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ISSN 2359-053x R$ 15 ANO 4 - NÚMERO 47 - SETEMBRO 2018 SOCIOAMBIENTAL p. 22 p. 40 p. 26 PERFIL Simeão Urbano Dias: o goiano que criou Jesúpolis ECOLOGIA Os efeitos da soja no Cerrado BEM-VIVER Sem tempo para a academia? Caminhar melhora a saúde do seu coração p. 08 O CÍRIO E OUTRAS PROCISSÕES DO BRASIL

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ANO 4 - NÚMERO 47 - SETEMBRO 2018

SOCIOAMBIENTAL

p. 22

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PERFIL Simeão Urbano Dias:o goiano que criou Jesúpolis

ECOLOGIAOs efeitos da soja no Cerrado

BEM-VIVERSem tempo para a academia?Caminhar melhora a saúde do seu coração

p. 08

O CÍRIO E OUTRAS

PROCISSÕES DO BRASIL

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COLABORADORES/COLABORADORAS SETEMBRO

EXPEDIENTE

CONSELHO EDITORIAL1. Jaime Sautchuk – Jornalista2. Zezé Weiss – Jornalista3. Altair Sales Barbosa – Arqueólogo4. Ângela Mendes – Ambientalista5. Antenor Pinheiro – Jornalista 6. Elson Martins – Jornalista

7. Emir Sader – Sociólogo8. Graça Fleury – Educadora9. Jacy Afonso – Sindicalista10. Jair Pedro Ferreira – Sindicalista11. Iêda Vilas-Bôas – Escritora12. Trajano Jardim – Jornalista

Xapuri Socioambiental Telefone: (61) 9 9967 7943. E-mail: [email protected]. Razão Social: Xapuri Socioambiental Comunicação e Projetos Ltda. CNPJ: 10.417.786\0001-09. Endereço: BR 020 KM 09 – Setor Village – Caixa Postal 59 – CEP: 73.801-970 – Formosa, Goiás. Atendimento: Geovana Vilas Bôas (61) 9 9884 4810. Edição: Zezé Weiss, Jaime Sautchuk (61) 98135-6822. Revisão: Lúcia Resende. Produção: Zezé Weiss. Jornalista Responsável: Thais Maria Pires - 386/ GO. Menor Aprendiz: Ana Beatriz Fonseca Martins. Mídias Sociais: Eduardo Pereira. Logística: Calleb Reis. Tiragem: 5.000 exemplares. Circulação: Revista Impressa - Todos os estados da Federação. Revista Web: www.xapuri.info. Distribuição – Revista Impressa: Todos os estados da Federação. ISSN 2359-053x.

Altair Sales Barbosa – Arqueólogo. Bia de Lima – Educadora. Bruno de Carvalho Filizola – Pesquisador. Eduardo Pereira – Sociólogo. Emir Sader – Sociólogo. Izalete Tavares – Estudante. Iêda Leal de Souza – Educadora. Jaime Sautchuk – Jornalista. Lúcia Resende – Educadora. Lúcio Flávio Pinto – Jornalista. Mauricio Bonesso Sampaio – Pesquisador. Zezé Weiss – Jornalista.

Não sou o que como. Não sou o que tenho. Sou o que sonho. Clara Baccarin

ão centenas, incontáveis talvez, as procissões de origem religiosa que se realizam no Brasil todos os anos, ano inteiro. Umas pequeninas, mocozeadas nos mais remotos rincões do país, outras grandes, gigantescas até, mas todas refletem algum momento da história e trazem uma parte de nossa tradição cultural.

Em muitas delas, a hierarquia da Igreja tem pouco controle, pois elas fluem naturalmente por iniciativa popular. Em outras, sequer se imiscuem, tal o distanciamento entre as manifestações e as hostes eclesiásticas. Em tantas mais, contudo, o lado litúrgico ainda é predominante, mesmo após a pregação do Papa Francisco em defesa da participação laica nas atividades religiosas.

Um caso exemplar é o do Círio de Nazaré de Belém do Pará, enorme mistura de liturgia e carnaval que leva mais de 2,5 milhões de pessoas às ruas da capital paraense, todos os anos. Uma grande festa do povo, considerada a maior procissão católica do mundo, pelo mar de gente que atrai.

Esse é o tema da matéria de Capa desta edição de Xapuri, que vocês começam a folhear. Mergulhamos a fundo nos festejos de Belém, esperado e preparado ano inteiro pelo gentio da Bacia do Guajará. E buscamos exemplos de manifestações desse gênero país afora, escolhendo uma de cada região, como amostras.

No entanto, leitores e leitoras terão muito mais a apreciar nestas páginas lindamente ilustradas. A começar pelas histórias de Seu Fiote, um mineiro abnegado que criou Jesúpolis, uma cidade em homenagem a Jesus, nos sertões de Goiás.

Deve lhe chamar atenção, também, mais um vacilo da pomposa Academia Brasileiro de Letras (ABL), que deixou de fora Conceição Evaristo, escritora e militante negra brasileira muito lida e querida até além-fronteiras.

Temos, ainda, os amargos impactos do cultivo extensivo da soja no Cerrado auriverde. Ou a ofensiva conservadora nos governos da América Latina e, no campo da vida saudável, o tanto que caminhadas descontraídas fazem bem ao coração.

São alguns exemplos. Tem muito mais.

Boa leitura!

Zezé Weiss e Jaime Sautchuk

Editores

EDITORIAL

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Picadas de abelha: 5 dicas importantes para aliviar a dor

TRATAMENTO CASEIRO

BEM-VIVER

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O uso mágico das plantas:trabalho para combater tristuras e melancolias

Idosos desprotegidos

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Simeão Urbano Dias:o goiano que criou Jesúpolis

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E quando Carajás acabar?

Os efeitos da soja no Cerrado

Conceição Evaristo: Academia deixa de fora a escritora negra da escrevivência

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Baleia Jubarte: a bailarina dos mares

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Sem tempo para a academia?Caminhar melhora a saúde do seu coração

Xapuri – Palavra herdada do extinto povo indígena Chapurys, que habitou as terras banhadas pelo Rio Acre, na região onde hoje se encontra o município acreano de Xapuri. Significa: “Rio antes”, ou o que vem antes, o princípio das coisas.

Boas-Vindas!

O Círio e outras procissõesdo Brasil

CAPA

América Latina:o Brasil reverte a ofensiva da direita

SUSTENTABILIDADEEstá confuso, mas eu sonho!

Parabéns, Xapuri, pela matéria do Joseph Weiss (Edição 46) sobre a seleção multiétnica francesa de futebol. Boa pesquisa, ótimo texto! Jack Soifer – Lisboa – Portugal.

Em días passados visité el Museo del Índio en Brasília y encontré la Revista Xapuri emitida en el abril, 2018. Leí todos los artículos y les felicito por esse esfuerzo porque en estos tiempos de tanta locura tecnológica son pocas las personas que gustan de ler y mucho menos de escribir.Moises Molinero del Río – Madri – Espanha.

Lendo a Xapuri de julho, me deu muita saudade do Vale da Lua. Eita Goiás, lindo! Stella Coeli Ferreira – São José do Rio Preto – São Paulo.

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CAPA CAPA

A sensação que se tem é de que o mar toma as ruas de Belém do Pará. Um mar de gente. São pes-soas do estado inteiro, do restan-te da Amazônia, de todo o Brasil e até de outras partes do mundo. Chegam a pé, de barco, por todos os meios e caminhos, e nos últi-mos tempos têm somado mais de 2,5 milhões de almas.

Assim é o Círio de Nossa Se-nhora de Nazaré, celebração re-alizada há 226 anos, no segundo domingo de outubro, na capital paraense. É um momento de en-contro da sociedade na fé, na de-

voção, no civismo e na pura di-versão, que vai muito além do seu caráter religioso.

Há manifestações carnavales-cas, de grupos étnicos, de gênero, de protesto, de carimbó, de lundu e de outros ritmos regionais, in-clusive contemporâneos, como a lambada. A cultura se sobrepõe, agregando ano a ano novas ma-nifestações, e por isso o evento é considerado Patrimônio Cultural da Humanidade, pela Unesco.

Em verdade, eventos de rua (e de rios) relacionados à Festa de Nazaré ocorrem desde uma

semana antes, em Belém e nas ilhas da região. Alguns são de ca-ráter puramente religioso, outros são laicos, profanos até, mas não amaldiçoados, pois todos conver-gem no rumo da grande procissão no segundo domingo de outubro.

PASSEIO DA SANTA

O Círio se dá em torno da ima-gem de Nossa Senhora de Nazaré, uma estatueta esculpida em ma-deira, encontrada no ano de 1.700 por um caboclo, junto ao igarapé, ou córrego Murutucu. Ali mesmo,

O CÍRIO E OUTRAS PROCISSÕES DO BRASIL

Jaime Sautchuk

ele ergueu uma capelinha, hoje transformada na suntuosa igreja Basílica Santuário de Nazaré, na cidade de Belém. Mas a procissão só surgiu 93 anos depois.

Várias pesquisas históricas contam que, por diversas vezes, a imagem sumiu dali, mas sem-pre reaparecia misteriosamen-te, o que era tido como milagre. Transferida pra capela do palácio do governo da província, também sumia e reaparecia ao lado do igarapé. Surgiu uma vila ao re-dor do local, o Arraial de Nazaré, que atraía romeiros o tempo todo, em busca de proteção contra as frequentes epidemias que assola-vam a região.

Em 1774, a estatueta foi levada a Portugal, de onde tinha vindo, pra ser restaurada, pois não ha-via santeiros habilitados naquela parte da colônia. Na volta, quase um ano depois, foi recebida com festa no cais do porto e transpor-tada em procissão de volta ao pa-lácio, mas a celebração ainda não era autorizada pela Coroa nem pelo Vaticano e era necessário o aval da Rainha e do Papa.

Foi assim até que, em 1793, o então capitão geral (governa-dor) da província do Rio Negro e Grão-Pará, Francisco de Souza Coutinho, adoeceu e atribuiu sua recuperação à santa de Nazaré. Resolveu por isso devolver a ima-gem à sua capelinha do arraial, o que foi feito em uma procissão no início da noite, sendo necessário o uso de grandes velas (os círios) acesas. Foi a primeira procis-são, que recebeu o nome de círio e passou a ser repetida todos os anos desde lá.

É certo que houve períodos de alguns anos, ainda no século XIX, em que a hierarquia católica se indispôs com organizadores e se afastou dos preparativos, mas a procissão saiu do mesmo jei-to. Ficou claro, assim, que desde aqueles tempos o evento já não era uma possessão da Igreja, pois

esta não detinha mais o contro-le exclusivo sobre os festejos, não apenas rituais.

Mesmo com a volta da harmo-nia, houve mudanças com o pas-sar dos anos, inclusive no trajeto e horário, até chegar ao seu forma-to atual. A mais importante talvez tenha sido a perambulação da imagem por localidades das inú-meras ilhas da Bahia do Guaja-rá, onde também está Belém, nos dias que antecedem ao da procis-são.

Já durante setembro, inúmeras ações da Igreja são apresentadas como preparatórias. São missas, seminários, encontro de jovens, mas tudo no âmbito interno. E este ano houve também a eleição do novo coordenador da Direto-ria da Feira de Nazaré, o reitor da Basílica de Nazaré, padre Luiz Carlos Nunes, a quem cabe cui-dar da parte litúrgica do evento, o que repercute nos horários e na organização da parte formal dos festejos. Mas isso é só uma parte do enredo.

Como atividade formal, mas já festiva, no sábado à tarde, a ima-gem da santa sai de Marituba e Ananindeua, em procissão flu-vial. São barcos de todos os tipos, desde as chatas que transportam automóveis e iates até os peque-nos botes de pescadores, todos enfeitados com muitas fitas, flores e balões, e disparando fogos de artifício e as buzinas que tiverem.

Ao chegar ao porto de Belém, uma multidão aguarda a che-gada, também com fogos. Dali, a imagem sai em carro aberto, dentro de uma berlinda de vidro, sendo seguida por um cortejo de milhares de motoqueiros, em fre-nético buzinaço, indo até o Colé-gio Bittencourt, uma antiga insti-tuição educacional católica, onde passará o dia em exposição.

No início da noite, após a cele-bração de missa, a santa sai de novo pelas ruas de Belém, numa procissão à luz de velas, imitando

aquela de 1793, até a Catedral de Belém, onde passa a noite de vés-pera, sob permanente visitação. Enquanto isso, contudo, a cidade já está em festa. E as casas, lo-jas, muros e outras edificações do trajeto são pintadas e enfeitadas com desenhos, fitas e flores.

TAMBORES DA LIBERDADE

A festa do Círio é, desde o sá-bado, um grande conclave demo-crático, que segue preceitos litúr-gicos, mas também acolhe com aconchego materno os mais di-versos tipos de manifestação. Um evento que abarca muitos outros eventos, profanos, de caráter po-lítico ou puramente carnavalesco, que colocam no mesmo balaio o discurso oficial e muitas outras fa-lações.

Um caso exemplar é o da cha-mada Festa das Filhas da Chiqui-ta, concorrida passeata gay, que desde a década de 1970 encontra ali um espaço pra se manifestar, cada ano mais volumosa. Ocorre como se fosse uma continuação da procissão das velas que leva a imagem da santa do Colégio Bit-tencourt à Igreja da Sé, na noite de véspera do Círio, com suas fan-tasias, bonecos e pequenos carros alegóricos.

E é organizada pelo movimento LGBT, que no Pará tem como líder o cantor e agitador cultural Eloy Iglesias. No momento em que a manifestação das chiquitas com-pleta 40 anos, ele repete com fre-quência que aquele foi um espaço pioneiro no Brasil da luta por re-conhecimento que trava a comu-nidade gay por reconhecimento e inclusão.

Outra manifestação já tradicio-nal também, com mais de três dé-cadas, é o Arraial da Pavulagem, que valoriza os ritmos, danças, brinquedos e outras festas popu-lares do Pará e de toda a Ama-zônia. Sai já no sábado à tarde e ajunta milhares de pessoas na

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mesma Praça da República que à noite receberá as Filhas da Chi-quita e depois percorre o trajeto que o Círio fará no dia seguinte, passando pelo mercado e o centro antigo da capital paraense.

As raízes da cultura regional afloram na avenida. Junto, vem o “Cordão do Peixe-boi” e o “Cor-dão da Cobra Grande”, que lem-bram os brinquedos em madeira da palmeira miriti, artesanato de Abaetetuba e de outras cidades do interior do Pará. São flexíveis, com as partes conectadas por arames, imitando cobras, jaca-rés e outros animais. A madeira branca, bem leve, é desenhada e pintada com tinturas do mato.

Nas ruas, esses brinquedos são reproduzidos em formas gigan-tes e carregados sobre as cabe-ças por foliões da pavulagem – a palavra é sinônimo de fanfarrice, quixotismo, bravata ou presepa-da. Ali, essas peças são feitas com material reciclável, como garra-fas pet, retalhos de tecidos e bo-las de borracha, e requebram no meio da multidão, ao som de mú-sicas regionais.

Nisso também o grupo do Ar-raial da Pavulagem é craque. As danças, enfeites, ritmos e letras das músicas são coletadas nos mais remotos rincões da Ama-zônia. Vêm de manifestações de todo tipo, inclusive festas juninas, de reis, boi-bumbá, rodas de ca-rimbó, lundu, siriá e outras varie-dades musicais.

Também os instrumentos toca-dos pelo grupo nas ruas de Belém são reproduções daqueles usados nos locais de origem, sejam eles de percussão, sopro ou cordas. O mesmo corre com as vestes e adornos.

NOVOS FIÉIS (OU FOLIÕES)

Todos os anos, a Festa do Círio traz novidades. São grupos de fi-éis e foliões que se manifestam das mais diversas formas. A Ro-maria dos Poetas, por exemplo,

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surgiu nos últimos anos e tem por base poetas e escritores que se agrupam nos dias que antece-dem o Círio pra leitura de textos em lugares públicos de Belém, acompanhados por percussionis-tas que fazem a trilha sonora dos saraus itinerantes.

No domingo da procissão, no entanto, é que aparece grande variedade de outras manifesta-ções de grupos étnicos, profissio-nais, religiosos, de gênero e de ou-tras naturezas. Nos últimos anos, até grupos de evangélicos têm sido vistos em meio às hordas de caminhantes. E grupos políticos se renovam, portando faixas e car-tazes com as demandas que este-jam em voga.

De igual modo, dias antes da procissão milhares de romeiros chegam a Belém em carroças, lombo de animais, bicicleta e principalmente a pé, sem falar na grande quantidade que se move em pequenos botes pelas águas que vão bater na costa belenen-se. A maioria leva dias pra che-gar, quase sempre sem dinheiro, levando apenas alguma comida e bebida nas bolsas e alforjes, e sem apoio logístico.

Por isso, em 2016 a Diretoria da Festa de Nazaré criou o projeto “Peregrinos de Nazaré”, que conta com apoio de vários órgãos go-vernamentais, inclusive a Polícia Rodoviária Federal e as secreta-rias de saúde dos municípios da região e do estado.

Esbarra, porém, em um pro-blema burocrático: os viajantes solitários ou em grupos devem preencher antecipadamente um formulário, disponibilizado na In-ternet, pra assegurar o apoio. Po-de-se deduzir, pois, que esse é um obstáculo quase intransponível à grande parte, senão esmagadora maioria deles.

De todo jeito, há também os tu-ristas que lotam a rede hoteleira de Belém nos dias do Círio, dos hotéis de luxo às modestas pousa-das. Eles chegam de outras partes

do país e mesmo do exterior, por avião ou navio, e no ano passado somaram perto de 100 mil pesso-as. Muitos desses ficam em arqui-bancadas montadas no percurso, com ingressos revertidos aos fes-tejos do ano seguinte.

O DOMINGO DO CÍRIO

É certo que desde a noite de sá-bado multidões já se aglomeram nas proximidades da Catedral, na Praça da República, e em vários pontos do trajeto de 5 km que será percorrido no domingo de manhã, até a Basílica de Nazaré. Mas o horário de início e fim da marcha é definido pela Igreja, pois segue a imagem da santa.

Em 2018, ficou definido o ho-rário de 6 da manhã, após missa que se inicia às 5h, com a chega-da pouco antes do meio-dia. Hou-ve períodos em que a caminhada se prolongava até o final da tarde, provocando uma série de proble-mas que as equipes de saúde e de segurança não davam mais con-ta de controlar. Desmaios e brigas eram os mais frequentes.

A segurança na procissão, ali-ás, é feita por uma guarda própria, que hoje tem uns 2 mil componen-tes, entre homens e mulheres, e pela Polícia Militar, com mais de

3 mil soldados. O Batalhão de In-fantaria de Selva (BIS) do Exército e o Corpo de Bombeiros dão apoio, além da Polícia Civil, que reforça o policiamento. São instaladas 20 plataformas elevadas, onde ficam contingentes de PMs e bombeiros, com visão panorâmica de cada trecho do percurso.

Uma das funções principais da guarda do Círio é proteger a ber-linda de vidro onde está a ima-gem da santa e a corda-guia em que muita gente disputa pra se agarrar durante a marcha. É uma corda grossa, tipo aquelas que amarram navios nos portos, feita de fibra de sisal, enleada por um arame fino, com perto de 500 m de comprimento.

Ela fica presa ao carro que leva a santa e estendida pra frente, como manda a tradição. Sua ori-gem está na procissão de 1855, quando a carroça que transpor-tava a imagem da santa atolou na lama e os animais não davam conta de tirá-la de lá. Um dono de armazém do cais emprestou uma corda, que foi presa à carroça e os romeiros puxaram. Virou parte do evento.

A guarda junto dela tem dupla função. Primeiro, evitar conflito entre peregrinos que disputam espaço junto a ela. Segundo, evi-

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CAPA CAPA

tar que ela seja picotada por esses mesmos peregrinos, pois muitos querem levar um pedacinho como relíquia.

Também é muito disputado o lixo deixado pela multidão, con-siderado um luxo pelos catado-res de Belém. Quase não há res-tos orgânicos. . São dezenas de toneladas garrafas pet, latas de alumínio, sacos plásticos e copos de água mineral. Depois de sepa-rado, todo o material é vendido e se transforma em renda para fa-mílias de catadores, que formam diversas cooperativas.

Logo após a procissão, a mul-tidão abarrota um enorme bar-racão onde é servido um almoço com pratos típicos do Pará. As áreas de comércio popular, como o enorme mercado Ver-o-peso, também ficam lotadas, mas a fes-ta ainda não terá terminado.

Nas semanas seguintes, mui-tos outros eventos do Círio ainda ocorrerão, a começar por uma procissão menor, no domingo se-guinte, em que crianças e idosos com dificuldade de locomoção se-guem a imagem da santa pelas ruas próximas ao Santuário de Nazaré. Em verdade, durante o ano todo há eventos relacionados a essa procissão, um símbolo do Pará.

BRASIL AFORA

O Círio de Nossa Senhora do Nazaré é considerado a maior procissão religiosa do Brasil e do mundo, em volume de pessoas. Mas há centenas de outras, com formatos e tamanhos variados, mas todas representativas de um tempo e uma cultura, um pouco da história das cinco regiões do país. Selecionamos meia dúzia delas, como exemplos, que passa-mos a descrever de modo sucinto.

DESFORRA DOS ESCRAVOS

A segunda quinta-feira de ja-neiro é um dia normal, não é fe-

riado em Salvador, na Bahia. Mas a cidade para. É dia da procissão da Lavagem da Igreja do Bon-fim, uma tradicional encenação da desforra dos escravos diante da elite branca que, em 1773, os proibiu de entrar naquele templo católico.

Desde três décadas antes, era realizada a Festa do Bonfim no se-gundo domingo de janeiro. Os es-cravos negros não participavam desse evento, mas eram obriga-dos a lavar a igreja dias antes. A tarefa, porém, era cumprida em meio a cantorias em louvor a Oxa-lá, o orixá que corresponde a Je-sus no sincretismo religioso.

Isso fez com que eles fossem impedidos de entrar no templo, só lavando suas escadarias e adro, mas as portas eram fechadas aos negros. Só que, com o passar dos anos, o ritual da lavagem se tor-nou muito maior do que a festa, tradição que se transformou na principal manifestação da cultura popular baiana, depois do carna-val.

Por volta das 8 horas da ma-nhã, um grupo de baianas do candomblé, devidamente para-mentadas, portando vasos de água de cheiro e vassouras, sai de junto da igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia e toma a dianteira de uma caminhada de 8 km até a Colina Sagrada, onde está o Bonfim. Logo em seguida, sai o bloco afro Filhos de Gandhi, com seus 6 mil figurantes, carro-ças enfeitadas com fitas e flores e o povo em geral.

Esse local da partida é uma praça que fica ao lado do Merca-do Modelo e do Elevador Lacerda, dois conhecidos pontos turísticos da capital baiana. Desde ali, mui-tos grupos de percussão se reve-zam na animação da caminhada.

O caminho percorrido é pela Ci-dade Baixa, área mais pobre de Salvador, percurso o dia inteiro repleto de romeiros, muitos dos quais turistas, que cultivam o cos-tume de aspergir água de cheiro

uns nos outros. Quase todos tra-jam roupas brancas, formando um extenso tapete alvo.

CIDADES HISTÓRICAS DE MINAS

É certo que as principais cida-des históricas de Minas Gerais são palcos de verdadeiras roma-rias o ano inteiro. A religiosidade é seu maior e mais rentável atra-tivo turístico. Mas é na Semana Santa que são realizadas as mais atraentes procissões, eventos que revelam a crendice e o apego das comunidades locais e encantam até os mais cépticos visitantes.

Ouro Preto, Mariana, São João Del Rei, Diamantina, Tiradentes, Sabará, Brumadinho e Congo-nhas são algumas delas. Todas encravadas em vãos de monta-nhas, com traços urbanísticos e arquitetura de uma mesma época (do barroco), dão a sensação de que são iguais, ou muito pareci-das. E são mesmo, inclusive na cultura de seu povo.

Mariana, antiga capital do es-tado e depositária de algumas obras de Aleijadinho, talvez seja a que mais bem resume essas características. Ali, como nas de-mais cidades da região, a procis-são de domingo de Páscoa, em que as ruas são cobertas por ta-petes de serragem tingida e borra de café, ricamente desenhados, e que atrai maior público. Essa, em verdade, é uma tradição do Brasil inteiro.

Em Mariana, porém, ocorre a Procissão das Almas, que ganha as ruas da cidade após a meia--noite da Sexta-feira da Paixão, um evento que só existe lá. Apesar do horário, muita gente acompa-nha essa que, no fundo, é uma evocação à ressurreição de Cristo, celebrada pelos católicos.

Algumas dezenas de volun-tários, trajando roupas brancas com capuz, caminham carregan-do velas acesas e ossos e param diante das igrejas que têm cemi-

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CAPACAPA

térios para rápidos rituais. Uma dessas pessoas, com uma longa foice às mãos, representa a mor-te, e os ossos se referem a uma su-posta “vida eterna”.

NAS SERRAS DO PARANÁ

Na antiga e bela estrada-de--ferro Curitiba-Paranaguá, a li-torina faz mais viagens nas duas primeiras semanas de novem-bro, quando se realiza a Festa de Nossa Senhora do Rocio naquela cidade litorânea. Também as ro-dovias que transpõem a Serra do Mar ficam abarrotadas de carros, bicicletas e gente a pé.

O ponto alto dos festejos é a pro-cissão do segundo domingo da-quele mês, que todos os anos atrai

cerca de meio milhão de fiéis, tu-ristas e festeiros. A romaria é um misto carros, barcos, bicicletas e gente a pé. Nas duas semanas, há uma sequência de ritos religiosos e festas populares, com baladas, gastronomia e shows musicais, com destaque também às comi-das e ritmos regionais.

FRONTEIRAS BOLIVIANAS

As danças do siriri e do cururu, típicas da região pantaneira dos dois Matos-Grossos, têm sido um dos pontos altos da Festa de São Benedito, em Cuiabá, nos últimos anos. Os festejos duram a semana inteira, mas têm seu ápice na pro-cissão em louvor ao santo negro, que ocorre no último domingo de

junho pelas ruas da capital mato--grossense.

Ambas as danças usam a vio-la de cocho pantaneira e ganzá, mas diferem na batida e no for-mato. O siriri é dançado princi-palmente por mulheres, trajan-do saias longas, arredondadas e muito coloridas. Já o cururu é um sapateado tradicionalmente exe-cutado só por homens, como até há poucos anos ocorria também com o catira.

Ambas são originárias de ritos e festas religiosas, em que usa-vam temáticas litúrgicas. São pu-xadas por duplas de cantadores, mas o siriri usa letras longas, com as vozes femininas fazendo coro. Já o cururu é um desafio de vio-la, em que um violeiro lança um

tema e o outro rebate, provocan-do o bate-rebate de improviso.

O ritmo do cururu ficou nacio-nalmente conhecido quando, em 1910, o folclorista e violeiro Corné-lio Pires cantou uma moda nessa toada numa emissora de rádio de São Paulo. Depois, passou a ser um formato muito usado por du-plas caipiras famosas. É, no en-tanto, música de raiz pantaneira.

A festa de São Benedito em Cuiabá atrai gente de toda a re-gião do Pantanal Mato-grossen-se, da região de fronteira e mes-mo da vizinha Bolívia. Um dos temas lembrados com frequência pelos cantadores de siriri e curu-ru é a Guerra do Paraguai, perí-odo em que Cuiabá e toda aquela parte do Brasil esteve sob domínio paraguaio.

SERTÕES DE GOIÁS

O estado mais festeiro do Cen-tro-Oeste brasileiro é, sem dúvi-das, o de Goiás. Quiçá do Brasil inteiro. Isso muito se deve às suas cidades históricas muito bem pre-servadas, como é o caso de Pire-nópolis e Cidade de Goiás, a anti-ga Vila Boa, capital do estado até a construção de Goiânia, na dé-cada de 1940, e mais conhecida por Goiás Velho.

Há várias outras localidades, também surgidas a partir da ocu-pação do que é hoje Goiás pelos bandeirantes, nos anos 1720. A elas, somam-se festejos ligados às águas, nas bacias dos rios Araguaia e Tocantins, e cultos in-dígenas das várias comunidades remanescentes no estado.

A maior de suas festas, em vo-lume de público, no entanto, não está nessas cidades históricas ou ribeirinhas. Está em Trindade, vi-zinha à capital, Goiânia, e regis-trada como município já no século passado, em 1923.

Tudo começou, porém, em 1840, quando os lavradores Cle-mentino e Ana Rosa Xavier acha-ram no campo um medalhão de

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A cada ano, entre os me-ses de julho e outubro, as baleias Jubarte deixam as águas geladas da Antártida para, depois de mais de 25 mil quilômetros de viagem em total jejum (elas só se alimen-tam de krill e pequenos peixes enquanto estão em seu ambiente polar), para acasalar sob o belo canto dos machos e gerar seus fi-lhotes nas águas mornas do lito-ral brasileiro.

A baleia Jubarte (Megaptera novaeangliae), ou baleia-corcun-da, ou baleia-cantora, mamífero marinho da ordem dos cetartio-dactylos, subordem dos cetáce-os e infra ordem dos misticetos, mede em média 12 a 17 metros (fêmea de 16 a 17) e pesa entre 35 e 40 toneladas.

Quando salta, a Jubarte eleva seu corpo quase completamente todo para fora da água. Durante o salto, suas longas nadadeiras peitorais, que chegam a medir até

1/3 de seu comprimen-to total, compa-ram-se às asas de uma ave. Essa é a origem do nome Megaptera, que em grego antigo significa “grandes asas”, enquan-to novaeangliae refere-se ao pri-meiro local onde foi registrada a espécie, na Nova Inglaterra.

Como outras grandes baleias, a Jubarte já foi muito ameaçada pela caça industrial. Elas foram caçadas até a beira da extinção e, até a Moratória de 1966, a espécie foi reduzida a cerca de 90% de sua população. Hoje existem cerca de 80 mil exemplares na natureza. Mesmo com o fim da caça comer-cial, as baleias ainda sofrem com várias ameaças: emalhamento em redes de pesca, colisão com embarcações e poluição.

BALEIA JUBARTE: A BAILARINA DOS MARES

Izalete Tavares

cerâmica com a imagem da San-tíssima Trindade – ou Pai, Filho e Espírito Santo, na crença católica.

O casal passou a fazer rezas em casa, que começaram a juntar gente, e esses fiéis divulgavam su-postos milagres que teriam ocor-rido a partir desses cultos. Assim, o público foi crescendo continua-mente, ano após ano. Hoje, a vila que surgiu no local tem 130 mil habitantes e durante 10 dias, en-tre o final de junho e início de ju-lho, realiza a Festa do Divino Pai Eterno, que provoca intensa ro-maria de gente.

Segundo dados do governo do estado, mais de 2,5 milhões de pessoas passaram pela cidade durante os dias da festa, em 2018. São romeiros que chegam de to-das as partes de Goiás e estados vizinhos, grande parte a pé, em penitência, e participam de perto de 200 missas e outros ritos reli-giosos.

ROMARIA CANDANGA

No Distrito Federal, a encena-ção da morte de Cristo, realizada na sexta-feira da Semana San-ta, completou este ano sua 45ª edição. A Via-Sacra do Morro da Capelinha, como é conhecida, é realizada na cidade-satélite de Planaltina, que já existia antes do surgimento de Brasília, e neste ano foi acompanhada por perto de 150 mil pessoas.

A representação foi criada por um grupo de teatro local, mas hoje tem a participação de 1.400 voluntários da própria comunida-de, 800 dos quais atuando como atores (soldados, apóstolos, Maria e o próprio Jesus), em trajes simi-lares ao da Roma Antiga, e 600 no apoio técnico, na contrarregra.

Izalete Tavares@izaletetavaresFonte: http://www.baleiajubarte.org.br/

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CONSICÊNCIA NEGRA CONSICÊNCIA NEGRA

Iêda Leal de Souza

CONCEIÇÃOEVARISTO: ACADEMIA DEIXA DE FORA A ESCRITORA NEGRA DA ESCREVIVÊNCIA

O dia 30 de agosto de 2018 era para ser um dia his-tórico para a literatura produzida por mulhe-res negras brasileiras, mas não foi. Concei-ção Eva-risto, uma das mais importan-tes escrito-ras brasi-leiras, teve apenas um voto para a Academia Brasi leira de Letras (ABL), cria-da por um dos maio-res escri-tores bra-sileiros de todos os tempos, o negro Joa-quim Maria M a c h a d o de Assis.

Em uma votação secreta, o ci-neasta Cacá Diegues foi eleito, com 22 dos 35 votos, para a ca-deira número sete da Academia Brasileira de Letras (ABL). O Bra-sil perdeu a chance de ter uma combativa escritora negra na ca-deira de Castro Alves.

O furacão literário da luta contra o racismo, a homofobia, a misoginia e a violência contra a população negra ficou de fora dos salões dourados de uma aca-demia que, segundo Dodô Vieira em matéria do G1, não merece o talento engajado de Conceição Evaristo. Vieira vai além:

“Nossa literatura acadêmica é composta, basicamente, por bra-sileiros que não têm o costume de ir ao encontro do mundo. Nossa

arte clássica é, em geral, produzi-da por artistas que nunca saíram da sombra, que pouco saíram de casa, e que baseiam sua vivência de mundo em uma vivência exclu-sivamente intelectual e elitizada. Não sujam as mãos, não colocam os pés na terra, não vão ao encon-tro do outro. Por isso, a Academia Brasileira de Letras não merece Conceição Evaristo.

A ABL é uma instituição que, afinal, só é notícia quando há a morte de um membro e na eleição do substituto. Uma espécie de in-voluntário cemitério de elefantes, onde se migra para esperar a vi-sita definitiva da grande senhora. Mais um retiro do que um lugar vivo, que produz, pulsa, compar-tilha.

Afirmo na condição de autor de ‘Fé na Estrada’ (Ed. Leya/Casa da Palavra), eleito recentemente por voto popular um dos 25 romances mais importantes do século XXI. Entre autores consagrados, qua-se todos homens brancos. Afirmo em consonância com meu amigo Luís Fernando Veríssimo que, ano após ano, recusa o convite para se candidatar a uma vaga na Academia.

A ABL não está em movimento. Já Conceição Evaristo está. E, de certa forma, é. A autora criou o incrível termo Escrevivência – ‘um jogo acadêmico com o vocabulá-rio e com as ideias de escrever, vi-ver e se ver’ –, segundo a autora. É essa a principal revolução que Conceição Evaristo levaria, se ti-vesse sido eleita hoje para uma cadeira da ABL que, blindada, casa fechada, não incorporaria.

Conceição Evaristo seria a pri-meira mulher negra a integrar a ABL. Não foi. Mas isso diz mais a respeito do Brasil, da Academia, e de nossa Cultura, do que sobre a autora.

O movimento não é uma novi-dade para o negro. O negro está em constante movimento. E, em um momento no qual acontece no Cine Odeon o Encontro de Cine-ma Negro Zózimo Bulbul – Brasil, África e Caribe, reunindo cente-

nas de cineastas negros, em que Gilberto Gil palestra sobre Ino-vação e Tecnologia, no Teatro Oi Casagrande lotado, as rodas de Slam ocupam praças nas perife-rias, e uma FLUP (Festa Literária das Periferias) se concentra na região do Cais do Valongo, para promover seminários como a ‘Es-crita Preta’ e, em parceria com a TV Globo, prepara roteiristas ne-gros de TV, evidencia-se isso.

Hoje, parece que todo o movi-mento que há na cidade é negro.

E Conceição Evaristo, toda ela movimento e escrevivência, um exemplo já no radar de meninas negras de periferia que descon-fiam, com razão, de que sua ori-gem de classe e cor de sua pele as impeçam definitivamente de se-guirem a carreira de escritoras.

O movimento de Conceição Evaristo é tão vigoroso que é ca-paz de colocar em movimento tudo em volta. É capaz de escrevi-ver um futuro.

Enquanto nossa ABL, distante da vida aqui fora, insiste em ser um jazigo do passado”.

Da mesma forma que Caroli-na Maria de Jesus, Ana Maria Gonçalves, Alzira Rufino e tan-tas outras, não será o desprezo do que o articulista Zulu Araujo, colunista da revista Raça Brasil, chama de “circuitos fechados e ensimesmados da elite intelectual brasileira” que nos tirará o brilho dos escritos e da militância da grande Conceição Evaristo que, do alto de seus 71 anos, seguirá nos mantendo alertas e em mo-vimento.

Iêda LealVice Presidenta do SintegoSecretária de Combate ao Racismo da CNTEConselheira do Conselho Estadual de Educação – CEE/GOCoordenadora do Centro de Referência Negra Lélia GonzalesCoordenadora Nacional do Movimento Negro Unificado – MNU Vice Presidenta da CUT – Goiás

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Depois do auge dos governos antineoliberais na América La-tina, a direita retomou iniciativa e desatou uma forte contraofen-siva de restauração neoliberal. Esse movimento começou com a violenta oposição e o isolamento internacional do governo de Nico-las Maduro, na Venezuela. Seguiu com a vitória eleitoral de Mauricio Macri na Argentina. Continuou com o golpe no Brasil.

Teve seu novo episódio na der-rota da consulta popular feita pelo governo de Evo Morales sobre sua possibilidade legal de se candida-tar a um novo mandato. E se com-pletou com a reversão do governo

de Lenin Moreno que, eleito pela esquerda e com o apoio decisivo de Rafael Correa, mudou de rumo rapidamente e passou a aderir ao movimento de restauração con-servador no continente.

Este ano seria decisivo para os rumos futuros da América Latina, em particular pelas eleições em dois dos países de mais peso na região – México e Brasil. No México se deu a vitória da esquerda, com a eleição de Lopez Obrador. Mas esse governo poderia ficar isolado e não representar uma virada no conjunto da situação do continen-te, conforme se desse o resultado eleitoral no Brasil.

Emir Sader

AMÉRICA LATINA:O BRASIL REVERTE A OFENSIVA DA DIREITA

A virada conservadora no con-tinente teve no golpe brasileiro seu momento determinante, ao somar à derrota da esquerda na Argen-tina, um outro governo de direita, desarticulando o eixo que havia sido responsável pelos avanços no processo de integração latino--americana. Desse papel, os dois países passaram a ser referência do novo panorama latino-ameri-cano, com predominância de go-vernos de direita.

Daí a importância também la-tino-americana e internacional das eleições brasileiras deste ano. Caso a direita conseguisse, atra-vés de novas artimanhas e violên-

CONJUNTURA CONJUNTURA

cias institucionais, manter-se no governo, a virada para a direita se projetaria como um processo con-solidado e longo no tempo. Caso, ao contrário, a esquerda retorne ao governo, muda a correlação de forças na América Latina, com os governos do Brasil e do México passando a ter um protagonismo essencial na retomada da inte-gração continental.

A vitória que se vislumbra da esquerda no Brasil, além do imen-so significado que terá dentro do País, brecando a mais brutal ofensiva de direita em muito tem-po no País e, ao mesmo tempo, ini-ciar um processo de reconstrução de um projeto anti-neoliberal, sig-nificará que, pela primeira vez, a contraofensiva conservadora terá sido revertida em um dos países em que ela se deu.

O conjunto de eleições presiden-ciais de 2018, apesar dos triunfos

direitistas no Chile e na Colôm-bia, principalmente, terá um sig-nificado de retomada de gover-nos antineoliberais, interrompida com a ofensiva direitista. Caso se confirme a projeção de triunfo da esquerda no Brasil, Lula voltará a se projetar como o maior líder popular no continente e mesmo no mundo, voltando a desempe-nhar um papel estratégico para o futuro da esquerda na região e no mundo.

Além de que o Brasil imediata-mente reassumirá seu lugar nos BRICS, propiciando a retomada da integração latino-americana nesse projeto de construção de uma nova ordem mundial.

O esgotamento da política eco-nômica do governo Macri dificul-ta muito seu projeto de reeleição em 2019, embora não seja claro o tipo de articulação que possa predominar na oposição e suas

possibilidades de vitória. O mes-mo deve acontecer no Uruguai, em que o governo de Tabaré Vazquez recupera seu apoio popular e a oposição não consegue ter uma candidatura com maior potencial político.

De qualquer maneira, uma eventual vitória da esquerda no Brasil, somada à do México, terá certamente consequências sobre o conjunto do continente e sobre os destinos futuros de vários paí-ses. Será possível frear o processo de desintegração da integração latino-americana, que afeta du-ramente o Mercosul, a Unasur e a Celac, e dar um novo impulso e abrangência a esses processos.

Emir Sader Sociólogo Autor do livro “O Brasil que queremos. ”

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ECOLOGIA ECOLOGIA

OS EFEITOSDA SOJA NO CERRADO

Altair Sales Barbosa

A soja é um alimento de valor nutricional inques-tionável, com capacidade de gerar diversos produtos para várias finalidades. Entretanto, botanicamente é sazonal e tem raízes subsuperficiais, o que exige cui-dadoso estudo quando esta planta ocupa locais estra-tégicos do ponto de vista ambiental e substitui plantas com sistemas radiculares complexos. Por isso o plantio deverá seguir normas rígidas de zoneamento ecológi-co e de planejamento ambiental, para que elementos importantes da ecologia regional sejam preservados.

Inicialmente apenas uma espécie de soja foi intro-duzida no Brasil. Após experimentos patrocinados

pelo governo e por empresas para corrigir a acidez e o oligotrofismo do solo do Cerrado, com a utilização de calcário específico, adubos químicos e herbicidas, essa espécie adaptou-se muito bem no ambiente dos cha-padões tabulares do oeste da Bahia, como também em chapadões localizados em outros estados situados no espaço geográfico coberto pelo sistema biogeográ-fico do Cerrado.

Esses chapadões, conhecidos também como cam-pinas, são ambientes de relevo plano, vegetação ras-teira e altitudes que oscilam entre 900 a 1000 metros, acima do nível do mar. Após esses experimentos que

aconteceram no início da década de 1970, o plantio dessa variedade se deu de forma indiscriminada.

Toda vegetação nativa foi retirada de forma avassa-ladora. O manejo do solo aconteceu de forma dinâmi-ca. No início, plantava-se somente no período chuvoso, mas com a abundância de água e com o desenvolvi-mento de sistemas de irrigação movidos inicialmente por geradores a diesel, depois com energia hidrelétrica implantada pelos governantes, o sistema de irrigação foi dinamizado, permitindo o cultivo durante todo ano, inclusive na estação seca.

Como se trata de uma planta exótica, esta trouxe para a região vários tipos de insetos e larvas simbióticas que se associaram a alguns insetos nativos e larvas que tam-bém aproveitavam das novas plantas para se alimenta-rem, já que as plantas nativas foram retiradas. Este fato obrigou a utilização de toneladas de venenos para serem dispersas de várias formas, incluindo a forma aérea, para pôr fim aos predadores das novas plantas.

Isso desencadeou um processo acelerado de dese-quilíbrio, acabando com a fauna nativa de modo geral, incluindo as abelhas indígenas, sem ferrão, classifica-das como meliponae. As plantas nativas que tentavam rebrotar, através das raízes, eram combatidas com her-bicidas específicos. A utilização desses agentes provocou a contaminação do solo, depois a contaminação das águas subterrâneas e depois a contaminação das pró-prias águas superficiais.

Num primeiro momento, o primeiro grande impacto social causado por este modelo foi a impossibilidade de os vaqueiros utilizarem o capim nativo para ali-mentação do gado criado extensivamente. Primeiro porque o gado estragava as novas plantações, e tam-bém porque o capim nativo havia sido retirado. Outro fator é que os seguranças dos “novos” proprietários os impediam de levar o gado.

Para entender tal situação, é bom que se explique que essas terras ocupadas para plantação de soja eram terras devolutas e que, quando a pastagem em função de uma estiagem mais prolongada secava nas partes mais baixas, o gado criado ali era transportado para as partes mais altas, onde o pasto composto por gramíne-as nativas permanece verde toda época do ano.

Os nativos que, sazonalmente, faziam uso dessas terras reuniam o gado durante a época do regresso em cercados primitivos que recebem o nome de fechos. Es-sas pessoas tinham às vezes a titulação provisória das terras. O título definitivo é dado pelo Estado. O novo pro-prietário adquiria esses títulos definitivos e, uma vez em suas mãos, expandia em muito os limites adquiridos.

Os chapadões tabulares ou campinas são os gran-des responsáveis pela recarga dos aquíferos, primeiro porque a vegetação, que possui um sistema radicular peculiar, não deixa escorrer as águas das chuvas. Se-gundo, porque a própria geomorfologia plana faz com que esse escoamento não exista, ou seja restrito.

Os impactos advindos dessa situação podem ser as-sim resumidos:

1. Redução dos níveis dos aquíferos, que acontece principalmente por causa da retirada da cobertu-ra vegetal;

2. Redução do patrimônio genético com a destruição de comunidades vegetais, com potencial farma-cêutico. Aliás, muitas das plantas componentes desse subsistema já estão incorporadas na far-macopeia universal, como é o caso da douradinha (Palicuria couriácea), com princípios ativos para várias funções reais;

3. Modificação do solo, impedindo no futuro, quando necessária, a revitalização com plantas nativas;

4. Extinção de animais endêmicos, pela ação de her-bicidas e inseticidas;

5. Contaminação do solo e dos lençóis de água pela grande utilização de agrotóxicos.

Do ponto de vista social, aconteceu a desestrutura-ção de um sistema de ocupação humana secular, fato que poderá em curto espaço de tempo ser o estopim ainda maior de grandes conflitos sociais.

Embora a soja seja originária da China, foi no Bra-sil em que essa planta sofreu as maiores modifica-ções científicas. Hoje o Brasil produz sementes de soja adaptadas a diversos microclimas.

De posse dessa tecnologia, os grandes proprietá-rios rurais expandiram suas plantações para diversos subsistemas de Cerrado, como o cerrado strictu sen-so, cerradão, as veredas e os cerrados existentes nas mesetas dos interflúvios, que são aqueles espaços que separam as microbacias. E assim, dessa forma, alcan-çaram todo o Cerrado, criando infraestrutura de su-porte para o escoamento, vários pontos urbanos novos surgiram e as comunidades que viviam dos sistemas agrícolas tradicionais foram ou estão sendo totalmen-te desestruturadas.

Quase tudo que era consumido nos antigos centros urbanos, nos povoados e nas fazendas, era produzido com base no sistema familiar: feijão, arroz, mandio-ca, com seus inúmeros subprodutos, açúcar mascavo, açúcar refinado, cachaça, frutas, doces, café, carnes, tecidos de algodão etc. As poucas coisas importadas eram o sal e as ferragens. Quase tudo era produzido no próprio local.

O avanço da agricultura intensiva acabou com esse sistema. E os sistemas de irrigação utilizados que aca-baram primeiro com a vida aquática, agora estão ti-rando dos rios a pouca água existente.

Altair Sales BarbosaDr. em Antropologia e Geociências Smithsonian Institution de Washington D.C. USA - Pesquisador do CNPq - Membro Titular do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás

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CADERNOSAÚDE

SETEMBRO:TRÊS CORES, QUATRO CAMPANHAS

COMPROMISSO

RELACIONAMENTOCRIATIVIDADE

QUALIDADECONTEÚDO

TAMANHO

ARTE

ESTÉTICAPONTUALIDADE

PONTUALIDADE

FORMATOSCRIAR CORES

SUSTENTABILIDADE

Pati Sales - 61 99554-1063 | 3591-4070

SETEMBRO AMARELO:

Campanha do Centro de Valorização da Vida (CVV) para a prevenção do Suicídio, a quarta causa mais comum da morte de jovens no Brasil. No mundo todo, uma pessoa se mata a cada

40 segundos.

SETEMBRO VERMELHO:

Campanha de alerta para a importância da prevenção das doenças cardiovasculares. A campanha alerta para a adoção de práticas saudáveis, como fazer caminhadas diárias, para manter o coração saudável.

S E T E M B R O VERDE:

Campanha para a conscientização sobre a doação de órgãos. O Dia Nacional de Doação de Órgãos e Tecidos é o 27 de setembro. O Setembro Verde é usado também para as campanhas de prevenção do câncer de

intestino.

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BEM-VIVER BEM-VIVER

CADERNO SAÚDE

SEM TEMPO PARA A ACADEMIA?CAMINHAR MELHORA A SAÚDE DO SEU CORAÇÃO

A caminhada é um exercício democrático e sem contraindicação. Pode ser praticada em qualquer lugar e por qualquer pessoa. Por ser amena e estimular o batimento car-díaco, é considerada a melhor atividade para o coração.

Segundo a Associação Americana do Co-ração, a prática regular da caminhada di-minui em 9,3% o risco de alguém desenvol-ver uma doença cardíaca, reduz em 4,3% a probabilidade de apresentar colesterol alto e em 7,2% o risco de sofrer de hipertensão.

Durante uma caminhada, os vasos san-guíneos ficam mais relaxados e dilatados, facilitando a circulação e diminuindo a pressão arterial. Desta forma, o coração tra-balha com menos resistência, o que diminui o risco de problemas como infarto e AVC.

Caminhar também ajuda a controlar os níveis de colesterol no corpo, porque não só diminui a produção de gorduras ruins (LDL) – que pode resultar em problemas como a aterosclerose, um acúmulo de gordura nas artérias que obstrui a passagem de sangue – como também age elevando os níveis de HDL, o chamado colesterol bom, essencial para o funcionamento do organismo.

Outro fator de risco para doenças cardí-acas, que também pode ser regulado atra-vés da caminhada, é o diabetes. Isso ocorre porque a produção de insulina, substância que absorve a glicose nas células, aumenta durante a prática deste exercício, uma vez que a atividade do pâncreas e do fígado é estimulada.

CADERNO SAÚDE

DF

Apesar de a caminhada ser uma ativi-dade mais amena, um estudo da Associa-ção Americana do Coração, publicado no periódico “Asteriosclerosis, Thrombosis and Vascular Biology”, mostrou que caminhar tem os mesmos efeitos que correr na redu-ção dos riscos de doenças cardíacas. Se-gundo os especialistas, caminhar e correr desenvolvem o mesmo grupo de músculos.

BENEFÍCIOS PARA TODO O CORPO

Além de proteger o coração, a cami-nhada também beneficia pulmão e ossos. As trocas gasosas que ocorrem durante a respiração passam a ser mais poderosas quando se caminha com frequência, faci-litando a limpeza do pulmão, dilatando os brônquios e prevenindo algumas inflama-ções das vias aéreas.

A movimentação dos ossos durante uma caminhada faz com que haja maior quan-tidade de estímulos elétricos, chamados piezelétrico, que facilitam a absorção de cálcio, deixando os ossos mais resistentes e menos propensos a desenvolverem oste-oporose.

Pessoas que caminham também contro-lam melhor o peso. A atividade aumenta o gasto energético, queimando gorduras lo-calizadas. Uma pesquisa da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, mostrou ainda que mesmo após a atividade a pessoa con-tinua a emagrecer, devido à aceleração do metabolismo.

Fonte: http://www.ladoaladopelavida.org.br. Com edições de Eduardo Pereira.

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TRATAMENTO CASEIRO FITOTERAPIA

CADERNO SAÚDE CADERNO SAÚDE

PICADAS DE ABELHA: 5 DICAS IMPORTANTES PARA ALIVIAR A DOR

O USO MÁGICO DAS PLANTAS:TRABALHO PARA COMBATER TRISTURAS E MELANCOLIAS

As picadas de abelha, vespa ou marimbondo podem causar dor intensa, vermelhidão ou incha-ço mas, exceto para as pessoas que possuem alergia ao veneno das abelhas, ou que são picadas por muitas abelhas ao mesmo tempo, o que não é frequente (nesse caso é preciso consultar um médico imediatamente), a dor normalmente desaparece por completo em algumas horas, e pode ser tratada em casa, com cuidados básicos e remédios caseiros:

1. Remova o ferrão com a ajuda de uma pinça ou agulha;

2. Lave a região afetada com água fria e sabão;

3. Aplique uma pedrinha de gelo enrolada em papel de cozinha para reduzir o inchaço e aliviar a dor;

4. Caso a dor ou o inchaço permaneça, passe uma pomada para picada de inseto, ou aplique um pouco de óleo essencial (diluído em azeite de oliva, para diminuir a concentração) como o de e de lavanda, aloe vera (babosa) ou mel, porque esses remédios caseiros têm reconhe-cidas propriedades antissépticas, antibacterianas e antifungais.

5. Em alguns casos, as pessoas também aplicam pasta de dente, usada de forma comum para pequenas queimaduras. Mas cuidado, algumas peles mais sensíveis podem reagir de forma adversa, então ao primeiro sinal de irritação, lave a ferida com água e sabão!

QUANDO IR PARA O PRONTO-SOCORRO

Normalmente, as picadas de abelha incomodam muito, mas não são prejudiciais para a maio-ria das pessoas. Entretanto, se a vítima for alérgica, uma picada pode ser fatal, se a pessoa não for atendida por médicos imediatamente. Os sinais e sintomas que indicam uma reação alérgica exagerada à picada de uma abelha são:

• Aumento da vermelhidão, coceira e inchaço no local da picada;• Dificuldade para respirar e para engolir a saliva;• Inchaço do rosto, boca ou garganta;• Sensação de desmaio ou tonturas. Caso esses sintomas sejam identificados, deve-se chamar uma ambulância ou levar a pes-

soa de carro para o pronto-socorro mais próximo, imediatamente!

DF DF

Queimar numa telha com brasas alguns ramos de alecrim e louro, junto com uma mão de sal marinho e um fio de azeite virgem.

Defumar a casa três noites seguidas, dizendo com muito fervor: “Espíritos do bem, descei sobre mim vossas bênçãos. Fazei com que meu coração serene, minha visão clareie, meu espírito se desanuvie e minha alma se alegre!”

Fonte: https://www.tuasaude.com/primeiros-socorros-em-caso-de-picada-de-abelha/. Com edições de Eduardo Pereira.

Henda – Em “Segredos de Tias e Flores”. Editora Relume Dumará. Rio de Janei-ro, 1994.

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AVOSIDADE

CADERNO SAÚDE

Apontada como modelo pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), a privatização da Previdên-cia Social chilena, promovida pelo general Augusto Pinochet na dé-cada de 1980, continua vigente e cobrando um preço cada vez mais elevado. O colapso do sistema tem ganhado maior visibilidade nos úl-timos dias à medida que o arrocho no valor das pensões e aposenta-dorias se reflete no aumento do nú-mero de suicídios.

De acordo com o Estudo Estatís-ticas Vitais, do Ministério de Saúde e do Instituto Nacional de Estatís-ticas (INE), entre 2010 e 2015, 936 adultos maiores de 70 anos tiraram sua própria vida. O levantamento aponta que os maiores de 80 anos apresentam as maiores taxas de suicídio – 17,7 em cada 100 mil ha-bitantes –, seguido pelos indivídu-os de 70 a 79 anos, com uma taxa de 15,4, contra uma taxa média nacional de 10,2. Conforme o Cen-tro de Estudos de Velhice e Enve-lhecimento, são índices mórbidos, que crescem ano e ano, e refletem a “mais alta taxa de homicídios da América Latina”.

Uma das autoras da pesquisa, Ana Paula Vieira, acadêmica de Gerontologia da Universidade Ca-tólica e presidenta da Fundação Míranos, avalia que muitos dos

IDOSOS DESPROTEGIDOS

casos visam simplesmente acabar com o sofrimento causado, “por não encontrar os recursos para li-dar com o que está passando em sua vida”.

O fato é que, à medida que a idade avança e os recursos para o acompanhamento e o tratamento médico vão sendo reduzidos pela própria irracionalidade do projeto neoliberal de capitalização da Se-guridade, os idosos passam a se sentir cada vez mais como um far-do para os seus familiares e entes queridos.

JORGE E ELSA

Entre tantos casos, ganhou no-toriedade recentemente o do casal Jorge Olivares Castro (84) e Elsa Ayala Castro (89) que, após 55 anos, decidiu “partir juntos” para “não seguir molestando mais”. A evolução do câncer de Elsa, con-jugada a uma primeira etapa de demência senil, faria com que ti-vesse de ser internada numa casa de repouso. O marido calculou que poderiam pagar, mas somente se somassem ambas as aposenta-dorias e vendessem a casa. Sem qualquer perspectiva, Jorge e Elsa decidiram abreviar suas vidas com dois disparos.

Infelizmente, diz a psicogeriatra

Daniela González, “enfermidades que geram uma impossibilidade de serem enfrentadas economica-mente acabam colocando o tema do suicídio como uma saída hon-rosa”.

Como ficou comprovado, o des-mantelamento do Estado serviu tão somente para beneficiar as corporações privadas que assalta-ram o sistema público de pensões e aposentadorias chileno sob o pretexto de que era deficitário, (até nisso os ladrões e a grande mídia tupiniquins demonstram a mais completa falta de criatividade), por outro de capitalização administra-do pelo “mercado”. A “justificativa” era de que assim seria resolvido o problema fiscal e se abririam as portas ao crescimento econômico. Assim, foram montadas as Admi-nistradoras de Fundos de Pensão (AFP), instituições financeiras pri-vadas encarregadas de adminis-trar os fundos e poupanças de pen-sões. O rendimento destes fundos, com base nas flutuações do “mer-cado”, determina a quantidade de dinheiro que cada pessoa acumu-lará quando chegar o momento da aposentadoria.

Dessa forma, com a capitaliza-ção para fins de aposentadoria in-tegralmente bancada pelo traba-lhador, milhões de pessoas foram

AVOSIDADE

SEM PREVIDÊNCIA PÚBLICA, CHILE TEM SUICÍDIO RECORDEENTRE IDOSOS COM MAIS DE 80 ANOS

obrigadas a entregar 10% de seus salários a arapucas especulativas, sem haver nenhuma contribuição dos empregadores, nem do Esta-do. “Houve crises financeiras nas que perdemos todas as economias depositadas ao longo da vida, por-que ficamos sujeitos aos vaivéns do mercado”, explicou Carolina Espi-noza, dirigente da Confederação de Funcionários de Saúde Munici-pal (Confusam) e porta-voz da Co-ordenação “No Más AFP”.

MULTINACIONAIS

Atualmente, das seis AFPs que atuam no Chile, cinco são contro-ladas por empresas financeiras multinacionais: Principal Financial Group (EUA); Prudential Financial (EUA); MetLife (EUA); BTG Pactual (Brasil) e Grupo Sura (Colômbia), que administram fundos de 10 mi-lhões de filiados. No total, são mais de US$ 170 bilhões aplicados no mercado de capitais especulativos, nas bolsas de Londres e Frankfurt, para serem repassados sob a for-ma de empréstimos usurários aos próprios trabalhadores.

O resultado prático deste meca-nismo, assinala a Fundação Sol, entidade que estuda as condições de trabalho no país, é que a pensão média recebida por 90% dos apo-sentados chilenos é de pouco mais de 60% do salário mínimo, cada vez mais insuficiente para os gas-tos de um idoso.

“Como sociedade, não podemos permitir que pessoas que construí-ram com tanto esforço este país es-tejam passando seus últimos anos na tristeza”, declarou o doutor José Aravena, diretor da Sociedade de Geriatria e Gerontologia do Chile, para quem os suicídios deveriam fazer “soar o alerta para a reflexão sobre como se está envelhecen-do no país”. “Para ninguém é justo viver os últimos anos de sua vida sentindo-se triste ou com vontade de não seguir vivendo”, acrescen-tou, apontando a “dependência e a depressão” entre os principais fato-res do suicídio em idosos.

Fonte: Hora do Povo.

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MEDICINA INDÍGENA MITOS E LENDAS

A LENDA DO PAPAGAIO QUE FAZ CRÁ-CRÁ-CRÁO Papagaio que faz crá-crá-crá antigamente foi um menino muito guloso. Tinha costume de engolir

a comida sem mastigá-la.Uma vez sua mãe achou frutos de batoí, mangabeira, e assou-os na cinza. O filho comeu tirando-os

diretamente do fogo. São frutos cuja polpa viscosa se mantém quentíssima por muito tempo. Comendo-os tão quentes, sapecaram-lhe a garganta e o menino começou a fazer crá-crá-crá, es-

forçando-se por vomitar os frutos comidos.Cresceram-lhe as asas e as pernas, e tornou-se um papagaio que até hoje continua a fazer: crá-

-crá-crá.

Os Katukina empregam partes de alguns animais para despertar deter-minadas qualidades nas crianças. Assim, retiram o tutano (napo) do veado (txasho), animal ligeiro, e esfregam-no nas pernas das crianças para que logo aprendam a andar.

Já do tatu-canastra (pano), recolhem um pouco de sangue (imi) e pas-sam-no na testa das crianças, para que vivam muitos anos. Costumam tam-bém dar a cabeça do pica-pau (voi) para os meninos comerem, a fim de que no futuro saibam derrubar árvores, acertando as partes ocas, para prepa-rar os roçados.

Os Ashaninka batem com a língua do tucano na boca da criança para que ela fale bem. Bater com o pênis do porquinho do mato nos meninos faz com que eles adquiram muita resistência e aprendam a correr na mata.

Alguns seringueiros apreciam as virtudes curativas da banha de capiva-ra, um animal muito fácil de abater e que, por conta disso, acabou se tor-nando muito raro na floresta.

Fonte: Enciclopédia da Floresta. O Alto Juruá: Práticas e Conhecimentos das Populações. Manuela Carneiro da Cunha e Mauro Almeida (organizadores). Editora Companhia das Letras, 2002.

DF

ANIMAIS DE PROPRIEDADES

BENÉFICAS

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Como o envolvimento de professores, pais, e alunos rapidamente transforma o espaço e a vida de todos que ali estudam e trabalham? E em pouquíssimo tempo, em menos de um ano. Foi o que ocorreu na Escola Classe Vila do Boa, em São Sebastião (DF). A escola possui 250 estudantes, sendo 80 de turno integral (40 pela manhã e 40 pela tarde, tendo atividades no turno oposto). E um espaço da instituição estava ocioso, tomado pelo mato.

“A horta estava desativada, sob o pretexto de que era difícil mantê-la em época de racionamento, mas pensamos em alternativas e resolvemos retomá-la. Com o mutirão dos pais dos alunos, nós revitalizamos todo o espaço, tiramos o mato e retomamos o projeto da horta”, diz Stephanie Marina Cardoso Duarte, diretora

da instituição.A parceria com o IFB de São Sebastião

foi útil, pois assim a escola obteve mudas doadas e obteve informações de como manejar a própria horta.

A escola desenvolve 4 projetos no contraturno dos alunos de tempo integral. O espaço maker (introdução à robótica educacional, reaproveitando o lixo eletrônico), o acompanhamento/reforço escolar, a iniciação à música e a horta.

As crianças de 1° ao 5° ano de tempo integral cuidam da horta, colhem seus frutos e fazem a manutenção. “Deu para perceber que os estudantes passaram a se envolver bastante no trabalho da horta. Perceberam que é necessário ter na merenda o que é produzido ali. E muitos deles começaram a consumir as hortaliças, mudaram a postura

alimentar, com os relatos dos próprios pais”, atesta o professor Melquisedek Aguiar Garcia.

Yllre Santos Rocha, tem 11 anos e é aluno do 5ºano. Ele confirma o relato do professor. “Eu gosto da horta porque é um trabalho bonito e as comidas são feitas aqui mesmo, com o que colhemos na horta. A gente leva as folhas de alface que colhemos para a cozinha e as merendeiras preparam tudo para a gente comer. O que eu mais gosto de fazer na horta é tirar os matos que aparecem. Tudo o que a gente colhe na horta eu como”, relata.

A horta tem alface, tomate, cebolinha, banana, coentro, além de várias plantas medicinais. Os alunos irrigam, realizam o acompanhamento das plantas, retiram o excesso de mato que aparece e fazem a colheita. O que colhem vão para o próprio prato, nas refeições da escola, mas algumas vezes, dependendo da quantidade que se colhe, também levam para casa.

“O projeto da horta está vinculado com o nosso programa de educação ambiental. As crianças coletam na cozinha os resíduos da preparação das refeições. Fizemos um curso de compostagem em um viveiro no Lago Norte, foi uma capacitação profissional com educadores sociais voluntários. Então temos nosso próprio adubo”, diz Stephanie.

Inclusive os próprios estudantes estão

produzindo inseticidas naturais. “Os alunos estão pesquisando alguns tipos de inseticidas de forma orgânica, porque sempre aparecem alguns fungos na horta. Então faremos oficinas

aplicando estes inseticidas nas plantas”, diz a diretora.

Os resultados desta iniciativa são notáveis, não apenas no enriquecimento do cardápio de cada estudante, mas também no lado educacional. “As crianças eram muito agitadas. Agora, elas ficaram mais calmas. E também tem todo o aprendizado. Elas trabalham textos voltados para a educação ambiental e o cultivo das plantas. Elas ficaram mais motivadas com a gramática e matemática, com a aplicabilidade da educação ambiental nestas áreas. Os alunos acabam mais envolvidos com os conteúdos porque os trabalhamos de forma dinâmica”, avalia diretora.

A escola semeia na horta e colhe muito mais do que verduras e legumes. Colhe conhecimento, educação e cidadania.

A horta muda a realidade da escola

Fotos: Deva Garcia

Os estudantes da escola se envolvem no plantio, no acompanhamento, na limpeza e na colheita de tudo o que é semeado por lá

A horta transformou a percepção das crianças a respeito do consumo de verduras e legumes. O sentimento é de pertencimento com o que é plantado

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ECOTURISMO GASTRONOMIA

MUSEU DO CATETINHO:

PRIMEIRA RESIDÊNCIA DE JK EM BRASÍLIA

Zezé Weiss

Outro dia, quase que por acaso, fui parar no Museu do Catetinho, um desses lugares mágicos que a gente sabe que existem em Brasília, mas que sempre vai deixando pra visitar depois.

Construído em madeira, e em dez dias, segundo conta a história, o Catetinho serviu de residência provisória para presidente JK em Brasília, até a construção do Palácio da Alvorada. O prédio, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer em1956, foi a primeira edificação tombada pelo Patrimônio Histórico no Distrito Federal, em 21 de julho de 1959.

Belamente cercado de verde por todos os lados, o prédio é mantido com o mobiliário da época, e com uma cozinha caipira com suas colheres de pau, suas

canecas de esmalte e suas moringas de barro de dar gosto!

O Museu do Catetinho fica no trevo do Gama, na BR-040, rumo Belo Horizonte. Da próxima vez que passar por ali, faça como eu, dê uma parada. Naquele ambiente extremamente singelo, a sensação que se tem é de que JK foi, realmente, um homem aventureiro e simples, mas sobretudo um grande camarada!

Lúcia ResendeProfessora

@mluciares

Zezé WeissJornalista Socioambiental

@zezeweiss

CORAÇÃO DE BANANEIRA:UM ANTEPASTO DE PRIMEIRA!

Quem conhece um pé de banana sabe que todo cacho tem um pendão com uma espécie de flor na ponta, que é chamado de um umbigo, ou de coração da bananeira. Pois bem, esse umbigo, muito usado em Minas Gerais, seja refogado, seja como recheio para tortas salgadas e pastéis, dá um excelente antepasto!

Para fazer seu antepasto, é preciso colher o umbigo com as bananas ainda verdes, porque é mais macio, excluir as partes externas até chegar ao coração amarelo. Em seguida, corte o umbigo em rodelas e vá colocando em uma vasilha com água e limão. Escorra, cozinhe em água com uma pitada de bicarbonato, para tirar o amargo. Em seguida, escorra e prove, pra ver se o amargo saiu por completo. Se não, é só repetir a operação. Lave bem, escorra, pingue umas gotas de limão, misture bem e reserve. Depois, em uma panela, coloque um pouco de azeite e refogue a cebola até ficar com aspecto vitrificado. Aí, acrescente o tomate e o pimentão cortados em cubinhos, temperos verdes (manjericão, cebolinha), sal e o umbigo de bananeira, já preparado. Refogue, depois coloque nos potes, cubra com azeite de oliva. Pão sírio, pãezinhos, brioches, torradas ou bolachas servem como acompanhamento!

Todo mundo vai amar, eu garanto!

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REFORMA DA PRESIDÊNCIA: PAUTA VIGENTE PARA ALÉM DO PROCESSO ELEITORAL

A pausa ao ataque da reforma da Previdência sobre a qualidade de vida do povo brasileiro deve aca-bar logo depois das eleições. A sanha privatista do governo golpista e seus aliados de turno no Congresso Na-cional deve tentar aprovar, ainda em 2018, essa reforma nefasta. Aprovei-tamos, então, este momento de tré-gua para fazermos um balanço dos danos que a reforma da Previdên-cia trará para a classe trabalhadora brasileira:

1. Benefícios Assistenciais (BPC/Loas): Proposta prevê o fim da vin-culação dos benefícios assistenciais

Bia de Lima

(como Benefício de Prestação Con-tinuada e Loas) ao salário mínimo e o aumento gradativo da idade para requerer o benefício, de 65 anos para 70 anos, prejudicando principalmen-te as pessoas deficientes e idosas. Mas essa regra também prejudica a grande maioria dos trabalhadores brasileiros, incluindo 77% dos homens e 68% das mulheres, abaixo do cor-te por idade, porque cria um degrau “abrupto” entre pessoas com carac-terísticas semelhantes. Por exemplo: Um homem de 50 anos que começou a trabalhar aos 16 anos poderá se aposentar aos 51,5 anos; outro de 49 anos e também começou a trabalhar

aos 16 anos e portanto, já contribuiu por 33 anos, será obrigado a ficar na ativa por mais 16 anos.

2. Exclusão de servidores estadu-ais e municipais: A proposta original do governo previa o fim da aposen-tadoria especial para professores do ensino infantil, fundamental e médio (30 anos de contribuição no caso dos homens e 25 anos das mulheres), sob a alegação de que as aposentadorias de servidores estaduais e municipais cabem aos estados e municípios, e que do contrário causaria “invasão de competência.” A última versão ex-cluiu os servidores estaduais e muni-

cipais da reforma, incluindo profes-sores e policiais civis.

3. Fim da aposentadoria antecipa-da para mulheres: Hoje as mulheres se aposentam cinco anos antes dos homens. Agora se propõe aposenta-doria em tempo igual para homens e mulheres. O argumento é de que elas vivem mais. O projeto desconsidera que, além de enfrentar uma dupla ou múltipla jornada de trabalho, a gran-de maioria das mulheres brasileiras enfrentam maiores dificuldades para conseguir e se manter no emprego, ganham menos que os homens, e têm dificuldade para contribuir para a Previdência por longos períodos.

4. Fim da aposentadoria especial do trabalhador rural: Hoje, os tra-balhadores rurais se aposentam aos 55 anos (mulher) e 60 anos (homem). O governo, sob o pretexto de que as condições de vida melhoraram no campo, e de que o sistema apresenta fraudes do campo, quer acabar com o sistema especial de aposentadoria para o trabalhador rural, ignoran-do o fato de que em geral as pessoas da roça começam a trabalhar mais cedo, têm dificuldade de comprovar renda, e, também, de que as dificul-dades sociais continuam existindo, especialmente nas regiões Norte e Nordeste.

5. Fim do benefício integral e da paridade: Alegando igualdade de regras do teto do INSS e da aposen-tadoria complementar para todos os trabalhadores. Desrespeitando di-reitos adquiridos, a proposta vigente prevê o fim prevê o fim do benefício integral de aposentadoria para ser-vidores públicos e da paridade de re-

ajuste salarial entre servidores ativos e inativos (para quem entrou antes de 2003).

6. Idade mínima de 65 anos para aposentadoria: A nova idade míni-ma para o trabalhador se aposentar é de 65 anos, para homens e mulhe-res. Os principais argumentos são a demografia – nossa população está envelhecendo, e o aumento da ex-pectativa de vida, de mais 18,4 anos de vida para quem se aposenta aos 65. Entretanto, em outros países do mundo mantém seus regimes de previdência para garantir a quali-dade de vida de seus idosos, mesmo com ou aumento do tempo de vida de suas populações.

7. Mudança no valor da aposen-tadoria: O que se propõe é mudar o modelo de cálculo da aposentado-ria, de maneira que o valor passe a corresponder a 51% 51% sobre as melhores contribuições mais 1 ponto percentual por ano adicional de con-tribuição, reduzindo o valor do bene-fício e, assim, obrigando o trabalha-dor a ficar mais tempo na ativa. Com idade mínima de 65 anos e tempo mínimo de contribuição (que sobe de 15 anos para 25 anos), um trabalha-dor que começou a contribuir aos 16 anos de idade terá que ficar na ativa por 49 anos para receber uma apo-sentadoria integral.

8. Regra de transição: Homens a partir de 50 anos e mulheres a partir dos 45 anos vão poder se aposentar pelas regras atuais, pagando pedágio de 50% sobre o tempo de contribuição que faltar, segunda a proposta do go-verno para a Reforma da Previdência.

9. Pensão por morte: A proposta atual prevê o fim da vinculação ao salário mínimo, proibindo a acumu-lação do trabalhador que contribuiu para ter direito ao benefício integral e da acumulação, desconsiderando a queda de renda na velhice, quan-do se gasta mais com a saúde, com a possibilidade de pensões de valor inferior ao salário mínimo.

GOIÂNIA

Aqui em Goiás, a Prefeitura Municipal de Goiânia avançou a agenda golpista, mesmo em tem-pos de eleição e aprovou, na Câ-mara Municipal no último dia 06 de setembro, a toque de caixa, por 18 a 17 votos, uma reforma da Pre-vidência para o servidor/a muni-cipal, em um processo que come-çou no mês de maio, sem ouvir os servidores/as.

O SINTEGO, é claro, foi contra e, juntamente com o Fórum das Entidades Representativas dos Servidores Municipais de Goiânia, encaminhou para os vereadores/as o pedido de arquivamento da proposta pelo fato de a Prefeitura não ter ouvido os servidores muni-cipais e acompanhou, até o último momento, as manobras da admi-nistração municipal, que condi-cionou o pagamento dos reajustes dos servidores à apreciação do projeto.

Dentre outras, o SINTEGO des-taca as seguintes perdas para o servidor/a público municipal: a fusão dos fundos, o aumento da alíquota de 11% para 14%, e o atre-lamento das contribuições dos servidores ao cálculo atuarial.

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Quando Simeão Urbano Dias acertou com o padre de Jaraguá o nome para o município que aca-bara de criar, o povo simples da região o achou um pouco difícil, de pronúncia complicada. Aquelas poucas dezenas de almas prefe-riam Candidolândia, em homena-gem ao pai de Simeão, ou mesmo Simelândia, em honra ao próprio fundador. Mas Simeão fincou pé, e assim nasceu Jesúpolis, a cida-de de Jesus, localizada nas terras férteis de uma fazendão antigo, na mesorregião central do interior do estado de Goiás.

Corria o ano de 1956. Como era comum nos confins do Brasil, “Fio-te”, o filho mais novo de Virgínia e Cândido Dias, fazendeiros abona-dos, voltava das férias escolares em Belo Horizonte com intenção de fazer parada breve na Fazen-da Pouso Alto. O moço acabara de terminar o ginásio (hoje primeiro grau) e se preparava para seguir os estudos no ramo do comércio. O pai, entretanto, tinha outros pla-nos para o jovem Simeão.

Já fazia anos que as grandes festas religiosas da Pouso Alto vi-

SIMEÃO URBANO DIAS:O GOIANO QUE CRIOU JESÚPOLIS

nham crescendo em fama e inten-sidade, terminando por exigir a construção de uma igreja no meio da mata cerrada. Em torno dela, desde 1948, foi ficando gente, e o local acabou virando um peque-no povoado. Cândido decidiu que para Simeão não haveria mais es-cola na capital de Minas, que era tarefa do menor de seus cinco fi-lhos cuidar do povoado.

Aqueles eram tempos em que no Brasil agrário a vontade do pai era lei, mas Simeão conta que barga-nhou como pôde: “Eu fico, mas só ser for pra criar um município, só pelo povoado não fico, não”. Re-lembrando a prosa agora, con-fortavelmente sentado no sofá de couro da enorme sala de visitas de seu casarão rosado na praça cen-tral da cidade que criou, o único de Jesúpolis com dois pisos e ele-vador, seu Fiote, como é hoje res-peitosamente chamado por toda a comunidade, comenta: “Na ver-dade, eu estava querendo mesmo era escapar, voltar pra Belo Hori-zonte, seguir com meus estudos, minha vocação era estudar”.

Já que não teve jeito, Simeão

PERFIL PERFIL

Zezé Weiss

voltou a BH para buscar seus pertences e, de passo, noivar de aliança no dedo com Maria Lú-cia, menina bonita que conhecera quando ela tinha 13 anos e ele 20, no ano da graça de 1953. Cartas esparsas era só o que restaria ao jovem casal nos anos seguintes. Simeão tomou pra si a tarefa de transformar aquele agrupado de casas de trabalhadores rurais ao redor de uma igreja rústica em um município com registro legal, cida-de-sede com lotes, ruas e praças, e tudo.

E como foi criar um município, construir uma cidade? “Naque-le tempo era fácil, era só definir a planta da cidade, determinar os limites e fazer o registro do muni-cípio. Primeiro, viramos distrito do município de São Francisco, des-membrado de Jaraguá uns cinco anos antes, mas logo em seguida saiu nosso próprio registro, e eu comecei a parte mais difícil, que foi a de desenvolver Jesúpolis. Era tudo eu sozinho, aprendendo na marra”.

Pra fazer a planta da cidade, seu Fiote diz que, como não tinha

engenheiro, comprou um curso de topografia por correspondência do Instituto Universal Brasileiro e foi montando tudo ele mesmo. Hoje, feliz e orgulhoso, o velho pioneiro conta que à época teve a visita de um dos engenheiros da constru-ção da nova capital de Goiás e re-cebeu dele os parabéns. “Seu pro-jeto está tão bom quanto os meus, você podia ter planejado Goiânia!”, disse-lhe o visitante.

Elogios à parte, o resto era só dureza: as ruas eram abertas na base do mutirão, com enxadas e enxadões, as estradas para che-gar a Jesúpolis, também. Já os lotes, esses eram vendidos em tro-ca de dia de trabalho, tanques de gasolina, cachos de banana. Isso fora os que eram doados para as igrejas, praças e órgãos públicos, pro que fosse preciso.

O importante era ganhar ade-são, era fazer a cidade aconte-cer e, no coração dela, construir a sede do Racionalismo Cristão, a doutrina espiritualista adotada em Minas por Simeão, nos tempos de estudante. Para a sede do Ra-cionalismo Cristão, seu ele doou uma quadra de 14 lotes, hoje im-portante mata urbana preserva-da, bem ao lado de seu casarão.

Cidade mais ou menos estru-turada, Simeão resolveu que era hora de cuidar do coração. Maria Lúcia, a noiva mineira, amiga de Márcia e Maristela, de quem era vizinha de porta, havia se muda-do com a família para o Rio de Ja-neiro, para que o pai, assessor de dona Sarah, continuasse servindo à família quando JK virou presi-dente. Era lá que Maria Lúcia, de aliança no dedo, sofria o bullying das novas amigas, intrigadas com a fidelidade dela a um noivo “de-saparecido” por mais de um ano.

Um belo dia Simeão pegou o avião dos Correios em Anápolis, e chegou ao Rio de Janeiro, pron-to pra casar. Entre uma garfada e outra de queijo de minas com goiabada caseira, dona Maria Lú-cia relata que o encontro se deu ao final da tarde, quando ela che-gou em casa cansada e, ao abrir a porta, “deu de cara” com o noi-

vo. “A primeira coisa que ele fez foi olhar pra minha mão, procurando pela aliança”, lembra. Depois, con-firmou com o pai da moça o pedido de casamento.

Embora apaixonada, a ideia de virar fazendeira em Goiás assus-tou a moça acostumada aos sa-lões da Capital, companheira das filhas do presidente da República. Pediu tempo pra pensar. “Vim pra casar, não pra pensar, ou a gente casa, ou notícia minha você não tem nunca mais”, arriscou-se o moço. O casamento aconteceu três semanas depois, no dia 24 de ou-tubro de 1957, às 9 horas da ma-nhã, no Realengo, tendo por tes-temunha apenas o motorista de táxi que os levou para o cartório. A família, obviamente, não fazia gosto.

Os dois voltaram pra casa dos pais dela casados, mas lua de mel não houve. “Isso, só lá em Goiás”, disse categórico o pai da noiva. Dois dias depois, o casal pegou o avião dos Correios pra Anápolis, ela em pânico com as notícias da nova terra: “Lá em Goiás televisão é toco de árvore, rádio é passari-nho cantando em toco de árvore, luz é só em noite de lua mesmo”, aterrorizava o Portuga, ex-patrão de Maria Lúcia.

Não menos traumática foi a chegada da mulher de Fiote à nova morada. “Saímos de Anápolis de táxi. À medida em que ia escure-cendo, a estrada ia acabando, e ia só estreitando a trilha no mato. Horas depois, chegamos à sede da Fazenda Pouso Alto. Desço e a pri-meira coisa que faço é pisar num sapo. De dentro da casa, sob a luz do candeeiro, uma voz feminina anunciou: ‘Fiote casou!’. E foi tudo o que recebemos de boas-vindas.”

Para resistir, em poucos dias Maria Lúcia resolveu assumir múltipla jornada: em casa, apren-dia a acender o fogão a lenha, la-var roupa na bica, depenar fran-go caipira, cozinhar pra peão. Na igreja, começou logo a recrutar alunos. Em 3 de novembro, deu sua primeira aula, tornando-se, assim, a primeira professora do município.

Com o tempo o casal se “ajeitou” na nova vida, teve dez filhos (nove vivos), organizou a vida comunitá-ria, dos partidos políticos às tradi-cionais festas religiosas, que hoje trazem milhares de pessoas para a cidade. Mas sobre sair candi-dato, seu Fiote descarta incisivo: “Nem pensar! Meu partido hoje é Jesúpolis, só Jesúpolis mesmo.”

Amante da vida simples, seu Fiote completa: “Eu gosto mesmo é de receber visita e fazer festa. Fico sempre feliz porque todo mundo que vem a Jesúpolis, de jornalista a político, a cantor famoso, passa aqui pra tomar um café comigo. E fico feliz também porque nossas festas são muito bonitas e mui-to pacíficas, nunca precisam de segurança, nem polícia. Imagine você que este ano, entre as festas de Reis e de São Sebastião (6 a 20 de janeiro), recebemos mais de 15 mil pessoas e não houve uma úni-ca briga!?”.

Jesúpolis é hoje um próspero município de pouco mais de 2 mil habitantes, produtor de arroz, ba-tata, abacaxi, milho e, claro, forte na pecuária. A cidade se orgulha da creche de primeiro mundo que recebeu da Dilma, de suas tardes de conversas pacíficas nas portas das casas, de seu nome que, com o tempo, ficou fácil de falar.

Mas, sobretudo, a comu-nidade jesupolina se orgulha do privilégio de poder conviver, todo santo dia, com a presença amiga de Simeão Urbano Dias e Maria Lúcia Gonçalves Dias. Com o goia-no que, há mais de meia década, voltou pra casa pra fundar e cui-dar de Jesúpolis e, junto com sua companheira, fez ali história.

Zezé WeissJornalista Socioambiental

@zezeweiss

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As cascas de árvores possuem grande importância social, cul-tural e econômica para os seres humanos, e vêm sendo utilizadas para a produção de cortiças, ro-lhas, canelas, fitoativos e taninos.

As rolhas que fecham muitas garrafas de vinho são produzi-das na Europa, principalmente em Portugal, a partir da casca de uma árvore conhecida como so-breiro (Quercus suber). A canela, para dar sabor aos pratos adoci-cados, é obtida da entrecasca da árvore caneleira (Cinnamomun zeylanicun), nativa do sul da Ásia.

ECONOMIA ECONOMIA

IMPORTÂNCIA SOCIALE ECONÔMICA DAS CASCAS DE ÁRVORES

Bruno de Carvalho Filizola, Mauricio Bonesso Sampaio

No Cerrado e na Caatinga, as-sim como em outros biomas do Brasil e do mundo, há diversas espécies arbóreas que produzem fitoativos com funções medicinais.

Os fitoativos são produtos de-senvolvidos com base naquelas substâncias químicas produzidas pelas plantas que possuem fun-ção de nutrição ou de proteção contra as pragas.

Os fitoativos podem possuir propriedades medicinais quando utilizados pelos seres humanos e, atualmente, além de impor-tantes nas farmacinhas familia-

res e comunitárias, também são importantes na economia, com participação em indústrias como a de cosméticos, de fármacos, a fitoterápica, dentre outras.

Os taninos também são subs-tâncias químicas produzidas pe-las árvores com função de pro-teção contra as pragas. Por isso os taninos obtidos de cascas de algumas árvores são utilizados para proteger as fibras natu-rais do couro de boi da ação das bactérias e fungos durante o seu processamento nas indústrias de curtume.

O MERCADO PARA AS CASCAS DE ÁRVORES

No Cerrado e na Caatinga, atualmente as cas-cas de árvores têm sido coletadas principalmente para a produção de fitoativos e de taninos utiliza-dos nos curtumes.

A produção de fitoativos envolve o comércio dos ingredientes naturais para a manipulação casei-ra, e também nas indústrias, sejam pequenas ou de grande porte.

As cascas de plantas usadas para o uso medi-cinal caseiro são comercializadas principalmente em feiras populares, mercados livres, lojas de er-vas e na internet. Essas cascas são usadas para a formulação de remédios caseiros, ou fitoterápi-cos, como chás, garrafadas, lambedores, tintu-ras, entre outros.

Outros produtos do beneficiamento das cascas, como os fitocosméticos, também são encontrados nesses mercados. Esses produtos incluem sabo-netes, xampus, xaropes, cremes, pomadas, gar-rafas e loções.

As cascas coletadas pelos extrativistas tam-bém são comercializadas para as indústrias quí-mica, cosmética, fitoterápica e farmacêutica, que atuam nos mercados nacional e internacional de fitoativos.

Os produtos são feitos utilizando-se princípios ativos isolados de plantas, como em um fárma-co, ou em produtos manipulados com o uso das plantas e outros componentes, como um cosmé-tico, por exemplo.

Devido à alta concentração de taninos, algu-mas cascas são usadas para o curtimento dos couros em curtumes. A produção de couro é gran-de e antiga, envolve muitas pessoas e demanda um volume grande de cascas em todas as regiões do Brasil, especialmente no Nordeste, onde há muitos curtumes que ainda utilizam o processo artesanal de curtimento do couro.

Os taninos são os princípios ativos que tornam espécies como o angico e o barbatimão procura-dos pelos curtumes. Além de serem utilizadas no curtimento, as cascas de algumas espécies são também utilizadas para o tingimento, como o an-gico, que dá a cor vermelha aos couros. Bruno de Carvalho Filizola,

Mauricio Bonesso SampaioPesquisadores. Em “Boas Práticas para o Extrativismo Sustentável de Cascas.” ISPN, 2015.

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MEIO AMBIENTE MEIO AMBIENTE

E QUANDO CARAJÁS ACABAR?

Lúcio Flávio Pinto

Em 2016 entrou em operação a mina S11D, em Carajás, no Pará, depois de um investimento de 14 bilhões de dólares (quase 60 bi-lhões de reais pelo câmbio atual), para a extração de minério de fer-ro da maior jazida de alto teor do planeta, com mais de 4 bilhões de

toneladas. A história desse em-preendimento, o mais caro da mineração neste século, irá du-rar apenas 30 anos. Depois, S11D será apenas um dolorido retrato na parede, como o poeta Carlos Drummond de Andrade previu o destino da extração do minério

em sua terra, Itabira, em Minas Gerais.

Mais motivo para lamentar e se indignar teria o grande poeta se examinasse a história de Cara-jás, a mais importante província mineral do mundo, situada bem no coração do Estado do Pará. A

presença de minério com elevado teor de hematita pura foi compro-vada em 1967 por pesquisadores a serviço da United States Steel, então a maior de todas as side-rúrgicas.

Dez anos depois, a USS se re-tirou da sociedade com a estatal Companhia Vale do Rio Doce, que passou a ser a única dona de to-dos os minérios existentes na área (manganês, ouro, cobre e níquel, além do ferro). No início de 1984, o primeiro trem carregado de mi-nério chegou à ilha de São Luís do Maranhão, 972 quilômetros dis-tante da mina, desembarcando minério para exportação. O prin-cipal destino era o Japão. Agora é a China, que compra quase meta-de de toda a produção.

Quando Carajás entrou em produção, estimava-se que as jazidas iriam durar 400 anos, na escala máxima de 25 milhões de toneladas ao ano. Mas agora se sabe que a exaustão será atingi-da em 76 anos, considerando-se as três minas em atividade, em 2060. A escala de produção subiu para 10 vezes mais do que o limite máximo do projeto original.

É uma situação muito mais dramática do que a do quadrilá-tero ferrífero de Minas Gerais. Ali a exploração começou em 1942, 42 anos antes de Carajás, com a criação da CVRD, privatizada em 1997, no primeiro governo de Fer-nando Henrique Cardoso. A últi-ma jazida de Minas só chegará à exaustão em 2118, com um miné-rio mais pobre, depois de 176 anos de atividade.

Em todos os casos, a Vale, dona exclusiva de Carajás há 40 anos, não foi além da extração de ma-téria prima. Mesmo no caso do cobre, o beneficiamento primário foi para concentrar o teor. Sim-plesmente porque comercializar o minério em estado bruto não tem viabilidade econômica.

Carajás é e continuará a ser um presente de primeira para os compradores. Mas não para

o Pará. Por isso, com os números oficiais em mãos, os paraenses deveriam estar acompanhando o que acontece em Itabira, onde a mineração do ferro em alta escala começou.

Em 2003, a Vale comunicou aos itabiranos que a vida útil das ja-zidas, que começou a explorar em 1957 e que já foram as maiores do Brasil, seria de 71 anos. Neste mês, a empresa admitiu que a mi-neração irá durar apenas mais 10 anos, chegando ao fim em 2028. Foi um choque. Itabira entrou em estado de alerta, e a questão co-meçou a ser debatida. Talvez tar-diamente.

A Vale retrucou que não ha-via motivo para surpresa: “Desde 2002, o relatório Form 20-F, que é publicado anualmente, indica exaustão das reservas de Itabira ocorrendo na década de 2020. O último levantamento indica a data provável para 2028. Os rela-tórios sempre estiveram disponí-veis no site da Vale”.

Em nota, a empresa susten-ta que continuará em Itabira. Diz que “está estudando possibilida-des de manter atividades na ci-dade para além de 2028. Entre as possibilidades está a de continui-dade das operações das usinas de Itabira para processamento de minérios produzidos em outras lo-calidades”.

A Vale garante que “sempre trabalhou para deixar um legado positivo para Itabira”. Arrola nú-meros do seu desempenho, que mantém 4.100 empregados, ge-rando massa salarial de cerca de 14 milhões de reais por mês; que Itabira recebeu mais de R$ 182 milhões de royalties entre 2015 e 2017; e quase R$ 240 milhões de ICMS no mesmo período. Além disso, a empresa ajudou a colo-car Itabira “como importante polo regional de educação e turismo” e “na implantação da Unifei (a uni-versidade federal)”.

A mineradora pondera: “As discussões sobre o futuro da eco-

nomia pós-mineração são im-portantes para todas as cidades que contam com a presença da atividade, independentemente da duração das reservas. A Vale já se comprometeu com o prefei-to e com o presidente da Câmara de Vereadores a continuar a par-ticipar ativamente dessas discus-sões e, na medida do possível, dar apoio às iniciativas do grupo de trabalho criado”.

Se a Vale fez tudo isso, Itabira não fez quase nada. Principal-mente, não se antecipou para vi-ver sem suas montanhas de mi-nério de ferro, extraídas com tal intensidade, em 76 anos contínu-os, que mudaram a paisagem da cidade e levaram seu mais célebre filho, o poeta Carlos Drummond de Andrade, a lamentar que a sua Itabira se tornara apenas um re-trato na parede “e como dói”.

A Vale tem razão no seu ar-gumento principal. Todas as in-formações sobre a exaustão das suas minas estão contidas no relatório que registrou na Comis-são de Valores Mobiliários dos Es-tados Unidos, que administra a bolsa de Nova York, onde a Vale comercializa suas ações, em 13 de abril. Mas se os brasileiros não leem documentos, a empresa de-veria prestar-lhes informalmente suas informações relevantes. Não só para partilhá-las democratica-mente como para prevenir confli-tos futuros. Não é isto a tal respon-sabilidade social das empresas?

Lúcio Flávio PintoJornalista desde 1966. Sociólogo formado pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, em 1973. Editor do Jornal Pessoal, publicação alternativa que circula em Belém (PA) desde 1987. Autor de mais de 20 livros sobre a Amazônia, entre eles, Guerra Amazônica, Jornalismo na linha de tiro e Contra o Poder. Matéria originalmente publicada no site www.amazoniareal.org.

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Talvez o 11 de setembro esteja registrado em sua memória como o dia do ataque às Torres Gêmeas, nos Estados Unidos, ou ao golpe militar no Chile. Sim! Foram epi-sódios que marcaram a história mundial. Mas, desde 2003, a data ganhou mais um significado, dife-rente dos anteriores, com tons de esperança, principalmente para aqueles e aquelas que lutam pela conservação da savana mais bio-diversa do planeta. É em 11 de se-tembro que celebramos o Dia Na-cional do Cerrado.

Muitos imaginam que a data faz referência ao período de floração do ipê amarelo, símbolo da região, ou mesmo à época em que os cer-ratenses, cheios de expectativas para a chegada da temporada das chuvas, contemplam lindas paisa-

gens típicas do final da seca. E eles estão certos. Todos esses significa-dos permeiam o contexto da cria-ção desse dia que ocorreu duran-te o III Encontro e Feira dos Povos do Cerrado, realizado em Goiânia, pela Rede Cerrado, de 11 a 15 de se-tembro de 2003.

Mas o que poucos sabem é que a data escolhida para, todos os anos, comemorarmos o Dia Nacional do Cerrado está relacionada com um dos fundadores da Rede Cerrado: 11 de setembro também é a data de nascimento de Ary José de Oli-veira, imortalizado como Ary Pa-ra-Raios. Artista de teatro que, por opção, dedicou-se, essencialmen-te, aos espetáculos de rua, ele foi um defensor incansável das cau-sas socioambientais do Cerrado. Nascido em Sertanópolis, no Para-

ná, Ary mudou-se para Brasília na década de 1970. Naquela época o Cerrado já sofria as consequências perversas do avanço indiscrimina-do do agronegócio.

O CERRADOESTÁ AMEAÇADO!

Conhecido como o “berço das águas” ou a “caixa d’água do Bra-sil”, o Cerrado abriga oito das doze regiões hidrográficas brasileiras e abastece seis das oito grandes ba-cias hidrográficas do país (Amazô-nica, Araguaia/Tocantins, Atlânti-co Norte/Nordeste, São Francisco, Atlântico Leste e Paraná/Para-guai). Ele ocupa 24% do território nacional e concentra 5% de toda a biodiversidade do mundo. Presente nos estados de Minas Gerais, Goi-

ás, Tocantins, Bahia, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Piauí, São Paulo, Paraná, Rondô-nia, além do Distrito Federal, abri-ga mais de 1.300 municípios onde vivem cerca de 25 milhões de pes-soas.

Mesmo com essa relevância para a manutenção dos ecossis-temas, o Cerrado está sendo rapi-damente substituído por extensas áreas de monoculturas e pecuária. A devastação da cobertura vege-tal do Bioma, fundamental para garantir os fluxos hídricos entre as diversas regiões do Brasil, já che-ga a 52%. Ou seja, mais da metade do Cerrado não existe mais e isso compromete nascentes, rios, ria-chos e seus povos. Crises hídricas, como as que vêm afetando várias regiões do país, estão relaciona-das com essa devastação, uma vez que o Cerrado é o responsável por transportar a umidade e o vapor d’água da bacia amazônica para as regiões Sul e Sudeste do Brasil, permitindo a regularidade do regi-me de chuvas.

Recentemente, o Ministério do Meio Ambiente divulgou dados

11 DE SETEMBRO: DIA NACIONAL DO CERRADO

nada animadores para o Cerrado. De acordo com a pasta, mais de 14 mil quilômetros quadrados do Bio-ma foram desmatados entre 2016 e 2017, o equivalente a 1,4 milhão de campos de futebol. A pecuária extensiva e monoculturas, princi-palmente de soja, eucalipto, ca-na-de-açúcar e algodão, são as principais causas do seu desma-tamento. Políticas de proteção am-biental focadas somente em alguns biomas, como a Amazônia, o Pan-tanal e a Mata Atlântica, e brechas na legislação, principalmente no Código Florestal, contribuíram, por exemplo, para que o desmatamen-to do Cerrado superasse, em pro-porção, o amazônico.

Segundo dados do MapBiomas, o Cerrado é o segundo bioma que mais perdeu vegetação nativa de 1985 a 2017, e a maior expansão agropecuária nesses anos se deu na Amazônia (35.9 Mha), seguido pelo Cerrado (21 Mha).

Por isso, a Campanha Nacio-nal Sem Cerrado, Sem Água, Sem Vida está coletando assinaturas para que o Cerrado e a Caatinga se tornem também patrimônios

nacionais. (Para saber mais sobre a campanha e assinar a petição acesse: semcerrado.org.br).

POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS: OS GUARDIÕES DO CERRADO

Os povos e as comunidades tradicionais são a representação da nossa sociobiodiversidade en-quanto conhecedores e guardiões do patrimônio ecológico, genético e cultural da região.

São mais de 80 etnias indíge-nas que vivem no Cerrado, além de quilombolas, extrativistas, gerai-zeiros, vazanteiros, quebradeiras de coco, pescadores artesanais, fundo e fecho de pasto, veredeiros, caatingueiros e apanhadores de flores sempre-vivas.

Esses povos de cultura ancestral têm em seus modos de vida impor-tantes aliados na conservação dos ecossistemas, pois formam paisa-gens produtivas que proporcionam a continuidade dos serviços am-bientais prestados pelo Cerrado, como a manutenção da biodiversi-dade e dos ciclos hidrológicos.

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SUSTENTABILIDADE SUSTENTABILIDADE

“Faz escuro, mas eu canto porque a manhã vai chegar”, proclamou o poeta Thiago de Mello na época sombria da ditadura civil-militar de 1964.

“Está confuso, mas eu sonho”, digo eu, nestes tempos não menos sombrios. O sonho ninguém pode prender. Ele antecipa o futuro e anuncia o amanhã.

Ninguém pode dizer o que vai ser deste país após o golpe parlamentar-jurídico-me-diático de 2016. Faz escuro e tudo está confuso, mas eu sonho. Este sonho está rodando em minha cabeça há muitos dias e resolvi expressá-lo para alimentar a nossa inarre-dável esperança.

SONHO ver um Brasil construído de baixo para cima e de dentro para fora, forjando uma democracia popular, participativa e sócio-ecológica, reconhecendo como novos cidadãos com direitos, a natureza e a Mãe Terra.

Sonho ver o povo organizado em redes de movimentos, povo cidadão, com compe-tência social para gerar as suas próprias oportunidades e moldar o seu próprio desti-no, livre da dependência dos poderosos e resgatando a própria autoestima.

SONHO ver a utopia mínima plenamente realizada de comer pelo menos três vezes ao dia, de morar com decência, de ter frequentado a escola por oito anos, de cursar a universidade e a pós-graduação, de receber por seu trabalho um salário que satisfaça as necessidades essenciais de toda a família, de ter acesso à saúde básica e, depois de ter labutado por toda uma vida, ganhar uma aposentadora digna para enfrentar, serenamente, os achaques da velhice.

SONHO ver celebrado o casamento entre o saber popular, de experiências feito, com o saber acadêmico, de estudos feito, ambos construindo um país para todos, sem ex-cessos, e também sem carências.

SONHO ver o povo celebrando suas festas com muita comida e alegria, dançando o seu São João, o seu Bumba-meu-Boi, seu samba, seu frevo, seu funk e seu esplêndido carnaval, expressão de uma sociedade sofrida, mas que se encontrou na fraternura e na alegre celebração da vida.

SONHO ver aqueles que foram condenados a sempre perder sentirem-se vitoriosos, porque o sofrimento não foi em vão e os amadureceu para, com outros, construírem um Brasil diferente, uno e diverso, hospitaleiro e alegre.

SONHO contar com políticos que se abaixam para estar à altura dos olhos do outro, despojados de arrogância, conscientes de representar as demandas populares, fazen-do da política cuidado diligente da coisa pública.

SONHO andar por aí à noite sem medo de ser assaltado ou vítima de balas perdidas, podendo desfrutar da liberdade de poder falar e criticar nas redes sociais sem logo ser ofendido e difamado.

ESTÁ CONFUSO,MAS EU SONHO!

SONHO contemplar nossas florestas verdes, nossos imensos rios regenerados, nos-sas soberbas paisagens e a biodiversidade preservada, renovando o pacto natural com a Mãe Terra que tudo nos dá, reconhecendo seus direitos, e por isso tratá-la com veneração e cuidado.

SONHO ver o povo místico e religioso, venerando a Deus como gosta, sentindo-se acompanhado por espíritos bons, por forças portadoras da energia cósmica do axé, dando um caráter mágico à realidade com a convicção de que, no fim, por causa de Deus-Pai-e-Mãe de infinita bondade e misericórdia, tudo vai dar certo.

SONHO que este sonho não seja apenas um sonho, mas uma realidade ridente e factível, fruto maduro de tantos séculos de resistência, de luta, de lágrimas, de suor e de sangue.

Só então, só então, poderemos rir e cantar, cantar e dançar, dançar e celebrar um Brasil novo, o maior país latino do mundo, uma das províncias mais ricas e belas da Terra que a evolução ou Deus nos entregara.

Termino com o grande cantor das Comunidades eclesiais de base, Zé Vicente de Cra-teús: “Sonho que se sonha só pode ser pura ilusão, mas sonho que se sonha junto é sinal de solução. Então vamos sonhar companheiros e companheiras, sonhar ligeiro, sonhar em mutirão”.

Assim o quer o povo brasileiro e nos ajude Deus.

Leonardo Boff Filósofo. Teólogo. Escritor. Excerto do livro Saber Cuidar. 18ª Edição. Editora Vozes. 2012.

Leonardo Boff

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NOSSO FUTURO DEPENDE DO

SEU VOTO

17 DE SETEMBRO (SEGUNDA-FEIRA)Coletiva de imprensa nos sindicatos.Debate com os profissionais da educação e comunidade escolar sobre a Reforma Política.

18 DE SETEMBRO (TERÇA-FEIRA) Dia de “ocupação das escolas”.Debate sobre as reformas e políticas educacionais.

19 DE SETEMBRO (QUARTA-FEIRA)Ato público em memória de Paulo Freire e em defesa da democracia.

20 DE SETEMBRO (QUINTA-FEIRA)Debate sobre Reforma Tributária Solidária, em conjunto com ANFIP, FENAFISCO e outras entidades parceiras.

21 DE SETEMBRO (SEXTA-FEIRA)Debate sobre Reforma Agrária e Desemprego no Brasil, em conjunto com MST, CONTAG e Centrais Sindicais.

22 DE SETEMBRO (SÁBADO)Atividades de panfletagem sobre as pautas da educação direcionadas aos candidatos nas eleições gerais (ocupar feiras, praças, praias e demais locais públicos).

23 DE SETEMBRO (DOMINGO)Atividades de interação com a comunidade para divulgar as pautas da educação pública de qualidade (corridas, passeios ciclísticos, teatro e outras atividades culturais).

DE 17 A 23 DE SETEMBRO

19ª Semana Nacional em Defesa e Promoção da Educação PúblicaP R O G R A M A Ç Ã O

Saiba mais sobre o evento no seu sindicato!

#EducaçãoPúblicaEuApoio

Compartilhe sua participação na 19ª Semana com a hashtag

É PENSAR NO BRASILPENSAR EM EDUCAÇÃO

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