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    1/10Cadernos Temticos de Qumica Nova na Escola Edio especial Maio 2001

    Chamamos lixo a uma grandediversidade de resduos slidosde diferentes procedncias,

    dentre eles o resduo slido urbanogerado em nossas residncias. A taxade gerao de resduos slidos urba-nos est relacionada aos hbitos deconsumo de cada cultura, onde se notauma correlao estreita entre aproduo de lixo e o poder econmico

    de uma dada populao. O lixo fazparte da histria do homem, j que asua produo inevitvel. Para Teixeirae Bidone (1999), o lixo definido deacordo com a convenincia e pre-ferncia de cada um. O IPT/CEMPRE(1995), define-o como restos dasatividades humanas, consideradaspelos geradores como inteis, indese-jveis ou descartveis. Normalmenteapresentam-se em estado slido,semi-slido ou semilquido (comquantidade de lquido insuficiente para

    que possa fluir livremente). So tam-bm classificados como resduos sli-dos vrios resduos industriais,resduos nucleares e lodo de esgotodesidratado, conforme aponta Mata-

    Alvarez et al. (2000).O lixo sempre acompanhou a

    histria do homem. Na Idade Mdiaacumulava-se pelas ruas e imediaesdas cidades, provocando srias epide-mias e causando a morte de milhes

    de pessoas (Branco, 1983). A partir daRevoluo Industrial iniciou-se o pro-cesso de urbanizao, provocando umxodo do homem do campo para ascidades. Observou-se assim um verti-ginoso crescimento populacional, favo-recido tambm pelo avano da medi-cina e conseqente aumento da expec-tativa de vida. A partir de ento, osimpactos ambientais passaram a ter

    um grau de magnitude alto, devido aosmais diversos tipos de poluio, dentreeles a poluio gerada pelo lixo. O fato que o lixo passou a ser encarado co-mo um problema, o qual deveria sercombatido e escondido da populao.

    A soluo para o lixo naquele momentono foi encarada como algo complexo,pois bastava simples-mente afast-lo, des-cartando-o em reasmais distantes doscentros urbanos, de-

    nominados lixes.Nos dias atuais,com a maioria daspessoas vivendo nascidades e com o avano mundial daindstria provocando mudanas noshbitos de consumo da populao,vem-se gerando um lixo diferente emquantidade e diversidade. At mesmonas zonas rurais encontram-se frascose sacos plsticos acumulando-se

    devido a formas inadequadas de elimi-nao (IPT/CEMPRE, 1995). ParaBidone (1999), em um passado nomuito distante a produo de resduosera de algumas dezenas de quilos porhabitante/ano; no entanto, hoje, pasesaltamente industrializados como osEstados Unidos produzem mais de700kg/hab/ano. No Brasil, o valor m-dio verificado nas cidades mais popu-

    losas da ordem de 180 kg/hab/ano.A produo elevada de lixo norte-americano deve-se ao alto grau de in-dustrializao e aos bens de consumodescartveis produzidos e ampla-mente utilizados pela maioria da popu-lao. No caso do Brasil, a gerao dolixo ainda , em sua maioria, de pro-

    cedncia orgnica;contudo, nos ltimosanos vem se incorpo-rando o modo de con-sumo de pases ricos,

    o que tem levado auma intensificao douso de produtos des-cartveis.

    Sem dvida, a associao do cres-cimento populacional intensa urba-nizao e s mudanas de consumoesto mudando o perfil do lixo brasilei-ro. Porm, essa modernidade no es-t sendo acompanhada das medidasnecessrias para dar ao lixo gerado um

    Pedro Srgio Fadini e Almerinda Antonia Barbosa Fadini

    Os resduos gerados por aglomeraes urbanas, processos produtivos e mesmo em estaes de tratamento deesgoto so um grande problema, tanto pela quantidade quanto pela toxicidade de tais rejeitos. A soluo para talquesto no depende apenas de atitudes governamentais ou decises de empresas; deve ser fruto tambm do empenhode cada cidado, que tem o poder de recusar produtos potencialmente impactantes, participar de organizaes no-governamentais ou simplesmente segregar resduos dentro de casa, facilitando assim processos de reciclagem. Oconhecimento da questo do lixo a nica maneira de se iniciar um ciclo de decises e atitudes que possam resultar emuma efetiva melhoria de nossa qualidade ambiental e de vida.

    lixo, sociedade, resduos urbanos, tratamento de lixo, programa R3

    Lixo: desafios e compromissos

    Pases altamente indus-

    trializados como os Estados

    Unidos produzem mais de

    700 kg/hab/ano. No Brasil,

    as cidades mais populosasproduzem algo como

    180 kg/hab/ano

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    destino adequado. Segundo aPesquisa Nacional de SaneamentoBsico (PNSB), realizada em 1989 peloInstituto Brasileiro de Geografia eEstatstica (IBGE) e editada em 1991(IPT/CEMPRE, 1995), o brasileiro con-vive com a maioria do lixo que produz.So 241.614 toneladas de lixo produ-zidas diariamente no pas. Fica a cu

    aberto (lixo) 76% de todo esse lixo.Apenas 24% recebe tratamento maisadequado.

    Destinao final do lixo (%)

    Disposio a cu aberto 76

    Aterro controlado 13

    Aterro sanitrio 10

    Usina de compostagem 0,9

    Incinerao 0,1

    Fonte: IBGE, 1991(in: IPT/CEMPRE, 1995).

    Dos 24% de tratamento considera-do mais adequado, 13% atravs deaterro controlado, o que ainda possi-bilita a contaminao do lenol fretico.Mesmo os 10% de aterro sanitrio noso eficincia e qualidade devido necessidade constante de controle emanuteno, o que nem sempreacontece, mesmo porque so raros os

    aterros que operam convenientementedo ponto de vista ambiental (Figuei-redo, 1995).

    Para a maioria dos administradoreso lixo encarado como um problemae uma preocupao meramente higi-nica. Porm, o problema maior so as

    medidas paliativas e impactantes ado-tadas, como a de afastar dos olhos edas narinas esse incmodo e apresen-tar uma falsa soluo populao.Enquanto isso, na regio receptora dolixo est o homem, no posto de sepa-rador de lixo, espera da matria-prima que possibilite a sua sobrevivn-cia, convivendo com urubus, insetos,ratos e suscetvel a doenas que atra-vs dele voltaro depois para os cen-

    tros urbanos. A questo do lixo remetenos a uma discusso sobre o modelode desenvolvimento escolhido pelopas, cuja poltica se traduz na necessidade do aumento do consumofavorecendo alguns e excluindo mutos. A opo por um crescimento

    meramente econmico, que nos coloca entre os pases com os maiorePIBs mundiais, destoa do conceito ddesenvolvimento, que deve ser acompanhado de melhorias sociais. O discurso adotado que esse modelo industrial nos levar ao bloco dos pasedenominados ricos, e que para issotem-se que investir em infra-estruturaaumentando a oferta de combustveisde matrias-primas, de insumos pro

    Lixo: desafios e compromissos

    Lixo, aterros sanitrios e aterros

    controladosO lixo uma mera disposio do

    lixo a cu aberto, sem nenhum critriosanitrio de proteo ao ambiente,que possibilita o pleno acesso devetores de doenas como moscas,mosquitos, baratas e ratos ao lixo.Segundo a ABNT/NBR-8849/85, umaterro controlado caracteriza-se peladisposio do lixo em local con-trolado, onde os resduos slidosrecebem uma cobertura de solos ao

    final de cada jornada. Ao contrriodos aterros sanitrios, os aterroscontrolados geralmente no pos-suem impermeabilizao dos solosnem sistema de disperso de choru-me e gases, sendo comum nestes lo-cais a contaminao de guas subter-rneas. (IPT/CEMPRE, 1995). AsFiguras 1 e 2 apresentam imagens deum lixo e de um aterro sanitrio, res-pectivamente.

    Figura 1: Vista do lixo de Indaiatuba-SP, em 1990. Foto: Acervo da Associao EcolgicChico Mendes de Indaiatuba (AECHIN)

    Figura 2: Vista do antigo lixo de Indaiatuba, hoje transformado em aterro sanitrio. FotoAcervo da Associao Ecolgica Chico Mendes de Indaiatuba (AECHIN).

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    dutivos e de eletricidade.Sev-Filho (1995) apresenta o

    questionamento pertinente ao fato: secom o aumento da demanda os recur-sos vo se tornando escassos, osinvestimentos vo se tornando maiorese a produo passa a provocar maisproblemas ambientais. O certo noseria gastar menos, aproveitar melhor

    o que se produz, obter bens mais dur-veis e ento aproveitar cada vez maiso lixo assim produzido, e, enfim, alcan-ar-se uma gerao cada vez menorde lixo, de poluio e de misria?

    Necessita-se repensar o tipo de de-senvolvimento adotado no Brasil, noqual se valorizam os altos investi-mentos em produo sem acompa-nhamento e efetivao de planeja-mentos ambientais. A opo por essetipo de desenvolvimento vem exigindo

    Lixo: desafios e compromissos

    uma alta demanda de recursos, esti-mulando a criao de uma sociedadealtamente consumista e cujos resul-tados so a escassez e o esgotamentodos recursos naturais, a poluio domeio ambiente e um empobrecimentoda populao devido falsa necessi-dade de produtos cada vez mais indus-trializados, alm da continuidade da

    pssima distribuio da renda no pas.

    Lixo: uma questo de gerenciamento

    Para o Manual de GerenciamentoIntegrado (IPT/CEMPRE,1995), geren-ciar o lixo adotar um conjunto articu-lado de aes normativas, operacio-nais, financeiras e de planejamento,com base em critrios sanitrios, am-bientais e econmicos para coletar,tratar e dispor o resduo slido munici-pal urbano. A execuo de aes pla-

    nejadas, de forma racional e integra-da, leva ao gerenciamento adequadodo lixo, assegurando sade, bem-estare economia de recursos pblicos, almde ir ao encontro de um desejo maiorque a melhoria da qualidade de vidadas geraes atuais e futuras.

    Para o gerenciamento do lixo, ne-cessria a existncia de um programa

    de educao ambiental que contem-ple a recusa de consumo de produtoscom alta capacidade de gerao deresduos, reduo do consumo, reusoe reciclagem (conforme ser discutidono item O Programa R3 Reduo deConsumo, Reutilizao e Reciclagemdo Lixo).

    A Tabela 1 apresenta a identificaodas fontes e dos resduos gerados eos responsveis pela destinao finalsanitariamente adequada.

    Tabela 1: Gerao e destino de resduos.

    Classificao por origem do lixo (Manual de Gerenciamento Integrado, IPT-CEMPRE, 1995)

    Domiciliar: Aquele originado da vida diria das residncias, constitudo por restos de alimentos (tais como cascas defrutas, verduras etc) produtos deteriorados, jornais e revistas, garrafas, embalagens em geral, papel higinico, fraldasdescartveis e uma grande diversidade de outros itens. Contm, ainda, alguns resduos que podem ser txicos.

    Comercial: Aquele originado dos diversos estabelecimentos comerciais e de servios, tais como supermercados,estabelecimentos bancrios, lojas, bares, restaurantes etc. O lixo desses estabelecimentos e servios tem um fortecomponente de papel, plsticos, embalagens diversas e resduos de asseio dos funcionrios, tais como papeltoalha, papel higinico etc.

    Pblico: So aqueles originados dos servios: de limpeza pblica urbana, incluindo todos os resduos de varrio das vias pblicas, limpeza de praias, de

    galerias, de crregos e de terrenos, restos de podas de rvores etc.; de limpeza de reas de feiras livres, constitudos por restos vegetais diversos, embalagens etc.

    Servios de sade e hospitalar: Constituem resduos spticos, ou seja, que contm ou potencialmente podemconter germes patognicos. So produzidos em servios de sade tais como hospitais, clnicas, laboratrios,farmcias, clnicas veterinrias, postos de sade etc. So eles: agulhas, seringas, gaze, bandagens, algodo,rgos e tecidos removidos, meios de cultura e animais usados em testes, sangue coagulado, luvas descartveis,remdios com prazo de validade vencido, instrumentos de resina sinttica, filmes fotogrficos e raios X etc. Resduosasspticos desses locais, constitudos por papis, restos da preparao de alimentos, resduos de limpeza geral(p, cinza etc.) e outros materiais que no entram em contato direto com pacientes ou com os resduos spticosanteriormente descritos, so considerados domiciliares.

    Portos, aeroportos, terminais rodovirios e ferrovirios: Constituem resduos spticos, ou seja, aqueles que contmou potencialmente podem conter germes patognicos trazidos aos portos, terminais rodovirios e aeroportos.Basicamente, originam-se de material de higiene, asseio pessoal e restos de alimentao que podem veiculardoenas provenientes de outras cidades, estados e pases.

    Industrial: Aquele originado nas atividades dos diversos ramos da indstria metalrgica, qumica, petroqumica,papeleira, alimentcia etc.O lixo industrial bastante variado, podendo ser representado por cinza, lodo, leo, resduos alcalinos ou cidos,plstico, papel, madeira, fibras, borracha, metais, escrias, vidro e cermica etc. Nessa categoria inclui-se a grande

    maioria do lixo considerado txico.Agrcola: Resduos slidos das atividades agrcolas e da pecuria, como embalagens de adubos, defensivos agrcolas,rao, restos de colheita etc. Em vrias regies do mundo, esses resduos j constituem uma preocupao crescente,destacando-se as enormes quantidades de esterco animal geradas nas fazendas de pecuria intensiva. Tambm asembalagens de agroqumicos** diversos, em geral altamente txicos, tm sido alvo de legislao especfica, definindoos cuidados na sua destinao final e, por vezes, co-responsabilizando a prpria indstria fabricante desses produtos.

    Entulho: Resduos da construo civil, como demolies e restos de obras, solos de escavaes etc. O entulho geralmente um material inerte, passvel de reaproveitamento.

    Responsvel pela destinao final

    Prefeitura

    Prefeitura *

    Prefeitura

    Gerador

    Gerador

    Gerador

    Gerador

    Gerador

    (*) A prefeitura co-responsvel por pequenas quantidades de resduos comerciais e entulhos (geralmente menos que 50 kg), e de acordo com alegislao municipal especfica.(**) Agroqumicos so produtos desenvolvidos pela industria qumica com a finalidade de matar insetos, microorganismos e espcies de plantas quepossam atrapalhar o desenvolvimento da cultura na qual se tem interesse. Nessa categoria enquadram-se os acaricidas, fungicidas, formicidas, mata-matos e outros, cujos resduos podem ser extremamente danosos ao consumidor dos alimentos cultivados nessas condies.

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    Todas as alternativas de tratamentode lixo apresentam vantagens e des-vantagens, o que por si s j umaboa justificativa para considerar a nogerao como a melhor opo. Umaavaliao crtica das alternativas dedestinao final de lixo apresentadana Tabela 2.

    A qumica e a biologia no aterroDentro do aterro sanitrio, o resduo

    slido municipal sofre uma decom-posio promovida por bactrias quemetabolizam a matria orgnica, pro-duzindo dixido de carbono e usandopara isso alguma espcie qumicacomo receptor de eltrons. Tal proces-so pode ser classificado como um pro-cesso de respirao, no qual o agenteoxidante que comumente atua comoreceptor de eltrons o oxignio

    atmosfrico (O2).Como os aterros sanitrios sscobertos com solo e so compactadoscom tratores, de modo a minimizar oacesso de vetores de doenas aoresduo, o oxignio atmosfrico tam-bm encontra dificuldade em entrar emcontato com o lixo e a sua concen-trao diminui at valores no signifi-cativos, medida que a matria org-nica oxidada.

    Lixo: desafios e compromissos

    Discriminao

    Definio

    Vantagem

    Desvantagem

    Usina de compostagem

    Local onde a matria orgnica segregada e submetida a um tratamento quvisa a obteno do composto

    O composto originado pod

    vir a ser usado como adubna agricultura ou em rapara animais, e poder secomercializado. Reduz quantidade de resduos a sedispostos no aterro sanitri

    Quando implantado comtcnicas incorretas podcausar transtornos s reavizinhas, como mau cheiro proliferao de insetos roedores, produzindo compostos de baixa qualidade contaminados com metaipesados, se houver falhana separao

    Incinerador

    Local onde feita a queimacontrolada do lixo inerte

    Propicia uma reduo no vo-

    lume de lixo; destri a maio-ria do material orgnico e domaterial perigoso, que noaterro causa problemas; nonecessita de reas muitograndes; pode gerar energiaatravs do calor

    um sistema caro que ne-cessita de manuteno rigo-rosa e constante. Pode lan-ar diversos gases polu-entes e fuligem na atmosfera(dioxinas, furanos). Suascinzas concentram substn-cias txicas com potencialde contaminao do ambi-ente

    Tabela 2: Vantagens e desvantagens de diferentes destinaes de resduos.

    Aterro sanitrio

    Processo utilizado para adisposio de resduos sli-dos domstico e industrial no solo impermeabilizado,com sistema de drenagempara o chorume

    Soluo mais econmica,

    pode ocupar reas j de-gradadas, como antigasmineraes

    Tem vida til curta; se nohouver controle pode rece-ber resduos perigosos co-mo lixo hospitalar e nuclear.Se no for feito com critriosde engenharia, pode causaros mesmos problemas dolixo; os materiais reciclveisno so aproveitados

    Lixo

    Local onde o lixo urbano ouindustrial acumulado deforma rstica, a cu aberto,sem qualquer tratamento.Em sua maioria so clandes-tinos

    No curto prazo, o meio

    mais barato de todos, poisno implica em custos detratamento nem controle

    Contamina a gua, o ar e osolo, pois a decomposiodo lixo sem tratamento pro-duz chorume, gases e favo-rece a proliferao de inse-tos (baratas, moscas), ratose germes patolgicos, queso vetores de doena

    Adaptado de Gonalves, 1997.

    Chorume: impacto ambiental associado disposio inadequada de lixo

    Chorume o lquido que escoa de locais de disposio final de lixo. resul-tado da umidade presente nos resduos, da gua gerada durante a decom-posio dos mesmos e tambm das chuvas que percolam atravs da massado material descartado. um lquido com alto teor de matria orgnica e quepode apresentar metais pesados provenientes da decomposio de emba-lagens metlicas e pilhas. A composio final do chorume fruto do tipo delixo depositado e do seu estado de degradao. Historicamente, os lixes tmsido construdos em vales, nas proximidades ou dentro de leitos de cursosdgua, o que torna o chorume um agente de comprometimento de recursoshdricos. Os lixes, por serem na verdade uma mera disposio de resduos a

    cu aberto, so construdos sobre terrenos que permitem no apenas o escoa-mento do chorume, mas tambm a sua infiltrao no solo, levando conta-minao das guas subterrneas. Ao contrrio dos lixes, os aterros sanit-rios, que recebem resduo slido municipal urbano (o lixo gerado em nossascasas), e os aterros industriais, que recebem resduo slido industrial, tm assuas construes pautadas em normas da Associao Brasileira de NormasTcnicas (ABNT), que prev impermeabilizao do terreno e o tratamento dochorume gerado. Poos de monitorao abertos nas proximidades do aterropermitem a avaliao constante da qualidade das guas subterrneas e atomada de decises em caso de eventuais infiltraes.

    Mesmo na ausncia de oxignio,bactrias do tipo facultativas, quepodem viver tanto em condies aer-bias (presena de oxignio), quanto emcondies anaerbias (ausncia deoxignio), assim como as bactrias estri-tamente anaerbias, promovem a de-gradao da matria orgnica, usandopara isso espcies receptoras de

    eltrons como o Mn(IV), nitrato (NO3)

    Fe(III) e sulfato (SO42). Finalmente, n

    escassez destes, uma frao damatria orgnica se reduz produzindometano (CH

    4), onde o carbono apre

    senta o seu menor nmero de oxidao possvel (-4), enquanto parte dmatria orgnica, que transferiu eltrons para a formao do metano,

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    transformada em CO2, caracterizandoa digesto anaerbia do resduo.

    Na natureza os processos anae-rbios ocorrem comumente em am-bientes onde a entrada de oxignio dificultada. Tais processos so algu-

    Lixo: desafios e compromissos

    Dioxinas e furanos: um risco em processos de incinerao

    Vrios materiais, quando queimados, podem levar formao de dioxinas.Mesmo quando realizados em incineradores liberam no meio ambiente vriassubstncias congneres da dioxina. Tais compostos so produzidos em baixasconcentraes, como resduos da queima de matria orgnica em presenade produtos que contenham cloro. A produo de dioxinas pode ser evitadaou minimizada se forem empregadas altas temperaturas na incinerao, visandoassegurar a combusto completa dos resduos. Como conseqncia de seuamplo espalhamento no meio ambiente, bem como de seu comportamentolipoflico (tendncia em se dissolver em gorduras e no em meio aquoso), asdioxinas so biomagnificadas ao longo da cadeia alimentar, ou seja, como aeliminao de materiais lipossolveis mais lenta do que a dos hidrossolveis,ocorre uma bioacumulao de dioxinas em cada organismo. Como os orga-nismos do incio da cadeia alimentar so presas dos organismos do topo (dentreeles o homem), tem-se um aumento da concentrao do contaminante nosorganismos predadores, que representam o topo da cadeia alimentar. Mais de90% da exposio humana s dioxinas atribuda aos alimentos que ingerimos,particularmente carne, peixe e produtos lcteos. Dioxinas e furanos (um grupode compostos que lembra a dioxina em termos de estrutura) esto presentesem peixes e carnes, exibindo concentraes da ordem de dezenas a centenas

    de picogramas (1 pg = 10-12

    grama) por grama de alimento. Em outras pala-vras, ocorrem em concentraes de parte por trilho; ou seja, seria necessrioconsumir um milho de toneladas de alimentos para ingerir alguns gramas dedioxinas ou furanos. No entanto, quantidades bem menores do que 1 grama ea exposio crnica a tais contaminantes podem causar srios efeitos deletrios.Em estudos envolvendo animais, uma dose diria de 1 nanograma de 2,3,7,8-TCDD por quilograma de massa corprea por dia tem sido suficiente paraocasionar o surgimento de cncer. Com base nesses estudos, o governocanadense fixou como limite mximo de exposio s dioxinas e furanos ovalor de 0,010 ng/kg/dia, estabelecendo assim um fator de segurana de 100vezes em relao ao estudo realizado. Embora os furanos no sejam compos-tos to estudados quanto as dioxinas, acredita-se que ambas as classes exibamos mesmos padres de toxicidade. Estruturas tpicas de uma dioxina e de um

    furano so apresentadas a seguir:

    Tais estruturas podem apresentar-se de diferentes formas, com maior oumenor nmero de tomos de cloro ligados aos anis aromticos. A molcula

    do 2,3,7,8 - TCDD popularmente conhecida pelo nome dioxina sendo amais txica dos 75 ismeros de compostos clorados de dibenzo-p-dioxinaexistentes (Baird, 1995).

    mas vezes percebidos pelo cheirodesagradvel que emanam, uma vezque a respirao que utiliza o SO2-

    4como receptor de eltrons produz H2S,com seu caracterstico cheiro de ovopodre.

    A capacidade de oxidao de dife-rentes espcies receptoras de eltronsest associada ao ganho energticoproveniente de cada reao, onde ooxignio participa como a espciequmica que pode propiciar a maiorvariao de energia livre associada,que dada, numericamente, pelasubtrao do valor energtico contido

    nos produtos do valor contido nos rea-gentes. Se esse resultado negativo, porque houve liberao de energiapara o ambiente exterior, ou seja, osprodutos encerram um contedo ener-gtico menor do que o dos reagentes.Essa energia liberada utilizada pelosmicroorganismos que promovem areao de modo a mant-los vivos.

    Quanto maior a quantidade de ener-gia liberada, no caso de reaes inter-mediadas por microorganismos,melhor o processo do ponto de vistabioqumico, pois maior ser a relaoentre a energia obtida para a manuten-o dos processos vitais e a quanti-dade de substrato metabolizado.

    Uma vez dentro do aterro, a matriaorgnica no est imediatamentepronta para transformar-se em metanoe dixido de carbono. Condiesambientais adequadas de pH e tempe-ratura tm um importante efeito sobrea sobrevivncia e o crescimento dosmicroorganismos. Geralmente a otimi-

    zao do crescimento ocorre dentro deuma estreita faixa de valores de pH etemperatura. Geralmente o pH timopara o crescimento de microorganis-mos situa-se entre 6,5 e 7,5, emboradanos s suas estruturas celulares ssejam observados em valores de pHsuperiores a 9,0 e inferiores a 4,5. Deacordo com a temperatura em que asbactrias atuam de modo mais eficien-te na degradao da matria orgnica,elas so classificadas como crioflicas(-10-30 C), mesoflicas (20-50 C) e

    termoflicas (45-75 C).Na decomposio anaerbia deresduos, muitos microorganismos tra-balham em conjunto para converter aporo orgnica de tais resduos emprodutos estveis. Em uma primeirafase, denominada hidrlise, um grupode microorganismos responsvel porhidrolisar material orgnico polimrico,lipdios e outras molculas de alto pe-so molecular, transformando-os em

    Cl

    Cl O

    O Cl

    Cl

    2, ,7, -te ra lor di en o- -di xina

    (2, ,7, -TCDD)

    O

    Cl Cl

    Cl

    1,4,9-triclorodibenzofurano

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    acares, aminocidos, peptdios ecompostos relacionados, em umprocesso no qual a atuao de enzi-mas de fundamental importncia. Asegunda fase contempla a transforma-o dos produtos da primeira etapa emcidos graxos de cadeia longa, cidospropinico e butrico, alm de umaparcela de cidos frmico e actico.Nessa etapa, a razo entre as formas

    protonada e desprotonada dos cidosser fruto da constante de ionizaode cada cido envolvido e do pH domeio, sendo comum a referncia naliteratura, por exemplo, tanto ao cidoactico quanto ao seu nion acetato.

    A terceira etapa, denominada comu-mente de acidognese, envolve atransformao dos cidos de cadeiasque contm mais do que trs tomosde carbono em cidos actico e frmi-

    co. Finalmente, um quarto grupo debactrias, denominadas metanog-nicas, converte os produtos da tercei-ra etapa em metano (Tchobanoglouset al., 1993; Vazoller, 1999).

    A descrio do processo em quatroetapas uma simplificao dos com-plexos mecanismos envolvidos nometabolismo anaerbio. Acredita-seque mais de 130 espcies de diferen-

    tes microorganismos podem coexistirdentro de um mesmo reator (Soubes,1994), dentre eles espcies de bact-rias, fungos, leveduras e actinomicetos(Tchobanoglous et al., 1993). Os pro-dutos apontados em cada etapa sopredominantes, porm no os nicosa serem obtidos. Uma ilustrao dessacomplexidade demonstrada pelo fatode que no so apenas os cidos fr-mico e actico os substratos que levam

    Lixo: desafios e compromissos

    Receptores de eltrons em processos respiratrios

    So apresentadas a seguir algumas reaes de processos respiratrios onde se assume como matria orgnica(M.O.) a frmula geral [(CH

    2O)

    106(NH

    3)

    16(H

    3PO

    4)] e que todas as reaes ocorrem mesma temperatura. Diferentes

    receptores de eltrons propiciam diferentes rendimentos energticos. Observa-se o maior ganho quando o O2 reduzido(Froelich et al., 1979).

    M.O. + 138O2 106CO2 + 16HNO3 + H3PO4 + 122H2O (1)G = - 3.190 kJ/mol

    M.O. + 236MnO2 + 472H+ 236Mn 2+ + 106CO2 + 8N2+ H3PO4 + 366H2O (2)

    G = - 3.090; - 3.050; - 2.920 kJ/mol (dependendo da forma alotrpica do MnO2)

    M.O. + 94,4HNO3 106CO2 + 55,2N2 + H3PO4+ 177,2H2O (3a)

    G = - 3.030 kJ/mol

    M.O. + 84,8HNO3 106CO2 + 42,4N2 + 16NH3 + H3PO4 + 148,4H2O (3b)

    G = - 2.750 kJ/mol

    M.O. + 212Fe2O3 + 848H+ 424Fe 2+ + 106CO2 + 16 NH3 + H3PO4 + 530H2O (4)

    G = - 1.410 kJ/mol

    M.O. + 53SO42 106 CO2 + 16NH3 + 53S

    2 + H3PO

    4+ 106H

    2O (5)

    G = - 380 kJ/mol

    M.O. 53CO2 + 53CH4 + 16NH3 + H3PO4 (6)G = - 350 kJ/mol

    Neste sistema ilustrativo, supe-se a matria orgnica como o nico doador de eltrons e O2, NO

    3, Fe

    2O

    3, MnO

    2e

    SO42 como nicos receptores. A energia livre de Gibbs para cada reao foi calculada para as condies normais de

    temperatura e assumiu-se o valor do pH como constante e igual a 7,0. A ordem de liberao de energia apresentada noimplica, necessariamente, que o receptor de eltrons que propicia maior liberao de energia tenha que ser exaurido paraque outro receptor de eltrons, envolvido em uma reao com menor variao de energia livre, participe da oxidao damatria orgnica. O valor da variao de energia livre indica apenas a ordem de preferncia termodinmica, onde algunsprocessos podem ocorrer de modo simultneo. Um dos produtos de reduo ocasionados pela matria orgnica narespirao de sulfato, o sulfeto (reao 5), apresenta a capacidade de imobilizar metais na forma de sulfetos metlicos,

    sendo este um fator determinante da biodisponibilidade e toxicidade de metais (Morse et al., 1987).

    formao de metano (Tchobanoglouet al., 1993).

    De uma forma simplificada, as etapas da digesto anaerbia de resduopodem ser vistas conforme mostradona Figura 3.

    Formao de metano a partir de

    diferentes substratos

    4H2 + CO2 CH4 + 2H2O4HCOOH CH4 + 3CO2 + 2H2O

    CH3COOH CH4 + CO24CH3OH 3CH4 + CO2 + 2H2O

    4(CH3)3N + 6H2O 9CH4 +3CO

    2+ 4NH

    3

    4CO + 4H2O CH

    4+ 3CO

    2+2H2O

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    Cadernos Temticos de Qumica Nova na Escola Edio especial Maio 2001

    Uma das caractersticas da diges-to anaerbia a obteno de um pro-duto, o gs metano, que encerra umcontedo energtico relativamente al-to, que pode ser utilizado para movi-mentar veculos, gerar eletricidade oupropiciar aquecimento. Tal contedoenergtico fruto da baixa liberaode energia observada durante a meta-nognese, energia conservada no pro-duto, conforme pode ser inferido a par-tir da comparao entre as reaes 1e 6.

    A viabilidade econmica do uso dometano como fonte de energia aindaquestionvel devido presena no gsde impurezas como o H

    2S, que pode

    ocasionar corroso em motores decombusto interna. Em aterros sani-trios, os gases de compostos redu-

    zidos so queimados, minimizando-seassim o mau cheiro do H2S e o efeitoestufa relacionado emisso de me-tano, que apresenta um potencial deabsoro de radiao infravermelha eaquecimento da atmosfera muito maiordo que o observado para o CO2. Comoefeito dessa queima ocorre tambm aemisso de SO

    2, o que representa um

    incremento na incidncia de chuvascidas.

    Compostagem de resduos

    O processo aerbio pode ser em-pregado no tratamento de resduos s-lidos municipais urbanos de origemorgnica e tambm no tratamento detais resduos dispostos conjuntamentecom lodo gerado em estaes de tra-

    tamento de esgotos domsticos. Taisprocessos envolvem a preparao depilhas na forma de leiras, nas quais seinjeta ar por meio de tubos perfuradosintroduzidos no resduo, ou ento pormeio do constante revolvimento do ma-terial submetido compostagem.

    Durante o processo aerbio dacompostagem, atua uma sucesso demicroorganismos facultativos e aer-bios estritos. Na fase inicial, bactriasmesoflicas so observadas em maiorproporo e medida que a tempe-

    ratura vai aumentando, as termoflicascomeam a predominar. Fungos ter-moflicos aparecem depois de 5 a 10dias e, no estgio final do processo,conhecido como perodo de cura, acti-nomicetos e fungos filamentosos co-meam a surgir. Como nem todo res-duo rico em microorganismos, algunstipos de materiais, como papis,exigem a adio de um inculo apro-priado para iniciar-se o processo. Tal

    inculo pode ser resduo de outras fon-tes ou de lodo de esgoto.

    Compostos obtidos a partir de res-duos de diferentes origens podem sermisturados de modo a se obteremrazes C/N timas, que permitam suaincorporao ao solo, como fertili-zantes. Contudo, o uso de compostoscomo fertilizantes exige um cuidadoso

    estudo das caractersticas microbiol-gicas e ecotoxicolgicas, bem como aescolha da cultura que ser desenvol-vida, antes da tomada da deciso deaplicao em solos.

    A relao carbono/nitrognio

    Um fator crtico para a compos-tagem de resduos a relao C/N,cuja faixa tima de 20-25 para 1.Espcies qumicas que contm nitro-gnio atuam como nutrientes nosprocessos de degradao da matriaorgnica. Resduos pobres em nitro-gnio, como jornais, que apresentamrelao C/N de aproximadamente 980,devem ser misturados a outros res-duos mais ricos em nitrognio. Emprocessos de compostagem, a relaoC/N comumente diminui ao longo dotempo, pois o carbono eliminadopara a atmosfera na forma de CO2 e/ou CH

    4. O aumento da quantidade

    relativa de nitrognio, um importantenutriente para culturas agrcolas, torna

    o composto potencialmente utilizvelcomo fertilizante agrcola, desde queobservados outros parmetros sanit-rios de interesse, como presena deorganismos patognicos, metais pesa-dos e substncias orgnicas txicas.

    O Programa R3 reduo de consumo,

    reutilizao e reciclagem do lixo

    A Agenda 21 trata, em seu captulo21, do manejo ambientalmente sau-dvel dos resduos slidos e questesrelacionadas com os esgotos e

    prope, no item 21.4, a utilizao deum manejo integrado nas questesrelacionadas aos resduos, conformesegue:

    O manejo ambientalmente sau-dvel dos resduos deve ir alm do sim-ples depsito ou aproveitamento pormtodos seguros dos resduos gera-dos, buscando resolver a causa funda-mental do problema e procurando mu-dar os padres no sustentveis de

    Lixo: desafios e compromissos

    Polmeros complexos e outros

    materiais orgnicos de alto

    (prote deos, etc.)

    Mon meros(a deos)

    cidos propinico e butrico etc.(

    Metano,dixidode carbono

    egua

    cidofrmico cidoactico

    Hidrlise

    Acidognese

    Acetognese

    Metanognese

    Figura 3: Etapas da digesto anaerbia (Adaptada de Vazoller, 1999).

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    Cadernos Temticos de Qumica Nova na Escola Edio especial Maio 200

    produo e consumo. Isso implica na

    utilizao do conceito de manejointegrado do ciclo vital, o qual apre-senta oportunidade nica de conciliaro desenvolvimento com a proteo domeio ambiente.

    Em seu item 21.5, aponta a neces-sidade de aes e formulao de obje-tivos centrando-se em quatro principaisreas de programas relacionados comos resduos, a saber:

    a) reduo ao mnimo dos resduos;b) aumento ao mximo da reutili-

    zao e reciclagem ambientalmentesaudveis dos resduos;c) promoo do depsito e trata-

    mento ambientalmente saudveis dosresduos;

    d) ampliao do alcance dos ser-vios que se ocupam dos resduos.

    E, no item 21.6, alerta para as qua-tro reas de programas estarem corre-lacionadas e se apoiando mutuamen-te, devendo estar integradas a fim de

    constituir uma estrutura ampla e ambi-

    entalmente saudvel para o manejodos resduos slidos municipais. Acombinao de atividades e a impor-tncia que se d a cada uma dessasquatro reas variaro segundo ascondies scio-econmicas e fsicaslocais, as taxas de produo de res-duos e a compo-sio destes. To-dos os setores dasociedade devemparticipar em to-

    das as reas deprogramas.Nesse contex-

    to, sero apresen-tadas as vrias opes paraa disposi-o final e o tratamento de resduosslidos, sejam estes de origem doms-tica, hospitalar, agrcola ou industrial,envolvendo a aplicao dos 3 Rs

    reduo do consumo e desperdcio,reutilizao de resduos ereciclagem.

    Em alguns casos, pode ser vivel aqueima em incineradores com rigorosocontrole da qualidade dos gases emtidos e dos resduos remanescentesou ainda a combusto em fornos defabricantes de cimento. Alternativas como compostagem aerbia e disposo em aterros sanitrios ou industriais

    tambm so viveis. Contudo, inmeros impactos ambientais poderiamser associados a cada uma daopes de tratamento citadas ou aqualquer outra que venha a ser criada

    O verdadeiro desafio pertinente questo do lixo, seja ele de que natureza for, diz respeito a como no geratal lixo ou, ao menos, minimizar a gerao. Havendo essa opo, assumese que o melhor seria no gerar lixomas essa uma alternativa nem sempre vivel, uma vez que o modelo devida adotado globalmente pautadona produo e no consumo, que tmcomo conseqncia a gerao de resduos. Contudo, com alguma reflexe auxlio de programas de educaoambiental, podemos nos habituar enquanto consumidores a exercer determinados tipos de escolha de embalagens de produtos, rejeitando poexemplo aqueles que possuem invlucros mltiplos e s vezes desnecessrios e dando preferncia a embalagens retornveis em detrimento s descartveis, bem como minimizando desperdcios dentro de casa. A recusa dtais produtos com mltiplas embalagens representa a consolidaode um quarto e importante R ao programa, que fora a indstria a ter uma

    atitude ambientalmentresponsvel por pressodo mercado consumido

    Atitudes como essas, segundo um recente estudorealizado por Teixeir(1999), podem reduziremat 50% a quantidade dresduos slidos doms

    ticos encaminhados aos aterros. Umavez minimizada a gerao, parte-spara a avaliao do reuso dos resduos, que se nas nossas casas apresenta um leque de opes relativamente limitado, pode apresentar um

    Lixo: desafios e compromissos

    Elemento Onde encontrado

    Mercrio equipamentos e aparelhos eltricosde medida

    produtos farmacuticos lmpadas de non, fluorescentes e

    de arco de mercrio interruptores

    baterias/pilhas tintas antisspticos fungicidas termmetros

    Cdmio baterias/pilhas plsticos ligas metlicas pigmentos papis resduos de galvanoplastia

    Chumbo tintas, como as de sinalizao de rua

    impermeabilizantes anticorrosivos cermica vidro plsticos inseticidas embalagens pilhas

    (Fonte: IPT-CEMPRE, 1995)

    Efeitos causados por alguns metais pesados ao homem

    Efeitos

    distrbios renais distrbios neurolgicos efeitos mutagnicos alteraes no metabolismo deficincias nos rgos

    sensoriais

    dores reumticas e milgicas distrbios metablicos

    levando osteoporose disfuno renal

    perda de memria

    dor de cabea irritabilidade tremores musculares lentido de raciocnio alucinao anemia depresso paralisia

    O verdadeiro desafio

    pertinente questo do

    lixo, seja ele de que

    natureza for, diz respeito a

    como no gerar tal lixo ou,ao menos, minimizar a

    gerao

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    maior nmero de opes em relaoa resduos industriais e agrcolas.

    A terceira etapa da minimizao dodescarte envolve a reciclagem, que facilmente explicada pela j difundidateoria de que resduo nada mais doque um material no adequadamentelocalizado no espao e no tempo. Ou

    seja, aquilo que considerado um res-duo hoje pode no s-lo amanh,assim como o que uma determinadapessoa ou grupo de pessoas classificacomo resduo pode ser matria-primapara outra. O entendimento da neces-sidade da segregao na fonte, ouseja, da separao adequada dos ti-pos de resduos por seus geradores, essencial para facilitar o trabalho doreciclador, assim como a colocao domaterial reciclado no mercado, en-

    quanto matria-prima ou produto aca-bado.

    Reciclagem

    o resultado de uma srie de ativi-dades atravs das quais materiais quese tornariam lixo ou esto no lixo sodesviados, sendo coletados, sepa-rados e processados para uso comomatria-prima na manufatura de bens,feitos anteriormente apenas com ma-tria-prima virgem.

    Benefcios da reciclagem

    diminui a quantidade de lixo a seraterrado (conseqentemente aumentaa vida til dos aterros sanitrios);

    preserva os recursos naturais; economiza energia; diminui a poluio do ar e das

    guas; gera empregos, atravs da cria-

    o de indstrias recicladoras.A reciclagem, no

    entanto, no podeser vista como a prin-cipal soluo para olixo. uma atividadeeconmica que deveser encarada comoum elemento dentrode um conjunto desolues. Estas so integradas nogerenciamento do lixo, j que nemtodos os materiais so tcnica ou

    economicamente reciclveis. A separa-o de materiais do lixo aumenta aoferta de materiais reciclveis. Entre-tanto, se no houver demanda de pro-dutos reciclados por parte da socie-dade o processo interrompido, osmateriais abarrotam os depsitos e,por fim, so aterra-

    dos ou incineradoscomo rejeitos (IPT-CEMPRE, 1995).

    Apenas quandoestiverem esgotadasas alternativas dereduo de consu-mo, reuso e recicla-gem que se devefazer a opo pelotratamento, levando-se em considerao o nus ambientalde cada alternativa que possa vir a seradotada. O mesmo raciocnio vale parao setor produtivo, onde a busca portecnologias menos impactantes, cha-madas tambm limpas, essencialpara a manuteno da qualidade devida no planeta. Tais tecnologias devemser avaliadas dentro de uma tica dociclo de vida dos produtos, ou seja,levando-se em conta todos os impac-tos ambientais envolvidos desde aprimeira etapa de obteno da mat-ria-prima, passando-se pela fabrica-o, utilizao, alternativa de reuso, re-ciclagem e alternativas de disposiofinal do produto quando o mesmo nose prestar mais a fim algum.

    AAAAAgenda 21 e desenvolvimento

    sustentvel

    A Agenda 21 um documento quesurgiu a partir de discusses condu-

    zidas durante a Con-ferncia das NaesUnidas para o Meio

    Ambiente e Desenvol-vimento, a ECO-92,realizada no Rio deJaneiro entre 3 e 14 dejunho de 1992. umprograma de aoabrangente, a ser im-

    plementado pelos governos, agnciasde desenvolvimento, organizaes dasNaes Unidas e grupos setoriais

    independentes em cada rea onde aatividade humana afeta o meio ambien-te, visando atingir o chamado de-senvolvimento sustentvel. Segundo aComisso Mundial sobre o Meio

    Ambiente e o Desenvolvimento, O de-senvolvimento sustentvel aquele

    que atende s necessi-

    dades do presente semcomprometer a possi-bilidade de as gera-es futuras satisfa-zerem suas prpriasnecessidades

    Dentro de tal enfo-que, considera-se que:

    as necessidadesdos pobres so prio-ritrias;

    por desenvolvimento entende-seo progresso humano, em todas assuas facetas cultural, econmica, so-cial e poltica , que deve ser possvelem todos os pases;

    essa sustentabilidade no rgi-da; antes, deve admitir a possibilidadede mudanas, s quais se reage comadaptaes;

    est implcita uma preocupaocom a igualdade social entre as pes-soas de uma mesma gerao e entreas pessoas de uma gerao e de ou-tra.

    A Agenda 21 um documento de700 pginas que se subdividem em 40captulos. A verso em portugus dodocumento completo foi publicada noDirio Oficial da Unio como suple-mento ao nmero 146, do dia 2 deagosto de 1994.

    Cooperativas de catadores

    A formao de associaes e coo-perativas de catadores de lixo repre-senta a alternativa de sada do homem

    dos lixes e o resgate da sua condiode cidado, com direito a benefciossociais, educao para os filhos, auto-nomia administrativa e possibilidade deascenso social. A cooperativa deveoferecer aos seus membros assistn-cia jurdica, cursos de aperfeioamentoe acesso ao lazer/esporte, desenvol-vendo no catador criticidade e matu-ridade para tomar posio nas deci-ses dentro da cooperativa e at uma

    Lixo: desafios e compromissos

    A reciclagem no pode ser

    vista como a principalsoluo para o lixo; ela

    uma atividade econmica

    que deve ser encarada

    como um elemento dentro

    de um conjunto de solues

    A aparente utopia de ummeio ambiente que

    concilie desenvolvimento

    associado a sustentatibi-

    lidade ambiental, quali-

    dade de vida e igualdade

    social s ser alcanada

    com muita reflexo, boa

    vontade e esforos pessoal

    e comunitrio

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    Cadernos Temticos de Qumica Nova na Escola Edio especial Maio 200

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    mochim. Acta, n. 43, p. 1075-1090, 1979.FUNDAO INSTITUTO BRASILEIRO

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    americano de Tratamento Anaerobio deAguas Residuales , Montevideo, 1994.

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    ment. Nova Iorque: McGraw-Hill, 1993.TEIXEIRA E.N. Reduo na fonte de

    resduos slidos: Embalagens e matriaorgnica. Em Bidone, F.R.A. (org.). Meto-dologias e tcnicas de minimizao, reci-clagem e reutilizao de resduos slidos

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    VAZOLLER, R.F. Microbiologia e sanea- mento ambiental http://www.bdt.org.br/~marinez/padct.bio/cap9/3/rosana.html,1999.

    Alguns stios sobre Agenda 21,

    reduo de uso, reciclagem, reuso e

    catadores de lixowww.bdt.org.br/publicacoes/politica/

    agenda21/A base de dados da Fundao Andr

    Tosello de Pesquisas e Tecnologia apresen-ta a ntegra da agenda 21, em portugus.

    www.matrix.com.br/peixe/Trata-se de um Instituto Virtual de Educa-

    o para Reciclagem. Discute temas rela-cionados ao lixo, principalmente sobrecatadores de lixo, Reduo, Reutilizao eReciclagem.

    www.cityalpha.com.br/regiao8.htmEste site apresenta o lixo de Carapi-

    cuba-SP, considerado pela CETESB comoum dos trs piores do Estado de So Paulo.

    www.cur i t iba .p r .gov .b r /agenc ia / especiais/material02.html

    Apresentao do Programa de Recicla-gem desenvolvido pela Prefeitura Munici-pal de Curitiba-PR.

    www.curitiba.pr.gov.br/servicos/SMLP/compralixo.html

    Apresenta o Programa Compra Lixo,implantado pela Prefeitura Municipal de

    Curitiba, no qual envolve a comunidade,atravs da criao de associaes demoradores de bairro.

    www.projekte.org/meioambiente99/tema03/rodrigues/text.html

    Trata-se da apresentao do ProjetoLixo e Cidadania na Regio Metropolitanade Belo Horizonte desenvolvido pela Fun-dao Estadual do Meio Ambiente(FEAM) e o envolvimento de instituiescomo Associao de Catadores, Prefei-turas de municpios envolvidos e UNICEF.

    w w w . r e c i c l o t e c a . o r g . b r /quem_recebe.htm

    Apresenta um relao bem ampla daspessoas e instituies que recebem oucompram diversos materiais reciclveisdos estados da Bahia, Esprito Santo,Minas Gerais, Pernambuco, Rio deJaneiro e So Paulo capital e interior.

    www.clin.rj.gov.br/program.htmApresenta os programas sociais desen-

    volvidos pela Companhia de Limpeza deNiteri (CLIN), preocupada com as inicia-tivas de cunho social que so desenvol-vidas por empresas e comunidade.

    www.cempre.org.br/links.htmlUm site rico em informaes e vnculos

    sobre a questo do lixo. O endereocitado neste espao abre vrios vnculosde associaes de reciclagem e bancosque financiam programas relacionados aomeio ambiente.

    www.latasa.com.br/recicla.htmApresenta o Centro de Reciclagem de

    Latas de alumnio, cujos projetos envol-vem os temas Projeto Escola e Disk Lata.Informa tambm os endereos dosCentros de Reciclagem da Latasa.

    www.cetesb.sp.gov.br/InformacoesAmbientais/inventario_residuos/inventario.htm

    Apresenta uma srie de vnculos sobrelixo, e a possibilidade de baixar o Inven-trio de Resduos formulado pela CE-TESB, que discute de forma integrada osaspectos tcnicos e sociais envolvidos naquesto do lixo.

    http://cecae.usp.br/recicla/3rs.htmTrata-se de um canal com o projeto USP

    Recicla, o qual discute o programa dosR3s e informa os meios de contato comcooperativas de catadores e empresas dereciclagem.

    Lixo: desafios e compromissos

    viso poltica sobre o seu pas e omundo em que vive.

    A aparente utopia de um meioambiente que concilie desenvol-vimento associado a sustentati-bilidade ambiental, qualidade de vidae igualdade social s ser alcanada

    com muita reflexo, boa vontade,esforos pessoal e comunitrio,disposio e aes polticas aliadasao fundamental entendimento de queo planeta como um todo afetadopor cada atitude isolada.

    Pedro Srgio Fadini, graduado em qumica pela

    UFSCar, mestre em engenharia em recurso

    hdricos e saneamento e doutor em qumicambiental, ambos pela UNICAMP, professor n

    PUC-Campinas. Almerinda Antonia BarbosFadini, graduada em geografia pela PUC-Cam

    pinas, mestre em geocincias e meio ambiente doutoranda em geografia, ambos pela UNESP d

    Rio Claro, professora na Universidade So Francisco, em Bragana Paulista.