Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE PSICOLOGIA E DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO “QUANDO UM CÔNJUGE ESTÁ DEPRIMIDO”… O PAPEL DA VINCULAÇÃO, DO SUPORTE CONJUGAL E DAS ESTRATÉGIAS DE COPING NA ADAPTAÇÃO CONJUGAL À DEPRESSÃO Rute Susana Monteiro Garcia MESTRADO EM PSICOLOGIA Área de Especialização em Stress e Bem-Estar 2006

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Tese de Mestrado apresentada à Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa em 2007

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA E DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO

“QUANDO UM CÔNJUGE ESTÁ DEPRIMIDO”…

O PAPEL DA VINCULAÇÃO, DO SUPORTE CONJUGAL E DAS

ESTRATÉGIAS DE COPING NA ADAPTAÇÃO CONJUGAL À

DEPRESSÃO

Rute Susana Monteiro Garcia

MESTRADO EM PSICOLOGIA

Área de Especialização em Stress e Bem-Estar

2006

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA E DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO

“QUANDO UM CÔNJUGE ESTÁ DEPRIMIDO”…

O PAPEL DA VINCULAÇÃO, DO SUPORTE CONJUGAL E DAS

ESTRATÉGIAS DE COPING NA ADAPTAÇÃO CONJUGAL À

DEPRESSÃO

Rute Susana Monteiro Garcia

MESTRADO EM PSICOLOGIA

Área de Especialização em Stress e Bem-Estar

Dissertação orientada pela Professora Doutora Maria Teresa Ribeiro

2006

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RESUMO DA INVESTIGAÇÃO

A depressão é uma das doenças mais prevalentes da sociedade actual, tendo importantes

custos individuais, familiares, sociais e económicos. À luz da teoria sistémica, a

depressão é entendida como um acontecimento de vida potenciador de crise no sistema

familiar, ao qual este tem se adaptar. Na perspectiva dos modelos de stress familiar, a

adaptação à depressão de um dos membros da família, implica o esforço de todos os

elementos do sistema com vista a alcançar um equilíbrio entre as exigências impostas

pela situação de crise e os recursos que o sistema dispõe. A literatura tem vindo a

demonstrar a importância do estilo de vinculação, do suporte conjugal e das estratégias de

coping funcionais, como recursos a considerar no processo de recuperação da depressão.

O presente estudo empírico tem como objectivo analisar o papel de alguns recursos –

vinculação, suporte conjugal e estratégias de coping familiar – na adaptação do casal à

depressão. Para o efeito, uma amostra de 57 casais com um dos membros diagnosticado

com depressão, respondeu a um conjunto de questionários que pretendem avaliar a

qualidade da vinculação ao cônjuge (Questionário da Vinculação Amorosa; Matos &

Costa, 2001, versão revista), o suporte conjugal (Inventário da Qualidade das Relações –

subescala de Suporte Social; Pierce e colaboradores, 1997), as estratégias de coping

familiar (Escalas de Avaliação Pessoal Orientadas para a Crise Familiar, McCubbin,

Larsen & Olson, 1981) e a satisfação conjugal (Escala de Avaliação da Satisfação em

Áreas da Vida Conjugal, Narciso & Costa, 1996). Os resultados indicam que o nível de

confiança de cada um dos cônjuges e a utilização de estratégias de reenquadramento para

lidar com a crise associada à depressão predizem a adaptação do casal à depressão. Um

estilo de vinculação seguro, e a percepção de níveis elevados de suporte conjugal são

igualmente recursos importantes no processo de adaptação à doença.

Palavras – Chave: Depressão, Stress Familiar, Adaptação, Vinculação, Suporte

Conjugal, Estratégias de Coping Familiar

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ABSTRACT

The depression is one of the prebravest diseases of the current society, having important

individual, familiar, social and economical costs. By the light of the systems theory, the

depression is understood how an event of life that can produce a crisis in the familiar

system, to which this one has to adapt. In the perspective of the models of family stress,

the adaptation to the depression of one of the members of the family, implicates the effort

of all the elements of the system with sight to reach a balance between the demands

imposed by the situation of crisis and the resources what the system arranges. The

literature has been coming to demonstrate the importance of the style of attachment, of

the conjugal support and of the strategies of coping, like resources to consider in the

process of recuperation of the depression. The objective of the present empirical work is

to analyse the importance of some resources – attachment, marital support and family

coping strategies – in the adaptation of the couple to the depression. For the effect, a

sample of 57 couples with one of the members diagnosed with depression, responded to a

set of questionnaires that intend to value the quality of the attachment to spouse

(Questionário da Vinculação Amorosa; Matos & Costa, 2001, revised version), the

marital support (Quality of Relationships Inventory – Social Support Subscale; Pierce e

colaboradores, 1997), the family coping strategies (Family Crisis Oriented Personal

Evaluation Scales, McCubbin, Larsen & Olson, 1981) and the conjugal satisfaction

(Escala de Avaliação da Satisfação em Áreas da Vida Conjugal, Narciso & Costa, 1996).

The results indicate that the level of confidence of each one of the spouses and the use of

strategies of reframing to deal with the crisis associated to the depression predict the

adaptation of the couple to the depression. The style of attachment and the perception of

elevated levels of marital support are equally important resources in the process of

adaptation to the disease.

Keywords: Depression, Family Stress, Adaptation, Attachment, Marital Support, Family

Coping Strategies

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AGRADECIMENTOS

À Professora Doutora Maria Teresa Ribeiro, pelo rigor e profissionalismo. Pelo

apoio e disponibilidade constantes. Pela confiança e palavras de incentivo nos momentos

mais complicados.

À Professora Doutora Alexandra Marques Pinto, pela motivação e entusiasmo.

Pela excelente coordenação do mestrado. Pelo sorriso sempre presente.

Ao Professor Doutor Marco Paulino, pela disponibilidade e apoio no processo de

recolha da amostra. Pela calma. Pelo respeito que tem para com todos os seus doentes.

Ao Professor Doutor Daniel Sampaio, pela possibilidade de recolha da amostra na

Consulta Externa do Serviço de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria.

À Professora Doutora Paula Mena Matos, ao Professor Doutor João Moreira, à

Professora Doutora Isabel Narciso e à Professora Doutora Maria Cristina Canavarro pela

autorização na utilização dos instrumentos de avaliação e cedência de material

bibliográfico.

Ao Professor Doutor Luís Curral pela preciosa ajuda na resolução das

dificuldades estatísticas.

A todos os casais que participaram no estudo. Sem eles nada teria sido possível.

À Equipa da Associação Comunitária de Saúde Mental de Odivelas por ao longo

deste tempo ter compreendido e permitido a frequência deste mestrado.

Aos meus «meninos» por sempre terem compreendido as ausências da sua

«doutora». Pelos seus sorrisos marotos. Pelo carinho com que sempre me trataram.

À Maria João Vilhena, querida amiga e colega destas aventuras, pela amizade e

apoio que sempre me dedicou.

Aos meus amigos, em especial à Maria João Cardoso e à Ana Pires, pela

paciência infinita, pela compreensão, pela ternura, pelo apoio sempre presentes.

A todos os psicólogos que me ajudaram na recolha da amostra. Um

agradecimento especial à Sónia Santos e à Sara Guerreiro.

Aos meus pais, Bia e Zé Manel, e à minha irmã Raquel, pela pessoa que sou hoje,

pelo afecto, segurança e apoio inabaláveis. Por estarem sempre presentes na minha vida.

Ao Luís, por tudo o que não é possível descrever…

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Andava errante, perdido no passado, querendo voar, porém, temendo-o.

Foi então que alguém como tu encontrou alguém como eu.

E, subitamente, nada é já o mesmo.

Leslie Bricusse

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ÍNDICE

Introdução……………………………………………………………………………………….14

I – Fundamentação Teórica…………………………………………………………………….18

Capítulo 1 – Conjugalidade, crise e adaptação………………………………………………….19

1.1 – Definindo conjugalidade(s)………………………………………………………………...20

1.2 – O que é ser «um casal»……………………………………………………………………..22

1.2.1 – A formação do casal………………………………………………………………….22

1.2.2 – Como funciona um casal – comportamentos, cognições e emoções na

conjugalidade…………………………………………………………………………………24

1.2.2.1 – Processos comportamentais……………………………………………………26

1.2.2.2 – Processos cognitivos…………………………………………………………...27

1.2.2.3 – Processos emocionais…………………………………………………………..28

1.2.3 – Teorias Psicológicas da conjugalidade……………………………………………….30

1.2.3.1 – Teorias sociais………………………………………………………………….30

1.2.3.2 – Teorias psicodinâmicas………………………………………………………...31

1.2.3.3 – Teoria geral dos sistemas………………………………………………………32

1.2.3.4 – Teoria da vinculação…………………………………………………………...33

1.2.3.4.1 – A teoria da vinculação: os primórdios………………………………33

1.2.3.4.2 – A perspectiva do amor romântico como processo de vinculação…...35

1.2.3.4.3 – Vinculação e regulação emocional……………………………….....41

1.2.3.4.4 – Desenvolvimento de outras medidas de vinculação………………...42

1.2.3.4.5 – Vinculação e qualidade / satisfação na relação conjugal……………43

1.2.3.4.6 – Vinculação e comunicação………………………………………….44

1.2.3.4.7 – Vinculação e sexualidade……………………………………………45

1.2.3.4.8 – Vinculação e stress…………………………………………………..47

1.2.3.4.9 – Vinculação e conjugalidade – uma síntese………………………….48

1.3 – Formas de conjugalidade – acontecimentos de vida normativos e não normativos no ciclo de

vida familiar………………………………………………………………………………………50

1.3.1 – Adaptação, resiliência e stress familiar…………………………………………..53

1.3.2 – Modelos de stress familiar……………………………………………………….54

Capítulo 2 – A depressão no casal……………………………………………………………….61

2.1 – A depressão enquanto doença psicológica – um breve olhar……………………………….62

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2.1.1 – A depressão – dados estatísticos…………………………………………………67

2.2 – Expressões e contextualizações da depressão no casal……………………………………..69

2.3 – Acções e reacções do casal à depressão – a vinculação, o suporte social e o coping familiar

no processo de adaptação do sistema à crise familiar…………………………………………….75

2.3.1 – Vinculação e depressão…………………………………………………………..75

2.3.2 – Suporte social…………………………………………………………………….79

2.3.2.1 – Suporte social e depressão…………………………………………….81

2.3.2.2 – Suporte conjugal e depressão………………………………………….82

2.3.3 – Coping familiar…………………………………………………………………..84

2.3.3.1 – Coping familiar e depressão…………………………………………..86

II – Estudo Empírico……………………………………………………………………………90

Capítulo 1 – Conceptualização do estudo empírico, objectivos e metodologia…………………91

1.1 – Objectivos de estudo………………………………………………………………………..93

1.2 – Hipóteses……………………………………………………………………………………98

1.3 – Definição das variáveis……………………………………………………………………101

1.4 – Caracterização da amostra………………………………………………………………...102

1.5 – Instrumentos de avaliação…………………………………………………………………107

1.5.1 – Questionário sócio-demográfico………………………………………………..108

1.5.2 – Questionário clínico…………………………………………………………….108

1.5.3 – Questionário de Vinculação Amorosa (QVA)………………………………….108

1.5.3.1 – Descrição da escala…………………………………………………..108

1.5.3.2 – Análise das qualidades psicométricas………………………………..109

1.5.4 – Inventário da Qualidade das Relações (QRI) …………………………………..112

1.5.4.1 – Descrição da escala…………………………………………………..112

1.5.4.2 – Análise das qualidades psicométricas………………………………..113

1.5.5 – Escalas de Avaliação Pessoal Orientadas para a Crise Familiar (F-COPES)…..114

1.5.5.1 – Descrição da escala…………………………………………………..114

1.5.5.2 – Análise das qualidades psicométricas………………………………..116

1.5.6 – Escala de Avaliação da Satisfação em Áreas da Vida Conjugal……………….118

1.5.6.1 – Descrição da escala…………………………………………………..118

1.5.6.2 – Análise das qualidades psicométricas………………………………..120

1.6 – Procedimento……………………………………………………………………………...122

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Capítulo 2 – Apresentação e análise dos resultados…………………………………………..123

2.1 – Tratamentos estatísticos…………………………………………………………………...123

2.2 – Resultados…………………………………………………………………………………125

2.2.1 – Caracterização da amostra no que respeita às dimensões da vinculação amorosa,

ao suporte conjugal, às estratégias de coping familiar e à satisfação conjugal………………….125

2.2.1.1 – Dimensões da vinculação amorosa…………………………………..125

2.2.1.2 – Suporte Conjugal…………………………………………………….126

2.2.1.3 – Estratégias de coping familiar……………………………………......127

2.2.1.4 – Satisfação conjugal…………………………………………………..128

2.2.2 – Efeito das variáveis sexo do cônjuge deprimido, duração da relação conjugal e

situação profissional, nas dimensões da vinculação amorosa do cônjuge deprimido, nas

dimensões da vinculação amorosa do cônjuge não deprimido, no suporte conjugal, nas estratégias

de coping familiar e na satisfação conjugal……………………………………………………..129

2.2.2.1 – Efeito do sexo do cônjuge deprimido, da duração da relação conjugal e

da situação profissional nas dimensões da vinculação amorosa do cônjuge deprimido………...129

2.2.2.2 - Efeito do sexo do cônjuge deprimido, da duração da relação conjugal e

da situação profissional nas dimensões da vinculação amorosa do cônjuge não deprimido……130

2.2.2.3 - Efeito do sexo do cônjuge deprimido, da duração da relação conjugal e

da situação profissional no suporte conjugal……………………………………………………130

2.2.2.4 - Efeito do sexo do cônjuge deprimido, da duração da relação conjugal e

da situação profissional nas dimensões do coping familiar……………………………………..131

2.2.2.5 - Efeito do sexo do cônjuge deprimido, da duração da relação conjugal e

da situação profissional nas dimensões da satisfação conjugal…………………………………131

2.2.3 – Efeitos do tipo de depressão, da duração do diagnóstico, da doença física grave no

cônjuge deprimido e da doença física grave no cônjuge não deprimido nas dimensões da

vinculação amorosa do cônjuge deprimido, nas dimensões da vinculação amorosa do cônjuge não

deprimido, no suporte conjugal, nas estratégias de coping familiar e na satisfação conjugal….132

2.2.3.1 - Efeitos do tipo de depressão, da duração do diagnóstico, da doença

física grave no cônjuge deprimido e da doença física grave no cônjuge não deprimido nas

dimensões da vinculação amorosa do cônjuge deprimido………………………………………133

2.2.3.2 - Efeitos do tipo de depressão, da duração do diagnóstico, da doença

física grave no cônjuge deprimido e da doença física grave no cônjuge não deprimido nas

dimensões da vinculação amorosa do cônjuge não deprimido………………………………….134

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2.2.3.3 - Efeitos do tipo de depressão, da duração do diagnóstico, da doença

física grave no cônjuge deprimido e da doença física grave no suporte conjugal………………135

2.2.3.4 - Efeitos do tipo de depressão, da duração do diagnóstico, da doença

física grave no cônjuge deprimido e da doença física grave no cônjuge não deprimido nas

estratégias de coping familiar…………………………………………………………………...136

2.2.3.5 - Efeitos do tipo de depressão, da duração do diagnóstico, da doença

física grave no cônjuge deprimido e da doença física grave no cônjuge não deprimido nas

dimensões da satisfação conjugal……………………………………………………………….137

2.2.4 – Correlações entre a satisfação conjugal e as variáveis vinculação amorosa, suporte

conjugal e estratégias de coping familiar………………………………………………………..138

2.2.5 – Regressões entre as variáveis satisfação conjugal, vinculação amorosa, suporte

conjugal e estratégias de coping familiar………………………………………………………..141

2.2.6 – Diferenças em função dos protótipos de vinculação amorosa………………….143

2.2.6.1 – Diferenças no suporte conjugal, estratégias de coping familiar e

satisfação conjugal em função dos protótipos de vinculação amorosa………………………….145

2.2.6.1.1 - Diferenças no suporte conjugal, estratégias de coping familiar

e satisfação conjugal em função dos protótipos de vinculação amorosa para os cônjuges

deprimidos……………………………………………………………………………………….145

2.2.6.1.2 - Diferenças no suporte conjugal, estratégias de coping familiar

e satisfação conjugal em função dos protótipos de vinculação amorosa para os cônjuges não

deprimidos……………………………………………………………………………………….147

2.2.7 – Continuidades e descontinuidades no casal com depressão – análise das diferenças

intra-casal………………………………………………………………………………………..148

2.2.7.1 – Diferenças na satisfação conjugal em função da distância intra-casal na

percepção do suporte conjugal…………………………………………………………………..148

2.2.7.2 - Diferenças na satisfação conjugal em função da distância intra-casal ao

nível das dimensões da vinculação amorosa…………………………………………………….149

2.2.7.3 - Diferenças na satisfação conjugal em função da distância intra-casal na

percepção das estratégias de coping familiar……………………………………………………149

2.2.8 – Síntese dos resultados…………………………………………………………..151

Capítulo 3 – Discussão e Síntese……………………………………………………………….154

3.1 – Discussão dos resultados…………………………………………………………154

3.2 – Reflexão crítica sobre o estudo…………………………………………………...165

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3.3 – Palavras finais………………………………………………………………….....167

Referências Bibliográficas……………………………………………………………………..169

Anexos…………………………………………………………………………………………190

Anexo 1 – Questionário sócio-demográfico e clínico para o cônjuge deprimido……..191

Anexo 2 -Questionário sócio-demográfico e clínico para o cônjuge não deprimido….192

Anexo 3 – Escala de Avaliação da Satisfação em Áreas da Vida Conjugal…………..193

Anexo 4 – Questionário de Vinculação Amorosa……………………………………..195

Anexo 5 - Escalas de Avaliação Pessoal Orientadas para a Crise Familiar…………...197

Anexo 6 – Subescala Suporte Social do Inventário da Qualidade das Relações………199

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ÍNDICE DOS QUADROS

Quadro 1 – Características sócio-demográficas da amostra total segundo a população e o

género……………………………………………………………………………………………104

Quadro 2 – Características clínicas da amostra total segundo a população e o género………...105

Quadro 3 – Valores de alpha de cronbach para o Questionário de Vinculação Amorosa……..110

Quadro 4 – Média das correlações inter-item para o Questionário de Vinculação Amorosa…..111

Quadro 5 – Correlações item-total para o Questionário de Vinculação Amorosa……………..112

Quadro 6 – Correlações inter-item, item-total e alpha de cronbach para a subescala suporte

social do Inventário da Qualidade das Relações………………………………………………...114

Quadro 7 – Valores de alpha de cronbach para as subcalas da versão em revisão do

F-COPES…………………………………………………………………………………..…….115

Quadro 8 – Valores de alpha de cronbach para o F-COPES…………………………………..116

Quadro 9 – Média das correlações inter-item para o F-COPES………………………………..117

Quadro 10 – Correlações item-total para o F-COPES………………………………………….118

Quadro 11 – Valores de alpha de cronbach para a Escala de Avaliação da Satisfação em Áreas

da Vida Conjugal………………………………………………………………………………..120

Quadro 12 – Média das correlações inter-item para a Escala de Avaliação da Satisfação em

Áreas da Vida Conjugal…………………………………………………………………………121

Quadro 13 – Correlações item-total para a Escala de Avaliação da Satisfação em Áreas da Vida

Conjugal………………………………………………………………...……………………….126

Quadro 14 – Valores mínimo, máximo, média e desvio-padrão dos cônjuges deprimidos, dos

cônjuges não deprimidos e do casal para as dimensões da vinculação amorosa………………..126

Quadro 15 - Valores mínimo, máximo, média e desvio-padrão dos cônjuges deprimidos, dos

cônjuges não deprimidos e do casal para o suporte conjugal…………………………………...126

Quadro 16 - Valores mínimo, máximo, média e desvio-padrão dos cônjuges deprimidos, dos

cônjuges não deprimidos e do casal para as estratégias de coping familiar…………………….127

Quadro 17 - Valores mínimo, máximo, média e desvio-padrão dos cônjuges deprimidos, dos

cônjuges não deprimidos e do casal para as dimensões da satisfação conjugal e para o índice de

satisfação global………………………………………………………………………………....128

Quadro 18 – Correlações de Pearson entre a satisfação conjugal do casal e as variáveis da

vinculação amorosa do cônjuge deprimido, da vinculação amorosa do cônjuge não deprimido, do

suporte conjugal do casal e das estratégias de coping familiar do casal………………………...138

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Quadro 19 – Análise de clusters do Questionário de Vinculação Amorosa para os cônjuges

deprimidos………………………………………………………………………………………143

Quadro 20 - Análise de clusters do Questionário de Vinculação Amorosa para os cônjuges não

deprimidos………………………………………………………………………………………144

Quadro 21 – Médias e desvio-padrão no suporte conjugal, estratégias de coping familiar e

satisfação conjugal em função da vinculação amorosa nos cônjuges deprimidos………………146

Quadro 22 - Médias e desvio-padrão no suporte conjugal, estratégias de coping familiar e

satisfação conjugal em função da vinculação amorosa nos cônjuges não deprimidos………….147

ÍNDICE DAS FIGURAS

Figura 1 – Modelo da Cognição da Relação Íntima……………………………………………..25

Figura 2 – Modelo ABC-X Duplo de Stress Familiar…………………………………………...55

Figura 3 – Modelo da Resposta de Ajustamento e Adaptação Familiar…………………………56

Figura 4 – Modelo Contextual de Stress Familiar……………………………………………….59

Figura 5 – Parcelo do Modelo da Resposta de Ajustamento e Adaptação Familiar em estudo…94

Figura 6 – Mapa conceptual do estudo empírico………………………………………………...97

ÍNDICE DOS GRÁFICOS

Gráfico 1 – Níveis médios de satisfação conjugal em função da duração da relação conjugal...132

Gráfico 2 – Níveis médios de evitamento no cônjuge deprimido em função do tipo de

depressão………………………………………………………………………………………...133

Gráfico 3 - Níveis médios de evitamento no cônjuge não deprimido em função do tipo de

depressão………………………………………………………………………………………...134

Gráfico 4 – Níveis médios de suporte conjugal em função do tipo de depressão………………135

Gráfico 5 – Níveis médios de utilização de estratégias de procura de suporte nos vizinhos em

função do tipo de depressão……………………………………………………………………..136

Gráfico 6 – Níveis médios de satisfação conjugal global em função do tipo de depressão…….137

Gráfico 7 – Valores médios de satisfação conjugal global em função da vinculação amorosa...146

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INTRODUÇÃO

A depressão é uma perturbação do humor, caracterizada por um conjunto de

sintomas físicos e mentais, que envolvem o pensamento, os impulsos e a capacidade

crítica (Wilkinson, Moore & Moore, 2003), entre os quais se encontram o humor

deprimido, a perda de interesse e entusiasmo por actividades anteriormente agradáveis, a

diminuição da energia, a fadiga intensa, a diminuição da atenção e da concentração, a

diminuição da auto-estima e da auto-confiança, as ideias de culpa e de auto-

desvalorização, a visão pessimista do futuro, as ideias ou actos de auto-agressão ou de

suicídio, as perturbações do sono e diminuição do apetite (WHO, 1992).

Não se trata de uma doença recente, na medida em que, ao longo da história da

humanidade, tem-se vindo a assistir a diversas descrições do “inexplicável fenómeno

depressivo endógeno” (Vallero-Nágera, 2002, p.32). Na cultura ocidental, uma das

primeiras descrições de depressão, remonta aos gregos, e refere-se ao pedido que foi

efectuado a Hipócrates (o primeiro médico importante da história) no sentido que

produzisse um diagnóstico para o filósofo Demócrito, que aparentemente enlouquecera

(Vallero-Nágera, 2002). Nas Sagradas Escrituras e ao longo da idade média foram sendo

feitas referências a quadros clínicos que, ainda que fossem expressas em linguagem

diferente ou sujeitas a interpretações religiosas ou mágicas, se assemelham às descrições

científicas actuais. A partir do século XVI, o estudo da depressão começou a ganhar

contornos mais científicos (e menos religiosos), e desde então, têm vindo a ser

formuladas um vasto número de teorias que, numa perspectiva mais individual, ou numa

perspectiva mais interpessoal, procuram explicar o que causa, o que mantém, o que

exacerba, o que suaviza o estado clínico de depressão.

Trata-se de uma das doenças psicológicas mais prevalentes dos nossos dias,

atingindo cerca de 121 milhões de pessoas em todo o mundo (WHO, 2005). Na Europa,

estudos recentes indicam que 1 em cada 40 adultos sofre de alguma forma clínica de

depressão (Paykel, Brugha & Fryers, 2005). Segundo a Organização Mundial de Saúde

(2002), atinge 5.8% dos homens e 9.5% das mulheres. No que respeita à realidade

portuguesa, o último censo psiquiátrico realizado (DGS, 2001), refere a depressão como a

segunda patologia mais frequente nas consultas e internamentos de psiquiatria.

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Os custos económicos associados a esta perturbação psicológica atingem valores

assustadores, situando-se em quarto lugar entre todas as doenças que originam mais

encargos (OMS, 2002).

Em termos sociais e familiares, a depressão também tem custos elevados. Assim,

é do conhecimento geral dos investigadores que, qualquer quadro clínico de depressão,

tem necessariamente consequências no próprio, e nos que o rodeiam, na medida em que a

sintomatologia depressiva, é por si só potenciadora de dificuldades nos relacionamentos

interpessoais dos indivíduos por ela atingidos (Acitelli & Badr, 2005; Wade & Kendler,

2000; Roberts, Roberts & Stevensen, 1982). Joiner (2002) refere que as relações

interpessoais das pessoas deprimidas são seriamente afectadas e se caracterizam por

dimensões como a rejeição, a insatisfação, a baixa intimidade e a diminuição da

actividade e do envolvimento interpessoal. As relações maritais, como contexto

interpessoal de maior intimidade, são igualmente foco de alterações nomeadamente nas

rotinas diárias e no funcionamento de papéis (Van Wijngaarden, Schene & Koeter, 2004).

Os estudos realizados indicam uma deterioração da qualidade da relação (Dudek et al,

2001; Van Wijngaarden et al, 2004). Verifica-se igualmente que o cônjuge apresenta um

maior número de sentimentos disfóricos e de mau-estar (Hautzinger, Linden & Hoffman,

1982), níveis mais elevados de stress (Benazon, 2000; van Wijngaarden et al, 2004) e

humor deprimido (Benazon & Coyne, 2000; Coyne et al, 1987; Jeglic et al, 2005),

estando deste modo mais vulnerável ao desencadeamento de uma perturbação depressiva.

Deste modo, sendo a depressão uma doença psicológica tão prevalente na

actualidade, com tantas repercussões individuais, sociais e económicas associadas, tendo

um impacto considerável na matriz da sociedade humana (ou seja na família), parece-nos

pertinente analisar algumas das características de um dos seus subsistemas – o conjugal -

para que, deste modo, sejam compreensíveis alguns dos factores facilitadores ou

inibidores da adaptação do casal a uma situação de crise como é a gerada pela condição

de um dos seus elementos estar deprimido.

No presente estudo empírico, pretendemos estudar alguns dos aspectos que estão

associados à dinâmica conjugal, como é o caso da vinculação amorosa, do suporte

conjugal e das estratégias de coping familiar, que a investigação tem referido tratarem-se

de potenciais recursos na forma de gerir e recuperar da depressão. O nosso objectivo é

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analisar as relações destes potenciais recursos (vinculação amorosa, suporte conjugal e

estratégias de coping familiar) com uma medida de adaptação do casal à crise

desencadeada pela depressão (e que, no nosso caso, se trata da satisfação conjugal).

Para o efeito, situamo-nos numa perspectiva de análise sistémica de casais com

um dos membros diagnosticado com depressão clínica. Segundo a Teoria Geral dos

Sistemas, a família / casal é um sistema aberto que funciona em interacção com o

contexto sócio-cultural onde está inserido, durante todo o ciclo de vida, obedecendo a

princípios como a circularidade, não aditividade, equifinalidade, comunicação,

homeostase e morfogénese (que descreveremos mais adiante). Qualquer comportamento

do sistema (família / casal) tem de ser entendido em função do outro e do comportamento

do próprio sistema (Relvas, 2000). Neste contexto, a depressão clínica num dos membros

da família / díade, tem necessariamente consequências em todo o sistema, e deve ser

compreendido em função disso.

Por outro lado, recorremos aos Modelos de Stress Familiar, e mais

especificamente ao Modelo de Resposta de Ajustamento e Adaptação Familiar - FAAR

Model (McCubbin & Patterson, 1983; cit por Patterson, 1988), como forma de

conceptualizar o stress familiar experimentado pelo casal face ao quadro depressivo de

um dos seus membros. Focalizamos a nossa análise em alguns dos potenciais recursos

relacionais (vinculação e suporte conjugal) e nas estratégias de coping familiar utilizados

pelos casais para fazer face à situação de crise que enfrentam.

O nosso trabalho será dividido em duas partes: a primeira parte será constituída

pela componente teórica deste estudo, ou seja, pelo enquadramento teórico e a revisão

bibliográfica dos estudos empíricos desenvolvidos sobre os temas da conjugalidade, da

adaptação familiar a situações de crise e da depressão, onde se destacam conceitos como

o de sistema familiar (e conjugal), stress familiar, adaptação, recursos, vinculação,

suporte conjugal e coping familiar.

Assim, no primeiro capítulo, apresenta-se uma breve revisão de literatura

subordinada ao tema da conjugalidade, crise e adaptação. Inicia-se com a clarificação do

conceito de conjugalidade nas Ciências Sociais e Humanas. Segue-se uma análise das

temáticas do que é «ser um casal», onde são discutidos temas como a formação do casal,

os processos da conjugalidade, as principais teorias explicativas (com especial ênfase na

Page 17: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

17

teoria da vinculação) e as formas de se ser casal. Termina-se com uma abordagem aos

conceitos de adaptação, crise e stress familiar, os quais estão subjacentes aos modelos de

stress familiar que, como já foi referido, são um dos quadros teóricos de referência para o

nosso trabalho. O segundo capítulo pretende introduzir o tema da depressão no casal.

Inicia-se com uma caracterização da doença psicológica depressão, onde são

apresentados alguns dados estatísticos importantes. Segue-se uma análise das expressões

da depressão no sistema familiar e, especialmente, no subsistema conjugal. Termina-se

com uma revisão teórica das variáveis vinculação, suporte social (e conjugal) e coping

familiar, as quais têm sido associadas à evolução da depressão e que são objecto de

estudo neste trabalho.

A segunda parte inclui o estudo empírico realizado no decorrer de 2006, e

descreverá o seu procedimento metodológico. Inclui um capítulo sobre a

conceptualização do estudo empírico, objectivos e metodologia, nos quais são descritos

os objectivos da investigação, as hipóteses em análise, a definição das variáveis, a

caracterização da amostra, dos instrumentos de avaliação utilizados e do procedimento.

Segue-se um segundo capítulo dedicado à apresentação e análise dos resultados obtidos.

O terceiro capítulo diz respeito à discussão e síntese dos resultados tendo em

consideração as hipóteses inicialmente formuladas e o quadro teórico e empírico que

orientou esta investigação, procurando dar um significado às relações encontradas.

Considera-se ainda as limitações metodológicas da investigação. Termina-se com

algumas palavras finais sobre o decorrer do estudo e as suas implicações para futuras

investigações.

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18

I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

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CAPÍTULO 1 – CONJUGALIDADE, CRISE E ADAPTAÇÃO

A conjugalidade, entendida num contexto de relação de coabitação / casamento

entre dois seres de sexos diferentes1 é, na actualidade, uma das grandes áreas de interesse

dos investigadores das relações humanas, na medida em que se trata de um dos eixos

principais do desenvolvimento da espécie humana.

A presente revisão teórica pretende lançar um olhar sobre as principais questões

associadas à conjugalidade.

Inicia-se com a definição de conjugalidade com o objectivo de se clarificar o

conceito na realidade das Ciências Sociais e Humanas, particularmente da Psicologia.

Segue-se uma breve análise das temáticas associadas ao que é «ser casal» nos

nossos dias, no que se refere à formação do casal, aos processos da conjugalidade, às

principais teorias explicativas (com ênfase na teoria da vinculação) e às formas de se «ser

casal».

Termina-se com a referência ao conceito de adaptação, que está subjacente aos

modelos de stress familiar, os quais são da maior importância na conceptualização teórica

que norteia o presente trabalho.

1 Embora em Portugal, do ponto de vista jurídico, a conjugalidade seja necessariamente heterossexual, numa perspectiva de investigação é importante distinguir conjugalidade heterossexual de conjugalidade homossexual, na medida em que existem diferenças importantes entre os dois tipos de conjugalidade (Josephson, 2003).

Page 20: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

20

1.1. Definindo Conjugalidade(s)...

Conjugalidade é um substantivo feminino que se refere à qualidade do que é

conjugal, ou seja, algo que é relativo a cônjuge e / ou a casamento (Infopédia, 2006).

O regime jurídico português, através do artigo 1577 do código civil, define o

casamento como sendo um «contrato celebrado entre duas pessoas de sexo diferente que

pretendam constituir família mediante uma plena comunhão de vida», o que implica

direitos e deveres recíprocos (portal da justiça, 2006). Mas uma vez que a conjugalidade

nos nossos dias não contempla só as relações de casamento, existe também como lei geral

da república (lei nº 7 / 2001 de 11 de Maio) a situação jurídica de duas pessoas,

independentemente do sexo, que vivam em união de facto há mais de dois anos, embora

não a equiparando a relação de família ou a relação de casamento (Pereira, 2004).

Na perspectiva da Sociologia da Família, a conjugalidade, sendo uma relação de

interacção privilegiada no desenvolvimento de sentidos para o indivíduo e para o mundo

que o rodeia (Aboim, 2004), pode ser compreendida como processo e relação social que

ocorre num dado momento do percurso pessoal de um significativo conjunto de

indivíduos, que produz sentido e identidade, que apresenta uma marcada dimensão

afectiva, sendo fonte produtora de realidade no sentido da criação de condições materiais,

estando contextualizada social e historicamente (Torres, 2000).

A Psicologia encara a conjugalidade como sendo um tipo específico de

relacionamento entre pessoas existente na sociedade, estando tradicionalmente associada

ao casamento, mas que actualmente inclui a identificação de quaisquer duas pessoas com

um relacionamento íntimo, amoroso e que envolve um compromisso (Sheras & Koch-

Sheras, 2006). O que se espera do casal enquanto tal resulta de um processo de

socialização e de modelagem com origem na cultura onde este se encontra inserido

(ibidem).

Trata-se, pois, de um “modelo de funcionamento relacional que serve de base à

construção da díade conjugal e que se oferece como um espaço de apoio ao

desenvolvimento do sistema familiar. Assume-se que este modelo de funcionamento do

casal resulta da integração do modelo de conjugalidade construído na família de origem e

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21

considera-se que o mesmo sofre, naturalmente, diversas alterações ao longo da evolução

do sistema familiar" (Alarcão, 2000, p.341).

Relvas (1996) considera que “o casal surge quando dois indivíduos se

comprometem numa relação que pretendem que se prolongue no tempo” (p.51).

Neto (2005) conceptualiza a conjugalidade como sendo um processo complexo

que envolve diversos níveis do relacionamento e diversos contextos que resultam na

definição psicossocial de uma relação afectiva estável. Berger e Kellner (1964), Veiga da

Silva (2001) e Grandesso (2000) (cit por Neto, 2005) abordam a conjugalidade como um

processo de construção de uma realidade comum, na qual cada parceiro experimenta uma

reconstrução da sua realidade individual, criando referências comuns e uma identidade

conjugal. Esta relação é construída a partir de trocas verbais e não verbais entre os

cônjuges que coordenam as suas acções num universo social de significado,

comprometendo-se com a construção de uma história comum (Neto, 2005). Por

conseguinte, a relação conjugal ocorre num contexto sócio-histórico e tem início na

criação de um território comum, onde são partilhadas experiências que vão valorizar as

interacções significativas do casal, num processo contínuo ao longo do ciclo de vida

(Neto, 2005), experiências essas que combinam interdependência económica, sexual,

comportamental e afectiva (Levinger & Huston, 1990). A relação íntima do casal é deste

modo o espaço mais adequado para que cada indivíduo preencha as suas necessidades de

afecto, de companheirismo, lealdade e intimidade emocional e sexual (Halford, Kelly &

Markman, 1997).

Sintetizando, a conjugalidade define-se como “a ligação de duas vidas através de

um imenso conjunto de experiências: o partilhar sentimentos íntimos e quotidianos, o

moldar experiências sexuais, o criar uma organização complexa para o dia-a-dia,

optimizando recursos emocionais e financeiros. A conjugalidade é a inteira coordenação

de duas vidas; envolve a aprendizagem de se saber estar separados e juntos, a

aprendizagem de se saber gerir o poder, a aprendizagem de se saber brincar e trabalhar

juntos, e talvez o maior desafio de todos, a aprendizagem de se ser a base de uma nova

geração. Mas a conjugalidade não só liga dois indivíduos, mas unifica as «culturas»

separadas das suas famílias: os seus costumes, mitos, rituais, preconceitos, aspirações,

crenças, estereótipos de género e memórias” (Napier, 2000, p.145).

Page 22: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

22

1.2. O que é ser «um casal»...

Segundo Caillé (1991), “...ali, onde não havia nada, dois indivíduos viram um

casal e tendo-o visto, criaram-no” (p.40).

A cada casal estão associadas dimensões reveladoras do estilo relacional que o

caracteriza, aos níveis comportamental, emocional e cognitivo, dimensões estas que estão

implicadas nas vivências experimentadas por cada cônjuge, tanto individualmente como

no todo que é o casal.

Neste subcapítulo pretende-se analisar, de forma breve, a dinâmica associada à

formação do casal, os processos subjacentes à conjugalidade, compreender de que forma

as várias correntes de investigação teorizam a unidade «casal» (e aqui daremos especial

relevo à teoria da vinculação, uma vez que a vinculação romântica é uma das variáveis

em estudo) e enquadrar as «formas» de se ser casal num modelo de ciclo de vida

familiar.

1.2.1 - A formação do casal

Numa perspectiva sistémica, a formação do casal é encarada por diversos

investigadores ( Relvas, 1996; Gimeno, 2001; Costa, 2005) como sendo a pedra basilar

de cada nova família nuclear, na medida em que à sua constituição está inerente a criação

de um novo sistema, com normas e padrões transaccionais próprios e específicos, os

quais assentam na negociação do património que é próprio de cada um e que é trazido

para a formação do novo sistema conjugal (Relvas, 1996). A este sistema estão

associadas tarefas desenvolvimentais que, segundo Virginia Satir (1991), conduzem à

criação do modelo conjugal. Este modelo contempla três entidades - o «eu»,o «tu» e o

«nós» - cada uma delas com espaço próprio e sem que nenhuma prevaleça sobre as

outras, de modo a que deste equilíbrio resulte em cada membro da díade um sentimento

de auto-estima individual, bem como um sentimento de pertença. Minuchin (1979)

considera que a transição do indivíduo para o casal se faz através da negociação e do

estabelecimento de normas e fronteiras a fim de se definir uma estrutura base das

interacções conjugais que integre e articule as normas herdadas de cada família de

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23

origem, assim como as expectativas e valores de cada um dos indivíduos, o que permite

que “o casal se projecte no futuro, nos descendentes, fornecendo-lhes a representação

comum da sua família, o contexto de vinculação a partir do qual se poderão desenvolver

e autonomizar” (Relvas, 1996, p.73). A autora considera que o subsistema conjugal

permite aos seus membros uma plataforma de suporte para lidar com as pressões do

sistema extra-familiar, sendo igualmente um modelo de interacções futuras fundamental

no desenvolvimento das crianças.

DeFranck-Lynch (1986) desenvolveu um esquema do ciclo de vida do casal em

três fases, as quais sistematizam as tarefas e o modo de funcionamento do subsistema

conjugal, e do qual se destaca o carácter evolutivo e complexo da conjugalidade. A

primeira fase corresponde a uma fase de fusão, a qual pode estender-se por vários anos, e

cujo objectivo é a fusão de dois indivíduos distintos num só sistema, o que implica um

grande investimento na criação da nova relação a fim de se desenvolver uma intimidade e

uma estabilidade crescentes. Ocorre afastamento de algumas ligações afectivas,

particularmente com a família de origem e definem-se territórios em zonas de simetria e

de complementariedade, resolvendo as questões de poder e definindo os modos de

resolução de conflitos. Há igualmente investimentos em outras áreas como a

parentalidade e as carreiras profissionais. A segunda etapa caracteriza-se por um retorno

ao «tu» e ao «eu», sendo a tarefa do casal permitir a transformação de um subsistema

formado por duas semientidades, num outro de duas metades bem definidas. Há a

necessidade de se criarem autonomias. Surgem frequentemente o aborrecimento e a

rotina. As diferenças e as complementaridades deixam de ser atraentes e passam a ser

encaradas como falhas. Há um retomar da consciência da relação que liga o casal e uma

ponderação sobre qual deverá ser o seu futuro. A terceira etapa – denominada etapa da

empatia – é descrita como sendo uma fase maior estabilidade, na medida em que há uma

re-união de dois indivíduos, quase autónomos e psiquicamente independentes, embora

sejam agora defrontados com novos pedidos e necessidades de mudança, dos quais se

destacam a reforma, os netos, a morte, entre outros. É contudo uma fase de liberdade e de

empatia no casal.

Será, por tudo isto, uma “unidade complexa, paradoxal e nunca terminada”

(Relvas, 1996, p.73).

Page 24: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

24

1.2.2 - Como funciona um casal - comportamentos, cognições e emoções na

conjugalidade

A realidade do funcionamento da relação do casal é facilmente encarada como

complexa, mesmo pelo mais comum dos indivíduos (Costa, 2005).

Numa tentativa de síntese de conhecimentos provenientes da investigação

realizada no âmbito da Psicologia Social e da Psicologia Cognitiva, Fletcher (2002)

elaborou um modelo teórico cujo o objectivo é explicar o funcionamento das relações de

intimidade que se estabelecem no seio do casal. Este modelo – o modelo da cognição da

relação íntima – considera que cada indivíduo possui teorias de vários tipos sobre as

relações entre o casal. Essas teorias desempenham um papel fundamental no

funcionamento da «mente relacional»2. Assim, e de acordo com a figura 1, a cognição da

relação compreende três tipos de teorias: as teorias sociais gerais, as teorias gerais da

relação e as teorias locais da relação. As teorias sociais gerais, que dizem respeito às

regras e crenças do sujeito relativamente às relações interpessoais em geral, são

responsáveis pela especificação do quando e do como atribuir crenças, atitudes, intenções

e traços de personalidade nas diversas relações interpessoais. As teorias gerais da

relação estão associadas a conceitos (e emoções relacionadas) tais como amor, crenças,

expectativas e padrões ideais relativamente a relações hipotéticas ou crenças sobre

relações íntimas em geral. Distinguem-se das anteriores porque se referem às relações

íntimas, estando igualmente mais carregadas de conteúdo. As teorias locais da relação

desenvolvem-se a partir do momento do conhecimento do parceiro, no qual se inicia a

construção de um modelo mental dele e da relação, havendo uma integração de juízos

(sobre a personalidade do parceiro, da relação) e interacções sobre diferentes categorias

(como a satisfação geral, a proximidade, a paixão, o amor, o compromisso, a confiança).

Estas teorias desenvolvidas pelos indivíduos funcionam como uma «bagagem mental»

que transportam para as suas relações específicas e que são utilizadas para alcançar

objectivos muito próximos de qualquer ciência. Nas palavras de Fletcher (2002), “os

seres humanos possuem teorias sobre as relações íntimas maravilhosamente sofisticadas,

2 Mente relacional (relationship mind) é a designação utilizada por Fletcher (2002) para caracterizar a representação cognitiva que cada pessoa faz de determinada relação.

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25

pelas mesmas razões que os cientistas têm teorias – para explicar, avaliar, prever e

controlar as suas relações” (p.261).

Figura 1 – Modelo da Cognição da Relação Íntima (Fonte: G. Fletcher, 2002)

O pensamento do indivíduo sobre a relação íntima pode ser desencadeado por

qualquer acontecimento (cognição, emoção ou comportamento) dentro ou fora da

interacção. Este processo pode ser automático (inconsciente) ou controlado (consciente).

Quando o processamento é automático, é mais rápido, ocorre sem grande esforço

cognitivo, não podendo ser verbalizado. O processamento cognitivo controlado é mais

lento, mais ligado à utilização de linguagem e mais exigente do ponto de vista cognitivo.

Segundo o autor, grande parte do que ocorre ao nível da «mente da relação íntima»

recorre a uma mistura dos dois tipos de processamento cognitivo e depende da fase da

relação, das diferenças de personalidade individual e do contexto da relação.

A compreensão das relações de casal implica necessariamente a análise das

interacções comportamentais interpessoais e as experiências cognitivas e afectivas que

co-existem e interagem de forma interdependente (Baucom & Epstein, 1990). Fletcher

considerou no seu modelo da cognição da relação íntima três processos fundamentais -

comportamentos, cognições e emoções - os quais são os determinantes e os correlactos

das interacções conjugais.

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26

1.2.2.1 - Processos Comportamentais3

Segundo Epstein e Baucom (2002), existem padrões comportamentais específicos

associados aos casais, os quais podem ser agrupados em comportamentos

comunicacionais e comportamentos não comunicacionais. Os primeiros referem-se às

interacções que envolvem expressão e escuta de pensamentos e emoções dos cônjuges,

assim como a procura de soluções para problemas específicos. Os comportamentos não

comunicacionais incluem um conjunto de actos instrumentais e afectuosos, tais como o

fazer favores ao cônjuge, o trabalhar em tarefas domésticas, entre outros. Estes

comportamentos são portadores em si próprios de mensagens para o companheiro, quer

positivas, quer negativas, o que nos permite compreender uma parte importante do

funcionamento do casal.

Os comportamentos positivos são classificados pelos autores em dois tipos:

comportamentos expressivos, como o carinho, o afecto e o amor, cujo objectivo é

trabalhar os aspectos emocionais do relacionamento conjugal, através, por exemplo, do

fazer o cônjuge sentir-se cuidado e valorizado; e comportamentos orientados para a tarefa

ou instrumentais, que dizem respeito às tarefas que devem ser feitas pelo casal (como

ganhar o sustento familiar, tomar decisões, partilhar tarefas domésticas) e que vão

contribuir para um sentimento de trabalho em equipa e, simultaneamente, de respeito pela

individualidade de cada um.

Quanto aos comportamentos negativos, Epstein e Baucom (2002) constataram na

sua revisão de literatura, que não existe uma distinção tão clara entre comportamentais e

expressivos. Por conseguinte, consideram que os comportamentos negativos dizem

respeito essencialmente a comportamentos de crítica, de negação de responsabilidade, de

queixa e de humilhação. Para além disto, chamam a atenção para o facto de, nos casais

com níveis mais elevados de comportamentos negativos, ser frequente a tendência para

estes se tornarem recíprocos em ambos os cônjuges.

Em termos do impacto que os comportamentos têm ao nível da satisfação4 e do

nível de stress no casal, Epstein e Baucom (2002) concluíram que os comportamentos

3 É importante referir que separar os processos cognitivos, cognitivos e emocionais é completamente artificial dado que, em qualquer interacção, eles co-existem e influenciam-se mutuamente. A opção pela sua separação deve-se apenas a uma questão de metodologia da explanação.

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27

negativos parecem distinguir casais satisfeitos dos não satisfeitos, no sentido em que

comportamentos positivos surgem associados a casais mais satisfeitos. Contudo, notam

que os comportamentos negativos em determinados momentos da vida conjugal são

preditores de satisfação, na medida em que podem ser esclarecedores de problemas da

relação. Por outro lado, observaram que os comportamentos «menores» de carinho e

suporte manifestados diariamente (como por exemplo, o dar um beijo sempre que se

despedem de manhã e quando regressam no final do dia) são essenciais para a

manutenção da satisfação conjugal. Salientam, por fim, que os casais mais felizes tocam

mais nos companheiros, utilizam mais comportamentos de aprovação, de carinho, de

descrição e resolução de problemas, reveladores de empatia e de humor.

1.2.2.2 - Processos Cognitivos

Segundo Epstein e Baucom (2002), a forma como os casais assimilam a

informação proveniente dos comportamentos dos cônjuges, são resultado, pelo menos em

parte, de processos automáticos de aprendizagem. Assim, os casais estão atentos a

aspectos particulares dos acontecimentos, escolhidos de forma selectiva, que vão

condicionar o significado que constroem relativamente aos comportamentos do outro, ao

mesmo tempo que criam expectativas sobre a forma como os seus companheiros irão agir

no futuro. Estas cognições sobre acontecimentos específicos podem provir de um

conjunto de crenças básicas acerca de si próprios, dos seus companheiros e dos seus

relacionamentos.

Os autores consideram vários tipos de cognições condicionadoras da reacção dos

indivíduos aos acontecimentos específicos: atenção selectiva, atribuições, expectativas,

pressupostos e crenças.

A atenção selectiva diz respeito ao facto dos parceiros darem atenção a aspectos

específicos da interacção, negligenciando outros, o que pode conduzir a distorções na

percepção do acontecimento. Em casais com níveis mais elevados de stress, os autores

verificaram que existe um nível mais baixo de concordância acerca do acontecimento em

análise.

4 A satisfação conjugal é a variável dependente mais estudada na temática da conjugalidade, tal como demonstra o trabalho de Narciso (2001).

Page 28: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

28

As atribuições são explicações dadas para os acontecimentos conjugais já

ocorridos, e são inferidas a partir dos comportamentos do companheiro (ibidem). A

investigação revista permite concluir que os casais com maior níveis de stress tendem a

culpar o cônjuge pela origem dos problemas e atribuir os comportamentos negativos dos

parceiros a traços estáveis da personalidade. De modo oposto, nestes casais é menor a

probabilidade de se atribuírem comportamentos positivos a traços estáveis característicos

do indivíduo.

As expectativas são previsões acerca do futuro da relação e dos comportamentos

prováveis do parceiro, e afectam as emoções e os comportamentos subsequentes dos

indivíduos. A investigação conclui que as expectativas negativas parecem influenciar o

pensamento do sujeito acerca de interacções específicas do cônjuge, assim como o futuro

da própria relação (ibidem).

Os pressupostos são convicções mantidas pelos indivíduos sobre as características

dos indivíduos e das relações conjugais (como por exemplo, pressupostos sobre as

características típicas dos homens e das mulheres) e dizem respeito ao pensamento dos

sujeitos acerca do funcionamento real dos indivíduos e do mundo. Os pressupostos

podem servir como base ao desenvolvimento de atribuições a comportamentos

específicos dos parceiros.

As crenças dizem respeito às convicções pessoais dos sujeitos relativamente às

características que uma relação íntima ou que os cônjuges deveriam ter. As crenças

permitem que cada indivíduo avalie se o comportamento do parceiro é adequado e

aceitável, decida como é que o casal deve expressar o seu afecto, o que devem partilhar

com o outro e o que devem guardar para si, entre muitas outras possíveis.

Epstein e Baucom (2002) concluem que os casais com maior índice de

perturbação no seu relacionamento reportam maior número de pressupostos globais

negativos acerca do modo de funcionamento da relação e dos parceiros, bem como

crenças mais negativas sobre o modo como o devem fazer.

1.2.2.3 - Processos Emocionais

Não existe uma definição consensual de emoção; contudo Ekman ( 1982, cit por

Neto & Azevedo, 2003) propõe que as emoções possuam as seguintes características:

Page 29: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

29

tenham um âmbito universal, disponham de expressão comparável nas outras espécies

animais, sejam precedidas por acontecimentos cuja natureza é universal, desencadeiem

um sistema coerente de resposta, apareçam espontânea e rapidamente, tenham uma curta

duração e que lhe esteja associado um mecanismo de avaliação automática.

Baucom e Epstein (1990) agruparam as emoções em positivas e negativas. Por sua

vez nas emoções positivas distinguiram emoções de felicidade / contentamento (que

inclui a alegria, o contentamento, a excitação e a boa-disposição), emoções de

aproximação / entusiasmo (tais como o amor, a afeição, a devoção), emoções de energia /

vigor e emoções de relaxamento / calma. A primeira categoria descreve emoções

associadas a um estado geral do indivíduo, enquanto que à segunda categoria estão

associadas emoções de um indivíduo relacionadas com outro, ou seja, há uma focalização

interpessoal mais explícita. Nas emoções negativas podem considerar-se as depressivas,

as ansiosas e as de raiva.

Do ponto de vista cognitivo, cada uma destas emoções está relacionada com um

experiência cognitiva diferente e, portanto, têm consequências díspares no

relacionamento interpessoal do casal, na medida em que tanto as emoções positivas como

as emoções negativas afectam quem as experimenta, o cônjuge e a própria relação

(ibidem).

Watson e Tellegen (1985, cit por Epstein & Baucom, 2002) consideraram

importante definir dois conceitos – afectividade positiva e afectividade negativa – que

traduzem não só a resposta individual a um dado acontecimento, mas também o facto das

pessoas tenderem a experimentar graus particulares de um conjunto de emoções em

situações e momentos diversos. Os indivíduos com níveis elevados de afectividade

positiva e níveis baixos de afectividade negativa têm maior probabilidade de gerar um

ambiente mais positivo para si próprios e para a sua família. Pelo contrário, os indivíduos

com níveis altos de afectividade negativa e com níveis baixos de afectividade positiva são

particularmente sensíveis e reactivos aos comportamentos negativos dos cônjuges, e são

menos responsivos aos comportamentos positivos, o que aumenta a probabilidade de

entrarem em ciclos de interacções negativas, o que, com o decorrer do tempo, contribui

para o distress na relação conjugal (Epstein & Baucom, 2002).

Page 30: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

30

A investigação aponta para que os casais com níveis mais elevados de stress

respondam às suas emoções negativas acerca dos seus relacionamentos, seleccionando os

aspectos negativos dos acontecimentos interpessoais, recorrendo a explicações negativas

para um acontecimento específico, e utilizando o acontecimento para alimentar as suas

expectativas acerca das interacções negativas com o parceiro no futuro (ibidem).

Em síntese, “o sentido atribuído conjuntamente à relação cria uma harmonia que

também dá sentido à vida dos dois indivíduos – há uma relação essencial entre o

investimento passional (afectivo) e a representação (cognitiva) do mundo que organiza as

nossas acções e define as nossas prioridades (comportamento) ” (Ribeiro, 2002).

1.2.3 - Teorias Psicológicas da Conjugalidade

O primeiro estudo publicado sobre o casamento data a 1938, e foi levado a cabo

pelo psicólogo Louis Terman (Gottman, 1998). Desde então, a investigação sobre o

casamento não tem parado de crescer, o que vem originando várias correntes teóricas e

empíricas que se dedicam ao estudo das variáveis e processos envolvidos na

conjugalidade.

Berman, Marcus e Berman (1994) propuseram uma classificação das principais

correntes que estudam a psicologia do casamento, as quais também fundamentam

intervenções terapêuticas e preventivas junto de casais e que são as seguintes: teorias

sociais, teorias psicodinâmicas, teoria geral dos sistemas e teoria da vinculação.

1.2.3.1 - Teorias Sociais

As teorias sociais são todas aquelas que têm como base os fundamentos da

aprendizagem social e da troca social, e que são reflexo dos trabalhos de Bandura (1977)

e de Thibaut e Kelley (1959) (cit por Baucom & Epstein, 1990). Estas teorias postulam

que entre marido e mulher se desenvolve um processo recíproco de influência mútua, de

Page 31: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

31

tal modo que o comportamento de cada um deles em contexto conjugal pode diferir do

comportamento que teriam aprendido a ter se em relação com outros indivíduos. Tal

baseia-se num modelo de recompensas e de punições, as quais são controladas pelos

cônjuges e pela sanção ou aprovação social. Assim, numa relação de conjugalidade, o

sujeito avalia a qualidade dos reforços fornecidos pelo outro, assim como a

disponibilidade desses reforços na relação actual, comparada com a disponibilidade em

relações alternativas. O indivíduo procurará então maximizar os reforços, o que

determinará se irá permanecer ou não na relação (Levinger, 1988).

Os pressupostos que estão subjacentes às teorias sociais – o comportamento é

controlado pelas suas consequências; o comportamento humano é aprendido através da

imitação de modelos observados; a aprendizagem e o desempenho de comportamentos

são habitualmente mediados por processos cognitivos – permitiram aos investigadores

identificar diferentes padrões de reforço em casais satisfeitos versus casais não satisfeitos,

sendo que estes últimos com significativamente mais respostas negativas (Patterson,

1982; cit por Baucom & Epstein, 1990).

Estes modelos conduziram à elaboração de intervenções terapêuticas

comportamentais para casais não satisfeitos e disfuncionais, centradas essencialmente no

aumento de trocas de comportamentos positivos e diminuição de trocas comportamentais

negativas.

1.2.3.2 - Teorias Psicodinâmicas

As teorias psicodinâmicas reúnem trabalhos associados às teorias psicanalíticas e

de relações objectais (Kernberg, 1976; Meissner, 1978, cit em Berman, Marcus &

Berman, 1994) e de contrato conjugal (Sager, 1986). As temáticas de estudo envolvem a

escolha do cônjuge na procura de complementaridade (escolha do parceiro como forma

de preenchimento de necessidades narcísicas), o desenvolvimento psicossexual dos

cônjuges ao nível da influência das famílias de origem e do modo como as relações

primárias de objecto se manifestam na relação conjugal, o impacto da psicopatologia dos

cônjuges no desenvolvimento de uma conjugalidade disfuncional e a projecção de

conflitos inconscientes e de problemas de desenvolvimento no cônjuge.

Page 32: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

32

Sager (1986) postula que cada indivíduo traz para a relação conjugal um conjunto

de expectativas conscientes e inconscientes, crenças e exigências as quais espera que

sejam preenchidas. Trata-se de uma espécie de «contrato» que reflecte o que o cônjuge

fará e o que o indivíduo fará em troca da concordância do cônjuge.

Relativamente às intervenções terapêuticas, destacam-se a interpretação, a

clarificação e o insight em relação à história de desenvolvimento de cada cônjuge, assim

como o desenvolvimento de competências de escuta e de empatia.

1.2.3.3 - Teoria Geral dos Sistemas

A teoria geral dos sistemas é uma teoria desenvolvida por Bertalanffy em 1968

sobre sistemas abertos complexos e cujos princípios foram importados pelos teóricos dos

sistemas familiares (Walsh, 1982). Segundo Bertalanffy (1968), um sistema é um

conjunto de unidades em inter-relações mútuas que incluem, simultaneamente, função e

estrutura. Todos os sistemas são abertos e hierarquizados, isto é, estão inseridos num

meio com o qual estabelecem trocas permanentes (isto é, como supra-sistema), sendo

integrados por subtotalidade autónomas (sub-sistemas), funcionando ora como parte de

sistemas mais vastos, ora como totalidades de sistemas mais restritos.

Segundo esta teoria, a família / casal é um sistema aberto que funciona em

interacção com o contexto sócio-cultural onde está inserida, durante todo o ciclo de vida,

obedecendo aos seguintes princípios:

1. Circularidade: o sistema familiar é definido como um grupo de indivíduos

interrelacionados, de tal forma que uma mudança num determinado indivíduo afecta os

outros indivíduos e o grupo como um todo, o que por sua vez afecta o primeiro indivíduo

numa cadeia circular de causalidades;

2. Não-aditividade: a família como um todo é maior que a soma das partes, e não

pode ser descrita através da soma das características individuais dos seus membros;

3. Equifinalidade: a mesma origem pode conduzir a diferentes resultados, e o

mesmo resultado pode se dever a origens diversas, ou seja, o sistema é independente das

suas condições iniciais, o que significa que a finalidade é mais importante do que a causa

assim como o processo;

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33

4. Comunicação: todo o comportamento é conceptualizado como comunicação

através de transmissão de mensagens interpessoais;

5. Homeostase: o sistema familiar define normas de funcionamento desenvolvidas

por mecanismos homeostáticos de retroacção, pelo que o sistema é fonte das suas

próprias modificações;

6. Morfogénese: Simultaneamente, o sistema familiar, para fazer face às

exigências internas e externas, deve possuir flexibilidade. Para tal, é necessário o sistema

reorganizar-se e produzir mudanças de segundo grau que permitam a sua adaptação às

novas condições (Walsh, 1982).

Segundo esta teoria, a análise às interacções do casal deverá ser efectuada, por

meio destes princípios reguladores dos sistemas abertos, que garantem que qualquer

comportamento tem de ser entendido como função de outro, ou do comportamento de

próprio sistema (Relvas, 2000).

As intervenções (preventivas e terapêuticas) têm como objectivo principal o de

promover o desenvolvimento dos cônjuges no sentido de serem capazes de recriar

construtiva e autonomamente a sua relação. Para tal, é utilizada a análise multigeracional

para a compreensão das situações específicas, recorrendo a estratégias que variam em

função da complexidade e dos valores mais interpretativos / estratégicos no trabalho das

cognições, emoções e comportamentos dos cônjuges (Costa, 1994).

I.2.3.4 - Teoria da Vinculação

1.2.3.4.1 – A Teoria da Vinculação: os primórdios

A vinculação é considerada o conceito-chave da segunda metade do século XX na

psicopatologia e na psicologia (Guedeney, 2004), na medida em que está

consubstanciado num sólido paradigma teórico de compreensão das relações humanas

(Pietromonaco & Barret, 2000).

A teoria da vinculação foi originalmente concebida por John Bowlby e nasce da

“...violência das separações e das carências precoces, na encruzilhada dos contributos da

psicanálise, da etologia, das ciências cognitivas, da informática e da cibernética com os

contributos da observação, da reconstrução e da narração”. (Guedeney, 2004, p.30).

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34

Bowlby (1969) desenvolveu esta teoria a partir de um conjunto de observações

naturalistas de crianças separadas precocemente das suas mães. Segundo esta, o bebé

humano está capacitado de um sistema biológico – o sistema de vinculação – cuja função

primordial é a sua protecção e cuidado por um adulto cuidador (normalmente a mãe),

uma vez que a sua imaturidade não lhe permite sobreviver aos perigos do ambiente sem

qualquer tipo de cuidados. Deste modo, e como resultado de um processo de selecção

natural, o bebé humano teria tido a capacidade de desenvolver um conjunto de

comportamentos que funcionariam como forma de manter a proximidade a um adulto

cuidador (Hazan & Shaver, 1994). Esses comportamentos (de que é exemplo o choro)

seriam activados nos momentos de ansiedade como forma de protesto à alteração da

manutenção da proximidade à figura cuidadora (ou seja, de vinculação), e teriam como

objectivo o restabelecimento da mesma. A resposta do cuidador aos sinais de distress da

criança conduziria, ao longo de interacções continuadas, à construção de representações

mentais – modelos operantes internos – os quais corresponderiam às aprendizagens da

criança acerca da responsividade e disponibilidade do cuidador às suas necessidades de

conforto e segurança. Estas aprendizagens seriam fundamentais na construção do

modelos do self, o qual implica crenças e sentimentos e comportamentos acerca de si

próprio e dos outros, que tornar-se-ão guias em futuras relações afectivas (ibidem).

Ainsworth e alguns colaboradores (1978) interessaram-se igualmente pelo estudo

das interacções entre a criança e a mãe e desenvolveram um conjunto de observações

com base numa situação padrão – a situação estranha –a fim de avaliar a qualidade do

laço de vinculação da criança à mãe. Este procedimento laboratorial foi desenhado para

activar o sistema de vinculação da criança e consistia em separar a criança da sua mãe por

várias vezes, num ambiente que lhes era desconhecido. A investigadora procurava

compreender de que modo e quando as crianças procuravam a proximidade e o contacto

com as suas mães, o grau em que aceitavam e eram confortadas por esse contacto, e a

facilidade com que na sua presença evidenciavam comportamentos de exploração do

ambiente. Ou seja, Ainsworth pretendia observar os comportamentos de manutenção da

proximidade, de porto seguro e de base segura, que seriam resultantes da activação /

desactivação do sistema de vinculação e que são os componentes relacionais que

distinguem os laços de vinculação de outros tipos de relações sociais (Zeifman & Hazan,

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35

1997). Os investigadores assumiram que o comportamento das crianças no laboratório

reflectia as suas expectativas (ou modelos operantes internos) baseadas nas respostas

anteriores da mãe às suas necessidades de contacto e de conforto. Encontraram três tipos

de padrões de vinculação: seguro, ansioso/ambivalente e evitante. As crianças com um

padrão de vinculação seguro apresentavam sinais de distress quando as suas mães saíam

da sala, eram confortadas pelo seu regresso e participavam em actividades de exploração

enquanto as suas mães permanecessem acessíveis. As suas mães mostraram-se

responsivas e atentas aos seus sinais. Corresponderam a cerca de 60% do total da amostra

de investigação. As mães das crianças com padrão de vinculação ansioso/ambivalente,

aproximadamente 15%, exibiram respostas inconsistentes aos sinais dos seus filhos – por

vezes mostraram-se indisponíveis e não responsivas; noutras vezes o seu comportamento

era manifestamente intrusivo. As crianças mostravam zanga, ansiedade e manifesta

preocupação às eventuais ausências das suas mães, de tal forma que o seu sistema de

exploração era frequentemente inibido. Por outro lado, as mães das crianças classificadas

como evitantes, contrariavam a sua procura de conforto, especialmente o contacto físico.

As crianças com padrão evitante, cerca de 25%, aparentemente pareciam não ficar

perturbadas pelas separações e evitavam o contacto com os seus cuidadores, focalizando

a sua atenção no ambiente (embora com menos entusiasmo e interesse relativamente às

crianças com padrão de vinculação seguro).

Posteriormente, Main e Solomon (1990) identificaram um quarto padrão de

vinculação – desorganizado/desorientado – que se define pela ausência de uma estratégia

coerente para gerir a ansiedade e que se manifesta por uma mistura de comportamentos

de ambivalência e de evitamento.

1.2.3.4.2 - A Perspectiva do Amor Romântico como Processo de Vinculação

Bowlby (1979) postulou que é o sistema de vinculação, como resultante das

pressões da selecção ao longo da evolução, que predispõe o ser humano para formar

relações próximas, na medida em que a necessidade de segurança (uma das necessidades

fundamentais para a sobrevivência e reprodução) é melhor satisfeita no contexto de

relações sociais. Tratando-se de uma dimensão do funcionamento psíquico humano que

permanece pertinente do nascimento até à morte, considerou que a vinculação é essencial

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36

na ligação entre a criança e o seu cuidador, não sendo limitada à idade da infância,

mantendo-se estável e com um papel importante ao longo da vida do sujeito, uma vez que

os modelos operantes internos de si e dos outros construídos com base nas interacções

com o cuidador e os padrões comportamentais influenciados por eles são componentes

essenciais da personalidade.

Hazan e Shaver, com base nestes pressupostos, levaram a cabo um conjunto de

investigações cujo pressuposto foi a conceptualização do amor romântico como um

processo de vinculação (Hazan & Shaver, 1987; Shaver & Hazan, 1988), logo como um

sistema biológico, complexo e dinâmico, interrelacionado com outros sistemas

biológicos, tendo origem nos primórdios do desenvolvimento relacional do ser humano.

Estes autores argumentaram que as relações no casal são ligações afectivas que envolvem

processos sócio-emocionais bastante complexos, os quais apresentam bastantes

semelhanças com as relações de vinculação que se estabelecem entre a criança e a sua

figura de cuidado. Assim, as variações nas experiências sociais precoces produziriam

diferenças nos estilos de relacionamento adulto, de modo a que os três estilos de

vinculação principais descritos na literatura da criança (seguro, evitante e ambivalente) se

manifestariam no amor romântico. Os estudos empíricos avaliaram a relação entre o

estilo de vinculação e aspectos das relações nas crianças e nos adultos.

Num primeiro estudo, Hazan e Shaver (1987) desenvolveram um questionário

constituído por várias medidas do amor romântico e por descrições de relações de

vinculação extrapoladas a partir da literatura de vinculação na infância, o qual foi

distribuído a partir de um jornal local. Os questionários devolvidos permitiram encontrar

resultados que indicavam que as frequências dos 3 estilos de vinculação eram similares

aos observados em crianças: cerca de 56% dos adultos descreveram-se como seguros,

25% como evitantes e 19% como ambivalentes. Consistente com as predições baseadas

na teoria da vinculação, os três grupos diferiram nos seus relatos das relações familiares

precoces, modelos operantes de vinculação e experiências amorosas. Este estudo

apresenta limitações as quais foram referidas pelos próprios: devido à forma de recolha

dos dados (através de anúncio em jornal local) as medidas eram simples e breves; os

sujeitos descreviam a sua experiência de uma única relação e, por isso, o foco estava nas

qualidades da relação que diferenciavam os 3 grupos de vinculação.

Page 37: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

37

Apesar das limitações da primeira investigação, Hazan e Shaver continuaram a

desenvolver a pesquisa providenciando uma explicação normativa do amor romântico (ie,

explicando os processos típicos na vinculação romântica) e uma compreensão das

diferenças individuais observadas nos estilos de relacionamento adultos.

Este corpo de investigação despertou a atenção de muitos investigadores, os quais

procuram estabelecer relações com outros temas de investigação como a

conceptualização do amor e da vinculação, a regulação afectiva, entre outros.

Uma dessas linhas procurou compreender a conceptualização do amor e da

vinculação. Shaver e Hazan (1988) propuseram uma integração das teorias do amor já

existentes com a perspectiva da vinculação. Levy e Davis (1988) avaliaram a relação

entre o estilo de vinculação e as medidas dos estilos de amor descritos por Lee5 (1988) e

os componentes do amor discutidos por Sternberg6 (1988, cit por Sternberg, 2001).

Segundo Hazan e Shaver (1988), os indivíduos seguros corresponderiam a uma

combinação do amor eros (amor apaixonado) e amor agape (amor altruísta); os

indivíduos evitantes corresponderiam a ludus (amor game-playing) e os indivíduos

ambivalentes corresponderiam a mania (amor possessivo/dependente). Levy e Davis

(1988), baseando-se nos valores de cada estilo de amor e de cada estilo de vinculação,

confirmaram estes resultados, embora as associações fossem modestas. No que respeita

ao modelo do amor triangular de Sternberg (1986, cit por Sternberg, 2001), os três

componentes descritos pelo autor como correspondendo ao amor (intimidade, paixão e

compromisso) estavam positivamente relacionados com a vinculação segura e

negativamente relacionados com as vinculação evitante e ambivalente. Estes resultados

mostram a relação entre a vinculação segura e o melhor funcionamento da relação

amorosa, mas não estabelecem quaisquer relações com cada um dos estilos inseguros.

Feeney e Noller (1990) desenvolveram uma pesquisa com o objectivo de replicar

os trabalhos de Hazan e Shaver (1987) e de avaliar a integração das teorias do amor

5 Lee (1988) elaborou uma tipologia de estilos de amor, defendendo que o essencial não é encontrar uma definição de amor nem saber quanto se ama, mas sim distinguir diferentes estilos de amr. Utilizou a analogia da cor e propôs três estilos primários de amor (eros, storge e ludus) e três estilos secundários que resultam da combinação dos primários (agape, pragma e mania). 6 Sternberg (1988, cit por Sternberg, 2001) elaborou uma teoria sobre o amor - teoria triangular do amor – na qual considera a existência de três componentes (intimidade, compromisso e paixão) que podem ser vistos como formando os vértices de um triângulo, os quais se combinam para formar 7 tipos de amor. A forma do triângulo é condicionada pela quantidade e pelo equilíbrio do amor.

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38

propostas pelos autores. Uma vez mais, foram replicados os resultados de Hazan e

Shaver, uma vez que se encontraram valores semelhantes no que concerne às diferenças

dos grupos de vinculação para as medidas da história familiar e modelos operantes. Um

aspecto curioso foi o facto dos indivíduos evitantes terem maior probabilidade de referir

uma separação longa das suas mães durante a infância, o que é consistente com a teoria

da vinculação. No que se refere à relação entre a perspectiva da vinculação e as teorias do

amor, as autoras observaram, a partir de análise factorial, que existiam 4 grandes factores

que diferenciavam significativamente os grupos de vinculação: os indivíduos seguros

tinham níveis elevados em auto-confiança e reduzidos em amor neurótico e evitamento

da intimidade: todos os indivíduos inseguros referiram níveis baixos em auto-confiança,

mas enquanto os evitantes tinham níveis altos em evitamento da intimidade, os

ambivalentes possuíam níveis elevados em amor neurótico (preocupação, dependência e

idealização) e níveis reduzidos em amor discreto (circumspect love). Estes dados

suportam a análise proposta por Hazan e Shaver (1988), acrescentando-lhe alguma

qualificação.

Todos estes resultados levaram a que Hazan e Shaver (1994) considerassem que

na base dos relacionamentos amorosos está o sistema de vinculação, o qual é definido por

características semelhantes ao sistema de vinculação na infância – procura de

proximidade, porto seguro e base segura – embora assinalem a existência de diferenças

importantes entre a vinculação nas duas fases de vida. Em primeiro lugar, ao contrário do

que se passa na infância, os laços de vinculação nos relacionamentos adultos

estabelecem-se na reciprocidade. Cada parceiro é ao mesmo tempo dador e receptor de

apoio, de atenção e de segurança, tornando-se uma figura de vinculação e utilizando o

parceiro como figura de vinculação para si próprio. Por outro lado, a primeira figura de

vinculação da criança é geralmente um dos pais, ao passo que na a figura de vinculação

do adulto é um companheiro, frequentemente, um parceiro sexual, estando assim em

interacção três sistemas comportamentais: sexual, de vinculação e de caregiving. Os

autores salientam como diferença a considerar os motivos que levam à procura de

proximidade. Para os adultos, a procura de proximidade advém, não só como forma de

reduzir a ansiedade resultante de situações geradoras de stress (como na infância), como

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39

também do desejo de protecção ou oferta de conforto (caregiving) e do envolvimento em

actividades sexuais (sistema sexual).

No que concerne às funções do sistema de vinculação nos adultos, Hazan e Shaver

(1994) consideram a satisfação de necessidades básicas de segurança, de conforto e de

cuidado (tal como na infância). Contudo, a função de manutenção da espécie,

nomeadamente na educação dos bebés (Buss & Schmidt, 1993; Hill & Hurtado, 1995; cit

por Mintz, 2004) é também primordial (e exclusiva dos adultos), na medida em que sendo

o bebé imaturo e dependente das qualidades dos cuidados parentais para a sua

sobrevivência, um laço de vinculação entre os pais contribui para manter o maior tempo

possível juntos o casal parental e, assim, assegurar de forma mais adequada a função dos

cuidados parentais. Outra das funções parece ser o contributo para uma melhor qualidade

de vida (Goodwin et al., 1987; Uschino et al., 1996; cit por Mintz, 2004). Verifica-se que

os indivíduos que vivem rupturas dos seus laços de vinculação estatisticamente têm mais

perturbações psíquicas, mais patologias somáticas, mais acidentes e mais

comportamentos aditivos do que a população em geral. A continuidade dos laços, ao

fornecer um suporte afectivo-emocional, permite a manutenção de uma base de segurança

que cada parceiro concede ao outro e permite actividades de exploração mais

desenvolvidas como a actividade profissional e os diferentes investimentos sociais na

idade adulta (Hazan & Shaver, 1990).

Relativamente à formação do laço de vinculação, Zeifman & Hazan (1997)

propuseram um modelo em quatro fases: a primeira fase, denominada pré-vinculação,

corresponde ao período inicial de flirt. O laço de vinculação ainda não existe mas a

natureza das relações – beijos, trocas de olhar, relações sexuais – favorece o

desenvolvimento de um laço de vinculação posterior se o objectivo do flirt não for

unicamente a satisfação sexual. A componente sexual introduz uma motivação para o

desenvolvimento de relações sociais e serve de catalisador para orientar a atenção para

futuros parceiros. A atracção sexual favorece a construção de um laço de vinculação e é

reforçada por este (Aron, et al., 1989; Backman & Secord, 1959; Curtis & Miller, 1986;

cit por Mintz, 2004). A vinculação em vias de constituição constitui a segunda fase,

aquela em que os indivíduos se apaixonam. A proximidade física já não é motivada

unicamente pela atracção sexual mas pela procura de uma intimidade mais geral, em

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40

busca de segurança. As trocas começam a implicar as emoções, e cada parceiro revela o

que sente dando informações sobre a sua própria história (experiências dolorosas,

medos); permitem testar a resposta do outro de forma a que cada um se torne o suporte

emocional do parceiro. Segue-se o laço de vinculação. A atracção sexual tem menos

importância e as trocas emocionais ocupam o lugar principal nos vínculos. A partir da

repetição das experiências que, através destas trocas buscam o conforto e segurança, o

vínculo amoroso é associado à redução do stress. O parceiro torna-se então o «porto

seguro» em caso de necessidade e em situações de separação surgem manifestações de

aflição. A quarta fase é caracterizada pela parceria corrigida quanto ao objectivo. Trata-

se de uma fase «pós-romance» na qual a proximidade física e todos os comportamentos

que favorecem o desenvolvimento de um laço de vinculação diminuem. Há um voltar

para o exterior visto que existe a garantia de uma laço de vinculação numa

interdependência emocional.

Geralmente, ao fim de cerca de dois ou três anos, a relação com o parceiro torna-o

a figura de vinculação principal (Weiss, 1988; Vormbrock, 1993, cit por Mintz, 2004).

Embora os amigos possam representar pessoas com as quais o adulto procura manter uma

certa proximidade e que podem favorecer conforto, apenas o parceiro amoroso, se tiver

uma relação estável com o sujeito superior a dois anos, desempenha o papel de base de

segurança. Da mesma forma, só em relação ao parceiro é que se reactivam as reacções de

aflição em caso de separação não prevista ou prolongada. Esta reacção à separação segue

a mesma sequência observada na criança: associa protesto, desespero e desapego. Esta

sequência não se verifica apenas em separações permanentes como a morte (Hazan,

1990).

A vinculação nos adultos tem vindo a ser analisada nas suas várias vertentes.

Assim, os estudos empíricos têm demonstrado que a cada estilo de vinculação estão

associadas características distintas ao nível da regulação emocional, do estilo de

comunicação, da forma de lidar consigo próprio, com os outros e com o mundo

envolvente.

Page 41: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

41

1.2.3.4.3 - Vinculação e Regulação Emocional

Ao nível da regulação emocional na vinculação adulta, ou seja, na forma de lidar

com as emoções negativas, pensa-se que as diferenças nos estilos de vinculação reflectem

as experiências de regulação do distress com os cuidadores. Através dessas experiências,

o indivíduo aprende estratégias para organizar a experiência emocional e lidar com os

sentimentos negativos; essas estratégias são igualmente aplicadas a outras situações

stressantes. Espera-se que os indivíduos seguros, tendo experimentado cuidados

responsivos, sejam capazes de lidar com sentimentos negativos de uma forma

construtiva, reconhecendo o distress e procurando suporte nos outros. Os indivíduos

evitantes têm maior probabilidade de restringirem o reconhecimento do distress e da

expressão dos sentimentos negativos, tendo aprendido a confiar neles próprios como

forma de reduzir o conflito com a rejeição e insensibilidade dos seus cuidadores. Espera-

se que os indivíduos ambivalentes mostrem um elevado grau de reconhecimento e

expressão dos sentimentos negativos, que se mostra ser uma forma de manter o contacto

com os cuidadores inconsistentes. Kobak e Sceery (1988) examinaram os padrões de

vinculação, as representações do próprio e dos outros e a regulação afectiva numa

amostra de estudantes, e concluíram que os indivíduos seguros estavam bem ajustados e

lidavam bem com as emoções negativas de formas constructivas. Os indivíduos evitantes

(desligados) eram descritos pelos pares como hostis mas manifestaram níveis de

competência social e distress similares aos dos indivíduos seguros, o que sugere uma

falha ao nível do reconhecimento dos sentimentos negativos. Para os indivíduos

ambivalentes (preocupados), tanto os auto-relatos como as classificações dos pares

indicaram níveis elevados de distress e de ansiedade, o que indica que estes mostram

tanto um elevado reconhecimento como expressão das emoções negativas.

Mallinckrodt e Wei (2005) confirmaram a existência de uma associação positiva

entre a vinculação ansiosa e evitante com o distress psicológico e uma associação

negativa entre os dois tipos de padrões inseguros com o suporte social percebido.

No que se refere à regulação dos afectos negativos nas relações românticas,

Simpson (1990) procurou compreender a relação entre o estilo de vinculação e os relatos

da experiência emocional, tanto ao nível da qualidade emocional da relação como em

termos das respostas ao terminar da mesma. Os indivíduos seguros reportaram com maior

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42

frequência emoções positivas e com menor frequência emoções negativas, relativamente

aos indivíduos evitantes e ambivalentes. Este resultado pode reflectir dois efeitos inter-

relacionados: os indivíduos seguros podem formar relações de melhor qualidade e podem

percepcionar os acontecimentos da relação de um modo mais positivo (ibidem). No que

respeita ao terminar das relações, os resultados foram uma vez mais consistentes com a

teoria da vinculação: os indivíduos evitantes referiram menos distress (este efeito só se

reproduziu nos homens) (ibidem). Feeney e Noller (1992) replicaram parcialmente estes

mesmos dados, encontrando nos indivíduos evitantes emoções de alívio e de pouca

peocupação com o fim da relação amorosa, ao passo que nos indivíduos ambivalentes as

emoções estavam ao nível da surpresa e da preocupação.

Os estudos referidos até agora utilizaram medidas de auto-relato e questões

fechadas. Para compreender a espontaneidade do tema da vinculação na percepção das

relações amorosas, Feeney e Noller (1991) conduziram um estudo em que através de

relatos «abertos» das relações amorosas, procuraram inferir os assuntos específicos da

vinculação nas relações românticas. Os indivíduos seguros enfatizaram o suporte mútuo

do companheiro, o equilíbrio que deve existir no que respeita à dependência no casal, e a

visão de que a relação se baseava na amizade. Os indivíduos evitantes também deram

importância à amizade como base da relação, mas sentiam necessidade de impor limites

claros à proximidade, dependência e compromisso. Os sujeitos ambivalentes tendiam a

idealizar os seus companheiros, procurando uma grande proximidade e compromisso.

1.2.3.4.4 - Desenvolvimento de outras Medidas de Vinculação

Bartholomew (1990; Bartholomew & Horowitz, 1991) desenvolveu uma outra

medida da vinculação, com quatro categorias, as quais se sustentam na reflexão de

Bowlby de que os padrões de vinculação reflectem os modelos operantes do self e o dos

outros. De acordo com Bartholomew, os modelos do self podem ser dicotomizados em

positivos (o self é entendido como merecedor de amor e atenção) e em negativos (o self é

visto como não merecedor). De forma, similar, os modelos dos outros podem ser

encarados como positivos (outros são vistos como disponíveis e interessados) ou como

negativos (outros percepcionados como indisponíveis e rejeitantes). De forma conjunta,

os modelos operantes do self e dos outros definem quatro estilos de vinculação: dois

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43

estilos evitantes – desinvestido e amedrontado, o estilo seguro e o estilo preocupado. O

estilo seguro corresponde ao modelo positivo do self e dos outros. São indivíduos que se

sentem confortáveis com a intimidade e com a autonomia. O estilo preocupado

corresponde a um modelo negativo do self e um modelo positivo dos outros, o que se

traduz em grande ansiedade nos relacionamentos. No estilo desinvestido, há uma visão

negativa dos outros mas uma percepção positiva do self, a que correspondem

comportamentos de negação da vinculação e de pouco conforto na relação íntima com os

outros. Os indíviduos com vinculação do tipo amedrontado percepcionam de forma

negativa o self e os outros. São pessoas que desejam a intimidade, mas que não confiam

nos outros, acabando por evitar a intimidade por medo da perda e da rejeição. Vivem as

relações íntimas tal como os indivíduos preocupados: com bastante ansiedade.

Este modelo tem recebido bastante suporte empírico (Brennan, Shaver & Tobey,

1991; Bartholomew & Horowitz, 1991; Feeney, Noller & Hanrahan, 1994; Brennan et

al., 1998; Feeney, 1995), o que levou a que vários investigadores o adoptassem no estudo

de vários indicadores da relação romântica.

De facto, os resultados obtidos no estudo de Broemer e Blüme (2003) sobre a

auto-imagem nas ligações íntimas comprovam a importância que a percepção que os

indivíduos têm acerca de si próprios (modelos do self) é sujeita a variações na

acessibilidade da informação positiva ou negativa relacionada com o próprio que, por sua

vez, é influenciada pelo seu estilo de vinculação, ou seja, os indivíduos constroem a sua

auto-imagem com base nas suas experiências de vinculação passadas.

1.2.3.4.5 - Vinculação e Qualidade / Satisfação7 na Relação

Levy & Davis (1988) e Simpson (1990) concluiram que as vinculações seguras

estavam associadas a níveis elevados de confiança, compromisso, satisfação e

interdependência. De modo oposto, a vinculações evitantes ou ambivalentes

correspondiam níveis baixos de confiança e satisfação. A vinculações evitantes também

se associavam níveis baixos de interdependência e de compromisso. Collins e Read

(1990) utilizaram uma medida do estilo de vinculação que incluía escalas para avaliar o

7 Apesar de na literatura estarem bem descritas as diferenças entre qualidade e satisfação conjugal (Narciso, 2001), optou-se por, no contexto da presente revisão de literatura, utilizar os dois conceitos como referindo-se à avaliação da relação conjugal, não distinguindo um do outro.

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conforto com a proximidade e a ansiedade relativa a assuntos da relação. Foram

encontrados alguns dados robustos relacionados com o sexo. Assim, para as mulheres, a

ansiedade na relação estava associada à respectiva qualidade, reflectindo-se em

comportamentos de ciúme, baixos níveis de comunicação, proximidade e satisfação. Para

os homens, o conforto com a proximidade era uma dimensão fundamental da vinculação,

e que portanto estava associado a vários índices da qualidade da mesma. Em 1994,

Kirkpatrick e Davis chegaram a resultados semelhantes a estes: as mulheres ambivalentes

avaliavam a sua relação de forma negativa, tal como os homens evitantes.

Outra questão que se coloca refere-se ao efeito do estilo de vinculação do parceiro

na qualidade da relação romântica. Collins e Read (1990) descobriram que a avaliação da

relação estava relacionada com o estilo de vinculação do parceiro, de uma forma paralela

ao efeito do estilo de vinculação do próprio. Outros investigadores encontraram efeitos

semelhantes (Simpson, 1990; Kirkpatrick & Davis, 1994; Kobak & Hazan, 1991; Feeney,

Noller & Callan, 1994). Em resumo, a literatura confirma que a qualidade da relação é

melhor em indivíduos com vinculação segura, e por aqueles cujos companheiros têm uma

vinculação segura.

1.2.3.4.6 - Vinculação e Comunicação

Uma das questões fulcrais na qualidade das relações interpessoais é a

comunicação. E este é um tema de pesquisa bastante frequente para os investigadores da

vinculação nas relações românticas. Pistole (1989) investigou as implicações do estilo de

vinculação nos relatos da resolução de conflitos numa amostra de estudantes envolvidos

em relações amorosas. Observou que os indivíduos seguros tinham maior probabilidade

de utilizar estratégias integradoras ou de resolução de problemas que os indivíduos

inseguros. Os indivíduos ambivalentes tinham maior tendência a favorecer os seus

parceiros do que os indivíduos evitantes. Estes resultados indicam a tendência dos

indivíduos seguros para utilizarem estratégias de resolução de conflitos mais construtivas.

Feeney, Noller e Callan (1994) procuram estudar a ligação entre vinculação,

comunicação e satisfação em casais ao longo de dois anos de casamento. Foram avaliadas

duas dimensões da vinculação (conforto com a proximidade e ansiedade na relação) e três

aspectos da comunicação (qualidade das interacções quotidianas, auto-relato do estilo de

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45

conflito e fidelidade não verbal). Nas interacções quotidianas, os maridos que se sentiam

confortáveis com a intimidade, relatavam envolvimento, satisfação, reconhecimento e

abertura. A ansiedade na relação, para as mulheres, estava associada a domínio, conflito,

descontentamento e pouco envolvimento. No que se refere ao estilo de conflito, a

variável chave relacionada com a vinculação era a ansiedade na relação. A análise ao

longo do tempo indicou que as escalas de vinculação prediziam as variáveis da relação.

Deste modo, o conforto com a proximidade era preditor de fidelidade não verbal

posterior, para as mulheres; a ansiedade na relação era preditora de padrões de conflito

nas mulheres e baixa fidelidade não verbal e insatisfação nos homens. De uma forma

global, os autores consideram que em casamentos recentes, a comunicação e a vinculação

têm efeitos independentes na satisfação com a relação.

Feeney (1994) encontrou resultados diferentes no estudo sobre padrões de

conflitos, vinculação e satisfação conjugal no ciclo de vida marital. Para as mulheres, a

relação entre a vinculação segura e a satisfação marital era mediada pelos padrões de

comunicação. Para os maridos, o estilo de conflito apenas mediava parcialmente a relação

entre vinculação segura e satisfação marital.

1.2.3.4.7 - Vinculação e Sexualidade

Para uma análise mais cuidadosa das relações românticas, há que ter em

consideração os sistemas comportamentais que lhe estão associados e que foram descritos

por Shaver et al. (1988) como sendo o sistema de cuidado (caregiving) e a sexualidade.

Uma vez que o sistema de vinculação surge numa etapa do desenvolvimento muito

precoce e que tem um papel primordial na formação dos modelos operantes, o sistema de

vinculação influencia a expressão do cuidado e da sexualidade. Deste modo, a vinculação

tem, através das suas inter-relações com o sistema de cuidado e a sexualidade, um papel

activo no estabelecimento e manutenção das relações amorosas. No que respeita ao

sistema de cuidado nas ligações íntimas, a literatura aponta para o facto da satisfação

marital ser melhor predita por indicadores relacionados com o cuidado do que por

medidas de personalidade, saúde ou circunstâncias materiais (Kotler, 1985).

Page 46: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

46

Assim, relativamente à relação entre a vinculação e a sexualidade, Sprecher,

McKinney e Orbuch (1991) observaram que a satisfação sexual é um bom preditor da

qualidade e estabilidade da relação.

Feeney, Noller e Patty (1993) descobriram que os indivíduos evitantes tinham

mais atitudes positivas relativamente ao sexo casual do que os restantes grupos de

vinculação. Resultados semelhantes foram encontrados por Brennen e Shaver (1995).

Hazan e Zeifman (1994) elaboraram um estudo que visou compreender a relação

entre a vinculação e a expressão da sexualidade. Os indivíduos seguros apresentaram

níveis baixos de probabilidade de se envolverem em encontros de uma só noite, e de se

envolverem em relações extra-conjugais e tinham maior probabilidade de apreciarem o

contacto físico. Os indivíduos evitantes tendiam a relatar actividades com baixo

envolvimento psicológico (encontros de uma só noite, relações extra-conjugais, sexo sem

amor) e menos prazer no desfrutar do contacto físico. Os indivíduos ambivalentes

reportaram apreciar o domínio e as carícias. Às mulheres ambivalentes também foram

associados comportamentos de voyeurismo, dominação e exibicionismo.

Carnelley, Pietromonaco e Jaffe (1996) avaliaram a ligação entre o estilo de

vinculação e o sistema de cuidado, e as implicações destas variáveis na satisfação marital.

A vinculação segura dos indivíduos estava relacionada com a provisão de mais cuidado

aos parceiros românticos. A vinculação segura do indivíduo, a vinculação segura do

companheiro e a provisão de cuidado contribuíam para a satisfação com a relação.

Feeney (1996) constatou, numa amostra de casais, que a vinculação segura estava

associada ao cuidado ao parceiro, e que a satisfação conjugal era maior nos companheiros

com vinculação segura e para aqueles cujos companheiros referiam mas cuidado

responsivo.

Num estudo recente, Bogaert e Sadava (2002) encontraram algumas relações

importantes entre o estilo de vinculação e o comportamento sexual. Os indivíduos

seguros percepcionavam-se como mais fisicamente atraentes e sentiam maior satisfação

com a relação, ao passo que os indivíduos ansiosos percepcionavam-se como menos

atraentes, tinham mais parceiros amorosos ao longo da vida, eram mais infiéis e tomavam

mais precauções sexuais (e.g. uso de preservativo). Estes resultados eram mais

significativos para as mulheres.

Page 47: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

47

1.2.3.4.8 - Vinculação e Stress

Outro tema da literatura relacionado com a vinculação é o impacto das condições

ambientais indutoras de stress na qualidade da relação romântica. Uma vez que os

comportamentos de vinculação têm maior probabilidade de serem activados em

condições geradoras de stress, é de esperar que sob estas condições se manifestem

comportamentos de vinculação diferenciados (Simpson & Rholes, 1992). Simpson e

colaboradores (1992) investigaram o efeito de um stressor específico no comportamento

de vinculação do casal e descobriram que a procura de suporte no parceiro e suporte dado

pelo parceiro era influenciada pelo estilo de vinculação. Nas mulheres seguras, níveis

mais elevados de ansiedade observada estavam associados a níveis mais elevados de

procura de apoio; nas mulheres evitantes, níveis mais elevados de ansiedade estavam

associados comportamentos de afastamento emocional e físico relativamente aos seus

parceiros. O mesmo se observou para o sexo masculino.

As diferenças no estilo de vinculação em resposta a situações ambientais de stress

também foram estudadas no contexto dos ataques com mísseis que ocorreram em Israel

durante a Guerra do Golfo Pérsico. Mikulincer, Florian e Weller (1993) observaram que

os indivíduos com estilos de vinculação evitante e ambivalente referiram níveis elevados

de hostilidade e sintomas psicossomáticos. Os indivíduos ambivalentes referiram ainda

sintomas de ansiedade e depressão. Quanto à forma de lidar com a situação, os indivíduos

seguros tendiam a procurar apoio junto de outros, ao passo que os evitantes procuravam

distanciar-se da ameaça e os indivíduos ambivalentes focalizaram-se em respostas

emocionais. Estes resultados indicam que os indivíduos com vinculação segura tendem a

desenvolver respostas mais construtivas para lidar com o stress, relativamente aos outros

dois grupos.

No que diz respeito aos recursos de coping, os resultados do estudo de Myers e

Vetere (2002), indicam que o estilo de vinculação está associado aos recursos de coping

disponíveis, no sentido em que os indivíduos seguros referem mais recursos que os

indivíduos ambivalentes e evitantes, nomeadamente no que diz respeito aos recursos de

coping emocionais e sociais.

Relativamente à associação entre estilo de vinculação e percepção de suporte

social, a pesquisa efectuada mostra que os indivíduos estão predispostos para avaliar as

Page 48: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

48

experiências de suporte de forma consistente com os seus modelos operantes de

vinculação, sobretudo quando as mensagens sobre o suporte são ambíguas (Collins &

Feeney, 2004). Os indivíduos inseguros (ansiosos e evitantes) avaliam as mensagens

sobre o suporte social de forma mais negativa, consideram o comportamento prévio do

companheiro como de menor suporte e têm um desempenho nas tarefas inferior ao

evidenciado pelos indivíduos seguros (ibidem).

Enquadrado numa perspectiva de quatro protótipos de vinculação, Ognibene e

Collins (1998) referiram existir diferenças entre sujeitos amedrontados, que

percepcionam menor suporte por parte de amigos, e sujeitos preocupados, que

percepcionam menor suporte social em familiares. Colocaram em evidência que o suporte

dos amigos estava associado ao grau com que os indivíduos se sentiam confortáveis nos

relacionamentos (isto é, modelos dos outros) e com o grau em que se sentiam mais

confiantes em si próprios (modelo do self). Pelo contrário, o suporte familiar estava

associado apenas com os modelos do self, ou seja, os indivíduos que tinham modelos

mais positivos de si próprios, mostravam ter expectativas mais favoráveis acerca do

suporte de familiares (ibidem).

Existe ainda um padrão de coping associado a cada estilo de vinculação. Os

adultos seguros utilizam sobretudo estratégias de procura de suporte social e de coping

focado no problema (Feeney, 2004); os sujeitos preocupados utilizam estratégias de

procura de suporte social e de evitamento; os indivíduos desligados tendem a utilizar

estratégias de confronto, ao passo que os amedrontados são os que procuram menos

suporte social no seu meio ambiente (Ognibene & Collins, 1998).

1.2.3.4.9 - Vinculação e Conjugalidade – Uma síntese

O estudo da conjugalidade na perspectiva da teoria da vinculação começou com o

estudo das rupturas da relação conjugal, mas mais recentemente tem sido dada ênfase ao

estudo da vinculação em relações conjugais existentes (Berman, Marcus & Berman,

1994; Kobak & Hazan, 1991).

Berman e colaboradores (1994) postulam que os laços conjugais são aqueles em

que os adultos têm mais probabilidade de desenvolver verdadeiras relações de

vinculação. Para que um casamento seja saudável, é necessário que cada membro do

Page 49: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

49

casal seja simultaneamente fornecedor e receptor de cuidados e de protecção, que seja

capaz de aceitar a protecção e os cuidados e que lhes atribua significado na relação. Estes

autores sugerem uma relação interaccional complexa entre a díade conjugal, na qual a

natureza do modelo operante interno de um indivíduo afecta o seu próprio

comportamento e o modelo operante interno e o comportamento do cônjuge. Deste modo,

o objectivo da vinculação do adulto é a regulação de um nível óptimo de proximidade /

distância, continuada e estável, com o cônjuge. Por sua vez, a regulação da proximidade

regula a ansiedade e a segurança. O modelo de funcionamento interno da vinculação, no

contexto da conjugalidade, refere-se deste modo a uma representação mental de si

próprio e do outro em interacção, o qual contribui para as expectativas, crenças e

atribuições que cada sujeito tem sobre si e sobre o cônjuge. Os princípios organizadores

no modelo de funcionamento interno da vinculação são atributos invariantes da

interacção, os quais são também activadores e desencadeadores do modelo operante

interno. Geralmente, isto pode incluir certas características físicas da figura de

vinculação, acções dos participantes e o afecto que liga o sujeito à figura de vinculação

(ibidem).

Numa revisão crítica acerca destas teorias, Ribeiro (2002) considera a existência

de duas forças centrais que interagem na natureza do casamento: aspectos da interacção

entre os dois cônjuges e aspectos das fantasias, modelos atribuições, crenças e regras

internas da relação por parte de cada pessoa. Assim, uma das distinções entre as teorias é

a sua atenção relativamente à interacção actual versus representações mentais internas da

relação. Os modelos psicanalítico e cognitivo enfatizam os processos mentais internos, ao

passo que os modelos comportamentais e de troca social centram-se sobretudo nos

reforços e nos benefícios e custos observáveis. A teoria da vinculação permite a

exploração da interface entre os aspectos representacionais e interaccionais dentro do

casal, enquanto as teorias sistémicas dão relevo aos processos interaccionais da

conjugalidade, considerando igualmente os processos mentais envolvidos.

Page 50: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

50

1.3 - Formas de conjugalidade – acontecimentos de vida normativos e não

normativos no ciclo de vida familiar

O casal surge quando dois indivíduos de sexo diferente assumem o desejo de

viverem juntos para deste modo criarem um modelo relacional único e irrepetível

(Relvas, 1996). Esta autora salienta o facto de cada relação conjugal ter a propriedade de

poder tomar múltiplas formas mantendo-se, no entanto, reconhecível.

Consideramos o desenvolvimento do casal / família numa perspectiva de modelo

de ciclo de vida, o qual se define “ por um conjunto de acontecimentos universais, apesar

das variações culturais ou subculturais, sequencialmente previsíveis, indutoras de

mudança e de adaptação, formal ou simbólica, da organização familiar (...). No entanto, o

processo psicológico inerente a estes acontecimentos de vida é diferente para cada família

dadas as suas características específicas, o que lhe confere unicidade” (Costa, 1994,

p.20).

O ciclo vital da família que, segundo alguns autores, se inicia com a etapa «entre

famílias: o jovem adulto independente» (McGoldrick & Carter, 1982) e que, segundo

outros, se inicia com a formação do casal (Duvall, 1977; Relvas, 1996), vai

complexificando o seu funcionamento com o objectivo de responder adequadamente às

tarefas de desenvolvimento, grupal e individual, que se lhe vão colocando (Relvas, 1996).

A cada etapa de desenvolvimento do ciclo de vida familiar correspondem, então,

processos emocionais de transição, sendo necessárias mudanças de segunda ordem, para

que o sistema familiar evolua para um estádio mais avançado no seu desenvolvimento

(McGoldrick & Carter, 1982). Este desenvolvimento processa-se em função dos

membros que constituem a família e da forma como lidam com as transições do ciclo de

vida familiar (Costa, 1994). Estas transições podem ter um carácter normativo, ou seja,

são esperados ou mesmo planeados, embora imprevisíveis no que se refere ao seu

desfecho, ou podem ter um carácter não normativo, quando se tratam de momentos

imprevistos, logo não esperados pelos membros da família, sendo igualmente

imprevisíveis no que concerne à reestruturação familiar que promovem (Relvas, 2005).

As transições familiares normativas, segundo o modelo de McGoldrick e Carter

(1982) correspondem às etapas do ciclo de vida que são as seguintes:

Page 51: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

51

1. Entre Famílias - o jovem adulto independente – Corresponde à aceitação da

separação pais-filhos o que, em termos de tarefas de desenvolvimento, se traduz na

diferenciação do self em relação à família de origem, ao desenvolvimento de relações

íntimas com um parceiro e ao estabelecimento de uma identidade no mundo laboral;

2. Junção de Famílias pelo Casamento: o novo casal – Existe o estabelecimento

de um compromisso com o novo sistema, o que passa pela formação do novo sistema

conjugal e pelo realinhamento das relações com as famílias de origem e os amigos de

modo a possibilitar a inclusão do cônjuge;

3. Famílias com Filhos Pequenos – Compreende a aceitação no sistema dos

membros da nova geração, o que implica um ajustamento do subsistema conjugal (para

assim criar «espaço» para os filhos), e também o assumir dos papéis parentais, bem como

um novo realinhamento das relações com as famílias de origem a fim de nelas incluir os

papéis parentais e os avós;

4. Família com Filhos Adolescentes – Exige a flexibilização dos limites familiares

de modo a aceitar a independência dos filhos. Para tal, é necessário criar uma mudança na

relação entre pais e filhos, de modo a possibilitar-lhes as entradas e saídas do sistema;

comporta, ainda, uma recentração nos aspectos da vida conjugal da meia-idade e das

carreiras profissionais, sendo igualmente o início do estabelecimento da função de

suporte à geração mais velha;

5. Saída dos Filhos – Reflecte-se na aceitação de múltiplas entradas e saídas no

sistema, o que se traduz em tarefas como a renegociação do subsistema conjugal como

díade, no desenvolvimento de relações adulto-adulto entre os jovens e os pais, no

realinhamento de relações para incluir os parentes por afinidade e os netos e a

necessidade de lidar com as incapacidades e morte dos pais (avós);

6. Última Fase da Vida da Família – Corresponde à aceitação da mudança dos

papéis geracionais através da manutenção de interesses, próprios e/ou do casal, da

exploração de novas opções familiares e sociais, do papel de destaque dado à geração

intermédia (ou seja, os filhos), a aceitação da experiência e sabedoria dos mais velhos, ao

mesmo tempo que se lhes oferece mais suporte, a aceitação da perda do cônjuge, irmãos e

outros da mesma geração e a preparação para a morte através de uma revisão e integração

da própria vida.

Page 52: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

52

A conceptualização do ciclo vital da família oferece um contributo valioso ao seu

estudo, na medida em que se centra na evolução temporal das interacções entre os

membros da família, entre estes e outros não-familiares e entre a família e outras

estruturas sociais (Relvas, 1996).

Contudo, existem acontecimentos não normativos que vêm contrariar, de algum

modo, o carácter mais ou menos previsível do desenvolvimento familiar. Costa (1994)

faz uma análise de três dos grandes acontecimentos não normativos associados ao ciclo

de vida familiar: o divórcio, a monoparentalidade e o recasamento. Tratam-se de

“situações paradigmáticas de rupturas do esquema pré-estabelecido e, portanto, geradoras

de mal-estar psicológico, quer para a família, quer para o indivíduo” (ibidem, p.15).

Podem, no entanto, tratar-se de oportunidades de crescimento individual e familiar,

quando construtivamente resolvidas (ibidem, 1994).

No que se refere ao divórcio, em Portugal, segundo os dados do Instituto Nacional

de Estatística (2002a e 2002b), entre 1993 e 2002, a taxa de divorcialidade passou de 1,2

para 2,7 divórcios por mil habitantes, equivalente a um acréscimo de 128%, ao contrário

da taxa de nupcialidade, que no mesmo período baixou de 7,0 para 5,5 casamentos por

mil habitantes, o que se reflecte num decréscimo de 28%. Isto significa alterações

profundas na forma de se ser família, e de se ser casal, uma vez que apesar do número de

divórcios estar continuamente a aumentar, existe uma grande percentagem de

recasamentos (Costa, 1994).

Ainda como exemplos de acontecimentos não normativos que abalam o sistema

familiar, Relvas (2005), fala-nos de mortes e lutos não esperados, acidentes, doenças

crónicas e/ou graves ou acontecimentos extra-familiares (como as guerras ou as

revoluções). Figley e McCubbin (1983) acrescentam o abuso de drogas, o desemprego, a

violação e os desastres naturais.

Todos estes acontecimentos de vida, obrigam o sistema familiar a reorganizar-se e

a procurar novos sentidos e novos equilíbrios para o seu desenvolvimento. Para além

disso, «empurram» todo o sistema familiar e, mais especialmente, o subsistema conjugal,

a novas formas de perspectivar-se a si e à sua família em «novas unidades complexas»,

tal como refere Relvas (1996). Novas formas essas, que não são mais que novos formas

de se ser casal e de se afirmar como casal. Novas formas de conjugalidade.

Page 53: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

53

Todas as transições, normativas ou não normativas, buscam a criação de novas

estruturas e “uma nova, mais complexa, imprevisível e irreversível integração das

antigas” (Hoffman, 1995; cit por Relvas, 2005). Daí surgem frequentemente situações de

crise. A crise surge associada à presença de elevado nível de stress no sistema e ao medo

da mudança ou à ameaça do desconhecido (Relvas, 2005).

É neste contexto que surgem os modelos de stress familiar, como forma de

conceptualizar a crise / necessidade de mudança no sistema, de que falaremos no

subcapítulo seguinte.

1.3.1 - Adaptação, Resiliência e Modelos de Stress Familiar

Ao longo do ciclo de vida familiar existem necessariamente um conjunto de

acontecimentos, normativos e não normativos, aos quais estão associados níveis de stress

individual e familiar inevitáveis, a que o indivíduo e a família têm de fazer face (Boss,

2002; Boss, 2003), ou seja, têm de se adaptar. O conceito de adaptação está inerente à

sobrevivência do indivíduo e da família (Boss, 2003) no sentido em que traduz o

resultado dos esforços do indivíduo e da família para atingir um novo equilíbrio no seu

funcionamento após a situação de crise familiar (McCubbin & Patterson, 1983a).

Associado ao conceito de stress familiar está o conceito de resiliência familiar

(Hawley & DeHaan, 2003). Em termos gerais, a resiliência psicológica é a capacidade de

voltar a um nível superior de funcionamento após a vivência de acontecimentos adversos

(Blechman, 2000). Cowan e colaboradores (1996, cit por Boss, 2002) definiram

resiliência familiar como sendo “o melhor termo que descreve a ideia de que alguns

indivíduos ou famílias possuem forças fisiológicas, recursos psicológicos e skills

interpessoais que lhes permitem responder com sucesso aos grandes desafios e crescer

com estas experiências” (p.14). Hawley e DeHaan (2003), baseadas numa revisão de

literatura sobre resiliência individual e familiar definiram-na como “a descrição do

percurso seguido por uma família à medida que se adapta e que prospera face a situações

de stress, tanto no momento presente como ao longo do tempo. As famílias resilientes

respondem de forma positiva a estas condições de formas únicas, dependendo do

contexto, nível de desenvolvimento, combinação interactiva de factores de risco e de

protecção e da visão familiar partilhada dos acontecimentos” (p.65).

Page 54: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

54

Os conceitos de adaptação familiar e resiliência familiar, contextualizados nos

modelos de stress familiar, permitem compreender os motivos pelos quais algumas

famílias lidam e ultrapassam melhor os acontecimentos geradores de stress que vão

inevitavelmente surgindo ao longo do ciclo de vida familiar (Boss, 2003; McCubbin,

1995).

De seguida, apresenta-se uma síntese dos principais modelos de stress familiar.

1.3.2 - Modelos de Stress Familiar

Importa, antes de mais, definir stress familiar. Boss (2002) definiu stress familiar

como sendo uma pressão ou uma tensão no sistema familiar que provoca um distúrbio no

estado de funcionamento da família e que resulta de um acontecimento com magnitude

suficiente para poder provocar mudança no mesmo. A autora considera que o stress

familiar é normal e, ocasionalmente, até desejável, na medida em o desenvolvimento, a

maturação e a mudança ao longo do tempo, no ciclo de vida dos indivíduos e das

famílias, implicam frequentemente alguma forma de perturbação, perturbação essa que a

autora define como sendo stress.

Nos últimos 50 anos têm sido desenvolvidos diversos modelos de teorização sobre

o stress familiar.

Uma das primeiras conceptualizações foi proposta pelo sociólogo Hill (1958, cit

por Oliveira, Pedrosa & Canavarro, 2005), que acabou por servir de base à investigação

sobre a variabilidade do impacto do stress sobre a família e a adaptação familiar. Este

investigador definiu como situação indutora de stress toda aquela que seja nova, para a

qual a família não esteja preparada e que, por isso mesmo, constitua um problema. O

modelo que propôs contempla um conjunto de variáveis, cujo resultado da sua interacção

é o possível surgimento de uma crise familiar. Este modelo, denominado modelo ABC-X,

refere que o acontecimento indutor de stress – A – interagindo com os recursos da família

perante a situação de crise – B – interagindo com o significado que a família atribui ao

acontecimento – C – produzem a incógnita – X- que pode ser a crise ou a capacidade para

lidar com a mudança.

Ao longo do tempo, este modelo tem sido alterado, e uma das principais

evoluções deve-se a McCubbin e Patterson, que em 1983, redefinem o modelo de Hill e

Page 55: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

55

propuseram o modelo ABC-X duplo de stress familiar. Estes autores definiram a situação

indutora de stress como sendo um acontecimento de vida com impacto na família, que

produz, ou que tem potencial para produzir, mudanças no sistema familiar. Estas

mudanças podem ocorrer em diversas áreas da família. Incluem como factor relevante a

considerar, as adversidades encontradas, definidas como exigências sentidas pela unidade

familiar directamente associadas ao acontecimento indutor de stress. Sugerem a

pertinência de quatro factores adicionais que vão influenciar o curso da adaptação da

família ao longo do tempo. Estes factores, denominados variáveis pós-crise, são os

factores de stress adicionais (uma vez que raramente a família lida apenas com um único

factor de stress), os esforços da família para activar ou adquirir novos recursos, as

modificações da percepção da família acerca da situação total de crise e o papel das

estratégias de coping da família no ajustamento imediato e na eventual adaptação(

McCubbin & Patterson, 1983a).

Figura 2 - Modelo ABC-X Duplo de Stress Familiar (McCubbin & Patterson, 1983)

O Modelo de Resposta de Ajustamento e Adaptação Familiar foi igualmente

desenvolvido por McCubbin e Patterson (1983, cit por Patterson, 1988), a partir dos seus

trabalhos anteriores com o modelo duplo ABCX do comportamento familiar.

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56

O modelo de resposta de ajustamento e adaptação familiar postula a homeostase

do sistema familiar através do equilíbrio entre as potencialidades do sistema (os recursos

e os comportamentos de coping) e as exigências (os stressores8 e os strains9) impostas

pelos acontecimentos de vida. Para que a família encontre o seu equilíbrio é necessário

que construa um significado para o acontecimento que está experienciar (ou seja, às

exigências) tendo em consideração os recursos que percepciona como disponíveis para

lidar com o mesmo. O resultado dos esforços da família para alcançar o equilíbrio no seu

modo de funcionamento é conceptualizado em termos de ajustamento familiar ou

adaptação familiar, num continuum que vai do bom ao mau ajustamento.

Figura 3 – Modelo de Resposta de Ajustamento e Adaptação Familiar

Trata-se de um modelo processual composto por uma fase de ajustamento e uma

fase de adaptação separados pela crise familiar. A fase de ajustamento caracteriza-se por

8 Acontecimentos de vida que ocorrem num determinado momento da vida e que produzem, ou que tem a capacidade de produzir, mudança no sistema social da família (Patterson, 1988) 9 Condição de tensão associada ao desejo ou necessidade de mudar alguma coisa. Enquanto os stressores acontecem e produzem mudança, os strains já existem no sistema e a mudança que é exigida implica a sua remoção do mesmo (ibidem).

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57

ser um período relativamente estável, durante o qual a família empreende apenas

pequenas mudanças como forma de ultrapassar as exigências, recorrendo a recursos já

existentes. Uma crise surge no sistema familiar quando a natureza e/ou a quantidade de

exigências excedem os recursos familiares, de forma persistente. Na fase de adaptação, a

família procura recuperar a homeostase do sistema, através da aquisição de novos

recursos e comportamentos de coping; da redução das exigências com que está a lidar;

e/ou da redefinição do significado que atribui à situação. Ao contrário da fase de

ajustamento, a fase de adaptação implica a implementação de mudanças de segunda

ordem no sistema familiar, tais como mudanças ao nível dos papéis familiares, das regras,

dos padrões de interacção e dos significados, que se prolongam durante um período de

tempo mais longo e que têm como objectivo a consolidação do sistema familiar como

uma unidade coerente (Patterson, 1988).

Neste modelo são considerados os vários níveis do sistema - individual, unidade

familiar e seus subsistemas e comunidade. Assim, a boa adaptação do sistema familiar

caracteriza-se por membros com boa saúde física e mental; facilitação e promoção do

desenvolvimento individual de cada membro; nível de funcionamento de papéis

adequado a cada elemento; manutenção da unidade familiar de forma a acompanhar as

tarefas do ciclo de vida; e manutenção da integridade familiar e do sentido de controlo

sobre o ambiente. No extremo oposto, a má adaptação familiar caracteriza-se por um

desequilíbrio contínuo ao nível do funcionamento familiar (membro-família ou família-

comunidade) ou pela aquisição de equilíbrio à custa da deterioração da saúde e do

desenvolvimento dos indivíduos e da deterioração da integridade da unidade familiar, da

sua autonomia ou da sua capacidade para lidar com as tarefas inerentes ao ciclo de vida

(ibidem).

Os recursos são definidos como as capacidades que a família tem para lidar com

as exigências e os comportamentos de coping são o que a família realmente faz (em

termos de utilização dos recursos, por exemplo) para lidar com essas mesmas exigências.

Os recursos podem ser individuais (inteligência, traços de personalidade, saúde física,

auto-estima, entre outros), familiares (coesão, adaptabilidade, apreço, suporte, integração,

respeito, definição clara dos papéis familiares e das fronteiras, qualidade da

comunicação) e comunitários (suporte social). O comportamento de coping, sendo o

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58

esforço específico com o qual o indivíduo (ou família) procura reduzir ou gerir as

exigências, compreende os seguintes aspectos: acções directas para reduzir o número ou a

intensidade das exigências; acções directas para adquirir recursos adicionais não

disponíveis na família; manutenção dos recursos já existentes; gestão da tensão associada

a strains experimentados pela família; e avaliação cognitiva com o objectivo de alterar o

significado atribuído à situação de forma a torná-la mais manejável (ibidem). Os

indivíduos pertencentes a sistemas familiares com bons recursos tendem a ter melhor

saúde mental do que aqueles que possuem piores recursos familiares (Canavarro, Vaz

Serra, Firmino & Ramalheira, 1993).

Boss (2002) considera que para a compreensão do modo como as famílias

percepcionam e geram as situações de stress, é importante considerar o âmbito mais lato

no qual decorre a sua existência enquanto sistema, valorizando processos multiculturais,

factores de risco e de protecção. Assim, conceptualiza o stress familiar como sendo

mediado por dois contextos: um sobre o qual a família tem controlo (controlo interno –

composto por elementos que a família pode modificar e controlar) e outro sobre o qual

esse controlo não existe (contexto externo – componentes sobre os quais a família não

tem controlo, mas que exerce forte influência no modo como percepciona e lida com as

mudanças com que se depara; inclui aspectos como o contexto cultural, económico,

histórico – ou seja, define-se enquanto momento espacio-temporal no qual um família

particular se situa). Dentro do contexto interno distinguem-se as dimensões estrutural

(padrões de funcionamento familiar, regras, limites), psicológica (percepção e avaliação

que a família faz de um acontecimento indutor de stress; representações familiares), e

filosófica (valores e crenças familiares, apesar de influenciadas pelo contexto externo são

sintetizados pela família e integrados num sistema próprio de valores e crenças, que

influenciam directamente a percepção de um acontecimento stressante).

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59

Figura 4 – Modelo Contextual do Stress Familiar (Boss, 2002)

Ao reconceptualizar o modelo ABC-X, Boss (2002) incide sobre a percepção e o

significado específico que o acontecimento assume para a família, considerando-os

decisivos para o eclodir da crise. O significado que a família atribui a um acontecimento

indutor de stress é também designado por percepção familiar, definição ou avaliação do

conhecimento, e é uma variável importante para explicar o facto de, perante a mesma

situação, algumas famílias conseguirem encontrar mecanismos de coping adequados, e

outras descompensarem e/ou terem dificuldades em superar a crise (ibidem).

Ao longo do capítulo, procurámos sintetizar o «estado da arte» relativamente ao

conhecimento adquirido sobre alguns aspectos relativos à conjugalidade. Analisou-se o

que é ser casal nos nossos dias, as formas de se ser casal e as principais teorias

explicativas da conjugalidade. Procurou-se entender as experiências de perturbação

familiar à luz de conceitos como o stress familiar, a adaptação familiar e a resiliência

familiar. Consideraram-se ainda, os modelos de stress familiar, nomeadamente o Modelo

de Resposta de Ajustamento e Adaptação Familiar, como pertinentes para uma

conceptualização teórica privilegiada acerca do impacto e da adaptação do sistema

conjugal a uma situação de crise, como por exemplo o diagnóstico médico de depressão.

No capítulo seguinte, caracterizamos a depressão enquanto doença psicológica,

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analisamos o impacto da depressão em todo o sistema social humano, dando maior ênfase

ao contexto conjugal, e discutimos o papel de algumas variáveis como a vinculação, o

suporte social e as estratégias de coping familiar no processo de adaptação conjugal à

depressão.

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CAPÍTULO 2 - A DEPRESSÃO NO CASAL

A depressão é considerada a doença mental mais prevalente na actualidade

(WHO, 2005) sendo a primeira causa de morbilidade nos países desenvolvidos (OMS,

2002), e um dos problemas de saúde mais graves da União Europeia (European

Comission, 2004). As consequências sociais e ao nível da saúde dos indivíduos com

patologia depressiva são similares aos de doenças crónicas como a hipertensão e a

diabetes (WHO, 2005). A Organização Mundial de Saúde, assim como a Comissão das

Comunidades Europeias, tem procurado desenvolver acções de luta contra a depressão,

criando entidades específicas para o estudo de políticas de combate a esta doença, tal

como é o caso da European Alliance against Depression, e publicando directrizes de

intervenção como é o caso de Actions against depression – improving mental and well-

being by combating the adverse health, social and economic consequences of

depression» e do «Livro verde – melhorar a saúde mental da população: rumo a uma

estratégia de saúde mental para a União Europeia».

O presente capítulo pretende introduzir o tema da depressão no casal. Inicia-se

com uma caracterização da depressão enquanto doença psicológica. Segue-se uma análise

das suas expressões na vida familiar, e sobretudo na díade conjugal. Termina-se com uma

revisão de algumas variáveis – vinculação, suporte social e coping familiar - que têm

sido associadas à adaptação conjugal à depressão e que serão objecto de estudo neste

trabalho.

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62

2.1. A Depressão enquanto Doença Psicológica – Um Breve Olhar

A depressão é “uma perturbação do humor, de gravidade e duração variáveis, que

é frequentemente recorrente e acompanhada por uma variedade de sintomas físicos e

mentais, que envolvem o pensamento, os impulsos e a capacidade crítica” (Wilkinson,

Moore & Moore, 2003, p.21). Trata-se de um estado, e não de um modo de organização

psíquica que é susceptível de se combinar com outras patologias (Pedinielli & Bernoussi,

2006). Difere de tristeza, ansiedade, luto ou anedonia (ibidem).

Segundo a Organização Mundial de Saúde (WHO, 1992), um episódio depressivo

caracteriza-se pela presença dos seguintes sintomas durante um período mínimo de duas

semanas: humor deprimido, perda de interesse e entusiasmo em actividades

anteriormente agradáveis, diminuição da energia, fadiga intensa, diminuição da atenção e

concentração, diminuição da auto-estima e da auto-confiança, ideias de culpa e de auto-

desvalorização, visão pessimista do futuro, ideias ou actos de auto-agressão ou de

suicídio, perturbações do sono e diminuição do apetite.

Esta sintomatologia interfere (consoante a severidade da depressão) no ritmo de

vida diária dos indivíduos diminuindo de forma importante a sua qualidade de vida.

Ocorre muitas vezes episodicamente, mas pode ser recorrente ou crónica (OMS, 2002).

Estudos indicam que o prognóstico de um primeiro episódio depressivo é bom,

uma vez que a maioria dos indivíduos recupera, embora exista uma percentagem na qual

a depressão se torna crónica (Romans, Walton, McNoe, Herbison & Mullen, 1993); em

cerca de 20 a 30% dos sujeitos apenas há uma recuperação parcial, com sintomas

residuais (Paykel, 2001). Contudo, cerca de 30% dos indivíduos voltam a sofrer novo

episódio depressivo no ano seguinte e a longo prazo, entre 70 a 80% tem pelo menos

mais um episódio depressivo na sua vida (ibidem). Keitner e colaboradores (1992)

observaram que a recuperação de um episódio depressivo major estava associado a

variáveis como ser homem, ser mais velho aquando do primeiro episódio depressivo, ter

níveis mais baixos de neuroticismo, relatar menos acontecimentos de vida adversos, não

apresentar outras complicações médicas ou psiquiátricas, com níveis baixos de disfunção

familiar e com um melhor ajustamento global. Segundo o mesmo estudo, o estado civil, o

estatuto sócio-económico, a gravidade do episódio depressivo no momento da

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63

hospitalização, o número de episódios depressivos prévios, o tipo de tratamento e a

história familiar de doença psiquiátrica, alcoolismo ou suicídio não estavam associados

ao curso da doença depressiva.

Em termos de classificação, existem dois princípios: o que se baseia na

semiologia e que corresponde às classificações sindrómicas do tipo do DSM (Diagnostic

of Mental Disorders) e ICD ( International Classification of Mental Disease) e o que

toma em consideração a etiologia das depressões (classificações psicopatológicas ou

etiopatogénicas (Pedinielli & Bernoussi, 2006). As mais utilizadas no contexto

psiquiátrico são as semiológicas.

A Organização Mundial de Saúde (1992) caracteriza as seguintes entidades

nosológicas associadas às perturbações do humor: Episódio Maníaco, Perturbação

Afectiva Bipolar, Episódios Depressivos, Perturbação Depressiva Recorrente,

Perturbação Persistente do Humor, Outras Perturbações do Humor e Perturbações do

Humor (Afectivas) Sem Outra Especificação.

O Episódio Maníaco caracteriza-se pela elevação persistente do humor, da energia

e da actividade, associada em geral a um sentimento intenso de bem-estar e de eficácia

física e psíquica. Existe frequentemente um aumento da sociabilidade, do desejo de falar,

da familiaridade e da energia sexual, e uma redução da necessidade de sono. A euforia e a

sociabilidade são por vezes substituídas por irritabilidade, atitude pretensiosa ou

comportamento grosseiro. Existem três subdivisões desta categoria, que se aplicam

exclusivamente a um episódio isolado: Hipomania, Mania Sem Sintomas Psicóticos e

Mania Com Sintomas Psicóticos. Um episódio hipomaníaco ou maníaco em cujo

indivíduo já tenha apresentado um ou mais episódios afectivos prévios (depressivo,

hipomaníaco, maníaco, ou misto) deve conduzir a um diagnóstico de perturbação afectiva

bipolar (WHO, 1992).

A Perturbação Afectiva Bipolar caracteriza-se por dois ou mais episódios nos

quais o humor e o nível de actividade do sujeito estão profundamente perturbados, no

sentido em que em algumas ocasiões ocorre elevação do humor e aumento da energia e

da actividade (hipomania ou mania) e em outras, ocorre uma redução do humor, da

redução da energia e da actividade (depressão). Pacientes que sofrem somente de

episódios repetidos de hipomania ou mania são classificados como bipolares. Inclui a

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doença maníaco-depressiva, a psicose maníaco-depressiva e a reacção maníaco-

depressiva (ibidem).

Nos Episódios Depressivos típicos, de cada um dos três graus de depressão (leve,

moderado ou grave), o paciente apresenta uma diminuição do humor, redução da energia

e diminuição da actividade. Existe alteração da capacidade de experimentar o prazer,

perda de interesse, diminuição da capacidade de concentração, associadas em geral à

fadiga importante, mesmo após um esforço mínimo. Observam-se em geral problemas do

sono e diminuição do apetite. Existe quase sempre uma diminuição da auto-estima e da

autoconfiança e frequentemente ideias de culpabilidade mesmo em formas leves. O

humor depressivo varia pouco de dia para dia ou segundo as circunstâncias e pode

acompanhar-se de sintomas ditos "somáticos" (por exemplo perda de interesse ou prazer;

despertar matinal precoce, várias horas antes da hora habitual de despertar; agravamento

matinal da depressão; lentidão psicomotora importante; agitação; perda de apetite; perda

de peso e perda da libido). O número e a gravidade dos sintomas determinam a gravidade

do episódio depressivo. Inclui episódios de depressão psicogênica; reactiva e reacção

depressiva (ibidem).

A Perturbação Depressiva Recorrente caracteriza-se pela ocorrência repetida de

episódios depressivos correspondentes à descrição de um episódio depressivo na ausência

de episódios antecedentes de exaltação de humor e de aumento de energia (mania). A

perturbação pode, contudo, comportar breves episódios caracterizados por um ligeiro

aumento de humor e da actividade (hipomania), sucedendo imediatamente a um episódio

depressivo e, por vezes precipitados, por um tratamento antidepressivo. As formas mais

graves do transtorno depressivo recorrente apresentam numerosos pontos comuns com os

conceitos anteriores da depressão maníaco-depressiva, melancolia, depressão vital e

depressão endógena. O primeiro episódio pode ocorrer em qualquer idade, da infância à

senilidade, sendo que o início pode ser agudo ou insidioso e a duração variável de

algumas semanas a alguns meses. O risco de ocorrência de um episódio maníaco não

pode jamais ser completamente descartado num paciente com uma perturbação

depressiva recorrente, qualquer que seja o número de episódios depressivos apresentados.

Em caso de ocorrência de um episódio maníaco, o diagnóstico deve ser alterado pelo de

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perturbação afectiva bipolar. Inclui episódios recorrentes de uma depressão psicogênica,

reactiva, uma reacção depressiva e perturbação depressiva sazonal (ibidem).

Na Perturbação Persistente do Humor, existe persistência e flutuação do estado do

humor, na qual os episódios individuais não são suficientemente graves para justificar um

diagnóstico de episódio maníaco ou de episódio depressivo leve. Como persistem por

anos e, por vezes, durante a maior parte da vida adulta do paciente, levam a um

sofrimento e a níveis de incapacidade consideráveis. Em certos casos, episódios maníacos

ou depressivos recorrentes ou isolados podem sobrepor-se a uma perturbação afectiva

persistente. Inclui a ciclotimia e a distimia.

Nas Outras Perturbações do Humor são classificadas quaisquer outras

perturbações de humor que não justificam ser classificados nas classificações anteriores

por não apresentarem gravidade ou duração suficiente (ibidem).

As Perturbações do Humor (Afectivas) Sem Outra Especificação só são utilizadas

como último recurso, quando nenhuma outra classificação possa ser utilizada (ibidem).

Por outro lado, o DSM-IV (1994) considera três tipos de Perturbações do Humor:

Perturbações Depressivas (que inclui a Perturbação Depressiva Major, a Perturbação

Distímica e a Perturbação Depressiva sem outra especificação); Perturbações Bipolares

(contempla a Perturbação Bipolar I, a Perturbação Bipolar II e a Perturbação Ciclotímica)

e Outras Perturbações do Humor (devido a um estado físico geral; induzida por

substâncias e sem outra especificação).

Trata-se portanto de um grupo heterogéneo de perturbações com causas muitas

vezes distintas, e que requer estratégias de tratamento específicas (Beckham, 2000).

A perturbação bipolar está essencialmente ligada a determinantes biológicos, ao

passo que a depressão unipolar pode ser de origem endógena (isto é, ter causas

biológicas) ou exógena (ou seja, ser reactiva ao ambiente externo), o que sugere uma

interacção entre factores biológicos, psicológicos (ibidem) e sociais para o seu

desenvolvimento (European Comission, 2004). Beckham (2000) refere ainda a distímia –

depressão moderada crónica – e a depressão atípica como outros subtipos de depressão,

aos quais não estão ainda associadas explicações causais efectivas para o seu

aparecimento e evolução. Kessler (2002) acrescenta dois subtipos de depressão com

carácter cíclico: a perturbação afectiva sazonal e a perturbação do humor pré-menstrual.

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Há ainda que referir as formas de depressão pós-natal, a depressão «mascarada» e os

«equivalentes depressivos» (Pedinielli & Bernoussi, 2006).

A depressão e os problemas que lhe estão associados não são causados por um

único factor, mas por um conjunto de factores biológicos, psicológicos e sociais

(European Comission, 2004). Segundo esta revisão de literatura, o início da depressão é

influenciado por acontecimentos de vida adversos (como a morte de parentes próximos

ou um divórcio, por exemplo) e por outros factores que possam aumentar a

susceptibilidade dos indivíduos para o seu desenvolvimento ou precipitação. Alguns

desses factores são biológicos. É o caso de factores genéticos (evidenciados pelos estudos

com gémeos) e de factores neuroquímicos (através de alterações nos sistemas

noradrenalinérgicos, seretoninérgicos e dopaminérgicos) e hormonais (Hickey, Carr,

Dooley, Guerin, Butler & Fitzpatrick, 2005).

De grande importância são também os factores psicológicos, essencialmente

ligados a personalidades propensas à depressão. Têm surgido diversas teorias

explicativas. As teorias psicodinâmicas, enraizadas na tradição freudiana, explicam-na

como uma reacção à experiência de perda, para a qual o sujeito não teve oportunidade de

efectuar um processo de luto normal. Como resultado, a agressão sentida contra o objecto

perdido é introjectada, desenvolvendo-se deste modo um quadro depressivo (European

Comission, 2004; Beckham, 2000). As teorias cognitivas colocam a ênfase na

transformação negativa dos processos de pensamento e no seu papel central na

interpretação do mundo exterior. A característica central da cognição dos indivíduos

deprimidos será a inclinação para um pensamento negativo automático o que os torna

especialmente susceptíveis aos acontecimentos de vida negativos e aos problemas nas

relações interpessoais mais próximas (Wilkinson, Moore & Moore, 2003). Beckham

(2000) refere ainda os trabalhos de Seligman sobre a Teoria do Desamparo Aprendido.

De acordo com desenvolvimentos mais recentes, a partir do momento em que os

indivíduos percepcionam a situação em que se encontram como sendo incontrolável,

começam a fazer atribuições para explicar a sua falta de controlo. Essas atribuições

podem ser internas (crença de que se devem a características do próprio sujeito) ou

externas (devido ao ambiente); globais (aplicáveis a muitas situações) ou específicas

(aplicadas a um conjunto limitado de situações); e estáveis (que persistem no tempo) ou

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instáveis (limitadas no tempo). A perca da auto-estima, característica da depressão, surge

em indivíduos que atribuem a sua situação de «desamparo» a dificuldades pessoais,

estáveis e globais (Abramson, Seligman & Teasdale, 1978).

Os factores sociais são igualmente associados ao desenvolvimento de quadros

depressivos. O relatório da Comissão Europeia (2004) chama a atenção para os seguintes

factores sociais de risco: baixo nível sócio-económico, desemprego (sobretudo se durante

um período de tempo muito prolongado), abuso de álcool e de drogas, exclusão social,

discriminação laboral, isolamento social e falta de suporte social.

2.1.1 – A depressão: dados estatísticos

A depressão é considerada uma das doenças mais prevalentes da actualidade,

atingindo 1 em cada 40 adultos na Europa (Paykel, Brugha & Fryers, 2005) e cerca de

121 milhões de pessoas em todo o mundo (WHO, 2005). Estima-se que atinja 2 a 10 %

da população na Europa (European Commission, 2004), o que se traduz em 33,4 milhões

de pessoas atingidas por depressão major10. Wittchen e Jacobi (2005) analisaram a

prevalência das perturbações psiquiátricas na Europa e encontraram valores médios de

6.1% de prevalência da depressão, sendo das doenças psiquiátricas com maior incidência

neste parte do globo. Dados da OMS (2002) apontam para que 5.8% dos homens e 9.5%

das mulheres passem por um episódio depressivo num período de 12 meses. Num estudo

epidemiológico levado a cabo nos Estados Unidos, concluiu-se que 6% da população

americana sofre de um episódio depressivo major em alguma fase das suas vidas

(Beckham, 2000). A OMS prevê que em 2020 a depressão seja a segunda mais

importante doença ao nível do seu impacto como causa de morte e de incapacidade geral

10 Segundo o DSM-IV, um Episódio Depressivo Maior caracteriza-se por humor deprimido ou perda de interesse ou prazer por quase todas as actividades. Em crianças e adolescentes, o humor pode ser irritável ao invés de triste. O indivíduo também deve experimentar pelo menos quatro sintomas adicionais, extraídos de uma lista que inclui: alterações no apetite ou peso, sono e actividade psicomotora; diminuição da energia; sentimentos de desvalorização ou culpa; dificuldades no pensamento, concentração ou tomada de decisão; pensamentos recorrentes sobre morte ou ideação suicida, planos ou tentativas de suicídio. Os sintomas devem persistir na maior parte do dia, praticamente todos os dias, por pelo menos 2 semanas consecutivas. O episódio deve ser acompanhado por sofrimento ou prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, profissional ou outras áreas importantes da vida do indivíduo. Para alguns indivíduos com episódios mais leves, o funcionamento pode parecer normal, mas exige um esforço acentuadamente aumentado.

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(European Commission, 2004), uma vez que a sua incidência tem aumentado a cada nova

geração (Beckham, 2000).

A realidade portuguesa não é diferente. No último censo psiquiátrico realizado

(Censo Psiquiátrico, 2001), a depressão foi a segunda patologia mais frequente no

conjunto dos indicadores utilizados (internamento, consulta e urgência de psiquiatria). No

que se refere à prevalência da depressão em medicina geral e familiar, Gonçalves e

Fagulha (2004), encontraram valores na ordem dos 33%, de utentes entre os 35 e os 65

anos com sintomas de alguma forma de perturbação depressiva. Estes são ligeiramente

mais altos relativamente aos encontrados em estudos internacionais que referem valores

na ordem dos 25% (Beckham, 2000).

A depressão coexiste frequentemente com outras perturbações psiquiátricas como

é o caso das perturbações da ansiedade, do abuso de substâncias e das perturbações

alimentares, sendo esta comorbilidade potenciadora de um pior prognóstico relativamente

à depressão sem comorbilidade (ibidem, 2000).

Relativamente aos custos económicos associados a esta perturbação psicológica,

estes atingem valores assustadores, situando-se em quarto lugar entre todas as doenças

que originam mais encargos (OMS, 2002). Estes encargos reflectem-se ao nível dos

custos nos sistemas de saúde e dos custos implicados com dias de trabalho perdidos e

com diminuição da produtividade. Paykel et al (2005) referem estudos americanos que

estimam valores associados às despesas com os sujeitos deprimidos que vão dos 16 aos

44 biliões de dólares. Segundo o relatório da Comissão Europeia (2004), o total dos

custos associados à depressão equivale a 1% do Produto Inteno Bruto. Por sua vez, um

estudo efectuado em Portugal sobre os custos da depressão, refere o número de 102

milhões de euros, dos quais 50% são devidos à quebra de produtividade no trabalho

(Ramos, Sennefelt, Amaral & Valente, 1996). Também há que referir os custos que não

são quantificados nos estudos e que se referem, por exemplo, à dificuldade dos sujeitos

deprimidos lidarem adequadamente com as suas responsabilidades familiares,

nomeadamente com a saúde, educação e desenvolvimento psicológico e social dos seus

filhos, e às dificuldades que os cônjuges dos indivíduos deprimidos sentem eles próprios

na manutenção do seu emprego, nas actividades sociais e de lazer e no próprio

relacionamento conjugal (European Comission, 2004). O suicídio, tão comummente

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69

associado à depressão, tem também ele não só custos irreparáveis na estrutura familiar,

como também custos económicos efectivos na ordem dos 7% do total de custos da

depressão (ibidem).

Em jeito de conclusão, “a depressão é um sentimento ligado à mudança súbita de

uma linha de comportamento ou de vida. A angústia assinala a proximidade desta

mudança, indica o perigo latente mas iminente que é a depressão. As mudanças exteriores

fazem com que o sujeito exija de si mesmo readaptações interiores perante situações

mobilizadoras (…)” (Pedinielli & Bernoussi, 2006, p.139).

E é dessas mudanças no contexto familiar do indivíduo com depressão que

trataremos no subcapítulo seguinte.

2.2. Expressões e Contextualizações da Depressão no Casal

Em termos sociais e familiares, a depressão tem também um impacto considerável

a que a investigação empírica tem vindo a dar corpo.

Constata-se na literatura um amplo consenso no que concerne à associação entre

depressão e dificuldades nas relações sociais dos indivíduos (Segrin, 2001). Os

indivíduos deprimidos avaliam, de forma consistente, as suas capacidades relacionais de

forma mais negativa do que indivíduos não deprimidos (Segrin & Dillard, 1992), sendo

que as suas relações interpessoais são seriamente afectadas, caracterizando-se por

dimensões como a rejeição, a insatisfação, a baixa intimidade e a diminuição da

actividade e do envolvimento interpessoal (Joiner, 2002).

Necessariamente, as relações familiares são igualmente afectadas pela presença de

um familiar com depressão, havendo uma associação entre depressão num dos membros

e disfuncionalidade familiar (Keitner et al, 1995; Hickey et al, 2005; Mueser, 2006). Por

seu lado, às famílias com um funcionamento pouco saudável estão associadas menores

probabilidades de recuperação do episódio depressivo e aumento do risco de recaída

(Keitner et al, 1995). Isto é verdade sobretudo nas situações em que a duração da

depressão é mais longa, em que há um número maior de episódios depressivos num

espaço de três anos, em que o indivíduo deprimido tem igualmente perturbações da

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70

personalidade e em que o seu cônjuge apresenta um nível elevado de distress (Miller et

al, 2000).

De facto, a investigação mostra que as doenças, sobretudo quando crónicas,

afectam não só o indivíduo doente mas também as relações interpessoais desse indivíduo,

nomeadamente com o seu parceiro (Acitelli & Badr, 2005).

As relações conjugais, como contexto interpessoal de maior intimidade, são

igualmente foco de alterações nomeadamente nas rotinas diárias e no funcionamento de

papéis (van Wijngaarden, Schene & Koeter, 2004).

Os estudos realizados indicam uma deterioração da qualidade da relação (Dudek

et al, 2001; van Wijngaarden et al, 2004), existindo uma associação robusta entre

depressão e dificuldades conjugais (Beach & O’Leary, 1993; Gotlib & Whiffen, 1989;

Coyne, Thompson, & Palmer, 2002). Esta aparenta ser bidireccional, (uma leva à outra e

vice-versa) (Joiner, 2002; Karney, 2001; Davila, 2001), uma vez que diversos estudos

(e.g. Fincham, Beach, Harold & Osborne, 1997) documentam que, geralmente, a

depressão é mais causadora de dificuldades conjugais para os homens, ao passo que nas

mulheres parecem ser mais os problemas maritais que desencadeiam quadros

depressivos.

Numa meta-análise sobre a relação entre depressão e satisfação conjugal,

Whisman (2001) constatou existirem correlações importantes entre a sintomatologia

depressiva e a insatisfação conjugal, sendo estas mais elevadas para as mulheres do que

para os homens. Contudo, a associação temporal entre estas variáveis foi inconclusiva.

Segundo o autor, a insatisfação conjugal pode preceder o aparecimento da sintomatologia

depressiva, ainda que este efeito ocorra sobretudo nas mulheres. No entanto, considera

que é necessário explorar melhor esta relação antes de se poder inferir o(s) sentido(s) da

associação entre depressão e satisfação conjugal.

Ao nível comportamental, observa-se que os casais com um membro deprimido

(Basco, Prager, Pita, Tamir & Stephens, 1992), sorriem menos frequentemente durante as

interacções com os seus cônjuges, mantêm menos contacto ocular, reportam sentimentos

mais negativos após interagirem com o cônjuge, avaliam o seu comportamento de forma

mais negativa relativamente aos casais sem depressão (Gotlib & Whiffen, 1989), referem

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71

menos expressões de afecto, especialmente afecto físico (Coyne, Thompson, & Palmer,

2002). Estes padrões são válidos para ambos os membros do casal.

No que se refere à comunicação do casal, os casais deprimidos referem menos

capacidades para o fazerem adequadamente, nomeadamente em tarefas de discussão de

problemas relativamente ao grupo controlo. Mais especificamente, apresentam mais

dificuldades em atingirem consensos na definição e procura de soluções dos problemas,

sendo que estas são mais destrutivas (Coyne, Thompson, & Palmer, 2002), são mais

agressivos verbalmente e têm menos capacidade para escutar activamente o seu parceiro,

o que resulta em comportamentos comunicacionais mais negativos (Basco, Prager, Pita,

Tamir & Stephens, 1992) e menos construtivos (Heene, Buysse & Oost, 2003).

A depressão afecta igualmente a intimidade do casal. No estudo referido

anteriormente de Basco e colaboradores (1992), os casais com um dos membros

deprimido foram classificados como tendo um estatuto de não-intimidade.

Simultaneamente, referiram nos questionários de auto-relato como estando insatisfeitos

com a quantidade de afecto, com a expressão de sentimentos e com a compreensão no

casamento, o que indica dificuldades na criação ou manutenção da intimidade do casal.

Verifica-se que os cônjuges apresentam também um maior número de sentimentos

disfóricos e de mau-estar (Hautzinger, Linden & Hoffman, 1982), níveis mais elevados

de stress (Benazon, 2000; van Wijngaarden et al, 2004); e humor deprimido (Benazon &

Coyne, 2000; Coyne et al, 1987; Jeglic et al, 2005), frustração, ressentimento consciente

ou inconsciente (Fadden, Bebbington & Kuipers, 1987), estando deste modo mais

vulneráveis ao desencadeamento de uma perturbação depressiva. As suas actividades

sociais são igualmente afectadas, diminuindo o tempo que passam com os amigos e

outros familiares (Muscroft e Bowl, 2000), aumentando o seu isolamento social (Halgin

& Lovejoy, 1991).

Spangenberg e Theron (1999) observaram que 54% dos participantes da sua

investigação sobre stress e estratégias de coping em cônjuges de indivíduos clinicamente

deprimidos apresentavam, eles próprios, sintomatologia depressiva, para além de níveis

bastante elevados de stress e ansiedade. Estes dados corroboram as observações de Coyne

e colaboradores (1987) e de Merikangas e colaboradores (1985) de que vivências de

stress são inerentes à conjugalidade de casais com um membro deprimido, vivências

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72

essas que conduzem frequentemente a desilusão e a desajustamento conjugal

(Merikangas, Prusoff, Kupfer & Frank, 1985). Os níveis elevados de ansiedade

experimentados pelos cônjuges não deprimidos provavelmente reduzirão a sua

capacidade para fornecerem suporte emocional e instrumental aos seus companheiros

deprimidos o que, por sua vez, poderá conduzir a um agravamento da depressão do

cônjuge deprimido (Brown & Harris, 1978).

Dudek e colaboradores (2001) elaboraram um estudo empírico com o fim de

examinar o impacto da perturbação depressiva nos cônjuges de indivíduos deprimidos,

tendo em consideração a variável género. Concluíram que as mulheres de indivíduos com

perturbação depressiva recorrente apresentam mais padrões de pensamento depressivo

em comparação com os maridos de mulheres deprimidas e com o grupo controlo, o que

confirma os resultados de Benazon e Coyne (2000) de que as esposas de homens

deprimidos apresentam mais sintomas de distress do que os maridos de mulheres

deprimidas. O mesmo acontece com as variáveis sentimento de falta de controlo e

frequência de pensamentos negativos automáticos. Da mesma forma, quanto mais grave

for a depressão do marido deprimido, mais sentimentos negativos, mais pensamento

pessimista e menor auto-estima a esposa não deprimida evidencia. Este padrão não se

verifica para os maridos saudáveis de mulheres deprimidas. Estes resultados sugerem que

homens e mulheres de indivíduos deprimidos experienciam a depressão do seu

companheiro de forma distinta, e que existem diferenças na percepção que têm acerca da

qualidade da relação conjugal, o que indica que a depressão do cônjuge tem um impacto

mais destrutivo nas mulheres do que nos homens. Isto provavelmente acontece porque as

mulheres tendem a envolver-se mais na doença dos seus maridos, o que poderá contribuir

para um exacerbamento da sua condição psicológica, para uma maior intensidade de

pensamentos negativos e um sentimento mais pronunciado de falta de controlo sobre a

situação. Os homens, apesar de avaliarem da mesma forma as dificuldades resultantes da

doença depressiva, aparentam ter um menor sentimento de falta de controlo da situação,

um estilo de pensamento mais positivo, maior bem-estar e maior propensão para se

abstrair das dificuldades associadas à depressão da sua esposa (Dudek et al, 2001). Estes

resultados corroboram a literatura existente sobre o suporte social que chama a atenção

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73

para o facto das mulheres terem uma orientação mais forte do que os homens para as

necessidades e desejos dos seus entes queridos (Eisenberg & Lennon, 1983).

Krantz e Moos (1987) chamam a atenção para o facto de que, apesar dos cônjuges

de indivíduos deprimidos em remissão terem um funcionamento, um nível de stress e

estratégias de coping semelhantes aos indivíduos do grupo controlo (ou seja, casais

saudáveis), têm também mais problemas familiares e sociais do que os casais saudáveis.

Os cônjuges dos indivíduos em episódio depressivo apresentam um funcionamento e o

contexto social e familiar bastante mais deficitário que o grupo de controlo e que os

cônjuges dos indivíduos em remissão. Estes resultados mantêm-se após um follow-up de

um ano e indicam que, apesar da sintomatologia depressiva poder sofrer uma evolução

positiva, continuam a subsistir dificuldades no funcionamento social dos casais com um

dos membros deprimido.

Muscroft e Bowl (2000) elaboraram um modelo explicativo da experiência de ser

cuidador de um familiar com depressão com base numa investigação qualitativa levada a

cabo com familiares e cuidadores de sujeitos deprimidos. Os autores consideraram quatro

fases distintas: a fase de aquisição, a fase de acomodação, a fase de adaptação e a fase de

apropriação.

A fase de aquisição inicia-se ainda antes do diagnóstico médico e é responsável

pela primeira mudança na dinâmica familiar. Os indivíduos mais próximos do sujeito

deprimido percepcionam, mas não compreendem, as mudanças que se sucedem no seu

comportamento e procuram causas em si próprios para explicar as referidas alterações

que passam, por exemplo, pelo deixar de participar nas rotinas familiares, pela

dificuldade em lidar com as exigências profissionais, pela sua irritabilidade, zanga,

humor deprimido, entre outros. Sentem-se ansiosos e inseguros acerca do que se passa

com o paciente. Apenas procuram apoio médico quando surgem sintomas físicos

associados como perturbações do sono ou do apetite. O sentimento predominante é o de

ignorância.

A fase seguinte inicia-se após o conhecimento do diagnóstico, e caracteriza-se

pela tentativa de procurar causas para o aparecimento da doença, tanto nas atitudes de

familiares como nas circunstâncias da vida. Os sentimentos predominantes são a

frustração (pela escassez de respostas), a culpa (por não terem feito nada mais cedo, por

Page 74: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

74

não terem prevenido a doença) e o ressentimento (pela contacto com uma realidade

diferente da que tinham imaginado viver). Esta fase envolve uma espécie de

desvinculação que assinala a segunda dinâmica afectiva – a redefinição das relações

familiares. A tristeza é o sentimento mais experimentado.

A fase de adaptação corresponde às tentativas por parte de cuidadores e familiares

de integrar a situação do familiar deprimido nas suas vidas. Trata-se igualmente de um

período em que, frequentemente, as necessidades do deprimido se sobrepõem às dos seus

cuidadores e familiares o que pode resultar na marginalização das suas necessidades

sociais e de saúde. Resulta habitualmente num misto de emoções dolorosas que

culminam com o sentimento de que as suas vidas deixaram de ser «normais».

A fase de apropriação corresponde ao alcançar de alguma estabilidade, embora

todos tenham de aceitar melhoras e recaídas no processo de recuperação da depressão. Se

esta fase for bem sucedida, assiste-se a um aumento da proximidade e a um sentimento de

se ser mais útil que em fases anteriores. Se não for bem gerida, esta fase pode

desenvolver nos cuidadores sintomas depressivos e conduzir à desintegração da unidade

familiar.

Muscroft e Bowl (2000) consideram que as fases 2 e 3, que ocorrem geralmente

um anos após o desencadeamento do primeiro episódio depressivo, são particularmente

difíceis. Trata-se de momentos em que os cuidadores constituem, eles próprios, um grupo

de risco para o desenvolvimento de perturbações.

Contudo, apesar de todas as dificuldades no funcionamento social e familiar dos

casais com um cônjuge deprimido, inerentes à própria sintomatologia da doença, existem

casais que se adaptam e que conseguem ultrapassar o stress familiar experimentado na

situação de depressão. Provavelmente serão casais cujo nível de resiliência familiar11 é

maior. Note-se por exemplo, os casais com um dos membros deprimido estudados por

Harris, Pistrang e Barker (2006), que apresentavam níveis elevados de satisfação

conjugal. No sub capítulo seguinte, abordaremos algumas variáveis sistematicamente

associadas à adaptação do casal à depressão.

11 O conceito de resiliência familiar foi apresentado no 1º capítulo da presente revisão teórica

Page 75: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

75

2.3. Acções e Reacções do Casal à Depressão – a Vinculação, o Suporte Social e o

Coping Familiar no Processo de Adaptação do Sistema à Crise Familiar

A depressão é uma doença psicológica que tem consequências graves a nível

individual, familiar e comunitário. O interesse dos investigadores em conhecer os

meandros desta perturbação tem originado diversas linhas de investigação, umas mais

centradas nas questões biológicas, outras com maior preocupação na componente

individual da doença e outras que dão relevo às questões interpessoais e sistémicas da

depressão.

Uma vez que a presente investigação se situa num paradigma sistémico de análise,

optou-se por analisar alguns dos conceitos que vêm sendo associados aos aspectos

relacionais da depressão no contexto do subsistema conjugal. Deste modo, no presente

subcapítulo, ir-se-ão discutir as principais questões que a literatura científica aponta como

tendo um papel de relevo na evolução da depressão e na adaptação do casal à mesma, no

que diz respeito à vinculação, ao suporte ou apoio social (especialmente o suporte

conjugal) e ao coping familiar.

2.3.1 - Vinculação e Depressão

Sendo a depressão uma das doenças mais prevalentes na actualidade, os

investigadores têm se preocupado em estudar as relações entre os estilo de vinculação e a

depressão.

Bowlby (1980) considerou que os modelos internos operantes que se formam

durante a infância estão associados a várias formas de distress adulto, como é o caso da

depressão.

Vários estudos indicaram que os sintomas depressivos estão associados a histórias

problemáticas de vinculação (Pearson et al, 1994; Pettem et al, 1993), e que existe uma

correlação entre depressão e vinculação ansiosa e amedrontada (Carnelley et al, 1994;

Roberts et al, 1996).

Page 76: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

76

Bifulco, Moran, Ball e Bernazzani (2002) constataram, em amostra clínica, uma

associação importante entre vinculação insegura e depressão clínica, mas não

encontraram diferenças significativas entre os vários padrões de vinculação insegura.

Whiffen e colaboradores (2001) concluíram que as mulheres clinicamente

deprimidas reportavam um nível inferior de segurança na vinculação e um maior

amedrontamento, relativamente às mulheres não deprimidas, o que parece indicar que a

depressão está associada a modelos operantes negativos no que respeita ao self e aos

outros. Ou seja, a depressão parece estar associada à crença de que os outros não gostam

de nós e que as figuras de vinculação são rejeitantes. Strodl e Noller (2003) corroboram

esta interpretação ao concluírem, na sua investigação sobre a relação entre as dimensões

da vinculação e a depressão, que as dimensões da vinculação que envolvem uma visão

negativa do self estão associadas a quadros depressivos. Por outro lado, a redução da

sintomatologia depressiva nesta amostra de investigação, está associada à segurança da

vinculação do parceiro – quando este se avaliava como desinvestido, os sintomas

depressivos da sua companheira mantinham-se por um período de seis meses.

Outros estudos indicam que a depressão está associada a um estilo de vinculação

preocupado. West e George (2002) analisaram numa amostra de 420 mulheres, das quais

24 foram diagnosticadas como sofrendo de distimia, a relação entre este tipo de

perturbação depressiva e o seu estilo de vinculação. Os resultados foram claros: 57 % das

mulheres distímicas foram classificadas como possuindo um estilo de vinculação

preocupado.

Scott e Cordova (2002) concluíram que, nos indivíduos com estilo de vinculação

ansioso, era mais provável desenvolverem-se sintomas depressivos, especialmente se os

seus níveis de ajustamento conjugal fossem baixos.

Os estudos efectuados em contexto português vão no mesmo sentido. Canavarro

(1999), num estudo sobre a associação entre as relações afectivas ao longo do ciclo de

vida e a saúde mental, observou que os indivíduos com perturbações depressivas, quando

comparados com indivíduos sem perturbações emocionais, apresentavam um maior

índice de padrões de vinculação inseguro ansioso e evitante, sendo o tipo ansioso melhor

preditor das perturbações depressivas do que a vinculação de tipo evitante.

Page 77: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

77

Num estudo sobre vinculação e percepções de saúde, Kidd e Sheffield (2005)

observaram que os indivíduos seguros referiam menos sintomas somáticos, menos

disfunção social e menos sintomatologia depressiva relativamente aos indivíduos

amedrontados e menos disfunção social e sintomas depressivos relativamente aos sujeitos

preocupados. Não foram encontradas diferenças significativas entre os três estilos de

vinculação inseguros.

Numa revisão de literatura de 2006, Shorey e Snyder assinalam a possibilidade de

que cada um dos estilos de vinculação insegura possa estar relacionado com

sintomatologia depressiva, na medida em que possam existir mecanismos de

desenvolvimento ou vulnerabilidade a estados depressivos específicos de cada padrão de

vinculação.

E porque será que existe uma associação entre a depressão e um estilo de

vinculação inseguro? A vinculação parece ser um factor importante no bem-estar

individual e na forma de lidar com os acontecimentos de vida stressantes (Mikulincer,

Florian & Welller, 1993). A investigação tem mostrado que, por um lado os padrões de

vinculação não são estanques e resultam da interacção entre os modelos operantes

internos construídos desde a infância e as experiências associadas aos relacionamentos

íntimos mais actuais (Kobak, 1994). Por outro lado, observa-se que os indivíduos

deprimidos se comportam de forma a chamar a atenção do seu companheiro para as suas

necessidades (por activação do seu sistema de vinculação exibem comportamentos de

protesto), provocando muitas vezes sentimentos de hostilidade neste, o que resulta

frequentemente em dificuldades conjugais que, por sua vez, vão exacerbar a

sintomatologia depressiva (Anderson, Beach & Kaslow, 1999; Wei, Mallinckrodt, Larson

& Zakalik, 2005).

Outros autores consideram que existe associação entre vinculação insegura e

depressão pelo facto desta estar relacionada com a cognição que, por sua vez, se associa

ao desenvolvimento e curso da depressão (Burge et al, 1997; Roberts et al, 1996). Já

Hammen e colaboradores (1995) tinham demonstrado que as cognições disfuncionais

associadas à vinculação insegura contribuem para o desenvolvimento e severidade da

sintomatologia depressiva em jovens adolescentes em situações de stress interpessoal.

Page 78: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

78

Há ainda que considerar que os indivíduos com vinculação amedrontada tendem a

ter uma auto-estima mais baixa, mais atitudes negativas perante os outros e mais

dificuldades nos relacionamentos interpessoais (Cyranowski et al, 2002). De facto,

Roberts, Gotlib e Kassel (1996) demonstraram que a relação entre vinculação insegura e

sintomatologia depressiva era mediada por níveis baixos de auto-estima e atitudes

interpessoais disfuncionais.

Simpson e Rholes (2004) desenvolveram o modelo interpessoal de ambivalência e

sintomas depressivos com vista a explicar a relação entre estas variáveis. Os autores

propuseram que os níveis basilares de ambivalência (ou seja, o grau em que o indivíduo

possui as características principais associadas a modelos operantes internos ansiosos) são

parcialmente determinados pelas experiências (ou pela percepção das experiências) com

os pais e com os pares em situações relevantes para o sistema de vinculação ao longo do

seu desenvolvimento social. Quando o indivíduo experimenta uma situação activadora do

seu sistema de vinculação, é influenciado pelos seus níveis de ambivalência basilar. Tal

ir-se-á repercutir de forma mais acentuada nos níveis de activação (isto é, na

acessibilidade cognitiva dos modelos operantes internos ansiosos) que, quando

evidenciados, aumentam a probabilidade de que as percepções sociais sejam processadas

de acordo com os «filtros negativos» contidos nos modelos internos, o que conduz a um

aumento da probabilidade de que as situações e as pessoas sejam construídas de forma a

confirmar as expectativas e as crenças pessimistas que caracterizam os modelos operantes

internos ansiosos. Com o nível de activação aumentado, a probabilidade dos

comportamentos serem dirigidos pelas crenças, expectativas e rotinas associadas aos

modelos ansiosos também aumenta, o que tem como consequência a zanga, a raiva e

outras formas comportamentais no parceiro, o que é consistente com os seus modelos

ansiosos, havendo desta forma uma confirmação das crenças e das expectativas

pessimistas.

Ao longo do tempo, o modelo de confirmação das percepções retroalimenta os

níveis basilares de ambivalência, mantendo ou aumentando esses níveis. Pelo contrário,

experiências desconfirmatórias dos modelos ansiosos podem atenuar os níveis basilares

de ambivalência (o que poderá conduzir a alterações nos modelos operantes internos).

Uma vez que existe uma associação entre a activação dos níveis de ambivalência e

Page 79: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

79

atitudes relacionais disfuncionais, se ao longo do tempo o indivíduo for acumulando mais

percepções negativas do parceiro e atitudes relacionais disfuncionais, é muito provável

que o indivíduo desenvolva sentimentos de deprivação (isto é, o sentimento de que o

parceiro não preenche as necessidade básicas da relação que são essenciais à felicidade

conjugal), o que provocará, manterá ou agravará sintomatologia depressiva. Este modelo

dá ênfase ao papel crucial que o stress e a vulnerabilidade que lhe está associada

desempenham na activação dos modelos operantes internos (Simpson & Rholes, 2004),

bem como à circularidade dos próprios fenómenos.

2.3.2 - Suporte Social

O suporte social está intrinsecamente relacionado com o interesse no estudo dos

efeitos das relações sociais, tendo já algumas havido algumas referências a este conceito

no século XIX por Darwin (Sarason, Pierce & Sarason, 1990).

Um dos primeiros desafios para os investigadores desta área é o da definição do

conceito de suporte social. Na literatura encontram-se várias definições, as quais estão em

ligação directa com a mensuração deste constructo.

Cobb (1976) defende que o suporte social consiste na informação que leva os

indivíduos a acreditarem que são amados, estimados, valorizados e que pertencem a uma

rede de comunicação e de obrigações mútuas. Por sua vez, Caplan & Kililea (1976, cit

por Guterres, 2002) conceptualizam o suporte social como a união entre indivíduos ou

entre indivíduos e grupos, de que resulta uma melhor competência adaptativa para

enfrentar desafios, tensões e privações a curto prazo. House complementa (1981, cit por

Guterres, 2002) ao definir suporte social como o conjunto de transacções interpessoais

que envolvem um interesse ou atenção a nível afectivo/emocional; a ajuda instrumental; o

fornecimento de informação acerca do meio e o reconhecimento pessoal.

Hobfoll & Vaux (1993, cit por Serra, 1999) consideram o suporte social como

sendo um meta-constructo no qual se enquadram três constructos distintos: 1) recursos da

rede social, que são constituídos pelas relações sociais disponíveis que podem ser

objectivamente chamadas a prestar ajuda em caso de necessidade e que oferecem uma

ligação estável num grupo social; 2) comportamento de suporte, que é definido como a

troca de recursos entre pelo menos dois indivíduos e que tem como objectivo aumentar o

Page 80: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

80

bem-estar do receptor; e 3) avaliação subjectiva do suporte (ou suporte social

percepcionado), que diz respeito àquilo que o indivíduo percepciona e ao significado que

atribui ao auxílio prestado por alguém.

Segundo Cutrona (1996b), as necessidades ligadas ao suporte social não dizem

respeito apenas às circunstâncias que podem afectar a vida de um indivíduo, devendo ser

consideradas como um requisito permanente que se torna útil para o ajustamento e o

bem-estar do ser humano, que lhe melhora a qualidade de vida independentemente da

ocorrência ou não de circunstâncias desagradáveis.

Weiss (1974; cit por Cutrona, 1996a) considera que o suporte social, quando

prestado, cumpre seis tipos de funções: a) estabelece elos afectivos que propiciam um

relacionamento mais íntimo e dão ao indivíduo mais segurança; b) contribui para a

integração social do indivíduo, na medida em que este sente que pertence a um grupo de

pessoas com interesses e preocupações semelhantes; c) favorece o reconhecimento do

valor e da competência do indivíduo; d) institui a possibilidade de dar e de receber

conselhos e informações orientadoras; e) ajuda a fomentar uma relação de confiança nas

expectativas de ajuda, de modo a que o ser humano passe a esperar ser assistido nos

momentos de necessidade; f) cria a oportunidade ao indivíduo de prover cuidados a

outras pessoas, o que o leva a sentir-se útil ao bem-estar dos outros.

Cohen & Wills (1985) consideram existir seis tipos de suporte social: 1) suporte

afectivo ou de estima, com o qual as pessoas se sentem estimadas e aceites pelos outros

apesar dos seus defeitos, erros ou limitações, o que contribui para a respectiva auto-

estima; 2) suporte emocional, que é representado pelos sentimentos de apoio e de

segurança que um indivíduo pode receber; 3) suporte perceptivo, que contribui para que o

indivíduo possa efectuar uma avaliação mais correcta do seu problema, para lhe dar um

outro significado e para estabelecer objectivos mais realistas; 4) suporte informativo, o

qual é exemplificado pelas informações e conselhos que ajudam os indivíduos a

desenvolver uma compreensão mais adequada das situações ambíguas, o que facilita a

sua tomada de decisão; 5) suporte instrumental ou tangível, que consiste na ajuda

concreta que um indivíduo recebe, em termos materiais ou de serviços, e que resolve o

problema em questão; e 6) suporte de convívio social ou de socialização, em que através

de actividades culturais ou de lazer, o indivíduo passa algum tempo com os seus pares, o

Page 81: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

81

que contribui para, por um lado o aliviar de tensões acumuladas e, por outro, como meio

de se sentir parte integrante de determinada rede social.

2.3.2.1 - Suporte Social e Depressão

Um vasto número de estudos transversais documenta que vários índices de

suporte social estão associados à depressão (eg. Billings, Cronkite & Moos, 1983,

Mitchell & Moos, 1984). Níveis elevados de depressão estão associados a relatos de

poucos contactos sociais com amigos e familiares (Roberts, Roberts & Stevenson, 1982),

menor satisfação com a qualidade do suporte (Pagel & Becker, 1987), particularmente

com o suporte dos familiares (Grant, Patterson & Yager, 1988), e menos contactos sociais

positivos com outros adultos que não o parceiro (Beach, Arias & O´Leary, 1986).

Roberts e Gotlib (1997) afirmam que é plausível que a associação entre níveis

baixos de suporte e a depressão aconteça porque a depressão enviesa negativamente as

percepções do suporte. Há evidência de que a depressão contribui para deteriorações reais

no suporte social (Coyne, 1976; Joiner et al., 1993, cit por Roberts & Gotlib, 1997).

Outros investigadores procuraram examinar o suporte social em indivíduos previamente

deprimidos. As diferenças entre os indivíduos com sintomatologia depressiva em

remissão e os indivíduos que nunca estiveram deprimidos seriam indicadores de que os

déficits no suporte social reflectem características estáveis da depressão que persistem

independentemente do indivíduo ter um episódio único de depressão ou não (Barnett &

Gotlib, 1988). Consistente com esta hipótese, Billings e Moos (1985) descobriram que os

depressivos em remissão referiam menos relações próximas, menos amigos e menos

interacções de suporte com familiares relativamente aos indivíduos que nunca estiveram

deprimidos. Não foram encontradas diferenças entre os dois grupos no que concerne à

qualidade das relações próximas, ao suporte no trabalho e ao tamanho da rede social.

Wade e Kendler (2000) obtiveram resultados semelhantes: a depressão major

mostrou estar associada a menos suporte percebido e a mais dificuldades nas relações

sociais, sobretudo para familiares.

Outros estudos indicam que os indivíduos clinicamente deprimidos continuam a

referir distress e conflito marital após a sua recuperação do episódio depressivo

Page 82: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

82

(Hinchcliffe, Hooper & Roberts, 1978; Merikangas, 1984; Paykel & Weissma, 1973; cits

por Roberts & Gotlib, 1997).

No que se refere à importância do suporte social na evolução da depressão,

George, Blazer, Hughes e Fowler (1989) comprovaram que existe uma associação entre

estas duas variáveis e que as dimensões associadas à recuperação da doença eram a

seguintes: percepção de se ser compreendido e útil na sua rede social; sentimento de que

se está informado e que se desempenha um papel válido na rede social; sentimento de que

os indivíduos significativos estão disponíveis para falar dos problemas; percepção de que

não está só; e avaliação positiva da qualidade da relação com as pessoas significativas.

2.3.2.2 - Suporte Conjugal e Depressão

O suporte social oferecido pelo cônjuge é um tipo específico de suporte social que

promove um estado emocional positivo inibidor de interacções negativas múltiplas,

frequentemente causadoras de situações de conflito conjugal (Cutrona 1996a). Tal como

afirma Cutrona (1996a, p. 17), “no contexto de relacionamentos como o casamento, o

suporte pode preparar os indivíduos para lidar com futuros stressores assim como, ajudá-

los a enfrentar as crises depois delas ocorrerem. Parece provável que demonstrações de

responsividade às necessidades do sujeito, quando enfrentam os aborrecimentos

quotidianos, se traduzam em esquemas relacionais que incluem carinho,

interdependência, confiança e compromisso. Quando mais tarde se deparam com crises

mais severas, é neste contexto interpessoal mais desenvolvido que as enfrentam. O

suporte social pode assim, influenciar a saúde física e mental, em parte indirectamente

através deste engrandecimento da qualidade da relação”.

De facto, a investigação tem demonstrado que o suporte conjugal está

robustamente associado a níveis mais elevados de satisfação conjugal, a benefícios ao

nível da saúde mental e ao nível da saúde física (Gardner & Cutrona, 2004).

Tal como foi referido anteriormente, a literatura aponta para que a depressão e o

distress marital estejam bastante relacionados (Coyne & Downey, 1991), na medida em

que, com o passar do tempo, algumas características associadas à depressão, como a

irritabilidade, a pouca motivação e a disforia, se tornem bastante aversivas para as

pessoas mais próximas do sujeito deprimido. Coyne e Doweney (1991), sublinham que

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83

apesar de, por vezes, os problemas conjugais conduzirem à depressão, é frequente a

depressão ser causa de conflitos conjugais e, consequentemente, da diminuição da

satisfação marital (Beach et al., 1986; Burns, Sayers & Moras, 1994).

Diversos estudos indicam que o suporte positivo por parte da família está

associado a uma mais fácil recuperação de um episódio depressivo major (Keitner et al,

1992; Brugha et al, 1990; Nasser & Overholser, 2005). McLeod, Kessler e Landis (1992)

constataram que comportamentos de suporte social por parte do cônjuge influenciam

mais a rapidez da recuperação de um episódio depressivo do que comportamentos de

suporte por parte de amigos, sobretudo se se tratarem de respostas positivas à situação de

depressão do seu companheiro. Pelo contrário, níveis mais baixos de suporte estão

associados a maiores dificuldades na recuperação da doença (Zuroff et al, 2002) e a uma

maior tendência para a depressão se tornar crónica (Lynch et al, 1999).

Num estudo desenvolvido por Lara, Leader e Klein (1997) ficou claro que níveis

mais elevados de suporte social medidos inicialmente, predizem níveis mais baixos de

sintomas depressivos assim como a recuperação da depressão (6 meses depois), mesmo

após o controlo de variáveis como a severidade dos sintomas, a distimia, o número de

episódios depressivos anteriores e o neuroticismo.

Beach, Sandeen e O’Leary (1990) salientam a importância de cinco tipos de

comportamentos positivos de suporte conjugal que amortecem o impacto dos

acontecimentos negativos e suavizam a depressão. São eles a escuta activa, a estima, o

suporte instrumental, a intimidade e a partilha de actividades / tempos agradáveis juntos.

Estes comportamentos são frequentemente percebidos como de apoio e estão associados

a níveis mais baixos de depressão ao longo do tempo.

Muito recentemente, Harris, Pistrang & Barker (2006) desenvolveram um estudo

qualitativo com vista a compreender todo o processo de suporte do casal a um cônjuge

deprimido. Observaram que o processo de suporte se caracteriza por muitas incertezas e

dificuldades, por tentativas e erros, por momentos de sucesso e por momentos de

insucesso. Segundo os autores, um suporte efectivo tem de reunir um conjunto de

características tais como: confiança, aceitação, comunicação aberta e sem julgamentos ou

críticas. O maior desafio neste processo de suporte é o parceiro saudável compreender o

que é estar deprimido, uma vez que o deprimido tem muitas dificuldades em explicar a

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84

experiência da depressão. Neste caso, a empatia é uma qualidade fundamental para que o

apoio venha a acontecer. Por outro lado é comum que, na tentativa de fornecer suporte, o

cônjuge experimente sentimentos de frustração, raiva e impaciência, que procura

interiorizar com medo do impacto no seu companheiro doente, e que tem custos

emocionais importantes. Harris e os seus colaboradores argumentam que o mais

importante no processo de apoio ao cônjuge deprimido é a parceria, isto é, o casal

trabalhar junto para a recuperação do membro doente e, para tal, é fundamental

ultrapassar as dificuldades comunicacionais relatadas com estando sempre presentes

nestes casais. É de referir que, neste estudo, os níveis de satisfação conjugal foram

elevados.

2.3.3 - Coping Familiar

O comportamento de coping é definido como sendo o esforço cognitivo e

comportamental do indivíduo para gerir (reduzindo, minimizando ou tolerando), as

exigências internas e externas resultantes da relação indivíduo-ambiente que são

avaliadas como sendo excessivas face os recursos do sujeito (Folkman et al, 1986). Este

pode ser focalizado na resolução do problema ou na regulação das emoções despertadas

pela situação geradora de stress (Lazarus & Folkman, 1984). Os autores definem as

estratégias de coping centradas na resolução dos problemas como sendo aquelas

utilizadas para alterar a situação stressante, que incluem técnicas como a geração de

soluções e a aprendizagem de novas capacidades; por sua vez, as estratégias centradas na

regulação das emoções estão associadas a situações em que o indivíduo acredita que não

existe forma de contornar as exigências que lhe são feitas, de que é exemplo o evitamento

(ibidem).

Apesar de frequentemente as estratégias de coping serem conceptualizadas a um

nível individual, também se considera existir coping a nível familiar e comunitário, se se

pensar que um grupo de sujeitos pode agir com o objectivo de eliminar ou gerir

exigências (Patterson, 1988). O conceito de coping familiar foi introduzido por

McCubbin e colaboradores em 1979 (cit por Boss, 2002) como fazendo parte dos

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85

recursos familiares. Nesta perspectiva, o coping familiar corresponde ao comportamento

coordenado de todo o sistema com vista à resolução do problema, podendo envolver

igualmente esforços individuais dos membros familiares que procuram complementar a

resolução da situação de uma forma mais global. Dito de outra forma, coping familiar é o

conjunto dos processos cognitivos, afectivos e comportamentais através dos quais o

indivíduo e o sistema familiar lidam com as situações indutoras de stress, sendo por isso

entendido como um processo de gestão de um acontecimento por parte da família

enquanto unidade, sem efeitos negativos em qualquer membro individual do sistema

(Boss, 2002; McCubbin & Patterson, 1983a).

Patterson (1988) considera existirem cinco tipos principais de estratégias de

coping familiar: (1) acção directa para reduzir o número e/ou a intensidade das

exigências; (2) acção directa com o fim de adquirir recursos adicionais ainda não

disponíveis no sistema familiar; (3) manutenção dos recursos já existentes para que

possam ser utilizados no confronto com as exigências, tais como o suporte social de

amigos; (4) gerir a tensão associada a situações de desgaste através da expressão da

emoção e dos afectos, da utilização do humor ou da participação em programas

familiares; e (5) avaliação cognitiva do significado da situação de stress de forma a

alterar o seu significado para o sistema e, deste modo, tornar a situação mais manejável.

Estas estratégias visam a manutenção das fronteiras familiares em termos de coerência e

unidade; a manutenção de condições internas satisfatórias para a comunicação familiar; a

promoção da independência e da auto-estima dos membros do sistema familiar; a

manutenção da flexibilidade familiar e da autonomia; e o desenvolvimento e a

manutenção de uma rede de suporte social e de outros recursos da comunidade

(McCubbin & Patterson, 1983b). Os autores acrescentam ainda a eliminação dos

stressores, a gestão das dificuldades associada à situação de stress, a resolução de

conflitos e tensões intrafamiliares, a aquisição e o desenvolvimento de recursos sociais,

psicológicos e sociais necessários à adaptação familiar (ibidem). Estas estratégias de

coping podem ser agrupadas em estratégias de evitamento, estratégias de eliminação e

estratégias de assimilação (McCubbin & McCubbin, 1989). As estratégias de evitamento

consistem nos esforços da família para ignorar ou negar o stressor na esperança que

desapareça ou que a situação se resolva por si só. As estratégias de eliminação dizem

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86

respeito aos esforços activos levados a cabo pelo sistema familiar no sentido de remover

todas as exigências associadas ao stressor ou de alterar a sua definição. Estas duas

estratégias promovem a manutenção da estrutura e interacção existentes na família,

protegendo-a de fazer quaisquer modificações nos seus padrões comportamentais. As

estratégias de assimilação são utilizadas nas situações em que a família aceita as

exigências criadas pelo agente indutor de stress e as integra na sua estrutura e interacção

(ibidem).

Boss (2002) acrescenta ainda a noção de recursos familiares de coping12, a que se

refere quando fala de «forças» individuais e colectivas presentes no sistema familiar no

momento da ocorrência da situação indutora de stress. Como exemplos, destaca a

segurança económica, a saúde, a inteligência, a proximidade de suporte, o espírito de

cooperação na família, a capacidade de relacionamento interpessoal, entre outros. Trata-

se assim, do conjunto de possibilidades económicas, psicológicas e físicas às quais a

família pode recorrer como resposta a acontecimentos geradores de stress (Boss, 2002).

2.3.3.1 - Coping Familiar e Depressão

A depressão num membro de uma família é considerado um factor de stress

familiar (Schock & Gavazzi, 2005), que tem grande impacto em todo o sistema familiar,

nomeadamente no subsistema conjugal, sendo que a forma como a família lida com um

membro que tem uma doença psicológica tem consequências importantes na recuperação

dessa mesma doença (Krantz & Moos, 1987).

Spangenberg e Theron (1999) consideram que um coping efectivo por parte do

companheiro do membro deprimido pode prevenir o desenvolvimento ou o reavivamento

do conflito conjugal e, deste modo, prevenir o agravamento do quadro depressivo. Estes

investigadores constataram que a estratégia de coping mais utilizada pelos companheiros

de indivíduos deprimidos para lidar com esta situação é o evitamento, e que tal

condiciona de forma importante o ajustamento familiar à depressão.

12 Estratégias de coping familiar são os processos activos e comportamentais levados a cabo pela família para as ajudar a lidar com a situação geradora de stress, enquanto que os recursos familiares de coping são as características ou as «forças» que a família tem à sua disposição para lidar com essa mesma situação de stress (Burr & Klein, 1994).

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87

Halgin e Lovejoy (1991) consideram que existem dois tipos de estratégias

utilizadas pelos cônjuges não deprimidos para lidar com as dificuldades associadas à

depressão: tornar o ambiente envolvente manejável e compreender a origem e a natureza

da depressão do seu companheiro. Por sua vez, Billings e Moos (1984) tinham proposto

três dimensões de coping: focado na avaliação, que se refere às tentativas levadas a cabo

pelo parceiro não deprimido para compreender ou definir os sintomas do seu cônjuge;

focado no problema, em que há uma tentativa de redução da tensão através do confronto

activo dos assuntos associados à depressão, ou seja, o cônjuge não deprimido procura

encontrar soluções para diminuir o nível de stress; e focado nas emoções, que consiste na

regulação das emoções destrutivas que surgem associadas ao ambiente de opressão

característico desta enfermidade.

Mais recentemente, surgiu uma outra abordagem do coping familiar, que se tem

preocupado em estudar os casais com depressão, e que o seu autor (Bodenmann, 2005)

intitulou de coping diádico. O coping diádico (tal como o stress diádico) são definidos

como partes de um processo interpessoal que envolve ambos os parceiros conjugais. O

stress diádico representa uma forma específica de stress social que envolve preocupações

e uma intimidade emocional partilhada pelo casal, isto é, as exigências e dificuldades

associadas à situação geradora de stress afectam sempre ambos os parceiros, directa ou

indirectamente. É definido a partir da intensidade ou duração da exposição a uma

situação geradora de stress sentida por um dos cônjuges como excessiva face aos seus

recursos, e que condiciona o estado de distress do outro membro da díade, «contagiando-

o». O coping diádico implica a participação de ambos os parceiros no processo de gestão

da situação causadora de stress, participação essa que pode ser mais simétrica ou mais

complementar. Visa a redução do nível de stress em cada cônjuge e a promoção da

qualidade da relação conjugal (Bodenmann, 2005), sendo o processo pelo qual os sinais

de stress num dos cônjuges activam os recursos e as reacções de coping do outro cônjuge

a esses sinais (verbais e não verbais) a fim de manter ou de restaurar a homeostase de

ambos os parceiros enquanto indivíduos e enquanto casal (Bodenmann, 1997). Neste

modelo, Bodenmann (1995, cit por Bodenmann et al, 2004) considera a existência de

comportamentos de coping diádicos positivos e comportamentos de coping diádicos

negativos. Os primeiros referem-se a estratégias de coping de resolução de problemas e

Page 88: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

88

de regulação das emoções que visam o apoio do companheiro nos seus esforços para lidar

com a situação de stress através de actividades como a ajuda nas tarefas diárias, a

compreensão empática, a ajuda na compreensão da situação, ajudar o companheiro a

relaxar, entre outras. Os segundos referem-se a comportamentos de coping ambivalentes,

nos quais os companheiros se mostram desinteressados, desmotivados, sarcásticos,

distanciados e pouco genuínos na forma como procuram apoiar o companheiro em stress.

Os comportamentos diádicos de coping mostraram serem um importante preditor do

funcionamento conjugal (Bodenmann, 2000; cit por Bodenmann et al, 2004).

Bodenmann e colaboradores (2004) estudaram as estratégias de coping presentes

em casais deprimidos e não deprimidos, quer ao nível individual, quer ao nível diádico e

concluíram que existe um déficit de coping funcional especialmente ao nível individual,

mas também ao nível diádico, sobretudo em mulheres deprimidas. Esta disfuncionalidade

refere-se essencialmente à comunicação do stress e ao suporte prestado.

Em síntese, a depressão, sendo uma das doenças psicológicas mais prevalentes na

sociedade dos nossos dias, tem de facto um impacto bastante importante, não só no

indivíduo de que dela padece, como nos que estão à sua volta e, em última análise, na

sociedade em geral. Os estudos dedicados a esta problemática multiplicam-se a um ritmo

elevado, e é já convicção dos investigadores, a certeza de que associado a esta doença,

estão enormes dificuldades no relacionamento interpessoal. Contudo, existe um número

considerável de indivíduos que, apesar de em algum momento das suas vidas desenvolver

uma qualquer forma de depressão, acabam por conseguir «resistir-lhe» e ultrapassam as

condicionantes que a doença entretanto lhes introduziu nas suas vidas. Os indivíduos com

um estilo de vinculação seguro tendem a não desenvolver com tanta frequência episódios

de depressão. O suporte conjugal tem-se revelado um importante preditor para a

recuperação da doença. A utilização de estratégias de coping por parte de ambos os

membros do casal tem se revelado como um importante factor no combate à depressão.

Na presente investigação, o nosso objectivo é olhar para estes três factores –

vinculação, suporte conjugal e estratégias de coping familiar – e compreender no

contexto português, numa amostra constituída por casais em que um dos membros está

diagnosticado como tendo uma depressão clínica, de que forma estas três variáveis

Page 89: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

89

apontadas na literatura como tendo um papel importante na adaptação do casal à doença,

se comportam relativamente a um dos mais utilizados indicadores de adaptação conjugal

– a satisfação conjugal.

Page 90: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

90

II – ESTUDO EMPÍRICO

Page 91: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

91

CAPÍTULO 1 – CONCEPTUALIZAÇÃO DO ESTUDO EMPÍRICO, OBJECTIVOS E

METODOLOGIA

Sendo a depressão uma perturbação com implicações tão importantes na

conjugalidade pretende-se, com este trabalho de investigação, compreender o papel de

algumas variáveis no processo de adaptação do casal às realidades da doença. Deste

modo, inicia-se este capítulo com a clarificação do mapa conceptual, dos objectivos e das

questões de investigação subjacentes e respectivas hipóteses de partida. Segue-se a

definição das variáveis em estudo e a caracterização da amostra e dos instrumentos de

avaliação. Termina-se com uma síntese dos procedimentos envolvidos no desenho da

investigação.

Tratando-se de um estudo descritivo e exploratório (Black, 1999) com recurso a

uma amostra clínica, não probabilística e de conveniência, tem como objectivo principal

analisar as relações prováveis entre alguns recursos da relação conjugal e as estratégias

de coping utilizadas pelo casal com a respectiva adaptação à situação de depressão de um

dos seus membros. Neste contexto, tratando-se a satisfação conjugal de uma das variáveis

mais estudadas no contexto das relações conjugais e podendo ser “considerada como um

ponto nodal do bem estar – ou felicidade conjugal -, uma vez que activa este sentimento e

é por ele activada” (Narciso, 2001, p.26), optou-se por utilizá-la como medida de

adaptação do casal, ou seja como variável dependente. Assim sendo, um casal satisfeito é

considerado um casal que se adaptou e que é resiliente à situação de doença de um dos

seus membros.

Importa também referir a especificidade do conceito de adaptação que, no

presente trabalho, é perspectivado segundo o Modelo de Resposta de Ajustamento e

Adaptação Familiar, isto é, refere-se ao estado de equilíbrio que resulta do ajustamento

entre os indivíduos membros de uma família, a unidade familiar enquanto sistema e a

comunidade onde a unidade familiar está inserida, de forma a que as exigências de cada

uma destas unidades sejam satisfeitas com as competências de outra. Por conseguinte,

Page 92: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

92

traduz-se nos resultados que reflectem os esforços da família para alcançar um novo

estado de equilíbrio no seu funcionamento (McCubbin & Patterson, 1983).

Page 93: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

93

1.1 – Objectivos do Estudo

Numa perspectiva sistémica de compreensão da dinâmica familiar, qualquer

alteração num dos membros do sistema, tem necessariamente repercussões nos outros

elementos. Deste modo, uma qualquer doença, sendo ela aguda, crónica, física ou

psicológica, é experimentada no contexto do sistema familiar como uma situação

geradora de stress, tendo por isso, repercussões individuais, familiares e sociais

importantes. A depressão não é excepção, e actualmente é considerada uma crise não

normativa no contexto do ciclo de vida familiar (Angell, 1936; Cavan & Rank, 1938; cits.

por Boss, 2003). O nosso objectivo é analisar alguns dos factores facilitadores ou

inibidores da adaptação do casal a uma situação de crise como é a gerada pela condição

de um dos seus elementos estar deprimido.

Neste sentido recorre-se ao Modelo de Resposta de Ajustamento e Adaptação

Familiar - FAAR Model (McCubbin & Patterson, 1983), descrito no primeiro capítulo

deste trabalho, como modelo de conceptualização do stress familiar experimentado pela

díade conjugal no contexto do quadro depressivo de um dos seus membros.

O foco deste estudo incide numa parcela do Modelo de Resposta de

Ajustamento e Adaptação Familiar, tal como indica a figura 5. Pretende-se analisar

alguns dos potenciais recursos - a vinculação e o suporte conjugal - e as estratégias de

coping familiar utilizadas pelos casais para fazer face à situação de crise que enfrentam.

Page 94: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

94

Figura 5 – Parcela do Modelo de Resposta de Ajustamento e de Adaptação Familiar em estudo

Um estilo de vinculação seguro pode, segundo Mikulincer e Florian (1998),

funcionar com um recurso interno que ajuda os indivíduos a lidar com as situações

adversas; de modo oposto, um estilo de vinculação inseguro tende a dificultar a forma

como os indivíduos enfrentam as situações geradoras de stress. A investigação na área da

vinculação tem vindo a reforçar a ideia de que, ainda que possa haver alguma

estabilidade no estilo de vinculação ao longo da vida, é também muito provável que as

experiências de relacionamentos interpessoais com pares e com parceiros românticos,

modifiquem os modelos operantes internos. Por exemplo, indivíduos com estilos de

vinculação inseguros, através da experimentação de relações securizantes, podem alterar

o seu padrão de vinculação (Fraley & Shaver, 2000; Kobak, 1994), uma vez que “as

representações dos indivíduos acerca dos «outros» são também significativamente

determinadas pelas características do parceiro, demonstrando que os modelos operantes

internos acomodam a informação acerca do parceiro, não sendo somente meros

constructos cognitivos” (Cook, 2000; p.293). Assim, as características do parceiro podem

Em investigação

Page 95: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

95

manter ou promover mudança (para melhor ou pior) nos modelos operantes internos

(Feeney, 2003). Sabe-se, também, que os indivíduos estabelecem ao longo da vida várias

relações de vinculação, e que o estilo de vinculação associado a cada uma dessas relações

não tem de ser necessariamente o mesmo. Deste modo, e uma vez que um dos objectivos

da presente investigação é o de analisar os recursos associadas à relação conjugal de

indivíduos com diagnóstico de depressão, optou-se por estudar a vinculação amorosa, ou

seja, o estilo relacional de vinculação com o cônjuge, perspectivando-o como um recurso

da relação conjugal. Pretende-se, então, estudar a relação entre o estilo de vinculação

amorosa e a satisfação conjugal.

Por outro lado, o suporte conjugal é encarado pelos investigadores como um

recurso importante da relação conjugal, estando associado a índices mais elevados de

satisfação conjugal. A revisão de literatura efectuada permitiu constatar a forte associação

entre suporte social (ou conjugal) e a depressão, no sentido em que a esta doença estão

tendencialmente associados níveis mais baixos de suporte social percepcionado. Parece-

nos pertinente analisar, em casais com um dos cônjuges deprimido, a associação entre o

suporte conjugal percepcionado pelo casal e a satisfação conjugal.

Relativamente ao coping, a investigação tem demonstrado que a utilização de

estratégias de coping efectivas por parte dos casais deprimidos, nomeadamente pelo

cônjuge não deprimido, podem prevenir o desenvolvimento ou o reavivamento do

conflito conjugal e, consequentemente, o agravamento do quadro depressivo, permitindo

ainda uma recuperação mais rápida e eficaz do mesmo. Numa perspectiva sistémica, o

conceito de coping familiar traduz os esforços efectuados pelo sistema para resolver a

crise desencadeada pela situação geradora de stress. Neste âmbito, procura-se

compreender o papel das estratégias de coping familiar na adaptação do casal à

depressão, investigando para o efeito a sua relação com a satisfação conjugal.

Importa também verificar qual o peso relativo de cada uma destas variáveis

(vinculação amorosa, suporte conjugal e estratégias de coping familiar) na adaptação

conjugal à depressão, ou seja, identificar qual ou quais destas variáveis são preditoras da

adaptação do casal à situação de ter um membro com um diagnóstico de depressão.

Page 96: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

96

No sentido de contextualizar os resultados procura-se analisar igualmente a

influência das variáveis sócio-demográficas - sexo do cônjuge deprimido, duração da

relação conjugal e situação profissional (activo, desempregado ou com baixa psiquiátrica)

- e das variáveis clínicas - tempo que decorreu desde o diagnóstico formal de depressão

até ao momento da recolha da amostra e doenças físicas graves do cônjuge deprimido e

do cônjuge não deprimido -, nas dimensões associadas à vinculação amorosa, à satisfação

conjugal, ao coping familiar e ao suporte conjugal.

Uma vez que se irá analisar uma amostra clínica, é também nosso objectivo

caracterizar os casais e os indivíduos que os constituem, ao nível das variáveis em estudo,

ou seja, estilo de vinculação amorosa, níveis de suporte social percepcionado, estratégias

de coping familiar utilizadas e níveis de satisfação conjugal.

Finalmente, analisa-se a congruência das respostas dos cônjuges deprimidos e dos

cônjuges não deprimidos, no sentido de averiguar qual o efeito da continuidade das

respostas dos membros do casal na adaptação à depressão. Dito de outro modo, verificar

se os casais cujas respostas são mais semelhantes estão melhor adaptados à situação de

depressão (isto é, indicam níveis mais elevados de satisfação conjugal) relativamente aos

casais cujas respostas são mais dissemelhantes, logo com percepções diferentes sobre as

variáveis em estudo.

Page 97: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

97

Figura 6 – Mapa conceptual do estudo empírico

Diagnóstico Médico

Depressão num dos membros

do casal

Crise no Sistema Conjugal

Contextos de Influência

Variáveis clínicas: � Tipo de

depressão � Duração do

diagnóstico � Doença física

grave no cônjuge deprimido � Doença física

grave no cônjuge não deprimido

Variáveis sócio-demográficas � Sexo do

cônjuge deprimido � Duração da

relação conjugal � Situação

profissional

Significados (não estão em estudo)

Exigências associadas à depressão

(não estão em estudo)

Capacidades do sistema conjugal

Recursos: � Vinculação Amorosa � Suporte Conjugal

Estratégias de Coping � Coping Familiar

Adaptação Conjugal Satisfação Conjugal

Page 98: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

98

1.2 – Hipóteses

Após ter-se definido a problemática e estabelecido os objectivos da investigação,

enunciam-se, de seguida, as hipóteses em estudo. Contudo, uma vez que se trata de uma

investigação exploratória, inovadora no sentido em que a análise do estudo é o casal, o

número de hipóteses colocadas é muito reduzido. Procura-se, antes, explorar as possíveis

relações entre as diversas variáveis consideradas.

1) Quanto à caracterização da amostra 13

a) Cônjuges deprimidos

H1: Um vez que se está a analisar uma amostra clínica constituída por indivíduos

deprimidos, espera-se encontrar uma maior prevalência de indivíduos com um estilo de

vinculação inseguro amedrontado. A investigação tem vindo a demonstrar tanto em

amostras clínicas, como em amostras não clínicas a associação entre estilos de vinculação

inseguros (sobretudo amedrontado) e depressão (Carnelley et al, 1994; Roberts et al,

1996).

H2: Da mesma forma que na hipótese anterior, espera-se que os cônjuges deprimidos

percepcionem níveis reduzidos de suporte conjugal na medida em que a depressão tende

a estar associada a menos suporte social percebido e a mais dificuldades nas relações

familiares (Wade & Kendler, 2000).

13 Note-se que não havendo um grupo controlo não se pode estabelecer comparações com a população saudável; trata-se apenas de tendências gerais esperáveis na população de indivíduos deprimidos tendo em consideração investigações anteriores

Page 99: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

99

b) Cônjuges não deprimidos

Não se podem estabelecer hipóteses quanto ao sentido das tendências de resposta

dos cônjuges não deprimidos relativamente às variáveis vinculação amorosa e suporte

conjugal, uma vez que não nos foi possível encontrar investigação específica sobre o

efeito da depressão do cônjuge na vinculação, no suporte conjugal percebido pelo

companheiro.

2) Quanto às relações entre vinculação, suporte conjugal e estratégias de

coping familiar com a satisfação conjugal

H3: Espera-se que os indivíduos deprimidos com vinculação segura tenham uma melhor

adaptação à depressão, isto é, apresentem valores superiores de satisfação conjugal, na

medida em que várias investigações têm demonstrado que a vinculação segura está

associada a níveis mais elevados de confiança, compromisso, satisfação e

interdependência (Levy & Davis, 1988; Simpson, 1990).

H4: Espera-se que os casais que percepcionam níveis mais elevados de suporte

conjugal, tenham uma melhor adaptação à depressão, ou seja, apresentam valores

também elevados de satisfação conjugal, uma vez que o suporte conjugal tem sido

sistematicamente associado a uma maior facilidade na recuperação da depressão (Keitner

et al, 1992; Nasser & Overholser, 2005) e a níveis superiores de satisfação conjugal

(Gardner & Cutrona, 2004).

No que concerne à utilização de estratégias de coping familiar, não se pode

elaborar nenhuma hipótese, na medida em que na revisão de literatura não foram

encontradas referências específicas a estratégias de coping da família para lidar com a

depressão. Por conseguinte, pretende-se explorar no presente estudo, quais as estratégias

de coping utilizadas pelo casal para lidar com os problemas associados à depressão.

Page 100: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

100

3) Quanto ao efeito da consonância das respostas do casal nas dimensões da

vinculação amorosa, no suporte conjugal e nas estratégias de coping familiar

Uma vez que não encontrámos na literatura nenhuma indicação sobre o efeito da

convergência das respostas intra-casal para cada uma das variáveis em estudo, não foram

estabelecidas hipóteses a este respeito.

Page 101: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

101

1.3 – Definição das Variáveis

Na medida em que o objectivo global da presente investigação é o de estudar a

adaptação conjugal à depressão, ou seja, a relação entre os recursos (vinculação

romântica e suporte conjugal), e as estratégias de coping familiar com a satisfação

conjugal (medida de adaptação conjugal), optou-se por considerar a influência das

seguintes variáveis sócio-demográficas - sexo do cônjuge deprimido (masculino e

feminino), duração da relação conjugal e situação profissional (activo, desempregado,

com baixa psiquiátrica); e das variáveis clínicas - tipo de depressão (episódio depressivo,

perturbação depressiva recorrente, perturbação do humor persistente, perturbação do

humor sem outra especificação), tempo que decorreu desde o diagnóstico formal de

depressão até ao momento da recolha da amostra e doenças físicas graves do cônjuge

deprimido e do cônjuge não deprimido.

Analisam-se igualmente variáveis relacionadas com a vinculação amorosa –

estilos de vinculação (seguro, preocupado, amedrontado e desinvestido) e dimensões da

vinculação amorosa (confiança, dependência, ambivalência e evitamento); variáveis

relacionadas com o coping familiar – procura de suporte na família, nos amigos e na

comunidade, procura de suporte espiritual, reenquadramento, procura de suporte nos

vizinhos e avaliação passiva; variáveis relacionadas com o suporte social –

percepcionado relativamente ao cônjuge; variáveis relacionadas com a satisfação

conjugal – amor, funcionamento e satisfação global; e variáveis relacionadas com a

consonância / dissonância nas respostas do casal – distância intra-casal inferior a 1

ponto, distância intra-casal entre 1 a 2 pontos e distância intra-casal superior a 2 pontos.

Page 102: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

102

1.4 – Caracterização da Amostra

A amostra deste estudo foi recolhida nas consultas de psicologia e de psiquiatria

do Serviço de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria e na Unidade Comunitária de

Cuidados Psiquiátricos de Odivelas, entre Fevereiro e Julho de 2006.

Trata-se de uma amostra de conveniência, constituída por 57 casais em que um

dos cônjuges foi diagnosticado com uma forma de depressão; 12 cônjuges deprimidos são

homens e os restantes 45 são mulheres (ou seja, a grande maioria). A classificação da

depressão foi efectuado de acordo com os critérios de diagnóstico da Organização

Mundial de Saúde, sendo que, no total da amostra, 29 indivíduos apresentavam critérios

para um Episódio Depressivo (7 são do sexo masculino), 11 indivíduos foram

diagnosticados com uma Perturbação Depressiva Recorrente (2 são homens) e 17

indivíduos com Perturbação do Humor (Afectiva) Persistente (3 são do sexo masculino).

No que respeita ao estado civil, apenas 3.5 % dos casais vivem em união de facto,

sendo que os restantes se encontram legalmente casados. Para a maioria dos casais, a

duração da relação conjugal é superior a 25 anos (47.4%), para 26.3 % a sua relação tem

um tempo de duração que varia entre os 16 e os 25 anos, em 14% dos casos situa-se no

intervalo dos 7 aos 15 anos, em 10.5 % dos 1 aos 6 anos, e em apenas 1.8% dos casais a

relação têm uma duração inferior a 1 ano. Em média, os casais têm dois filhos, sendo de

salientar que 3.5% dos casais não têm nenhum filho e outros 3.5 % têm mais de três

filhos; 24.6% têm apenas um filho e 21.1 % têm três filhos.

Segue-se uma caracterização da amostra dos cônjuges que estão deprimidos.

A maioria das mulheres encontra-se na faixa etária dos 46 aos 65 anos (53.3 %),

logo de seguida pela faixa etária dos 31 aos 45 anos (42.2 %) e, por último 4.4 % têm

entre 18 e 30 anos. Quanto aos homens, 8.3 % têm entre 18 e 30 anos, 25% têm entre 31

e 45 anos e 66.7 % estão englobados no intervalo entre os 46 e os 65 anos. A escolaridade

dos homens distribui-se da seguinte forma: 18.1 % frequentaram o 1º ciclo, 18.1 %

frequentaram o 2º ciclo, 27.3 % obtiveram o 3º ciclo do ensino básico, 27.3 %

completaram o ensino secundário e apenas 9.1 % frequentaram o ensino superior. Quanto

Page 103: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

103

às mulheres, 26.7 % concluíram o 1º ciclo, 13.3 % o 2º ciclo, 13.3 % o 3º ciclo, 6.7 % o

ensino superior sendo que a maioria obteve o diploma do ensino secundário (40 %).

Existem 3 homens e 6 mulheres que se encontram numa situação de desemprego. 25% de

mulheres e 8.3% de homens encontram-se com baixa psiquiátrica. 41.6 % dos homens

referem já terem sido internados em consequência da depressão. O mesmo se passa com

11.1% das mulheres. Relativamente à duração do diagnóstico, 66.7% das mulheres

referem que estão deprimidas, segundo o seu médico, há mais de 2 anos, 4.4% indicam o

intervalo de 1 a 2 anos, 17.7 % situam-no no intervalo entre os 6 e os 12 meses e 11.1%

referem que o diagnóstico foi realizado no período compreendido entre os 3 e os 6 meses.

25% dos indivíduos do sexo masculino, têm o seu diagnóstico feito no intervalo de 1 a 3

meses, 16.7% no intervalo de 1 a 2 anos e 58.3% referem estar deprimidos há mais de 2

anos. Para além da depressão, 2 homens referem sofrer de doença física grave (cancro da

próstata e hepatite B ), bem como 37.7% das mulheres que referem doenças como

amputação de parte de um membro, problemas na coluna, cegueira, artrite reumatóide,

diabetes, fibromialgia, hepatite C, problemas na tiróide, mastectomia, perda dos sentidos

do olfacto e do paladar, luxações e espondilolisteses. São ainda referenciados, por 15.6%

das mulheres, problemas na saúde física dos cônjuges (problemas na anca, no coração, de

estômago, na coluna, respiratórios e diabetes). O mesmo é referido por 2 homens

referente às suas parceiras (cancro da mama).

Seguidamente apresenta-se uma caracterização dos cônjuges não deprimidos.

Page 104: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

104

Quadro 1 – Características sócio-demográficas da amostra total (N=57 casais; 114 indivíduos) segundo a

população (deprimida e não deprimida) e o género

Sujeitos Deprimidos Sujeitos Não Deprimidos Mulheres Homens Mulheres Homens

18-30 2 1 0 2 31-45 19 3 7 13 46-65 24 8 5 30

Idade

+65 0 0 0 0

1º ciclo 12 2 3 11 2º ciclo 6 2 2 11 3º ciclo 6 3 0 7

Secundário 18 3 4 19

Escolaridade

Superior 3 1 3 7

União de facto 2 Tipo de Relação Conjugal Casamento 55

<1ano 1 1-6 6 7-15 8 16-25 15

Duração da Relação Conjugal

>25 27

0 2 1 14 2 27 3 12

Filhos

>3 2

Empregado 39 9 11 44 Desempregado 6 3 1 1

Situação Profissional

Baixa Psiquiátrica 11 1 0 0

A amostra de indivíduos não deprimidos é constituída por 78.9 % de indivíduos

do sexo masculino, cujas idades se situam maioritariamente na faixa dos 46 aos 65 anos

(66.6%). 4.4% têm entre 18 e 30 anos e 28.9% situam-se no intervalo dos 31 aos 45 anos.

A maioria tem como escolaridade o ensino secundário (34.9 %), existindo 8 sujeitos com

o 1º ciclo, 9 com o 2º ciclo, 7 com o 3º ciclo e 4 com frequência superior. Apenas 1

indivíduo está desempregado. Não existem sujeitos com baixa psiquiátrica. 4 indivíduos

referem ter uma doença física grave (problemas na coluna, dermatite de contacto e

doença respiratória) e 14 referem que o seu cônjuge tem uma doença física grave

(amputação de membro, cegueira, artrite reumatóide, problemas na coluna, doença

Page 105: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

105

auditiva, fibromialgia, limitação visual e problemas nos maxilares). Os indivíduos do

sexo feminino correspondem a 21.1% da amostra de cônjuges não deprimidos. A maioria

situa-se na faixa etária dos 31 aos 45 anos (58.3%) e os restantes pertencem ao intervalo

dos 46 aos 65 anos. 33.3% possuem como escolaridade o ensino secundário, 25% o 1º

ciclo, 25% o ensino superior e 16.7% o 2º ciclo do ensino básico. Existe uma mulher

desempregada. Nenhuma se encontra com baixa psiquiátrica.16.6 % referem que o seu

marido tem uma doença física grave (cancro da próstata e hepatite B) e 3 referenciam um

doença física grave (cancro).

Quadro 2 – Características clínicas da amostra total (N=57 casais; 114 indivíduos) segundo a população

(deprimida e não deprimida) e o género

Sujeitos Deprimidos Sujeitos Não Deprimidos Mulheres Homens Mulheres Homens

Episódio Depressivo 22 7 Perturbação Depressiva Recorrente

9 2 Tipo de Depressão

Perturbação Humor

Persistente 11 3

1 mês 0 0 1-3 meses 0 3 3-6 meses 5 0 6-12 meses 8 0 1-2 anos 2 2

Tempo de Diagnóstico

> 2 anos 30 7

Sim 5 5 Internamento

Não 40 7

Sim 17 2 2 14 Doença Física Grave no indivíduo deprimido

Não 28 10 10 26

Sim 7 2 3 4 Doença

Física Grave no indivíduo

não deprimido

Não 38 10 9 41

Uma vez que foi questionado a ambos os membros do casal alguns dados sobre a

doença psicológica (tempo de diagnóstico da doença, internamento resultante da mesma)

e doença física grave de ambos os membros da díade, parece-nos pertinente observar a

Page 106: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

106

concordância das respostas no casal, na medida em que tal reflecte a percepção que cada

elemento possui acerca da doença e da sua gravidade. Assim, no que se refere à variável

tempo de diagnóstico da doença, em 72% dos casais existe concordância nas respostas de

ambos os membros. Relativamente à variável internamento, 10.3 % dos casais deram

respostas díspares. 77.2% dos casais concordam no que respeita à percepção que têm

sobre uma doença física grave no cônjuge deprimido, enquanto que 86% fazem-no

relativamente à existência de doença grave no cônjuge não deprimido. Se tivermos em

consideração a totalidade das quatro variáveis em análise, apenas em 47.4% dos casos

existe concordância na totalidade questões respeitantes à percepção do casal sobre a

doença.

Page 107: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

107

1.5 – Instrumentos de Avaliação

A metodologia do presente estudo é constituída pelos seguintes instrumentos de

auto-relato:

• Questionário de Vinculação Amorosa (QVA; Matos, Barbosa & Costa, 2001,

versão revista)

• Inventário da Qualidade das Relações - Sub escala de Suporte Social (QRI;

Pierce, Sarason, Sarason, Solky-Butzel & Nagle, 1997, tradução de Moreira e

colaboradores, 2000)

• Escalas de Avaliação Pessoal Orientadas para a Crise Familiar (F-COPES;

McCubbin, Larsen e Olson, 1981, tradução de Vaz Serra, Firmino, Ramalheira e

Canavarro,1990; estudos de adaptação em curso na Faculdade de Psicologia e de

Ciências da Educação da Universidade de Lisboa)

• Escala de Avaliação da Satisfação em Áreas da Vida Conjugal (EASAVIC,

Narciso & Costa, 1996)

A bateria de instrumentos foi complementada com um questionário de dados

sócio-demográficos e clínicos.

Relativamente aos instrumentos supracitados, dois foram previamente construídos e

utilizados em amostras portuguesas: o QVA (Matos, Barbosa & Costa, 2001, versão

revista) e o EASAVIC (Narciso & Costa, 1996). Os restantes dois foram traduzidos para

a língua portuguesa, mas os seus estudos de adaptação não estão ainda publicados.

De seguida, apresentamos uma descrição de cada instrumento e os resultados da

análise das qualidades psicométricas obtidos na presente amostra. Para o efeito,

recorremos à avaliação da consistência interna através do Alpha de Cronbach e da

correlações inter-item e item-total para a população deprimida, para a população não

Page 108: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

108

deprimida e para a população total. Nestas análises foi utilizado o programa estatístico

SPSS 12.0.

1.5.1 – Questionário Sócio – Demográfico

O Questionário Sócio – Demográfico (anexo 1) tem por objectivo proceder à recolha

de dados que permitam elaborar uma caracterização da amostra, bem como averiguar a

sua relação com as variáveis em estudo. Permite ter acesso a dados de identificação

sócio-demográfica dos indivíduos / casais – sexo do cônjuge deprimido duração da

relação conjugal e situação profissional (activo, desempregado ou com baixa

psiquiátrica).

1.5.2 – Questionário Clínico

O objectivo do questionário clínico é o referido para o questionário sócio-

demográfico. Inclui tipo de depressão (informação dada pelo psiquiatra / psicólogo),

duração do diagnóstico e doença física grave no cônjuge deprimido e no cônjuge não

deprimido.

1.5.3 – Questionário de Vinculação Amorosa

1.5.3.1 – Descrição da Escala

A vinculação romântica é avaliada através dos 52 itens do QVA de Matos, Barbosa e

Costa (2001), construído especificamente para a população portuguesa com o objectivo

de medir as percepções dos indivíduos sobre as suas relações de vinculação ao par

amoroso, bem como ilustrar os quatro protótipos de vinculação definidos por

Bartholomew (1990) – seguro, preocupado, amedrontado e desinvestido. Na base da sua

construção esteve a teoria da vinculação de Ainsworth (1982, 1989, 1991) e Bowlby

(1973, 1977) assim como o modelo de avaliação da vinculação de Bartholomew (1990;

Bartholomew & Horowitz, 1991). Está organizado segundo quatro dimensões: a

Page 109: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

109

Confiança, que avalia as percepções do sujeito relativamente à responsividade e à

sensibilidade do par romântico para satisfazer as suas necessidades, o qual é

percepcionado como fonte de conforto e de apoio, constituíndo-se como base segura de

incentivo à exploração (e.g. “O meu cônjuge respeita os meus sentimentos”); o

Evitamento, que se refere ao papel secundário que o companheiro ocupa no

preenchimento das necessidades de vinculação, bem como a centração do sujeito na sua

capacidade de resolução de problemas (e.g. “O apoio dele não é muito importante para

mim. Sei que sou capaz de resolver as coisas sozinha ”); a Dependência, que avalia a

necessidade de proximidade física e emocional, a ansiedade de separação e o medo da

perda (“e.g. Quando não podemos estar juntos, eu não sei o que fazer”); e a

Ambivalência, que avalia a insegurança do sujeito, expressa numa forte irritabilidade

face a situações imprevisíveis, assim como na dúvida relativamente ao papel que

desempenha enquanto companheiro amoroso e às suas próprias emoções em relação ao

par romântico (e.g. “Gostava de ser a pessoa mais importante para ele, mas não tenho a

certeza se o sou”). Na subescala de confiança alguns itens estão formulados no sentido

contrário ao da dimensão subjacente pelo que se irá proceder à sua inversão para o

cálculo do resultado da mesma. Assim, por exemplo, o item 17 “Desagrada-me a maneira

de ser do meu cônjuge”, avalia positivamente a desconfiança e negativamente a

confiança. A resposta aos itens do QVA é dada numa escala de Likert de 6 pontos que

varia entre 1 (discordo totalmente) a 6 (concordo totalmente). O resultado de cada

subescala é dado pela soma aritmética dos itens que a constituem. A utilização deste

instrumento em diversos estudos, com amostras independentes, tem demonstrado boas

qualidades psicométricas (Narciso, 2001; Andrade dos Santos, 2005; Bastos & Costa,

2005; Duarte, 2005), apresentando alfas de Cronbach superiores a .80.

1.5.3.2 – Análise das qualidades psicométricas

• Alpha de Cronbach

A escala apresentou valores de alphas de cronbach bastante adequados para as

escalas de confiança, dependência, ambivalência e evitamento. Tal como se pode

observar no quadro 3, todas as escalas apresentam valores superiores a .80. Estes

Page 110: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

110

resultados são semelhantes aos encontrados em outros estudos (Narciso, 2001;

Andrade dos Santos, 2005; Bastos & Costa, 2005; Duarte, 2005).

Quadro 3 – Valores de Alpha de Cronbach para o Questionário de Vinculação Amorosa

Dimensões Itens Alpha de Cronbach

Deprimidos

Alpha de Cronbach Não Deprimidos

Alpha de Cronbach Total

Confiança 1,5,12,14(-),17(-),19, 24(-),29,35,37(-),42,

49(-),52 .93 .92 .94

Dependência 2,6,10,15,21,22,25,32,3

3,38,43,47,50 .84 .82 .82

Ambivalência 4,8,9,13,20,26,28,31,36,

39,41,46,48 .82 .83 .85

Evitamento 3,7,11,16,18,23,27,30,3

4,40,44,45,51 .85 .81 .84

• Correlações Inter-item

Verifica-se (quadro 4) que a magnitude das correlações dos itens entre si é

bastante aceitável para a dimensão confiança (varia entre .48 e .54), ao passo que

para as dimensões dependência, ambivalência e evitamento, os valores de

magnitude encontrados são mais modestos (de .26 a .32), mas perfeitamente dentro

do que é considerado adequado.

Page 111: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

111

Quadro 4 – Média das correlações inter-item para o Questionário de Vinculação Amorosa

Dimensões Magnitude da Correlação Deprimidos

Magnitude da Correlação Não Deprimidos

Magnitude da Correlação

Total

Confiança .501 .482 .540

Dependência .291 .257 .260

Ambivalência .257 .266 .317

Evitamento .297 .252 .285

• Correlações Item-total

Uma vez mais, a dimensão confiança mostrou ser a medida mais consistente,

apresentando correlações item-total que variam entre .54 e .82. Nas restantes

dimensões, tal como se pode observar no quadro 5, obtiveram-se correlações bastante

inferiores (entre .22 e .72) mas adequadas. No que se refere às correlações do item

com o total da escala a que pertence, Nunnally e Bernstein (1994) indicam, como

possível critério para a exclusão de um item, o valor de .20, abaixo do qual devem ser

ponderadas razões de ordem conceptual que justifiquem a sua eventual manutenção

na escala.

Page 112: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

112

Quadro 5 – Correlações item-total para o Questionário de Vinculação Amorosa

Dimensões Variação das Correlações Deprimidos

Variação das Correlações

Não Deprimidos

Variação das Correlações

Total

Confiança .54 a .81 .55 a .76 .58 a .82

Dependência .36 a .60 .26 a .60 .30 a .53

Ambivalência .22 a .69 .29 a .68 .29 a .72

Evitamento .38 a .68 .20 a .65 .36 a .64

1.5.4 Inventário de Qualidade das Relações (QRI)

1.5.4.1 Descrição da Escala

O suporte social é medido através dos 7 itens da subescala do QRI de Pierce, Sarason,

Sarason, Solky-Butzel & Nagle (1997), traduzido por Moreira e colaboradores (2000).

Este inventário foi desenvolvido no âmbito das investigações sobre o suporte social e a

sua influência no relacionamento interpessoal, e tem como objectivo avaliar as

percepções dos sujeitos em relação à existência de suporte social no contexto de relações

interpessoais específicas. Permite que o indivíduo caracterize a qualidade da relação que

tem com uma determinada pessoa referida na própria escala (por exemplo, mãe, cônjuge)

de acordo com três dimensões distintas (embora na presente investigação se tenha optado

por analisar apenas uma delas – o suporte social): Suporte Social fornecido por essa

pessoa, ou seja, a extensão em que o indivíduo percepciona apoio dessa pessoa numa

variedade de situações (e.g. “Em que medida pode recorrer a esta pessoa para o

aconselhar acerca de problemas que possa ter?”); Profundidade da relação, que avalia as

crenças do sujeito acerca do compromisso e valorização da relação com essa pessoa (e.g.

“Em que medida se sente responsável pelo bem-estar desta pessoa?”); Conflito, que

reflecte a extensão em que o indivíduo experiencia zanga e sentimentos ambivalentes

pela pessoa (e.g. “Com que frequência tem de se esforçar para evitar conflitos com esta

Page 113: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

113

pessoa?”). A resposta aos itens é dada numa escala de 4 pontos que varia entre 1 (Nada) e

4 (Muitíssimo), e o resultado é dado pela média dos itens de cada subescala. Na presente

investigação, a pessoa relativamente à qual os sujeitos são inquiridos é o seu cônjuge. Os

estudos empíricos realizados com o QRI têm indicado boas credenciais psicométricas

(Pierce et al, 1991; cit por Pierce, 1994), nomeadamente no que se refere à sua

consistência interna, apresentando alfas de Cronbach entre .80 e .90 nas várias subescalas

e valores teste-reteste com um intervalo de 12 meses que variam entre .49 e .79, o que

indica moderada a boa estabilidade nas percepções das relações interpessoais em estudo

(Pierce et al, 1997).

Têm sido realizados alguns estudos que utilizam o QRI (na sua forma reduzida)

em amostras portuguesas (Faustino, 2005), que indicam níveis de consistência interna

mais baixos, com os alfas de Cronbach a variar entre .50 e .79, explicados pelo autor

como resultantes, “em parte, do número reduzido de itens em cada escala” (Idem, p.

130).

1.5.4.2. – Análise das qualidades psicométricas

No que diz respeito à média das correlações dos itens entre si, a escala de suporte

social apresenta uma magnitude que varia entre .40 para a os cônjuges saudáveis e .51

para a os cônjuges deprimidos. Constata-se que as correlações item-total variam entre .49

e .79. Os valores do alpha de cronbach são bastante aceitáveis, uma vez que são

superiores a .82. Estes resultados vão de encontro aos obtidos pelos autores do QRI e

confirmam a utilização da versão completa da escala, na medida em que são bastante

superiores aos obtidos por Faustino (2005) com a versão reduzida do QRI.

Page 114: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

114

Quadro 6 - Correlações inter-item, item-total e alpha de cronbach para a subescala suporte social do

Inventário da Qualidade das Relações

População Magnitude das

correlações inter-item

Variação das Correlações item-total

Alpha de Cronbach

Deprimidos .507 .52 a .79 .88

Não Deprimidos .397 .49 a .69 .82

Total .481 .55 a .74 .87

1.5.5 - Escalas de Avaliação Pessoal Orientadas para a Crise Familiar (F-COPES)

1.5.5.1 - Descrição da Escala

O coping familiar é avaliado F-COPES de McCubbin, Larsen e Olson (1981, cit

por Olson et al, 1985), traduzido por Vaz Serra, Firmino, Ramalheira e Canavarro (1990)

e em processo de adaptação na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da

Universidade de Lisboa. Foi desenvolvido com o objectivo de identificar estratégias

efectivas comportamentais e de resolução de problemas, utilizadas pelas famílias em

situações difíceis ou problemáticas. É constituído, na sua versão original, por 5

subescalas: Procura de Suporte Social, que avalia a procura de suporte social junto da

família alargada, amigos e vizinhos (e.g. “Procuramos o encorajamento e o apoio de

amigos”); Reenquadramento, que reflecte por um lado a avaliação que a família faz dos

problemas e da sua capacidade para os resolver, e por outro a sua percepção da mudança

inerente às situações geradoras de stress, como sendo mais positiva, mais negativa ou

mais neutra (e.g. “Acreditamos que podemos lidar com os nossos próprios problemas”);

Procura de Suporte Espiritual, que reflecte o envolvimento da família em actividades

religiosas como estratégia de resolução das dificuldades (e.g. “Frequentamos a igreja e

vamos à missa”); Mobilização da Família para Procurar e Aceitar Ajuda, que avalia a

procura e aceitação de suporte nos recursos da comunidade (e.g. “Procuramos informação

e conselhos junto do médico de família”); e Avaliação Passiva, que se focaliza nos

comportamentos passivos adoptados pela família, tais como respostas de evitamento

Page 115: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

115

baseadas em crenças de incapacidade para alterar o curso dos problemas (e.g. “Sabemos

que a sorte tem um papel importante na resolução dos nossos problemas familiares”). A

resposta aos itens do F-COPES é dada numa escala de likert de 5 pontos que varia entre 1

(discordo muito) e 5 (concordo muito), e os resultados são obtidos pela soma aritmética

dos itens para cada subescala e para o conjunto das cinco subescalas. As qualidades

psicométricas observadas pelos autores são boas. No que se refere à consistência interna

do instrumento, apresenta valores de alfa de cronbach que variam entre os .63

(subescala avaliação passiva) e os .84 (subescala de procura de suporte social), com

um valor total da escala de .86. Apresenta ainda valores de teste-reteste com um intervalo

de 4 semanas entre .61 (subescala reenquadramento) e .95 (subescala procura de

suporte espiritual) (McCubbin, Larsen & Olson, 1981). Vaz Serra e colaboradores

(1992) conduziram um estudo com o F-COPES, mas não são referidos quaisquer dados

psicométricos referentes ao mesmo. A versão utilizada no presente estudo apresenta

ligeiras diferenças relativamente ao original. Assim, mantém as subescalas

reenquadramento, procura de suporte espiritual e avaliação passiva, havendo

contudo uma nova subescala – procura de suporte de vizinhos e a junção da subescala

procura de suporte social com a subescala mobilização da família para procurar e

aceitar ajuda, na subescala procura de suporte na família, amigos e comunidade. O

número de itens foi alterado para 26. Os resultados preliminares da consistência interna

da versão em revisão são os indicados no quadro 7.

Quadro 7 – Valores de Alpha de Cronbach para as subescalas da versão em revisão do F-COPES

Dimensões Itens Alpha de Cronbach

Suporte família, amigos e comunidade

1,2,4,5,6,15,18,19,23 .80

Suporte Espiritual 13,21,24,26 .85

Reenquadramento 3,7,10,20,22 .71

Suporte vizinhos 8,9,25 .81

Avaliação Passiva 11,12,14,16,17 .64

Page 116: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

116

1.5.5.2 – Análise das Qualidades Psicométricas

• Alpha de Cronbach

A escala apresentou valores de alphas de cronbach aceitáveis para as subescalas de

procura de suporte na família, nos amigos e na comunidade, procura de suporte

espiritual, reenquadramento, procura de suporte nos vizinhos e avaliação

passiva, na medida em que os valores são superiores a .62. Estes resultados são

semelhantes aos encontrados com a versão do F-COPES em estudo na Faculdade de

Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa.

Quadro 8 – Valores de Alpha de Cronbach para o F-COPES

Dimensões Alpha de Cronbach

Deprimidos Alpha de Cronbach Não Deprimidos

Alpha de Cronbach Total

Suporte família, amigos e

comunidade .78 .80 .80

Suporte Espiritual .83 .83 .82

Reenquadramento .64 .62 .64

Suporte vizinhos .89 .72 .83

Avaliação Passiva .64 .64 .65

• Correlações Inter-item

Observa-se que o valor médio das correlações dos inter-item é mais elevado nas

subescalas procura de suporte espiritual e procura de suporte nos vizinhos,

tratando-se de valores bastante aceitáveis. Para as restantes subescalas, verificam-se

magnitudes mais fracas, que variam entre .25 e .30.

Page 117: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

117

Quadro 9 – Média das correlações inter-item para o F-COPES

Dimensões Magnitude da Correlação Deprimidos

Magnitude da Correlação Não Deprimidos

Magnitude da Correlação

Total

Suporte família, amigos e

comunidade .285 .309 .302

Suporte Espiritual

.531 .543 .523

Reenquadramento .260 .245 .264

Suporte vizinhos .727 .451 .615

Avaliação Passiva

.262 .258 .267

• Correlações Item-total

Tal como pode ser observado no quadro 10, as correlações item-total são mais

elevadas para a subescala procura de suporte nos vizinhos (entre .37 e .87), o que

vem reforçar a importância da diferenciação deste factor relativamente à versão

original, em que estava incluído num factor mais amplo denominado procura de

suporte social.

Page 118: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

118

Quadro 10 – Correlações item-total para o F-COPES

Dimensões Variação das Correlações Deprimidos

Variação das Correlações

Não Deprimidos

Variação das Correlações

Total

Suporte família, amigos e

comunidade .30 a .66 .20 a .66 .35 a .62

Suporte Espiritual

.45 a .87 .40 a .79 .42 a .78

Reenquadramento .21 a .52 .29 a .44 .27 a .49

Suporte de vizinhos

.67 a .87 .37 a .72 .55 a .80

Avaliação Passiva

.27 a .52 .11 a .54 .25 a .49

1.5.6 - Escala de Avaliação da Satisfação em Áreas da Vida Conjugal (EASAVIC)

1.5.6.1 - Descrição da Escala

A satisfação conjugal é medida pelos 44 itens da EASAVIC (Narciso & Costa, 1996)

construída para a população portuguesa, com o intuito de superar algumas das

dificuldades e limitações apresentadas pelas escalas anteriormente desenvolvidas, a fim

de se avaliar a percepção da satisfação dos sujeitos casados ou em união de facto em dez

áreas da vida conjugal. Dos 44 itens da EASAVIC, 16 focalizam-se no casal, 14 centram-

se no outro e 14 focalizam-se no próprio. A escala está organizada segundo duas

dimensões: o Amor, que é definido como os “sentimentos que cada um nutre pelo outro

e/ou pela relação, estando, pois presentes, de um modo mais ou menos explícito,

atributos inerentes aos componentes essenciais do amor: paixão, intimidade e

investimentos / compromisso” (Ibidem, p. 117) e o Funcionamento que é “o modo como

se organizam e regulam as relações no holon conjugal e/ou familiar, e relações extra-

familiares” (Ibidem, p.117). Ao Amor estão associadas as seguintes 5 áreas da vida

Page 119: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

119

conjugal – Sentimentos e Expressão de sentimentos, que diz respeito ao sentimento que

cada um nutre pelo outro, ao modo como cada um expressa os sentimentos pelo outro e à

admiração que cada um sente pelo outro (e.g. “ A admiração que sinto pelo meu

cônjuge”); Sexualidade, que se refere à frequência e qualidade das relações sexuais, ao

desejo sexual de cada um pelo outro e ao prazer de cada um nas relações sexuais (e.g. “O

desejo sexual que o meu cônjuge sente por mim”); Intimidade Emocional, que tem a ver

com o apoio emocional mútuo, com a confiança mútua, com a partilha de interesses e

actividades e com a atenção que cada um dedica aos interesses do outro (e.g. “A partilha

de interesses e actividades); Continuidade da Relação, que se refere ao projecto para o

futuro e à expectativa de cada um quanto ao futura da relação (e.g. “Os nossos projectos

para o futuro”); e Características Físicas e Psicológicas, que diz respeito à opinião que

cada um tem sobre o aspecto físico e características e hábitos do outro (e.g. “As

características e hábitos do meu cônjuge”). Ao Funcionamento, estão associadas as

seguintes áreas da vida conjugal – Funções, que compreende a gestão financeira, as

tarefas domésticas, as decisões e as responsabilidades (e.g. “O modo como gerimos a

nossa situação financeira”); Tempos Livres, que são avaliados ao nível da quantidade e da

qualidade (e.g. “A quantidade de tempos livres”); Autonomia / Privacidade, associadas a

cada um dos elementos do casal (e.g. “A minha privacidade e autonomia”); Comunicação

e Conflitos, que se refere à frequência, qualidade e tema de diálogo, à frequência de

conflitos e sua resolução (e.g. “O modo como conversamos”); Relações Extra-

Familiares, que diz respeito às relações com os amigos, com a família de origem de cada

um e com a profissão de cada um (e.g. “A nossa relação com a minha profissão”). A

resposta aos itens do EASAVIC é dada numa escala de Likert de 6 pontos, que varia

entre, 1 (nada satisfeito) e 6 (completamente satisfeito), e os resultados globais são

obtidos pela média do total dos itens. São também calculados os resultados para cada

uma das dimensões (amor e funcionamento) através da média dos itens que as

constituem. Este instrumento tem sido utilizado em diversas investigações (Narciso,

2001; Oliveira & Costa, 2005), apresentando boas credenciais psicométricas. No que

respeita à sua consistência interna, os valores do alfa de cronbach ultrapassam os .90 para

os dois factores, amor e funcionamento. As correlações entre as várias áreas e o

resultado global da escala são superiores a .60 e entre as dimensões amor e

Page 120: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

120

funcionamento são superiores a .70. Ao nível da validade concorrente, obteve-se uma

correlação de -.76 com a Escala de Satisfação Global de Glenn e Weaver.

1.5.6.2 – Análise das qualidades psicométricas

A análise das qualidades psicométricas da EASAVIC será efectuada para as

dimensões Amor e Funcionamento.

• Alpha de Cronbach

Na análise da consistência interna, a escala apresentou valores de alpha de cronbach

bastante elevados para as dimensões em estudo. Tal como pode ser observado no

quadro 11, ambas as dimensões apresentam valores superiores a .91, o que vem

confirmar as boas credenciais psicométricas da escala.

Quadro 11 – Valores de Alpha de Cronbach para a Escala de Avaliação da Satisfação em Áreas da Vida

Conjugal

Dimensões Itens Alpha de Cronbach

Deprimidos

Alpha de Cronbach Não Deprimidos

Alpha de Cronbach Total

Amor 19-44 .97 .97 .97

Funcionamento 1-18 .91 .93 .92

• Correlações Inter-item

Verifica-se que os valores de magnitude das correlações dos itens entre si para a

dimensão amor são superiores aos encontrados para a dimensão funcionamento e,

tal como se observa no quadro 12, variam entre .36 e .41.

Page 121: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

121

Quadro 12 – Média das correlações inter-item para a Escala de Avaliação da Satisfação em Áreas da Vida

Conjugal

Dimensões Magnitude da Correlação Deprimidos

Magnitude da Correlação Não Deprimidos

Magnitude da Correlação

Total

Amor .521 .587 .557

Funcionamento .362 .411 .401

• Correlações Item-total

As correlações item-total para as dimensões amor e funcionamento apresentam

valores superiores na população dos cônjuges saudáveis (entre .45 e .84) e valores

mais baixos para os cônjuges deprimidos (entre .23 e .84)

.

Quadro 13 – Correlações item-total para a Escala de Avaliação da Satisfação em Áreas da Vida Conjugal

Dimensões Variação das Correlações Deprimidos

Variação das Correlações

Não Deprimidos

Variação das Correlações

Total

Amor .37 a .83 .67 a .84 .56 a .82

Funcionamento .23 a .84 .45 a .78 .32 a .82

Page 122: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

122

1.6 – Procedimento

Dadas as respectivas autorizações pelos coordenadores da Unidade Comunitária

de Cuidados Psiquiátricos de Odivelas e da consulta externa do Hospital Santa Maria

para a realização da investigação, foram entregues aos psicólogos e psiquiatras os

instrumentos de investigação para serem administrados em setting de consulta.

O período de recolha dos dados ocorreu de Fevereiro a Julho de 2006. Embora a

calendarização tivesse sido planeada para acontecer de Fevereiro a Março do corrente

ano, a dificuldade de recolha dos dados obrigou ao adiamento do prazo. Esta dificuldade

deveu-se essencialmente à escassez de indivíduos com diagnóstico de depressão que

mantivessem uma relação afectiva estável.

Os instrumentos destinados ao cônjuge deprimido foram administrados logo após

a consulta. Os instrumentos destinados ao cônjuge não deprimido, juntamente com um

envelope selado para resposta, foram entregues na mesma para serem respondidos e,

posteriormente enviados pelo correio. O tempo médio requerido para resposta aos

instrumentos foi de cerca de 45 minutos.

Page 123: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

123

2º CAPÍTULO - APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

2.1 - Tratamentos Estatísticos

Neste capítulo serão apresentados os resultados decorrentes do estudo empírico

efectuado.

Numa primeira fase, é realizada uma caracterização da amostra no que respeita às

dimensões da vinculação amorosa, ao suporte conjugal, às estratégias de coping familiar

e à satisfação conjugal, para cada um dos cônjuges e para o casal.

De seguida, são apresentados os resultados relativamente às análises univariada e

multivariada de variância e de covariância (traço de pillai) e à condução de testes post-

hoc, com o objectivo de detectar a direcção das diferenças (teste de tukey e teste de

sheffe), procurando avaliar as diferenças nas dimensões da vinculação amorosa, no

suporte conjugal e nas estratégias de coping familiar e na satisfação conjugal em função

das variáveis sócio-demográficas (sexo do cônjuge deprimido, duração da relação

conjugal e situação profissional do deprimido) e das variáveis clínicas (tipo de depressão,

duração do diagnóstico clínico, doença física grave no cônjuge deprimido e doença física

grave no cônjuge não deprimido).

Numa terceira fase, são apresentadas as correlações de Pearson, no sentido de

avaliar as associações ao nível dimensional entre as variáveis, bem como o resultado das

regressões múltiplas efectuadas para cada uma das dimensões da satisfação conjugal, em

ordem a identificar o conjunto de preditores nas restantes variáveis que melhor explicam

esta variável critério.

Seguem-se as análises multivariadas de variância e de covariância que permitem

avaliar as diferenças nas dimensões das variáveis em estudo em função dos protótipos de

vinculação amorosa dos cônjuges deprimidos e dos cônjuges não deprimidos, a partir da

análise de clusters.

Por último, são apresentados os resultados relativos ao efeito do ajustamento das

respostas dos dois membros do casal na sua satisfação conjugal.

Page 124: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

124

Os dados recolhidos foram previamente codificados, introduzidos em suporte

informático e submetidos a tratamentos estatísticos. Para a realização das análises

estatísticas recorreu-se ao programa SPSS 12.0 para Windows.

Page 125: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

125

2.2 – Resultados

A unidade de estudo principal na presente investigação é o casal. Por conseguinte,

todas as análises efectuadas terão como base a média das respostas dos membros da

díade. Contudo, e sempre que se justificar, analisar-se-ão as respostas de cada um dos

elementos do casal, de forma individual. Será o caso da caracterização da amostra ao

nível das variáveis em estudo, em que nos reportaremos aos valores obtidos pelo cônjuge

deprimido, pelo cônjuge não deprimido e pelo casal, uma vez que, apesar do objectivo

geral do estudo ser a compreensão da adaptação do casal à depressão, pensamos ser

relevante observar as percepções individuais de cada membro do casal no que se refere às

dimensões da vinculação amorosa, ao suporte conjugal, às estratégias de coping familiar

e à satisfação conjugal.

2.2.1 – Caracterização da Amostra no que respeita às Dimensões da

Vinculação Amorosa, ao Suporte Conjugal, às Estratégias de Coping Familiar e à

Satisfação Conjugal

2.2.1.1 – Dimensões da Vinculação Amorosa – Confiança, Dependência, Ambivalência

e Evitamento

Os resultados da análise, indicados no quadro 14, registam diferenças

significativas relativamente às várias dimensões [F(3,168)=31.28; p=.001], no sentido em

que, em média, os sujeitos deprimidos exibem níveis mais elevados de confiança

(M=4.25; DP=1.05), de dependência (M=3.81; DP=.88) e de ambivalência (M=3.49;

DP=.84), e níveis mais baixos de evitamento (M=2.53; DP=.83).

Os cônjuges não deprimidos também diferem significativamente nos valores das

dimensões da vinculação [F(3,168)=84.71; p=.001]. Tal como os seus companheiros,

apresentam valores mais elevados de confiança (M=4.61; DP=.81) e de dependência

(M=3.67; DP=.75), sendo que as dimensões ambivalência (M=2.81; DP=.74) e

evitamento (M=2.40; DP=.62) são as que obtêm valores mais baixos.

Page 126: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

126

Quadro 14 – Valores mínimo, máximo, média e desvio-padrão dos cônjuges deprimidos, dos cônjuges não

deprimidos e do casal para as dimensões da vinculação amorosa

Confiança (1 a 6)

Dependência (1 a 6)

Ambivalência (1 a 6)

Evitamento (1 a 6)

Mínimo 1.23 1.62 1.38 1.00 Máximo 5.92 5.85 5.54 4.23

M 4.25 3.81 3.49 2.53

Cônjuges Deprimidos

DP 1.05 .88 .84 .83

Mínimo 1.38 2.31 1.08 1.38 Máximo 6 5.23 4.38 5.08

M 4.61 3.67 2.81 2.40

Cônjuges Não

Deprimidos DP .81 .75 .74 .62

2.2.1.2 – Suporte Conjugal

Observa-se (vide quadro 15) que, de uma forma geral, qualquer uma das

populações percepciona, em média, níveis elevados de suporte conjugal, descrevendo

deste modo a sua relação com o companheiro como sendo de bastante suporte. Existem

contudo, indivíduos que percepcionam níveis muito baixos de suporte conjugal, o mesmo

acontecendo para o extremo positivo da escala.

Quadro 15 – Valores mínimo, máximo, média e desvio-padrão dos cônjuges deprimidos, dos cônjuges não

deprimidos e do casal para o suporte conjugal

Suporte Conjugal (1 a 4)

Mínimo 1.43 Máximo 4.00

M 2.90

Cônjuges Deprimidos

DP .67

Mínimo 1.14 Máximo 4.00

M 3.00

Cônjuges Não

Deprimidos DP .54

Mínimo 2.07 Máximo 3.71

M 2.95 Casal

DP .45

Page 127: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

127

2.2.1.3 – Estratégias de Coping Familiar

As análises efectuadas permitiram verificar que existem diferenças significativas

entre a utilização de estratégias de coping pelos cônjuges deprimidos [F(4, 224)=64.02;

p=0.001], e este efeito tem uma dimensão moderada (ή2=.53). A análise das médias

permite constatar que os indivíduos deprimidos utilizam mais estratégias de

reenquadramento (M=3.48; DP=.70) e de avaliação passiva (M=3.36; DP=.77) do que de

procura de suporte espiritual (M=2.95; DP=.98) ou procura de suporte na família, amigos

e comunidade (M=2.86; DP=.75). O apoio de vizinhos é claramente a estratégia de

coping menos utilizada por este grupo (M=1.60; DP=.85).

Do mesmo modo, constata-se a existências de diferenças significativas na

utilização de estratégias de coping nos cônjuges não deprimidos [F(4,224)=94.06;

p=.001], tendo este efeito uma dimensão mais elevada do que nos cônjuges deprimidos

(ή2=.63). Na análise das médias observa-se uma distribuição semelhante à dos seus

companheiros com a preferência por utilização de estratégias de reenquadramento

(M=3.74; DP=.52) em detrimento da procura de apoio dos vizinhos (M=1.59; DP=.70).

Relativamente à unidade casal, observa-se o mesmo padrão de resultados

(F(4,224)=114.32; p=.001], tendo este efeito uma dimensão elevada (ή2=.67). A

utilização das estratégias de coping obedece à sequência referida para os cônjuges

deprimidos e não deprimidos, tal como se pode observar no quadro 16.

Quadro 16 – Valores mínimo, máximo, média e desvio-padrão dos cônjuges deprimidos, dos cônjuges não

deprimidos e do casal para as estratégias de coping familiar

Família, Amigos e

Comunidade (1 a 5)

Espiritual (1 a 5)

Reenquadramento (1 a 5)

Vizinhos (1 a 5)

Avaliação Passiva (1 a 5)

Mínimo 1.00 1.00 1.40 1.00 1.00 Máximo 4.67 5.00 5.00 4.00 4.80

M 2.86 2.95 3.48 1.60 3.36

Cônjuges Deprimidos

DP .75 .98 .70 .85 .77

Mínimo 1.11 1.00 2.60 1.00 2.00 Máximo 4.56 5.00 5.00 3.33 4.40

M 2.88 2.70 3.74 1.59 3.31

Cônjuges Não

Deprimidos DP .74 .93 .52 .70 .65

Mínimo 1.06 1.13 2.60 1.00 2.00 Máximo 4.61 4.75 5.00 3.50 4.60

M 2.86 2.83 3.61 1.60 3.34 Casal

DP .63 .81 .48 .60 .50

Page 128: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

128

2.2.1.4 – Satisfação Conjugal

Observa-se que, nos sujeitos deprimidos existem diferenças significativas entre as

2 dimensões da satisfação conjugal (t=7.28; N=57; p<.001): os sujeitos deprimidos

manifestam-se mais satisfeitos na dimensão amor (M=3.96; DP=1.06) do que na

dimensão funcionamento (M=3.34; DP=.85). O índice de satisfação global indica-nos que

os cônjuges estão satisfeitos com a sua relação conjugal.

Os indivíduos não deprimidos também estão significativamente mais satisfeitos

(t=7.07; N=57; p<0.001) na dimensão amor (M=4.35; DP=1.00) do que na dimensão

funcionamento (M=3.72; DP=.79). De uma forma global, estão satisfeitos com a sua

relação conjugal.

Ao nível do casal, existem igualmente diferenças significativas (t=8.93; N=57,

p<0.001), no sentido referido para os cônjuges deprimidos e não deprimidos, estando

globalmente satisfeitos.

Quadro 17 – Valores mínimo, máximo, média e desvio-padrão dos cônjuges deprimidos, dos cônjuges não

deprimidos e do casal para as dimensões da satisfação conjugal – amor e funcionamento – e para o índice

de satisfação global

Amor (1 a 6)

Funcionamento (1 a 6)

Satisfação Global (1 a 6)

Mínimo 1.31 1.78 1.57 Máximo 5.81 5.22 5.41

M 3.96 3.34 3.71

Cônjuges Deprimidos

DP 1.06 .85 .92

Mínimo 1.27 1.78 1.47 Máximo 5.92 6.00 5.88

M 4.35 3.72 4.10

Cônjuges Não

Deprimidos DP 1.00 .79 .87

Mínimo 1.56 2.11 1.81 Máximo 5.73 5.31 5.50

M 4.15 3.53 3.90 Casal

DP .89 .68 .77

Page 129: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

129

2.2.2 – Efeitos das variáveis sexo do cônjuge deprimido, duração da relação

conjugal e situação profissional, na vinculação amorosa do cônjuge deprimido, na

vinculação amorosa do cônjuge não deprimido, no suporte conjugal, nas estratégias

de coping familiar e na satisfação conjugal

Nesta secção iremos apresentar os resultados relativos aos efeitos das variáveis

sócio-demográficas, nomeadamente o sexo do cônjuge deprimido, duração da relação

conjugal e situação profissional do cônjuge deprimido nas várias dimensões do estudo.

Para testar os efeitos destes factores realizámos análises de variância univariada e

multivariada.

2.2.2.1 – Efeitos do sexo do cônjuge deprimido, da duração da relação conjugal e da

situação profissional (desemprego e baixa psiquiátrica) nas dimensões da vinculação

amorosa do cônjuge deprimido

Os resultados da análise revelaram que não existem diferenças significativas em

função do sexo do cônjuge deprimido nas dimensões da vinculação amorosa

[F(4,52)=.899; p>.47].

Relativamente aos efeitos da duração da relação conjugal, também não se

verificaram diferenças significativas na confiança [F(4,52)=2.16; p>.086]; dependência

[F(4,52)=.55; p>.70]; ambivalência [F(4.52)=1.40; p>.25] e evitamento [F(4,52)=1.33,

p>0.26].

No que concerne aos efeitos da variável desemprego nas dimensões da vinculação

amorosa do indivíduo deprimido, não se verificaram diferenças significativas

[F(4,52)=1.73; p<.15]. Também não existem diferenças significativas em função da baixa

psiquiátrica do cônjuge deprimido [F(4,51)=.1.26; p>.29].

Page 130: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

130

2.2.2.2 – Efeitos do sexo do cônjuge deprimido, da duração da relação conjugal e da

situação profissional (desemprego e baixa psiquiátrica) nas dimensões da vinculação

amorosa do cônjuge não deprimido

Os resultados da análise revelaram que existem diferenças significativas em

função do sexo de indivíduo deprimido nas dimensões da vinculação amorosa do cônjuge

não deprimido [F(4,52)=4.50, p<.005]. Estas diferenças são significativas nas dimensões

confiança [F(1,55)=8.71; p<.005] e ambivalência [F(1,55)=5.77; p<.05], tendo os homens

não deprimidos apresentado valores de confiança superiores às mulheres não deprimidas

(M=4.76, DP=.68; M=4.03, DP=1.01) e valores mais baixos de ambivalência (M=2.70,

DP=.73; M=3.25, DP=.64).

Quanto ao efeito da duração da relação conjugal nas dimensões da vinculação

amorosa do cônjuge não deprimido, verificaram-se a inexistência de diferenças

significativas [F(16,208)=1.42; p>.13].

Ainda relativamente às dimensões da vinculação amorosa, não foram encontradas

diferenças significativas em função das variáveis desemprego [F(4,52)=2.37; p>.06] e

baixa psiquiátrica [F(1,51)=1.78; p>14].

2.2.2.3 – Efeitos do sexo do cônjuge deprimido, da duração da relação conjugal e da

situação profissional (desemprego e baixa psiquiátrica) no suporte conjugal

Os resultados da análise indicam que não existem diferenças significativas em

função do sexo do cônjuge deprimido no suporte conjugal [F(1,55)=.127; p>.72]

No que respeita à duração da relação conjugal, verificou-se que também não

existem diferenças significativas [F(1,55)=1.42; p>.24].

O mesmo acontece para as variáveis sócio-demográficas desemprego

[F(1,55)=.058; p>.80] e baixa psiquiátrica [F(1,55)=.004; p>.95].

Page 131: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

131

2.2.2.4 – Efeitos do sexo do cônjuge deprimido, da duração da relação conjugal e da

situação profissional (desemprego e baixa psiquiátrica) nas dimensões do coping

familiar

A análise efectuada ao efeito do sexo do cônjuge deprimido na utilização de

estratégias de coping familiar revela que não existem diferenças significativas no suporte

de familiares, amigos e comunidade [F(1,55)=1.43; p>.23]; no suporte espiritual

[F(1,55)=.108; p>.74]; no reenquadramento [F(1,55)=.552;p>.46]; no suporte de vizinhos

[F(1,55)=.291; p>.59] e na avaliação passiva [F(1,55)=.389; p>.54].

Relativamente ao efeito da duração da relação conjugal, verifica-se que não

existem diferenças significativas na utilização de estratégias de procura de suporte na

família, amigos e comunidade [F(4,52)=1.53; p>.20]; de procura de suporte espiritual

[F(4,52)=1.99; p>.10; de reenquadramento [F(4,52)=1.76, p>.15]; de procura de suporte

nos vizinhos [F(4,52)=.869; p>.48] e de avaliação passiva [F(4,52)=1.75; p>.15].

No que concerne ao efeito do desemprego e da baixa psiquiátrica de indivíduos

deprimidos na utilização de estratégias de coping pelo casal, uma vez mais não se

observam diferenças significativas para qualquer uma das estratégias de coping.

2.2.2.5 – Efeitos do sexo do cônjuge deprimido, da duração da relação conjugal e da

situação profissional (desemprego e baixa psiquiátrica) nas dimensões da satisfação

conjugal

A análise efectuada de mostrou que o sexo do cônjuge deprimido não tem

qualquer efeito na dimensão amor [F(1,55)=.787; p>.37]; na dimensão funcionamento

[F(1,55)=.798; p>.37] e para o índice de satisfação global [F(1,55)=563; p>.45].

Relativamente à duração da relação conjugal, verifica-se que existem diferenças

significativas para os três níveis de avaliação da satisfação conjugal – amor

[F(4,52)=3.19; p<.05]; funcionamento [F(4,52)=2.89; p<.05] e satisfação global

[F(4,52)=3.44; p<.05]. A análise das médias permite constatar que os casais mais

satisfeitos na dimensão amor são aqueles cuja relação conjugal se situa nos intervalos 16

a 25 anos (M=4,60; DP=.74), 1 a 6 anos (M=4,52; DP=.88) e 7 a 15 anos (M=4.26;

Page 132: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

132

DP=.80) Os casais menos satisfeitos são aqueles cuja relação tem uma duração superior a

25 anos (M=3.84; DP=.88) ou inferior a 1 ano (M=2.59). Na dimensão funcionamento e

no índice de satisfação global observa-se um padrão semelhante.

< 1 ano 1-6 7-15 16-25 > 25

duração da relação conjugal

2,50

3,00

3,50

4,00

4,50

Níveis Médios de Satisfação Conjugal G

lobal

Gráfico 1 - Níveis médios de satisfação conjugal em função duração da relação conjugal

Relativamente ao desemprego no indivíduo deprimido, não se observam

diferenças significativas nas dimensões funcionamento [F(1,55)=.131; p>.71], amor

[F(1,55)=.183; p>.67] e satisfação global [F(1,55)=.023;p>.87]. A variável sócio-

demográfica baixa psiquiátrica segue a mesma tendência das anteriores, não apresentando

qualquer efeito nas dimensões da satisfação conjugal.

2.2.3 – Efeitos do tipo de depressão, da duração do diagnóstico, da doença

física grave no cônjuge deprimido e da doença física grave no cônjuge não

deprimido nas dimensões da vinculação amorosa do cônjuge deprimido, nas

dimensões da vinculação amorosa do cônjuge não deprimido, no suporte conjugal,

nas estratégias de coping familiar e na satisfação conjugal

Nesta secção iremos apresentar os resultados relativos aos efeitos das variáveis

clínicas, nomeadamente tipo de depressão, a duração do diagnóstico, a presença de

Page 133: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

133

doença física grave no cônjuge deprimido e a presença de doença física grave no cônjuge

não deprimido nas várias dimensões do estudo.

2.2.3.1 – Efeitos do tipo de depressão, da duração do diagnóstico, da doença física

grave no cônjuge deprimido e da doença física grave no cônjuge não deprimido nas

dimensões da vinculação amorosa do cônjuge deprimido

A análise dos resultados revelou que existem diferenças significativas em função

do tipo de depressão no que respeita à dimensão evitamento [F(2,54)=3.99; p<.05 no

sentido em que os níveis de evitamento são mais baixos em sujeitos com o diagnóstico de

Episódio Depressivo (M=2.25; DP=.81) relativamente aos indivíduos com o diagnóstico

de Perturbação do Humor Persistente (M=2.90; DP=.79). Isto mesmo pode ser observado

no gráfico 2.

Episódio Depressivo Perturbação Depressiva Recorrente

Perturbação do Humor Persistente

tipo depressao

2,20

2,30

2,40

2,50

2,60

2,70

2,80

2,90

3,00

Níveis Médios de Evitam

ento

Gráfico 2 - Níveis médios de evitamento no cônjuge deprimido em função do tipo de depressão

Quanto aos efeitos da duração do diagnóstico nas dimensões da vinculação

amorosa, verifica-se que não existem diferenças significativas [F(16,208)=.951; p>0.51].

Page 134: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

134

Relativamente à presença de doença física grave no cônjuge deprimido, também

mostrou não ter efeitos significativos nas dimensões da vinculação amorosa [F(4,52)=.95;

p>.39]. O mesmo acontece com a presença de doença física no cônjuge não deprimido

[F(4,52)=2.04; p>.10].

2.2.3.2 – Efeitos do tipo de depressão, da duração do diagnóstico, da doença física

grave no cônjuge deprimido e da doença física grave no cônjuge não deprimido nas

dimensões da vinculação amorosa do cônjuge não deprimido

A análise dos resultados revelou que existem diferenças significativas em função

do tipo de depressão [F(8,104)=2.45; p<.05], no que respeita à dimensão evitamento

(F(2,54)=3.27; p<.001], no sentido em que os níveis de evitamento são mais elevados

para os cônjuges de indivíduos com Perturbação Depressiva Recorrente (M=3.03;

DP=.82), relativamente aos cônjuges de indivíduos com Episódio Depressivo (M=2.13;

DP=.53) e aos cônjuges de indivíduos com o diagnóstico de Perturbação do Humor

Persistente (M=2.44; DP=.55), tal como pode ser observado no gráfico 3.

Episódio Depressivo Perturbação Depressiva Recorrente

Perturbação do Humor Persistente

tipo depressao

2,00

2,25

2,50

2,75

3,00

3,25

3,50

Níveis médios de evitamento

Gráfico 3 – Níveis médios de evitamento no cônjuge não deprimido em função do tipo de depressão

Page 135: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

135

Quanto aos efeitos da duração do diagnóstico nas dimensões da vinculação

amorosa, verifica-se que não existem diferenças significativas [F(16,208)=.962; p>0.50].

Relativamente à presença de doença física grave no cônjuge deprimido, também

mostrou não ter efeitos significativos nas dimensões da vinculação amorosa [F(4,

52)=.74; p>.57]. O mesmo acontece com a presença de doença física no cônjuge não

deprimido [F(4,52)=1.93; p>.11].

2.2.3.3 – Efeitos do tipo de depressão, da duração do diagnóstico, da doença física

grave no cônjuge deprimido e da doença física grave no cônjuge não deprimido no

suporte conjugal

Observou-se que o tipo de depressão influencia o suporte conjugal de forma

significativa [F(2,54)=4.68; p<.05]. Os casais com um dos cônjuges com o diagnóstico de

Episódio Depressivo percepcionam níveis mais elevados de suporte conjugal (M=3.11;

DP=.44) relativamente aos casais com um dos membros com diagnóstico de Perturbação

Depressiva Recorrente (M=2.75, DP=.43) e aos casais com um dos elementos com

Perturbação do Humor Persistente (M=2.79; DP=.37). O teste de tukey indicou não

haverem diferenças significativas entre estes dois últimos tipos de depressão.

Episódio Depressivo Perturbação Depressiva Recorrente

Perturbação do Humor Persistente

tipo depressao

2,70

2,80

2,90

3,00

3,10

Níveis Médios de Suporte Conjugal

Gráfico 4 - Níveis médios de suporte conjugal em função do tipo de depressão

Page 136: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

136

A duração do diagnóstico da doença não tem qualquer efeito no suporte conjugal

[F(4,52)=.864; p>.49]. O mesmo acontece para a doença física grave no cônjuge

deprimido [F(1,55)=.745; p>.39] e para a doença física grave no cônjuge não deprimido

[F(1,55)=.775; p>.38].

2.2.3.4 – Efeitos do tipo de depressão, da duração do diagnóstico, da doença física

grave no cônjuge deprimido e da doença física grave no cônjuge não deprimido nas

estratégias de coping familiar

O resultado da análise revelou que existem diferenças significativas em função do

tipo de depressão nas estratégias de coping familiar [F(10,102)=2.20; p<.05]. Estas

diferenças são significativas na estratégia procura de suporte nos vizinhos [F(2,54)=9.47;

p<0.001], na medida em que os casais com Perturbação Depressiva Recorrente procuram

mais o suporte nos vizinhos (M=2.15; Dp=.77) que os casais com Episódio Depressivo

(M=1.35; DP=.38).

Episódio Depressivo Perturbação Depressiva Recorrente

Perturbação do Humor Persistente

tipo depressao

4,00

4,50

5,00

5,50

6,00

6,50

Níveis médios de utilização de estratégias de procura de

apoio no

s vizinh

os

Gráfico 5 - Níveis médios de utilização de estratégias de procura de suporte nos vizinhos em função do tipo

de depressão

Page 137: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

137

Relativamente às estratégias de coping familiar, não foram encontradas diferenças

significativas em função das variáveis duração do diagnóstico [F(20,204)=.95; p>.52],

presença de doença física grave no indivíduo deprimido [F(5,51)=.91; p>.48] e presença

de doença física grave no cônjuge não deprimido [F(5,51)=1.34; p>.26].

2.2.3.5 – Efeitos do tipo de depressão, da duração do diagnóstico, da doença física

grave no cônjuge deprimido e da doença física grave no cônjuge não deprimido nas

dimensões da satisfação conjugal

Existem diferenças significativas em função do tipo de depressão nas dimensões

da satisfação conjugal [F(6,106)=2.45; p<.05]. Para qualquer uma das dimensões da

satisfação conjugal – amor [F(2,54)=4.46; p<0.05]; funcionamento [F(2,54)=3.40;

p<0.05] e índice global de satisfação [F(2,54)=4.40; p<0.05) – os casais com o

diagnóstico de Episódio Depressivo revelam níveis mais elevados de satisfação conjugal

relativamente aos casais com o diagnóstico de Perturbação do Humor Persistente. O teste

de scheffe não detectou diferenças entre os outros tipos de depressão.

Episódio Depressivo Perturbação Depressiva Recorrente

Perturbação Persistente do Humor

tipo depressao

3,50

3,60

3,70

3,80

3,90

4,00

4,10

4,20

Níveis Médios de Satisfação Co

njugal Global

Gráfico 6 - Níveis médios de utilização de satisfação conjugal global em função do tipo de depressão

Verificou-se que, relativamente à dimensões da satisfação conjugal no casal, não

existem diferenças significativas em função das variáveis duração da relação conjugal

[F(12,156)=.471; p>.92]; presença de doença física grave no indivíduo deprimido

Page 138: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

138

[F(3,53)=1.26; p>.29] e presença de doença física grave no cônjuge não deprimido

[F(3,53]=1.99; p>.12].

2.2.4 - Correlações entre satisfação conjugal e as variáveis vinculação

amorosa, suporte conjugal e estratégias de coping familiar

De forma a determinar as associações entre as dimensões da satisfação conjugal e

as dimensões da vinculação amorosa, do suporte conjugal e das estratégias de coping

familiar, procedeu-se à técnica estatística das correlações de Pearson. Recorde-se que a

variável dependente neste estudo é a satisfação conjugal, pelo que se apresentam apenas

as correlações entre esta variável e as restantes. As correlações podem ser observadas no

quadro 18.

Quadro 18 – Correlações de Pearson entre a satisfação conjugal do casal e as variáveis da vinculação

amorosa do cônjuge deprimido, da vinculação amorosa do cônjuge não deprimido, do suporte conjugal do

casal e das estratégias de coping familiar do casal

Satisfação Conjugal Dimensões

Amor Funcionamento Satisfação Global Confiança .640** .583** .650**

Dependência .338* .167 .295* Ambivalência -.535** -.576** -.573**

Vinculação Amorosa Deprimido

Evitamento -.402** -.252 -.366** Confiança .613** .573** .629**

Dependência .228 .125 .203 Ambivalência -.631** -.598** -.650**

Vinculação Amorosa

Não Deprimido Evitamento -.447** -.303* -.419**

Suporte Conjugal .723** .700** .749** Amigos, Família e

Comunidade .004 .065 .038

Espiritual .021 .117 .065 Reenquadramento .573** .533** .635**

Vizinhos -.145 -.238 -.146

Estratégias de Coping Familiar

Avaliação Passiva .172 .13 .181 Nota: **p<0.01; *p<0.05

A associação entre as dimensões da satisfação conjugal (amor, funcionamento e

índice global de satisfação) e a vinculação amorosa do indivíduo deprimido (confiança,

dependência, ambivalência e evitamento) apresenta correlações significativas para quase

Page 139: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

139

todas as dimensões. Assim, a confiança do cônjuge deprimido, que apresenta uma

associação moderada com todos os indicadores de satisfação, relaciona-se de forma

positiva e significativa com o amor (r=.640, p<.01), com o funcionamento (r=.583,

p<.01) e com a satisfação global (r=.650, p<.01). Por conseguinte, quanto maior é o nível

de confiança na relação conjugal e no cônjuge, maior é a satisfação conjugal. O mesmo

se verifica para a associação entre as dimensões da vinculação amorosa do cônjuge não

deprimido e as dimensões da satisfação conjugal – quanto maior é o nível de confiança

do cônjuge não deprimido, maior é o nível de satisfação conjugal do casal.

No que concerne à relação entre o nível de dependência do cônjuge deprimido e a

satisfação conjugal, verifica-se que existe uma correlação positiva baixa no amor (r=.338,

p<.05) e no índice global de satisfação (r=.295, p<.05) e que não existe qualquer

associação entre o nível de dependência do cônjuge deprimido e a satisfação do casal nas

questões do funcionamento do casal (r=.167, p>.21). Assim, quanto maior o nível de

dependência do sujeito deprimido, maior tende a ser o nível de satisfação global e, mais

especificamente com a dimensão amor da relação. Para os cônjuges não deprimidos, não

existe qualquer associação entre o seu nível de dependência na relação com o cônjuge e a

satisfação conjugal em qualquer uma das suas vertentes.

A ambivalência do cônjuge deprimido está moderada e negativamente associada

ao amor (r=-535, p<.01), ao funcionamento (r=-576, p<.01) e à satisfação global (r=-573,

p<.01), o que significa que quanto maior for o nível de ambivalência do indivíduo

deprimido, menor é a satisfação conjugal do casal. A ambivalência do cônjuge não

deprimido ainda está mais negativamente associada à satisfação conjugal, e segue o

mesmo padrão da associação do cônjuge deprimido.

A associação entre o nível de evitamento do cônjuge deprimido e a satisfação

conjugal do casal é moderada e tem, tal como a ambivalência, um sentido negativo. Ou

seja, quanto maior é o nível de evitamento do sujeito deprimido, menor é a satisfação do

casal na dimensão amor (r=-402, p<.01) e no índice global de satisfação (r=-.366, p<.01).

A dimensão funcionamento não está correlacionada com o nível de evitamento do

cônjuge deprimido (r=.252, p>.05). Para o cônjuge não deprimido, foi encontrada uma

associação tendencialmente fraca entre a dimensão da vinculação amorosa evitamento e

Page 140: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

140

os três índices de satisfação conjugal do casal. Assim, quanto maior são os níveis de

evitamento do cônjuge não deprimido, menor tende a ser a satisfação conjugal do casal.

Relativamente ao suporte conjugal percepcionado pelo casal, verifica-se que

existe uma correlação significativa e elevada com a dimensão amor (r=.723, p<.01), com

a dimensão funcionamento (r=.700, p<.01) e com o índice global de satisfação (r=.749,

p<.01). Deste modo, quanto maior é o suporte conjugal percepcionado pelo casal, maior é

a satisfação global reportada.

No que respeita às estratégias de coping familiar, a análise dos resultados permite

concluir que existe uma associação positiva moderada apenas para o reenquadramento

em qualquer um dos índices de satisfação conjugal. As restantes estratégias de coping

familiar não estão associadas à satisfação conjugal, tal como se pode observar no quadro

18. Deste modo, os casais mais satisfeitos tendem a utilizar estratégias de coping familiar

do tipo do reenquadramento.

Page 141: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

141

2.2.5 - Regressões entre as variáveis satisfação conjugal, vinculação amorosa,

suporte conjugal e estratégias de coping familiar

A análise dos resultados efectuada até esta fase, permitiu constatar as correlações

que existem entre as dimensões da vinculação amorosa de cada um dos membros do

casal, o suporte conjugal percepcionado pelo casal e a estratégia de coping do tipo

reenquadramento, com as dimensões da satisfação conjugal, que relembramos ser a

variável dependente que mede a adaptação do casal à depressão.

Com o objectivo de explorar a relação entre a satisfação conjugal do casal e as

restantes variáveis dimensionais, ou seja, compreender qual o contributo do conjunto das

variáveis composto pela vinculação amorosa, suporte conjugal e estratégias de coping

familiar para explicar a variabilidade da adaptação conjugal à depressão, tomando em

consideração a contribuição específica de cada variável, recorreu-se à técnica estatística

da regressão múltipla. A regressão múltipla baseia-se no procedimento da correlação,

mas permite de uma forma mais sofisticada compreender a relação entre um conjunto de

variáveis (Pallant, 2001).

De seguida são apresentadas as regressões lineares para as dimensões da

satisfação conjugal separadamente, de forma a analisar qual o contributo do referido

conjunto de variáveis para explicar a mesma. Refira-se que o método de regressão

utilizado foi o método stepwise, de forma a que apenas entrassem na equação as variáveis

independentes que modificassem significativamente o seu poder explicativo. Foram

controlados os efeitos das variáveis sexo do cônjuge deprimido, duração da relação

conjugal e tipo de depressão clínica.

Observou-se que o conjunto das dimensões da vinculação amorosa, o suporte

conjugal e as estratégias de coping familiar explica 69.4% da variância da dimensão

amor, 78.2% da dimensão funcionamento e 76.5% do índice de satisfação global.

Quando analisado o contributo específico de cada variável, verifica-se que

relativamente ao amor, as variáveis nível de confiança no cônjuge deprimido (Beta=.523,

p<0.001) e nível de confiança do cônjuge não deprimido (Beta=.507, p<0.001) são as

únicas variáveis que contribuem para explicar a variância desta dimensão. Para a

dimensão funcionamento, constata-se que a utilização de estratégias de coping do tipo

Page 142: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

142

reenquadramento (Beta=.423, p<0.001) e o nível de confiança do cônjuge não deprimido

(Beta=.403, p<0.001) são as variáveis que mais contribuem para explicar a variância

desta dimensão. Contudo, o tipo de depressão clínica (Beta=-.187, p<0.05), o suporte

conjugal (Beta=.250, p<0.05), a procura de suporte em familiares, amigos e na

comunidade (Beta=.161, p<0.05), a utilização de estratégias de avaliação passiva (Beta=-

.174, p<0.05), o nível de evitamento do cônjuge saudável (Beta =.251, p<0.05) e o nível

de ambivalência do cônjuge deprimido (Beta=-.205, p<0.05) também contribuem

significativamente. O índice global de satisfação conjugal tem como variáveis preditoras

significativas o nível de confiança do cônjuge deprimido (Beta=.438, p<0.01), o nível de

confiança do cônjuge não deprimido (Beta=.432, p<.001) e a utilização de estratégias de

coping do tipo reenquadramento (Beta=.252, p<0.05).

Page 143: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

143

2.2.6 – Diferenças em função dos protótipos de vinculação amorosa

Procurou-se igualmente analisar em que medida se organizavam os

cônjuges deprimidos e os cônjuges não deprimidos em função dos padrões de vinculação

amorosa enquanto variáveis categoriais, e observar o comportamento do conjunto das

variáveis em estudo de acordo com os protótipos de vinculação resultantes do

agrupamento das dimensões da vinculação amorosa, tal como o aconselhado por Matos,

Barbosa & Costa (2001).

Para o efeito, realizou-se uma análise de clusters (K-Means) para cada um dos

grupos (cônjuges deprimidos e cônjuges não deprimidos), de forma a detectar

configurações específicas na organização das dimensões da vinculação amorosa. Os

critérios de interpretabilidade justificam a solução em 4 clusters, correspondendo cada

um aos protótipos de vinculação: seguro, preocupado, desinvestido e amedrontado.

Posteriormente, realizaram-se MANOVAS com o objectivo de analisar a variabilidade de

cada uma dimensões em função dos respectivos clusters. De acordo com o quadro 19 e

com o quadro 20, os resultados parecem indicar a possibilidade de os clusters serem

interpretados à luz dos quatro protótipos de vinculação propostos por Bartholomew.

Quadro 19 - Análise de clusters do questionário de vinculação amorosa para os cônjuges deprimidos

Padrões de Vinculação

Dimensões Seguro (n=11)

Preocupado (n=17)

Desinvestido (n=6)

Amedrontado (n=23)

Confiança 5.32a 5.01a 2.57b 3.60c Dependência 3.18a 4.65b 2.41c 3.85d Ambivalência 2.51a 3.21b 3.88b 4.05c Evitamento 2.06a 1.90a 3.48b 2.97b

Nota. Valores mais elevados indicam níveis mais elevados de confiança, dependência, ambivalência e evitamento. Diferentes letras indicam diferenças significativas entre os valores de cada cluster ao nível dimensional. Todas as diferenças são significativas a p<.05, à excepção da dimensão confiança entre o cluster seguro e o preocupado, da dimensão ambivalência entre o cluster preocupado e o desinvestido e da dimensão evitamento entre o cluster desinvestido e o amedrontado, os quais não apresentam diferenças significativas.

Page 144: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

144

Quadro 20 - Análise de clusters do questionário de vinculação amorosa para os cônjuges não deprimidos

Padrões de Vinculação

Dimensões Seguro (n=17)

Preocupado (n=13)

Desinvestido (n=1)

Amedrontado (n=26)

Confiança 5.38 4.79 1.38 4.13 Dependência 3.94 4.44 2.30 3.14 Ambivalência 2.05 3.14 4.15 3.10 Evitamento 1.90 2.27 5.07 2.68

Nota. Valores mais elevados indicam níveis mais elevados de confiança, dependência, ambivalência e evitamento. Uma vez que o protótipo desinvestido é constituído apenas por um sujeito, não foi possível efectuar testes posthoc para determinar o sentido das diferenças entre os clusters. Contudo, os testes de variância multivariados permitiram detectar diferenças significativas em função do cluster [F(12,156)=11.180, p<.001], para as dimensões confiança [F(3,53)=50,36, p<.001], dependência [F(3,53)=24.25, p<.001], ambivalência [F(3,53)=17.17, p<.001] e evitamento [F(3,53)=19.07, p<.001].

Se nos reportarmos aos cônjuges deprimidos, pode observar-se no cluster 1,

valores elevados de confiança acompanhados por valores moderados de dependência,

ambivalência e evitamento, o que indica a probabilidade de se tratar do grupo dos sujeitos

seguros. Representa 19.3% da amostra. Já no cluster 2, os valores de confiança são

ligeiramente mais baixos do que no cluster 1 e estão associados a valores elevados de

dependência e valores moderados de ambivalência e valores baixos de evitamento. Estes

indivíduos apresentam grande necessidade de proximidade ao cônjuge parecendo

evidenciar um protótipo de vinculação preocupado. Correspondem a 29.8% da amostra.

No cluster 3 observa-se que os sujeitos apresentam os valores mais baixos de confiança,

valores baixos de dependência, valores moderados de ambivalência e os valores mais

elevados de evitamento. Provavelmente, tratar-se-á do grupo dos desinvestidos e

caracteriza 10.5% da amostra. Por último, no cluster 4, observam-se valores muito

elevados de ambivalência e valores elevados de dependência e de evitamento

(comparativamente aos outros grupos), o que nos permite supor tratar-se do grupo dos

amedrontados. Apesar dos seus níveis de confiança não serem muito baixos, são

significativamente mais baixos do que os do grupo dos seguros e os do grupo dos

preocupados. Correspondem à maioria da amostra, 40.1%.

No que se refere aos cônjuges não deprimidos, observa-se um padrão semelhante

em termos de valores médios das dimensões em função do cluster. Ao nível da

distribuição na amostra, verifica-se que existem 29.8% de indivíduos presumivelmente

Page 145: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

145

seguros, 22.8% de sujeitos com um padrão de vinculação amoroso preocupado, 1.75%

(1 indivíduo) com padrão de vinculação desinvestido e 45.6% com padrão de vinculação

amedrontado.

2.2.6.1 – Diferenças no suporte conjugal, estratégias de coping familiar e

satisfação conjugal em função dos protótipos de vinculação amorosa

No sentido de avaliar as diferenças no suporte conjugal, nas estratégias de coping

familiar e nas dimensões da satisfação conjugal em função dos protótipos de vinculação

amorosa, realizaram-se análises univariadas de variância para o suporte conjugal e análise

de variância multivariada separadamente para as estratégias de coping familiar e para as

dimensões da satisfação conjugal. O quadro 21 apresenta as médias e os desvio-padrão no

suporte conjugal, nas estratégias de coping familiar e nas dimensões da satisfação

conjugal em função dos clusters. Foram realizadas análises em separado para os cônjuges

deprimidos e para os cônjuges não deprimidos.

2.2.6.1.1 – Diferenças no suporte conjugal, estratégias de coping familiar e satisfação

conjugal em função dos protótipos de vinculação amorosa para os cônjuges deprimidos

Relativamente ao suporte conjugal, observa-se um efeito principal do cluster

[F(3,53)=14.20, p<.001]. Os testes post-hoc indicam que os sujeitos seguros e

preocupados percepcionam um nível mais elevado de suporte conjugal relativamente aos

indivíduos desinvestidos e amedrontados.

No que concerne às estratégias de coping familiar, verifica-se um efeito principal

do cluster responsável pelas diferenças no reenquadramento [F(3,53)=4.98, p<.005]. Os

testes post-hoc sugerem que os indivíduos seguros utilizam mais estratégias de coping

familiar do tipo reenquadramento, do que os indivíduos desinvestidos e do que os

indivíduos amedrontados.

Quanto à satisfação conjugal, constata-se um efeito principal do cluster

[F(9,51)=3.80, p<.001], responsável pelas diferenças no amor [F(3,53)=8.47, p<.001] e

na satisfação global [F(3,53)=8.46, p<.001]. Os indivíduos seguros estão mais satisfeitos

Page 146: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

146

com a sua relação conjugal, relativamente à dimensão amor e na globalidade (tal como

pode ser observado no gráfico 1), do que os sujeitos desinvestidos e do que os sujeitos

amedrontados. O mesmo parece acontecer com os indivíduos preocupados: estão mais

satisfeitos do que os desinvestidos e do que os amedrontados.

3,00

3,30

3,60

3,90

4,20

4,50

Valores médios de satisfação conjugal em função da vinculação amorosa

Gráfico 7 – Valores médios de satisfação conjugal global em função da vinculação amorosa

Quadro 21 – Médias e desvio-padrão no suporte conjugal, estratégias de coping familiar e satisfação

conjugal em função da vinculação amorosa nos cônjuges deprimidos

Clusters Seguro

a Preocupado

b Desinvestido

c Amedrontado

d

M DP M DP M DP M DP Diferenças

Suporte Conjugal 3.21 .45 3.25 .32 2.45 .25 2.72 .33

a>c a>d b>c b>d

Estratégias de coping familiar

REE 3.91 .55 3.76 .39 3.27 .23 3.44 .44 a>c a>d

AM 4.72 .94 4.58 .57 3.30 .99 3.82 .71

a>c a>d b>c b>d Satisfação

Conjugal

SAG 4.43 .82 4.25 .54 3.15 .80 3.59 .61

a>c a>d b>c b>d

Nota: Valores mais elevados indicam níveis maiores de suporte conjugal, reenquadramento (REE), amor (AM) e satisfação global (SAG). Diferentes letras indicam diferenças significativas entre os valores de cada

Seguro

Satisfação Con

juga

l

Preocupado Desinvestido Amedrontado

Vinculação Amorosa

Page 147: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

147

cluster ao nível dimensional. Todas as diferenças são significativas a p<.05, excepto no suporte conjugal (p<.001)

2.2.6.1.2 – Diferenças no suporte conjugal, estratégias de coping familiar e satisfação

conjugal em função dos protótipos de vinculação amorosa para os cônjuges não

deprimidos

No suporte conjugal constata-se um efeito principal do cluster [F(3,53)=3.89,

p<.05]. Relativamente às estratégias de coping familiar, verifica-se um efeito principal

do cluster [F(15,153)=2.59, p<.005] para a estratégia reenquadramento [F(3, 53)=6.85,

p<.001] e para a estratégia procura de suporte nos vizinhos [F(3,53)=5.69, p<.005]. No

que concerne à satisfação conjugal, observa-se um efeito principal do cluster

[F(9,51=2.00, p<.05] para as dimensões amor [F(3,53)=5.80, p<.005], funcionamento

[F(3,53)=4.48, p<.01] e satisfação global [F(3,53)=5.59, p<.005].

No entanto, pelo facto do cluster 2 incluir apenas um sujeito, não foi possível

efectuar testes post-hoc para averiguar o sentido das diferenças.

Quadro 22 – Médias e desvio-padrão no suporte conjugal, estratégias de coping familiar e satisfação conjugal em função da vinculação amorosa nos cônjuges não deprimidos

Clusters Seguro

a Preocupado

b Desinvestido

c Amedrontado

d

M DP M DP M DP M DP Diferenças Suporte Conjugal 3.02 .45 2.85 .81 2.21 - 2.85 .40

REE 4.14 .57 3.70 .32 3.40 - 3.50 .42 Estratégias de coping familiar

SV 1.35 .50 1.59 .60 3.50 - 1.70 .62

AM 4.73 .72 4.08 .75 2.38 - 3.88 .87

FUN 3.96 .61 3.36 .70 2.44 - 3.38 .60 Satisfação Conjugal

SAG 4.42 .62 3.79 .68 2.40 - 3.68 .73

Nota: Valores mais elevados indicam níveis maiores de suporte conjugal, reenquadramento (REE), procura de suporte em vizinhos (SV), amor (AM), funcionamento (FUN) e satisfação global (SAG).

Page 148: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

148

2.2.7 – Continuidades e descontinuidades no casal com depressão – análise

das diferenças intra-casal

Após a análise das diferenças inter-casal no conjunto de variáveis em estudo,

procedeu-se à verificação da congruência das respostas dos cônjuges deprimidos e dos

cônjuges não deprimidos, no sentido de averiguar qual o efeito do ajustamento das

respostas na adaptação conjugal à depressão. Dito de outro modo, pretendeu-se analisar

se os casais cujas respostas eram semelhantes (distância inferior a 1) estavam melhor

adaptados à situação de depressão (isto é, indicavam níveis mais elevados de satisfação

conjugal) relativamente aos casais cujas respostas eram mais dissemelhantes, logo com

percepções diferentes sobre as variáveis em estudo.

Para o efeito, estabeleceram-se três grupos de casais: o primeiro grupo era

constituído por casais cuja diferença de respostas de cada um dos cônjuges, para cada

subescala, era inferior a 1 ponto; no segundo grupo, foram reunidos os casais cujas

respostas se afastavam entre 1 a 2 pontos; e o terceiro grupo era constituído por casais

cuja diferença de respostas era superior a 2 pontos. Esta redistribuição dos casais em três

grupos distintos foi efectuada para cada uma das dimensões da vinculação amorosa, para

o suporte conjugal, para cada uma das estratégias de coping familiar e para cada uma das

dimensões da satisfação conjugal. De seguida, procedeu-se a análises univariadas de

variância a fim de se verificar a existência de diferenças significativas entre os três

grupos de casais considerados ao nível da sua satisfação conjugal (a nossa medida de

adaptação conjugal à depressão), para cada uma das variáveis independentes em estudo.

2.2.7.1 – Diferenças na satisfação conjugal em função da distância intra-casal

na percepção do suporte conjugal

Não se verificaram diferenças significativas no que respeita ao efeito da distância

das percepções dos cônjuges relativamente ao suporte conjugal na satisfação global

[F(2,54)=.021, p>.97], no amor [F(2,54)=.049, p>.95] e no funcionamento [F(2,54)=.303,

p>.74]. Estes resultados indicam que a convergência das respostas dos casais no que se

refere às suas percepções da satisfação conjugal, não tem impacto na satisfação conjugal.

Page 149: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

149

2.2.7.2 – Diferenças na satisfação conjugal em função da distância intra-casal

ao nível das dimensões da vinculação amorosa

Verificou-se que não existem diferenças significativas relativamente ao efeito da

distância dos níveis de confiança de cada membro do casal na satisfação global

[F(2,54)=2.85, p>.06], no amor [F(2,54)=3.14, p>.05] e no funcionamento F[(2,54)=1.90,

p>.06]. A diferença de níveis de confiança no casal não tem qualquer efeito na satisfação

conjugal.

No que concerne ao efeito da distância dos níveis de dependência de cada

membro da díade na satisfação conjugal, observou-se que não existem diferenças

significativas ao nível da satisfação global [F(2,54)=.415, p>.66], no amor [F(2,54)=.157,

p>.85] e no funcionamento [F(2,54)=1.11, p>.33]. Uma vez mais, a diferença de níveis

de dependência no casal não tem efeito na satisfação conjugal.

Relativamente ao efeito da distância dos níveis de ambivalência de cada um dos

membros do casal na satisfação conjugal, constatou-se que também não existem

diferenças significativas ao nível da satisfação global [F(2,54)=.245, p>.78], do amor

[F(2,54)=.281, p>.75] e do funcionamento [F(2,54)=.232, p>.79]. Novamente se verifica

que a diferença de níveis de ambivalência no casal não se reflecte na sua satisfação

conjugal.

Também não se observa qualquer efeito da distância dos níveis de evitamento dos

membros do casal na satisfação conjugal, uma vez que não se verificam diferenças

significativas na satisfação global [F(2,54)=.29, p>.74], no amor [F(2,54)=.089, p>.91 e

no funcionamento [F(2,54)=.963, p>.38].

2.2.7.3 – Diferenças na satisfação conjugal em função da distância intra-casal

na percepção da utilização de estratégias de coping familiar

Relativamente ao efeito da distância intra-casal na percepção da utilização de

estratégias de coping familiar, observou-se que existem diferenças significativas na

satisfação conjugal para o reenquadramento no que se refere à satisfação global

Page 150: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

150

[F(2,54]=3.88, p<.05] e ao amor [F(2,54)=3.80, p<.05]. Assim, os casais cuja distância de

respostas é inferior a 1 ponto ou cuja distância se situa no intervalo de 1 a 2 pontos (os

mais concordantes), reportam níveis mais elevados de satisfação global (M=3.96,

DP=.68; M=4.02, DP=.95) e de satisfação na dimensão amor (M=4.21, DP=.78; M=4.34,

DP=1.05) relativamente aos casais com menor ajustamento das respostas para a

satisfação global (M=2.75; DP=1.01) e para o amor (M=2.84; DP=1.43).

Não foram encontradas diferenças significativas para as estratégias procura de

suporte nos familiares, amigos e comunidade (satisfação global - [F(2,54)=1.32, p>.27];

amor - [F(2,54)=1.52, p>.22]; funcionamento – [F(2,54)=1.58, p>.21]); procura de

suporte espiritual (satisfação global – [F(2,54)=.840, p>.43]; amor - [F(2,54)=.674,

p>.51]; funcionamento - [F(2,54)=1.31, p>.27]); procura de suporte nos vizinhos

(satisfação global – F(2,54)=.330, p>.72]; amor - [F(2,54)= .326, p>.72]; funcionamento

– [F(2,54)=.296, p>.74]) e avaliação passiva (satisfação global – [F(2,54)=1.90; p>.15];

amor – [F(2,54)=1.89, p>.16]; funcionamento - [F(2,54)=1.50, p>.23]).

Em síntese, verifica-se que diferença de percepções no casal apenas produz efeito

no que se refere à utilização de estratégias de coping familiar do tipo de

reenquadramento, no sentido em que são os casais com maior índice de congruência nas

suas respostas que reportam níveis mais elevados de satisfação conjugal.

Page 151: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

151

2.2.8 – Síntese dos Resultados

1. Os cônjuges deprimidos, os cônjuges não deprimidos e ambos enquanto casal

apresentam níveis mais elevados de confiança, de dependência e de ambivalência, do que

de evitamento.

2. Os cônjuges deprimidos, os cônjuges não deprimidos e ambos enquanto casal

consideram a sua relação conjugal como sendo de bastante suporte.

3. Os cônjuges deprimidos utilizam sobretudo estratégias de coping familiar do

tipo reenquadramento e avaliação passiva. Os cônjuges não deprimidos referem a

utilização de estratégias de reenquadramento. O mesmo se observa quando consideramos

a unidade casal.

4. Ambos os membros do casal estão globalmente satisfeitos com a sua relação

conjugal. Contudo, estão mais satisfeitos com a vertente emocional (amor) da relação do

que com a vertente funcionamento.

5. Não se verificam efeitos do sexo do deprimido, da duração da relação conjugal

e da situação profissional (desemprego e baixa psiquiátrica) nas dimensões da vinculação

amorosa do cônjuge deprimido, no suporte conjugal do casal e na utilização de estratégias

de coping familiar.

6. Existem diferenças estatisticamente significativas no que respeita efeito do

sexo do indivíduo deprimido nas dimensões da vinculação amorosa para a dimensão

confiança e ambivalência dos cônjuges não deprimidos no sentido em que os homens não

deprimidos apresentam valores de confiança superiores e valores de ambivalência

inferiores aos das mulheres não deprimidas.

7. Existem diferenças estatisticamente significativas na satisfação conjugal em

função da duração da relação conjugal, uma vez que os casais mais satisfeitos são aqueles

cuja relação conjugal se situa nos intervalos dos16 aos 25 anos, do 1 aos 6 anos e dos 7 a

15 anos. Os casais menos satisfeitos são aqueles cuja relação tem uma duração superior a

25 anos.

8. Existem diferenças estatisticamente significativas nas dimensões da vinculação

amorosa do cônjuge deprimido, da vinculação amorosa do cônjuge não deprimido, no

suporte conjugal, na utilização de estratégias de coping familiar e na satisfação conjugal

Page 152: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

152

em função do tipo de depressão clínica. Deste modo, observou-se que os níveis de

evitamento são mais baixos em sujeitos com o diagnóstico de Episódio Depressivo e são

mais elevados para os cônjuges de indivíduos com Perturbação Depressiva Recorrente; os

casais com o diagnóstico de Episódio Depressivo percepcionam níveis mais elevados de

suporte conjugal e revelaram níveis mais elevados de satisfação conjugal em comparação

com casais com outros diagnósticos; os casais com Perturbação Depressiva Recorrente

procuram mais o suporte nos vizinhos.

9. A satisfação conjugal apresenta correlações significativas com as restantes

variáveis. Assim, o amor correlaciona-se positivamente com a confiança em ambos os

cônjuges, com a dependência no cônjuge deprimido, com o suporte conjugal e com o

reenquadramento. Correlaciona-se ainda, mas de forma negativa, com a ambivalência e

com o evitamento em ambos os membros do casal. O funcionamento apresenta

correlações positivas com a confiança em ambos os cônjuges, com o suporte conjugal e

com o reenquadramento, e correlações negativas com a ambivalência e com o

evitamento, também ambos os cônjuges. A satisfação global correlaciona-se

positivamente com a confiança em ambos os cônjuges, com a dependência no cônjuge

deprimido, com o suporte conjugal e com o reenquadramento. Mostra estar

negativamente associada à ambivalência e ao evitamento para ambos os membros da

díade conjugal.

10. As regressões múltiplas indicam que as variáveis que mais contribuem para

explicar a satisfação com a dimensão amor são a confiança do cônjuge deprimido e a

confiança do cônjuge não deprimido. A variável que mais contribui para explicar a

satisfação com o funcionamento da relação conjugal é a estratégia de coping de

reenquadramento, ainda que a confiança do cônjuge não deprimido também seja um

preditor muito importante. Para explicar a satisfação global, as variáveis que dão uma

contribuição mais significativa são, tal como para a dimensão amor, os níveis de

confiança de ambos os cônjuges. O conjunto das dimensões da vinculação amorosa, o

suporte conjugal e as estratégias de coping familiar explica 69.4% da variância da

dimensão amor, 78.2% da dimensão funcionamento e 76.5% do índice de satisfação

global.

Page 153: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

153

11. Existem diferenças significativas no suporte conjugal, nas estratégias de

coping familiar e na satisfação conjugal em função da distribuição dos cônjuges

deprimidos pelos protótipos de vinculação amorosa. Assim, os sujeitos seguros e

preocupados percepcionam um nível mais elevado de suporte conjugal relativamente aos

indivíduos desinvestidos e amedrontados; os indivíduos seguros utilizam mais estratégias

de coping familiar do tipo reenquadramento, do que os indivíduos desinvestidos e do que

os indivíduos amedrontados; os indivíduos seguros e os indivíduos preocupados estão

mais satisfeitos com a sua relação conjugal, do que os sujeitos desinvestidos e do que os

sujeitos amedrontados.

12. Existem diferenças significativas no suporte conjugal, nas estratégias de

coping familiar e na satisfação conjugal em função da distribuição dos cônjuges não

deprimidos pelos protótipos de vinculação amorosa mas não foi possível apurar a

direcção das diferenças.

13. Os casais com maior índice de congruência nas suas respostas no que se refere

à estratégia de coping do tipo reenquadramento, reportam níveis mais elevados de

satisfação conjugal.

Page 154: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

154

CAPÍTULO 3 - DISCUSSÃO E SÍNTESE

3.1 – Discussão dos Resultados

No presente capítulo, pretende-se analisar criticamente os resultados obtidos no

nosso estudo empírico, com o objectivo de os compreender à luz dos modelos que estão

subjacentes a este trabalho, que recordamos serem o modelo sistémico e os modelos de

stress familiar.

De um ponto de vista sistémico, qualquer alteração num elemento de um dado

sistema, tem necessariamente repercussões nos outros elementos constituintes do mesmo

– princípio da circularidade (Walsh, 1982). Neste estudo, está em análise uma doença

psicológica – a depressão clínica – a qual tem sido sistematicamente associada a

importantes custos individuais, sociais, familiares e económicos (European Commission,

2004). De acordo com a epistemologia sistémica, a depressão num membro do sistema

familiar, deverá ter repercussões nos outros elementos da família. E, de facto, a

investigação mostra que os sintomas depressivos por si só condicionam o funcionamento

habitual do sistema familiar – por exemplo, é frequente a dificuldade dos indivíduos

deprimidos lidarem adequadamente com as suas responsabilidades familiares (European

Commission, 2004), o que se traduz numa redistribuição de papéis e funções e no

aumento das responsabilidades dos outros membros da família que as têm de assumir de

modo a que o sistema se mantenha – propriedade homeostática dos sistemas. Há, por

conseguinte, um aumento da quantidade de exigências a que o sistema familiar tem de

fazer face e, frequentemente, surge a crise. Recorde-se que, segundo o modelo de

resposta de ajustamento e adaptação familiar, a crise surge num sistema familiar quando a

natureza e/ou a quantidade de exigências provocadas pelos acontecimentos de vida

excedem os recursos da família de forma persistente (Patterson, 1988).

Sendo a depressão uma crise no sistema familiar (Angell, 1936; Cavan & Rank,

1938; cits. por Boss, 2003), então o sistema familiar tem de reagir e se adaptar para

encontrar uma organização que promova um novo estado de equilíbrio no seu

funcionamento (McCubbin & Patterson, 1983). Para tal, é necessário que a família

construa um significado para o que lhe está a acontecer – um dos seus membros estar

Page 155: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

155

deprimido – tendo em consideração as exigências que a depressão impõe no sistema e a

sua capacidade de resistência à doença e aos seus efeitos. Esta capacidade de resistência –

a resiliência familiar - reúne os recursos que a família percepciona ter como disponíveis

e as estratégias de coping para lidar com o acontecimento gerador de stress.

No estudo empírico que realizámos, foi nosso objectivo estudar as relações que

existem entre alguns recursos do sistema (vinculação amorosa e suporte conjugal) e as

estratégias de coping familiar com a adaptação de um dos subsistemas familiares – o

conjugal - à depressão. Lembramos que os recursos, na terminologia dos modelos de

stress familiar, são as capacidades que o indivíduo/família tem para lidar com as

exigências da situação geradora de stress (Patterson, 1988), ao passo que as estratégias de

coping familiar correspondem ao comportamento coordenado de todo o sistema com

vista à resolução do problema, reunindo processos cognitivos, afectivos e

comportamentais (Boss, 2002).

Pelo facto de se tratar de um estudo exploratório, iniciámos a análise dos

resultados com uma caracterização da amostra, ao nível das variáveis em estudo.

No que se refere às dimensões da vinculação amorosa, destaca-se o facto de

ambos os membros do casal apresentarem níveis significativamente baixos de

evitamento, e níveis mais elevados de confiança, de dependência e de ambivalência.

Quanto ao suporte conjugal percepcionado, ambos os cônjuges percepcionam níveis

elevados de suporte conjugal. Relativamente às estratégias de coping familiar,

observámos que os cônjuges deprimidos utilizam preferencialmente estratégias de

reenquadramento e de avaliação passiva, enquanto os cônjuges não deprimidos utilizam

preferencialmente o reenquadramento como forma de lidar com a depressão do seu

companheiro. Também o nível de satisfação conjugal corresponde a um nível

satisfatório, o que se traduz na presente investigação, em casais adaptados à realidade da

depressão.

Este padrão de resultados é congruente em si próprio. De facto, a literatura indica-

nos que níveis elevados de confiança na relação conjugal, níveis moderados de

dependência e de ambivalência e níveis baixos de evitamento estão associados a um

estilo de vinculação seguro (Matos, Barbosa & Costa, 2001) que, por sua vez, estão

correlacionados com níveis mais elevados de satisfação conjugal (Banse, 2004; Collins &

Page 156: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

156

Read, 1990; Simpson, 1990)14. Verificámos bons níveis de suporte conjugal que, de

acordo com a literatura, estão fortemente associados com níveis também elevados de

satisfação conjugal (Gardner & Cutrona, 2004; Cutrona, 1996a). Por outro lado, as

estratégias de coping familiar utilizadas por ambos os membros do casal, podem ser

perspectivadas como de assimilação (McCubbin & McCubbin, 1989), logo mais

adequadas à resolução efectiva dos problemas subjacentes à depressão.

Apesar da congruência entre as variáveis em análise, estes resultados não estão de

acordo com investigações anteriores e com as nossas próprias hipóteses, que dão conta de

que a depressão está associada a padrões de vinculação inseguros (Bifulco et al,2002;

Whiffen et al, 2001; Carnelley et al, 1994) – hipótese 1 - , a níveis baixos de suporte

conjugal (Zuroff et al, 2002) – hipótese 2 - e utilização de estratégias de coping pouco

funcionais (Bodenmann et al, 2004). Colocamos a hipótese, e de acordo com a

dificuldade que sentimos no processo de recolha da amostra (uma vez que os indivíduos

deprimidos que frequentaram as consultas de psicologia e psiquiatria durante o período

de recolha da mesma eram sobretudo solteiros ou divorciados) que, quando existe um

nível muito elevado de distress familiar associado ao impacto da depressão, o casal acaba

por se separar; quando tal não acontece, é porque o sistema conjugal conseguiu, de

alguma forma, encontrar formas de lidar com a depressão de um dos seus membros. Isto

explicaria os níveis de satisfação conjugal da amostra, tal como a importância do suporte

conjugal e da vinculação tendencialmente segura como recursos do sistema, e da

utilização de estratégias de coping familiar mais eficazes. Parece-nos importante em

futuras investigações considerar também indivíduos deprimidos não casados e analisar se

o seu estado civil, está de alguma forma relacionado com a existência de uma depressão

clínica. Contudo salientamos, desde já, que estes dados nos permitem apenas uma

primeira análise à amostra de casais, o que nos impede de formular qualquer tipo de

conclusões e, portanto, de rejeitar já as hipóteses propostas na fase inicial do nosso

estudo. Também há que ter em consideração que, são os casais minimamente satisfeitos e

adaptados, aqueles que aceitam os dois participar em investigações deste tipo, em casal;

14 Contudo, isto não significa que a maioria dos indivíduos que constituem a presente amostra tenham um padrão de vinculação seguro, mas apenas que, em média e para a totalidade da amostra, o conjunto dos valores de cada uma das dimensões da vinculação amorosa, aponta para um estilo seguro de vinculação.

Page 157: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

157

caso contrário, é mais provável, que pelo menos um deles recuse participar, o que

inviabiliza logo a sua inclusão na amostra e aconteceu no presente estudo.

Seguiu-se uma análise do efeito de algumas variáveis sócio-demográficas e

clínicas no conjunto das variáveis em estudo. Estas análises permitiram observar que o

sexo do cônjuge deprimido tem influência nas dimensões da vinculação amorosa do

cônjuge não deprimido, no sentido em que os homens não deprimidos apresentam valores

mais elevados de confiança e mais baixos de ambivalência relativamente às mulheres não

deprimidas. Estes resultados estão de acordo com o observado por Dudek e colaboradores

(2001). No seu estudo sobre o impacto da depressão nos cônjuges dos sujeitos

deprimidos, os autores constataram que as mulheres de indivíduos deprimidos

apresentam mais padrões de pensamento depressivo, mais sentimentos negativos,

pensamentos mais pessimistas, sentimentos de falta de controlo, maior frequência de

pensamentos negativos automáticos e menor auto-estima, relativamente aos maridos de

indivíduos deprimidos. No nosso estudo as variáveis em causa são a confiança e a

ambivalência na relação conjugal, as quais estão directamente ligadas à percepção que se

tem da relação conjugal e do que o outro dá à relação. De alguma forma, podemos inferir,

tal como Dudek e colaboradores, que maridos e mulheres de indivíduos deprimidos

experienciam a depressão do seu companheiro de forma distinta e, portanto, o impacto

que a depressão tem no cônjuge não deprimido está, pelo menos em parte, relacionado

com o facto das mulheres terem uma orientação mais forte do que os homens para as

necessidades e desejos das pessoas que lhes são mais próximas (Eisenberg & Lennon,

1983), sendo mais vulneráveis às dificuldades inerentes.

Verificou-se que os relacionamentos conjugais com duração inferior a um ano, ou

superior a 25 anos são aqueles cujo nível de satisfação conjugal, em qualquer um dos

níveis, é mais baixo. Da mesma forma, Argyle e Furnham (1983, cit por Feeney, Nooler

& Ward, 1997) constataram que casais mais jovens apresentavam níveis mais baixos de

satisfação e níveis mais elevados de conflito relativamente a casais mais velhos. Por outro

lado, Thomas, Fletcher & Lange (1997) defendem que, à medida que aumenta o tempo de

casamento, os casais tornam-se menos motivados para resolver as suas disputas, as suas

teorias da relação vão-se rigidificando, e tendem a partir do princípio de que sabem o que

o parceiro está a pensar. Assim, os casais mais velhos tendem a sentir-se mais

Page 158: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

158

insatisfeitos com o passar dos anos de vida em comum. Estes dados corroboram os

encontrados no nosso estudo.

A variável tipo de depressão exerce efeitos significativos ao nível da dimensão

evitamento no cônjuge deprimido, no sentido em que os indivíduos com o diagnóstico de

episódio depressivo apresentam níveis mais baixos de evitamento relativamente aos

indivíduos com o diagnóstico de perturbação persistente do humor. De facto, os

indivíduos com perturbação persistente do humor apresentam flutuações no seu humor

que persistem por muito tempo, em certos casos, durante a maior parte da vida, o que

gera níveis de sofrimento e incapacidade consideráveis no próprio (WHO, 1992) e, se

pensarmos de acordo com o modelo sistémico, em todos aqueles que estão à sua volta. É,

pois, plausível pensarmos que este nível de sofrimento condicione severamente a

vivência da relação conjugal e que os indivíduos com este tipo de depressão apresentem

comportamentos mais evitantes relativamente ao seu parceiro, na medida em que o

desajustamento conjugal e a desilusão se vão acentuando com o passar dos anos

(Merikangas et al, 1985), e que tal surja como uma forma de adaptação do próprio sujeito

deprimido.

Por outro lado, os cônjuges de indivíduos com o diagnóstico de perturbação

depressiva recorrente apresentaram níveis significativamente mais elevados de

evitamento, relativamente aos cônjuges dos indivíduos com outros tipos de depressão. A

perturbação depressiva recorrente caracteriza-se pela ocorrência repetida de episódios

depressivos (WHO, 1992). Verifica-se que os cônjuges de indivíduos deprimidos

apresentam níveis mais elevados de stress (Benazon, 2000), de frustração e ressentimento

(Fadden et al, 1987) e de isolamento social (Halgin & Lovejoy). Os casais com um

membro deprimido avaliam mais negativamente o seu parceiro, referem ter menos

expressões de afecto, especialmente, de afecto físico (Coyne et al, 2002). Se

acrescentarmos os dados de Biilings e Moos (1985) que concluíram que os indivíduos

com depressão em remissão referem menos relações próximas relativamente aos

indivíduos que nunca estiveram deprimidos, parece-nos lógico colocar a hipótese de que

os cônjuges de indivíduos com perturbação depressiva recorrente, ao longo de cada surto

depressivo do seu companheiro, se vão afastando progressivamente, de forma a

Page 159: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

159

conseguirem lidar com as dificuldades daí decorrentes e adoptem comportamentos mais

evitantes relativamente à sua relação conjugal.

Ainda no que concerne aos efeitos do tipo de depressão nas variáveis em análise,

verificou-se que os casais com diagnóstico de episódio depressivo, percepcionam níveis

mais elevados de suporte conjugal e de satisfação conjugal (em qualquer dimensão),

relativamente aos casais com outros diagnósticos de depressão. Estes dados vão no

sentido do que foi referido anteriormente para o evitamento. Apesar do desgaste no casal

gerado pela presença de sintomatologia associada ao episódio depressivo, o facto de se

tratar de um primeiro episódio, terá permitido a estes casais encontrarem formas mais

eficazes para lidarem com a depressão, sendo que um dos recursos é, com certeza, o nível

de suporte conjugal (mais elevado, conforme adiantam os resultados). De facto, a

investigação tem demonstrado que, com o passar do tempo, a sintomatologia depressiva

vai-se tornando progressivamente aversiva para as pessoas próximas aos indivíduos

deprimidos (Coyne & Doweney, 1991), o que tende a condicionar a sua disponibilidade

para oferecer suporte emocional e instrumental o que, por sua vez, poderá conduzir a um

agravamento da depressão no cônjuge (Brown & Harris, 1978) num processo de

circularidade sistémica.

Outro dado obtido na nossa investigação foi a constatação de que os casais com

diagnóstico de perturbação depressiva recorrente recorrem mais ao suporte de vizinhos,

do que os casais com o diagnóstico de episódio depressivo. Tendo em consideração que a

procura de suporte dos vizinhos foi a estratégia de coping menos referida pelos casais

para lidarem com a situação de depressão15, é curioso que os casais com uma perturbação

depressiva recorrente se destaquem dos demais pela utilização deste tipo de apoio. Pode

especular-se que, ao longo dos vários episódios depressivos, os casais foram utilizando

outro tipo de estratégias para lidarem com a situação mas que, como se revelaram

ineficazes (o que pode ser comprovado pela recorrência da depressão), e havendo um

desgaste nas outras fontes de apoio, passaram a socorrer-se do suporte de pessoas menos

próximas como forma de ultrapassar as dificuldades associadas à depressão e já, por

15 O facto da procura de suporte nos vizinhos ser a estratégia de coping menos utilizada pelos casais, pode dever-se a razões culturais. Nas zonas urbanas (zona de residência dos casais constituintes da nossa amostra), o contacto entre os vizinhos tende a ser mais escasso, logo há menor probabilidade de se recorrer a estes para a resolução dos problemas.

Page 160: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

160

várias vezes ao longo deste trabalho, referidas. Seria interessante, em futuras

investigações, compreender o que motiva estes casais a solicitarem apoio nos vizinhos,

diferenciando-os dos outros grupos de casais com depressão.

Ao nível das associações entre as variáveis, verificou-se que quanto mais elevados

são os níveis de confiança (de ambos os cônjuges), de dependência (do cônjuge

deprimido) e de suporte conjugal do casal, maior é a sua satisfação, o que nos indica que,

estas variáveis são indicadores de adaptação do casal à depressão de um dos seus

membros. A utilização de estratégias de coping do tipo reenquadramento, pelo casal, está

também associada a níveis mais elevados de satisfação conjugal. Pelo contrário, níveis

mais elevados de ambivalência e de evitamento (de ambos os cônjuges) estão

correlacionados com níveis mais baixos de satisfação conjugal. Estes resultados estão de

acordo com o que tem vindo a ser descrito na literatura científica, no que se refere ao

estilo de vinculação segura poder ser considerado um recurso na forma de lidar com os

acontecimentos de vida (Mikulincer & Florian, 1998; Meyers & Landsberger, 2002), na

medida em que níveis elevados de confiança e de dependência e níveis mais baixos de

ambivalência e de evitamento estão presentes sobretudo em padrões de vinculação

segura. Da mesma forma, níveis mais elevados de suporte conjugal facilitam o processo

de recuperação da doença (Beach, Sandeen & O’Leary, 1990; Harris, Pistrang & Barker,

2006), logo a adaptação do casal à mesma. Estes dados confirmam a hipótese que

colocámos – H4 – de que níveis mais elevados de suporte conjugal estariam associados a

níveis mais elevados de satisfação conjugal e, portanto, de melhor adaptação à depressão.

A utilização de estratégias de reenquadramento, consideradas estratégias de assimilação,

são igualmente um factor apontado na literatura com estando associado à forma como a

recuperação da depressão é efectuada (Schock & Gavazzi, 2005). A inovação introduzida

neste estudo foi a unidade de análise que, ao invés de ser o indivíduo deprimido ou o seu

parceiro, é o casal. E, o que se constata, é que o casal apresenta de facto recursos, que não

são só individuais, para lidar com a situação de depressão.

Procurámos igualmente analisar a distribuição dos sujeitos deprimidos pelas

variáveis em estudo, de acordo com o seu protótipo de vinculação amorosa e concluímos

que, tal como a investigação tem demonstrado (Carnelley et al.1994; Bifulco et al,2002;

Whiffen et al, 2001), e de acordo com a nossa hipótese (H1), existe uma grande

Page 161: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

161

prevalência de indivíduos com um estilo de vinculação inseguro (81% da amostra),

sobretudo amedrontados (40%) e preocupados (30%). Os indivíduos seguros e

preocupados referem níveis mais elevados de suporte conjugal e de satisfação conjugal,

relativamente aos indivíduos amedrontados e desinvestidos; os indivíduos seguros

diferenciam-se dos indivíduos inseguros, também pela sua preponderância em utilizar

estratégias de reenquadramento para lidar com a depressão.

Uma das hipóteses que colocámos foi a de que os indivíduos deprimidos com

vinculação segura apresentariam valores superiores de satisfação conjugal. Em parte, foi

corroborada pelos dados obtidos no estudo, uma vez que os indivíduos amedrontados e

desinvestidos apresentaram níveis de satisfação conjugal significativamente mais baixos

dos que os dos indivíduos deprimidos com vinculação segura. Contudo, não se

verificaram diferenças significativas entre os indivíduos seguros e os indivíduos

preocupados, facto que vai contra o que a investigação tem encontrado neste domínio,

que é o de todos os estilos de vinculação inseguros estarem associados a níveis mais

baixos de satisfação conjugal (Banse, 2004; Meyers, & Landsberger, 2002). Os

resultados relativos à percepção de suporte conjugal no casal seguem o mesmo padrão

dos resultados obtidos com a satisfação conjugal. Uma vez mais, a literatura aponta os

indivíduos seguros como percepcionando níveis mais elevados de suporte social (Collins

& Feeney, 2004), na medida em que os indivíduos estão predispostos para avaliar as

experiências de suporte de forma consistente com os seus modelos operantes de

vinculação; contudo, os indivíduos inseguros são descritos como avaliando as mensagens

sobre o suporte social de forma mais negativa (ibidem), o que contraria os nossos

resultados de que o nível de suporte conjugal do casal é semelhante para os indivíduos

deprimidos com vinculação segura e com vinculação preocupada. Podemos supor que,

pelo facto dos indivíduos preocupados possuírem um modelo positivo dos outros e

negativo do self, partindo do princípio que têm um modelo positivo de cônjuge, parece

plausível acreditarmos que percepcionem o seu companheiro como fornecedor de

cuidados e apoio, o que explicaria o seu nível mais elevado de percepção de suporte

conjugal no casal e de satisfação conjugal. Parece-nos que seria muito pertinente a

replicação destes resultados em investigações posteriores, de forma a comprovar estes

novos dados que vêm contrariar o que até então era referido sobre os indivíduos

Page 162: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

162

preocupados. Não nos podemos esquecer que uma das grandes limitações deste estudo é

número de casais que constituem a amostra de investigação, e que isso poderá estar a

condicionar os resultados obtidos.

No que concerne à utilização de estratégias de coping, Myeres e Vetere (2002), já

tinham concluído que os indivíduos seguros referiam possuir mais recursos emocionais e

sociais. Feeney (2004) observou, de forma semelhante ao que nos foi dado constatar, que

os adultos seguros utilizam sobretudo estratégias de procura de suporte social e de coping

focado no problema. De facto, as estratégias de reenquadramento, dizem respeito por um

lado, à avaliação que a família faz dos problemas e da sua capacidade para os resolver e,

por outro, à sua percepção da mudança inerente às situações geradoras de stress, como

sendo mais positiva, mais negativa ou mais neutra (McCubbin, Larsen e Olson, 1981, cit

por Olson et al, 1985)

Relativamente aos cônjuges não deprimidos, encontrámos uma distribuição pelos

quatro padrões de vinculação, que diferem dos habitualmente obtidos na população sem

perturbação (Bartholomew & Horowitz, 1991; Matos et al, 2001). Assim, observámos

que 29.8% incluíam-se num protótipo seguro, 22.8% foram considerados preocupados,

45.6% amedrontados e apenas 1.75% foram classificados como evitantes. Uma vez que

se tratou do primeiro estudo a explorar a vinculação amorosa dos cônjuges de indivíduos

deprimidos, apenas podemos levantar pistas que expliquem estes resultados. Assim,

tendo em conta que a conjugalidade do casal com um membro deprimido pode ser

bastante afectada ao nível da sua intimidade (Basco et al, 1992), dos processos

comunicacionais (Coyne et al, 2002; Heene et al, 2003), dos processos comportamentais

(Gotlib & Whiffen, 1989), e sabendo que uma das características do sistema de

vinculação é proporcionar as necessidades básicas de segurança ao parceiro (Hazan &

Shaver, 1994), é muito possível que nestes sistemas conjugais, tal função do sistema de

vinculação seja posto, de alguma maneira, em causa. Ou seja, o cônjuge não deprimido

provavelmente não sentirá apoio por parte do seu companheiro, que está doente e que não

está disponível para o fazer, o que poderá conduzir a um aumento da insegurança na

relação. Não nos devemos esquecer que cada relação traz uma oportunidade para

revermos os nossos modelos operantes internos (Feeney, 2003), e que a relação conjugal

com um indivíduo deprimido pode comprometer o grau de segurança do sistema de

Page 163: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

163

vinculação. Até porque a natureza do modelo operante interno de um indivíduo afecta o

seu próprio comportamento e o modelo operante interno e o comportamento do seu

cônjuge (Berman et al, 1994).

Não nos foi possível analisar o efeito do cluster nos cônjuges não deprimidos,

para cada uma das variáveis pelo facto de num dos grupos (desinvestido) existir apenas

um sujeito. Consideramos que, uma vez que não existe investigação anterior, seria

precipitado da nossa parte, especular sobre eventuais efeitos do cluster para cada uma das

variáveis. Em futuras investigações, seria importante recolher uma amostra maior

(possivelmente mais diversificada) que permitisse efectuar este tipo de análise.

Procurou-se, por fim, avaliar o papel da congruência das respostas do casal nas

diversas variáveis em estudo e verificou-se que os casais com maior sintonia nas suas

respostas no que se refere à utilização de estratégias de reenquadramento reportavam

níveis mais elevados de satisfação conjugal. Para as restantes variáveis, a distância nas

respostas do casal não revelou ser um factor a considerar para a adaptação conjugal. Este

resultado indica que, no que se refere às estratégias de coping familiar, a percepção da

utilização das mesmas pelo casal é mais sensível às respostas de cada um dos cônjuges.

Assim, uma possível interpretação para estes resultados, está relacionada com a

percepção que cada membro do casal faz acerca da estratégia de coping que o casal

utiliza para lidar com a situação. Provavelmente, os casais que apresentam uma maior

congruência nas suas respostas, efectivamente utilizam estratégias de reenquadramento

para lidarem com a depressão e isso possibilita-lhes uma melhor adaptação à doença.

Quando a distância das respostas dos cônjuges é mais pronunciada, tal pode ser resultado

de percepções distintas acerca do que o casal faz para lidar com a depressão, mas também

pode indicar que cada cônjuge atribui graus de importância diferentes a cada estratégia de

coping, e tal acaba por condicionar a adaptação do casal.

Em síntese, trata-se de um estudo exploratório que, apesar das limitações

metodológicas que referiremos adiante, permite algumas conclusões importantes para a

intervenção psicológica com estes casais.

Uma das principais conclusões é o facto de se dever construir intervenções

adaptadas ao tipo de depressão, na medida em que, casais com um diagnóstico de

episódio depressivo, adaptam-se de forma distinta à sua situação clínica, relativamente a

Page 164: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

164

casais com um diagnóstico de perturbação depressiva recorrente ou casais com um

diagnóstico de perturbação persistente do humor. É importante respeitar as idiossincrasias

de cada tipo específico de depressão e introduzi-las no seu tratamento. E a necessidade de

se elaborar intervenções adequadas ao diagnóstico específico da depressão decorre de um

dado-chave da investigação: a importância de se atribuir importância à conjugalidade no

processo de tratamento do indivíduo com depressão, uma vez que não existe apenas um

indivíduo deprimido mas todo um sistema conjugal afectado pela doença psicológica

mais comum do século XXI.

Por outro lado, verificou-se existirem associações importantes entre o estilo de

vinculação amorosa (ou as suas dimensões), o suporte conjugal e a utilização de

estratégias de coping do tipo reenquadramento com a variável satisfação conjugal. Isto

vem reforçar a importância que se deve atribuir ao cônjuge não deprimido na recuperação

da depressão do seu companheiro. Os resultados da nossa investigação mostram que o

desenvolvimento de algumas competências no casal com um dos membros deprimidos é

muito importante para uma evolução positiva do quadro clínico do cônjuge deprimido,

nomeadamente no que respeita à vinculação amorosa [e actualmente já existem modelos

de intervenção com vista à «restauração» da vinculação – cf. revisão de literatura de

Johnson & Whiffen (2003)], ao suporte conjugal e à utilização de estratégias de coping

funcionais.

Os processos de adaptação do casal à depressão são com certeza muito mais

diversificados e complexos dos que apresentámos neste trabalho de investigação. Estas

são apenas algumas das variáveis possíveis, que certamente concorrem para a explicação

do como e do porquê de haver casais mais bem adaptados a estas realidades do que

outros. Gostaríamos que este trabalho fosse o ponto de partida para novas investigações,

para novos olhares para esta realidade tão dura e sofrida como é a experimentada

diariamente por tantos e tantos casais…

Page 165: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

165

3.2 – Reflexão Crítica sobre o Estudo

Ainda que uma das mais-valias deste estudo que consideramos ter sido o facto de

estarmos a estudar o casal, e não as percepções isoladas de cada um dos seus membros (o

que se enquadra na perfeição na linha sistémica de interpretação da realidade humana),

esta investigação não está isenta de limitações, as quais deverão ser analisadas e

ultrapassadas em futuros trabalhos.

Assim, ao nível da validade externa, as limitações estão implícitas na dimensão e

representatividade da amostra. Trata-se de um amostra constituída por apenas 57 casais,

cuja representatividade não está dimensionada para a população deprimida existente, pelo

que não podemos realizar extrapolações abrangentes para a população em geral. Como é

óbvio, será difícil conseguir outra amostra perfeitamente idêntica à amostra utilizada

neste estudo o que implica dificuldades na replicação dos resultados.

O facto de se tratar de um estudo transversal, também condiciona de forma

importante a interpretação dos dados. Não podemos inferir causalidade entre as diversas

análises em estudo, logo, os resultados obtidos podem ser interpretados de mais do que

um ponto de vista – por exemplo, a satisfação conjugal, considerada na nossa

investigação a variável resultado e o indicador de adaptação conjugal, pode ela própria

intervir no processo de adaptação do casal à depressão. Por conseguinte, seria muito

pertinente replicar estes resultados, mas recorrendo a um estudo longitudinal, no qual

fosse controlada o factor evolução.

A escolha da variável satisfação conjugal também é ela própria polémica, uma

vez que existem outros indicadores de adaptação como é o caso do nível de distress do

casal. Optou-se pela satisfação conjugal por se tratar da variável mais estudada no âmbito

da conjugalidade e por ser sistematicamente utilizada neste tipo de investigação.

Outra das limitações importantes, foi o não controlo dos níveis de depressão de

ambos os cônjuges. Assumimos que o diagnóstico psiquiátrico seria por si só um bom

indicador do quadro clínico de depressão e optámos, para não alongar o questionário que

já ficou extenso, por não incluir nenhuma medida da depressão. Em futuras investigações

considerarmos fundamental o controlo da variável nível de depressão de cada um dos

cônjuges, no momento da recolha da amostra.

Page 166: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

166

Uma outra variável que não foi controlada e pode ter algum impacto é o

recasamento. Cada vez é mais comum, os membros de casais divorciados voltarem a

partilhar uma vida a dois, e as dificuldades que estão associadas a este tipo de casais

pode, de alguma forma, condicionar a adaptação do casal à depressão.

O facto da metodologia se basear exclusivamente em questionários de auto-relato

também constitui uma limitação metodológica. Em estudos futuros, seria muito útil

considerar a possibilidade de recorrer a metodologias qualitativas, designadamente a

entrevista individual e ao casal, que beneficiam o aprofundamento dos resultados.

No entanto, apesar das limitações consideradas, o estudo representa um avanço na

compreensão dos factores inibidores e facilitadores do processo de adaptação do casal à

depressão, na medida em que permite extrair algumas conclusões úteis para a intervenção

psicológica realizada junto destes casais.

Page 167: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

167

3.3 - Palavras Finais…

Elaborar um trabalho de investigação é sempre um desafio! Por muitos que se

façam, há sempre a novidade e a incerteza, que convidam à dúvida, à pesquisa, à

curiosidade, à vontade, à dedicação, à capacidade de estar atento ao que se está a passar!

É realmente um desafio!

Quando se olha o mundo através de uns óculos que consideramos «especiais»

(outros terão outros óculos e os deles serão especiais para eles…), a vontade de conhecer

sempre os vários lados da questão obriga a complicações acrescidas. E aqui surgiu a

primeira certeza e a primeira grande dificuldade – a certeza que quero saber mais dos

casais que têm um membro deprimido, a certeza que quero as ideias dos dois (afinal já

são duas certezas!) e a dificuldade de chegar até eles! Aos dois! Enfim, consegui chegar a

57 casais. Dada a limitação temporal para a realização deste trabalho, foi bastante bom.

Claro que não permite grandes generalizações, não se trata de um trabalho com um

impacto grande no conhecimento dos factores que facilitam ou que inibem a adaptação

do casal à depressão… mas é um início, pelo menos para quem se interessar pelos

dois…pelo casal… não só por um…foi o nosso caso!

Penso que atingimos os objectivos a que nos propusemos com o desenvolvimento

deste trabalho de investigação, embora, e voltamos a reforçar esta ideia, a realidade que

vislumbramos sobre estes casais, foi parcelar, e a partir de um par de «óculos» que é

apenas mais uns dos vários à disposição dos estudiosos da conjugalidade. No entanto,

estamos certos de que apesar de todas as limitações que já referimos, se trata de uma

investigação actual, pertinente e inovadora pelo facto de nos ter interessado o subsistema

conjugal no seu todo e não apenas as percepções de cada um dos seus membros. Estamos

crentes de que este estudo empírico «abriu» janelas para campos de investigação ainda

pouco explorados no nosso país. Seria, pois, muito interessante explorar conjugalidade

dos casais que experimentam uma crise desencadeada pelo diagnóstico de depressão,

numa amostra substancialmente maior, controlando os níveis de depressão de ambos os

cônjuges (até porque a investigação indica-nos que, frequentemente, o cônjuge não

deprimido acaba também por se deprimir), recorrendo a uma metodologia que envolva

métodos quantitativos e qualitativos (o que permite uma compreensão mais profunda da

Page 168: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

168

área em análise), através de um design longitudinal, de forma a, por um lado aceder à

causalidade dos fenómenos e, por outro, observar o modo como o processo de adaptação

de cada casal vai acontecendo. Com toda a certeza que nem todos os casais bem

adaptados, se adaptam seguindo caminhos iguais ou ritmos semelhantes.

Também consideramos ser da maior utilidade, a abordagem deste tema por outros

investigadores, eventualmente que utilizem «óculos» diferentes dos nossos, para que os

dados que obtivemos fossem ampliados, enriquecidos e se tornassem pistas robustas para

intervir no tratamento dos casais nesta condição.

Porque acima de tudo temos de saber falar, saber ouvir, saber estar com o outro,

quaisquer que sejam as circunstâncias da nossa vida…

Page 169: Quando Um cônjuge Está Deprimido - Tm

169

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190

ANEXOS

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191

Adaptação Conjugal às Perturbações Psicológicas

O objectivo da investigação para a qual estamos a pedir a sua colaboração é compreender a forma como os casais se apoiam quando um dos seus membros está em tratamento por uma doença psicológica. A sua participação neste estudo é muito importante para que possamos encontrar meios complementares de apoio às famílias com membros com doenças psicológicas. Não existem respostas certas ou erradas; interessa-nos conhecer a forma como, no momento actual, o casal se apoia para lidar com as dificuldades que surgiram com a doença. Pedimos-lhe pois que responda com sinceridade a todas as questões, não deixando nenhuma sem resposta. Tente que as suas respostas a uma questão não influenciem a resposta a outras questões. As suas respostas são anónimas e confidenciais e têm um fim de investigação. Apenas a equipa de investigadores terá acesso às mesmas para posterior tratamento da informação.

C.D. ___/___ ICD _______

3. Escolaridade 1º ciclo ___ 2º ciclo ___ 3º ciclo ___ Secundário ___ Superior ___

1. Sexo Feminino ___ Masculino___

2. Idade 18-30 ___ 31-45 ___ 46-65 ___ + 65 ___

4. Tipo de Relação Conjugal União de Facto ___ Casamento ___

5. Duração da Relação Conjugal - 1 ano ___ 1-6 ___ 7-15 ___ 16-25 ___ + 25 ___ 6. Número de Filhos 0 ___ 1 ___ 2 ___ 3 ___ + 3 ___

9. Há quanto tempo o médico lhe disse que tinha uma doença psicológica (ou dos nervos)? 1 mês ___ 1-3 meses ___ 3-6 meses___ 6-12 meses ___ 1-2 anos ___ + 2 anos ___

10. Já esteve internado por causa da doença? Não ___ Sim ___ Quanto tempo? ___

11. Tem alguma doença física grave? Não ___ Sim ___ Qual? __________________

12. O seu cônjuge tem alguma doença física grave? Não ___ Sim ___ Qual? _______________

8. Actualmente, está com baixa psiquiátrica? Não ___ Sim ___ Há quanto tempo? ______

7. Actualmente, está desempregado? Não ___ Sim ___ Há quanto tempo? __________

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192

Adaptação Conjugal às Perturbações Psicológicas

O objectivo da investigação para a qual estamos a pedir a sua colaboração é compreender a forma como os casais se apoiam quando um dos seus membros está em tratamento por uma doença psicológica. A sua participação neste estudo é muito importante para que possamos encontrar meios complementares de apoio às famílias com membros com doenças psicológicas. Não existem respostas certas ou erradas; interessa-nos conhecer a forma como, no momento actual, o casal se apoia para lidar com as dificuldades que surgiram com a doença. Pedimos-lhe pois que responda com sinceridade a todas as questões, não deixando nenhuma sem resposta. Tente que as suas respostas a uma questão não influenciem a resposta a outras questões. As suas respostas são anónimas e confidenciais e têm um fim de investigação. Apenas a equipa de investigadores terá acesso às mesmas para posterior tratamento da informação.

C.S. ___/___

1. Sexo Feminino ___ Masculino___

2. Idade 18-30 ___ 31-45 ___ 46-65 ___ + 65 ___

4. Tipo de Relação Conjugal União de Facto ___ Casamento ___

5. Duração da Relação Conjugal - 1 ano ___ 1-6 ___ 7-15 ___ 16-25 ___ + 25 ___

9. Há quanto tempo o médico diagnosticou uma doença psicológica (ou dos nervos) ao seu cônjuge? 1 mês ___ 1-3 meses ___ 3-6 meses___ 6-12 meses ___ 1-2 anos ___ + 2 anos ___

10. O seu cônjuge já esteve internado por causa da doença? Não ___ Sim ___ Quanto tempo? ___

11. Tem alguma doença física grave? Não ___ Sim ___ Qual? __________________

7. Actualmente, está desempregado? Não ___ Sim ___ Há quanto tempo? __________

8. Actualmente, está com baixa psiquiátrica? Não ___ Sim ___ Há quanto tempo? ______

3. Escolaridade 1º ciclo ___ 2º ciclo ___ 3º ciclo ___ Secundário ___ Superior ___

6. Número de Filhos 0 ___ 1 ___ 2 ___ 3 ___ + 3 ___

12. O seu cônjuge tem alguma doença física grave? Não ___ Sim ___ Qual? _______________

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EASAVIC16 Pense na sua relação conjugal. Utilize a seguinte escala de modo a expressar o que sente relativamente a cada questão. Para cada um dos itens deverá escolher a afirmação da escala que melhor descreve o que você sente, assinalando o número correspondente com uma cruz.

Escala de resposta

às questões

1 = Nada Satisfeito

2 = Pouco

Satisfeito

3 = Razoavelmente

Satisfeito

4 = Satisfeito

5 = Muito Satisfeito

6 = Completamente

Satisfeito

Questões 1 2 3 4 5 6 1. O modo como gerimos a nossa situação financeira 2. A distribuição de tarefas domésticas 3. O modo como tomamos decisões 4. A distribuição de responsabilidades 5. O modo como passamos os tempos livres 6. A quantidade dos tempos livres 7. O modo como nos relacionamos com os amigos 8. O modo como nos relacionamos com a família do meu cônjuge 9. O modo como nos relacionamos com a minha família 10. A minha privacidade e autonomia 11. A privacidade e autonomia do meu cônjuge 12. A nossa relação com a minha profissão 13. A nossa relação com a profissão do meu cônjuge 14. A frequência com que conversamos 15. O modo como conversamos 16. Os assuntos sobre os quais conversamos 17. A frequência dos conflitos que temos 18. O modo como resolvemos os conflitos 19. O que sinto pelo meu cônjuge 20. O que o meu cônjuge sente por mim 21. O modo como expresso o que sinto pelo meu cônjuge 22. O modo como o meu cônjuge expressa o que sente por mim 23. O desejo sexual que sinto pelo meu cônjuge 24. O desejo sexual que o meu cônjuge sente por mim 25. A frequência com que temos relações sexuais 26. O prazer que sinto quando temos relações sexuais 27. O prazer que o meu cônjuge sente quando temos relações sexuais 28. A qualidade das nossas relações sexuais

16 Narciso & Costa, 1996

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Escala de resposta

às questões

1 = Nada Satisfeito

2 = Pouco

Satisfeito

3 = Razoavelmente

Satisfeito

4 = Satisfeito

5 = Muito Satisfeito

6 = Completamente

Satisfeito

Questões 1 2 3 4 5 6 29. O apoio emocional que dou ao meu cônjuge 30. O apoio emocional que o meu cônjuge me dá 31. A confiança que tenho no meu cônjuge 32. A confiança que o meu cônjuge tem em mim 33.A admiração que sinto pelo meu cônjuge 34. A admiração que o meu cônjuge sente por mim 35. A partilha de interesses e actividades 36. A atenção que dedico aos interesses do meu cônjuge 37. A atenção que o meu cônjuge dedica aos meus interesses 38. Os nossos projectos para o futuro 39. As minhas expectativas quanto ao futuro da nossa relação 40. As expectativas do meu cônjuge quanto ao futuro da nossa relação 41. O aspecto físico do meu cônjuge 42. A opinião que o meu cônjuge tem sobre o meu aspecto físico 43. As características e hábitos do meu cônjuge 44. A opinião que o meu cônjuge tem sobre as minhas características e hábitos

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Questionário de Relações Amorosas17 Este questionário descreve diferentes maneiras das pessoas experienciarem as relações amorosas. Leia atentamente cada uma das frases e seleccione os números de 1 a 6 que melhor indique o modo como se sente na relação com o(a) seu(sua) cônjuge.

Escala de resposta

às questões

1 = Discordo

Totalmente

2 = Discordo

3 = Discordo Moderadamente

4 = Concordo Moderadamente

5 = Concordo

6 = Concordo Totalmente

Questões 1 2 3 4 5 6 1. O(a) meu(minha) cônjuge respeita os meus sentimentos 2. Fico muito nervosa(o), se não o(a) consigo encontrar quando preciso dele(a) 3. O apoio dele(a) não é muito importante para mim. Sei que sou capaz de resolver as coisas sozinha(o)

4. Gostava de ser a pessoa mais importante para ele(a), mas não tenho a certeza se o sou

5. O(a) meu(minha) cônjuge compreende-me 6. Só consigo enfrentar situações novas, se ele(a) estiver comigo 7. É-me indiferente quando ele(a) prefere passar o tempo com outras pessoas 8. Ás vezes sinto admiração por ele(a), outras vezes não 9. Fico irritada(o) quando combinamos coisas juntos e ele(a) não pode estar comigo

10. Não sei o que me vai acontecer se a nossa relação terminar 11. Na minha vida pessoal, a minha relação amorosa é secundária 12.Sei que posso contar com o(a) meu(minha) cônjuge sempre que precisar dele(a)

13.Sinto-me posta(o) de lado quando ele(a) decide passar o tempo com outras pessoas

14.Discutir assuntos com ele(a) é uma perda de tempo e não leva a lado nenhum

15.Quando não podemos estar juntos, sinto-me abandonada(o) 16.Para me sentir bem comigo própria(o) são mais importantes outras coisas do que o(a) meu(minha) cônjuge

17.Desagrada-me a maneira de ser do(a) meu(minha) cônjuge 18.Sei que quando a minha relação terminar, isso não me vai afectar muito 19.Ele(a) dá-me coragem para enfrentar situações novas 20.Fico furiosa(o) quando preciso de apoio e verifico que não posso contar com o(a) meu(minha)cônjuge

21. Eu e o(a) meu(minha) cônjuge é como se fôssemos um só

17 Matos, Barbosa & Costa, 2001; versão revista

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Escala de resposta

às questões

1 = Discordo

Totalmente

2 = Discordo

3 = Discordo Moderadamente

4 = Concordo Moderadamente

5 = Concordo

6 = Concordo Totalmente

Questões 1 2 3 4 5 6 22. Fico muito nervosa(o) ao pensar que posso perder o meu(minha) cônjuge 23. Prefiro que ele(a) me deixe em paz e não ande sempre atrás de mim 24.Não gosto de lhe pedir apoio, porque sei que nunca me compreenderia 25. Ele(a) tem uma importância decisiva na minha maneira de ser 26.Tenho sempre a sensação que a nossa relação vai terminar 27.Sempre achei que, apesar de gostar do(a) meu(minha) cônjuge, não vou sentir muito a falta dele(a) quando a relação terminar

28.Ás vezes acho que ele(a) é fundamental na minha vida, outras vezes não 29.Confio nele(a) para me apoiar em momentos difíceis da minha vida 30.Quando tenho problemas, nem sempre gosto de procurar o meu(minha) cônjuge

31. Tenho dúvidas se sou realmente importante para ele(a) 32.Quando não podemos estar juntos, eu não sei o que fazer 33.Quando tenho um problema, só o facto de pensar nele(a) põe-me mais calma(o)

34.Não preciso dos cuidados do meu(minha) cônjuge 35.O(a) meu(minha) cônjuge faz-me sentir bem comigo própria(o) 36.Ele(a) desilude-me muitas vezes 37.As minhas conversas com ele(a) não me trazem nada de novo 38.Quando vou a algum sítio desconhecido, sinto-me melhor se ele(a) for comigo

39.Apesar da minha relação ser importante, muitas vezes sinto-me sozinha(o) 40.Quando algo de grave acontece comigo, prefiro não estar perto dele(a) 41.Ele(a) não me dá a atenção que eu gostaria 42.Ele(a) aceita-me como eu sou 43.Apesar de haver coisas que não gosto no(a) meu(minha) cônjuge, no fundo eu gostaria de ser igual a ele(a)

44.Quando tenho um problema prefiro ficar sozinha(o), a procurar o(a) meu(minha) cônjuge

45.Não fico aborrecida(o) se não pudermos fazer férias juntos 46.Gostava que ele(a) me ligasse mais 47.Tenho medo de ficar sozinha(o), se perder o(a) meu(minha) cônjuge 48. As relações terminam sempre, mais vale eu não me envolver 49. O(a) meu(minha) cônjuge só pensa em si próprio(a) 50. É fundamental para mim que ele(a) concorde com aquilo que eu penso 51. Ele(a) é apenas mais uma das pessoas com quem estou no dia-a-dia 52.O(a) meu(minha) cônjuge incentiva-me a fazer coisas diferentes

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F-COPES18

O F-COPES foi criado para inventariar atitudes e comportamentos de Resolução de Problemas que as famílias desenvolvem como respostas a problemas ou dificuldades. Responda por favor às seguintes questões, seleccionando um dos números de 1 a 5 que melhor indique o seu grau de concordância com as afirmações.

Escala de resposta às questões

1 = Discordo Muito

2 = Discordo Moderadamente

3 = Não Concordo

nem Discordo

4 = Concordo Moderadamente

5 = Concordo Muito

Quando na nossa família nos confrontamos com problemas ou dificuldades comportamo-nos da seguinte forma:

1 2 3 4 5 1. Compartilhamos as nossas dificuldades com os familiares 2. Procuramos o encorajamento e o apoio de amigos 3. Sabemos que temos capacidade para resolver os problemas mais importantes 4. Procuramos informações e conselhos de pessoas de outras famílias que passaram por problemas semelhantes

5. Procuramos conselhos de parentes próximos (avós, etc.) 6.Procuramos auxílio de instituições criadas para ajudar famílias numa situação como a nossa

7. Sabemos que a nossa família tem recursos próprios para resolver os nossos problemas

8. Recebemos ofertas e favores de vizinhos (comida, etc.) 9.Pedimos aos nossos vizinhos que nos façam favores e nos dêem assistência 10. Encaramos os problemas de frente e procuramos soluções de forma activa e rápida

11. Vemos televisão 12. Mostramos que somos fortes 13. Frequentamos a igreja e vamos à missa 14. Aceitamos os acontecimentos perturbadores como parte integrante da vida 15.Partilhamos as nossas preocupações com os amigos íntimos 16. Sabemos que a sorte tem um papel importante na resolução dos nossos problemas familiares

17. Aceitamos que as dificuldades aconteçam de forma inesperada 18. Convivemos com a família (jantares, encontros, etc.)

18 H.C. McCubbin, D.H.Olson & A. S. Larsen, 1981; versão portuguesa de Vaz Serra, Firmino, Ramalheira & Canavarro, 1990; versão revista FPCE-UL

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Escala de resposta às questões

1 = Discordo Muito

2 = Discordo Moderadamente

3 = Não Concordo

nem Discordo

4 = Concordo Moderadamente

5 = Concordo Muito

1 2 3 4 5 19. Procuramos conselho e ajuda profissional para resolver as dificuldades familiares

20. Acreditamos que podemos lidar com os nossos próprios problemas 21. Participamos em actividades religiosas 22. Definimos o problema familiar de uma forma mais positiva de maneira a que não nos sintamos demasiado desencorajados

23. Perguntamos aos nossos familiares o que sentem sobre os problemas com que nos defrontamos

24. Procuramos o conselho de um padre 25. Partilhamos os problemas com os nossos vizinhos. 26. Temos fé em Deus

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Qualidade das Relações – QRI19 Por favor, responda às questões de modo a descrever a sua relação com o(a) seu(sua) cônjuge, utilizando para tal a seguinte escala:

Questões 1 2 3 4

1. Em que medida pode recorrer ao seu cônjuge para o aconselhar acerca de problemas que possa ter?

2. Em que medida poderia contar com o seu cônjuge para o ajudar com um problema?

3. Em que medida pode contar com o seu cônjuge para lhe dar uma opinião honesta, mesmo que você possa não a querer ouvir?

4. Até que ponto poderia contar com o seu cônjuge para o ajudar se um familiar seu muito próximo morresse?

5. Se você quisesse sair e fazer alguma coisa esta noite, em que medida está confiante em que o seu cônjuge estaria disposto a fazer alguma coisa consigo?

6. Em que medida pode contar com o seu cônjuge para o ouvir quando está muito zangado com outra pessoa?

7. Em que medida pode realmente contar com o seu cônjuge para o distrair das suas preocupações quando se sente sob stress?

19 Moreira e colaboradores, 2002

Escala de resposta às questões

1 = Nada 2 = Um Pouco

3 = Bastante 4 = Muitíssimo