Quem é Amida

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Quem é Amida? Uma Visão Ocidental Muitos perguntam, afinal o que ou quem é Buda Amida. Existem muitos textos que tentam explicar o mito de Amida ainda de uma maneira metafórica do jeito que ocidentais sem qualquer referência católico-cristã possam entender. Contudo existe uma torrente de iniciantes e muitos praticantes experientes que ainda não conseguem desassociar a figura de Buda Amida de um ser supremo, regulador ou dono das ações humanas. Para compreendermos quem ou o que Buda Amida realmente é, temos que levar em conta alguns aspectos e posturas, como seguem. O Budismo Shin é uma tradição budista e segue os sutras budistas, portanto temos que partir do pressuposto que ele passa uma mensagem budista e cabe a nós entende-la. Shinran Shonin (fundador da escola budista Jodo Shinshu) não era nenhum maluco e portanto merece credibilidade. Não sendo Shiran um louco, lembro que ele baseou a doutrina da Terra Pura em ensinamentos de 7 Mestres (Shichi Kozo) renomados do Budismo e anteriores a ele: Nagarjuna (dito o "pai" do Mahayana e criador da filosofia Madhyamika), Vasubandhu (criador da filosofia Yogacara), T´an Luan (mestre chinês que compilou vários textos e sutras da Terra Pura), Tao Cho (popularizou a doutrina da Terra Pura na China), Ch´an Tao, Genshin e Honen (que foi o grande professor, mentor e inspirador de Shinran Shonin). Também temos que a figura do Buda Amitabha e de Amithayus (Amida em japonês e Amito em chinês) é unânime em todas as linhagens budistas, incluindo o Zen, o Ch´an e as escolas tibetanas portanto o Budismo Terra Pura não apresenta nada de novo, nem estranho à doutrina budista em geral, aliás muito pelo contrário. A única tradição que não possui este conceito é a Theravada. Lembremos que no oriente, o uso de metáforas, alegorias e mitos para se explicar conceitos, arquétipos e fundamentos é largamente utilizado. Um exemplo: Avalokitesvara (Kannon em japonês e Kwan Yin em chinês) é representado como uma figura humana, mas não há indícios históricos que comprovem que ele definitvametne existiu, ou seja, é um mito. E muitos budistas recitam "Om Mani Padme Hung" que é o mantra

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Quem é Amida? Uma Visão Ocidental

Muitos perguntam, afinal o que ou quem é Buda Amida. Existem muitos textos que tentam explicar o mito de Amida ainda de uma maneira metafórica do jeito que ocidentais sem qualquer referência católico-cristã possam entender. Contudo existe uma torrente de iniciantes e muitos praticantes experientes que ainda não conseguem desassociar a figura de Buda Amida de um ser supremo, regulador ou dono das ações humanas.

Para compreendermos quem ou o que Buda Amida realmente é, temos que levar em conta alguns aspectos e posturas, como seguem. O Budismo Shin é uma tradição budista e segue os sutras budistas, portanto temos que partir do pressuposto que ele passa uma mensagem budista e cabe a nós entende-la. Shinran Shonin (fundador da escola budista Jodo Shinshu) não era nenhum maluco e portanto merece credibilidade. Não sendo Shiran um louco, lembro que ele baseou a doutrina da Terra Pura em ensinamentos de 7 Mestres (Shichi Kozo) renomados do Budismo e anteriores a ele: Nagarjuna (dito o "pai" do Mahayana e criador da filosofia Madhyamika), Vasubandhu (criador da filosofia Yogacara), T´an Luan (mestre chinês que compilou vários textos e sutras da Terra Pura), Tao Cho (popularizou a doutrina da Terra Pura na China), Ch´an Tao, Genshin e Honen (que foi o grande professor, mentor e inspirador de Shinran Shonin).

Também temos que a figura do Buda Amitabha e de Amithayus (Amida em japonês e Amito em chinês) é unânime em todas as linhagens budistas, incluindo o Zen, o Ch´an e as escolas tibetanas portanto o Budismo Terra Pura não apresenta nada de novo, nem estranho à doutrina budista em geral, aliás muito pelo contrário. A única tradição que não possui este conceito é a Theravada.Lembremos que no oriente, o uso de metáforas, alegorias e mitos para se explicar conceitos, arquétipos e fundamentos é largamente utilizado. Um exemplo: Avalokitesvara (Kannon em japonês e Kwan Yin em chinês) é representado como uma figura humana, mas não há indícios históricos que comprovem que ele definitvametne existiu, ou seja, é um mito. E muitos budistas recitam "Om Mani Padme Hung" que é o mantra de Avalokitesvara, que nunca existiu... logo, isto tb não é considerado "anti-budismo". Recitar um mantra não é confiar num "poder" que não é o seu?

Vamos também deixar dogmas e conceitos católico-cristãos de fora. Não dá para ficar comparando Budismo com Cristianismo, pois não dá para argumentar com dogmas e lembremos que Shakyamuni sempre utilizou métodos diferentes para explicar a mesma coisa para pessoas diferentes. Podemos dar uma explicação extremamente "técnica" sobre o assunto, mas querendo evitar tal prática, pretendemos tentar explicar de uma maneira mais coloquial, mais acessível a todos.

Muito bem, isto posto e entendido vamos lá.

É muito comum criarmos uma confusão mental quando tentamos entender um mito ou a personificação arquétipica tão comum na Índia e ocidente em geral, pois geralmente entramos em conlifto com nossas bases católico-cristãs. Você se sente assim? Bem-vindo ao time! No começo, tudo geralmente é muito estranho, mas sempre temos que ter em mente que estamos numa escola budista, logo tudo tem que ter uma lógica clara...

O Buda Amida, como Buda primordial, é a fonte, a origem de todos os Budas,

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mitologicamente falando. Imagine uma fonte de água do tamanho de vários universos, a fonte é o Buda e a água é o composto de sabedoria e compaixão, luz e vida. Esta água transborda pela fonte e é infinita, formando "poças" pelo Universo em que nos encontramos e em nossa existencia atual. Cada vez que pisamos nestas "poças" entramos em contato com a "mente búdica", a "mente pura" de Buda. Buda Amida é uma "entidade teológica personificada", segundo Rev. Prof. Ricardo Mario Gonçalves. É uma representação da Iluminação em si. Mas de nenhuma forma é um ser, ou um regulador, ou um juiz, ou um criador. Em nada se assemelha ao deus cristão. Ele não é a origem de tudo, ele é a representação da origem da comapixão ilimitada, tanto que no mito de Avalokitesvara, este nasce de uma lágrima de Amithaba.

Troque Buda Amida por "Iluminação" ou "Natureza Búdica" e releima os textos que falam sobre Ele. Acho que fica mais fácil assim! E troque "Terra Pura" por "Nirvana", vocês verão que as peças começam a se encaixar. E se vc encontrar a palavras "Shinjin" (Mente Confiante) troque por "Mente Búdica" ou "Mente Pura".

Muitos perguntam: Amida é uma figura a qual devo recorrer em momentos de necessidade? Olhem, na verdade, no momento de necessidade você só tem a si próprio e aos ensinamentos budistas. Não dá para recorrer a ninguém mais. Está conosco! Não podemos confundir com o deus cristão. O mito de Amida só pode nos oferecer o porto seguro do Dharma, mas ele não elimina karmas. Por favor, leiam o texto OCEANO que está aqui no blog . Acho que vão entender o que queremos dizer. Buda Amida não controla nada no Universo. Ele não existe! É uma metáfora! Uma metáfora, não pode controlar o mundo e não há divindade no Buda Amida, podemos rezar para ele o quanto quisermos e pedir para ele nos iluminar, mas não vai dar resultado.

Mas como não podemos nos iluminar sozinhos? Perguntariam alguns. Quando falamos em "poder próprio" estamos dizendo que se você senta para meditar, por exemplo, com o intuito de se iluminar você nunca vai conseguir isso, por que quem está no comando é o seu EGO e toda a filosofia budista está calcada na eliminação deste. Como vc vai se iluminar através de algo que você tem que eliminar? Leiam o texto OCEANO que é um texto que ilustra bem isso. E, olhem, isto não é exclusividade da Escola da Terra Pura no Budismo, não! Agora se você se senta com a mente limpa, sem pretenções, sem objetivos, apenas confiante que você pode chegar lá e tem a consciência de que para chegar lá você tem que se distanciar cada vez mais de seu objetivo, mas sempre confiando que isso é póssível porque várias pessoas já conseguiram desta forma, você chega! O próprio "querer se iluminar" é uma manifestação egóica, a Iluminação é uma consequência, não um objetivo e sendo uma consequência, não depende de você. Agora se passamos a ter a confiança (erroneamente traduzido por "fé") - SHINJIN - passamos a ver o mundo sem julgamento, ver o mundo com a MENTE BUDICA, e ver o mundo desta maneira, é ver a realidade como ela realmente é. É pisar na poça de Amida! Tanto que Shinran fala que basta recitar o nome de Buda Amida uma única vez, desde que que feito com a mente pura, mente búdica, mente confiante, Shinjin e estamos garantidos!

Agora isso não é exclusivdade nossa [Budismo Shin], olhem as thangkas (pinturas sagradas) tibetanas, na sua grande maioria Amitabha está lá. No Zen e no Ch´an é a figura central nos altares. Por que? Porquê todas as escolas tem este conceito, só que poucas dão nomes "aos bois" e centram seu ensinamento nisso de forma explícita. Peguemos o Ch´an como exemplo, praticam meditação, mas cumprimente um praticante Ch´an, para ver. Em vez de "Olá", ele vai te dizer "AMITOFO" que é "Buda Amida" em

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chines!

Se estamos todos interligados (fenômeno da interdependência) e todas as nossas ações são refletidas no universo, temos que nos integrar a isso, eliminando nossa mente dualizada (você já deve ter ouvido isso largamente pelos ensinamentos budistas) estamos eliminando o "NOSSO PODER", o Poder Próprio, Jiriki e dando lugar, ao PODER DO OUTRO, ou o poder unificado, Tariki.. De uma maneira simples, o "Outro Poder" é a ausência do EGO!

Então não podemos contar cosigo mesmo? Não! Você deve contar com você próprio para alterar sua visão do mundo. Todo o caminho começa com o nosso próprio poder, nosso ego, nossa vontade e depois vemos que ele não é suficiente, pois nosso EGO é nosso maior obnstáculo. Troque "Outro Poder" por "Ausencia de Ego" e veja o significado.

Várias pessoas acreditam que no budismo só podem contar consigo, que esse é o valor central do Budismo e que não devemos depender de um deus com o qual tenho que barganhar. Mas, como vamos barganhar com Buda Amida? Barganhar com alguém que não existe? Vai barganhar o que? Oferendas? Para quem? Mas, mesmo assim "devo me sentir dependente de um buda de luz infinita"? Não, não é dependência. É compreensão e garantia. Compreensão de que temos um EGO e garantia que podemos subjugá-lo e quando falo que não podemos nos iluminar sozinhos, quero dizer pelo nosso próprio esforço. Pq pessoas que sentam para meditar durante décadas não chegam a lugar algum? Buda só meditou 49 dias! Tem gente que medita por 25 anos e não sai do lugar. Por que? Por que fazem errado? Mas as regras da meditaçao são simples e claras, não tem erro. Quantas pessoas meditam no mundo todo? Há quanto tempo? E por que não teve nenhum Buda entre nós nos últimos 2000 anos? A meditação é um caminho tão válido quanto o Nembutsu (recomendo a leitura do livro "Budismo Essencial de Gyomay Kubose para maiores comparações), pois da mesma forma que muitos meditadores devotados aos seus atos não se iluminaram nos últimos séculos, tantos outros grandes recitadores do Nembutsu, também não lograram èxito! Por quê? Pq simplesmente é muito difícil se iluminar por conta própria, com todo a carga egóica que temos. Nossa mente é como um macaco pulando de árvore em árvore, estamos sempre julgando os outros e a nós mesmos, não conseguimos ver as coisas como são.

Não temos Mente Búdica!

O mito de Amida nos ajuda a compreender um conceito extremamente amplo e primordial, que se mostra de difícil absorção para os ocidentais, levando em consideração nosso passado arraigado aos dogmas cristãos e a visão judaico-cristã de um demiurgo que regula, julga e determina o futuro. Buda Amida não se apresenta nestas condições, nem com este papéis, é a simples "materialização" da origem de toda a sabedoria e compaixão existentes.

Namo Amida Butsu!

AmitabaOrigem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

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Estátua do Buda Amida em Camacura, no Japão

Amitaba, Amitabha ou Amida (do sânscrito amitaabha)é um dos Cinco Budas da Meditação. É o buda principal da família de Lótus (em tibetano: Pema), da direção Oeste, de cor vermelha, que purifica o carma do desejo. O seu animal associado é o pavão e seu elemento, o fogo. Seu agregado é a percepção. Representa a sabedoria discriminativa dos budas. Sua sílaba sagrada em tibetano é hri. Sua consorte é Mamaqui, que representa a propriedade do que é sólido. Amitaba tem um especial comprometimento com a iluminação de todos os seres, sendo conhecido como o buda da transferência da consciência na hora da morte e da passagem pelo bardo, sendo objetivo dos que o cultuam alcançar a iluminação ou renascer na Terra Pura de Amitaba, onde se alcançaria a iluminação.

No Tibete, é conhecido por Od Pagme e, no Japão por Amida Niorai (阿弥陀如来, あみだにょらい), sendo o mantra do Buda Amida em japonês conhecido por nenbutsu, como contração de namo Amida Butsu. Acredita-se que a repetição do nenbutsu leva ao renascimento na Terra Pura de Amitaba. A devoção ao renascimento na Terra Pura de Amitaba originou, no Japão, o budismo terra pura. Para os japoneses, Amida governa a região da felicidade, do céu e personifica a inteligência da prédica e a caridade no amor. Impõe, para o gozo da bem-aventurança, cinco prescrições: não matar, não roubar, não se entregar à libertinagem, não mentir e não ingerir substâncias entorpecentes ou alucinógenas.

É representado ora com três cabeças e longas barbas, ora com uma cabeça de cão, montado em um cavalo de sete cabeças, ou ainda sentado, tendo as pernas cruzadas sobre um lótus. No budismo vajrayana, praticamente todas as divindades representadas

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na cor vermelha pertencem à família Lótus e, em geral, em sua iconografia, possuem uma pequena imagem do Buda Amitaba sobre suas cabeças, indicando serem uma emanação em relação a Amitaba.

Shinran e o Shin(Shinran e o Jodo Shinshu)

Hisao Inagaki  

Palestra Inaugural da Cátedra Numata da Universidade de Leiden - Holanda, 7 de Abril de 1992

(texto em inglês revisado pelo autor em Fevereiro de 2007)

I

Origem do ShinO Budismo difundiu-se para o nordeste além das fronteiras de sua terra natal Índia e atingiu a China nos primeiros séculos de nossa era, e dali para a Coreia e o Japão. A forma de Budismo que foi introduzida nestes países e que desfrutou de popularidade foi predominantemente Maaiana, uma das duas maiores denominações budistas.  O ponto de vista fundamental Maaiana é compartilhado pelas suas diversas escolas, dentre elas o Zen e o esoterismo tibetano - que se tornaram populares no Ocidente -  e também pelo Jodo Shinshu de Shinran, tema principal desta palestra.

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Da Índia o Budismo difundiu-se para a China, Coreia e Japão, entre outros países.Jodo Shinshu significa “a verdadeira essência do ensinamento da Terra Pura”,  que originalmente não é o nome de uma escola. Shinran não tinha a intenção de fundar uma nova corrente, pois buscava simplesmente revelar a essência do ensinamento da Terra Pura que havia sido transmitido e desenvolvido pelos sete eminentes mestres na Índia, China e Japão. Ele compilou várias citações das obras destes mestres e também dos sutras e discursos da Terra Pura, e assim elaborou um sistema abrangente do ensinamento da salvação, que se tornou conhecido como Jodo Shinshu, a Verdadeira Escola da Terra Pura, ou Shinshu, a Escola Verdadeira. Este ramo do Budismo da Terra Pura veio a ser amplamente conhecido pelo nome de “Shin” desde a primeira vez em que D.T. Suzuki usou esta denominação. Apesar de ser considerado o expoente máximo do Zen, Suzuki de fato fez uma grande contribuição para a introdução do Shin no Ocidente escrevendo artigos e traduzindo os primeiros quatro capítulos do magnum opus de Shinran, o Kyogyoshinsho (ensinamento, prática, fé e iluminação). Doravante usarei esta abreviação – Shin – para Jodo Shinshu.

IIO Buda da Luz e Vida Infinitas

Todos os sistemas doutrinais e práticos do Budismo da Terra Pura estão centrados em um Buda específico, chamado Amida, que acredita-se habitar o paraíso ocidental

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conhecido como a Terra da Derradeira Bem-Aventurança (Sukhavati em sânscrito) ou, mais popularmente a Terra Pura. “Amida” é a leitura japonesa do chinês “O-mi-t’o”, que representa o sânscrito “Amita”, significando “imensurável” ou “infinito”. Explica-se “Amita” como a representação de “amita-abha” (luz infinita) e “amita-ayus” (vida infinita). Amida, portanto, é mais conhecido no ocidente como Amitabha, o Buda da Luz Infinita, e também Amitayus, o Buda da Vida Infinita.

Representação do Buda Amida em uma mandala.Amida é o Buda mais popular no Japão, talvez mais popular do que o fundador do Budismo, Shakyamuni. Sendo um Buda transcendente além do tempo e espaço, Amida salva aqueles que nele têm uma fé sincera e chamam o seu Nome, envolvendo-os em sua Luz e acolhendo-os em sua Terra da Bem-aventurança. Sua atividade salvífica é assistida por Bodisatvas (ver explicação na parte IV), liderados por Kannon (Kuan-yin, Avalokiteshvara) e Seishi (Shih-chin, Mahasthamaprapta). Vê-se estátuas de Amida entre estes dois Bodisatvas em muitos templos no Japão.

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Bodisatva Seishi, Buda Amida e o Bodisatva KannonExistem três escrituras fundamentais oriundas da Índia e Ásia Central que fornecem relatos completos da história do Buda Amida e de sua atividade salvífica, das manifestações gloriosas da Terra Pura, da sua natureza essencial, e assim por diante. Elas também descrevem como podemos nascer na Terra Pura e lá atingir a Iluminação.

Os sutras fundamentais do Shin

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IIIPrincípios Básicos do Budismo

Antes de comentar o conteúdo dos três sutras da Terra Pura, faz-se necessário elucidar alguns princípios básicos do Budismo. O primeiro é a teoria do carma, que significa “ação”. A lei do carma é aceita no pensamento hindu de modo geral e é explicada integralmente no Budismo. De acordo com esta lei, a nossa existência tem uma continuidade desde um passado sem início até o presente e, impulsionada pelo carma, irá continuar ininterruptamente até um futuro indefinido. A nossa vida, portanto, não termina com a morte; será seguida por outra em uma forma diferente. Conforme a qualidade e a quantidade de nossos atos morais, nosso destino futuro é determinado. Em suma, o que somos é o resultado do que fizemos no passado e o que fizermos agora determinará o que seremos. Desta forma, no Budismo não se  concebe um deus criador; o nosso carma, aí incluídos os nossos pensamentos e palavras, é o responsável pelos nossos estados de existência. 

Em segundo lugar, tal continuação da existência, chamada Samsara, é considerada dolorosa. Ainda que se atinja um estado superior de existência nos

paraísos, este não dura para sempre. Eventualmente será seguido por infortúnios em um estado inferior. O Budismo nos ensina o caminho da emancipação

dos ciclos de nascimentos e mortes no Samsara. Tal estado de emancipação é chamado Nirvana. 

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Em terceiro lugar, o Budismo não estimula simplesmente atos moralmente bons. A

qualidade do ato é importante. Entretanto, dificilmente

poderemos fazer o bem se os nossos atos são baseados no

apego ao eu; assim eles produzirão apenas um efeito limitado, muito distante do

Nirvana. Atos verdadeiramente bons deveriam, portanto, ser livres do apego ao eu; porém tais atos podem ser realizados com sucesso apenas através da

meditação intensiva. 

Em quarto lugar está o princípio Maaiana da originação dependente (pratitya-samutpada) e também o da vacuidade (shunyata). Resumidamente, tais princípios significam que todas as coisas existentes estão mutuamente relacionadas, e são,

portanto, desprovidas de substância própria. Baseado nesta compreensão, o Bodisatva busca cultivar méritos puros sem estar apegado a nada, principalmente a si mesmo. 

O último princípio é que os méritos puros obtidos através de atos desinteressados de amor e compaixão podem se manifestar como corpos gloriosos de Budas e suas Terras Puras. Tais méritos podem também ser compartilhados por outros seres. Aqueles que compartilham dos méritos puros dos Budas podem rapidamente atingir a emancipação.

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IVBodisatva

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Bodisatva Kannon (Kuan-yin, Avalokiteshvara)

Todos os seres vivos são Budas em potencial. O Maaiana enfatiza que todos têm a natureza de Buda. A pessoa que acredita em sua natureza de Buda e procura vivê-la é

um Bodisatva. No começo de sua carreira, o Bodisatva faz certos votos, com a determinação de atingir a mais alta sabedoria (bodhi) e libertar todos os seres sencientes

do sofrimento. No Maaiana concebe-se que há inúmeros Bodisatvas no universo que estão praticando o caminho para o Estado de Buda e também incontáveis Budas que já

completaram o curso do Bodisatva.  

De acordo com o Sutra Maior

Sukhavatvyuha (Sutra Maior), a mais longa e a

mais importante das três escrituras canônicas, Amida

havia sido anteriormente um rei, que encontrou-se com um Buda e

ficou profundamente impressionado

com sua personalidade. Ele então renunciou ao mundo e se tornou um Bodisatva, um

buscador do Caminho, chamado

“Dharmakara” (“Depósito do

Darma ou

Buda Lokeshvararaja mostra terras búdicas para

Dharmakara.

Também resolveu atingir a Budeidade e salvar todos os seres

que sofrem. Atendendo ao seu pedido o Buda mostrou e explicou

para ele todas as gloriosas manifestações

Após conhecê-las, Dharmakara meditou por cinco aeons (kalpas)

sobre a terra búdica que iria estabelecer e sobre o caminho para

salvar os seres do sofrimento.

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Verdade”).

O rei renuncia ao mundo e se torna

um monge chamado Dharmakara.

dos vinte e um bilhões de terras búdicas.

A contemplação do monge Dharmakara.

Quando o plano de sua terra búdica e

seu método de salvação

se tornaram claros, ele

os expressou

em quarenta e oito votos.

Dharmakara proclama os quarenta e oito votos.

As práticas meritórias do

bodisatva Dharmakara.

O Sutra Maior explica que a

carreira de Dharmakara como

um Bodisatva durou por muitos

éons em vidas inumeráveis, pois

votos sozinhos não se tornam

realidade automaticamente; a fim de realizar

os votos, é necessário praticar

No ponto em que sua sabedoria atingiu o ápice e suas virtudes e méritos desenvolveram-se por

completo ele (Dharmakara) se tornou um Buda, chamado “Amida”. Seus méritos supremos e

ilimitados foram então manifestados, como seu corpo majestoso e iluminado e a gloriosa Terra

Pura, tal e qual prometido em seus votos.

A Terra Pura do Buda Amida.

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todos os tipos de atos meritórios e

também cultivar a sabedoria.

De todos os votos, o Décimo-Oitavo é o mais importante para os budistas da Terra Pura porque ele promete a salvação daqueles que mantém a fé sincera e chamam o nome de Amida. Este voto provê um canal de contato entre Amida e o homem, que pode partilhar do mérito de Amida repetindo seu Nome, assim tornando-se apto a

nascer na Terra Pura.

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Apesar de os Budas e suas esferas de atividade estarem além de nossas percepções sensoriais e conceitos, eles podem ser visualizados por

mentes especialmente treinadas. O segundo dos três sutras da Terra Pura, comumente conhecido pelo título “O Sutra da Contemplação”, apresenta um método através do

qual pode-se visualizar Amida e sua Terra Pura com o olho espiritual. 

A mandala do Sutra da Contemplação.Explicando de maneira simples,

existem treze níveis de visualização, começando com a concentração no sol poente. Primeiro, é necessário

voltar-se para o oeste, olhar atentamente para o sol poente e fixar

esta imagem na mente até que se possa vê-la continuamente, estejam os

olhos abertos ou fechados. Quando isto é alcançado, vai-se para o

próximo nível que é a meditação sobre a água. Forma-se uma imagem tal de modo que todo a região oeste seja inundada com água; no passo

seguinte visualiza-se esta água congelando-se e então toda a extensão

do gelo torna-se lápis-lazúli.

E daí, sendo o solo da Terra Pura  feito de lápis-lazúli, uma vez  visualizado pode-se

então construir imagens de outros aspectos e ir prosseguindo até a visualização do próprio Amida. O Sutra da Contemplação diz que a visualização bem-sucedida de Amida e sua

Terra Pura extingue o carma maléfico e assegura o nascimento nela após a morte.

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Contemplação do sol poente e da água.

Contemplação de Amida e dos Bodisatvas.

VNembutsu - O Nome Sagrado

Durante toda a história do desenvolvimento do Budismo da Terra Pura na Índia, China e Japão, a recitação do sagrado Nome de Amida tem sido a prática essencial para atingir o nascimento na Terra Pura. Esta prática, conhecida como Nien-fo em chinês, buddha-

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anusmriti em sânscrito e nembutsu em japonês, consiste na repetição da fórmula de seis caracteres: na-mo-o-mi-t’o-fo em chinês ou namo amida butsu em japonês. Esta fórmula literalmente significa “Adoração ao Buda Amida” ou “eu tomo refúgio no Buda Amida”. No Sutra da Contemplação, depois das treze visualizações, nove graus de aspirantes são diferenciados de acordo com suas realizações morais e religiosas e a gravidade das transgressões cometidas. Para os graus inferiores daqueles que fizeram ofensas graves, o Buda recomenda a recitação do nome de Amida. De acordo com a lei do carma, tais malfeitores estariam fadados ao inferno, porém o carma maléfico é cancelado pelo mérito do Nembutsu, que eles repetem e assim podem nascer na Terra Pura.

O Nembutsu é também recomendado exclusivamente no Sutra de Amida, a menor das três escrituras da Terra Pura, onde é dito que repetindo-se o nome do Buda Amida com o coração sincero por sete dias é possível atingir o nascimento na Terra Pura (jp. ojo jodo). Mais importante, no Décimo Oitavo Voto, que promete a salvação de todos os seres, o Nembutsu é apresentado, juntamente com a fé profunda (jp. shinjin), como prática essencial que leva ao nascimento na Terra Pura.

Os sete patriarcas do Shin.

Quando comparado à prática meditativa centrada na visualização de Amida e sua Terra Pura, o Nembutsu recitativo é uma prática fácil que pode ser desenvolvida a qualquer

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tempo e em qualquer lugar. Tal facilidade, entretanto, não significa que o Nembutsu seja de qualidade inferior ou que alcance mérito menor. Todos os mestres da Terra Pura

no passado, começando com Nagarjuna da Índia, passando por Shan-tao da China e Honen do Japão deram grande importância à recitação do Nembutsu. Shan-tao (613-681) da Dinastia T’ang da China, a quem se atribui a organização e propagação do

ensinamento da Terra Pura, obteve sucesso na visualização da Terra Pura e, baseado em sua experiência, escreveu um comentário extensivo sobre o Sutra da Contemplação além de outros trabalhos explicando o método de meditação e seus pré-requisitos

doutrinais. Seu sistema de prática, entretanto, centra-se na recitação do Nembutsu, enquanto que outras práticas, incluindo a meditação sobre Amida, servem como suporte.

Do professor de Shan-tao, Tao-ch’o (562-645), diz-se ter entoado o Nembutsu tanto quanto setenta mil vezes por dia. O próprio Shan-tao era dedicado à prática constante do

Nembutsu. Seu ensinamento sobre o Nembutsu propagou-se muito e para longe, e foi herdado por Honen (1133-1212) do Japão, que fundou a escola Jodo baseado no ensinamento de que a prática do Nembutsu sozinha é a causa suficiente para o

nascimento na Terra Pura. Os discípulos de Honen, enquanto seguiam a prática do Nembutsu, desenvolveram teorias que esclarecem as bases doutrinais do ensinamento

do mestre. Shinran foi um deles.

Amida e os sábios dão boas-vindas ao adepto.No Japão, antes de Honen fundar a escola Jodo, o Nembutsu já havia se espalhado até entre a nobreza, em grande parte graças aos esforços de Genshin (942-1017) e outros mestres e certos sábios do Nembutsu como Koya (903-972). Genshin é especialmente conhecido como autor do Ojoyoshu (“Coleção das Passagens Essenciais Relativas ao Nascimento na Terra Pura”). Nesta obra ele descreve em detalhes os sofrimentos dos

reinos maléficos do Samsara e os reinos de prazer e felicidade na Terra Pura de Amida, e nos encoraja a nela buscar o nascimento. Genshin também formou uma sociedade para praticar o Nembutsu em grupo em um dia fixo por mês. O Regente Fujiwara Michinaga

(966-1072) foi um daqueles que morreu enquanto segurava uma ponta de cordas-de-cinco-cores, a qual tinha a outra ponta amarrada às mãos de uma estátua de Amida. De acordo com o Sutra da Contemplação e os trabalhos de Genshin, aqueles que morrem plenamente atentos em Amida enquanto recitam o Nembutsu serão recebidos por ele e

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grupos de sábios, os quais os acompanharão à Terra Pura. Acreditava-se que as cordas-de-cinco-cores asseguravam a vinda de Amida para receber a pessoa que morre.

VIO Budismo da Terra Pura

Quando falamos sobre Budismo da Terra Pura não nos referimos apenas às suas escolas japonesas. Em outras regiões da Ásia como Coreia, Taiwan e Vietnã, e também em áreas da Europa e América onde há comunidades chinesas, japonesas e vietnamitas, várias formas da fé e prática da Terra Pura são mantidas, frequentemente sob a orientação de sacerdotes budistas nativos.

No Japão, Jodo e Shin têm sido as mais populares formas de Budismo. De acordo com uma pesquisa governamental de 2005, o número de templos do Budismo da Terra Pura chegava a 30.123, e o de seguidores era 19.517.840, perfazendo aproximadamente um quarto da população total de budistas no Japão. Este cenário compara-se mais que favoravelmente em relação ao Zen, com apenas 3.312.489 seguidores. Apesar de não ser possível conhecer o número exato de adeptos, o quadro acima nos dá uma ideia da extensão da influência que o Budismo da Terra Pura ainda tem no Japão.

Se você começa sua excursão japonesa em Tóquio, não deveria perder Kamakura, no caminho para Kyoto. Kamakura é um lugar historicamente importante por ter sido a sede do governo shogun por 140 anos e é também um dos centros do Budismo Zen desde o período Kamakura. De longe a atração turística mais popular é o enorme Buda sentado, de 15 metros de altura. Este Buda é Amida. Ele está sentado em meditação com os dedos formando o mudra de Amida. Construído em 1250, ele tem visto muitas vicissitudes no mundo com olhos compassivos. Ele dá as boas vindas aos visitantes do exterior como se desejasse dizer que o Japão é a terra do Buda Amida.

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Estátua do Buda Amida em Kamakura, Japão.Quando você desembarca do trem-bala na estação de Kyoto e anda uma pequena distância para o norte, você encontrará um templo majestoso à sua esquerda. É o templo-matriz de uma das duas maiores escolas Shin, chamada Higashi ou Honganji do Leste. Mais ou menos dez minutos de caminhada para o oeste, você chega a outro templo de escala similar, que é Nishi ou Honganji do oeste. Segundo pesquisa de 1990, o número de templos pertencentes ao Nishi Honganji era de 10.369, e o de sacerdotes de 27.238. Suas instituições educacionais estão espalhadas por todo o país. Nove

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universidades e faculdades, incluindo a Universidade de Ryukoku onde eu costumava lecionar, pertencem a Nishi Honganji, e o número total de colégios é de trinta e cinco. Além destes, Nishi Honganji tem noventa e sete templos nos Estados Unidos, cinqüenta e nove na América do Sul e dezoito no Canadá. Na Europa existem dois templos afiliados a esta escola, um na Antuérpia(Bélgica) e um em Genebra(Suíça), e um terceiro foi construído em Dusseldorf(Alemanha). Existem também os dojos, ou centros de Nembutsu, em vários países do mundo.

VIIShinran

Shinran ShoninShinran, o fundador do Shin, nasceu em Kyoto em 1173. Separado de seus pais ainda muito jovem, ele entrou para o sacerdócio aos nove anos de idade. Era uma época turbulenta com a guerra civil entre dois clãs poderosos, Minamoto e Taira, que terminou com a derrota do clã Taira e o estabelecimento do governo Shogun em 1192 por Minamoto Yoritomo.

Shinran foi para o Monte Hiei, o centro do Budismo Tendai, onde estudou e praticou o ensinamento Tendai por vinte anos. Porém, não conseguindo atingir a Iluminação, retornou a Kyoto para buscar um meio de salvação que lhe fosse mais apropriado. Naquela época, Honen, que era quarenta anos mais velho que Shinran, estava ensinando o Nembutsu para homens e mulheres de todas as origens. Shinran foi ter com ele e acabaou encontrando o caminho da salvação no Nembutsu.

Quando o ensinamento do Nembutsu de Honen despertou ciúmes e críticas das tradições já estabelecidas e acabou sendo finalmente perseguido, ele e seus principais discípulos foram exilados. Shinran foi banido para o norte do Japão em 1207, e mais tarde ali se casou. Depois de receber o perdão, se estabeleceu na província de Hitachi, nordeste de

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Tokyo, onde ensinou a lei de salvação de Amida para as pessoas dali, enquanto começava a escrever o Kyogyoshinsho, o mais abrangente texto da escola Shin. Após completar sessenta anos, ele retornou a Kyoto e dedicou o resto de sua vida à atividade literária até sua morte aos noventa anos.

Shinran levou uma vida familiar normal com esposa, um filho e cinco filhas (conforme outra linha, dois filhos e cinco filhas). De acordo com os preceitos monásticos, monges budistas não teriam a permissão para se casar, porque a prática do caminho budista na busca da verdade transcendente era considerada incompatível com a vida de casado. Quando Shinran foi exilado, acabou sendo também despojado da condição de sacerdote e recebeu um nome de criminoso, Fujii Yoshizane. Depois disso veio a compreender que não era nem monge nem leigo. Sob tais circunstâncias lhe pareceu natural casar-se quando aparecesse a mulher certa, o que ocorreu quando conheceu Eshin-ni. E assim, abraçando a vida matrimonial ele mostrou que Amida poderia salvar homens e mulheres comuns.

VIIIA Nova Escola

De todas as escolas da Terra Pura que surgiram no Japão depois de Honen, o Shin atingiu o mais impressionante desenvolvimento institucional. Em seu aspecto doutrinal, também, o Shin ofereceu perspectivas mais amplas na reinterpretação dos ensinamentos

da Terra Pura. O próprio Shinran não pretendia fundar uma nova escola, mas como declara no Kyogyoshinsho e em  outros trabalhos, ele simplesmente seguiu os

ensinamentos do Buda e dos Sete Patriarcas e procurou revelar o seu verdadeiro significado. Sua reinterpretação do ensinamento da Terra Pura pode parecer baseada em seu julgamento pessoal, porém ela tem servido efetivamente para esclarecer, através de seu insight e experiência, os ensinamentos desenvolvidos e transmitidos pelos mestres

da Terra Pura do passado.

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A Roda do Darma.A reinterpretação, a propósito, é um elemento indispensável para qualquer avanço

filosófico ou religioso. Para que uma teoria e prática religiosa mantenha sua vitalidade, ela necessita ser interpretada e reinterpretada a partir de novos pontos de vista baseados em insights profundos, experiências pessoais e assim por diante. Reinterpretar é como

cavar a terra para encontrar novos recursos energéticos. O Darma, ou a Lei, que o Buda revelou vinte cinco séculos atrás, é como a terra. A princípio ele ensinou um meio primitivo de cavar e perfurar e um método de processar o material básico obtido. O

termo “darma” traduzido aqui apenas como “lei” era usado amplamente na Índia desde épocas anteriores. O Buda usou o mesmo termo para a Verdade que descobriu e para a sua teoria e prática que levam à sua revelação, mas não o usou com a mesma conotação da tradição Hindu. Ele deu para o termo novas dimensões de significado e o investiu de

conotações que seriam completamente reveladas poucos séculos depois, quando o Maaiana surgiu na Índia. Do ponto de vista Maaiana, o Darma do Buda propõe-se a ser

reinterpretado constantemente com sabedoria advinda do insight e observações correlatas às mudanças das circunstâncias históricas, geográficas e sociais.

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A reinterpretação no Budismo - isto deve ser enfatizado - está diretamente ligada à meditação. Mera reinterpretação intelectual não vai muito longe. Desde o início de sua

história, o Budismo tem derivado sua espiritualidade e metafísica transcendente da experiência de meditação. Isto se aplica ao Maaiana como um todo e ao Budismo da Terra Pura também. Como vimos no Sutra da Contemplação, é possível visualizar o Buda Amida transcendente e sua Terra Pura caso se pratique com sucesso de acordo com o método prescrito. Sempre que especulações metafísicas ou análises teóricas se

desenvolvem muito complicadamente e ameaçam a vida da espiritualidade, nós podemos recorrer à meditação para remediar esta tendência. Mas a meditação não é

sempre efetiva. Em uma época distante do tempo do Buda, bons professores de meditação são raros. Mesmo que você encontre um, é difícil seguir o método prescrito

por um tempo longo. A meditação sobre Amida e sua Terra Pura é mais fácil que a meditação Zen, porque temos objetos de concentração e também podemos contar com o

poder espiritual de Amida (adhisthana), que nos ajuda a realizá-la.

Honen Shonin.

Honen falhou em atingir a salvação através das práticas Tendai as quais ele seguiu no Monte Huei por muitos anos; e Shinran, também, praticou o mesmo tipo de meditação

por vinte anos, porém sem sucesso. Honen encontrou o caminho da salvação no ensinamento do Nembutsu exposto por Shan-tao de T’ang, China, e então desistiu de

todas as outras práticas budistas. A conversão de Honen ao Nembutsu foi acompanhada por uma profunda consciência de sua inabilidade para salvar a si mesmo através de seu

próprio poder. Ele compreendeu que o poder de Amida estava atuando por trás do Nembutsu. Baseado nesta compreensão ele reinterpretou todos os ensinamentos do

Buda e colocou o Nembutsu acima de todas as práticas.

IXA Salvação de Amida

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Shinran é freqüentemente comparado a Martinho Lutero (1483-1546), e descrito como um renovador do Budismo em muito do mesmo modo como Lutero o é no Cristianismo. Shinran, entretanto, não se

ergueu em oposição aberta à autoridade eclesiástica, nem intencionava iniciar um novo movimento. Como Honen e

outros mestres da Terra Pura, o interesse imediato de Shinran era sua própria salvação, que

veio a ser completamente realizada na Terra Pura. A este respeito, sua abordagem pode

ser descrita como “autocentrada” e “em-outro-

mundo”.

Mas notemos que este seu autocentrismo não significa

egoísmo e que o outro-mundismo não é escapismo

ou pessimismo. Em vez disso, através da aceitação

da compaixão de Amida, ele encontrou relações cármicas próximas com outros seres, e também compreendeu que após transcender este mundo

- indo para a Terra Pura - estaria apto a voltar e salvar

outros seres como bem quisesse.

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A profunda autorreflexão de Shinran e seu insight sobre a lei de salvação de Amida trouxeram à tona uma reversão completa do senso comum e dos conceitos budistas usuais. No mais popular texto budista, o Tannishô (“Tratado de Lamentação das Divergências”), há a seguinte citação de Shinran:

"Se até uma pessoa boa consegue nascer na Terra Pura, muito mais o poderá uma pessoa má." Entretanto, costuma-se dizer: "Se até uma pessoa má consegue nascer na Terra Pura, muito mais o poderá uma pessoa boa." Normalmente, essa afirmação soa razoável; e no entanto, contraria a intenção do Voto Original do Outro Poder. (1)

O Buda ensina que podemos atingir estados espirituais mais elevados através de uma boa moral e do cultivo de sabedoria através da meditação. Se não estamos aptos a fazer o bem, estaremos destinados a estados inferiores de existência onde devemos receber sofrimento como retribuição pelas nossas ações incorretas. Apesar de Shinran ter sido realmente capaz de atos moralmente bons, seu olho reflexivo penetrou na enorme massa de carma maléfico em seu inconsciente, e desta forma ele pôde reconhecer que todas as ações tinham raízes no carma maléfico. Ele compreendeu que era desesperançosamente mau e que não possuía nenhuma reserva de mérito que lhe valesse para atingir a salvação através de seu próprio poder. O Tannishô destaca o que ele diz da seguinte maneira:

“Mas, como todas as práticas estão mesmo fora do meu alcance, o inferno seria, em qualquer hipótese, a minha inevitável morada”. (2)

Shinran não estava, entretanto, sem esperanças. Nem se sentiu isolado da salvação búdica. Sua compreensão da total falta de poder é prova certa de que ele foi salvo por Amida. Ao receber através da Fé o mérito, a sabedoria e o poder sem limites de Amida, ele estava apto a entregar-se - com seu apego ao seu poder e reserva de mérito limitados - ao Buda Amida.

A reinterpretação dos ensinamentos budistas feita por Shinran  vem de sua experiência de confiança completa no Poder de Amida que é chamado de “o Outro-Poder” [jp. Tariki]. Ele dividiu o Budismo em dois: o ensinamento de Tariki e os ensinamentos do poder próprio. O Shin é totalmente baseado em Tariki, e os outros caminhos budistas são baseados nos esforços individuais. Para Shan-tao e Honen, o Nembutsu era a prática para ser realizada com todo o empenho possível do indivíduo. Para Shinran, tudo que se requer é a atividade salvífica de Amida que deve ser recebida com sinceridade de coração e fé profunda [jp. shinjin]; e este Shinjin é também uma dádiva de Amida.

XMyokonin

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O Budismo Shin fez surgir muitas pessoas admiráveis, chamadas de “myokonin”. De acordo com suas biografias, aqueles conhecidos como myokonin são normalmente

homens e mulheres de pouca educação, que alcançaram uma compreensão profunda do ensinamento de Tariki. Eles não são meros praticantes dedicados do Nembutsu. Tendo realizado o Tariki e vivenciado a unidade com Amida, eles vivem completamente em

função de sua compaixão que tudo envolve. Enquanto agudamente conscientes da própria absoluta falta de poder, eles são sempre gratos a Amida, e sua vida diária é cheia

de expressões espontâneas de alegria e amor desinteressado.

Asahara Saichi (1851-1933) interessou-se pelo Budismo no final de sua adolescência. Depois de cinco ou seis anos de uma séria busca do Caminho, que consistia principalmente em ouvir sermões e refletir profundamente sobre a lei de salvação em relação ao seu próprio eu, ele desistiu. Dez anos depois, sua aspiração budista surgiu novamente. Enquanto trabalhava como carpinteiro de navios, ele não perdia nenhuma oportunidade de ouvir sermões. Procurando entender a salvação de Tariki, tentou muitas vezes até que, depois que completou 50 anos, finalmente a Fé foi despertada nele. Então ele mudou de ofício e se tornou artesão, passando a fazer tamancos de madeira. Sua alegria transbordante na Fé encontrou sua expressão em poemas. Sem qualquer conhecimento dos caracteres chineses, ele escrevia os poemas em lascas de madeira no silabário japonês enquanto trabalhava, e à noite os copiava em cadernos. De um grande número de poemas, aqui estão alguns exemplos mostrando sua profunda experiência da Fé:Namuamidabutsu e AmidaSão um e não dois.Namuamidabutsu sou eu mesmo,E Amida é meu Oyasama (Pai e Mãe);Aqui está a unidade do Namuamidabutsu.Como sou feliz  por esta graça!Namuamidabutsu.

“Ó Saichi, onde fica sua Terra da Bem-aventurança?”“Minha Terra da Bem-aventurança fica bem aqui.”

O Nome do Buda casualmente encontrado em meus lábios --É de fato um Buda maravilhoso!É o chamado de nosso Oyasama Amida.Eu, Saichi, envolvi-me nele!

Esta Fé é uma Fé maravilhosa;O Buda ouve a voz do Buda!Não há razão para que

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Quão agradecido sou --Tua voz é o Namuamidabutsu!Eu, Saichi, tenho sido salvo por ela.Tu e eu somos um no Namuamidabutsu!

eu, Saichi, me intrometa.Quão grato sou por sua benevolência!Namuamidabutsu, Namuamidabutsu.

Para Saichi e outras pessoas de Fé verdadeira, o Nembutsu e a Fé são inseparáveis. O Nembutsu não é uma prática para ser realizada com diligência, mas é a alegre e espontânea expressão da Fé. Namuamidabutsu simboliza a unidade de Amida com o adepto, pois “namu” indica sua Fé, e “amidabutsu” é o poder salvífico absoluto e universal de Amida.Ashikaga Genza (1842-1930), outro myokonin, viveu no espírito da compaixão ilimitada de Amida, que se manifestava em seus atos de amor desinteressado. Um dia ele viu galhos espinhosos amarrados em seu caquizeiro no jardim.

“Quem fez isso?” ele perguntou.Seu filho disse: “Fui eu, a fim de evitar que os caquis fossem roubados pelas crianças”.Genza disse, “e o que você fará se alguém se machucar?” E assim dizendo ele removeu os galhos espinhosos e, no lugar deles, colocou uma escada na árvore.O filho protestou, “porque o senhor facilitou as coisas de modo que eles roubem nossos caquis?”Genza disse: “Deixe-os levarem o quanto quiserem. Nós ainda teremos muitos  para comer.” (3)

Em outra ocasião, ao anoitecer, um homem adentrou o terreno de Genza para alimentar o seu cavalo com feijão ali plantado. Genza viu o que acontecia e gritou, “jovem, os feijões deste lugar não são bons. Vá adiante, e você encontrará feijões melhores para o seu animal”. Ouvindo isto o homem fugiu com seu cavalo.

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Shoma (1800-1872) da ilha Shikoku era um pobre e iletrado homem, que costumava tirar seu sustento de bicos e também da confecção de cordas de palha e sandálias; porém tinha uma compreensão maravilhosa da compaixão de Amida.

Alguém perguntou-lhe, “Como é ter Fé absoluta em Amida?”. Shoma deitou-se confortavelmente diante do santuário da família.

Quando ele foi ao templo com seu amigo, deitou-se e relaxou no salão do Buda. O amigo o repreendeu, “você é mal-educado! Comporte-se.”Shoma replicou: “Esta é a casa de nossos Pais. Não seja tão cerimonioso. Por acaso você é um enteado?”

Certa vez ele foi à peregrinação ao Honganji em Kyoto com seus amigos. Na viagem de volta, seu barco foi pego por uma tempestade. Todos os passageiros ficaram assustados, e apenas Shoma dormia em paz no deck. Quando acordado por seus amigos, ele exclamou: “Ainda não chegamos à Terra Pura?”

Muitos episódios e ditos de myokonins como estes mostram que os seguidores do Shin que atingiram a Fé de Tariki são como adeptos do Zen, que realizaram  satori. Eles são completamente livres no seu pensar e fazer, e ainda assim cheios de bondade, gratidão e insight profundo. Eles transcenderam os limites do bem e do mal, e até mesmo aqueles deste mundo e da Terra Pura, mas não são indiferentes em suas atitudes em relação ao próximo. São compreensivos, sempre dispostos a ajudar os outros e ansiosos para levá-los pelo mesmo Caminho.

XIShinjin

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Como vimos acima, o Shin abrange

muitos aspectos da atividade humana bem como a esfera que está além da

experiência cotidiana.

Primordialmente o Shin é o caminho de salvação através do

poder de Amida, caminho este

originado de seus votos. E esta

salvação tem três implicações:

primeiro, na vida presente, nos é

propiciado atingir a unidade com Amida,

o Buda Transcendente, e somos libertos da sujeição ao carma;

quando nossa salvação é obtida através de nossa

entrega ao Shinjin, somos preenchidos

pela alegria e tornamo-nos gratos a

Amida.

Em segundo lugar, após a morte

nasceremos na Terra Pura, que é o Reino Transcendente além

do Samsara e é essencialmente o

mesmo que Nirvana. Sendo a Terra Pura a

esfera de pura energia cármica,

aqueles ali nascidos podem dela

compartilhar, desfrutar a vida de Bem-aventurança e

Namo Amida Butsu - O Nome Sagrado

Estes três tipos de salvação podem ser

concebidos na ordem temporal, do

presente para o futuro, mas o que é mais importante, a

realização definitiva do estado de Buda

está latente na experiência de Shinjin “Aqui e

Agora”. Saichi diz em um dos seus

poemas:

Ò Saichi, quem é o Buda?

Ele não é outro senão eu mesmo.

Quem é o fundador do Budismo Shin?

Ele não é outro senão eu mesmo.O que é o texto

canônico?Não é outro senão eu

mesmo.

Portanto, Shinjin não é apenas um presente

dado por Amida, mas é

essencialmente o próprio Amida,

como diz Shinran neste hino:

A pessoa que se regozija em Shinjin -

isto é ensinado, É igual ao Buda.

O Grande Shinjin é a Natureza Búdica;

E a Natureza Búdica é o  Buda. (4)

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desenvolver atividades como

Bodisatvas.

Em terceiro lugar, na Terra Pura

atingiremos o Nirvana e

realizaremos a Iluminação. Isto significa que nos

tornaremos Budas.

Isto significa que Shinjin é tudo. Quando alguém recebe Shinjin, lhe é assegurado o nascimento na Terra Pura e o atingir da Iluminação. Isto não é simplesmente a reinterpretação teórica de Shinran do ensinamento da Terra Pura. Shinran atingiu a unidade com Amida através de Shinjin e, além dele, Saichi e muitos outros seguidores do Shin compartilham da mesma experiência. Repetindo, Shinjin é alegria; é a aceitação radiante do Poder salvífico de Amida, que se aproxima de nós na forma do Namuamidabutsu, e quando ele é recebido em nossos corações, se torna Shinjin. Em outras palavras, o Nome Sagrado é tudo que Amida é, e Shinjin também, é o próprio Amida.

Notas:(1) Extraída do cap. III do Tannishô, Tratado de Lamentação das Divergências - Comunidade Budista Sul Americana da Escola Jodo Shinshu Honpa Hongwanji (2002).(2) Extraída do cap. II da mesma publicação.(3) Imagem (c)Tomo.Yun (www.yunphoto.net/en/)  (4) Hinos da Terra Pura (Jodo Wasan), 94.

Observações: (a) O título original deste texto é "Shinran e o Jodo Shinshu".  (b) As ilustrações e os subtítulos foram inseridos pelo webmaster.