Rachel Carson

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Rachel Carson Um dos livros que marcaram o século XX Ao ser introduzido para uso no combate a pragas, o DDT — o mais poderoso pesticida que o mundo já conhecera — terminou por mostrar que a natureza é vulnerável à intervenção humana. A maior parte dos pesticidas é efetiva contra um ou outro tipo de insetos, mas o DDT era capaz de destruir de imediato centenas de espécies diferentes de insetos. O DDT, cujo inventor recebeu o Prêmio Nobel, tornou-se conhecido durante a II Guerra Mundial, quando foi usado pelas tropas americanas contra insetos causadores da malária. Ao mesmo tempo, na Europa, começou a ser usado sob a forma de pó, eficiente contra pulgas e outros pequenos insetos. No livro Silent Spring (A Primavera Silenciosa), lançado em 1962, Rachel Carson mostrou como o DDT penetrava na cadeia alimentar e acumulava-se nos tecidos gordurosos dos animais, inclusive do homem (chegou a ser detectada a presença de DDT até no leite humano!), com o risco de causar câncer e dano genético. A grande polêmica movida pelo instigante e provocativo livro é que não só ele expunha os perigos do DDT, mas questionava de forma eloqüente a confiança cega da humanidade no progresso tecnológico. Dessa forma, o livro ajudou a abrir espaço para o movimento ambientalista que se seguiu. Juntamente com o biólogo René Dubos, Rachel Carson foi uma das pioneiras da conscientização de que os homens e os animais estão em interação constante com o meio em que vivem. Quando o DDT se tornou disponível para uso também por civis, poucas pessoas desconfiavam do miraculoso produto, talvez apenas aquelas que eram ligadas a temas da natureza. Uma dessas pessoas foi o escritor E. W. Teale, que advertia: "Um spray que atua de forma tão indiscriminada como o DDT, pode perturbar a economia da natureza tanto quanto uma revolução perturba a economia social. Noventa por cento dos insetos são benéficos e, se são eliminados, as coisas em pouco tempo fogem do controle." Outra dessas pessoas foi Rachel Carson, que propôs um artigo para o Reader's Digest falando sobre a série de testes que estavam sendo feitos com o DDT próximo a onde ela vivia, em Maryland. A idéia foi rejeitada. Treze anos mais tarde, em 1958, a idéia de Rachel de escrever sobre os perigos

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Rachel CarsonUm dos livros que marcaram o século XX

Ao ser introduzido para uso no combate a pragas, o DDT — o mais poderoso pesticida que o mundo já conhecera — terminou por mostrar que a natureza é vulnerável à intervenção humana. A maior parte dos pesticidas é efetiva contra um ou outro tipo de insetos, mas o DDT era capaz de destruir de imediato centenas de espécies diferentes de insetos. O DDT, cujo inventor recebeu o Prêmio Nobel, tornou-se conhecido durante a II Guerra Mundial, quando foi usado pelas tropas americanas contra insetos causadores da malária. Ao mesmo tempo, na Europa, começou a ser usado sob a forma de pó, eficiente contra pulgas e outros pequenos insetos.

No livro Silent Spring (A Primavera Silenciosa), lançado em 1962, Rachel Carson mostrou como o DDT penetrava na cadeia alimentar e acumulava-se nos tecidos gordurosos dos animais, inclusive do homem (chegou a ser detectada a presença de DDT até no leite humano!), com o risco de causar câncer e dano genético.

A grande polêmica movida pelo instigante e provocativo livro é que não só ele expunha os perigos do DDT, mas questionava de forma eloqüente a confiança cega da humanidade no progresso tecnológico. Dessa forma, o livro ajudou a abrir espaço para o movimento ambientalista que se seguiu. Juntamente com o biólogo René Dubos, Rachel Carson foi uma das pioneiras da conscientização de que os homens e os animais estão em interação constante com o meio em que vivem.

Quando o DDT se tornou disponível para uso também por civis, poucas pessoas desconfiavam do miraculoso produto, talvez apenas aquelas que eram ligadas a temas da natureza. Uma dessas pessoas foi o escritor E. W. Teale, que advertia: "Um spray que atua de forma tão indiscriminada como o DDT, pode perturbar a economia da natureza tanto quanto uma revolução perturba a economia social. Noventa por cento dos insetos são benéficos e, se são eliminados, as coisas em pouco tempo fogem do controle." Outra dessas pessoas foi Rachel Carson, que propôs um artigo para o Reader's Digest falando sobre a série de testes que estavam sendo feitos com o DDT próximo a onde ela vivia, em Maryland. A idéia foi rejeitada. Treze anos mais tarde, em 1958, a idéia de Rachel de escrever sobre os perigos do DDT, teve um novo alento, quando ela soube da grande mortandade de pássaros em Cape Cod, causada pelas pulverizações de DDT. Porém seu uso tinha aumentado tanto desde 1945, que Rachel não conseguiu convencer nenhuma revista a publicar sua opinião sobre os efeitos adversos do DDT. Ainda que Rachel já fosse uma pesquisadora e escritora reconhecida, sua visão do assunto soava como uma heresia. Então, ela decidiu abordar o assunto em um livro.

A Primavera Silenciosa levou quatro anos para ser terminado. Além da penetração do DDT na cadeia alimentar, e de seu acúmulo nos tecidos dos animais e do homem, Rachel mostrou que uma única aplicação de DDT em uma lavoura matava insetos durante semanas e meses e, não só atingia as pragas, mas um número incontável de outras espécies, permanecendo tóxico no ambiente mesmo com sua diluição pela chuva.

Rachel concluía que o DDT e outros pesticidas prejudicavam irremediavelmente os pássaros e outros animais, e deixavam contaminado todo o suprimento mundial de alimentos. O mais contundente capítulo do livro, intitulado "uma fábula para o amanhã", descrevia uma cidade americana anônima na qual toda vida — desde os peixes, os pássaros, até as crianças — tinham sido silenciadas pelos efeitos insidiosos do DDT.

O livro causou alarme entre os leitores americanos. Como era de se esperar, provocou a indignação da indústria de pesticidas. Reações extremadas chegaram a questionar a integridade, e até a sanidade, de Rachel Carson.Porém, além de ela estar cuidadosamente munida de evidências a seu favor, cientistas eminentes vieram em sua defesa e quando o Presidente John Kennedy ordenou ao comitê científico de seu governo que investigasse as questões levantadas pelo livro, os relatórios apresentados foram favoráveis ao livro e à autora. Como resultado, o governo passou a supervisionar o uso do DDT e este terminou sendo banido.

A visão sobre o uso de pesticidas foi ampliada e a conscientização do público e dos usuários começou a acontecer. Logo, já não se perguntava mais "será que os pesticidas podem ser realmente perigosos?", mas sim "quais pesticidas são perigosos?" Então, em vez dos defensores da natureza terem de provar que os produtos eram prejudiciais, foram os fabricantes que passaram a ter a obrigação de provar que seus produtos são seguros.

A maior contribuição de A Primavera Silenciosa foi a conscientização pública de que a natureza é vulnerável à intervenção humana. Poucas pessoas até então se preocupavam com problemas de conservação, a maior parte pouco se importava se algumas ou muitas espécies estavam sendo extintas. Mas o alerta de Rachel Carson era assustador demais para ser ignorado: a contaminação de alimentos, os riscos de câncer, de alteração genética, a morte de espécies inteiras... Pela primeira vez, a necessidade de regulamentar a produção industrial de modo a proteger o meio ambiente se tornou aceita.

Clássico: Primavera Silenciosa de Rachel Carson é reeditado no Brasil

Da Redação - 01/06/10 - 18:32 “Quarenta anos atrás, esta obra aplicou um choque galvânico na consciência pública e, como resultado, infundiu ao movimento ambientalista uma nova substância e significado”, segundo Edward O.

Wilson.  

Para quem não sabe ou nunca ouviu falar, o planeta Terra deve muito a Rachel Carson, uma cientista norte-americana que, no início da década de 1960, publicou Primavera silenciosa, obra que, mesmo tendo no título uma expressão poética, foi o estopim que deu forma a um novo e poderoso movimento social que alterou o curso da História.

Carson, pesquisadora rigorosa com talento de romancista, causou uma verdadeira revolução em defesa do meio ambiente a partir do lançamento de seu livro, em 1962. A obra, escrita em pouco mais de quatro anos, apresenta inúmeros documentos científicos de diferentes fontes, comprovando as afirmações da autora que desencadearam uma investigação no governo Kennedy. De imediato, inspirou a rede de tevê CBS a produzir um documentário, assistido por 15 milhões de telespectadores, que mostrava os efeitos nocivos do DDT à saúde, fato que poderia,

inclusive, alcançar mais de uma geração, uma vez que resíduos dessa substância tóxica podem ser encontrados no leite humano.

Revolução

O clamor que se seguiu à publicação de Primavera silenciosa forçou o governo a proibir o uso de DDT e instigou mudanças revolucionárias nas leis que preservam o ar, a terra e a água, com a criação, em 1970, da Agência de Proteção Ambiental Norte-Americana. A paixão de Rachel Carson pela questão do futuro do planeta refletiu poderosamente por todo mundo e seu livro foi determinante para o lançamento do movimento ambientalista.

Esta edição apresentada pela Editora Gaia inclui um posfácio do escritor e cientista Edward O. Wilson e uma introdução da biógrafa Linda Lear, que discorre sobre a história corajosa de Carson na defesa de suas convicções diante do ataque impiedoso e covarde da indústria química logo após a publicação deste seu livro e antes de sua morte prematura, em 1964.

Em 2000, a Escola de Jornalismo de Nova York consagrou Primavera silenciosa como uma das maiores reportagens investigativas do século XX. Em dezembro de 2006, premiando a memória e o legado de Rachel Carson, o jornal britânico The Guardian conferiu a ela o primeiro lugar na lista das cem pessoas que mais contribuíram para a defesa do meio ambiente de todos os tempos.

Páginas/Preço: 328 / R$ 49,00

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A Carta do Cacique Seattle, em 1855

Em 1855, o cacique Seattle, da tribo Suquamish, do Estado de Washington, enviou esta carta ao presidente dos Estados Unidos (Francis Pierce), depois de o Governo haver dado a entender que pretendia comprar o território ocupado por aqueles índios. Faz mais de um século e meio. Mas o desabafo do cacique tem uma incrível atualidade. A carta:

    "O grande chefe de Washington mandou dizer que quer comprar a nossa terra. O grande chefe assegurou-nos também da sua amizade e benevolência.

Isto é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não necessita da nossa amizade. Nós vamos pensar na sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará a nossa terra. O grande chefe de Washington pode acreditar no que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na mudança das estações do ano. Minha palavra é como as estrelas, elas não empalidecem.Como pode-se comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal idéia é estranha. Nós não somos donos da pureza do ar ou do brilho da água. Como pode então comprá-los de nós? Decidimos apenas sobre as coisas do nosso tempo. Toda esta terra é sagrada para o meu povo. Cada folha reluzente, todas as praias de areia, cada véu de neblina nas florestas escuras, cada clareira e todos os insetos a zumbir são sagrados nas tradições e na crença do meu povo.    Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um torrão de terra é igual ao outro. Porque ele é um estranho, que vem de noite e rouba da terra tudo quanto necessita. A terra não é sua irmã, nem sua amiga, e depois de exaurí-la ele vai embora. Deixa para trás o túmulo de seu pai sem remorsos. Rouba a terra de seus filhos, nada respeita. Esquece os antepassados e os direitos dos filhos. Sua ganância empobrece a terra e deixa atrás de si os desertos. Suas cidades são um tormento para os olhos do homem vermelho, mas talvez seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada compreende.Não se pode encontrar paz nas cidades do homem branco. Nem lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o zunir das asas dos insetos. Talvez por ser um selvagem que nada entende, o barulho das cidades é terrível para os meus ouvidos. E que espécie de vida é aquela em que o homem não pode ouvir a voz do corvo noturno ou a conversa dos sapos no brejo à noite? Um índio prefere o suave sussurro do vento sobre o espelho d'água e o próprio cheiro do vento, purificado pela chuva do meio-dia e com aroma de pinho. O ar é precioso para o homem vermelho, porque todos os seres vivos respiram o mesmo ar, animais, árvores, homens. Não parece que o homem branco se importe com o ar que respira. Como um moribundo, ele é insensível ao mau cheiro.Se eu me decidir a aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais como se fossem seus irmãos. Sou um selvagem e não compreendo que possa ser de outra forma. Vi milhares de bisões apodrecendo nas pradarias abandonados pelo homem branco que os abatia a tiros disparados do trem. Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais valioso que um bisão, que nós, peles vermelhas matamos apenas para sustentar a nossa própria vida. O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem os homens morreriam de solidão espiritual, porque tudo quanto acontece aos animais pode também afetar os homens. Tudo quanto fere a terra, fere também os filhos da terra.    Os nossos filhos viram os pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo em ócio e envenenam seu corpo com alimentos adocicados e bebidas ardentes. Não tem grande importância onde passaremos os nossos últimos dias. Eles não são muitos. Mais algumas horas ou até mesmo alguns invernos e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nestas terras ou que tem vagueado em pequenos bandos pelos bosques, sobrará para chorar, sobre os túmulos, um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de confiança como o nosso.

De uma coisa sabemos, que o homem branco talvez venha a um dia descobrir: o nosso Deus é o mesmo Deus. Julga, talvez, que pode ser dono Dele da mesma maneira como deseja possuir a nossa terra. Mas não pode. Ele é Deus de todos. E quer bem da mesma maneira ao homem vermelho como ao branco. A terra é amada por Ele. Causar dano à terra é demonstrar desprezo pelo Criador. O homem branco também vai desaparecer, talvez mais depressa do que as outras raças. Continua sujando a sua própria cama e há de morrer, uma noite, sufocado nos seus próprios dejetos. Depois de abatido o último bisão e domados todos os cavalos selvagens, quando as matas misteriosas federem à gente, quando as colinas escarpadas se encherem de fios que falam, onde ficarão então os sertões? Terão acabado. E as águias? Terão ido embora. Restará dar adeus à andorinha da torre e à caça; o fim da vida e o começo pela luta pela sobrevivência.    Talvez compreendêssemos com que sonha o homem branco se soubéssemos quais as esperanças transmite a seus filhos nas longas noites de inverno, quais visões do futuro oferecem para que possam ser formados os desejos do dia de amanhã. Mas nós somos selvagens. Os sonhos do homem branco são ocultos para nós. E por serem ocultos temos que escolher o nosso próprio caminho. Se consentirmos na venda é para garantir as reservas que nos prometeste. Lá talvez possamos viver os nossos últimos dias como desejamos. Depois que o último homem vermelho tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará a viver nestas florestas e praias, porque nós as amamos como um recém-nascido ama o bater do coração de sua mãe. Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. Protege-a como nós a protegíamos. Nunca esqueça como era a terra quando dela tomou posse. E com toda a sua força, o seu poder, e todo o seu coração, conserva-a para os seus filhos, e ama-a como Deus nos ama a todos. Uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Esta terra é querida por Ele. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum."

Breve Histórico da Educação Ambiental

Acontecimentos internacionais que influenciaram a Educação Ambiental mundial.

 

Ano  

19621965

19661968

Anos 1960Publicação de Primavera Silenciosa, por Rachel CarlsonUtilizada a expressão Educação Ambiental (Environmental Education) na Conferência de Educação da Universidade de Keele, Grã-BretanhaPacto Internacional sobre os Direitos Humanos - Assembléia Geral da ONUFundação do Clube de Roma

1972Anos 1970Publicação do Relatório Os Limites do Crescimento - Clube de RomaConferência de Estocolmo - discussão do desenvolvimento e ambiente,

19731974

1975

1976

1977

1979

conceito de ecodesenvolvimento; Recomendação 96 - Educação e Meio AmbienteRegistroMundial de Programas em Educação Ambiental, EUASeminário de Educação Ambiental em Jammi, Finlândia - Educação Ambiental é reconhecida como educação integral e permanenteCongresso de Belgrado - Carta de Belgrado - estabelece as metas e princípios da Educação AmbientalPrograma Internacional de Educação Ambiental - PIEA - UNESCOReunião Sub-regional de Educação Ambiental para o Ensino Secundário, Chosica, Peru - discussão sobre as questões ambientais na América Latina estarem ligadas as necessidades de sobrevivência e aos direitos humanosCongresso de Educação Ambiental - Brazzaville, África - reconhece a pobreza como maior problema ambientalConferência de Tbilisi, Geórgia - estabelece os princípios orientadores da EA e enfatiza se caráter interdisciplinar, critico, ético e transformadorEncontro Regional de Educação Ambiental para América Latina em San José, Costa Rica

1980

1987

1988

1989

Anos 1980Seminário Regional Europeu sobre Educação Ambiental para Europa e América do Norte - assinala a importância do intercâmbio de informações e experiênciasSeminário Regional sobre Educação Ambiental nos Estados Árabes, Manama, Barein - UNESCO/PNUMAPrimeira Conferência Asiática sobre Educação Ambiental Nova Delhi, Índia Divulgação do relatório da Comissão Brundtland - Nosso Futuro ComumCongresso Internacional da UNESCO/PNUMA sobre Educação e Formação Ambiental - Moscou - realiza a avaliação dos avanços desde Tbilisi, reafirma os princípios de Educação Ambiental e assinala a importância e necessidade de pesquisa e da formação em Educação AmbientalDeclaração de Caracas - ORPAL/PNUMA - sobre Gestão Ambientalna América - denuncia a necessidade de mudar o modelo de desenvolvimentoPrimeiro Seminário sobre Materiais para a Educação Ambiental ORLEAC/UNESCO/PIEA, Santiago, ChileDeclaração de Haia, preparatório da Rio-92 - aponta a importância da cooperação internacional nas questões ambientais

1990

19911992

Anos 1990Conferência Mundial sobre Ensino para Todos - Satisfação das Necessidades Básicas de Aprendizagem, Jomtien, Tailândia - destaca o conceito de analfabetismo ambientalONU declara o ano 1990 como o Ano Internacional do Meio AmbienteReuniões preparatórias para a Rio-92Conferência sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, UNCED, Rio-92

1993

1994

1995

19961997

Criação da Agenda 21Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis, Fórum das ONGsCarta Brasileira de Educação Ambiental, MECCongresso Sul-Americano, Argentina - continuidade Rio-92Conferência dos Direitos Humanos, VienaConferência Mundial de População, CairoI Congresso Ibero-americano de Educação Ambiental, Guadalajara, MéxicoConferência para o Desenvolvimento Social, Copenhague - criação de um ambiente econômico-político-social-cultural e jurídico que permita o desenvolvimento socialConferência Mundial da Mulher, PequimConferência Mundial do Clima, BerlimConferência Hábitat II, IstambulII Congresso Ibero-americano de Educação Ambiental, Guadalajara, MéxicoConferência sobre Educação Ambiental, Nova Delhi, ÍndiaConferência Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade: Educação e Conscientização Pública para a Sustentabilidade, Thessaloniki, Grécia

Tabela II: Acontecimentos no Brasil que influenciaram a EA

ANO

1971

1972

1973

1977

1978

Anos 1970Cria-se no Rio Grande do Sul a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (AGAPAN)A Delegação Brasileira na Conferência de Estocolmo declara que o país está "aberto à poluição, porque o que precisa é dólares, desenvolvimento e empregos" - apesar disso, contraditoriamente, o Brasil lidera os países do Terceiro Mundo para não aceitar a Teoria do Crescimento Zero proposta pelo Clube de RomaCria-se a Secretaria Especial do Meio Ambiente, SEMA, no âmbito do Ministério do Interior, que, entre outras atividades, contempla a Educação AmbientalSEMA constitui um grupo de trabalho para a elaboração de um documento sobre a Educação Ambiental, definindo o seu papel no contexto brasileiroSeminários, Encontros e debates preparatórios à Conferência de Tbilisi são realizados pela FEEMA, RJA Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul desenvolve o Projeto Natureza (1978 -1985)Criação de cursos voltados às questões ambientais em várias universidades brasileiras

1984

1986

1987

1988

1989

Anos 1980O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) apresenta uma resolução, estabelecendo diretrizes para a Educação AmbientalA SEMA e a Universidade de Brasília organizam o primeiro Curso de Especialização em Educação Ambiental (1986-1988)I Seminário Nacional sobre Universidade e Meio AmbienteSeminário Internacional de Desenvolvimento Sustentado e Conservação de Regiões Estuarinas - Lagunares (Manguezais), São PauloO MEC aprova o Parecer nº 226/87, do conselheiro Arnaldo Niskier - inclusão da Educação Ambiental nos currículos escolares de 1º e 2º grausII Seminário Universidade e Meio Ambiente, Belém, ParáA Constituição Brasileira de 1988, art. 225 no capítulo VI - Do Meio Ambiente, inciso VI - destaca a necessidade de promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente. Para cumprimento dos preceitos constitucionais, leis federais, decretos, constituições estaduais e leis municipais determinam a obrigatoriedade da Educação AmbientalFundação Getúlio Vargas traduz e publica o relatório Brundtland, Nosso Futuro ComumA Secretaria de Estado do Meio Ambiente de São Paulo e a CETESB publicam a edição-piloto do livro Educação Ambiental - Guia para Professores de 1º e 2º grausI Fórum de Educação Ambiental - São PauloCriação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), pela fusão da SEMA, SUDEPE, SUDHEVEA e IBDF, onde funciona a Divisão de Educação AmbientalPrograma de Educação Ambiental da Universidade Aberta da Fundação Demócrito Rocha, por meio de encartes nos jornais de Recife e FortalezaPrimeiro Encontro Nacional sobre Educação Ambiental no Ensino Formal, IBAMA - UFRPE, RecifeCria-se o Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA) no Ministério do Meio Ambiente (MMA), apoiando projetos que incluem a Educação AmbientalIII Seminário Nacional sobre Universidade e Meio Ambiente, Cuiabá, Mato Grosso

1990

1991

Anos 1990I Curso Latino-Americano de Especialização em Educação Ambiental, PNUMA - IBAMA -CNPq -CAPES - UFMT, Cuiabá, Mato Grosso (1990 -1994)IV Seminário Nacional sobre Universidade e Meio Ambiente, Florianópolis, Santa CatarinaMEC, Portaria nº 678 (14/05/91) institui que todos os currículos nos diversos níveis de ensino deverão contemplar conteúdos de Educação AmbientalProjeto de Informações sobre Educação Ambiental, IBAMA - MEC

1992

1993

1994

1996

1997

Grupo de Trabalho para Educação Ambiental coordenado pelo MEC, preparatório à Conferência Rio-92Encontro Nacional de Políticas e Metodologias para Educação Ambiental, MEC-IBAMA-Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República - UNESCO-Embaixada do CanadáII Fórum de Educação Ambiental - São PauloCriação dos Núcleos Estaduais de Educação Ambiental do IBAMA (NEAs)Participação das ONGs do Brasil no Fórum de ONGs e na redação do Tratado de Educação Ambiental para Sociedades SustentáveisO MEC promove no CIAC do Rio das Pedras em Jacarepaguá, Rio de Janeiro, o Whoskshop sobre Educação Ambiental , cujo resultado se encontra na Carta Brasileira de Educação AmbientalPublicação dos livros Amazônia: uma proposta interdisciplinar de Educação Ambiental (Temas básicos) e Amazônia: uma proposta interdisciplinar de Educação Ambiental (Documentos Metodológicos), Brasília, 1992-1994 (IBAMA - Universidades e SEDUCs da região)Criação dos Centros de Educação Ambiental do MEC, com a finalidade de criar e difundir metodologias em Educação Ambiental Aprovação do Programa Nacional de Educação Ambiental (PRONEA), com a participação do MMA-IBAMA-MEC-MCT-MINCPublicação em português da Agenda 21, feita por crianças e jovens, UNICEFIII Fórum de Educação Ambiental, São PauloCriação da Câmara Técnica de Educação Ambiental, CONAMA Novos Parâmetros Curriculares do MEC que incluem a Educação Ambiental como tema transversal do currículoCursos de Capacitação em Educação Ambiental para os técnicos das SEDUCs e DEMECs nos estados, para orientar a implantação dos Parâmetros Curriculares - convênio UNESCO-MECCriação da Comissão Interministerial de Educação Ambiental, MMACriação da Comissão de Educação Ambiental do MMACursos de Educação Ambiental organizados pelo MEC - Coordenação de Educação Ambiental para as escolas técnicas e segunda etapa de capacitação das SEDUCs e DEMECs - convênio UNESCO-MECI Teleconferência Nacional de Educação Ambiental, MECIV Fórum de Educação Ambiental e I Encontro da Rede de Educadores Ambientais, VitóriaI Conferência Nacional de Educação Ambiental, Brasília

Tabelas compiladas do livro: Educação Ambiental caminhos trilhados no Brasil, org. Suzana M. Padua e Marlene F. Tabanez, Brasília, 1997; p. 265-269 Artigo Breve Histórico da Educação Ambiental por Naná Mininni Medina.

Os problemas ambientais gerados em decorrência da industrialização geram a indignação da sociedade civil, que, em busca de qualidade de vida e harmonia com a natureza, desenvolvem estudos e críticas ao modelo de produção e a consequente degradação ambiental. Alguns fatos importantes em diferentes décadas contribuíram para o surgimento e fortalecimento da Educação Ambiental.

Evento Ambiental realizado no Rio de Janeiro, Brasil

1950 - 1960 – Poluição atmosférica de origem industrial provocou muitas mortes em Londres e Nova Iorque.

1960 – 1970 – Nesse período, grande parte dos conhecimentos atuais dos sistemas ambientais do planeta foi desenvolvido.

1972 – Conferência de Estocolmo, discussão do desenvolvimento e ambiente, conceito de eco-desenvolvimento.

1973 – Foi criada, no Brasil, a Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA).

1975 – A UNESCO, em colaboração com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, criou o Programa Internacional de Educação Ambiental (PIEA), em Belgrado.

1977 - Ocorreu um dos eventos mais importantes para a Educação Ambiental em nível mundial: a Conferência Intergovernamental em Educação Ambiental, em Tblisi na Geórgia.

1983 – Brasil, o Decreto n° 88.351/83, que regulamenta a Lei n° 226/87, determinou a necessidade da inclusão da Educação Ambiental nos currículos escolares de 1° e 2° graus.

1987 – Realizou-se o Congresso Internacional sobre Educação Ambiental e Formação Relativas ao Meio Ambiente, em Moscou, capital da Rússia.

1992 – Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, ECO-92, realizada no Rio de Janeiro, Brasil.

1994 – I Congresso Ibero-americano de Educação Ambiental, realizado na cidade mexicana de Guadalajara.

1997 – Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade: Educação e Conscientização Pública para a Sustentabilidade, Grécia.

2002 - Em agosto / setembro de 2002 realizou-se em Johanesburgo, África do Sul, o Encontro da Terra, também denominado Rio+10, que teve a finalidade de avaliar as decisões tomadas na Conferência do Rio, em 1992.

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A Educação Ambiental na Escola

Rosimari A. Viveiro RuyMestranda em Educação/Educação Ambiental - UNESP de Rio Claro

Nas últimas décadas, vêm se intensificando as preocupações inerentes à temática ambiental e, concomitantemente, as iniciativas dos variados setores da sociedade para o desenvolvimento de atividades, projetos e congêneres no intuito de educar as comunidades, procurando sensibilizá-las para as questões ambientais, e mobilizá-las para a modificação de atitudes nocivas e a apropriação de posturas benéficas ao equilíbrio ambiental.

As idéias ligadas à temática ambiental não surgiram de um dia para outro. Numerosos fatos de âmbito internacional foram delineando o que conhecemos hoje por Educação Ambiental (EA). Ilustrativamente, podemos citar alguns desses acontecimentos:

Considerado um clássico na história do movimento ambientalista mundial, o livro “Primavera Silenciosa”, lançado em 1962 pela jornalista Rachel Carson, alertava para a crescente perda da qualidade de vida produzida pelo uso indiscriminado e excessivo dos produtos químicos e os efeitos dessa utilização sobre os recursos ambientais (DIAS, 1992) – esse livro teve grande repercussão, favorecendo o crescimento dos movimentos ambientalistas mundiais;

A Carta de Belgrado (1975) preconizou que as fundações de um programa mundial de Educação Ambiental fossem lançadas;

A Declaração da Conferência Intergovernamental de Tbilisi sobre Educação Ambiental (1977) atentou para o fato de que, nos últimos decênios, o homem, utilizando o poder de transformar o meio ambiente, modificou rapidamente o equilíbrio da natureza. Como resultado, as espécies ficaram freqüentemente expostas a perigos que poderiam ser irreversíveis (DIAS, 1992);

No Congresso de Moscou (1987), chegou-se à concordância de que a EA deveria objetivar modificações comportamentais nos campos cognitivos e afetivos (DIAS, 1992).

  A jornalista e bióloga Rachel Carson e sua obra mais importante, o livro

"Primavera Silenciosa".

Segundo VASCONCELLOS (1997), a presença, em todas as práticas educativas, da reflexão sobre as relações dos seres entre si, do ser humano com ele mesmo e do ser humano com seus semelhantes é condição imprescindível para que a Educação Ambiental ocorra. Dentro desse contexto, sobressaem-se as escolas, como espaços privilegiados na implementação de atividades que propiciem essa reflexão, pois isso necessita de atividades de sala de aula e atividades de campo, com ações orientadas em projetos e em processos de participação que levem à autoconfiança, à atitudes positivas e ao comprometimento pessoal com a proteção ambiental implementados de modo interdisciplinar (DIAS, 1992).

  A escola se apresenta como o melhor ambiente para implementar a

consciência de preservação do meio.

Entretanto, não raramente a escola atua como mantenedora e reprodutora de uma cultura que é predatória ao ambiente. Nesse caso, as reflexões que dão início à implementação da Educação Ambiental devem contemplar aspectos que não apenas possam gerar alternativas para a superação desse quadro, mas que o invertam, de modo a produzir conseqüências benéficas (ANDRADE, 2000), favorecendo a paulatina compreensão global da fundamental importância de todas as formas de vida coexistentes em nosso planeta, do meio em que estão inseridas, e o desenvolvimento do respeito mútuo entre todos os diferentes membros de nossa espécie (CURRIE, 1998).

Esse processo de sensibilização da comunidade escolar pode fomentar iniciativas que transcendam o ambiente escolar, atingindo tanto o bairro no qual a escola está inserida como comunidades mais afastadas nas quais residam alunos, professores e funcionários, potenciais multiplicadores de informações e atividades relacionadas à Educação Ambiental implementada na escola. SOUZA (2000) afirma, inclusive, que o estreitamento das relações intra e extra-escolar é bastante útil na conservação do ambiente, principalmente o ambiente da escola. Os participantes do Encontro Nacional de Políticas e Metodologias para a EA (MEC/SEMAM, 1991) sugeriram, entre outras propostas, que os trabalhos relacionados à EA na escola devem ter, como objetivos, a sensibilização e a conscientização; buscar uma mudança comportamental; formar um cidadão mais atuante; (...) sensibilizar o professor, principal agente promotor da EA; (...) criar condições para que, no ensino formal, a EA seja um processo contínuo e permanente, através de ações interdisciplinares globalizantes e da instrumentação dos professores; procurar a integração entre escola e comunidade, objetivando a proteção ambiental em harmonia com o desenvolvimento sustentado... (DIAS, 1992).

O objetivo de qualquer iniciativa de conscientização ambiental é atingir a toda comunidade.

Implementar a Educação Ambiental nas escolas tem se mostrado uma tarefa exaustiva. Existem grandes dificuldades nas atividades de sensibilização e formação, na implantação de atividades e projetos e, principalmente, na manutenção e continuidade dos já existentes. Segundo ANDRADE (2000), “... fatores como o tamanho da escola, número de alunos e de professores, predisposição destes professores em passar por um processo de treinamento, vontade da diretoria de realmente implementar um projeto ambiental que vá alterar a rotina na escola, etc, além de fatores resultantes da integração dos acima citados e ainda outros, podem servir como obstáculos à implementação da Educação Ambiental”. Dado que a Educação Ambiental não se dá por atividades pontuais, mas por toda uma mudança de paradigmas que exige uma contínua reflexão e apropriação dos valores que remetem a ela, as dificuldades enfrentadas assumem características ainda mais contundentes. A Conferência de Tbilisi (1977) já demonstrava as preocupações existentes a esse respeito, mencionando, em um dos pontos da recomendação nº 21, que deveriam ser efetuadas pesquisas sobre os obstáculos, inerentes ao comportamento ambiental, que se opõem às modificações dos conceitos, valores e atitudes das pessoas (DIAS, 1992).

Diante de tantas pistas para uma implementação efetiva da EA nas escolas, evidentemente, “posicionamo-nos por um processo de implementação que não seja hierárquico, agressivo, competitivo e exclusivista, mas que seja levado adiante fundamentado pela cooperação, participação e pela geração de

autonomia dos atores envolvidos” (ANDRADE, 2000). Projetos impostos por pequenos grupos ou atividades isoladas, gerenciadas por apenas alguns indivíduos da comunidade escolar – como um projeto de coleta seletiva no qual a única participação dos discentes seja jogar o lixo em latões separados, envolvendo apenas um professor coordenador – não são capazes de produzir a mudança de mentalidade necessária para que a atitude de reduzir o consumo, reutilizar e reciclar resíduos sólidos se estabeleça e transcenda para além do ambiente escolar. Portanto, deve-se buscar alternativas que promovam uma contínua reflexão que culmine na metanóia (mudança de mentalidade); apenas dessa forma, conseguiremos implementar, em nossas escolas, a verdadeira Educação Ambiental, com atividades e projetos não meramente ilustrativos, mas fruto da ânsia de toda a comunidade escolar em construir um futuro no qual possamos viver em um ambiente equilibrado, em harmonia com o meio, com os outros seres vivos e com nossos semelhantes.

Bibliografia ANDRADE, D. F. Implementação da Educação Ambiental em escolas:

uma reflexão. In: Fundação Universidade Federal do Rio Grande. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, v. 4.out/nov/dez 2000.

CURRIE, K. L. Meio ambiente, interdisplinaridade na prática. Campinas, Papirus, 1998.

DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo, Gaia, 1992.

GUERRA, R. T. GUSMÃO, C. R. C. A implantação da Educação Ambiental numa escola pública de Ensino Fundamental: teoria versus prática. João Pessoa, Anais do Encontro Paraibano de Educação Ambiental 2000 – Novos Tempos. 08-10 nov 2000.

SATO, M. Educação Ambiental. São Carlos, Rima, 2002. SOUZA, A. K. A relação escola-comunidade e a conservação ambiental.

Monografia. João Pessoa, Universidade Federal da Paraíba, 2000. VASCONCELLOS, H. S. R. A pesquisa-ação em projetos de Educação

Ambiental. In: PEDRINI, A. G. (org). Educação Ambiental: reflexões e práticas contemporâneas. Petrópolis, Vozes, 1997.

© Revista Eletrônica de Ciências - Número 26 - Maio de 2004.

Artigos 

 UM HISTÓRICO SOBRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL E NO MUNDO

                                                          *Carlos Alberto Alves Quintino   

      As décadas de 70/80 marcaram o início das lutas sociais organizadas em nível mundial, dentre as quais o movimento Hippie, a luta dos negros americanos pela cidadania, as lutas das mulheres pela igualdade de direitos com os homens, entre outras. No bojo desses acontecimentos, tiveram início os movimentos de defesa da ecologia e do meio ambiente, cujo marco foi a publicação do

livro “Primavera Silenciosa” (1962), da americana Raquel Carson.

      A partir dessa publicação, que repercutiu no mundo inteiro, os militantes dos movimentos ambientalistas e a Organização das Nações Unidas (ONU) realizaram vários eventos internacionais

que abordaram a questão da preservação e da educação ambiental.

      O primeiro evento foi a Conferência das Nações Unidas Sobre Meio Ambiente (1972), conhecida como Conferência de Estocolmo. Com a participação de 113 países, esse evento, que

denunciou a devastação da natureza que ocorria naquele momento, deliberou que o crescimento humano precisaria ser repensado imediatamente (Pedrini: 1998, p. 26). Nesse encontro, foram elaborados dois documentos: a “Declaração Sobre Meio Ambiente Humano” e o “Plano de Ação

Mundial”. 

      A principal recomendação dessa conferência foi a de que deveria ser dada ênfase à educação ambiental como forma de se criticar e combater os problemas ambientais existentes na época

(Dias: 2000, p. 79). É importante lembrar que nesse evento os países subdesenvolvidos não pouparam críticas aos países ricos, por acreditarem que estes queriam limitar o desenvolvimento econômico dos países pobres “usando políticas ambientais de controle da poluição como meio de

inibir a competição no mercado internacional” (Dias: 2000, p.79). 

      Em função da Conferência de Estocolmo, o governo brasileiro, pressionado pelo Banco Mundial, criou a Secretaria Especial do Meio Ambiente, com o objetivo de implementar uma

gestão integrada do meio ambiente. Esse órgão possuía apenas três funcionários, o que mostrava o descaso da ditadura militar com as questões ambientais em nosso país. De acordo com Perini (1998), o plano de ação dessa conferência sugeria a capacitação dos professores, assim como uma metodologia de ação para a educação ambiental em nível mundial. Tendo em vista essa

política, foram realizadas mais três conferências internacionais sobre educação ambiental entre as décadas de 70/80.

      A primeira foi a Conferência de Belgrado (Yuguslávia), realizada em 1975, com a participação de pesquisadores e cientistas de 65 países. Esse encontro resultou em um documento

denominado “Carta de Belgrado”, que preconizava uma nova ética para promover a erradicação da pobreza, do analfabetismo, da fome, da poluição, da exploração e de todas as formas de dominação humana. Outra deliberação importante dessa conferência foi a elaboração dos

princípios e diretrizes para o programa internacional de educação ambiental, de caráter contínuo e multidisciplinar, que levava em conta as diferenças regionais e os interesses nacionais.

      Com base nessa estratégia, a UNESCO criou o Programa Internacional de Educação Ambiental (PIEA), com relevante atuação internacional, cujo objetivo era o de editar publicações relatando as

experiências mundiais de preservação e educação ambiental. Além disso, esse programa criou uma base de dados que, no início da década de 80, contava com informações sobre 900

instituições que atuavam com educação ambiental e 140 projetos voltados à preservação do meio ambiente.

      No que diz respeito ao Brasil, as deliberações da conferência de Belgrado, principalmente aquelas voltadas à educação ambiental, passaram despercebidas pelos órgãos educacionais tanto

na esfera federal quanto na estadual, dada a conjuntura política que o país vivia naquele momento.

      A partir de 1975, alguns órgãos estaduais brasileiros voltados ao meio ambiente iniciaram os primeiros programas de educação ambiental em parceria com as Secretarias de Estado da

Educação. Ao mesmo tempo, incentivados por instituições internacionais “disseminava-se no país o ecologismo, deformação de abordagem que circunscrevia a importância da educação ambiental

à flora e a fauna, à apologia do “verde pelo verde”, sem que nossas mazelas socioeconômicas fossem consideradas nas análises” (Dias: 2000, p. 81). Esse conceito não levava em conta a

crítica à pobreza, ao analfabetismo, às injustiças sociais etc., um dos temas centrais da Conferência de Belgrado. 

      Em 1977, a Unesco e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente  realizaram a 1ª Conferência Intergovernamental Sobre Educação Ambiental, em Tbilisi, na Geórgia, antiga União Soviética. Nesse evento, os especialistas de todo o mundo definiram os princípios e objetivos da

educação ambiental, além de formular as recomendações à atuação internacional e regional sobre o tema. Segundo Dias (2000, p. 82), foi recomendado nessa reunião que se considerassem

na questão ambiental não somente a fauna e a flora, mas “os aspectos sociais, econômicos, científicos, tecnológicos, culturais, ecológicos e éticos”. Além dessa questão, foi deliberado

também que a educação ambiental deveria ser multidisplinar, possibilitando uma visão integrada do ambiente.

      A disseminação da educação ambiental deveria se dar via educação formal e informal, atingindo a todas as faixas etárias. Tendo em vista essa diretriz, caberia a cada país implementar

sua política nacional de educação ambiental por meio dos órgãos educacionais e de controle ambiental.

No Brasil, essa política foi implementada pelo Ministério da educação, a partir do documento denominado “Ecologia: uma proposta para o ensino de 1º e 2º graus”. Essa proposta, simplista e contrária à s deliberações da Conferência de Tbilisi, tratava a educação ambiental no âmbito das ciências biológicas, como queriam os países desenvolvidos, sem tocar na questão cultural, social

e política (Dias: 2000, p. 84). 

      Cabe destacar que as resoluções da Conferência de Tbilisi não conseguiram por em prática seus objetivos e princípios, de forma a implementar um amplo programa de educação ambiental

em nível internacional.

      A Terceira Conferência Internacional sobre Educação Ambiental aconteceu em 1987, em Moscou (URSS), reunindo educadores ambientais de cem países vinculados às organizações não governamentais. Esse encontro reforçou os princípios e objetivos traçados em Tbilisi, na qual a

educação ambiental deveria formar os indivíduos, desenvolver habilidades e disseminar valores e princípios que permitissem à sociedade elaborar propostas para a solução dos problemas

ambientais. Para tanto, acordou-se que deveria haver uma reorientação da política de educação ambiental a partir de um plano de ação para a década de 90, com base nas seguintes diretrizes:

a) implementação de um modelo curricular constituído a partir da troca de experiências mundiais; b) capacitação de educadores que atuassem com projetos de educação ambiental; c) utilização

das áreas de conservação ambiental como pólo de pesquisa e formação docente; d) intensificação e melhoraria da qualidade das informações ambientais veiculadas na mídia internacional (Pedrini: 1998, 29-30). O governo brasileiro não apresentou nenhum projeto nesse encontro, provocando reações negativas por parte da comunidade internacional e do Banco Mundial. Com o objetivo de amenizar o problema, o Conselho Federal de Educação aprovou o parecer 226/87 que incluiu o

tema educação ambiental, aos moldes da Conferência de Tbilisi, na proposta curricular do ensino básico e médio em nosso país.

      Em função da pressão do movimento ambientalista, nacional e internacional, a Constituição promulgada em 1988 criou um capítulo sobre o meio ambiente, no qual a educação ambiental,

em todos os níveis de ensino, passou a ser dever do Estado.Em 1989, o governo federal criou o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis

(IBAMA), com o objetivo de formular e coordenar a execução da política nacional de meio ambiente, além de incentivar as ações voltadas à educação ambiental.

No ano de 1992, a cidade do Rio de Janeiro sediou a Conferência de Cúpula da Terra, conhecida como Rio-92. Essa reunião, que congregou representantes de 182 países, aprovou cinco acordos de extrema relevância para o mundo: a) a Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento; b) a Agenda 21 e suas formas de implementação; c) a Convenção Sobre Mudanças Climáticas; d) a Convenção sobre Diversidade Biológica; e) a Declaração de Florestas.Em um evento paralelo à Rio-92, promovido pelo Ministério da Educação (MEC), foi aprovada a

“Carta Brasileira para a Educação Ambiental”, que enfocou o papel do Estado enquanto promotor da educação ambiental em nível nacional.

      Concomitante à Rio-92, houve uma reunião de aproximadamente dez mil ONGs mundiais, na qual foi dada ênfase à educação ambiental “como referencial a ser considerado, reforçando-os

como marco metodológico no ensino formal e informal”  (Pedrini: 1998, p.31).

      Segundo Dias (2000, p. 171), a Rio-92 reafirmou a tese da Conferência de Tbilisi, principalmente aquela que dizia respeito à interdisciplinaridade da educação ambiental,

priorizando três metas: a) reorientar a educação ambiental para o desenvolvimento sustentável; b) proporcionar informações sobre o meio ambiente, de forma a conscientizar a população sobre os problemas que estavam ocorrendo no planeta; c) promover a formação de professores na área

de educação ambiental.

      Outra deliberação importante da Rio-92 foi a reafirmação das teses da “Conferência de Educação para Todos”, ocorrida na Tailândia, em 1992, principalmente aquela que trata sobre o

analfabetismo ambiental.

      Tendo em vista os documentos aprovados na Rio-92, o Ministério da Educação e Cultura instituiu um grupo de trabalho para implementar as bases da educação ambiental no ensino

básico, médio e universitário em nosso país. Com o objetivo de elaborar uma proposta nacional sobre o tema, esse grupo realizou diversos encontros com os órgãos responsáveis pela educação estadual e municipal em nosso país. No entanto, dado o despreparo e a falta de informações dos órgãos educacionais, não se conseguiu elaborar um documento que expressasse os objetivos da

educação ambiental em nosso país.

      Finalmente, as ações efetivas no campo da educação ambiental só foram implementadas em 1994, quando o Ministério da Educação e Cultura, o Ministério do Meio Ambiente e o Ministério da

Ciência e Tecnologia editaram o Programa Nacional de Educação Ambiental (PRONEA), que resultou na edição da Lei 9.975, de 24 de abril de 1999, criando a Política Nacional de Educação Ambiental. De acordo com Dias (2000, p. 92), A partir daí, tem-se os instrumentos necessários

para impor um ritmo mais intenso ao desenvolvimento da educação ambiental no Brasil.

      No próximo capítulo comentaremos sobre  os objetivos e os principais itens dessa Lei.

BIBLIOGRAFIA

DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo: Gaia, 20000.

PEDRINI, Alexandre de Gusmão. Educação Ambiental: reflexões e práticas contemporâneas. Rio de Janeiro: Vozes, 1998.

QUINTINO, Carlos Alberto Alves. A Educação Ambiental no Brasil. Mauá – São Paulo: Prefeitura do Município de Mauá. Mimeo, 2006.

Lei no 9.795, de 27/04/ 1999. In: . Acesso em 03/09/2006.

SITES

http://ww.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm - Acesso em 03/09/2006.

http://www.mma.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm - Acesso em 21/09/2006.

Acesso em 03/09/2006.

Acesso em 21/09/2006.

__________________*Economista e mestre em Administração de Empresas. Ex-assessor da Secretaria de Meio

Ambiente da Prefeitura Municipal de Mauá (SP). Professor do Unifai.