Queremos ser Património da Humanidade · Pode ler-se, na parte cimei-ra, uma inscrição que evoca...

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Mais 100 crianças e jovens de Viseu apresentam orgulhosamente o selo de “Viseu, Melhor Cidade para Viver”, no adro da Sé, no coração do Centro Histórico da cidade. O processo de preparação de uma candidatura à tão desejada lista de sítios Património da Humanidade da Unesco arranca hoje, ao lado de centros já classificados e experientes, como Guimarães, Évora, Salamanca, Angra do Heroísmo e Coimbra, entre outros. O município faz esta aposta consciente de que o seu sucesso depende de um forte envolvimento da sua comunidade. Queremos ser Património da Humanidade D I R E I T O S R E S E R V A D O S / F O T O M O N T A G E M

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Mais 100 crianças e jovens de Viseu apresentam orgulhosamente o selo de “Viseu, Melhor Cidade para Viver”, no adro da Sé, no coração do Centro Histórico da cidade. O processo de preparação de uma candidatura à tão desejada lista de sítios Património da Humanidade da Unesco arranca hoje, ao lado de centros já classificados e experientes, como Guimarães, Évora, Salamanca, Angra do Heroísmo e Coimbra, entre outros. O município faz esta aposta consciente de que o seu sucesso depende de um forte envolvimento da sua comunidade.

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JORNAL DE NOTÍCIAS QUINTA-FEIRA 17/4/14

VISTA PARA O FUNICULAR “Gosto deste miradouro com vista para o funicular. É uma zona muito agradável para se passear. Gosto de vir aqui com a família porque é um espaço muito arejado , com uma visibilidade muito boa sobre o resto da cidade e aprecio ficar a olhar para o funicular. Por onde ele passa também já fiz o percurso a pé” Ricardo Chéu Treinador do Académico de Viseu

SOLAR DOS MELOS “É um palácio fabuloso que, graças a um investimento de um grupo privado, voltou a estar ao serviço da cidade e sobretudo da sua economia. É um exemplo de como o património histórico pode ser utilizado para atividades económicas. Hoje, os centros históricos são desertos humanos e desertos económicos. Temos que utilizar o património construído” Arlindo Cunha Presidente da Comissão Vitivinícola Regional do Dão

ADRO DA SÉ “É um adro muito bonito. Trata-se de um espaço muito tranquilo, com a vantagem de durante o dia não existirem aqui carros estacionados, ou seja pode circular-se à-vontade. Gosto de estar aqui sentada e é um sítio onde tanto se pode estar ao sol como à sombra” Lisandra Nair Estudante

MUSEU GRÃO VASCO/SÉ “Gosto desta zona por estar ligada às origens da cidade. É onde está a Sé Catedral e que ao lado tem o Museu Grão Vasco. Gosto muito da arquitetura de ambos ”. Anabela Simões Funcionária Pública

PORTA DOS CAVALEIROS/ CHAFARIZ DE S. FRANCISCO “Gosto deste sítio porque é muito esquecido , colocado á parte. É muito pouco frequentado. É uma zona envolvente ao Teatro Viriato e à Escola Emídio Navarro e acho piada a esta junção de um passado longínquo e um presente virado para o futuro. É um sítio a ser vivido e explorado porque é um espaço com um potencial de descanso e de lazer” Paulo Ribeiro Diretor do Teatro Viriato

Entrevista “O coração débil do Centro Histórico vai passar a bater com força” Almeida Henrqiues, presidente da Câmara Municipal de Viseu

O que pretende com este debate? Há aqui uma perspetiva de colher-mos aquilo que foram as experiên-cias destes diferentes sítios de Pa-trimónio da Humanidade. Digamos que é o momento “um” . Viseu apa-rece como uma cidade conectada com o Alto Douro Vinhateiro, com Coimbra, Açores, Évora, Guima-rães, Salamanca. Queremos falar com pessoas que estiveram envol-vidas nestes processos e fazer a nos-sa aprendizagem sobre o percurso que temos de fazer e ver quais fo-ram as vantagens que estes sítios ti-raram. Que vantagens vê em ter um Centro Histórico classificado? Como este é um objetivo a dez anos, poderá fazer com que o pró-prio mercado acelere já, do ponto de visto da reabilitação. Temos mais de 170 edifícios privados que preci-sam de ser reabilitados e esta é uma tarefa do município e de envolvi-mento da sociedade. Temos um pa-trimónio imaterial, um percurso histórico, pelo qual precisamos de puxar. É preciso redescobrir figuras como o Viriato, o D. Duarte, o In-fante D. Henrique, o Alves Martins, o Almeida Moreira. Queremos que o centro histórico se afirme en-quanto espaço de cultura, fixação de pessoas, captação de turistas. Tudo o que queremos é que este nosso coração débil volte a bater com força e que seja um pulmão pu-jante da economia da nossa cidade--região. Que momentos se seguem? Ao mesmo tempo que decorre a conferência já teremos iniciado um debate alargado sobre o centro his-tórico, nomeadamente com a Asso-ciação Comercial de Viseu. Por ou-tro lado, até ao verão iremos iniciar o primeiro orçamento participati-vo, que é uma inovação do nosso município e que terá como mote o centro histórico, com o qual as pes-soas ganham a possibilidade de de-cidir o que fazer com uma parcela do orçamento municipal. Temos destinados entre 50 a 100 mil eu-ros, sendo que, se a experiência for muito rica, poderemos vir a falar em montantes mais robustos em futuros orçamentos. A ideia é candidatar a Património da Humanidade todo o centro histórico ou apenas uma parte? A ideia global é o centro histórico, mas o mais provável é que, pela via

objetivo é ter mais pessoas a vive-rem, a trabalharem, porque essa é a forma de depois desenvolvermos a componente do centro comercial ao ar livre, que pretendemos que seja uma realidade, com mais lojas e com mais qualidade. A incubado-ra de empresas (rua do Comércio) está em curso e contamos que a obra física possa ser inaugurada em setembro ou outubro. Estamos a preparar o concurso para um hostel, ao lado da incubadora . Já apareceram potenciais investi-dores para o hostel? Já tivemos meia dúzia de manifes-tações de interesse, o que nos dá logo à partida o conforto de que será Sandra Ferreira

Textos

“Para que serve um sítio Património da Humanidade?” é o debate que marca o início da candidatura do Centro Histórico de Viseu

ESTÁTUA D. DUARTE “Gosto desta estátua colocada no meio da praça com o mesmo nome. Talvez porque trabalho ao lado e olho para ela todos os dias, há mais de 30 anos. Desde sempre que me lembro dela aqui. É uma estátua bonita e às vezes fico à porta a apreciar” LaSalete Ferreira Empresária

do debate, cheguemos à conclusão que faz sentido candidatar apenas uma parte, porque não nos interes-sa reabilitar a todo o preço, mas fa-zê-lo de maneira a manter a sua pró-pria identidade, a traça original. Se olharmos para a praça D. Duarte, Largo Pintor Gata , Largo da Miseri-córdia e o Largo da Sé, temos um conjunto muito uniforme, com identidade. Este será sempre o em-brião da candidatura, mas quero ou-vir. Que serviços já decidiu levar para o centro histórico, no sentido de o revitalizar? Estamos a estimular instituições a fixarem-se no centro histórico. O

um concurso que terá concorren-tes. Como vai resolver a questão do estacionamento ? Fixamos criar 400 lugares de esta-cionamento, e este é um objetivo para o mandato. Já identificamos os espaços, mas não vou adiantar mais, estamos a negociar. Assim que estiver resolvido, podemos de-limitar uma área pedonal. Em que área está a pensar? O núcleo que referenciei há pou-co, aquele que será o embrião da candidatura a Património da Huma-nidade. Qual vai ser o papel do funicular? Estamos a estudar, mas a expecta-tiva é que, dentro do plano de mo-bilidade, o funicular venha a ter o seu espaço – até pode vir a funcio-nar apenas em determinados perío-dos do dia. Iremos fazer três corre-dores de ligação ao centro histórico, os chamados circuitos verdes, um ao Fontelo, outro à Universidade Católica, Escola Superior de Saúde e ao Hospital e outro ao Instituto Po-litécnico de Viseu. Os jovens e ca-sais jovens podem começar a deslo-car-se de bicicleta. É uma dinâmica que poderá estar a funcionar no iní-cio do próximo ano. Como é que vai rejuvenescer um centro histórico com dois mil ha-bitantes, maioritariamente ido-sos? No próximo ano vamos avançar com o programa “Viseu Aconche-gar” e idosos isolados vão acolher estudantes universitários. Também queremos um conjunto de residên-cias universitárias. Por outro lado, com o programa Reabilitar para Ar-rendar, teremos 25 jovens casais a habitar o centro histórico. Desde que estou em funções já foram transacionados 30 edifícios. Signi-fica que os próprios privados estão a manifestar alguma apetência pela zona. A médio prazo poderemos ter um mix de jovens e idosos. Como é que imagina o Centro Histórico daqui a dez anos? Imagino que esteja 90% reabilita-do do ponto de vista do património, com pessoas na rua, mais ordenado, com eventos culturais a decorre-rem de uma forma sistemática, com alguns serviços .

Na primeira pessoa Para mim, o mais bonito do Centro Histórico de Viseu é... Pequeno inquérito sobre candidatura a Património Mundial da Humanidade

VISEU A PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE VISEU A PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE

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JORNAL DE NOTÍCIAS QUINTA-FEIRA 17/4/14

Programa O que vai passar-se na conferência

Sé CatedralA base da Catedral remon-ta aos séculos XIII, em es-tilo românico-gótico. A sua construção arrastou-se du-rante vários séculos, sendo por isso o resultado de su-cessivas intervenções de diferentes construtores. Possui duas torres, a do re-lógio e a Torre dos Sinos, sendo que esta última é apenas uma representa-ção, já que a original ruiu devido a um forte tempo-ral em 1635. O corpo cen-tral da fachada tem inspi-ração nos retábulos ma-neiristas.

Igreja da Misericórdia

Situada em frente à Sé Cate-dral, não se sabe ao certo em que data foi construída a Igreja da Misericórdia, apon-tando-se 1510 como ano provável. A Igreja, no seu in-terior, apresenta uma única nave e capela-mor, separa-dos estes dois espaços por um arco cruzeiro, que se im-põe pela estrutura que ter-mina num frontão curvo, decorado ricamente com motivos festivos. Os altares e os respetivos re-tábulos são já neoclássicos , remontando às interven-ções realizadas durante o sé-culo XIX.

Senhora dos Remédios

Construída em 1742, a sua construção deve-se às esmo-las dos devotos. Situa-se no Largo Pintor Gata, antiga Praça da Erva. Constitui-se como uma edificação otogo-nal, assente num patamar de pedra, acedendo-se ao seu interior através de uma escadaria. Exteriormente ressalta a dicotomia que se estabelece entre o branco das paredes caiadas e o cin-zento do granito que ocupa várias zonas, nomeadamen-te as arestas das faces com pilastras adossadas, que de-pois de trespassarem a cor-nija do telhado, se prolon-gam e terminam em bolas. O vértice do telhado é rema-tado por um adelgaçado.

Tesouro da Sé

No claustro superior da Ca-tedral localiza-se o Museu de Arte Sacra/Tesouro da Sé , onde podem ser apreciados objetos litúrgicos. Aqui po-dem ser apreciados desde esculturas, a mobiliário , custódias, cofres , relicários , paramentaria , livros, etc. Criado a 21 de janeiro de 1932 esteve fechado duran-te quase uma década, rea-briu ao público em 2001. En-tre as peças mais ricas estão dois cofres medievais de Li-moges. E um busto de prata oferecido ao bispo de Viseu no século XI.

Praça D. Duarte

Porta de S. Francisco

É o que de melhor resta da muralha Afonsina que cir-cundava a cidade. A Porta é um Monumento Nacional. Pode ler-se, na parte cimei-ra, uma inscrição que evoca o cerco que D. Afonso V mandou fazer em Viseu em 1472 e outra, lembra a con-sagração pública à Imacula-da Conceição de Maria (já no reinado de D. João IV). As ar-mas de Portugal, do reinado de D. João IV, rematam a porta. A porta do Soar faz li-gação com o Rossio e ao Lar-go Pintor Gata.

Roteiro Spots no Centro Histórico de Viseu Para parar, escutar, olhar e perguntar. Escolhas e roteiro de tudo o que há para ver

9.30 horas Receção aos participantes 10h – Abertura ::: Presidente da Câmara Municipal de Viseu, Almeida Henriques ::: Agostinho Ribeiro Diretor do Museu Grão Vasco ::: Secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier (a confirmar) 1.30 – Experiências de classificação. Que aprendizagens? ::: Alexandra Gesta, Centro Histórico de Guimarães ::: Luís Braga da Cruz, Alto Douro Vinhateiro ::: Raimundo Mendes Silva, Universidade de Coimbra – Alta e Sofia Moderação: Odete Paiva, Vereadora da Cultura Muncipal de Viseu 12h – Visita ao Centro Histórico de Viseu 14.30h – Experiência de Gestão. Que resultados? ::: Açores (Angra do Heroís-mo e Pico), Nuno Ribeiro Lopes ::: Centro Histórico de Évora, Nuno Domingos ::: Cidade Antiga de Sala-manca, Roberto Silguero Moderação: Fernando Marques, Gestor do Centro Histórico de Viseu 15.45h – Pausa para café 16h – Mesa redonda: “Para que serve hoje um sítio Património da Humanidade?” ::: Moderação: Paulo Ferrei-ra (Subdiretor do JN) ::: Dalila Rodrigues, Centro Cultural de Belém ::: Elisa Babo, Quaternaire Portugal ::: Ricardo Magalhães, ex-Chefe de Projeto da Estru-tura de Missão do Douro ::: Celeste Amaro, Diretora-Regional de Cultura do Centro ::: Pedro Machado, Turismo do Centro 17.30h – Encerramento

A sudoeste da Sé fica a Praça D. Duarte, assim designada des-de 1955 altura em que ali foi colocada a estátua do Rei Elo-quente. A configuração atual deste espaço resultou de suces-sivos ajustamentos, com a eliminação de edifícios menos ca-racterísticos, Na sequência dessas obras foi possível proce-der a estudos arqueológicos sobre a génese da ocupação edi-ficada da cidade. Recebeu a distinção de Projeto Piloto de Salvaguarda do Património Arquitetónico Europeu, em 1992. Em torno do largo há edifícios burgueses em altura dos séculos XVIII e XIX.

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JORNAL DE NOTÍCIAS QUINTA-FEIRA 17/4/14

Eles já têm o selo de qualidade O que aprender com outros sítios classificados Trata-se de uma viagem com início definido e sem fim. A partir do momento em que a UNESCO atribui a um sítio o selo de Património da Humanidade, cresce a responsabilidade de quem se meteu na empreitada. E de quem vem a seguir. O mais difícil está por fazer: manter o centro histórico vivo; garantir que a sua identidade não se perde, antes se reforça. Eis o relato de sete responsáveis pela candidatura de sete sítios de Portugal a Património da Humanidade.

1996 47O Centro Histórico do Porto foi elevado a Património da Humanidade em 1996. Corresponde ao tecido ur-bano marcado pelas ori-gens medievais da cidade.

“É preciso saber como se preservam os centros históricos, mantendo a sua identidade” Raimundo Mendes (Gestor)

“Quando a UNESCO classificou Guimarães, já a população tinha a autoestima no ponto certo” Alexandra Gesta

(Gestora)

Alto Douro Envolvimento decisivo“A classificação é um arco de passagem entre a situa-ção anterior e a seguinte e que está em permanente evolução. Há que investir na relação do património com o desenvolvimento da própria cidade. E este tem de ser um processo em que a população está empenhada na preserva-ção do património, porque a UNESCO reconhece um valor universal excecional. O envolvimento da comu-nidade é decisivo. Há que fazer campanhas de sensi-bilização, no sentido de que a consagração da UNESCO serve para refor-çar a identidade e os habi-tantes ficam orgulhosos.

Salamanca “É como um selo de qualidade”

O número de turistas cres-ceu bastante e manteve-se o património da cidade an-tiga. Em 1988, tínhamos cerca de 200 mil turistas. No ano passado, registá-mos a passagem de 700 mil. Reabilitámos 60% dos edifícios e entre 5% e 10% foram construídos de novo. Ter uma classificação da UNESCO é como ter um selo de qualidade. A UNESCO é supervisora, o que pode ser um inconve-niente: o maior controlo urbanístico torna-se mui-tas vezes um problema para a câmaras.” ROBERTO SILGUERO (GESTOR)

Coimbra “Incentivar a reflexão”“Incentivar a reflexão é o grande contributo de uma candidatura. Se partir só de um dossiê com os bens pa-trimoniais e as suas poten-cialidades, e não tiver uma reflexão sobre o futuro, é uma candidatura menos in-teressante. Os centros his-tóricos estão em extinção e é preciso saber como se pre-servam, mantendo a sua identidade. A definição do limite do que se pretende candidatar foi a maior difi-culdade, porque é preciso estabelecer os limites de gestão. É um processo que serve para criar melhores condições de vida, integrar os centros históricos e incu-tir autoestima”.

Évora “Colaboração entre entidades”“A classificação é o reco-nhecimento de ações que se desenvolveram, que ti-veram classificação, mas, a partir daí, desencadea-ram-se outras. Temos de-senvolvido medidas para a população do centro histó-rico e recuperado edifícios. É preciso uma grande cola-boração entre entidades, desenvolver políticas e acessibilidade nos centros históricos que foram cons-truídos para serem inaces-síveis. A cidade funciona toda no centro histórico. Dois terços dos turistas do Alentejo vão a Évora e o número de hotéis conti-nua a crescer”. NUNO DOMINGOS (GESTOR)

Guimarães ”Isolar o ‘menino’ é torná-lo anormal”“Guimarães começou a fa-zer a recuperação do cen-tro histórico em 1983, com o objetivo de melhorar as condições de vida da popu-lação, e só depois surgiu a ideia da candidatura a Pa-trimónio Mundial. Quan-do a UNESCO o classificou, já a população tinha a au-toestima no ponto certo e sentiu-se reconhecida. O pior que pode acontecer a um centro histórico é fa-zer um cerco em torno de-les e isolá-los, porque eles são parte integrante de um todo. É preciso valori-zar o território rural e fa-zer a ligação, porque isolar o menino prodígio é tor-ná-lo anormal. É preciso chamar a atenção desse lu-gar e estar em constante ampliação”. ALEXANDRA GESTA

Número de países que, na Europa, têm sítios classificados. Portugal é um dos países com maior número de monumentos no mundo classificados, o que demonstra a amplitude da sua atuação mundial. Do Brasil à Tanzânia, do Paraguai ao Sri Lanka, os portugueses deixaram marcas culturais e de enorme valor.

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Consagração da UNESCO serve para reforçar a identidade e os habitantes ficam orgulhosos Braga da Cruz

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Na 37.ª sessão do Comité do Património Mundial, entre junho e julho de 2013, passaram a ser 16 os sítios ou conjuntos de sítios considerados Património Mundial em Portugal.

Açores “Um percurso nunca concluído”

“Não basta agregar institui-ções, é preciso envolver a população. Há que definir uma estratégia para a cidade com a qual a população se identifique. Ter uma classi-ficação significa um longo percurso a fazer que nunca está concluído. É como ter um galardão, sem que esse seja o objetivo. É o reconhe-cimento de um trabalho de muitas gerações e que re-

presenta a importância his-tórica, vivida pelos atuais habitantes a pensar no futu-ro. No nosso caso, discordo que a classificação atraia mais turistas. A cidade por si só não é uma atração. As pes-soas vão a Angra do Heroís-mo porque vão aos Açores”. NUNO RIBEIRO LOPES (GESTOR)

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D. Miguel da Silva era um homem notável, de grande cultura e sensibilidade artística, que ocupou cargos de prestígio em Roma. Depois da morte do rei que nele confiava, nunca teve boas relações com o sucessor, D. João III. Nomeado bispo de Viseu, criou na cidade uma corte renascentista, chamando vários artistas italianos, e nela deixou uma forte marca artística. Construiu o claustro da Sé e renovou a mata do Fontelo, onde ficava o Paço Episcopal (atual Solar do Dão). A sua influência é notória na obra do pintor Grão Vasco.

Em 2009, a Câmara de Viseu decidiu reclamar-se berço do primeiro rei de Portugal, por ocasião dos 900 anos do seu nascimento. Uma tese do medievalista Almeida Fernandes, subscrita por outros historiadores, como José Mattoso, indicava que Afonso Henriques teria nascido em Viseu e que, mais tarde, fundaria a nação em Guimarães.

Viseu deve muita da sua graça decorativa ao capitão Almeida Moreira, mas deve-lhe bastante mais do que praças e jardins. Militar, professor, autarca, investigador e museólogo, dirigente associativo e colecionador de arte – marcou a cidade na sua era (1873 - 1939) e além dela. Modernizou-a,, criou nela uma movida artística, tendo fundado o Museu Grão Vasco.

O pintor Vasco Fernandes deixou uma obra impressionante, e uma boa parte dela pode ser vista no Museu Grão Vasco, no adro da Sé de Viseu. A chegada a Viseu do bispo D. Miguel da Silva levou-lhe a influência do Renascimento italiano e essa tendência deixou grandes marcas na sua obra. Há quem diga que, por gratidão, pintou o rosto de D. Miguel no retrato de S. Pedro.

O contemporâneo multifacetado

Afonso Henriques nasceu em Viseu?

O grande pintor Vasco Fernandes

O bispo que trouxe o Renascimento

Um filho da dinastia de Avis

Património imaterial Os mitos, as figuras e as estórias Do mistério da cava de Viriato ao nascimento do rei Afonso Henriques

O segundo rei da dinastia de Avis, D. Duarte, nasceu em Viseu, e o seu nome (e a sua estátua) estão na praça principal do Centro Histórico. O monarca de reinado curto (5 anos) nasceu em Viseu porque lá esteve instalada a corte de João I, seu pai, fazendo da cidade capital do reino durante meio ano.

O monumento que é mistérioÉ um lugar singular, com a sua paz de aldeia dentro da cidade, e o maior mistério de Viseu. Quem mandou construir a cava de Viriato, há mais de mil anos? Essa antiga fortaleza octogonal, com 40 hectares, é considerada uma das mais emblemáticas da engenharia de terra que ainda existem na Península Ibérica, apenas comparável a outra construção do género no Iraque. A sua construção é atribuída a mouros, cristãos e até aos lusitanos, embora Viriato só tenha sido associado à cava no século XVI e o mito exacerbado depois da Restauração da Independência. Diz-se que há estas três teses principais e mais algumas delas derivadas, num total de 12 produzidas sobre a origem da cava. Monumento nacional desde 1919, é um octógono desenhado em terra, uma construção fascinante que se pode conhecer caminhando, desde que foi criado um passadiço – concebido pelo arquiteto Gonçalo Byrne –, durante a requalificação do Polis. Os oito lados da cava são taludes de terra e dos originais restam seis. É ainda rodeada por um fosso, que no inverno as chuvas enchem de água. A teoria que mais consenso reúne é a de que a cava foi uma cidade-acampamento construída durante a conquista árabe – no século VIII ou no período de Almansor, o governador árabe da Península Ibérica entre o final do século X e início do século XI. Terá sido da cava de Viseu que Almansor partiu para as campanhas militares de Leão, Astorga e Santiago de Compostela. Terá sido também o lugar onde Almansor distribuiu o saque daquelas cidades. Também há registos de que teriam estado 25 mil soldados na cava, mas não foram encontrados vestígios arqueológicos condicentes com esse número de ocupantes.

VISEU A PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE

Dora Mota Textos