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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP ADRIANA SANTOS MORGADO Ensino da Matemática: Práticas Pedagógicas para a Educação Inclusiva MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE MATEMÁTICA São Paulo 2013

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

ADRIANA SANTOS MORGADO

Ensino da Matemática:

Práticas Pedagógicas para a Educação Inclusiva

MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE MATEMÁTICA

São Paulo

2013

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

ADRIANA SANTOS MORGADO

Ensino da Matemática:

Práticas Pedagógicas para a Educação Inclusiva

Dissertação apresentada à Banca

Examinadora da Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo, como exigência parcial

para obtenção do título de MESTRE

PROFISSIONAL EM ENSINO DE

MATEMÁTICA, sob a orientação da

Professora Doutora Ana Lúcia Manrique.

São Paulo

2013

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Banca Examinadora

___________________________

___________________________

___________________________

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À minha família, que

me incentiva e reconhece

a importância do meu

caminhar.

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Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial dessa Dissertação por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.

Assinatura: __________________________ Local e Data: _______________

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"...temos o direito a igualdade

quando as diferenças inferiorizam-nos e

o direito à diferença quando a igualdade

descaracteriza-nos"

Profª Drª. Maria Teresa Eglér Mantoan

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AGRADECIMENTOS

À Deus por me permitir existir.

À Profª Drª Ana Lúcia Manrique, pelas orientações e

pelo apoio durante o percurso do mestrado.

À minha mãe Maria José Bizerra dos Santos e a

minha tia Doralice Bizerra dos Santos, que me

orientaram para a vida de forma que eu me tornasse

um pessoa de bem que se preocupa com o outro.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Nível Superior (CAPES), pelo apoio financeiro.

Às professoras doutoras Alda Luiza Carlini e Denise

Filomena Bagne Marquesin pelas valiosas

contribuições e avaliação desta pesquisa.

Á PUC-SP pela oportunidade de desenvolvimento

profissional.

À amiga Ione Silva Lisboa pela sua amizade e

preciosa colaboração nos momentos de reflexão sobre

essa pesquisa.

À amiga Cleonice Caldeira pelos conversas

carinhosas, pelos momentos de reflexão e pelas

contribuições que me trouxe luz em momentos difíceis

dessa trajetória.

Aos meus irmãos e familiares, por compreenderem

os momentos de ausência.

Aos colegas do mestrado, com os quais compartilhei

momentos de aprendizagem.

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Em especial aos amigos Helena Tavares de Souza,

Regiane Silva Santos, Ronaldo Dias Ferreira e pelo

apoio e pelas contribuições, em demonstração de

solidariedade e amizade.

Aos professores do Programa de Estudos em Pós-

Graduados em Educação Matemática da PUC-SP,

que nos conduziram por caminhos que nos fizeram

crescer como pessoas e profissionais.

Aos colegas do Projeto Desafios para a Educação Inclusiva: pensando na formação de professores

sobre os processos de domínio da Matemática nas

séries iniciais da Educação Básica, coordenado pela

Profª Drª Ana Lúcia Manrique, pelos momentos de

leitura e reflexão para o desenvolvimento dessa

pesquisa.

Aos amigos Kleber Tellini e Gilberto Almeida Júnior

pelas conversas construtivas e pelos momentos de

desabafo.

À todas as pessoas que direta ou indiretamente

contribuíram para a realização deste sonho.

Muito obrigada!

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MORGADO, Adriana Santos. Ensino da Matemática: Práticas Pedagógicas

para a Educação Inclusiva. 2013. 122f. Dissertação (Mestrado em Educação

Matemática) – Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação Matemática.

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo.

_____ ______ ____ RESUMO Esta pesquisa é um dos produtos do Projeto Desafios para a Educação Inclusiva:

pensando na formação de professores sobre os processos de domínio da

Matemática nas séries iniciais da Educação Básica, aprovado no Programa

Observatório da Educação da CAPES/INEP, edital 2010. Este trabalho buscou

investigar práticas pedagógicas utilizadas no ensino da Matemática aos alunos

com deficiência dos anos iniciais da educação básica, em escolas públicas do

Estado de São Paulo. Participaram da pesquisa quatro professoras que lecionam

no Ensino Fundamental I da rede regular de ensino e que possuíam alunos com

deficiência inseridos em suas salas de aula. Foram realizados encontros para

reflexão e discussão, em que foram criadas atividades para ensinar Matemática

para alunos com deficiência. Estas atividades foram desenvolvidas em forma de

oficinas para todos os professores interessados das escolas em que as docentes

lecionavam. Utilizamos como referencial teórico os trabalhos de Nóvoa (2009),

para discutir a formação de professores centrada na escola. Foram adotados

como instrumentos de coleta de dados observações participativas e entrevistas

realizadas após o desenvolvimento das oficinas. Como análise dos resultados,

foram apresentadas duas atividades elaboradas pelo grupo de formação,

explicitando as adaptações necessárias aos alunos com deficiência. Além disso,

foram elaboradas narrativas para duas professoras, a fim de evidenciar as

necessidades para a formação de professores. Como resultado, este trabalho

aponta que as professoras perceberam o enriquecimento de suas práticas

pedagógicas no ensino da Matemática e também que é possível tornar o aluno

com deficiência participante das aulas de Matemática, desenvolvendo atividades

com adaptações para atender sua inclusão.

Palavras-chave: Práticas Pedagógicas; Ensino de Matemática;

Educação Inclusiva; Deficiência.

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MORGADO, Adriana Santos. Teaching Mathematics: Pedagogical Practices

for Inclusive Education. 2013. 122f. Dissertation (Master in Mathematics

Education) – Program for Post Graduate Studies in Matematics Education.

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo.

ABSTRACT

This research is a product of the Project Challenges to Inclusive Education:

teacher training in thinking about the processes of the field of mathematics in the

early grades of Basic Education approved the program of the Centre of Education

CAPES / INEP, 2010 announcement. This study investigates through pedagogical

practices used in teaching mathematics to students with disabilities the early years

of basic education in the public schools of the State of São Paulo. For this,

participants were four teachers who teach at the elementary school and the

regular school that had students with disabilities placed in their classrooms.

Meetings were held for reflection and discussion, in which activities are designed

to teach mathematics to students with disabilities. These activities were conducted

in the form of workshops for all interested teachers from schools where teachers

taught. The works by Nóvoa (2009) were used as theoretical benchmark to

discuss teacher training focused on school. Participatory observations and

interviews conducted after the development of workshops were used as

instruments of data collection. As analysis of the results were presented two

activities developed by the training group, explaining the necessary adaptations for

students with disabilities. Moreover, narratives were prepared for two teachers, in

order to highlight the needs for teacher training. This research shows that the

teachers realized enrich their pedagogical practices in the teaching of mathematics

and also that it is possible to make the disabled student participant of Mathematics

classes, developing activities with adaptations to suit their inclusion.

Key-Words: Teaching Practices, Teaching Mathematics; Inclusive

Education, Disability.

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LISTA DE SIGLAS AEE - Atendimento Educacional Especializado ALESP - Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo

APAE - Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais CAPES - Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CDPD - Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência HTPC - Horário de Trabalho Pedagógico

Coletivo JEIF - Jornada Especial de Integral de

Formação LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais MEC - Ministério de Educação

MS - Ministério da Saúde SECADI - Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e

Inclusão SEE - Secretaria Estadual de Educação

SME - Secretaria Municipal de Educação

OMS - Organização Mundial de Saúde

ONU - Organização das Nações Unidas

PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais

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LISTA DE FIGURAS E QUADROS FIGURA 1: Adaptações realizadas no paralelepípedo .................................... 58

FIGURA 2: Estruturas do paralelepípedo ........................................................... 60

FIGURA 3: Tela Mulheres e Pássaros ao Luar ................................................. 63

FIGURA 4: Telas adaptadas para Deficiente Visual ........................................ 64

FIGURA 5: Formas Geométricas ......................................................................... 64

FIGURA 6: Lado e Vértice do Quadrado ............................................................ 65

QUADRO 1: Caracterização das professoras participantes do projeto ........ 42

QUADRO 2: Panorama das escolas em que as professoras lecionam ........ 42

QUADRO 3: Seminários Ministrados no 1º Semestre de 2011 ...................... 44

QUADRO 4: Assuntos abordados durante os encontros ................................ 48

QUADRO 5: Disposição de datas e horários das oficinas nas escolas ........ 49

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 10

CAPÍTULO 1

1. Formação de Professores .......................................................................... 18

1.1 Prática ......................................................................................................... 19

1.2 Profissão ..................................................................................................... 20

1.3 Pessoa......................................................................................................... 21

1.4 Partilha ........................................................................................................ 22

1.5 Público ......................................................................................................... 24

CAPÍTULO 2

2. Deficiência..................................................................................................... 26

2.1 Deficiência e Educação ............................................................................ 26

2.2 Professores e Deficiência......................................................................... 30

CAPÍTULO 3

3. Procedimentos Metodológicos .................................................................. 37

3.1 Metodologia ................................................................................................ 37

3.1.1 Instrumentos de Coleta de Dados ....................................................... 38

3.1.1.1 Observação Participativa ................................................................... 38

3.1.1.2 Entrevistas ........................................................................................... 39

3.1.1.3 Narrativas ............................................................................................. 40

3.2 O Grupo de Professores .......................................................................... 40

3.2.1 Caracterização do Grupo de Professores .......................................... 41

3.3 Contexto da Pesquisa ............................................................................... 43

3.3.1 Etapa 1 – Primeiro Semestre de 2011 ................................................ 43

3.3.1.1 Os Seminários ..................................................................................... 44

3.3.1.2 Os Materiais ......................................................................................... 46

3.3.2 Etapa 2 – Segundo Semestre de 2011 .............................................. 47

3.3.2.1 Os Encontros ....................................................................................... 47

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3.3.2.2 As Oficinas ........................................................................................... 49

CAPÍTULO 4

4. Análise ........................................................................................................... 52

4.1 Atividades ................................................................................................... 52

4.2 Narrativas .................................................................................................... 66

4.2.1 Narrativas da Professora Ada .............................................................. 67

4.2.2 Narrativas da Professora Bete ............................................................. 77

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 83

REFERÊNCIAS....................................................................................................... 88

APÊNDICE

Apêndice I ........................................................................................................ 93

ANEXOS

Anexo I .............................................................................................................. 95

Anexo II............................................................................................................. 96

Anexo III ......................................................................................................... . 99

Anexo IV ......................................................................................................... 103

Anexo V .......................................................................................................... 109

Anexo VI ......................................................................................................... 113

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INTRODUÇÃO

O Projeto Desafios para a Educação Inclusiva: pensando na

formação de professores sobre os processos de domínio da Matemática nas

séries iniciais da Educação Básica, aprovado no âmbito do Programa

Observatório da Educação da Capes/INEP, edital 2010, coordenado pela Prof.ª

Dr.ª Ana Lúcia Manrique, tem como objetivo pesquisar a formação de professores

e suas práticas pedagógicas no ensino de matemática para alunos com

deficiência.

A presente pesquisa insere-se neste Projeto e tem o interesse em

descrever, para difundir, práticas pedagógicas no ensino da Matemática para

alunos com deficiência inseridos em salas do ensino regular do Ensino

Fundamental I em escolas públicas do Estado de São Paulo.

A participação da autora desta pesquisa para este Projeto deu-se

através de convite feito pela Profª. Drª. Manrique, coordenadora do Projeto,

conhecedora do interesse da convidada pelos assuntos: alunos com deficiência e

a formação de professores; diretamente relacionados a sua trajetória profissional.

Ao iniciar o curso de Habilitação Específica para o Magistério um dos

estágios realizados, em 1995, na APAE1, momento em que surge o engajamento

para pesquisar o tema, nesta Associação constatou-se que todos os professores

possuíam Habilitação Específica para o Magistério e nenhum curso concernente a

área de deficiência, entretanto era possível perceber a dedicação, o empenho dos

docentes para socializarem as crianças, e a vontade de aprender cada vez mais

para propiciarem à elas melhores condições de ensino aprendizagem.

1 Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais da cidade de Rio Grande da Serra – SP.

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Aprender e ensinar significava para esses profissionais que

precisavam ir além das leituras realizadas a partir dos livros emprestados pelas

APAEs de outras cidades.

Os cursos de especialização e atualização pedagógica existiam,

porém o acesso era precário. Por isso, a desistência pela busca de

aprimoramento profissional via acadêmica era fato.

Diante de tal panorama, constatou-se que por meio acadêmico o

avanço profissional não estava viabilizado e existia a necessidade de oficinas e ou

orientações técnicas para discussões, visando o melhoramento do trabalho

pedagógico, não só com profissionais da equipe escolar, mas também com

profissionais externos, que pudessem contribuir com outras interpretações e

sugestões.

As crianças que eram atendidas por estes professores nas

associações e escolas específicas para cada deficiência, a partir de 1996, são

recebidas preferencialmente nas escolas da rede regular de ensino por

determinação do Governo Federal, que acrescenta na Constituição Federal

(BRASIL, 1988) no art. 208º inciso III que o ”atendimento educacional

especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de

ensino”.

O atendimento de alunos com deficiência nas escolas da rede

regular de ensino exigia um outro tipo de qualificação profissional, sendo assim o

Governo Federal determinou a todos os professores, atuantes na rede pública de

ensino, um prazo para graduarem-se ou fazerem licenciatura plena, como traz a

Lei nº 9394/963:

A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino

2 Lei nº 9394/96 Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.

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fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal (BRASIL, LEI 9394, ART. 62, 1996).

Ao iniciar o curso de Bacharelado em Matemática com ênfase em

Informática, no ano de 2000, a autora desta pesquisa tinha a intenção de lecionar

a disciplina informática, já que havia rumores de que a mesma seria incluída no

currículo de todas as séries da Educação Básica, entretanto inexistia uma

licenciatura específica para Informática. Ao concluir o curso, a disciplina

Informática não constava no currículo das unidades escolares, sendo assim o

profissional não poderia lecionar nas escolas de ensino regular para alunos dos

Ensinos Fundamental e Médio.

Como os componentes curriculares do curso de Bacharelado em

Matemática com ênfase em Informática estavam organizados em 50% de

disciplinas direcionadas a Informática e os outros 50% para Matemática, era

necessário cursar o Programa Especial de Formação Pedagógica, para fazer jus à

aprovação no concurso público para professor do Estado de São Paulo e por não

possuir licenciatura plena em Matemática, atendendo a Resolução CNE/CP 02/97

de 15/06/974. Aos artigos 1º e 2º justificam a criação do curso de Formação

Pedagógica:

Art. 1º A formação de docentes no nível superior para as disciplinas que integram as quatro séries finais do ensino fundamental, o ensino médio e a educação profissional em nível médio, será feita em cursos regulares de licenciatura, em cursos regulares para portadores de diplomas de educação superior e, bem assim, em programas especiais de formação pedagógica estabelecidos por esta Resolução. Parágrafo único Estes programas destinam-se a suprir a falta nas escolas de professores habilitados, em determinadas disciplinas e localidades, em caráter especial. Art. 2º O programa especial a que se refere o art. 1º é destinado a portadores de diploma de nível superior, em cursos relacionados à habilitação pretendida, que ofereçam sólida base de conhecimentos na área de estudos ligada a essa habilitação (BRASIL, PARECER CNE/CP 02/1997).

4 Resolução CNE/CP 2/97 Dispõe sobre os programas especiais de formação Pedagógica de

docentes para as disciplinas do currículo do ensino fundamental, do ensino médio e da educação profissional em nível médio.

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Dezessete anos de trajetória profissional, sendo 8 atuando na

Educação Infantil e no Ensino Fundamental I e os 9 anos restantes lecionando

Matemática para os Ensinos Fundamental II e Médio, possibilitaram convivências

com professores que tinham interesses em aprendizagens que pudessem

alavancar melhorias nas suas atuações profissionais, mas não sabiam como e

onde iniciar uma formação continuada que trouxesse resultados favoráveis.

E também se constatou professores que apresentavam uma

inquietação por não saberem como atender aos alunos com deficiência e os que

ainda não possuíam laudo médico, diagnóstico necessário para assisti-los de

acordo com as suas particularidades.

Porque dentro das particularidades é possível pensar especificamente

em recursos pedagógicos, acreditando que na equipe escolar o professor é

fundamental para a aprendizagem de alunos com deficiência, pois mantém o

contato com os mesmos e a partir de uma avaliação diária poderá ser capaz de

distinguir procedimentos e ações para diversificar suas práticas pedagógicas, com

o objetivo de proporcionar ao educando uma aprendizagem significativa.

Desta maneira, essa pesquisa será desenvolvida com o intuito de

investigar as práticas via experiências profissionais, a partilha dessas vivências

com a equipe escolar e a realização de intervenções com a intenção de capacitar

docentes para atenderem aos alunos com deficiência de forma abrangente.

Considerando ainda que de acordo com o Decreto Federal nº 6571

de 17/09/20085, o professor não é o único a prestar atendimento ao aluno com

deficiência:

Art. 1º A União prestará apoio técnico e financeiro aos sistemas públicos de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, na forma deste Decreto, com a finalidade de ampliar a

5 Decreto Federal nº 6571 Dispõe sobre o atendimento educacional especializado, regulamenta o

parágrafo único do art. 60 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e acrescenta dispositivo

ao Decreto no 6.253, de 13 de novembro de 2007.

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oferta do atendimento educacional especializado aos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, matriculados na rede pública de ensino regular. § 1º Considera-se atendimento educacional especializado o conjunto de atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados institucionalmente, prestado de forma complementar ou suplementar à formação dos alunos no ensino regular. § 2º O atendimento educacional especializado deve integrar a proposta pedagógica da escola, envolver a participação da família e ser realizado em articulação com as demais políticas públicas. Art. 2º São objetivos do atendimento educacional especializado: I - prover condições de acesso, participação e aprendizagem no ensino regular aos alunos referidos no art. 1º; II - garantir a transversalidade das ações da educação especial no ensino regular; III - fomentar o desenvolvimento de recursos didáticos e pedagógicos que eliminem as barreiras no processo de ensino e aprendizagem; e IV - assegurar condições para a continuidade de estudos nos demais níveis de ensino

Tendo em vista a Lei citada, a equipe escolar precisa do apoio das

famílias dos alunos, da sociedade e de recursos pedagógicos para atender e

ofertar ao público alvo um ensino de qualidade.

Além disso, existem outras ações de órgãos Municipais, Estaduais e

Federais voltadas para contribuir com o atendimento escolar do aluno com

deficiência, tais como Programa Escola Acessível, entre outras ações promove

condições de alcance aos recursos didáticos e pedagógicos; Salas de Recursos

Multifuncionais, estas disponibilizam equipamentos de informática, mobiliários,

materiais pedagógicos e de acessibilidade para o espaço educacional; Formação

Continuada de Professores na Educação Especial, apoia a formação continuada

de professores para salas de recursos para inclusão; Educação Inclusiva: direito à

diversidade, dão suporte a formação de gestores e educadores para sistemas

educacionais inclusivos; Livro Acessível, promove livros em formato acessível;

Polibras, certificação para o ensino de Libras; Centro de Formação de Recursos,

forma professores para sala de recursos, ministra curso do Sistema Braille e de

Libras, e produz material acessível; Prêmio Experiências Educacionais Inclusivas,

promove, difunde e valoriza experiências escolares para inclusão.

(BRASIL, DECRETO 6571/08).

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Segundo o portal do Ministério da Educação (MEC), a Secretaria de

Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI) é o

departamento pertencente ao MEC que:

Possui como objetivo contribuir para o desenvolvimento inclusivo dos sistemas de ensino, voltado a valorização das diferenças e da diversidade, a promoção da educação inclusiva, dos direitos humanos e da sustentabilidade sócio-ambiental visando a efetivação de políticas públicas transversais e interssetoriais (BRASIL, 2012).

A SECADI possui publicações referente a Educação Especial, e em

algumas delas especifica as condições mínimas necessárias para o Atendimento

Educacional Especializado (AEE) de Pessoas com Surdez, Deficiência Física,

Deficiente Visual e Deficiente Mental. As nomenclaturas das deficiências,

enfocadas nesta pesquisa, serão as mesmas utilizadas pela SECADI.

Outro motivo que aguçou o interesse para tal pesquisa refere-se ao

desconforto existente, por parte dos professores das disciplinas curriculares das

escolas da rede regular de ensino, por não saberem como agir diante de alunos

com deficiência, pois os mesmos não conquistaram em seus cursos de formação

profissional uma formação adequada.

Uma outra razão, a sondagem no banco de dados da Coordenadoria

de Aperfeiçoamento e Pesquisa do Ensino Superior (CAPES) evidenciou a

inexistência, até a data de 31/08/2011, de pesquisas registradas com o objetivo

de divulgar práticas pedagógicas para o ensino da Matemática direcionadas ao

aluno com deficiência das salas de aula regulares.

E o motivo mais significativo que agita as ideias e impulsiona para

esse trabalho está no fato de a pesquisadora ser oriunda de uma família em que a

matriarca, nascida em 1950 na cidade de São Cristóvão – SE/Brasil, possui

deficiência física, causada por uma paralisia infantil ou poliomielite, por não existir

recursos para diagnóstico e tratamento da doença na época. A Fundação

Oswaldo Cruz (Fiocruz), vinculada ao Ministério da Saúde, que difundi

conhecimento científico na área de saúde, a vacina Sabin, que imuniza contra a

poliomielite, foi introduzida no Brasil em 1961.

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As narrativas das vivências dos primeiros anos escolares dessa

matriarca são impressionantes. Foi aceita na escola sem qualquer

questionamento ou sondagem sobre sua deficiência; durante as aulas não era

atendida pelos professores - as lições, foram aprendidas em casa por intermédio

da irmã mais velha - e quando questionada e não apresentava prontamente uma

resposta, apanhava dos mestres.

Foi promovida durante os três primeiros anos escolares por meio de

avalições verbais, mesmo com conhecimento da leitura e da escrita, realizadas na

sala da diretora com a porta fechada. O progresso escolar só ocorreu quando

negou-se a continuar frequentando a escola, por conta dos maus tratos, e então

foi matriculada em uma escola particular empresarial reiniciando o seu processo

de alfabetização; atendida sem discriminação pois foi percebido que sua

deficiência física não incapacitava-a para o acesso ao aprendizado junto com o

restante da turma.

Podemos destacar a importância do apoio às pesquisas e faz-se

necessário a interação entre as áreas da Saúde e da Educação, para que as

deficiências sejam melhores compreendidas e as pessoas nessas condições

acomodadas na sociedade, porém atendidas em suas particularidades.

Esta pesquisa não tem a intenção de compreender todas as

deficiências, todavia se faz necessário um olhar voltado para o desenvolvimento

de práticas pedagógicas para o ensino da Matemática, focando o atendimento de

alunos com deficiência, de forma a torná-lo presente e participante das atividades

propostas e desenvolvidas em sala de aula.

Em suma, o objetivo deste trabalho é investigar práticas

pedagógicas utilizadas no ensino da Matemática aos alunos com

deficiência, e os resultados desses estudos fomentar mudanças na

formação de professores, principalmente dos anos iniciais, da educação

básica.

Nossa pesquisa está organizada da seguinte forma:

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No 1º capítulo apresentamos a teoria de António Nóvoa direcionada

as competências necessárias para formação continuada de professores, que

fizemos uma releitura como 5Ps sendo eles: Prática, Profissão, Pessoa, Partilha e

Público.

No 2º capítulo apresentamos alguns esforços direcionados à

inclusão de crianças com deficiência, no âmbito internacional e nacional, com

vistas para a educação e também alguns resultados da pesquisa realizada por

Moreira (2012), intitulada Representações Sociais de Professores e Professoras

que Ensinam Matemática Sobre o Fenômeno da Deficiência.

No 3º capítulo descrevemos os procedimentos metodológicos

utilizados para o desenvolvimento do nosso estudo, os instrumentos de coleta de

dados, a caracterização do grupo, a organização do trabalho, a descrição dos

encontros e a organização das oficinas.

No 4º capítulo apresentamos as análises realizadas a partir da união

das entrevistas e das observações participativas, que foram elaboradas em forma

de narrativas que dialogam com a teoria utilizada por Nóvoa (2009).

Finalizamos com as considerações que julgamos ser mais

relevantes, explicitando possíveis propostas para novas pesquisas voltadas para

inclusão.

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CAPÍTULO 1

Neste capítulo apresentamos a teoria utilizada por Nóvoa (2009)

referente às necessidades para a formação de professores, unida com nossas

reflexões sobre as observações participativas nos encontros do grupo de

formação de professores durante o ano de 2011.

1. FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Por querermos acompanhar o desenvolvimento do processo de

formação de professores que ensinam Matemática, objetivando o ensino de

alunos com deficiência em salas de aula regulares, optamos por ter como

fundamentação teórica as ideias de António Nóvoa, que trabalha ativamente com

o tema formação de professor.

Não temos a pretensão de defender a melhor forma para formação

de professores, somente o interesse de explanar sobre pontos de vista que vão

ao encontro do objetivo central dessa pesquisa, que é “investigar as

contribuições de práticas pedagógicas no ensino de Matemática para alunos

com deficiência em um processo de formação de professores dos anos

iniciais do Ensino Fundamental”.

Deste modo, buscamos desenvolver um trabalho de reflexão

associado ao compromisso de explicitar a relação teoria e prática, apresentando

instrumentos necessários para a criação de atividades que possam enriquecer as

aulas de Matemática com a participação de alunos com deficiência.

Nóvoa (2009) elencou 5 necessidades para o desenvolvimento da

formação do professor, as quais após uma releitura entendemos que podemos

chamar de 5Ps, que são: Prática, Profissão, Pessoa, Partilha e Público. A seguir

esclareceremos cada uma delas.

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19

1.1 Prática

Segundo Nóvoa (2009), no final do século XIX, alguns autores

escreveram sobre a relação teoria e prática. Em 1902, Émile Durkheim fala sobre

teoria e prática, para desse modo, transformar prática em conhecimento, não se

realizou, principalmente na formação docente, que continuou com referencias

externas, ou seja, não parou para discutir o que seria prática e teoria, o que não

permitiu o desenvolvimento da formação profissional como se faz na área de

Medicina.

Nóvoa (2009, p.13) faz uma comparação da formação de

professores com a formação dos médicos:

Do que pude observar, quero chamar a atenção para quatro aspectos: i) o modo como a formação se realiza a partir da observação, do estudo e da análise de cada caso; ii) a identificação de aspectos a necessitarem de aprofundamentos teóricos, designadamente quanto à possibilidade de distintas abordagens de uma mesma situação; iii) a existência de uma reflexão conjunta, sem confundir os papéis de cada um (chefe da equipa, médicos, internos, estagiários, etc.), mas procurando mobilizar um conhecimento pertinente; iv) a preocupação com questões relacionadas com o funcionamento dos serviços hospitalares e a necessidade de introduzir melhorias de diversa ordem.

Nóvoa (2009) sugere que os professores se formassem em um

processo semelhante ao utilizado pela área da Medicina. Para ele, ganhar-se-ia

muito na formação dos professores, porque as mobilizações organizadas em

torno de casos concretos de insucesso escolar envolveriam persistência e

obstinação para resolvê-los.

Esse autor afirma que o trabalho docente supõe uma transformação

de saberes, isto quer dizer, há uma necessidade de dar respostas a questões

pessoais, sociais e culturais, e nomeia essa ação de “transformação

deliberativa”(p. 15).

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20

Durante nossa pesquisa, os professores participantes, criaram

atividades Matemáticas, visando o desenvolvimento do aprendizado do aluno com

deficiência. Durante as discussões destas atividades as professoras com mais

anos de experiência expunham ocorrências de sucesso e insucesso. Houve

outros momentos em que as professoras com menos anos de experiência se

opuseram às experiências realizaram uma análise das experiências negativas,

explicitando outro modo de ver o acontecimento, propondo alternativas que

poderiam tornar eficiente a prática pedagógica anteriormente apresentada.

1.2 Profissão

De acordo com Nóvoa (2009), a formação docente deve passar por

dentro da profissão, para que adquiram certa cultura profissional. Cultura esta

adquirida quando os professores com mais tempo na profissão auxiliam os mais

jovens professores em sua jornada.

Os médicos, conforme Nóvoa (2009), cooperam com o processo de

formação do jovem médico, que após o término do curso de graduação realiza

uma residência médica. O jovem profissional exerce o papel de médico, mas é

acompanhado por um profissional com mais anos de experiência, que é o

responsável pela equipe.

Já os engenheiros, nos primeiros anos de profissão, trabalham como

assistentes dos engenheiros responsáveis por projetos, realizando atividades de

menor complexidade que evolui de categoria, conforme experiência adquirida.

Nóvoa (2009, p. 12) expõe o que acredita ser cultura profissional:

Ser professor é compreender os sentidos da instituição escolar, integrar-se numa profissão, aprender com os colegas mais experientes. É na escola e no diálogo com os outros professores que se aprende a profissão.

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Segundo o autor, a formação deve estar ligada com a licenciatura e

o mestrado, pois é de fundamental importância para o aluno que venha a ser

professor, sedimentar as bases em termos de análise da prática e assim permitir a

integração na cultura profissional.

Um momento particularmente sensível na formação de professores é a fase de indução profissional, isto é, os primeiros anos de exercício docente. Grande parte da nossa vida profissional joga-se nestes anos iniciais e na forma como nos integramos na escola e no professorado. Neste sentido, este momento deve ser organizado como parte integrante do programa de formação em articulação com a licenciatura e o mestrado (NÓVOA, 2009, p. 15).

Em muitos momentos, durante os encontros do grupo de pesquisa

para o desenvolvimento do Projeto, as professoras com maior tempo de

experiência em sala de aula puderam apresentar informações que auxiliassem as

professoras com menor tempo de experiência. Foi possível observar que, quando

juntava uma professora muito experiente com uma professora menos experiente,

existia muita discussão e partilha de experiência.

1.3 Pessoa

Nóvoa (2009, p. 15) deixa claro que não há possibilidade de

separação do pessoal em relação ao profissional, ele fundamenta a pessoa do

professor e deixa claro que:

Ao longo dos últimos anos, temos dito (e repetido) que o professor é a pessoa, e que a pessoa é o professor. Que é impossível separar as dimensões pessoais e profissionais. Que ensinamos aquilo que somos e que, naquilo que somos, se encontra muito daquilo que ensinamos.

Além disso, esse autor apresenta alguns elementos que definem um

“bom professor”: conhecimento, cultura profissional, tato pedagógico, trabalho em

equipe e compromisso social.

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Sendo assim, o professor ao mesmo tempo em que leciona se auto

avalia, e em conjunto com os outros professores constrói uma identidade de si

próprio e do grupo. Nóvoa (2009, p. 16) argumenta que o registro escrito auxilia o

professor para a construção de sua identidade profissional.

O registro escrito, tanto das vivências pessoais como das práticas profissionais, é essencial para que cada um adquira uma maior consciência do seu trabalho e da sua identidade como professor.

Podemos identificar que as quatro professoras participantes do

projeto, possuem características próprias como pessoa e como profissional.

Algumas aceitam com facilidade as críticas feitas pelo grupo em relação ao

trabalho realizado, outras necessitam de um tempo para se convencer, e outras

conseguem discutir com o grupo favorecendo a construção coletiva do

conhecimento.

1.4 Partilha

Para que ocorra sucesso na partilha de experiências das práticas

pedagógicas, faz-se necessário que a equipe escolar se organize de forma a criar

uma mobilização em prol da coletividade. Podemos citar como exemplo

professores de áreas diferentes, que trabalham com os mesmos alunos com

deficiência, e conseguem partilhar as experiências das práticas pedagógicas,

fazendo interligação entre as disciplinas para o melhor desenvolvimento da

aprendizagem desses alunos, e ao mesmo tempo formando um grupo coeso

dentro da equipe escolar.

Nóvoa (2009, p.17) explicita que a “colegialidade, a partilha e as

culturas colaborativas não se impõem por via administrativa ou por decisão

superior”.

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O trabalho coletivo em projetos educativos permite ao professor ser

reflexivo, ser um professor indagador, assumir a sua prática e a sua realidade

escolar e torná-los objeto de estudo. Embora, ao fazer questionamento o

professor comece a buscar pela melhoria do aprendizado, é a reflexão conjunta

que enriquece o trabalho, tanto individual quanto coletivo.

Muitos anos de experiência, como professor nem sempre significa

que o professor tenha conseguido fazer uma reflexão crítica, pois ele pode ter

apenas repetido suas atitudes dentro da sala de aula. Uma reflexão conjunta,

dentro de um grupo, permite a troca de experiências, de valores e pontos de

vistas que contribuem para repensar a própria prática.

A partilha apresenta necessidade de coletividade, momento em que

o professor pode dividir suas experiências, valorizando suas práticas e as de

outros professores, e também é o momento em que os professores podem ajustar

as regras de convivência em sociedade, que devem ser apresentadas nas

escolas.

A coletividade reflexiva ocorre a partir das vivências do professor em

sala de aula para serem analisadas e remodeladas, desenvolvendo a

característica de reflexão conjunta, pois a experiência individual é importante, mas

ela é enriquecida pelo grupo escolar.

No momento em que os professores realizam reflexões coletivas,

estas se tornam mais que a somatória das reflexões individuais, porque daí

surgem novas ideias para o trabalho dos professores. O aprofundamento dessas

reflexões faz-se necessário para o aprofundamento de práticas e fortalecimento

das regras presentes na complexidade do trabalho escolar.

A escola é o lugar da formação do professor e existe a necessidade

de permitir que a escola possa ter espaço para reflexões coletivas sobre as

práticas. A reflexão coletiva sobre as práticas deve ocorrer em momentos de

partilha, possibilitando transformar experiências em conhecimento profissional.

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Durante os encontros ocorreram momentos de partilha das práticas

pedagógicas que eram discutidas e as professoras, por iniciativa própria,

testavam com os alunos e traziam para o grupo os pontos positivos e os pontos a

serem melhorados.

A partilha das práticas pedagógicas ultrapassou os limites do grupo

de pesquisa, e as professoras muitas vezes partilharam com outros professores

nas escolas em que lecionam, os quais começaram a procura-las para discutir

sobre a aprendizagem de alunos com deficiência.

1.5 Público

Nóvoa (2009) afirma que há a necessidade da criação do novo

espaço público de educação, para que seja celebrado um novo acordo entre

professores e sociedade. Esse espaço público de educação deve ter autonomia

diante da sociedade, principalmente sobre os assuntos relacionados à educação.

Mas para isso é necessário que o profissional tenha voz, faça parte

dos debates públicos, participe ativamente das mudanças sociais e tenha

visibilidade social. Estas atitudes são importantes para resgatar o prestígio do

professor. De acordo com Nóvoa (2009, p. 18)

No caso dos professores estamos mesmo perante uma questão

decisiva, pois a sobrevivência da profissão depende da qualidade

do trabalho interno nas escolas, mas também da sua capacidade

de intervenção no espaço público da educação.

Isto requer um trabalho de integração e de formação, visando um

profissional mais engajado com o processo de aprendizagem e ao mesmo tempo

crítico em relação à sociedade contemporânea.

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25

As responsabilidades que a sociedade não consegue dar conta

acabam sendo assumidas pela escola, o que descaracteriza a sua posição de

espaço público de educação, local em que o foco principal é a aprendizagem. Isto

pode ser percebido nas palavras de Nóvoa (2009, p. 17) quando escreve sobre

recontextualizar a escola: “[...]valorizando aquilo que é especificamente escolar,

deixando para outras instâncias actividades e responsabilidades que hoje lhe são

confiadas”.

Nas discussões ocorridas durante os encontros do grupo foi

percebido que nem sempre as professoras participantes dominavam todos os

conteúdos de Matemática. Desta forma, foram necessários momentos que

serviam para discutir sobre conteúdos de Matemática, para que elas pudessem se

apropriar desse conhecimento, criando atividades com mais segurança. Dominar

esses conhecimentos favoreceu a estas professoras maior autonomia no

desenvolvimento das suas práticas pedagógicas.

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CAPÍTULO 2

2. DEFICIÊNCIA

Nesse capítulo apresentaremos alguns movimentos em prol da inclusão de

alunos com deficiência no âmbito internacional, como nos está apresentado no

Relatório Mundial Sobre a Deficiência, e nacional com a promulgação da Lei

69496 de agosto de 2009.

Além disso, apresentamos resultados de uma pesquisa sobre a deficiência

realizada com professores que ensinam Matemática.

2.1 Deficiência e Educação

De acordo com o Relatório Mundial Sobre Deficiência (2012, p. 213)

estima-se que existem no mundo 93 milhões de crianças com deficiência, na faixa

etária de 0 a 14 anos. Neste mesmo relatório foram elencados razões importantes

para incluir crianças e adultos com deficiência: ”A educação contribui para a

formação do capital humano, sendo determinante no bem estar e riqueza

pessoal”.

Pensando nessas razões, podemos analisar na primeira delas que o

aluno com deficiência tem amparo para a igualdade de possibilidades, inclusive

quando se tornar adulto, já que a escola além de formar com conteúdos também

6 Lei 6949 Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e

seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007.

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27 permite a socialização, o costume da convivência com outras pessoas que não

sejam da sua família.

Excluir crianças com deficiência das oportunidades educacionais e de trabalho tem altos custos econômicos e sociais. Por exemplo: adultos com deficiência tendem a ser mais pobres que os sem deficiência, mas a educação equilibra a relação.

A segunda razão, diz respeito a permitir que alunos com deficiência

possam participar das oportunidades educacionais e de trabalho, tornando-se

adultos economicamente ativos, atuando no mercado de trabalho, para participar

no âmbito familiar e social.

Os países não poderão alcançar as Metas de Educação para Todos ou as Metas de Desenvolvimento do Milênio, de universalização da educação primaria, sem garantir o acesso à educação das crianças com deficiência (2012, p. 213).

Terceira razão, garantir o acesso à educação das crianças com

deficiência para que se cumpram as Metas de Educação para Todos ou as Metas

de Desenvolvimento do Milênio.

São cinco as Metas de Educação para Todos, que está sendo

alicerçada por um movimento da sociedade civil brasileira nomeado de Todos

Pela Educação (BRASIL, 2012, p. 7), esse movimento tem como objetivo

contribuir com educação básica de qualidade para todas as crianças e jovens até

2022, de acordo com as metas:

1ª - Toda criança e jovem de 4 a 17 anos na escola; 2ª - Toda criança plenamente alfabetizada até os 8 anos; 3ª - Todo aluno com aprendizado adequado à sua série; 4ª - Todo jovem com 19 anos com Ensino Médio concluído; 5ª - Investimento em Educação ampliado e bem gerido.

Analisando as Metas de Educação para Todos, podemos

perceber que crianças com deficiência, foco desta pesquisa, estão

inseridas em todas as Metas apresentadas.

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28

A inclusão de toda criança e jovem de 4 a 17 anos na escola,

plenamente alfabetizada até os 8 anos e com aprendizado adequado à sua

série, é um desafio para os professores que possuem alunos com

deficiência. Esta nossa pesquisa vem contribuir para buscar alcançar estas

Metas, pois investe na divulgação de práticas pedagógicas utilizadas para

ensinar Matemática.

As Metas de Desenvolvimento do Milênio, um compromisso

firmado por 189 países membros da ONU (Organização das Nações

Unidas), renovado em 2010, propôs alguns objetivos: combate a fome, a

pobreza e a promoção da educação, a serem atingidos até 2015.

Dentre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, o

referente à educação é “Atingir o ensino básico universal” (BRASIL, 2010),

e de acordo com a ONU (2010) foram propostas duas metas:

1.Garantir que, até 2015, todas as crianças, de ambos os sexos, terminem um ciclo completo de ensino básico; 2.Garantir que, até 2015, as crianças de todas as regiões do país, independente de cor/raça e sexo, concluam o ensino fundamental. (BRASIL, 2010)

Essas metas também vêm ao encontro do objetivo principal dessa

pesquisa, que tem o desejo de incluir todas as crianças com deficiência, tornando-

as participantes das aulas de Matemática. Tanto para concluírem um ciclo

completo do ensino básico, quanto para o ensino fundamental.

Ainda sobre a quarta razão constante no Relatório Mundial Sobre

Deficiência, o Brasil possui a Lei 6949 de agosto de 2009 que promulga a

Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Nesta

Lei o art. 24º item 2 vem ao encontro do objetivo principal dessa pesquisa, como

descrito a seguir:

[...] c) Adaptações razoáveis de acordo com as necessidades

individuais sejam providenciadas; d) As pessoas com deficiência recebam o apoio necessário, no âmbito do sistema educacional geral, com vistas a facilitar sua efetiva educação;

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29

e) Medidas de apoio individualizadas e efetivas sejam adotadas em ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social, de acordo com a meta de inclusão plena. (BRASIL, 2009)

Essa pesquisa investiga adaptações necessárias para aprendizagem

de alunos com deficiência e as medidas necessárias de apoio individualizado.

Ainda no art. 24º o item 4 expõe referente à capacitação de

profissionais para apoiar os alunos com deficiência, como segue.

4. A fim de contribuir para o exercício desse direito, os Estados Partes tomarão medidas apropriadas para empregar professores, inclusive professores com deficiência, habilitados para o ensino da língua de sinais e/ou do braille, e para capacitar profissionais e equipes atuantes em todos os níveis de ensino. Essa capacitação incorporará a conscientização da deficiência e a utilização de modos, meios e formatos apropriados de comunicação aumentativa e alternativa, e técnicas e materiais pedagógicos, como apoios para pessoas com deficiência. (BRASIL, 2009)

Nossa pesquisa investiga a capacitação de professores para atender

os alunos com deficiência, desenvolvendo oficinas para divulgação das atividades

com as adaptações necessárias visando o ensino de alunos com Deficiência

Auditiva, Visual e Mental.

Diante de tantas necessidades para incluir alunos com e sem

deficiência, pensamos em vários aspectos, dentre eles uma formação de

professores que possa promover práticas pedagógicas para o ensino da

Matemática de maneira inclusiva.

Com esse cenário de mobilização internacional e nacional para a

inclusão de alunos com deficiência, tivemos também no grupo de pesquisa um

trabalho desenvolvido com professores que ensinam Matemática sobre o

fenômeno da deficiência, como mostrado a seguir.

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2.2 Professores e Deficiência

A pesquisa realizada por Moreira (2012), intitulada Representações

Sociais de Professores e Professoras que Ensinam Matemática Sobre o

Fenômeno da Deficiência, buscou apresentar opiniões, conhecimentos e dúvidas

dos professores sobre a deficiência.

Foram realizadas entrevistas com professores e professoras de

quatro escolas, das professoras participantes do projeto. Estas foram analisadas

com o auxílio do software Qualiquantisoft 7 e produzidos discursos coletivos.

Estas quatro unidades escolares são as mesmas por nós investigadas.

Foram elaborados discursos coletivos, que possibilitaram perceber a

existência de professores que incentivam a inclusão, mas também os que

possuem opiniões e atitudes contrárias à inclusão.

Moreira (2012) propôs três situações para que os participantes da

sua pesquisa se posicionassem: amizade entre colegas de sala, aluno novo e

conhecimento sobre deficiência, como mostramos a seguir.

1ª Situação – A amizade entre colegas de sala

“Maurício e Natália são amigos. Ambos estudam no Ensino Fundamental e na mesma classe. Muitas vezes, fazem as atividades de

Matemática juntinhos. Mas isso tem preocupado o Professor de Matemática, o

Vagner, pois ele acha que a Natália faz as atividades para o Maurício, que tem

deficiência. Se você fosse o Professor Vagner, teria essa preocupação? Por

quê?” (MOREIRA, 2012, p. 120)

7 Qualiquantisoft trata-se de um software que auxilia pesquisas qualiquantitativas em que é utilizada a

técnica do Discurso do Sujeito Coletivo e foi desenvolvido por pesquisadores da USP em parceria com Sales

& Paschoal Informática.

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31

Para a situação de “amizades entre colegas” de sala fica claro que a

prática pedagógica em alguns discursos desconsidera a diversidade dos alunos

dentro da sala de aula, porque todos temos particularidades, e sendo assim é

necessário pensar em diferentes formas de ensinar com a utilização de diversos

recursos.

Alguns professores ainda acreditam que aprendizagem é apenas

conteúdo, desconsiderando as mudanças importantes que ocorrem na

convivência entre alunos com e sem deficiência; observamos nos fragmentos

retirados dos discursos coletivos (MOREIRA, 2012, p. 123), evidências como esta.

“eles atrapalham nossa aula e não deixam os alunos aprenderem”;

“eles não dão conta de acompanhar o conteúdo”;

“tem impossibilidade de aprender por causa da deficiência”.

Assim como alguns fragmentos de discursos coletivos (MOREIRA,

2012, p. 123), também nos mostram que existem professores que reconhecem a

necessidade de diversificar práticas pedagógicas e a importância da socialização

de alunos com e sem deficiência.

“Talvez a aluna esteja ajudando o colega nas dificuldades”

“o trabalho em dupla mostra resultados surpreendentes”

“na maioria das vezes o auxílio do colega melhora seu rendimento”

“Conhecimento se constrói junto e é mais fácil”.

2ª Situação – Aluno novo

“Numa escola pública da cidade, vários alunos se reencontraram e

outros chegam de regiões diversas. É o momento de matar a saudade dos velhos

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32 amigos e fazer novas amizades. Na aula de Matemática, do Ensino Fundamental,

que foi a primeira do dia, entrou uma colega nova, a Bruna. Carla conhecia a

menina desde a época em que estudaram juntas. De repente, Carla fala:

- Ah não, de novo não! Estudei com esta menina deficiente e ela

atrapalha a aula o tempo todo... Antes de terminar sua fala, a Professora Catarina

a interrompe e diz a ela e aos colega que...

Se você se colocasse no lugar da Professora Catarina, o que você

diria a Carla e aos demais alunos da classe?” (MOREIRA, 2012, p. 135)

Para a situação do “aluno novo” podemos notar que a forma com

que alguns professores e professoras chamaram a atenção da Carla e

esclareceram o restante da sala sobre a atitude de indiferença e rejeição, é muito

dura e até cruel, tornando a situação ainda pior. Esta situação mostra um

profissional que traz consigo crenças pessoais, como podemos ler em alguns

recortes das entrevistas (MOREIRA, 2012, p. 137).

“apesar de suas incapacidades ela possui os mesmo direitos”

“não têm culpa de vir ao mundo assim”

“esse governo tá mandando todo mundo estudar junto”

“os problemas deles atrapalham mesmo um pouco”.

Porém, percebemos também que alguns professores e professoras

conseguem colocar a situação negativa de forma diferente, preocupando-se em

conscientizar os alunos quanto a importância do convívio e fazendo com que eles

consigam se colocar no lugar do outro.

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33

Quando o professor consegue fazer com que os alunos vejam além

da sala de aula, ele está conscientizando um público que possivelmente o

respeitará por conhecer o trabalho positivo que desenvolve.

De acordo com os recortes das entrevistas a seguir (MOREIRA,

2012, p. 137), os discursos invadem a sociedade, os professores provocam nos

alunos um pensamento crítico para que eles se posicionem na sociedade.

“todos temos deficiências”

“quanto dói você ser rotulada e desrespeitada”

“temos que respeitar as diferenças do próximo”

“a convivência enriquece o grupo”

“as diferenças não devem ser barreiras para o convívio”.

3ª Situação – Conhecimento sobre deficiência

“Felipe estuda no Ensino Fundamental. Está empolgado com a Professora e com os novos coleguinhas que acabou de conhecer. Apesar de

ainda não compreender bem, notou que na sala dele tem um amiguinho, o Caio,

que é diferente. Outro dia, ouviu a Professora dizer que ele é deficiente. Aquilo

ficou na cabecinha de Felipe e ele quer saber o que quer dizer isso. Num

determinado momento, foi correndo perguntar a Professora o que quer dizer

deficiente...

Se você tivesse que explicar ao Felipe o que é deficiência, o que

diria a ele?” (MOREIRA, 2012, p. 144)

A última situação sobre “conhecimento sobre deficiência”, os

professores posicionaram-se de três diferentes maneiras em suas respostas.

Primeiro o professor olhou para sua profissão como promotora de diferentes

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34 formas de ensinar e acreditar que o aluno com deficiência é capaz de aprender,

de acordo com os recortes a seguir (MOREIRA, 2012, p. 147):

“Quando algo não está no nível da normalidade que a sociedade espera”

“a pessoa tem algum tipo de dificuldade diferente das demais”

“ela tem dificuldade de entender o que você entende rapidinho”.

No segundo caso, o professor parece acreditar que o aluno com

deficiência tem dificuldades em todas as áreas de conhecimento e é incapaz de

realizar qualquer tipo de atividade sem auxílio de outra pessoa.

Nesse caso o professor desconsidera que faz parte da sua profissão

reconhecer dificuldades pontuais dos alunos, como podemos ver nos recortes

abaixo (MOREIRA, 2012, p. 147):

“a deficiência atrapalha o seu desenvolvimento em todas as

atividades e aprendizado”

“deficiência é algo muito ruim, que prejudica as pessoas e a família”

”Tem que fazer tudo para ele”

“não consigo lidar com eles e não sei bem como agiria”.

O terceiro grupo de respostas apresenta que, utilizando de seus

conhecimentos profissionais, o professor pode adaptar atividades para que os

alunos com deficiência participem ativamente das aulas, atendendo as

particularidades de cada aluno, conforme os recortes a seguir (MOREIRA, 2012,

p. 147):

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35

“é normal ser diferente”

“auxiliando-o para que ele aprenda e também participe de todas as atividades”

“é importante que todos sejam tratados com respeito”.

Além disso, Moreira (2012, p. 159) sugere serviços que as unidades

escolares podem oferecer à equipe escolar para ajudar a lidar com os alunos com

deficiência.

(a) informar os docentes e o corpo administrativo das escolas sobre as características sócio-emocionais e educacionais dos alunos com NEE; (b) divulgar informações a respeito de manifestações saudáveis acerca do processo de inclusão; (c) oportunizar aos pais condições de transmissão das necessidades de seus filhos com deficiência aos educadores; (d) criar grupos de discussão a respeito das potencialidades e necessidades dos alunos; (e) discutir textos que abordam a temática durante os momentos de coordenação coletiva; (f) propiciar o contato dos docentes que não lidam com o aluno que apresenta deficiência com este, a fim de inserí-lo na Educação Especial; (g) elaborar atividades dinamizadas onde os docentes teriam em seus grupos diferentes com diferentes NEE; (h) promover ou fortalecer, em suas respectivas Unidade de Ensino, o dia da inclusão; (i) realizar palestras com especialistas da temática em reuniões de pais e mestres; (j) apreciar a inclusão como uma filosofia que oportuniza lidar com a diversidade, contribuindo para a inserção social e pedagógica do aluno que apresenta deficiência, entre outros.

Os serviços sugeridos por Moreira (2012) vem ao encontro das ideias de

Nóvoa (2009) referente às necessidades para a formação de professores: Prática,

Profissão, Pessoa, Partilha e Público.

A Partilha de saberes necessários facilitam a vida dos alunos com

deficiência junto a equipe escolar. Além disso, as Práticas pedagógicas em

atividades dinamizadas atendem o ensino de alunos com deficiência, momento

em que o professor pode mesclar os conhecimentos profissionais e pessoais. E

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36 por último, ao atingir o Público, com esforços que envolvam todos de dentro e de

fora da escola, promove esclarecimentos sobre a inclusão.

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37

CAPÍTULO 3

3.PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Apresentamos neste capítulo, a metodologia qualitativa utilizada

para esta pesquisa com os instrumentos de dados utilizados, a caracterização do

grupo de formação de professores e o contexto do Projeto em que esta pesquisa

foi desenvolvida.

3.1 Metodologia

Essa pesquisa é qualitativa por se preocupar com o desenvolvimento

do processo, com as experiências trazidas pelas professoras participantes do

grupo de formação e com a promoção das práticas pedagógicas para o ensino de

Matemática para alunos com deficiência. Sendo assim:

“a abordagem da investigação qualitativa exige que o mundo seja examinado com a ideia de que nada é trivial, que tudo tem potencial para constituir uma pista que nos permita estabelecer uma compreensão mais esclarecedora do nosso objeto de estudo” (BOGDAN e BIKLEN, 1994, p. 49).

Ainda pensando no processo da nossa pesquisa, vem ao encontro

das cinco características apresentadas por Lüdke e André (1986, p. 11).

1.A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento; 2.Os dados coletados são predominantemente descritivos; 3.A preocupação com o processo é muito maior do que com o produto; 4.O “significado” que as pessoas dão às coisas e à sua vida são focos de atenção especial pelo pesquisador. 5.A análise dos dados tende a seguir um processo indutivo.

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38

Dentre as possibilidades que a pesquisa qualitativa oferece

trabalhamos com os instrumentos de coleta de dados: observação participativa e

entrevista, que foram transcritas e posteriormente apresentadas em forma de

narrativa para análise.

3.1.1 Instrumentos de Coletas de Dados

Para coleta de dados utilizamos observações participativas das

atividades realizadas nos encontros ocorridos no ano de 2011 e entrevista,

ocasião que as professoras participantes do projeto puderam expor as suas

percepções tanto da preparação das atividades quanto do oferecimento das

oficinas nas quatro escolas em que lecionam.

3.1.1.1 Observação Participativa

A escolha da observação participativa deu-se por acreditarmos ser

um meio melhor de captar detalhes e ficarmos mais próximos do desenvolvimento

dos métodos utilizados para adaptarmos cada atividade às Deficiências Auditiva,

Visual e Mental que foram criadas nos encontros do grupo de formação.

Como fazíamos parte do grupo de formação, auxiliávamos na

elaboração das atividades a serem criadas e posteriormente desenvolvidas como

oficinas nas escolas, tratava-se uma observação participante.

Carmo e Ferreira (2008, p.121) esclarecem o que para eles significa

observação participante:

Como o desempenho desses papéis o faz de algum modo participar da vida da população observada, dá-se a esta técnica o nome de observação participante.

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39

No caso desta pesquisa, o desempenho do nosso papel deu-se nos

momentos da criação das atividades, com questionamentos feitos ao grupo.

Momentos em possibilitaram a realização de indagações que enriqueceriam as

atividades com detalhes que, posteriormente, atenderiam as particularidades de

alunos com Deficiência Auditiva, Visual e Mental. A situação descrita está de

acordo com Carmo e Ferreira (2008, p. 121):

Em grande parte das situações o investigador deverá assumir explicitamente o seu papel de estudioso junto da população observada combinando com outros papéis sociais cujo posicionamento lhe permita um bom posto de observação.

3.1.1.2 Entrevistas

As entrevistas foram feitas após o desenvolvimento das oficinas nas

escolas, em momentos e locais oportunos para as professoras.

O roteiro com questões para as entrevistas foi elaborado de forma

semiestruturadas, “que se desenrola a partir de um esquema básico, porém não

aplicado rigidamente, permitindo que o entrevistador faça as necessárias

adaptações” (LÜDKE e ANDRÉ, 1986, P. 34).

Esta entrevista semiestruturada foi realizada com a tentativa de

abordar todo o processo que envolveu a criação das atividades até a execução

das oficinas nas escolas que as professoras lecionam.

Procuramos saber quais as percepções das professoras com relação

à preparação, criação das atividades e desenvolvimento das oficinas nas escolas;

e o quanto elas haviam se apropriado dos conteúdos matemáticos dessas

atividades.

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40

3.1.1.3 Narrativas

As narrativas foram elaboradas a partir dos textos das entrevistas

realizadas em 2012 e das observações participativas ocorridas durante o ano de

2011. Nessas narrativas procuramos interpretar o cenário, o momento, as

experiências e as percepções das professoras, no percurso da criação das

atividades até o desenvolvimento das oficinas. Desta forma, utilizamos as

narrativas no sentido proposto por Clandinin e Connelly (2000) apud Fiorentini

(2006, p.29)

As narrativas fazem menção a um determinado tempo (trama) e lugar (cenário), onde o professor é o autor, narrador e protagonista principal. São histórias humanas que atribuem sentido, importância e propósito às práticas e resultam da interpretação de quem está falando ou escrevendo. Essas interpretações e significações estão estreitamente ligadas as suas experiências passadas, atuais e futuras.

3.2 O Grupo de Professores

O grupo foi formado por uma professora da rede Municipal de

Educação e três da rede Estadual de Educação de São Paulo.

As professoras foram selecionadas a partir de edital, em que a

premissa era ter alunos de inclusão, com ou sem laudo médico, em suas classes

atuais, para fazerem parte do grupo de formação.

Com as exigências atendidas para participar do grupo de formação

apresentamos a caracterização do grupo de professores.

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41

3.2.1 Caracterização do Grupo de Professores

No decorrer do ano de 2011, após a escolha das professoras que se

voluntariaram através do edital, enquanto desenvolvíamos a nossa pesquisa,

tivemos a mudança de duas professoras, que por motivos pessoais deixaram o

Projeto. Na tentativa de mantermos as mesmas características objetivamos incluir

docentes da mesma unidade escolar das professoras que saíram.

Uma das professoras foi substituída por outra da mesma escola, e

pôde passar informações do trabalho que estava sendo desenvolvido e até

mesmo acompanhar a fase final desta pesquisa, quando desenvolveu a oficina na

escola.

Porém, na outra escola, não encontramos professores que tenham

demonstrado interesse em participar do Projeto, algumas vezes por conta do

horário dos encontros e outras vezes pela quantidade de horas que deveriam ser

despendidas fora dos encontros.

Desta forma, fomos buscar uma nova professora em outra unidade

escolar que atendesse a exigência principal do edital.

A nova integrante do grupo de formação iniciou sua participação no

mês de agosto, momento em que foi informada e orientada sobre os seminários

que haviam ocorrido no 1º semestre de 2011 e também sobre os materiais que

haviam sido catalogados.

Apresentaremos a seguir características profissionais de cada

professora, consideramos as docentes que finalizaram o ano de 2011 com o

desenvolvimento das oficinas, utilizando nomes fictícios e uma rápida

caracterização das escolas em que essas professoras lecionam.

O quadro 1 apresenta a caraterização das professoras participantes

do grupo de formação de professores.

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42

Quadro 01: Caracterização das professoras participantes do projeto

Nome Experiência Formação

Habilitação Específica para o Magistério

Ada 22 anos Pedagogia

Especialização em Deficientes Mentais

Habilitação Específica para o Magistério

Bete 5 anos Pedagogia

Especialização em Educação Especial

Julia 23 anos Habilitação Específica para o Magistério

Pedagogia com Administração Escolar

Iza 7 anos Pedagogia

O quadro 2 apresenta a estrutura física das salas das escolas em

que as professoras participantes do grupo de formação lecionam:

Quadro 02: Panorama das escolas em que as professoras lecionam

Profª Escola do Bairro Estrutura Física

25 salas de aula

Ada Aclimação 1 sala para deficientes visuais

1 sala para deficientes intelectuais

15 salas de aula

Bete Brás 1 sala de recursos

12 salas de aula

Julia Jd. Jaraguá 1 sala de recursos

20 salas de aula

Iza Itaim Paulista 1 sala de recursos

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43

3.3 Contexto da Pesquisa

O Projeto “Desafios para a Educação Inclusiva: pensando na

formação de professores sobre os processos de domínio da Matemática nas

séries iniciais da Educação Básica” foi organizado em duas etapas, cada uma

referente a um semestre de 2011.

1ª Etapa organizada em dois momentos; o primeiro com a

participação das docentes do grupo de formação em seminários e depois

catalogando materiais existentes nas escolas que lecionam.

2ª Etapa foram partilhadas informações sobre práticas pedagógicas

para o ensino da Matemática nos encontros realizados pelo grupo e houve a

criação de duas atividades que foram desenvolvidas em forma de oficinas nas

escolas que as professoras lecionam.

Descreveremos a seguir cada uma das etapas.

3.3.1 Etapa 1 - Primeiro Semestre de 2011

Esta etapa refere-se à formação das professoras, que assistiram a

quatro seminários, participaram de reuniões sobre assuntos relacionados à

inclusão e realizaram levantamento de materiais que pudessem ser utilizados

para o ensino da Matemática.

Os materiais catalogados foram direcionados à criação de atividades

que envolvessem Matemática e focamos as adaptações dessas atividades para

auxiliarem o ensino de alunos com Deficiência Auditiva, Visual e Mental, por

opção do grupo de formação.

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44

3.3.1.1 Os Seminários

Foram realizados mensalmente seminários com especialistas para

esclarecer algumas questões sobre inclusão. Participaram desses encontros

professoras da Educação Básica, estudantes de mestrado e doutorado,

professores da PUC-SP e interessados no tema.

Segue quadro referente aos seminários ministrados no 1º semestre

de 2011.

Quadro 03: Seminários Ministrados no 1º Semestre de 2011

Data Palestrante Assunto

Profª Drª Annie Frere

Números de pessoas com deficiência no Brasil

21/02 e Dispositivos Assistenciais desenvolvidos pela

Slaets

área de Engenharia Biomédica

28/03 Profª Priscila de Deficiência Auditiva e Surdez

Giovani

18/04 Procuradora Marcella Direitos das Pessoas com Deficiência

Ziccardi

16/05 Prof. Ricardo e Profª Libras e Matemática: Mitos e Fatos

Maria Inês

No primeiro seminário, em 21 de fevereiro, a palestrante Annie Frere

Slaets, professora doutora do Programa de Estudos de Pós Graduação em

Engenharia Biomédica da PUC-SP, nos apresentou os números de pessoas com

deficiência no Brasil e Dispositivos Assistenciais desenvolvidos pela área de

Engenharia Biomédica, com a intenção de melhorar a vida dos deficientes.

A partir destes esclarecimentos foi possível percebermos a carência,

no Brasil, de profissionais que desenvolvam produtos e serviços para melhorarem

a qualidade de vida das pessoas com deficiência.

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45

No segundo seminário, em 28 de março, tivemos como palestrante a

Profª Priscila de Giovani, Coordenadora da Educação Inclusiva – Deficiência

Auditiva e Surdez, da rede municipal de Santo André. Esclareceu-nos sobre as

necessidades dos surdos e deficientes auditivos diante dos desafios diários e

como deve ser o trato com alunos nessa situação.

Apresentou-nos um projeto de alunos das escolas municipais que

ensinam LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) para alunos dessas mesmas

escolas de Santo André. E um curso de LIBRAS desenvolvido nessas mesmas

unidades escolares para as famílias.

Terceiro seminário, em 18 de abril, a Procuradora da Fazenda

Nacional em São Paulo Marcella Ziccardi,, apresentou-nos os Direitos das

Pessoas com Deficiência, a legislação específica para deficiência, quando

podemos conhecer e esclarecer os direitos e deveres dos portadores de

deficiência e dos familiares destes, a existência de várias nomenclaturas, como

portador de deficiência, deficiente, necessidades especiais e necessidades

educacionais especiais.

Este seminário nos possibilitou refletir sobre pontos importantes da

legislação e que podem ser utilizados na área de Educação, em especial

Educação Matemática.

No quarto seminário, em 16 de maio, o Prof. Ricardo, surdo,

acompanhado pela Profª Maria Inês, sua intérprete, ambos professores na

DERDIC (Divisão de Educação e Reabilitação dos Distúrbios da Comunicação da

PUC-SP), nos apresentaram a temática Libras e Matemática: Mitos e Fatos.

Mostraram-nos algumas formas de ensinar Matemática para surdos

da Educação Básica, de maneira diferenciada, utilizando mímica, falando de

frente com os surdos para que eles possam fazer a leitura labial. Ele apresentou

operadores matemáticos (soma, divisão, subtração e multiplicação) e os numerais

em LIBRAS.

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46

Elencaram também dificuldades e desafios que os surdos enfrentam

para serem compreendidos entre eles está a necessidade de ter um intérprete

para irem ao médico e/ou as dificuldades de viajar sem intérprete e de conseguir

ser compreendido.

3.3.1.2 Os Materiais

No período em que as professoras participantes do Projeto assistiam

aos seminários, solicitamos que fizessem também o levantamento de materiais

pedagógicos existentes nas escolas em que trabalham.

Foram relacionados ao todo 50 materiais pedagógicos, tais como

tangran, dominó geométrico, ábaco, discos de frações, blocos lógicos entre

outros.

A partir da relação de materiais, deveríamos desenvolver atividades

que envolvessem a Matemática ensinada nas séries do Ensino Fundamental I,

pensando em possíveis adequações, fazendo com que os alunos com e sem

deficiência participassem dessas atividades.

Identificamos que alguns dos materiais que foram relacionados

podem adequar-se a mais de um Bloco de Conteúdos de Matemática, mas por

decisão do grupo de formação classificaremos em apenas um deles para

podermos explorar o máximo de materiais, utilizando materiais diferentes para

cada atividade ou até mesmo mais de um tipo de material na mesma atividade.

Também, após o levantamento dos materiais realizados pelas

professoras, solicitamos para que cada uma delas escolhesse dez desses

materiais, sem repetição, para que fosse feito um estudo inicial com a intenção de

preparar as atividades.

Esse estudo consistiu em trazer para o grupo de formação,

informações sobre os materiais escolhidos para determinada atividade como:

série/ano a que se destinam, objetivos de ensino, princípios pedagógicos, fotos

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47 etc e para isto o grupo criou um Roteiro de Coleta dos Materiais Didáticos, que

consta no apêndice dessa pesquisa, para padronizar essas informações.

Foram selecionados alguns desses materiais para a criação de

atividades, para um dos blocos, o escolhido foi Espaço e Forma. Estas atividades

foram desenvolvidas na forma de oficinas nas escolas que as professoras

lecionaram no segundo semestre de 2011.

3.3.2 Etapa 2 - Segundo Semestre de 2011

Essa etapa refere-se a criação de atividades utilizando os materiais

catalogados, focando práticas pedagógicas para o ensino da Matemática para

alunos com deficiência auditiva, visual e mental.

As atividades criadas durante os encontros foram desenvolvidas,

posteriormente, como oficinas nas escolas que as professoras lecionaram.

3.3.2.1 Os Encontros

Por meio de 9 encontros, que ocorreram quinzenalmente, às

quartas-feiras no período noturno, das 19h30 às 21h30, na Faculdade de Ciências

Exatas e Tecnologia da PUC-SP, com a presença de alunos, professores e

professoras da Educação Básica participantes do Projeto, iniciamos reflexões

sobre as atividades que seriam criadas.

O quadro 04 apresenta os assuntos abordados em cada encontro do

grupo de formação de professores.

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48

Quadro 04: Assuntos abordados durante os encontros

Data Assunto

03.08 Divisão dos materiais catalogados em séries e Blocos

17.08 Divisão e escolha de materiais e atividades

14.09 Apresentação das primeiras sugestões de atividades

28.09 Apresentação das sugestões de atividades em formato padronizado

05.10 Escolha da primeira atividade que seria desenvolvida nas oficinas

19.10 Escolha da segunda atividade que seria apresentada nas oficinas

16.11 Organização de como seria desenvolvida cada oficina

23.11 Confirmação de data e horários das oficinas e os documentos necessários

07.12 Exposição das percepções de cada oficina

No primeiro encontro em 03/08, os materiais encontrados nas

escolas, que as professoras lecionam, foram organizados de acordo com os

quatro Blocos de Conteúdos de acordo com os PCN, Espaço e Forma, Números e

Operações, Grandezas e Medidas e Tratamento de Informação.

No segundo encontro em 17/08 o grupo de formação escolheu os

materiais que iriam ser utilizados nas primeiras atividades que seriam elaboradas

e foi escolhido também o Bloco de Conteúdos que a as atividades deveriam

atender, neste caso Espaço e Forma.

No terceiro encontro em 14/09 as professoras participantes do grupo

de formação sugeriram atividades que poderiam ser desenvolvidas com os

materiais selecionados.

No quarto encontro em 28/09 as atividades sugeridas no encontro

anterior foram organizadas em formato padronizado, para que todas as atividades

elaboradas atendessem as mesmas exigências.

No quinto encontro em 05/10 o grupo de formação de professores

escolheu a primeira atividade que seria criada, a partir das várias ideias que foram

apresentadas anteriormente para o Bloco Espaço e Forma. O grupo escolheu

explorar elementos do paralelepípedo na atividade Caixas da Alegria.

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49

No sexto encontro em 19/10 o grupo de formação de professores

escolheu a segunda atividade que seria criada. Essa atividade também foi

elaborada a partir do Bloco de Conteúdo Espaço e Forma, explorando as forma

geométricas na atividade Mulheres e Pássaros ao Luar.

No sétimo encontro em 16/11 o grupo de formação se organizou

para o desenvolvimento das oficinas, nos separamos em grupos, sempre com

uma professora responsável pelo desenvolvimento da atividade, uma professora

para apoiá-la, uma mestranda e um doutorando.

No oitavo encontro em 23/11 todos os integrantes do grupo de

formação confirmaram datas e horários agendados com as escolas, separamos

os certificados, termos de consentimento e os materiais que foram utilizados em

cada escola.

No nono encontro em 07/12 todos os integrantes expuseram suas

percepções em relação ao desenvolvimento das oficinas.

3.3.2.2 Oficinas

Para que as oficinas acontecessem com sucesso procuramos

apresentar data, horário, escola, professora responsável e atividade apresentada

em cada oficina.

O Quadro 05 apresenta a disposição de escolas, datas, horários e

professora da Educação Básica responsável pela condução da oficina.

Quadro 05: Disposição de datas e horários das oficinas nas escolas Profª

Escola Data Horário Responsável

Bairro Aclimação 05/12/2011 10h30min às 12h30 min Profª Julia

Bairro do Brás 05/12/2011 11h40min às 12h40min Profª Ada

Bairro do Jaraguá 06/12/2013 10h30min às 12h30min Profª Bete

Bairro do Itaim 06/12/2013 19h às 21h30min Profª Iza

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50

As oficinas foram ministradas nos horários disponíveis para trabalho

pedagógico. Tratando-se de professores da rede Municipal de Ensino, em horário

destinado a formação chamada de Jornada Especial Integral de Formação (JEIF),

regulamentada pelo Lei nº 14.6608 de 26 de dezembro de 2007, art.15, inciso III.

Jornada Especial Integral de Formação: 25 (vinte e cinco) horas aula e 15 (quinze) horas adicionais, correspondendo a 240 (duzentas e quarenta) horas aula mensais (SÃO PAULO, 2007).

O art. 17 da Lei nº 14.660 de 26 de dezembro de 2007 complementa:

Compreende-se por horas adicionais o período de tempo de que dispõe o docente em Jornada Especial Integral de Formação para o desenvolvimento de atividades extra classe, dentre outras: I - trabalho coletivo com a equipe escolar, inclusive o de formação permanente e reuniões pedagógicas (PMSP, 2007).

Para as professoras das escolas da rede Estadual de Educação

foram utilizadas as Horas de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPCs),

regulamentados pela Lei Complementar 836/979 art. 13:

As horas de trabalho pedagógico na escola deverão ser utilizadas

para reuniões e outras atividades pedagógicas e de estudo, de

caráter coletivo, organizadas pelo estabelecimento de ensino, bem

como atendimento a pais de alunos. (ALESP, 1997, p. 3)

Temos que ressaltar que, como alguns horários eram próximos e as

escolas distantes umas das outras, o grupo de formação dividiu-se para

desenvolvimento e apoio às oficinas.

8 Lei nº 14.660 - Dispõe sobre as alterações das Leis nº 11.229/92 e nº 11.434/93 e legislação

subseqüente, reorganiza o Quadro dos Profissionais de Educação e consolida o Estatuto dos

Profissionais da Educação Municipal – em vigor a partir de 01/01/2008 10

Lei Complementar 836/97 Institui Plano de Carreira, vencimentos e salários para os integrantes

do Quadro do Magistério da Secretaria da Educação.

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51

Em todas as oficinas tivemos presentes uma professora da

Educação Básica responsável pelo desenvolvimento da oficina, uma professora

da Educação Básica para apoio, uma mestranda e um doutorando.

Após o trabalho desenvolvido durante o ano de 2011 foi possível

realizar algumas análises para esta pesquisa.

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52

CAPÍTULO 4

4. ANÁLISE

A análise de dados foi feita de forma qualitativa utilizando as

entrevistas realizadas após o desenvolvimento das oficinas, que foram descritas

em forma de narrativas em que evidenciamos e dialogamos com as ideias de

Nóvoa (2009) em relação às necessidades para a formação de professores:

Prática, Profissão, Pessoa, Partilha e Público.

Para iniciar a análise dos dados transcrevemos todas as entrevistas

e realizamos leituras e releituras. A partir daí, elaboramos as narrativas,

procurando evidenciar os momentos que as professoras explicitam

acontecimentos ou percepções sobre os encontros de formação.

Analisamos duas atividades criadas e desenvolvidas em forma de

oficinas, pelo grupo de formação. A primeira trata dos elementos do

paralelepípedo e apresenta as particularidades do cubo, e a segunda utiliza

composição de formas geométricas.

Iniciaremos a análise de dados com as atividades e em seguida

apresentaremos as narrativas.

4.1 Atividades

A criação das atividades iniciava com uma ideia de interligação de

conteúdos de outras disciplinas com a Matemática.

Em muitos dos encontros o grupo lembrava que nem sempre o aluno

com deficiência está inserido na sala destinada a sua idade, então por este motivo

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53 as atividades receberam uma sugestão inicial, mas podem ser adaptadas para um

ano adequado à necessidade do aluno.

O foco para a criação das atividades são apenas Deficiência

Auditiva, Deficiência Visual e Deficiência Mental. Todas as sugestões de

caracterização foram expostas pelas professoras.

Nessas atividades apresentamos sugestões de adaptação das

atividades, que possam vir a auxiliar o professor no ensino da Matemática,

possibilitando conhecer algumas das características de alunos com determinada

deficiência.

As atividades criadas foram desenvolvidas, primeiramente, nas salas

de aula das próprias professoras participantes do grupo de formação, que

possuíam alunos com diferentes deficiências, fato que enriqueceu as reflexões e

discussões nos encontros do grupo de formação.

Estas professoras realizaram observações durante o

desenvolvimento da atividade em sala de aula e investigaram o que os alunos

apontavam como pontos fracos e fortes das atividades desenvolvidas.

A reflexão de cada professora foi discutidas nos encontros de

formação e as atividades passaram por alterações significativas. São estas

atividades que serão analisadas a seguir.

Por escolha do grupo de formação, a criação das atividades

objetivou o ensino de alunos com ou sem deficiência e para isso utilizamos alguns

dos Conteúdos Atitudinais para o Bloco Espaço e Forma, descritos nos PCN

(1997) de Matemática para o Ensino Fundamental I.

Essas duas atividades também tem o intuito de atender os objetivos

constantes nos PCN de Matemática (1997, p. 52).

- Perceber semelhanças e diferenças entre objetos no espaço, identificando formas tridimensionais ou bidimensionais, em situações que envolvam descrições orais, construções e representações;

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- Identificar características das figuras geométricas, percebendo semelhanças e diferenças entre elas, por meio de composição e decomposição, simetrias, ampliações e reduções.

E os Conteúdos Atitudinais (PCN, 1997, p. 52) contemplados foram:

- Desenvolvimento de atitudes favoráveis para a aprendizagem de Matemática; - Confiança na própria capacidade para elaborar estratégias pessoais diante de situações-problema; - Valorização da troca de experiências com seus pares como forma de aprendizagem; - Sensibilidade pela observação das formas geométricas na natureza, nas artes, nas edificações.

A cada dúvida que surgia nos encontros, referente à adaptação

necessária, as professoras levavam a questão para sua sala de aula e traziam

soluções, para o encontro do grupo de formação, na semana seguinte.

A seguir apresentaremos as duas atividades criadas no ano de 2012,

com as observações participativas.

1ª Atividade

Para criar a primeira atividade, algumas professoras integrantes do

grupo de formação lembraram que, para elas, os livros didáticos não deixam claro

os elementos dos paralelepípedos, deixando-as confusas sobre o que é face,

vértice e aresta, e com dúvida na hora que ensinam os alunos.

Por este motivo a decisão do grupo de formação foi de iniciar

explorando exatamente esses elementos, para que as professoras conhecessem

melhor sobre o assunto.

Foi proposto que esta atividade considerasse alguns dos Conteúdos

Procedimentais e Conceituais do Bloco Espaço e Forma (PCN, 1997, p.51). Nesta

atividade foram contemplados:

-Percepção de semelhanças e diferenças entre cubos e quadrados, paralelepípedos e retângulos;

- Dimensionamento de espaços, percebendo relações de tamanho e forma.

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55

O grupo de formação decidiu criar uma história para iniciar a

atividade e propôs que esta fosse representada em formato de História em

Quadrinhos, para que os alunos com Deficiência Auditiva pudessem entender o

que está sendo dito.

No enredo duas personagens, o avô com o nome de Plínio e seu

neto Pedro. O avô Plínio possuía uma coleção de caixas de várias dimensões e,

enquanto organizava, conversava com o seu neto Pedro. Assim que terminou a

organização, o avô Plínio doou ao neto a coleção de caixas. Pedro, por sua vez,

teve a ideia de guardar nelas sentimentos e distribuir para outras pessoas.

A história criada pelo grupo de formação passou por várias

modificações, principalmente quanto à linguagem que seria utilizada. Após todas

as alterações foi encaminhada para o ilustrador Victor Souza (anexo III). Seguem

algumas ilustrações da história “Caixas da Alegria”:

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A partir da história providenciou-se os materiais indispensáveis para

o desenvolvimento da atividade. Foram necessárias caixas de dimensões e

tamanhos diferentes, representando paralelepípedos, para que os alunos

pudessem reconhecer os elementos dos paralelepípedos e pudessem compará-

los aos elementos do cubo.

As professoras relataram que desenvolveram a atividade em suas

salas de aula. Narraremos o que foi discutido nos encontros sobre a aplicação da

atividade nas salas de aula.

As docentes por acreditarem ser importante envolver os alunos para

o desenvolvimento de atividades na sala de aula, pediram, um dia antes, que eles

trouxessem caixas de diferentes tamanhos e dimensões para a aula seguinte.

Porém, o grupo de formação lembrou ser importante que cada professor tivesse

algumas caixas, de acordo com o objetivo proposto para que sua aula

acontecesse com sucesso.

Outra questão refere-se a dificuldade dos professores em dar conta

da leitura e interpretação sem o intérprete em LIBRAS, mesmo que soubessem a

língua.

Após contar a história, as professoras pediam para que todos os

alunos formassem grupos, e como contrato implícito cada aluno com deficiência

deveria estar integrado em um grupo de alunos que pudessem auxiliá-lo.

Nos encontros as professoras relataram também que ao receber um

aluno com deficiência na sala de aula, elas o aproximam dos demais alunos

dizendo que “o coleguinha precisa de atenção e em alguns momentos de ajuda” (Observação Participativa, 2011), pedem para que os alunos sem deficiência não

deixem o aluno com deficiência sozinho quando forem fazer atividade em grupo.

O grupo de formação objetivou que seria necessário colocar todas

as caixas, trazidas pelos alunos e também pela professora, em uma mesa para

que os mesmos pudessem visualizá-las. Neste momento foi lembrado que o aluno

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58 Deficiente Visual deveria ser guiado até a mesa para tatear as caixas e perceber

os diferentes tamanhos e dimensões.

Para iniciar a atividade, pediu-se para que cada grupo escolhesse

três caixas de tamanhos diferentes, identificassem e contassem suas arestas,

faces e vértices, colocando estas informações em uma tabela.

A tabela continha espaços para informar nome do objeto, número de

faces, números de vértices, número de arestas e a representatividade: cubo ou

paralelepípedo.

Para alunos com Deficiência Visual e Mental, foi percebido a

necessidade de algumas adaptações:

Para alunos com Deficiência Visual, será necessário que tenha

um aluno do seu grupo para preencher a tabela enquanto ele tateia e fala as suas

conclusões. Aquele que possui máquina Braille, ele mesmo pode registrar estas

informações no papel.

Para alunos com Deficiência Mental são necessárias algumas adaptações:

1. Utilizar cores chamativas para cada elemento do paralelepípedo,

como arestas de vermelho, faces de amarelo e vértices de azul, por

exemplo.

FIGURA 1: Adaptações realizadas no paralelepípedo

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59

2. Para alunos que reconhecem apenas letras, utilizar desenhos

com as iniciais.

Cubo

Paralelepípedo

3. Para alunos que reconhecem apenas cores, utilizar desenhos

com cores e perguntar aos alunos qual o nome do objeto representado

com a cor azul, por exemplo.

4. Para alunos que reconhecem apenas números, utilizar números

para as figuras que representam cada objeto, como o exemplo.

1 2

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60

A fim de dar continuidade na atividade, foi solicitado para todos os

grupos de alunos que construíssem estruturas de paralelepípedos e de cubos,

com massinha de modelar e canudos.

FIGURA 2: Estruturas do paralelepípedo

No encerramento da atividade todos os alunos foram questionados

sobre onde encontramos formas que nos lembram paralelepípedos e cubos, no

nosso dia a dia, com o objetivo de verificar o quanto eles se apropriaram do que

foi ensinado.

2ª Atividade

Para criar a segunda atividade o grupo de formação teve o propósito

de fazer com que os alunos percebessem que a Matemática está presente nas

artes. Por este motivo o grupo decidiu explorar uma tela com a pintura de Joan

Miró, pintor espanhol.

Foi proposto que a atividade contemplasse os seguintes Conteúdos

Conceituais e Procedimentais do Bloco Espaço e Forma (PCN, 1997, p. 60):

- Composição e decomposição de figuras planas e identificação de que qualquer polígono pode ser composto a partir de figuras triangulares;

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61

- Percepção de elementos geométricos nas formas da natureza e nas criações artísticas; - Representação de figuras geométricas.

Esta atividade também tem como objetivo que os alunos trabalhem

em grupo e desenvolvam o pensamento de coletividade, quando todos estão

reunidos com um mesmo propósito e o resultado depende de todos.

Na segunda história contada, Pedro, neto do vovô Plínio, leva seu

colega de sala, Carlos, Deficiente Visual, para visitar seu avô. Durante a visita

vovô Plínio conta sobre dois pintores, sendo um deles o pintor espanhol Joan

Miró, que é o autor da tela Mulheres e Pássaros, explorada na segunda atividade.

A história foi mostrada para os alunos em forma de história em

quadrinhos, ilustração de Victor Souza (anexo IV).

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62

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63

Para iniciar a atividade o grupo decidiu que seria apresentado aos

alunos, agrupados, a tela do pintor Joan Miró intitulada Mulheres e Pássaros ao

Luar, como mostramos a seguir, em formato grande e colorido.

FIGURA 3: Tela Mulheres e Pássaros ao Luar

Em cada grupo foi disponibilizada uma reprodução da tela Mulheres

e Pássaros ao Luar para que eles pudessem observar e tirar conclusões.

Para esta atividade também foram necessárias algumas

adaptações, que atendessem alunos com Deficiência Auditiva e Visual.

Para alunos com Deficiência Visual, serão necessárias duas telas,

uma com o contorno em relevo e outra com as formas da tela em relevo. Como

nos exemplos a seguir:

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64

FIGURA 4: Telas adaptadas para Deficiente Visual

Após apresentação da tela o grupo sugeriu que fossem explicados

fragmentos da história do pintor Joan Miró, como onde nasceu, e com o recurso

do Mapa Mundi localizar o país de origem do artista no mapa.

A proposta do grupo de formação decidiu distribuir Mosaicos

Geométricos para os alunos agrupados. Um conjunto para cada integrante

contendo: um quadrado, um triângulo, um hexágono, um losango, um trapézio e

uma pipa.

FIGURA 5: Formas Geométricas

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65

Isto feito, foi solicitado que os alunos observassem as figuras

geométricas e explorassem essas figuras.

Para alunos com Deficiência Auditiva, pode-se também fazer a

apresentação das figuras geométricas em forma de desenho, destacando o

número de lados e o número de vértices, como mostramos no exemplo a seguir:

FIGURA 6: Lado e Vértice do Quadrado

Quadrado Lado Vértice

Para alunos com Deficiência Visual, será necessário que tenha

uma pessoa nomeando as figuras enquanto eles estão tateando, seria importante

se esta pessoa fosse um aluno do grupo que o Deficiente Visual faz parte.

O grupo acredita que durante a observação e exploração das figuras

geométricas os alunos comecem a brincar com estas peças e formar novas

figuras.

Dentre as reflexões feitas pelo grupo de formação uma delas foi: “pode ser que neste momento os alunos comecem a fazer comparações entre as

formas existentes na tela e as formas do Mosaico Geométrico, sobrepondo ou não

as formas” (Observação Participativa, 2011).

Um próximo passo é distribuir uma caixa de giz de cera, uma caixa

de lápis de cor, um estojo de canetas hidrocor para cada grupo e uma folha de

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66 papel sulfite para cada integrante do grupo. Solicitar para que façam uma releitura

da tela apresentada utilizando as peças do Mosaico Geométrico, em uma folha de

papel sulfite.

O grupo de formação propõe a necessidade de esclarecer aos

alunos que releitura é o que eles entendem, o que eles conseguem ver, é expor o

olhar de cada um sobre determinado assunto, neste caso a tela exposta.

A expectativa é que os alunos percebam em algum momento que

precisam compartilhar as peças do Mosaico Geométrico entre os integrantes do

grupo, pois para criar algumas formas existentes na pintura é necessária a

composição de outras figuras geométricas.

4.2 Narrativas

Apresentamos as narrativas de duas professoras priorizando sua

participação do grupo de formação e suas percepções quanto ao desenvolvimento

das oficinas nas escolas.

Cada narrativa apresenta a oficina desenvolvida em uma escola. A

primeira narrativa diz respeito a professora Ada que desenvolveu a atividade

referente a releitura da pintura Mulheres e Pássaros ao Luar de Joan Miró e a

segunda diz respeito a professora Bete que desenvolveu a atividade para o

reconhecer os elementos paralelepípedos a partir da história Caixas da Alegria.

Apresentamos a seguir duas narrativas, uma da Professora Ada e

outra da Professora Bete, e destacamos momentos que evidenciam as ideias de

Nóvoa (2009) para: Prática, Profissão, Pessoa, Partilha e Público.

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67

4.2.1 Narrativa da Professora Ada

A professora Ada possui 22 anos de experiência no magistério e 50

anos de idade. Trabalhou muitos anos em escola da Rede Particular de Ensino,

onde se aposentou, e na Rede Estadual de Ensino trabalha há 6 anos. Possui

formação com Habilitação Específica para o Magistério, graduação em

Pedagogia, e Especialização em Deficientes Mentais.

Atualmente trabalha em uma escola pública localizada no bairro da

Aclimação, com sua estrutura física composta por 25 salas de aula, 1 sala para

deficientes visuais e 1 sala de recursos para deficientes intelectuais/mentais. No

ano de 2011 a escola da professora Ada atendeu 581 alunos no Ensino

Fundamental I.

Ela gosta e se esforça para lecionar para alunos com e sem

deficiência, costuma realizar exposições no interior da escola com trabalhos e

atividades desenvolvidas por seus alunos para incentivá-los a participar das

atividades em sala e ao mesmo tempo mostrar o que eles são capazes de fazer.

Organiza as atividades dos seus alunos em pastas para acompanhar

o rendimento anual de cada um e, periodicamente, analisa o conteúdo destas

pastas, tomando decisões quanto ao próximo passo a ser dado para que cada

aluno possa evoluir em sua aprendizagem.

Conhecemos um pouco sobre a Pessoa da professora Ada e

podemos observar ao visitarmos a sala de aula onde leciona que a mesma possui

carteiras limpas e enfileiradas. Durante os encontros, em suas falas, soubemos

que ela desenvolve muitos trabalhos em grupo e, desta forma, a disposição das

carteiras muda de acordo com a necessidade.

A sala de aula possui também armários, que guardam os cadernos

dos alunos etiquetados com o nome de cada um deles, materiais manipulativos,

materiais de consumo como cola, lápis de cor, giz de cera, entre outros. E todo

esse panorama nos remete a Nóvoa (2009, p.17), quando traz afirmações sobre a

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68 Pessoa do professor: “ensinamos aquilo que somos e que, naquilo que somos, se

encontra muito daquilo que ensinamos”.

Quando a professora Ada preserva a sala de aula com organização

e higiene, torna esse lugar agradável e facilitador da aprendizagem. E o alunos

com e sem deficiência, que acompanham as aulas dessa professora durante o

ano letivo, acostumam-se com esse ambiente agradável e aprendem sobre

organização, que acreditamos ser essencial para aprendizagem, não só da

Matemática.

Professora Ada entrou no Projeto porque o diretor da unidade

escolar em que ministra aulas incentivou-a para que participasse da seleção, pois

é uma professora que leciona para alunos com e sem deficiência e se identifica

com a área de inclusão. Ao ser aprovada na seleção foi esclarecida pela

coordenadora do Projeto como aconteceriam os encontros, que seriam no período

noturno, das 18h30 às 21h.

Essa docente acredita ser importante a organização, pois muitas

vezes durante os encontros, quando alguma outra professora comentava sobre o

horário ou sobre a distância, se posicionava “mas não foi combinado assim?”. E

ao finalizar a entrevista deixou registrado “que parabenizava a equipe do grupo de

formação de professores da PUC-SP por toda sua organização” (Observação

Participativa, 2011).

Uma das primeiras ações realizada pelo grupo de formação foi o

levantamento dos materiais, e essa professora enfatizou: “eu me matei para fazer

o levantamento de todos os materiais que tinha na escola”. Esclareceu que em

sua escola não existe sala reservada para guardar materiais, informou que eles

estavam jogados em um depósito, em um saco plástico de lixo, mesmo assim ela

conhecia todos: blocos lógicos, cuisenaire, mosaico geométrico, jogo de fração,

material dourado.

Acrescentou que existe uma sala para deficientes visuais e uma sala

de recursos, e os materiais dessas salas são armazenados em armários de forma

organizada.

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69

Acredita que os materiais ficam jogados porque ninguém utiliza, não

sabem para que servem e como podem ser utilizados. Como ela trabalha com

alunos com deficiência, buscou informações e aprendeu a trabalhar com esses

materiais, pois “utilizando os materiais era uma maneira que eu encontrava de

fazer as crianças entenderem alguma coisa” (Entrevista, 2012).

É possível notar que a professora reconhece a importância do

enriquecimento da sua Profissão quando busca conhecer como trabalhar com

materiais manipulativos, trazendo para dentro da sala de aula mais opções de

aprendizagem principalmente para os alunos com deficiência.

A professora Ada é uma das professoras que tem mais tempo de

experiência na profissão no grupo de formação, com todo o conhecimento que ela

possui, tanto pelo tempo de experiência quanto pela busca constante por novas

formas de ensinar, reconhecemos sua cultura profissional (NÓVOA, 2009, p. 15),

que é explicitada nos encontros “concedendo aos professores mais experientes

um papel central na formação dos mais jovens”..

Após ter relacionado todos os materiais que encontrou na escola,

escolheu dez materiais, como fora proposto a todas as professoras do grupo de

formação de professores, e pesquisou sobre cada um deles na internet.

Ela detalhou que foi digitando o nome do material e ia selecionando

de acordo com o que sabia. Não era só copiar e colar, porque havia sites que não

dizem nada, alguns são somente para venda. Então, procurou em sites que

trabalhavam com material pedagógico e foi nesses sites que encontrou muitas

informações e imagens.

Buscou informações também em algumas revistas como: Revista

Escola, Fala Brasil, Revista Inclusão, via internet, por acreditar ser difícil encontrar

informações pontuais nas revistas impressas, por não saber em que volume se

encontra a informação que se deseja.

Ainda quanto ao levantamento dos materiais Ada informa que foi a

primeira a acabar e acrescenta: “lógico que você acaba ajudando as outras

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70 professoras, é para isso que nós estamos no Projeto, quando uma ajuda a outra o

negócio flui” (Entrevista, 2012).

Com esta declaração a professora Ada nos mostra que foi percebida

a necessidade da Partilha e os benefícios são para o grupo e não apenas para

quem recebe a informação. Neste caso, ela conseguiu compreender rapidamente

como poderia ser realizado o levantamento e esclareceu as professoras que não

compreenderam.

O grupo de formação de professores começa então, pela percepção

da professora Ada, a ser o que se espera que a escola seja quando esclarece

sobre a Partilha, “lugar de formação de professores, como o espaço da análise

partilhada das práticas” (NÓVOA, 2009, p. 17).

A partir dos materiais pesquisados a professora Ada sugeriu

algumas aulas que ela leciona para os seus alunos, com criações e adaptações

que foi realizando no decorrer dos anos, com a intenção de ensinar os alunos

com deficiência.

Ela trouxe ao grupo de formação de professores suas Práticas, em

muitos momentos durante os encontros, expondo todas as recordações e o que

os alunos com deficiência diziam ser necessário para que eles pudessem

compreender melhor cada explicação da professora.

Esclareceu, ainda durante os encontros, que muitas atividades que

propõe em sala de aula melhoraram com a ajuda dos alunos, eles ajudaram a

construir uma nova atividade a partir da proposta pela professora inicialmente.

Nóvoa (2009, p.15) acredita que uma das lições importantes da Prática é que deve haver “uma atenção constante à necessidade de mudanças

nas rotinas de trabalho”, sendo assim quando a professora Ada permite que os

alunos opinem sobre mais artifícios para a aprendizagem, ela está permitindo as

mudanças em sua rotina de trabalho.

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71

Elucida que, como possui uma irmã com deficiência, acredita que: “tudo é mais fácil” [...] “quando temos alguém na família que é deficiente, o olhar é

diferente” (Entrevista, 2012).

Percebemos novamente nas palavras de Nóvoa (2009, p. 16),

quando nos escreve sobre a Pessoa, “que o professor é a pessoa, e que a

pessoa é o professor” e afirma a impossibilidade de separação, do professor e da

pessoa do professor, então a professora leva para dentro da sala de aula as suas

vivências.

Relata que alguns professores da escola em que leciona não

possuem traquejo para ensinar crianças com deficiência, então eles deixam estas

crianças em suas salas de aula sem produzir nenhuma atividade, sem

participação nas aulas. Por este motivo, algumas vezes a professora Ada recebe

essas crianças em sua sala de aula, porque sabe que poderão ser excluídas ou

deixadas de lado em outra sala.

Acreditamos que existe aqui a necessidade de tornar a escola um

espaço de formação de professores. Neste caso, a professora Ada poderia expor

Práticas em grupos formados por professores da escola em que leciona, para

que possam refletir em conjunto sobre como melhorar suas Práticas, objetivando

a aprendizagem de alunos com deficiência.

Nas palavras de Nóvoa (2009) conseguimos analisar para esta

situação dois momentos, o primeiro sobre a Prática, “centrada na aprendizagem

dos alunos e no estudo de casos concretos” (p. 14), o que poderia ser realizado

pelo grupo de professores da escola da professora Ada. E o segundo momento

sobre a Partilha, “A formação deve valorizar o trabalho em equipa e o exercício

colectivo da profissão” (p. 17), tal exercício acreditamos ser a exposição de

ocorrências, para que todos os professores opinem e possam acrescentar em

suas experiências.

Após ser realizado o levantamento e relatório dos materiais, e ter

sugerido aulas com esses materiais, iniciaram os encontros para a criação da

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72 primeira atividade, ela desabafou “a primeira atividade a ser analisada pelo grupo

parecia não ter fim” (Entrevista, 2012).

A professora Ada acreditou ser cansativo o processo de criação da

primeira atividade, porém reconhece que precisava ser bem feita, bem analisada

para poder estruturar as demais, que não adiantava ter pressa para terminar, e

para que isso fosse possível o grupo teve a ideia de formular um roteiro.

A reformulação da primeira atividade incluiu tópicos, que permitiram

criar um padrão para atender os objetivos, materiais necessários e procedimentos

a serem adotados, criou-se um modelo para elaboração das atividades

posteriores.

Ela comenta que os integrantes do grupo de formação, doutorandos

e mestrandos, trouxeram a parte teórica para as professoras, que tinham

experiência da prática da sala de aula com alunos com e sem deficiência, e que a

partir de então ela começou a atrelar teoria à prática, o que não fazia antes.

Diante desse cenário lembramos as palavras de Nóvoa (2009, p. 14) “as práticas

são investidas do ponto de vista teórico e metodológico, dando origem a

construção de um conhecimento profissional docente”.

Para finalizar o processo de elaboração da atividade inicial criada

pelo grupo de formação, essa professora ministrou oficina na escola da

professora Bete. A professora Ada avalia a receptividade dos professores que

lecionam nesta escola como muito boa, mesmo porque além da oficina no mesmo

dia também houve reunião de pais.

Muitas docentes estavam preocupadas em fazer relatórios para

entregar para os pais, então foi necessário conversar com as professoras,

explicando o que seria abordado na oficina para convencê-las a participar.

A preocupação da professora Ada, em querer conversar com os

participantes da oficina, mostra uma preocupação em envolver as professoras e

expor o trabalho que será desenvolvido dentro da escola, levando-as a refletir

sobre a importância do trabalho do professor. Neste sentido Nóvoa (2009, p. 18)

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73 reflete sobre o conceito de Público, “Os professores explicam mal o seu

trabalho”.

Ainda sobre Público, ele (NÓVOA, 2009, p. 18) acrescenta “É

necessário aprender a comunicar com o público, a ter voz pública, a conquistar a

sociedade para o trabalho educativo, comunicar para fora da escola”.

No trabalho realizado na oficina, a professora Ada nos conta alguns

episódios que foram marcantes no seu ponto de vista.

Elas nos conta que uma das professoras passou por deficiente visual

durante a oficina e não foi auxiliada por outro colega que estava realizando a

mesma atividade. A professora quis passar por deficiente visual porque seu tio

possui essa deficiência e gostaria de conhecer como ele responde aos desafios

da vida.

Ada lembrou que a professora participante disse: “eu muitas vezes

critico a família e critico o meu tio, mas ao mesmo tempo não sei o que ele passa,

os quarenta minutos que eu fiquei foi muito difícil e se você não desse o toque

para alguém me ajudar, ninguém ia me ajudar” (Entrevista, 2012). Assim,

percebemos novamente a necessidade da conscientização dos professores para

as particularidades das deficiências para a aprendizagem dos alunos com

deficiência e o incentivo a cooperação.

Essas particularidades poderiam ser discutidas e esclarecidas

durante as reuniões de professores, quando um professor que conhece um pouco

mais sobre certa deficiência pode expor ao grupo de professores para que

possam refletir. Mas, para que isso ocorra, acreditamos que os professores

deveriam fazer anotações sobre cada novo conhecimento de determinada

deficiência.

A importância de anotações dos novos conhecimentos é lembrada

por Nóvoa (2009, p. 17) quando se refere a Pessoa - “O registro escrito, tanto das

vivências pessoais como das práticas profissionais, é essencial para que cada um

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74 adquira uma maior consciência do seu trabalho”, então acreditamos que a cada

nova informação, o professor pode anotar para depois repassar ao grupo.

A professora Ada acredita que as professoras que participaram da

oficina gostaram, relata que sua atuação foi normal, sem rodeios, como se

estivesse lecionando em sua sala de aula.

Ela informa que muitas professoras não conheciam o material

mosaico geométrico, ou conhecia com o nome de blocos lógicos ou quebra-

cabeça matemático. Desta forma, a atividade foi uma novidade e as professoras

manipularam o material.

Durante a observação da oficina, percebemos que as docentes

participantes que conheciam os materiais eram as professoras das salas de

recurso e de deficientes visuais. Essas professoras possuem salas com materiais

organizados e sempre estão se atualizando quanto a novas formas de trabalhar

com alunos com deficiência, utilizando materiais manipulativos.

As professoras das salas de recursos e de deficientes visuais

também poderiam participar ativamente da formação de professores dentro da

escola, desta forma elas estariam auxiliando os demais professores e todos

estariam engajados na aprendizagem dos alunos com deficiência.

Neste pensamento de que as professoras das salas de recursos e

de Deficientes Visuais poderiam transmitir as informações conhecidas por elas,

em cursos, palestras, etc, para todos os docentes da escola, vem ao encontro do

pensamento de Nóvoa (2009, p. 18), quando esclarece sobre Público, que “É

necessário aprender a comunicar com o público, a ter voz pública, a conquistar a

sociedade para o trabalho educativo comunicar para fora da escola”.

Diante do exposto, quando Nóvoa (2009, p. 16) refere-se à Profissão, reconhece que existem “processos de formação baseados na

investigação” e sabe que esses processos de formação “só fazem sentido se eles

forem construídos dentro da profissão”.

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75

A professora Ada também percebeu o trabalho em grupo, quando as

docentes que participavam da oficina precisavam de mais peças para

confeccionar a releitura da tela de Joan Miró, e não conseguiriam se não

pedissem à colega do lado. Acreditamos que trabalhar em grupo enriquece o

trabalho pedagógico dos professores. Desta forma, os docentes precisam

interagir, pois a equipe escolar funciona como uma engrenagem e se falta alguma

peça, o funcionamento fica comprometido, nos remetendo a coletividade.

Ada lembra que conhece as formas geométricas quando ela está

explícita, mas não é fácil montar uma forma geométrica a partir de composição de

outras formas geométricas, como foi realizado com o trapézio unindo três

triângulos, durante a oficina.

As professoras participantes da oficina também sentiram dificuldade

em realizar a composição da forma geométrica a partir de outra, mas em

compensação gostaram do fato de ter que desenhar a releitura da tela Mulheres e

Pássaros ao Luar do pintor Joan Miró, como um momento de mostrar habilidades.

Durante a oficina, a professora Ada lembrou o grupo de participantes

que só é possível julgar o desenvolvimento do aluno com ou sem deficiência

durante a feitura de atividades, quando o professor realiza antes a atividade para

conhecer o nível de dificuldade.

Em muitos momentos durante a oficina, a professora Ada reforçou

que todos precisavam realizar as atividades antes de testá-las com os alunos em

suas salas de aula, pois esclarecia que o professor não deve cobrar do aluno o

que o próprio professor não consegue fazer.

Podemos analisar a observação sobre as falas da professora

juntamente com as ideias de Nóvoa (2009, p. 14) quando relata sobre Prática: “trata-se, sim, de abandonar a ideia de que a profissão docente se define,

primordialmente, pela capacidade de transmitir um determinado saber”, desta

forma, muitas vezes o professor aprende fazendo e faz ensinando.

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76

Considera alguns aspectos importantes no desenvolvimento das

oficinas que ocorreram na escola da professora Bete, desde a apresentação dos

integrantes do grupo de formação de professores até a organização da PUC-SP e

das professoras em relação ao ambiente preparado.

Ada informa que seria difícil entrar em um ambiente que não tem

nada, só carteira e alguém falando, diz que ela seria a primeira a ir embora. Para

preparar o local onde aconteceu a oficina foi necessário saber o que seria

utilizado durante o desenvolvimento, para que não faltasse nada, dando

condições de se ter um foco e atenção apenas no que era necessário para o

momento, apresentando qualidade.

Quando Nóvoa (2009, p. 19) traz a ideia de Público e relata sobre o

prestígio das profissões, ele evidência a profissão de professor: “a sobrevivência

da profissão depende da qualidade do trabalho interno na escolas, mas também

da sua capacidade de intervenção no espaço público da educação”.

Ada acredita ter sido um ponto negativo a diretora da escola entrar

na sala para passar informações sobre ocorrências da escola e não permanecer

na oficina. Acreditamos também na importância da participação de toda a equipe

escolar em todos os eventos sobre inclusão, pois pode ser que em algum

momento tenha alguma informação que esclareça dúvidas e ajude na posição que

ocupa dentro da escola.

As ideias de Nóvoa (2009, p. 16) para Profissão defendem a

proximidade entre a investigação científica e a formação do professor.

“É inegável que a investigação científica em educação tem uma missão indispensável a cumprir, mas a formação de um professor encerra uma complexidade que só se obtém a partir da integração numa cultura profissional”.

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4.2.2 Narrativa da Professora Bete

A professora Bete possui 5 anos de experiência na Rede Estadual

de Ensino, cursou Habilitação Específica para o Magistério, graduação em

Pedagogia, e Especialização em Educação Especial.

Atualmente trabalha em uma escola localizada no bairro do Brás,

com sua estrutura física composta, entre outros espaços, por 15 salas de aula e 1

sala de recursos. No ano de 2011, a escola da professora Bete atendeu 783

alunos do Ensino Fundamental I.

Ela leciona para alunos do primeiro ano, gosta do trabalho que

desenvolve e não se importa em ter alunos com deficiência em sua sala de aula.

Com a presença de alunos com deficiência a professora acredita que consegue

passar para todos os alunos a importância de aceitar as diferenças “já que somos

todos diferentes uns dos outros” (Entrevista, 2012).

As atividades bimestrais de seus alunos são organizadas em uma

pasta em ordem cronológica, e ela utiliza para avaliar a evolução do aprendizado

de cada aluno e mudar a forma do seu trabalho, se for necessário.

Ao visitarmos a sala de aula da professora Bete, observamos que

existe muita organização em sua sala, além de trabalhos realizados pelos alunos

expostos nas paredes das salas, as carteiras que são dispostas de acordo com o

tipo de atividade desenvolvida durante as aulas e o armário armazena os

cadernos dos alunos, que são avaliados pela professora diariamente. Acreditamos

que toda essa organização espelha a Pessoa da professora, que traz um pouco

de si para dentro da sala de aula.

É indispensável que o professor mostre a seus alunos a importância

do ambiente para uma aprendizagem satisfatória. No momento que visitamos a

sala de aula da professora Bete foi possível perceber as ideias de Nóvoa (2009, p.

16), quando escreve sobre a Pessoa do professor: “ensinamos aquilo que somos

e que, naquilo que somos, se encontra muito daquilo que ensinamos”.

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78

Bete entrou no Projeto por ter sido convidada pela coordenação do

grupo de formação, já que existia a necessidade de mais uma professora para

participar no lugar de outra docente que havia saído por motivos pessoais.

Afirma que o levantamento dos materiais não foi fácil, porque em

sua escola a quantidade de materiais é escassa. E os materiais que a escola

possui para serem utilizados com os alunos estão deteriorados ou faltando peças.

Ela nos conta que os professores possuem apenas uma caixa de

material dourado e blocos lógicos em sua sala para trabalhar com todos os alunos

da sala. Na sala dos professores tem um armário onde os jogos ficam guardados,

mas é uma caixa de cada um, e o restante do material que é utilizado durante as

aulas é construídos a partir de material reciclável.

Bete esclarece que os materiais como sólidos geométricos,

cuisenaire, faltam peças e muitas vezes são entregues para os alunos brincarem,

pois por não conhecer como trabalhar com o material, não se dá a devida

importância.

Ela informa que existem outros materiais, eles ficam armazenados

na sala de recursos, mas as professoras responsáveis por esta sala não podem

deixar a disposição dos outros professores da escola, porque as docentes os

utilizam.

Bete conta que o roteiro desenvolvido pelo grupo de formação para

auxiliar no levantamento dos materiais das escolas e pesquisar sobre eles serviu

para dar subsídio, porque não sabia informações técnicas sobre os materiais.

Muitos deles ela não conhecia e alguns que conhecia não saberia como trabalhar

com eles.

Conta que falou sobre o Geoplano para um grupo de professoras

em sua escola e apenas duas conheciam, então mostrou como se trabalha com

esse material e as professoras ficaram maravilhadas.

Quando ela nos conta que proliferou as informações sobre o material

que conheceu nos encontros em sua escola, nos remete às ideias de Nóvoa

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79 (2009, p. 18), quando escreve sobre Partilha, “O objetivo é transformar a

experiência colectiva em conhecimento profissional”.

A professora Bete esclarece que foi importante participar dos

encontros e ajudar na criação das atividades, porque sentiu a necessidade de

estudar e lembrou que quando se leciona para a mesma série por muitos anos as

informações são esquecidas. “Precisei ir procurar o que era vértice e aresta e,

sinceramente, fiz igual as crianças, no concreto para memorizar” (Entrevista,

2012).

Ela reconhece a importância de ser participante do grupo de

formação, porque sente necessidade em auxiliar o grupo na criação das

atividades e isso a faz debruçar nos livros e estudar sobre assuntos que estão

esquecidos e acrescenta que “é isso que esse grupo faz comigo” (Entrevista,

2012).

A professora Bete percebeu que muitas das dificuldades que possui

são comuns a outros professores que trabalham na mesma escola, pois quando

tem alguma dúvida e pergunta para outro docente muitas vezes recebe como

resposta um “eu também não sei” (Entrevista, 2012), e ela acreditava, até então,

ser uma dificuldade particular, mas agora sabe que não é, outros professores

também tem dúvidas mas não as colocam para o grupo.

Acreditamos que a escola precisa centrar-se em si, com questões

estritamente educacionais e de ensino-aprendizagem, para ter mais qualidade e

preocupar-se mais com a formação de professores, que consequentemente

refletirá na aprendizagem do aluno.

Nóvoa (2009, p. 19) afirma a necessidade da escola preocupar-se

com a aprendizagem, quando escreve sobre Público:

“A contemporaneidade exige que tenhamos a capacidade de recontextualizar a escola no seu lugar próprio, valorizando aquilo que é especificamente escolar, deixando para outras instancias atividades e responsabilidades que hoje lhe estão confiadas”.

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80

A professora Bete tem cinco anos de experiência como docente, é a

profissional com menos tempo de profissão entre as professoras participantes do

grupo de formação. Ela relata que suas participações no grupo de formação

permitem esclarecer algumas dúvida e propor sugestões que tenha experenciado

em sua prática de sala de aula.

Durante os encontros percebemos que ela sempre está munida de

seu caderno e faz muitas anotações, principalmente das informações que diz

desconhecer, esclarece que irá procurar saber mais posteriormente.

Ela percebe, ao participar dos encontros, que existe a necessidade

de estudar continuamente e Nóvoa (2009, p. 17), quando escreve sobre a Pessoa

do professor, sugere que nos primeiros anos de profissão é necessário “estimular

práticas de auto-formação, momentos que permitam a construção de narrativas

de suas próprias histórias de vida pessoal e profissional”.

Sobre o desenvolvimento da oficina realizada na escola da

professora Jullia, a professora Bete conta que não acreditava que iria conseguir

se comunicar, mas quando chegou na escola e percebeu que os professores

eram receptivos ficou mais tranquila. Avaliou a sua atuação como boa, por ser

uma pessoa um pouco retraída.

Quando ela informa que não acreditava conseguir, nos remete a

Nóvoa (2009, p. 17), quando escreve sobre a Pessoa do professor,

[...]refiro-me à necessidade de elaborar um conhecimento pessoal (um auto-conhecimento) no interior do conhecimento profissional e de capta (de capturar) o sentido de uma profissão que não cabe apenas numa matriz técnica ou científica.

Bete acredita que os professores da escola da professora Julia

gostaram da oficina pela expressão facial deles e por terem participado

ativamente, opinando e perguntando, e não desviaram a atenção em nenhum

momento. Lembra que algumas críticas foram construtivas, que serviram para

aprimorar as atividades e o desenvolvimento das próximas oficinas.

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81

Nesta oficina tínhamos professores de várias áreas participando, e a

todo momento, mesmo não ensinando Matemática diretamente, como é o caso do

professor de Educação Física, que estava presente, os professores participantes

queriam entender e chegaram a comentar “se é difícil para mim realizar a

atividade imagina para um aluno que é deficiente” (Entrevista, 2012).

Acreditamos que ao tentar desenvolver a atividade dentro da sala de

aula, caso o professor perceba a dificuldade de alunos com e sem deficiência, ele

deve procurar auxílio tanto de outros professores, em discussões que ocorra a

Partilha de ocorrências dentro das salas de aula como em teorias.

Para Nóvoa (2009, p. 15), o professor precisa ter o desejo de

encontrar soluções para determinada situações e, quando escreve sobre Prática,

afirma que mesmo sendo casos práticos alguns “só podem ser resolvidos através

de uma análise que, partindo deles, mobiliza conhecimentos teóricos”.

A professora Bete também esteve presente durante o

desenvolvimento da oficina em sua escola, quando foi desenvolvida a atividade

para fazer a releitura da tela de Joan Miró, apresentada pela professora Ada.

Após essa oficina a professora Bete pôde saber sobre a

repercussão. Conta que os comentários dos professores da escola após a oficina

foram muito positivos, pois alguns disseram que tudo que haviam visto era

novidade e que gostariam de ter o material para reproduzir a atividade em suas

salas de aula.

Bete percebeu que os professores da sua escola agora reconhecem

que podem melhorar a qualidade das suas aulas para os alunos com deficiência

inseridos na rede pública.

Para finalizar a professora Bete acredita que o desenvolvimento das

oficinas nas escolas deveria ser constante, uma vez por mês, por exemplo.

Esclarece que os professores precisam de um apoio, pois existe uma carência de

ter um professor formador de Matemática.

Na reflexão apresentada pela professora temos a teoria de Nóvoa

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(2009, p 16) evidenciada, quando o autor defende que a formação do professor

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82 deve ser feita pelos professores mais experientes, e não pelos “cientistas da

educação” e os “especialistas pedagógicos” embora possuam seu valor. Porém, é

necessário concretizar as pesquisas e esclarece “insisto na necessidade de

devolver a formação de professores aos professores”.

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83

5. Considerações Finais e Implicações

O tema inclusão faz parte de um movimento de abrangência

internacional e tem sido foco de muitas pesquisas, nas esferas nacionais e

internacionais, na área da Educação, por ser imprescindível.

A PUC-SP se insere nesse movimento e desenvolve o Projeto “Desafios para a Educação Inclusiva: pensando na formação de professores

sobre os processos de domínio da Matemática nas séries iniciais”, aprovado no

Programa Observatório da Educação da Capes/INEP, edital 2010, coordenado

pela Profª Drª Ana Lúcia Manrique.

Essa pesquisa é um dos produtos deste Projeto e pretende atender

parte das necessidades, que nos parece ser urgentes, quando tratamos de

formação de professores, de práticas pedagógicas, de inclusão e da

aprendizagem da Matemática.

Temos como objetivo investigar práticas pedagógicas utilizadas no

ensino da Matemática aos alunos com deficiência, e com os resultados desses

estudos fomentarem mudanças na formação de professores.

As práticas pedagógicas apresentadas nesta pesquisa abordam a

Deficiência Auditiva, Visual e Mental, nomenclaturas utilizadas de acordo com a

SECADI/ MEC. Possivelmente não daríamos conta de abordar mais deficiências,

o que poderá ser explorado em outras pesquisas.

Intencionamos responder, mesmo que parcialmente, a questão:

quais as práticas pedagógicas utilizadas no ensino da Matemática aos alunos

com deficiência da Educação Básica?

Para isto, esta pesquisa permitiu que buscássemos nas memórias

da pesquisadora, que encontrou motivações, de acordo com as justificativas que

apresentamos a segui, que impulsionaram a feitura desta pesquisa:

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84

- Ser oriunda de uma família em que a matriarca é deficiente física,

por motivo de poliomielite e ter passado por momentos de incompreensão,

dificultando a normalidade de sua trajetória escolar;

- Por ter convivido com alguns professores da rede regular de

ensino, durante a sua trajetória profissional, que afirmavam não saber como agir

diante de alunos com deficiência;

- A determinação do Governo Federal, com a Lei 9394/96, que a

partir de então alunos com deficiência fossem inclusos nas salas da rede regular

de ensino e não mais em escolas especializadas para cada tipo de deficiência, e

as equipes escolares precisam de apoio pedagógico para trabalhar com esses

alunos;

- Inexistência de pesquisas registradas no banco de dados da

CAPES, com o objetivo de divulgar práticas pedagógicas para o ensino da

Matemática direcionadas ao aluno com deficiência das salas de aula regulares.

Esta pesquisa foi organizada utilizando a teoria de Nóvoa (2009),

que escreve sobre cinco necessidades para a formação de professores: Prática,

Profissão, Pessoa, Partilha e Público.

Para Nóvoa (2009) é necessário ter uma formação a partir de

análises coletivas de experiências com reflexão entre os professores da escola,

mobilizando um conhecimento pertinente.

Segundo Nóvoa (2009), a Profissão inclui uma “cultura profissional”,

em que a formação de professores deve englobar as culturas profissionais dos

profissionais com mais experiência.

O professor necessita ter seu desenvolvimento garantido dentro da

escola, valorizando professores com mais experiência e tornando-os formadores

dos professores mais novos de profissão, como é feito em outras profissões.

A Pessoa do professor não é possível de ser separada do

profissional, Nóvoa (2009) acrescenta necessidades básicas para ser um bom

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85 profissional: cultura profissional, tato pedagógico, trabalho em equipe e

compromisso social.

A necessidade de reconhecer o professor como pessoa e a

impossibilidade de separar o professor da pessoa e a pessoa do professor, criam

na pessoa do professor uma ferramenta de auto-conhecimento.

Nóvoa (2009) sugere que a partilha não pode ser realizada por

decisão superior. Além disso, saliente que a coletividade permite a análise das

práticas e, quando necessário, a remodelagem das mesmas.

O professor precisa participar de eventos públicos e explicar melhor

qual o seu papel na sociedade, segundo Nóvoa (2009) este é um meio para que o

professor volte a ter o reconhecimento profissional.

Durante os encontros, nas entrevistas e no desenvolvimento das

oficinas era evidente a mudança das ideias dos professores participantes do

grupo de formação. Conforme o tempo passava, nos encontros seguintes

podíamos notar a mudança de pensamento das professoras sobre os assuntos

abordados.

As professoras com mais experiência na profissão sempre se

posicionavam contando algum fato ocorrido durante a sua trajetória profissional,

momento em que as professoras que não haviam passado pela mesma

experiência opinavam por maneiras diferentes de resolver a mesma situação. E

se já haviam passado pelo mesmo fato, esclareciam como tinha sido resolvido.

Como instrumentos metodológicos foram utilizados a entrevista com

duas das professoras participantes do grupo de formação e a observação

participativa durante o ano de 2011 nos encontros do grupo.

Durante o ano de 2011 ocorreram seminários, com especialistas

voltados a área de inclusão, para que o grupo de formação pudesse conhecer

mais sobre assuntos relacionados a inclusão.

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86

Ocorreram também nove encontros quinzenais para criação e

elaboração das atividades, que posteriormente foram desenvolvidas em forma de

oficinas nas escolas que as professoras participantes do grupo de formação

lecionam.

Foram elaboradas narrativas, unindo o texto das entrevistas e as

observações participativas, dialogadas com a teoria utilizada.

Esta pesquisa pretendeu acompanhar a criação de duas atividades

referentes ao Bloco de Conteúdos Espaço e Forma do PCN de Matemática do

Ensino Fundamental I, além da elaboração de adaptações necessárias das

atividades a alunos com Deficiência Auditiva, Visual e Mental.

As atividades foram escolhidas pelo grupo de formação por ouvirmos

das professoras participantes, que existia dificuldade em interpretar os dados

apresentados pelos livros didáticos que utilizam, quanto as formas geométricas.

A primeira atividade explora os elementos do paralelepípedo

envolvendo outras áreas do conhecimento. Inicia com a solicitação a professora

para que os alunos tragam para a sala de aula caixas de diferentes dimensões e

tamanhos, em seguida é contada uma história em quadrinhos, e a partir de então

são explorados os elementos dos paralelepípedos: arestas, vértices e faces.

Para a criação dessa atividade foi necessário relembrar as

propriedades do paralelepípedo e compará-las com as propriedades do cubo,

momento em que foi possível notar que o cubo é um paralelepípedo com

nomenclatura especial. Informação que foi esclarecedora para as professoras

participantes.

Foram feitas adaptações para Deficiente Auditivo com a ilustração

da história em quadrinhos. Para Deficiente Mental foram utilizadas cores

chamativas em cada elemento do paralelepípedo, atividades em folha com as

iniciais do paralelepípedo ou do cubo ou com numeração, para que ele reconheça

que figura é o paralelepípedo. E para alunos com Deficiência Visual torna-se

necessário que um outro aluno o auxilie para a realização da atividade.

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87

A segunda atividade explora a composição de figuras geométricas. A

partir de uma tela do pintor Joan Miró, o aluno deve fazer uma releitura e

reconhecer algumas formas geométricas.

Para a criação dessa atividade foi necessário relembrar os nomes

das formas geométricas e as possibilidades de composição, como utilizar seis

triângulos para formar um hexágono.

As adaptações feitas nessa atividade para Deficiente Auditivo

também foi a ilustração da história em quadrinhos e a apresentação das figuras

geométrica ressaltando lados e vértices. Para Deficiente Visual foi feita a

adaptação da tela com relevo no contorno e outra com as formas em relevo.

A partir da elaboração das narrativas, que continham as percepções

das professoras que desenvolveram as oficinas nas escolas e a nossa

observação durante as oficinas, concluímos que existe a necessidade da criação

de grupos de estudo dentro das escolas, para partilharem informações e refletirem

sobre o melhor caminho a ser seguido para cada situação de aprendizagem

envolvendo alunos com e sem deficiência.

Acreditamos após análise dos dados que o desenvolvimento das

oficinas nas escolas foi de suma importância e bem aceito pelos professores, que

expressaram o interesse por outros tópicos envolvendo práticas pedagógicas de

Matemática para alunos de inclusão.

Algumas possibilidades de continuidade desta pesquisa seria o

desenvolvimento de oficinas com mais atividades para o Bloco Espaço e Forma;

para outros Blocos de Conteúdos de Matemática dos PCN do Ensino

Fundamental I; para o Ensino Fundamental II; para o Ensino Médio.

Outras propostas para novas pesquisas poderia ser: acompanhar o

desenvolvimento dentro da sala de aula após a participação do professor nas

oficinas, fazendo um comparativo da aprendizagem da Matemática antes e depois

das atividades desenvolvidas; pesquisas com práticas voltadas para inclusão para

outras disciplinas; pesquisas abrangendo outras deficiências.

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88

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_______. Declaração do Milênio – Metas de Desenvolvimento do Milênio.

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91

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Acesso em 04 de jun. de 2012.

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APÊNDICE

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APÊNDICE I

Profª Entrevistada: ______________________________________________

Referente ao 1º Semestre de 2011

1)Como você entrou no Projeto?

2)Sobre o levantamento de materiais:

a) Você conhecia todos os materiais que tinha na sua escola?

b) Onde ficam esses materiais?

c) A sala que onde ficam guardados esses materiais é aberta para todos os

professores?

Referente ao 2º Semestre de 2011 1)Foi solicitado que vocês a partir dos materiais selecionados sugerissem

atividades com esses materiais. O que você achou disso?

2)O que significou ministrar a oficina na escola da Profª __________?

3)O que você acredita que significou para as professoras da escola da Profª ________ essa oficina?

4)Como foi a oficina que você ministrou na escola da Profª_________?

5)Quais aspectos importantes no desenvolvimento das oficinas?

6)Quais pontos positivos e negativos?

7) O que você gostaria de acrescentar?

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ANEXOS

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ANEXO I

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

Faculdade de Ciências Exatas e Tecnologia

Pós-Graduação em Educação Matemática

PROJETO: Desafios para a educação inclusiva: pensando a formação

de professores sobre os processos de domínio da matemática nas

séries iniciais da educação básica

Coordenação Geral: Profa. Dra. Ana Lúcia Manrique

Roteiro de coleta dos materiais didático

para o Ensino de Matemática para alunos com deficiência

Coletado por:

Escola:

1) Título/Nome do material 2) Descrição do material 3) Conteúdos/temas que podem ser abordados 4) Objetivos (geral e/ou específicos) 5) Princípios pedagógicos 6) Público-alvo (crianças com qual deficiência podem utilizar) 7) Série(s) a que se destina 8) Recursos 9) Proposta didática 10) Atividades propostas no próprio material 11) Justificativa 12) Fotos

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ANEXO II

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

Faculdade de Ciências Exatas e Tecnologia

Pós-Graduação em Educação Matemática

PROJETO: Desafios para a educação inclusiva: pensando a formação

de professores sobre os processos de domínio da matemática nas

séries iniciais da educação básica

Coordenação Geral: Profa. Dra. Ana Lúcia Manrique

ROTEIRO: ATIVIDADE Nº ____

IDENTIFICAÇÃO DA PROFESSORA

1) Nome do professora:

2) Escola:

3) Série que leciona:

IDENTIFICAÇÃO DA ATIVIDADE

3) Bloco: ( ) números e operações

( ) espaço e forma

( ) grandezas e medidas

( ) tratamento da informação

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4) Ano: ( ) 1º ( ) 2º ( ) 3º ( ) 4º ( ) 5º ( 4ª série)

5) Tipo da atividade: ( ) para introduzir

( ) para desenvolver

( ) para consolidar

( ) para retomar

6) Deficiências: ( ) auditiva/surdez

( ) visual

( ) intelectual

7) Título da atividade:

DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE

8) Material utilizado: 5º ano ( 4ª série) – 2º ciclo

9) Duração da atividade:

10) Conhecimentos prévios para o desenvolvimento da atividade:

10.1) Conteúdos conceituais e procedimentais:

10.2) Conteúdos atitudinais:

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11) Plano de aula:

OBJETIVO:

CONTEÚDO:

ESTRATÉGIAS:

12) Recursos adicionais:

13) Formas de avaliação:

14) Fontes de consulta:

15) Tempo de realização deste relatório:

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ANEXO III

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101

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ANEXO IV

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

Faculdade de Ciências Exatas e Tecnologia

Pós-Graduação em Educação Matemática

- Atividade: Espaço e forma - Título: Caixas da Alegria

Pedro era um menino muito interessado. Certo dia perguntou a seu avô Plínio:

- Vovô enquanto estou na escola o que o senhor

faz? Vovô Plínio respondeu:

- Organizo minha coleção de caixas.

Pedro, sempre muito curioso, perguntou:

- Que tipo de caixas o senhor tem em sua

coleção? Vovô Plínio, com paciência, respondeu:

- As caixas da minha coleção são paralelepípedos e cubos.

Pedro ainda não estava satisfeito e continuou com seu

interrogatório: - As caixas da sua coleção servem para que?

Vovô Plínio parou, pensou por um instante e respondeu:

- Caixas servem para guardar objetos de todos os tamanhos. Também servem para serem

observadas, pois nelas podemos reconhecer faces, vértices e arestas! Agora que já tenho a

coleção organizada darei a você.

Pedro então teve uma ideia.

- Quero usar as caixas para guardar sentimentos!

Vovô Plínio coçou a cabeça e perguntou:

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- Como você pensa em fazer isso?

Pedro, sem pestanejar, respondeu:

- Abro uma falo dentro dela “amor” e fecho, abro outra falo “dor de machucado” e fecho,

abro a próxima falo “carinho” e fecho, abro outra falo “afago” e fecho e em todas as outras falo

“ALEGRIA”, fecho e distribuo!

O que eu quero?

Em relação aos conteúdos conceituais e procedimentais: - Dimensionar espaços, perceber a relações de tamanho e forma. - Perceber semelhanças e diferenças entre cubos e quadrados, paralelepípedos e retângulos.

Em relação aos conteúdos atitudinais: - Sensibilizar-se para observação das formas geométricas na natureza, nas artes, nas edificações; - Desenvolver atitudes favoráveis para a aprendizagem de Matemática.

- Desenvolver confiança na própria capacidade para elaborar estratégias pessoais diante de situações-problema. - Valorizar a troca de experiência com seus pares como forma de aprendizagem.

O que é preciso? . Caixas em formato de paralelepípedo, caixas em formato de cubo em de três tamanhos diferentes (pequeno, médio, grande); . Palitos de fósforo ou canudos resistentes ou palitos de sorvete; . Massinha para modelar ou massinha caseira ou argila pedagógica; . Tabela para registro.

Como?

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105 . Formar grupos de até quatro alunos.

. Distribuir as caixas em formato de paralelepípedo entre os grupos e solicitar que identifiquem objetos com forma semelhante às caixas.

. Distribuir as caixas em formato de cubo entre os grupos e solicitar que identifiquem objetos com forma semelhante as caixas.

. Distribuir os palitos de fósforo ou canudos e a massinha ou argila pedagógica e solicitar que construam estruturas de paralelepípedos e de cubos.

- Explorando...

. Solicitar que os alunos construam com massinha e os palitos de fósforo ou canudos estruturas de paralelepípedos e cubos:

- Perguntando...

. Quais objetos você conhece que lembram à forma das caixas? . Quantas faces esses objetos têm? E quantos vértices? . As caixas têm a mesma forma? Quais as diferenças e semelhanças? . Uma caixa é um paralelepípedo ou um retângulo? . E a outra caixa é um cubo ou um quadrado?

- Registrando...

Solicitar aos alunos que preencham a tabela.

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NOME DO OBJETO NÚMERO DE NÚMERO DE REPRESENTATIVIDADE

FACES VÉRTICES

( ) Cubo ( ) Paralelepípedo

( ) Cubo ( ) Paralelepípedo

( ) Cubo ( ) Paralelepípedo

( ) Cubo ( ) Paralelepípedo

- Extrapolando...

1) Faça seis bolinhas pequenas com a massinha. Use os palitos de fósforo ou canudos para formar a estrutura de um cubo.

Massinha

Palito ou Canudo

2) Faça seis bolinhas pequenas com a massinha. Use os palitos para formar a estrutura de um paralelepípedo.

Massinha

Palito ou Canudo

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Para Inclusão: - Para cegos não é necessário adaptação, pois esta atividade não envolve cores, apenas tamanhos e formas. - Com surdos, a estória ajudará a realização da atividade. - Para deficientes intelectuais:

utilizar caixas com cores diferentes para despertar o interesse;

caso o aluno não saiba ler, leia para ele, para que ouça e através do som das letras possa fazer analogias;

caso o aluno reconheça apenas letras, utilizar desenho com as iniciais para que identifique, como por exemplo:

Circule a palavra que esta figura representa:

Cubo Paralelepípedo

Ligue a figura ao nome que cada uma representa:

Paralelepípedo

Cubo

caso o aluno reconheça apenas cores, utilizar cores, como por

exemplo: O cubo está representado por qual cor?

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( )

( )

( )

caso o aluno reconheça apenas números, utilizar números, como por exemplo:

Qual o número do cubo?

( ) 1

( ) 2

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ANEXO V

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ANEXO VI

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

Faculdade de Ciências Exatas e Tecnologia

Pós-Graduação em Educação Matemática

- Atividade: Espaço e forma

- Título: Fazendo arte.

- Olá vovô! - Olá meu neto querido! Pelo que vejo você

está acompanhado de um amiguinho! - Vovô, deixe-me apresentar meu novo

colega de classe. Este é o Carlos. Ele é

deficiente visual, enxerga com as mãos

e com o coração! - Olá Carlos! Sou o vovô Plínio. - Muito prazer, Senhor Plínio. Carlos fala

muito do senhor! - Ah, esse meu neto é demais! A que devo a

honra da visita de vocês? - Sabe vovô, a nossa professora disse que

amanhã teremos uma aula de Matemática

com um pintor espanhol. - Pedro me disse que o senhor sabe muito sobre pintores famosos. O que

o senhor acha de dar uma colaboração? - Vou contar um pouco sobre dois pintores espanhóis que acho que podem

colaborar com a aula de Matemática! Pablo Picasso é considerado um dos

artistas mais famosos e versáteis de todo o mundo. Ele também é conhecido

como o fundador do Cubismo. O Cubismo tratava as formas da natureza por

meio de figuras geométricas, representando todas as partes de um objeto no

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mesmo plano. - Uau Pedro! Acho que a professora trabalhará com o Picasso na aula

de amanhã! - Calma Carlos! Vamos ouvir o que vovô tem a falar do outro pintor! - O outro pintor é Juan Miró, considerado um dos maiores mestres da

composição cromática, salpicando com toques de alegria a maioria de seus

quadros. - Senhor Plínio, o que significa composição cromática? - A composição cromática cria planos de percepção, apresentando interações

entre os elementos visuais seja os separando, os unindo, os categorizando ou

lhes conferindo realce e formas. - Carlos acha que amanhã teremos Miró com formas e cores variadas!! - Sou mais o cubismo de Picasso!

- O que eu quero?

Em relação aos conteúdos conceituais e procedimentais: - Perceber os elementos geométricos nas formas da natureza e nas criações

artísticas; - Fazer composição e decomposição de figuras planas e identificar que

qualquer polígono pode ser composto a partir de figuras triangulares; - Representar figuras geométricas.

Em relação aos conteúdos atitudinais: - Ter sensibilidade para observar características das formas geométricas,

na natureza, nas artes e nas edificações; - Confiar em suas possibilidades para propor e resolver problemas; - Ter perseverança, esforço e disciplina na busca de resultados; - Ter segurança na defesa de seus argumentos e flexibilidade para modificá-

los; - Respeitar o pensamento do outro, valorizar o trabalho cooperativo e o

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intercâmbio de ideias, como fonte de aprendizagem; - Apreciar a limpeza, ordem, precisão e correção na elaboração e

na apresentação dos trabalhos.

- O que é preciso? . Tela de Miró - Mulheres e Pássaros ao luar (uma para cada aluno

- reprodução colorida); . Mosaico Geométrico - para cada grupo de aluno; . Mapa Mundi - um para toda sala; . Tabela para registro das formas geométricas - para cada aluno; . Sulfite para desenhar - para cada aluno; . Lápis de cor e canetinha colorida.

- Como?

. Localizar a Espanha no Mapa Mundial; . Pedir para que os alunos imaginem a tela Mulheres e Pássaros ao Luar

(sem mostrar a reprodução); . Formar grupos de alunos heterogêneos; . Apresentar a reprodução da tela de Miró; . Distribuir mosaicos geométricos para cada grupo; . Deixar que os alunos observem as figuras do mosaico geométrico; . Reproduzir a tela de Miró utilizando as formas do mosaico geométrico.

- Explorando:

. Identificar as formas geométricas desconhecidas. . Nomear as figuras geométricas do mosaico geométrico para os alunos. . Explorar a composição e decomposição de figuras planas utilizando as peças

do mosaico geométrico.

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- Perguntando:

. Quais objetos que vocês conhecem que lembram essas formas geométricas? . Se vocês tivessem só triângulos, poderíamos construir que

figuras geométricas?

- Registrando:

. Desenhar o que imaginaram ser a tela de Miró antes de apresentá-la. . Após a apresentação da tela de Miró, contornar as formas geométricas

usadas na reprodução da tela de Miró utilizando as peças do mosaico

geométrico. . Registrar o nome de cada forma geométrica e número de lados na tabela

NOME DO OBJETO NÚMERO DE NÚMERO DE REPRESENTATIVIDADE

FACES VÉRTICES

( ) Cubo ( ) Paralelepípedo

( ) Cubo ( ) Paralelepípedo

( ) Cubo ( ) Paralelepípedo

( ) Cubo ( ) Paralelepípedo

- Extrapolando... 1) Explorar outras formas planas com mais de seis lados e fazer a composição

com as peças do mosaico.

2) Observar características das formas geométricas na natureza e

em edificações.

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- Para Inclusão: - Tela de Miró: Contornar as gravuras em alto relevo, ou com barbante, ou cola

plástica, ou cola alto relevo, ou sementes ou em EVA para alunos deficientes

visuais.

- Mapa Mundi: contornar também para alunos deficientes visuais.

- Para deficiente intelectual e motor não é necessário adaptação. - Para deficiente auditivo e alunos não alfabetizados a apresentação da

estória Fazendo arte contribui para a compreensão da atividade.