PUBLICIDADE, PROPAGANDA E GUERRA FRIA: UM RELATO DE...
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PUBLICIDADE, PROPAGANDA E GUERRA FRIA: UM RELATO DE
EXPERIÊNCIA NO ENSINO DE HISTÓRIA.
Sílvio Ricardo Gouveia Cadena1
Universidade Federal Rural de Pernambuco - Graduando em História
Resumo
O trabalho em questão trata-se de um relato de experiência acerca de uma intervenção
realizada nas aulas de História da Escola Dom Bosco, localizada no bairro de Casa
Amarela, em Recife. Em específico, as turmas do 9º ano do turno da tarde. Tendo em
vista o assunto curricular Guerra Fria, optou-se trabalhar pela perspectiva da produção de
bens culturais e o funcionamento dos meios de comunicação de massa. Assim sendo,
ofertou-se aos alunos as técnicas utilizadas pela publicidade e propaganda, como a
utilização de imagens, construção de textos, análise de sua finalidade e o público a que se
destina. Desta maneira, buscou-se por desnaturalizar os ideais vendidos em campanhas
publicitárias e de propaganda, gerando um posicionamento crítico ante a produção
midiática e ao consumismo.
Em mãos com as ferramentas acima citadas, o alunado pôde melhor refletir e analisar
as propagandas utilizadas por EUA e URSS no período da Guerra Fria. Além disto,
durante a referida intervenção, foram utilizadas de postagens fictícias de perfis
representando Estados Unidos e União Soviética, trazendo-se para sala de aula um
linguajar extremamente familiar do corpo discente.
Palavras-chave: Guerra fria, Ensino de História, Publicidade e Propaganda.
Resumen
Este trabajo es un relato de experiencia acerca de una intervención realizada en las
clases de historia de la Escuela Don Bosco, ubicada en el barrio de Casa Amarela de
Recife. En concreto, las divisiones del noveno año del turno de la tarde. Teniendo en
1 Graduado em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda pela AESO Barros
Melo.
cuenta el tema del plan de estudios de la Guerra Fría, he optado por trabajar desde la
perspectiva de la producción de bienes culturales y el funcionamiento de los medios de
comunicación. Por lo tanto, se ha ofrecido a los estudiantes las técnicas utilizadas por la
publicidad, y el uso de las imágenes, la construcción de textos, análisis de su propósito y
el público que se pretende. De esta manera, se trató de deconstruir la venta ideales en las
campañas de publicidad y propaganda, generando una posición crítica ante la producción
y el consumo de medios.
En la mano con las herramientas mencionadas anteriormente, el alumnado podría
reflejar mejor y analizar los anuncios utilizados por los Estados Unidos y la Unión
Soviética durante la Guerra Fría. Además, durante esa intervención, utilizaron perfiles
ficticios en redes sociales que representan los Estados Unidos y la Unión Soviética,
trayendo en las aulas un lenguaje muy familiar del alumnado.
Palabras clave: la Guerra Fría, Enseñanza de la Historia, Publicidad.
Introdução
Antes de adentrarmos o relato de experiência acerca da intervenção sobre Guerra
Fria, que fora aplicada nas turmas do 9º, vale ressaltar em que pilares estava apoiada, no
caso, o projeto O Presente Como Tema: Contando Histórias Por Meio de Personagens
Digitais.
A partir da realidade experimentada no PIBID, no ano de 2014, durante as aulas
de História da Escola Dom Bosco, da rede estadual de educação, localizada no bairro de
Casa Amarela, em Recife, algumas demandas do alunado foram percebidas. A primeira
delas, a vontade dos alunos em serem ouvidos e expressarem suas opiniões, já a segunda,
estava diretamente ligada na necessidade de se abordar os assuntos estudados de forma
mais dinâmica, renovando o currículo de História.
Para isto, Optou-se pelo uso de temáticas relativas às suas vivências, além da
apropriação do linguajar da web e criação de perfis de personagens históricos (reais ou
fictícios) em redes sociais. Com a utilização de tais temáticas, nos mais distintos períodos,
como o lixo, a escola e a propaganda, visou-se trazer questões relativas ao presente como
forma de problematizá-lo historicamente e despertar criticidade ao seu meio.
Outro fato contributivo para o uso do linguajar midiático está no fato de que
vivemos em uma sociedade de massa e de consumo, onde o contato intenso com os meios
de comunicação produz impactos sociais expressos em sala de aula. Desta forma,
propusemos dar um caráter pedagógico ao massmedia. Como no relato de experiência
presente neste trabalho.
Assim, a escolha pela criação de um espaço digital para a execução do projeto,
a homepage do Historbook (http://www.historbook.blgspot.com), foi de grande
importância. A página em questão teve a função de abrigar os recursos didáticos
utilizados em sala, bem como serviu de um local para avaliar o conhecimento que fora
experimentado.
O objetivo da intervenção, bem como de todo o projeto, era trazer ao corpo
discente temas candentes e socialmente vivos. Os saberes históricos não resultam apenas
da experiência escolar com a disciplina, estão no cotidiano, na vivência de alunos e alunas
com sua comunidade, nos meios de comunicação etc. Segundo Cerri (2011 p.44), os
conteúdos das grades curriculares não garantiriam de forma imperiosa a aprendizagem do
corpo discente.
[...] o ensino escolar de historia, portanto, não é dar algo a quem não tem, não
é dar saber ao ignorante, mas é gerenciar o fenômeno pelo qual os saberes
históricos são colocados em relação, ampliados, escolhidos e modificados.
Nada pode ser mais prejudicial para isso do que uma tábua inflexível de
conteúdos selecionados previamente e fora da relação educativa. (CERRI,
2011, p.69).
Desta maneira, a abertura à temáticas de maior apelo possibilitam o acesso a um
saber histórico mais sensível.
As OCEM (2006, p.65), em seu texto, nos aponta a forma como a velocidade das
informações e dos meios de comunicação termina por afetar nossos jovens em seus
valores e em sua formação identitária. Assim sendo, trazer a baila o funcionamento dos
meios de comunicação de massa, as técnicas utilizadas pela publicidade e propaganda e
a Indústria Cultural, é de grande valia para a leitura de mundo dos discentes. Pois desta
forma, bem como recomendam o PCN+(2002 p.74), auxiliá-los na formação crítica e na
análise/interpretação de fontes documentais.
Outro importante ponto para considerarmos ao tratarmos da produção de bens
culturais nesta intervenção diz respeito ao consumo. Nas recentes décadas de 2000 e 2010,
no Brasil, houve uma grande ascensão econômica e vários indivíduos passaram a ter
acesso ao crédito e ao consumo. Muitos destes são pais de alunos e alunas que passaram
a gozar de bens que antes seriam tidos como artigos de luxo. Desta forma, tornam-se
público alvo de um mercado ávido por lucros. Sobre o acesso ao consumo, Morin (2002)
afirma,
[...]Mas, sobretudo, os lazeres abrem os horizontes do bem estar, do consumo
e de uma nova vida privada. A fabricação em série, a venda a crédito abrem
portas para os bens industriais, para a limpeza do lar com aparelhos
eletrodomésticos, para os fins de semana motorizados. É então possível
começar a participar da civilização do bem-estar, e essa participação
embrionária no consumo significa que o lazer não é mais apenas o vazio do
repouso e da recuperação física e nervosa; não é mais a participação coletiva
na festa, não é tanto a participação nas atividades familiares produtivas ou
acumulativas, é também, progressivamente, a possibilidade de ter uma vida
consumidora.
O consumo de produtos se torna, ao mesmo tempo, o autoconsumo da vida
individual. Cada um tende não mais a sobreviver na luta contra a necessidade,
não mais a se enroscar no lar familiar, não inversamente, a consumir sua vida
na exaltação, mas a consumir sua própria existência. As massas têm acesso, no
quadro de um lazer determinado, pelos desenvolvimentos técnicos, aos níveis
de individualidade já atingidos pelas classes médias. (MORIN, 2002, p.68)
A discussão acerca da Indústria Cultural, fruto da intervenção, apesar de tratar de
algo relativo às experiências do alunado, manteve relação direta com o conteúdo
programático da disciplina, no caso, A Guerra Fria. A ideia de apresentar os mecanismos
de funcionamento do mass media foi de possibilitar aos discentes uma reflexão sobre seu
presente e uma analise mais aprofundada das propagandas utilizadas por EUA e URSS
no período da Guerra Fria.
Sonhos de consumo, consumidos por sonhos.
Qual é o seu sonho? Esta pergunta fora realizada inicialmente a cada aluno e aluna
presente durante a intervenção. Uma calça jeans da marca tal, uma bolsa da marca tal, um
celular da marca x. Estas respostas, a maior parte delas na verdade, faziam alusão a um
sonho, não um qualquer, mas sim de consumo. Tal constatação não fora revelada de
imediato, sendo no fim da aula objeto de reflexão.
No início da apresentação dos slides foram expostas as consequências da
revolução industrial. Produtos como as commodities passaram a necessitar de atributos
que os diferenciassem frente aos demais. Assim valores intangíveis e abstratos passaram
a constar em seu valor de venda. Nas sociedades de massa não apenas o que é palpável
viria a ser consumido, a cultura passou a ser compreendida como um bem de consumo
produzido em larga escala e com a definida prioridade de gerar lucro.
As invenções técnicas foram necessárias para que a cultura industrial se
tornasse possível: o cinematógrafo e telegrafo sem fio, principalmente. Essas
técnicas foram utilizadas com frequente surpresa de seus inventores: o
cinematógrafo, aparelho destinado a registrar o movimento, foi absorvido pelo
espetáculo, o sonho e o lazer; o T.S.F., primeiramente de uso utilitário, foi por
sua vez absorvido pelo jogo, a música e o divertimento. O vento que assim
arrasta em direção à cultura é o vento do lucro capitalista. E para o lucro que
se desenvolvem as novas artes técnicas. (MORIN, 2002, p.22)
Ao apresentar peças publicitárias da década de 1960, onde notadamente a mulher
é apresentada como subserviente ao lar e devota a sua família, várias alunas chamaram
logo atenção para aquele fato. Embora já seja possível vermos mulheres ocupando
diversas esferas da vida social nas atuais campanhas publicitárias, o espaço doméstico
continua ainda sendo um local predominantemente feminino. O mass media, sem dúvida
alguma pode e é utilizado como reforçador de determinados valores. Entretanto, segundo
Morin (2002, p.46), não podemos afirmar que a cultura de massa, dentro do universo
capitalista, impõe comportamentos, pois antes de tudo, estaria muito mais preocupada
com sua rentabilidade no mercado. Outra questão problematizadora para as peças
apresentadas seria se elas corresponderiam a realidade do período. Todas as mulheres se
comportariam como aquelas? Neste momento houve grande debate na sala. As mulheres
que hoje elencam as campanhas de cervejas correspondem a todas as mulheres? Esta
segunda questão, inclusive, foi levantada por uma aluna.
Por meio deste ângulo podemos trazer a tona a História Cultural, onde a
publicidade debatida em sala pode ser concebida como uma representação da realidade e
não a realidade de fato. Segundo Chartier (1990, p.19), “tome por objetivo a compreensão
das representações do mundo social, que o descrevem como pensam que ele é ou como
gostariam que fosse”.
Outros questionamentos também foram possíveis de serem realizados ao
analisarmos a campanhas publicitárias no decorrer da intervenção. Grandes estrelas
endossantes como Neymar, Sandy etc. emprestam seus carismas e agregam valores aos
produtos nas peças de TV, jornais e revistas. Mas todos nós, indistintamente, agiríamos
como meros zumbis consumistas passíveis aos apelos dos meios de comunicação?
Certeau (2001, p.44), afirma que apesar de fazermos parte de uma grande massa
marginalizada dos “não produtores de cultura”, não podemos nos enxergar como seres
homogeneizados e padronizados, há resistências no consumo.
Os efeitos padronizadores dos meios de comunicação de massa foram
apresentados em sala, seja na proposição de um dado tipo de beleza, seja na moda, ou até
mesmo na narrativa de novelas e filmes. Segundo Morin,
[...] que modo é possível uma organização burocrática-industrial da cultura.
Essa possibilidade reside, sem dúvida, na própria estrutura do imaginário. O
imaginário se estrutura segundo arquétipos: existem figurinos-modelo do
espírito humano que ordenam os sonhos e, particularmente os sonhos
racionalizados que são os temas míticos romanescos. Regras, convenções,
gêneros artísticos impõem estruturas exteriores as obras, enquanto situações-
tipo e personagens-tipo lhes fornecem as estruturas internas. A análise
estrutural nos mostra que se pode reduzir os mitos a estruturas matemáticas.
Ora, toda estrutura constante pode se conciliar com a norma industrial. A
indústria cultural persegue a demonstração à sua maneira, padronizando
grandes temas romanescos, fazendo clichês dos arquétipos em estereótipos.
(MORIN, 2002, p.26)
Apesar da padronização proposta pela indústria cultural, a mesma se vê diante de
consumidores que tendem a buscar uma personalização, algo próprio. Não sendo à toa a
busca pela customização, que vão desde peças de roupas à adesivagem de automóveis.
Tais usos podem ser concebidos pela ótica de Certeau (2001), com seu conceito de tática,
ao perceber a não passividade do consumidor frente ao produtor. Uma estratégia de
marketing que tenta alimentar o afã por produtos diferenciados, pode ser percebida, por
exemplo, na produção das sandálias Havaianas. Onde a grande quantidade modelos
coloridos sugerem ao consumidor uma ideia de escolher um modelo único. Por meio de
Morin (2002), podemos perceber o paradoxo em que se encontram os grandes produtores.
A Concentração técnico-burocrática pesa universalmente sobre a produção
cultural de massa. Donde a tendência a despersonalização da criação, à
predominância da organização racional de produção (técnica, comercial,
política) sobre a invenção, à desintegração do poder cultural.
No entanto, essa tendência exigida pelo sistema industrial se choca com uma
exigência radicalmente contrária, nascida na natureza própria do consumo
cultural, que sempre reclama um produto individualizado, e sempre novo.
(MORIN, 2002, p.25)
A busca pelo novo, pela invenção criativa, se faz imprescindível para a
manutenção do sistema burocrático-cultural, não sendo incomum a adoção e
pasteurização de ícones da contracultura, como Che Guevara. Ritmos antes tidos como
marginais, com uma nova roupagem, passam a ocupar o mercado pop.
Conforme Morin (2002, p.26), outra característica bastante peculiar na produção
dos meios de comunicação de massa é a simplificação. Por meio dela obras tidas como
de alta cultura ganham ares dicotômicos e maniqueístas, numa luta simplificada entre o
bem e o mal e com um lugar garantido para o happy end. A utilização de fórmulas prontas
chega a ser aplicada nos mais distintos produtos culturais, como novelas, filmes e muitas
vezes, em grupos musicais e bandas, vide a quantidade de duplas sertanejas. Além disso,
Modelos de sucesso no exterior tendem a ser replicados no país.
Figura 012-“Astros teens”
2 Imagem retirada do slide apresentado em sala de aula.
Disponível em: <https://app.box.com/s/gridou1i3zsp5y968ip6> Acesso em dez. 2015.
Fonte: Elaborada pelo autor.
Ao falar do desenvolvimento de aparelhos técnicos que, com o capitalismo, logo
ganharam força e foram incorporados ao mundo do espetáculo, Morin (2002), afirma:
[...]Não há dúvida de que, sem o impulso o espírito prodigioso do espírito
capitalista, essas invenções não teriam conhecido um desenvolvimento tão
radical e maciçamente orientado. Contudo, uma vez dado esse impulso, o
movimento ultrapassa o capitalismo propriamente dito: no começo do Estado
Soviético, Lenin e Trotsky reconheceram a importância social do cinema. A
indústria cultural se desenvolve em todos os regimes, tanto no quadro do
Estado quanto no da iniciativa privada. (MORIN, 2002, p.22)
Desta forma, logo podemos inferir que mesmo em regimes distintos, a produção
cultural em série se faz presente. Em locais onde o Estado é mais forte, como na extinta
União Soviética, a ideologia do estado desempenha grande papel. Já em países com forte
iniciativa privada, a coisa também não ficaria solta, o Estado agiria, ao menos como
polícia. Em ambas formas de administração, o objetivo estaria em atingir o maior número
de indivíduos. (MORIN 2002). Embora com uma análise coerente sobre o papel
desempenhado entre os dois modelos de gestão, o autor em questão parece esquecer o
forte teor ideológico e político contido também na produção capitalista.
Outra pauta levantada e discutida durante a intervenção abordou como os meios
de comunicação como a televisão, jornais e revistas estão presos as suas amarras editoriais
e estas, por sua vez, atendem a uma lógica que ultrapassa a do consumo, ou daquilo que
é “vendível”. Os interesses políticos e ideológicos dos poucos grupos que hegemonizam
o mercado brasileiro de comunicação são os grandes vieses destas produções. Foucher
(2013), aponta que a diversificação dos meios de comunicação e seu pluralismo tenderiam
a ajudar a consolidação da democracia no Brasil, quando na realidade vemos o inverso.
A concentração acaba por gerar quase que um discurso único e longe de ser plural.
Como aceitar que a democracia brasileira se consolide e que continue a
conviver com uma espécie de coronelismo midiático, que usa e abusa do poder
de concentração? Esta é uma questão que poderíamos fazer aos dirigentes e
políticos brasileiros.
Entretanto, na Constituição Brasileira de 1988, ela define no capitulo § 5 que
"os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser
objeto de monopólio ou oligopólio". Todavia, basta consultar os estudos
realizados recentemente sobre este assunto para verificar que a própria
constituição é por vezes usurpada. (FOUCHER, 2013)
As propagandas de origem Norte Americana e Soviética elaboradas durante a
Guerra Fria, utilizadas na intervenção, tinham como objetivo expor, principalmente, suas
similaridades do que suas distinções, principalmente no que se refere ao conteúdo do que
sua plástica. Nas várias representações temáticas foram verificadas semelhanças. Por
exemplo, como na famosa imagem do Uncle Sam- I want you que tinha seu equivalente
soviético.
Figura 02 3- Semelhanças
3 Imagem retirada do slide apresentado em sala de aula.
Disponível em: <http://patriofil.ru/uploads/files/1/_ph/18/2/726068416.jpg>. Acesso em dez. 2015
Fonte: patriofil.ru
Assim como nos E.U.A., no país de regime comunista podemos verificar cartazes
de campanhas publicitárias de alimentos, sapatos e até mesmo cigarros, o que gerou certo
espanto na turma. Pelo que expuseram, não imaginavam campanhas destes tipos de
produtos na URSS. As campanhas soviéticas, muitas vezes, tinha o claro sentido de
estimular a demanda por um dado bem, numa tentativa de regular os estoques
administrados pelo Estado. Contudo, o apelo à subjetividade e valores intangíveis
estavam tão presentes nelas quanto naquelas produzidas pelo capitalismo.
A indústria cultural do Tio Sam, durante o período analisado, não se cansou de
utilizar do entretenimento como forte ferramenta de propaganda política e ideológica.
Seja na produção cinematográfica, com o personagem de James Bond a perseguir os
vilões comunistas, ou na elaboração de histórias em quadrinhos, onde para boa parte de
seus heróis patriotas, os seus inimigos seriam “vermelhos”.
A forma como Stalin aparece na série de cartazes apresentados nos slides
confeccionados para intervenção suscitou algumas observações por parte dos alunos.
Muitos perceberam similaridades com as imagens produzidas pelas campanhas eleitorais
de nossos dias. Na verdade, eles tinham razão. O líder Russo sempre aparece de forma
destacada, ocupando o primeiro do quadro. Sua aura conotava autoridade, mas, no
entanto, estava longe de possuir um ar severo. Por sinal, posar junto a crianças para se
mostrar mais sensível e humano parece ser uma estratégia de sedução utilizada até hoje.
Figura 03 4– Propaganda Soviética
4 Imagem retirada do slide apresentado em sala de aula.
Disponível em: <http://www.sovietposters.ru/pages/025.htm>. Acesso em dez. 2015
Fonte: /www.sovietposters.ru/
As duas grandes potencias mundiais do pós II Guerra, travavam uma tremenda
batalha tecnológica. A corrida espacial pela supremacia do espaço servia como
propaganda tanto para norte americanos, quanto para russos. Tendo em vista elucidar tal
evento, foram confeccionadas postagens na rede fictícia, o Historbook. Segue exemplo
de uma das imagens que foram utilizadas em aula.
Figura 04 5– Postagem URSS no Historbook
5 Imagem retirada do slide apresentado em sala de aula.
Disponível em: <https://app.box.com/s/gridou1i3zsp5y968ip6> Acesso em dez. 2015
Fonte: Elaborada pelo autor.
Do processo de avaliação.
A avaliação da intervenção aplicada se deu em dois momentos distintos. O
primeiro deles era verificado por meio da participação do debate em sala de aula. Os
alunos tomaram iniciativa para se exporem em diversos momentos durante a intervenção
e apresentaram suas considerações a respeito do que foi visto. Vale salientar que em
nenhum momento houve qualquer tipo de ofensa por conta do consumo, a ideia foi
justamente lançar reflexões acerca desta temática e trazer uma visão mais crítica sobre
funcionamento do mass media. Já o segundo momento avaliativo se deu em espaço
digital. Lá, os discentes acessaram a página do projeto e encontraram um questionário
contendo quatro questões subjetivas. As perguntas eram efetuadas com o auxílio dos
próprios personagens digitais e versavam sobre o conteúdo experimentado em sala, sem
qualquer apelo para que decorassem nomes ou datas. A concepção das questões buscou
averiguar a aplicabilidade do conhecimento e verificar se o alunado conseguiu
compreender a base do funcionamento da indústria cultural.
1). Por qual razão a disputa entre EUA e URSS se chama guerra fria?
2). Por qual motivo, a corrida espacial que envolveu EUA e URRS, foi utilizada como
forma de propaganda??
3). Por qual razão pode-se afirmar que a publicidade vende algo além de um produto?
Exemplifique?
4). Cite exemplos de propagandas soviéticas e americanas que tenham um teor
ideológico.
Questões retiradas de https://docs.google.com/forms/d/1WsUACrUug--l1oKDG0mQniFyh3J-
e2Cgd5oobRsGw68/viewform
O questionário foi respondido via internet no período de uma semana. 20 alunos
dos 9º anos (C e D), de aproximadamente 40 que assistiram à intervenção, responderam
de maneira satisfatória o questionário. Este resultado, de maneira inicial, não pareceu algo
animador. Entretanto, vale ressaltar, que o exercício em questão foi respondido fora do
espaço escolar e sem nenhum tipo de bonificação extra. Além disto, aconteceram vários
retornos positivos por parte dos alunos.
Conclusão
Por meio da vivência oriunda do projeto e, da intervenção em especifico, foi
possível perceber o quanto se faz necessário está atento aos alunos, ouvi-los. O que eles
conversam? O que assistem? O que gostam de fazer? Quais problemas lhes afligem?
Buscar compreender o contexto em que seu aluno está inserido é candente. Sim, é
necessário sairmos de nossa zona de conforto.
Ao tratar de uma temática relativa a publicidade, propaganda e ao consumo, é
imprescindível estarmos livres de quaisquer tipos de preconceitos. Não nos cabe julgar o
fato de uma adolescente humilde querer um celular de última geração. Mais uma vez,
devemos atentar em qual contexto estamos inseridos. Os meios de comunicação de massa
conclamam todos, indistintamente, a consumir.
Músicas tidas por nós docentes como indecorosas, não podem e não devem ficar
a escanteio, esta é justamente uma oportunidade de problematizá-la. Assim como a
música, são possíveis inúmeros exemplos que nós, do alto de nosso pedestal acadêmico,
recusamo-nos a olhar.
Os êxitos obtidos com a intervenção junto aos alunos, não podem ser mensurados
quantitativamente. Como pontuar os debates acalorados, as palavras elogiosas à aula e
um novo olhar sobre a disciplina? Enfim, buscou-se gerar um posicionamento mais crítico
e reflexivo ante a produção midiática e ao consumismo que, por sua vez, auxiliou tornar
o conteúdo histórico mais sensível e próximo a realidade destes alunos.
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