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Empresários mostram como criarnegócios com pouquíssimo dinheiro31/03/2013 - 06h05 | REINALDO CHAVES*
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
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A Movile, uma empresa brasileira que produz aplicativos para dispositivos móveis e tem escritórios
em sete países, começou com investimento zero. Para criar a companhia, os sócios usaram apenas
dois computadores pessoais que já possuíam.
Exemplos como esse são comuns no cenário empreendedor mundial da atualidade. É o que
defende Chris Guillebeau, autor do livro recém-lançado no Brasil "A Startup de $ 100" (Saraiva, 240
págs., R$ 33,90).
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Ze Carlos Barretta/Folhapress
Flávio Pripas investiu R$ 30 para criar site que hoje opera até nos EUA
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O escritor americano, que também é empresário, pesquisou 1.500 casos nos EUA de
microempresários que começaram com baixos investimentos e tiveram sucesso.
O autor afirma que os micronegócios sempre existiram, mas o cenário contemporâneo é mais
propício para o empreendedorismo porque a tecnologia diminuiu burocracias e tornou mais fácil
testar, lançar e expandir um projeto sem a necessidade de investir muito.
Fabrício Bloisi, 35, um dos fundadores da Movile e hoje diretor-executivo, lembra que tudo começou
quando se formou em ciências da computação com seu sócio Fábio Póvoa, 36. Sem um produto
certo para vender, mas com vontade de empreender, eles iniciaram a companhia na sala de casa,
em 2000.
"Não sabíamos nem bem o que a empresa faria", diz Bloisi. O primeiro serviço vendido foi a criação
de um sistema de bate-papo por celular, ao custo de R$ 2.000. Durante os primeiros anos da
empresa, Bloisi afirma ter errado muito, com propostas que não deram certo.
"Nunca apostamos em uma ideia só. Pensamos em vários cenários para o futuro e em alguns
acabamos acertando. Fizemos sempre ajustes rápidos de curso --se algo dava errado,
cancelávamos rapidamente."
Abrir um negócio hoje, para Guillebeau, não exige empreendedores com alto nível educacional ou
cursos de MBA. Ele afirma que as condições atuais permitem uma liberdade para começar sem a
noção clara do que a empresa quer ser, porque os recursos necessários são baixos.
Mas Gilberto Sarfati, professor da FGV, afirma que é essencial ter capacitação para gerir uma
empresa, principalmente o seu caixa.
Ele também destaca que o empreendedorismo em certos setores, como o da internet, é mais
simples e barato. Nesse segmento, as companhias têm taxas de crescimento muito altas, tanto de
receita como de funcionários. Por isso, Sarfati afirma que, nesses casos é adequada uma gestão
sem tanto planejamento porque a companhia vai se transformar muito em poucos meses, de forma
quase automática.
Já em setores tradicionais da economia, os empresários têm de conviver com problemas como
competição acirrada e custos altos de produção. Isso obriga o empreendedor a se planejar muito
mais.
"Os negócios tradicionais só terão viabilidade se forem planejados e lidarem bem com a gestão,
como a questão de prazos e o capital de giro", afirma.
Divulgação
Leandro Ginane adaptou sua empresa a uma necessidade de mercado
BRINCADEIRA
A rede social de moda Fashion.me é exemplo de como montar negócios virtuais pode ser simples.
Apenas R$ 30 foram investidos para pagamento da hospedagem do site, em 2008. Flávio Pripas,
35, e Renato Stenberg, 34, criaram o portal para agradar suas mulheres.
"Elas queriam abrir uma loja de roupas, mas o investimento necessário era muito alto. Decidimos,
então, criar o site de moda para elas brincarem. Levamos um fim de semana e três noites para criar
tudo", lembra Pripas.
No princípio, só a família e amigos acessavam o serviço, mas na segunda semana começaram as
visitas de internautas de fora desse círculo. A empresa surgiu por acaso e sem definição clara do
que faria. No início, a ideia era que os sócios nem se envolvessem na atualização do site --os
próprios usuários geravam conteúdo, com o envio de fotos e textos sobre "looks" de moda dos quais
gostavam.
Em abril de 2009, veio a primeira proposta de anunciante. Pouco tempo depois, Pripas e Stenberg
decidiram abandonar seus empregos para se dedicar só ao site. Com aporte financeiro da Intel
Capital, no ano passado, o Fashion.me abriu um escritório nos Estados Unidos.
"Sem perceber, tínhamos criado uma rede social, algo que se tornaria uma febre nos anos
seguintes também como maneira de realizar negócios lucrativos", diz Pripas.
Isadora Brant/Folhapress
Para Ricardo Rodrigues, da #Partyu, usuários devem ser 'guias' da empresa
ALVO CERTO
Uma tática para criar negócios sem investir muito é usar hobbies ou habilidades pessoais para
desenvolver um produto ou serviço e depois a internet para encontrar clientes e parceiros. Mas é
preciso verificar se a ideia atende às necessidades reais de determinado segmento.
Por causa disso, Leandro Ginane, 33, teve de fazer um ajuste em seu negócio para que ele desse
certo. Ele tinha um cargo de gerente de marketing, porém, resolveu trabalhar por conta oferecendo
consultorias no Rio de Janeiro em um assunto no qual tinha experiência: usabilidade e arquitetura
da informação para o mercado financeiro.
Ele abriu a empresa em sua casa, aproveitando o computador e equipamentos eletrônicos que já
possuía. O único gasto foi contratar um plano de escritório coletivo para reuniões ocasionais,
pagando R$ 500.
Ginane diz que o faturamento ia bem, mas, ouvindo os clientes, percebeu que havia uma
oportunidade de mercado maior: empresas, de todos os ramos, necessitavam testar a eficácia de
aplicativos e sites em diferentes plataformas, como navegadores, smartphones e tablets. Ele
resolveu focar nesse modelo de negócios em outubro do ano passado e criou a deviceLab. A
companhia hoje já tem 14 funcionários e estima faturar R$ 2 milhões neste ano.
"Você precisa tomar decisões rápidas e também cuidar para construir uma marca. Vi uma
necessidade no mercado e procurei me ajustar e promover parcerias para ter relevância."
TESTE JÁ
Outra necessidade dos micronegócios é a economia dos gastos. Entre as empresas iniciantes de
base tecnológica, existe um movimento que trata disso, o "lean start-up" (start-up enxuta). Trabalhar
com equipes pequenas, investir constantemente em inovação e testar as novidades rapidamente
são as principais estratégias.
Com esse referencial, nasceu em janeiro o aplicativo #Partyu, que facilita a descoberta dos eventos
que acontecem em uma cidade. Ricardo Rodrigues, 26, sócio-fundador da empresa, conta que
nunca quis fazer "de cara, um produto perfeito".
"Trabalhamos com o usuário como guia. Baseado na reação dele, o produto vai sendo alterado
rapidamente. Isso é possível com o desenvolvimento de métricas, equipes pequenas e metas
menores e rápidas", explica.
A empresa começou com R$ 550, entre gastos com hospedagem e publicidade. A equipe de quatro
funcionários tenta medir rapidamente os resultados e decidir se ele vale a pena ou não. "É um
desperdício de tempo fazer um plano de negócios se a empresa é enxuta e pode acompanhar em
tempo real a reação do usuário", aponta Rodrigues.
Os custos para abrir um micronegócio que esta reportagem lista não incluem os gastos burocráticos
no Brasil. Mas até eles estão menores.
Fabio Braga/Folhapress
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Fabrício Bloisi, da Movile, diz que é importante investir em várias ideias
FAÇA AS CONTAS
Segundo Sebastião Luiz Gonçalves dos Santos, contador e conselheiro do CRC-SP (Conselho
Regional de Contabilidade), o custo para regularizar uma pequena empresa é de ao menos R$ 300,
incluindo gastos como registro na Junta Comercial, alvará do Corpo de Bombeiros, alvará de
funcionamento, inscrição de contribuinte, cartório e contador.
Os valores variam de acordo com a atividade econômica e com o município em que ela está
instalada.
As formas mais baratas de regularizar o negócios são o programa MEI (Microempreendedor
Indivudual), que sai por até R$ 39,90 por mês, e o Simples Nacional --o modelo aceita
microempresas (faturamento de até R$ 360 mil por ano) e de pequeno porte (até R$ 3,6 milhões).
Os tributos são recolhidos de forma conjunta, com a aplicação de alíquotas que variam de acordo
com a receita bruta.
No ano passado foi criada outra forma de regularização, a Eireli (empresa individual de
responsabilidade limitada), que permite criar uma empresa limitada com um único sócio. Mas o
sistema exige um capital social (patrimônio líquido) de cem salários mínimos (R$ 67,8 mil).
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