Quatorze previsões para o futuro da aprendizagem Litto

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CATORZE PREVISÕES PARA O FUTURO DA APRENDIZAGEM FREDRIC M. LITTO Recentemente, alguém me solicitou um trabalho de “bola de cristal”— tentar distinguir diferenças na educação do futuro, num horizonte de uns quinze anos. Evidentemente, teria que me concentrar em características fundamentais (as superficiais seriam apenas cosméticas, não essenciais), aquelas resultantes de muita pesquisa sobre cognição humana e avanços tecnológicos. Quanto mais pensei sobre a questão, mais cheguei à conclusão de que o modelo educacional que prevalece entre nós, em relação àquilo que a ciência sabe sobre o funcionamento da mente humana especialmente com relação aos processos de aprendizagem e às tecnologias já disponíveis no mercado, está defasado e nem de longe aproveitadas na educação formal. Será que dentro de quinze anos esta lacuna será eliminada, e o sistema de educação formal estará absolutamente em dia com as novas descobertas sobre a cognição e com relação à tecnologia? Ou, infelizmente, o que é mais provável, a lacuna crescerá, fazendo das instituições de educação formal lugares de “faz-de-conta”, divorciados do mundo real, enquanto instituições de aprendizagem não-formal (auto-aprendizagem com e sem o emprego de educação a distância, aprendizagem no local do trabalho, aprendizagem “em-cima-da-hora”, ou “na hora certa”) serão os lugares de capacitação atualizada, através de pedagogias super-modernas? Acredito que estamos encaminhando para um cenário educacional pluralista, que oferecerá um leque grande de abordagens ao processo de aquisição de conhecimento e de habilidades. Escolas e universidades com características tradicionais, como são hoje,

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Artigo sobre tópicos apresentados pelo Dr. Frederic Litto - Presidente da Associação Brasileira de Ensino à Distância, durante mesa-redonda "Novos Rumos da Educação", realizada no CAPE em 15/10/2009.

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CATORZE PREVISÕES PARA O FUTURO DA APRENDIZAGEM FREDRIC M. LITTO

Recentemente, alguém me solicitou um trabalho de “bola de cristal”— tentar

distinguir diferenças na educação do futuro, num horizonte de uns quinze anos.

Evidentemente, teria que me concentrar em características fundamentais (as superficiais

seriam apenas cosméticas, não essenciais), aquelas resultantes de muita pesquisa sobre

cognição humana e avanços tecnológicos. Quanto mais pensei sobre a questão, mais

cheguei à conclusão de que o modelo educacional que prevalece entre nós, em relação

àquilo que a ciência sabe sobre o funcionamento da mente humana especialmente com

relação aos processos de aprendizagem e às tecnologias já disponíveis no mercado, está

defasado e nem de longe aproveitadas na educação formal.

Será que dentro de quinze anos esta lacuna será eliminada, e o sistema de

educação formal estará absolutamente em dia com as novas descobertas sobre a cognição

e com relação à tecnologia? Ou, infelizmente, o que é mais provável, a lacuna crescerá,

fazendo das instituições de educação formal lugares de “faz-de-conta”, divorciados do

mundo real, enquanto instituições de aprendizagem não-formal (auto-aprendizagem com

e sem o emprego de educação a distância, aprendizagem no local do trabalho,

aprendizagem “em-cima-da-hora”, ou “na hora certa”) serão os lugares de capacitação

atualizada, através de pedagogias super-modernas?

Acredito que estamos encaminhando para um cenário educacional pluralista, que

oferecerá um leque grande de abordagens ao processo de aquisição de conhecimento e de

habilidades. Escolas e universidades com características tradicionais, como são hoje,

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nesta primeira década do terceiro milênio, para alegria de pais e alunos nostálgicos, vão

sempre existir. Mas está ficando cada vez mais claro que o futuro pode trazer, para a

maioria dos aprendizes, os benefícios de uma nova forma de atuação educacional, que

saiba aproveitar, inteligentemente, as novas tecnologias e os novos conceitos de

aprendizagem. Estão listados a seguir alguns indicadores de elementos estruturais que a

educação (em todos os seus níveis) poderia ter, se deixássemos de lado os preconceitos

do passado da sociedade em geral, o corporativismo da classe de profissionais do ensino,

e o pensamento fossilizado dos burocratas da área educacional.

1 – Avaliação e avanço do aluno baseados na demonstração de competência na matéria

estudada, e não no tempo de permanência em sala de aula; assim, um “curso” pode

durar 3 horas, 3 dias ou 3 semanas, e não necessariamente 3 meses; o “semestre”

desaparecerá, e novos cursos começarão semanalmente, quando tiveram trinta alunos

inscritos em cada um.

2 – Diminuição da divisão radical entre ensino médio, ensino superior e pós-graduação,

permitindo aos alunos fazer cursos mediante demonstração de capacidade intelectual,

habilidade artística, e vontade.

3 - O aluno será responsável, no todo ou em parte, pela montagem do elenco de

disciplinas que quer cursar, mesmo ciente de que, eventualmente, terá que prestar

exame do conselho regional da área profissional escolhida.

4 - O aluno escolherá o sistema de aprendizagem que quiser: totalmente presencial

(sala de aula), a distância (tv ou Internet), ou uma combinação desses sistemas.

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5 - O aluno receberá um diploma que, assim como o passaporte, terá validade por tempo

limitado, requerendo novos cursos para revalidação.

6 - O conteúdo dos cursos não será mais baseado no conceito de “informação de possível

uso, caso seja nesessário no futuro” (“just-in-case”), mas, sim, de “como encontrar

a melhor solução para problemas no momento em que eles surgem” (“just-in-

time”).

7 - Haverá grande uso de tecnologia, com alunos fazendo todos os seus trabalhos em

multimídia, e professores orientando-os sobre questões de interpretação de

conteúdo. Os alunos também orientarão os professors sobre questões de design

moderno e atalhos tecnologicos.

8 - Com a expansão internacional da Internet de 3a Geração, já funcionando no Canadá

[40 gigabytes por segundo; ver www.canarie.ca], será possível, para alunos e

professores, ter acesso, gratuito ou pago, a todos os grandes e pequenos

repositórios de conhecimento do mundo, derrotando, assim, a limitação atual de

livros-texto desatualizados e o isolamento da sala de aula como conhecemos hoje.

9 - Com e-books (livros eletrônicos) e e-papers (folhas que recebem da rede cargas

elétricas com informação, que pode ser apagada e as folhas reaproveitadas) não

haverá necessidade de colecionar livros — tudo estará disponível sob demanda

(implicando certo custo, ou mesmo de graça). O livro não desaparecerá, mas

continuará como instrumento pessoal, especialmente útil para conhecimento que

não necessita de atualização constante (obras de literatura e documentos

históricos).

10 - O histórico escolar do aluno será composto de cursos feitos em muitas instituições, a

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sua escolha: algumas locais e outras continentalmente distantes.

11 - A educação não-formal, feita via Internet, através de “comunidades de prática”

compostas de especialistas espalhados pelo mundo, competirá com êxito com a

educação formal, similar à que vemos hoje.

12 - A influência controladora de ministérios e secretarias de educação será substituída

por auto-regulamentação institucional em bases regionais e internacionais.

13 - Alunos que assim o desejarem, poderão fazer, via Internet, um curso (com diploma

de bacharel ou mestrado) totalmente automatizado, sem a interferência de

professores humanos, a não ser que estes sejam especificamente requisitados

(como já existe na University of Southern Queensland, na Austrália—

www.usq.edu.au ).

14 – As primeiras experiências de laboratório surgirão com “chips” implantados no

cérebro de seres vivos, permitindo a “entrega de conhecimento” quando

solicitado, via satélite ou outros meios sem fio, como no filme “Matrix”.

Nota-se que a condição de laboratório implica viabilidade; portanto, não

configurando ainda uma prática comum.

Alguém quer fazer uma aposta comigo sobre estas previsões? Melhor: por que

precisamos esperar 15 anos para seu acontecimento? Todas são factíveis e viáveis hoje.

O que está nos proibindo de implantá-las? Você, caro leitor, sabe muito bem.....