Questionário de Valores Básicos - Diagnóstico

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    Psychology/Psicologia Reflexo e Crtica, 28(2), 292-301. DOI: 10.1590/1678-7153.201528209ISSN 1678-7153

    Questionrios dos Valores Bsicos Diagnstico (QVB-D):Evidncias de Validade de Construto

    Basic Values Survey Diagnosis (BVS-D): Evidence of Construct Validity

    Luana Elayne Cunha de Souza, a, Valdiney Veloso Gouveiaa, Tiago Jess Souza de Limaa& Walberto Silva dos Santosb

    aUniversidade Federal da Paraba, Joo Pessoa, PB, Brasil

    & bUniversidade Federal do Cear, Fortaleza, CE, Brasil

    Resumo

    Este estudo teve como objetivo construir o Questionrio dos Valores Bsicos, verso diagnstico(QVB-D), reunindo evidncias de sua validade de construto (validades fatorial e convergente e con-sistncia interna). No caso, teve-se em conta a teoria funcionalista dos valores humanos, identificandosuas subfunes e trs valores para representar cada uma. Participaram 210 estudantes do ensinomdio e universitrios de Joo Pessoa (PB), com idade mdia de 18,3 anos (DP= 2,94), a maioria

    do sexo feminino (61,4%). Estes responderam o QVB-D e perguntas demogrficas. Para conhecerevidncias de validade fatorial do instrumento, foram realizadas anlises fatoriais confirmatrias,ademais para avaliar a consistncia interna trs indicadores foram utilizados. Os resultados apoiarama adequao de sua verso com 54 itens, mostrando evidncias de validade de construto. Conclui-seque este um instrumento psicometricamente adequado, podendo ser utilizado em pesquisas futurase na prtica profissional do psiclogo.Palavras-chave: Valores, funes, medida, validade, diagnstico.

    Abstract

    This study aimed to develop the Basic Values Survey, diagnosis version (BVS-D), gathering evidenceof its construct validity (factorial and convergent validities and reliability). The functional theory ofhuman values was taken into account, identifying its subfunctions and three values to represent eachone. Participants were 210 school and university students in Joo Pessoa (PB), at a mean age of 18.3years (SD= 2.94), mostly female (61.4%). They answered the BVS-D and demographic questions.In order to know factorial validity evidence of the instrument, confirmatory factor analyses wereperformed, and to assess the internal consistency, three indicators were used. Results supported theappropriateness of its version with 54 items, showing evidence of construct validity. In conclusion,this instrument showed appropriate psychometric parameters, which justifies its use in further studiesand professional practice of psychologists.Keywords: Values, functions, measure, validity, diagnosis.

    Endereo para correspondncia: Universidade Federalda Paraba, Programa de Ps-Graduao em PsicologiaSocial, Joo Pessoa, PB, Brasil 58051-900. E-mail:[email protected] artigo contou com apoio do Conselho Nacional deDesenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq) pormeio de bolsa de mestrado concedida ao primeiro autor.

    Uma das caractersticas que tornam os valores to im-portantes o seu impacto, direto ou indireto, sobre o com-portamento (Roccas & Sagiv, 2010), pois a forma naturaldas pessoas buscarem valores se comportarem de maneira

    que os expressem ou os promovam (Bardi & Schwartz,2003). Deste modo, os valores so empregados paraexplicar uma variedade de comportamentos, tais como:

    preocupao com o meio ambiente (Groot & Steg, 2008;Milfont, Sibley, & Duckitt, 2010), condutas antissociais(Santos, 2008), religiosidade (Santos, 2008; Schwartz &

    Huismans, 1995), preconceito (Vasconcelos, Gouveia,Souza, Sousa, & Jesus, 2004), comportamento sexual derisco (Goodwin et al., 2002; Tamayo, Lima, Marques,& Martins, 2001), comprometimento organizacional

    (Tamayo, 2005), orientao poltica e voto (Caprara,Schwartz, Capanna, Vecchione, & Barbaranelli, 2006;Devos, Spini, & Schwartz, 2002).

    Neste sentido, parece evidente a contribuio que oestudo dos valores humanos oferece nos mais diversosmbitos de atuao do psiclogo. Por exemplo, na psi-coterapia, sua importncia j vem sendo reconhecida hdcadas (Kelly, 1990). Nas palavras de Rokeach (1973)valores, atitudes e comportamentos podem sofrer mudan-as duradouras quando as pessoas se tornam conscientesde certas contradies dentro de si (p. 330). No contextoorganizacional, Tamayo (2005) defende a importncia deconsiderar os valores dos funcionrios por parte da orga-

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    nizao, para o estabelecimento de vnculos saudveis ea promoo do bem-estar.

    No obstante, para que a pesquisa sobre o papel dosvalores nos contextos de atuao do psiclogo progrida,a mensurao dos valores deve ser assegurada de maneiravlida e precisa, contudo essa rea ainda apresenta limita-es, como as comentadas a seguir. A medio dos valores

    humanos transcorreu de forma controversa e irregular atos anos 1970, de certa forma resultante da fragmentaoterica e diversidade conceitual que tornaram confusa suaoperacionalizao (Braithwaite & Scott, 1991). Entretanto,em anos mais recentes parecem resolvidos esses proble-mas, ao menos no que diz respeito s formulaes tericas(e.g., Gouveia, 2003; Inglehart, 1977; Schwartz, 1992).Porm, apesar disso, alguns problemas so evidentes nosinstrumentos que se propem a medir os valores, sobretudono que diz respeito aos seus indicadores de consistnciainterna (Gouveia, 2013). Por outro lado, considerandoa importncia e centralidade deste construto no sistemacognitivo (Maio, 2010), parece primordial empreenderesforos para superar esta limitao.

    Mesmo sendo evidente na literatura a importnciados valores humanos, pouco tem sido efetivamente feito

    para desenvolver medidas mais voltadas para a prtica emPsicologia que possam, por exemplo, ser utilizadas comomedidas de diagnstico dos valores pessoais de maneiraa identificar quais a prioridades axiolgicas do pacienteem processo de psicoterapia, auxiliar na seleo de fun-cionrios para as empresas, entre outras aplicaes. Osinstrumentos disponibilizados tm sido mais focados em

    pesquisas bsicas, a exemplo do Rokeach Values Survey(Rokeach, 1973), Schwartz Values Survey (Schwartz,

    1992) e o Questionrio dos Valores Bsicos (Gouveia,2003). De fato, quando se tem em conta a lista de testes

    psicolgicos aprovados at 2013 para uso pelo Sistema deAvaliao dos Testes Psicolgicos (SATEPSI), do Conse-lho Federal de Psicologia, no se encontra qualquer medidaa respeito. Diante deste contexto, pensou-se no presenteestudo. Seu objetivo principal foi construir uma medidade valores humanos voltada para triagem e diagnstico,reunindo evidncias de validade de construto (validadesfatorial e convergente e consistncia interna).

    Conceituao e Medidas dos Valores Humanos

    Apesar de ter sido reconhecida a relevncia dos valorespara a atividade humana, quer no nvel individual ousocial de anlise, o desenvolvimento dessa temtica foidificultado por problemas de definio e dvidas acercada prpria viabilidade emprica do construto (Braithwaite& Scott, 1991). A propsito, nos anos 1950 ainda nohavia um referencial adequado para conceituar um valor,e, embora a noo deste ser um atributo absoluto de umobjeto tenha sido rejeitada, ainda no havia consenso emrelao a outros aspectos, como, por exemplo, a distinoentre valor como desejvel ou desejado. No caso, foi so-mente a partir da definio de Kluckhohn (1951) que um

    consenso emergiu, concebendo os valores como centradosna pessoa e pertencentes ao desejvel.

    Mesmo com algum avano no nvel conceitual, aconvergncia nas pesquisas empricas sobre os valoresesbarrava na falta de acordo quanto ao plano operacional.A partir da reviso ampla acerca das medidas de valoresrealizada por Braithwaite e Scott (1991), constata-se que

    os valores eram tratados como coisas diferentes, a exemplode interesses (Allport, Vernon, & Lindzey, 1960),filosofiasde vida (Morris, 1956) ou comportamentos morais (Har-ding & Phillips, 1986). Este era, ento, o estado da arte queevidenciava certa falta de sinergia conceitual e operacionalna esfera dos estudos sobre valores.

    O trabalho de Rokeach (1968, 1973) foi decisivo paramudar o rumo dos estudos sobre os valores. Uma de suascontribuies destacveis foi no plano conceitual, propon-do uma definio que os diferenciavam de construtos cor-relatos (e.g., atitudes, traos de personalidade). Ademais,contribuiu para sua operacionalizao, designando-os

    como modos de condutaou estadosfinais de existncia. Apartir de suas contribuies, as pesquisas sobre os valorestiveram um rumo diferente, focando em abordagem maisemprica e menos filosfica. Estes aspectos se evidenciamna elaborao doRokeach Values Survey, considerado o

    primeiro instrumento especfico para medir os valores.Os estudos sobre os valores no se encerraram com as

    contribuies de Milton Rokeach. Depois dele foram pro-postas teorias que so mais elaboradas, a exemplo daquelaproposta por Shalom H. Schwartz, que integra manuais ecaptulos de livro da Psicologia (Maio, 2010; Maio, Olson,Bernard, & Luke, 2006; Smith & Schwartz, 1997). Con-tudo, tiveram lugar outras teorias, inclusive prvia quelacomentada anteriormente, proposta por Inglehart (1977)e tambm mais recentemente (Gouveia, 2003; Gouveia,Milfont, & Guerra, 2014). Porm, os problemas acercadas medidas seguiram existindo, as quais se limitaramao uso em pesquisas, visando conhecer os correlatos dosvalores. Resgatam-se alguns dos pontos crticos das me-didas desses autores.

    ORokeach Values Surveytem sido criticado pelo usode palavras ou frases muito curtas, o que geram mltiplasinterpretaes, distorcendo seus significados em culturasdistintas (Gibbins & Walker, 1993). Tambm tem sidoobjeto de restrio em decorrncia de sua natureza ipsativa,

    proporcionando pouca informao e correlaes baixasentre seus itens (Gorsuch, 1970). Por outro lado, a crtica

    principal feita ao instrumento de Inglehart (1977), o WorldValues Survey, diz respeito organizao de seus itens emdois polos presumivelmente opostos, isto , materialismoe ps-materialismo, tornando-o inadequado em funodos dados produzidos no condizerem com a realidade,mostrando que as culturas podem ser ao mesmo tempomaterialistas e ps-materialistas (Inglehart, Basaez, &Moreno, 1998).

    Com respeito medida de Schwartz (1992; SchwartzValues Survey), existem vrios aspectos que so criticados

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    (Gouveia, Milfont, Fischer, & Santos, 2008). Por exemplo,h uma ressalva quanto ao uso da classificao de sua listade valores em instrumentaise terminais; tambm se criticao emprego de escala de resposta assimtrica, variando de-1 a 7, que tem sido falha em identificar os valores supre-mos (Tamayo, 2007). Estes dois aspectos, provavelmente,refletem a influncia que esse autor recebeu de Rokeach

    (1973). Porm, provavelmente a crtica mais contundentediga respeito carncia de um modelo terico slido queembase seu conjunto de tipos motivacionais, refletindo emnmeros diferentes de itens para cada tipo (e.g., hedonismoabarca dois itens, enquanto universalismorene oito).

    Finalmente, o modelo de Gouveia (2003) deu origemaoQuestionrio dos Valores Bsicos, que tambm noest isento de limitaes. Por exemplo, apesar de no seruma caracterstica restrita de sua medida (Schwartz, 2005),os coeficientes de consistncia interna de seus fatores(suas subfunes) so comumente baixos, provavelmenteem razo da prpria natureza do construto avaliado, mas

    tambm do nmero reduzido de itens que os compe, trspara cada um (Pasquali, 2003). Destaca-se, ainda, quecada valor especfico representado por duas definies

    breves, que podem no retratar toda extenso da ideia dovalor subjacente.

    Em resumo, frente ao que foi exposto, considerandoo histrico problemtico da mensurao dos valores hu-manos e as crticas brevemente apresentadas de algunsdos principais instrumentos (Braithwaite & Scott, 1991),incluindo a medida elaborada no contexto brasileiro(Gouveia, 2003), percebe-se que ainda h uma lacuna aser preenchida. Concretamente, demanda-se elaborar umamedida que rena melhores indicadores de validade e pre-ciso, pautada em teoria slida dos valores, favorecendoseu emprego nos contextos de triagem e diagnstico

    psicolgicos. Este aspecto favoreceu pensar na presenteproposta, que visou oferecer uma medida pautada na teoriafuncionalista dos valores (Gouveia, 2003, 2013; Gouveiaet al., 2008; Gouveia et al., 2010). Neste sentido, carecedescrev-la brevemente.

    Teoria Funcionalista dos Valores Humanos

    Esta teoriafoi elaborada inicialmente nos anos 1990(Gouveia, 1998), tendo sido aprimorada nos ltimos anos(Gouveia, 2003, 2013; Gouveia et al., 2014; Gouveia,

    Milfont, Fischer, & Coelho, 2009; Gouveia et al., 2008;Gouveia et al., 2010). Ela no pode ser considerada comouma contraposio a modelos prvios que consideram anatureza motivacional dos valores humanos (e.g., Ingle-hart, 1977; Rokeach, 1973; Schwartz, 1992). Trata-se,contrariamente, de uma proposta integradora, embora

    parcimoniosa, contribuindo para o desenvolvimentoterico da rea, que considera as seguintes caractersti-cas para a definio dos valores: (a) so conceitos oucategorias, (b) sobre estados desejveis de existncia,(c) que transcendem situaes especficas, (d) assumemdiferentes graus de importncia, (e) guiam a seleo ou

    avaliao de comportamentos e eventos e (f) representamcognitivamente as necessidades humanas (Inglehart, 1977;Kluckhohn, 1951; Rokeach, 1973; Schwartz, 1992). Noobstante, seu foco principal so as funes dos valores,tratadas a seguir.

    Funes e Subfunes dos Valores.Gouveia (1998,2003; Gouveia et al., 2009; Gouveia et al., 2008; Gouveia

    et al., 2010) tem identificado na literatura duas funesconsensuais: (a) guiam as aes do homem (tipo de orienta-o; Rokeach, 1973; Schwartz, 1992) e (b) expressam suasnecessidades (tipo de motivador; Inglehart, 1977; Maslow,1954). Estas funes so detalhadas a seguir.

    A funo de guiar os comportamentos humanos identificada pela dimenso tipo de orientao, que podesersocial, centralepessoal. As pessoas guiadas por va-lores sociais so centradas na sociedade, com nfase nasrelaes interpessoais; por outro lado, aquelas guiadas

    por valores pessoais so egocntricas, possuindo um focointrapessoal. Portanto, as pessoas tendem a enfatizar o

    grupo (valores sociais) ou elas mesmas (valores pessoais)como a unidade principal de sobrevivncia. Entretanto,existe um terceiro grupo de valores que no so completaou exclusivamente social ou pessoal (Gouveia, 1998, 2003;Schwartz & Bilsky, 1987). Schwartz (1992) os denominacomo valores mistosou tipos motivacionais mistos. Porm,ele no justifica a razo de tais valores aparecerem entreos sociais e pessoais. A presente teoria prope que taisvalores se situam entre os sociais e pessoais porque com-

    preendem sua base organizadora, isto , os demais valoreso tm como referncia, expressando as necessidades mais

    bsicas (e.g., comer, beber) e as de ordem superior (e.g.,beleza, cognio). Por isso, este terceiro grupo de valores referido como central.

    A funo de expressar as necessidades humanas representada pela dimenso funcional tipo de motivador,da qual derivam os valores materialistas(pragmticos)ou idealistas(humanitrios; Inglehart, 1977). Os valoresmaterialistasesto relacionados com ideias prticas, su-gerindo uma orientao para metas especficas e regrasnormativas. Indivduos guiados por estes valores tendema pensar em condies de sobrevivncia mais biolgi-cas, priorizando sua prpria existncia e as condiesnas quais esta assegurada. Por outro lado, os valoresidealistasexpressam uma orientao universal, baseada

    em ideias e princpios mais abstratos. Comparados comos valores materialistas, os idealistas no so dirigidosa metas concretas e, geralmente, so no especficos.Dar importncia a valores idealistas coerente com umesprito inovador, havendo menos dependncia de bensmateriais.

    Em sntese, as duas funes valorativas formam doiseixos a partir dos quais os valores so organizados estru-turalmente: tipo de orientao(valores sociais, centraise pessoais) e tipo motivador(valores materialistas e ide-alistas). A combinao destes eixos permite derivar seissubfunes especficas dos valores, descritas na Figura 1.

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    Figura 1. Funes, subfunes e valores especficos.

    Subfuno experimentao. A necessidade fisiolgicade satisfao, em sentido amplo (princpio do prazer), representada por valores desta subfuno. Ela menos

    pragmtica na busca de alcanarstatussocial ou assegurarharmonia e segurana sociais; seus valores contribuem

    para a promoo de mudanas na estrutura de organizaessociais, sendo mais endossados por jovens. So indicadoresdesta subfuno os valores emoo,prazeresexualidade.

    Subfuno realizao. As necessidades de autoestimaso representadas por valores desta subfuno. Seus va-lores se originam de um princpio pessoal para guiar a vidados indivduos, enquanto focaliza realizaes materiais;

    podem ser uma exigncia para interaes sociais prsperase o funcionamento institucional. Tais valores so maistipicamente apreciados por jovens adultos, em fase produ-tiva, ou indivduos educados em contextos disciplinarese formais. So exemplos de valores desta subfuno osseguintes: xito,podereprestgio.

    Subfuno suprapessoal. Esta subfuno tem umaorientao central, representando seus valores as neces-

    sidades estticas e de cognio, bem como a necessidadesuperior de autorrealizao. Eles podem ser concebidoscomo idealistas, indicando a importncia de ideias abstra-tas, com menor nfase em coisas concretas e materiais. A

    pessoa que endossa uma orientao central e um motivadoridealista costuma pensar de forma mais geral e ampla,tomando decises e se comportando a partir de critriosuniversais. Os trs valores indicadores desta podem serbeleza, conhecimentoe maturidade.

    Subfuno existncia. Representa as necessidadesfisiolgicas bsicas (e.g., comer, beber, dormir) e a neces-sidade de segurana. O propsito principal de seus valores garantir as condies bsicas para a sobrevivncia bio-

    lgica e psicolgica do indivduo. Os valores de existnciaso endossados por indivduos em contextos de escassezeconmica, ou por aqueles que foram socializados em taisambientes. Trs dos valores que podem representar estasubfuno so estabilidade pessoal,sadeesobrevivncia.

    Subfuno interativa. A experincia afetiva entre in-divduos so ressaltados por seus valores, representandoas necessidades de pertencimento, amor e afiliao, reun-indo valores essenciais para estabelecer, regular e manteras relaes interpessoais. Contatos sociais so uma metaem si, enfatizando atributos mais afetivos e abstratos. As

    pessoas que os adotam so frequentemente mais jovense orientadas para relaes ntimas estveis. Trs valoresindicadores desta subfuno so afetividade, apoio sociale convivncia.

    Subfuno normativa. Reflete a importncia de preser-var a cultura e as normas convencionais. Priorizar valoresnormativos evidencia uma orientao vertical, na qual aobedincia autoridade importante. Pessoas mais ve-lhas so mais provveis de serem guiadas por tais valores,

    seguindo normas convencionais e tendo menos comporta-mentos anticonvencionais. Trs valores que a representamso obedincia, religiosidadee tradio.

    Existem instrumentos pautados na teoria funcionalistaque permitem apreender as subfunes valorativas em pes-soas da populao geral (QVB;Gouveia, 2003) e crianas(QVB-I; Gouveia, Milfont, Soares, Andrade, & Leite,2011), tendo a vantagem de reunirem apenas 18 itens, oque facilita a coleta de dados. Entretanto, reconhece-se anecessidade de um instrumento mais amplo, que rena in-dicadores de validade e preciso mais robustos, necessrios

    para endossar decises na prtica profissional. Nesta di-reo, decidiu-se elaborar um instrumento que possa ser

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    utilizado em mbitos diferentes de atuao psicolgica(e.g., clnico, organizacional, escolar, jurdico), servindocomo ferramenta ou recurso de triagem e diagnsticos de

    prioridades axiolgicas.Em resumo, decidiu-se propor uma medida de valores,

    pautada na teoria funcionalista, considerando nmeromaior de itens, buscando reunir evidncias de sua validadefatorial e convergente e consistncia interna. Este instru-mento ser denominado como QVB-D (Questionrios dosValores Bsicos Diagnstico).

    Mtodo

    Participantes

    Participaram deste estudo 210 estudantes do ensinomdio de uma escola privada (39,5%) e universitrios dacidade de Joo Pessoa (PB). Estes tinham idades variandode 14 a 28 anos (M= 18,3;DP= 2,94), sendo a maioriado sexo feminino (61,4%) e catlica (55,8%).

    InstrumentoInicialmente, buscou-se contar com um conjunto de

    itens que representassem as seis subfunes antes descri-tas. Partiu-se do banco de 200 itens de Gouveia (1998),selecionando aqueles como correlaes item-total iguaisou superiores a 0,30, resultando em 178 itens. Estes foramtraduzidos do espanhol para o portugus por um pesquisa-dor bilngue. O passo seguinte, almejando que todas assubfunes fossem representadas pela mesma quantidadede itens, decidiu-se elaborar mais itens para as subfunescom menos de 30 itens e excluir outros para aquelas queexcediam este nmero. Desta forma, chegou-se a um ins-trumento com 180 itens igualmente distribudos nas seissubfunes. Em seguida, procedeu-se a uma anlise de

    juzes para realizar uma segunda seleo destes itens. Nocaso, contou-se com a participao de dez professores dou-tores, especialistas em valores, visando julgar a adequaode cada item para representar uma nica subfuno. Utili-zando como critrio ao menos 70% de concordncia entreos avaliadores, foram selecionados 127 itens, distribudoscomo seguem: experimentao (n = 24), realizao (n =27), existncia (n = 21),suprapessoal (n = 14), interativa(n = 19) e normativa (n = 22).

    Selecionados os itens para o instrumento novo, restavaainda mais um procedimento antes da coleta de dados:

    validao semntica. Esta contou com a participao de 12estudantes do primeiro ano do ensino mdio (extrato maisbaixo da populao alvo, isto , estudantes de ensino mdioe universitrios) de uma escola particular. Nesta opor-tunidade, procurou-se verificar se eram compreensveisas instrues sobre como responder a escala de resposta eos itens. Verificado que no ocorreram questionamentos,manteve-se esta verso proposta que descrita a seguir;esta foi respondida juntamente com trs perguntas de-mogrficas (idade, religio e sexo).

    A verso experimental do Questionrio dos ValoresBsicos Diagnstico (QVB-D) foi composta por 127itens, distribudos entre as seis subfunes valorativas,

    conforme previamente se indicou. Os itens pertencentesa cada subfuno representam os trs valores humanoslistados na Figura 1 (e.g., a subfuno experimentaofoirepresentada pelos valores de emoo,prazere sexuali-dade). Diferentemente do QVB em que cada item contacom duas descries, no QVB-D cada item expressa umanica ideia (e.g.Buscar novas experincias). Empregou-se escala de sete pontos para respond-los, variando de 1(Totalmente no importante) a 7 (Extremamente impor-tante), de forma a expressar o grau de importncia de cadavalor como umprincpio-guiapara a vida da pessoa. Paraavaliar quais as prioridades valorativas de cada indivduo,deve-se criar um escore mdio por subfuno e analisarquais subfunes so priorizadas.

    Procedimento

    Os instrumentos foram aplicados de forma coletiva emsala de aula, porm respondidos individualmente; bastavaaos participantes seguirem as orientaes dadas por escritono prprio questionrio. Em um primeiro momento, foram

    passados oralmente os esclarecimentos no que se referiuao anonimato e sigilo de sua participao, bem comoquanto s diretrizes ticas que regem a pesquisa com sereshumanos. Nesta oportunidade, procurou-se que sua parti-cipao fosse consentida, devendo, assim, assinar o termode consentimento livre e esclarecido. No caso de pessoascom menos de 18 anos, o diretor do estabelecimento edu-cacional ou professor assinou termo de responsabilidade.O projeto foi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisacom Seres Humanos, do Hospital Universitrio LauroWanderley, da Universidade Federal da Paraba (Proc.CEP/HULW N 143/11). Os presentes levaram, em mdia,25 minutos para conclurem sua participao.

    Anlise dos Dados

    Com o PASW 18 foram calculadas estatsticas des-critivas e consistncia interna, isto , alfa de Cronbach,considerando-se como adequado valor acima de 0,70(Nunnally, 1991), alm da homogeneidade (correlaomdia inter-itens, r

    m..i) de cada subfuno, assumindo

    como adequados valores iguais ou superiores a 0,20 (Clark& Watson, 1995). Com o fim de conhecer evidncias devalidade fatorial do instrumento, o AMOS (verso 18) foiempregado para realizar anlises fatoriais confirmatrias,tendo em conta a matriz de covarincia e adotando o esti-

    mador ML (Mxima Verossimilhana).Para conhecer o ajuste dos modelos, utilizaram-se osseguintes indicadores: a razo qui-quadrado para o graude liberdade (/gl), cujos valores entre 2 e 3 indicam umajuste aceitvel, admitindo-se at 5; o Goodness-of-Fit

    Index (GFI), o Adjusted Goodness-of-Fit Index (AGFI)e o Comparative Fit Index(CFI), onde valores iguais ousuperiores a 0,90 inicam ajuste aceitvel, com preferncia

    para valores acima de 0,95; e oRoot-Mean-Square Error ofApproximation(RMSEA), assumindo-se como ideal valorsituado entre 0,05 e 0,08, aceitando-se at 0,10 (Byrne,2010). Alm disso, o Expected Cross-Validation Index(ECVI) foi utilizado para avaliar melhoras entre os mode-

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    Souza, L. E. C., Gouveia, V. V., Lima, T. J. S. & Santos, W. S. (2015). Questionrios dos Valores Bsicos Diagnstico (QVB-D):Evidncias de Validade de Construto.

    los concorrentes testados, sendo til para a comparaode modelos no aninhados; valores mais baixos de ECVIrefletem um modelo com melhor ajuste (Brown, 2006).

    Por fim, reunindo evidncias complementares devalidade de construto, procurou-se calcular a varinciamdia extrada (VME) ea confiabilidade composta (CC;Fornell & Larcker, 1981;Hair, Anderson, Tatham, &

    Black, 1998). Valores iguais ou superiores a 0,50 e 0,70,respectivamente, asseguram a adequao da medida. AVME indicadora de validade convergentede cada fator,isto , o quanto ele serve para explicar o conjunto de itens.Por sua vez, o CC um indicador adicional de consistnciainterna que pode dirimir dvida quanto ao alfa de Cronbach(Pasquali, 2003), uma vez que tem a vantagem de no pres-supor que os itens sejam tau equivalentes, ou seja, tenhamiguais pesos fatoriais; tambm no pressupe que os errosde medida sejam independentes e no influenciado pelonmero de itens.

    Resultados

    Evidncias de Validade Fatorial e Convergente

    Foram realizadas anlises fatoriais confirmatrias paracada subfuno valorativa separadamente. Optou-se poreste procedimento de forma a garantir que cada subfunoapresentasse fortes indicadores de validade e preciso sem

    infl

    uncia das demais subfunes. Com base nos resultadosdessas anlises, foram selecionados trs itens para cadavalor humano, os quais deveriam obedecer a dois critrios:(a) maior carga fatorial e (b) abrangncia do contedo dovalor humano representado. Em seguida, foram realizadasnovas anlises fatoriais confirmatrias com a mesma es-trutura fatorial, mas apenas com os itens selecionados decada subfuno. Os ndices de ajuste para os modelos comtodos os itens (M1) e aqueles com os itens selecionados(M2) so apresentados na Tabela 1.

    Tabela 1Indicadores de Ajuste dos Modelos e Consistncia Interna por Subfuno Valorativa do QVB-D

    Modelo /gl GFI AGFI CFIRMSEA(IC 90%)

    ECVI rm.i

    CC

    Experimentao M1 3,21 0,74 0,68 0,780,103

    (0,095-0,111)4,311 - - -

    Experimentao M2 3,73 0,91 0,83 0,890,114

    (0,090 -0,140)0,629 0,79 0,29 0,61

    Realizao M1 2,22 0,80 0,77 0,810,076

    (0,069-0,084)3,670 - - -

    Realizao M2 3,25 0,92 0,86 0,900,104

    (0,079-0,130)0,574 0,80 0,32 0,81

    Suprapessoal M1 2,93 0,87 0,82 0,750,096

    (0,081-0,111)1,334 - - -

    Suprapessoal M2 2,26 0,95 0,90 0,900,078

    (0,050-0,105)0,460 0,72 0,22 0,92

    Existncia M1 2,42 0,82 0,78 0,780,083

    (0,073-0,092)2,587 - - -

    Existncia M2 2,18 0,95 0,91 0,920,075

    (0,047-0,103)0,452 0,77 0,28 0,67

    Interativa M1 2,39 0,85 0,81 0,820,081

    (0,071-0,092)2,093 - - -

    Interativa M2 4,15 0,90 0,82 0,870,123

    (0,098-0,148)0,677 0,84 0,37 0,73

    Normativa M1 2,22 0,83 0,79 0,890,076

    (0,067-0,086)2,636 - - -

    Normativa M2 2,82 0,94 0,88 0,950,093

    (0,067-0,120)0,524 0,83 0,35 0,84

    Nota. M1 = modelo com todos os itens da subfuno; M2 = modelo com os 9 itens selecionados por subfuno; = Alfa de Cron-

    bach, rm.i= ndice de Homogeneidade, CC = Confiabilidade Composta.

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    Como pode ser observado na Tabela 1, os modeloscom os itens selecionados so, em todas as subfunes,melhores do que aqueles com todos os itens. Isso se evi-dencia quando so observados os ndices do ECVI queso menores para os modelos com os itens selecionados.

    Ademais, todas as saturaes (lambdas) dos itens destesmodelos foram superiores a 0,30, sendo estatisticamentediferentes de zero (0;z> 1,96,p< 0,05), apresentandoos fatores correlaes positivas entre si (; valor Phi pa-dronizado). Este resultado resumido na Figura 2.

    Figura 2. Estrutura fatorial das subfunes valorativas do QVB-D.

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    Souza, L. E. C., Gouveia, V. V., Lima, T. J. S. & Santos, W. S. (2015). Questionrios dos Valores Bsicos Diagnstico (QVB-D):Evidncias de Validade de Construto.

    Por fim, quanto a indicadores complementares de vali-dade de construto desta medida, calculou-se a VME paracada fator, sendo os valores como seguem: 0,46 (suprapes-

    soal), 0,53 (experimentao,existncia enormativa), 0,56(realizao) e 0,61 (interativa).

    Evidncias de Consistncia Interna

    Complementando os resultados anteriormente descri-tos, reuniram-se evidncias de consistncia interna dos seisfatores ou subfunes valorativas. Estes achados tambmso descritos na Tabela 1. Como se pode observar na Ta-

    bela 1, todos os fatores apresentaram alfas de Cronbachacima do que recomendado pela literatura, variando de0,72 (suprapessoal) a 0,84 (interativa). Os ndices de ho-mogeneidade tambm se mostraram adequados para todosos fatores, variando de 0,22 (suprapessoal) a 0,37 (intera-tiva). Por fim, reforando este parmetro, a confiabilidadecomposta dos fatores variou de 0,61 (experimentao) a0,92 (suprapessoal).

    Discusso

    O objetivo principal deste estudo foi construir uminstrumento novo para medir valores humanos (QVB-D),reunindo fortes evidncias de seus parmetros psicom-tricos de maneira a ser utilizado para fins de triagem ediagnstico. Este, como se depreende dos resultados, ficoucomposto por 54 itens, sendo distribudos equitativamentenas seis subfunes valorativas, cada uma composta portrs valores humanos que concentraram trs itens cada,em consonncia com a Figura 1. Em geral, pode-se afir-mar que este objetivo foi alcanado, sendo demonstradas

    evidncias satisfatrias de validade fatorial e convergentee consistncia interna (homogeneidade, alfa de Cronbache Confiabilidade Composta). Neste ponto vale salientarque se buscou criar um instrumento psicometricamenteadequado para o contexto da prtica profissional dos

    psiclogos. Neste sentido, justifica-se a utilizao de umamedida mais ampla, que busca abarcar toda a extenso doconstruto em questo.

    Apesar do que anteriormente se comentou, antes dediscutir os principais resultados deste estudo cabe re-conhecer suas limitaes potenciais. Neste caso, pode-seapontar como limitao, por exemplo, o fato de este estudo

    partir do mesmo banco de itens utilizado para construiro instrumento de Gouveia (1998, 2003). Como se tratade um trabalho de construo de instrumento, poderiase pensar na criao de itens novos. Contudo, pensa-seque este empreendimento seria desnecessrio, j quetanto o QVB quanto o instrumento proposto se pautaramna mesma teoria dos valores. Destaca-se, ainda, que foi

    primado pela representatividade dos itens em relao aoconstruto, no sendo os marcadores valorativos (itens) oaspecto fundamental, mas sim as subfunes valorativas.Alm disso, itens novos foram criados e incorporados aoinstrumento, justamente para assegurar a adequao no s

    psicomtrica, mas tambm para garantir que toda a exten-

    so de cada contedo do construto (subfuno valorativa)fosse abarcada.

    Tambm preciso frisar que este estudo se pautou emdelineamento correlacional, empregando um instrumentoautoaplicvel, ou seja, constitui-se em uma medida deautorrelato, carecendo de um correspondente efetivamentecomportamental. Portanto, estudos futuros podem buscar

    desenvolver outros tipos de medida para os valores huma-nos, como, por exemplo, focando em medidas implcitas.Entretanto, est em consonncia com os instrumentoscomumente empregados para a avaliao psicolgica(Pasquali, 2003).

    Gouveia e colegas (2009; Gouveia et al., 2008; Gouveiaet al., 2010) afirmam que os valores so organizados deacordo com duas dimenses funcionais: tipo de orienta-o e tipo de motivador, cuja combinao origina seissubfunes valorativas, cada uma representada por trsvalores especficos. Esta estrutura fatorial foi testada paracada subfuno, tendo sido apresentados os resultados paradois modelos em cada subfuno valorativa: o primeiro

    com todos os itens da subfuno avaliada e o segundocorrespondente aos itens selecionados para se chegar estrutura fatorial almejada. Destaca-se que em todas asseis subfunes foram observados indicadores de ajustemelhores para o segundo modelo.

    importante observar que alguns indicadores de ajusteestiveram abaixo do que sugerido na literatura. Porexemplo, o CFI no alcanou o 0,90 esperado em duasdas subfunes (Byrne, 2010). Porm, Garson (2003)indica que mesmo um CFIabaixo deste valor pode seradmissvel em um campo em que se costumam encontrarvalores, por exemplo, de 0,70. Ressalta-se, neste mbito,

    que a avaliao de ajuste de um modelo precisa ser feita emconjunto. A este respeito, os valores de e ECVI sempremenores para o modelo com os itens selecionados indicamseu melhor ajuste em comparao com aqueles com todosos itens. Adicionalmente, observaram-se evidncias devalidade convergente, uma vez que cinco das subfunesapresentaram valores de varincia mdia extrada (VME)acima do recomendado pela literatura (0,50; Fornell &Larcker, 1981), exceto a subfunosuprapessoal, com umvalor um pouco inferior ao que sugerido. Este achado,

    provavelmente, pode ser explicado em razo da naturezadesse construto, que mais comumente evidente em pes-soas de maior idade (Gouveia, 2003, 2013); lembrando,os participantes foram jovens estudantes.

    No que concerne consistncia interna das subfunesdo QVB-D, todos os resultados se mostraram satisfatrios.Os valores de alfa de Cronbach foram acima do ponto decorte sugerido na literatura (0,70; Nunnally, 1991), assimcomo os coeficientes de homogeneidade (0,20; Clark &Watson, 1995). Quanto confiabilidade composta; emborasugerido idealmente valores na casa de 0,70 (Hair et al.,1998), admitem-se a partir de 0,60 (Fornell & Larcker,1981), suportando este parmetro para todas as subfunes.

    Em resumo, reuniram-se evidncias empricas acercada adequao psicomtrica do QVB-D. Estes achados

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    so animadores, justificando seu emprego em pesquisasfuturas, mas, tambm, nos contextos de prtica profis-sional do psiclogo. A propsito, ressalta-se que este oseu foco, sobretudo quando possvel considerar maiordisponibilidade de tempo para seu uso, como evidenciadonos mbitos clnico, escolar e organizacional, por exemplo.Buscar conhecer as prioridades valorativas de uma pessoa,

    em qualquer que seja o ambiente, de extrema utilidadepara o psiclogo. Em um contexto de seleo profissional,por exemplo, saber que valores so mais importantes comoprincpios-guia para um candidato a emprego, ajudar opsiclogo organizacional a julgar se tal candidato se en-caixa no perfil axiolgico solicitado. No contexto clnico,conhecer que valores regem com mais importncia a vidade uma pessoa, auxilia o psiclogo a entender melhorseu paciente, seus anseios e suas metas ao longo da vida.Porm, importante destacar que o QVB-D no substituiou elimina o uso do QVB em suas formas mais reduzidas,como o que tem sido empregado em mltiplas pesquisascom 18 itens (Gouveia, 2013; Medeiros, 2011).

    Por fim, seguramente pesquisas futuras devero serrealizadas com o instrumento proposto. Um estudo im-

    prescindvel poder ser testar sua adequao em diversoscampos de atuao do psiclogo, avaliando, por exemplo,sua validade preditiva no ajuste de um candidato a deter-minado cargo ou as escolhas de um cliente diante de umconflito entre o trabalho e a famlia. Porm, com o fimde que venha a ser utilizado para triagem e diagnstico,urge que seja realizada sua normatizao para o contexto

    brasileiro. Entretanto, este empreendimento implicarem esforo maior do que h podido ser feito neste estudo,considerando amostras de todas as partes do pas. Deste

    modo, que se vislumbra no futuro, podendo ocupar aagenda desses pesquisadores.

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    Recebido: 27/01/2014

    1 reviso: 25/04/2014

    Aceitefinal: 15/05/2014