Quem manipula os povos indígenas contra o desenvolvimento do Brasil - Autores: Lorenzo Carrasco e...

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“À guerra, cavaleiros esforçados! Pois os anjos sagrados em socorro estão em terra. À guerra!” (Gil Vicente) 2ª quinzena de abril de 2014 | EDIÇÃO ESPECIAL Vol.XX, nº21

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Esse artigo é proveniente do livro de mesmo título do jornalista Lorenzo Carrasco e Sílvia Palacios.Expõe os interesses e a manipulação utilizada em desmembrar a Amazônia do Brasil.Sugiro leitura e apoio ao abaixo assinado até o dia 20 de Julho de 2014: http://www.change.org/pt-BR/peti%C3%A7%C3%B5es/abaixo-assinado-urgente-brasil-perder%C3%A1-seu-territ%C3%B3rio-em-24-de-julho-durante-a-copa-do-mundo-de-2014-denuncie-recuse-diga-n%C3%A3o-%C3%A0-conven%C3%A7%C3%A3o-oit-n0-169-unir-para-n%C3%A3o-dividir

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    guerra, cavaleirosesforados! Pois osanjos sagrados em

    socorro esto em terra. guerra!

    (Gil Vicente)

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    2 Solidariedade Ibero-americana

    Publicado pelo

    MSIA Movimentode SolidariedadeIbero-americana

    EDIO EM PORTUGUS

    Diretora:Silvia Palacios

    Conselho editorial:Angel Palacios Zea,Geraldo Lus Lino, Lorenzo Carrasco eMarivilia Carrasco

    Projeto Grfico:Maurcio Santos

    Rua Mxico, 31 s.202CEP 20.031-144Rio de Janeiro-RJ

    Telefax: + (21) 2532-4086E-mail: [email protected]: www.msia.org.br

    EDITORIAL

    A escalada de conflitos envolvendo indge-nas, nos ltimos meses, inclusive, com o re-gistro de mortes de pessoas inocentes, indicaque a sociedade brasileira, principalmente, asautoridades investidas de responsabilidades

    pblicas, no pode mais fechar os olhos paraa gravidade de um problema que, em ltimaanlise, representa uma sria ameaa noapenas integridade territorial, mas tambm prpria coeso cultural do Brasil.

    A todas as luzes, a questo indgena neces-sita de uma abordagem diferente da adotadanas ltimas dcadas, sob a influncia de umaviso distorcida do indgena e da sua dimen-so como ser humano, promovida por uma

    corrente antropolgica seduzida por vciosideolgicos e apoiada por um vasto aparatointernacional de organizaes no-governa-mentais (ONGs), fundaes privadas e rgosoficiais de governos estrangeiros, cuja agen-da contempla interesses que pouco ou nadatm a ver com os da sociedade brasileira.

    No mais possvel se aceitar que o des-tino dos indgenas brasileiros seja determi-nado por antroplogos imbudos da ideiaretrgrada de que os povos indgenas devem

    se manter parte do restante da sociedade,vivendo em condies primitivas, em virtuaiszoolgicos humanos, e sendo consideradosincapazes de se inserir gradativamente na so-ciedade, de uma forma consistente com o im-pulso de progresso que caracteriza a espciehumana e, no menos, com o intenso proces-so de miscigenao que caracteriza a forma-o da sociedade brasileira.

    No mais admissvel que o atendimentodas necessidades bsicas dos indgenas, emtermos de educao, sade e infraestrutura,tenha que depender, em proporo conside-rvel, de recursos aportados por entidades

    privadas e governos estrangeiros, que nadatm de desinteressados.

    inaceitvel que o foco maior da atuaoda Fundao Nacional do ndio (Funai) sejaorientado para as demarcaes de vastasterras indgenas, quase sempre, superpostasa terras produtivas e propriedades privadaslegalizadas h dcadas e, em muitos casos, hmais de um sculo, o que tem resultado emprocessos altamente conflituosos, enquanto

    as reais necessidades dos indgenas so rele-gadas a um plano secundrio.No por acaso, a comunidade exibe al-

    guns dos piores indicadores sociais entre apopulao brasileira. Por exemplo, a morta-lidade infantil o dobro da mdia nacional.As taxas de ocorrncia de tuberculose e deanalfabetismo so quase trs vezes superiores mdia nacional. A expectativa de vida,embora no haja estatsticas precisas, estimada em cerca de 20 anos menos que a

    do restante da populao.Outro problema que se agrava o au-mento dos casos de alcoolismo e depressoentre os indgenas, que se traduz em atos deviolncia entre eles prprios, com suicdios ehomicdios. Em junho de 2013, um relatrioda Secretaria de Justia e Segurana Pblicade Mato Grosso do Sul demonstrou que92% dos homicdios de indgenas ocorridos

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    no estado, entre 2006 e 2013, tiveram comoautores outros indgenas. Grande parte dasocorrncias foi vinculada a problemas decor-rentes do alcoolismo.

    Entretanto, para todos os que tm se de-bruado sobre o problema com a devida sen-satez e sem os antolhos ideolgicos e polticosque caracterizam os integrantes do aparatoindigenista, perceptvel que o futuro dos in-dgenas brasileiros no passa pelo seu confi-namento em reservas de grandes propores que j representam 13% do territrio nacio-

    nal , mas em proporcionar-lhes condiesde insero digna na sociedade. Nas palavrasdo cientista poltico e professor da Universi-dade de Passo Fundo, Joo Carlos Tedesco:A Funai e alguns antroplogos querem ummodelo de ndio que nem o prprio ndiodeseja ser, vivendo nos moldes dos anos 60,da pesca e da caa. Na nossa regio isso no mais possvel. O ndio quer terras paraplantar, ganhar dinheiro, estudar, cursar facul-dade, se inserir na sociedade, se adaptar, mas

    mantendo alguns aspectos de sua cultura,principalmente a lngua e os laos familiares(ONacional.com.br, 3/05/2014).

    Um nmero crescente de lideranas ind-genas tem manifestado posies semelhantes.Em meio s investigaes sobre o assassinatode trs pessoas pelos tenharins do Amazonas,em dezembro ltimo, o cacique Zelito Tenha-rim desabafou: O ndio no pode plantar,no pode vender, no pode produzir artesa-nato. Todo projeto sustentvel que tentamosimplantar na aldeia barrado. Em contra-partida, o governo tambm no oferece pro-jetos viveis. O corpo indigenista est ultra-passado. Fica difcil (G1, 7/01/2014).

    O lder indgena deixou implcito que taislimitaes decorrem dos impedimentos impos-tos pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambien-te e Recursos Naturais Renovveis (Ibama) epela prpria Funai, oriundos da mentalidadeisolacionista que impregna o indigenismo

    brasileiro. Por ironia, os prprios tenharins jesto bastante afastados dos modos de vidatradicionais de seus antepassados. A no tempajs, a maioria evanglica e mora em casasde madeira com eletricidade, com eletrodo-msticos e acesso internet, alm de quase

    todas as famlias serem bilngues. Ou seja, absurdo que sejam tratados como indgenasatrasados e incapazes de um processo ordenadode integrao civilizao e abandonados smazelas de uma poltica segregacionista que,alm de no atender s suas necessidades, oscoloca em confrontao com os seus vizinhosno indgenas.

    Por detrs de todo esse quadro, encontra--se um aparato internacional de ONGs e fun-daes, cujo vrtice o Conselho Mundial deIgrejas (CMI), entidade sediada em Genebra,

    Sua, e que, ao contrrio do que sugere onome, no tem vnculos institucionais com asgrandes denominaes religiosas, nem qual-quer compromisso com a promoo de umecumenismo srio. Em vez disto, integra asfileiras do poderoso Establishmentoligrquicode certos pases industrializados do Hemisf-rio Norte, que, nas ltimas dcadas, tem seempenhado em manipular os problemas am-bientais e indgenas de pases como o Brasil,em prol de uma agenda de controle de recur-

    sos naturais e obstaculizao do pleno desen-volvimento da infraestrutura nacional.

    Esta edio especial de Solidariedade Ibero--americana dedicada a uma exposio sucintadeste aparato intervencionista, apresentada deforma mais detalhada no livro Quem manipulaos povos indgenas contra o desenvolvimentodo Brasil: um olhar nos pores do ConselhoMundial de Igrejas, de Lorenzo Carrasco e Sil-via Palacios, publicado pela Capax Dei Editora.

    Rigorosas pesquisas cientficas demons-tram que mais de 50 milhes de brasileirosdescendem de indgenas pela linhagem ma-terna nmero mais de dez vezes superior mxima estimativa da populao indgenado territrio colonizado pelos portugueses, apartir do sculo XVI. Por conseguinte, o Pastem todas as condies para elaborar e imple-mentar para os seus cidados indgenas umapoltica orientada pelos mais elevados valoreshumanos. Para tanto, fundamental que as

    instituies do Estado retomem plenamente asoberania nacional na formulao das polticasambientais e indgenas, de acordo com osinteresses superiores da nao, neutralizando,de uma vez por todas, a influncia daqueleinsidioso aparato internacional.

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    O recrudescimento das aes do aparato am-bientalista-indigenista se deu no contexto deuma escalada que j se manifestava desde oincio de 2011, com a deflagrao de aesprovocativas e criminosas, como a destrui-

    o de canteiros de obras, sequestros de pes-soas fsicas e ameaas de atos terroristas,assim como tentativas de forjar novos escn-dalos internacionais, como a denncia de umsuposto massacre de indgenas ianommispor garimpeiros brasileiros, na vizinha Vene-zuela, em agosto de 2012 - ao que lembrouo controvertido massacre de Haximu, que,em 1993, colocou o Pas nas manchetes in-ternacionais durante semanas.

    Nesses casos, tem ficado cada vez maisevidente que o fato de os indgenas seremconsiderados penalmente inimputveistem sido aproveitado ao extremo, parapermitir aes ilegais que resultariam empesadas penas se fossem cometidas porbrasileiros no indgenas.

    Essa sucesso de atos e ameaas de vio-lncia denota que esse aparato antinacio-nal no pretende se frear diante de nada,

    em sua ofensiva final rumo ao objetivo deconsolidar uma questo indgena comoum fator de instabilidade interna ao Estadonacional brasileiro.

    O problema no reside, propriamente,nas comunidades indgenas, mas na manipu-lao de algumas de suas lideranas, acum-pliciadas com ou manipuladas pelos sofisti-cados mentores do aparato indigenista, queoperam por intermdio de uma extensa redede ONGs nacionais e internacionais e, mais

    recentemente, empresas envolvidas no mer-cado internacional de crditos de carbono.

    Poder-se-ia continuar detalhando nume-rosas outras aes coordenadas em todo oterritrio nacional, mas no se agregariamuito mais ao entendimento do fenmenoque confrontamos. Apenas, vale destacar os

    ataques aos canteiros de obras das usinashidreltricas de Jirau, Belo Monte e outras,para demonstrar as aes dessas foras con-trrias ao desenvolvimento soberano doBrasil, pois o vandalismo ali perpetrado tem

    sido adredemente planejado, no contexto deuma agenda geral que contempla a obstaculi-zao do desenvolvimento socioeconmicoda Regio Amaznica.

    emblemtico que uma das ONGs chavedo aparato indigenista, o Conselho Indige-nista Missionrio (CIMI), tenha destacado,no relatrio que celebra os seus 40 anos deexistncia, 527 projetos econmicos que afe-tam terras indgenas, sendo mais de 450 nas

    reas de energia e infraestrutura (Fig. 1).Nos livros Mfia Verde: o ambientalismoa servio do Governo Mundial(2001) e MfiaVerde 2: ambientalismo, novo colonialismo(2005), demonstramos com farta documen-tao que o movimento ambientalista-indi-genista internacional uma pea chave dessaestratgia de guerra de quarta geraopelo controle de recursos naturais, travadapela oligarquia anglo-americana e seus apn-

    dices, em uma reciclagem dos velhos mto-dos coloniais britnicos, cuja consequncia,vale repetir, ser a consolidao de grandespartes do territrio nacional como zonas deexcluso socioeconmica. Trata-se de umaagenda intervencionista com capacidade deinterferncia nas polticas internas do Pas,com uma eficcia muito maior do que seriapossvel com uma interveno militar clssica,sendo, portanto, muito mais perigosa.

    No Brasil, os primeiros alvos desse aparato

    internacional foram os projetos de desenvol-vimento que contavam com financiamentosdo Banco Mundial, como o Polonoroeste,programa de assentamento de populaesrurais em Rondnia. A partir de 1981, a pla-nejada pavimentao da rodovia Cuiab--Porto Velho (BR-364), pea chave do projeto,

    Indigenismo e ambientalismo xprojetos de infraestrutura

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    Empreendimentos que afetamterras indgenas

    Tipo Quantidade

    Energia 263Infraestrutura 195Minerao 20Agronegcio 19

    Ecoturismo 16Meio ambiente 11Empreendimento turstico 2Expanso fabril 1Total geral 527

    Regio

    Centro-Oeste 187

    Nordeste 69Norte 126Sudeste 35Sul 140

    Fonte: Cimi, Inesc e PAC.

    Fig. 1 Quadro do CIMI, listando os empreendimentoscom impactos sobre terras indgenas.

    tornou-se o alvo de uma ativa campanha enca-beada pelas ONGs estadunidenses Natural

    Resources Defense Council (NRDC), Envi-ronmental Defense Fund (EDF) e NationalWildlife Federation (NWF), apoiadas pelasbrasileiras Centro Ecumnico de Documen-tao e Informao (CEDI) e Instituto de Estu-dos Scio-Econmicos (INESC), esta ltimaligada britnica Oxfam. Em 1984, a cam-panha conseguiu fazer com que o Congressodos EUA realizasse vrias audincias sobre oprojeto e seu financiamento pelo Banco

    Mundial, as quais foram reforadas por ma-nifestaes de 40 outras ONGs ambientalis-tas estadunidenses. Como resultado, no finalde 1985, o Banco Mundial suspendeu os em-prstimos ao projeto, a primeira vez em queo banco suspendeu uma operao financeirapor pretextos ligados proteo ambiental.

    O elemento indgena adentrou na cam-panha em grande estilo a partir do I En-contro dos Povos Indgenas do Xingu, maisconhecido como Encontro de Altamira, em

    fevereiro de 1989, promovido por uma coali-zo internacional de ONGs capitaneadas

    pela trinca NWF, NRDC e CEDI, com gene-rosos financiamentos de agncias de desen-volvimento internacional do governo do Ca-nad e por o Conselho Mundial de Igrejas.O evento, considerado um marco do socio-ambientalismo no Brasil, reuniu cerca de 3mil pessoas, entre militantes de ONGs am-bientalistas e indigenistas brasileiras e estran-geiras, representantes de comunidades ind-genas e jornalistas. Seu objetivo explcito foi

    o de mobilizar e deflagrar a campanha contraos projetos hidreltricos planejados para aRegio Amaznica, em especial, os da baciado rio Xingu, entre os quais se encontrava ausina de Carara, cujo nome foi depois mu-dado para Belo Monte.

    Outro projeto que motivou uma ativa in-terveno, que prossegue at os dias de hoje,foi a hidrovia Paraguai-Paran, alvo de umacampanha iniciada em 1993, pelo FundoMundial para a Natureza (WWF), frenteda assim denominada Coalizo Rios Vivos,que rene literalmente centenas de ONGsbrasileiras e estrangeiras, mobilizadas contrao aproveitamento hidrovirio da vasta redehidrogrfica brasileira.

    Uma organizao importante da campa-nha contra as barragens brasileiras o Movi-mento dos Atingidos por Barragens (MAB),fundado em maro de 1991, como uma esp-cie de brao especializado do Movimento

    dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).Ambas as entidades so criaes da Comis-so Pastoral da Terra (CPT), rgo da Con-ferncia Nacional dos Bispos do Brasil(CNBB), controlado pelos setores mais radi-cais da Teologia da Libertao.

    Alm de promover numerosas aes fsi-cas contra a construo de barragens e hidro-vias, como bloqueios e invases de canteirosde obras, com frequncia, militantes do MAB

    se juntaram aos do MST e da Via Campesina(para fins prticos, as trs organizaes soindistinguveis, formando uma espcie deinternacional dos sem-terras), para invadire destruir campos experimentais e laborat-rios de pesquisa de organismos genetica-mente modificados (transgnicos).

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    O nome sugere uma entidade internacionalimbuda dos mais elevados propsitos huma-nsticos. De fato, em seu stio (http://www.oikoumene.org/en), o Conselho Mundial de

    Igrejas (CMI) se apresenta como uma con-fraria mundial de igrejas, buscando a unidade,um testemunho comum e o servio cristo.O problema de tal imagem est nos detalhessobre as motivaes dos criadores do CMI,altos oligarcas do Establishment anglo-ameri-cano, que, no ps-guerra imediato, viam apromoo do ecumenismo como um efi-ciente instrumento de interveno poltica ecultural em favor da sua agenda de hegemo-nia global. E, como reza o ditado, os detalhes

    costumam constituir a residncia do diabo.Embora tenha sido oficialmente fundadoem 1948, em Amsterd, Holanda, a criaodo CMI remonta a iniciativas colocadas emmarcha na dcada de 1930, que culminaramna Conferncia sobre Igreja, Comunidade eEstado, realizada na Universidade de Oxford,em julho de 1937. A conferncia, que reuniuum seleto grupo de notveis do Establishmentdo Reino Unido e dos EUA, teve como um dosfios condutores a ojeriza dos participantes

    instituio do Estado nacional soberano considerado um grande obstculo ao estabe-lecimento de uma federao de homens ouum imprio universal para a humanidade,nas palavras de Philip Kerr, marqus de Lo-thian, um dos mais graduados oligarcas brit-nicos. Emblematicamente, o seu discurso naabertura dos trabalhos foi intitulado A influ-ncia demonaca da soberania nacional.

    Em sua interveno, o estadunidense JohnFoster Dulles, futuro secretrio de Estado no

    governo Eisenhower (1953-1959), admitiuque o mundo ainda no estava preparadopara um governo mundial, mas sintetizouos objetivos ltimos da sua casta oligrquicae a orientao geral para atingi-los: Podemoster, igualmente, a satisfao de saber que se

    estar trabalhando para uma ordem mundialmais estreitamente organizada de acordo comos preceitos cristos. As benesses naturais queDeus proporcionou para o benefcio da huma-

    nidade no so distribudas de acordo com aslinhas das fronteiras nacionais traadas pelohomem. Se aqueles mais afortunadamente situ-ados estiverem realmente dispostos a comparti-lhar com os outros; se quisermos proporcio-nar aos seres humanos de todo o mundo umarazovel igualdade de oportunidades, entodevemos abrir o mundo, de tal maneira queas fronteiras nacionais no funcionem paracriar para alguns um monoplio de vanta-gens, que so, em grande medida, fortuitas.

    Em outras palavras, o que Dulles e catervachamam preceitos cristos o domnio dasreservas de recursos naturais do planeta, queconsideravam fundamentais para a sua agendahegemnica, independentemente das frontei-ras nacionais dentro das quais se situassem.Nas palavras de Dulles, uma soluo gran-diosa est na abolio de todo conceito de so-berania nacional e na unificao do mundo emuma nica nao. Todas as barreiras fronteiri-as so, assim, automaticamente derrubadas.

    Durante a II Guerra Mundial, os mento-res da criao do CMI estiveram ativamenteenvolvidos no estabelecimento de um vastoaparato de inteligncia, que, aps o conflito,foi o embrio do que viria a ser o complexode segurana nacional dos EUA e seus ml-tiplos tentculos e interligaes com o siste-ma financeiro internacional. No por acaso,a fundao do CMI, em 1948, ocorreu emparalelo com a criao de vrias outras enti-dades que viriam a desempenhar papeis fun-

    damentais na estratgia hegemnica do Es-tablishment anglo-americano. Entre elas: aAgncia Central de Inteligncia (CIA) e aAgncia de Segurana Nacional (NSA) dosEUA, resultantes da Lei de Segurana Nacio-nal de 1947, que reformulou a estrutura de

    O Conselho Mundial deIgrejas e seus tentculos

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    defesa e inteligncia estadunidense para asnecessidades do ps-guerra; o Escritrio deCoordenao Poltica (OPC), brao de opera-es clandestinas da CIA; o Instituto Tavisto-ck, centro de guerra psicolgica britnico,com vrias ramificaes nos EUA; a Organi-zao do Tratado do Atlntico Norte; e aUnio Internacional para a Conservao daNatureza (UICN), embrio do movimentoambientalista internacional, de orientaomalthusiana, antiindustrial e antitecnolgica.

    Por detrs de todas essas entidades, encon-

    tramos vrios personagens ligados promo-o do ecumenismo como um instrumentopoltico, com destaque para os irmos Dulles ea famlia Rockefeller. Com elas, o Establish-ment anglo-americano passou a adotar o inter-vencionismo nos assuntos internos de outrasnaes como uma marca registrada da suaestratgia de dominao global, com desdo-bramentos que perduram at os dias de hoje.

    Atuando no Brasil, desde a dcada de1950, as redes do CMI tm estado presentes

    em numerosas aes articuladas contra o Es-tado brasileiro, inclusive, com iniciativas decunho ostensivamente ideolgico e extremista,antes mesmo da implantao do regime militarde 1964. Nas ltimas dcadas, a instrumenta-lizao das causas indigenistas e ambientais,o movimento dos quilombolas e a campanhapelo desarmamento civil, entre outros, tmsido ativamente promovidos e implementa-dos pelos agentes de influncia do CMI noPas, com propsitos que passam longe dos

    interesses maiores da cidadania brasileira.Um elemento chave da atuao do CMIno Pas foi o missionrio estadunidense Ri-chard Shaull, que viveu no Brasil de 1952 a1962. Formado no Seminrio Teolgico dePrinceton, Shaull estabeleceu uma ponteentre o Evangelho Social protestante e anascente Teologia da Libertao, integran-do o que viria a ser conhecido como dilogomarxista-cristo. Ele foi um dos criadoresda Unio Crist de Estudantes do Brasil

    (UCEB), entidade que viria a formular umateologia da luta revolucionria e que viriaa influenciar numerosos militantes da luta ar-mada contra o regime de 1964.

    Em 1963, o CMI financiou a criao de umCentro de Estudos Brasileiros no Seminrio

    Presbiteriano de Campinas, com apoio daFundao Rockefeller, que passou a secundaros esforos de Shaull para a difuso do seuproselitismo revolucionrio. Posterior-mente, o Centro foi fechado pela Confedera-o Evanglica do Brasil, ao perceber que oseu objetivo era menos o ecumenismo do quefortalecer uma organizao revolucionriacontra o Estado brasileiro.

    Com o fracasso das lutas revolucion-rias, as redes de militantes que os mission-rios do CMI haviam ajudado a construir no

    Pas, nas palavras do prprio Shaull, toma-ram a iniciativa, na dcada de 1980, para acriao de outras instituies, conhecidascomo ONGs, algumas de natureza ecum-nica. Assim, alm das pregaes ecum-nico-revolucionrias das redes do CMI,surgiu uma rede de ONGs ostensivamentevoltadas para a defesa de direitos raciais, in-dgenas, ambientais, a promoo do feminis-mo e da poltica de gnero e outras causas degrande alcance popular e miditico, apode-

    rando-se de demandas reais ou fictcias, para,na prtica, investir contra os fundamentos doEstado nacional brasileiro.

    Entre as ONGs surgidas deste impulso,destaca-se o Centro Ecumnico de Informa-o e Documentao (CEDI), do qual surgi-ram, mais tarde, o Instituto Socioambiental(ISA), entidade chave do aparato ambienta-lista-indigenista, a Ao Educativa, dedicadas aes nas reas de igualdade tnico-racial epolticas de gnero, e a Koinonia, Presena

    Ecumnica e Servio, voltada para os direitossexuais e sociedades quilombolas.No caso das delimitaes das terras ind-

    genas e, em vrios casos, das quilombolas,somente com doses colossais de anestesia eingenuidade pode-se aceitar que elas estejamsendo definidas por genunos critrios antro-polgicos, em vez de por uma orientao geo-poltica baseada em critrios muito precisos,de proximidade ou coincidncia com reasricas em recursos naturais, de implantao de

    grandes obras de infraestrutura e logstica,faixas de fronteira na Regio Amaznica,alm do fechamento do chamado arco dodesmatamento, com o propsito deliberadode manter um vazio demogrfico e de desen-volvimento na regio.

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    A recente canonizao do padre Jos deAnchieta (1534-1597) reitera a relevn-cia outorgada pelo Vaticano histricaepopeia da Evangelizao do subconti-nente ibero-americano. H cinco scu-los, os primeiros missionrios chegaramao Novo Mundo, com o mpeto prpriodo tudo por fazer, em cumprimento deuma misso na qual a transmisso da fcrist estava unida a um processo civili-zador. O padre Anchieta, jesuta nascidona Espanha, chegou ao Brasil em 1553 e conhecido por suas exaustivas andan-as para levar a populao indgena da

    Amrica Portuguesa ao descobrimentode novos horizontes de transcendncia,para alm da vida silvestre. Foi um dosfundadores da cidade de So Paulo e daprpria nao brasileira.

    Todavia, no surpreende que, aos psdo novo santo brasileiro, se ouam vozesdissonantes, proferidas no rastro dalenda negra elaborada contra tudo oque Anchieta representou. Esta lenda

    foi criada por interesses coloniais anglo--holandeses da poca, que se opunhamaos avanos de Portugal e Espanha noultramar e procuravam destacar os acon-tecimentos obscuros de todo o processode conquista, com o fim de diminuir olegado da civilizao crist ocidental re-cebido pelo nosso continente.

    Por exemplo, a agncia Adital, umdos centros de propaganda da Teologia

    da Libertao marxista-existencialista,tem se empenhado em difundir comen-trios pouco originais, qualificando An-chieta de colaborador dos escravistas.

    Por casualidade, em 4 de abril, umdia aps o anncio da canonizao, o

    papa Francisco recebeu em audincia obispo Erwin Krautler, presidente do Con-selho Indigenista Missionrio (CIMI) r-go da Conferncia Nacional dos Bisposdo Brasil (CNBB), acompanhado do seuassessor teolgico, Paulo Suess. Em umbreve documento, Krautler exps aoPontfice a sua viso peculiar sobre asinjustias sofridas pelos indgenas brasi-leiros que habitam a Amaznia Legal.Sobretudo, investiu contra a construode usinas hidreltricas na regio, acuan-do-as de afetar fortemente o modo devida tradicional dos silvcolas, mencio-

    nando especificamente a usina de BeloMonte, no rioXingu.

    Dentre as credenciais com as quais seapresentou ao papa, o presidente doCIMI ressaltou uma referncia vitriaobtida na Constituio brasileira de1988: O CIMI contribuiu de maneiradecisiva para que os povos indgenassuperassem o projeto integracionistabrasileiro durante a ditadura militar e

    conquistasse o reconhecimento sua or-ganizao social, costumes, lnguas,crenas e tradies, e o seu direito origi-nrio sobre as terras que tradicional-mente ocupavam.

    No obstante, a realidade demonstraque o que considerado uma glria parao sectarismo ufanista de tais idelogossignificou uma derrota para os indgenase para toda a nao. Para os primeiros,

    porque, ao mant-los confinados em re-servas, os ndios so marginalizados doresto da sociedade. Existem abundantesevidncias de que os indgenas queremparticipar livremente das garantias ou-torgadas a todos os cidados brasileiros,

    A contraevangelizao doConselho Indigenista MissionrioSilvia Palacios e Lorenzo Carrasco

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    integrando-se sociedade nacional, o queimplicaria no respeito sua dignidade depessoas. Para a nao, porque a manipu-lao dos problemas ambientais e ind-genas tem acarretado enormes prejuzos,em atrasos e a obstaculizao de grandesprojetos de infraestrutura, principal-mente energticos e virios, vitais para odesenvolvimento do Pas sem falar naquesto crucial de colocar em xeque umfator-chave da nacionalidade brasileira,que a inquestionvel miscigenao queformou a sua populao atual.

    Para os dirigentes do CIMI, em seuarbitrrio marco ideolgico de liberta-o, no h espao para a importnciada Evangelizao fundadora, nem tam-pouco para uma nova gesto civilizat-

    ria, que contribua para encaminhar apopulao indgena do Brasil a uma vidamais digna do que o isolamento em zoo-lgicos humanos, como j foram defini-das as reservas. A sua rebeldia contra apropagao da f catlica to extremada

    que, de fato, o CIMI, apesar do vnculoformal com a CNBB, se transformou emuma ONG de avatares de Rousseau, em-penhados em perpetuar a buclica vidados bons selvagens.

    Para tanto, o CIMI integra um vastoaparato de ONGs indigenistas e ambien-talistas internacionais, que recebe abun-dantes recursos de poderosas famlias efundaes do Hemisfrio Norte, por se-rem atores muito convenientes para osinteresses desses implacveis poderes ne-ocoloniais cuja agenda inclui a obsta-culizao de qualquer processo real dedesenvolvimento socioeconmico da Re-gio Amaznica, a qual prefere mantercomo uma vasta reserva de recursosnaturais a serem explorados de acordo

    com as suas prprias convenincias.Como documentamos no livro Quem

    manipula os povos Indgenas contra odesenvolvimento do Brasil: um olhar nos

    pores do Conselho Mundial de Igrejas(Capax Dei, 2013), o CIMI um ativo

    As recentes cheias recordistas do rio Madeira tm sido, erroneamente, atribudas s usinas de Jirau e SantoAntnio, por ambientalistas e indigenistas mal informados

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    porta-voz do Conselho Mundial de Igre-jas (CMI), que, a partir de uma vertenteprotestante, soma-se interpretao mo-derna da Lenda Negra, promovida pe-los interesses anglo-americanos.

    Em jubilosos comentrios, propagan-distas do indigenismo divulgaram a ver-so de que Krautler et aliihaviam sidoconvocados a assessorar o papa Fran-cisco na elaborao da sua prxima en-cclica sobre o meio ambiente e o desen-volvimento, a qual se encontra em fasede estudos. Em um artigo publicado em7 de abril, o Instituto Humanitas Unisi-nos comentou: Krautler informou queo Papa esperava dele propostas corajo-sas e audazes sobre a encclica; se de umlado a nomeao de Krautler (em alemose fala de Mitautor, isto , coautor, masna realidade tratar-se- de uma colabo-rao estreita) faz pensar na articulaoque o Papa Bergoglio reconhece entre o

    cuidado da criao e a promoo da jus-tia... trata-se de um sinal que a redaoda encclica est em curso, ou, pelo me-nos, em fase de estudos.

    Misso e desenvolvimento,binmio anacrnico

    Alm do CIMI, um grupo de prelados daAmaznia Legal tem se engajado ativa-mente na campanha contra as usinas hi-

    dreltricas projetadas e em construona regio.Entre 28 e 31 de outubro de 2013,

    realizou-se em Manaus (AM) o PrimeiroEncontro da Igreja Catlica na Amaz-nia Legal, evento ligado a outros, empreparao para a celebrao dos 400anos do incio da evangelizao da Ama-znia. Os bispos ali reunidos, represen-tando os nove estados da Amaznia

    Legal e liderados pelo cardeal ClaudioHummes, presidente da Comisso Episco-pal da Amaznia da CNBB, divulgaramuma carta em que afirmaram: Fomosinformados a respeito dos grandes pro-jetos executados na regio, de maneira

    especial as hidreltricas, que represen-tam uma nova invaso do capital comvistas a explorar as nossas riquezas na-turais, e aproveitar o potencial energ-tico dos nossos rios, sem perceber osprejuzos causados ao meio ambiente,com a sua imensa biodiversidade e adestruio da vida e da histria de mui-tos povos tradicionais.

    Em 29 de maro ltimo, o RegionalNoroeste da CNBB, que rene bispos doAcre, Rondnia e Sul do Amazonas, ex-pressou a sua preocupao com a recentecheia do rio Madeira e o seu impactojunto s comunidades ribeirinhas e urba-nas, com uma nota que soa como umacoleo de diatribes, mais prpria de mi-litantes ambientalistas desinformados doque de prelados esclarecidos e com car-gos de tal responsabilidade: A enchentehistrica de 2014, que inundou centenasde comunidades ribeirinhas e urbanas,

    expulsando milhares de famlias e sub-mergindo inmeras plantaes beira doRio Madeira, trouxe muito sofrimento.Sabemos que catstrofes naturais amea-am a vida no nosso planeta desde oprincpio. A Terra um planeta vivo quese reconfigura continuamente. No entan-to, acreditamos que h novos fatorescomo o aquecimento global, que acelerao descongelamento das geleiras das mon-

    tanhas, desmatamentos e processos ero-sivos no solo, a formao de represaspara gerao de energia eltrica (sic).

    A situao presente o resultado dotrabalho de grupos missionrios proce-dentes da Europa, que, em uma espcie derevanche contra os que chegaram h cincosculos, se instalaram em regies da Ama-znia Legal, para subverter ou protes-tantizar o ensino da f catlica. O atual

    assessor teolgico do CIMI, Paulo Suess,que acompanhou Krautler na audinciacom o Pontfice, um dos personagenscentrais desse processo desagregador.

    Em um captulo de seu livro Travessiacom esperana(Vozes, 2001), Suess relata

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    o caminho que percorreu desde quechegou ao Brasil, em 1966, procedentede sua Alemanha natal, caminho muitodiferente do que percorreram os mis-sionrios da Evangelizao fundadora.No texto, ele descreve o contexto inter-nacional da dcada de 1960 e a transio

    que sofreu, deixando de lado a pregaode um Evangelho com base na idia dedesenvolvimento, para outro, com os ad-jetivos de libertao e inculturao.

    Efetivamente, era a poca em que omundo assistia, com esperana, aonascimento da to desejada era de des-colonizao:

    Na poca, minorias estudantis, nacontracorrente cultural dos prsperos

    anos sessenta, j ostentavam um dis-curso de transformao social e desen-volvimento econmico (...). surgiamvocs que exigiram dos polticos algodiferente. J. F. Kennedy enviou asses-sores militares ao Vietn, e volunt-rios da paz aos pases pobres alinha-dos aos EUA. Inicialmente, a Alianapara o Progresso, com o seu horizontede liberdade e de bem-estar para o

    Terceiro Mundo no comunista, des-pertava esperanas na Igreja.Havia uma brisa pr-populista e de-

    senvolvimentista no ar que sussurravaaos ouvidos dos estudantes: voc deve irao povo e ajudar os pobres. Por que no

    tornar-se voluntrio da paz, como mis-sionrio leigo ou diocesano (...)?

    Contagiado por tal tendncia, Suessse disps a vir ao Brasil. O seu primeiroservio foi na prelazia de bidos (PA),onde, at ento, segundo o seu depoimen-to, se desenvolviam atividades orientadaspelo binmio misso e desenvolvimen-to. Catequizava com fervor populaolocal, indgenas e no indgenas:

    Ns ramos aplaudidos com as cons-trues que levantvamos sem cessar:ambulatrios, escolas, capelas, casas,centros sociais, quadras de esporte... ecelebramos muitas missas. Batizamosanualmente at 800 crianas.

    Aprendi que o paradigma missoe desenvolvimento no rompe com aviso, nem com a prtica colonial de500 anos. (...) S muito mais tarde, eucompreenderia que o paradigma missoe desenvolvimento insustentvel sem

    os paradigmas de libertao e incultu-rao. (...) Senti que, com a missodesenvolvimentista, entraria cada vezmais profundo num beco sem sada.Estava na hora de romper com a visoparoquial da realidade e com a missodas melhores intenes. Em 1974, resol-vi sair da regio em busca de uma articu-lao mais relevante entre teologia, pas-toral e realidade.

    Depois de passar uma temporada naEuropa, fartando-se da Teologia da Li-bertao que se respirava na atmosferados meios acadmicos eclesisticos daAlemanha, logo aps o Conclio Vatica-no II, Suess voltou ao Brasil e abando-nou o paradigma misso e desenvolvi-mento. Em 1977, comeou a dar aulasno Instituto de Teologia da Regio Ama-znica, em Manaus. E quase imediata-

    mente passou a se relacionar com o CIMI,para converter-se em um dos telogosque fundamentam a mudana de orien-tao na evangelizao. Uma mudanaradical, ditada pelo CMI, aps a clebrereunio de antroplogos organizada

    Paulo Suess, um dos idelogos do CIMI

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    pelo rgo na ilha caribenha de Barba-dos, em janeiro de 1971. Na declaraofinal do encontro, estipulou-se uma es-pcie de declogo do que deveria sera nova Antropologia e as mudanasque servio religioso dos missionriosdeveria sofrer.

    Com todas as letras:

    As sociedades indgenas tm di-reitos anteriores toda a sociedadenacional.

    O Estado deve reconhecer s organi-zaes indgenas o direito de organi-zar-se segundo a sua prpria cultura,e em nenhum momento poder limi-tar aos seus membros o exerccio detodo e qualquer direito de cidadania,mas em compensao, os eximir documprimento das obrigaes que en-trem em contradio com a sua pr-pria cultura.

    A obra evangelizadora das missesreligiosas na Amrica Latina corres-ponde situao colonial dominan-te, de cujos valores est impregnada.A presena missionria significouuma imposio de critrios e padresalheios s sociedades indgenas domi-nadas, e que encobrem, sob um man-to religioso, a explorao econmicae humana dos povos indgenas.

    Essas mudanas transformaram pro-fundamente o trabalho missionrio,convertendo-o em um ativismo sectrio.Finalmente, tal noo indgena foi con-sagrada na Constituio brasileira de1988. Este foi o trofu protestantiza-do que o presidente do CIMI levou aopapa Francisco, no texto apresentado.

    Que inculturao?Suess e outros que se referem ao Evange-lho como se fosse uma opresso da qualse deve se libertar, interpreta, da mesmaforma, o conceito de inculturao,manipulando o seu real significado e

    relativizando-o. Sem a alegria do Evan-gelho, qual o alimento eterno que seenraizar? Se a inculturao lhes impor-tasse, teriam obedecido de imediato aosclamores pontifcios, de Joo Paulo II aFrancisco, para mostrar o exemplo deuma inculturao perfeita do Evangelhono nosso continente, o da Virgem de Gua-dalupe, a estrela da Nova Evangelizao.

    Em 1531, a Morenita apareceudiante de um indgena j convertido fcatlica, Juan Diego Cuauhtlatoatzin,nos arredores da Cidade do Mxico.A partir de ento, a Evangelizao, quenaufragava em um cruel processo deconquista, com o risco de se desviar darota original que havia sido uma das mo-tivaes da aventura do Descobrimentoda Amrica, entra em uma fase de con-sidervel pacificao. Enquanto, na Eu-ropa, a Igreja Catlica perdia oito mi-lhes de fiis com a Reforma Protestante

    (antecessora do CMI), na Amrica, seganharam outros tantos sob a influnciada Virgem de Guadalupe. A sua imagemtoma referncias da cultura indgena e,assim, surge o Novo Mundo, com a mes-tiagem que confere ao continente a suapeculiaridade e, at a atualidade, une oser transcendente da nao mexicana.Foi um projeto original de igualdade, eno um de diviso, como o que o CIMI e

    as redes que integra pretendem enqua-drar os indgenas brasileiros.E ainda mais tesouros nos aguardam.

    Agora, a Virgem de Guadalupe segue oseu caminho rumo ao Norte, com os me-xicanos que, fugindo da crueldade dodesemprego e da misria causados pelaglobalizao financeira, emigram aosEstados Unidos, em busca de po, levan-do consigo a devoo popular Virgem.

    De forma crescente, o catolicismo, como Evangelho inculturado que vem doSul, se espalha pelos EUA, por meio dascomunidades hispnicas mestias, quedefendem os valores da cultura crist a vida, a famlia e o direito ao trabalho

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    digno, impactando positivamente a cul-tura estadunidense. Por isso, esta vitali-dade da f migratria contempladacom otimismo pela Igreja estadunidense,como um dos grandes acontecimentosda histria contempornea.

    Em contraste, no Brasil, os idelogosdo CIMI, que falam de libertao e in-culturao, passeiam pelo mundo comindgenas brasileiros a tiracolo, apresen-tando-os como figuras folclricas, agin-do em coordenao com o aparato indi-genista internacional. Alm disso, socompanheiros de viagem das ONGs quepromovem a destruio da famlia e ou-tros antivalores do multiculturalismo,a exemplo de agncias como a Adital eoutros meios de propaganda que promo-vem as bandeiras do CMI.

    A vocao da integrao

    Aproveitando-se do estilo amvel do

    papa Francisco, no seu trato com figurasremanescentes da Teologia da Liberta-o que, no Brasil se agruparam emtorno do trabalho do CIMI e de seualiado, o Movimento dos TrabalhadoresRurais Sem Terra (MST) , os dirigentesde tais redes propagam, com euforia, oque dizem ser triunfos no Vaticano.

    Alm do sensacionalismo em tornoda visita dos dirigentes do CIMI, outro

    episdio relevante foi o comparecimentodo dirigente histrico do MST, JooPedro Stdile, a um seminrio organi-zado pela Academia de Cincias do Vati-cano, em dezembro de 2013.

    Em uma entrevista divulgada no sitedo Frum Social Mundial, o lder doMST afirmou: Me pagaram a passa-gem. Vim ao seminrio a pedido do PapaFrancisco, representando o MST e a Via

    Campesina. Pela primeira vez, no am-biente de um Seminrio no Vaticano,pudemos dizer ao cardeais [a origemdos excludos]. (...) Conseguimos con-vencer o Vaticano a nos ajudar a realizarvrios eventos para o prximo ano. Uma

    conferncia sobre os alimentos transg-nicos. E outra, para que os movimentossociais dialoguem com a Igreja.

    Alm de gerar uma tenso crescenteentre indgenas e no-indgenas, a inclu-dos os produtores rurais (enquadrados nortulo genrico de agronegcio, semdistino dos carteis de alimentos do res-tante da agricultura), as redes do CIMI edo MST contribuem sobremaneira parafrear a integrao da Amrica do Sul.

    Ao no reconhecer a nossa heranamestia comum, herdada dos princpioshumanistas da civilizao crist ociden-tal, corta-se um vnculo fundamentalque nos d segurana para nos atrever-mos a formular uma contribuio origi-nal para o processo civilizatrio. Comoregio, no temos nada a renegar donosso passado.

    Por outro lado, os projetos de inte-grao fsica que podem e devem ser im-

    pulsionados na Amrica do Sul, como asgrandes hidrovias, tm sido sabotadospelo indigenismo-ambientalismo, tpicodas aes do CIMI e do MST. Sem falarno comprometimento da soberania dospases da regio, com a presena, emreas estratgicas, de um aparato inter-vencionista de ONGs travestidas de su-postas boas intenes, mas a servio deuma insidiosa agenda supranacional.

    Assim, seria muito propcio aos inte-resses fundamentais do Brasil, em parti-cular, e da Amrica do Sul, em geral, quea diplomacia vaticana lanasse uma ini-ciativa, no campo que lhe for possvel,para remover os obstculos que estofreando a integrao da Amrica doSul. Em meio a um mundo em rpidas emarcantes transformaes, a nossa re-gio precisa ascender a uma posio em

    que possa colaborar para estabeleceracordos internacionais que possibilitema criao de uma ordem mundial maisjusta e prspera. E, desta forma, consu-mar a tarefa da descolonizao, que per-manece pendente.

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    N. dos E. A seguir, por sua grande atua-lidade, reproduzimos um artigo do faleci-do jurista Clovis Ramalhete (1912-1995)sobre a poltica indigenista introduzida

    pela Constituio de 1988, publicadono Jornal do Brasilde 30 de outubro de1993. Um dos grandes juristas da sua

    gerao, Ramalhete foi, entre outroscargos, juiz da Corte Permanente de Ar-bitragem de Haia, consultor-geral daRepblica e ministro do Supremo Tribu-nal Federal (STF). O texto a seguir me-rece a ateno dos leitores, em especial,daqueles envolvidos nos aspectos legis-lativos da poltica indigenista.

    Esta denncia, com vistas reviso consti-tucional, aponta aos congressistas o exa-gero do constituinte de 88 ao tratar dendios. Ele o fez com radicalismo. Estecaptulo da Constituio de 88 contm vejam s ameaa organizao nacional, sua integridade e ao desenvolvimento.Melhor ser revog-lo da Constituio. o que tentarei demonstrar, to errada esectria revela-se a poltica ali adotada.

    voz geral que ningum leu toda aConstituio de 88. Cada segmento da socie-dade leu o que lhe interessava. Mas o cap-tulo sobre o ndio, no final da Constitui-o, este ningum o leu, claro. Por isso nose levantou a merecida opinio crtica aotexto. Ele sectrio, radical e antinacional.

    Ningum, poltico ou jurista, por terlido sobre os ndios na Constituio de 88,j pasmou ao ver que eles agora se torna-

    ram irremovveis. E o so at mesmo nocaso de interesse da soberania nacional(s lendo para acreditar!). Enquanto comndio agora assim, irremovvel, o restanteda populao brasileira deslocado porordem judicial, no caso de desapropriao.

    Arredam-se famlias para abrir nova rua.At populaes compactas so removidas,como no caso de hidreltricas, necessrias,a servio de reas industriais e de desenvol-vimento. Mas ndio, no; ndio est fincadoao solo pelo constituinte de 88. Ningumj ficou surpreso, s porque no leu aConstituio, por ali saber esse fato espan-toso: no Brasil, para apenas 240 mil ndiosexistentes, esto destinados 793 mil quil-metros quadrados, isto , 26 vezes maisque o territrio da Blgica ou que a somada Frana com a Inglaterra. Pergunto: e olavrador sem terra? por efeito desta Cons-tituio de 88 que nossa Federao estesquartejada. Por mera portaria do minis-

    tro da Justia vo sendo retalhados territ-rios dos estados para ndios. E tudo sem aaudincia dos estados e sem a intervenodo Congresso Nacional. Agora, na Federa-o, estados so mutilados por portaria!

    Pergunto, eu, e com indignao: que fe-derao esta, a nossa? Nela, portariasdespedaam estados! Ningum protesta.Governadores dos estados mutilados, se-nadores, deputados, onde esto? Renam-

    -se, reajam; a reviso da Constituio podecurar esse aleijo.

    Tambm ningum ficou perplexo aosaber que o subsolo pertence agora aondio, onde habite; enquanto que, no terri-trio restante, ao fazendeiro s pertence asuperfcie da terra, com pastos e matas; e osubsolo da Unio. Por que a diferena?Talvez seja o cacique quem deva assinar aconcesso da explorao, mas com reserva

    do lucro, pois j lhe est assegurado pelaConstituio. Ningum j leu, para saber,que as tribos agora esto dotadas de capa-cidade para ingressar em juzo. Assim po-dero, de dentro do estado, atacar a unida-de do territrio do Brasil.

    Uma dennciaClovis Ramalhete

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    Ningum se advertiu ainda que ali naAmaznia, onde h tanto ndio, pululamOrganizaes No-Governamentais, aspolmicas ONGs, mais de trinta, financia-das por capital estrangeiro, agora tomadode suspeito idealismo quanto ecologia dacobiada Amaznia. Mas ningum se deuconta de que foi agora tornado possvelpelo constituinte de 88, e de modo expres-so, que aventureiros, ONGs, missionrios,algum patife e at idealistas fundem parandios sociedade que seja representativa datribo. Tal entidade, ento, iniciar na Jus-tia combate de toda ordem; ou ir levardenncias contra o Brasil, sem base, difa-matrias, apresentadas a rgos da OEAou da ONU, talvez sobre suposto geno-cdio, como se falou h pouco. E tudomovido por pessoa jurdica fundada porum qualquer, para ndios. E ter base nodireito originrio do ndio terra queocupa, movido por pessoas jurdicas

    fantasmas: uma farsa perigosa. Leiam aConstituio e confiram tudo isso no cap-tulo sobre ndios, que entendo deva ser re-vogado, agora, na reviso constitucional.

    De fato, diz a Constituio de 88, nocaptulo sobre o ndio (captulo que nin-gum leu): So reconhecidos aos ndios osdireitos originrios sobre as terras que tra-dicionalmente ocupam!

    V-se logo que o constituinte errou.

    Ele admitiu aos ndios, agora, a atuali-dade de direitos originrios s terrasque ocupam. Ops tais direitos a tudoquanto a histria j construiu politica-mente em terra brasileira, desde a chegadade Cabral. Nesta verba constitucional, oconstituinte de 88 declarou reconhecerdireitos originrios s terras. Contra-riou ento manifesto interesse brasileiro deque a soberania do Brasil seja ntegra; e

    recobriu os ndios tambm, sujeitos or-dem jurdica nacional. Que isso, agora,de direitos originrios?

    Aos ndios, certo que devem ser asse-gurados seus costumes, e receberem eles aproteo do Estado, permissiva da sua

    aculturao. Entretanto, o tal direito ori-ginrio s terras, este no existe mais.Sua garantia atual ope-se ao regime jur-dico nacional vigente. Ele produto dosquatro sculos de processo formativo doBrasil, nas sucessivas etapas da colnia, damonarquia e da repblica.

    O constituinte de 88, ao garantir aosndios direitos originrios s terras, faztardia objeo ao Direito Internacional dosculo XVI, que, no tempo das navegaese descobertas, em definitivo concedeu aposse dos territrios achados soberaniada coroa a que se sujeitasse o navegador,ainda que no territrio encontrado se de-parasse com civilizaes como a dos incase dos maias. A histria j recobriu tudo.

    Nas Amricas, por efeito dessa ordemjurdica seiscentista, aqui se instalaramcolnias. O processo de sculos, que seseguiu, culminou constituindo Estadossoberanos, reconhecidos mundialmente.

    Mas veio agora o constituinte de 88 e ten-tou ressuscitar suposto direito originriodeles terra que ocupam. Reconheceu-o equis p-lo em vigncia. E, assim, desin-tegrou a organizao nacional brasileira,cirando perigos potenciais, para o pior.

    A presente denncia dirige-se ao Congres-so Nacional ocupado em rever a Constitui-o de 88. Que algum leia (at que enfim!)esse danado captulo dos ndios. E, ento,

    que o congressista ponha na Constituioa garantia dos costumes ao silvcola; a pro-teo dele pelo Estado, sem interfernciana sua cultura; e a possibilidade de amparao natural processo de sua aculturao.

    Mas quanto aos supostos direitos ori-ginrios s terras, e quanto a serem elesirremovveis, que seja apagado na Consti-tuio esse erro, esse radicalismo de peri-gos potenciais. H mais e mais demasias

    do constituinte de 88 nesse fantstico cap-tulo sobre ndios. Ele figura bem ao finalda Constituio. Por isso, ningum o leu.

    O melhor mesmo seria revog-lo. A mat-ria para lei ordinria, como j figura noEstatuto do ndio.

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