QUANDO O QUE PENSO CONECTA-SE AO QUE SINTO,...

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CIRCUITOMATOGROSSO CUIABÁ, 13 A 19 DE NOVEMBRO DE 2014 CULTURA EM CIRCUITO PG 4 www.circuitomt.com.br Rosemar Coenga é doutor em Teoria Literária e apaixonado pela literatura de Monteiro Lobato [email protected] ALA JOVEM Por Rosemar Coenga A MENINA SEM PALAVRAS: HISTÓRIAS DE MIA COUTO COACHING Por Iracema Borges Iracema Irigaray N. Borges, mãe de 3 anjos, ama comer tudo com banana, coach pelo ICI- SP, sonha em dar cursos na África, Índia, EUA, onde o destino a levar. [email protected] [email protected] QUANDO O QUE PENSO CONECTA-SE AO QUE SINTO, MÁGICAS ACONTECEM Coaching em essência é a “arte de fazer perguntas”, conectar-se verdadeiramente ao outro e principalmente respeitá-lo. Percebo que esse papel não cabe somente a um coach, mas àqueles que aceitam o papel de líder. Liderança nos dias de hoje passou a ser muito mais do que um status no seu crachá, ninguém mais aceita o “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”, é uma tarefa árdua a tal da “congruência”, que é conectar o que penso com o que falo e com o que sinto, é antes de tudo o PARAR com qualidade. Li sábado em um artigo de Milene Mizuta o seguinte trecho: “... Quando aquilo que eu penso conecta- se ao que sinto, mágicas acontecem, eu sou capaz de dizer não quando necessário sem medo de não ser aceito, digo sim com amor sem me sentir lesado, abro mão e me sacrifico entendendo que aquilo é necessário, aceito e respeito minhas escolhas e as escolhas do outro, largo o controle, entro no fluxo, falo o que sinto, acolho o que o outro sente, aprendo a amar meu irmão, confio com o coração na minha lógica, que nasce a partir das minhas vivências, não explico, compreendo”. Para desenvolver pessoas, que é a essência da liderança, eu preciso antes parar e “enxergar” aquele ser, dedicar a ele a dádiva da minha atenção e ouvir o que ele não consegue ainda me dizer, antes de qualquer decisão eu sempre pergunto aos meus clientes: você já PAROU tudo e dedicou tempo a essa pessoa, situação? Parou tudo mesmo? Celular, e-mail etc., na maioria das vezes esperamos que as soluções, os milagres, aconteçam “fora” de nós, eles acontecem, mas sempre como paliativos e não como a cura. Mia Couto, um dos autores moçambicanos mais conhecidos e publicados no Brasil, publicou algumas obras voltadas para o público infantil e juvenil, dentre elas: O beijo da palavrinha (2006), O gato e o escuro (2002) e A chuva pasmada (2002). Em seu último livro, A menina sem palavra: histórias de Mia Couto (2013) , ele centra os contos dessa coletânea no universo infantil. Retrata histórias da infância e as incertezas da mente pueril. Os dezessete contos dessa antologia estendem-se sob 157 páginas, acompanhadas de uma descrição da vida do autor ao final e uma introdução que explica o porquê da escolha dessa temática. Não se pode esquecer de mencionar a arte da capa. Esta merece especial destaque. Realizada pela empresa se design Retina 78, a arte gráfica traduz exatamente o que o título propõe: menina sem palavra como título, árvore sem folhas, flores e frutos como estampa. Identificam-se com essa arte os problemas enfrentados pelas crianças, isto é, algo que não permite que ajam com naturalidade. Na apresentação, introduz-se o assunto a ser abordado e antecipa-se a delicadeza com que Mia Couto descreve as suas personagens, em sua maioria crianças e jovens. Diferentemente dos demais livros do escritor, a denúncia dos atos de violência e miséria é muito mais leve nesses relatos. As histórias, de modo geral, captam a complexidade com que a sociedade e os familiares relacionam-se com as crianças. Há um desnudamento da realidade local: trabalho infantil, crianças impedidas de estudar, minas ativas, verdadeiras armas contra os inocentes e ainda resquícios da luta nacional de Moçambique pela Independência. Esses aspectos particulares se mesclam a questões que perpassam pelas demais sociedades, conferindo à obra um caráter universal, ainda que prevaleça a linguagem oral, característica marcante na literatura de Mia Couto. As histórias captam elementos complexos da formação humana e da vida em sociedade, o que se defronta com o espaço das crianças e dos jovens na coletividade e como eles vivem na sua individualidade em meio a tantas interpelações do mundo moderno. Dessa forma, o livro se faz de uma leitura essencial para todos aqueles que desejarem aprofundar o seu olhar sobre o mundo em que vivem e o ambiente no qual estão inseridos.

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CIRCUITOMATOGROSSOCUIABÁ, 13 A 19 DE NOVEMBRO DE 2014

CULTURA EM CIRCUITO PG 4www.circuitomt.com.br

Rosemar Coenga édoutor em Teoria Literária e

apaixonado pela literatura deMonteiro Lobato

[email protected]

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A MENINA SEM PALAVRAS: HISTÓRIAS DE MIA COUTO

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GPor Iracem

a Borges

Iracema Irigaray N. Borges,mãe de 3 anjos, ama comer tudo com

banana, coach pelo ICI- SP, sonhaem dar cursos na África, Índia,EUA, onde o destino a levar.

[email protected]@hotmail.com

QUANDO O QUE PENSO CONECTA-SE AO QUE SINTO, MÁGICAS ACONTECEMCoaching em essência é a “arte de

fazer perguntas”, conectar-severdadeiramente ao outro eprincipalmente respeitá-lo. Perceboque esse papel não cabe somente aum coach, mas àqueles que aceitam opapel de líder. Liderança nos dias dehoje passou a ser muito mais doque um status no seu crachá,ninguém mais aceitao “faça o queeu digo, masnão faça o queeu faço”, éuma tarefaárdua a tal da“congruência”,que é conectaro que pensocom o quefalo e com oque sinto, é

antes de tudo o PARAR comqualidade. Li sábado em um artigo deMilene Mizuta o seguinte trecho: “...Quando aquilo que eu penso conecta-se ao que sinto, mágicas

acontecem,eu sou

capaz de dizernão quando necessário

sem medo de não seraceito, digo sim comamor sem me sentirlesado, abro mão e me

sacrificoentendendoque aquilo énecessário,aceito erespeitominhasescolhas

e as escolhas do outro, largo ocontrole, entro no fluxo, falo o quesinto, acolho o que o outro sente,aprendo a amar meu irmão, confiocom o coração na minha lógica, quenasce a partir das minhas vivências,não explico, compreendo”.

Para desenvolver pessoas, que é aessência da liderança, eu precisoantes parar e “enxergar” aquele ser,dedicar a ele a dádiva da minhaatenção e ouvir o que ele nãoconsegue ainda me dizer, antes dequalquer decisão eu sempre perguntoaos meus clientes: você já PAROUtudo e dedicou tempo a essa pessoa,situação? Parou tudo mesmo? Celular,e-mail etc., na maioria das vezesesperamos que as soluções, osmilagres, aconteçam “fora” de nós,eles acontecem, mas sempre comopaliativos e não como a cura.

Mia Couto, um dos autoresmoçambicanos mais conhecidos epublicados no Brasil, publicou algumasobras voltadas para o público infantil ejuvenil, dentre elas: O beijo da palavrinha(2006), O gato e o escuro (2002) e Achuva pasmada (2002).

Em seu último livro, A menina sempalavra: histórias de Mia Couto (2013),ele centra os contos dessa coletânea nouniverso infantil. Retrata histórias dainfância e as incertezas da mente pueril.Os dezessete contos dessa antologiaestendem-se sob 157 páginas,acompanhadas de uma descrição da vidado autor ao final e uma introdução queexplica o porquê da escolha dessatemática.

Não se pode esquecer de mencionar aarte da capa. Esta merece especialdestaque. Realizada pela empresa se

design Retina 78, a arte gráfica traduzexatamente o que o título propõe: meninasem palavra como título, árvore semfolhas, flores e frutos como estampa.Identificam-se com essa arte osproblemas enfrentados pelas crianças, istoé, algo que não permite que ajam comnaturalidade.

Na apresentação, introduz-se oassunto a ser abordado e antecipa-se adelicadeza com que Mia Couto descreveas suas personagens, em sua maioriacrianças e jovens. Diferentemente dosdemais livros do escritor, a denúncia dosatos de violência e miséria é muito maisleve nesses relatos. As histórias, de modogeral, captam a complexidade com que asociedade e os familiares relacionam-secom as crianças. Há um desnudamento darealidade local: trabalho infantil, criançasimpedidas de estudar, minas ativas,

verdadeiras armas contra os inocentes eainda resquícios da luta nacional deMoçambique pela Independência.

Esses aspectos particulares semesclam a questões que perpassam pelasdemais sociedades, conferindo à obra umcaráter universal, ainda que prevaleça alinguagem oral, característica marcantena literatura de Mia Couto. As históriascaptam elementos complexos daformação humana e da vida emsociedade, o que se defronta com oespaço das crianças e dos jovens nacoletividade e como eles vivem na suaindividualidade em meio a tantasinterpelações do mundo moderno. Dessaforma, o livro se faz de uma leituraessencial para todos aqueles quedesejarem aprofundar o seu olhar sobre omundo em que vivem e o ambiente noqual estão inseridos.