Rabiscos&Afins #2

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Contos, poemas, quadrinhos, música, humor, drama, ilustrações, fotografias, artigos. Rabiscos&Afins. Expresse. Rabisque.

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#2rabiscos&afins

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Contato:Rafael [email protected]://issuu.com/rabiscosafins/docs/rabiscosafins1

Chegamos ao segundo volume

da nossa revista após da nossa revista após termos recebido boas im-pressões da primeira

edição. E queremos apre-sentar um trabalho cada vez melhor ao leitor. Agradeço a todos os

amigos que colaboraram com a edição anterior e com essa. Em especial

agradeço ao grande amigo Michel, que com entusi-asmo ajudou a convocar nossos parceiros. Nossa parceria vem de longa data, desde o tempo dos zines em papel e não

poderia encontrar um co-laborador mais dedicado

e talentoso.Boa leitura, participe,

rabisque.

EDITORIAL

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QUADRINHOS

CARTUM

FOTOGRAFIA

POESIA

CONTOS

a capa

Osmar Shineidr ilustra nossa capa dessa edição com fotografia tiradana feira do Rio Antigo, na rua do Lavradio, na Lapa.Contato: http://flickr.com/photos/whereohwhere/http://flickr.com/photos/whereohwhere/

Ilustração da capa finalpor Michel Sanches.

AFINS

MÚSICA

CINEMA

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4Contato: [email protected]

marcelo marat

TODAS AS CANÇÕES DE AMOR SE PARECEM (PORQUE O AMOR É SEMPRE O MESMO)

FFazia calor. Sentada na ponta de uma cama, que a fazia parecer ainda menor, a menina pintava as unhas do pé esquerdo com displicência, uma das pernas dobradas, a outra estendida, o pé direito tocando o chão; pés des-calços. Usava bermuda jeans e uma blusa curta, que deixava ver o umbigo. Não tinha idade para usar maquiagem. Não tinha idade para peitos. Era reta,

seca, ossuda, como um garotseca, ossuda, como um garoto. Os cabelos pretos muito lisos, quase no comprimento dos ombros, iam de um lado para o outro, para trás e para adiante a cada mo-vimento, caindo ocasionalmente sobre o rosto, mas sempre voltando para a forma original, como se rece-bessem uma ordem pré-programada, inquietos e ao

mesmo tempo submissos.

Mascava chiclete enquanto pintava as unhas naquele preto absurdo – tão na moda – e vez por outra ouvia-se

o estalo da goma assoprada. Sentado numa cadeiSentado numa cadeira de balanço, próximo a uma janela aberta, o homem balançava. Usava calça com-prida, chinelos e camiseta sem mangas. Suava. Um ventilador ligado ajudava a amenizar o calor, oscilando monótono, o zumbido acompanhado do ranger da ca-

deira, e de um eventual estalo do chiclete.

Fazia calor. O homem suava, sonolento, olhando através da janela os prédios e a fuligem da cidade. Cidade negra. Esmalte negro. Sonolência. A menina ergueu os olhos no mesmo instante em que o homem virou o rosto para ela. Uma nova bola soprada entre os lábios, um novo estalo e voltava a ruminar a goma. De

que seriam feitas essas porcarias, afinal?

Lá foLá fora, o dia começava a morrer. Dentro daquele quarto de hotel, o calor se fazia cada vez mais pre-

sente.

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paula fabrício

contato:[email protected]

Adelina também queria ser flor!Cinco pétalas brancas

que cheirassem a limão.Cabo verdinho e pólen amarelo.Que abelhas fossem me visitar

dia sim,dia não.Seria eu então o meu próprio castelSeria eu então o meu próprio castelo.

À Adelina Gomes.

Um dia talvez seja solidão,e me lembrarei dos beijos,das juras,promessas.Da vontade de ser mãe,dos sonhos,da coragem.Das fugas,ilusões,aventuras.Quem sabe um dia Quem sabe um dia cercada de filhos e netospensarei na liberdade,nas preocupações,nas alegrias e privações,na dimensão do amore das paixões.

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6Contato: [email protected]

http://paredesteto.blogspot.com

A ÚNICA SEMANA DE AMOR

Na segunda-feiradescascamos batatas

Fazemos molhoEngolimos cointreau

Descubro suas articulações

Na terçaNa terçaA modalidade de sexo

É a foda bravaTodo o pênis no ânusMovimento ritmado

E golpes ferozes nas nádegas

Na quartaParece um vinkingParece um vinking

DeterminadoA um só banho por mês

Na quintacortamos as cuecas

Com tesouraE passamos óleo verificando

As possibilidadesAs possibilidadesDe alcançar a próstata

Na sextaenfio a língua

No buraco do piercingChupo seu nariz

E lambuzo seu cabelo

No sábadoNo sábadovestimos roupas femininas

e depilamos o saco

no domingo

descansamos

tom

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Quando Quando vejo a foto, aquele momento torna-se bem tangível em minha mente. Não posso dizer que me lembro dele como se fosse ontem. Não. Sei muito bem quan-tas badaladas o relógio da minha vida já deu. Meus momentos posteriores nunca somem da minha lembrança, e não me sinto como se fosse jovem novamente.

Mesmo por que quando observo aquela mão estendida ali, tão casual, não consigo deixar de comparar com a minha: deformada pelo tempo. As rugas estão aqui, os ossos aparentes. Talvez se tivesse uma mão mais gorda as rugas estariam escon-didas pelo tecido adiposo. Mas mantenho o mesmo peso daquela época, com a única mudança de que a gordura era melhor distribuída. Alguns lugares estão

secos, outros aumentaram, revelando um corpo não mais agradável de ser visto. As mãos estão aqui, os dedos compridos, finos, as veias que saltam mesmo com pouco conteúdo, as unhas quebradiças. Talvez um pouco de gordura disfarçasse isso. Mas para minha memória tal disfarce seria inútil. Lembro de tudo. Não me vejo jovem novamente, mas lembro da última vez que me vi assim, mesmo não conseguindo precisar que idade econseguindo precisar que idade era. Olhando para a foto lembro daquele mo-mento. Da foto que ia tirar dos amigos, todos reunidos. Então, o incidente. Um brincalhão esbarrou em mim na hora do clic. Os amigos sumiram. Era a última pose. Hoje certamente preferia estar vendo a foto deles. Apontaria um ou outro que morreu, aquele que teve um casamento infeliz, divórcio, aquela que continua

linda, a outra que engordou muito. Isso me traria tristezas e risos. Ver a face deles traria saudades. Meus amigos gravados em instantâneo sumiram para

sempre. Só vejo aquela mão. A mão da menina que estava com a mão sobre a mureta. Nunca soube seu nome. Estava lá, naquela festa de confraternização. Mas não era minha convidada, nem de meus amigos mais próximos. Não sei quem a convidou, lembro vagamente do seu rosto que vi poucas vezes. A foto ficou guar-dada muito tempo no álbum. As fotos dos amigos lentamente foram sumindo. Re-

sidiram na cortiça emoldurada no escritório improvisado no quarto de uma empregada que nunca tive. Foram emprestadas para cópia e nunca retornaram. Sumiram nos porta-retratos castigadas pela luz. Até que no álbum só restou a

mão. Nunca saiu do álbum porque não tinha importância: filme e papel fotográfico gastos à toa. Centavos desperdiçados. Hoje ela jaz sozinha e me traz tantas lem-branças. Mas acima de tudo traz um grande incômodo. Aquele imprevisto que

deixou uma marca tão forte para mim, que mesmo tantos anos depois esbofeteia o meu rosto. Um momento de imprecisão, falha, descontrole. Descontrole, falha, imprecisão não causados por mim. Não geimprecisão não causados por mim. Não gerados por mim. Longe do meu alcance e

nas minhas mãos. E que acima de tudo me traz um grande incômodo.Incomoda-me ver a mão velha tocando a mão jovem, sem rugas.

Incomoda-me a ausência dos amigos, substituídos por aquele apêndice indese-jado.

Incomoda-me o conto dos meus anos diante dela.Tudo é tão incômodo.

Tudo é tão terrivelmente incômodo.

rafael lopes: instantâneo

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8Contato: [email protected]

sill

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bridon

Contato: [email protected]

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bridon

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bridon

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12Contato: [email protected]

henry jaelpet

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rafael lopes

Contato: [email protected]

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gilson jr e rafael lopes

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rafael lopes e gilson jr

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gilson jr e rafael lopes

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andreia rosa xavier e rafael lopes

espinhos em coração peito aberto sangra extrapola dor alivia alivia sentimentos pontiagudos desejos submersos emergentes. emergentes.

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copyright by edson coelho

18Contato: http://www.flickr.com/photos/eddy_v32006/

edson coelho

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edson coelho

copyright by edson coelho

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20Contato: [email protected]

andreia rosa xavier

angue angue angue angue angue angue

O conjunto de fotografias “Sangue Frio” (aqui expostas apenas duas fotografias) está a mostra na exposição Olhar Geral na galeria da Uerj de 22 de outubro a 24 de novem-

bro.

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angue angue angue angue angue

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andreia rosa xavier

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Episódio de hoje: LAROM e as mulheres de malandro.

Noite de guerNoite de guerra insana em uma quadra de Vila Isabel. No Boulevard 28 de Set-embro, larga avenida criada na era de civilização da cidade do Rio de Janeiro, está um templo de barbárie que abriga chopadas universitárias. Todo o curso de Enfermagem está presente, e guerreiros de todos os outros cursos,

destaque para os trogloditas de Engenharia, acotovelam-se na entrada, atraí-dos pelos ferormônios e pela cerveja liberada. Em plena madrugada, quando os bandidos do hip hop gringo dão lugar aos criminosos do funk nacional,

transformando as fêmeas em profissionais do movimento pélvico e da cara de sapeca, eleva-se a temperatura à 40º, alavancando o consumo etílico mascu-lino. Exibindo seus tórax esculpidos pela bomba, de cigarrinho e latinha na mão, os brutamontes hormonais partem como gladiadores em uma arena de destruição. De cabeça raspada, bigodinho no topo da testa e camisa presa à bermuda florida, um jovem de compleição física anfíbia joga a fumaça pro alto, bebe o último gole do suco de cevada e murmura palavras em voz de comando no ouvido de uma jovem presa. Transcorridos dez longos minutos de recusas categóricas diante de um bafo asfixiante, a jovem tenta sair das garras do ogro, que a agarra pelos braços. Depois de informar ao troglodita que seu braço beirava a gangrena, o incansável combatente agarra a gazela à força, segurando no gomo posterior de seu crânio, em um beijo amassado que ten-tava ser interrompido à força pela moça, a qual mantinha suas duas mãos postas sobre o peitoral do agressor, tentando afastá-lo a qualquer custo. O tremor do bíceps contraído só iria cessar um minuto depois, quando surpreen-dentemente a vítima deixa que a língua do oponente adentre sua boca e as mãos que antes empurravam, passaram então a alisar o peitoral inflado por

anabolizante eqüino.

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larom

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Saindo dali, os dois pombinhos seguem para o motel mais próximo, onde o chucro mangalarga cavalga violentamente sua caça por nada mais que três minutos, distribuídos igualmente entre dois orifícios e marcados por puxões de crina e socos no pulmão. Sorvida a seiva coloidal, a perfurada observa seu consumidor virar-se para o lado, procurar uma cerveja no frigobar, degustá-la por completo sem oferecê-la um só gole, beijar-lhe a fronte condecorando-a com o romântico título de "gostosa", virar-se para o lado e roncar como um DrDragão de Komodo satisfeito. A escavada procura conter as lágrimas e manter o silêncio enquanto veste suas roupas e abre a porta, deixando o Neanderthal hibernando, espalhado pela cama, nu, coçando esporadicamente a bolsa escro-tal. Na saída do matadouro, a jovem dá de cara com um vulto negro do outro lado da rua, segurando com uma das mãos e batendo na outra um cinto de couro com fivelas de boiadeiro, chifres metálicos incluídos. Enquanto o vigi-lante atravessa calmamente a rua, olhos travados em sua opositora moral, um arco-íris desce entre os dois, trazendo além de um pote de ouro, uma figura

alva, de cabelos alisados e visual dark:

- Pronto para realizar o tradicional corretivo paternalista, não é? Pois saiba que as mulheres não são mais as suas sinhás! Elas querem transar sem freio com o ébano viril das senzalas! Sim, elas amam o sexo casual e têm inclusive o dire-ito de se arrependerem! Elas querem ser lolitas, polacas e pin-ups! O que quer delas? Que transem como matronas medievais? A volta dos cintos de casti-dade? Conventos? Estão cansadas de serem usadas por matutos como você! Chegou a hora delas darem as cartas! Eu sou o Pós Moderninho e grito bem

alto: GIRL POWER!

Aguardando pacientemente os vinte e dois segundos de discurso, a mancha obscura faz o cinto cantar e estalar sua fivela pontiaguda na bochecha maquiada de seu inimigo. Contorcendo-se no chão, a pós modernidade é pisoteada no caminho entre o moralizador e sua interlocutora em estado de choque, que recebe sem burocracia uma PALMADA NO RABO com o peso de uma tonelada. Chorando copiosamente, a vasculhada recebe de seu pai moral o manto queimado de Joana D̀ Arc, a carabina de Maria Bonita, partituras de Chiquinha Gonzaga, sutiãs torChiquinha Gonzaga, sutiãs torrados e a máscara de ferro da Escrava Anastácia. Enquanto toneladas de sobretudos, maquiagens do Corvo, cruxifixos invertidos e batons pretos chegam para socorrer seu ídolo notívago do isolamento

malígno, a truculenta massa repressora segue seu caminho rumo à igreja mais próxima para depois desfrutar do calor humano da família, aproveitar o sol, sempre usando roupas leves e coloridas, mas não sem antes sepultar sua in-

tervenção desta maneira:

- LAROM!

O vingador mascarado desaparece dali e mais uma vez os valores da comuni-dade estão salvos. Avante, LAROM o vigilante moral!

larom criado por francisco cota.ilustrações por rafael lopes.contatos: [email protected]

larom

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O ASSUNTO É TENDÊNCIA...

Hoje em dia se Hoje em dia se você quer mostrar sua música pro mundo, você não grava mais uma demo e leva a uma gravadora, isso é passado; você se joga na internet e no mesmo dia você já tem uma resposta imediata se você presta e passa pro dia seguinte ou não. Existem sites de social networking voltados pra música particularmente responsáveis por esta rapidez que considero revolucionários, o My Space e o Last.fm. Lá você ouve, conhece, gosta e/ou descarta os antigos, os hiper-novos e também ainda rotula oque surge por aí a cada dia... O site My Space tem uma parte sua dedicada à pesquisas e divulgação de nSpace tem uma parte sua dedicada à pesquisas e divulgação de novas tendên-cias. Olhe estes resultados relacionados em reportagem da revista inglesa NME

sobre o site. O My Space apostava pra 2008 nas seguintes tendências:Gêneros - Toystep/Joystick Jungle, Bassline, Tape Music, Acusmatic, IDM

(Intelligent Dance Music) e Screamo.Posturas - Os New Ravers e os velhos New Romantics se unem e são chamados de Super Super Kids. Os Grimes e os Indies se fundem sob um único rótulo,

Grindies.Moda - Se vestir tipo gêmeos com seus amigos e sair por aí vai ser um es-

touro, são os Double-Dressers.Bandas - Partyshank, Peggy Sue And The Pirates, Riuven, Naz T Da Younger, Tape Deck, Conan and Mockisans, Ebony Bones, Joe Lean and The Jing Jang

Jong, Dead Disco e Make Me a Model.Ouvi cada uma das bandas acima e 90% já tem um CD lançadOuvi cada uma das bandas acima e 90% já tem um CD lançado, Joe Lean and The Jing Jang Jong é bastante interessante, mas oque pude perceber é que a coisa é séria e existe um fenômeno enorme em torno do revival do New Ro-mantic... 70% da bandas acima citadas tem uma sonoridade que até um mês atrás eu chamaria de New Rave, mas é tudo tão New Romantic que só posso chamar de Super Super Kids mesmo! Eu como ainda não estou neste nível de rapidez em descartar coisas que ouvi há um ou dois meses atrás, continuo

apostando inclusiapostando inclusive pra 2009 em Foals, Cazals e Friendly Fires já que seus cds de estréia todos chegaram ao primeiro lugar das paradas Indie de vários

países; e não por um acaso eu os classificava de New Ravers e hoje os classi-fico como Super Super Kids... Adoro estas coisas!

Jubasamhttp://jubamuzik.blogspot.com/

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música

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O filme que o mundo não esquece"I'll make you na offer he cant refuse!", Don Vito Corleone

Desde que O Desde que O Poderoso Chefão ganhou estatuetas, foi sucesso de público e ajudou a tirar Hollywood da lama, o mundo se pergunta o que há de tão mag-nífico na saga da família Corleone. Segundo o diretor Coppola, o filme é apenas a estória da sucessão de um pai pelo filho, mas ele próprio sabe que o filme é muito mais. E ele explica tudo dessa vez.

O terceiro e criticado, rodado no início dos anos 90, na verdade seria um epí-logo, no qual Michael Corleone tenta se redimir e acertar as contas com Deus. Para isso, Coppola já tinha até um nome: "The death of Michael Corleone". Mas a Paramount bateu o pé e insistiu em torná-lo O Poderoso Chefão Parte 3.

Essas e outras estórias estão nas 20 horas de O Poderoso Chefão Coppola Res-toration. Há pouco tempo á venda nas lojas por cem reais, já é possível encon-trar a caixa por 60 reais em camelôs do Centro do Rio, uma verdadeira pechin-cha. Embora eu seja suscetível à filmes de máfia, não estou ganhando nada com isso dos camelôs. Juro!

O filme, em 1972, que quase não saiu pelo mal momento que a indústria cin-ematográfica passava nos anos 60 com a popularização da TV, ajudou a recon-tar a história com H do cinema. Junto com Cidadão Kane, mudou a forma da narrativa em película. Al Pacino, Robert De Niro, Robert Duvall, Diane Keaton e Andy Garcia foram projetados para Hollywood depois dos sucessos de bilhete-ria. É bem verdade que muitos destes atores, nunca se livraram do estigma de filmes de máfia. Assim como Francis F. Coppola nunca superou sua obra. E o que dizer das frases que ficaram imortalizadas? Como por exemplo a do jovem Don Corleone, "I'll make him na offer he cant refuse", interpertado a epoca com maestria por um jovem Robert de Niro.

A segunda caixa da trilogia traz o que há de mais tecnológico e minucioso na restauração de filmes antigos. Se nas fitas VHS do filme, mal podia-se distin-guir sangue e pano, Michael e Sonny, em Coppola Restoration as cores são níti-das, vivas, separadas. Mais respeito com a obra e conseqüentemente conosco. Vale lembrar que lançaram a caixa em Blue Ray Também, imagine a qualidade de 25 GB do Blue Ray em uma tela digital. Putz!

cinema

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As cores da primeira e da segunda parte giram em torno do preto e amarelo. A luz ofuscada e a sombra que dão o tom mafioso a todo instante, foram resga-tadas através de uma pesquisa pelo mundo dos momentos mais marcantes do filme. Cenas como a de Michael e Kay dançando e sumindo na sombra pare-cem ganhar nova textura, mais vida. Assim como a cena do primeiro assassi-nato de Michael, o filho que não queria entrar para a máfia, mas se viu obrigado a assumir os negócios do pai, uma vez que este estava morrendo.

E não foi só nas cores que os camaradas mexeram. Na cena do primeiro assas-sinato do primeiro filme, em que a cabeça de um cavalo aparece na cama de um magnata, a trilha foi mudada, sobreposta a outra trilha e adiada alguns segundos para dar mais ênfase ao suspense da cena. Está tudo explicado nos extras, ou na versão com comentários dos três filmes. Um semestre da facul-dade de cinema, disse a Veja. Acho que é a primeira vez em tempos que con-cordo com a publicação do Roberto Civita.

A importância e a forma como foi feito O Poderoso Chefão à época, os empecil-hos que Hollywood pôs as filmagens em uma época difícil para a indústria, e tudo sobre o minucioso processo de restauração estão nos extras. Mesmo assim, o grande trunfo é a sutil nova estética dos três filmes.

The Godfather Trilogy foi o primeiro filme em que o mundo torceu deliberada-mente por um assassino frio. Se 1968 foi o ano que não acabou, O Poderoso Chefão é o filme que o mundo não saiu da sala de exibição. O primeiro filme em que duas estórias eram contadas paralelamente em tempos diferentes. O primeiro filme em que sentíamos o quanto bem e mal são relativos. O primeiro filme que mostrou, de forma crua e nua, o mundo em que vivíamos. É o mesmo mundo de hoje, 2008. Os dilemas de Michael são, no fim das contas, os nossos próprios dilemas. É isso que faz do os nossos próprios dilemas. É isso que faz do Poderoso Chefão, o melhor.

Marcos PauloJornalistahttp://chineseobama.blogspot.com/

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cinema

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participaram desta edição:

andréia rosa xavierbridon

edson coelhofrancisco cotagilson jr.

henry jaelpethenry jaelpetjubasam

marcelo maratmarcos paulomichel sanchesosmar shineidrpaula fabríciorafael lopesrafael lopes

silltom