudo,pela falta de vontade política e atuaçãoresponsável.

No entanto, os “defensores do meio ambi-ente” de plantão não saem nos jornais divul-gando esses dados, que estão disponíveison-line nas páginas oficiais. Até mesmo osverdadeiros e legítimos de-fensores públicos parecemdesconhecer essa realida-de, observando-se esparsasiniciativas para reverteressa situação e obrigar osresponsáveis a cumprir aConstituição Estadual.

Com base nessas infor-mações oficiais, pode-seafirmar que os problemas

de racionamento da água e sua poluiçãodecorrem fundamentalmente da má gestãodos serviços públicos de saneamento associa-da à falta de investimentos no setor, reflexodireto do descaso com que o problema étratado pelas esferas governamentais, tantodo executivo, quanto do legislativo, a quemcabe aprovar a priorização de recursos orça-mentários, seja no âmbito federal, estadualou municipal.

Não se pode mais imputar essa respon-sabilidade ao setor produtivo, que já incor-porou, em maior ou menor escala, o tema nasua agenda, e está empenhado em garantir emelhorar o atual padrão de qualidade de vidada sociedade contemporânea, resultado daprodução de bens e serviços que, além degerar renda e emprego, internaliza a preocu-pação ambiental, e principalmente permite aarrecadação de significativa carga tributária,que, se devidamente aplicada pelo setorpúblico em áreas essenciais como o saneamen-to básico, resultaria na redução da poluiçãodas águas e, conseqüentemente, na melhoriadas condições da saúde da população.

32 DEZ'2004 e JAN/FEV'2005

funcionamento e desenvolvimento das ativida-des produtivas industriais e agrícolas.

Em especial na Região Metropolitana deSão Paulo, os problemas relacionados com otema são constantes no cotidiano da popu-lação, que sofre ora com o racionamento deágua, ora com as constantes inundações, ouaté mesmo ambas simultaneamente, bemcomo com a crescente poluição dos rios emananciais da região.

Em função disso, a água tornou-se o focodo discurso de inúmeros “especialistas deplantão”, sempre prontos a defender tudoaquilo que permita uma boa exposição nosmeios de comunicação e, principalmente,sua autopromoção.

Impõe-se uma “enxurrada” de desin-formações, instaura-se uma verdadeirainquisição na busca incansável dos respon-sáveis pelos problemas, julgam-se e conde-nam-se publicamente os supostos culpados,sem a necessária identificação das reaiscausas e nenhuma preocupação com asconseqüências dessas acusações.

Após o julgamento feito pelos “ambien-talistas de plantão” e a condenação atravésdos meios de comunicação, passam a exigira aplicação das sanções cabíveis. Comoalguns dos réus listados não são facilmentelocalizados, o setor produtivo acaba sempre“pagando o pato”, pois, afinal, na suagrande maioria, está legalmente instalado,tem telefone e endereço fixo.

Não é difícil, no entanto, encontrar ascausas dessa situação e muito menos seusverdadeiros responsáveis, bastando apenas etão-somente observar os fatos e as informaçõesdisponibilizadas pelos órgãos responsáveispela gestão desse recurso tão precioso.

ANGELO ALBIERO [email protected]

Vice-presidente do Ciesp.Diretor Titular do Departamentode Meio Ambiente e DesenvolvimentoSustentável do Ciesp.

Profetiza-se há alguns anos que o grande desafiodo novo século será o fornecimento de água parao atendimento das necessidades da sociedade,desde as mais básicas, como o abastecimento público, até o

Vista aérea do rio Pinheiros, nas proximidadesda avenida dos Bandeirantes, onde se vêo esgoto sendo despejado. As obras doProjeto Tietê, na marginal Pinheiros, faráa captação do esgoto da regiãoe o conduzirá à estação de tratamento.

(São Paulo, SP, 10/05/2004. Foto: Juca Varella/ Folha Imagem)

O DESAFIO DAS

ÁGUASPor ANGELO ALBIERO FILHO [CIESP]

Silhueta de pessoa na represade Guarapiranga, que está como nível de água abaixo do normalpor conta da estiagemque atingiu São Paulo.

(São Paulo, SP, 20/06/2000.Foto: Caio Guatelli/ Folha Imagem)

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A rigor, não se trata de diferenças nem deconfluências. Leonardo da Vinci – para citarum nome que serve tanto à ciência quantoà arte – jamais encarou como um problemao ser artista e cientista ao mesmo tempo, ouque as duas coisas se excluíssem. Eppur simuove, como diria Galileu Galilei, elepróprio um eclético que nunca imaginou aarte num canto e a ciência noutro. De fatoassim é. A arte supõe uma formação que édifícil de imaginar num mundo dominadopela técnica, sobretudo pela técnica aserviço da indústria cultural. Digamos,como hipótese, que o assunto não serestringe a uma simples dicotomia – artesversus ciência e tecnologia. Esse talvez seja ogrande desafio enfrentado pelas instituiçõescientíficas e tecnológicas de hoje. Ocomodismo de marchar a favor da correntedá a idéia de que há um fosso genético entrea ciência e a grande arte, quando não éassim. Refiro-me especificamente à “grandearte” por uma razão até prosaica. Há quemimagine que Beethoven, Picasso ouDostoiévsky podem ser substituídos pelopagodeiro que nasceu ontem, pelo outdoorcom a moça nua vendendo calcinhas, oupelo último livro do Paulo Coelho. Isso faza grande diferença. A idéia de que bastamgrandes mestres em ciência e tecnologia parase formarem bons técnicos – que do resto orádio e a televisão que temos se encarrega dedifundir – é tão deletéria para o espírito cien-tífico quanto para o espírito crítico do cidadãoque a todo momento se vê na contingência deescolher entre o bem e o mal para a sua cidade,o seu Estado ou o seu país.

Fala-se aqui de um esforço, quase inútil,de se tentar uma nova ordem pelo menos noâmbito das academias. Diz-se “quase inútil”porque não há um só professor que rivalizecom a televisão. Ou com o rádio escutado atodo o volume nos banheiros públicos, noselevadores de aeroportos, nos hospitaisestatais e privados, sempre com a mesmamúsica imbecil. Portanto, qualquer ação quese conjugue a essa utopia de pensar nummundo onde as alternativas culturais possamser postas com um mínimo de igualdadedeveria ser determinante para todas as insti-tuições de ensino, sejam estatais ou particu-lares. Será, porém, possível?

Na impossibilidade de se responderimediatamente a esta questão, há sempre oparadigma da história ou dos exemplosalhures. Na guerra Franco-Prussiana, osgenerais de Napoleão III talvez pudessemevitar parte do fiasco do exército francês seatentassem para as teorias dos pintoresimpressionistas. Eles defendiam – com a

razão da ciência – que a cor vermelha sem-pre ressaltava no verde de uma campina.Ora, muitas ações militares dos dois exérci-tos aconteceram durante a primavera.Como parte da cor do fardamento dos sol-dados da França era vermelha, pode-se adi-vinhar o resto. Nunca os artilheiros e ati-radores prussianos foram tão certeiros nasua pontaria. Foi um passeio de que osprussianos tiraram o melhor proveito pos-sível. E venceram a guerra. Claro que nãofoi só porque os generais não atentarampara as teorias – de resto cientificamentecorretas dos impressionistas – que a Françaacabou derrotada. Mas artistas e cientistasdeveriam escutar mais uns aos outros.

Na história da arte não são raros os artis-tas que trabalharam com ciência e vice-versa. Goethe, à parte sua produçãoliterária, foi um cientista mais querespeitável. No livro que escreveu aindajovem sobre uma viagem que fez à Itália –obra de encantamento e de respeito de umdos maiores gênios do mundo germânico àcivilização latina –, a todo momento as con-siderações se derramam sobre a paisagemem reflexões geológicas, botânicas egeográficas. Não há, porém, como evitar aidéia de que seu “Fausto” – o homem que àmercê de sua ciência faz um pacto com odemônio – não seja um tributo a umareflexão pessimista, talvez mais sobre aciência do que sobre a arte.

De fato, mesmo que separados por pres-supostos distintos, cientistas e artistas pare-cem comungar, pelo menos no nosso sécu-lo, um mesmo pessimismo comum quantoao futuro. Este é o legado talvez da figuramúltipla de Fausto que Goethe elegeucomo seu personagem-símbolo. A obra étípica do princípio do século XIX –momento decisivo da história do homemtecnológico e científico. O esplendor dopensamento racionalista, positivo, cien-tificista parecia, em princípio, indicar umanova era. O próprio Karl Marx, desde astrincheiras de sua crítica ao capitalismo,não deixou de ser um otimista na antevisãode um mundo superável sem as con-tradições alienantes do sistema que ele, porassim dizer, desnudou. Não era, contudo, oque previa o poeta e cientista Goethe.

Sob este e outros aspectos, arte e ciênciaparecem se nutrir do mesmo paradoxoquanto ao mundo contemporâneo e seuporvir. Tirante a brevíssima mistificaçãoneolibe-ral, não há ninguém que jure pelasbenfeitorias eternas da tecnologia, indepen-dentemente dos sistemas que a desen-volvem. As separações, contudo, persistem.Há cientistas que se julgam de bem com omundo e com a ciência ao não atentarempara a grande cultura artística. Já os artistaspensam poder superar a alienação domundo ao atacarem os sistemas tecnológi-cos, como se fosse possível ir de São Paulo aPorto Alegre de carroça. Ou a pé.

Que fazer? Se não há incompatibilidadesentre a arte e a ciência, há, sem dúvida, aindústria cultural. Os meios tecnológicosque desenvolveram os sistemas de repro-dução deram numa indústria em que aprópria cultura acabou envolvida. E priva-tizada. Mas essa é uma questão que afeta asociedade como um todo, embora caiba aoscientistas – tanto quanto aos filósofos eartistas – pensarem essa nova realidade. Éimperioso constatar que uma rede de TVimpõe-se muito mais do que várias univer-sidades juntas. Não é por um mero efeitovirtual que um Bush ou um Berlusconnitenham se imposto a duas sociedades dasmais desenvolvidas e civilizadas da históriado mundo.

34 DEZ'2004 e JAN/FEV'2005 FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 35

ARTE E CIÊNCIANÃO SÃO INCOMPATÍVEIS,

MAS A MÍDIA SE IMPORTA COM ISSO?

Assim como a vida é bem mais complexa do que sugerem os ma-nuais de auto-ajuda, as relações entre a ciência e arte são muito maisíntimas do que indicam a indiferença que cientistas e artistas se votammutuamente nesta altura do século. Há as especificidades dos trabalhos de um e de outro

– isso é evidente. Einstein, que foi violinista, sabia o quanto tiraria de seu tempo à física se dedicasse ao

violino o tempo despendido por seu amigo, o virtuose Jasha Heifez, um dos maiores violinistas de todos os

tempos. No entanto, Einstein não imaginava o mundo sem música. Seu colega brasileiro, o também físico

Mário Schenberg, foi um grande crítico de arte. Nunca se leu dele qualquer coisa que sugerisse que a

física não tinha nada a ver com a arte; e vice-versa.

Por ENIO SQUEFF[ARTISTA PLÁSTICO]

Portanto, qualquer ação que se conjugue a essa utopiade pensar num mundo onde as alternativas culturaispossam ser postas com um mínimo de igualdade deveriaser determinante para todas as instituições de ensino,sejam estatais ou particulares. Será, porém, possível?

ENIO [email protected]

Pintor, jornalista e crítico de música.É autor dos livros: O Nacional e o Popular na Música(em co-autoria com José Miguel Wisnik)e A Música na Revolução Francesa.Ilustrou e escreveu (com Helder Perri Ferreira)A Origem dos Nomes dos Municípios Paulistas,editado pela Imesp em 2004.

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FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 3736 DEZ'2004 e JAN/FEV'2005

A Associação Latino-Iberoamericana de GestãoTecnológica - Altec é uma instituição de direito pri-vado internacional sem fins lucrativos, fundada em1984, com o propósito de vincular pessoas naturais ejurídicas ativas na reflexão e no exercício da gestãotecnológica, para realizar atividades de cooperaçãonesta área. A Altec está integrada por um grupo sig-nificativo de profissionais da região, interessados nagestão tecnológica, incluindo pesquisadores, profes-sores universitários, empresários e executivos deempresas, especialistas governamentais, agentesfinanceiros e de cooperação e profissionais que sedesempenham em consultorias privadas.

A missão principal da Altec é promover o desen-volvimento socioeconômico da região Ibero-Americanapor meio do aperfeiçoamento contínuo da gestão tec-nológica. A Altec contribui também para gerar umpensamento ibero-americano sobre problemas rela-cionados com a inovação, que interfira no desenvolvi-mento de políticas de ciência e tecnologia e quefomente a inovação e a instrumentação de projetos dedesenvolvimento tecnológico nos países da região.

Na sua trajetória de quase 20 anos de existência, aAltec tem desenvolvido suas atividades com o apoiode distintas instituições científicas, tecnológicase de cooperação, em âmbitos regional e inter-nacional. Entre as mais significativas, destacam-se:Organização das Nações Unidas para o Desen-volvimento Industrial - Onudi, Organização dosEstados Americanos - OEA, Programa de Ciencia yTecnologia para el Desarrollo, de Espanha - Cyted,Programa das Nações Unidas para o Desen-volvimento - PNUD, El Mercado Común del Cono-cimiento en C y T - Mercocyt. Da mesma forma, suasatividades têm contado com o respaldo institucional deorganizações nacionais de ciência e tecnologia, institu-ições tecnológicas, organizações empresariais, órgãosgovernamentais e universidades dos países onde aAssociação tem promovido atividades. Informaçõesmais completas sobre a Altec podem ser encontradas napágina www.fia.com.br/pgtusp/altec.

A Diretoria de Altec está integrada por seis membrosde diferentes países. A presidência para o período 2001-2005 localiza-se na Universidade de São Paulo, Brasil,junto ao Núcleo de Política e Gestão Tecnológica - PGT(www.fia.com.br/pgtusp). A Diretoria atual está integradapelos seguintes profissionais: presidente Roberto Sbragia(Brasil); Ex-presidente Ignacio Fernandes de Lucio(Espanha); Diretores: Enrique Medellín (México), EnriqueAmbrosio (Espanha), Oscar Galante (Argentina), RodolfoFaloh Bejerano (Cuba) e Tatiana Láscaris (Costa Rica).

Uma das atividades mais importantes da Altec

tem sido a realização de um evento bienal sobre ostemas relevantes de gestão tecnológica na AméricaLatina e Península Ibérica, com sede nos distintospaíses no seu âmbito de atuação. A trajetória dos dezeventos promovidos pela Altec ao longo da suahistória é a seguinte: 1985 Brasil, 1987 México,1989 Argentina, 1991 Venezuela, 1993 Colômbia,1995 Chile, 1997 Cuba, 1999 Espanha, 2001 CostaRica e 2003 México.

Para 2005, atendendo à proposta da AssembléiaGeral de Associados reunida no México, em 2003, aJunta Diretiva aprovou a realização do XI Semináriono Brasil, tendo como tema central InovaçãoTecnológica, Cooperação e Desenvolvimento. Oevento deverá ser organizado por um conjunto deinstituições líderes no campo da Política e Gestão daInovação Tecnológica no Brasil e será realizado emSalvador, Bahia, atendendo a um forte desejo devárias instituições locais e das excepcionais condiçõesde desenvolvimento da região nos últimos anos.

Tendo como eixo central o tema definido, o semi-nário terá por objetivo apresentar as últimas tendên-cias, linhas de pensamento e experiências que têm sedesenvolvido no âmbito ibero-americano em ino-vação e gestão tecnológica, com a intenção de:

• gerar um diálogo aberto que incida no processo dedefinição das diretrizes que vão marcar o desen-volvimento do tema na região ibero-americana;

• apoiar a geração de um pensamento ibero-ameri-cano sobre problemas relacionados com a inova-ção por meio da discussão de metodologias,enfoques e conceitos;

• partilhar experiências de diferentes países esetores para aprender das mesmas e apoiar odesenvolvimento tecnológico;

• brindar aos representantes acadêmicos, de negó-cios, assim como dos setores governamental eprivado, com ferramentas novas que permitamcompreender a importância do uso da ciência eda tecnologia para promover e fomentar o desen-volvimento das economias regionais e partilharos avanços alcançados na matéria.

Como é de tradição, no Seminário Altec 2005poderão participar especialistas e dirigentes das organi-zações do sistema de inovação, executivos de empresas,diretores de marketing, produção, tecnologia e finanças,diretores e especialistas de pesquisa e desenvolvimento,gerentes de projetos, representantes de agências gover-namentais, professores e estudantes universitários queestejam vinculados às áreas de inovação tecnológica dossetores público e privado.

ALTEC 2005XI SEMINARIO DE GESTIÓN TECNOLÓGICA

Salvador - BA - Brasil - 25 a 28 de Outubro 2005

INSCREVA SEU TRABALHO!

PRAZOS:até 28 fevereiro 2005:submissão de resumos

31 de maio de 2005:submissão detrabalhos completos

Mais informaçõespodem ser obtidaspelo e-mail:[email protected]

Ou pela Internet:www.fia.com.br/altec

LEITURA RECOMENDADA

PAULO RENATO SOUZAEditora Pearson EducationSão Paulo, 2004264 páginas, R$ 49,90

Ex-ministro Paulo Renato Souzalança livro sobre as recentestransformações na educação.

SOBRE O AUTOR

Ministro da Educação entre 1995 e 2002,Paulo Renato Souza é doutor em economia pelaUnicamp — instituição da qual foi reitor de1986 a 1990. Na vida pública, exerceu várioscargos técnicos e administrativos, entre eles ode secretário da Educação de São Paulo. Foitambém gerente de operações e vice-presidentedo Banco Interamericano de Desenvolvimento(BID). Atualmente está à frente da Paulo RenatoSouza Consultores, uma empresa de consultoriaque tem como objetivo assessorar seusclientes em temas estratégicos e econômicosrelacionados à educação.

Publicado pela editora Pearson Education, o livro intitulado A revolução gerenciada mostra as mudançasoperadas na educação brasileira entre 1995-2002. Dividida em oito capítulos, a obra conta como ogoverno e a sociedade se uniram para em oito anos empreender uma verdadeira revolução em todos osníveis da educação brasileira, tendo como base um tripé formado por informação, avaliação e comunicação.Para tanto, aborda diversos tópicos - alguns bastante polêmicos, como o Provão - que foram fundamentaispara o êxito do processo de mudança.

Escrito de maneira bastante fluente e rico em detalhes - traz, por exemplo, algumas situações debastidores que envolveram as principais medidas adotadas -, o livro possui fotos que contextualizam omomento político abordado, além de tabelas e figuras que mostram dados comparativos, permitindo umacompleta visualização das mudanças.

No prefácio assinado por Fernando Henrique Cardoso, ele afirma que basta ler este livro para comprovar averacidade das mudanças: “Havia uma revolução silenciosa em marcha na educação brasileira. Se algum dia forpossível publicar as anotações que tomei no dia-a-dia da Presidência, será provado que fiquei, desde o início,positivamente surpreendido com a ação intelectual e administrativa de Paulo Renato”, diz ele em seu texto.

Governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin cumprimentaex-ministro Paulo Renato Souza em noite de autógrafos. (Divulgação)

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38 DEZ'2004 e JAN/FEV'2005

INOVAR É PRECISO,IMPROVISAR NÃO É PRECISO

Por GUILHERME ARY PLONSKI [IPT]

A inovação vem sendo crescentemente invocada como mecanismo básico para redimir empre-sas, regiões e nações de suas crônicas aflições econômicas. Nesse sentido, a busca de políticaseficientes de estímulo à inovação tornou-se, a partir dos anos 1990, um dos eixos estrutu-rantes da Organização para a Cooperação e o

Talvez possamos aprimorar o tratamento da inovação inspiran-do-nos em doutrinas que se mostram bem-sucedidas em outroscampos. Exercitando com doutrinas do campo da saúde, emergemalguns aforismos. A inovação tem baixo efeito se for um ato esporádi-co, devendo ser um estilo de atuação permanente. Não é suficientepara uma organização ser inovadora, é necessário que o seu entornotambém o seja. A atenção à inovação se beneficia de apoio profissio-nal qualificado. Um sistema de apoio à inovação deve conter iniciati-vas de atenção primária (por exemplo, de tecnologia industrial básica– TIB), secundária (por exemplo, desenvolvimento, engenharia e tec-nologia de gestão) e terciária (por exemplo, pesquisa avançada, TIBhigh tech e capital de oportunidade). Quando se percebem os problemasdecorrentes da falta de inovação, por vezes já é tarde demais. Inovaçãosustentada não é fruto de improviso, mas de planejamento cuidadosoe operação competente.

A) COMPREENDER EM PROFUNDIDADE E APLICAR O CONCEITO DE SISTEMADE INOVAÇÃO. Isso implica identificar modos diversos de produção do conhecimen-to. Não faz mais sentido restringir-se ao clássico modelo linear, que parte da pesquisa‘pura’ e chega até novos produtos no mercado. Decorrem dele conceitos obsoletos,ainda que correntes, como o de que a ‘transferência de tecnologia’ é o epicentro doprocesso de inovação. Há outros modos de produção do conhecimento, igualmenterigorosos, que partem da busca de soluções para questões de interesse da sociedade oude seus segmentos. É preciso reconhecer sua legitimidade, apreciar sua relevância eestabelecer mecanismos de estímulo que levem em conta a sua singularidade.

C) ACOMPANHAR AS TENDÊNCIAS DE REFORMULAÇÃO DA DIVISÃO SOCIAL DE PAPÉISDAS EMPRESAS NO SISTEMA DE INOVAÇÃO. Contrariamente ao senso comum, as ino-vações radicais são, cada vez mais, fruto de empresas de pequeno porte.Freqüentemente são firmas nascentes, geradas por empreendedores tecnológicos.Elas estão tipicamente abrigadas em incubadoras, nas quais ingressaram apósrigoroso processo seletivo e onde contam com forte suporte. Às empresas degrande porte cabe, nessa divisão de papéis, identificar novos empreendimentosalinhados com suas macroestratégias, provendo-os de componentes críticos doprocesso (inovação incremental) que vão além da chispa genial: engenharia doproduto, excelência na produção, credibilidade e logística de distribuição, capi-tal para adquirir rapidamente porte compatível com o mercado. Algumasempresas transnacionais inovadoras criaram núcleos que funcionam como radar,perscrutando sistematicamente hábitats de inovação selecionados, na captura deoportunidades dessa natureza.

GUILHERME ARY [email protected]

Diretor Superintendente do Instituto dePesquisas Tecnológicas - IPT.

Prof. da Universidade de São Paulo - USP.Vice-presidente da Associação Nacional deEntidades Promotoras de Empreendimentos

Inovadores - Anprotec.

Desenvolvimento Ecônomico (OCDE), que abrange 30 países com-prometidos com a democracia pluralista e a economia de mercado.

Essa proposição vem ganhando projeção no Brasil principal-mente a partir de 2001, como decorrência da mobilizaçãoassociada à Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia eInovação, realizada em setembro daquele ano. A atual adminis-tração federal ratificou e, até certo ponto, amplificou essa projeçãopela inclusão da dimensão tecnológica em um dos carros-chefe dapolítica econômica, que é a Política Industrial, Tecnológica e deComércio Exterior. Das cinco linhas de ação para a implantaçãodessa política, a primeira focaliza, justamente, a inovação e odesenvolvimento tecnológico.

Há desafios coletivos para que essa linha de ação gere resultadosefetivos. Um deles é construir uma percepção compartilhada de queo progresso técnico pode ser acelerado quando o processo de ino-vação é entendido como fenômeno sociotécnico (e não só técnico)complexo, que precisa ser gerenciado estrategicamente. Isso requero desenho e a validação, pelos agentes relevantes, de um mapa cog-nitivo abrangente em vez de paroquial, baseado em evidências e nãoreflexo de preconceitos.

Entre os desafios nesse campo, destacam-se três pela sua atualidade:

(Hannover, Alemanha, 14/05/2000. Foto: Lalo Almeida/ Folha Imagem)

B) EVITAR O REDUCIONISMO SIMPLIFICADOR QUE CONCENTRA NA EMPRE-SA O ALFA E O ÔMEGA DA INOVAÇÃO. Inovar requer jogo de equipe, em que aimprovisação apenas complementa o planejamento e a coordenação das ações entre osagentes. É evidente que as empresas têm um papel protagonista. Todavia, comodemonstram casos de referência no País – da gigantesca Petrobras à média Vallée e aoPrograma de Pobreza e Meio Ambiente da Amazônia (Poema) – as empresas ino-vadoras estabelecem parcerias estratégicas ativas com outros agentes qualificados –insti-tuições de ensino superior e médio, institutos de pesquisa tecnológica, organiza-ções não-governamentais, entidades do sistema financeiro, empresas de consultoria ede prestação de serviços especializados, sociedades profissionais e outras. Situação sim-ilar ocorre no exterior. Uma ilustração do potencial da ‘parceria público-privada’emana do conhecido estudo pelo qual a National Science Foundation dos EstadosUnidos mostrou que 73% da base deconhecimento que sustentava a reivin-dicação de patentes depositadasnaquele país por empresas decorriamda pesquisa pública.

EXPO são séries de exposições mundiais realizadas periodicamente, em diferentes cidadesdo mundo, com o objetivo de divulgar novas tecnologias. Na primeira edição, em 1851, emLondres, por exemplo, foi montado o Palácio de Cristal. Em 1876, na Filadélfia, Graham Bellmostrou ao mundo o seu telefone, ocasião em que D. Pedro II também visitava a feira. EmParis, 1889, foi construída a torre Eiffel, uma das mais originais edificações de todas asExposições Universais até hoje realizadas. Nessa mesma mostra, foi apresentado o fonó-grafo de Thomas Edison. A última foi em 2000, em Hannover (Alemanha) e a próxima seráem 2005, em Aichi (Japão) e terá como tema principal “a sabedoria da natureza”.

FAT - FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA

SEDE: Rua Três Rios, 131 - cj. 42 - Bom Retiro - São Paulo - SP - CEP 01123-001Telefones: (11) 3313-1200 / 3315-9511/ 228-8373 - [email protected]

Atendimento diferenciado de cada projeto de assessoria, ensino, pesquisa

e treinamento. A partir do conhecimento e análise dos problemas e das necessi-

dades da organização, a FAT propõe, desenvolve e implanta soluções específicas

para cada caso, desenvolvendo projetos sob encomenda.

A FAT posiciona-se, assim, na vanguarda do conhecimento técnico e tecnológico,

estando capacitada para desenvolver estudos e prestar serviços nas mais variadas

áreas do conhecimento: educação, saúde, indústria e meio ambiente, entre outras.

• Cursos - Especialização,Atualização e Capacitação • Prestação de Serviços nas

áreas da Educação,Saúde,Meio Ambiente,Transportes e Indústria,entre outras

• Concursos - Vestibular, Vestibulinhos e outros • Apoios a Eventos e Publicações

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Com o Programa Universidades Banespa, o ensino superior no Brasil vem ganhando mais

conteúdo, mais incentivo e mais modernização. Por meio deste programa, o Banespa faz parceria

com instituições universitárias, destinando recursos para que se atualizem tecnologicamente e

desenvolvam programas educacionais inovadores. Hoje já são dezenas de universidades conveniadas

que estão benefi ciando toda a sua comunidade com esse apoio. Programa Universidades Banespa.

Porque incentivar o Ensino Superior faz parte da nossa história.

Programa Universidades. Imprescindível no currículo das melhores instituições de Ensino Superior.

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