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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Foz do Iguaçu – 2 a 5/9/2014 The ‘zueira’ never ends: informação com humor ou humor com informação? Uma análise das chamadas publicadas na página do jornal O Globo no Facebook 1 Paulo Jefferson Pereira BARRETO 2 Daniel Dantas LEMOS 3 Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Ceará Resumo Ao entender a linguagem como mecanismo de discurso e o discurso como construção de sentido, este artigo se propõe a analisar e entender como as chamadas publicadas em postagens na página do Facebook do jornal O Globo usam o humor para atrair leitores e produzir efeitos de sentido no público. Devem ser analisadas, para isso, apenas as chamadas de notícias publicadas na página que o jornal tem no Facebook, veiculadas durante o mês de julho e que contêm algum caráter, explícito ou não, de humor no trato da informação. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, com foco na análise do discurso, tendo como principais categorias teóricas as noções de discurso, jornalismo e linguagem. Assim, este estudo ganha destaque, pois lança novos olhares sobre a construção de sentido na informação por meio de uma linguagem que foge à regra da rigidez da objetividade jornalística e usa o humor como ferramenta discursiva. Palavras-chave: Linguagem, jornalismo, discurso Introdução O desafio deste artigo é analisar e entender de que forma chamadas de publicação postadas na página do Facebook do jornal O Globo usam o humor para atrair leitores e produzir efeitos de sentido no público. A escolha pelo Facebook foi feita com base na importância dessa plataforma para a relação jornais-leitores, ao ampliar o alcance das publicações diante do público. 1 Trabalho apresentado na IJ- Área 01. Intercom Júnior - Jornalismo do XXXVII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, realizado de 01 a 05 de setembro de 2014. 2 Graduando do curso de Jornalismo da UFC, e-mail: [email protected]. 3 Orientador do trabalho, professor do Curso de Comunicação Social da UFC. Bacharel em comunicação social, habilitação em jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Mestre e doutor em estudos da linguagem pela UFRN. Email: [email protected]. 1

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  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXXXVII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Foz do Iguau 2 a 5/9/2014

    The zueira never ends: informao com humor ou humor com informao? Uma anlise

    das chamadas publicadas na pgina do jornal O Globo no Facebook1

    Paulo Jefferson Pereira BARRETO2

    Daniel Dantas LEMOS3

    Universidade Federal do Cear, Fortaleza, Cear

    Resumo

    Ao entender a linguagem como mecanismo de discurso e o discurso como construo de sentido,este artigo se prope a analisar e entender como as chamadas publicadas em postagens na pginado Facebook do jornal O Globo usam o humor para atrair leitores e produzir efeitos de sentidono pblico. Devem ser analisadas, para isso, apenas as chamadas de notcias publicadas napgina que o jornal tem no Facebook, veiculadas durante o ms de julho e que contm algumcarter, explcito ou no, de humor no trato da informao. Trata-se de uma pesquisa qualitativa,com foco na anlise do discurso, tendo como principais categorias tericas as noes de discurso,jornalismo e linguagem. Assim, este estudo ganha destaque, pois lana novos olhares sobre aconstruo de sentido na informao por meio de uma linguagem que foge regra da rigidez daobjetividade jornalstica e usa o humor como ferramenta discursiva.

    Palavras-chave: Linguagem, jornalismo, discurso

    Introduo O desafio deste artigo analisar e entender de que forma chamadas de publicao

    postadas na pgina do Facebook do jornal O Globo usam o humor para atrair leitores e produzir

    efeitos de sentido no pblico. A escolha pelo Facebook foi feita com base na importncia dessa

    plataforma para a relao jornais-leitores, ao ampliar o alcance das publicaes diante do pblico.

    1 Trabalho apresentado na IJ- rea 01. Intercom Jnior - Jornalismo do XXXVII Congresso Brasileiro de Cincias daComunicao, realizado de 01 a 05 de setembro de 2014.2 Graduando do curso de Jornalismo da UFC, e-mail: [email protected] Orientador do trabalho, professor do Curso de Comunicao Social da UFC. Bacharel em comunicao social, habilitao emjornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Mestre e doutor em estudos da linguagem pela UFRN.Email: [email protected].

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    No caso do O Globo, so mais de trs milhes de usurios seguindo a pgina do jornal na

    referida rede social.

    Assim, devem ser analisadas, portanto, apenas as chamadas de notcias publicadas na

    pgina do jornal, veiculadas durante o ms de julho e que contm algum carter, explcito ou no,

    de humor no trato da informao. A opo por julho deve-se maior disponibilidade para

    acompanhar as publicaes do jornal e a possibilidade de aumento na frequncia das publicaes,

    devido s notcias veiculadas sobre a Copa do Mundo, realizada at o dia 13 do ms em questo.

    Trata-se de uma estudo qualitativo, com base na anlise do discurso e tendo como

    foco uma discusso sobre a linguagem jornalstica, a relao jornal-leitor e as novas formas de

    atuao dos veculos de comunicao no mbito de espaos virtuais, tais como as redes sociais.

    A moda agora usar humor nas notcias

    No dia primeiro de julho deste ano, uma postagem publicada na pgina oficial do

    jornal O Globo no Facebook4 foi curtida por mais de 14 mil pessoas e compartilhada mais de 4

    mil vezes s nessa mesma rede social. O ttulo da notcia em questo trazia, no mnimo, uma

    informao a despeito de qualquer discusso sobre o que ou no relevante para o interesse

    pblico inusitada: O segredo de um relacionamento feliz dormir nu.

    Para os mais crticos do jornalismo pautado no que de fato relevante para o pblico,

    a informao poderia ser passvel de intensas discusses sobre o que ou no algo, de fato,

    noticivel. No entanto, se o jornal apostou no inusitado como valor notcia5 para atribuir

    expresso informao veiculada, o trabalho de atrao da audincia para a publicao no

    poderia se pautar em algo diferente do pitoresco.

    A postagem na pgina do jornal no Facebook traz um link que direciona o leitor para

    a notcia completa no site do jornal, acompanhado da foto de um casal dormindo e uma chamada

    4 Rede social criada nos Estados Unidos em 2004 com mais de um bilho de usurios ativos em todo o mundo, entre pessoasfsicas e jurdicas, entre elas empresas de comunicao, que encontraram no site uma nova ferramenta de interao e aproximaocom o pblico. 5 Segundo Nelson Traquina (2005), entende-se por valores notcia o conjunto de critrios tomados por jornalistas e empresas decomunicao para definir o que merece ser considerado noticivel, existir como notcia aps um intenso processo de seleo eapurao dos fato.

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    to incomum quanto a informao veiculada: Pijama coisa do passado? Agora a moda /

    namorar

    Ao questionar se pijama coisa do passado, em parte, o jornal antecipa a informao

    presente no ttulo da notcia, mas vai alm. Muito alm. Ao usar ao expresso Agora a moda /

    namorar, O Globo faz uso de um trocadilho com o claro intuito de despertar o interesse da

    audincia, com base em um jogo implcito de intertextualidade que remete msica Beijo na

    boca coisa do passado, popularizada na ltima dcada pela produtora carioca de Funk Furaco

    2000.

    O refro da msica, Beijo na boca coisa do passado/ agora a moda , namorar

    pelado, revela a clara aluso que o jornal faz com a publicao da postagem. Uma aluso que

    fica implcita sobretudo porque o uso das reticncias no final da chamada Pijama coisa do

    passado? Agora a moda / namorar deixa a frase em aberto e joga para o pblico a

    responsabilidade de entender e interpretar a inteno do trocadilho.

    Esse jogo de intertextualidade usado pelo jornal, na verdade, s possvel

    exatamente porque transmite aos leitores a possibilidade de completar a chamada proposta pela

    publicao. Isso porque como lembra Eli dos Santos (2009, p.04), o cruzamento dos textos6 s

    possvel de ser verificado se os indivduos tiverem leitura, embasamento, que d suporte a isso,

    6 Aqui, refere-se ao texto nas suas mais diversas manifestaes, visual, gestual, sonoro ou escrito. No caso analisado, usa-se oescrito, composto pela letra da msica, presente implicitamente na publicao.

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    caso contrrio, a linkagem entre o que diz a letra da msica e o exposto na publicao, por

    exemplo, no ser observada. De acordo com a autora, ento, possvel entender que:

    O texto, portanto, no est pronto, construdo junto ao seu destinatrio,que interpreta e assume uma atitude responsiva ativa [...] Mesmo que osujeito leitor no identifique o intertexto, vai entend-lo. Assim, aintertextualidade reserva-se aos casos que ocorrem o cruzamento de duas oumais materialidades textuais que dialogam entre si, o texto passa ser um jogo deesconde-esconde com o leitor, uma espcie de esfinge, pronto para serdecifrado. (SANTOS, 2009, p.01)

    O uso de expresses recortadas de diferentes textos conhecidos do publico pode

    explicar, nesse caso, o impacto que a publicao tem na sua audincia. Ao se pautar no inusitado

    para informar e na intertextualidade com uma msica de funk, por exemplo, O Globo parece

    estimular um nova maneira de lidar e interagir com o pblico. Uma interao baseada no jogo de

    palavras, nos trocadilhos implcitos e no humor como pea-chave desta relao.

    O discurso do riso: jornalismo, linguagem e humor

    no entendimento de todo texto seja ele de qual natureza for como parte de um

    interdiscurso7, no entanto, que volta-se discusso sobre o jornalismo. Se a linguagem a

    materialidade do discurso jornalstico e por meio dela que se constri sentido como afirma

    Orlandi (2005) e para quem discurso justamente a lngua no mundo, com suas maneiras de

    significar (Ibid, p.15-16), entende-se, ento, que compreender o uso de uma linguagem

    carregada de humor nas chamadas de postagens publicadas por jornais como O Globo, no

    Facebook ou em qualquer outra plataforma, pode ter grande valia para a discusso sobre o

    jornalismo como prtica e como cincia.

    Neste ponto, importante perceber que quando se fala em chamadas das postagens

    publicadas refere-se ao contedo que vem acima de cada publicao, ou seja, de cada link das

    notcias com fotos e ttulos prprios. Elas funcionam como um abre alas para cada publicao,

    uma porta de entrada para que o leitor tenha um acesso preliminar da informao noticiada,

    7 Santos (2009) afirma que objetivou-se definir interdiscursividade a partir da relao dialgica entre os diferentes textos,analisando, assim, o uso da intertextualidade em diferentes lugares e de diferentes maneiras.

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    seguidas de links que direcionam os leitores para os sites dos jornais, onde esto as informaes

    completas.

    No que diz respeito ao O Globo, percebe-se que geralmente elas veem em formato de

    texto escrito, mas h casos em que se chegou at mesmo a usar emoticons8. Vale ressaltar tambm

    que essas chamadas acabam funcionando como pr-ttulos, no com a estrutura de uma ttulo

    convencional, mas, em alguns casos, com a mesma finalidade. Assim como os ttulos, por

    exemplo, possvel dizer, ento, que as chamadas teriam como funo tambm informar,

    cativar, prender o leitor, despertando sua ateno e curiosidade (GRADIM, 2000, p.70 apud

    PELLIM, 2010, p.04).

    O uso de expresses que transmitem algum contedo humorstico refora essa

    finalidade, pois, de acordo com Pereira & Rocha (2006, p.19), alm da interrogao, o humor, a

    ironia e a brincadeira bem conduzida podem conquistar a simpatia do

    ouvinte/leitor/telespectador. Isso por queO certo que a habilidade para apreciar o humor universal, sendo partilhadapor todas as pessoas, mesmo que as preferncias de cada uma sobre os tipos dehumor possam diferir largamente. Esse princpio, o da universalidade do humor, reforado pelo fato de que, de forma surpreendente, muitas piadas ou situaesso vistas por muitas ou todas as pessoas como engraadas. (LIMA, 2003, p.117)

    A adoo de um discurso com teor humorstico ainda que s nas chamadas

    entretanto, coloca em questo o discurso do jornalismo, materializado na linguagem jornalstica e

    em todas as regras e tcnicas que se convencionaram como fundamentais para a boa prtica de

    sua atividade. Talvez, a mais difundida delas seja a noo de objetividade.

    Poucos conceitos tm sido to profundamente discutidos nos estudos de comunicao

    como o de um jornalismo objetivo, preciso na apurao e claro no se fazer entendido. A ideia

    desse objetivismo foi responsvel em parte pela estruturao do fazer jornalismo, com todo um

    aparato de tcnicas que viabilizam a prtica e a tica que guiam a atividade jornalstica. Essa

    noo de objetividade foi responsvel, em certa maneira, pela criao de um ideal que, at ento,

    8 cones pequenos que valem por um pensamento, ideia ou emoo [exemplos: feliz :) / triste :( ].

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    exigia do jornalismo um posicionamento srio, centrado e sobretudo comprometido com a

    checagem da informao e com a divulgao dos fatos relevantes para o interesse pblico.

    A prpria linguagem jornalstica foi sendo moldada de modo a prezar pela sobriedade

    do contedo, com reduo da subjetividade nos textos e eliminao de marcas de linguagem.

    Mas o teor humorstico de chamadas como as que sero analisadas neste estudo e a que j foi

    apresentada de certa maneira, quebraram essa lgica engessada da rigidez da linguagem no

    jornalismo. Principalmente quando leva-se em considerao que um texto objetivo no significa

    uma linguagem objetiva, pois no h objetividade na linguagem (BRANDO, 2012, p.57).

    preciso entender ainda que essa ideia de jornalismo objetivo vai alm da crena na

    imparcialidade, porque como afirma Zanini (2009, p.1236), objetividade, no jornalismo, no

    quer dizer capacidade de permanecer impessoal diante das aes e decises imediatas. O que

    vale o efeito de objetividade na linguagem.

    No caso do uso de um tom que remete ironia, ao sarcasmo apelo ao humor

    quebra-se um pouco esse padro de objetividade em prol do trocadilho, do jogo de palavras, do

    duplo sentido. Da rigidez da linguagem hermtica jornalstica constri-se uma interao mais

    leve com o leitor, mais prxima de uma conversa informal, um bate-papo, onde o curioso e o

    inusitado ganham destaque. Embora tambm questiona-se at que ponto esse tom humorstico

    poderia impactar a informao, que o foco da atividade jornalstica.

    Segundo Mariana Oselame (2010, p.65), por exemplo, o humor como estratgia de

    linguagem discursiva no jornalismo pode, na verdade, empobrecer a informao, provocando

    uma banalizao da notcia e o descaso com a tcnica jornalstica. Para a autora, a exacerbao

    do humor pode levar a informao deixar de ser vista como tal para passar a ser considerada

    apenas no que pode trazer de curioso, inusitado e engraado para o leitor.

    Esse debate faz-se necessrio para anlise das publicaes que serviro de base para

    este estudo, porque mais do que chamar ateno dos leitores as chamadas propostas pelo jornal O

    Globo estimulam a interao com o pblico a partir dos prprios mecanismos de

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    compartilhamento e discusso que a pgina do jornal no Facebook dispe, permitindo uma

    construo coletiva de sentido, significao, para as publicaes.

    Porque a zueira, ela no tem fim

    No dicionrio formal da lngua portuguesa ela vem do verbo zoar, fazer barulho,

    desordem, mas para aqueles habituados com a linguagem das redes sociais, a expresso zoeira

    ganhou novo significado e, inclusive grafia. Com a onda de memes9 que se espalhou pela internet

    nos ltimos anos, a zueira10 passou a representar uma das principais formas de se fazer humor

    por meio do deboche, do sarcasmo e da ironia, sobretudo entre indivduos imersos no mbito

    dessas redes sociais, onde todos os dias so compartilhadas milhares de informaes.

    Fenmenos como esse podem ter um impacto na forma como as pessoas interagem

    via conexes de internet e na forma como os veculos de comunicao passam a se comportar

    diante do pblico imerso em todo esse contexto de novas relaes nos espaos virtuais.

    Quando O Globo se apropria de um trecho de uma msica de funk, a partir de um

    jogo de palavras implcito, no sentido de chamar a ateno do leitor para o que publica, ele se

    insere nessa realidade. O jornal no s percebe as marcas da linguagem nas redes sociais para a

    qual tambm migrou, como tambm passa a adot-las, em certa medida, com o claro intuito de

    promover uma aproximao com a realidade de seus leitores e envolv-los por meio das

    estratgias discursivas que passa a adotar. um discurso consegue persuadir o pblico de trs formas: por meio do carter doorador - quando este expressa conana -, pelas inclinaes despertadas nopblico - quando o discurso envolve a platia -, e pelo prprio discurso - pelo oque ele evidencia. (ARISTTELES, 1999, P.33 apud PEREIRA & ROCHA,2006, p.14)

    Isso explicaria alm de servir como exemplo a publicao de outras postagens

    com chamadas bastante sugestivas. No dia nove de julho deste ano, por exemplo, O Globo

    9 Meme uma ideia que se tornou fenmeno na internet, compartilhada e conhecida por milhares de usurios. Esta ideia podeassumir a forma de um hiperlink, vdeo, imagem, website, hashtag, ou mesmo apenas uma palavra ou frase.10 Expresso cunhada pela linguagem das redes sociais. Difere do verbo zoar e tem no deboche, na ironia no sarcasmoelementos definidores. manifestada sob diversos aspectos. Uma dos principais exemplos podem ser os memes que viralizam narede.

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    publicou uma postagem referente partida de futebol entre Argentina e Holanda na semifinal da

    Copa do Mundo. Desta vez, a chamada Comea a partida entre Argentina e Holanda no

    Itaquero! O que no termina a zueira vinha acompanhada apenas de uma foto de um

    torcedor argentino com um cartaz que fazia aluso derrota da seleo brasileira por 7x1 contra a

    Alemanha, um dia antes.

    A publicao tambm continha um link em que os leitores poderiam acompanhar a

    partida de futebol em tempo real, portanto no se tratava de uma matria jornalstica. O que pode

    ser observado nesta postagem, entretanto, que o uso da expresso zueira pelo prprio jornal

    revela que O Globo no s tem conhecimento das caractersticas de linguagem e interao dos

    milhares de usurios que frequentam as redes sociais, como tambm passa a incorporar parte

    dessas caractersticas como estratgia de aproximao com o pblico.

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    H um flexibilizao da linguagem jornalstica nesses casos que no necessariamente

    se revela tambm nas matrias, porque o contedo dessas chamadas uma estrutura parte do

    texto jornalstico contido nas notcias. Especialmente, porque as chamadas so criadas para

    chamar a ateno e introduzir os leitores em publicaes que nem sempre so matrias

    jornalsticas e em alguns casos nem chegam a usar texto escrito para faz-lo.

    No dia da derrota do Brasil para a Alemanha por 7x1, na partida da semifinal do

    Mundial de 2014, O Globo publicou uma postagem cuja chamada era apenas um emoticon. A

    linguagem discursiva do jornal, ento, lanava mo de uma estratgia visual para dialogar com o

    pblico, se fazendo entender sem necessariamente usar uma nica palavra. De acordo com

    Gonalves & Guimares (2005, p.116), isso possvel porque h diversos modos de dizer e,

    consequentemente, diversas formas de se interpretar o que dito.

    Neste ponto, a noo de interpretao importante na medida em que considera-se o

    discurso como uma relao essencialmente dialgica, que se sustenta nos efeitos de sentidos

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    entre locutores como explica Orlandi (2005, p.21). Quando O Globo usa emoticons ou partes

    de msicas para criar as chamadas de suas publicaes, o faz partindo do princpio que os

    leitores sero capazes de entender o que proposto e, inclusive, ajudar a construir sentido e

    significado para elas.

    Esse sentido s pode ser construdo com base na interpretao que os leitores fazem

    das chamadas de cada publicao, pois, segundo Orlandi (2005, p.45), no h sentido sem

    interpretao. Assim, mais do que captar a ateno dos leitores, o jornal se prope a instig-los a

    interagir. Tambm no dia nove de julho, o jornal publica uma postagem cuja chamada fazia uma

    clara intertextualidade com o famoso filme infantil Ratatouille, lanado em 2007 e cujo principal

    personagem era um rato cozinheiro. A chamada se referia notcia de um cliente que encontrou

    um rato morto dentro de um tipo de sanduche, em Nova Iorque.

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    Os leitores captaram a mensagem e a comparao proposta pelo jornal, em muitos

    casos embarcando em um dilogo que se utilizava das mesmas ferramentas de humor propostas

    pela chamada da publicao, reconhecendo o tom de ironia empreendido por O Globo.

    E isso se repete medida que o jornal publica postagens com esse tipo de contedo.

    Em alguns casos, usando uma linguagem at ento impensvel para os padres jornalsticos.

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    Postagens como essa tendem a ter um apelo no pblico muito forte, seja pela

    aprovao ou pelo repdio dos leitores. Obviamente, o jornal tem conscincia disso. Da,

    conclui-se que existe uma intencionalidade do O Globo ao adotar esse tipo de estratgia para

    atingir o pblico. At que ponto isso vai de fato ainda cedo para dizer, contudo.

    Concluso

    A imerso dos meios de comunicao nos espaos virtuais tais como as redes

    sociais por exemplo, pode promover uma maior aproximao com o pblico. Na medida em

    que milhes de indivduos passam a usar esses espaos para interagir, os jornais parecem ter

    percebido a importncia de migrar tambm nesse sentido, imergindo no contexto em que o seu

    pblico est inserido.

    A interao jornal-leitor parece ganhar, ento, novos contornos pela linguagem e pela

    maneira de interagir. Se isso ter um saldo positivo ou no para o jornalismo s o tempo poder

    dizer. A questo que o caminho adotado por O Globo no parece ser um fato isolado, sobretudo

    em um contexto onde os veculos de comunicao esto cada vez mais presentes nos espaos

    virtuais.

    Tambm no possvel afirmar ainda que se o prprio jornal em questo seguir

    adotando essa estratgia. Nem todas as publicaes postadas em sua pgina no Facebook tem

    chamadas com teor humorstico. Aparentemente, chamadas assim so usadas para se referir a

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    notcias mais frias11, cuja caracterstica principal est justamente no inusitado, no curioso para o

    pblico.

    Geralmente so chamadas de publicaes que j trazem um contedo que permite

    esse tipo de linguagem mais informal, menos objetiva e mais flexvel no que diz respeito ao uso

    do humor, do jogo de palavras e da intertextualidade.

    Vale ressaltar que este estudo tentou empreender, portanto, uma anlise a priori desse

    fenmeno, mas obviamente ainda h muito a ser pesquisado, at porque como j foi

    mencionado trata-se de um fenmeno ainda recente. Em um contexto de intensas discusses

    sobre o futuro do jornalismo impresso e sua migrao para a internet, entender como os jornais

    passam a atuar nesse novo cenrio fundamental para compreender a prpria dinmica do

    jornalismo.

    Referncias

    BRANDO, Helena. (2012). Enunciao e construo do sentido in Comunicao e Anlise do Discurso.So Paulo. Editoracontexto.

    GONALVES, Elizabeth; GUIMARES, Andr. A vilania dos juros: o discurso no jornalismoeconmico. Revista Contracampo, Niteri - RJ, n 12, 2005.

    ORLANDI, E. P. (2005). Anlise de discurso: princpios e procedimentos. Campinas, SP: Pontes, 6 edio.

    OSELAME, Mariana. (2010). Padro Globo de jornalismo esportivo. Famecos/PUCRS, n 24 2010/2,Porto Alegre-RS.

    PELLIM, Tiago. (2010). Anlise textual de ttulos jornalsticos: um estudo comparativo entre sees. Disponvel em: http://www.ufsj.edu.br/portal-repositorio/File/Vertentes34/Tiago%20Pellim.pdf. Acesso: 23 de mar. de 2014.

    PEREIRA, Rose; ROCHA, Thas. (2006). Discurso miditico: anlise retrico-jornalstico do gneroeditorial. Macei: Universidade Federal de Alagoas. Monografia. 93 p.

    11 No atendem demanda imediatista do factual, to presente no jornalismo.

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    ZANINI, Tssia. (2009). Ideologia e informao: as marcas lingusticas do discurso jornalstico. IISimpsio de Comunicao, Tecnologia e Educao Cidad - LECOTEC. Em:http://www2.faac.unesp.br/pesquisa/lecotec/eventos/lecotec2009/anais/1235-1252ZANINI.pdf. Acessoem: 13/12/2013.

    TRAQUINA, Nelson. (2005). Teorias do Jornalismo: porque as notcias so como so. 2 ed.Florianpolis: Insular.

    SANTOS, Eli. (2009). Intertextualidade e interdiscursividade: vestgios na leitura e na publicidade.Revista da Unifebe. Retirado de:http://www.unifebe.edu.br/revistadaunifebe/2009/artigo019.pdf. Acessoem: 15/07/2014.

    LIMA, Silvana. (2003). Recategorizao metafrica e humor: trabalhando a construo dos sentidos.2003. 171 f. Disssertao. Universidade Federal do Cear. Fortaleza, Cear.

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