Quero Ser Tambor, José Craveirinha
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Literaturas de Língua
Portuguesa
Moçambique
José CraveirinhaQuero ser tambor
ES/3 D. Afonso Henriques2009/2010
IntroduçãoEste trabalho é realizado no âmbito da disciplina
de Literaturas de Língua Portuguesa, onde iremos
explorar, por agora, a Literatura Moçambicana e
alguns dos seus grandes escritores.
O poeta que iremos abordar, primeiramente,
será José Craveirinha com o poema Quero ser
Tambor.
Bandeira
Brasão de armas
Maputo – capital de Moçambique
Maputo
Igreja de S. António, na Ilha de Moçambique, deixada pela colonização portuguesa e ao estilo da época.
Ilha de Moçambique
LiteraturaUma parte significativa da
produção literária moçambicana
deve-se aos poetas da "literatura
europeia", ou seja, aqueles que,
sendo brancos, centram toda, ou
quase toda a sua temática nos
problemas de Moçambique; foram
eles que contribuíram
decisivamente para a formação da
identidade nacional
moçambicana.
A Literatura de Moçambique é
ainda muito jovem, mas já conta
com exímios representantes como
José Craveirinha, Paulina Chiziane
e Mia Couto.
LiteraturaA dimensão da importância
da tradição oral na literatura
moçambicana é reforçada pelo
facto de se atribuir à poesia um
poder visionário e transformador
do mundo.
Podem-se, assim constatar
dois universos culturais na
literatura moçambicana: o
europeu, que lhes legou a
escrita, e o africano, de que
reinventam a ancestralidade e
as formas orais.
LiteraturaPortanto, um número significativo de escritores
escolheu “moçambicanizar” tanto os temas como o estilo da língua literária europeia com que escrevem. Tentam apropriar-se da língua e remodelá-la na sintaxe, gramática e vocabulário, de modo a reflectir a cultura oral moçambicana. Deste modo, contribuíram para legitimar o que é, indubitavelmente, uma das mais coerentes experiências de fusão da cultura oral e escrita.
José CraveirinhaNome completo: José João Craveirinha
Nascimento: 28 de Maio 1922 em Maputo
Carreira: trabalhou como jornalista n’O Brado Africano e colaborou com diversos órgãos de informação em Moçambique. Teve um papel importante na Associação Africana a partir dos anos 50.
Curiosidades: Grande parte da sua poesia ainda se mantém dispersa na imprensa, não tendo sido incluída nos livros que publicou até à data. Outra parte permanece inédita. Esteve preso pela PIDE, de 1965 a 1969, na célebre Cela 1 com Malangatana e Rui Nogar, entre outros.
Obra•Chigubo, 1964•Cantico a un dio di catrane, 1966•Karingana ua karingana, 1974•Cela 1, 1980•Maria, 1988•Babalaze das hienas, 1996•Hamina e outros contos, 1997•Maria, Vol.2., 1998•Poemas da Prisão, 2004•Poemas Eróticos, 2004
Tem muitas obras publicadas, sendo considerado um dos grandes poetas de África e da Língua Portuguesa. Pode considerar-se José Craveirinha como o poeta nacional moçambicano, no sentido em que Camões o é para Portugal.
Prémios•Prémio Cidade de Lourenço Marques (1959)
•Prémio Reinaldo Ferreira do Centro de Arte e Cultura da
Beira (1961)
•Prémio de Ensaio do Centro de Arte e Cultura da Beira
(1961)
•Prémio Alexandre Dáskalos da Casa dos Estudantes do
Império, Lisboa, Portugal (1962)
•Prémio Nacional de Poesia de Itália (1975)
•Prémio Lotus da Associação de Escritores Afro-Asiáticos
(1983)
•Medalha Nachingwea do Governo de Moçambique (1985)
•Medalha de Mérito da Secretaria de Estado da Cultura de
São Paulo, Brasil (1987)
•Prémio Camões (1991)
Quero ser tamborTambor está velho de gritar
Oh velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor
corpo e alma só tambor
só tambor gritando na noite quente dos trópicos.
Nem flor nascida no mato do desespero
Nem rio correndo para o mar do desespero
Nem zagaia temperada no lume vivo do desespero
Nem mesmo poesia forjada na dor rubra do desespero.
Nem nada!
Quero ser tamborSó tambor velho de gritar na lua cheia da minha terra
Só tambor de pele curtida ao sol da minha terra
Só tambor cavado nos troncos duros da minha terra.
Eu!
Só tambor rebentando o silêncio amargo da Mafalala
Só tambor velho de sentar no batuque da minha terra
Só tambor perdido na escuridão da noite perdida.
Quero ser tamborOh velho Deus dos homens
eu quero ser tambor
e nem rio
e nem flor
e nem zagaia por enquanto
e nem mesmo poesia.
Só tambor ecoando como a canção da força e da vida
Só tambor noite e dia
dia e noite só tambor
até à consumação da grande festa do batuque!
Oh velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor
só tambor!
TemaA composição poética Quero ser
tambor de José Craveirinha insere-se
na 1ª Fase do poeta, a do Neo-
realismo.
Este texto poético aglomera
vários temas relacionados entre si, o
vitalismo, o culto da Natureza, a raça
e a revalorização da tradição negra.
“Só tambor ecoando como a
canção da força da vida”
“até à consumação da grande
festa do batuque!”
AssuntoO poema apresenta uma estrutura tripartida.
A primeira parte é constituída pelas primeiras três estrofes. Nela o sujeito poético, invocando o velho Deus dos Homens, formula o seu desejo de ser tambor e expõe, também os seus “anti-desejos” em se tornar flor, rio, zagaia ou poesia que conduzem ao desespero.
A segunda parte integra a terceira, quarta e quinta estrofes onde o sujeito poético reitera a sua vontade de ser tambor, explicitando, ao mesmo tempo, a sua beleza e poder de intervenção: “… rebentando o silêncio amargo de Mafalala”.
Por fim, a terceira parte é constituída pelas últimas três estrofes, na qual o “eu” irá novamente invocar a entidade superior do velho Deus dos homens e reformular os seus desejos e “anti-desejos”, sublinhando, a par da primeira parte, a sua ambição de ser tambor de corpo e alma/noite e dia até à consagração da festa do batuque.
Simbologia do tamborO ruído do tambor é
associado à emissão do som
primordial, origem da
manifestação e, mais
recentemente, ao ritmo do
universo.
Na África, o tambor está
estreitamente ligado a todos
os acontecimentos da vida
humana. Especialistas do
continente negro dizem que o
tambor é, no sentido da
palavra, o logos da nossa
cultura, que se identifica à
condição humana da qual é
uma expressão.
Simbologia do tamborAo mesmo tempo rei, artesão, guerreiro, caçador, jovem
em idade de iniciação, a sua voz múltipla traz em si a voz do Homem, com o ritmo vital da sua alma, com todas as voltas do seu destino.
O tambor é o símbolo da arma psicológica que desfaz internamente toda a resistência do inimigo. É considerado sagrado, ou sede de uma força sagrada; ele troveja como o raio, é ungido, invocado e recebe oferendas. É também a própria voz das forças protectoras, de onde provém as riquezas da Terra.
Recursos estilísticos• Personificação
“Tambor está velho de gritar”
“só tambor gritando”
“Só tambor rebentando o silêncio”
“Só tambor velho de sentar”
“Só tambor perdido na escuridão”
A personificação do tambor salienta o seu carácter
intervencionista e representativo da voz do sujeito poético como
intermediário dos conflitos existentes em Moçambique. É de
salientar também a sua caracterização regressiva, na qual o
tambor começa por ter o dom de “gritar” para no fim já se
encontrar “perdido na escuridão”.
Recursos estilísticos• Apóstrofe
“Oh velho Deus dos homens”
A apóstrofe é utilizada pelo sujeito poético para invocar uma
entidade superior para que esta o deixe “ser tambor”.
• Reiteração
“só tambor/ só tambor”
A reiteração reforça o desejo do sujeito poético em ser
tambor.
Recursos estilísticos• Anáfora
“Nem” (do verso 6 ao 10)
“e nem” (do verso 20 ao 23)
“Só tambor” (estrofes 4, 6 e 8)
A anáfora em “Nem” e “e nem” é utilizada no poema para
explicitar aquilo que o sujeito poético não quer ser: “rio”,
“flor”, “zagaia” e “poesia”; para logo de seguida reforçar a
ideia do seu desejo de ser “só tambor”.
Recursos estilísticos• Repetição
“tambor”
“desespero” (segunda estrofe)
“minha terra” (quinta estrofe)
A repetição do vocábulo tambor é visível ao longo de toda a
composição poética, que reforçam a importância metafórica deste
objecto como meio apaziguador dos conflitos existentes em
Moçambique. Também é evidente o uso do termo desespero no
final dos versos da segunda estrofe que salientam os “anti-desejos”
do sujeito poético em se tornar mais um dos focos de disputa na sua
terra. Por fim, a iteração de “minha terra” no fim dos versos da
quinta estrofe relevam a importância que o tambor tem na terra do
sujeito poético.
Análise formalEsta composição poética é
constituída por nove estrofes livres: a
primeira com cinco versos, a segunda
com quatro, a terceira com um, a
quarta com três, a quinta com um, a
sexta com três, a sétima com seis, a
oitava com quatro e a última com três
versos. O esquema rimático é irregular
e a métrica dos versos não segue
nenhuma lógica. Apresenta uma rima
pobre e um ritmo rápido.
ConclusãoAntes de ser zagaia José Craveirinha quis ser tambor, ou
seja antes de ferir quis anunciar e convencer, embora através de um instrumento forte e barulhento e agregador de grandes emoções. Esta é uma característica do povo moçambicano, de norte a sul do país, independentemente de etnias, raças e caldeado pelas influências dos povos que vindos da Europa, da Ásia e de todo o mundo desembarcaram nas suas praias.
ConclusãoAli naquela praia imensa à
beira do Índico, todos aqueles povos, negociando, amando-se, conflituando e explorando-se, foram construindo uma ideia comum a todos: não se deve renunciar à luta, mas antes de lutar deve-se conversar. Foi esta ideia comum e muito moçambicana, traduzida por Craveirinha em querer ser tambor antes de ser zagaia, que permitiu que a convivência de povos em Moçambique tenha aquela delicadeza e fraternidade que a tornam frutuosa; o que não quer dizer que, às vezes, quando é preciso não haja zaragata.
ReflexãoEste trabalho foi relevante
para o nosso grupo, uma vez que
nos deu a conhecer mais uma
país de língua portuguesa,
Moçambique, com a sua cultura,
costumes, literatura, danças, etc;
bem como um dos seus mais
distintos escritores, José
Craveirinha.
Analisámos também um
poema deste exímio escritor: o
“Quero ser tambor”, em que
pudemos presenciar, não só a
beleza da sua escrita, mas
também a força, a garra e
pujança deste poeta pela
liberdade e cooperação na sua
terra-natal.
A. Tema
B. Tambor
C. “só tambor/ só
tambor”
D. “Anti-desejos”
E. Fase
F. Divisão
G. “Só tambor
perdido na
escuridão”
a) Vitalismo
b) Neo-realismo
c) a raça
d) Tripartida
e) som primordial
f) o culto da Natureza
g) Personificação
h) arma psicológica
i) flor, rio, zagaia ou poesia
j) sua voz múltipla traz em si a voz do Homem
k) revalorização da tradição negra
l) Reiteração
A
E
A
F
B
A
G
B
D
B
A
C
Bibliografiahttp://
pt.wikipedia.org/wiki/Mo%C3%A7ambique
http://www.mozambique.mz/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Literatura_de_Mo%C3%A7ambique
www.catjorgedesena.hpg.ig.com.br/html/textos/miguel_lopes.doc
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Craveirinha
http://fumacas.weblog.com.pt/arquivo/179665.html
Trabalho
realizado por:
Paula Leal Nº12
12ºH
&
Vanda Teixeira Nº
17 12ºH