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Quando avaliar é também um aprendizado para os alunos

Marcela Fejes e Monique SianGouw

Núcleo de Divulgação e Educação Ambiental do Cepema -Universidade de São Paulo, SP, Brasil

e-mail: [email protected] , [email protected]

H. Evaluación en un contexto CTS

Introdução

Habilidades mobilizadas

Na posição de mediador, o professor pode mobilizar diversas habilidades nos alunos que nem sempre são trabalhadas no ensino tradicional. Formular perguntas científicas, propor, avaliar e comunicar explicações são experiências importantes para programas de ciências nas escolas (Olson & Loucks-Horsley, 2000). Uma das opções é despertar o interesse para uma participação da avaliação do conhecimento científico. Diversos autores - como Olson e Loucks-Horsley (2000), Spektor- Levy, Eylon e Scherz (2009) - avaliaram o impacto das habilidades de Comunicação Científica na performance de alunos, durante tarefas de alfabetização científica . Foi constatado que alunos dos grupos de intervenção planejada para habilidades científicas obtiveram performances muito melhores em todas as categorias (conhecimento, habilidades científicas, qualidade de produto final e escore final) em comparação ao grupo que não recebeu nenhuma instrução para desenvolver habilidades científicas.

As habilidades de comunicação e aprendizagem podem ser estimuladas tanto em ambientes formais como não formais. De acordo com Almeida (1997), o contato com espaços não formais proporciona não apenas a transmissão de conteúdos, mas a aprendizagem de elementos cognitivos e afetivos, uma vez que esta experiência gera interesse e motivação para a aprendizagem de temas tratados. Sendo assim, em ambientes não formais, como em encontros de estudantes, os alunos entram em contato com uma realidade diferente do seu cotidiano onde podem vivenciar e participar ativamente, por exemplo,avaliando o processo e produto de suas próprias pesquisas e de outras pesquisas desenvolvidas por outros colegas. Outro aspecto importante em eventos sobre investigação científica é a oportunidade que o aluno tem de relacionar seus trabalhos de investigação ambiental com a ciência e a sociedade que está inserido.

A importância das estratégias de avaliação

Os métodos de avaliação têm papel fundamental no processo de aprendizagem. No ensino tradicional, a avaliação mede apenas a competência do aluno em memorizar e repetir informações transmitidas durante as aulas e, por isso, é

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necessário propor uma avaliação mediadora dos processos de ensino e aprendizagem para encorajar e reorganizar o saber, sendo a avaliação um instrumento de aprendizagem (Carvalho, Vannuchi, Barros, Gonçalves, Casal de Rey, 1998). Quando os alunos fazem parte do processo de avaliação, eles têm uma nova oportunidade de aprender e para os professores, este momento, pode ser um novo instrumento de avaliação. A aprendizagem também pode ser melhorada através da “avaliação autêntica”. De acordo com Moreno (2003), esta forma de avaliação pretende desenvolver estratégias pedagógicas diferenciadas e reorientar o trabalho escolar para um modelo focado em atividades de exploração, de busca de informações, de construção e comunicação de novos conhecimentos e competências por parte dos alunos. Portanto, um ensino mais participativo, com novas alternativas de avaliação, em que os alunos avaliam seus colegas ou se autoavaliam, resultando em uma aprendizagem mais eficiente, visto que reforça e desenvolve novas habilidades nos alunos.

Para uma melhoria da aprendizagem, é fundamental o desenvolvimento de atividades metacognitivas que permitam usar diversas estratégias de aprendizagem. Uma delas é a capacidade de avaliar a própria execução cognitiva (habilidade metacognitiva) e, portanto, a capacidade de reflexão sobre o modo de aprendizagem e a auto-regulação do próprio processo de aprendizagem (Arceo & Rojas, 1999). De acordo com Burón (1999), a metacognição é um conhecimento de nossas cognições e nossos processos mentais. Desta forma, a auto-avaliação mostra-se como uma estratégia de aprendizagem efetiva, uma vez que desenvolve a habilidade metacognitiva.

O contexto: III Encontro Juvenil

O III Encontro Juvenil de Investigadores de Ciências em Cubatão se realiza anualmente com a participação de alunos de diferentes escolas que apresentam, neste espaço, os resultados de suas atividades investigativas realizadas ao longo do ano letivo. Os trabalhos apresentados foram investigações relacionadas com diversos temas ambientais, nos quais os alunos tentaram responder a partir de suas próprias experiências sobre problemas relacionados à sua comunidade.

Algumas atividades avaliativas, incluindo uma auto avaliação, foram planejadas para este encontro com a finalidade de favorecer uma maior concentração dos participantes, além de estimular os alunos a avaliar seus colegas neste espaço não formal. Os alunos, na posição de ouvintes, preenchiam uma planilha avaliativa sobre as apresentações ao longo do encontro. Além disso, aqueles alunos que apresentaram puderam assumir a postura e prática de uma pesquisador, tendo a oportunidade de vivenciar as últimas etapas de uma pesquisa científica: a comunicação e a divulgação.

Um dos aspectos diferenciais do III Encontro Juvenil de Investigadores em Ciências de Cubatão foi a auto avaliação realizada pelos participantes sobre as avaliações de seus colegas e sobre as suas habilidades cognitivas. Deste modo, os alunos avaliaram suas vivências. Nesta perspectiva, este estudo pretende analisar se alunos, em espaços não formais de ensino, conseguem mobilizar habilidades que, normalmente, não aparecem evidentes no processo de ensino/aprendizagem na escola, quando devem avaliar as apresentações científicas de seus colegas.

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Metodologia

A metodologia da pesquisa utilizada é baseada nos propósitos da pesquisa qualitativa na qual a fonte de informações é o ambiente natural, onde o investigador é o instrumento principal, a investigação é descritiva, a pesquisa é mais focada no processo do que os resultados, a análise é indutiva e a importância do significado para o participante é valorizada (Bogdan &Biklen, 1994).

O III Encontro Juvenil de Investigadores de Ciências de Cubatão, organizado pelo Núcleo de Educação e Divulgação (NED) do CEPEMA-USP (Centro de Capacitação e Pesquisa em Meio Ambiente da Universidade de São Paulo), reuniu cento e treze alunos, quinze professores e oito escolas (Ume - Usina Henry Borden, Ume - Mário de Oliveira, Ume Rui Barbosa, Ume - Martim Afonso de Souza, Ume Bernardo José Maria de Lorena, PJ Mais, Ensino Técnico de Cubatão e SESI Cubatão). Os alunos foram representantes de suas escolas, sendo alguns alunos de cada sala. Não foi possível que todos os alunos das escolas participassem devido à limitação do espaço físico do auditório do Cepema.

Os alunos participantes deste evento foram de vários seguimentos de ensino das escolas da rede pública (Ensino Fundamental II, Escola técnica, Ensino de Jovens e Adultos (EJA) e PJ mais). Eles participaram de um projeto desenvolvido pelo CEPEMA denominado “Investigações Ambientais na Escola”. Este Centro implementa projetos investigativos colaborativos nas escolas na área de ciências, em diversos níveis educacionais, para introduzir os alunos ao mundo da investigação, com estímulo e prática de metodologias e processos científicos. Os projetos investigam situações simples do cotidiano nas áreas da química, biologia e física (Fejes, Santos, Calil, Franzolin, Morita, & Tolentino Neto 2004). As escolas têm disponível um espaço de diálogo e uma base de dados com os resultados das pesquisas no site elaborado para esta finalidade (www.cepema.usp.br/investiga).

Este evento foi organizado da seguinte forma: durante o turno matutino, ocorreram as apresentações dos alunos das escolas municipais no auditório do CEPEMA e a aplicação de uma avaliação sobre o Projeto Investigações Ambientais na Escola durante o ano de 2011, que foi realizada em grupos integrando alunos de diversas escolas em cada grupo. Durante o turno vespertino, apresentaram as escolas estaduais e duas instituições sociais que prestam serviços educacionais comunitários e, logo após, houve uma socialização e uma avaliação final do dia entre todos os participantes de forma coletiva. As apresentações dos trabalhos foram realizadas através de exposições orais, teatral e corporal (dança).

Como um dos principais propósitos do III Encontro Juvenil foi possibilitar uma participação mais ativa dos alunos durante a apresentação dos colegas e que este momento fosse também para eles um momento de aprendizagem, foram planejadas diversas atividades em que os alunos deveriam avaliar a seus colegas, e comentar como eles vivenciaram o seu próprio processo de avaliação. Para isto, foram criados instrumentos específicos de avaliação. O primeiro deles ( Questionário 1 ) tinha como objetivo verificar a análise dos alunos sobre a apresentação do trabalho dos colegas. Ao realizar a avaliação dos apresentadores, os alunos ouvintes deveriam reconhecer ou identificar título e autores da apresentação; os assuntos tratados e informações novas. Além disso, deveriam ser capazes de sintetizar as ideias principais apresentadas e analisar o seu próprio entendimento dos conteúdos. Deste modo, os alunos poderiam perceber se os apresentadores conseguiram tornar claro os processos de investigação científica. Também deveriam adicionar questões para serem investigadas e aplicar o aprendizado em futuras pesquisas deles.

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Questionário 1

ATIVIDADE: AVALIANDO APRESENTAÇOES DOS COLEGAS

Título da apresentação

Escola/série

O que está sendo investigado nesta

pesquisa?

O que você gostaria de perguntar aos autores

da pesquisa apresentada?

Tente fazer um resumo da apresentação

Como pode qualificar a apresentação? Coloque uma X na sua resposta

Não Mais o menos Sim

Foi fácil de entender

Aprendeu coisas novas?

O segundo questionário (Questionario 2 ) visava explorar como os alunos se sentiram avaliando a seus colegas. As perguntas estavam relacionadas à análise do aluno sobre a sua concentração, entendimento do problema, capacidade de síntese, aprendizado, habilidade para tomar nota do assunto adequadamente, interesse, capacidade de questionamento e formação de novas ideias.

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Nome do aluno: Escola: Objetivos: Tentar favorecer boas práticas nos alunos , quando eles assistem e escutam apresentações de colegas

• reconhecer o título e os autores da apresentação

• identificar os assuntos tratados durante a apresentação, problemas e soluções

• resumir as informações apresentadas

Recomendações para os alunos :Para estar mais atento às apresentações que você acompanhará , preencha uma tabela para cada uma delas, enquanto os colegas apresentam suas pesquisas.

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Questionário 2

ATIVIDADE: AVALIANDO COMO OS ALUNOS SE SENTEM COM AS APRESENTAÇÕES DOS COLEGAS

Recomendações para os alunos: Para poder avaliar e reconhecer a sua postura durante uma tarefa, saber se seu esforço foi adequado e se deve mudar alguma coisa, é interessante que você avalie como se sentiu durante as apresentações de seus colegas.

Durante as apresentações, eu:Coloque um valor de 1 – 5, sendo

que 1 representa “ pouco” e 5 representa “muito” e os valores 2, 3

e 4 são intermédiários

Pude resumí-la

Entendi o problema

Me concentrei

Tomei nota adequadamente

Fiquei interessado

Aprendi

Consegui fazer uma pergunta

Tive novas idéias para acrescentar ao trabalho dos colegas

Tive novas idéias para meu trabalho

Resultados e discussão

a. Os alunos avaliam seus colegas

a.1. De modo geral

Considerando todas as apresentações como um conjunto podemos visualizar na Tabela 1, os resultados do Questionário 1. Eles revelam que a maioria dos alunos identificou o título e os autores dos trabalhos expostos, porém menos da metade deles conseguiu sintetizar as informações. A dificuldade em elaborar um resumo, relatada pelos alunos, pode estar relacionada ao tempo curto disponível para responder o questionário durante cada apresentação ou também devido à falta de habilidade para

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Nome do aluno : Escola:

Tempo da atividade: 10 MIN

Objetivos: Tomar consciência sobre uma tarefa de avaliação e de como auto avalia suas posturas no processo de ensino aprendizagem

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sintetizar informações. Uma grande parte dos alunos afirmou que aprendeu novos conteúdos durante as apresentações, identificou os assuntos tratados e apresentou facilidade no entendimento das apresentações.

Tabela 1. Porcentagem do total de alunos

Itens

Porcentagem de alunos que responderam

SIM

Número total de alunos que

responderam SIM

Conseguiu reconhecer título e autores?

81% 294

Identificou os assuntos tratados? 64% 232

Resumiu as informações apresentadas?

43% 156

Foi fácil de entender? 61% 203

Aprendeu novas informações? 68% 225

a. 2. Cada apresentação avaliada

Na análise dos resultados das avaliações dos alunos por apresentação, foi possível verificar o que eles opinaram de cada uma delas, sendo este um elemento importante para que cada grupo pudesse saber como a sua apresentação era percebida pelo público. Na Tabela 2, foram colocadas as avaliações que os alunos fizeram de cada uma das apresentações. Através desta atividade, foi possível medir como os alunos conseguiram aproveitar o momento de escutar cada uma das apresentações durante o evento, além de propiciar uma maneira de analisar o trabalho dos colegas atentamente. A apresentação intitulada “Projeto plantas bioindicadoras de poluição do ar” se destacou dentre todas, pois mais de 70% dos alunos conseguiram responder quatro das cinco questões propostas. Estes alunos definiram título e autores, identificaram assuntos abordados, consideraram de fácil entendimento e afirmaram que aprenderam novas informações. Portanto, pode ser considerado que o rendimento dos alunos foi maior durante esta apresentação ou que a apresentação foi muito bem realizada.

Em outras seis apresentações (Profissionais do Futuro, (Re) Conhecendo o meio ambiente, Ecologia das águas; Nosso Universo, Poluição industrial de Cubatão, Projeto investigações ambientais: temas de Agenda 21 do Lorena; Química: qualidade da água e Projeto Crescer), também foi averiguado que o rendimento foi bom. Durante estas apresentações, mais de 70% dos alunos conseguiram responder ou realizar três atividades .

Em duas apresentações (Vale Verde ecologicamente sustentável e Cubatão sustentável) foi evidente a dificuldade apresentada na identificação dos assuntos tratados, visto que menos da metade dos alunos conseguiram reconhecer os conteúdos.

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A dificuldade de síntese das informações foi constatada na maioria das apresentações, uma vez que menos da metade dos alunos resumiram os dados expostos. Esta situação pode ser resultado ou das dificuldades para sintetizar informações ou do tempo destinado para realizar esta atividade que não foi suficiente. Apenas em três apresentações mais de 63% dos alunos conseguiram fazer uma síntese adequada.

. Tabela 2. Avaliação dos estudantes sobre as diversas apresentações do Encontro

TemasIdentificou

título e autores?

Identificou os assuntos tratados?

Resumiu as informações

apresentadas?

Foi fácil de

entender?

Aprendeu novas informações?

Profissionais do Futuro 91,6% 83,3% 37,5% 70,8% 41,6%

(Re) Conhecendo

o meio ambiente

58,3% 87,5% 45,8% 75% 70,8%

Vale Verde ecologico 71,4% 33,3% 38,1% 71,4% 61,9%

Jovens pesquisadores do mangue

47,3% 84,2% 42,1%) 57,8% 36,8%

Ecologia das águas:

82,35%

64,7% 64,7%)76,47

%88,23%

Agenda 21 77,7% 62,9% 40,7% 74% 74%

Cubatão sustentável: 91,3% 49,5% 34,8% 42,6% 60,8%

Plantas bioindicadoras 85,7% 77,5% 67,3% 81,6% 81,6%

Qualidade da água 89,3% 80,85% 57,4% 91,4% 61,7%

Projeto Crescer 100% 77,7% 66,6% 77,7% 55,5%

b. Avaliação de como os alunos se sentem

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Ao todo, trinta e um alunos das escolas municipais e estaduais de Cubatão responderam o Questionário 2. Os resultados podem ser visualizados no gráfico 1. Um dos resultados mais importantes foi a constatação de que a maior parte dos alunos (96,7%) permaneceu concentrado durante as apresentações dos temas e que entendeu a hipótese dos trabalhos apresentados. Durante o encontro, a maior parte dos alunos permaneceu no auditório durante as apresentações, conduta diferente de outros encontros anteriores nos quais os alunos entravam e saiam do espaço por diversos motivos, indicando a falta de motivação ou atenção durante esses encontros. A aplicação dos questionários, como atividade inovadora neste encontro, ocupou os alunos que preencheram as respostas por escrito dos questionários, favorecendo a concentração. Portanto, uma das intenções da proposta destas atividades foi amplamente cumprida.

Apenas uma minoria conseguiu preparar perguntas.Talvez isto possa ocorrer porque eles não estão acostumados a participar, expondo sua opinião, ou porque muitos ficam intimidados para falar em público. Grande parte dos alunos aprendeu com as apresentações (75%), afirmou que estas despertaram interesse (76,6%) e que surgiram novas idéias para seus próprios trabalhos (70,5%). Mais da metade dos alunos (56,6%) tiveram novas idéias para acrescentar ao trabalho dos colegas.

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Gráfico 1. Resultados das avaliações dos alunos sobre a atividade realizada.

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De acordo com alguns autores (Spektor-Levy, Eylon, Scherz, 2009), as habilidades e as capacidades se desenvolvem através de um aprendizado auto direcionado e complementando tarefas através de diversos passos e maneiras. As habilidades não são adquiridas espontaneamente, muito pelo contrário, é preciso uma instrução direta para que sejam obtidas através de um processo gradual. As habilidades são desenvolvidas ao longo dos anos, dentro das escolas, de uma maneira gradual, sendo que cada ano as habilidades são repetidas, aprofundando as conhecidas e adicionando novas habilidades. Portanto, o desenvolvimento de habilidades nos alunos deve ser planejado e estruturado (Spektor-Levy et al., 2009). O modelo instrucional que estes autores apresentam consiste em dois grandes componentes: uma instrução estruturada e uma avaliação baseada no desempenho. Assim como o modelo citado, este estudo pretendeu elaborar uma avaliação das habilidades que os estudantes conseguiram mobilizar, considerando-se o seu desempenho por meio de tarefas realizadas. Além disso, esta atividade representou uma avaliação formativa. Os resultados aqui apresentados permitem sugerir uma segunda etapa para este estudo na qual os alunos poderiam receber comentários e críticas de seus colegas para melhorar as suas apresentações futuras como os alunos ouvintes que avaliaram podem melhorar as suas apresentações. Desta forma, tomar consciência sobre a avaliação realizada permite uma nova oportunidade de aprender. Existe uma necessidade de ajudar os alunos a integrar aquilo que eles aprendem na sala de aula com aquilo que eles precisam usar na sua vida e, para isso, Shulman (1987) indica claramente que para ensinar primeiro devemos incentivar a compreensão. Esse autor elaborou uma proposta de modelo pedagógico de raciocínio e ação em que existem 6 etapas: a compreensão, a transformação, a instrução, a avaliação, a reflexão e as novas compreensões, como aprender através das experiências. Os alunos atuaram de forma ativa no processo de avaliação da exposição dos trabalhos de investigações ambientais, realizando as atividades planejadas e formulando perguntas. Deste modo, contribuíram com ideias durante a apresentação dos trabalhos dos colegas, demonstrando que as apresentações dos colegas despertaram interesse e eles se sentiram abertamente motivados em tentar entender e compreender. Através de experiências como estas, os alunos aprendem sobre os trabalhos dos demais, sobre eles mesmos ou seus processos cognitivos e, também, aprendem os docentes, uma vez que estes têm a oportunidade de ver e escutar como seus alunos avaliam e como eles avaliam os outros.

Agradecimentos: à Petrobrás pelo apoio financeiro através do Estudo Técnico e Social da Usina Termoelétrica de Cubatão, para a realização do trabalho e ao CNPQ e ao INCT pelas bolsas concedidas.

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Bibliografia

Almeida, A. M. (1997). Desafios da relação Museu Escola. Comunicação e Educação, (10), 50 – 56.

Bogdan, R. & Biklen, S. (1994). Investigação Qualitativa em Educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto: Editora Porto.

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Fejes, M., Santos, A. M., Calil, M., Franzolin, F., Morita, E. & Tolentino Neto, L. C. B. (2004). Implementacion de proyectos de investigación en ciencias via telemática: 10 años de experiencia en el aula. Novedades Educativas, 163, 4-9.

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Shulman, L. S. (1987) Knowledge and Teaching: Foundations of the New Reform. Harvard Educational Review, 957 (1),1-22.

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