Que ponha o véu 1Co 11.1-16 - Pr. Fabiano Ferreira

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    Pastor Fabiano Ferreira, Ph.D

    KKKKAAAATAKATAKATAKATAKALUPTLUPTLUPTLUPTEEEESQWSQWSQWSQW 

    Que Ponha o Véu!

    .111116161616 

    Fabiano Antonio Ferreira

    Philadelphia, USA

    2010

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    Copyright©2000 por Fabiano Antonio FerreiraTodos os direitos reservados.

    Proibida a reprodução por quaisquer meios,a não ser em citações breves, com indicação da fonte.

    Diagramação: Fabiano Antonio FerreiraIlustração da Capa: Fabiano Antonio Ferreira

    Revisão: Fabiano Antonio Ferreira e Maria Antonia Gallete FerreiraImpressão e Acabamento: Artes Gráficas Kirios Ltda.

    F383q

    1a edição: Abril/2000

    O autor se sentirá feliz por sabersua opinião a respeito desta obra.

    Pedidos e contatos poderão ser feitosatravés dos seguintes meios:

    Cartas:Pr. Fabiano Antonio FerreiraRua Laura, 19 - Engenheiro Pedreira – Japeri - RJ

    CEP 26.455-010Tel: (0XX21) 2664-8335

    e-mail: [email protected].

    Outras Obras do autor:• Pastor – Um ensaio sobre o ser e o fazer do Ministério Pastoral• Como enfrentar os mistérios da vida & Impecilhos ao verdadeiro

    discipuladoImpresso no Brasil / Printed in Brazil 

    Ferreira, Fabiano Antonio.Que ponha o véu! – A correta interpretação de I Co 11:1-16

    à luz do texto grego original e do verdadeiro transfundohistórico / Fabiano Antonio Ferreira.Japeri, RJ : F. A. Ferreira, 2000.

    84p. ; 30cmISBN 85-901278-2-6Inclui bibliografia.1.  Bíblia. N.T. Coríntios – Crítica, interpretação, etc.2.  Véus na Bíblia 3. Vestuário – Aspectos religiosos –Cristianismo. I. Título.

    CDD-206

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    PREFÁCIO

     Jamais eu poderia imaginar que escreveria meu segundo

    livro tratando de um assunto como este. QUE PONHA O VÉU é um livro, por sua própria natureza, polêmico. Não sou muitochegado a polêmicas, isto não me faz muito bem. Aliás, aapologética geralmente desgasta excessivamente aqueles que seenvolvem com ela, é por isso que quase sempre eu procurodesvencilhar-me dela.

    Entretanto, fui convidado a participar de um debatenuma conceituada emissora evangélica do Rio de Janeiro, 93

    FM, e de repente chegou um e-mail ao moderador AlbertoBrizola de um ouvinte perguntando se na Igreja que euapascento  as mulheres usam véu durante a adoração. Aresposta foi “sim”, para o espanto dos ouvintes, dosdebatedores que compunham a mesa e do apresentador dodebate. Quando me perguntaram “Por que?”, a resposta foimais simples ainda: “Porque está na Bíblia e nós obedecemos aoque prescreve o Novo Testamento quanto à maneira de as

    mulheres se apresentarem no culto de adoração”.Como eu não podia esperar, uma cantora  gospel

    famosíssima do Rio, Marina de Oliveira, que compunha a mesanesse dia narrou algumas experiências suas ocorridas quandocantou em Igrejas onde o corpo feminino da Igreja usa o véu,dizendo que, em ambientes assim, ela e suas amigas cantorasquase se sentiram constrangidas a usar o véu quando cantavam

    nessas Igrejas, pelo menos para não ficarem tãodescontextualizadas da prática dessas Igrejas. Além disso, eladisse que, pelo menos aparentemente, “essas irmãs que usamvéu parecem mais santas”. Certamente, essa foi a impressãoque ficou em sua mente ao ver as moças e as irmãs casadas comblusas de manga comprida e saia ou vestido no meio dotornozelo, com a cabeça coberta com véu. E, com um pouco dedúvida, acrescentou: “Dizem que o cabelo é o véu, hoje em

    dia”.

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    Então, inesperadamente, surgiu a proposta de um pastorconhecidíssimo do Rio, Silas Malafaia, que também compunhaa mesa, de que nós debatêssemos a questão da obrigatoriedade

    ou não do uso do véu pelas mulheres nas Igrejas de nossos dias.Eu, de pronto, aceitei o convite.Como sempre faço antes de qualquer debate, entrei em

    meu escritório e separei vários livros de minha vasta biblioteca,lendo tudo quanto pude acerca do assunto. Comecei fazendouma minuciosa análise morfossintática e estilística do textogrego de I Co 11.1-16, reconstruindo o sentido através dacontraposição ao transfundo histórico da passagem,

    reconsiderando os motivos de escrita e procurando reavaliar aintencionalidade comunicativa do autor. Preparei uma traduçãodeste texto direta do grego. Li e reli várias vezes o texto gregodessa passagem, a ponto de quase memorizá-lo totalmente, echeguei até mesmo a gravá-lo em fita cassete para poder ouvi-lono carro. Li as versões latina e aramaica (servi-me do textointerlinear da American Christian Press e da versão aramaicaPeshitta com Tradução do aramaico para o hebraico da The

    Aramaic Scriptures Reasearch Society in Israel). Li as váriasversões inglesas que possuo, as versões espanholas antigas emodernas. Li a tradução alemã da vulgata latina feita porMartinho Lutero. Li a tradução do Dr. Franz Delitzcsh, dogrego para o hebraico. Li a tradução em hebraico moderno daBible Society in Israel. Li os escritos dos Pais da Igreja. Li oCommentary on the New Testament from the Talmud and

    Hebraica, de Lightfoot. Li vários comentários dos reformadores,dentre os quais destaco a obra de João Calvino, principalmenteo volume XX sobre esta passagem. Li o The Expositor’s GreekTestament, como também o Interpreter’s Bible. Li O NovoTestamento Interpretado Versículo Por Versículo, do RussellChamplin. Fiz inúmeras consultas em Léxicos do NT grego e noTheological Dictionary of New Testament, em 10 volumes. Vouparar por aqui, porque se não você não vai ter fôlego para ir até

    o fim do livro.

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    Pois bem, depois de todo esse esforço, senti-meimpulsionado a anotar minhas análises, a fim de coordenarmelhor meus argumentos no dia do debate. Escrevi tudo e

    esperei chegar o dia em que iríamos discutir a questão se asmulheres cristãs de hoje devem ou não devem usar véu quandoadoram a Deus. Se fosse convencido do contrário, a Igreja emEngenheiro Pedreira, no Rio de Janeiro, juntamente com maisoutras 39 Igrejas no Brasil e Argentina que militam na Obra daRestauração de Tudo iriam abolir essa prática definitivamente,visto que somos muito coerentes em nossos pontos de vista e oque nos interessa é obedecer ao que a Bíblia diz. Se fosse

    provado pela Bíblia que estávamos errados, imediatamentepassaríamos uma circular para todas as nossas Igrejasinformando nossa nova e infeliz descoberta.

    É bom informar ao leitor que eu estava absolutamenteconvencido de que o uso do véu pelas mulheres cristãs édeterminação divina para a Igreja em todas as épocas queantecedem o dia da eternidade. Porém, como seria defendidano debate outra posição, eu estava aberto,  e pretendo sempre

    estar   e até disposto a mudar de posição, se me provassemhaver qualquer inconsistência em minha posição quanto aoreferido texto.

    Finalmente, o dia do debate chegou. A expectativa dosouvintes era grande demais. Quem é que estava com a razão?As irmãs devem ou não usar o véu no culto? Todas as dúvidasseriam tiradas e a verdade das Escrituras, obviamente,

    prevaleceria.Porém, ao chegar no estúdio, fui informado que o outrodebatedor, o Pr. Silas Malafaia, por motivo de força maior, nãopôde comparecer. Logo no início do debate, eu disse aosmilhares de ouvintes que estava preparado para defender meuspontos de vista. Os outros debatedores que compunham a mesatambém disseram que estavam prontos. Então, eu falei: Vamoscomeçar, mesmo na ausência de quem propôs o debate!  Mas

    foram apresentadas desculpas aos ouvintes e também aalegação de que havia outros temas para serem discutidos

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    naquele dia, de maneira que o Debate do Véu, como ficouconhecido, seria deixado para outra ocasião. Até hoje nãoaconteceu! Por que? Só Deus sabe e eu suspeito que o Silas

    Malafaia correu para não arranhar a imagem.Contudo, pensando em você que ficou curioso em sabero que eu iria dizer é que resolvi publicar este livro. Aqui vai aíntegra de minha compreensão do texto de I Co 11.1-16, que falaacerca do uso do véu pelas servas de Deus.

    Sei que muitos serão esclarecidos e outros ficarão umpouco aborrecidos, pois procurei ser claro, preciso e sempreverdadeiro, fugindo, obviamente, do consenso quase universal

    e errôneo imposto pela prática da Igreja evangélicacontemporânea. Por não estar condicionado a nenhuma escolade interpretação teológica, a menos nos pontos em que hajatotal acordo com a verdade da Bíblia, pude falar o que muitos játiveram vontade e não tiveram coragem, sendo obrigados atorcer as Escrituras. Meu compromisso, porém, é com Deus ecom sua Palavra. Esta liberdade me faz muito bem, não só amim, mas a todos os homens e mulheres livres de Deus, pois eu

    não teria coragem de falsear ou de negar o claro ensino daBíblia para satisfazer a imposições de quem quer que seja, poispara mim, a Bíblia é o livro mais importante e sério, que merevelou meu amado Jesus e seu glorioso projeto de salvação.Prefiro estar confinado aos estreitos limites que ele me impôs,mesmo que isso me custe muitas perdas aparentes, a falsear ou,muito pior, mercadejar sua Palavra, a ponto de tornar-me mais

    um camelô de uma graça barata e sem garantia, tendênciaavassaladora de nosso tempo. Não nasci para isso, querido!Aliás, dou graças ao meu Deus que me teve por fiel,

    pondo-me no Ministério. Não posso esquecer-me do profundoabismo de que ele me tirou. Meu desejo é que sempre eu possaamá-lo e honrá-lo, principalmente quando exponho sua Palavraa milhares e milhares através de escritos e preleções, masprincipalmente através da melhor contextualização que eu

    posso fazer dela: minha vida. Não posso acrescentar nem

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    diminuir nada à sua Palavra, pois, como o encararia naquelegrande dia, quando estaremos diante de seu trono. E comoviver dando desculpas estapafúrdias à minha sensível

    consciência?Para os pastores eu diria que, no meu livro anterior,Pastor     Um Ensaio sobre o Ser e o Fazer do Ministério Pastoral,procurei apresentar algumas diretrizes para os pastores em suapreparação pessoal e suas atividades com o rebanho, indodesde a vocação até ao cuidado que se deve ter depois dechamado, quando já envolvido no labor pastoral propriamentedito. Este presente livro, entretanto, e outros da mesma

    natureza que em breve publicarei, permitindo o Senhor, lançaalgumas luzes sobre o fazer exegético do ministério pastoral.Haverá também outros livros que servirão para lançar luzessobre os fazeres expositivo e homilético  do ministériopastoral, ainda que você sempre sentirá como demonstro emmeus escritos que exegese, exposição e homilética sãointerdisciplinares e possuem uma impregnação mútua.

    Se o leitor sentir dificuldade em acompanhar meus

    argumentos na Parte 1, por não saber ler o grego koiné, peçaauxílio a alguém que saiba ou então não se incomode com isso,pois certamente em nada ficará prejudicada a leitura. Se quiser,inverta a forma de leitura do livro e comece pela Parte 2, poisela prescinde do conhecimento de grego. Em seguida, voltepara a Parte 1. Que esta análise leve você a concluir com amaior autoridade da fé cristã de todos os tempos, o Apóstolo

    Paulo: Que ponha o véu!  Pr. Fabiano Ferreira. 

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    D E D I C A Ç Ã O 

    asev ubhcr 

    Este livro é dedicado

    In Memoriam

    ao Pastor Jair Rosa da Conceição,

    meu pai no ministério, amigo e

    mestre nas Escrituras da Verdade,

    vocacionado, chamado e capacitado

    por Deus para o exercício de um

    frutífero ministério pastoral

    que, segundo minha leitura,

    ultrapassou até mesmo

    em importância e em magnitude

    ao ministério dos grandes reformadores.

    [asev ubhcr Rabêinu Haqadósh (Nosso mestre santificado) – Título dehonra dado pelos judeus aos grandes intérpretes do Tanach, Antigo

     Testamento. Oferecemos este título em homenagem póstuma ao Pr Jair Rosada Conceição, grande intérprete das Escrituras Sagradas]

    Teus filhos prosseguem na luta!

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    ____________________ ÍNDICE _________________ Prefácio ................................................................................... 03Índice ...................................................................................... 09Prolegômenos ...................................................................... 11

    Parte 1 Exegese de Coríntios 11.1-16.......................... 15 

    Introdução..................................................................... 21Exegese de Coríntios 11.1-16....................................... 23

    I. O Louvor do Apóstolo pela retenção das tradições...... 25II. O argumento baseado em Teologia (hierarquia na

    criação e na ordem na criação....................................... 41III. O argumento baseado na presença dos anjos nas

    reuniões da Igreja.......................................................... 47IV. Reforçando o argumento baseado em teologia (A

    ordem da criação).......................................................... 51V. O argumento baseado na natureza e no senso de

    propriedade dos coríntios.............................................. 52VI. Fechando a questão....................................................... 58

    Parte 2 Exposição da doutrina do uso do véu ........... 65 

    I. Base da doutrina............................................................ 67II. O motivo da desobediência à doutrina do uso do véu,

    a resposta do Apostolo Paulo e o restabelecimento dadoutrina. ....................................................................... 68

    III. Um símbolo de autoridade – Por que as mulheres

    cristãs devem usar o véu quando da adoração e terseus cabelos crescidos? ................................................ 70IV. Dois versículos altamente vitimados por

    interpretações desonestas: o 15 e o 16......................... 73Bibliografia .................................................................. 78

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    PROLEGÔMENOS

    Quero começar apresentando algumas reflexões do Dr.

    Russell Norman Champlin, extraídas de suas duas maioresobras até o momento, a saber, a Enciclopédia de Bíblia Teologiae Filosofia (EBTF) e sua opus magnum  O Novo TestamentoInterpretado Versículo por Versículo (NTIVV). Acompanhe-o.

    “Uma das lições que aprendemos na obra Interpreter’s Bible éque, na inquirição do conhecimento, muito temos a aprender atémesmo da parte daqueles com quem não concordamos completamentequanto à posição teológica, sobre vários assuntos. Uma outra coisa que

    ali podemos aprender é que podemos dizer coisas sem ódio e semcontenção, e, mesmo assim, asseverar o que queremos. Os autoresdessa obra tentaram temperar sua linguagem, não entrando em choquedesnecessário com aqueles que não pertenciam à sua linha de

     pensamento teológico. No mundo inteiro não há coisa alguma tãoimportante quanto à lei do amor. Isso deveria levar-nos a aprender ausar de moderação e gentileza naquilo que dizemos, mesmo quandosentimos que é necessário protestar contra algum parecer”. (Russell

    Champlin in EBTF, Vol 1, pág 802)

    “Diz-nos Sofós (sábio) – Pouca dúvida pode haver acerca do poder do intelecto de transformar. Certamente buscamos mais queisso, mas seremos mais pobres se o NEGLIGENCIARMOS. Acima detudo, o intelecto bem treinado age como freio das tendências desabridase dos desvios pela tangente, que alguns permitem que controle a suaespiritualidade. Os meios espirituais, por certo, não estão em

    competição entre si. Encha a sua biblioteca de bons livros. Aprendaum idioma extra ou dois, se preciso, para que se possa avantajar emsua sabedoria. Entregue-se totalmente a esses estudos, para que seu

     proveito se torne patente para todos. Não tenhamos receio de ler livrosespirituais que contenham informes com os quais não concordamos.Não somos os únicos guardiões do conhecimento espiritual. Podem-seachar gemas de valor incalculável em lugares os mais inesperados.Vale a pena pesquisar o lixo se se pode encontrar uma pérola de

    ‘grande valor’. Nosso intelecto bem treinado e nosso senso espiritual

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    nos guiarão e protegerão. Não fiquemos surpresos se nos tornarmosmenos SECTÁRIOS do que antes. Não nos surpreendamos, mas nosaproveitemos de nossos novos discernimentos. Há muitos mestres,mortos e vivos, que falam por intermédio de bons livros. Pode-seaprender muito aos pés deles. Alguns deles são tão grandes que nuncase poderá encontrar coisa igual durante a vida inteira. Alguns dessesmestres não pertencem à nossa denominação. Não obstante, sãomestres. Ficaremos surpresos e satisfeitos com aquilo que nos podemensinar. PERTENCEM A CRISTO, e, por causa disso, têm boascoisas para transmitir-nos. Aprender deles é aprender de Cristo, e issoé essencial para nossa inquirição espiritual. Não sejamos mentalmente

     preguiçosos. O estudo é TRABALHO ÁRDUO. É por essa razão que poucos estudam. Apesar de que o treinamento do intelecto não ébastante, também não basta o da experiência. Uma experiência semdisciplina pode ser um desastre.

    ...Por que se pensaria ser vergonhoso aprender o que outremescreveu, ou transmitir a erudição dele a outros? Talvez sua erudiçãoseja mais profunda do que a nossa; talvez sua espiritualidade, que eletransmite através de seu livro, é superior à nossa.

    Estudemos para considerar e não para condenar. Ninguém é padrão de juízo. Não desprezemos qualquer verdade que exalte aCristo, embora, a princípio, possa parecer incomum e estranha paranós. Lembremo-nos de que todas as denominações representam algumtipo particular de figura parada da verdade. O rio da verdade é maislargo e mais profundo do que qualquer quadro parado do mesmo.Estejamos dispostos, pois, a aprender de outros, através de livros ou deoutros modos. Há um rio que flui do trono de Deus. Fiquemos em suas

    águas. Trata-se do rio da vida” (Russell Champlin in NTIVV, Vol1, pág 245).Após esses prolegômenos necessários, vejamos o que o

    texto de I Co 11.1-16 nos tem a ensinar. Não sou o dono daverdade, mas a verdade é que se assenhoreou de mim, a pontode obrigar-me a escrever estas páginas. Desarme-se de qualquerpreconceito, arme-se de espírito crítico, pesando e medindocada afirmação, pedindo ao Espírito de Deus que o conduza a

    toda a verdade. Se meus argumentos expressam a verdade

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    acerca da questão, leitor, o que fazer depois é com você e comDeus. Do contrário, se não fui o suficiente claro em algummomento, comunique-me, pois estou aberto a quaisquer

    considerações, desde que revelem o mesmo nível da abordagemaqui apresentada. Quero dizer com isto que estou aberto àconsideração de qualquer outra tradição interpretativa que nãotenha considerado ao longo desta discussão.

    Qualquer dúvida, escreva-me, pois terei o imenso prazerde esclarecê-lo, na medida do possível. Nada melhor do queconsultar o autor do livro para saber o que ele realmente estáquerendo dizer em seu escrito. Somos irmãos em Cristo,

    querido, jamais permita que o ódio teológico invada o seucoração, pois a maior de todas as virtudes teológicas é o amor. Écontraditório falar-se de ódio teológico, mas temos visto,penalizados, este  paradoxo no meio evangélico, principalmentenos debates. Irmãos se odiando por causa de “teologia”. Queteologia é essa, querido? O amor é unificador e restaurador.

    Oh, Deus, que carne e sangue fossem tão baratos

    Que os homens odiassem e matassem,Com línguas de vileza... por causa de...“teologia”.

    Russell Champlin

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    PARTE 1 

    EXEGESE DE 1 CORÍNTIOS 11.1-16

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    Que ponha o véu!

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    I Coríntios 11.1-16

    Grego1ι  ητα   ου  γνεσθε  καθς  καγ  Χριστο.

    2 παιν  δ   ς  τι  πντα  ου  νησθε   κα, καθς   παρδωκα   ν, τς παραδσεις  κατχετε. 3 θλω  δ   ς  εδναι   τι  παντς   νδρς    κεφαλ   Χριστς  στιν, κεφαλ   δ  γυναικς    νρ, κεφαλ  δ  το  Χριστο    θες. 4 πς  νρ  προσευχενος     προφητεων   κατ   κεφαλς  χων  καταισχνει  τν  κεφαλν   ατο. 5 πσα   δ  γυν  προσευχονη    προφητεουσα   κατακαλπτ   τ  κεφαλ   καταισχνει  τν  κεφαλν  ατς·  ν  γρ  στιν  κα  τ  ατ  τ  ξυρην. 6 ε  γρ  ο κατακαλπτεται  γυν  κα  κειρσθω·  ε  δ  ασχρν   γυναικ  τ  κερασθαι    ξυρσθαι  κατακαλυπτσθω. 7 νρ   ν  γρ  οκ   φελει  κατακαλπτεσθαι  τν  κεφαλν   εκν  κα  δξα  θεο   πρχων·    γυν  δ δξα   νδρς  στιν. 8 ο  γρ  στιν  νρ  κ   γυνακος  λλ  γυν  ξ νδρς· 9 κα  γρ  οκ   κτσθη  νρ  δι  τν  γυνακα  λλ  γυν  δι  τν νδρα. 10 δι  τοτο  φελει    γυν  ξουσαν   χειν  π  τς  κεφαλς  δι τος  γγλους. 11 πλν  οτε   γυν  χωρς  νδρς  οτε  νρ  χωρς γυνακος  ν   κυρ·   12 σπερ  γρ    γυν  κ   το  νδρς, οτως  κα   

    νρ  δι  τς  γυνακος·  τ  δ  πντα  κ   το  θεο. 13 ν   ν  ατος κρνατε·  πρπον   στν  γυνακα  κατακλυπτον  τ  θε  προσεχεσθαι; 14οδ    φσις  ατ  διδσκει   ς  τι  νρ  ν   ν  κο   τια  ατ   στιν,15 γυν  δ  ν  κο  δξα   ατ  στιν;   τι    κ η  ντ  περιβολαου  δδοται  ατ. 16 Ε  δ  τις  δοκε   φιλνεικος  εναι, ες  τοιατην  συνθειαν  οκ   χοεν   οδ  α  κκλησαι  το  θεο. (NA26)

    (I Coríntios 11.1-16 RA)1 Sede meus imitadores, comotambém eu sou de Cristo.2 De fato, eu vos louvo porque,em tudo, vos lembrais de mime retendes as tradições assimcomo vo-las entreguei.3 Quero, entretanto, que

    saibais ser Cristo o cabeça detodo homem, e o homem, o

    (I Coríntios 11.1-16 RC)1 Sede meus imitadores, comotambém eu, de Cristo.2 E louvo-vos, irmãos, porqueem tudo vos lembrais de mim eretendes os preceitos como vo-los entreguei.3 Mas quero que saibais que

    Cristo é a cabeça de todohomem, e o homem, a cabeça da

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    Pastor Fabiano Antonio Ferreira

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    cabeça da mulher, e Deus, ocabeça de Cristo.

    4 Todo homem que ora ouprofetiza, tendo a cabeçacoberta, desonra a sua própriacabeça.5 Toda mulher, porém, que oraou profetiza com a cabeça semvéu desonra a sua própriacabeça, porque é como se a

    tivesse rapada.6 Portanto, se a mulher não usavéu, nesse caso, que rape ocabelo. Mas, se lhe évergonhoso o tosquiar-se ourapar-se, cumpre-lhe usar véu.7 Porque, na verdade, ohomem não deve cobrir a

    cabeça, por ser ele imagem eglória de Deus, mas a mulher églória do homem.8 Porque o homem não foi feitoda mulher, e sim a mulher, dohomem.9 Porque também o homemnão foi criado por causa damulher, e sim a mulher, porcausa do homem.10 Portanto, deve a mulher,por causa dos anjos, trazer véuna cabeça, como sinal deautoridade.11 No Senhor, todavia, nem a

    mulher é independente dohomem, nem o homem,

    mulher; e Deus, a cabeça deCristo.

    4 Todo homem que ora ouprofetiza, tendo a cabeçacoberta, desonra a sua própriacabeça.5 Mas toda mulher que ora ouprofetiza com a cabeçadescoberta desonra a suaprópria cabeça, porque é como

    se estivesse rapada.6 Portanto, se a mulher não secobre com véu, tosquie-setambém. Mas, se para a mulheré coisa indecente tosquiar-se ourapar-se, que ponha o véu.7 O homem, pois, não devecobrir a cabeça, porque é a

    imagem e glória de Deus, mas amulher é a glória do homem.

    8 Porque o homem não provémda mulher, mas a mulher, dohomem.9 Porque também o homem nãofoi criado por causa da mulher,mas a mulher, por causa dohomem.10 Portanto, a mulher deve tersobre a cabeça sinal de poderio,por causa dos anjos.

    11 Todavia, nem o homem é

    sem a mulher, nem a mulher,sem o homem, no Senhor.

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    Que ponha o véu!

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    independente da mulher.12 Porque, como provém a

    mulher do homem, assimtambém o homem é nascido damulher; e tudo vem de Deus.13 Julgai entre vós mesmos: épróprio que a mulher ore aDeus sem trazer o véu?14 Ou não vos ensina a próprianatureza ser desonroso para o

    homem usar cabelo comprido?15 E que, tratando-se damulher, é para ela uma glória?Pois o cabelo lhe foi dado emlugar de mantilha.16 Contudo, se alguém querser contencioso, saiba que nósnão temos tal costume, nem as

    igrejas de Deus.

    12 Porque, como a mulher

    provém do homem, assimtambém o homem provém damulher, mas tudo vem de Deus.13 Julgai entre vós mesmos: édecente que a mulher ore aDeus descoberta?14 Ou não vos ensina a mesmanatureza que é desonra para o

    homem ter cabelo crescido?15 Mas ter a mulher cabelocrescido lhe é honroso, porque ocabelo lhe foi dado em lugar devéu.16 Mas, se alguém quiser sercontencioso, nós não temos talcostume, nem as igrejas de

    Deus.

    Tradução do Pastor Fabiano Antonio Ferreira(Do original Grego)

    1 Sede meus imitadores como eu sou de Cristo. 2 Eu vos louvoporque em tudo vos lembrais de mim e retendes as tradiçõescomo eu vo-las entreguei. 3 Mas quero que saibais que Cristo éo cabeça de todo homem, o homem é o cabeça da mulher eDeus é o cabeça de Cristo. 4 Todo homem que ora ou profetizacom a cabeça coberta desonra sua própria cabeça, 5 Mas todamulher que ora ou profetiza com a cabeça sem véu desonra asua própria cabeça  pois se coloca no mesmo nível da que foi

    rapada. 6 Portanto, se a mulher não se cobre com véu, ela devetosquiar-se; porém, se para a mulher é desonroso rapar-se ou

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    tosquiar-se, que ponha o véu. 7 O homem não deve ter a suacabeça coberta pois é a imagem e glória de Deus; mas a mulher

    é a glória do homem. 8 Porque o homem não foi feito a partir damulher , mas a mulher do homem 9 Nem o homem foi criadopor causa da mulher, mas a mulher por causa do homem. 10Portanto, a mulher deve ter um símbolo de autoridade sobre acabeça, por causa dos anjos. 11 Todavia, no Senhor, a mulhernão é independente do homem ou o homem independente damulher. 12 Pois, assim como a mulher é proveniente dohomem, da mesma forma o homem é nascido da mulher; mas

    todas as coisas procedem de Deus. 13 Julgai por vós mesmos: épróprio para uma mulher orar a Deus sem véu? 14 Não nosensina a própria natureza que se um homem tiver cabeloscrescidos é uma vergonha para ele, 15 E se uma mulher tivercabelos crescidos, isso é glória para ela? Porque o cabelo foi-lhedado como uma cobertura. 16 Contudo, se alguém estiverdisposto a ser contencioso: nós não temos tal costume, nem asIgrejas de Deus.

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    INTRODUÇÃO

    Dentre as muitas inovações que surgiram na Igreja emCorinto, estava aquela promovida por uma espécie de

     Movimento Pró-Emancipação da Mulher em Cristo. Esse“movimento” fundamentava suas teses no princípio ensinadopelo apóstolo Paulo a todas as Igrejas de que “em Cristo não hámacho nem fêmea, mas todos são um”. Assim, a partir doisolamento desse ensinamento apostólico do conjunto dosensinamentos gerais das Escrituras, elas concluíam que “as

    mulheres estão em um pé de igualdade com o homem, e, porisso, não precisam estar mais sujeitas aos homens e, menosainda, com o véu sobre a cabeça para orar ou profetizar, comoum sinal dessa sujeição”. Se esse “movimento” acontecesse nosnossos dias, é bem provável que essas mulheres promovessempasseatas e até tivessem como seu slogan: “Em Cristo somosiguais, abaixo o uso do véu!”. A história da Igreja em Corintofoi muito impressionante, pois, pelos menos dois grandes males

    universais quase tiveram origem no seu ambiente: asdenominações e o feminismo.

    Então, para solucionar este problema, o apóstolo Pauloretoma a questão doutrinária do uso do véu pelas mulheresquando da adoração e a restabelece fundamentando-a sobreuma base bíblico-teológica consistente e, ao mesmo tempo,responde às objeções do movimento que se radicara no âmbitofeminino da Igreja em Corinto. O texto que trata deste assuntoencontra-se na Primeira Carta aos Coríntios 11.1-16.

    Observaremos que, em nenhum momento, o apóstolo fazmenção a usos e costumes sociais da época para argumentar emfavor de os homens adorarem com a cabeça descoberta e de asmulheres adorarem a Deus tendo o véu sobre a cabeça.Conforme bem observa o Dr. Charles Caldwell Ryrie, Th.D ePh. D, in Bíblia Anotada, nas notas sobre esta passagem de 1Co

    11.2-16, pag. 1446: " As mulheres deveriam trazer sua cabeça coberta,ou usar um véu nas reuniões da Igreja, e os homens deveriam ter a

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    cabeça descoberta. As razões de Paulo eram baseadas em teologia(hierarquia na criação, v. 3, na ordem na criação (vv. 7-9), e na

     presença de anjos nas reuniões da igreja (v. 10). Nenhuma destasrazões estava baseada em costumes sociais da época."

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    EXEGESE DE 1Co 11.1-16 

    Preciso ressaltar aqui, em primeiro lugar, que nossastraduções são suficientes para fazer-nos compreender a vontadede Deus, de maneira que o conhecimento das línguas originaisnão é imprescindível. Podemos descortinar todas as dimensõesdo plano divino de salvação simplesmente através da leitura daBíblia em nosso idioma, desde que possuamos uma boatradução. Todas as suas grandes verdades estão lá expostas demodo acessível a todos os que a lêem com coração aberto e

    suplicando com humildade a iluminação do Espírito Santo.Isso, sim, é imprescindível a todo leitor da Bíblia.Não obstante, a maior parte dos estudiosos da Bíblia

    reconhece que não basta o estudo comparativo de versões, porexemplo. Quando se trata da interpretação de um textoproblemático em que não há consenso, todos são unânimes emdizer que, neste caso, o procedimento correto deve ser o daanálise exegética do texto, que buscará o seu sentido único e

    correto. Então, creio ser útil definir dois conceitos vitaispertencentes ao âmbito da interpretação escriturística, a saber, ode hermenêutica e o de exegese.

    A hermenêutica  é a ciência que prescreve os princípiosuniversais de interpretação do texto sagrado. A exegese  é oestudo do texto bíblico à luz dos princípios hermenêuticos, como propósito de determinar com precisão máxima e absoluta aintenção do escritor original. A exegese genuína deve valer-se,pelo menos, da leitura e interpretação dos textos em suaslínguas originais, e isso exige do intérprete conhecimento daslínguas originais da Bíblia para uma abordagem científica dotexto, da perspectiva do Método Gramático-Histórico dosreformadores, não da perspectiva do Método Histórico-Críticocom seus pressupostos, como também conhecimento dotransfundo histórico da passagem, tanto quanto possível, que

    ele pretende interpretar, ou seja, do background, onde se procede 

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    à reconstrução do ambiente sócio-cultural em que o texto foiproduzido, do Sitz im Leben, do lugar vivencial do texto.

    Foram em meus estudos bíblicos posteriores que vim aaprender com clareza que a hermenêutica é a disciplina queprescreve os princípios de interpretação dos textos da Bíbliareunindo-os, por exemplo, com base em seus respectivosgêneros literários. Portanto, ela instrui a interpretação enarrativas, poesia, Torah (lei), meshalim (literatura sapiencial –ou de sabedoria, como Jó, Provérbios e Eclesiastes), profecia,evangelhos, atos, epístolas e Apocalipse, sendo bem genérico. A

    exegese se vale dos princípios postulados pela hermenêuticapara fazer a interpretação dos textos. A relação entre ahermenêutica e a exegese, escrevendo de uma perspectivareformada, é a mesma que existe entre a teoria e a prática.

    Na maioria das vezes, a exegese é considerada como umafunção do biblista perito, “daquele que, quando completo, é, aomesmo tempo, hebraísta, aramaísta e helenista, daquele cujaformação o armou do conhecimento do lingüista, do crítico de

    texto e do intérprete ou exegeta, tornando-o sensível àsvariadas chamadas de cada um destes campos”1.

    Porém, visto que a Bíblia não foi escrita originalmenteem português, -- o Antigo Testamento foi escrito em hebraico,com exceção dos trechos de Dn 2.4-7.28; Ed 4.8–6.18; 7.12-26; e Jr10.11, que foram escritos em aramaico; e o Novo Testamento foiescrito em grego koiné   todas as dúvidas que eventualmentesurjam em alguma passagem, cuja compreensão corretadependa de interpretação, devem ser tiradas à luz do textooriginal, caso a tradução esteja deficiente ou ambígua, abrindoespaço ao surgimento de múltiplas e variegadas interpretações,como é o caso de I Co 11.1-16. Portanto, analisemos o textogrego desta passagem.

    Versículo 1:

    1 BARRERA, J. T., in A Bíblia Judaica e a Bíblia Cristã , pág 69.

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    1 µιµητα  µου γ  νεσθε καθς καγ Χριστο. 1 Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo.

    Levando-se em consideração o assunto, na verdade, esteversículo pertence ao capítulo dez. Em síntese, o apóstolo estáexortando aos crentes coríntios a imitarem o exemplo deexistência sacrificial de Cristo, que, por sua vez, ele mesmoseguia.

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    I - O LOUVOR DO APÓSTOLO PELA RETENÇÃO DASTRADIÇÕES

    Versículo 2:

    2 παιν  δ  µς τι π ντα µου µµνησθε κα , καθςπαρδωκα µ   ν, τς παραδσεις κατ χετε.

    2 De fato, eu vos louvo porque, em tudo, vos lembrais de mim eretendes as tradições assim como vo-las entreguei. (RA)

    DOUTRINA, COSTUME E TRADIÇÃONO NOVO TESTAMENTO

    Para começar, podemos propor a seguinte questão, a fimde esclarecermos o sentido das palavras doutrina, costume  etradição  no NT, uma vez que esses conceitos são essenciais àexegese do NT e tem escapado à compreensão de muitos

    intérpretes:

    Comente a seguinte assertiva: 

    Disse Nathan Söderblom: "Die Philologie ist dasNadelöhr, durch das jedes theologische Kamel in den Himelder Gottesgelehrheit eingehen muss". Traduzindo: "A filologiaé o fundo da agulha através do qual todo camelo teológico deveentrar nos céus da teologia".

    Em seguida, responda as perguntas:

    QUESTÃO

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    I)  De acordo com a filologia do grego koiné, o quesignificam doutrina, costume e tradição?

    II) 

    A Igreja do Novo Testamento tinhadoutrinas

    ,costumes e tradições?III)  Quais eram as fontes, a natureza e a durabilidade das

    doutrinas  e das tradições  da Igreja do NovoTestamento?

    Solução

    Nesta assertiva, Nathan Söderblom2

      está enfatizando aimportância do conhecimento do sentido preciso das palavrasquando fazemos teologia. O desconhecimento da filologia daslínguas originais da Bíblia pode gerar conceitos os mais errados,oriundos de obsolescência semântica  ou de anacronismosemântico. A filologia bíblica é a parte da lingüística bíblica quese ocupa com o estudo morfo-semântico das palavras, a partirdo corpus  extraído dos textos sagrados em suas línguas

    originais, procedendo a uma abordagem lingüística sincrônica/diacrônica  do AT hebraico-aramaico e do NT grego(dependendo do lapso de tempo considerado), e buscando osentido exato da palavra dentro do corpus em estudo.

    Quando analisamos os textos das Escrituras sematentarmos para o sentido exato das palavras fornecidos pelafilologia, dois tipos de erros é muito comum: a obsolescênciasemântica e o anacronismo semântico.

    A obsolescência semântica é o erro de atribuir-se a umapalavra um sentido que ela possui em uma época anterior. Porexemplo, quando queremos transportar indiscriminadamente osentido que algumas palavras possuíam no grego clássico parao grego koiné do NT. Em virtude do distanciamento, pode ter

    2 SÖDERBLON, Nathan, in A Exegese e suas Falácias - Perigos na interpretaçãoda Bíblia - pág. 25.

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    luz da perspectiva da abordagem lingüísticasincrônica/diacrônica das mesmas, dentro do corpus em estudo.

    Respondamos, pois as perguntas.

    I) De acordo com a filologia do grego koiné, o quesignificam doutrina, costume e tradição?

    Doutrina - No NT, as palavras portuguesas doutrina e ensino são traduções das duas palavras gregas didaskaliva  e didachv.

    Ambas possuem sentidos positivos e negativos. Didaskaliva ocorre 21 vezes no NT e didachv  ocorre 30 vezes. Para nãosermos exaustivos, citamos aqui as precisas definições do Dr.William D. Mounce4:

    didaskaliva, a", hdidaskaliva, a", hdidaskaliva, a", hdidaskaliva, a", h&  - o ato  ou ocupação de ensino, Rm 12.7; I Tm4.13; informação, instrução, Rm 15.4; I Tm 3.16; matéria ensinada,

     preceito, doutrina, Mt 15.9; I Tm 1.10.

    didachdidachdidachdidachv, h'h'h'h'", h", h", h", h&  - instrução, a transmissão de instrução, ensino, Mc4.2; 12.38; instrução, aquilo que é ensinado, doutrina, Mt 16.12; Jo7.16, 17; metonímia modo de ensino e tipo de doutrina ensinada, Mt7.28; Mc 1.27.

    Costume  - Segundo o Dr. Russell Champlin: "Na Bíbliaencontramos uma tradição  estabelecida, orientada por Deus, queentão se torna o costume  do povo (no caso específico, do povo deIsrael; e nos tempos do NT, dos cristãos que seguem a Bíblia), ou seja,um modo fixo de ação (I Sm 2.13 yP§J¦n ), uma norma habitual (I Sm27.11 yP§J¦n ), ou uma forma tradicional (Gn 40.13 yP§J¦n ; Ex 21.9; Jz18.7 yP§J¦n )".5 

    4 MOUNCE, William D., The Analytical Lexicon to the Greek New Testament , pág.144.5 CHAMPLIN, R. N., in Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, Vol. 1, pág.944.

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    5 (Mt 15.2); para&dosin tw~n a0nqrw&pwn, tradição doshomens  , Mc 7.8, ou para&dosin u9mw~n, vossa tradição  (Mc

    7.9, Mt 15.3, 6).Seguem abaixo os textos gregos dessas passagens e suas

    respectivas versões portuguesas.

    Mt 15.2 dia_  ti&  oi9  maqhtai&  sou parabai&nousin th_n para&dosintw~n presbute&rwn; ou0  ga_r ni&ptontai ta_v xei~rav o9  &tan a0  &rtone0sqi&wsin.Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? Poisnão lavam as mãos quando comem pão. (Mateus 15.2 RC)

    Mt 15.3 o9  de_  a0pokriqei_v ei0  ~pen au0toi~v: dia_  ti&  kai_  u9mei~vparabai&nete th_n e0ntolh_n tou~ qeou~ dia_ th_n para&dosin u9mw~n;Ele, porém, respondendo, disse-lhes: Por que transgredis vós tambémo mandamento de Deus pela vossa tradição? (Mateus 15.3 RC)

    Mt 15.6 ou0  mh_  timh&sei to_n pate&ra au0tou~: kai_  h0kurw&sate to_n

    lo&gon tou~ qeou~ dia_ th_n para&dosin u9mw~n.E assim invalidastes, pela vossa tradição, o mandamento de Deus.(Mateus 15.6 RC)

    Mc 7.5 kai_ e 0perwtw~sin au0to_n oi9 Farisai~oi kai_ oi9 grammatei~v:dia_  ti&  ou0  peripatou~sin oi9  maqhtai&  sou kata_  th_n para&dosintw~n presbute&rwn, a0lla_ koinai~v xersi_n e0sqi&ousin to_n a0  &rton;Depois, perguntaram-lhe os fariseus e os escribas: Por que não andam

    os teus discípulos conforme a tradição dos antigos, mas comem comas mãos por lavar? (Marcos 7.5 RC)

    Mc 7.8 a0fe&ntev th_n e0ntolh_n tou~  qeou~  kratei~te th_n para&dosintw~n a0nqrw&pwn.Porque, deixando o mandamento de Deus, retendes a tradição doshomens. (Marcos 7.8 RC)

    Mc 7.9 kai_ e0  &legen au0toi~v: kalw~v a0qetei~te th_n e0ntolh_n tou~ qeou~,i9  &na th_n para&dosin u9mw~n sth&shte.

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    E dizia-lhes: Bem invalidais o mandamento de Deus para guardardes avossa tradição. (Marcos 7.9 RC)

    Mc 7.13 a0kurou~ntev to_n lo&gon tou~ qeou~ th~  | parado&sei u9mw~n h9  ~  | paredw&kate: kai_ paro&moia toiau~ta polla_ poiei~te.invalidando, assim, a palavra de Deus pela vossa tradição, que vósordenastes. E muitas coisas fazeis semelhantes a estas. (Marcos 7.13RC)

    2)  Nas epístolas paulinas, o vocábulo paravdosi"paravdosi"paravdosi"paravdosi" tem doissentidos básicos: um positivo e outro negativo.

    a. O sentido positivo  indica todo o conjunto deensinamentos orais ou escritos que foi transmitido pelaautoridade ministerial apostólica às Igrejas, haja vista que ocânon do NT ainda estava em fase de formação quando daescrita dessas cartas. Nas cartas paulinas, a conotaçãopositiva desse vocábulo tem este sentido amplo, e é referidacomo: as tradições, ta_v parado&seivta_v parado&seivta_v parado&seivta_v parado&seiv  ou a tradição  th_n

    para&dosin (I Co 11.2; 2 Tess 2.15; 2 Tess 3.6).b. O sentido negativo de paravdosi"paravdosi"paravdosi"paravdosi" aponta para dois usosdistintos: i) para a Lei Oral, ou Mishnáh, do judaísmo de seutempo. Ela é referida por Paulo como as tradições de meuspais, tw~n patrikw~n mou parado&sewntw~n patrikw~n mou parado&sewntw~n patrikw~n mou parado&sewntw~n patrikw~n mou parado&sewn (Gl 1.14);ii) para as tradições gnósticas, que são chamadas de atradição dos homens, th_n para&dosin tw~n a0nqrw&pwnth_n para&dosin tw~n a0nqrw&pwnth_n para&dosin tw~n a0nqrw&pwnth_n para&dosin tw~n a0nqrw&pwn  (Cl2.8). O gnosticismo foi aquela seita de caráter filosófico,

    esotérico e misterioso, com manifestações multiformes, queperseguiu a Igreja por um lapso de quase 150 anos, sendofrontalmente combatido pelos apóstolos em várias de suasepístolas, entre as quais citamos Colossenses, I João e IIPedro.

    Eis as passagens das epístolas paulinas onde tal vocábuloocorre:

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    I Co 11.2   0Epainw~ de_ u9ma~v o9  &ti pa&nta mou me&mnhsqe kai&, kaqw_vpare&dwka u9mi~n, ta_v parado&seiv kate&xete.De fato, eu vos louvo porque, em tudo, vos lembrais de mim e

    retendes as tradições assim como vo-las entreguei. (I Coríntios 11.2RC)

    Gl 1.14  kai_  proe&kopton e0n tw~  |  'Ioudai%smw~  |  u9pe_r pollou_vsunhlikiw&tav e0n tw~  |  ge&nei mou, perissote&rwv zhlwth_vu9pa&rxwn tw~n patrikw~n mou parado&sewn.E, na minha nação, excedia em judaísmo a muitos da minha idade,sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais. (Gálatas 1.14

    RC)

    Cl 2.8  Ble&pete mh&  tiv u9ma~v e0  &stai o9  sulagwgw~n dia_  th~vfilosofi&av kai_  kenh~v a0pa&thv kata_  th_n para&dosin tw~na0nqrw&pwn, kata_ ta_ stoixei~a tou~ ko&smou kai_ ou0 kata_ Xristo&n:Tende cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio defilosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo osrudimentos do mundo e não segundo Cristo; (Colossenses 2.8 RC)

    2 Tess 2.15    0  &Ara ou0  ~n, a0delfoi&, sth&kete kai_  kratei~te ta_vparado&seiv a9  _v e0dida&xqhte ei0  &te dia_  lo&gou ei0  &te di' e0pistolh~vh9mw~n.Então, irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos foramensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa. (2 Tess 2.15 RC)

    2 Tess 3.6  Paragge&llomen de_  u9mi~n, a0delfoi&, e0n o0no&mati tou~ kuri&ou 'Ihsou~  Xristou~  ste&llesqai u9ma~v a0po_  panto_v a0delfou~ a0ta&ktwv peripatou~ntov kai_  mh_  kata_  th_n para&dosin h9  _nparela&bosan par' h9mw~n.Mandamo-vos, porém, irmãos, em nome de nosso Senhor JesusCristo, que vos aparteis de todo irmão que andar desordenadamente enão segundo a tradição que de nós recebeu. (2 Tess 3.6 RC)

    II) A Igreja do Novo Testamento tinha doutrinas, costumes e

    tradições?

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    Em I Co 11.2 Paulo demonstra alegria pelo fato de oscoríntios se lembrarem dele em tudo (pavnta mou mevmnhsqe)  ereterem  as tradições intactas (taV" paradovsei" katevcete), domesmo modo como elas foram transmitidas a eles. O que é ditoaqui na forma de elogio, é dito em 2 Tess 2.15 na forma deexortação: "a[ra ou\n, ajdelfoiv, sthvkete, kaiV  kratei'te taV"taV"taV"taV"paradov sei" paradov sei" paradov sei" paradov sei"  a}" ejdidavcqhte ei[te diaV lov gou ei[te di· ejpistolh'"hJmw'n. (NA26)".  "Então, irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa."

    (RC) Em 2 Tess 3.6, a exortação apostólica assume um caráterainda mais severo, pois ele exorta ao crentes de Tessalônica a seapartarem dos irmãos que andam desordenados e não segundoa tradição apostólica transmitida. A alusão aqui é à ociosidadede alguns que rejeitavam o dever do trabalho demonstrada evivida pelo apóstolo: " Mandamo-vos, porém, irmãos, em nome denosso Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo irmão que andar

    desordenadamente e não segundo a tradição que de nós recebeu."

    Assim, depreendemos dois conceitos importantes: a. Quea Igreja do NT tinha as suas tradições; b.  Que o vocábulotradição  (paravdosi"paravdosi"paravdosi"paravdosi"), em sua aplicação positiva, tem umsentido lato, indicando o conjunto de todas as instruçõesdoutrinárias e éticas (ou mandamentos do Senhor), orais ouescritos, que foram transmitidos pelo Senhor Jesus ou pelosapóstolos às Igrejas. Essas tradições tomaram a forma escrita

    no livro que hoje conhecemos como O Novo Testamento.

    III) Quais eram as fontes, a natureza e a durabilidade dasdoutrinas e das tradições da Igreja?

    As tradições da Igreja são de origem divina e foramdadas por Jesus e seus apóstolos à Igreja, devendo, porconseguinte, ser guardadas intactas e inalteradas até àparousiva  (paroussia), até à segunda vinda do Senhor Jesus.

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    Ainda hoje nos cumpre enfatizar a exortação apostólica: "a[raou\n, ajdelfoiv, sthvkete, kaiV  kratei' te taV" paradov sei" taV" paradov sei" taV" paradov sei" taV" paradov sei"   a}"ejdidavcqhte ei[te diaV lov gou ei[te di· ejpistolh'" hJmw'n. (NA26)". "Então, irmãos, estai firmes e retende as tradições  que vos foramensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa" (RC).

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    AS TRADIÇÕES APOSTÓLICAS E AS TRADIÇÕESEVANGÉLICAS CONTEMPORÂNEAS

    Infelizmente, com o passar dos séculos, um númeroestupendo de tradições inovadoras tomou forma na Igreja,como decorrência de um abandono sutil e progressivo dastradições apostólicas da Igreja. Hoje, nós percebemos que, comouma retomada dos mesmos pressupostos errôneos de nossosantepassados, além do uso indevido de ferramentashermenêuticas tendenciosas, criadas a bel-prazer de inúmeros

    grupos denominacionais, a Igreja apresenta um grandeafastamento da tradição apostólica. O emprego dessasferramentas tendenciosas deu origem a inúmeros sistemasparciais de teologia. De fato, cada denominação evangélica,admita ou não, cria o seu próprio corpus  seleto e predileto deteologia, a partir do que se convenciona ser a corretainterpretação das Escrituras, à semelhança do antigo judaísmo.É assim que se formam e sempre se formaram as múltiplas e

    variegadas tradições evangélicas, que têm sido transmitidas aolongo dos séculos.

    Como era de se esperar, as tradições evangélicas, apóssua formação, são revestidas com a mesma autoridade dasEscrituras e, até mesmo, alguns chegam a considerá-las comotendo maior autoridade do que as próprias Escrituras. Paraestes, é preferível negar ou torcer os claros ensinos dasEscrituras do que abrir mão de suas tradições interpretativascristalizadas e hermeticamente fechadas, ainda que as mesmasestejam em flagrante desacordo com as Sagradas Escrituras.

    O Dr. Carson, grande exegeta e iconoclasta evangélico,assegura-nos que: "Uma abordagem cuidadosa da Bíblia capacitar-nos-á a ‘ouvi-la’ um pouco melhor. É fácil demais aplicarmos ao textobíblico as interpretações tradicionais que recebemos de terceiros.Então, podemos involuntariamente transferir a autoridade das

    Escrituras para nossas interpretações tradicionais, investindo-as deum falso e até idólatra grau de certeza. Como as tradições são

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    remodeladas à medida que são ultrapassadas, depois de algum tempo podemos estar afastados da Palavra de Deus, mas ainda assiminsistindo em que todas as nossas opiniões teológicas são bíblicas e,

     portanto, verdadeiras. Quando isso acontece, é mais do que provávelque iremos simplesmente reforçar nossos erros. Se a Bíblia devecumprir sua obra de reforma contínua  reforma de nossas vidas e denossa doutrina devemos fazer de tudo o que pudermos para ouvi-lanovamente e utilizar os melhores recursos que se encontram àdisposição". 7 

    Este estudo, portanto, é meu convite pessoal a você para

    ouvirmos de novo o texto de I Co 11.1-16, usando os melhoresrecursos de que dispomos, a saber, o texto grego, comentáriosexaustivos de diversas épocas, refletindo as várias escolasteológicas, dicionários teológicos, léxicos do NT grego,gramáticas gregas, compêndios de história da Igreja, um poucode literatura talmúdica, e outras ferramentas de interpretaçãonecessárias que permitirão ao texto falar por si mesmo.

    Antes de prosseguirmos, é conveniente ouvirmos o que

    também nos diz o Dr. Russell Champlin, comentando Atos10.28: "Devemos, entretanto, ter cuidado com odenominacionalismo. Pois nossas divisões denominacionais serãomuito diferentes do exclusivismo judeu? Os homens têm criado noçõesde  falsa superioridade , até mesmo dentro da cristandade, tendodesenvolvido diversos mitos e tradições, como o mito católico romano,o mito batista, o mito presbiteriano, o mito anglicano, etc. E cada umdesses grupos está plenamente convencido tanto de sua superioridade

    como de que supostamente é quem preserva uma forma preferível decristianismo. Essas idéias se têm materializado na forma de tradições ;e os homens, embora crentes e salvos no Senhor Jesus, têm pensadoerroneamente que essas tradições são a verdade mesma de Deus. Todosquantos ensinam essas tradições, entretanto, estão sujeitos ao mesmotipo de condenação que com razão foi decretada contra o judaísmo dosdias do Senhor Jesus. No entanto, agrilhoados às suas tradições, os

    7 CARSON, D. A. , in A Exegese e suas Falácias - Perigos na interpretação da Bíblia - págs. 15 e 16. 

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    Um pouco de erudição é coisa perigosa.

    Sorva fundo ou não proves da fonte da sabedoria.Porque ali pequenos goles intoxicam o cérebro,Porém, o beber largamente nos devolve a sobriedade.

    (Alexander Pope)

    Como sabemos, assim como era o caso do incensosagrado do AT (Ex 30.34-38), tipologicamente falando, afórmula do avivamento para o nosso tempo deve ser ditada

    pela boca de Deus e é inimitável. Como ocorreu em todas asépocas de poderosas visitações do Espírito Santo, Deus avivoua Igreja seguindo critérios estabelecidos adrede por seu santobeneplácito, segundo o conselho de sua soberana vontade, eisto foi evidente até na escolha dos instrumentos que ele usou.Não funciona copiarmos os modelos de épocas passadas, issonão dá resultado. Então, leitor, creia você ou não, a fórmulapara este tempo, disse Deus, é Restauração de Tudo, sãochegados os tempos da restauração de todas as coisas, quetambém são os gloriosos tempos de refrigério pela presença doSenhor (Atos 3.19-21). Primeiro foi Israel, segundo eparalelamente é a vez da Igreja, depois os reinos do mundoserão entregues nas mãos do Senhor Jesus, que consumará esseglorioso processo.

    De fato, as nossas diferenças, que são facilmente

    constadas quando analisamos nossa situação imparcialmente,levam-nos a almejar uma completa Restauração da Igreja, a fimde que abramos mão de nossas tradições ---  que de tãomúltiplas e variegadas nos dão até a impressão de que aunidade referida por Jesus em João 17 é algo inatingível   epermitamos a Deus reimprimir na Igreja evangélicacontemporânea a mesma imagem vivencial que ela tinha nostempos do NT, ressalvados, é óbvio, os grandes problemas

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    corrigidos pelos apóstolos e efetuada a devida contextualizaçãosegundo os pensamentos de Deus, e não do homem. 

    Prossigamos em nosso estudo e vejamos um dos pontosque hoje tem sido relegado ao desprezo pela tradiçãoevangélica contemporânea. Alguns chegam até a dizer,irrefletidamente, que os escritos apostólicos estão cheios de"costumes carcomidos e tradições mofadas". Infelizmente, comoconsequência deste posicionamento, o juízo de Deus temsobrevindo aos que assim dizem e ensinam, e eles é que têmficado com a moral e o ministério mofados e carcomidos.

    Contudo, considerando que as tradições da Igreja do NTsão de origem divina e foram transmitidas através dosapóstolos, elas devem ser guardadas intactas e inalteradas até àparousiva (paroussia), até à segunda vinda do Senhor Jesus, adespeito do que pense qualquer intérprete, principalmentedaqueles que incorrem no erro de julgarem-se iguais ousuperiores aos apóstolos. Ainda hoje cumpre enfatizar aexortação apostólica: "a[ra ou\n, ajdelfoiv, sthvkete, kaiV kratei' tetaV" paradov sei" taV" paradov sei" taV" paradov sei" taV" paradov sei"   a} " ejdidavcqhte ei[te diaV  lov gou  ei[te di·ejpistolh'" hJmw'n. (NA26)". "Então, irmãos, estai firmes e retende astradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístolanossa" (RC).

    Querido, hoje nós estamos ávidos por avivamento, não éverdade? Quem tem um pouquinho de sensibilidade espiritualsente-se perplexo com a situação de decadência moral eespiritual da Igreja evangélica contemporânea. Mas vocêgostaria de saber o que Deus está exigindo da Igreja hoje paraque o grande avivamento possa irromper? Ouçamos o que nosdisse acerca disso o Dr. David M. Lloyd-Jones: “Pois bem, o meuargumento é que, enquanto for este o caso, não teremos o direito de

     falar sobre avivamento, ou esperar por ele, e ainda menos aguardá-lo.Qual é a nossa autoridade final nessas questões? O que eu sei arespeito de Deus, e a possibilidade de bênção, à parte do que tenho na

    Bíblia? Posso alegar que minha mente e razão podem selecionar o queestá certo e o que está errado nela, e que posso me apegar somente

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    àquilo com o que concordo? Isso me torna autoridade e não a Bíblia.Isso estabelece a minha razão, e não a revelação de Deus, como o

     padrão.Se vocês lerem a história de todos os avivamentos do passado,

    verão que foram períodos em que homens e mulheres creram que estelivro é a Palavra de Deus. Creram nela literalmente, consideraram-naa revelação de Deus e a verdade com respeito a Ele e ao relacionamentodo homem com Ele, e tudo que está envolvido nisso. Creram que estelivro foi escrito por homens divinamente inspirados. Submeteram-se aela, não se colocando acima dela como juízes ou como autoridades que

     pudessem decidir o que está certo e o que está errado. Contudo, os filisteus têm estado terrivelmente ativos nos últimos cento e cinqüentaanos. E as condições são o que são hoje porque as pessoas não têmautoridade alguma. Elas rejeitaram a autoridade das Escrituras, eestabeleceram as suas próprias opiniões, filosofia, ciência,conhecimento    todas estas coisas. O elemento sobrenatural éignorado, e os milagres são rejeitados porque são incompatíveis com aciência. Todas estas coisas foram cobertas. Qualquer atividade direta

    da parte de Deus é suspeita porque não se adapta aos sistemas dos filósofos. Estas são questões urgentes. Eu lhes imploro, leiam a históriado passado, e creio que descobrirão que nunca houve avivamentoquando homens colocaram as suas idéias e opiniões acima daautoridade da Palavra de Deus”9.

    É interessante que os diversos sistemas teológicos sãounânimes em reconhecer que o Apóstolo Paulo foi oinstrumento divino que mais contribuiu para a compreensão da

    fé cristã. A justificação pela fé, a ressurreição, os donsespirituais, a natureza da Igreja, a segunda vinda de Cristo, odom supremo do amor, e muitas outras doutrinas ganham luzinexcedível nos escritos desse apóstolo. As epístolas paulinassão citadas como a palavra final em inúmeras discussõesteológicas. Agora, a doutrina do uso do véu pelas mulherescristãs quando da adoração, exposta na epístola apostólicacanônica de I aos Coríntios, e que integra essa tradição

    9 LLOYD-JONES, D. M.,  Avivamento, PES, pág. 44. 

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    apostólica da Igreja, não provoca a mesma simpatia. Todavia, secremos que essa epístola é canônica, como usualmente

    declaramos que “A Bíblia é a Palavra de Deus”--- 

      isso, naprática, reflete a expressão inconsciente, oculta: “aquilo de que gostamos dela” ---   e que seu escritor foi credenciado por Deuspara estabelecer o fundamento doutrinário da Igreja, então,querido, gostemos disso ou não, esta doutrina deve ser mantidana Igreja até à segunda vinda de Cristo, pois ninguém pode pôroutro fundamento além do que foi posto pelos apóstolos ---  ainda que fosse um anjo do céu! ---  e tampouco subtrair algo a

    seu bel-prazer (Gl 1.8,9).

    Da covardia que teme a novas verdades,da preguiça que se acomoda a meias-verdades,da presunção que pensa saber toda a verdade,

    Ó Senhor, livra-nos!

    II - O ARGUMENTO BASEADO EM TELOGIA

    (HIERARQUIA NA CRIAÇÃO E NA ORDEM NACRIAÇÃO)

    Versículo 3:

    3 qevlw deV  uJ ma'" eijdevnai o{ti pantoV" ajndroV" hJ  kefalhV   oJ  Cristov" ejstin, kefalhV  deV   gunaikoV " oJ  aj nhvr, kefalhV  deV   tou'  Cristou' oJ  qeov ".

    3 Quero, entretanto, que saibais ser Cristo o cabeça de todo homem, eo homem, o cabeça da mulher, e Deus, o cabeça de Cristo. (RA)

    Aqui o apóstolo assenta a pedra fundamental sobre aqual será erigida a doutrina do uso do véu pela mulher cristã.Neste versículo, o apóstolo aduz um princípio teológico,trazendo à luz a hierarquia na criação. Segundo o beneplácito

    divino, Deus é o cabeça de Cristo, Cristo é o cabeça do homem eo homem é o cabeça da mulher. Este axioma é um dos pilares

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    da revelação escriturística e serve de base para os argumentosque são expostos nos versículos 4 a 6.

    É fato significativo que o apóstolo utiliza duas palavrasgregas para referir-se a homem e mulher que, pelo contextolingüístico, visam ao contraste dos sexos, a saber: ajnhvrajnhvrajnhvrajnhvr (homem- sexo masculino) e gunhgunhgunhgunh v (mulher - sexo feminino). É o mesmotipo de contraposição sugerida pela expressão hebraica de Gn2.18b ( IS±d®bF r®zg) - [ézer kenegdô] (ajudadora como parte oposta,como contraparte) e pelos opostos hebraicos Jh¦t (homem) ev̈¦t (mulher), de Gn 2.23b. Foi exatamente por isso que o

    grande hebraísta alemão Franz Delitzsch, ao traduzir estapassagem de I Co 11.1-16 do grego para o hebraico, usou osvocábulos Jh¦t  e v̈¦t  para traduzir, respectivamente, ajnhvrajnhvrajnhvrajnhvr egunhvgunhvgunhvgunhv. Este uso apenas contrasta os sexos.

    Versículo 4:

    4  pa'" ajnhVr proseucovmeno" h]  profhteuv  wn kataV  kefalh' "

    e[cwn kataiscuvnei thVn kefalhVn aujtou':

    4 Todo homem que ora ou profetiza, tendo a cabeça coberta, desonra asua própria cabeça. (RA)

    Esta é a primeira conseqüência que segue ao v.3. Oapóstolo conclui que todo homem que ora ou profetiza tendo acabeça coberta desonra a sua própria cabeça. Orar

    (proseuvcomaiproseuvcomaiproseuvcomaiproseuvcomai) e profetizar (profhteuv wprofhteuv wprofhteuv wprofhteuv w) aludem a atosespecíficos da adoração congregacional a Deus, mas devem sercompreendidos à luz do que os mesmos significavam para osleitores originais de Paulo.

    De acordo com o texto e o contexto inteiro desta epístola,há a referência aqui à oração pública e à utilização do dom deprofecia, a fala extática inspirada pelo Espírito Santo, muitocomuns nas reuniões da Igreja de Corinto (I Co 12.7-11). Éimportante destacar neste ponto que, no NT, o profeta era

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    aquele que falava inspirado pelo Espírito Santo a fim dedescortinar a vontade e os planos de Deus para vidas

    individuais ou para as comunidades, além de às vezes antever ofuturo (At. 11.28; 13.1-ss; 21.7-11; I Tm 1.14; 4.14,15). Para umtratamento mais amplo do assunto, leia o Theological Dictionaryof the New Testament, vol. VI, pags. 781-861, publicado pelaEerdmans, EUA.

    Versículo 5:

    pa'sa deV gunhV  proseucomev nh h]  profhteuv ousaajkatakaluvptw/ th'  / kefalh'  / kataiscuv nei thVn kefalhVn aujth'":e}n gavr ejstin kaiV toV  auj toV th'  / ej xurhmevnh/.

    5 Toda mulher, porém, que ora ou profetiza com a cabeça sem véudesonra a sua própria cabeça, porque é como se a tivesse rapada.(RA)

    Este versículo é antitético em sua conclusãorelativamente ao verso 4. Agora, diz o apóstolo que toda amulher que ora ou profetiza com a cabeça sem véu (ajkatakaluvptw  / th'  /  kefalh'  /) desonra a sua própria cabeça (kataiscuvnei  thVnkefalhVn aujth'"), porque é como se estivesse rapada   (e} n gavrejstin kaiV  toV   auj toV  th'  /  ej xurhmevnh  /), ou melhor e maisliteralmente,  porque se coloca no mesmo nível da que foirapada. A tradução  como se a tivesse rapada exigiria a

    construção grega tw'  /  ejxurh'sqai, conforme bem observa G. G.Findlay10.

    Versículo 6: 

    6  eij  gaV r ouj  katakaluvptetai gunhv , kaiV  keirav sqw: eij  deV  aijscroVn gunaikiV toV  keiv rasqai h]  xura' sqai,katakaluptevsqw.

    10 The Expositor's Greek Testament , vol. 2, pág 872.

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    6 Portanto, se a mulher não usa véu, tosquie-se também. Mas, se lhe évergonhoso o tosquiar-se ou rapar-se, cumpre-lhe usar véu. (RA)

    Na seqüência de seus argumentos, a apóstolo, com basena conclusão do versículo anterior, onde diz que a mulher queora ou profetiza sem véu desonra a sua cabeça, porquanto issofaz com que ela esteja no mesmo nível da que foi rapada,conclui que a única alternativa para a mulher não se cobrir comvéu durante a adoração, pressionada pelo segundo gavrgavrgavrgavr, é que

    ela leve aos extremos lógicos a decisão de não se cobrir com véue dê um passo à frente, cortando os seus cabelos rente (keiravsqw).Porém, labora contra esta possibilidade o fato de ser indecentepara a mulher tosquiar-se  (keivrasqai) ou rapar-se  (xura'sqai).Então, conclui o apóstolo categoricamente: cumpre-lhe usar ovéu (katakaluptevsqw), ou, que ela ponha o véu sobre a cabeça.

    Findlay diz neste ponto: "Paulo utiliza o modus tollens desilogismo hipotético: Se uma mulher prefere ter sua cabeça descoberta,

    remova o seu cabelo; contudo se o sentimento feminino proíbe estaúltima atitude, por certo a primeira atitude também estará fora decogitação, visto que a vergonha está atrelada a ambas essas atitudes"11.

    Versículo 7:

    7  ajnhVr meVn gaVr oujk ojfeivlei katakaluvptesqai thVn kefalhvn,

    eijkwVn kaiV  dov xa qeou'  uJ pavrcwn: hJ  gunhV   deV   dov xa ajndrov"ejstin.

    7 O homem, pois, não deve cobrir a cabeça, porque é a imagem eglória de Deus, mas a mulher é a glória do homem. (RA)

    Do versículo 7 ao versículo 10, o apóstolo apresenta maisrazões para argumentar em favor de o homem não cobrir sua

    11 The Expositor's Greek Testament , vol. 2, pág 872

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    cabeça quando da adoração e em favor de a mulher usar véuquando da adoração. Neste versículo ele diz que o homem não

    deve cobrir a cabeça porque é a imagem  (

    eijkwvn)

    e a glória(dovxa) de Deus (qeou'). Poderíamos perfeitamente esperar nesteponto o binômio de Gn 1.29, imagem e semelhança, ao invés deimagem e glória, conforme diz aqui o apóstolo. O texto hebraicode Gn 1.29a, traz as palavras (okm) e (,Un§S), que figuram na LXXrespectivamente como (eijkwvn) e (o&moivwsi"). Paulo faz asubstituição de ,Un§S - o&moivwsi" de Gn l.29 pela palavra maisexpressiva dovxa, através da qual a LXX traduz a sinônima

    v²bUn§T no Sl 17. 15, a glória de Deus como a manifestaçãovisível de seu esplendor; ver Hb 1.3. Paulo evoca Gn 1.26 paraaplicá-lo a Adão, primariamente, como ajnhvrajnhvrajnhvrajnhvr, o sexo mais forte,e não como a[nqrwpo"a[nqrwpo"a[nqrwpo"a[nqrwpo", a raça humana, ainda que em Gn 1.27seja dito que: "Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagemde Deus o criou, macho e fêmea os criou."oh¦vO¡t okmC IºnkmC os̈ẗ̈v,¤t | oh¦vO¡t ẗrc° H³ u 27 

    (Gn

     1:27)  :o ,̈«t ẗrC vc¥e±bU rf²z I·,«t ẗrCA oração hJ gunhV  deV dov xa ajndrov" ejstin (mas a mulher é a glóriado homem)  é uma antítese reduzida da cláusula mevnmevnmevnmevn, quelogicamente completada diria: " Mas a mulher deve usar véu

     porque é a glória do homem". Aqui, "deve usar véu porque" éequivalente a uma marca ∅, elipse de fragmento oracionallogicamente subentendido. Este é um recurso estilístico que

    atende ao princípio de parcimônia, que postula a economia naprodução lingüística oral e escrita.

    Versículo 8: 

    8  ouj gav r ejstin ajnhVr ejk gunaikov", ajllaV gunhV  ej x ajndrov":

    8 Porque o homem não provém da mulher, mas a mulher, do homem.

    (RC)

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    ouj  gav r ejstin ajnhVr ejk gunaikov",",",",  literalmente diz o texto:"também o homem não foi extraído da mulher ". Aqui o apóstolo dá

    mais uma causa para o homem não cobrir sua cabeça e para amulher usar véu sobre a cabeça, a saber: na criação original, amulher foi feita do homem, a partir de uma de suas costelas,conforme o registro de Gn 2.21-23.

    Eis o texto hebraico-português de Gn 2. 21-23:

    j©E° H³ u i·̈Jh° H³ u ösẗ̈vkg v̈n¥S§r©T | oh¦vO¡t v² u«v± h kP³ H³ u 21oh¦vO¡t v²u«v± h ic° H³u 22 :v²B¤T§j©T r «̈aC r« D§x° H³ u uhº̈,«gkM¦n ,©j©t

     ̧v· ̈¦tk ösẗ̈vi¦n j©ekr¤J£t gkM©v,¤tos̈ẗ̈v r¤nt« H³ u 23 :ösẗ̈vk¤t v̈¤tc± h³ u

     h·¦r«̈aC¦n r «̈acU hº©nmg¥n omg ogP©v ,t« z:,t« Zvj̈¢ek Jh¦t¥n hF vº̈¦t t¥rË° h ,t«zk

    21 Então, o SENHOR Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, eeste adormeceu; e tomou uma das suas costelas e cerrou a carne emseu lugar. 22 E da costela que o SENHOR Deus tomou do homemformou uma mulher; e trouxe-a a Adão. 23 E disse Adão:

    Esta é agora osso dos meus ossos e carne da minhacarne;esta será chamada mulher, porquanto do homem foitomada.

    (Genesis 2.21-23 RC)Versículo 9:

    9  kaiV gaV r oujk ejktivsqh ajnhVr diaV thV n gunai'ka, ajllaV gunhV  diaV toV n a[ndra.

    9 Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, mas amulher, por causa do homem.

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    Neste versículo, o apóstolo aduz mais uma causa para ohomem não cobrir sua cabeça e para a mulher usar véu sobre a

    cabeça, a saber: o fato de ela ter sido criada por causa dohomem, conforme o relato de Gn 2.18, 20.

    Eis o texto hebraico-português de Gn 2. 18, 20:

    ösẗ̈v ,I h¡v cIytO ohº¦vO¡t v² Iv±h r¤nt« H³ u 18:IS±d®bF r®zg IKv«¤ag¤t I·Sck 

    18 E disse o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma  adjutora que esteja como diante dele (como sua

     contraparte).

    k« fkU o° hº©n̈©v ;IgkU vn̈¥vC©vkfk ,In¥J ösẗ̈v ẗr§e° H³ u 20:IS±d®bF r®zg tmn̈tO ösẗkU v·¤s¬̈©v ,³ H©j 

    20 E Adão pôs os nomes a todo o gado, e às aves dos céus, e a todo

    animal do campo; mas para o homem não se achava adjutora queestivesse como diante dele.

    III - O ARGUMENTO BASEADO NA PRESENÇA DOSANJOS NAS REUNIÕES DA IGREJA

    Versículo 10:10

    diaV tou' to ojfeivlei hJ gunhV  ej xousivan e[cein ejpiV th' " kefalh'"diaV touV " ajggevlou".

    10  Portanto, deve a mulher, por causa dos anjos, trazer véu na cabeça,como sinal de autoridade.

    10 Portanto, a mulher deve ter sobre a cabeça sinal de poderio, porcausa dos anjos.

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    Este texto, por certo, poderia ser dividido em três partes.A primeira parte compreendendo os vv. 2-6; a segunda parte

    compreendendo os vv. 7-10; a terceira parte composta dos vv.11-16.O versículo 10, que ora consideramos, encerraria a

    segunda parte do texto. Aqui é aduzida a razão maior para amulher usar o véu quando das reuniões de adoração: O véu éum símbolo de autoridade por causa dos anjos.

    De acordo com o ensinamento do NT, os anjos são"espíritos ministradores enviados para serviço, em favor do que hão de

    herdar a salvação" (Hb 1.14). E esses anjos são enviados paraobservar a ordem no culto. Como quer dar a entender oapóstolo, não seria conveniente os anjos chegarem em um cultode adoração da Igreja e encontrarem uma acintosa atitude dedesobediência por parte de servas de Deus que estariam senegando a usar o véu. Assim, como argumento mais pesado, oapóstolo aduz mais uma fortíssima razão para as mulherescristãs usarem o véu quando da adoração: A presença dos

    anjos.A nova autoridade da mulher derivada de sua posição

    em Cristo em contraste com a sua posição nas antigas culturas judaica e greco-romana.

    ojfeivlei hJ  gunhV   ej xousivan e[cein ejpiV  th' " kefalh'" "" "   lit. a mulherdeve ter autoridade (poderio) sobre a cabeça.oj feiv leioj feiv leioj feiv leioj feiv lei - ela deveejxousivan - autoridade (poderio) diaV diaV diaV diaV touV"""" ajggevlou" "" "  lit. por causa dos anjos 

    Para apreendermos o significado dessa expressão “sinalde poderio”, tornam-se imprescindíveis uma análise do textooriginal grego e a consideração do transfundo histórico-culturalsubjacentes a esta passagem.

    Primeiramente, encontramos, no início do verso 10, apalavra “portanto”  (gr. diaV  tou'to).  diaV  tou'to  é elemento

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    coesivo, neste texto argumentativo, que estabelece um vínculoentre tudo o que fora dito anteriormente e o que é dito

    imediatamente após ele no v. 10. Isto permite-nos constatar queeste versículo é a conclusão do que o apóstolo estavaargumentando antes. Além disso, podemos entender oargumento paulino considerando que sua conclusão, a partirdos argumentos precedentes, devem revestir-se de maior pesoem virtude da  presença dos anjos quando das reuniões deadoração.

    No que tange ao sentido do véu como “símbolo de

    autoridade ou poderio”, deparamo-nos com uma pequenadificuldade, porquanto no contexto imediatamente anterior aesta asserção, bem como no contexto anterior inteiro destapassagem, o apóstolo tem colocado em evidência a posição desubmissão que Deus impôs às mulheres relativamente aoshomens. Tanto é assim que no verso nove (9), imediatamenteanterior a este versículo, nós lemos: “nem o homem foi criadopor causa da mulher, mas a mulher por causa do homem”.

    Então, se o apóstolo concluísse que o véu é um “símbolo desubmissão”, não teríamos nenhuma dificuldade paraapreendermos o sentido do verso em apreço. Exatamente poresse motivo é que nós encontramos a expressão “sinal desubmissão” na versão revisada da tradução de João Ferreira deAlmeida, de acordo com os melhores textos em Hebraico eGrego. Mas não encontramos nessa versão aludida umatradução, antes trata-se de uma interpretação. O texto originaldiz, não obstante, (ejxousivan), literalmente, “autoridade,poderio, poder”, como algo que a mulher em Cristo agoraexerça positivamente. Sendo assim, temos de reportar-nos aotransfundo histórico dessa passagem para descobrirmos quealteração ocorreu na posição da mulher, que autoridade amulher passou a exercer com o advento do cristianismo. Ocristianismo efetuou uma alteração radical no concernente à

    posição da mulher, nos dias de Paulo, tomando, por exemplo, asociedade judaica.

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    Sumariando, segundo o Dr. Russell Champlin, a posição damulher no judaísmo era como segue:

    1) Para os rabinos era preferível queimar a lei a ensiná-la a umamulher;2) Os rabinos às vezes até duvidavam de que uma mulher

    pudesse possuir uma alma;3) Os escravos do sexo masculino às vezes tinham mais

    privilégios do que muitas mulheres livres, pelo simples fatode serem homens;

    4) Às mulheres eram vedadas todas e quaisquer atividadesintelectuais.Tais informações podem ser conferidas no Kommentar zum N.

    T. aus Talmud und Midrash de Strack e Billerbeck, citado naEBTF, vol 5, pag 428 e no IB pag 530).

    Em outras culturas e religiões do mundo antigo, ascoisas não eram diferentes.

    No Cristianismo, porém, a posição da mulher mudou

    radicalmente:1 - Jesus, ao vir ao mundo, realmente descobriu-nos e enfatizouo valor da mulher . O caso da mulher samaritana é uma grandedemonstração desta verdade (ver João 4. 4-42).2 - Jesus, efetivamente, elevou a mulher a uma posição deigualdade relativamente ao homem, embora não, de fato, àposição de igualdade de dever, porquanto a natureza excluiessa possibilidade, como vem ensinando o apóstolo Paulo neste

    texto que ora analisamos;3 - Paulo declarou-nos que em Cristo não há macho nem fêmea,no sentido de que ambos são caros para Deus ,  e ambos sãochamados igualmente para servirem no Reino e ambosigualmente podem e devem atingir os mesmos elevadíssimosalvos espirituais. (Gl 3.28) (Arthur John Gossip no IB pag 530).

    Deste modo, em Cristo, a mulher tem igual porção comos homens diante de Cristo. O véu utilizado na hora do culto é

    exatamente um símbolo dessa nova autoridade que lhe era

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    negada na sinagoga e em outros lugares de adoração. Comomulher, pode orar ou profetizar, mas deve conservar a devida

    consideração para a sua posição na ordem criada. A paroussia (segunda vinda de Cristo) eliminará definitivamente toda aposição de submissão que agora ainda se impõe divinamente àmulher na presente esfera de existência.

    Portanto, enquanto o homem exibe a sua autoridade porficar sem véu, a mulher exibe a dela, ao usar o véu. O uso dovéu, deste modo, manifesta tanto a liberdade como a reservaque pertence à mulher em Cristo. A liberdade (como em todas

    as coisas) se deriva da libertação através de Cristo, conferindo-lhe um crescimento sem limites em sua inquirição espiritual.Então, que ponha o véu.

    A verdadeira emancipação da mulher em Cristo dá-semediante sua obediência ao Senhor. Assim, a mulher cristãverdadeiramente cônscia de sua emancipação, segundo umacorreta perspectiva espiritual, segundo a ótica divina, não senega a agradar ao seu Senhor, mas obedece agradecida ao

    mandamento de Cristo, usando o véu como símbolo deautoridade quando da adoração, como símbolo desse magníficopoderio, dessa nova e elevadíssima posição que agora elaexerce e desfruta em Cristo.

    IV - REFORÇANDO O ARGUMENTO BASEADO EMTELOGIA (A ORDEM NA CRIAÇÃO)

    Versículo 11:

    11plhVn ou[te gunhV  cwriV " ajndroV" ou[te ajnhVr cwriV" gunaikoV"

    ejn kuriv w/:

    11 No Senhor, todavia, nem a mulher é independente do homem, nemo homem, independente da mulher.

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    plhVnplhVnplhVnplhVn lit. conj. todavia, contudo - elemento coesivo. A assertivaaduzida neste versículo poderia ser encarada como um contra-

    argumento por parte da ala pró-emancipação feminina da Igrejade Corinto. Diria essa ala feminina: No Senhor, por não haverdistinção de sexos, há uma interdependência entre homem emulher: te gunhV cwriV " ajndroV" ou[te ajnhVr cwriV" gunaikoV"ejn kuriv w/: :: :   (lit. nem a mulher é sem o homem, nem o homem é sem

     a mulher, no Senhor).  Este contra-argumento deinterdependência é consubstanciado pela primeira parte doversículo seguinte.

    Versículo 12:

    12w {sper gaVr hJ gunhV ejk tou'  aj ndrov", ou{tw" kaiV oJ  aj nhVr diaV 

    th'" gunaikov": taV deV  pav nta ejk tou' qeou' . 

    12 Porque, como a mulher provém do homem, assim também ohomem provém da mulher, mas tudo vem de Deus.

    Como dissemos, o contra-argumento dainterdependência está firmado na seguinte análise:  w{sper gaVrhJ gunhV ej k tou' aj ndrov", ou{tw" kaiV oJ  aj nhVr diaV th' " gunaikov"  -lit. como, pois, a mulher é procedente do homem (por criação), assimtambém o homem é procedente da mulher   (por nascimento). Querdizer, o homem deu origem à mulher pela criação, mas, apartir

    daí, o homem só vem ao mundo através da mulher. An passant ,este argumento põe em destaque a elevada glória damaternidade, a qual Deus usa para prosseguir na realização deseus projetos na história humana. Entretanto, como assevera oapóstolo, esta observação da interdependência entre homem emulher no Senhor se enfraquece pelo fato de, originariamente,tudo provir de Deus (taV  deV   pav nta ejk tou'  qeou' ). Porconseguinte, tomando em conta esta ordem de proveniência na

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    criação, prevalece que: 1) a mulher foi feita do homem; 2) amulher foi criada por causa do homem.

    V - O ARGUMENTO BASEADO NA NATUREZA E NOSENSO DE PROPRIEDADE DOS CORÍNTIOS

    Versículo 13:

    13ejn uJmi'n aujtoi'" krivnate: prevpon ejstiVn gunai'ka

    ajkatakavlupton tw' / qew'  / proseuv cesqai;

    13 Julgai entre vós mesmos: é próprio que a mulher ore a Deus semtrazer o véu?

    Com base nos argumentos apresentados até aqui nestetexto que ora comentamos, e nos vv. 15 e 16, é lógico que oapóstolo esperava uma resposta negativa a esta pergunta, a

    saber: Não é próprio que a mulher ore a Deus sem o véu sobrea cabeça. O apóstolo apela aqui para o bom senso dos coríntios,para apresentar razões suplementares às aduzidas até esteponto. Seus argumentos já teriam sido suficientes, mas paraevitar a resposta simplória e autoritária, ele prefere argumentarpara convencê-los de que o posicionamento deles erainconcebível, teológica e naturalmente falando.

    ajkatakavlupton - lit. sem véu sobre, desprovida do véu sobre acabeça.proseuvcesqai  (pres mid inf de proseuvcomai  - orar) - fazeroração, refletida também na forma hebraica kKP§,¦vk, orar, onde overbo encontra-se no Hithpael, e tem aktionsart   reflexiva,como o emprego aqui da voz média proseuvcesqai  deproseuvcomai.

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    ejn uJmi'n aujtoi'" krivnate: prevpon ejstiVn gunai'kaajkatakavlupton tw' / qew'  / proseuv cesqai;;;; lit. julgai por vós mesmos:é próprio para a mulher fazer oração a Deus sem véu (sobre cabeça)? 

    Versículos 14-15: 

    14oujdeV hJ  fuv si" aujthV didavskei uJ ma'" o{ti ajnhVr meVn ejaVn koma'/ 

    ajtimiva aujtw'  / ejstin,15

    gunhV  deV   ej aVn koma' /  dov xa aujth' /  ej stin; o{ti hJ  kov mh ajntiV 

    peribolaivou devdotai (aujth' /).

    14 Ou não vos ensina a própria natureza ser desonroso  (vergonhoso)para o homem usar cabelo comprido?15 Mas ter a mulher cabelo crescido lhe é honroso, porque o cabelolhe foi dado em lugar de véu.

    aj timiv a aj timiv a aj timiv a aj timiv a  - vergonhoso, vergonha.

    O apóstolo aqui, nos vv. 14 e 15, apelando para o bomsenso dos coríntios, conclui que não é próprio para a mulherorar a Deus sem véu sobre a cabeça, tendo em vista que anatureza nos ensina duas coisas: 1) é uma vergonha (gr. aj timiv a aj timiv a aj timiv a aj timiv a  )o homem ter seus cabelos crescidos ; 2) é uma glória (gr. dovxa)para a mulher ter os seus cabelos crescidos, uma vez que ocabelo crescido, cabelo comprido  (gr. hJ  kovmhhJ  kovmhhJ  kovmhhJ  kovmh) lhe foi dado emlugar de véu (gr. ajntiV peribolaivou).

    A expressão grega ajntiV  peribolaivou  seria melhortraduzida assim: como uma cobertura. Esta é a tradução quemelhor reproduz o sentido do texto original grego, e é seguidapela maioria das versões inglesas consultadas, dentre as quaisdestaco a KJV, a NIV e a RSV12. Tal tradução evitaria uma

    12 NIV - New International Version; KJV - King James Version; RSV- RevisedStandard Version.

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    suposta ambigüidade no texto em língua portuguesa, a qualtem servido de pretexto para alguns intérpretes concluírem que,

    uma vez que a mulher use os seus cabelos crescidos não precisamais usar o véu.Conforme diz o Dr. Russell Norman Champlin13, acerca

    dessa interpretação, "... é uma grande perversão do texto sagradodizer que essas palavras significam que uma mulher não precisa maisde véu, se porventura usa longos os seus cabelos. Pois ninguém podeler o terceiro versículo em diante desta passagem, onde Paulo tantoinsiste sobre a necessidade do uso do véu, de conformidade com a

    ordenança divina, com os costumes sociais e com os costumes danatureza, para então lançar fora todo o seu argumento, supondo que seuma mulher conservar longos os seus cabelos já não precisará usar véuquando ora ou profetiza, sem incorrer em grave incoerência.Porquanto tal conclusão será diametralmente oposta a todos osargumentos anteriores de Paulo, transformando esse apóstolo em uminsensato que se contradiz consigo mesmo."

    "Tal interpretação só pode ser aceitável para aqueles que

    manuseiam desonestamente as Escrituras, procurando adaptá-las aosseus pontos de vista e às suas práticas. Essas práticas ditam que amulher "n