Quinta Edição do Campus 2/2009

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BRASÍLIA, 16 de novembro a 29 de novembro de 2009 | Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB | WWW.FAC.UNB.BR | ANO 39, EDIÇÃO 343 Campus Propaganda volante Fundadores desconhecidos Verde é o novo preto Esporte à deriva Por determinação do GDF, há dois meses táxis começaram a circular com as cores e a logomarca do governador Arruda Personagens decisivos para a fundação e concepção da UnB, Darcy Ribeiro e Agostinho não são lembados por alunos Pesquisa da Sociologia mostra como o politicamente correto virou moda UnB quer ajudar a Copa de 2014, mas CO está em condições precárias 3 Obras começaram a ser feitas no local, que ocupa 20% do novo setor habitacional, mas pararam por pressão de índios como Kafhixu (foto). Funai deve definir até o fim do ano se a terra é reserva indígena página 5 Santuário indígena barra tratores no Noroeste 6 7 4 Isabela Horta

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O Campus é o jornal laboratório da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília, produzido pelos alunos do sexto semestre. O jornal é feito pensando nos leitores. Ajudem-nos a melhorá-lo. Mandem suas críticas e sugestões para o email [email protected]

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BRASÍLIA, 16 de novembro a 29 de novembro de 2009 | Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB | WWW.FAC.UNB.BR | ANO 39, EDIÇÃO 343

Campus

Propaganda volante

Fundadores desconhecidos

Verde é o novo preto

Esporte à derivaPor determinação do GDF, há dois meses táxis começaram a circular com as cores e a logomarca do governador Arruda

Personagens decisivos para a fundação e concepção da UnB, Darcy Ribeiro e Agostinho não são lembados por alunos

Pesquisa da Sociologia mostra como o politicamente correto virou moda

UnB quer ajudar a Copa de 2014, mas CO está em condições precárias3

Obras começaram a ser feitas no local, que ocupa 20% do novo setor habitacional, mas pararam por pressão de índios como Kafhixu (foto). Funai deve definir até o fim do ano se a terra é reserva indígenapágina 5

Santuário indígena barra tratores no Noroeste

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Isabela Horta

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Perspectiva

Carta do leitor

De 16 a 19 de no-vembro, em ho-menagem ao Dia

da Consciência Negra, foi celebrada a 3ª Semana da Consciência Negra no campus de Ceilândia, com palestras e debates abertos à sociedade. A discussão é essencial ao considerar que o país está às portas de uma importante deci-são: em março do próxi-mo ano, o Supremo Tribu-nal Federal realizará uma série de audiências públi-cas para debater o fim das cotas raciais, devido a um pedido do partido político Democratas (DEM), ques-tionando a legalidade des-sa ação afirmativa.

Mais de um século se passou desde a assinatura da Lei Áurea. Contudo, a promessa de liberdade não significou igualdade. Hoje as marcas deixadas pela es-cravidão são vistas nos in-dicadores sociais que com-

provam a exclusão dos ne-gros. Como aponta estu-do do Instituto de Pesqui-sa Econômica Aplicada (Ipea), os negros ocupam majoritariamente as pro-fissões que exigem menos qualificação, como o ser-viço doméstico. Sua renda é cerca de 46% inferior à renda da população de brancos.

Nascida com a coloni-zação, a discriminação ra-cial no Brasil perpetuou-se por meio das políticas de branqueamento. Na luta contra essa herança histó-rica, a UnB foi pioneira ao implantar, em 2004, o sis-tema de cotas raciais em seu processo seletivo, pro-vocando uma avalanche de debates. Essa discussão também é necessária an-tes de abolir as cotas. E, se apagar o passado de pelo menos 300 anos de escravidão não é possível, cabe, então, assegurar que o nosso futuro não seja um registro de séculos de discriminação racial.

Escolhas certas e erradasCAMILA GUEDES

LUANA WEYL

VANESSA VIEIRA

Ombudskvinna*

*Ombudskivinna, feminino de ombudsman. Na imprensa, pes-soa que analisa o jornal do pon-to de vista do leitor

Carta do editor-chefe

Expediente Opinião

Editora-chefe: Juliana ReisSecretária de Redação: Marina RochaDiretora de Arte: Marcella CunhaDiagramação: Heitor Albernaz, Luana Richter, Mariana Niederauer e Renata ZagoFotografia: Mariana de Paula (editora), Ana Clara Martins, Cláudio Vicente, Isabela Horta e Maíra Morais Perspectiva: Vanessa Vieira (editora)Cotidiano: Laís Miranda (editora), Bárbara Lopes, Gabriel de Sá, Guilherme Oliveira e Tiago PadilhaContexto: Camila Santos (editora), Alessandra Watanabe, Manuela Marla, Mel Bleil Gallo e Verônica HonórioLaboratório: Marina Marquez (editora), Ana Carolina Seiça, Fabiana Closs, Mariana Tokarnia e Priscila CrispiBloco C: Lucas Leon (editor), Manuela Marla, Mariana Haubert e Plácida LopesContraCapa: João Paulo Vicente (editor), Ludmilla Alves e Marcela Ulhoa Projeto Gráfico: Ana Clara Martins, Heitor Albernaz, Juliana Reis, Laís Miranda, Marcella Cunha, Marcela Ulhoa, Marina RochaRevisão: Igor Miguel Pereira, Rafaela Felicciano e Rafaella ViannaProfessor responsável: Solano NascimentoJornalista: José Luiz SilvaMonitor: Leonardo MunizSuporte Técnico e assistência em Fotografia: Pedro FrançaIlustrações: Guilherme Teles, Heitor Albernaz e Luísa Malheiros

Campus Darcy Ribeiro, Faculdade de Comunicação, ICC Ala Norte.Contato: (61) 3307-2519 Ramal 207/241 – Caixa Postal 01660CEP: 70910-900 - [email protected]

O tema religião várias vezes foi destaque no Campus. Na edição 159 de fevereiro de 1992, o misticismo de Brasília pre-

encheu o caderno especial Suplementos. As pro-fecias e visões que antecederam a fundação da cidade também não poderiam ficar de fora. Com o título Todos os caminhos levam a Deus, uma das reportagens fez um panorama das religiões e doutrinas com mais adeptos e afirmou que “Bra-sília abriga um mosaico de cruzes, credos, doutri-nas e escolas de sabedoria”.

O repórter Robson Leão incitou o leitor: “Em que momento da trajetória humana teria aflora-do o sentimento religioso?” Já a repórter Karla Mendes, abordou a religião “verde” do Santo Daime, vinda de raízes da Amazônia e que tem como principal rito a ingestão do ayahuasca, chá com propriedades alucinógenas. Para Renata Lima, também repórter, não havia dúvidas so-bre o misticismo de Brasília: “Do umbandismo ao Templo da Boa Vontade, do bramanismo ao seicho-no-iê, do taoísmo ao candomblé, Brasília respira religiosidade”.

Campus 40 anos

A infeliz comparação feita pelo reitor entre re-formar sua própria casa e a CEU demonstra seu des-conhecimento sobre a re-alidade, chegando a ser um desaforo a nós, morado-res. Além disso, se a re-forma do RU, que afeta a vida de mais de cinco mil usuários, foi “levemente” adiada por um ano, que garantia nós temos para acreditar em seis meses de

O mistério para os altos e baixos da editoria Contra-

Capa acaba de ser revela-do! O segredo para tanta oscilação é nada menos que o repórter respon-sável por ela. É evidente que alguns se saíram mui-to bem, mas só depois da última matéria o enigma pôde ser solucionado. O fato é que apenas algumas pessoas estão preparadas para lidar com a liber-dade inerente à editoria.

Nada de que devam se envergonhar, afinal aqui é o lugar de experimen-tar. Então fica a dica: o leitor acha ótimo que o Campus abra espaço para matérias não tradicionais, mas o assunto ainda tem de ser relevante para o pú-blico e ter as raízes bem plantadas no jornalismo. A reportagem sobre os cordéis está de parabéns pelo assunto inusitado e admiravelmente atual.

Mas, enquanto há gente se enrolando para separar

A ndando pelos corredores da UnB durante o semestre ouvimos vários comentários sobre o Campus. Uns acharam que o jornal está lindo,

outros que ficou sem graça. Houve aqueles que gosta-ram muito das matérias publicadas, e aqueles que não viram nada de novo nas páginas. Alguns ainda nos de-ram o título de “empresa júnior de estatística”. Entre erros e acertos, aprendemos.

Nesta última edição você encontra um pouquinho da história da Universidade e seus fundadores. Pode inteirar-se das discussões sobre o uso ou não de cobaias no aprendizado e conhecer pessoas que deixaram tudo para se dedicar à vida espiritual. Enquanto isso, índios e GDF disputam a “posse” do Setor Noroeste, e a nova padronização dos táxis da capital gera polêmica. E também se questionar sobre como realizar os grandes planos para o esporte na UnB se não há investimento. E será que as pessoas realmente estão interessadas em consumo consciente ou é apenas modismo?

Despedimos-nos por aqui e esperamos que você que nos acompanhou tenha aproveitado o que leu.

Gráfica Guiapack - 4000 exemplares

Cotas em debate

Mande sua opinião para o Campus: [email protected]

fac.unb.br/campusonline

Acesse o

literatura de jornalismo, há aqueles que conseguem ser confusos por serem objetivos demais. Como? Bem, a matéria de capa da última edição ilustra bem isso. A afirmação de que apenas duas das 15 pro-messas feitas pelo reitor foram cumpridas atrai o leitor, mas ao chegar à lista interminável de metas não há santo que não perca a paciência. Se vocês acha-ram imprescindível serem tão detalhistas, tinham que ter achado uma forma de a

matéria não ficar tão ma-çante. Afinal, texto chato o leitor não lê. Outro pro-blema foi que as duas par-tes da reportagem ficaram contraditórias. Na primei-ra vocês sugerem uma de-núncia e na segunda pare-ce que tiveram uma con-versa super descontraída com o reitor. Afinal, o que vocês queriam?

reforma? Só podemos de-monstrar nossa indigna-ção para com o reitor e também para com o Cam-pus, que não averiguou a veracidade da afirmação do reitor ao nos culpar de incompetência administra-tiva na solução desse im-passe. A proposta da As-sociação dos Moradores da Casa do Estudante (Amceu) está dentro da ver-ba destinada para o rema-nejamento, sendo, inclusi-ve, R$ 913.468,80 mais ba-rata que a proposta do DAC.

Estudante do 2° semestre de Geografia

da UnB, membro da Amceu e do DCE.

Guilherme Teles

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Entre a cruz e o diploma Estudantes abandonam cursos universitários para se dedicar à vida religiosa. Conheça

a experiência de um pastor, um padre e um hare krishna

Drible maior que as pernas

No início do mês, a reitoria criou um comitê para elaborar projetos de revitalização do Centro Olímpico (CO) visando a Copa de 2014 e pen-

sando no legado para a sociedade acadêmica e para a população. A iniciativa a longo prazo, no entanto, não alcança os problemas estruturais mais imediatos no es-porte da UnB.

As necessidades do CO são conhecidas. O problema é a falta de dinheiro. Jônatas Barros, diretor da Facul-dade de Educação Física, diz que os recursos atendem apenas às situações urgentes. “Aqui, trabalhamos com prioridades. Estão previstas reforma no ginásio, instala-ção de ar-condicionados nas salas de aula e dança e re-vitalização do parque aquático. Será quase R$ 1 milhão para essas reformas”, garante Barros.

“A burocracia empata o desenvolvimento”, afirma Marisete Safons, coordenadora do CO. “Há mais de um ano eu peço mais iluminação para o estacionamento e nada. O dinheiro para a reforma das piscinas já foi libe-rado, não sei por que não usaram. Há também desleixo e mau uso. Seria bom melhorar o campo de futebol, ter uma clínica de fisioterapia e um hotel-escola para atletas. Mas, para isso, muita coisa tem que mudar no Centro Olímpico.” Procurada, a prefeitura do campus não se manifestou a respeito da iluminação do estacio-namento e o Decanato de Assuntos Financeiros (DAF) não confirmou se a reforma das piscinas consta na lista de obras aprovadas pelos conselhos de Administração

(CAD) e Universitário (Consuni).Também problemática está a Associação Atlética

Acadêmica (AAAUnB), que tem só seis membros para realizar todo o trabalho. Não há sede – a entidade utili-za o espaço físico da Diretoria de Esporte, Arte e Cul-tura (DEA). O principal desafio enfrentado é estimular a participação dos estudantes na gestão desportiva. O presidente João Lasse explica que a AAAUnB não pode se dedicar a incitar os alunos, devido ao acúmulo de funções. “Se eu parar para fazer panfletos, umas três e-quipes ficam sem competir no ano”, resume.

A maioria dos membros da atual gestão da Atlética se formou no fim de 2008 e deixou os cargos. Um novo grupo foi composto às pressas. Lasse conta que a gestão remontada convocou assembléia para eleições no início do ano. “Quem apareceu entrou, e ainda ficamos com falta de pessoal”, lembra. O plano é tentar novas elei-ções ainda em novembro, mas seria preciso mudar o estatuto, o que não é viável antes do fim do mandato.

A diretora de Esporte, Arte e Cultura, Lucila Souto

Enquanto UnB sonha com a Copa, falta estrutura à Associação Atlética e ao CO

BÁRBARA LOPES

GUILHERME OLIVEIRA

Isabela Horta

Mariana de Paula

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Cotidiano

V ocê teria coragem de largar seus es-tudos em uma uni-

versidade para se dedicar plenamente a uma religi-ão? Se fosse há alguns anos, o seminarista Deva-nilson de Souza, 24, res-ponderia que não. Ele era estudante de Jornalismo na UnB e de Direito na Universidade Católica de Brasília. Em 2005, largou os dois cursos e ingressou no seminário. “Abrir mão do curso para ir ao semi-nário é uma decisão que traz maturidade”, diz.

O primeiro contato com a Igreja foi a cate-quese. Inicialmente estava somente interessado por meninas que frequenta-vam as aulas. Acabou se dedicando aos estudos. Após algum tempo, um di-ácono (padre em fase final de preparação) fez o con-vite: “Você tem jeito para ser padre”. O choque foi seguido por sua inscrição, feita por um amigo, em um seminário. “Chegaram lá

“Fui convicto”, garan-te. “Mas, de qualquer for-ma, sempre dá um frio na barriga.” Trabalhava com as igrejas nos finais de se-mana. “Teve época em que

eu morava no fundo de uma lanchonete, dormia no chão, só tinha minhas pilhas de livro. Procurava fazer o que dava para po-der sobreviver e continuar

Estado atual das piscinas é reflexo da situação do Centro Olímpico, que reitoria pretende transformar em instalação para a Copa

Almeida deixou Engenharia Elétrica para virar pastor evangélico

GABRIEL DE SÁ

TIAGO PADILHA

Mayor, explica que o apoio prestado é temporário. “A Atlética precisa ter autonomia. Enquanto está em tran-sição, damos suporte técnico e financeiro. Esperamos que a reestruturação deixe-a independente.”

A AAAUnB dá apoio a atletas que representam a Uni-versidade, como Edil Carvalho, da Agronomia, lutador de jiu-jitsu e boxe chinês. Ele passou a ser patrocinado em 2009. Desde então, soma quatro medalhas. “Os re-sultados melhoraram desde que a ajuda começou. Fico muito mais motivado quando defendo a UnB.” Ele diz que o apoio, apesar de pouco, é imprescindível. “Sem ele eu não iria às competições. Os gastos são muito grandes.”

Em 2009, mais de 50 atletas da UnB receberam ajuda para competições nacionais e internacionais. Segundo Lucila, a verba disponível não permite subsidiar todo o preparo. “O apoio que podemos dar é restrito a pa-gamento de inscrições, passagens aéreas e alimentação. Ainda não podemos oferecer auxílio para treinos, mas os alunos podem usar as instalações da UnB.” •

fazendo o curso.”Formado, especializou-

se em Linguística Aplicada. Assumiu o pastorado em Americana (SP) e, depois, em Minas. Ainda fez dois mestrados, em Teologia e em Ciências da Religião, e um doutorado em Educa-ção. Dedicou-se, também, ao ensino. Hoje, dá aulas no Seminário Presbiteria-no Nacional, em Brasília. “Eu tento ligar todas essas áreas (acadêmicas) pelas quais passei com minha perspectiva de fé”, afirma.

Não são somente cris-tãos, como católicos e evangélicos, que trocam cursos universitários pela religião. Luís Gustavo Prado, 32, trancou sua matrícula em Ciências So-ciais na UnB para viver em Nova Gokula, uma comu-nidade rural no interior de São Paulo, dedicando-se ao Movimento Hare Krishna. Lá, ele trabalhou em uma escola durante seis meses.

Após esse período, mu-dou-se para a cidade de São Paulo, onde vendia livros e incensos. Prado ti-nha 18 anos. Ele teve que

voltar para Brasília por motivos pessoais e acre-dita que a experiência não tenha sido proveitosa. A-tualmente, tem uma rotina comum e trabalha como fotógrafo. “Acho meio di-fícil conciliar os estudos e a vida monástica (abdica-ção da vida comum em prol da prática religiosa), pois existe grande fanatis-mo e muitos desprezam qualquer formação acadê-mica”, comenta.

Com Marco Yasunaka, 37, a história foi diferente. O interesse em ser monge budista surgiu por vol-ta dos dez anos de idade. Ainda assim, ele ingressou na Universidade de São Paulo, onde se graduou em Psicologia em 1995. Mesmo sem nunca ter pensado em largar os es-tudos, depois de formado ele não exerceu a profis-são. Yasunaka terminou o curso e foi ao encontro do Budismo, religião que pra-tica desde a infância. Acha “louvável” a dedicação exclusiva à vida religiosa. “Mas isso exige esforço, dedicação, desprendimen-to e perseverança.” •

em casa e disseram: ‘Vem pro seminário’. E eu fui com a roupa que tava no corpo. Só falei para minha mãe: ‘Vou ser padre’.”

Depois de um mês, ele fugiu do lugar. Após refle-tir muito, terminou com a namorada, demitiu-se do emprego, trancou os cur-sos e se desfez de tudo o que tinha. “Quando entrei no seminário, fui muito criticado. Até meu pai me disse: ‘Filho, investi tanto em você pra você fazer uma besteira dessas’. Ele só me visitou uma vez. Minha mãe, três”, afirma.

O pastor Ricardo de Almeida, 47, começou a frequentar a Igreja Presbi-teriana aos 13 anos. “Sem-pre pensei em fazer algu-ma coisa voltada para a área missionária”, conta. Apesar dessa vontade, in-gressou em Engenharia Elétrica na sua cidade na-tal, Governador Valadares (MG). “Era uma área cres-cente, tinha uma carrei-ra promissora”, justifica. Não durou muito: largou no primeiro semestre e foi para Campinas (SP) fazer Teologia.

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Contexto

GDF põe logomarca de Arruda nos táxis ALESSANDRA WATANABE

Em nenhum estado brasileiro os táxis contam com isso e nem podem

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Veículos começam a circular com as cores e o símbolo que identificam a atual administração

A um ano das elei-ções, a frota de tá-xis de Brasília co-

meça a circular com as co-res e a logomarca do go-verno de José RobertoArruda (DEM), pré-can-didato à reeleição. Taxis-tas e representantes da ca-tegoria se dividem, o Go-verno do Distrito Federal(GDF) defende a iniciati-va, e especialista em legis-lação eleitoral diz que me-dida é questionável.

Os táxis são uma con-cessão pública, ou seja, precisam de autorização do GDF para circular. Pe-la portaria 63/2009, o go-verno determinou que atéfevereiro do ano que vem 3,4 mil táxis do DF este-jam com a nova caracte-rização, que são as duasfaixas, cada uma com 11centímetros de largura, ea logomarca.

Adotada pela gestão Arruda em substituição a um desenho da Ponte JK,utilizado no segundo mandato do governador Joaquim Roriz, a nova lo-gomarca reproduz um dos pilares do Palácio da Al-vorada e, originalmente, está no brasão do DF. A única diferença é que a lo-go, colocada no canto la-teral esquerdo dos táxis,não tem a base amarelaque aparece na propagan-

da do governo. “Para mim isto é cam-

panha política”, diz Mar-celo Terra, enfático. O militar de 45 anos, que sempre anda de táxi, já percorreu o Brasil afora e nunca viu a marca do governo nos veículos. “Jámorei em São Paulo, Riode Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Natal, Manaus e João Pessoa. Em todasessas cidades, o máximode padronização é a mes-ma cor para os táxis”, con-ta. A Federação Nacionaldos Taxistas e Transpor-tadores Autônomos de Passageiros confima. “Emnenhum estado brasileiroos táxis contam com isso (logomarca de governo) enem podem”, diz EdgarFerreira, presidente da fe-deração.

Insatisfação

Para alguns taxistas, não há dúvidas quanto àsintenções do governo. “O verde do símbolo ali é de quem? É do Arruda!”, res-salta José Mordono. Ta-xista há 25 anos, o cea-rense pensa em entrar na Justiça com outros colegas insatisfeitos.

Os taxistas são convo-cados a colocar as faixas seguindo a ordem da per-missão. Quando foi em-placar seu carro, José Ha-milton se viu obrigado a cumprir a regulamenta-

ção. Para ele, o que acon-tece hoje não tem diferen-ça nenhuma de uma si-tuação que viveu há al-guns anos, quando um fiscal lhe pediu que re-tirasse do vidro o adesivocom a propaganda políti-ca de um candidato quegostava. “Isso que eu estoucarregando no meu carroagora é a mesma coisa.”

Apesar de admitir osbenefícios que o atual go-

verno trouxe para a cate-goria - como a abertura decrédito e a redução do prazo para troca de veí-culo com isenção de im-postos -, o diretor da Co-operativa de Condutores Autônomos de Brasília (Coobrás), Ademar de Carvalho, destaca que a classe irá cumprir a por-taria, mas que não aprova “divulgar a imagem do governo de graça”. Para ele, “não é necessário in-formar e marcar que so-mos uma melhoria do GDF”. Célio Batista, quedivide a diretoria da Coobrás com Carvalho,diz não enxergar o sím-bolo de outra forma que não como uma campanha eleitoral. “Se fosse outra cor, até ia, mas assim é de-claradamente a logomarca

do GDF”. Nem todos veem a

marca dessa forma. Além de aprovar todo o pro-cesso de padronização, o taxista Valdenir Pereira não acha que a faixa fará qualquer diferença. “Es-colha de candidato aqui sempre foi no toma lá dá cá, não é a faixa que vai influenciar o eleitor”, ar-gumenta. Raimundo Fer-reira, taxista há 23 anos, é

adepto de seguir a regula-mentação. “Não compen-sa se aborrecer por isso. Você não pode ir contra a lei e, além do mais, os clientes não reclamam”, esclarece o cearense, que teve seu carro modificado há cerca de um mês.

Aprovando ou não, quem decide se há pro-paganda política não são os taxistas. Cabe à Justiça Eleitoral interpretar o ca-so. Segundo José Eduardo Alckmin, ex-ministro do Superior Tribunal Eleito-ral (TSE) e especialista emJustiça Eleitoral, o assun-to é muito controverso e questionável. Se o enten-dimento for que essa logo-marca, de alguma forma, evoca a atual administra-ção, é muito provável que ela seja vetada. Porém, se

da marca nos táxis não tem “nada a ver” com pro-cesso eleitoral nem com política. “Essa logomarcaé o símbolo oficial do GDF. Os táxis são um ser-viço público e têm que ter o símbolo, que não muda, independente de quem senta na cadeira de gover-nador. Pode entrar quem for, PT, Roriz, o símbolo é o mesmo, que está em qualquer documento ofi-cial do governo.” O as-sessor de comunicação do ex-governador Joaquim Roriz, Paulo Fona, afir-mou que a marca, com es-sa estilização utilizada pe-la atual administração,nunca foi usada no gover-no de Roriz.

Mesmo circulando des-de agora, os táxis com as faixas têm mais chances de serem avaliados pela Justiça Eleitoral só no ano que vem. O chamado mi-croprocesso eleitoral se inicia com a escolha dos candidatos e o período de registro, o que se dá até odia 5 de julho do ano da eleição. A partir daí é que toda propaganda deve cessar. Procurados pelo Campus, o Ministério Pú-blico do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e o Tribunal Regional Eleito-ral (TRE) não se manifes-taram. O Sindicato dos Taxistas do DF afirmou não ter interesse em co-mentar o assunto. •

o parecer for de que se trata de uma logomarca absolutamente impessoal e que não é essa circuns-tância que fará as pessoas lembrarem-se desse go-verno, ela poderá ser man-tida. De qualquer forma, Alckmin fala em tese, sem opinar sobre este caso.

“Em 1998, na reeleição, de Fernando Henrique Cardoso, o TSE determi-nou que fossem tiradas as logomarcas (Avança Brasil) de todas as pla-cas enunciativas de obras. Apesar de não ser algo que identifique ou perso-nalize a administração, énormal que as pessoas re-lacionem”, lembra Alck-min. Como ministro do TSE, ele elaborou as nor-mas para inibir o uso da máquina administrativa em eleições. Caso haja uma identificação direta, trata-se também de um fla-grante desrespeito à Cons-tituição Federal, que proí-be, em seu artigo 37, pa-rágrafo 1º, o uso de símbo-los que signifiquem pro-moção social. “Isso depen-de muito de um grau de subjetivismo do juiz”, res-salta o ex-ministro.

Mesmo símbolo

O subsecretário de In-fraestrutura e TransportePúblico Individual do GDF, Dilvan Rodrigues Silva, diz que a colocação

Em ano eleitoral, toda a frota de táxis da cidade carregará a logomarca do Governo do Distrito Federal desenhada nas duas faixas adesivas, nas cores verde e amarelo

Ana Clara Martins

Segundo o Manual de Apreciação da Marca do GDF, a nova marca é ins-pirada no formato de um pilar estilizado do Palácio da Alvorada. A única di-ferença entre a logo a-fixada nos táxis e a do GDF é a ausência dos detalhes amarelos, mas a estilização do símbolo é a mesma.

Semelhança

Page 5: Quinta Edição do Campus 2/2009

as obras e licitações da área reivindicada pelos índios foram temporariamente suspensas “para evitar proble-mas”. O órgão aguarda o parecer da Funai, solicitado em março pelo MP-DF.

Uso tradicional

Até agora, a Funai ainda não criou um Grupo Técni-co (GT) para dizer se a terra pertence ou não aos índios. O órgão, que mostra resistência para falar sobre o as-sunto, alega haver na fila de espera outros 300 pedidos para criação de GTs. “Não temos como atender todas as demandas”, explica um assessor da Diretoria de As-suntos Fundiários (DAF) da Funai.

Desde a Constituição de 1988, o reconhecimento de terras indígenas é feito a partir do chamado uso tradi-cional da terra, e não necessariamente por uma ocu-pação imemorial, pré-descobrimento. De acordo com a Funai, o Santuário dos Pajés “é uma terra indígena, a partir do momento em que há índios que ali desenvol-vem sua cultura”. No entanto, “daí a constituir uma propriedade indígena há uma diferença, e é isso que está sendo analisado”, explica o assessor. O DAF também garante “que as terras reivindicadas estão protegidas até que se concluam os estudos”.

O MP-DF reconhece a demora e procura uma solu-ção para até o fim deste ano. A espera não é tranquila. Em 27 de outubro, os tratores iniciaram a construção de uma das vias públicas dentro do território em dis-cussão. Devido à pressão local, a obra foi interrompida.

Moradia, um problemada classe média Distrito Federal é a unidade da federação com maior índice de déficit

habitacional entre famílias com renda acima de dez salários mínimos

MANUELA MARLA

VERÔNICA HONÓRIO

Pablo Alves sonha em sair da casa de seu pai, no Guará, e ter um lugar próprio para morar. Ele olha o jornal e procura apartamentos que cabem

dentro de seu salário de bancário. O que encontra, en-tretanto, são imóveis em áreas de regiões administrati-vas do Distrito Federal e do Entorno bem distantes de seu trabalho, no Setor de Indústrias e Abastecimento. “Morar onde é melhor pra mim é um sonho que tem de ser adiado”, lamenta o bancário.

Situações semelhantes a de Alves são muito comuns entre a classe média de Brasília. De acordo com estudo realizado pela Fundação João Pinheiros, em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvi-mento (PNUD), o Distrito Federal é a unidade da fede-ração com o maior índice de déficit habitacional de todo o país na faixa das famílias com renda acima de dez salários mínimos (R$ 4,65 mil) mensais. Com a taxa de 3,2%, o DF supera em muito o segundo colocado, Acre, com índice de 2,1%.

O número do DF é quase o dobro dos registrados no terceiro e quarto colocados, Santa Catarina (1,9%) e a

região metropolitana de São Paulo (1,8%). A pesquisa levou em conta os dados do ano de 2007 e utiliza um conceito amplo de déficit habitacional, que considera questões como coabitação familiar forçada, residências sem condições de serem habitadas e moradia em locais com fins não residenciais.

Para o especialista em finanças públicas da Univer-sidade de Brasília Roberto Piscitelli, a classe média bra-siliense é a mais afetada porque, no Distrito Federal, os terrenos são muito caros quando comparados às outras unidades da federação. “O movimento especulativo é muito forte e há concentração das áreas nas mãos de poucas pessoas, instituições e entidades”, explica.

Estabilidade e salário alto

O presidente do Sindicato de Compra e Venda de Imóveis, Miguel Setembrino, afirma que é difícil conse-guir comprar imóveis nas áreas nobres de Brasília. Ele explica que isso se deve ao fato de haver grande índi-ce de estabilidade de empregos e de os salários estarem acima da média brasileira. Além disso, Brasília, por ser uma área tombada, faz com que não haja mais espaço para construção de novas residências. “A classe média tem condições de morar em cidades como Ceilândia,

Valparaíso, Taguatinga, mas sabe que, assim, perde em qualidade de vida.”

A socióloga Magda Lúcio aponta como uma das principais causas do déficit habitacional na classe mé-dia o fato de a maioria dos programas governamentais atingir as classes mais baixas. “A classe alta pode morar em qualquer lugar, pois possui condições. A baixa rece-be assistência do governo, mas a média fica apenas com a possibilidade de financiamentos ofertados.”

A assessoria de imprensa da Secretaria Nacional de Habitação informa que o Programa Minha Casa Minha Vida possibilitará o enfrentamento de parte do déficit habitacional para famílias com renda de até dez salários mínimos. Segundo a secretaria, para rendas acima disso há os financiamentos da Caixa Econômica Federal.

O empresário Breno Arnoud e sua mulher, a con-tabilista Cristina, enfrentam o problema descrito pela socióloga. O casal, com renda de mais de dez salários mínimos, não possuía condições de comprar uma casa imediatamente após se casar e decidiu morar de aluguel. O preço que pagava mensalmente, porém, não permitia que economizasse para comprar o imóvel próprio. “Vol-tamos a morar na casa de meus pais. Vamos ficar ali até terminarmos de pagar um apartamento no lugar onde realmente queremos, em Águas Claras”, diz Arnoud. •

Poder do santuário

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Contexto

Falta de parecer da Funai suspende obras do Noroeste na área dos Fulni-ô e Tapuya

Negão tem o rabo em carne viva. O cachorro ma-gricelo anda pra lá e pra cá durante a conversa, com claros sinais de dor. “Foi um raio”, explica

Awa Mirim entre uma tragada e outra do cachimbo. “O grande Tupã está nos avisando que tem algo de errado acontecendo.” O indígena se refere, entre outras coisas, aos tratores que no mês passado começaram a construir, sobre o que é chamado pelos índios de Santuário dos Pajés, as vias públicas do Setor Noroeste. A resistência dos índios, no entanto, paralisou a obra naquela área, que representa cerca de 20% do Noroeste.

É nas proximidades da quadra 914 do Setor de Grandes Áreas Norte que fica a terra indígena Bananal. Ali, para eles, tudo é sagrado e forma o santuário: as ocas, um reservatório de peixes, um herbário e um abri-go para imagens de antepassados. A entrada do parque Burle Marx, cheia de lixo e entulho, esconde o local, de aproximadamente 50 hectares. Lá vivem duas famílias das comunidades indígenas Fulni-ô e Tapuya. Antes das obras, eram quatro. “Elas não aguentaram a pressão dos tratores e um incêndio que destruiu uma das ocas da tribo”, conta Awa Mirim.

Quando a construção do Noroeste começou a sair do papel, após mais de uma década de discussão, se agra-varam os conflitos sobre a posse da terra. De um lado, estão os índios – duas famílias que moram no santuário desde a década de 1960 e algumas dezenas que foram instaladas lá a partir de 2005. De outro, construtores e o Governo do Distrito Federal (GDF).

No meio da polêmica, o Ministério Público Fede-ral no DF (MP-DF) recomendou ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) que suspendesse as licenças prévias para o empreendimento, concedidas em 2007. De acordo com o MP-DF, as licenças não devem ser emitidas antes de um posicionamento definitivo da Fun-dação Nacional do Índio (Funai).

A assessoria de imprensa da Companhia Imobiliá-ria de Brasília (Terracap) informa que, apesar de consi-derar a terra “posse do Governo do Distrito Federal”,

Agora, na área restaram apenas as raízes das árvores arrancadas e novas mudas plantadas pelos índios.

Os pais de Mirim, de origem Tupinambá, vieram do nordeste em meados de 1957 para trabalhar na cons-trução de Brasília. “Eles deixaram seus lares por uma questão de terra que até hoje não foi resolvida”, lembra o índio. “E, por uma necessidade de voltarem a se co-nectar com suas identidades aqui na cidade, instalaram-se definitivamente no santuário por volta de 1967.”

Lá, os indígenas passaram a desenvolver seus costu-mes e o local se tornou um ponto de encontro étnico. “Os estudantes indígenas da Universidade de Brasília, por exemplo, vêm aqui para se manter conectados com a cultura. Pajés de todo o Brasil ficam aqui quando vêm à Brasília. É um ponto de referência”, explica Mirim.

Desde que começaram as negociações, os Fulni-ô Tapuya se recusaram a aceitar indenizações para sair dali. “Índio que aceita dinheiro pelo seu território não é índio. O santuário tem um significado espiritual para a gente. Quem aceita dinheiro são as comunidades que chegaram depois e que não têm envolvimento com o local”, critica Awa Mirim, em referência a tribos insta-ladas na área depois de 2005.

A espera preocupa os indígenas. “A cada dia as obras ao redor do santuário avançam, e fica ainda mais difícil negociar com o GDF. Depois que tudo tiver sido derru-bado, que cerrado nós vamos preservar? Que cultura nós vamos defender?”, questiona Awa Mirim, à espera de uma resposta da Funai, do Ministério Público, do GDF ou, até mesmo, do grande Tupã. •

Awa Mirim em estrada construída dentro do santuário (E); Kafhixu dentro da terra indígena bananal (D-alto); oca destruída em incêndio

MEL BLEIL GALLO

Isabela Horta

Page 6: Quinta Edição do Campus 2/2009

Cobaias virtuais Programas simulam experimentos, salvam a vida de animais e ajudam no aprendizado, mas dividem opiniões dos alunos

MARIANA TOKARNIA

FABIANA CLOSS

Um ratinho que po-de ser monitorado de casa, que não

precisa de maiores cuida-dos, que pode ser ligado e desligado. Esse é o Cy-berRat, um programa de computador desenvolvido nos Estados Unidos que encontrou lugar nas uni-

versidades brasileiras. Jun-to com ele, chegou o SNA (Farmacologia básica do Sistema Nervoso Autôno-mo), software que simula a reação do sistema cir-culatório a diversas subs-tâncias. Ambos, utilizados pela UnB, auxiliam no processo de aprendizado dos alunos e evitam o es-gotamento e até mesmo a morte das cobaias.

“Antes, para fazer as

experiências, eu utiliza-va cachorros. Eram dois por semestre. Nesse caso, fazíamos a eutanásia. O procedimento não permi-tia que o cão retornasse a uma vida normal”, diz o professor Ricardo Titze, da Veterinária, que agora utiliza o coração virtual do SNA na disciplina Far-macologia. “O programa faz uma simulação, passa de um dado experimental

para um dado didático. É possível que não seja exata-mente igual ao do indivíduo experimental, mas é uma forma de os alunos ve-rem”, explica o professor.

Na Psicologia, a pro-fessora Laércia Vascon-celos adota o CyberRat. Mas, diferente de Titze, ela não substitui os ratos albinos, utiliza o softwa-re para complementar o aprendizado. “O animal é um valioso instrumento conquistado pela institui-ção pública. É uma vida que está te ensinando a lidar com outras vidas”, defende. O CyberRat foi adotado há cerca de três anos na disciplina Psicolo-gia Geral e Experimental (PGE) e a UnB foi pioneira na utilização do programa no Brasil.

No caso da Psicologia, até o início deste semes-tre, parte das aulas era re-alizada com o rato real e parte com o virtual. Mas uma reforma nos labora-tórios fez com que o Cy-berRat ganhasse o espa-ço dos verdadeiros ratos. Não ter contato com os

animais dividiu os alunos matriculados e os que já passaram pela disciplina, obrigatória para o curso.

Alguns estudantes acre-ditam que ficaram defasa-dos no conteúdo, outros, acham que o programa bas-tou. “Eu usei e achei bem prático porque não tem que cuidar. É bem fiel”, de-fende Filipe Côrtes, estu-dante do 3º semestre de Psicologia. Já Ana Luí-sa Iunes, do 10º semes-tre, não gostou muito da ideia: “O programa não lida com problemas como pragas e doenças que ve-mos nos ratos reais”.

Apesar de ser um pro-grama de computador, o software funciona a par-tir de vídeos verídicos. Ao todo, são cerca de 1.800 trechos de imagens. Trata-se da simulação de uma experiência antiga na área, realizada por Ivan Pavlov em 1900. Ele descobriu o chamado reflexo condicio-nado, comprovando que é possível condicionar al-guém a partir de privação e recompensa.

A representante da Vete-Filipe Côrtes, 3º semestre de Psicologia, usou o CyberRat e achou o programa prático

Laboratório

6

rinária no Comitê de Ética da UnB, Cristine Martins, apóia o uso de simula-dores, mas não acredita que eles sejam capazes de substituir as cobaias. Cris-tine explica que a Univer-sidade se preocupa em promover o respeito às cobaias, que são ne-cessárias para novas descobertas e avanços científicos.

Uma das providên-cias para reduzir o núme-ro de eutanásias é utili-zar menos cobaias e promover o rodízio entre os alunos. “To-dos os projetos que têm aula prática devem passar pelo comitê. Os pro-fessores mandam a ementa e nós analisamos. Antiga-mente isso era optativo, mas com a aprovação da Lei Arouca, que regula-menta o uso de animais em experimentos, o pro-cedimento tornou-se mais rigoroso”, diz Cristine. •

Última tendência: verde Pesquisa da Sociologia aponta para a ascensão do movimento ecofashion

ANA CAROLINA SEIÇA

PRISCILA CRISPI

A moda agora é ecobag, ecoponto de coleta, ecovilas... E quem não adere é politicamente in-correto. Mas será mesmo que todo mundo que

consome esses produtos tem consciência ambiental? A doutoranda da Universidade de Brasília (UnB) Josi Paz revela que não. Ela descobriu um novo perfil de consu-midores verdes: aqueles que transformaram um suposto cuidado com o mundo em sinal de status social.

A pesquisadora explica que atualmente a população em geral possui maior poder de compra, e consumir verde passou a ser uma forma de se diferenciar. “O ‘con-sumidor consciente’ se sente melhor que os outros”, diz. O fato de os produtos naturais serem exclusivos os tor-na mais caros e só quem tem acesso são as pessoas de maior poder aquisitivo. A pesquisa, que será concluída em um ano, indica que esse tipo de consumo está mais ligado à estética do que à consciência.

Ela enfatiza que a sociedade se organiza em torno do consumo. Com isso, ser um consumidor ecologicamente correto equivaleria a tornar-se um ser humano melhor. Porém, Josi explica que apenas a substituição de produ-tos tradicionais pelos naturais, característica das classes mais altas, não configura um comportamento consciente por não incluir a reutilização e redução da compra.

Vânia de Morais, consumidora de produtos naturais há alguns anos, conta que só começou a levar em conta a preservação ambiental na hora da compra devido à influência da mídia. “Fiquei sabendo muito pela revista

se a indústria é ecologicamente correta. “Mas tem aque-les que compram pra dizer ‘eu sou naturalista, tenho consciência, sou mais intelectual’. Na realidade, não é”, afirma.

Luta de classes

O Instituto Akatu, associação civil que tem objetivo de conscientizar os cidadãos de seus atos de consumo, desenhou o suposto perfil desse novo comprador. Nele, os consumidores indiferentes somam 3%; o grupo dos iniciantes, 54%; os comprometidos são 37%; e os cons-cientes, 6%. Os critérios para encaixe foram estabele-cidos pela adesão de uma a 13 atitudes responsáveis estabelecidas pelo instituto, como evitar deixar lâmpa-das acesas em ambientes desocupados e até apresen-tar queixa a algum órgão de defesa do consumidor. As classes A e B aparecem como as campeãs em represen-tantes conscientes.

Segundo pesquisa do jornal O Globo, os produtos sustentáveis podem chegar a custar cinco vezes mais que o produto tradicional. A diferença de preço reforça a ideia de que o consumo verde é inviável para as classes C e D, que priorizam a economia como valor de com-pra. “Se eu tivesse meu salário, com certeza compraria esses produtos”, conta a estudante de Serviço Social da UnB Karina Almeida. “São muito caros.”

As pesquisadoras Maria Elisabeth Goidanich e Car-men Silvia Rial, da Universidade Federal de Santa Cata-rina (UFSC), desenvolveram um estudo sobre os hábitos de consumo de dez donas de casa. Elas destacam que muitas dessas mulheres entendem consumo consciente como economia, “comprar o que pode pagar”. A preo-cupação ambiental ficaria em segundo plano.

Em contrapartida, a pesquisa de Josi demonstra que ainda existem os naturalistas por militância. Reginaldo Bezerra, 45 anos, químico e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), afirma que toda sua família se envolve com a causa ambiental, reciclando o lixo, armazenando óleo de fritura e até restringindo a compra em empresas fast food. “Não existe da nossa parte uma preocupação doentia de nos encaixar social-mente. Mas acho válido se preocupar com o meio am-biente, mesmo por modismo. Acho que as pessoas ainda não se deram conta da gravidade e da necessidade de tomar providências rápidas”, afirma. •

Boa Forma, que eu assino. Me sinto uma consumidora consciente, ultimamente muito mais, com relação a sa-colas de supermercado, essas coisas. Acho que sou mais consciente que a maioria das pessoas”, afirma.

A vendedora Patrícia Amorim, funcionária da loja Mundo Verde, maior rede de produtos ambientais da América Latina, conta que grande parte dos seus cli-entes se preocupa em saber a procedência do produto e

ECOVILA

Cláudio Vicente

Ilustração: Heitor Albernaz

Ilustração: Luisa Malheiros

Page 7: Quinta Edição do Campus 2/2009

Bloco C

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Poucos sabem quem foi Darcy

PLÁCIDA LOPES

- Sei que Darcy é home-nageado na UnB, mas não sei quem foi (Aluna do últi-mo semestre de Economia)

- Não sei quem ela é, nunca ouvi falar (Estudan-te do 2º semestre de Enge-nharia Florestal)

- Sei que é alguém im-portante para a história da UnB, desconfio que é um educador, mas posso es-tar totalmente enganado. (Aluno do 6º semestre de Ciência da Computação)

O Campus realizou uma enquete para verificar se os alunos sabem quem foi Darcy Ribeiro, fundador da UnB que dá nome ao campus do Plano Piloto da Universidade. Mais de 30 alunos, de cursos e se-mestres distintos, foram entrevistados. Do total, 80% não sabiam por que Darcy é homenageado na UnB. E 20% afirmaram que sa-biam quem ele é, mas não conheciam detalhes da his-tória do fundador.

Darcy Ribeiro nasceu

em Montes Claros (MG), no dia 26 de outubro de 1922. Foi antropólogo, es-critor e político. Idealizou a Universidade Estadual do Norte Fluminense. Foi tam-bém vice-governador, se-cretário de Cultura e se-nador. Nessas atividades, criou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, os Centros Integrados de Edu-cação Pública (Cieps) e a Universidade de Brasília, tendo ao seu lado o amigo e mentor Anísio Teixeira, também responsável pela criação da UnB.

“Darcy é um dos per-sonagens mais importante da história do Brasil. No-tabilizou-se por trabalhos nas áreas de educação e antropologia. Ninguém po-de estudar antropologia e história da educação sem pensar em Darcy Ribeiro”, diz Reinaldo Guedes, pro-fessor de Desenho Plásti-co da UnB. Em março de 1995, Darcy foi homena-geado na UnB por ter sido fundador e primeiro rei-tor. No dia, se emocionou ao discursar. “Nada me

comoveu tanto nesta vida de tantas emoções desen-contradas como saber que este campus da Uni-versidade de Brasília terá doravante meu nome”, declarou Darcy Ribeiro. Dois anos depois, morreu em Brasília e foi sepultado no mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro.

Para que Darcy seja mais conhecido, foi criada na UnB uma revista cien-tífica que leva seu nome e

há um projeto para erguer um memorial do funda-dor. Será construído ao lado da reitoria, a partir de julho de 2010. “O pré-dio funcionará como bi-blioteca, realizará pesqui-sas, eventos e atividades culturais”, garante Alber-to Faria, diretor do Cen-tro de Planejamento (Ce-plan), que planeja concluir a obra em um ano.

Quando entram na UnB, os alunos ficam sabendo como se faz a matrícula,

onde ficam suas faculda-des, o RU, a biblioteca, a reitoria. Muitos acreditam que o desconhecimento so-bre a história da UnB se deve à falta de divulgação e de interesse dos estudan-tes. As sugestões são que as semanas dos calouros e de extensão e os meios de comunicação da UnB se-jam aproveitados para fazer uma campanha de divul-gação de Darcy e outros personagens históricos da Universidade. •

Ninguém conhece Agostinho

De 30 alunos entrevistados, apenas seis conhecem a história do fundador da UnB

Em uma caminhada pela UnB, é fácil en-contrar referências a

pessoas importantes para a criação da Universida-de. Nomes como Anísio Teixeira, João Calmon e o idealizador da UnB, Darcy

Ribeiro, podem ser vistos em placas e prédios por todo o campus do Plano Piloto. Uma figura, entre-tanto, passa despercebida pela maioria. O português Agostinho da Silva, impor-tante nome da filosofia do século XX, foi essen-cial na concepção da UnB e sua história parece ter sido apagada da memória

da instituição.No ano de 1961, a con-

vite de Darcy Ribeiro, o filósofo se mudou para a capital do país com uma importante missão: ajudar na formação da Universi-dade. “Agostinho acredita-va em uma educação hori-zontal em que professores e alunos deviam ter igual participação no processo de aprendizagem”, afirma Bruno Borges, aluno de Letras e pesquisador da atuação do pensador por-tuguês.

Em Brasília, Agostinho tinha o objetivo de ajudar a transformar a UnB em uma universidade diferen-te, com outros padrões de ensino, um local onde o conhecimento pudesse cir-cular livremente. Assim, criou o Centro Brasileiro de Estudos Portugueses e o Centro de Estudos Clás-sicos. “O primeiro centro tinha como objetivo pro-mover o intercâmbio do conhecimento de todas as culturas lusófonas de uma

maneira que qualquer in-teressado pudesse pesqui-sar, independente de cur-so ou área de formação”, afirma Borges.

O estilo franciscano do professor chamava a aten-ção, para o bem e para o mal. Para a ditadura que se instalou no país a par-tir de 1964, um português com ampla influência na Universidade não deveria ganhar tanto destaque. “O Agostinho nunca se inco-modou com a ditadura. Com sua grandeza e conhe-cimento, ele estava além de qualquer extremismo”, afir-ma Santiago Naud, profes-sor aposentado e amigo de Agostinho. Para ele, o esquecimento do amigo português se reduz a um único fator: inveja. “Mui-tas vezes não perdoamos a grandeza dos outros. Isso nos leva a puxar o tapete daquele que tem êxito”, conclui.

Um fato que incomo-dou alguns docentes na época foi a construção de

Filósofo português que influenciou a concepção da UnB e criou centros de estudos é esquecido pela comunidade acadêmica

MARIANA HAUBERT

MANUELA MARLA

O comportamento de Agostinho causou polêmica na Universidade

Darcy também foi político, gestor público e um grande estudioso, com mais de 30 obras publicadas

Cláudio Versiani/D.A.Press

Divulgação

LUCAS LEON

Álbum

Blog

Filme

Di melo, 1975

Notas Musicais - blogdomauroferreira.blogspot.com

Z, Costa-Gavras – 1967Clássico do cinema políti-co, o filme retrata de for-ma frenética a história real do assassinato de um líder político grego. Persona-gens marcantes, diálogos inteligentes e ótimas ce-nas de brigas completam a obra.

O cantor e compositor re-cifense, de único álbum, é mais um artista injustiça-do. Não dá para acreditar que ele ficou no anonima-to. Soul, funk e MPB são os sons que enchem os ouvidos de quem escuta a obra.

Dicas

Livro

Os sonhos não enve-lhecem – Histórias do Clube da Esquina, de Márcio Borges, 1996 Integrante do Clube, Már-cio conta com propriedade os causos do movimento surgido na Beagá dos anos 60. O som de Milton, Lô Borges, Beto Guedes e To-ninho Horta criou nova identidade para a música de Minas Gerais.

Notícias, críticas e rese-nhas honestas e inteligen-tes de álbuns, DVDs, shows e futuros lançamentos de todos os estilos pela visão de Mauro Ferreira, um jor-nalista especializado em (e aficionado por) música.

um barraco de madeira no campus. “A Trapa, como era chamada, servia co-mo um internato em que Agostinho dividia o espa-ço com alunos que ele havia trazido da Bahia e não tinham onde morar”, conta João Ferreira, outro professor aposentado que foi amigo de Agostinho.

Em 2006, uma cátedra foi criada no Instituto de Letras. “Criamos a cátedra para que os alunos pos-sam ter contato com o pen-samento de Agostinho e deem continuidade às pes-quisas”, explica o chefe do Departamento de Teoria Literária e Literatura, An-dré Luis Gomes. Pesquisa-dores da UnB estão criando a Associação Agostinho da Silva no Brasil, para estu-dar o pensador. Santiago Naud sintetiza a impor-tância do amigo, que será estudado: “Ele se chama-va Agostinho, mas todos sabíamos que era grande demais para ter um nome no diminutivo”. •

Page 8: Quinta Edição do Campus 2/2009

A manhã de Eliene Salomão se dá entre telefo-nemas e o passeio no bloco onde mora na Asa Norte como filho Eduardo. Ele tem dois

anos e não vê a hora de começar a estudar. A ani-mação tem significado especial para a mãe, que lida diariamente com pessoas que interromperam os estu-dos por dez, 20 anos.

Dos 32 anos de idade, nove são dedicados a ensi-nar Língua Portuguesa no programa do governo fede-ral de Educação para Jovens e Adultos (EJA). À se-melhança de parte dos 70 mil* matriculados no EJA do Distrito Federal, a jornada de Eliene é múltipla. Dividida entre família, empregos de professora e ad-vogada, afirma: “Se pudesse, ficava só com o EJA, massó o salário de professor não é suficiente”.

O almoço é corrido e sem descanso: minutos de-pois, Eliene está no carro rumo a Ceilândia. Depois, vai aos Fóruns de Taguatinga e do Gama. Enquanto percorre quilômetros, fala do trabalho com educação:“EJA é outra realidade. A indisciplina é rara. Ali, o professor tem que lidar com as defasagens do aluno”. Na 5ª série, às vezes é preciso retomar o alfabeto.

Histórias vividas carregam os alunos de maturida-de. Não há educador de EJA que não ressalte a de-dicação dos estudantes, o aprendizado mútuo. “Quem obriga o aluno de EJA a ir pra escola? Ninguém. Eles vão porque têm sede de aprender”, diz Eliene.

Horas depois, Eliene está no Centro de Ensino Médio 15 (CEM 15) de Ta-guatinga. A turma vai chegando devagar para a aula de substantivos. Che-gam o mestre de obras José Manuel e a esposa, mestra dos sabonetes, do-

na Marli. Chegam Andréa, sabida de culinária, Ana Paula dos pães de mel, Pe-dro e seus 56 anos.

Nomes próprios e desconhecidos vão, às 19h, preenchendo o espaço concreto e coletivo da educação de jovens e adultos nas 201* escolas com EJA do DF. Além da troca de experiências, alunos e professores compartilham dificuldades. Rutilene dos Anjos, diretora do CEM 15, afirma que o maior problema é o perfil, de quem estuda e de quem ensina. “Muitos professores não têm especialização em educação para jovens e adultos. Além disso, a incompatibilidade de idades dos alunos é uma verdadeira bomba”. Segundo a diretora, é grande o desafio de trabalhar com adultos e, ao mesmo tempo, com jovens de 18 anos que frequentam o EJA por ser mais fácil de passar do que o ensino regular.

A evasão escolar tem várias causas: ausência de merenda, de material específico(os livros trazem temas infantis ou pré-adolescentes) e reprovação por falta. No CEM 15, metade dos alunos desiste antes do final do semestre. A diretora acredita que discutir as diretrizes educacionais é um grande passo para reverter o quadro.

Os problemas e encantos desse ensino vêm por meio de Eliene, de Marli, mas não se restringem a elas: ecoam nas vozes de tantos outros professores e alunos. Otema estará em evidência em dezembro, quando Belém sediará a 6ª Conferência Internacional de Educação de Jovens e Adultos, promovida pela Unesco. Espera-se que a conferência, que acontece a cada 12 anos e vem pela primeira vez ao Brasil, contribua para melhorar as ações desse ensino que diminui desigualdades. Afinal, “se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda” (Paulo Freire).•

Maturidade

Às 9h, Marli volta da igreja e começa a lavar roupas, as suas e as do marido. A atividade é repetida duas vezes por semana. Não dá para

acumular o serviço. José Manuel, com quem é casa-da há 27 anos, trabalha na construção civil, emprego danado para sujar tudo.

A rotina é sempre a mesma. Marli Prudência, 43 anos,utiliza parte do dia para fabricar sabonetes, cremese sachês perfumados. Além de dona de casa, vendeos produtos em comerciais do DF. Também dá cur-sos para quem quer aprender a arte dos cheiros.“Mas não quero ficar de vendedora de rua, não.Te-nho fé que terei uma vida melhor”. Ela ainda preten-de montar o próprio negócio.

O ofício aprendeu ano passado, quando se mudou para Brasília. Nascida no município de Minaçu, ex-tremo norte de Goiás, Marli já morou em Anápolis, Uberaba e Goiânia. Foi alfabetizada aos 12 anos e cur-sou a 1ª e a 2ª séries na cidade natal. Largou a escola aos 16, quando casou com José Manuel. Em Brasília, re-tomou os estudos.

Hoje Marli cursa a 5ª série do ensino fundamental.Para quem antes tinha vergonha até de falar com as pessoas, os estudos foram essenciais. Desinibida e con-fiante, sai todos os dias para vender seus produtos. Deloja em loja, caminha a tarde toda. “Ando tranquila-mente, sem correria. Não me canso, não. Eu gosto”, diz.

ContraCapa

para aprender

* Fontes: censo escolar de 2008 e Secretaria de Educação (SUBIP/DPEAC/GERPE)

LUDMILLA ALVES

MARCELA ULHOA

Ludmilla Alves

Isabela Horta

Isabela Horta

Ilustração: Luísa Malheiros

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