Quem Tem Medo de Melodrama

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Livro sobre Melodrama

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  • i a'...

    auem tem medomelodrama?do

    Autor: Silvia Oroz

    Primeiro Congressa da telenovela latino-americanaCaracas, abril de 1998

    a

  • Ern 1995 ParticiPei I do Livro deTELENOVELA E OS C AVEIS, LLeonardo Padrn. Eram cara do masua interveno dizendo:

    de Luis Lamata e deLeonardo comeou a

    continua. Quando atem como ttulo: "A

    mos mal, quero dizer, haa favor dos que nos

    gente ccinvidada a Parttctelenovela e os culPveis"

    'I A'^ W"^blh

    La, ltlwi,t" l )-' Vfu tu aff'*'aa

    intitulado: A

    No ano passado participei de uma mesa redonda onde analisava-se a msicapopular latino-amerin", sua funo esttica e simblica' Algum falou deuma primeira etapa "**nii*"ntaloide", de "sgntimentalidade exagerada" deSriin Lara. O adjetivo me caiu como uma bomba. Olhei para quem oproferira e perceni[ue era um jovem. Foi outra bomba: constatar que algum" u*, geiaao mais nova que a minha, para analisar o sentimento amorosose servia das mesrnas eategoria que eram familiares a minha gerao' Semdvida, era a ora do racioalismo, iluminismo e todos os ismos que obstruemo caminho do conhecimento presente na afetividade, e a sua retrica' Ou' pelo*"no., a retrica q irpt"gna o imaginrio sentimental latino-americano'

    Jess Martn Barbero conta que, antes de repensar e revalorizar o melodrama'tinha ido ao cinema, na tolmbia, assistir um filme mexicano dos anos 40' Emr*ra seus risos e aos dos seus acompanhantes, um senhor, sentado nafotona da trente, ,iir", chorando, pede respeito para os seus sentimentos'Barbero chama este acontecimento de "exploso epistemolgica", e foi a partir

    da que comearam oS seus trabalhos de reposicionamento frente aomelodrama.

    A essa altura dos acontecimentos, penso que 0 a rejeio do melodrama no seno o desprezo pcr um componente da cultura dos marginalizados, do

    qual

    ,o ** quer distncia. o jefto que a .intetigncia' latin*?T?:::.::^Tl:ir;;;"pi, norte-americana, de acordo ao gosto, foi impugnando os

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    pf r i nd a,;i; "56}, ** pii*"iro lugar, motor da industria cinematogrfica, e emdessas industrias Y Por

    j trs homen emtocou por destiantes de que agente s falando, a estr mo

    seguida da televisiva. Pit ggg-9-melqr hop, quando a audincia cai, convocam-no?

    culturais.

    ustrias y por IIs-sryl

    comunleaao Iiva e retrica

    g^fl';wu ^'

    Lrecq**i

  • Esta estratgia funciona entendendo o gnero interligado a um contextoIls{6iicoEliural determinado, do que se conclui que no uma matriz fixa.mas dinmica. Esse dinamismo, na sua ligao produtolpblico, relaciona-se

    dudesiguds Por esse motivo podem conv de diferentes maneiras,melodramticas arcaicas e mais modernas. Em outras palavras: a telenovelamexicana, por exemplo, convive com a novela das I da Globo. Refiro-meespecificamente convivncia e no ao "ibope". Na relao gnero/pblico fundamental prestar ateno ao desenvolvimento dos processos subjetivos, apesar de no serem totalizadores, j que acontecem nas entrelinhas. Mas esta perspectiva a que determina a mobilidade e redefinio constante dosformatos televisivos, como aponta Feuer.

    Nesie sentido, lernbro os primeiros captulos de O DONO DO MUNDO, quandoa idia do raciocnio cnico, em voga num segmento social reduzido, pretendeuser o eixo da histria e teve que ser mudado, entre outras coisas pelo ndice de

    .^ fr rejeio popular. 0"valo/' do cinismo no formava parte do consenso social.,,.ry 1-7 Vale a pena lembrar que a produo cultural incorpora lentamente asI\"'-lrtl' mudanas subjetivas e os fatos historicos traumticos. No cinema norte.'\fflfl americno, poi exemplo, a guerra ds Vietn s aparece como compo*ente daI\^lx I realidade e do imaginrio 20 anss depois de terminada. No Brasil, o primeiro

    transplante de corao foi feito em 1968, em 197'1 a assunta tratado em OHOMEM QU= DEVE MORRER, de Janete Clair. Em 1977 entra em vigor a leido divorcio e m 198G, em ESCALADA, Lauro Csar Muniz desenvolve o tema.A morte por Aids de Rock Hudson emblemtica como mobilizao contra adoena; em 1987 Jos Louzeiro refere-se Aids e ao AZT em CORPCSANTO, No ano passado, Lauro Csar Muniz retoma o tema emZAZA, com aperspectiva da esperana lrazida pelo cocktel de medicamentos. O tema damulher separada que proura um caminho independente do homem oencontramos, j na dcada de 70, no Brasil, na srie MALU MULHER; naVenezuela, em SILVIA RIVAS, DIVORCIADA.

    Na atual etapa da comunicao de massas, upassa pela telenovela. Deste modo, adquirem uma familiaridade antes nar/+_ieconhecida pelog-ectador. Assim, a telenovela constitui tambm oimaginrio, que uma fase constitutiva do social, e neste sentido tem umarealidade prpria, articulada ao material concreto da percepo imediata.Quer dizer: c imaginrio cria realidades vivificadas e, paralelamente, fazleturas do social, que passam a ser matria prima da produo imagtica.

    Frente a isso, cito Nora Mazziotti, quando aponta: "... a telenovela est hojenuma etapa de franca transformao que tem a ver com processos dferentes,interrelacionados. E uma etapa de reformulao do gnero onde percebe-se,

  • mais enfaticamente que noutros momentos, que a telenovela um formato quepode abrir-se e incorporar madalidades, temticas, linguagens, provenientes dematrizes diferentes, no s televisivas, mas cinematogrficas, publicitrias,eletrnicas, que no implicam na perda dos seus ncleos bsicos decomunicao."

    Estes ncleos, a narrativa e a retrica, tem a ver com a essncia do gnero e oestruturam formalmente. _@!lygst relacionada primei ra e distanteetapa oral da literatura, quando o ancio da comunidade sentava-se entorno dofogo para contar a um pblico que imagino com os rostos iluminados pela luzdaschamas,relatosdeesobreacomunidade.Nestesentido,@necomo um balaio de gatos qu suga tudo que nele entra e o organiza em funode CONTAR UMA HISTCRIA. Histria que, a travs de mltiplas metforas,refere-se experincia coletiva e individual do grupo. E isso est bem prximodo melodrama televisivo, que sublima G prazer pelas histrias com facilidadeestilsticaeinsistnciadetopicosnarrativosdentro@

    -sentimentos onde, ainda bem, OS RICOS f@

    a travs do mundo dos sentimentos que entra em jogo o EXCESSO quecaracteriza as nanativas populares e que constitui a grande afronta verossimilhana que impe o realismo, este sim aceito pela "inteligncia", jque procura a verdade central desejada pelo pensamento positivista, que foideterminante na impugnao dos gneros populares. Nestaperspectiv, eentendendo o melodrama Gomo uma representao/metfara de alegoriassociais e culturais, o pblico semi urbano e semi analfabeta da Amrica Latina,

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    assimilou antes e melhor que os "cultos", a significado dos discursosI audiovisuais. Primeiro foi com o cinema e depois com a televiso. Deste modaI aprendeu a decifrar e ler estas formas discursivas.I

    A retrica.ro outro elemento constitutivo do gnero, _ a reiterao de dilws,situggies, temas musicais, q!g,!om o objetivo de persuadir o espectador.Sint MA VEZ. E necessria a repetio para apersuaso. A.retrica, como aponta Bill Nichols, "corteja o espectadof , j quetem a ver com ojbtfg. enquanto o pstilo tem a ver com o autor. No caso deGilberto Braga e Gloria Perez, podemos alar de dos estilos diferentes, comono caso de Alberto Migr e Enrique Torres na Argentina, ou lbsen Pifieiro eCabrujas na V+nezuela. Assim. narrativa e retolica estabelqcem a poderosa

    ,ligao como o pblico. Tudo isso a pesar da visincia invisvel gerada pelocnone queEuffi[ou a excluso do melodrama pelo seu apelo retrica dossentimentos.

    Retomando a questo da dinmica dos gneros, observamos que a travs dasua histria, a telenovela, interrelacionada com o contexto histrico cultural, foiaos poucos desenvolvendc como temas assuntos que apareciarn em ncless

  • 'tdramticos secundrios. Deste modo, relaes hofrossexuais inexistentes nanarrativa 20 anos atrs, surgiram timidamente e, por exemplo, a prximanovela das 8 da Globo, TORRE DE BABEL, anuncia uma relao lsbica, emharmonia social, entre seus temas centrais. A marginalizao ocial comotema,antesUmaSuntomnimo,emblemticoemffi

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    ta^4 k t\6t/et : w *^n-,*r,Entretanto, penso que estas mudanas de comportamente, fundamen t Ynpermanncia da atualidade da telenovela, tem a ver com a narativa que tevesua funcionalidade at a existncia da atual sociedade, ond o mass midaocupou um papel determinante. como aponta vattinc, estamos numasociedade'mais complexa e mais catica". E aqui que entra a minhapergunta sem resposta: se estamos , como assinala Lyotard, num momento dedissoluo dos grandes relatos e dos pontos de vista centrais, o que aconteceento com o relato da telenevela? No podemos esquecer que na sua longahistria o melodrarna foi mudands de formas, sempre mantendo a sua narrativae retrica em funcionalidade com elas mesmas. A relao tempolespao,colocada na nanativa da telenoyela como a conhecemos hoje,'pode estar,quem sabe, em crise frente fragmentao tempolespacial gerada pelasociedade meditica. lsto no representaria o fim do melodrma televisivo, masuma mutao a mais do gnerc, cuja caracterstica essa. mudar parasobreviver.

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