QUALIDADE DE VIDA E AUTONOMIA DOS DOENTES … e... · Faculdade de Medicina da Universidade do...
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Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
Mónica Raquel de Oliveira Quintas
QUALIDADE DE VIDA E AUTONOMIA DOS DOENTES
COM PARAMILOIDOSE
Dissertação apresentada para a
obtenção do grau de Mestre em
Bioética, sob a orientação da Mestre
Ivone Duarte, e a coorientação da
Doutora Teresa Coelho.
VII Curso de Mestrado em Bioética
Porto, 2011
II
Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
Mónica Raquel de Oliveira Quintas1
QUALIDADE DE VIDA E AUTONOMIA DOS DOENTES COM
PARAMILOIDOSE
Dissertação apresentada para a
obtenção do grau de Mestre em
Bioética, sob a orientação da Mestre
Ivone Duarte, e a coorientação da
Doutora Teresa Coelho.
VII Mestrado em Bioética
Porto, 2011
1 Técnica de Neurofisiologia, aluna do VII Mestrado em Bioética
III
“Tem o tempo o ser em mim
mas se eu morro ele não fica
outro o tem se sobrevive
e se nele se implica
gosto desta dança etérea
do descontínuo ao seguido
do contínuo ao diferente
do não vivente ao vivido
mais do que eu porém se deve
o de eterno divertir
vendo como nada vai
num suposto jogo de ir.”
Agostinho da Silva in ―Citações e Pensamentos de‖
IV
AGRADECIMENTOS
Para que este trabalho fosse possível foi necessário a intervenção de várias pessoas.
Uma palavra de agradecimento à Mestre Ivone Duarte pela sua orientação ao longo do
trabalho que parecia não ter fim.
À Dra Teresa Coelho pela coorientação e pelo fornecimento de material de apoio.
À Dra Patrícia Valente pelo ânimo, incentivo e apoio prestado.
Ao Professor José Luís Pais Ribeiro que me recebeu prontamente e me ofertou o seu livro
sobre o questionário SF-36, essencial para este estudo.
Ao meu marido, Hugo, pela paciência e compreensão.
À minha mãe por ter cuidado do meu filho nas minhas ausências para a realização deste
trabalho.
À Dra Ana Rita Teixeira pela insistência.
Aos meus colegas de trabalho, Cristina Moreira e Hélder Ferreira, por me terem auxiliado
na distribuição dos questionários aos doentes.
A todas as pessoas que colaboraram no preenchimento dos questionários no grupo
controlo e a todos os doentes com Paramiloidose que também contribuiram para a realização
deste trabalho.
Muito obrigada!
V
RESUMO
Introdução: A paramiloidose foi descoberta em 1932 por Corino de Andrade. Trata-se de uma
doença hereditária degenerativa, autossómica dominante, cuja incidência é maior na zona da
Póvoa de Varzim. Grande parte das pessoas afetadas por esta doença apresentam vários
problemas físicos, psicológicos e sócio-económicos. Existem equipas multidisciplinares que
tentam diariamente contribuir para o bem-estar destas pessoas.
Objetivos: Tratando-se de uma doença portuguesa, este trabalho teve como objetivos identificar
a autonomia e a qualidade de vida destas pessoas, e verificar alguns dos problemas que as afetam
diariamente.
Metodologia: Os instrumentos de estudo utilizados foram o questionário SF-36 e o questionário
sócio-demográfico em que o primeiro foi aplicado a dois grupos, doentes e não doentes, e o
segundo apenas aos doentes. A amostra da população em estudo foi de 130 doentes e 130 não
doentes. Os questionários dos doentes com paramiloidose foram preenchidos no Serviço de
Neurofisiologia do Hospital Geral de Santo António no Porto, quando se encontravam inscritos
para realizarem exames, enquanto que o questionário do grupo de participantes foi passado do
tipo bola de neve. O programa estatístico para tratamento de dados que foi utilizado foi o
Minitab16 e o Microsoft Excell.
Resultados e Conclusões: A paramiloidose tem uma influência negativa significativa na
qualidade de vida dos doentes, nomeadamente nas dimensões do funcionamento e desempenho
físico, perceção geral de saúde, desempenho emocional e saúde mental. Os principais problemas
que afetam estes doentes são a falta de conhecimento das características da paramiloidose, a falta
de recursos económicos e sociais que lhes permitam fazer face a uma fase avançada da doença, e
os problemas familiares decorrentes da sua perda de autonomia ao longo do tempo. Infere-se do
estudo que mais de metade da população doente não está inscrita para transplante hepático e
também que, não obstante o conhecimento de serem portadores da doença, os casais têm desejo
de ter filhos. Consideramos que para estes doentes usufruirem de uma melhor qualidade de vida
é necessário prestar-lhes apoio físico, psicológico, sócio-económico e espiritual.
VI
ABSTRACT
Introduction: Paramyloidosis was discovered by Corino de Andrade in 1932. It is a hereditary
degenerative disease, autosomal dominant, whose incidence is higher in the area of Póvoa de
Varzim, Portugal. Most people who are affected by this disease have physical, psychological and
socioeconomic problems. There are multidisciplinary teams trying, every day, to improve the
well-being of these people.
Objectives: To characterize the autonomy and quality of life of the Portuguese patients affected
by paramyloidosis, and analyze their daily disease related problems.
Methodology: Two group of people, 130 with the disease and 130 healthy, were surveyed using
the SF-36 health survey and a social-demographic questionnaire, the latter only to the sick group.
This group was assembled in the neurophisiology service of Hospital Geral de Santo António in
Porto, when they were registered for disease related exams. The healthy group was selected
using th method known as snowball sampling. Minitab 16 and Microsoft Excel were used to
calculate statistics and produce reports.
Results and Conclusions: Paramyloidosis has a significant impact in the quality of life of the
patients, namely in the physical functioning and physical role functioning, in the general health
perception, in the emotional role functioning and in mental health. The main issues these patients
have to deal with are the lack of knowledge about the disease’s characteristics, the lack of
economic and social resources that enable them to cope with an advanced stage of disease, and
the family problems arising from their loss of autonomy over time. It appears from the study that
more than half of the patient population is not registered for liver transplantation and also that,
despite the knowledge of being carriers of the disease, couples have the desire for children. We
believe that for these patients to enjoy a better quality of life is necessary to support them in a
physically, psychologically, socio-economically and spiritually way.
VII
INDICE GERAL
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 14
PARTE I
ENQUADRAMENTO TEÓRICO ............................................................................................. 17
1. POLINEUROPATIA AMILOIDÓTICA FAMILIAR .................................................... 18
1.1 A Descoberta da Paramiloidose ...................................................................................... 18
1.2 Propagação do gene da paramiloidose ........................................................................... 19
1.3 Como se transmite a PAF ............................................................................................... 20
1.4 Diferentes tipos de amiloidose ........................................................................................ 24
1.5 Diagnóstico, Tratamento e Prognóstico ......................................................................... 26
1.5.1 Transplante Hepático ............................................................................................. 27
1.5.2 Transplante Hepático Sequencial ou em Dominó ............................................... 28
1.6 Associação Portuguesa de Paramiloidose ...................................................................... 31
2. ÉTICA BIOMÉDICA ......................................................................................................... 34
2.1. Relatório de Belmonte .................................................................................................... 37
2.2 Principiologia de Beauchamp e Childress ..................................................................... 41
2.3 Consentimento informado .............................................................................................. 43
2.4 Autonomia dos doentes com Paramiloidose .................................................................. 44
3. QUALIDADE DE VIDA NOS DOENTES COM PARAMILOIDOSE ......................... 47
3.1 Qualidade de vida ............................................................................................................ 47
3.2 Qualidade de vida nos doentes com paramiloidose ....................................................... 51
PARTE II
ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO ............................................................................. 54
4. METODOLOGIA ............................................................................................................... 55
4.1 Objetivo do estudo ........................................................................................................... 56
VIII
4.2 Tipo de estudo .................................................................................................................. 56
4.3 Seleção da amostra .......................................................................................................... 58
4.4 Recolha de dados ............................................................................................................. 59
PARTE III
ENQUADRAMENTO EMPÍRICO ........................................................................................... 63
5. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ............................................. 64
5.1 Resultados ........................................................................................................................ 64
5.2 Discussão dos resultados ................................................................................................ 85
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 89
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................... 91
ANEXOS .................................................................................................................................... 101
Anexo 1 – Autorização da entidade hospitalar para a realização da investigação ............. 102
Anexo 2 – Documento informativo do estudo ......................................................................... 104
Anexo 3 – Questionário sócio-demográfico ............................................................................. 106
Anexo 4 – Questionário sobre o estado de saúde .................................................................... 114
Anexo 5 – Consentimento informado dos doentes .................................................................. 120
Anexo 6 – Consentimento informado do grupo participante ................................................ 122
IX
INDICE DE FIGURAS
Figura 1 – Exemplo de família com penetrância do gene da PAF baixa ................................ 21
Figura 2 - Exemplo de família com penetrância do gene da PAF alta ................................... 22
Figura 3 – Mapa das sensibilidades (Sinapse 2006; 1(6), 1: 58) .............................................. 23
X
INDICE DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Considera existir informação suficiente sobre a doença? .................................... 66
Gráfico 2 - De que forma obteve informação sobre a doença? ............................................... 67
Gráfico 3 - O que sentiu quando soube que tinha a doença? .................................................. 68
Gráfico 4 - Que sintomas físicos da doença mais o incomodoram? ........................................ 69
Gráfico 5 - O que mais o preocupa em relação à família? ....................................................... 70
Gráfico 6 - Está inscrito para transplante hepático? Há quanto tempo? .............................. 71
Gráfico 7 - Expectativas em relação ao transplante hepático ................................................. 72
Gráfico 8 - A doença e a descendência ...................................................................................... 73
Gráfico 9 - Recorreria a técnicas médicas que lhe permitissem ter filhos saudáveis se o
processo não fosse tão dispendioso? .......................................................................................... 74
Gráfico 10 - Alguma vez sentiu discriminação por ser portador da doença? ....................... 74
Gráfico 11 - Considera ter disponíveis todos os recursos para ter uma boa qualidade de
vida? (caso esteja numa fase avançada da doença) .................................................................. 75
Gráfico 12 - Tem capacidade financeira para pagar a instituições/outras pessoas para
cuidarem de si? ............................................................................................................................ 76
Gráfico 13 – Estatísticas resumidas, histogramas e box-plots das duas dimensões sumárias
do SF-36 para cada grupo. ......................................................................................................... 77
Gráfico 14 – Box-plots das dimensões sumárias do SF-36 do grupo de doentes, em função
do género ...................................................................................................................................... 79
Gráfico 15 – Box-plots das dimensões sumárias do SF-36 do grupo de doentes, em função
da escolaridade ............................................................................................................................ 80
Gráfico 16 – Box-plots das dimensões sumárias do SF-36 do grupo de doentes, em função
da situação profissional ............................................................................................................... 81
Gráfico 17 – Box-plots das dimensões sumárias do SF-36 do grupo de doentes, em função
do rendimento profissional ......................................................................................................... 82
Gráfico 18 – Box-plots das dimensões sumárias do SF-36 do grupo de doentes, em função
do estado civil ............................................................................................................................... 83
XI
Gráfico 19 – Box-plots das dimensões sumárias do SF-36 do grupo de doentes, em função
do tempo dos primeiros sintomas. ............................................................................................. 84
XII
INDICE DE TABELAS
Tabela 1 – Dados sócio-demográficos da amostra de doentes com paramiloidose ............... 65
Tabela 2 – Comparação de resultados de QdV dos dois grupos nos diferentes domínios .... 77
Tabela 3 - Variabilidade da QdV nos doentes com paramiloidose em função do género .... 78
Tabela 4 – Correlação da variável idade com a QdV no grupo de doentes ........................... 79
Tabela 5 - Variabilidade da QdV nos doentes com paramiloidose em função da
escolaridade .................................................................................................................................. 80
Tabela 6- Variabilidade da QdV nos doentes com paramiloidose em função da situação
profissional ................................................................................................................................... 81
Tabela 7- Variabilidade da QdV nos doentes com paramiloidose em função do rendimento
profissional ................................................................................................................................... 82
Tabela 8- Variabilidade da QdV nos doentes com paramiloidose em função do estado civil
....................................................................................................................................................... 83
Tabela 9- Variabilidade da QdV nos doentes com paramiloidose em função do tempo dos
primeiros sintomas ...................................................................................................................... 84
XIII
INDICE DE SIGLAS
APP - Associação Portuguesa de Paramiloidose
CEP – Centro de Estudos da Paramiloidose
CES – Comissão de Ética em Saúde
CP – Cuidados Paliativos
H.G.S.A – Hospital Geral de Santo António
H.U.C – Hospitais da Universidade de Coimbra
OMS – Organização Mundial de Saúde
QdV – Qualidade de Vida
PAF – Polineuropatia Amiloidótica Familiar
PMA – Procriação Médica Assistida
RNCCI – Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados
TH – Transplante Hepático
UCP – Unidade Clínica de Paramiloidose
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
14
INTRODUÇÃO
Segundo a Organização Mundial de Saúde, as doenças crónicas são “doenças de longa
duração e geralmente de progressão lenta” 2
. Incluem-se dentro do grupo das doenças crónicas,
o cancro, a diabetes, a hipertensão arterial, a paramiloidose, entre muitas outras. Os doentes
crónicos requerem cuidados especiais e com a evolução da tecnologia é possível, de alguma
maneira, contribuir para o bem-estar destes doentes de modo a proporcionar-lhes uma melhoria
na sua qualidade de vida.
O tema desta dissertação versa a qualidade de vida e a autonomia dos doentes com
paramiloidose. A escolha do tema deveu-se ao facto de trabalharmos diariamente com estes
doentes na nossa instituição, e de ouvirmos os seus desabafos de uma forma fugaz, enquanto
realizam os testes de sensibilidade.
A paramiloidose, também conhecida como polineuropatia amiloidótica familiar ou
―doença dos pezinhos‖ é uma doença portuguesa, descoberta em 1939 por Corino de Andrade,
médico Neurologista no Hospital Geral de Santo António. As características peculiares da
doença levaram-no a uma investigação incansável, até que em 1952 a doença foi divulgada
mundialmente através da revista Brain.
A paramiloidose é uma doença hereditária, autossómica dominante, crónica, progressiva
e incapacitante, que num curto espaço de tempo conduz à morte3. O aparecimento da doença
deve-se a uma mutação genética de uma proteína sintetizada na sua maioria no fígado, a
transtirretina, onde um aminoácido de valina é substituído por um de metionina na posição 30,
dando origem a uma proteína mutada, a TTRmet30. A doença surge no adulto jovem entre os 25
e os 35 anos. Os doentes com paramiloidose são acometidos por manifestações clínicas
específicas iniciais, nomeadamente com uma polineuropatia sensitivo-motora, com a perda de
sensibilidade térmica e álgica ao nível das extremidades, e alterações motoras. Posteriormente
apresentam manifestações cardíacas, gastrointestinais, oculares entre muitas outras. O grau de
incapacidade física progride com o avanço da doença levando a atrofias marcadas. O tratamento
2 Definição da World Health Organization para doenças crónicas. [Em linha] [Consult. 24 Agosto 2011]
Disponível em WWW: URL http://www.who.int/topics/chronic_diseases/en/ 3 SOARES, Miguel L., COELHO, Teresa, SOUSA, Alda, HOLMGREN, Gösta, SARAIVA, Maria J.,
KASTNER, Daniel L., BUXBAUM, Joel N., (2004)―Haplotypes and DNA sequence variation within and
surrounding the transthyretin gene: genotype–phenotype correlations in familial amyloid polyneuropathy
(V30M) in Portugal and Sweden‖ European Journal of Human Genetics vol.12, nº 3, pp.225–237.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
15
para a doença consiste num transplante hepático, uma vez que a maioria da proteína mutada é
sintetizada no fígado.
Os doentes que padecem de paramiloidose sofrem desde o dia que ficam a conhecer o seu
diagnóstico, porque provavelmente já tiveram familiares com a doença e que vieram a falecer.
Neste ponto a questão que se nos coloca é: que pensamentos terão estes doentes face a um futuro
incerto, sabendo que irão passar pelas mesmas coisas que os seus familiares passaram? O grau de
incapacidade é tão grande que estes doentes passam a depender de terceiros numa dada altura da
doença. Que qualidade de vida terão estes doentes? Quando é que a autonomia na liberdade de
escolhas deixa de existir?
Esta doença pode levantar certas questões éticas como por exemplo: relacionadas com a
realização do transplante hepático (e no transplante hepático sequencial), na decisão de terem ou
não filhos (sabendo que existe 50% de probabilidade de transmitir a doença à descendência),
fazerem ou não o diagnóstico pré-natal ou mesmo participarem num ensaio clínico. A decisão
final cabe sempre ao doente, uma vez que é autónomo nas suas escolhas. Neste ponto
relacionamos o princípio da autonomia com o conceito de consentimento informado, uma vez
que toda a prática clínica a que o doente se sujeita, deve ser consentida de uma forma livre,
informada e esclarecida.
O termo ―Bioética‖ surgiu pela primeira vez em 1970 pelo oncologista Van Rensselaer
Potter, como a “ciência da sobrevivência”4 que procurou integrar a biologia, a ecologia, a
medicina e os valores humanos. Em 1971 Potter publicou o seu primeiro livro ―Bioethics: Bridge
to the Future‖. A Bioética é, por assim dizer, o estudo transdisciplinar entre a medicina, a
biologia, a filosofia e o direito com o intuito de criar diretrizes que estabeleçam regras e limites
na investigação humana, tendo como objetivo final o bem estar do ser humano. A Bioética
centra-se na dignidade da pessoa humana e no seu direito à autodeterminação.
Em 1979, Beauchamp e Childress publicaram os ―Princípios da Ética Biomédica‖. Estes
princípios, o respeito pela autonomia, beneficência, não-maleficência e justiça tiveram um papel
importante ao nível da ética médica contemporânea, pois permitiram estabelecer diretrizes
universais em qualquer tipo de experimentação científica em que estejam envolvidos seres
humanos. Sendo princípios de caráter moral são partilhados e aceites por todos,
independentemente da posição ética, religiosa ou cultural que ocupam.
Propusemo-nos a analisar neste trabalho o princípio da autonomia e a qualidade de vida
dos doentes com paramiloidose.
4 Texto disponível em http://www.danielserrao.com/gca/index.php?id=122.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
16
Segundo a Principiologia de Beauchamp e Childress, o princípio da autonomia diz-nos
que o indivíduo é livre nas suas tomadas de decisões e é responsável pelas suas ações perante
terceiros numa sociedade pluralista e secular5. O princípio da autonomia aparece intimamente
ligado ao conceito do consentimento informado. O doente sendo uma pessoa autónoma, é livre
para prestar o seu consentimento informado e esclarecido.
Por último, descrevemos o conceito de qualidade de vida de uma forma geral,
caminhando para o particular, no que concerne à qualidade de vida destes doentes. Das pesquisas
bibliográficas efetuadas foram encontradas inúmeras definições sobre qualidade de vida.
Para Fayers e Machin6 o conceito de qualidade de vida apresenta significados diferentes
para diferentes pessoas dependendo da área de aplicação. Consideram existir vários instrumentos
para medir as várias dimensões da qualidade de vida, dependendo do objetivo que se pretende
atingir7.
Porquê medir a qualidade de vida? Uma das razões é para melhorar a comunicação entre
profissionais de saúde e os doentes. Outra das razões é conseguir estabelecer informação àcerca
da amplitude dos problemas que afetam os doentes, tendo como objetivo armazenar informação
numa forma que possa a vir a ser comunicada a futuros doentes, permitindo-lhes antecipar e
compreeender as consequências da sua doença e do seu tratamento. Se a avaliação sobre a
qualidade de vida descobrir informações relevantes sobre os doentes, poder-se-á mudar práticas
na gestão clínica.
A perceção que os doentes têm da sua qualidade de vida relacionada com a saúde pode
ajudar os profissionais de saúde a avaliar a eficácia dos cuidados clínicos e a desenvolver
inovações nesses cuidados.
Em suma, tentamos compreender que fatores, para além da doença, interferem na vida
destas pessoas e de que modo é possível implementar medidas para solucionar as dificuldades
que surgem no seu dia a dia. Gostaríamos que este trabalho de investigação desse o seu pequeno
contributo para a ciência e que pelos menos contribuísse de alguma maneira para aperfeiçoar e
melhorar a qualidade de vida e a autonomia destes doentes, até ao fim dos seus dias.
Na segunda parte do trabalho analisamos os dados recolhidos através de questionários e
procedemos à sua interpretação e discussão.
5 ARAMINI, Michele (2007) Introducción à la Bioética, San Pablo, p.36
6 FAYERS, Peter M., MACHIN, David (2007) Quality of life : the assessment, analysis, and
interpretation of patient-reported outcomes,Wiley , 2nd
edition, p.4. 7 Idem, p.8.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
17
Parte I
ENQUADRAMENTO TEÓRICO
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
18
1. POLINEUROPATIA AMILOIDÓTICA FAMILIAR
1.1 A Descoberta da Paramiloidose
A Polineuropatia Amiloidótica Familiar (PAF), também conhecida por Paramiloidose ou
Doença dos pézinhos, foi descrita pela primeira vez em 1939 por Corino de Andrade8. Neste ano
Corino de Andrade observou uma mulher de 37 anos da Póvoa de Varzim que sofria do ―mal dos
pezinhos‖ e que apresentava várias queixas: adormecimento das extremidades, formigueiros,
falta de sensibilidade térmica e dolorosa nos membros inferiores, dificuldade na marcha,
diarreias e perturbações nos membros superiores semelhantes às dos membros inferiores. A
doença atingia muitos membros da mesma família com uma evolução inexorável para a morte,
ao longo das gerações. A síndrome neurológica da doente, história e quadro clínico, colocou a
equipa de neurologia perante uma entidade clínica até então desconhecida.
Esta patologia teve particular incidência no norte do país, nomeadamente na Póvoa de
Varzim na região piscatória. A primeira impressão foi reforçada pelo conhecimento da
existência, na referida área geográfica, de uma doença denominada por ―mal dos pézinhos‖9.
Desde o ano de 1939, Corino de Andrade dedicou-se à investigação desta doença,
primeiro pela sua natureza progressiva e segundo pela taxa de mortalidade extremamente
elevada que a mesma apresentava10
.
Em 1952 esta doença é divulgada mundialmente com a publicação de um artigo ―A
Peculiar Form of Peripheral Neuropathy‖ na Revista Brain11
. Mais tarde em 1960 Corino de
Andrade fundou o Centro de Estudos da Paramiloidose (CEP) no Hospital Geral de Santo
António (H.G.S.A.).
Em 1976, a PAF foi considerada pela sua frequência e pelas suas características, um
grave problema de saúde pública12
.
8 Neurologista do Hospital Geral de Santo António – pioneiro na descoberta da Paramiloidose.
9 Jornal da Associação Portuguesa de Paramiloidose (1998) nº22, p.2
10 Entre os colaboradores de Corino de Andrade destacou-se o Dr João Resende que na altura estagiava no
Hospital Geral de Santo António e que se tornou parte integrante de uma equipa constituída por Pereira
Guedes, Jorge Campos, António Coimbra e Castro Alves (médicos neurologistas). 11
ANDRADE, Corino (1952) ―A Peculiar Form of Peripheral Neuropathy‖, Brain, vol.75, nº3, p.408. 12
FREITAS, António Falcão de (1976), ―Aspectos clínicos da polineuropatia amiloidótica familiar Tipo
Andrade‖ in Boletim do Hospital vol.1, nº 2, pp.17-25.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
19
Actualmente a prevalência da doença é de 1/1000 habitantes13
. Os os estudos de
investigação desta doença prosseguem com a Dra Teresa Coelho que é a responsável pela
Unidade Clínica de Paramiloidose (UCP) no Centro Hospitalar do Porto14
.
1.2 Propagação do gene da paramiloidose
Devido à alta prevalência da doença na Póvoa de Varzim, pensa-se que a mutação
original possa ter ocorrido aqui há vários séculos atrás e que se tenha propagado para fora do
país através do porto de Vila do Conde, cuja actividade principal era a pesca.
Sabe-se que entre o povo português e o povo sueco existe uma mutação comum no que diz
respeito ao gene da paramiloidose. Há uma hipótese de o gene mutante ter emigrado de Portugal
para a Suécia, devido às rotas comerciais do sal que se realizavam entre o continente e o mar
Báltico. Da história sabe-se que os Vikings atacaram a costa portuguesa a partir de 961. Pensa-se
que a propagação da doença se deveu ao facto dos Vikings se terem relacionado com a
população local e assim, o gene ter sido transmitido aos países nórdicos15
.
Também há uma referência histórica no século XV relativamente à amizade travada entre
Damião de Góis e dois suecos, Olaus Magnus, padre católico sueco e Johannes Magnus, o último
Bispo católico sueco.
Sabe-se que é no norte da Suécia, na cidade de Skelleftea, junto ao Báltico, que a doença
está mais concentrada. Existem, também, outras cidades em que doença se espalhou mas em
menor escala, tais como Pitea, Alvsbyn; Kalix e Liycksele.
Devido à arte de navegar e ao comércio, os portugueses foram levando a paramiloidose até
países longínquos. A partir de 1510 alguns poveiros terão participado como mareantes e pilotos
nas naus portuguesas começando a emigrar para outros países. Devido a este factor tramsmitiu-
se a doença. Desde o século XV que países como Espanha (ilha de Maiorca), Itália, Grécia,
Chipre, Irlanda têm o gene da paramiloidose devido às rotas comerciais. Destes países
13
SARAIVA, Maria João (2001). Data base on transthyretin mutations. Universidade do Porto: Instituto
de Biologia Molecular e Celular, Amyloid Unit. 14
Teresa Coelho, médica Neurologista com especialização em Neurofisiologia, deu continuidade à
investigação iniciada pelo Dr Corino de Andrade no H.G.S.A., tendo sido incansável até à data, na
procura da cura para esta doença, juntamente com vários colaboradores. 15
―As viagens de um gene‖ (1989) – esta edição foi publicada para acompanhar a exposição ―As viagens
de um gene‖ aquando do 1st International symposiun on Familial Amyloidotic Polyneuropathy and Other
Transthyretin Related Disorders, não tendo paginação. O texto que diz respeito à história da propagação
da doença foi retirado desta edição.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
20
emigraram pessoas que levaram o gene mutante para o outro lado do mundo, como os Estados
Unidos e Brasil.
A chegada dos portugueses ao Japão data do séc. XVI. Além de terem levado
conhecimentos de cartografia, geografia, arte de navegar entre outras coisas, também levaram a
paramiloidose. No fim do século XIX dá-se a migração para as grandes cidades, Porto e Lisboa,
com o início da era industrial.
Em 1900 Fonseca Cardoso no seu livro ― O Poveiro, estudo antropológico‖ descreve a
influência dos povos normandos no litoral português como comerciantes na actividade
piscatória.
O gene da paramiloidose irá propagar-se ao longo da costa, primeiro para o norte, Viana do
Castelo e depois para a zona centro, Figueira da Foz. A seguir começam a ir para o interior,
através das ligações comerciais e agrícolas, para Barcelos e Braga.
Pensa-se que a propagação da doença na Serra da Estrela se deveu essencialmente ao uso
das termas em Unhais da Serra, famosas para o ―reumatismo‖, contribuindo assim para a
instalação da doença.
Apesar dos portugueses terem vivido em África e terem criado famílias com a raça negra
durante mais de quatro séculos, o que se sabe é que a doença nunca foi observada em negros ou
mestiços.
1.3 Como se transmite a PAF
A paramiloidose é uma doença hereditária, autossómica dominante, altamente
incapacitante levando à morte num período de 10 anos. Em suma a PAF é uma amiloidose
hereditária fatal16
.
Em Junho de 2009 estavam registadas na UCP cerca de 550 famílias que correspondiam a
2331 doentes. Todos estes doentes apresentavam mutação da proteína TTRval30met.
Segundo Costa & Saraiva tudo começou há várias centenas de anos, por uma mutação
pontual ocorrida num segmento do cromossoma 18 que consistiu na substituição de um
16
ANDO, Yukio, ARAKI, Shukuro e ANDO, Masayuki. (1993), ―Transthyretin and familial amyloidotic
polyneuropathy‖ Intern Med, vol.32, pp.920-922.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
21
aminoácido valina por meteonina na posição 30 dando origem à Transtirretina - TTR Val30Met
(forma mutada da proteína)17
.
A TTR pode ser encontrada no plasma e no líquido céfalo-raquidiano, sendo estável nos
tecidos. É sintetizada, na quase totalidade, pelo fígado (90%), nos plexos coroideus do cérebro e
uma menor fracção na retina. Embora existam vários tipos de mutações da substância amilóide,
este trabalho irá debruçar-se essencialmente na mutação da TTR Val30Met, pois trata-se da
mutação de amilóide mais frequente em Portugal.
A probabilidade de um filho adquirir o gene alterado é de 50%. Esta doença atinge o adulto
jovem e a maioria da população afectada tem uma idade média compreendida entre os 25 e os 35
anos. No entanto fica salvaguardado a existência de casos tardios da doença mesmo depois dos
40 ou 50 anos de idade18
.
É de salientar que existem famílias de doentes assintomáticos que nunca vieram a
desenvolver a doença (figura 1). E existem outras famílias em que a doença se desenvolve e
manifesta (figura 2)19
.
Figura 1 – Exemplo de família com penetrância do gene da PAF baixa
17
COSTA, Paulo Pinho e, SARAIVA, Maria João (1988), ―PAF: Amilóide, Transtirretina e Nervo
periférico – Estudos etiopatogénicos (Revisão)‖ in Boletim do Hospital, vol.3, nº 9, pp. 109-126. 18
SOUSA, Alda (2006), ―Genetic Epidemiology of Familial Amyloid Polyneuropathy‖ Sinapse, vol.6,
nº1, supl. nº 1, pp.74-79. 19
FONTE: Figuras cedidas pela Dra Teresa Coelho da Unidade Clínica de Paramiloidose do Centro
Hospitalar do Porto.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
22
Figura 2 - Exemplo de família com penetrância do gene da PAF alta
A maioria dos doentes apresenta sintomas de polineuropatia sensitivo-motora e
autonómica. A polineuropatia é uma afecção sistémica, bilateral e simétrica dos nervos
periféricos, motores e sensitivos, que se traduz por fraqueza e atrofias musculares progressivas,
com arreflexia e perda da sensibilidade ao nível das extremidades (figura 3)20
21
22
.
Na figura 3 podemos ver representado as alterações que vão surgindo com o evoluir da
doença. Vêmos nas extremidades a anestesia ao calor e a sensação de dor. À medida que se sobe
até ao joelho os doentes apresentam queixas de hipostesia térmica e dor, havendo preservação
das sensibilidades tácteis e de pressão.
Normalmente a neuropatia começa com alterações das pequenas fibras nos pés, onde os
doentes apresentam queixas de parestesias/disestesias, ―sensação de formigueiro‖, ―dores‖,
―picadas‖ ―queimaduras‖ ou ―choques eléctricos‖23
.
A maioria dos doentes apresenta alterações da sensibilidade à temperatura. Primeiro
deixam de sentir o frio e mais tarde o quente. Muitos deles dizem que “quando entram na água
do mar só sentem do joelho para cima”24
. A parte motora será afectada mais tarde quando a
neuropatia sensitiva estiver numa fase mais avançada.
20
COUTINHO Paula, BARBOSA, Adelino Resende.(1976), ―Aspectos Neurológicos da P.A.F‖ in
Boletim do Hospital, vol.1, nº 1, pp.27-34. 21
IN DICIONÁRIO MÉDICO (2004), 3ª Edição. Climepsi Editores. 22
Mapa das sensibilidades – Sinapse 2006; vol.6, nº 1, supl. nº1, p.58. 23
LOBATO, Luísa (2003) ―Portuguese-type amyloidosis (transthyretin amyloidosis, ATTR V30M)‖ J
Nephrol, vol.16, nº3, pp.438-442. 24
Expressão utilizada mais vezes pelos doentes com PAF.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
23
Figura 3 – Mapa das sensibilidades (Sinapse 2006; 1(6), 1: 58)
A perda sensitiva nos membros inferiores inicia-se progressivamente dos pés para os
tornozelos, destes para as pernas e depois para os joelhos, enquanto que a parte sensitiva nos
membros superiores ainda se encontra preservada. A neuropatia autonómica aparece
relativamente cedo e pode ter um conjunto de manifestações clínicas tais como alterações do
trânsito gastrointestinal (diarreia, obstipação, náuseas e vómitos), perturbações genito-urinárias
(bexiga neurogénica e disfunção sexual), alterações cardíacas (hipotensão ortostática).
Estes doentes também apresentam como sintoma inicial um emagrecimento marcado e
desnutrição. Quando a parte motora é afectada estes doentes apresentam atrofias musculares,
abolição dos reflexos tendinosos, pés pendentes, marcha em ―steppage‖ que se caracteriza por
um exagerado levantamento do joelho e excessiva flexão da coxa sobre a bacia25
.
25
FONSECA, Isabel (2006) ―Emagrecimento e desnutrição na polineuropatia amiloidótica familiar de
tipo português‖ Sinapse; Vol.6, nº1,supl. nº1, pp.121-124.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
24
1.4 Diferentes tipos de amiloidose
As amiloidoses são um grupo de doenças caracterizado pela deposição de uma proteína
insolúvel nos tecidos, a amilóide, que se deposita no espaço extracelular de vários tecidos. As
amiloidoses são também conhecidas por doenças conformacionais, uma vez que, uma proteína
normalmente solúvel dá origem a agregados insolúveis com uma estrutura ordenada, as fibrilhas
de amilóide, através de um mecanismo que envolve alterações da conformação26
.
A apresentação e a evolução das amiloidoses dependem dos órgãos atingidos, podendo ser
estabelecidos alguns padrões clínicos conforme a proteína precursora. A classificação actual de
uma amiloidose assenta na composição química das fibrilhas e não no quadro clínico.
Podem ser divididas em amiloidoses não hereditárias e amiloidoses hereditárias.
As amiloidoses não hereditárias podem ser primárias ou secundárias. Na amiloidose
primária a proteína amilóide é um fragmento da cadeia leve de imunoglobulinas (proteínas que
fazem parte do sistema imunológico), que é produzida em excesso por células imunológicas.
Geralmente está associada a doenças da medula óssea, como por exemplo o mieloma múltiplo.
Afecta normalmente homens de meia idade27
.
Na amiloidose secundária (disproteinémica) a proteína depositada é a amilóide sérica A e é
produzida pelo fígado quando ocorrem processos inflamatórios. Este tipo de amiloidose pode ser
observada em pessoas portadoras de doenças inflamatórias intestinais (Crohn e colite ulcerosa ),
com artrite reumatóide, osteomielite, tuberculose, entre outras. A evolução da doença traduz-se
por um grau crescente de incapacidade sensitiva, motora e autonómica28
.
A amiloidose primária é fatal, normalmente secundária a falência cardíaca ou renal. Tem
uma esperança de vida de 2 a 10 anos, após ter iniciado os sintomas sensitivos.
As pessoas que apresentam amiloidose secundária com neuropatia amilóide normalmente
morrem devido a alterações subjacentes à amiloidose sistémica. Não há tratamento específico
para este tipo de amiloidose.
As amiloidoses hereditárias podem ser classificadas segundo os sinais clínicos e o tipo
bioquímico da proteína amilóide envolvida. O principal órgão afectado é o fígado mas órgãos
26
MERLINI, Giampaolo e BELLOTTI, Vittorio., (2003) ―Molecular mechanisms of amyloidosis.‖ N.
Engl. J. Med., vol.349, pp.583-596. 27
KELLEY, John J., KYLE, Robert A., O'BRIEN Patricia C. e DYCK, Peter J. (1979): ―The natural
history of peripheral neuropathy in primary systemic amyloidosis‖ Ann Neurol vol.6, nº1, pp.1-7. 28
THOMAS, Peter K. and KING, Rosalind H.M. (1974), ―Peripheral nerve changes in amyloid
neuropathy‖ Brain vol.97, p.395.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
25
como o coração, rins, pele, cérebro também são atingidos. Este tipo de amiloidoses destaca-se
pelo envolvimento do Sistema Nervoso Periférico e são herdadas de uma maneira autossómica
dominante.
No caso da PAF, que se inclui no grupo das amiloidoses hereditárias, as fibrilhas de amilóide
são, essencialmente, constituídas por uma variante da transtirretina (TTR), em que a alteração de
um único aminoácido torna a proteína mais susceptível à formação de amilóide29
.
Segundo Reilly e King, as amiloidoses hereditárias podem ser divididas em quatro
grupos30
:
PAF tipo I, de Andrade ou tipo Português com (início nos membros inferiores) – este tipo
de polineuropatia foi descrito em portugueses, japoneses e suecos, entre outros. Normalmente
aparece entre os 25 e os 35 anos, os sintomas iniciam-se por parestesias nos pés, seguindo-se
alterações gastrointestinais ou alterações de disfunção autonómica. Esta doença é lentamente
progressiva, levando ao desenvolvimento de uma neuropatia sensitivo-motora severa31
32
33
.
PAF tipo II, de Rukavina ou tipo Indiana (com início nos membros superiores) - este tipo
de PAF foi descrita em famílias suíças com origem em Indiana e em famílias alemãs com origem
em Maryland, nos E.U.A.; apresenta como principais sintomas o síndrome do túnel do carpo e
opacidade vítrea34
.
Normalmente aparece na meia idade, com compressão do nervo mediano bilateralmente e
por vezes acompanhado de opacidade vítrea. Há uma perda sensitiva generalizada mas a
neuropatia periférica não é incapacitante e o envolvimento autonómico não é característico deste
tipo de PAF.
29
SARAIVA, Maria João, BIRKEN, Steven, COSTA Paulo Pinho e, GOODMAN, DeWitt S., (1984),
―Amyloid fibril protein in Familial Amyloidotic Polyneuropathy, Portuguese type.‖ J. Clin. Invest,
vol.73, pp.104-119. 30
REILLY, Mary M., KING, Rosalind H., (1993), ―Familial amyloid polyneuropathy.‖ Brain Pathol,
vol.3, pp.165–176. 31
ANDERSSON, Rune (1970), ―Hereditary amyloidosis with polyneuropathy.‖ Acta Med. Scand.,
vol.188, pp.85-94. 32
ANDRADE, Corino. (1952), pp.408-426. 33
ARAKI, Shinobu, MAWATARI, Shiro. OHTA, Michio, NAKAJIMA, Atsushi e KUROIWA, Yoshimi
(1968), ―Polyneuritic amyloidosis in a Japanese family.‖ Arch. Neurol., vol.18, pp.593-602. 34
RUKAVINA, John G., BLOCK, Walter D., JACKSON, Charles E., FALLS Harold F., CAREY Joshua
H., CURTIS, Arthur C.(1956), ―Primary systemic amyloidosis: a review and an experimental, genetic and
clinical study of 29 cases with particular emphasis on the familial form‖ Medicine, vol.35, nº 3, pp.239-
334.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
26
PAF tipo III, de Van Allen ou tipo Iowa (generalizada) – este tipo de PAF é descrito no
Iowa, EUA, em familias cujos antepassados tiveram origem na Grã-Bretanha.Tanto os membros
superiores como os inferiores são afectados, mas o síndrome do túnel do carpo não está presente.
Inicia-se na quarta década e a morte por envolvimento renal ocorre em menos de 20 anos35
.
Os sintomas iniciam-se nos membros inferiores na parte distal por dor, disestesias e
fraqueza seguidos de um envolvimento proximal progressivo que se estende até aos membros
superiores. A disfunção autonómica não é proeminente. A maioria destes doentes fica
incapacitado pela neuropatia periférica ao fim de dez anos.
PAF tipo IV, de Meretoja ou tipo Filandês (nervos cranianos) – este tipo de PAF é descrita
na Finlândia e caracteriza-se pelo aparecimento de uma tríade de manifestações: oculares,
neurológicas e cutâneas36
37
. Segundo Makishita foram descritos casos de PAF tipo IV no Japão
semelhantes aos da Finlândia. Todos os doentes apresentavam manifestações típicas de PAF,
sem neuropatia periférica marcada. Pensa-se que os nervos autonómicos possam ser atingidos
num estadio avançado da doença38
.
1.5 Diagnóstico, Tratamento e Prognóstico
Para se efectuar o diagnóstico da PAF o clínico deve recolher a anamnese do doente,
verificar se há história familiar da doença, verificar a idade do aparecimento da doença e se há
ou não sintomas. Actualmente, o diagnóstico pré-natal realiza-se através da amniocentese. Os
testes mais utilizados para fazerem o diagnóstico são os exames laboratoriais utilizando a técnica
da análise do ácido desoxirribonucleico (ADN) ou realizando biópsia de tecido, para detectar a
35
VAN ALLEN, Maurice W., FROHLICH, Janet A. e DAVIS, Julian R. (1969) ―Inherited predisposition
to generalized amyloidosis. Clinical and pathological study of a family with neuropathy, nephropathy and
peptic ulcer‖ Neurology (Minneap),vol.19, p.10. 36
MERETOJA, Jouko, (1969) ―Familial systemic paramyloidosis with lattice dystrophy of the cornea,
progressive cranial neuropathy, skin changes and various internal symptoms. A previously unrecognized
heritable syndrome.‖ Ann Clin Res, vol.1, nº 4, pp.314-324. 37
PEREIRA, Sara V., ALMEIDA, Leonor D., LÉ, Jorge S., MONTEIRO-GRILLO, Manuel (2010),
―Manifestações Oculares da Polineuropatia Amiloidótica Familiar do Tipo Finlandês – Caso sem história
ancestral associada‖ Oftalmologia, vol.34, pp.371-378. 38
MAKISHITA, Hideo, YAZAKI, Masahide., MATSUDA, Masayuki, IKEDA, Shu-ichi.,
YANAGISAWA, Nobuo (1994), ―Familial amyloid polyneuropathy type IV (Finnish type) a
clinicopathological study‖, Clinical Neurology, vol.34, nº5, pp.431-437.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
27
presença da substância amilóide. A biópsia de tecido pode ser realizada em qualquer órgão que
esteja afectado pela amilóide tal como coração, rim, fígado. Também pode ser retirado da
mucosa rectal ou das glândulas salivares minor39
.
Há 30 anos atrás o tratamento limitava-se ao aconselhamento genético e à correcção de
desvios hidroelectrolíticos e nutritivos decorrentes das alterações digestivas40
. Actualmente, a
única opção terapêutica eficaz é o transplante hepático (TH). Como a maioria da TTR é
produzida no fígado, substituindo este órgão a fonte da proteína mutante é eliminada. Mas para
que ocorra a substituição do órgão afectado é preciso um novo órgão. O problema que aqui se
coloca é que a PAF não é a única doença que necessita de um órgão, neste caso o fígado, para ser
transplantado. O que se tem verificado é que a espera é demasiado longa. Alguns dos doentes
estão inscritos há mais de quatro anos para a realização do TH. E neste tempo a doença não pára
a sua evolução. Então o que poderá ser feito por estes doentes enquanto esperam?
Com o evoluir da ciência e das novas tecnologias mais cuidados são prestados aos doentes
de forma a garantir uma pequena melhoria na sua qualidade de vida enquanto esperam pelo
órgão que precisam. O tratamento dos outros sintomas que apresentam como as nevralgias,
problemas gastrointestinais, oculares, entre outros é feito à base de medicamentos. Outra
terapêutica passa pela prevenção, isto é, prevenir o aparecimento de queimaduras e feridas face à
falta de sensibilidade dolorosa e térmica que é muito comum nestes doentes.
Mas estes doentes devem esperar pelo TH até quando? O órgão para o TH chegará a tempo
de salvar estes doentes? E quando surgir a oportunidade de fazer o TH, será que o doente irá ser
compatível? Será que a espera valeu a pena? Ou não?
Parece-nos que a ciência irá encontrar alguns dilemas éticos relativamente ao TH.
1.5.1 Transplante Hepático
Em 1990 na Suécia, Holmgren realizou o primeiro TH num doente com PAF. Contudo esta
técnica apresentou algumas limitações e o seu sucesso dependeu das alterações que os doentes
apresentaram antes da cirurgia nomeadamente a nível cardíaco e da disfunção autonómica41
42
.
39
CARVALHO, Filipa, SOUSA, Mário, FERNANDES, Susana, SILVA, Joaquina, SARAIVA, Maria J.,
BARROS, Alberto (2001) ―Preimplantation genetic diagnosis for familial amyloidotic polyneuropathy‖
Prenat Diagn, vol.21, pp.1093-1099. 40
FREITAS, António Falcão de, (1976), pp.17-25. 41
HOLMGREN, Gösta, STEEN, Lars, EKSTEDT, Jan, GROTH, Carl-Gustav, ERICZON, Bo-Goran,
ERIKSSON, Siv, ANDERSON, Oluf, KARLBERG Ingvar, NORDEN Gunnela, NAKAZATO,
Masamitsu, HAWKINS, Philip, RICHARDSON, Suzanne, PEPYS, Mark
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
28
Em Portugal, o primeiro transplante hepático realizou-se em 1992 nos Hospitais da
Universidade de Coimbra (H.U.C.) e no Hospital Curry Cabral em Lisboa, juntando-se mais
tarde o H.G.S.A.43
.
O TH deve ser realizado quando surgem os primeiros sintomas da doença visto que este irá
travar a evolução da mesma. Nesta fase existe um grande problema que são as listas de espera.
Embora o TH trave a evolução da doença, os sintomas que os doentes apresentavam antes da
cirurgia permanecerão com eles à posteriori44
.
Contudo é de salientar que existem outras medidas terapêuticas preventivas visto que estes
doentes apresentam vários problemas no decurso da doença. Assim sendo, é preciso tratar os
problemas gastrointestinais, cardíacos, genito-urinários, entre outros. Para isso é necessária a
intervenção de uma equipa multidisciplinar que seja capaz de ajudar estes doentes numa fase tão
difícil da vida.
1.5.2 Transplante Hepático Sequencial ou em Dominó
Portugal para além de ter uma maior incidência de doentes com PAF também tem
legislação respeitante à dação de órgãos - Lei nº12/9345
.
De acordo com o artigo 1º, alínea 1, (…) a presente lei aplica-se aos actos que tenham por
objecto a dádiva ou colheita de tecidos ou órgãos de origem humana, para fins (…)de
transplantação, bem como às próprias intervenções de transplantação. (…)
Segundo o artigo 4º e 5º da presente lei (…) é proibido revelar a identidade do dador ou
do receptor de órgão e tecido e a dádiva de tecidos ou órgãos com fins terapêuticos de
transplante não pode, em nenhuma circunstância, ser remunerada, sendo proibida a sua
comercialização. (…)
Em Dezembro de 2006 o Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV)
redigiu o Parecer nº 50 de Dezembro de 2006, sobre a proposta de Lei nº 65/X com o intuito de
contemplar dados não existentes na Lei nº 12/9346
.
(1991) ―Biochemical effect of liver transplantation in two Swedish patients with familial amyloidotic
polyneuropathy (FAP-met30)‖ Clin Genet, vol.40, pp.242-246. 42
COUTINHO, Conceição Azevedo (2006), ―Envolvimento cardíaco na polineuropatia amiloidótica
familiar‖ Sinapse; vol.6, nº1,supl.1, pp.92-98. 43
FURTADO, Emanuel (2006), ―Transplantação hepática na polineuropatia amiloidótica familiar‖
Sinapse, vol.6, nº1, supl. nº 1, pp.151-154. 44
COELHO, Teresa.(2006), ―Tratamento da polineuropatia amiloidótica familiar: princípios gerais e
tratamento sintomático‖ Sinapse, vol.6, nº1, supl. nº 1, pp.147-150. 45
LEI nº12/93, de 22 de Abril – Colheita e transplante de órgãos e tecidos de origem humana.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
29
Este Parecer teve como objetivos:
―adequar a evolução dos conhecimentos às novas práticas de transplantação e (…) fazer face
às as necessidades clínicas em órgãos e tecidos para transplantar”.
Esta evolução científica veio permitir que os doentes aguardassem mais tempo pelo
transplante criando expectativas para uma melhoria da sua doença. Contudo, verificou-se a
presença de um grande problema: não há órgãos e tecidos suficientes somente a partir de
cadáveres que possam satisfazer as necessidades existentes.
Segundo este Parecer, e transpondo este problema a nível mundial, estima-se que nos EUA
“…um em cada oito órgãos de cadáver com potencialidade para serem transplantáveis
consegue ser efectivamente usado para transplantação”.
Nalguns países a carência de órgãos para transplantação deve-se, entre outros fatores, à
falta de legislação para a colheita dos mesmos. Noutros países fazem-se campanhas públicas de
sensibilização da população para o registo voluntário de dação de órgãos. Em Portugal o acto de
recolha de órgãos e tecidos a partir de cadáveres é legislado na sua totalidade.
Uma solução que diminuiria efectivamente as listas de espera seria a colheita de tecidos ou
órgãos em dador vivo para fazer face às necessidades existentes.
As novas alterações ao Decreto-Lei 12/93 “…visam permitir aumentar o número de
colheita em vida de órgãos, de tecidos e células.‖ e “…sobre quem poderá ser dador quando se
trata de órgãos não regeneráveis…”.
As questões éticas levantadas por este Parecer centram-se, entre outras:
a) Na salvaguarda de uma informação muito precisa dos dadores vivos sobre as
consequências do acto da dádiva
b) No consentimento esclarecido (….).
Relativamente a este assunto o CNECV emitiu o Parecer nº 41 em Novembro de 2003, que
visa proteger o ser humano em todos os seus aspectos no que diz respeito à transplantação de
órgãos47
.
Existe ainda na legislação Portuguesa uma Directiva que contempla normas de tratamento
de órgãos e tecidos desde a sua dádiva até à sua empregabilidade48
.
46
PARECER 50 /CNECV/06 sobre a proposta de LEI nº 65/X (Alteração à Lei n.º 12/93, de 22 de Abril -
Colheita e Transplante de órgãos e tecidos de origem humana). 47
PARECER 41/ CNECV/03 – Parecer sobre o Protocolo adicional à Convenção sobre os Direitos do
Homem e a Biomedicina ralativo ao Transplante de Órgãos e Tecidos de Origem Humana. 48
DIRECTIVA 2004/23/CE do Parlamento Europeu e do Conselho de 31 de Março de 2004.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
30
O primeiro TH sequencial ocorreu em 1996 nos H.U.C.. Um doente paramiloidótico após
ter recebido o fígado de um cadáver doou o seu a um receptor que tinha doença hepática grave49
.
Existem alguns problemas com a transplantação hepática nomeadamente as listas de
espera, pois não há órgãos disponíveis para tantos doentes. Muitos chegam mesmo a morrer
antes da vez deles chegar para realizar o transplante50
.
O TH sequencial de dadores vivos veio diminuir as listas de espera. Um outro problema
que se coloca relaciona-se directamente com os doentes da PAF. Embora realizem o transplante
sequencial de doentes paramiloidóticos para doentes com doença hepática terminal, se o doente
paramiloidótico estiver já numa fase avançada da doença o TH não se realizará, primeiro porque
não vai haver regressão dos sintomas e segundo porque há mais doentes em lista de espera numa
fase menos avançada da doença e que precisam mais rapidamente do fígado. Nesta fase coloca-
se uma questão ética: é lícito para estes doentes serem retirados da lista de espera em detrimento
de outros?
Outra questão ética que se levanta é o facto do receptor do dador vivo revelar nos exames
após o TH deposição de amilóide nalguns tecidos. Será lícito transplantar um órgão que
apresenta alterações genéticas com um potencial risco de causar manifestações da doença no
receptor?
Segundo Wilczek e colaboradores, esta doença requer um mínimo de 15 anos para se
desenvolver e pode nunca vir a manifestar-se51
.
Figueras e colaboradores realizaram um estudo onde os doentes com PAF tinham uma
média de idades de 37 anos enquanto que os receptores do segundo TH teriam 64 anos. Este
facto, de os segundos receptores terem uma idade mais avançada veio demonstrar que estes
doentes não viriam a manifestar qualquer sintoma de PAF. Deste estudo concluiu-se que o TH
sequencial é uma técnica possível de ser realizada sem comportar riscos aparentes para os dois
receptores52
.
Em suma, podemos inferir que o prognóstico da PAF pode variar, e geralmente de forma
não favorável, se o diagnóstico não for feito atempadamente. Quando se sabe que se trata de um
49
FERRÃO, José (2006), ―Transplante hepático sequencial (dominó) – alargar a esperança?‖ Sinapse,
vol.6, nº 1,supl.nº 1, pp. 155-157. 50
WILCZEK, Henryk E., LARSSON, Marie, YAMAMOTO, Shinji, ERICZON, Bo-Goran. (2008),
―Domino liver transplantation‖ J Hepatobiliary Pancret Surg, vol.15, pp.139-148. 51
ERICZON, Bo-Goran., LARSSON, Marie., WILCZEK Henryk E. (2008), ―Domino liver
transplantation: risks and benefits‖ Transplantation Proceedings, vol.40, pp.1130-1131. 52
FIGUERAS, Juan, PARES, David, MUNAR-QUÉS, Miguel, RAFECAS, António, TALTAVULL,
Teresa C., FABREGA, Juan, XIOL, Xavier, TORRAS, Jaume, LAMA, Carmen, LLADÓ, Laura.e
JAURRIETA, Eduardo (2002) ―El transplante hepático dominó o secuencial, es una técnica factible?‖
Gastroenterol Hepatol, vol.25, nº4, pp.225-229.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
31
doente paramiloidótico é necessário começar de imediato o combate aos sintomas apresentados
por esses doentes, verificar que órgãos estão afectados, se é necessário o tratamento de feridas
por queimaduras ou se necessitam de uma dieta especial na sua alimentação devido às alterações
gastrointestinais. Há uma tentativa de tratamento para aliviar a sintomatologia e para que estes
doentes consigam ter uma qualidade vida aceitável.
A sobrevida destes doentes, após o início dos sintomas, é de aproximadamente onze anos,
podendo ir até aos quinze anos53
quando se verifica uma melhoria na qualidade de vida, isto é,
quando se consegue tratar alguns dos sintomas.
Pelas razões acima descritas, os doentes devem também ter auxílio de carácter psicológico
e emocional. Muitos destes doentes ficam deprimidos porque à medida que os sintomas vão
aparecendo, eles deixam de conseguir fazer as suas actividades, ficando incapacitados para tal. A
dada altura da doença começam a depender de terceiros nas actividades de vida diárias e isto
torna-os mais vulneráveis. Outra das razões apontadas para a depressão que estes doentes
possam vir a manifestar, deve-se ao facto de existirem elementos do agregado familiar já com a
doença. Ora, os doentes ao verem os seus familiares a ficarem num estado deplorável irão
projectar-se no futuro e pensarão no estado que também irão chegar.
Outra das razões apontadas para os doentes estarem sujeitos à depressão diz respeito ao
TH. Existem familiares de doentes sujeitos a TH, que vieram a falecer durante a cirurgia, outros
doentes não se sentem capazes de se inscreverem eles próprios na lista de transplante, porque o
sentimento de medo é dominante.
Das poucas razões apontadas, porque existem certamente mais, verifica-se que a maioria
dos doentes com PAF necessita de apoio especializado a nível psicológico, não descurando outro
tipos de apoio.
1.6 Associação Portuguesa de Paramiloidose
Como se veio a verificar ao longo destes anos, o número de doentes aumentou e houve,
assim, a necessidade de criar um grupo de pessoas, onde estas juntamente com os seus
familiares, se pudessem reunir e discutir os seus problemas. Criou-se então a Associação
Portuguesa de Paramiloidose (APP) que foi fundada em 1979 por um grupo de doentes e pessoas
53
FALK, Rodney H., COMENZO, Raymond L., SKINNER, Martha (1997) ―The systemic amyloidosis‖
N Engl J Med, vol.337, pp.898-909.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
32
ligadas ao CEP. Desta associação fazem parte doentes, familiares, amigos e profissionais de
saúde. Existem vários núcleos espalhados pelo país com o intuito de ajudar e promover o bem-
estar dentro do possível destas pessoas. Os núcleos situam-se em Braga, Barcelos, Vila do
Conde, Figueira da Foz, Unhais da Serra, Lisboa, Cartaxo e Esposende. Todos têm a colaboração
de um médico, uma enfermeira e uma assistente social.
Esta associação tem vários objetivos, entre os quais se destacam uma melhoria da
assistência médica e a promoção de cuidados continuados no que diz respeito a tratamentos de
fisioterapia, de feridas abertas, de apoio psicossocial, transporte nas deslocações aos centros de
saúde/ hospitais, entre outros.
Em 1982 a APP conseguiu que a medicação para estes doentes fosse gratuita nas entidades
de saúde.
Em 2010, criou o Parecer sobre a Paramiloidose que está à espera de aprovação pelo
Ministério da Saúde54
. Neste parecer a APP tem como objetivo esclarecer algumas alterações
ocorridas em relação aos benefícios dos doentes no que se refere aos beneficiários do regime da
segurança social e do regime da ADSE.
Os doentes com paramiloidose têm uma comparticipação de 100% das receitas médicas
desde que estas sejam prescritas nos serviços habilitados para o tratamento da doença.
Segundo a Lei nº173/2003, de 1 de Agosto, artigo nº 2, alínea m), os doentes com
paramiloidose estão isentos de pagar taxas moderadoras em consultas, em análises clínicas e nos
exames complementares de diagnóstico.
Estes doentes têm direito a material clínico de apoio, previsto no Decreto Regulamentar nº
29/90 de 14 de Setembro, como cadeira de rodas, canadianas calçado ortopédico, talas, fraldas,
almofadas.
Muitos destes doentes ficam dependentes de terceiros e, por este motivo, precisam de
apoio especializado. As suas habitações devem ser modificadas para facilitar a locomoção e para
isso é necessário rampas para as cadeiras de rodas, casas de banho equipadas para a higienização.
Devem ter assistência domiciliária no que diz respeito à alimentação, cuidados de higiene diários
e limpeza da casa, bem como o fornecimento de alimentos e refeições.
Outro dos objetivos da APP é criar um levantamento e registo das famílias afectadas, isto é
criar um Registo Nacional de doentes com Paramiloidose. Uma vez que é no nosso país que esta
doença tem maior prevalência, é necessário saber quantos pessoas estão afectadas por esta
54
A APP criou este parecer com o intuito de esclarecer o enquadramento destes doentes no Sistema da
Segurança Social, dos benefícios na área da saúde e dos benefícios dos doentes que que pertencem ao
regime contributivo. Contudo, este parecer ainda não foi regulamentado.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
33
doença, isto é, torna-se imprescindível obter uma base de dados epidemiológicos afim de
implementar medidas para ajudarem estes doentes.
Este registo tem como objetivos: identificar e caracterizar todos os doentes, prevenir e
melhorar os cuidados de saúde a prestar a estes doentes55
.
Portanto, é necessário criar meios para divulgar esta doença nos sítios onde a informação não
chega ou não é suficiente. Também seria importante arrecadar verbas para apoiar
financeiramente os projectos de investigação científica no que diz respeito a esta doença56
.
A Paramiloidose continua ainda a ser uma doença incurável e que afecta todas as
dimensões do Ser Humano: biológica, psicológica, sociológica, cultural e espiritual.
55
A proposta para o Registo Português de Paramiloidose foi anunciado em Diário da República, 2ª série,
nº 126 de 4 de Julho de 2011, com o Despacho nº 8812/2011, pp.27872-3. Neste Despacho consta em
anexo o Regulamento do Registo Nacional de Paramiloidose. 56
Grande parte dos doentes queixa-se da falta de informação sobre a doença. É preciso implementar
medidas para combater esta lacuna.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
34
2. ÉTICA BIOMÉDICA
O termo ―Bioética‖ surgiu pela primeira vez em 1970 pelo oncologista Van Rensselaer
Potter, no artigo ―Bioethics. The Science of Survival‖. Em 1971 Potter publicou o seu primeiro
livro ―Bioethics: Bridge to the Future‖57,58
.
Nunes & Brandão afirmam que “A Bioética tem sido caracterizada como uma ponte para
o futuro. Um futuro em constante mutação, mas onde determinados valores são considerados
imutáveis e intemporais. (…) o respeito pela dignidade humana (…) tem-se tornado o
paradigma das relações inter-pessoais nas sociedades plurais e democráticas59
.”. O
aparecimento desta palavra veio revolucionar o mundo em que vivemos. Desde o seu
aparecimento até à data, inúmeras questões éticas foram debatidas e continuarão a ser, desde o
conceito de embrião, às técnicas de procriação medicamente assistida (PMA), às directivas
antecipadas da vontade. Nesse sentido, dependendo do seu enquadramento, a palavra ―Bioética‖
pode ter várias definições, pois abrange diferentes domínios, como a filosofia, sociologia,
medicina, direito, entre outros. Existem Comissões de Ética (CE) em várias instituições com
elementos capazes de resolverem problemas éticos baseando-se num conjunto de princípios. A
Declaração de Helsínquia quando foi elaborada em 1964, previa a criação de comissões e grupos
com funções específicas60
que tinham como objetivo garantir a integridade do ser humano na sua
plenitude, baseados num conjunto de normas éticas.
A Lei nº 46/200461
, de 19 de agosto define Comissão de Ética para a Saúde (CES), entre
outras, “as entidades criadas pelo Decreto-Lei nº 97/9562
, de 10 demMaio, às quais compete,
sempre que solicitadas pela Comissão de Ética para Investigação Clínica, emitir o parecer
previsto na presente lei.‖ As CES têm como objetivos a intervenção na investigação médica63
,
57
POTTER,Van Resseler (1970) ―Bioethics: The Science of Survival‖. Persp. Biol. Med. vol.14, nº 1, pp.
127-153. cit in SGRECCIA, Elio. (2009) Manual de Bioética- Fundamentos e ética biomédica, Principia
Cascais: Principia Editora, p.13. 58
NUNES, Rui (2002) “Bioética e Deontologia Profissional”, Colectânea Bioética Hoje-IV, Gráfica de
Coimbra 2ª edição, p.7. 59
NUNES Rui, BRANDÃO Cristina (2007): ―Nota introdutória‖ in “Humanização da Saúde”,
Colectânea Bioética Hoje-XIII, Gráfica de Coimbra, p.11. 60
WALTER, Osswald (2004), Um fio de ética, 2ª edição, Gráfica de Coimbra, p.228. 61
LEI nº 46/2004 [Em linha]. [Consult. 9 Agosto 2011] Disponível na WWW:<URL:
http://www.centrodedireitobiomedico.org/files/Lei_dos_Ensaios_Clinicos.pdf. 62
DECRETO-LEI nº 97/95, de 10 de Maio tem como objetivo delinear as regras subjacentes às CES nos
estabelecimentos de saúde públicos e privados, no que diz respeito à sua constituição, competências e
modo de funcionamento. [Em linha]. [Consult. 9 Agosto 2011] Disponível na WWW:<URL:
http://www.cnpma.org.pt/Docs/Legislacao_DL_97_95.pdf. 63
WALTER, Osswald (2004), p.229.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
35
solucionar problemas éticos que surjam na prática clínica, tendo sempre em atenção a dignidade
e a integridade do ser humano. As CES existem em todos as instituições que intervenham
diretamente com a saúde (públicas e privadas) como hospitais, centros de saúde, entre outros.
Segundo a opinião de Pinto “A Bioética projeta-se sobretudo em complexas questões
emergentes, que põem novos problemas à humanidade e que exigem decisões graves sobre nova
legislação e regulamentação de questões (…). A reprodução medicamente assistida, as células
estaminais, o uso de embriões humanos em experimentação (...)64
. De facto, todos estes
conceitos ligados à genética devem ser devidamente regulamentados caso contrário, qualquer
investigador poderia manipular a informação genética. Em Portugal ainda não existe legislação
referente, por exemplo, às bases de dados genéticos. O uso de embriões humanos em
investigação implica várias questões éticas nomeadamente de ordem jurídica65
. A título de
exemplo é o destino que se dá aos embriões excedentários devido ao uso das técnicas de
procriação medicamente assistida66
.
Hellegers67
considerava a bioética uma ciência capaz de recolher os valores através do
diálogo e do confronto entre a medicina, a filosofia e a ética. Para Segreccia68
foi Hellegers
quem introduziu pela primeira vez o termo ―bioética‖, introduzindo-o no contexto universitário
como disciplina e fazendo a junção entre a área biomédica.
Reich69
define bioética como “o estudo sistemático das dimensões morais (…) das ciências
da vida e da saúde, com o emprego de uma variedade de metodologias éticas numa abordagem
interdisciplinar. Para este autor a bioética passou a ser examinada através de uma variedade de
metodologias éticas70
.
Nesse sentido, existem várias definições de bioética e todas elas com um objetivo comum,
que é o primado do ser humano. Devido às várias situações emergentes a que o ser humano foi
exposto durante décadas (experimentação em seres humanos, clonagem humana, entre outros)
64
PINTO, Alexandre S. (2007) ―Problemas Bioéticos em Medicina Geral e Familiar‖, in “Humanização
da Saúde”, Colectânea Bioética Hoje-XIII, Gráfica de Coimbra p.94. 65
TELES, Natália O. (2004) ― O estatuto do embrião humano: algumas considerações bioéticas‖, Nascer
e crescer, vol.XIII, nº 1, p.53. 66
TELES, Natália O. (2000) ―Bioética em genética – historial, problemas e principios éticos‖ in Genética
e Reprodução Humana, Coord. Rui Nunes e Helena Melo, Colectânea Bioética Hoje – I, Gráfica de
Coimbra, p.121. 67
HELLEGERS, André – médico obstetra, de origem holandesa, que em 1971, fundou o Instituto
Kennedy da Ética. 68
SGRECCIA, Elio (2009), p. 15. 69
REICH, (ed.), Encyclopedia of Bioethics, (1995), vol.I, pág.XXI cit in SGRECCIA, Elio (2009), p 31.
O professor Warren Reich é membro do Instituto de Kennedy da Ética e autor da primeira Enciclopédia
de Bioética (1978). 70
SGRECCIA, Elio (2009), p. 32.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
36
tornou-se de uma enorme necessidade a criação de um conjunto de normas e condutas, para que
a sociedade se regesse de igual modo com todos os indivíduos. Neste contexto surgiu a bioética.
Então podemos afirmar que a bioética é o estudo transdisciplinar entre várias áreas do
saber com o intuito de construir diretrizes, para que o ser humano possa viver em plenitude
enquanto ser social. A bioética estuda e trata questões complexas onde não existe consenso
moral relativamente a problemas como: clonagem, aborto, eutanásia, células estaminais, entre
outros. O papel fundamental da bioética é o respeito pela vida, autonomia e dignidade humana71
.
Com todas estas questões de valor moral que foram surgindo ao longo da vida houve
necessidade de se criarem diretrizes. Apresentamos, assim, alguns exemplos destas diretrizes72
:
1. A Declaração Universal dos Direitos do Homem, publicada pelas Nações Unidas a 10 de
dezembro de 1948, que contém elementos importantes à dignidade, liberdade e direitos do ser
humano, bem como, a aplicação de um conjunto de medidas universais que sejam reconhecidas
pelas populações dos Estados membros e pelas populações que se encontram em territórios sobre
a sua jurisdição.
2. A Convenção sobre os Direitos do Homem e da Biomedicina, aprovada pelo Comité de
Ministros do Conselho da Europa a 16 de novembro de 1996, cujo objetivo e finalidade disposto
no Artigo 1º do Capítulo 1: ―As Partes na presente Convenção protegem o ser humano na sua
dignidade e na sua identidade e garantem a toda a pessoa, sem discriminação, o respeito pela
sua integridade e pelos seus outros direitos e liberdades fundamentais face às aplicações da
biologia e da medicina.‖ Ratificada por Portugal em 2001, Ratificada pelo Decreto do Presidente
da República, nº 1/2001, de 20 de fevereiro, de 3 de janeiro, publicado no Diário da República, I
Série-A, n.º 2/200173
.
3. O Código de Nuremberga de 1947, surgiu após a Segunda Guerra Mundial que
estabelece um conjunto de princípios éticos relativamente à pesquisa em seres humanos e à
71
WALTER, Osswald (2004), p.189. 72
SGRECCIA, Elio (2009), p. 29. 73
CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DO HOMEM E DA BIOMEDICINA, [Em linha]. [Consult. 1
Agosto 2011] Disponível na WWW:<URL http://www.gddc.pt/direitos-humanos/textos-internacionais-
dh/tidhregionais/convbiologiaNOVO.html.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
37
regulamentação experimental, em que nenhuma investigação possa ser realizada sem o
consentimento informado por parte dos mesmos74
.
4. A Declaração de Helsínquia foi desenvolvida e publicada pela Associação Médica
Mundial em 1964, como um conjunto de princípios éticos para a comunidade médica
relativamente à experimentação científica em seres humanos. Trata-se de um documento
fundamental da ética em investigação em seres humanos. Já foi atualizado várias vezes, tendo a
última revisão ocorrido em Seul em 2008.
5. A Declaração Universal de Bioética e Direitos Humanos foi adotada em 2005 pela
UNESCO. Nesta declaração os Estados membros comprometeram-se a aplicar os princípios da
bioética no que concerne ao respeito pela vida humana, direitos humanos e liberdades
fundamentais. A este propósito citamos o artigo 1ºda Declaração que: “(…) trata das questões de
ética suscitadas pela medicina, pelas ciências da vida e pelas tecnologias que lhes estão
associadas, aplicadas aos seres humanos, tendo em conta as suas dimensões social, jurídica e
ambiental.” 75
. Todos os fatores inerentes ao ser humano estão presentes nesta Declaração.
2.1. Relatório de Belmonte
Em 1978, a Comissão Nacional para a Protecção dos Seres Humanos em pesquisas
biomédicas e comportamentais dos Estados Unidos, elaborou o Relatório de Belmonte cujo
conteúdo reporta a um conjunto de princípios éticos e directrizes para a protecção dos seres
humanos na área da investigação científica. O documento final depois de ter sido aprovado foi
apresentado em 197976
.
Apesar da área da investigação científica ter vindo a produzir benefícios para o Homem
também acarretou problemas éticos. Durante a Segunda Guerra Mundial, médicos alemães
74
ARCHER, Luís (1996) Bioética (Coord. Luís Archer, Jorge Biscaia, Walter Osswald), Editorial Verbo,
Lisboa, São Paulo, p.18. 75
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DE BIOÉTICA E DIREITOS HUMANOS. [Em linha]. [Consult. 9
Agosto 2011] Disponível na WWW:<URL:
http://unesdoc.unesco.org/images/0014/001461/146180por.pdf. e em
http://www.cnecv.pt/admin/files/data/docs/1273055743_DeclaracaoUniversalBioeticav4.pdf. 76
ENCYCLOPEDIA OF BIOETHICS (2003): ―The Belmont Report: ethical principles and guidelines
for the protection of human subjects of research‖, 3rd edition, vol.1, p.2822.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
38
excederam-se nas suas investigações e cometeram crimes contra a humanidade77
: “(…) o
assassínio em massa, a prática de experiências desumanas, o genocídio (…)78
Para estes
médicos alemães a vida humana não tinha qualquer valor79
e chegaram ao ponto de fazer uma
selecção natural da sua raça, onde os mais fracos eram eliminados: “os fracos, os doentes
crónicos, os débeis mentais, (…).”80
.Queriam criar uma raça pura onde todas as pessoas fossem
saudáveis e fortes81
. Houve, assim, a emergência da criação de um código que estabelecesse os
limites das pesquisas em seres humanos. Foi então criado o Código de Nuremberga “com regras
legitimadoras da experimentação humana, (…), estabelecendo a obrigatoriedade do
consentimento informado”82
que permitiu que os médicos nazis fossem julgados pelos crimes
hediondos que cometeram. Todavia este código nunca foi reconhecido internacionalmente83
.
Passados 20 anos, em 1964, a Associação Médica Mundial criou a Declaração de Helsínquia,
elaborando um documento com regras sobre a experimentação no homem84
, para que nunca mais
fossem cometidos crimes que atentassem contra a vida humana. Esta declaração tornou-se o
protótipo de vários outros códigos para assegurar que as pesquisas que envolveriam seres
humanos seriam realizadas de uma forma ética sem prejuízo dos mesmos.
Os códigos são conjuntos de regras, gerais ou específicas, que guiam os investigadores
durante as suas pesquisas. Contudo, é de salientar que algumas destas regras nem sempre são
aplicáveis a situações complexas e por vezes são difíceis de interpretar.
Sims85
refere que o Relatório de Belmonte é um dos documentos mais importantes no que
respeita a questões éticas na investigação científica. Tem como finalidade identificar os
princípios éticos básicos que devem estar subjacentes na conduta das investigações que
envolvem seres humanos. O seu principal objetivo é proteger os sujeitos e os participantes nos
ensaios clínicos e nas pesquisas.
77
WALTER, Osswald (2004), p.184. 78
Idem, p.185. 79
Verificou-se o holocausto de 5 milhões de judeus e ciganos que ―não eram dignos‖ de pertencer à raça
humana. Os medicos alemães perpetuaram crimes de esterilização e eutanásia contra a humanidade. vid
em WALTER, Osswald (2004), p.185. 80
WALTER, Osswald (2004), p.185. 81
Idem, p.186. 82
PATRÃO NEVES, Maria C., OSSWALD, Walter (2007), Bioética simples, Editorial Verbo, Lisboa,
p.48. 83
Idem, p.186. 84
Idem, p.222. 85
SIMS, Jennifer M. (2010), ―A brief review of Belmont Report‖, Dimens Crit Care Nurs.; vol.29, nº 4,
pp.173-174.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
39
A elaboração deste relatório ocorreu após o tristemente célebre ensaio clínico de Tuskegee
– O Estudo da Sífilis de Tuskegee86
.
No Relatório de Belmonte destacam-se três princípios que são relevantes nas pesquisas que
envolvem seres humanos. Estes princípios servem de guia a cientistas, médicos e cidadãos
interessados em compreender questões éticas inerentes às pesquisas e aos ensaios clínicos. O
senão que se aplica a estes princípios, é que nem sempre são passíveis de serem aplicados a
problemas éticos específicos. Então, o objetivo destes princípios é providenciar um quadro
analítico que irá orientar a resolução de problemas éticos decorrentes da pesquisa envolvendo
seres humanos. Passamos a descrever estes princípios segundo o Relatório de Belmonte, que são:
respeito pelas pessoas, beneficência e justiça87
.
1. Respeito pelas pessoas: todo o ser humano deve ser tratado como uma pessoa autónoma.
Os indivíduos que apresentem uma autonomia diminuída devem ser protegidos, tais como os
incapacitados a nível físico e/ou intelectual. Existe a obrigação moral para proteger os
desprotegidos. Uma pessoa autónoma é aquela que é capaz de decidir quais os seus objetivos e
agir de acordo com as suas decisões. Respeitar a autonomia é dar relevância às opiniões e
escolhas da pessoa autónoma não obstruindo as suas acções, a não ser que sejam prejudiciais
relativamente a outros.
2. Beneficência: este princípio tem como propósitos a) não causar dano e b) maximizar
benefícios possíveis e minimizar possíveis danos.
O lema Hipocrático ―não causar dano‖ tem sido um princípio fundamental na ética médica. Não
se deve prejudicar uma pessoa, independentemente dos benefícios que possam vir para os outros.
O Juramento Hipocrático requer que os médicos beneficiem os seus doentes de acordo com o seu
melhor julgamento. Mas por vezes, para que esta preposição se verifique é necessário expor as
pessoas ao risco.
86
ESTUDO DA SÍFILIS DE TUSKEGEE - ensaio clínico que ocorreu entre 1932 e 1972 em Tuskegee,
Alabama, pelo Serviço de Saúde Público dos Estados Unidos. Os investigadores responsáveis pelo ensaio
recrutaram 399 agricultores Afro-americanos com sífilis relacionada com a progressão natural da doença
não tratada, na esperança de justificar os programas de tratamento para os negros. Estes homens nunca
souberam que tinham sífilis nem quais eram os efeitos da doença. Os responsáveis pelo ensaio clínico
omitiram o diagnóstico e o prognóstico. De acordo com o Centro de Controlo de Doenças disseram a
estes homens que tinham ―sangue ruim‖, termo usado pela população local para descrever doenças como
a sífilis, anemia e fadiga. Por participarem neste estudo ofereceram a estes homens exames médicos,
refeições e seguro fúnebre gratuito. 87
ENCYCLOPEDIA OF BIOETHICS (2003), pp.2823-2824.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
40
Portanto, qualquer investigador deve ter em conta os propósitos da pesquisa científica tentando
fazer o maior bem possível e minimizar riscos para o ser humano.
3. Justiça: é o princípio básico da igualdade para todos os cidadãos, é a equidade na
distribuição. Todos os cidadãos têm os mesmos direitos perante a lei. Uma injustiça ocorre
quando são negados possíveis benefícios a uma pessoa sem causa aparente ou quando prejuízos
são impostos indevidamente. O princípio da justiça requer que iguais sejam tratados da mesma
maneira.
Aquando de uma investigação científica, o processo de selecção de candidatos deve ser
rigorosamente vigiado uma vez que podem ser escolhidos grupos de pessoas não por estarem
relacionados com a própria investigação mas sim por pertencerem a classes sociais baixas, por
serem de determinada raça ou etnia, ou por pertencerem a instituições e que, por estes fatores,
sejam mais fáceis de serem seleccionados e de serem manipulados.
Sempre que a investigação suportada por fundos públicos origine o desenvolvimento de
práticas e instrumentos terapêuticos, a justiça exige que estas inovadoras práticas não sirvam só
aqueles que as podem pagar, e que esta investigação não utilize grupos de pessoas que não vão
estar ou dificilmente estarão entre os beneficiários de subsequentes aplicações da investigação
A aplicação destes princípios no decurso da investigação científica conduz-nos à
consideração dos seguintes requisitos: consentimento informado, avaliação dos riscos/benefícios
e a selecção dos sujeitos de pesquisa.
O consentimento informado deve ser livre e esclarecido. Todos os indivíduos que
participem na investigação devem estar totalmente esclarecidos acerca do projecto e devem
participar voluntariamente. Nenhum indivíduo deve ser beneficiado monetariamente por
participar na investigação.
A avaliação dos riscos/benefícios a que os participantes irão ser submetidos deve ser
ponderada com a intenção de não haver danos para os mesmos ou que se verifiquem um risco
minímo. Benefícios e riscos devem ser contrabalançados e devem constar no processo de
consentimento informado.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
41
2.2 Principiologia de Beauchamp e Childress
Beauchamp e Childress em 1979, publicaram os ―Princípios da Ética Biomédica‖, logo a
seguir ao Relatório de Belmonte88
. Conseguiram desenvolver princípios baseados na Teoria da
Moralidade Comum, nomeadamente os quatro princípios que abordariam a ética biomédica, os
quais tiveram um papel importante ao nível da ética médica contemporânea89
. Este método
ensina que estes princípios, o respeito pela autonomia, beneficência, não-maleficência e justiça,
não só abrangem a maior parte das preocupações da bioética mas também os princípios morais
que são partilhados e aceites independentemente da posição ética, religiosa ou cultural que
ocupam90
. Designaram estes princípios por Prima Facie Principles91
, princípios que servem de
orientação perante dilemas éticos e que devem ser aplicados plausivelmente a nível internacional
e em diferentes culturas.
Passamos a descrever os princípios éticos segundo estes autores:
1. Respeito pela autonomia92
: a palavra autonomia deriva do grego autos (eu próprio) e
nomos (regra, governação ou lei) originalmente referido à auto-governação ou às próprias regras.
A autonomia livre de um indivíduo refere-se a um plano de escolha pessoal.
Uma pessoa com autonomia diminuída, incapaz de deliberar ou agir com base nos seus
desejos ou planos, é auxiliada por terceiros com o intuito de obter as melhores escolhas para si
mesma. As pessoas com atraso mental têm limitações na sua autonomia.
O princípio de autonomia visa duas condições que são: a liberdade de escolha e a
capacidade de agir, onde as pessoas são independentes para controlarem as influências externas e
para fazerem escolhas, e impor essas mesmas escolhas sobre o mundo. A autonomia está
directamente relacionada com características inerentes ao ser humano tais como habilidades,
competências, traços da personalidade que incluem capacidades de compreensão, raciocínio,
gestão, deliberação e escolha independentes.
88
BEAUCHAMP, Tom L. e CHILDRESS, James F.(2009), Principles of Biomedical Ethics, Oxford, 6th
edition. 89
TSAI, Daniel F.C. (2005) ―The bioethical principles and Confucius’ moral philosophy.‖ J Med Ethics,
vol.31, pp.159-163. 90
GILLON, Raanan (2003) ―Ethics needs principles—four can encompass the rest—and respect for
autonomy should be ―first among equals‖ ‖ J Med Ethics, vol.29, pp.307-312. 91
Prima facie principles – estes pincípios são aplicados quando surgem dilemas éticos. São princípios de
carácter obrigatório com uma componente moral elevada. 92
BEAUCHAMP, Tom L. e CHILDRESS, James F.(2009), p.99.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
42
Por vezes, mesmo que uma pessoa seja autónoma e tenha capacidades para fazer escolhas
autónomas, pode estar com as faculdades mentais diminuídas, que restringem o seu livre arbítrio
nas suas escolhas que podem ser causadas por doença, depressão, ignorância ou coerção. Uma
pessoa autónoma que assina o termo de consentimento para realizar determinado procedimento,
sem o ler ou compreender, falha ao fazê-lo.
O respeito pela escolha autónoma das pessoas encontra-se ao mesmo nível que qualquer
outro princípio na moralidade comum. Todo o ser humano capaz tem livre arbítrio nas próprias
tomadas de decisão.
2. Beneficência: Este princípio diz-nos que devemos fazer bem aos outros. Devemos tratar
bem as pessoas e não provocar-lhes algum tipo de mal, contribuindo sempre para o seu bem-
estar. Está relacionado com actos de bondade, caridade, misericórdia e altruísmo.
A propósito deste princípio Pellegrino 93
defende que a beneficência é o único princípio
fundamental da ética médica e que a cura deve ser o único propósito da medicina.
Beauchamp e Childress dividiram este princípio em beneficência positiva e utilidade. A
beneficência positiva requer agentes para proporcionar benefícios aos outros enquanto a utilidade
requer agentes que consigam equilibrar os benefícios, os riscos e os custos para produzir os
melhores resultados globais. E a propósito da utilidade mencionamos Stuart Mill, filósofo inglês
do século XIX, seguidor da Teoria do Utilitarismo. Segundo o princípio da utilidade as acções
são correctas na medida que tendem a proporcionar felicidade, logo tudo o que o homem faz tem
como objetivo alcançar a felicidade.
De acordo com o princípio da beneficência devemos fazer bem aos outros, logo atingimos
constantemente o Bem supremo que é a felicidade. O objetivo principal do Utilitarismo é fazer
bem ao máximo de pessoas para que todas atinjam a felicidade.
Cortina94
refere sobre este tema que a felicidade se identifica com o prazer e que a bondade
de uma acção se mede pela quantidade de prazer que esta pode proporcionar.
3. Não-maleficência – o princípio da não-maleficência impõe uma obrigação de não causar
danos aos outros95
. Na ética médica tem sido associado com a máxima de Hipocrates Primum
non nocere, que significa: acima de tudo não causar dano. No fundo este princípio associa-se ao
93
PELLEGRINO, Edmund (2011). [Em linha]. [Consult. 7 Julho 2011] Disponível na WWW:<UR:
http://www.answers.com/topic/medical-ethics#Beneficence. 94
CORTINA, Adela. (1986), Etica Minima – Introduccion a la filosofia pratica ; Editorial
Tecnos,Tercera edition, pp.46-47. 95
BEAUCHAMP, Tom L. e CHILDRESS, James F.(2009), p.149
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
43
princípio da beneficência na medida em que se deve evitar causar prejuízo ao doente e imperar o
acto de fazer o bem96
.
4. Justiça – este princípio tem como condição fundamental o princípio da igualdade, isto é,
todas as pessoas têm os mesmos direitos, na sociedade em que vivem, no que diz respeito à
educação, à saúde entre outros fatores. Todo o ser humano deve ser tratado da mesma maneira.
O artigo 1º da Declaração Univeral dos Direitos do Homem diz que: “Todos os seres
humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos (…)”97
.
2.3 Consentimento informado
Após a descrição sumária dos princípios aplicados à etica médica, importa falar num dos
conceitos não menos importante da Bioética que é o consentimento informado (CI) sempre
ligado ao respeito da autonomia da vontade da pessoa.
A primeira definição do CI surgiu no Código de Nuremberga em 1947, onde era preciso
obtê-lo antes de qualquer experimentação em seres humanos98
e onde a pessoa envolvida teria
que ser capaz de dar o CI, isto é, ser livre e autónoma nas suas decisões.
Na investigação clínica o médico deve informar o paciente sobre o tipo de tratamento a que
irá ser submetido, quais os benefícios/prejuízos que daí possam advir e qual o objetivo do
tratamento. Também deve respeitar a decisão do doente sobre a investigação, ou seja, respeitar a
sua autonomia da vontade em relação ao procedimento a que irá ser sujeito. Para além disso,
deve informar o doente e certificar-se que este compreendeu o que lhe foi dito. Só assim o
doente poderá submeter-se à prática médica de um modo livre e esclarecido, prestando assim o
seu consentimento, isto é, a sua autonomia. ―A autonomia da pessoa exprime-se pela sua
liberdade de pensar, decidir e agir em conformidade99
”obrigando o médico a obter sempre o CI.
Em qualquer altura da investigação o doente pode desistir sem qualquer penalização, embora
tenha assinado o CI. A obtenção do CI é condição sine qua non para a prática da investigação
clínica em seres humanos. Para os que não conseguem expressar o seu consentimento de uma
forma livre e esclarecida (crianças, pessoas incapazes, entre outros), é nomeado um representante
96
SGRECCIA, Elio (2009), p.233. 97
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM de 10 de Dezembro de 1948 – Artigo
1º. 98
PATRÃO NEVES, Maria C., OSSWALD, Walter (2007), p.49 e p.181. 99
REYS, Lesseps L. (1996) Bioética, p.335-336
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
44
legal capaz de decidir por estas pessoas, sempre em seu benefício. O médico não pode deixar de
prestar informação detalhada ao doente dos cuidados que lhe irá prestar. Caso isso aconteça pode
incorrer num processo jurídico100
. O consentimento deve ser dado mediante a autonomia da
vontade do doente.
Segundo Beauchamp e Childress para a obtenção do CI o doente deve ser independente nas
tomadas de decisão, deve agir voluntariamente sem qualquer tipo de influência e deve ser
informado pelo profissional de saúde relativamente ao procedimento médico101
. Em suma, o CI
só é verdadeiro quando prevalece a autonomia do doente.
2.4 Autonomia dos doentes com Paramiloidose
Neste trabalho decidimos abordar a autonomia dos doentes com paramiloidose, não
somente para expressar a liberdade de escolhas mas, principalmente, para saber que dificuldades
estas pessoas apresentam no seu dia a dia com a família, no trabalho, nas suas actividades de
vida diárias. Como é sabido a paramiloidose é uma doença altamente incapacitante, com uma
evolução rápida, em que a pessoa doente nada pode fazer para a travar. Para estas pessoas ser
autónomo significa fazer o que a maioria das pessoas faz: lavar-se, vestir-se, escrever e
principalmente andar.
As pessoas que são portadoras assintomáticas podem nunca apresentar sintomas da PAF e
serem autónomas todas a vida. Mas para aquelas em que a doença se manifesta a autonomia
deixa simplesmente de existir. Entra-se num estado mental de tristeza e de incapacidade mas
também de revolta, que só quem convive com elas se apercebe.
Quando estas pessoas se encontram num estadio avançado da doença já nada as pode
salvar. Os sintomas e os sinais são muito exacerbados e apresentam já muitos problemas: marcha
débil, visão muito deteriorada, atrofias dos membros marcadas, entre outros. Nestes casos, o
transplante hepático como tratamento já não resulta porque a maioria dos órgãos foram
afectados.
Etxeberria 102
apresentou o conceito de autonomia como sendo a capacidade do ser
humano autoconstruir-se, ser autodeterminado nas suas escolhas com a máxima liberdade. Para
100
PATRÃO NEVES, Maria C., OSSWALD, Walter (2007), pp.185-186. 101
REID, Kevin I.,(2009) ―Respect for Patients’ Autonomy‖, J Am Dent Assoc, vol.140, nº 4, pp.470-474. 102
ETXEBERRIA X. (2003) Ética de Las Professiones, 2ª Edición, Desclée, p.85.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
45
estas pessoas doentes este conceito deixa de poder ser aplicado. Se pudessem escolher não
quereriam ser doentes. Podem ter vontade autónoma mas não têm liberdade para o fazer porque
esta desvanece-se à medida que a doença progride. A estas pessoas que estão numa fase
avançada da doença resta prestar cuidados continuados a vários níveis: medicação para os
sintomas secundários, fisioterapia, material ortopédico, apoio psicológico, entre outros.
As pessoas que iniciam sintomas da doença podem ser tratadas atempadamente com o TH.
Algumas rejeitam a inscrição na lista de TH outras aceitam-no de livre vontade. No entanto,
existe o problema da carência de órgãos, que iremos abordar mais à frente neste trabalho. Não há
órgãos suficientes para tantos paramiloidóticos e, não é só a PAF como doença que precisa de
um transplante de fígado. Resta então a estes doentes a espera, que pode ou não ser rápida. Mas
enquanto esperam a doença evolui inevitavelmente.
Para aqueles que são portadores assintomáticos o conceito de liberdade de escolha é mais
abrangente. A automomia é máxima no seu significado, fazem escolhas livres e esclarecidas. Um
dos problemas que podem ter de enfrentar relacionado com a doença é
a liberdade de terem filhos. Apesar de não manifestarem a doença, ao terem filhos podem passar-
lhes a sua herança genética. A forma de erradicar a doença passa por não terem mais filhos.
Nesta fase várias questões éticas poderiam ser colocadas, sendo uma delas, a responsabilidade e
o direito à reprodução. E a este propósito Madder 103
refere que a responsabilidade é fundamental
para a autonomia da pessoa. Ao assumirmos responsabilidades que afectam as nossas vidas
mantemos a nossa singularidade e promovemos a realização pessoal. O acto de tomar uma
decisão promove o bem-estar.
As pessoas são responsáveis pelas suas acções, são autónomas nas decisões se devem ou
não terem filhos. Nunes104
afirma que a “Autonomia pressupõe o princípio lapidar de liberdade
de escolha.”, isto é, as pessoas autónomas aperfeiçoam o seu poder de escolha, porque têm
liberdade para o fazer.
Kant105
refere que “ o conceito de liberdade é a chave da explicação da autonomia da
vontade”.Todos os seres humanos autónomos são livres de escolher, de tomar decisões. Ser
autónomo é ser livre para poder escolher. Para este filósofo “ A autonomia da vontade é a
propriedade que esta possui de se constituir como sua própria lei (…), (…) que a vontade de
qualquer ser racional lhe esteja necessariamente ligada como a uma condição. Para Kant “o
103
MADDER Hilary (1997), ―Existential autonomy: why patients should make their own choices.‖ J Med
Ethics, vol.23, nº 4, pp. 221–225. 104
NUNES, Rui (2005), Regulação da Saúde, Vida Económica, p.149. 105
KANT (2006) Fundamentação da Metafísica dos Costumes, 12º Ensino Secundário, Lisboa Editora.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
46
princípio da autonomia é o único princípio da moral”, isto é, cada pessoa exerce a sua
autonomia como ser individual, como membro de uma sociedade, onde esta sociedade apresenta
regras estabelecidas e onde cada indivíduo tem de ser racional aquando das suas decisões. O ser
humano, enquanto sujeito intencional, só pode agir moralmente segundo as leis a que ele mesmo
se impôs106
.
A autonomia implica que: se uma pessoa é autónoma tem a capacidade de ser responsável
pelos seus actos em detrimento dos seus objetivos107
.
Relativamente a esta matéria Nunes108
diz-nos que “O conceito de autonomia refere-se
(…) à perspectiva de que cada ser humano deve ser verdadeiramente livre (…)” e que na nossa
sociedade, “(…) democrática e plural (…) “ os cidadãos efectuam “escolhas livres, no quadro
de uma verdadeira cultura de responsabilidade.” Mas será que os doentes com paramiloidose
tomam decisões responsáveis? Serão livres nas suas escolhas perante a sociedade? Quando
decidem ter filhos, sabem que a doença poderá ser transmitida? Que implicações terão as suas
decisões na nossa sociedade? O novo ser humano que irá nascer não pediu para ser doente. Neste
âmbito também surgem questões éticas de elevado valor moral. Sobre este propósito, os doentes
com PAF são dirigidos a consultas de aconselhamento genético, com o devido apoio psicológico
e social.
106
ETXEBERRIA, Xavier (2003), p.91. 107
URSIN, Lars Ø. (2009) ―Personal autonomy and informed consent‖, Med Health Care and Philos,
vol.12, pp.17-24. 108
NUNES, Rui (2005), pp.144-145.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
47
3. QUALIDADE DE VIDA NOS DOENTES COM
PARAMILOIDOSE
3.1 Qualidade de vida
O que é a qualidade de vida (QdV)? Este conceito começou a surgir após a Segunda
Guerra Mundial, em congressos políticos, associando-se o termo a fatores sociais e
psicológicos109
. A partir da década de 60 começaram a utilizar índices de QdV110
, especialmente
no sector económico. Carlens, em 1970, utilizou uma expressão semelhante a QdV que foi
―qualidade de sobrevivência‖111
tendo características semelhantes ao conceito de QdV. Este
conceito começou a ter relevância a partir da década de 90 na área médica112
, em áreas como
oncologia, cardiologia entre outras.
Awad e Voruganti113
afirmaram que a QdV emergiu como o ideal na nova era da
medicina vista de uma perspectiva biopsicossocial, estando ligada ao estado de saúde.
A QdV pode estar ligada a vários fatores: sociais, económicos, culturais; pode depender
do bem-estar de cada pessoa, da actividade profissional que desempenha, dos papéis que
interpreta na sociedade ou quando está inserida em determinados grupos sociais. Das pesquisas
efectuadas para a elaboração deste tema foram encontradas inúmeras definições. Dependendo do
ponto de vista de cada autor, todas elas estavam correctas. Mas também há quem se questione se
a QdV possa ser definida114
ou se se trata de um conceito abstracto. Se questionarmos várias
pessoas sobre o conceito de QdV iremos obter respostas muito diferentes. Provavelmente as suas
respostas estarão relacionadas com o seu estado físico, psico-social e até económico. O que para
alguns ontem estava bem, hoje poderá não estar. Portanto, mudamos a nossa perceção de QdV
109
PIMENTEL, Francisco L.(2006), Qualidade de vida e oncologia, Almedina, Reimpressão da edição de
Março 2006, p.15. 110
Idem, p.16. 111
CARLENS, E. et al (1970), ―Comparative measurements of quality of survival of lung cancer patients
after diagnosis.‖ Scand J resp Dis, vol.51, nº 4, pp.268-275 cit. em PIMENTEL , Francisco L.(2006),
Qualidade de vida e oncologia, p.15. 112
PIMENTEL, Francisco L.(2006), p.17. 113
AWAD, A. George, VORUGANTI, Lakshmi N.P. (2000) ―Intervention research in psychosis: issues
related to the assessment of quality of life‖ Schizophr Bull, vol.26, nº 3, pp.557-564. 114
BAROFSKY, Ivan (2011), ―Can quality or quality-of-life be defined?‖, Qual Life Res (Published
online: 03 July 2011)
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
48
conforme o nosso estado de saúde ou melhor dizendo, dependendo do nosso bem-estar em cada
dia. Alguns autores relacionam QdV ao conceito de bem-estar.
Pais Ribeiro115
afirmou que a QdV é um “conceito de senso comum que tende a fazer
com que todas as pessoas saibam o que significa.”, ou seja, cada pessoa tem a sua própria
definição de QdV dependendo das suas vivências e experiências.
Este termo, hoje em dia, aparece intimamente ligado à saúde mas também pode ser
empregue noutros contextos como engenharia, economia, política, entre outros. Com o evoluir
das ciências tecnológicas registaram-se avanços em várias áreas, nomeadamente na área da
medicina. O alcance na área da medicina foi tão grande que permitiu diminuir a taxa de
mortalidade e aumentar a esperança de vida. Portanto quem tivesse a sua saúde debilitada e
ficasse curado era motivo de felicidade. Os Estados Unidos da América foram pioneiros no uso
de instrumentos para a avaliar a QdV. Alguns estudos importantes foram realizados em 1976 por
Campbel e colaboradores, e em 1982 por Flanagan, implementando instrumentos de medição
sobre QdV e as suas componentes subjectivas116
.
Em 1948 a Organização Mundial de Saúde (OMS), aquando da sua constituição definiu
saúde como sendo “um estado de bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente como a
ausência de doença ou enfermidade”117
. Declarou também que a saúde é um direito fundamental
para todos os seres humanos. Compreende-se a partir desta definição que ter saúde é estar bem a
todos os níveis e, não apenas ao facto de não se estar doente.
Para muitas pessoas este conceito pode estar ligado aos bens materiais, como casa,
automóvel e dinheiro. Tendo estes bens as pessoas consideram que têm uma boa QdV. Para
outras pessoas, QdV pode estar relaccionado com o facto de terem emprego, saúde e até pelas
condições ambientais. Para outros pode estar ligado à longevidade. E para aqueles que não têm
saúde, que estão doentes, que têm doenças crónicas? O que significa ter QdV? Certamente que
irá haver discrepância nas suas opiniões118
.
Em 1995 o grupo constituído pela OMS para descrever o conceito de QdV definiu-o
como sendo “a perceção individual que cada ser humano tem, dependendo do contexto sócio-
115
PAIS RIBEIRO, JOSÉ L. (1997), ―A promoção da saúde e da qualidade de vida em pessoas com
doenças crónicas‖ 2º Congresso Nacional de Psicologia da Saúde - Actas da Sociedade Portuguesa de
Psicologia da Saúde, Instituto Superior de Psicologia Aplicada, p.259. 116
PAIS RIBEIRO, José L. (1998) Psicologia e Saúde, 1ª edição, Instituto Superior de Psicologia
Aplicada – CRL, pp.96-97. 117
CONSTITUTION OF THE WORLD HEALTH ORGANIZATION, (1946). [Em linha]. [Consult. 17
Julho 2011] Disponível na WWW:<URL: http://whqlibdoc.who.int/hist/official_records/constitution.pdf. 118
LACEY, Heather P., LOEWENSTEIN, George, UBEL, Peter A.,(2011), ―Compared to what? A joint
evaluation method for assessing quality of life.‖, Qual Life Res (Published online: 04 February 2011)
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
49
cultural e do sistema de valores em que está integrado, e em relação aos seus objetivos,
expectativas, padrões e preocupações.”119
. ”Incorpora a saúde física da pessoa, estado
psicológico, nível de depêndência, relações sociais, crenças pessoais e relacionamentos
importantes com características do ambiente.”120
, ou seja, tudo o que diz respeito ao bem-estar
das pessoas, desde a sua cultura até ao meio social onde vivem, do seu estado físico até ao
psicológico contribuem para a QdV121
.
Canavarro122
descreveu a QdV “(…) como um conceito amplo, que incorpora (…) os
aspetos da existência individual, (…)o sucesso do indivíduo a alcançar determinados objetivos,
estados ou condições desejáveis, e ainda o sentido de bem-estar e de satisfação experienciado
pelas pessoas na situação atual das suas vidas.”, isto é, todas as vivências positivas pelas quais
o indivíduo passa, contribuem para melhorar a QdV.
Como foi dito anteriormente o conceito de QdV aparece ligado ao conceito de bem-estar
e mesmo ao de promoção da saúde (PdS). O grupo português para o estudo de QdV considerou o
conceito de QdV sinónimo do de PdS123
, cujo objetivo, é promover a saúde e a QdV de pessoas
com doenças crónicas.
A PdS consiste em implementar medidas que ajudem a melhorar a QdV,isto é, a melhorar
o estado de saúde. Quando a pessoa está doente, a PdS passa por modificar o estilo de vida que a
pessoa tinha antes de ter doença, tendo como objetivo fazer uma adaptação às novas condições
impostas pela mesma, pois não se sabe qual a sua duração e a sua gravidade.
Diener124
considerou que o conceito de bem-estar apresentava duas componentes. A
primeira componente consistia em avaliar o bem-estar de forma objetiva através de critérios
externos enquanto que a segunda avaliava o bem-estar de forma subjetiva, mediante as vivências
e experiências do indíviduo. Diener desenvolveu vários estudos na área do bem-estar subjetivo
associando este conceito ao de felicidade,125
. Considerou que quando o indíviduo atinge o
119
PROMOTING MENTAL HEALTH, A Report of Health Organization (2005). [Em linha]. [Consult.
17 Julho 2011] Disponível na WWW:<URL:
http://www.who.int/mental_health/evidence/MH_Promotion_Book.pdf. A definição de QdV foi criada
pelo grupo WHOQOL em 1995, p.42. 120
HEALTH PROMOTION GLOSSARY (1998), p.17. [Em linha]. [Consult. 27 Julho 2011] Disponível
na WWW:<URL: http://www.who.int/hpr/NPH/docs/hp_glossary_en.pdf 121
PAIS RIBEIRO, José L. (1997), p.260. 122
CANAVARRO, Maria Cristina, SERRA, Adriano Vaz (Coord.) (2010) Qualidade de vida e saúde:
Uma abordagem na perspectiva da Organização Mundial de Saúde, Fundação Calouste Gulbenkian, p.9. 123
PAIS RIBEIRO, José L. (1997), p.253. 124
DIENER, Ed (1984) ―Subjective well-being‖, Psychological Bulletin, vol.95, nº3, pp.542-575 cit in
PAIS RIBEIRO, José L. (1998), p.97. 125
DIENER, Ed, SUH, Eunkook M., LUCAS, Richard E.,SMITH, Heidi L. (1999), ―Subjective well-
being: three decades of progress.‖ Psychological Bulletin, vol.125, nº2, pp.276-302.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
50
máximo de bem-estar subjetivo (satisfação com a vida, ausência de emoções negativas, otimismo
e emoções positivas) terá melhor saúde e longevidade126
. Assim sendo, o bem-estar e a PdS
contribuem para uma melhor QdV, onde as pessoas são livres de escolher e tirar prazer das suas
escolhas.
Com a necessidade emergente de se descrever o conceito de QdV e de classificá-lo
segundo várias dimensões (fisíca, psicológica, relações sociais, ambiente, entre outras) criaram-
se vários instrumentos de medição do estado de sáude a nível mundial, sendo alguns específicos
para determinado tipo de doenças. A sua aplicabilidade foi de extrema importância pois permitiu
objetivar as várias dimensões nas investigações efetuadas em diferentes áreas, e tirar ilações
relativamente às populações estudadas. Muitos destes instrumentos foram validados para a
população portuguesa127
. O conhecimento do conteúdo destes instrumentos permite-nos avaliar o
que se passa nas populações e instigar o que deverá ser feito para melhor satisfazer essas
pessoas,ou seja, ter a perceção das medidas a implementar para se ter uma boa QdV.
Em Portugal, no ano de 2004 foi criado o Centro Português de Avaliação da Qualidade de
Vida da Organização Mundial de Saúde, coordenado por Maria Cristina Canavarro e Adriano
Vaz Serra128
. Este grupo utiliza, a título de exemplo, um instrumento geral, construído por um
grupo de investigadores da OMS para avaliar a QdV designado por: WHOQOL (World Health
Organization Quality of Life) nas versões longa e breve, que priveligia “uma perspetiva
transcultural e subjetiva‖129
. Normalmente utiliza-se a forma abreviada, por demorar menos
tempo no seu preenchimento.
Um outro instrumento validado para a população portuguesa para avaliar o estado geral
de saúde é o Medical Outcomes Study 36-Item Short Form (SF-36). É constituido por 36 itens
dos quais 35 se agrupam em 8 escalas130
. Estas escalas dividem-se em 2 grupos, um para avaliar
a parte mental e o outro para avaliar a parte física.
126
DIENER, Ed, CHAN, Micaela Y. (2011) ―Happy People Live Longer: Subjective Well-Being
Contributes to Health and Longevity‖ Applied Psychology: Health and Well-Being, vol. 3, nº1, pp.1–43. 127
PAIS RIBEIRO, José L. (2007), Avaliação e Psicologia da Saúde: Instrumentos Publicados em
Português, 1ª edição, Quarteto. 128
CANAVARRO, Maria Cristina, SERRA, Adriano Vaz (Coord.) (2010), ―Nota de abertura‖, p.XVIII. 129
CANAVARRO, Maria Cristina, SERRA, Adriano Vaz (Coord.) (2010), pp.171-172. A forma
abreviadas do questionário é constituída por 26 itens, organizada em quatro dimensões (física,
psicológica, relações sociais e ambiente) e uma outra parte constituída por 2 itens que avalia a
QdV geral e a percepção geral de saúde. 130
PAIS RIBEIRO, José L. (2005), O Importante é a Saúde, Fundação Merck Sharp & Dohme, p.79.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
51
3.2 Qualidade de vida nos doentes com paramiloidose
Propomo-nos neste trabalho analisar a QdV nos doentes com paramiloidose, que
certamente terão perspectivas diferentes das pessoas não doentes.
As pessoas com paramiloidose são efectivamente doentes. Tratando-se de uma doença
crónica, apresenta um impacto muito negativo na vida destes doentes uma vez que a sobrevida
ronda os 10 anos. Quando a pessoa aparentemente ―normal‖ fica a saber que está doente e não
sabe se irá desenvolver a doença, começa a pensar seriamente no futuro. Tudo o que a pessoa
tinha pensado realizar num futuro próximo, pois todos fazemos projectos mas não sabemos se os
iremos concretizar, desvanece-se. O que dantes era uma dúvida passa a ser uma certeza. Vários
sentimentos acometem os doentes: raiva, frustração, tristeza, insegurança, e muitos outros, que
podem ser ultrapassados se tiverem muito apoio a nível psicológico, sócio-económico e a nível
familiar. A projecção que os doentes têm num futuro próximo relaciona-se com a sobrecarga dos
familiares, pois sabem que irão depender deles. Os doentes ficam deprimidos e precisam de um
incentivo para a vida. Há um sentimento de vergonha e de impotência perante a família. Nesse
sentido, há que tomar medidas para sensibilizar as famílias para lidar com os doentes com
paramiloidose. Os doentes ao terem apoio a todos os níveis certamente que irão ter uma melhoria
na sua QdV.
Todos os doentes têm direito à saúde, mas para estes doentes a saúde está longe de ser
saúde. A progressão da doença é rápida, há exacerbação dos sintomas, o corpo começa a ficar
cansado e a mente deixa de funcionar. Segundo Blanchard131
“as doenças crónicas têm de ser
geridas em vez de curadas”, ou seja, os clínicos devem gerir e tratar os sintomas das doenças
crónicas de modo a aumentar a QdV destes doentes. Grande parte dos doentes não aceita logo o
facto de estar doente e ignoram todos os sinais e sintomas, que a dada altura do estadio da
doença começam a surgir. As suas expectativas relativamente à cura da doença baixam e
diminuem o seu desempenho físico e psicológico132
. Marín considera que o apoio social tem
efeitos benéficos na saúde física e mental das pessoas133
, logo estes doentes devem ser seguidos
por equipas multidisciplinares capazes de lidar com o seu sofrimento.
Estes doentes iniciam uma fase de sofrimento muito cedo quando sabem que no seio
familiar existem outras pessoas com a mesma doença. Constatam que essas pessoas deixam de
131
BLANCHARD, Edward B. (1982) ―Behavioral medicine: past, present and future.‖ J Consult Clin
Psychol, vol.50, nº6, pp.795-796. 132
PIMENTEL, Francisco L.(2006), p.32. 133
MARÍN, Rodriguez J. (1999) Psicología social de la salud, Sintesis Psicologia, p.107.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
52
ter vida própria e que há um aumento gradual de incapacidade física. Desde cedo que existe uma
quebra na QdV destes doentes, pois começam a ter sofrimento psicológico ao verem os outros e
pensando que daqui a algum tempo vão estar na mesma situação. Para outras pessoas que
descobrem pela primeira vez a doença, onde não existe ninguém na família que a manifestasse,
há um abalo psicológico muito grande pois não estão à espera de tão más notícias, persistindo
um sentimento de desilusão.
Então há que solucionar os problemas que estes doentes vão apresentando ao longo da
doença. Por exemplo, os que apresentam um grau elevado de incapacidade física e que não
conseguem trabalhar, outros que apresentam carências económicas, têm de ser ajudados por
entidades competentes para o efeito. Muitas das vezes os doentes são o sustento das suas famílias
e quando deixam de o fazer a QdV dessas famílias diminui drasticamente. O conforto que
poderiam ter acaba. E aí o doente que se via como uma mais valia ao contribuir para o seio
familiar fica desiludido, impotente porque já não pode fazer mais. Nesta fase a família deve
apoiar o doente.
Para estes doentes, ter QdV passa por várias etapas desde o momento em que fazem o
teste genético até à manifestação da doença. Primeiro o doente toma conhecimento da existência
da doença, entra em choque e a seguir passa pelo processo de consciencialização da doença.
Depois há o tratamento dos sintomas mais evidentes (gastrointestinais, alterações cardíacas e
visuais, entre outros) que vão surgindo. Ao tratarem os sintomas melhoram significativamente a
QdV. Ao terem apoio social e psicológico começam a compreender as manifestações da doença
que vão surgindo e tentam adaptar-se.
Aqueles que realizam transplante hepático (única forma de travar a evolução da doença)
melhoram a sua QdV. Nesta fase pós-transplante, a família é o elo mais importante134
. A pessoa,
apesar de doente, já não se vê como um fardo para a família.
Nos doentes que estão numa fase tardia da doença prestam-se cuidados continuados de
modo a terem uma boa QdV até ao fim. A legislação portuguesa contempla a Rede Nacional de
Cuidados Continuados Integrados (RNCCI)135
criada pelos Ministérios do Trabalho e da
Solidariedade Social e da Saúde em 2006136
, que prestam cuidados de saúde e apoio social aos
134
ABRUNHEIRO, Lídia M.M.(2004) ―A satisfação com o suporte social e a qualidade de vida no
doente após transplante hepático.‖ [Em linha]. [Consult. 3 Agosto 2011]. Disponível na WWW:<URL:
http://www.psicologia.com.pt/artigos/textos/A0255.pdf. 135
REDE NACIONAL DE CUIDADOS CONTINUADOS INTEGRADOS [Em linha]. [Consult. 27
Julho 2011]. Disponível na WWW:<URL: http://www.rncci.min-saude.pt/Paginas/Legislacao.aspx. 136
DECRETO-LEI nº101/2006 de 6 de Junho, publicado em Diário da República – I Série A, p.3856-
3865.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
53
doentes em situação de dependência, contribuindo para a sua recuperação e para a melhoria da
QdV.
Para os doentes que se encontram na fase terminal da doença resta prestar-lhes cuidados
paliativos (CP). Os CP137
são prestados pelo Serviço Nacional de Saúde, por equipas
especializadas em regime de internamento ou em regime domiciliário, a doentes que se
encontram em sofrimento devido a doença incurável e/ou rapidamente progressiva, tendo como
objetivo promover o bem-estar e a QdV. Os CP têm como função aliviar ou mitigar o
sofrimento, aliviar os sintomas, prestar apoio psicológico, espiritual e emocional ao doente e à
família.
Em suma, para estes doentes usufruirem de uma boa QdV, mediante o estadio da doença
em que se encontram, devem-se implementar medidas que sejam capazes de combater as lacunas
existentes nas diversas áreas de intervenção.
137
CUIDADOS PALIATIVOS [Em linha]. [Consult. 1 Setembro 2011]. Disponível na WWW:<URL
http://www.min-
saude.pt/portal/conteudos/enciclopedia+da+saude/cuidados+paliativos/cuidadospaliativos.htm
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
54
PARTE II
ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
55
4. METODOLOGIA
A investigação científica remonta há vários séculos, desde o tempo de Aristóteles138
até
aos dias de hoje. Trata-se de um processo dinâmico, um processo de descoberta onde se
adquirem novos conhecimentos. Investigar é um conjunto de acções: procurar, estudar, delinear
projectos, especificar objetivos, recolher dados, obter resultados e tirar conclusões. Existem
vários métodos de realizar investigação139
: investigação-acção, estudo de caso, estilo etnográfico,
inquérito, estilo experimental, inquérito narrativo. Cada um destes métodos apresenta vantagens
e desvantagens mediante o tipo de investigação a efectuar140
.
Da bibliografia consultada encontramos várias definições de investigação científica, todas
elas apontando para a sistematização do processo de investigação e para o rigor científico.
Fortin descreve a investigação científica como sendo “(…) um processo sistemático com
vista a obter respostas para questões precisas (…)”141
, ou seja é um processo activo, com rigor
científico em busca do conhecimento. Esta autora concluiu que “a investigação é um método de
aquisição de conhecimentos”142
. Ora, o conhecimento não é mais do que a procura do saber.
Segundo Kumar143
, investigar significa encontrar respostas para as nossas questões,
seguindo um conjunto de regras inerentes a qualquer tipo de investigação que se relacionam com
os procedimentos, métodos e técnicas que sejam validados e de confiança. A investigação deve
ser objectiva e imparcial144
. Para a WHO145
, a investigação científica tem um papel importante
no âmbito de criar novos conhecimentos e desenvolver ferramentas adequadas para manter a
saúde e combater as doenças.
Neste capítulo iremos abordar o processo da investigação relativamente ao objecto de
estudo, ao método de investigação, à selecção da amostra e ao método de recolha de dados.
138
WHO INVENTED THE SCIENTIFIC METHOD? [Em linha]. [Consult. 11 Agosto 2011] Disponível
na WWW:<URL http://www.experiment-resources.com/who-invented-the-scientific-method.html. 139
BELL, Judith (1993) Como realizar um projecto de investigação, Gradiva, pp.19-29. 140
BELL, Judith (1993), p.32. 141
FORTIN, Marie-Fabienne (2003), O processo de investigação: Da concepção à realização, 3ª edição,
Lusociência, p.17. 142
FORTIN, Marie-Fabienne (2003), p.18. 143
KUMAR, Ranjit (2005), Research methodology: a step-by-step guide for beginners, 2nd
edition,
London: Sage Publications Ltd, p.6. 144
KUMAR, Ranjit (2005), p.6. 145
WORLD HEALTH ORGANIZATION (2001), Health research methodology: a guide for training in
research methods, 2nd
edition, Regional Office for the Western Pacific, p.v.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
56
4.1 Objetivo do estudo
Segundo Fortin146
“o objetivo de um estudo é um enunciado declarativo que precisa as
variáveis-chave, a população alvo e a orientação da investigação segundo o nível dos
conhecimentos estabelecidos no domínio em questão”. Ou seja, o objetivo do estudo é o ponto
central da investigação, é aquilo a que o investigador se propõe alcançar durante as várias fases
da investigação.
Como foi dito anteriormente, a paramiloidose é uma doença crónica, altamente
incapacitante, levando rapidamente à morte. Os doentes com paramiloidose carecem de muitos
cuidados a vários níveis (físico, psicológico, económico, entre outros) e de certeza que estes
fatores irão influenciar a sua QdV.
O nosso trabalho teve como objetivo avaliar se a QdV dos doentes com paramiloidose era
diferente do grupo de participantes ditos normais e verificar em que medida a QdV interferia
com a autonomia dos doentes.
4.2 Tipo de estudo
Existem dois tipos de metodologias utilizadas na investigação: a quantitativa e a
qualitativa. Para Fortin147
o método quantitativo ―é um processo sistemático de colheita de dados
observáveis e quantificáveis‖ que tem por objetivo ―contribuir para o desenvolvimento e
validação dos conhecimentos”. O método qualitativo diz respeito ―à compreensão absoluta e
ampla do fenómeno em estudo”, ou seja, o investigador é um observador que irá interpretar ―o
meio e o fenómeno” sem tentar “controlá-los”.
Para Baptista e Cunha148
, o método quantitativo diz respeito à recolha e ao tratamento de
dados utilizando a análise estatística, tendo este método como objetivos: ―garantir uma maior
precisão na análise e interpretação dos resultados”, enquanto o método qualitativo centra a sua
atenção nas reacções dos investigadores relativamente à recolha e ao tratamento da informação,
bem como, nas características ―subjectivas‖ da investigação e do “comportamento humano”.
146
FORTIN, Marie-Fabienne (2003), p.100. 147
Idem, p.22. 148
BAPTISTA, Sofia G., CUNHA, Murilo B.(2007) ―Estudos de Usuários: visão global dos métodos de
coleta de dados‖, Perspectivas em Ciência da Informação, v.12, nº2, pp.168-184.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
57
Para estes autores o método qualitativo é visto de uma forma holística em relação ao método
quantitativo.
A este propósito, Holloway e Wheeler149
referem que os investigadores quantitativos
focam-se numa área específica e planeiam cada detalhe. Enquanto os investigadores qualitativos
formulam uma questão geral que irão desenvolver ao longo do processo de investigação.
O nosso estudo tem uma componente descritiva onde se faz a análise de uma amostra de
doentes com paramiloidose. Tem também uma componente analítica onde se pretende
quantificar métricas de QdV dessa amostra e compará-las com outras de uma amostra de
controlo constituída por pessoas saudáveis. Trata-se de um estudo transversal porque foca um
grupo representativo da nossa população onde os dados são recolhidos num único momento. De
acordo com Fortin, o nosso estudo situa-se no nível II, porque se trata de ―um estudo descritivo,
onde o investigador descreve os fatores ou variáveis e detecta relações entre estas variáveis ou
fatores. Escolherá (…) métodos de colheita de dados mais estruturados como o questionário
(…).150
De acordo com Fortin151
, ―a complementaridade dos métodos de investigação
quantitativos e qualitativos aumentam a fiabilidade dos resultados”, por um lado a análise
quantitativa fornece dados numéricos objetivos relativamente às variáveis em estudo, para que
sejam generalizáveis a outras populações. Por outro lado, a análise qualitativa consiste em
demonstrar a relação entre os conceitos, as descrições e as explicações entre os participantes e o
investigador relativamente ao fenómeno. Este método onde se juntam as componentes
quantitativas e qualitativas designa-se por ―triangulação dos métodos‖152
.
Denzin153
descreve quatro tipos154
de triangulação: triangulação dos dados, triangulação
dos investigadores, triangulação das teorias e triangulação dos métodos. O nosso estudo reporta-
se à triangulação dos métodos com o uso das duas componentes aquando da colheita dos dados e
do seu tratamento.
149
HOLLOWAY, Immy, WHEELER, Stephanie (2002), Qualitative research in nursing 2nd edition,
Blackwell Publishing, p.29. 150
FORTIN, Marie-Fabienne (2003), p.240. 151
Idem, pp.322-326. 152
FORTIN, Marie-Fabienne (2003), p.322. 153
DENZIN, Norman K. (1989) The research act: A theoretical introduction to sociological methods, 3e
éd. Eglewook Cliffs, N.J.:Prentice Hall cit em FORTIN, Marie-Fabienne (2003), O processo de
investigação: Da concepção à realização, 3ª edição, Lusociência, pp.323-326. 154
Triangulação dos dados: colheita de dados junto de diversas fontes de informação a fim de estudar um
mesmo fenómeno. Triangulação dos investigadores: participação de dois ou mais investigadores no
estudo do mesmo fenómeno e no exame de dados para assegurar uma maior fidelidade dos resultados.
Triangulação das teorias: avaliação das hipóteses ou das teorias concorrentes. Triangulação dos métodos:
utilizar vários métodos de investigação num mesmo estudo.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
58
4.3 Selecção da amostra
Fortin155
define amostra como sendo um ―sub-conjunto de uma população ou de um
grupo de sujeitos que fazem parte de uma mesma população”. Hill e Hill156
definem a amostra
do Universo como sendo ―uma parte dos casos que constituem o Universo”, ou seja, o
investigador irá analisar a amostra seleccionada, recolher dados e tirar ilações para a população
geral. Por isso, a amostra seleccionada deverá ser representativa da população que se quer
investigar.
Para Kumar157
o processo de amostragem diz respeito à selecção da amostra
correspondente a um determinado grupo para se tornar a base de informação relativamente a esse
grupo. A amostra é um sub-grupo da população na qual estamos interessados. Este autor também
nos diz que o processo de selecção da amostra apresenta vantagens e desvantagens. Como
vantagem apresenta economizar tempo, financiamento e recursos humanos. E como
desvantagem diz-nos que não iremos encontrar informação sobre a população em estudo mas
apenas vamos estimar ou predizer acerca dela.
Neste trabalho o universo inquirido foi constituído por duas amostras. Uma amostra
constituída por doentes portadores de paramiloidose e outra constituída por indivíduos normais.
A amostra de doentes foi seleccionada numa população de doentes que frequentaram a consulta
de Paramiloidose, do Hospital Geral de Santo António, no Porto, entre Abril de 2009 e Outubro
de 2009. A amostra foi constituída por 130 doentes provenientes da consulta de Paramiloidose e
que realizaram exames no serviço de Neurofisiologia do mesmo hospital. Na nossa amostra de
doentes os critérios de inclusão foram os seguintes:
1. Apresentarem o diagnóstico de paramiloidose
2. Aceitarem participar no estudo, com uma idade compreendida entre os 25 e os 65
anos (idade de início da sintomatologia da doença e idade até onde é permitido a
realização do transplante hepático), independentemente do género.
Foram excluídos os doentes que não reuniram estas condições. A selecção da amostra dos
indivíduos normais foi recolhida dentro e fora do ambiente hospitalar, de um modo tipo bola de
neve158
, isto é, em forma de rede.
155
FORTIN, Marie-Fabienne (2003), p.202. 156
HILL, Manuela M., HILL, Andrew (2009) Investigação por questionário, 2ª edição, Edições Sílabo,
Lisboa, p.42. 157
KUMAR, Ranjit (2005), p.164. 158
KUMAR, Ranjit (2005), p.179.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
59
A este propósito definimos a selecção da amostra tipo bola de neve como sendo uma
amostra não probabilística que é usada pelos investigadores para identificar potenciais sujeitos
que são difíceis de localizar159
.
O questionário foi passado em mão a um número de indivíduos, que por sua vez
passaram a outros e assim sucessivamente, até perfazerem o número total da amostra. Esta
técnica de amostragem é vantajosa quando se sabe pouco acerca do grupo que queremos estudar,
permitindo-nos apenas ter contacto com um pequeno número de indivíduos que posteriormente
irão ter contacto com o resto dos elementos do grupo160
.
Contudo este processo de selecção da amostra apresenta algumas desvantagens uma vez
que a selecção da amostra propriamente dita irá depender sempre do primeiro grupo a quem
foram passados os questionários. E, se este primeiro grupo pertencer por exemplo a ―uma facção
particular ou se for tendencioso”161
, o resto do grupo também irá ser. Por esta razão, Kumar162
refere que este método de selecção da amostra não deve ser aplicado a um grande grupo.
4.4 Recolha de dados
O instrumento utilizado para a recolha de dados foi o questionário. Segundo Fortin163
,
tanto a entrevista como o questionário “permitem colher informações junto dos participantes
relativamente aos factos, às ideias, aos comportamentos, às preferências, aos sentimentos, às
expectativas e às atitudes. (…) Os questionários podem ser preenchidos pelo participante num
contexto face a face, enviados por correio, levados em mão própria aos participantes ou
enviados para um terminal de computador”.A aplicação do questionário apresenta vantagens ao
nível do tempo e de custos164
e permite um melhor controlo dos enviesamentos165
.
Para Oppenheim166
o questionário não é apenas um conjunto de questões ou um
formulário, mas sim uma ferramenta essencial de medição para colher dados específicos. Os
159
SNOWBALL SAMPLING [Em linha]. [Consult. 14 Agosto 2011] Disponível na WWW:<URL
http://http://www.experiment-resources.com/snowball-sampling.html. 160
KUMAR, Ranjit (2005), p.179. 161
Idem, p.179. 162
KUMAR, Ranjit (2005), p.179. 163
FORTIN, Marie-Fabienne (2003), p.245. 164
Idem, p.245. 165
Idem, p.249. 166
OPPENHEIM, Abraham N. (2000), Questionnaire design, interviewing and measurement, 2nd
edition,
Continuum, p.10.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
60
objetivos e as especificações de cada questionário devem estar directamente ligados à
investigação.
Kumar167
refere que o questionário é uma lista de questões onde as respostas são
efectuadas pelos participantes e que devem ser de fácil leitura e interpretação. O questionário
deve ser desenvolvido num estilo interactivo onde os participantes sintam que estão a ser
questionados por outra pessoa.
No nosso trabalho utilizamos dois questionários, um questionário sócio-demográfico
construído apenas para os doentes, com questões do foro social, demográfico e relacionadas
directamente com a doença.
O questionário sócio-demográfico é constituído por 31 questões relativamente à
habitação, género, profissão, número filhos, TH, sintomas físicos e psicológicos, técnicas de
PMA, situação económica, entre outros (Anexo 3).
O outro instrumento de medição escolhido na realização deste trabalho foi o chamado
questionário SF-36 (Short Form - 36) (Anexo 4), resultado de um estudo de mais de dez anos,
levado a cabo por investigadores da Rand Corporation nos EUA e que foi denominado Medical
Outcomes Study. O SF-36 é um questionário constituído por 36 questões que foi construído
como um indicador genérico do estado de saúde e de qualidade de vida. É um instrumento de
trabalho válido e fiável para a medição da saúde e da perceção que os indivíduos têm do seu
próprio bem-estar e da sua qualidade de vida relacionada com a saúde.
A versão do SF-36 utilizada neste trabalho é a versão portuguesa, desenvolvida e
validada estatisticamente por Pedro Lopes Ferreira168
. José Luís Pais Ribeiro também apresenta o
questionário e o processo de validação em ―O Importante é a Saúde – Estudo de adaptação de
uma técnica de avaliação do Estado de Saúde – SF-36‖. No início do processo de recolha de
dados pediu-se autorização ao Professor Pais Ribeiro para se utilizar a versão do SF-36 presente
no livro acima mencionado, a qual foi concedida.
Milton Severo et al169
analizam e comprovam a fiabiliade e validade das duas medidas
sumárias e mais gerais do SF-36 (componente físico e componente mental).
Os 36 itens do SF-36 distribuem-se por oito sub-dimensões: funcionamento físico,
desempenho físico, dor corporal, perceção geral de saúde, vitalidade, funcionamento social,
167
KUMAR, Ranjit (2005), p.126. 168
FERREIRA, Pedro L. (2000) Criação da Versão Portuguesa do MOS SF-36, Acta Médica Portuguesa,
vol.13, pp.55-66. 169
SEVERO, Milton, SANTOS, Ana C., Lopes, Carla, BARROS, Henrique, (2006) ―Fiabilidade e
validade dos conceitos teóricos das dimensões de saúde física e mental da versão portuguesa do MOS SF-
36‖, Acta Med Port, vol.19, pp.281-288.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
61
desempenho emocional, saúde mental e mais um item de transição de saúde. As oito sub-
dimensões podem por sua vez ser agrupadas em duas dimensões mais gerais de estado de saúde,
fisíca e mental.
O Componente Físico compreende as sub-dimensões funcionamento físico, desempenho
físico, dor corporal e perceção geral de saúde, enquanto o Componente Mental compreende as
sub-dimensões vitalidade, funcionamento social, desempenho emocional e saúde mental.
Se não existir perda relevante de informação poderá ser mais fácil a apresentação e
interpretação dos resultados usando somente as dimensões mais gerais do questionário.
Após a decrição dos questionários, passamos a descrever a recolha de dados propriamente
dita.
Antes da colheita dos dados os questionários foram submetidos à Comissão Ética para a
Saúde do Hospital Geral de Santo António, no Porto, os quais foram aprovados em Março de
2009 (Anexo 1). Realizou-se um pré-teste a cerca de trinta doentes para tentar descobrir alguma
lacuna na sua interpretação, relativamente ao questionário sócio-demográfico, uma vez que o
questionário sobre o estado de saúde já se encontrava validado para a população portuguesa170
.
Como não se constatou qualquer tipo de dúvida no seu preenchimento, prosseguiu-se com a
investigação.
Este procedimento realizou-se da seguinte forma para a amostra de doentes: os doentes
que tiveram consulta de Paramiloidose, diagnosticados com PAF dirigiram-se ao Serviço de
Neurofisiologia para realizarem testes de sensibilidade. Enquanto esperavam que chegasse a sua
vez, ou mesmo no fim do exame, preencheram os questionários. Antes do preenchimento dos
questionários os doente leram o documento informativo sobre a investigação (Anexo 2) e
assinaram o documento do consentimento informado (Anexo 5), que também possuía
informação sobre a investigação, anonimato e confidencialidade sobre a pessoa. A entrega dos
questionários (Anexo 3 e Anexo 4) foi feita pelo investigador e pelos colegas de trabalho do
mesmo que trabalharam na área dos testes de sensibilidade. Os questionários foram preenchidos
individualmente, contudo esteve sempre algum técnico presente caso surgissem dúvidas.
No caso da amostra do grupo participante apenas foi preenchido o questionário sobre o
estado de saúde que foi passado do tipo bola de neve171
. O grupo de participantes também
assinou o documento do consentimento informado (Anexo 6). Uma parte dos questionários foi
entregue a enfermeiros e técnicos do hospital que por sua vez passaram em mão a outros. Outra
170
PAIS RIBEIRO, José L. (2005) O importante é a Saúde. Fundação Merck e Sharp & Dohme, pp.89-
93. 171
A técnica de selecção da amostra tipo bola de neve foi descrita na secção anterior.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
62
parte foi entregue a amigos que por sua vez passaram a outros amigos e familiares até
perfazerem o número total da amostra que coincidisse com a amostra de doentes, que foi de 130
no total.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
63
PARTE III
ENQUADRAMENTO EMPÍRICO
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
64
5. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
5.1 Resultados
No tratamento de dados foram utilizados os programas Minitab 16 e Microsoft Excel.
Mais especificamente o Microsoft Excel no tratamento do questionário sócio-demográfico e o
Minitab no tratamento estatístico do questionário SF-36 e no relacionamento dos dois
questionários entre si. Calculámos estatísticas amostrais descritivas e utilizamos o teste t Student,
correlações de Pearson e análises de variância, uando o Método de Tukey para comparações
múltiplas entre os grupos (testes post-hoc).
Para caracterizar melhor a população portuguesa com paramiloidose foi efectuado um
questionário sócio demográfico a 130 indivíduos com a doença, no Hospital de Santo António.
Na tabela e gráficos seguintes, apresentam-se os resultados desse questionário.
n %
Sexo
Masculino
Feminino
Idade
[25;35[
[35;45[
[45;55[
[55;65]
Estado Civil
casado
solteira
união de facto
divorciado
viúvo
Residência
Braga
Póvoa de Varzim
Barcelos
Vila do Conde
Matosinhos
Vila Nova de Gaia
Outros
47
83
67
46
10
7
84
23
11
7
3
24
18
15
10
7
7
27
36,2
63,8
51,5
35,4
7,7
5,4
64,6
17,7
8,5
5,4
2,3
18,5
13,8
11,5
7,7
5,4
5,4
37,7
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
65
Escolaridade
4ª classe incompleta
4ª classe
2º Ciclo completo
3º Ciclo completo
Secundário
Ensino Superior
Outros
3
15
39
33
12
21
7
2,3
11,5
30,0
25,4
9,2
16,2
5,4
Situação Profissional
Activo
Reformado
Desempregado
Outra
92
16
12
10
70,8
12,3
9,2
7,7
Rendimento Mensal
<450
=450
=900
[900; 1800[
>1800
Tempo de doença
< 6 meses
[6 meses; 2 anos[
[2 anos; 4 anos[
> 4 anos
não sabe
Tempo dos 1ºs sintomas
Sem sintomas
< 6 meses
[6 meses; 2 anos[
[2 anos; 4 anos[
> 4 anos
23
57
28
21
1
5
20
21
83
1
61
6
14
28
21
17,7
43,8
21,5
16,2
0,8
3,8
15,4
16,2
63,8
0,8
46,9
4,6
10,8
21,5
16,2
Tabela 1 – Dados sócio-demográficos da amostra de doentes com paramiloidose
O doente tipo do nosso grupo clínico é mulhe,r com idade entre os 25 e os 35 anos,
casada, com residência no litoral norte de Portugal, com o 2º ou 3º ciclo completo, com uma
situação profissional activa e a ganhar o salário mínimo, que sabe que tem a doença há mais de
quatro anos e que é portadora assintomática.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
66
Gráfico 1 - Considera existir informação suficiente sobre a doença?
Relativamente a esta pergunta os resultados dizem-nos que 35% dos doentes não tem
informação suficiente sobre a doença. Uma das medidas que se pode implementar é a realização
de reuniões ou congressos de modo a divulgar informação sobre a doença, e para os doentes
perceberem o que podem esperar acerca da mesma.
Sim
65%
Não
35%
Considera existir informação suficiente sobre a
doença?
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
67
Gráfico 2 - De que forma obteve informação sobre a doença?
Dos doentes que responderam afirmativamente à questão anterior verificou-se que o
acesso à informação sobre a doença é realizado através do médico da especialidade, o que está de
acordo com as nossas expectativas. Relativamente aos outros meios de divulgação da doença
esperávamos encontrar uma percentagem maior para a informação obtida via internet, uma vez
que, hoje em dia, é o meio mais utilizado para se obter informações. Consideramos que a doença
também poderá ser divulgada através de revistas periódicas e panfletos de modo a alcançar a
população de doentes com paramiloidose.
Médico de
Família
19%
Médico da
Especialidade
47%
Colegas
2%
Internet
11%
Televisão
2%
Livros/revistas
3%
outros
16%
De que forma obteve informação sobre a
doença?
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
68
Gráfico 3 - O que sentiu quando soube que tinha a doença?
Relativamente aos sentimentos que os doentes apresentam quando descobrem que têm a
doença verificamos que é o de tristeza que predomina, com cerca de 40% dos inquiridos.
Surpreendeu-nos o facto que a aceitação surgisse em segundo lugar172
. Esperávamos que este
lugar fosse ocupado pelo sentimento de revolta. Consideramos que estes pensamentos associados
à negatividade têm um impacto elevado na qualidade de vida destes doentes, uma vez que é
muito provável virem a sofrer de depressão.
172
KÜBLER-ROSS, Elisabeth, KESSELER, David (2005) On grief and grieving: finding the meaning of
grief through the five stages of loss, Scribner, p.7. O modelo de Kübler-Ross, mais conhecido pelas cinco
fases do luto, permite compreender o processo de luto como um processo individual, tal e qual é a própria
vida. As cinco fases do luto compreendem a negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. A
passagem por estas fases permite-nos aprender a lidar com a vida e a perda.
Tristeza
40%
Revolta
16%
Culpa
0%
Medo
13%
Aceitação
29%
Outro
2%
O que sentiu quando soube que tinha a doença?
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
69
Gráfico 4 - Que sintomas físicos da doença mais o incomodoram?
A maioria dos inquiridos, cerca de 47%, não conseguiu chegar à conclusão acerca dos
sintomas físicos que mais os afectam. Este facto deve-se à amostra de doentes que na sua maioria
são assintomáticos. Provavelmente, os doentes que apresentam manifestações da doença podem
apresentar todos os sintomas não dando importância a um em particular. Contudo, sabemos pela
nossa experiência que a perda de sensibilidade nas extremidades e o emagrecimento, associado a
perturbações gastrointestinais, são sintomas de perturbação psicológica.
Náuseas/vómitos
4%
Cansaço
19%
Emagrecimento
4%
Deixar de sentir
frio/calor nos pés
10%
Falta de apetite
2% Diarreia
7% Outros
7%
NS/NR
47%
Que sintomas físicos da doença mais o
incomodoram?
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
70
Gráfico 5 - O que mais o preocupa em relação à família?
A maioria dos inquiridos respondeu que o factor ―sobrecarga dos familiares‖ é o que mais
os incomoda. Salientamos mais uma vez a amostra ser constituída maioritariamente por doentes
assintomáticos o que vem mostrar que já manifestam alguma preocupação, caso venham a
desenvolver sintomas. Numa fase avançada da doença os doentes irão com toda a certeza
depender de terceiros devido à natureza específica da paramiloidose. Nestes casos tanto o nível
físico como o psicológico estarão gravemente afectados.
Sobrecarga dos
familiares
58%
Dificuldades
monetárias
17%
Não ser desejado /
Afastamento
2%
Vergonha
2%
Não aceitação do
estado de saúde
5% Outros
1% NS/SR
15%
O que mais o preocupa em relação à família?
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
71
Gráfico 6 - Está inscrito para transplante hepático? Há quanto tempo?
Dos doentes inquiridos 55% não estão inscritos para transplante. Isto poderá dizer duas
coisas: primeiro a nossa amostra de doentes ser maioritariamente assintomática e por este motivo
não serão inscritos para TH. Segundo, podem não querer ser inscritos devidos às possíveis
complicações da cirurgia e de todo o processo envolvente. Enquanto os doentes não
manifestarem sintomas não lhes é sugerido a inscrição para transplante. Dos doentes inscritos
(38%) verificamos que 6% estão à espera há mais de 4 anos, 11% estão entre os 2 e os 4 anos,
13% estão entre 1 e 2 anos e que 8% está à espera há menos de 1 ano. A observação do gráfico 6
permite concluir que o tempo de espera é grande para estes doentes, uma vez que a doença
continua a evoluir.
NS/SR; 9; 7%
Não; 72; 55%
< 1 ano; 10; 8%
[1 ano; 2 anos[; 17;
13%
[2anos; 4 anos[; 14;
11%
> 4 anos; 8; 6%
Sim; 49; 38%
Está inscrito para transplante hepático? Há
quanto tempo?
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
72
Gráfico 7 - Expectativas em relação ao transplante hepático
Nesta pergunta verificamos que apenas 32% dos doentes está consciente que irá manter
as alterações que tinha antes de realizar o TH, que é o que realmente acontece. O TH faz com
que a doença pare a sua evolução. A maior parte dos doentes questionados demonstra assim
falta de informação àcerca dos resultados do TH. 32% dos doentes consideraram que a sua QdV
iria melhorar substancialmente, 5% julgam que os sintomas desaparecerão e 6% pensam que vão
voltar ao seu estado de saúde normal.
32%
32%
5%
6%
25%
Expectativas em relação ao transplante
hepático
Permanecerá com as alterações que
tinha antes de realizar a cirurgia
Qualidade de vida irá melhorar
substancialmente
Os sintomas da doença deixarão de
existir
Vai voltar ao seu estado de saúde
normal antes de saber que tinha a
doença
NS / NR
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
73
Gráfico 8 - A doença e a descendência
Apesar dos doentes terem aconselhamento genético e saberem que a doença é transmitida
à descendência em 50% dos casos (com um dos pais com a doença) ou em 75% dos casos (caso
ambos os pais tenham a doença) isso não impede que 31% dos doentes queira ter filhos e que
dentro destes, 13% já tem filhos e querem ter mais, e 18% não têm filhos e querem ter. Uma
forma de erradicar a doença seria os doentes não terem filhos, mas isto levantaria problemas
éticos graves no âmbito da procriação natural.
Tenho filhos e não
pretendo ter mais
54%
Não tenho filhos e
não pretendo ter
12%
NR
3%
0%
Tenho filhos e
pretendo ter mais
13%
Não tenho
filhos mas
pretendo ter
18% Pretendo ter filhos
31%
A doença e a descendência
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
74
Gráfico 9 - Recorreria a técnicas médicas que lhe permitissem ter filhos saudáveis se o processo não fosse tão
dispendioso?
Cerca de 74% dos doentes respondeu afirmativamente a esta pergunta. O grande
problema desta questão resume-se às técnicas de procriação serem demasiado caras para serem
suportadas pelos próprios doentes.
Gráfico 10 - Alguma vez sentiu discriminação por ser portador da doença?
Sim
74%
Não
18%
NS / NR
8%
Recorreria a técnicas médicas que lhe permitissem ter filhos
saudáveis se o processo não fosse tão dispendioso?
Sim
13%
Não
85%
NS / NR
2%
Alguma vez sentiu discriminação por ser
portador da doença?
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
75
A maior parte dos inquiridos, cerca de 85%, respondeu não se sentir discriminado por ser
portador da doença, enquanto que 13% respondeu sentir-se discriminado. Pensámos que perante
a nossa sociedade a resposta a esta questão iria ser inversa, uma vez que a doença provoca graves
alterações sensitivo-motoras e que levam a uma incapacidade total. No entanto isso não se
verificou com os indivíduos da nossa amostra.
Gráfico 11 - Considera ter disponíveis todos os recursos para ter uma boa qualidade de vida? (caso esteja numa fase
avançada da doença)
Cerca de 58% dos doentes respondeu negativamente a esta pergunta caso se
encontrassem numa fase avançada da doença. Esta questão veio realçar a falta de meios sócio-
económicos que a maioria destas pessoas apresenta. Numa fase avançada da doença os gastos
são imensos pelas razões já apontadas no capítulo 1, embora a legislação contemple o pagamento
de material de apoio.
Fase inicial da
doença / NS /
NR
43%
Sim
42%
Não
58% Fase Avançada
da doença
57%
Considera ter disponíveis todos os recursos
para ter uma boa qualidade de vida? (caso
esteja numa fase avançada da doença)
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
76
Gráfico 12 - Tem capacidade financeira para pagar a instituições/outras pessoas para cuidarem de si?
Como era de esperar cerca de 85% dos inquiridos não têm suporte financeiro para
poderem pagar a instituições (lares, casas de acolhimento) ou mesmo familiares caso precisem
de suporte numa fase avançada da doença. Neste caso deveriam ser implementadas medidas de
ajuda para estes doentes de modo a proporcionar-lhes uma melhoria na sua QdV. Nestes casos os
doentes e seus familiares podem recorrer à ajuda de cuidados continuados ou mesmo dos
cuidados paliativos.
Sim
13%
Não
85%
NS / NR
2%
Tem capacidade financeira para pagar a
instituições/outras pessoas para cuidarem de
si?
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
77
Para se avaliar o impacto da doença na QdV dos doentes realizou-se uma comparação de
médias entre o grupo de controlo e o grupo clínico nas diferentes dimensões do SF-36 e também
nas dimensões sumárias (Tabela 2).
Grupo Controlo
(n = 130)
Grupo Doentes
(n = 130)
t
p
Dimensões do SF-36 M (DP) M (DP)
Funcionamento físico (pergunta 3) 88.35 (16.57) 77.47 (28.08) -3.80 0.000
Desempenho físico (pergunta 4) 87.14 (26.11) 72.20 (40.85) -3.51 0.001
Dor corporal (perguntas 7 e 8) 74.40 (24.36) 76.82 (24.85) 0.79 0.429
Perceção geral de saúde (perguntas 1 e 11) 67.41 (18.86) 55.77 (22.41) -4.53 0.000
Vitalidade (pergunta 9 a, e, g, i) 63.06 (19.18) 59.72 (21.32) -1.33 0.185
Funcionamento social (perguntas 6 e 10) 82.87 (18.91) 83.08 (21.10) 0.08 0.933
Desempenho emocional (pergunta 5) 84.63 (25.55) 72.35 (40.69) -2.91 0.004
Saúde mental (pergunta 9 b, c, d, f, h) 72.93 (18.37) 66.45 (22.50) -2.54 0.012
Dimensões sumárias
Físico 77.92 (15.40) 68.92 (21.76) -3.85 0.000
Mental 71.45 (16.55) 66.74 (19.94) -2.07 0.039
Teste t de Student
Tabela 2 – Comparação de resultados de QdV dos dois grupos nos diferentes domínios
Gráfico 13 – Estatísticas resumidas, histogramas e box-plots das duas dimensões sumárias do SF-36 para cada
grupo.
907560453015
Median
Mean
80,077,575,072,570,067,565,0
1st Q uartile 51,991
Median 73,889
3rd Q uartile 87,569
Maximum 100,000
65,145 72,696
67,778 79,124
19,395 24,779
A -Squared 3,36
P-V alue < 0,005
Mean 68,920
StDev 21,757
V ariance 473,384
Skewness -0,717738
Kurtosis -0,461868
N 130
Minimum 16,667
A nderson-Darling Normality Test
95% C onfidence Interv al for Mean
95% C onfidence Interv al for Median
95% C onfidence Interv al for StDev95% Confidence Intervals
Summary for Componente Físicotipo = doente
907560453015
Median
Mean
85,082,580,077,575,0
1st Q uartile 68,565
Median 81,728
3rd Q uartile 90,185
Maximum 100,000
75,246 80,592
77,307 84,680
13,732 17,544
A -Squared 2,84
P-V alue < 0,005
Mean 77,919
StDev 15,404
V ariance 237,292
Skewness -0,844167
Kurtosis 0,033115
N 130
Minimum 35,556
A nderson-Darling Normality Test
95% C onfidence Interv al for Mean
95% C onfidence Interv al for Median
95% C onfidence Interv al for StDev95% Confidence Intervals
Summary for Componente Físicotipo = normal
907560453015
Median
Mean
75,072,570,067,565,0
1st Q uartile 52,790
Median 69,643
3rd Q uartile 82,143
Maximum 100,000
63,279 70,198
64,286 73,970
17,772 22,706
A -Squared 1,21
P-V alue < 0,005
Mean 66,739
StDev 19,936
V ariance 397,460
Skewness -0,590029
Kurtosis -0,132510
N 130
Minimum 5,357
A nderson-Darling Normality Test
95% C onfidence Interv al for Mean
95% C onfidence Interv al for Median
95% C onfidence Interv al for StDev95% Confidence Intervals
Summary for Componente Mentaltipo = doente
907560453015
Median
Mean
80787674727068
1st Q uartile 60,268
Median 73,214
3rd Q uartile 85,714
Maximum 100,000
68,580 74,323
67,857 78,571
14,750 18,844
A -Squared 1,30
P-V alue < 0,005
Mean 71,452
StDev 16,546
V ariance 273,770
Skewness -0,443011
Kurtosis -0,540229
N 130
Minimum 28,571
A nderson-Darling Normality Test
95% C onfidence Interv al for Mean
95% C onfidence Interv al for Median
95% C onfidence Interv al for StDev95% Confidence Intervals
Summary for Componente Mentaltipo = normal
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
78
O grupo de doentes da amostra apresenta diferenças estatisticamente significativas
quando comparados com o grupo de controlo nas seguintes dimensões do SF36: Funcionamento
físico, Desempenho físico, Perceção geral de saúde, Desempenho emocional e Saúde Mental. As
três primeiras são constituintes da dimensão sumária Componente físico enquanto as duas
últimas são constituintes da dimensão sumária Componente mental. Quanto às dimensões Dor
corporal, Vitalidade e Funcionamento social, os dados das amostras não fornecem evidência
suficiente para se poder concluir se há diferenças entre os dois grupos. Os valores mais baixos
encontram-se nas dimensões Perceção geral de saúde e Saúde Mental.
Restringindo a análise somente às dimensões sumárias verifica-se que há diferenças
estatisticamente significativas nas duas (a um nível de significância de 0,05) e os resultados do
grupo clínico são mais baixos que o grupo de controlo, ou seja, confirma-se que a qualidade de
vida dos doentes com paramiloidose é afetada negativamente pela doença.
Como objetivo adicional deste estudo pretendeu-se analisar a relação entre o questionário
sócio-demográfico e a QdV dos doentes com paramiloidose. Assim, procurou-se identificar
possíveis fatores de variabilidade da QdV nestes doentes. De seguida, analisam-se cada um dos
fatores.
Sexo
Masculino
(n = 47)
Feminino
(n = 83)
t
p
Dimensões do SF36 M (DP) M (DP)
Funcionamento físico (pergunta 3) 78.7 (26.9) 76.8 (28.8) -0.37 0.711
Desempenho físico (pergunta 4) 64.9 (44.4) 76.3 (38.3) 1.48 0.142
Dor corporal (perguntas 7 e 8) 74.1 (29.0) 78.4 (22.2) 0.88 0.380
Perceção geral de saúde (perguntas 1 e 11) 54.4 (24.0) 56.5 (21.6) 0.49 0.626
Vitalidade (pergunta 9 a, e, g, i) 57.8 (22.5) 60.8 (20.7) 0.77 0.446
Funcionamento social (perguntas 6 e 10) 80.9 (24.2) 84.3 (19.2) 0.85 0.398
Desempenho emocional (pergunta 5) 67.4 (43.7) 75.2 (38.9) 1.02 0.312
Saúde mental (pergunta 9 b, c, d, f, h) 66.7 (23.2) 66.3 (22.2) -0.10 0.920
Dimensões sumárias
Físico 67.8 (23.8) 69.5 (20.6) 0.41 0.680
Mental 65.6 (21.7) 67.4 (18.9) 0.48 0.633
Teste t de Student
Tabela 3 - Variabilidade da QdV nos doentes com paramiloidose em função do género
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
79
Gráfico 14 – Box-plots das dimensões sumárias do SF-36 do grupo de doentes, em função do género
Não se pode concluir que a variável Sexo influencie as várias dimensões do SF-36.
Idade
Dimensões do SF36 Coeficiente de correlação P
Funcionamento físico -0.367 0.000
Desempenho físico -0.328 0.000
Dor corporal -0.269 0.002
Perceção geral de saúde -0.300 0.001
Vitalidade -0.241 0.006
Funcionamento social -0.191 0.030
Desempenho emocional -0.271 0.002
Saúde mental -0.134 0.128
Dimensões sumárias
Físico -0.393 0.000
Mental -0.218 0.013
Correlação de Pearson
Tabela 4 – Correlação da variável idade com a QdV no grupo de doentes
Pode-se concluir que a idade está negativamente correlacionada com todas as dimensões
do SF-36 excepto a dimensão Saúde mental, onde não se pode tirar essa conclusão. Quanto
maior for a idade, menor será o resultado de cada dimensão, e por isso menor será a qualidade de
vida.
MasculinoFeminino
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
Sexo
Co
mp
on
en
te F
ísic
o
Boxplot of Componente Físico
MasculinoFeminino
100
80
60
40
20
0
Sexo
Co
mp
on
en
te M
en
tal
Boxplot of Componente Mental
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
80
Escolaridade
4ª Classe
(n = 15)
2º Ciclo
(n = 39)
3º Ciclo / Secund.
(n = 45)
Ens. Superior
(n = 21)
F
p
Dimensões do SF36 M (DP) M (DP) M (DP) M (DP)
Func. físico 58.67 (26.96) 75.06 (29.03) 82.54 (27.61) 90.48 (16.73) 4.81 0.003
Des. físico 44.44 (49.87) 71.65 (38.97) 75.56 (41.11) 94.05 (22.23) 4.78 0.004
Dor corporal 62.13 (29.24) 77.46 (25.53) 77.13 (25.13) 83.14 (19.54) 2.18 0.094
Perc. geral de saúde 45.50 (17.90) 53.62 (22.55) 59.16 (23.35) 60.29 (22.38) 1.81 0.149
Vitalidade 56.78 (22.77) 61.28 (21.88) 57.41 (21.69) 66.90 (18.74) 1.10 0.351
Func. social 85.00 (17.17) 84.29 (20.22) 80.56 (22.70) 85.71 (21.39) 0.41 0.748
Des. emocional 48.89 (45.19) 77.07 (39.08) 76.30 (38.02) 82.54 (37.44) 2.51 0.062
Saúde mental 62.73 (23.50) 72.54 (21.39) 63.91 (23.99 67.05 (21.83) 1.22 0.305
Dimensões sumárias
Físico 53.38 (18.50) 67.31 (21.24) 72.36 (23.73) 78.20 (15.26) 4.55 0.005
Mental 63.05 (17.72) 70.44 (19.49) 64.63 (21.11) 70.49 (20.23) 0.99 0.401
ANOVA
Tabela 5 - Variabilidade da QdV nos doentes com paramiloidose em função da escolaridade
Nas análises realizadas não foram consideradas as categorias ―4ª classe incompleta‖ e
―Outros‖, por terem uma amostra reduzida. Por questões de normalidade da amostra, e por terem
valores semelhantes de média e desvio padrão amostral, associaram-se as categorias ―3º ciclo
completo‖ e ―Secundário‖.
Gráfico 15 – Box-plots das dimensões sumárias do SF-36 do grupo de doentes, em função da escolaridade
Há evidência estatística de diferenças entre as várias categorias escolhidas para a
escolaridade nas dimensões Funcionamento Físico, Desempenho Físico e Dimensão sumária
Física. Ao serem efectuados testes Post-Hoc (método de Tukey) verificou-se que há diferenças
estatisticamente significativas nestas dimensões quando comparando a categoria "4ª classe" com
Ensino Superior4ª classe3º Ciclo completo2º Ciclo completo
100
80
60
40
20
0
Escolaridade
Co
mp
on
en
te M
en
tal
Boxplot of Componente Mental
Ensino Superior4ª classe3º Ciclo completo2º Ciclo completo
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
Escolaridade
Co
mp
on
en
te F
ísic
o
Boxplot of Componente Físico
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
81
as "3º ciclo + Secundário" e "Ensino Superior", sendo que os resultados da "4ª classe" são
inferiores às duas outras classes.
Situação Profissional
Activo
(n = 92)
Desempregado
(n = 12)
Reformado
(n = 16)
Outra
(n = 10)
F
p
Dimensões do SF36 M (DP) M (DP) M (DP) M (DP)
Func. físico 84.20 (23.73) 72.92 (27.51) 47.19 (30.27) 69.44 (31.00) 10.11 0.000
Des. físico 84.42 (33.36) 51.85 (37.48) 29.69 (43.03) 52.22 (46.18) 13.24 0.000
Dor corporal 82.42 (20.10) 73.92 (24.27) 58.13 (26.64) 58.60 (39.23) 7.38 0.000
Perc. geral de saúde 61.80 (20.92) 44.50 (17.67) 37.66 (20.29) 42.70 (19.74) 9.38 0.000
Vitalidade 63.86 (19.74) 55.42 (13.89) 48.02 (24.44) 45.50 (25.98) 4.80 0.003 Func. social 86.55 (19.89) 80.21 (18.81) 70.31 (23.66) 75.00 (22.82) 3.54 0.017
Des. emocional 83.33 (33.70) 44.44 (47.85) 47.92 (42.11) 43.90 (47.62) 9.11 0.000
Saúde mental 70.75 (20.85) 59.67 (20.64) 56.88 (25.41) 50.40 (23.79) 4.48 0.005
Dimensões sumárias
Físico 75.59 (17.81) 61.02 (20.01) 44.39 (19.01) 56.25 (26.43) 15.02 0.000
Mental 71.22 (18.27) 60.27 (15.29) 55.15 (22.63) 51.82 (20.85) 6.34 0.000
ANOVA
Tabela 6- Variabilidade da QdV nos doentes com paramiloidose em função da situação profissional
Gráfico 16 – Box-plots das dimensões sumárias do SF-36 do grupo de doentes, em função da situação profissional
Quanto à variável situação profissional pode-se concluir que há diferenças
estatisticamente significativas entre as quatro categorias em todas as dimensões do SF-36.
Analisando especificamente os resultados das dimensões sumárias, os testes Post-Hoc revelam
que se pode concluir que a categoria ―Activo‖ é diferente da categorias ―Reformado‖ e ―Outra‖
em ambas as dimensões sumárias. Não se podem tirar conclusões quanto a diferenças com a
categoria ―Desempregado‖. A categoria ―Activo‖ tem melhores resultados que as outras duas.
De salientar que estas conclusões têm de ser tomadas com alguma reserva uma vez que as
categorias que não a ―Activo‖ têm reduzida dimensão e podem influenciar erradamente a análise.
ReformadoOutraDesempregadoActivo
100
80
60
40
20
0
Situação Profissional
Co
mp
on
en
te M
en
tal
Boxplot of Componente Mental
ReformadoOutraDesempregadoActivo
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
Situação Profissional
Co
mp
on
en
te F
ísic
o
Boxplot of Componente Físico
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
82
Rendimento
< 450€
(n = 23)
= 450€
(n = 57)
= 900 €
(n = 28)
[900; 1800[
(n = 21)
F
p
Dimensões do SF36 M (DP) M (DP) M (DP) M (DP)
Func. físico 64.49 (25.89) 80.47 (29.81) 80.34 (27.41) 78.66 (24.24) 2.00 0.117
Des. físico 45.65 (43.73) 77.83 (37.26) 73.21 (41.90) 83.33 (36.51) 4.44 0.005
Dor corporal 62.48 (27.96) 81.35 (22.13) 72.68 (23.83) 85.38 (24.19) 4.60 0.004
Perc. geral de saúde 40.98 (20.29) 62.05 (19.56) 49.36 (21.34) 63.62 (24.78) 7.36 0.000
Vitalidade 46.45 (23.43) 63.60 (21.23) 61.49 (17.71) 61.59 (19.67) 3.94 0.010
Func. social 71.74 (23.30) 87.06 (18.89) 84.38 (21.42) 82.74 (21.46) 3.04 0.031
Des. emocional 46.38 (45.77) 80.80 (34.44) 69.05 (43.44) 80.95 (37.37) 4.67 0.004
Saúde mental 49.87 (23.57) 72.91 (20.73) 65.00 (20.00) 69.14 (21.58) 6.59 0.000
Dimensões sumárias
Físico 54.01 (17.93) 73.62 (21.50) 66.92 (22.24) 74.68 (19.33) 5.56 0.001
Mental 51.59 (21.01) 72.03 (18.47) 66.73 (16.48) 69.02 (20.17) 6.57 0.000
ANOVA
Tabela 7- Variabilidade da QdV nos doentes com paramiloidose em função do rendimento profissional
Gráfico 17 – Box-plots das dimensões sumárias do SF-36 do grupo de doentes, em função do rendimento
profissional
Para a variável Rendimento não foi considerada a categoria ―> 1800€‖ por ser constituída
por somente um resultado. A comparação de médias revelou que há diferenças entre os 4
grupos. Através dos testes Post-Hoc podemos concluir que, na componente física, a categoria
―<450€‖ tem piores resultados que as categorias ―= 450€‖ e [900; 1800€[. Na componente
mental podemos concluir que a categoria ―< 450€‖ tem piores resultados que todas as outras
categorias.
=900=450<450[900;1800[
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
Rendimento
Co
mp
on
en
te F
ísic
o
Boxplot of Componente Físico
=900=450<450[900;1800[
100
80
60
40
20
0
Rendimento
Co
mp
on
en
te M
en
tal
Boxplot of Componente Mental
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
83
Estado Civil
Casado
(n = 85)
Divorciado
(n = 7)
Solteiro
(n = 24)
União de facto
(n = 11)
F
p
Dimensões do SF36 M (DP) M (DP) M (DP) M (DP)
Func. físico 73.95 (30.33) 84.46 (21.46) 87.48 (21.51) 85.40 (19.79) 1.92 0.129
Des. físico 71.63 (41.15) 89.29 (28.35) 71.76 (41.25) 86.36 (30.34) 0.82 0.485
Dor corporal 74.95 (26.07) 83.86 (22.79) 79.29 (24.50) 86.18 (15.30) 0.93 0.429
Perc. geral de saúde 54.94 (23.17) 62.00 (24.39) 54.79 (22.54) 62.36 (16.06) 0.54 0.656
Vitalidade 58.31 (22.56) 66.90 (19.73) 62.01 (18.62) 65.00 (18.17) 0.69 0.560
Func. social 83.09 (21.63) 89.29 (15.19) 82.81 (21.75) 84.09 (20.23) 0.19 0.900
Des. emocional 73.40 (40.10) 85.71 (26.23) 66.67 (43.96) 87.88 (30.81) 0.93 0.426
Saúde mental 66.89 (23.58) 72.00 (22.98) 60.83 (20.67) 76.45 (15.64) 1.37 0.257
Dimensões sumárias
Físico 66.93 (22.65) 76.39 (20.12) 72.69 (20.98) 77.09 (13.36) 1.27 0.289
Mental 66.49 (20.85) 73.38 (18.85) 64.71 (18.69) 74.07 (15.27) 0.82 0.486
ANOVA
Tabela 8- Variabilidade da QdV nos doentes com paramiloidose em função do estado civil
Gráfico 18 – Box-plots das dimensões sumárias do SF-36 do grupo de doentes, em função do estado civil
Na análise da variável Estado Civil não há dados estatisticamente significativos que
permitam concluir que há diferenças entre os vários grupos. De notar que não foram
considerados os sujeitos da categoria ―Viúvo‖ por serem somente três e salienta-se também o
facto do baixo número de sujeitos das categorias ―Divorciado‖ e ―União de facto‖ não
corresponder aos requisitos de um teste ANOVA. Assim, a conclusão desta análise teria de ser
sempre tomada com reservas.
uniao de factosolteiradivorciadocasado
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
Estado Civil
Co
mp
on
en
te F
ísic
o
Boxplot of Componente Físico
uniao de factosolteiradivorciadocasado
100
80
60
40
20
0
Estado Civil
Co
mp
on
en
te M
en
tal
Boxplot of Componente Mental
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
84
Tempo dos 1ºs sintomas
Sem sintomas
(n = 61)
Até 2 anos
(n = 20)
[2 anos; 4 anos[
(n = 28)
> 4 anos
(n = 21)
F
p
Dimensões do SF36 M (DP) M (DP) M (DP) M (DP)
Func. físico 89.03 (21.34) 84.25 (22.32) 67.36 (27.25) 50.93 (30.11) 14.97 0.000
Des. físico 89.30 (28.33) 79.86 (32.07) 58.93 (46.75) 32.94 (40.18) 14.87 0.000
Dor corporal 89.62 (18.49) 67.50 (22.43) 71.14 (25.43) 56.05 (22.81) 15.73 0.000
Perc. geral de saúde 69.43 (17.65) 44.35 (14.40) 44.64 (21.12) 41.79 (20.68) 20.94 0.000
Vitalidade 67.19 (21.12) 53.50 (17.55) 54.52 (21.66) 50.87 (18.38) 5.30 0.002
Func. social 87.30 (18.47) 83.13 (21.18) 81.70 (20.55) 72.62 (26.11) 2.67 0.050
Des. emocional 85.25 (31.34) 75.28 (37.22) 64.29 (45.30) 42.86 (46.12) 6.97 0.000
Saúde mental 71.10 (21.73) 59.00 (21.75) 66.00 (22.40) 60.67 (23.77) 2.12 0.101
Dimensões sumárias
Físico 81.90 (14.92) 66.05 (17.34) 59.02 (21.80) 47.16 (17.37) 25.61 0.000
Mental 72.77 (18.51) 61.35 (18.25) 64.05 (21.16) 57.92 (19.59) 4.17 0.007
ANOVA
Tabela 9- Variabilidade da QdV nos doentes com paramiloidose em função do tempo dos primeiros sintomas
Gráfico 19 – Box-plots das dimensões sumárias do SF-36 do grupo de doentes, em função do tempo dos primeiros
sintomas.
Por questões de Normalidade da amostra associaram-se as categorias ―< 6 meses‖ e ―[6
meses; 2 anos[― na categoria ―Até 2 anos‖. Analisando somente as dimensões sumárias pode
concluir-se que há diferenças entre as categorias nas duas dimensões. Os testes Post-Hoc
revelam que na dimensão física há diferenças significativas entre a categoria ―Sem Sintomas‖
(que tem um resultado maior) e as outras três, e também diferenças significativas entre a
categoria ―Até 2 anos‖ e a categoria ―> 4 anos‖, sendo maior o resultado na primeira. Na
dimensão mental há diferenças significativas entre as categorias ―Sem sintomas‖ e ―> 4 anos‖,
sendo o resultado maior na primeira.
sem sintomas> 4 anosAté 2 anos[2a;4a[
100
80
60
40
20
0
Tempo dos 1ºs Sintomas
Co
mp
on
en
te M
en
tal
Boxplot of Componente Mental
sem sintomas> 4 anosAté 2 anos[2a;4a[
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
Tempo dos 1ºs Sintomas
Co
mp
on
en
te F
ísic
o
Boxplot of Componente Físico
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
85
5.2 Discussão dos resultados
O presente estudo permitiu-nos tecer algumas considerações, apresentadas de seguida.
Relativamente ao questionário sócio-demográfico verificámos que a nossa amostra de
doentes concentrou-se na zona litoral Norte, o que é consentâneo com a bibliografia pesquisada.
Verificámos que os doentes estão pouco informados em relação à doença e é
maioritariamente com o médico da especialidade que ficam a saber mais sobre a mesma, o que
vem demonstrar a falta de meios de informação por outros meios de comunicação (ex.revistas,
internet, televisão).
Os sentimentos que os doentes manifestam quando ficam a saber que têm a doença são
revolta e tristeza (56% dos inquiridos). Como a doença atinge o adulto jovem, vai provocar um
impacto negativo a todos os níveis. O indivíduo se estiver activo vai deixar de trabalhar porque
vai ficar incapacitado à medida que a doença progride, o que irá implicar alterações no seio
familiar. A esposa/marido irá obrigatoriamente dedicar-se a tratar o ente querido que já não se
encontra em condições de contribuir financeiramente para o agregado familiar, já não consegue
dar apoio nas tarefas domésticas, tornando-se numa pessoa inválida. A pessoa doente deixa de
ser autónoma passando a depender de terceiros. Deixa de ter liberdade para tomar decisões, pois
quem decide é o cuidador, que irá fazer o que considerar melhor para aquela família. Se
existirem filhos, o ambiente familiar é comprometido, provocando por vezes, situações de
miséria e uma escolaridade irregular e insuficiente173
.
Apesar do sintoma inicial da doença ser a perda da sensibilidade à temperatura, só cerca
de 10% da nossa amostra respondeu que este sintoma foi o que mais os incomodou. Grande parte
da nossa amostra, cerca de 47%, não soube dizer qual era o sintoma que mais os incomodava.
Numa fase intermédia da doença, onde aparecem os sintomas gastrointestinais (falta de apetite,
diarreias, vómitos, náuseas), os doentes ficam muito debilitados e requerem maior suporte por
parte da família e dos profissionais de saúde.
Cerca de 58% dos inquiridos responderam que a sobrecarga dos familiares é uma factor
preocupante. Estes indivíduos ao deixarem de contribuir para o agregado familiar, vão provocar
mais gastos. Nesta situação convém dar apoio à família de modo a adaptar-se às novas alterações
que vão surgindo com o aparecimento das manifestações da doença e tentar ajudá-los a
ultrapassar essas mesmas dificuldades.
173
Jornal da Associação Portuguesa de Paramiloidose (1999) nº23, p.5
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
86
Cerca de 72% dos inquiridos não estão inscritos para TH, o que pode estar relacionado
com a ausência de sintomas da doença na nossa amostra. Por outro lado, os doentes que não
estão inscritos e que apresentam sintomas podem não reunir as condições necessárias para a
realização do mesmo. Actualmente o TH é a melhor solução para travar a doença, contudo
apresenta limitações uma vez que pode haver rejeição do órgão e acarreta o consumo de
medicação prolongada. Um dos problemas associado ao TH é a longa lista de espera (tema
abordado no capítulo 1). Também ficámos a saber que a maioria dos doentes, cerca de 68%, não
sabe o que acontece após o transplante, o que vem demonstrar a falta de informação que estes
doentes apresentam.
Em 1999174
, uma equipa de investigadores do serviço de genética médica da Faculdade
de Medicina do Porto, desenvolveu uma técnica capaz de fazer a selecção de embriões destes
doentes, sem terem a doença. Recorrendo a esta técnica designada por diagnóstico genético pré-
implantatório, a PAF pode ser eficazmente prevenida, travando a sua transmissão à geração
seguinte, o que a longo prazo irá contribuir para o seu desaparecimento. Apesar desta técnica ser
uma solução eficaz apresenta uma desvantagem relacionada com os custos175
. Cerca de 74% dos
doentes responderam que recorreriam a técnicas de PMA se não fossem tão dispendiosas176
. O
total do investimento para se ter um filho saudável ronda os 6000 euros. O Estado Português
comparticipa a 100% todos os tratamentos da paramiloidose, mas esta técnica ainda não está
icluída na participação.
Da nossa amostra de doentes, 85% respondeu não se sentir discriminado por ser portador
da doença. Pensámos que esta percentagem se deveu em parte pelos doentes serem na sua
maioria assintomáticos uma vez que, estando num estadio intermédio da doença, as
manifestações que apresentam deixam-nos debilitados para trabalhar. À partida poderia existir
uma certa discriminação por estas pessoas não serem capazes de realizar em condições normais o
seu trabalho.
Depreendemos do nosso estudo que os doentes não têm capacidade financeira para
suportar os custos que a doença acarreta, caso estejam numa fase avançada da doença,
independentemente do nosso Estado comparticipar material de apoio, desde fraldas a cadeira de
rodas177
. Nesta pergunta verificámos uma incongruência no que diz respeito aos doentes estarem
174
Jornal da Associação Portuguesa de Paramiloidose (1999) nº23, p.3. 175
Jornal da Associação Portuguesa de Paramiloidose (2003) nº32, pp.8-9. 176
Ver a este propósito tabela de preços para actos praticados para a medicina de reprodução em DIÁRIO
DA REPÚBLICA, 1.ª série, N.º 27, 9 de Fevereiro de 2009, p.867. 177
DECRETO REGULAMENTAR nº29/90 de 14 de Setembro - [Em linha]. [Consult. 9 Setembro 2011]
Disponível na WWW: <URL: http://paramiloidose.no.sapo.pt/documentos/Legislacao_PAF.pdf.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
87
numa fase avançada da doença, uma vez que os inquiridos dizem ser na sua maioria
assintomáticos. Talvez tenha havido má interpretação desta pergunta por parte dos mesmos.
Relativamente ao questionário SF-36, os resultados encontrados para a comparação de
médias entre o grupo de doentes e o grupo de participantes saudáveis corroboram a nossa
hipótese que a QdV dos doentes com paramiloidose é afetada negativamente pela doença. Os
resultados evidenciam o impacto negativo tanto a nível físico como a nível mental mais
especificamente nas dimensões Funcionamento físico, Desempenho físico, Perceção geral de
saúde, Desempenho emocional e Saúde mental. Não foi possível provar a influência da doença
nas dimensões Dor corporal, Vitalidade e Funcionamento social sugerindo que, na nossa
amostra, a paramiloidose não parece afetar significativamente estas dimensões. Ao
considerarmos toda a sintomatologia da doença pensámos que a nossa amostra iria também
apresentar diferenças entre os grupos nestas três dimensões, uma vez que a doença é
gradualmente incapacitante. Da pesquisa bibliográfica efetuada verificámos que os doentes com
paramiloidose desenvolvem sentimentos de revolta e de vergonha, fechando-se no seu ambiente.
Seria, portanto, de esperar algum impacto nestas dimensões. A presença de uma grande
percentagem de assintomáticos na amostra do grupo de doentes pode ser o motivo que explique
que não se tenham encontrado diferenças significativas entre os dois grupos.
Tratando-se de uma doença crónica, em que a mobilidade e a sensibilidade dos doentes
vai ser fortemente comprometida, os resultados obtidos para as restantes dimensões físicas do
SF-36, são compreensíveis e esperados.
Relativamente ao Desempenho emocional e Saúde mental, os resultados encontrados
devem-se à debilidade extrema que a doença provoca. Como a doença atinge o adulto jovem, no
auge da vida, é de esperar que estes doentes desenvolvam estados de depressão, ansiedade,
tristeza. Muitos destes jovens doentes ao saberem da doença não podem idealizar o futuro,
porque este é incerto. Os doentes irão rever-se nos seus familiares, caso algum esteja doente ou
que tenha falecido com a doença. São assim compreensíveis os resultados obtidos nestas duas
dimensões.
Neste estudo encontrou-se também uma relação entre algumas variáveis do questionário
sócio demográfico e a QdV dos doentes com paramiloidose. Nomeadamente, a idade, a
escolaridade, a situação profissional, o rendimento e o tempo dos primeiros sintomas, revelaram-
se fatores de variabilidade da QdV no nosso grupo de doentes. A idade influencia negativamente
todas as dimensões do SF-36, à exceção da sáude mental. Quanto à escolaridade, os doentes com
a 4ª classe evidenciam menores resultados na componente física que aqueles com o 3º ciclo ou
mais. Relativamente à situação profissional, o ser ativo parece influenciar positivamente a QdV
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
88
dos doentes com paramiloidose, tendendo esta a ser superior nas duas dimensões sumárias.
Analisando o rendimento é de notar que quem aufere menos que um ordenado mínimo tem
piores resultados que os outros grupos de maior rendimento. Quanto ao tempo dos 1ºs sintomas,
de uma forma geral, é de notar que os doentes com mais de 4 anos desde os primeiros sintomas
têm a tendência de apresentar pior qualidade de vida nas duas dimensões sumárias que os outros
grupos.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
89
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao chegarmos a este ponto considerámos que havia mais para dizer sobre esta doença,
sobre questões éticas que poderiam ser levantadas sobre as técnicas de PMA, reprodução natural
ou mesmo da interrupção voluntária da gravidez, quando os doentes ficam a saber através do
diagnóstico pré-natal se o feto tem ou não a doença.
A PAF é uma doença neurológica, hereditária, autossómica dominante, crónica,
incapacitante, rapidamente progressiva que leva à morte em poucos anos. Pelas suas
características peculiares, provoca graves alterações sensitivo-motoras e autonómicas, deixando
os doentes com um elevado grau de incapacidade até a um estado deplorável. A única forma de
tratamento passa pela realização do TH que trava a evolução da doença, uma vez que é neste
órgão que se dá a síntese da proteína mutada a TTRmet30.
Contudo, esta cirurgia pode trazer várias complicações nomeadamente a rejeição do
órgão, ou tomar imunossupressores o resto da vida para o organismo não rejeitar o órgão.
A forma de garantir uma descendência saudável passaria por estes doentes não terem
filhos, erradicando-se assim a doença. Mas recorrendo às técnicas de PMA é possível estes
doentes terem filhos saudáveis. Todos os casais têm direito a ter filhos, de preferência sem a
doença. Como já dissemos anteriormente, o diagnóstico genético pré-implantatório deveria ser
comparticipado pelo Estado e, assim, os casais realizariam o sonho de serem pais sem terem
filhos doentes, contribuindo a longo prazo para a erradicação da doença. Nexte contexto é a
autonomia do doente que é posta em causa tornando-o de uma certa forma vulnerável, perante
tamanho dilema: ter ou não filhos. Certamente que nenhum pai/mãe quer que o seu filho seja
doente. Cabe a cada um decidir de uma forma livre e esclarecida àcerca deste minucioso assunto,
que tantos problemas acarreta.
No ano de 2007 foi realizado no Hospital Geral de Santo António no Porto e no Hospital
de Santa Maria em Lisboa, um ensaio clínico, Fx005 para testar um medicamento novo, o Fx-
1006A, desenvolvido propositadamente para o tratamento da PAF. Outros países entraram neste
ensaio, nomeadamente: Brasil, Suécia, Espanha, Alemanha, França e Argentina178
. Deste ensaio
mundial resultou a descoberta do medicamento capaz de travar a paramiloidose, o ―Tafamidis‖,
trazendo para os doentes uma nova esperança há muito prometida. Neste momento espera-se a
aprovação da Agência Europeia de Avaliação de Medicamentos, para o ―Tafamidis‖ poder ser
178
Jornal da Associação Portuguesa de Paramiloidose (2007), nº 37, pp.8-9.
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
90
comercializado179
. É de salvaguardar que este medicamento só é eficaz quando tomado numa
fase inicial da doença. Portanto, o que parecia impossível tornou-se realidade. Quase 80 anos
depois da descoberta da PAF, descobriu-se uma possível cura. A comercialização deste
medicamento irá permitir aos doentes viver a sua vida na máxima plenitude, sem terem que viver
com medo de um dia virem a padecer desta doença.
O tema deste trabalho foi escolhido a pensar nestes doentes, uma vez que contactamos
diariamente com eles e ouvimos as suas histórias de vida. Sentimos que havia a necessidade de
lutar por estes doentes e de contribuir de alguma forma para melhorar a sua QdV e a sua
autonomia..
Como em outros estudos, este trabalho também apresentou limitações O facto da nossa
amostra ser maioritariamente constituída por doentes assintomáticos pode ter levado a
conclusões menos corretas. É do nosso entender, que em trabalhos futuros dever-se-á ter mais
cuidado na seleção da amostra.
Consideramos que para estes doentes usufruirem de uma boa QdV e permanecerem
autónomos ao longo da doença é necessário prestar-lhes apoio a vários níveis: físico,
psicológico, sócio-económico e espiritual. Estes doentes necessitam de apoio especializado numa
fase terminal da doença como os cuidados integrados ou mesmo paliativos, dependendo das suas
incapacidades. A família também precisa de ser integrada no contexto da doença de modo a
adaptarem-se às novas transformações que vão surgindo com a progressão da mesma. Portanto,
isto requer a constituição de equipas multidisciplinares, médicos, enfermeiros, psicólogos,
assistentes sociais e muitos outros, capazes de darem resposta a esta comunidade de doentes. É
necessário a criação de novas sedes para receberem os doentes e os seus familiares de modo a
acederem à informação sobre a doença e onde consigam falar com profissionais competentes
para o efeito.
Em suma, temos esperança que este trabalho contribua para a caracterização da QdV dos
doentes com paramiloidose, que auxilie a compreensão dos fatores que influenciam essa QdV e
que ajude na implementação de medidas para a melhoria da QdV destes doentes. Consideramos
que esta investigação se revelou positiva na medida que ajudou a delinear objetivos na mehoria
da QdV destes doentes.
179
TAFAMIDIS [Em linha] [Consult. 10 Setembro 2011]. Disponível na
WWW:<URL:http://www.rcmpharma.com/actualidade/medicamentos/paramiloidose-hospital-de-santo-
antonio-espera-ter-tafamidis-dentro-de-dois.
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Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
101
ANEXOS
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
102
ANEXO 1 – Autorização da entidade hospitalar para a realização da investigação
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
103
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
104
ANEXO 2 – Documento informativo do estudo
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
105
Documento Informativo do Estudo: Qualidade de Vida e Autonomia das Pessoas com
Paramiloidose
Este estudo é conduzido por Mónica Raquel de Oliveira Quintas Freitas no âmbito do seu
Mestrado em Bioética organizado pelo Serviço de Bioética e Ética Médica da Faculdade de
Medicina do Porto e orientado pela Mestre Ivone Duarte. Tem como objetivo avaliar a qualidade
de vida e a autonomia das pessoas com paramiloidose.
Pretende-se avaliar possíveis influências de variáveis sociodemográficas tais como idade,
sexo, área geográfica e nível socioeconómico, e variáveis clínicas por exemplo fase da
progressão da doença na qualidade de vida de pessoas portadoras de paramiloidose.
Neste contexto, não se tratando de um estudo experimental invasivo mas de um estudo
baseado na recolha de dados sociodemográficos e clínicos, não advêm quaisquer tipo de
perigosidade ou riscos físicos. Para os participantes a confidencialidade e o anonimato ficarão
preservados sendo respeitadas todas as medidas necessárias.
Os participantes portadores de paramiloidose responderão aos questionários no Serviço
de Neurofisiologia, após terem realizado os exames às sensibilidades, vibratória, térmica e álgica
(Quantitative Sensory Test - QST), não sendo convocados propositadamente para o estudo. Os
participantes que pertencem ao grupo de controlo sendo oriundos de contexto extra hospitalar
responderão ao questionário oportunamente.
Os dados recolhidos serão tratados através do programa estatístico SPSS.
Pretende-se com este estudo dar um contributo na maior divulgação da influência de
certas doenças crónicas na qualidade de vida das pessoas, de modo a promover intervenções de
diferentes grupos profissionais, que possibilitem uma melhoria da Qualidade de Vida dessas
pessoas.
Muito obrigada pela colaboração.
Mónica Raquel de Oliveira Quintas Freitas
Contacto: [email protected], 932893837
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
106
ANEXO 3 – Questionário sócio-demográfico
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
107
BIOÉTICA
Código_____
Inquérito às pessoas com paramiloidose
Este inquérito é anónimo, voluntário e confidencial. Por favor não escreva o seu nome nas
folhas deste questionário. Destina-se a um estudo académico, elaborado no âmbito do Mestrado
em Bioética da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, e cumpre com todos os
pressupostos éticos relacionados com um trabalho deste tipo.
Marque X na sua resposta
I.Dados Sócio Demográficos
1. Cidade / Freguesia onde vive ______________________
2. Local onde vive
a) Casa própria
b) Casa alugada
c) Casa de familiares
d) Lar
3. Há quanto tempo vive neste local? _______________anos
4. Frequenta Centro de Dia?
Sim Não
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
108
5. Género: Masculino Feminino
6. Idade ____anos
7. Estado civil:
a) Solteiro (a)
b) Casado (a)
c) Viúvo (a)
d) Divorciado (a)
e) União de facto
8. Qual a sua escolaridade?
a) Não frequentou a escola
b) 4ª classe incompleta
c) 4ª classe
d) 2º Ciclo completo (6º ano)
e) 3º Ciclo completo (9º ano)
f) Secundário (12º ano)
g) Ensino Superior
h) Outros__________________
9. Situação do utente:
a) Trabalha no activo
b) Reformado
c) Desempregado
d) Centro de Dia
f) Outra__________________
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
109
10. Rendimento mensal (salário mínimo nacional 450€)
a) Inferior ao salário mínimo nacional (menos que 450€)
b) Salário mínimo nacional (450€)
c) Dois salários mínimos nacional (900€)
d) Entre dois a quatro salários mínimos nacional (900€ a 1800€)
e) Mais do que quatro salários mínimos nacional (mais que 1800€)
11. Agregado familiar
a) Cônjuge
b) Filhos. Quantos? ___
c) Irmãos. Quantos? ___
d) Sobrinhos. Quantos?___
e) Outros. Quais? _____
12. Considera existir informação suficiente sobre a paramiloidose?
Sim Não
13. De que forma teve acesso a essa informação
a) Médico de família
b) Médico da especialidade
c) Colegas
d) Internet
e) Televisão
f) Livros/ Revistas
g) Outros____________
14. Há quanto tempo sabe que tem a doença?
a) Menos de 6 meses
b) Mais de 6 meses
c) Mais de 2 anos
d) Mais de 4 anos
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
110
15 O que sentiu quando soube que tinha a doença?
a) Tristeza
b) Revolta
c) Culpa
d) Medo
e) Aceitação
f) Outro______________________
16. Apresenta sintomas da doença?
Sim Não
17. Há quanto tempo iniciou os primeiros sintomas da doença?
a) Menos de 6 meses
b) Mais de 6 meses
c) Mais de 2 anos
d) Mais de 4 anos
18. Que sintomas físicos da doença mais o incomodaram?
a) Naúseas / vómitos
b) Cansaço
c) Emagrecimento
d) Deixar de sentir frio e calor nos pés
e) Falta de apetite
f) Diarreia
g) Outros________________________
19. Em relação à sua família o que mais o (a) preocupa?
a) Sobrecarga dos familiares
b) Dificuldades monetárias
c) Não ser desejado / Afastamento
d) Vergonha
e) Não aceitação do estado de saúde
f) Outros______________________
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
111
20. No seu agregado familiar quem apresenta sintomas de doença?
a) Cônjuge
b) Filhos
c) Irmãos
d) Sobrinhos
e) Outros. Quais?________
21. Já faleceu alguém na sua família devido a esta doença? Quem?
Sim Não
a) Mãe
b) Pai
c) Filhos
d) Sobrinhos
e) Outros
22. Está inscrito para transplante hepático?
Sim Não
23. Há quanto tempo?
a) menos de 1 ano
b) mais de 1 ano
c) mais de 2 anos
d) mais de 4 anos
24. Considera que ao realizar transplante hepático
a) a sua qualidade de vida irá melhorar substancialmente
b) os sintomas da doença deixarão de existir
c) vai voltar ao seu estado de saúde normal antes de saber que tinha a doença
d) permanecerá com as alterações que tinha antes de realizar a cirurgia
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
112
25. Qual a sua situação?
a) tenho filhos e pretendo ter mais
b) tenho filhos e não pretendo ter mais
c) não tenho filhos mas pretendo ter
d) não tenho filhos e não pretendo ter
26.Recorreria a técnicas médicas que lhe permitissem ter filhos saudáveis se o processo não
fosse tão dispendioso?
Sim Não
27. Alguma vez se sentiu discriminado por ser portador desta doença? (p.ex. na procura de
emprego)
Sim Não
28. Caso esteja numa fase avançada da doença, considera ter disponíveis todos os recursos
para ter uma boa qualidade de vida?
Sim Não
29. Sente dificuldade na realização das suas actividades de vida diárias?
Sim Não
a) Andar
b) Tomar banho
c) Vestir-se
d) Comer
e) Outra______________
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
113
30. Existe alguém na sua família que possa cuidar de si quando não conseguir realizar as
suas actividades? Quem?
Sim Não
a) Cônjuge
b) Filho
c) Irmãos
d) Outro_____________
31. Possui capacidades financeiras para pagar a alguém ou a alguma instituição que cuide
de si, se não existir nenhum familiar que o possa fazer?
Sim Não
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
114
ANEXO 4 – Questionário sobre o estado de saúde
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
115
BIOÉTICA
CÓDIGO_______________
QUESTIONÁRIO DO ESTADO DE SAÚDE (SF-36)
INSTRUÇÕES: As questões que se seguem pedem-lhe opinião sobre a sua saúde, a forma como
se sente e sobre a sua capacidade de desempenhar as actividades habituais.
Pedimos que leia com atenção cada pergunta e que responda o mais honestamente possível. Se
não tiver a certeza sobre a resposta a dar, dê-nos a que achar mais apropriada e, se quiser,
escreva um comentário a seguir à pergunta.
A MINHA SAÚDE
Para as perguntas 1 e 2 por favor coloque um círculo
no número que melhor descreve a sua saúde.
1. Em geral, como diria que a sua saúde é:
Óptima........................................................................1
Muito boa....................................................................2
Boa..............................................................................3
Razoável......................................................................4
Fraca............................................................................5
2. Comparando com o que acontecia há um ano, como descreve, o seu estado geral actual:
Muito melhor...............................................................1
Com algumas melhoras...............................................2
Aproximadamente igual............................................. 3
Um pouco pior............................................................4
Muito pior...................................................................5
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
116
3. As perguntas que se seguem são sobre actividades que executa no seu dia a dia. Será que a
sua saúde o/a limita nestas actividades? Se sim, quanto?
(Por favor, assinale com um círculo um número em cada linha)
SIM, MUITO
LIMITADO/A
SIM, UM
POUCO
LIMITADO/A
NÃO, NADA
LIMITADO/A
A. Actividades violentas, tais como correr, levantar pesos,
participar em desportos violentos.........................................
1
2
3
B. Actividades moderadas, tais como deslocar uma mesa
ou aspirar a casa....................................................................
1
2
3
C. Levantar ou carregar as compras da mercearia.............. 1 2 3
D. Subir vários lanços de escada......................................... 1 2 3
E. Subir um lanço de escada................................................ 1 2 3
F. Inclinar-se, ajoelhar-se ou abaixar-se............................... 1 2 3
G. Andar mais de 1 Km....................................................... 1 2 3
H. Andar vários quarteirões............................................... 1 2 3
I. Andar um quarteirão....................................................... 1 2 3
J. Tomar banho ou vestir-se sozinho.................................. 1 2 3
4. Durante as últimas quatro semanas teve no seu trabalho ou actividades diárias algum dos
problemas apresentados a seguir como consequência do seu estado de saúde física?
(Por favor em cada linha ponha um círculo à volta do número 1 se a sua resposta for sim,
ou à volta do número 2 se a sua resposta for não)
SIM NÃO
A. Diminuiu o tempo gasto a trabalhar, ou noutras actividades.............. 1 2
B. Fez menos do que queria..................................................................... 1 2
C. Sentiu-se limitado no tipo de trabalho ou outras actividades.............. 1 2
D. Teve dificuldade em executar o seu trabalho ou outras actividades
(por exemplo, foi preciso mais esforço)...................................................
1
2
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
117
5. Durante as últimas quatro semanas, teve com o seu trabalho ou com as suas actividades
diárias, algum dos problemas apresentados a seguir devido a quaisquer problemas
emocionais (tal como sentir-se deprimido/a ou ansioso/a)?
(Por favor em cada linha ponha um círculo à volta do número 1 se a sua resposta for sim,
ou à volta do número 2 se a sua resposta for não)
SIM NÃO
A. Diminuiu o tempo gasto a trabalhar, ou noutras actividades............... 1 2
B. Fez menos do que queria..................................................................... 1 2
C. Não executou o seu trabalho ou outras actividades tão
cuidadosamente como era costume..........................................................
1
2
Para cada uma das perguntas 6, 7 e 8 por favor ponha um círculo no número que melhor
descreve a sua saúde.
6. Durante as últimas 4 semanas, em que medida é que a saúde física ou problemas
emocionais interferiram com o seu relacionamento social normal com a família, amigos,
vizinhos ou outras pessoas?
Absolutamente nada.......................................................1
Pouco............................................................................. 2
Moderadamente............................................................. 3
Bastante......................................................................... 4
Imenso........................................................................... 5
7. Durante as últimas 4 semanas teve dores?
Nenhumas......................................................................1
Muito fracas...................................................................2
Ligeiras..........................................................................3
Moderadas.....................................................................4
Fortes.............................................................................5
Muito fortes...................................................................6
8. Durante as últimas 4 semanas, de que forma é que a dor interferiu com seu o trabalho
normal (tanto o trabalho fora de casa como o trabalho doméstico)?
Absolutamente nada......................................................1
Um pouco......................................................................2
Moderadamente.............................................................3
Bastante.........................................................................4
Imenso...........................................................................5
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
118
9. As perguntas que se seguem pretendem avaliar a forma como se sentiu e como lhe
correram as coisas nas últimas quatro semanas.
Para cada pergunta, coloque por favor um círculo à volta do número que melhor descreve
a forma como se sentiu.
Certifique-se que coloca um círculo em cada linha.
Quanto tempo nas últimas quatro
semanas
SEMPRE A MAIOR
PARTE DO
TEMPO
BASTANTE
TEMPO
ALGUM
TEMPO
POUCO
TEMPO
NUNCA
A. Se sentiu cheio/a de vitalidade?..... 1 2 3 4 5 6
B. Se sentiu muito nervoso/a?............ 1 2 3 4 5 6
C. Se sentiu tão deprimido/a, que
nada o/a animava?.............................. 1 2 3 4 5 6
D. Se sentiu calmo/a e tranquilo/a?.... 1 2 3 4 5 6
E. Se sentiu com muita energia?........ 1 2 3 4 5 6
F. Se sentiu triste e em baixo?............ 1 2 3 4 5 6
G. Se sentiu estafado/a?...................... 1 2 3 4 5 6
H. Se sentiu feliz?............................... 1 2 3 4 5 6
I. Se sentiu cansado/a?........................ 1 2 3 4 5 6
10. Durante as últimas quatro semanas, até que ponto é que a saúde física ou problemas
emocionais limitaram a sua actividade social (tal como visitar amigos ou familiares
próximos)?
Sempre...........................................................................1
A maior parte do tempo.................................................2
Algum tempo.................................................................3
Pouco tempo..................................................................4
Nunca.............................................................................5
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
119
11. Por favor, diga em que medida são verdadeiras ou falsas as seguintes afirmações.
(Por favor assinale um número em cada linha)
TOTALMENTE
VERDADE
VERDADE NÃO
SEI
FALSO TOTALMENTE
FALSO
A. Parece que adoeço mais facilmente do que os
outros......................................................................
1 2 3 4 5
B. Sou tão saudável como qualquer outra pessoa... 1 2 3 4 5
C. Estou convencido/a que a minha saúde vai
piorar........................................................................
1 2 3 4 5
D.A minha saúde é óptima..................................... 1 2 3 4 5
Muito obrigada pela sua colaboração!
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
120
ANEXO 5 – Consentimento informado dos doentes
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
121
Consentimento Informado
QUALIDADE DE VIDA E AUTONOMIA DAS PESSOAS COM PARAMILOIDOSE
Este estudo é conduzido por Mónica Raquel de Oliveira Quintas Freitas, Técnica de
Neurofisiologia do Centro Hospitalar do Porto (Hospital Geral de Santo António), no âmbito do
seu Mestrado em Bioética organizado pelo Serviço de Bioética e Ética Médica da Faculdade de
Medicina do Porto e orientado pela Mestre Ivone Duarte. Tem como objetivo avaliar a qualidade
de vida e a autonomia das pessoas com paramiloidose.
Para tal é necessário responder a dois questionários que incluem questões relacionadas
com aspectos sociodemográficos e clínicos dos participantes. O tempo de preenchimento
previsto não ultrapassará, em média, os vinte minutos.
O preenchimento dos questionários será efectuado no Serviço de Neurofisiologia do
Centro Hospitalar do Porto – Unidade: Hospital Geral de Santo António – após o participante ter
efectuado exames de rotina relacionados com a avaliação de sensibilidades.
Não se tratando de uma investigação experimental de tipo invasivo, mas apenas de um
estudo baseado na recolha de dados sociodemográficos e clínicos, não apresenta qualquer tipo de
perigosidade ou dano para o participante. Todos os dados relativos à identificação dos
participantes serão confidenciais. A participação é voluntária e o participante poderá desistir do
preenchimento dos questionários em qualquer momento sem qualquer tipo de penalização.
Este estudo pretende contribuir para uma maior divulgação da influência da
paramiloidose na qualidade de vida e na autonomia das pessoas com esta doença.
______________________________________________________________________
Declaro que li e compreendi a informação que me foi dada, tive oportunidade de fazer
perguntas e as minhas dúvidas foram esclarecidas.
Aceito participar de livre vontade no estudo acima mencionado.
Também autorizo a divulgação dos resultados obtidos no meio científico, estando
garantida a confidencialidade.
Nome do participante no estudo
_______________________________ Data:_________
Nome do investigador responsável
_______________________________Data:__________
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
122
ANEXO 6 – Consentimento informado do grupo participante
Qualidade de Vida e Autonomia dos doentes com Paramiloidose
123
Consentimento Informado
QUESTIONÁRIO SOBRE O ESTADO DE SAÚDE
Este estudo é conduzido por Mónica Raquel de Oliveira Quintas Freitas, Técnica de
Neurofisiologia do Centro Hospitalar do Porto (Hospital Geral de Santo António), no âmbito do
seu Mestrado em Bioética organizado pelo Serviço de Bioética e Ética Médica da Faculdade de
Medicina do Porto e orientado pela Mestre Ivone Duarte. Tem como objetivo avaliar a qualidade
de vida e a autonomia das pessoas com paramiloidose.
Esta investigação inclui um grupo de controlo constituído por pessoas que não tenham
nenhuma doença crónica progressiva transmissível. Para tal, é necessário responder a um
questionário que inclui questões relacionadas com o estado de saúde das pessoas. O tempo de
preenchimento previsto não ultrapassará, em média, os quinze minutos.
Todos os dados relativos à identificação dos participantes serão confidenciais. A
participação é voluntária e o participante poderá desistir do preenchimento do questionário em
qualquer momento sem qualquer tipo de penalização.
Este estudo pretende contribuir para uma maior divulgação da influência da
paramiloidose na qualidade de vida e na autonomia das pessoas com esta doença.
______________________________________________________________________
Declaro que li e compreendi a informação que me foi dada, tive oportunidade de fazer
perguntas e as minhas dúvidas foram esclarecidas.
Aceito participar de livre vontade no estudo acima mencionado.
Também autorizo a divulgação dos resultados obtidos no meio científico, estando garantida a
confidencialidade.
Nome do participante no estudo
_______________________________ Data:_________
Nome do investigador responsável
_______________________________Data:__________