Publicação do Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico...

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ANO IV I N.O 13/1985 ISSN 0101-9147 Publicação do Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semi-Arido (CPA TSA)

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ANO IV I N.O 13/1985

ISSN0101-9147

Publicação do Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semi-Arido (CPATSA)

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P o TO: o Inseto que VIrou manIaAtenção, muita atenção, senhores: os povos de Petrolina e Juazeiro

estão de moda nova - a POTOMANIA -, dizia um locutor de uma dasrádios que atende as duas cidades, num programa matutino.

Na verdade, o locutor queria apenas fazer humor com um fatonovo que tornou-se um verdadeiro tormento para as populações do valedo São Francisco, atacadaspelo potá.

o potá chegou ntl área urbana dosgrandes municípios do vale do São Fran-cisco com as primeiras chuvas de janeirodeste ano. As mais atacadasforam Petro-lina e Juazeiro, mas logo, o inseto foi ga-nhando os rumos das yandes capitais donordeste. Como quem sabe das coisas, oinseto chegou agrupado em verdadeiros"batalhões" e disposto a mostrar que,mesmo senao do mato, sabefazer um tre-mendo "agito". Foi nesse clima que ele"deitou e rolou" em Petrolina.

Apesar de minúsculo, o besourinhodeu provas de que tamanho não é docu-mento. Chegou pelas ruas, penetrou nasescolas, invadiu repartiçõespúblicas, visi-tou bancos, passou'pelos cinemas, entrountlS residências. Não houve um só lugarque ele não visitasse.Nem mesmo a igrejasalvou-se.Não podia ver um "bico de luz"que lá estava ele, e não fez outra coisanesses três meses a não seratacara popu-lação - ou melhor, queimar. Cuidadosose desatentos. Velhos, jovens, recém ntlS-cidos. Aos poucos, a maioria já exibia amarca da "potomania": queimaduras de1. o grau pelo corpo.

(õ)EMBRAPA

~1 Empresa I!r:'5i1eira de Pesquisa- AgropecuanaVinculada ao Ministéri'o ~a Agricultura

Centro de Pesquisa Agropecuáriado Trópico Semi-Árido

O1efeRenival Alves de Souza

O1efe Adjunto TécnicoEdson Lustosa de Possídio

O1efe Adjunto de ApoioPedro Maia e Silva

JORNAL DO SEMI-ÁRIDO

EditoraSirleide Pereira -Reg. 232 MTb/RN

ColaboraçãoElisabet G. Moreira

Pedro GamaFrancisco Zuza

Virgínia de Castro

Tiragem10.000 exemplares

Assessoria de Imprensa e Relações PúblicasCaixa Postal 23 -Fone: (081) 961-4411Telex: (081 )1878 - 56.300 - Petrolina-PE

ImpressloArtes Gráticas e Indústria Ltda.

Av. Heitor Dias, 146Salvador- Bahia

o rebuliço foi geral Os médicosconsultados, farmácias procuradas. Nafalta de tratamento médico especIficoao ataque do potó, as saidas foram asprovidências caseiras:passar álcool, lavarcom sabãoou usaruma pomada qualquer.

COISA NUNCA VISTA

- Você já foi batizado pelo potó?,perguntavam os portadores das queima-duras. "Isto é uma praga", pregavam ou-tros que tentavam a todo custo livrar-sedas maldadesdo inseto.

O certo é que o potó virou noticiae passou a ser o assunto mais comentadoda cidade. Caiu na boca do povo e nosquatro cantos de Petrolina. No entanto,todos fugiam do potó "como o diabofoge da cruz".A essasalturaso insetojáhavia virado tique-tique nervoso. Ao me-nor sintll de algo estranho no corpo osujeito se sacudia,se remexia, se rebolava,numa verdadeira"neurose': O importan-te era livrar-seda "mijada" do potó. Pou-cos conseguiram. Muitos nem dormiama noite toda - também pudera, o talbichinho virarapesadelo.

No' final da história o potó não foipeste, nem praga, nem epidemia e muitomenos endemia. Foi apenasuma oco"ên-cia "nunca vista antes", provocada, se-gundo pesquisadores, por um desequi/i-brio ecológico, conseqüente dos seisanosde' seca.no nordeste. Essa oco"ência po-derá se repetir ou não, dependendo dascondições climáticasda região,daqui práfrente.

Com a redução das chuvas os potósrecolheram-se à caatinga. Talvez estejamacumulando energia para fazer um novo"agito" no próximo inverno. Coisa que,com certeza, ninguém deseja.

QUEMÉ

Presente nos cinco continentes, ocoleópetero da famz'/ia Staphilinidaeconhecido popularmente como potópertence ao gênero Paederus.Possui cor-po alongado, relativamente estreito, pro-vido de élitros muito curtos, detxandogrande parte do abdome descoberto. Temem média 8mm de comprimento, colora-ção preta alaranjadae anda com a extre-midade do abdome levantada, principal-mente quando atacado.

Tanto no estado de larva, comoadulto, os estafilinideos são saprófagosehabitua/mente são predadores. f!,'ntretan-to, também podem alimentar-se depólem, serem fungívoros e fitófagos.

A primeira oco"ência de potó ntlAmérica do Sul deu-se ntl Bahia, em

1912. Sua importância está mais voltadapara a entomologia médica, por causadosdanos que ele causano homem. Quandomolestado, o potó causa uma dermatitepurulenta na epiderme do homem, comuma cicatrizaçãomuito lenta.A lesãoéprovocada por uma substância vesicante,secretada pelas glândulas pigidiais, cujoprincipio ativo foi denominado por Pavan&Bo como "pederin': Casosde surto deconjuntivite são citados por Fain (1966)ntl Itália, Japão, Corea, China, Kandu,Kanji e Kenia,produzidospor Paedereasspp.

Existem centenas de espécies depotós, porém apentls 30 são tidas comocausadores de dermatite no homem. NoBrasil, entre as 20 espécies observadas,citam-se como vesicantesP. columbianusLaporte, 1834; P. Amazonicus Sharp,1876; P. brasiliensis Erichson, 1840; P.fuscipes Curtis,l 826; P. ferus Erichson,1840 e P. goeldi Wasmann,1905.

O potó é bastante atraido pela luzartificial e a umidade elevada é uma im-portante condição para a sua atividade.

CARTASEstimados senhores:

Peço-lhes que me enviem o Jornal Semi-Árido pois trabalho como mestre na Facul-dade de Agronomia da Universidade Autô-noma de Nuevo Leon, em México.

Agradeço de antemão a atenção.Humberto Rodriguez Fuentes - Rio

Grijalva 138 "A" Colônia CentralMonterrey, Nuevo Leon - México.

.Prezado senhores:

Gostaríamos de continuar recebendoeste jornal como doação, pois é de grandeinteresse de nossos usuários. e também paraenriquecer o acervo cultural de nossa biblio-teca.

Na, oportunidade externamo-Ihes osnossos mais sinceros agradecimentos, estan-do sempre à sua inteira disposição.

Olívia Angela Fernandes - IBDF -Minas Gerais.

.Senhor Editor

Ao ler um dos exemplares desse Jornalfiquei fascinado juntamente com outroscolegas agrônomos, pela abordagem de as,suntos de interesse de nossa área. Daí pe-dirmos a assinatura deste Jornal de elevadaimportância para nosso meio profissional.

Aguardo ansiosamente. Eúgênio CaccelliRua Otávio Lamartine, 895 - Caicó-RN.

.Senhor Editor:

Estimamos muito se puderem nós incluirem sua lista de assinantes para podermos co-meçar a receber regularmenre sua im'portan-te publicação, que é o Jornal SEMI-ARlDO.

Agradecemos antecipadamente suaamável atenção.

Jorge E. Meza Prado - Diretor daEstacion Experimental Agrícola, Coopera-tiva Agreria Azucareira - Apartado 22, CasaGrande, Trujillo-Peru.

2 JORNALDO SEMI-ÁRlDO

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Sarney busca na caatingaos conselhos do "Velho Chico"

Presidente Sarney e o Presidente da Embrapa recebidos pelo agricultor T;ago.

Irrigar um milhão de hectares no nor-deste durante o seu governo, ou seja, dupli.car a área irrigada existente no país. Essa foia promessa que o Presidente José SarneJ fezaos nordestinos ao visitar, no último dia 15de junho, os municípios de Petrolina e Jua.zeiro - no Vale do São Francisco - clas-sificada por ele como "uma viagem de tra-balho" .

o Presidente José Sarney foi cauteloso esóbrio nessa sua primeira incursão pelo inte-rior do nordeste na qualidade de Presidente daRepública. Dispensou o excessivo aparato desegurança, que caracterizava as viagens dosPresidentes da "velha república" e descartouqualquer chanc6 dos políticos da região detirarem "proveito" da situação. A prova éque, numa região politicamente "delicada",foram os políticos que menos apareceram. EmPetrolina, por exemplo, no Campo Experimen-tal da EMBRAPA, onde o Centro de PesquisaAgropecuária do Trópico Semi-Árido (CPATSA)faz suas pesquisas, o que prevaleceu foi odiscurso técnico, direcionado para a melhoria ebem estar do pequeno agricultor do sem i-áridobrasileiro.

Na verdade, o que o Presidente Sarneyqueria ver era um projeto de irrigação funcio-nando, conforme declaração sua. Mas ele viumuito mais. Observou que, se de utn lado épossível se cobrir de verde as áreas que ficamnos grandes vales - como as do Projeto NiloCoelho, no vale do São Francisco - onde sefaz irrigação tradicional e que exige maioresinvestimentos -, viu por outro que existe umasaída para os 97~ dos agricultores nordestinosque moram em áreas onde não há água dispo-nível para a grande irrigação. Essa saída oPresidente constatou nas tecnologias alternati-vas e de baixo custo que o CPATSA vem pes-quisando com bons resultados, como o barrei-ro de salvação, a barragemsubterrânea, cister-na rural, sistema de captação de água da chuva"in situ" (pé da planta) e irrigaçãOpor potesde barro. Ao percorrerem uma parte do CampoExperimental a pé, Samey 'e sua comitiva -composta de três Ministrosde Estado e mais oPresidente da EMBRAPA - viram o trabalhode introdução de espécies exóticas adequadasao semi-árido- a aIgaroba, guar, jojoba - e apreocupação da pesquisa em preservar, melho-rar e aproveitar racionalmente as espécies na-tivas da caatinga. Outra linha de pesquisa quechamou a atenção do Presidente Sarney noCPATSA foi a mecanização agrícola a traçãoanimal, atrdvés da qual os pesquisadores reve-

laram as vantagens do uso desses equipamen-tos agrícolas desenvolvidos dentro dessa linha.como o policultor, ceifadeira, pulverizador eoutros mais.

Ao final. sem precisar subir em palanquese sem saborear os "famosos" banquetes - tàocomuns há bem pouco tempo atrás - o Pre-sidente Sarney conseguiu passar o recado deotimismo, confiança e austeridade, marca daNova República: "ao invés de caminharmos,em matéria de opções de Governo. para asregiões mais ricas,' caminhamos para as regiõesmais pobres. A agricultura é o setor prioritáriodo meu governo".

A descontração da "viagem de trabalho"do Presidente ficou por conta da simplicidade ehumildade com que o agricultor Felipe Santia-go, de 63 anos. o recebeu em sua propriedade- ,~fazenda Alto do Angico, de li.!! ha - a4:!km de Petrolina.

Na fazenda de Thiago, como é conhecidonas redondezas, José Sarney viu os resultadosdessas pesquisas sendo aplicados em prática (oagricultor dispõe de uma c.isterna e um barrei-1'0. modelos CPATSA); ganhou um chapéu decouro cru e provou beiju (à base de farinha demandioca), preparado pela família do agricul-tor numa casa de farinha rústica que ele temnos fundos da casa de morada.

Fazenda Alto do Angico:pesquisa e agricultorde mãos dadasLocalizada nas proximidades do

CPATSA, a Fazenda Alto do Angicoé o que se pode chamar de retrato fieldo minifúndio nordestino: são 11,8hectares ocupados com plantios de mi-lho, feijão, algod:lo e mandioca, divi-didos com cultivos de palma e capimbuffel e criações de caprinos, suínose aves.

Felipe Santiago, um agricultor de63 anos de idade, tira o sustento desua família - composta de 11 pessoas- dessas culPuas e da renda obtidacom a "farinhada" que faz em sua pró-pria casa, construída artesanalmente.

Desde 1982 que a pesquisa vemtrabalhando nessa pequena proprieda-

. de, com o objetivo de descobrir alter-nativas economicamente viáveis, a fimde não só melhorar o sistema de pro-dução, mas principalmente o nívelsocial de vida da família desse agricul-tor que, juntamente com mais 30, es-palhados em todos os Estados do nor-deste, compõem os Sistemas de Pro-

dução (SIPs), acompanhados direta-mente pela pesquisa.

Como resultado desse trabalho, aFazenda Alto do Angico conta h<>iecom dois barreiros - um para irrigaçaode salvação, comportando 3 mil m3 eoutro para consumo animal, com capa-cidade para 2 mil m3 - além de umacisterna rural, armazenando 50m3 deágua, de uso exclusivo para consumohumano.

Essas duas tecnologias e outrasmais, como barragem subterrânea,captação de água da chuva "in situ",captação de água de estradas e roda-gens, irrigação por potes de barro,foram pesquisadaspelo CPATSAcomoalternativas para o sertanejo nordesti-no conviver com as irregularidades cli-máticas da região, e todas, segundo ospesquisadores, podem ser absorvidaspelas famílias rurais que moram emáreas onde os recursos hídricos sãoescassos.

o agricultor Tiago faz Sarney provar o beiju.

JORNALDOSEMI-ÁRIDO 3

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Pinheiro Machadono CPATSA:

Vamosrecuperaras perdas

"Este Centro é de umamodéstia franciscana. Elenão será nem privilegiado

e nem discriminado na minhaadministração. Vamos dar

um melhor tratamentofinanceiro e recuperar o que

foi perdido no passado".

Foi assim que o professor Luís Car-los Pinheiro Machado se manifestou arespeito do CPATSA, ao visitá-Io pelaprimeira vez depois de assumir a Presi-dência da EMBRAPA. Uma visita quecoincidiu com a vinda do Presidente JoséSarney à Petrolina, no último dia 15 dejunho - quando o Preside"te conheceutodo o trabalho de pesquisa que o CPATSAvem desenvolvendo para o agricultor dosemi-árido brasileiro.

Apesar de não ter conversado direta-mente com todos os funcionários doCPATSA, como vem fazendo em todassuas visitas às Unidades da EMBRAPA- devido a um imprevisto de últ:ma horae que atrasou sua chegada à Petrolina -

1Yagomostrando tecnologias introduzidas na sua fazenda pela pesquisa.

Luís Carlos Pinheiro Machado deixouclaro, em conversas que manteve com oChefe do Centro, Renival Alves, e comos Coordenadores dos Programas de Pes-quisa, que o diálogo e a discussão devemser estimulados para que a instituição ca-minhe em busca de seu aperfeiçoamento.E foi taxativo: "todos devem apontarnossas falhas concretas, numa relaçãoconstrutiva de igual para igual".

Conhecido no meio científico comoum defensor do meio ambiente, PinheiroMachado definiu, após ouvir explicaçõesdetalhadas dos Coordenadores sobre aspesquisas que o Centro vem trabalhando,que as prioridades na pesquisa agrope-cuária daqui por diante estarão direciona-das para o social, ressalvando que deve-se buscar, através da pesquisa, melhorare aumentar as produções de alimentosbásicos, como o milho, feijão e a mandio-ca, sem esquecer da pesquisa básica so-bre matéria orgânica, microbiologia desolo, ecplogia e conservação da caatinga.

Depois de quase duas horas e meiade conversa mantida na noite do dia 14,com o Chefe do Centro e Coordenadores,o Presidente da EMBRAPA acabou reve-lando que há grandes "afinidades" entrea sua linha de pensamento e a ação doCPATSA.

Ao falar para quase 500 pessoas quelotavam o -auditório do CPATSA no sá-bado, o Presidente daEMBRAPA, Pi-nheiro Machado, sentenciou que "estáao alcance do homem transformar o nor-deste em região de farta produção dealimentos, seja para alimentação e, prin-cipalmente, para superar a dramáticadesnutrição de seus filhos, seja para ge-rar recursos ao seu próprio desenvolvi-mento através da exportação".

Num discurso onde o forte foi airrigação, principalmente a pequena irri-gação ou irrigação de salvação, que aEMBRAPA vem pesquisando, Luís Car-los Pinheiro Machado revelou que essequadro só começará a ser mudado quan-do, simultaneamente, forem "corrigidosproblemas fundiários, econômicos, so-ciais e políticos". Para isso, arrematou,"resta apenas implementar, de formacompetente e séria, a definição políticajátomada pela Nova República".

,O Presidente da EMBRAPA termi-nou classificando de "projeto faraônico ecinematográfico" o desvio do rio SãoFrancisco e chamou a atenção para oscuidados que se deve ter com a irrigação,principalmente com a drenagem" paraevitar-se a salinização".

REFORMA AGRÁRIAvital para democracia

A necessidade absoluta de se aumentar a prOduçãode ali-mentos básicos n.o nordeste; o fortalecimento dos pequenosagricultores e a reestruturação da política de desenvolvimentorural-, foram algumas idéias defendidas pelo Chefedo CPATSA,Renival Alves de Souza, ao receber a visita do Presidente JoséSarney - o terceiro Presidente da República a visitar o Centrode Pesquisa da EMBRAPA em Petrolina, nesses 10anos de exis-tência.

Num discurso curto, no qual enfatiza a reforma agráriacomo ponto de partida para a existência da democracia, RenivalAlves deixou transparecer uma preocupação que aflige técnicos,

4 JORNAL DO SEMI-ÁRIDO

pesquisadores e cientistas que atuam na pesquisa agropecuária:"Qual é a nossa missão: desenvolver a agricultura ou o ho-mem?"

Cerca de 97% das terras do nordeste ocupadas por agri-cultores não têm condições de ser irrigadas pelos métodos tra-dicionais porque a maior parte dos rios é temporário. Apesar demenos de 10%serem donos dessas terras são eles que trabalhame empregam cerca de 85% do pessoal ocupado na agricultura. E épara esse pessoal, segundo o Chefe do Centro, que o CPATSAvem "dedicando ó essencial do seu esforço de trabalho, atravésde uma nova proposta de pesquisa" .

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"A região do São Franciscovai ser dentro

de pouco tempo o maiorcentro tomateiro do país" .

A afinnativa, dita com convicção peloPresidente da Associação dos Produtores deTomate do Médio São Francisco, Diniz Ca-valcanti, numa negociação entre plantadoresde tomate e representantes das agroindústriasda região, sobre o preço do produto, no mês demarço, em Petrolina, não foi feita à toa. Elaestá baseada em três fortes argumentos: ascondições climáticas da região, propícias aocultivo do tomate; o interesse dos' produtorespela cultura e a qualidadedo produto cultivadono vale do São Francisco.

A maior parte dos pl8l1tiosde tomate nonordeste concentra-se hoje em nove municí-pios do médio São Francisco, entre os Estadosde Pernambuco e Bahia. São 10mil hectaresocupados com tomate - dos quais oito desti-nados à produção industrial -, o que dá umamédia de 350 mil tlano, envolvendo cerca detrês mil produtores. .

Porém, tudo isso ainda não é suficientepara que o médio São Francisco venha a ser opólo tomateiro do Brasil. É que no entenderdos plantadores de tomate e industriais do ra-mo falta o mais importante: "uma política agrí-cola para a região nordeste". Trocando emmiúdos isso significa dizer maior respeito aocrédito agrícola, com taxas de juros acessíveisao produtor nordestino; existência de recursospara esse crédito e sua liberação no tempoadequado para os plantios.

DO VALE PARA O MERCADOINTERNACIONAL

o tomate do São Francisco passou a des-pertar o interesse das agroindústriasnacionais,que operam no processamento do produto, de1972 para cá, quando o Instituto de PesquisaAgropecuária de Pernambuco - IPA - come-çou a pesquisar a cultura e a sugerir aosprodutores da região que começassema dividiros grandes plantios de cebola cóm plantios detomate. A partir dai as indústrias foram che-gando e a primeira a se instalar foia CICANOR-TE, em 1978,em Juazeiro (BA). Era o começodo caminho para a industrializaçãodo tomatenordestino e, no ano passado, mais uma indús-tria, a PAOLETTI NORDESTE, começava amovimentar suas máquinas em Petrolina (PE).Este ano mais duas indústrias : COSTAPINTO e FRUTOS 00 VALE - estão ins-talando-se no Distrito Industrial de Petrolina.

Para se ter uma idéia do que essa ati-vidade representa em tennos de garantia demercado para os tomateiros da região, só.umadelas, a CICANORTE, móe cerca de mil tone-ladas de tomate por dia, garantindo 600empre-gos diretos na época de "pico" da colheita_maio a novembro -, segundo infonnações dogerente AIberto Franco. Enquanto isso a

Tomate industrialproduzido no São Francisco.

do Velho Chicopara o mundo

PAOLETTI faz uma previsão de moer esteano 47 mil toneladas de tomate.

Por enqúanto essas empresas fazem ape-nas a moagem, ou seja, o esmagamento dapolpa. Esse produto é enviado para São Paulo,em tanques, onde é feita a operação final: oenlatamento. Mas nas previsões de TeobaldoL. Barros de Andrade, responsável pelo Setorde Pessoal da PAOLETTI NORDESTE, den-tro de três anos as indústrias instaladas no valedo São Francisco estarão processando ó enla-tamento dos produtos feitos à base de massade tomate.

Enquanto isso não acontece os industriaisdo ramo já estão enxergando mais longe. Elessabem que o tomate do São Francisco temtudo para conquistar facilmente o mercadointernacional, devido à sua boa qualidade. Oteor de fungos, registrado hoje no tomate domédio São Francisco, é inferior à proporçãoencontrada no produto cultivado em SãoPaulo.

ROTAÇÃO DA CUL11JRAAUMENTA PRODUTIVIDADE

O ciclo do tomate gira em tomo de 120dias e no periodo de verão a produção médiada região diminui entre 30 e 40%, segundoreclama5ÕCsdos plantadores. Só que essa per-da de produção já pode ser evitada. É quepesquisas desenvolvidas no Campo Experi-mental do CPATSA, em Petrolina, em doisplantios - março/abril e agosto/setembro -isto é, em um período chuvoso e outro seco -mostram que a produção pode pennanecerestável em estações climáticas diferentes. Istoporque os pesquisadores testaram numa áreade I hectare a rotação da cultura com cebola,melão.,melanciae tomate. Depois fizeram umarotação com milho e feijão de corda ou ma-c~sar'(c.aupi). Dois anos depois mais umarotação com a mucuna preta, para incorpora-ção no solo. Tudo isso trouxe bons resultados,segundo conclusões do pesquisador José Piresde Araújo:

- No primeiro e segundo plantios con-seguimos produtividades de 50 a 55 mil kg/ha,enquanto a média da região é de 30 a 35 milkg/ha. Outra vantagem, revelada pela pesquisa,segundo José Pires. é a redução nos custoscom o ~ de fertilizantes.

A deficiência de nitrogênio dos solos daregiões áridas sempre foi um fator limitantedaprodução agrícola. Por isso a pesquisa tambémse preocupou com esse aspecto e em doisexperimentos com cultivos irrigados do toma-teiro rasteiro no solo arenoso do valedo médioSão Francisco. os pesquisadores ClementinoM.B. de Faria e José R. Pereira testaram qua-tro niveis de nitrogênio (N): O;50; 100e 150,das fontes de uréia e sulfato de amônia. apli-cando-os sob três fonnas: a) dose inteira naocasião do transplantio das mudas; b) metade

da dose nQ transplantio das mudas e a outrametade 30 dias depois; c) 1/3da dose ao fazero transplantio. 1/3aos 25 dias e o outro 1/350dias depois. No segundo experimento os doispesquisadores testaram cinco níveis de nitro-gênio: O; 40; 80; 120 e 160 kg/ha. das duasfontes estudadas no primeiro experimento.

Na análise dos pesquisadores ClementinoM.B. de Faria e José R. Pereira. o nível idealde nitrogênio a ser aplicado ao solo destinadoao cultivo de tomate é de 90 kg/ha. Além deser econômico. afinnam eles. o uso desse nívelpossibilita uma produtividade de 28a 67 kg/hade frutos. isto é, 115e 52% superiores às pro-dutividades referentes ao nível zero de nitro-gênio nas condições do primeiro e segundoexperimentos. Eles constataram tambémq~eaépoca e a quantidade mais eficientes paraaplicá-Io é metade da dose no transplantio e aoutra metade 30 dias depois.

PRAGA - O MAIOR INIMIGO

Só que tudo isso de nada adianta se oplantador de tomate do médio São Francisconão estiver preparado para combater um gran-de inimigo da cultura, que nem sempre semostra com nitidez: trata-se das pragas, que sóse revelam quando a produção inteira estáafetada. As màis importantes, identificadaspela pesquisa. são a traça e o microácaro.

De difícil identificação. o microácaro apa-rece na época mais quente e quando a umidadeestá em menor escala. Os sintomas da pragasão bronzeamento brilhante na haste. as folhasamarelando e secando sem murchar. As reco-mendações da pesquisadora Francisca Nemau-ra Pedrosa Haji, do CPATSA. são de que aoperceberem os primeiros sinàis, os tomateirosiniciem o tratamento o mais rápid() possível.

Até o inícioda década de 80os problemasde prngas na cultura do tomateiro nas regiõesirrigadas do trópico semi-árido limitavam-sepraticamente ao microácaro (AcuIopslycoper-sicl), ao Ácaro Vennelho (Tetnmymus evllDSi),às Brocas dos frutos (HeIiodús zea) Pseudo-plusia 00 (Cramer). Entretanto, no final de1981,foi detectada uma nova praga no vale do

Salitre. em Juazeiro (DA) - a traça - atacan-do severamente a cultura do tomateiro.

Conhecida cientificamente por Serobipal-pula absoluta, a traça é uma das piores pragasdo tomate. O adulto e uma mariposa de apro-ximadamente IOmmde envergadura e 6mm decomprimento. Tem coloração geral cinza pra-teada. com asas fnuúadas nos lados poste-riores e distais; antenas fdifonnes e compridas,com artículos de coloração marrom claro, maisrobusto na fêmea do que no macho. Esse inse-to por aparecer durante todo o ciclo da cultura,atacando as gemas. os brotos treminais, asfolhas - consumindo o mesóf1lo -. e tambémos frutos, tornando-os impróprios para a co-mercialização. Os danos são provocados quap-do a traça se acha sob a forma de larva,medindo cerca de 6 a 9mm de comprimento.Inicialmente a larva é branca e a cabeça mar-rom escura. com cápsula pó!H:efálica bemmarcada no primeiro segmento totáxico. Pos-teriormente adquire a coloraçãoverde.com umamancha suave avennelhada no dorso. Os to-mateiros usam em geral altas dosagensde inse-ticidas. em curtos intervalos de aplicação.

O CPATSA recomenda que o controle datraça seja feito através de aplicações alterna-das do inseticida CARTAP 50%na dosagem de40 a 60g para 20 litros de água e a PERME-TRINA 50% na dosagem de 5 a 10mlpara 20litros de água. A orientação do Centro dePesquisa da EMBRAPAem Petrolinaé que. aoidentificar a traça nas lavouras. o plantador detomate faça as primeiras aplicações. propor-cionando uma perfeita cobertura das plantas. ese o nível de infestação for elevado fazeraplic8ÇÔessemanais. Outra recomendação: aúltima aplicação deve ser sempre de PERME-TRINA. por apresentar três dias de carên-cia.

JORNAL DO SEMI-ÁRIDO S

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Técnicos da Unesco em J1isita

ao Campo Experimental da Caatinga.

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Cisterna Rural construida peloProjeto Chapéu de Couro, em Sergipe.

SEMI - ÁRIDO: uma vitrinede tecnologias de baixo custo

No dia 19 de abril eles chegavam em Petrolina. Eram 24 técnicos de 18 países,falando idiomas diferentes, mas tinham um ponto em comum: ver o que o Brasil estáfazendo para desenvolver a agricultura e agricultores no semi-árido nordestino. Aintenção de todos é adaptar as tecnologias agrícolas utilizadas pelos agricultoresnordestinos para as regiões de seus países, onde haja semelhança.'i climáticas com osemi-árido brasileiro.

Esse Encontro de técnicos sul-africanos e latino-americanos é o segundo que serealiza no nordeste e só foi possível graças ao Projeto Regional Maior, da UNESCO,que trata da utilização e conservação dos recursos hídricos na América Latina eCaribe. O objetivo é acelerar o intercámbio tecnológico - especialmentena áreaagrícola - entre países do terceiro mundo, com ênfase para tecnologias de baixocusto.

Sob a wordenação da .UN ESCOlROSTLAC, COBRAPHI, EMBRAPA eEMBRATER, o Encontro reuniu 24 téc-nicos da Bolívia, Peru, Chile, Equador,Paraguai, Argentina, República Domini-cana, Costa do Marfim, México, Togo,Zimbabwe, Nigéria, Kênia e Tanzânia.Participaram também o representante daUNESCO/ROSTLAC - Oficina 'Regio-nal de Ciência e Tecnologia para Améri-ca Latina e Caribe - Cristian Glischer; oPresidente da COBRAPHI - Comissâo

Brasileira para o Programa HidrológicoInternacional - e representante doItamaraty, Conselheiro Francisco deLima e Silva; representantes da EMBRA-TER, além de pesquisadores do CPATSA,Secretários de Agricultura e Diretores dasEMATER's dos Estados de Pernambuco

e Sergipe, e equipes do serviço de exten-são rurai dos dois Estados.

A visita wmeçou pelo CPATSA, emPetrolina, onde a delegação foi recepcio-nada no primeiro dia com uma palestrado Chefe do Centro, Renival Alves deSouza, sobre'a Caracterização da Regiãoe da Pesquisa Agropecuária para o De-senvolvimento do Trópico Semi-Árido(TSA) Brasileiro. Nos três dias que adelegação passou em Petrolina os técni-cos frequentaram o Campo Experimentaldo CPATSA, onde observaram a evolu-ção das pesquisas que o Centro está de-

6 JORNALDO SEMI-ÁRIDO

senvolvendo em função do aproveitamen-to dos recursos hídricos da região, comoo sistema de captação de água Hin situ",barreiro 'de salvação, barragem subterrâ-nea, cisterna rural e aproveitamento deágua de estradas e caminhos.

Ainda no Campo Experimental doCPATSA eles conheceram todo o traba-lho que o Centro vem realizando no cam-po do uso da tração animal, desde os po-licultores 300, 600 e 1500, passando pelaceifadeira até o pulverizador a tração ani-mal. Além desses trabalhos eles visita-ram experimentos de sorgo, milheto, mi-lho, feijão guandu; hortas irrigadas porpotes de barro; experimentos com cultu-ras alternativas (guar, jojoba, algaroba);sistema de irrigação por cápsula porosa;Sistema Integrado de Produção para áreade sequeiro e Sistema de Produção a nívelde produtor.

AGRESTE DE PERNAMBUCO ESERTÃO DE SERGIPE -A INTEGRAÇÃO ENTRE A PESQUISAE A EXTENSÃO

Durante seis dias a delegação percor-reu seis propriedades rurais em quatromunicípios do agreste pernambucano esete em dois municípiosdo sertão de Ser-gipe. Nesses estabelecimentos rurais elestiveram oportunidade de ver a integração

dos trabalhos da pesquisa com a extensãorural, através da adoção, pelos produto-res rurais, das tecnologias desenvolvidaspela pesquisa.

Um bom exemplo é o Sítio Porteiras,localizado em Altinho, região administra-tiva de Bonito(PE), onde seu ManoelElpídio exibiu com muito orgulho a cis-terna subterrânea tipo CPATSA, que eleconstruiu com a orientação dos técnicosdo serviço de extensão rural do seu mu-nicípio. São 32 hectares no Sítio Portei-ras, divididos por seu Manoel Elpídioentre plantios consorciados de milho, fei-jão, melancia e olericulturas, irrigadas pormangueira com chuveiro e aspersores,um sistema de irrigação adaptado por elejunto com os técnicos da extensão. Paracompletar o sustento da família, que viveda renda do Sítio Porteiras, essse peque-no àgricultor pernambucano resolveucriar suínos e bovinos.

IRRIGAR É PRECISO

São oito horas da manhã do dia 20deabril, de um sábado ensolarado. Os 25técnicos e mais os acompanhantes aca-bam de chegar a Camocim de São Félix-- 120kmde Recife -, onde 40% da suapopulação vivem na zona rural, em pro-priedades de menos de 50 hectares.

Camocim de São Félix tem uma his-tória diferente a contar. Sua topografia é .bastante acidentada, facilitando a cons-trução de açudes e o seu índice pluvio-

.métrico anual sempre favoreceu a agri-cultura - este ano, por exemplo, foiregistrado até abril uma precipitação de400mm. Por isso a irrigação aqui estásendo usada a todo vapor.

E foi a exploração da irrigação -principalmente dos sistemas de baixocusto ou irrigação de salvação - por umpequeno grupo de 28 famílias que vive daagricultura, que chamou a atenção dostécnicos em Camocim de São Félix. As28 famílias não possuem terra e exploram40 hectares que pertencem à Cooperativa

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de Agricultores da região. Utilizando osistema de irrigação por mangueira elessobrevivem dos plantios irrigados de re-polho, pimentão e tomate. O tomate estáse sobressaindo e na última safra essesirrigantes obtiveram uma produtividadede 55 toneladas por hectare. Esses irri-gantes trabalham em regime de arrenda-mento e ao final de cinco anos recebem ocapital aplicado por eles, na cooperativa,para a compra de suas próprias glebas.Em todo esse trabalho as orientações téc-nicas e sociais são desempenhadas peloserviço de extensão rural do Estado.

CISTERNAS RURAIS INVADEM OSSERTÕES DE SERGIPE

Nossa .Senhora da Glória, micror-região do sertão sergipano do São Fran-cisco, foi o último pog.to do semi-áridobrasileiro a ser visitado pela delagaçãoestrangeira.Foi nessemunicípio- ondeo grosso da economia vem do milho,feijão e algodão- que os técnicos co-nheceram o Projeto "Chapéu de Couro",desenvolvido desde 1983pelo governo deSergipe.

O "Chapéu de Couro" tem comoobjetivos o aproveitamento dos recursoshídricos e estimular o desenvolvimentodas infra-estruturas de pecuária e social.Mas antes de colocar o projeto em exe-cução o Governador de Sergipe, JoãoAlves, esteve pessoalmente no CPATSA,tomando conhecimento de todas as tec-nologias geradas pelo Centro, com es-pecial interesse pelas cisternas rurais.

Entre as metas do "Chapéu de Cou-ro", que visam atender primeiro os pe-quenos agricultores, estão as construçõesde cinco barragens de médio porte, bar-reiros e 20 mil cisternas,modeloCPATSA,até 1986. Segundo informações do ser-viço de extensão rural de Sergipe, atéabril deste ano mais de 6 mil cisternas jáforam construídas iguais à demonstradapelo produtor José de Lima; da comuni-dade Linda França, em Porto Folha.Nesse município, os visitantes viraintambém um biodigestor em funcionamen-to, instalado através do trabalho conjuntoda Secretaria de Agricultura de Sergipe,com a EMATER.

Já no município de Tabaiana forammostradas aos visitantes uma produção dehortaliças para abastecimento, além 'daindústria de farinha na fazenda Santo Izi-doro. Encerrado o roteiro de visitas pelosemi-árido, os técnicos se reuniram emSergipe, no dia 25, onde elaboraram umdocumento, no qual afirmam a importân-cia do evento.

--......-

Hortaliça irrigada por mangueiraem Camocim de São Felix -Pe.

UNESCO - OFICINA REGIONAL DECIÊNCIA E TECNOLOGIAPARAAMÉRICA LATINAE CARlBEMONTIVIDÉU - URUGUAI

9 de maio de 1985.

Estimado Senhor:

É muito gratificante para mim diri-gir-me a V.Sa. com o propósito de agra-decer o generoso convite, formulado piasautoridades brasileiras, para a execuçãodo Encontro Inter-regional de Transfe-rência de Tecnologia no Nordeste doBrasil, realizado entre 15a 25 de abril de1985.

Permita-me destacar a excelente or-ganização das visitas técnicas, exposições detalhadas e apoio logístico, assimcomo a hospitalidade do CPATSA,EMATER-PE e EMATER-SE em dife-rentes pontos do roteiro.

Esse Encontro foi para todos os par-ticipantes uma experiência inesquecível,com múltiplos resultados práticos. Permi-tiu formar novos conceitos sobre a pes-quisa desenvolvida em função das neces-sidades primordiais das zonas rurais,proporcionando a integração de tecnolo-gias, em particular, e sobre a transferên-cia de tecnologias e seu enfoque interdisci-plinar, em geral.

. Os participantes consideraram que oevento foi um avanço no sistema tradi-cionai de ajuda aos países em via de de-senvolvimento. Durante a excursão ficouclaro, tanto para os participantes da Amé-rica Latina como os da Africa, a exis-tência de um método muito mais frutíferoque o procedimento tradicional de enviarexperts, consultores e administradores.Eles mesmos cumpriram esses papéis deforma espontânea e entusiasta. (Anexocópia das cartas assinadas pelo grupos daÁfrica e América Latina, no final do En-contro).

As atividades se caracterizaram dia adia por demonstrações práticas dos equi-pamentos técnicos e das tecnologias.Geraram-se muitas .idéias novas que se-rão postas em prática nos respectivospaíses. O fato dos participantes serempessoas com formação técnica facilitouuma comunicação natural e harmoniosa.

O apoio do Sr. Carel de Roou, daUNICEF/NIGÉRIA, como tradutor, foifundamental para a transmissão dasidéias. Igualmente desejo destacar a cola-boração da FAO, através do CESPAC,na filmagem de um audiovisual do En-contro e na difusão de novas técnicasaudiovisuais, para treinamento.

Demonstraçãodos

equipamentosa traçãoanimaL

NOTAS

Finalmente, a tragédia nacional daenfermidade e morte do Presidente eleitodo Brasil, sr. Tancredo de AlmeidaNeves, manteve a comunidade em umestado de reflexão, contribuindo para quenesse Encontro tivesse um significadoes-pecial. Nesse sentido, um resultado ines-perado do Encontro foi a tomada deconsciência do potencial deste método detransferência de tecnologia: o métodoproporciona uma nova estratégia para odesenvolvimento. Os resultados do En-contro também são de grande importân-cia para a reunião da CASTALAC lI, aser realizada no mês de agosto, em Bra-sília. A UNESCO publicará o Relatóriofinal do Encontro, que lhe enviaremosposteriormente, e disporá de quatro au-diovisuais sobre o tema.

Expressando mais uma vez nossoprofundo agradecimento, saúdo-o comconsideração e estima.

GUSTAVO MALEKDIRETOR.

Nós, participantes africanos do En-contro de Transferência e Tecnologia nonordeste do Brasil, desejamos externarnossa profunda gratidão à coordenaçãoRegional da UNESCO, por tornar possí-vel a nossa participação nesse Encontro.

Durante a viagem pelo nordeste doBrasil ganhamos proveitosa experiênciaao observarmos os métodos simples, po-rém funcionais, que o povo brasileiroestá adotando para desenvolver a ativida-de agrícola no semi-árido.

Observamos que as técnicas de apro-veitamento de água da chuva para a agri-cultura, como também para o suprimentodoméstico das comunidades rurais, sãosólidas alternativas para a sobrevivênciahumana numa situação de estiagem.

Podemos concluir que essas expe-riências adquiridas no Brasil podem seraplicadas em outras áreas do mundoonde existam condições climáti~s seme-lhantes. Confirmamos que esse Encontrocriou ótimas chances para transferênciasde tecnologias de uma região para outra.

Finalmente, queremos registrar aquinosso apreço à UNESCO, UNICEF, eaos membros dos órgãos brasileiros quetrabalharam para o êxitodesse Encontro, eem particular agradecer aos dirigentes daCOBRAPHI, EMBRAPA, CPATSA,EMBRATER, EMATER-Pe e EMATER-Se, pelos incansáveis esforços durante aviagem.

Sergipe, 25 de abril de 1985assinam todos os membros da delegação

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I

Progresso Técnicoe Pequenos Agricultores

Renival Alves de SouzaChefedo CPATSA

Angel Gabriel Vivallo PinareConsultordo IlCA/EMBRAPA.CPATSA

1. INTRODUÇÃOAOPROGRESSOTOCNICONA AGRICULTURA

A fonna como a sociedade resolve osproblemas de aumento da produção agro-pecuãria pode ser defmida como proces-so de geração de tecnologia agrícola. Estaafinnação defme o "processo" como umaatividade social integrada na dinâmica dasociedade e como um produto da fonna-ção social. Seu desenvolvimento vai de-pender, em última instância, da fonnacomo a sociedade t>rodÜzbens materiais(Harmecker, 1971).1

Em outras palavras, as políticas, estra-tégias e objetivos do processo de geraçãode tecnologia são determinados pelos in-teresses e necessidades de reproduyão daestrutura econômica dominante (Carva-lho, 1982). Esta colocação desmistifica aciência ao serviço da "verdade" e colocaoutro conceito em que a "ciência" é de-senvolvida em função dos interesses dasociedade (Freire, 1979).

Em geral, o conceito de ciência "neu-tra", tão manipulado e patrocinado peloscentros de fmanciamento científico inter-nacional, está sendo submetido a severarevisão porque objetivamente se observaque a pesquisa está integrada a um siste-ma político, militar e econômico particu-lar (Japiassu, 1980, como citado por Quei-roz, 1968).

Por outro lado, Silva et al (1980) eBrand:lo & Reis (1982), caracterizam oprocesso de geração de tecnologia como afonna que as classes dominantes dão res-postas às necessidades que-enfrentam naprodução. .

Se o processo de geração de tecnologiaestá detenninado pelo modelo urbano in-dustrial é necessãrio se colocar algumasperguntas: - Existe um processo particu-lar de geração de tecnologia para os pe-quenos agricultores? - Existe tecnologiapara pequenos agricultores? .

2. OS PEQUENOSAGRICULTORES

Singer, citado por Carvalho (1982),define os pequenos agricultores como pe-quena burguesia em contradições secun-dárias com a burguesia empresarial e ge-rencial, porque os interesses fundamentaisdas classes são os mesmos.O mesmoautorafinna em relação à geração de tecnolo-gia: ~'nasociedade de classesem que vive-mos, há uma classe social, a pequena bur-guesia agrária, que enfrenta problemasconcretos para garantir a reprodução doseu processo de trabalho com as tecnolo-gias geradas a partir dos interesses deoutra classe social com a qual tem contra-dições (secundárias). Então, quando os in-telectuais e técnicos da pequena burguesiaagrãria defendem primeiro a garantia da;Sua,reprodução quanto ao modo de pro-dução simples de mercadorias... no fundodefendem a reprodução dos meios de vida

e os de trabalho dos membros dessaclassesocial e, em seguida, propiciam condi-ções que tomem possíveis as transfonna-ções de frações dessa pequena burguesiaagrãria em burgueses,proprietários, capi-talistas da terra, o que se está verificandoé a consolidaçãopolítica explícita de umaluta de classe entre a pequena burguesiaagráriae a burguesia".

Neste artigo estimou-se destacar comrelevância as opiniões de Carvalho sobreo papel da geração de tecnologia na re-produção econômica e social da classedos pequenos agricultores e o rol dos téc-nicos no conflito entre burguesiae peque-na burguesia, agregando os elementos se-guintes:

- Qualquer política importante demudanças na agricultura precisará dos pe-quenos agricultores como aliados estraté-gicos, especialmente os programas de dis-tribuição fundiária.

- A base da estabilidade de uma polí-tica socialprogressistade refonnas susten-ta-se, em grande parte, pelo abastecimen-to de alimentos às cidadese estes são pro-duzidos em mais.de 60% pelos pequenosagricultores.

Por este motivo os autores estimamque o processo de geração de tecnologiaagrícola deve se orientar de acordo comas políticas do governo para os pequenosagricultores nos aspectos sociais,políticose técnicos. E que este processo de geraçãode tecnologias deve ter os seguintes com-ponentes estratégicos:

a) A geração de tecnologia deve ser com-preendida como componente de umprogrcuna de desenvolvimento ruiaInacional.

A pesquisa agropecuária deve fazerparte de um projeto nacional, no qual asnecessidades e objetivos do segmentoagropecuário detenninarao os objetivos,operações, meios e recursos para a pesqui-sa. Isto supõe uma defmição clara dosobjetivos para o mundo rural e para ospequenos agricultores em geral, nas eco-nomias nacionais e regionais. Desta ma-neira, a função social da pesquisa nosobjetivos nacionais será claramente deter-minada.

O fato de defmir desta fonna o lugarda pesquisa, institucionalmente comocomponente das políticas nacionais,tennina com a pesquisa determinadapor uma instituição e por pesquisadoressem avaliar as necessidades das regiões edo país. Pennite, também, uma corretadistribuição e um melhor controle dosrecursos (Oliveira, 1981).

b) ModeloNacional

Na América Latina e no Brasil, osmodelos de geração de tecnologia estãobaseados fortemente no modelo norte-americano, que se resume em produzir

técnicas para os agricultores mais eficien-tes no mercado, provocando o desapare-cimento dos ineficientes do cenário nacio-nal.

Para os cientistas norte-americanos epara muitos cientistas 'Iatino-americanos,fonnados nos Estados Unidos, sobretudoaqueles da Escola de Chicago, é difícilaceitar que existem pessoas com necessi-dades e motivações sócio-psicológicasdi-ferentes das dos norte-americanos (Quei-roz, 1968).

Isto baseou, em grande parte, as hipó-teses das instituições de pesquisa doBrasil,supondo que agricultoreseficientesadotariam as tecnologiaspor estarem liga-dos estritamente por um s6 objetivo: pro-duzir para o mercado. Para isto, os agri-cultores deveriam mover-sepor objetivosde lucros, mas no nordeste está-se de-monstrando que os pequenos agricultoresestão movendo-se, também, por objetivosde utilidade, o que questiona o modelotradicional da pesquisa. Nes~ sentido, asexperiências de Bose, na India, citadaspor Queiroz (1968), demonstram queos lavradoresmais modernos, urbaniZadose eficientes, embora adotando com maisfacilidade as novas técnicas, não.se mos-travam os mais eficientes nos trabalhosrurais, e, portanto, nos resultados atin-gidos.

Com base nestas afinnativas poderiacolocar-se uma estratégia de progressotécnico nacional ao serviço dos agriculto-res e do país. Essa estratégia de geraçãode tecnologia deveria considerar as neces-sidades destinadas à alimentação, à agro-indústria, à indústria e às exportações dopaís. Isto transfonnará o processo socialde geração de tecnologia agropecuárionum componente dinâmico e comprome-tido com o desenvolvimento rural nacio-nal e as tecnologiasestrangeirasencontra-rão seu lugar mais correto e eficaz.

c) Pesquisaao Serviço dos Agricultores eConsumidores

Segundo Shultz (1982),"no pr~ssupos-to que os aportes da pesquisa reduzam oscustos reais de produção dos produtosagrícolas, e esta redução significa exce-dentes para o produtor ou eoxcedentespara o consumidor, ou melhor, algumacombinação favorávelpara ambos".

Ao longo do tempo, em mercadoscompetitivos, os benefícios da pesquisavão predominantemente para os consu-midores, ocorrendo o contrário com osprodutos industriais em que se beneficiammais os iOOustriais(Brandão & Reis, 1982).É evidente que, por distorções na polí-tica agrícola, os benefícios dos aumentosde produção não são captados pelos agri-cultores e nem pelos consumidores, massim desviados pelos atravessadores, co-merciantes e especuladoresnacionaise in-ternacionais, sendo no fmal aqueles que

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aproveitam os benefícios da pesquisa.Com base nestes dados, a pesquisa deveriaorientar-se para alcançar os seguintesobjetivos:

- considerar a solução de problemasdos pequenos agricultores que impedemo desenvolvimentode suas forças produti-vas;

- resolver contradições campo-cidade,criando economia rural regional;

- aumentar a produção de alimentos,produtos para a agroindústria e para ex-portação;

- conservarrecursos naturais;- incrementar a produção do trabalho

e da terra;- gerar empregos e diminuir a penosi-

dade do trabalho agrícola;- oferecer soluções técnicas aos pro-

blemas de água, habitação, consumo econdições de vida dos agricultores.

MEDIDASCONCRETASPARA GERARTECNOLOGIASPARA PEQUENOSAGRICULTORES

A partir dos objetivos indicados ante-rionnente pode-se sugerir as seguintesme-didas para gerar tecnologiapara pequenosagricultores, segundo iouza et ai (1985):

"Criar condições de organização cam-ponesa para reivindicar meios. e recursosque atendam suas necessidades, entre elasas de tecnologias;

Avaliar no sistema sócio-econômico eagroecológico regional e local as potencia-lidades, necessidades e limitações que im-pedem o desenvolvimento dos pequenosagricultores;

Desenvolver métOdos, conteúdos, técni-cas e tecnologias a partir de várias hipóte-ses, entre elas:

a) gerar tecnologias no interior da eco-nomia dos pequenos agricultores;

b) melhorar tecnologias existentes aonível dos pequenos agricultores;

c) adaptar tecnologias existentes paraos problemas dos .pequenos agricultores;

d) integrar, em certas etapas, o proces-so de geração de tecnologia, os agriculto-res e a extensão;

e) estender o âmbito da pesquisa agro-pecuária aos problemas do desenvolvi-mento econômico e social para adequara pesquisa às condições reais do desen-volvimento;

f) gerar, ao nível de pesquisa, subsídiosque permitam às autoridades políticasapoiarem o desenvolvimento e tecnologiaspara pequenos agricultores".

Em conclusão, a estratégia de geraçãode tecnologia deverá se direcionar, commaior ênfase, para atingir os pequenosagricultores e, por outro lado, o conteúdoda pesquisa deverá ser original e criativopara enfrentar um desafio científico di-fícil, mas gratificante para os pesquisado-res e para a economia nacional.

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Novas

PublicaçõesBOLETIM DE PESQUISA N." 23 -

Influência de métodos de irrigação sobre aprodução de cebola no submédio SãoFrancisco. José Monteiro Soares e LuísJorge Gama Wanderley. 28p.

.BOLETIM DE PESQUISA No" 24 -

Efeito da profundidade de semeadura naformação de mudas de pau-d'arco e imbu-rana-de-cheiro. Helton [Yamin da Silva,Sônia M.a de Souza, Marcos AntonioDrumond e Jorge Ribaski. 16p.

.DOCUMENTOSN." 29 - Esboço da

Vegetação da bacia hidrográfica do Sipaú-ba, Bodocó. PE. George André Fotius elêdo Bezerra Sã. 3Op.ilust.

.DOCUMENTOSN."30- Uso da função

discriminante linear na clàssificaçãodos fa-tores que determinam o êxodo ruml. AngelGabriel VivalloPinaree Carlos AlbertoVas-concelos de Oliveira. 3Op.(Sudene - Pro-jeto Sertanejo).

.DOCUMENTOSN." 32 - Consorciação

com a cultura da mandioca no Nordeste doBrasil - Resultados atuais e perspectivaspara futUraspesquisas. Meka RamamohamaRao e Luiz Balbino Morgado. 22p. ilust.

.DOCUMENTOSN."33 - Consorciação

com a cultura do algodão no Nordeste doBrasil - Resultados atuais e perspectivaspara futuras pesquisas. Luis Balbino Mor-gado e Meka Ramamohama Rao. 36p. ilust.

.DOCUMENTOSN."34- Considerações

sobre Crédito Agrícola: O Caso de Ouri-cúh. 'PE. Renival Alves de Souza, AngelGabriel Vivallo Pinare. César OsvaldoWiIliams Fuentes e Ronnie Philips Finshi.29p.

.PESQUISAEM ANDAMENTONo"31-

Propagação vegetativa da acerola por es-taquia. Clóvis Eduardo de Souza Nasci-mento.

.

PESQUISA EM ANDAMENTO N." 32 -Comportamento de EuéaJyptus aunaldulen-sis Dehnh em Petrolina, PE, aos 36 mesesde idade. Sônia M.a de Souza, Paulo CesarFernandes Lima e lsmael Eleotério Pires.

.. PESQUISAEM Al'iIOAMENTON."33-Ensaio de procedências de EucaUptusCa-maldulensis Dehnh em Petrolina, PE. PauloCésar Femandes Lima e Ismael EleotérioPires.

.BOLETIM AGROMETEOROLóGlCO

1980-1981-1982.

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CAA TINGA

Mamão-de-veadoum ilustre

desconhecidopor José Luciano S. Lima

pesquisador CPA TSA/EMBRAPA

O que vem a ser o mamãozinho oumamão-de-veado - conhecido assim porser consumido por veados -, tão co-mum na caatinga, mas também tão au-sente das páginas da literatura científicaque falam sobre as caatingas?

Essa espécie, da família Jacaratia co-rumbensis Kuntze, é um arbusto comramificação delgada, cfija raiz, chamadade batata túbera, armazena água. Quandoadulta, essa xerófita apresenta caule emtorno de 4 cm de diâmetro na base, riti-doma marrom-claro e, se cortada, podeser ramificada desde sua base.

O mamãozinho ou mamão-de-veado- desconhecido até hoje para a maioriados estudiosos da caatinga - tanto noque diz respeito ao seu uso, ocorrência einteresse econômico, cresce apoiando-sesobre árvores e outros arbustos, chegan-do a atingir 4 metros de altura, depen-dendo do seu porte.

As folhas são percioladas, alternas,com três folíolos, todos com lóbulos irre-gulares. A parte superior da planta apre-senta uma coloração verde-intenso, e ainferior, esbranquiçada. Por incisão docaule, folhas, ha exsudato. A planta édióica, o que significa apresentar produ-ção de flores unissexuals em indivíduosdiferentes. As flores femininas são solitá-rias no topo das ramificações e as mascu-linas são agrupadas nos nós dos ramos. Ofruto é uma baga pequena, comprida,medindo cerca de 6cm de comprimentopor 1cm de largura e, qUaJ~domadura, éamarelo-laranja.

Essa planta possui uma raiz principalque se transforma em tubérculo/batatalxilopódio, apresentando-se sob diferentesformas, mas tendo na arredondada a maiscomum. Existem tubérculos que chegama pesar 70kg. Na superfície do soloobser-va-se a saliência provocada pela.pressão

exercida pelo xilopódio. Isto ocorre nacaatinga nordestina, em diferentes tiposde solo, sejam eles arenosos ou pedre-gosos.

Em 1982, levantamentos fitoecológi-cos realizados pelo CPATSA-EMBRAPAna região sul de Ouricuri (Pe), identifi-caram que numa área aproximada de 4mil :km2, a espécie ocorreu 29 vezes,registrando-se desse modo uma ocorrên-cia de 6,5% na área estudada, o que le-va-nos a considerar uma espécie relativa-mente freqüente. A densidade de indiví-duos por ha é de 1,20; a área da copa éde 2,44m2 e a área da copa por ha é de2,93m2.

UTILIZAÇÃO DO TUBÉRCULO

Nos períodos secos e de difícil so-brevivência, a raiz do mamão-de-veadoémuito utilizada na produção caseira de"tijolos de mamão-de-veado" que ser-vem tanto para consumo da família e detrabalhadores, como para comercializa-ção nos centros de comércio e feiras li-vres.

Durante 22 anos, um dos produtoresdo ProjetoManiçoba(Juazeiro-Ba), OlímpioAlves da Mota, tabricou tijolos de ma-mão-de-veado e rapadura de cana-de-açú-car. Segundo Olímpio Alves, que já foiproprietário de um engenho à margein doSão Francisco, "os tijolos tinham maioraceitação que a rapadura". Disse aindaOlímplo Alves que a raiz, por ter sabor"um pouco travoso e sem doce, dificil-mente é consumida in natura, sendo usa-da mesmo para fabricação de "tijolos",acrescentando que a água da túbera "nãoé venosa". E tanto o pesquisador Lucia-no Santos Lima como outros funcioná-rios do CPATSA chegaram a prová-Ia innatura, sem sentirem distúrbios aparen-tes no organismo.

Até hoje o mamãozinho ou mamão-de-veado tem sido explorado de formaexclusivamente extrativista. No entanto,devido à sua importância e às repetiçõesdos períodos secos na região do trópicoseml-árido do nordeste brasileiro - ondea escassez de água e alimento na caatingasão responsáveIs pela desnutrição, êxodorural e o maior percentual da mortalidadedo sertanejo nordestino - seria reco-mendável desenvolver trabalhos para es-tudar o manejo, fisiologiae melhoramen-tos da espécie.

Mamãozinho no período seco com frutosjovens e sem [olhfls. Altura 2,45m.

"TUOLO" DE MAMÃO-DE-VEADOMODO DE FAZER

I. Tirar a casca da batata2. Passar no ralador (igual à mandioca)3. Cozinhar a massa com água natural

até ferver4. Pôr dentro de um saco, amarrar e

pendurar numa corda, deixandosecar por duas ou três horas.

5. Após a secagem, prensar a massacom folha de camaúba ou torcer

6. Peneirar a massa seca7. Pôr a massa em uma gamela8. Misturar o mel de cana-de-açúcar,

no "ponto de tijolo", com a massana gamela, usando remo de pau

9. Colocar temperos: canela, cravo,erva-doce

10. Pegar a mistura, encher as formas edeixar esfriar. Na região, é comumo uso de formas com capacidade

, de I,4Kg; 1,6Kg e 2Kg. Estas de-vem' estar preparadas sobre tábuasou cimento, forradas com um panoúmido, para que o tijolo seja desta-cado facilmente.

10 JORNAL DO SEMI-ÁRIDO

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1. ARAPIRACA PithecellobiumpaIViflorum(Willd.)Benth. X X X X X X X XFam. Mimosaceae

2. CANAFISTULA1. Cassiaexcelsa Scharad. X X X X X X XFam. Caesalniniaceae3. CANAFISTULA2. Cassiamartiana Benth.

X X XFam. Caesalniniaceae4. ESPINHEIRO Pithecellobiumviridifolium

X X X X XFam. Mimosaceae5. FAVELA.DE.GALlNHA Cnidoscolusbahianus (UIe)Pax. e!. K. Hoffm X X X X

Fam. EUDhorbiaceae6. JUREMA-BRANCA MimosaSp. X X X X X XFaro. Mimosaceae7. PAU.BRANCO(PE) fraunhofera multiflora Mar!. X X X X X XFamoCelastraceae8. PAU.FERRO Caesalpiniaferrea Mart. ex Tul. X X X X X X X X X

RAMA.DE-BOIFam. CaesalpiniaceaeAcaciapiauhiensisBenth. X X X XFam. Mimosaceae

10. SÃO JOÃO Cassiagranu ata Rizzini. X X XFam. CaesalDiniaceae

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OcorrênciadeprecipitaçãonoCampoExperimentalda Caatinga- 1979 a 1984

Malaquias da Silva Amorim Neto .A precipitação na região Tropical

Semi-Árido (TSA) do nordeste brasileirotem sido alvo de estudos por vário;; pes-quisadores nacionais e internacionais,por causa dos efeitos sócio-econômicoscausados por sua irregularidade.

Um dos estudos que causaram maispolêmicas no meio científico foi o execu-tado pelos técnicos do Centro TécnicoAeroespacial (CTA) de São José dosCampos - SP, Carlos Girardi e Luiz Tei-xeira, em 1978, intitulado "PROGNÓS-TICO DE TEMPO A lJ)NGO PRAZO".Nesse estudo, a série de dados de totaisanuais de precipitações de. 1849 a 1977(129 anos) da cidade de Fortaleza-CE, foisubmetida a um tratamento matemáticopreliminar, com a finalidade de compro-ovar a periodicidade das secas. Numa aná-lise final de tendências verificou-se apossibilidade de ocorrência de um perío-do seco de 1979a 1985,com os anos de1983e 1984sendo os mais críticos.

De acordo com as observações feitasem séries p1uviométricasde vários locaisdo TSA, verificamos que nem sempre ototal anual da precipitação é.representati-vo de um ano. seco. Isso porque, geral-mente, os problemas. ocasionados pelapluviosidade regional' começam, princi-palmente, com a sua distribuição irregu-lar durante o período chuvoso.

Com o objetivo de verificarmos estaafirmativa, analisamos os dados diáriosreferentes aos anos agrícolas de 1978a1984,da Estação Meteorológica do Caro- .po Experimental da Caatinga, localizadono município de Petrolina (PE), cujascoordenadas geográficas 'são latitude -09005' S, longitude - 40024' 'W e altitude379m. Na tabela 1 estão descritos ostotais mensais da precipitação com osrespectivos números de dias de ocorrên-cias para os diferentes anos agrícolas.Definimos ano agrícola como o períodoentre a época de preparo do solo para oplantio - gefalmente após as primeirasprecipitações - e a colheita (final doperíodo chuvoso). Paça a região onde'está localizada a Estação da Caating.. oano agrícola corresponde aos meses dedezembro a abril, onde há maior ocorrên-cia da precipitação.

O total médio anual da precipitaçãopara esta região é de 400mm. De acordocom os dados da tabela I, o único anoagrícola que obteve total abaixo da médiafoi e de 81/82, sendo que os demaisapresentaram totais acima da média. Aanálise individual dos anos agrícolasapresentou os seguintes resultados:

ANO 78/79 - Foram 476,5mm deprecipitação ocorridos, em 33 dias. Emapenas 15dias, entre a segunda quinzenade janeiro e a primeira quinzena de maio,ocorreram precipitações superiores atOmmldia, sendo que destas, quatro fo-ram significativas, com totais superioresa 30mmldia. Assim, constata-se que em-bora o total anual tenha sido acima da

média da região, o ano pode ser conside-rado como SECO do ponto de vista agrí-cola. .

ANO 79/80 - Dos 433,4mnf-depre-cipitação ocorridos nesse ano agrícola,mais de 90%, ou seja, 400,5mm foramregistrados em 29 dias dos meses dejaneiro e fevereiro, com \3 precipitaçõessuperiores a tOmm/dia, das quais seteforam superiores a 30mm/dia. Esse anoagrícola é considerado BOM para a re-gião, porque embora a precipitação te-nha-se concentrado em apenas dois me-ses, foi bem distribuída ao longo deles,proporcionando a colheita de culturascom ciclo curto (70 a 80 dias), e o arma-zenamento de água nos reservatórios.

ANO 80/81 - Esse ano agrícola étípico ano de seca verde, porque dos555,8mm registrados no ano inteiro,453,Omm foram ocorridos em \3 dias domês de março. O registro pluviométricodesses anos é caracterizado por precipi-tações intensas e por grandes totais diá-rios, como o do dia 26 de março, em quea precipitação foi de 116mm, ou seja, oequivalente a 25% do total mensal. Esseano, devido à alta concentração da preci-pitação, deu para encher os reservatóriosd'água, mas não propiciou condiçõespara a obtenção de colheitas ou formaçãode pastagens em abundância para os ani-mais.

ANO 81/82 - Esse ano agrícola éconsiderado como um ano de seca ex-trema, tanto em relação ao total pluvio-métrico - 3tO,Omm- como em relaçãoà distribuição - 24 dias. Das precipita-ções' ocorridas entre 29 de dezembro de1981 a 18 de abril de 1982, seis foramsuperiores a 20mmldia, com os períodosde oco'rrência variando em tomo de 20dias entre eles. Observa-se na sua dis-tribuição que o total registrado em 29 dedezembro de 1981 - lOO,6mm, corres-ponde aproximadamente a 30% do totaldo ano. Portanto, não houve nesse anonem abâstecimento dos reservatóriosnem produção agrícola, como tambémqualquer formação de pastagens para aalimentação dos animais.

ANO 82/83- Com uma precipitaçãode 401,2mm - corresp~ndente aproxi-

madamente à mé<;lia da região (400mm)- a distribuição das chuvas entre asegunda quinzena 'de janeiro até o finalde março proporcionou aos agricultoresda região a obtenção de produção agríco-la e a formação de pastagens para os re-banhos. Apesar desse ano ser considera-do REGULAR, em razão da boa dis-tribuição pluviométrica, não foi no en-tanto suficiente para o armazenamentode água. Isso porque dos 22 dias chu-vosos a partir da segunda quinzena dejaneiro, apenas sete ultrapassaram a altu-ra pluviométrica de 20mm/dia.

ANO 83/84 -' O total anual da pre-cipitação esse ano foi de 601,lmm, o quesignifica um aumento de 50% em relaçãoà média da região (400mm). Um outrofato interessante ocorrido nesse ano foi oretardamento do período chuvoso, ini-ciando-se no mês de março e prolongan-do-se até a primeira quinzena de maio.Isto o diferencia dos anos normais urnavez que o período de maior ocorrência deprecipitação concentra-se entre os mesesde janeiro/fevereiro/março. Consideran-do a distribuição das chuvas a partir demarço, podemos considerá-Io como umBOM ano para produção agrícola, for-mação de pastagens e alimentação dosanimais, além de ter abastecido os reser-vatórios.

CONCLUSÃO

Analisando isoladamente os dados pluvio-métricos de cada ano agrícola, podemos cons-tatar que, em cinco dos seis casos, os totaisregistrados forjim sempre superiores à médiada região - caracterizando a inexistência deseca. No entanto, nem sempre o total anual deprecipitação indica ser o ano seco ou chuvosono TSA, e sim a sua distribuição. Os resulta-dos mostrcun que um ano pode ser seco doponto de vista agrícola e bom em relação aoarmazenamento hídrico, ou vice-versa. Vejamabaixo as conclusões para cada ano:I Os anos agrícolas de 78/79 e 81/82 foram

secos, sendo este último o mais crítico.2 Os anos agrícolas de 79/80 e 83/84 foram

bons tanto do ponto de vista agrícolacomo,de armazenamento de água nos reservató-rios.

3 O ano agrícola de 80/81apresentou-se bomem relação ao armazenamento de águae seco sob o ponto de vista agrícola, devi-do à mádistribuição da precipitação.

4 - Devido à boa distribuição da precipitação,o ano agrícola de 82/83 foi bom para aprodução agrícola e seco para o armaze-namento de água.

.O autor do trctbalho é meteorologistae pesquisador do CPATSA/EMBRAPA

Tabela 1Totais mensaisde precipitação (P) com as quantidadesde dias de ocorrência (N)nos anos asrícolas de1978 a 1984. Estação Meteorológicada Caatinga, Lat.: 09°05' S, Long.: 40024' W e AIt.: 379m.

MeseslAno 78/79 79/80 SO/81 81/82 82/83 83/84Agrícola

p N P N P N P N P N P NNOV - - - - - - - - - - 80,6 4DEZ 14,4 5 - - 26,1 6 114,1 5 42,3 3 13,7 2JAN 122,7 7 181,4 11 30,8 3 73,S 4 77,7 8 9,6 2FEV 83,7 6 219,1 18 4,3 3 26,9 3 166,1 7 3,1 1MAR 98,7 6 5,9 3 453,0 13 51,S 6 115,1 11 317,2 15ABR 113,9 6 27,0 3 41,6 4 44,0 6 - - 146,2 14MAl 43,1 3 - - - - - - - - 30,7 8

TOTAL 476,5 33 433,4 35 555,8 29 310,0 24 401,2 29 601,1 46--

JORNALDOSEMI-ÁRIOO 11

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MANIÇOBA-o QUE NAO MATA, ENGORDA

"0 que não mata, engorda". Este provérbio popular caiu comouma luva sobre uma descoberta que três pesquisadores do CPA TSA- em Petrolina - acabam de fazer: a maniçoba - planta comum nacaatinga nordestina - não mata os animais, como muita gente pensa.Pelo contrário. Aumenta o peso muito mais rápido do que outros tiposde forragens (capim butfel, por exemplo), comuns na alimentação dosrebanhos bovinos.

Entre as desconfiançiS que quase todo agricultor nordestino temsobre os "perigos da toxidez" da maniçoba, até chegarem a essaconclusão, os pesquisadores Luís Maurício Salviano, José GivaldoGóes Soares e Maria do Carmo Freitas levardl11 três anos e meiopesquisando. Tempo suficiente para observarem que, além de não serfatal, a planta tem qualidades nutritivas superiores a muitos outrosingredientes comuns nas cocheiras dos animais. São :!~ de proteínase mais de 6()q de digestibilidade. E para quem acha pouco essasqualidades, tem mais: um levantamento feito no Campo Experimentaldo CPATSA revelou que numa área recém desmatada pode-se colherem média I tonelada de matéria seca por hectare.

MAL NENHUM

Tudo começou com o trabalho de Avaliação de Dieta para Bovi-nos que os três pesquisadores do CPATSA estão fazendo de 1981paracá, na vegetação nativa do Campo Experimental. A pane mais in-teressante da pesquisa foi feita no período chuvoso do ano passado.Eles colocaram quatro bois dentro de um curral e, dumnte dez dias,alimentaram os animais exclusivamente com maniçoba. Como os agri-cultores costumam dizer que essa planta, quando está quente emurcha provoca a morte do animal, os pesquisadores fizeram testes

Tração Animal

um braço forteno Nordeste

Após os lançamentos dos policultores e daceifadeira, o Centro de Pesquisa Agropecuáriado Trópico Semi-Árido - CPATSA - con-fecciona mais um equipamento agrícola a tra-ção animal: trata-se do pulverizadorC.P.A.T.S.A.modelo de barra, desenvolvido nesse primeirosemestre pelos consultores do ConvênioEMBRAPA/EMBRATERlCEEMAT - SergeBerteau e Vincent Baron e pelo engenheiroagrônomo José Barbosa dos Anjos, pesquisa-dor do CPATSA. .

Acoplado ao chassi do policultor 1500ou àcarroça tradicional, o pulverizador funcionacom uma bomba manual de pistão, marcaTRAPP, que é acionada por uma das rodas dochassi. O tanque tem capacidade para 320litros e a largura de trabalho é de 4,5m; a barratem nove bicos, com espaçamento de 0,5cmentre cada um. O pulverizador é tracionadopor dois animais e a capacidade máxima debombeamento é de 260 litros/hectare, de caldapulverizada, a uma velocidade de 0,8rn1s.

O primeiro protótipo desse pulverizadorfoi exposto em novembro/S4, em Brasília, no ICongresso de Energia Alternativa para Pro-priedade Rural, promovido pela EMBRATER.Vários órgãos demonstraram interesse emadquirir o equipamento e o passo seguinte,segundo o pesquisador José Barbosa, foi ela-

12 JORNALDO SEMI-ÁRIDO

com a espécie nessas mesmas condições. Resultado: descobriram que,apesar de ser tóxica, não causa nenhum mal ao rebanho.

TABU

A maniçoba está em toda pane da caatinga. Onde menos seespera, lá está ela. Ora rebrotando, ora frondosa como qualquer outraplanta de grande porte. Nem as secas mais "tenebrosas" conseguemexterminá-Ia. Isso porque a sua resistência à seca está na sua raiz-composta de batatas - capaz de armazenar água suficiente para a suarebrotação. E quando chega o inverno, por menor que seja a precipi-tação, ela volta a florescer em poucos dias. Quem sai lucnllldo comisso é o gado que, segundo observações dos pesquisadores "demons-tram apetite pela maniçoba".

Só que diante do tabu que reina entre o sertanejo nordestino sobreos "efeitos mortais" da maniçoba tudo isso vem sendo desperdiçado.É que quase todos eles "gastam o que não têm" para arrancá-Ia, a fimde evitar que o animal morra intoxicado. Os resultados da pesquisanão negam a toxidez da planta, mas também identificaram que ela nãochega a matar os animais. Por isso, declaram os pesquisadores, "po-demos mostrar ao agricultor que ele dispõe, na própria caatinga, demais uma oPção para alimentação do rebanho, principalmente em pe-ríodos secos".

Para evitar maiores polêmicas sobre o assunto, os três pesquisa-dores já iniciaram nova etapa da pesquisa: identificar o teor de toxi-dade e a quantidade que pode ser ingerida pelo animal: Tanto essetrabalho, como o plantio sistematizado da espécie, já está sendo

,desenvolvido no campo experimental do CPATSA.

Pulverizador em testes no Campo Experimental da Caatinga.

borar um segundo protótipo, concluído agora,e que vai ser apresentado às industrias doramo, para fabricação em escala industrial.

TRAÇÃO ANIMAL:A FORÇA DALAVOURANORDESTINA

Hoje, a agricultura brasileira ainda usapouco a moto-mecanização, pois quase metadedos estabelecimentos agríc91as do país usaequipamentos a tração animal. Essa caracterís-tica predomina principalmente no nordeste,onde tanto bovinos quanto equídeos desem-penham importante função no cultivo da la-voura.

Desde 1979que o CPATSA está pesqui-sando novas alternativas e/ou aperfeiçoandoalguns equipamentos que já existiam a traçãoanimal. Em 1980,esse trabalho foi reforçadocom um convênio firmado entre EMBRAPA/EMBRATERlCEEMAT (Centre d'Etudes etd'Experimentation du Machinisme Agricole

Tropical - França).O convêniojá rendeuvá-rios frutos - entre eles os poliQJltores300;600 e 1500,além da ceifadeira, lançada no se-gundo semestre do ano passado. O objetivo émelhorar ou criar equipamentos agricolas queexijam o mínimo de esforço do homem docampo, seja de fácil manuseio e que esteja aoalcance do bolso do agricultor brasileiro.

Pesquisadas de acordo com as necessida-des da atividade agrícola, toda essa tecnologiaa tração animal, desenvolvida pelo CPAT~A,tem nos países da África, Ámerica Latina ealguns da Europa - como a França - ummercado aberto, devido às semelhançasclimá-ticas e de cultivo que há entre algumas regiõesdesses países com o semi-áridobrasileiro.

Em março deste ano o pesquisador JoséBarbosa dos Anjos esteve em Paris, ondeapresentou todas essas tecnologias a traçãoanimal desenvolvidas pelo CPATSA no SalãoInternacional de MáquinasAgrícolas.