Quem Deus Realmente É

IntRODUçãO

DeUS é. . .

Craig Groeschel

Certa tarde, muitos anos atrás, bateram à minha porta. Atendi educadamente e vi que se tratava de um rapaz que aparentava ter uns 20 anos de idade e estava todo sorridente ali à entrada de minha casa.

— Posso ajudar você? — perguntei.Quase imediatamente, ele começou a me falar sobre sua fé

em Cristo. Bem, além de cristão, eu sou também pastor. Mas o rapaz estava indo tão bem, demonstrava um entusiasmo tão genuíno, com um sorriso tão contagiante, que não tive coragem de interrompê-lo. Ele parecia ter acabado de ganhar na loteria. Depois de uns trinta segundos, eu me dei conta de que não devia fazê-lo perder tempo e precisava tornar-me (mais) claro:

— Jovem, estou muito feliz por você testemunhar de Cristo — eu disse com sinceridade. — Mas devo dizer a você que... na verdade eu já sou um cristão comprometido.

8 • QUeM Deus RealMente é?

— Isso é maravilhoso! — ele quase gritou, mostrando brilho nos olhos. — Você precisa ir comigo até minha igreja. É sério, é a melhor igreja da cidade!

Então eu disse que já era membro de uma igreja.— Isso é ótimo, cara! — ele retrucou com entusiasmo. — Que

igreja você frequenta?— O nome dela é Igreja Vida.O semblante do rapaz mudou de ganhador da loteria para

vítima de comida envenenada; ele deu um profundo suspiro e recuperou a compostura. Deu uma olhada em volta, inclinou-se e, quase num sussurro, confessou:

— Cara, detesto dizer, mas acho que você não deve ir à Igreja Vida. Meu pastor diz que seu pastor não prega a verdade.

Nesse instante eu tive de me conter. Eu quase disse: “É mes-mo? Bem, diga ao seu pastor que o pastor da Igreja Vida quer en-contrar-se com ele num beco escuro e apresentar-lhe a verdade!”.

Ao contrário, dei um sorriso fraco e disse:— Bem, obrigado por ter vindo, rapaz. Agora preciso sair. Que

o Senhor o abençoe, certo?

Para que eles sejam um

De acordo com a World Christian Encyclopedia (Oxford Univ. Press, 2001), a fé cristã tem cerca de 33.830 denominações. É uma tremenda diversidade! Por um lado, com tantas abordagens, deveria haver algo para todos. Por outro lado, é possível que a palavra “denominação” possa de fato ferir o coração de Deus. A origem latina do termo de- significa “separado”, enquanto nominare significa “nomear”. Denominação significa literal-mente “separação pelo nome”. Até onde conheço as Escrituras, somente um nome deve importar: Jesus.

Em João 17.20-23, Jesus fez uma maravilhosa oração por seus discípulos... e por nós:

Deus é... • 9

“Minha oração não é apenas por eles. Rogo também por aqueles que crerão em mim, por meio da mensa-gem deles, para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. Dei-lhes a gló-ria que me deste, para que eles sejam um, assim como nós somos um: eu neles e tu em mim. Que eles sejam levados à plena unidade, para que o mundo saiba que tu me en-viaste, e os amaste como igualmente me amaste”.

Certo dia, quando eu estava fazendo uma visita com alguns pastores amigos, surgiu a pergunta: “E se pudéssemos ser parte da resposta à oração de Jesus?”. Mais tarde, ao retornar ao escritório da igreja, as implicações daquela ideia me assombraram. O que aconteceria se — durante apenas um mês — as igrejas ao redor do mundo se associassem? O que aconteceria se jejuássemos e orássemos juntos? O que aconteceria se todos nós servíssemos a nossas comunidades ao mesmo tempo em nome de Cristo? E se todos nós contribuíssemos generosamente para começar no-vas igrejas? O que Deus faria se alguns de nós agíssemos como se fôssemos um?

Esse questionamento acabou dando origem à campanha Uma Oração (<www.Oneprayer.com>). Na primavera de 2008, publi-quei um convite em nosso blog <Swerve.lifechurch.tv>, pergun-tando às igrejas se elas estavam dispostas a se unir durante o mês de junho. Eu esperava sinceramente que pelo menos um punhado responderia. Ficamos surpresos ao ver que centenas de igrejas do mundo todo responderam com entusiasmo. Em 2009, convi-damos igrejas para um trabalho conjunto novamente. Dessa vez, mais de 2 mil igrejas, de 39 países do mundo todo, uniram-se para fazer a diferença em nosso mundo.

Diferentes estilos de adoração. Origens diferentes. Diferentes campos missionários. Diferentes filosofias ministeriais. No entan-to, todas aquelas igrejas compartilham um Senhor e um Salvador,


Jesus Cristo. Juntas, elas levantaram dinheiro suficiente para ini-ciar mais de 1.600 novas igrejas em lugares como Índia, China, Camboja e Sudão.

Em João 13.34,35, Jesus nos diz a única maneira pela qual o mundo saberá que nós o seguimos: “Um novo mandamento lhes dou: Amem-se uns aos outros. Como eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros. Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros”. As igrejas costumam ser conhecidas por suas tradições, seus templos e seu estilo de música. Infelizmente, nos anos mais recentes os cris-tãos tornaram-se mais conhecidos por suas posições contrárias. Por meio da campanha Uma Oração, estamos tornando-nos no-vamente conhecidos por nosso amor.

Deus é

O tema da campanha Uma Oração 2009 foi “Deus é...”. Pastores do mundo todo entregaram suas mensagens descrevendo diferentes atributos de Deus encontrados na Bíblia. Nos tempos de incerteza, Deus é certo. Deus é forte — então por que seus filhos não o são? Deus está aqui, e qualquer coisa pode acontecer. Deus é capaz de superar as fortalezas de nossa vida. Deus é mise-ricordioso e quer dar às pessoas um novo começo. E isso é apenas um pouco do que ele pode fazer.

Nenhum pastor que participou da campanha Uma Oração 2009 terá lucro financeiro. Juntos, todos nós participamos sim-plesmente porque cremos na unidade que essa campanha repre-senta. Quando o povo de Deus age em união, testemunhamos seu poder mudar vidas. Todo e qualquer direito gerado de qual-quer parte da campanha Uma Oração será usado para implantar igrejas ao redor do mundo. Esperamos que aprender quem Deus é — por intermédio do que suas Escrituras nos ensinam — leve as pessoas a conhecer Deus, não apenas a ficarem satisfeitas em

Deus é... • 11

saber a respeito dele. Jesus Cristo morreu por nós e pelo mun-do. Jesus é a esperança da humanidade, e nós somos seu corpo, comissionados para levar essa esperança a homens e mulheres. Cada um de nós é apenas uma pequena parte.

No filme sobre hóquei Milagre, o técnico Herb Brooks disse a seus jogadores:

— Quando vocês vestirem a camisa, o nome na frente é muito mais importante do que o que está nas costas.

Não jogamos pelo nome que está nas costas: Primeira Igreja Metodista Unida, Igreja Luterana da Paz, Assembleia de Deus da Ressurreição, Templo de Louvor do Espírito Santo, Catedral de Poder e Unção, ou Casa-da-Vida-e-Verdade-da-Graça-Rio-Norte.

Jogamos em nome de Jesus.

CapítUlO 1

Deus é fORte

Francis Chan

Há um indivíduo em minha igreja que é — literalmente — o homem mais forte da terra. E não estou exagerando. Ele já apare-ceu até num programa de TV. O sujeito levanta halteres de cerca de 470 quilos. Para batizá-lo, tivemos de virá-lo de lado para que coubesse em nosso tanque batismal. Ele é enorme, o tipo de su-jeito cuja cabeça sai direto do tronco; não há pescoço.

Sua esposa era capaz de me derrubar. Ela levanta mais de 180 quilos. (Não sei se você sabe, mas isso é muito para uma garota.) Não conheço os filhos do casal, mas aposto que são bem fortes também. Seria realmente muito estranho se eles tivessem filhos mirrados. Não faria sentido.

Nós servimos a um Deus forte, maravilhoso e todo-poderoso, mas não nos concentramos suficientemente nessas característi-cas. Consequentemente, nossas igrejas estão cheias de pessoas assustadas e fracas. Não parece certo para um Deus poderoso ter


filhos tão fracos. Poderosas não é um adjetivo que eu usaria para descrever a maioria das pessoas que lota as igrejas hoje. Devemos falar sobre a força de Deus. Deus é forte.

Quantas pessoas você descreveria como poderosas? Prova- velmente não muitas. Acho que é porque nós, cristãos, rara-mente pensamos nessa característica de Deus, por isso nos tornamos fracos. Quanto mais eu foco na força e no poder de Deus, mais descubro que tenho a coragem para fazer e dizer o que ele quer que eu diga.

Nós, que crescemos na igreja, aprendemos todas as poderosas histórias da Bíblia. Quando menino, frequentei escolas domini-cais aqui e ali e sempre procurei ouvir a respeito de Davi e Golias. Eu adorava a maneira com a qual aquele raquítico menininho gritou para Golias:

— Pelo poder do meu Deus, onde está esse filisteu incircunciso?Amei aquele rapaz que usou o poder de Deus para derrubar

um gigante.A força tem caracterizado os seguidores de Deus desde o co-

meço dos tempos. Lembra-se da história de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego? Eles disseram:

— Vão em frente, joguem-nos na fornalha ardente. Não temos medo. Não estamos preocupados. Nosso Deus é capaz de nos livrar.

O Deus de Daniel era poderoso. Ele disse:— Sigam em frente, joguem-me na cova dos leões. O que os

leões farão a mim? Eu tenho a força de Deus. Ele está comigo.Elias esteve no monte Carmelo, enfrentando 450 profetas de

Baal. Enquanto eles dançavam e gritavam ao seu Deus, Elias zombava deles. Ele sabia o que seu Deus estava prestes a fazer. Quando eles finalmente terminaram, Elias continuou de joelhos e mostrou-lhes o poder de Deus.

A história de Calebe é uma de minhas favoritas. Calebe e Josué eram um dos 12 espias que foram espionar Canaã.

Deus é forte • 15

Os espias foram e perceberam: “Puxa. Esses homens são enor-mes. Eles são muito fortes. Não podemos vencê-los”.

Mas Calebe disse:— Deixe-os comigo. Vamos lá. Nós conseguimos. Deus está

do nosso lado.Calebe demonstrou poder e confiança. Josué fez o mesmo:— Calebe tem razão. Com Deus do nosso lado, podemos ven-

cer qualquer povo. Não importa o tamanho dos guerreiros.Os outros dez espias e o restante do povo se acovardaram. Mas

os crentes sempre se distinguiram por seu poder. Também gosto muito da ocasião descrita em Josué 14, na

qual, quase meio século depois, eles estavam prestes a entrar em batalha, e Calebe, aos 85 anos de idade, disse:

— Sei que já se passaram quarenta e cinco anos. Sei que estou velho. Mas sou tão forte quanto era antes. Deixe-os comigo.

Calebe estava pronto para assumir o comando. Estava prepa-rado para agir da mesma forma que teria agido quarenta e cinco anos antes, porque nunca deixara de crer em seu Deus.

Não consigo evitar a pergunta: Onde estão hoje as pessoas de 85 anos que pensam dessa forma? Onde estão as pessoas de 45 anos que vivem com esse tipo de confiança, ousadia e força? Precisamos fazer uma autoavaliação. Em 2Timóteo 1.7, Paulo diz a Timóteo: “Pois Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio”.

Alguns meses atrás, eu estava apresentando um daqueles sermões em que tento ensinar a Bíblia inteira em um domin-go. (Pulei algumas coisas, mas queria transmitir o quadro todo.) Tentava suprir alguma coisa que faltava à medida que prosseguia, porque havia lido isso antes. Em Apocalipse, li como as coisas ter-minam bem para os que vencem. De repente, em Apocalipse 21, veio a certeza, porque aqueles que não se sujeitaram à marca da besta disseram: “Não! Não vou receber essa marca. Vocês podem torturar-me, matar-me de fome. Não vou recebê-la”. O final de


Apocalipse 21.7 diz: “O vencedor herdará tudo isto, e eu serei seu Deus e ele será meu filho”.

Então o versículo 8 diz: “Mas os covardes, os incrédulos, os de-pravados, os assassinos, os que cometem imoralidade sexual, os que praticam feitiçaria, os idólatras e todos os mentirosos — o lugar deles será no lago de fogo que arde com enxofre. Esta é a segunda morte”. Enquanto eu estava lendo, comecei a entender: as primeiras pes-soas daquela lista são covardes. Covardes? Posso lembrar as muitas vezes em que fiquei assustado — quando sabia que Deus queria que eu dissesse algo e não o fiz, quando sabia que ele queria que eu con-versasse com alguém e não conversei. Às vezes em meu momento de oração com Deus, eu lerei sua Palavra e pensarei: “Está tudo muito claro. Eu apenas tenho de me apropriar do que a Bíblia diz. Preciso cumprir o que é ordenado”. Mas então eu deixarei que as pessoas me afastem. Ou então eu me convencerei. Existem tantas coisas que sinto que deveria fazer, mas simplesmente desisto.

Todavia, quando leio essa passagem a respeito daqueles vence-dores, convenço-me de que é por isso que os cristãos, seguidores de Deus, devem ser conhecidos. Devemos ser fortes porque nosso Deus é forte. No entanto, não somos conhecidos por isso. Quase sempre estamos assustados; nós somos covardes. Isso não faz sentido. Seria muito estranho se aquele casal fortíssimo tivesse filhos raquíticos. Da mesma forma, a Bíblia retrata os seguidores desse Deus forte, todo--poderoso, como conquistadores destemidos. Vencedores. Do outro lado — sem o Espírito de Deus — estavam os covardes. As pessoas veem você como poderoso? Se alguém tivesse de descrever você, usaria essa palavra? Você tem esse tipo de confiança em seu Deus? Está seguro do que ele pode fazer por seu intermédio?

Fico preocupado porque há pessoas em nossa igreja que su-postamente têm o Espírito do Deus vivo — o mesmo que ressus-citou Cristo dentre os mortos — vivendo nelas. Possuímos mais recursos e mais instrução que qualquer geração antes de nós. Por meio de arquivos de áudio que podem ser acessados pela internet,


dispomos de qualquer sermão, de qualquer comentário, a um simples toque dos dedos. Temos toda ferramenta de que eventu-almente precisamos e, todavia, dizemos: “Não posso falar a meu vizinho. Seria estranho”.

Leio nas Escrituras a respeito de Davi dispondo-se a enfrentar Golias. Leio sobre Josué e Calebe. Elias. Paulo. Pedro. Pescadores sem instrução enfrentaram o mundo inteiro. Muito nos foi dado, e agimos como se disséssemos: “O quê? Andar pelas ruas e come-çar um relacionamento com os outros? Falar-lhes a respeito de Jesus? Isso é demais. Talvez eu os leve à igreja, onde alguém po-derá pregar-lhes sobre Jesus”. As pessoas podem ser cristãs duran-te décadas e ainda assim se sentir despreparadas para discipular outros. Elas receiam dizer a alguém: “Sigam meu exemplo, assim como eu sigo o exemplo de Cristo”. Todavia, é exatamente isso que Jesus declarou como sua vontade para nós. Casais que estão juntos há quinze, vinte, trinta anos, dizem: “Ah, eu não sei se po-deria dar aconselhamento pré-nupcial. Há um sujeito em minha igreja com doutorado em aconselhamento bíblico. Ele deve fazer isso”. Como é possível ainda não sabermos o suficiente? Anos de experiência e o Espírito Santo, mais todos os sermões do mundo na ponta de nossos dedos?

Acredito que nós — inclusive eu — simplesmente estamos com medo. É uma loucura pensar que, quanto mais tempo per-maneço no ambiente da igreja, mais assustado fico. Acho que é pelo fato de conhecermos pessoas tão talentosas e pensarmos: “Ele é bom demais; nunca conseguirei ser como ele”. Em vez de olhar para o Espírito Santo de Deus à procura de inspiração, com-paramo-nos com outras pessoas. Davi poderia ter dito: “Aqueles sujeitos são muito maiores do que eu”. Todos nas Escrituras pode-riam ter feito isso. Precisamos lembrar a quem adoramos. Deus é o Criador e está do nosso lado.

Eu estava jogando golfe com um amigo, e acabamos juntan-do-nos a outros dois jogadores. Aqueles sujeitos eram realmente


bons. Empataram nos dois primeiros buracos. (Eu não faço isso.) No buraco seguinte, um par de três, um dos sujeitos bateu em direção à areia. Lembro-me de ter pensado: “Ah, muito bom. Ele cometeu um erro. Agora não estou tão constrangido”. Então ele golpeou para fora da areia — diretamente dentro do buraco, mar-cando um ponto dificílimo.

Permaneci ali durante um segundo, boquiaberto. Então disse:— Certo, o que é isso? Tenho jogado com bons jogadores.

Mas vocês são realmente bons.O camarada deu uma risadinha condescendente:— É, disputei alguns campeonatos. Há uns sete, oito anos.Eu sabia que não podia vencê-lo porque ele havia disputado

campeonatos profissionais; ao contrário, exatamente por isso, o máximo que eu podia fazer é dar algumas tacadas mais longe que ele. Aplicando o balanço do corpo o mais forte que eu podia, depois de uns instantes finalmente comecei a me distanciar dele em alguns buracos. Quando chegamos perto do final, eu estava na frente dele uns 20 ou 30 metros. (Certo, ele tinha 73 anos, mas ainda dava belas tacadas.)

É claro que conversamos enquanto jogávamos, e tentei com-partilhar minha fé com ele. Eu imaginei: ele tem 73 anos; preciso testemunhar! E se ele não conseguir chegar ao fim deste jogo? Eu não queria esse peso em minha consciência.

Perguntei:— Então, você crê em Deus?Ele me fitou, um tanto desajeitado, e retrucou:— Há três coisas que não se discutem: Deus, religião e políti-

ca. Você não sabe disso?Eu não sabia.De qualquer forma fiquei contente em ter perguntado por

que deixá-lo nervoso o desconcentrou visivelmente do jogo. Então eu não podia deixar passar...

— Então você não crê mesmo em Deus?


Ele apenas me encarou com olhar perturbador.Eu continuei: — Sinceramente, eu quero saber o que você pensa. Quer di-

zer, se você não crê em Deus, então de onde veio tudo isto? — indiquei com um gesto em redor.

— Jardineiros — ele respondeu de forma brusca.Sou, porém, uma pessoa teimosa.— Você sabe a que me refiro: todo este mundo. Sério. Por

exemplo, não havia nada e, então, bum! Tudo isto está aqui?Ele retribuiu:— Muito bem... Talvez exista um Criador.Aquilo me satisfez... por alguns minutos.Demos mais algumas tacadas, e eu voltei ao assunto:— E o que você acha a respeito da Bíblia?Ele respondeu com um sorriso forçado:— Você acredita de fato na Bíblia? Ela é repleta de contradições.Eu o desafiei:— Diga-me uma.Ele pensou durante alguns segundos.— Certo. Você realmente acredita na arca de Noé? Acredita

honestamente que Noé levou dois camelos para a arca, mais duas vacas e, atrás deles, duas pequenas formigas? Será que ele se co-municou com as formigas? — O senhor imitou Noé em tom de zombaria: — Venham cá, formiguinhas!

Não posso dizer que alcancei grande sucesso com aquele sujeito, mas ele me faz lembrar que muitos de nós, cristãos, di-zemos que cremos, mas agimos como se tudo fosse um grande mito. Uma história bonita, é isso o que a Bíblia contém, mas convenhamos... É por essa razão que somos tão impotentes. Nossa falta de força provém de nossa falta de certeza de servir-mos a um Deus que pode fazer tudo. Tornamo-nos mais for-tes quando compreendemos plenamente quanto Deus é forte e poderoso.


Confesso que é difícil crer. Em tudo. Jesus ressuscitando Lázaro dentre os mortos. Josué fazendo o Sol parar. A história de Noé. Como fazer um casal de formigas entrar na arca? E as moscas-das-frutas? E, claro, tratava-se de um barco de ma-deira, por isso abrigar um casal de cupins parece ser uma má ideia. Como mantê-los lá? Por outro lado, se você acredita num Criador, nada é tão improvável. Você e eu não conseguiríamos. Mas, se um Criador pode criar duas formigas, não poderia fazê--las entrar num barco?

Sei que pode ser difícil compreender isso. Eu não sou capaz de criar. Você também não. Tente! Não é possível criar uma molécula, nem um único átomo. Todavia, quando falamos a respeito de Deus trazendo nosso mundo à existência por meio da palavra, não é difícil perceber que essas histórias na Bíblia realmente puderam acontecer. Se Deus é o Criador, e criou este mundo, obviamente ele pode fazer tudo acontecer sobre a terra. Sobre sua terra.

Precisamos compreender: se no princípio Deus criou os céus e a terra, então o que ele não pode fazer? Salmos 115.3 diz cla-ramente: “O nosso Deus está nos céus, e pode fazer tudo o que lhe agrada”. Deus faz o que quiser. A Bíblia diz que ele não é como nós. Posso desejar fazer algo, mas isso não significa que conseguirei fazê-lo. Mas existe um ser que faz qualquer coisa que desejar. Em Daniel 4.34b,35, o rei Nabucodonosor diz a respeito de Deus:

O seu domínio é um domínio eterno;o seu reino dura de geração em geração.

Todos os povos da terra são como nada diante dele.

Ele age como lhe agrada com os exércitos dos céus e com os habitantes da terra.

Ninguém é capaz de resistir à sua mão ou dizer-lhe: “O que fizeste?”.


A Bíblia diz que no céu existe um ser para o qual, se fosse possível reunir todas as pessoas da terra em um único ponto, isso não seria nada para ele. Quem pode reter a mão de Deus? Quem pode dizer-lhe: “Quem você pensa que é? Você não pode me di-zer o que fazer!”? Pelo fato de não podermos dizer tudo a respeito do poder de Deus, somos numa geração de pessoas arrogantes que pensa não precisar prestar contas a ninguém. Mas temos de considerar a diferença entre um criador e seu ser criado.

Digamos que eu pudesse criar do nada um pequeno ser humano agora mesmo. Eu poderia segurá-lo em minha mão. Eu seria seu criador, e ele seria minha criação. Agora me ima-gine segurando-o na palma da mão, admirando meu trabalho e dizendo:

— Você não é o meu dono! Posso fazer o que quiser. Quem você pensa que é?

Há um enorme abismo entre a coisa criada e o criador. Tal qual a Bíblia diz, como pode o minúsculo homem reter a mão de seu criador? É por isso que você pode reunir milhões dessas minúsculas pessoas, e elas pareceriam como nada perante seu criador. Deus é esse Criador. Deus é esse Produtor. Ninguém pode dizer a ele: “O que fizeste?”.

Todavia, nós fazemos isso o tempo todo. Nós o questionamos: “Por que fizeste isto desse jeito? Por que não fizeste o que eu queria?”. A resposta é: porque Deus quis desse jeito. Ele é Deus. Está no céu e pode fazer o que quiser. Não precisa de nossa per-missão. Não precisa da permissão de ninguém. Deus pode fazer coisas mesmo que você não as compreenda. Nosso pensamento não consegue alcançar essa profundeza. Quando Deus faz algu-ma coisa, ele a faz corretamente. Isso a torna justa. Deus não faz coisas porque elas são justas. As coisas são justas porque Deus as realiza. Não posso dizer a Deus: “Eis as regras. Eis o que é corre-to. O Senhor precisa ficar dentro destes parâmetros”. Não, Deus é quem fixa os parâmetros.


Ouvi uma de minhas citações favoritas, provavelmente uns quinze ou vinte anos atrás. Eu estava dirigindo meu carro, ou-vindo no rádio o velho pastor J. Vernon McGee. Ele faleceu há algum tempo, mas era o tipo de pastor da “velha guarda”, com a voz berrante que eu adorava ouvir. Nunca esquecerei o que ele disse:

— Este é o Universo de Deus, e Deus faz as coisas do seu jeito. Você pode ter um jeito melhor, mas não tem o Universo.

Isso é perfeito. Resume tudo, não é? Talvez você pense não ser justo Deus ter criado o inferno, um lugar de punição. Talvez pen-se que ele não deveria tê-lo feito eterno. Talvez pense: “O Senhor não pode dar-me um desejo e depois me dizer para não fazer aquilo”. Todos nós temos ideias diferentes a respeito do que Deus deveria fazer. Você acredita saber o que faria se fosse Deus. J. Vernon diz: “Ótimo! Quando você tiver seu próprio universo, faça do seu jeito. Mas, por enquanto, este é o Universo de Deus. E ninguém retém sua mão”.

Temos de aceitar que Deus faz o que ele quer. Precisamos ter um senso de reverência por seu poder. Em 1Timóteo 6.15b,16, Paulo lembra Timóteo:

Ele é o bendito e único Soberano, o Rei dos reis

e Senhor dos senhores, o único que é imortal

e habita em luz inacessível, a quem ninguém viu

nem pode ver. A ele sejam honra e poder para sempre. Amém.

Somente um ser corresponde a essa descrição. Nenhum de nós tem o controle. Somente um ser tem o controle absolu-to: o Rei dos reis e Senhor dos senhores. Não importa quan-to você acredite ser bem-sucedido ou poderoso. Deus é o rei


sobre você, o único Senhor, não importa quem você seja. Ele é o soberano incomparável.

Somente Deus é imortal. Somente posso respirar porque ele me permite. Ele controla essa coisa chamada vida. Ele determina se você sairá da sala onde está neste momento. Somente Deus pode dar a vida. Somente ele pode tirá-la. Ele é capaz de tudo. Você compreende que Satanás está vivo apenas porque Deus per-mite que ele esteja? Todos os demônios morreriam no momento em que Deus decidisse tirar-lhes a vida. Deus é um ser que possui todo poder, toda vida. Somente ele é imortal.

Então, o que você dirá a esse Deus? Você dirá que ele não tem permissão para fazer algo? Nós nos tornamos arrogantes porque esquecemos que somente um ser dá vida, o único soberano, o único que está no controle. É somente por sua graça que respi-ramos. A Bíblia diz que Deus habita em luz inacessível. Ele está vestido em luz. Morreríamos se tentássemos olhar diretamente para ele. Nenhum ser humano pode olhar para Deus e viver. Somente um ser habita em luz inacessível, tem todo controle e é imortal. Somente um verdadeiro governante é rei sobre todos nós. Todavia, podemos começar a nos achar importantes demais a ponto de questioná-lo. Esquecemos seu poder. Ninguém o viu nem pode vê-lo. A ele seja a honra e o domínio eterno.

Na época da Páscoa, eu estava estudando Filipenses 2, a respeito do retorno de Cristo para assumir seu lugar de direi-to. Esta passagem é referenciada no Antigo Testamento em Isaías 45.22,23:

“Voltem-se para mim e sejam salvos, todos vocês, confins da terra;

pois eu sou Deus, e não há nenhum outro.

Por mim mesmo eu jurei, a minha boca pronunciou

com toda a integridade


uma palavra que não será revogada: Diante de mim todo joelho se dobrará; junto a mim toda língua jurará”.

Deus diz aqui: “Eu sou o único Deus, por isso voltem-se para mim e vocês serão salvos”. Ele faz também uma declaração: “Por mim mesmo eu jurei”. Algumas traduções dizem: “Eu jurei a mim mesmo”. Não se deve jurar. Eu não defendo jurar. Não jure. Mas o que dizem as pessoas maliciosas que juram? Elas dizem: “Juro por Deus”, certo?

Deus mesmo diz: “Juro por mim mesmo”. Isso é impressio-nante. Pelo que você juraria? Queremos jurar pelo maior poder que existe. É maravilhoso — temos um Deus no céu que diz: “Juro por mim mesmo, porque não há nada maior. Eu sou o úni-co Deus”.

Ele continua: “A minha boca pronunciou com toda a integri-dade uma palavra que não será revogada”. Em outras palavras, ele diz: “Quando digo que algo irá acontecer, isso acontecerá”. Quando você e eu dizemos que algo irá acontecer, a probabili-dade é de 50%. Não temos, no final das contas, o controle. Mas Deus tem. Ele diz: “Quando digo algo, isso acontece. Juro por mim mesmo. É a minha boca que está dizendo, por isso saiba que acontecerá”.

Deus continua: “Diante de mim todo joelho se dobrará; junto a mim toda língua jurará”. O que ele está dizendo aqui é: “Juro por meu próprio nome e, quando digo algo, isso acontece. Um dia todas as coisas criadas se dobrarão perante mim. Todos reco-nhecerão que eu sou Deus”.

Não sei o que isso representa para você. Houve um tempo em minha jornada cristã em que eu quase tinha medo desse poder. Agora, essa é a minha maior segurança. Se Deus é por mim, quem pode ser contra mim? Quando não falarmos sobre o poder de Deus, perdemos nossa segurança. Parecerei um tanto simplório


enquanto viver neste mundo. Em razão da minha moralidade, daquilo em que creio, e pelo fato de eu confiar na Bíblia, pare-cerei tolo para muitas pessoas. Falarei a respeito desse Jesus que morreu por nossos pecados, e muitas pessoas o rejeitarão. Mas sei que chegará o dia em que esse Deus virá. Eu estou ao lado dele, por isso me curvo agora. Deus é poderoso. Ele colocou seu Espírito em nós, e nós, como filhos, devemos ser corajosos.

Josué 1.6-9 diz:

“Seja forte e corajoso, porque você conduzirá este povo para herdar a terra que prometi sob juramento aos seus antepassados. Somente seja forte e muito corajoso! Tenha o cuidado de obedecer a toda a lei que o meu servo Moisés lhe ordenou; não se desvie dela, nem para a direita nem para a esquerda, para que você seja bem-sucedido por onde quer que andar. Não deixe de falar as palavras deste Livro da Lei e de meditar nelas de dia e de noite, para que você cumpra fielmente tudo o que nele está es-crito. Só então os seus caminhos prosperarão e você será bem-sucedido. Não fui eu que lhe ordenei? Seja forte e corajoso! Não se apavore, nem desanime, pois o Senhor, o seu Deus, estará com você por onde você andar”.

Deus diz a Josué repetidas vezes: “Seja forte e corajoso. Seja forte e corajoso. Seja forte e corajoso. Seja forte e muito corajoso. Não se apavore”. Força e coragem devem tipificar-nos, caracteri-zar-nos e definir-nos. Por causa do Espírito que está em nós, não devemos ter medo.

Há dias em que me sinto desencorajado, até mesmo derrota-do. Meus amigos da igreja colocam o braço a minha volta, cho-ram comigo e dizem coisas como:

— Sinto muito. Sei que é difícil.— Por que você não tira umas férias?— Talvez você precise de mais tempo com a família.


— Você deveria dormir mais.Anseio pelo dia em que, em vez disso, alguém me diga:

“Francis, sabe de uma coisa? Você é uma pessoa poderosa. O Espírito Santo de Deus está em você. Sei que as coisas não são fáceis. Mas seja forte e corajoso”.

Não conheço muitos cristãos que se reúnem e encorajam uns aos outros. Pedro e João deixaram as pessoas surpresas por sua intrepidez; todavia, quando saíram da prisão, oraram por mais in-trepidez! Em Efésios 6.19,20, Paulo, o sujeito mais destemido da terra, pede: “Orem também por mim, para que, quando eu falar, seja-me dada a mensagem a fim de que [...] eu fale com coragem, como me cumpre fazer”. Os membros do Corpo de Cristo preci-sam mais uma vez impor as mãos uns sobre os outros, orando por intrepidez e força. Devemos lembrar uns aos outros que servimos a um Deus todo-poderoso. Ele voltará, e todo joelho se dobrará. Ele jurou por si mesmo que isso acontecerá. Podemos parecer tolos agora, mas precisamos permanecer a seu lado e fazer tudo o que a sua Palavra diz. Vivamos isso. Andemos nisso. Insistamos uns com os outros na direção da intrepidez, do poder e da força. A Igreja de Jesus Cristo deve uma vez mais ser conhecida como forte, intrépida e corajosa.

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