Racismo Virtual_ Sem Medo de Buscar a Defesa - Jornal Do Commercio

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27/03/2016 Ra cis m o virtual: sem m e do de buscar a defesa - Jor nal do Com mer cio ht tp://jconline.ne10.u ol. com. br/ canal/mundo /b rasil/n ot icia/ 20 15 /1 1/ 04 /racismo-virtual-sem-medo-d e-b us car-a -defesa-206463.php 1/ 3 NOTÍCIAS  ESPORTES  ENTRETENIMENTO  BLOGS MENU HOME MUNDO BRASIL CRIME Racismo virtual: sem medo de buscar a defesa Em vez de se calarem, vítimas procuram medidas judiciais Publicado em 04/11/2015, às 00h05         Vítima de racismo, Dandara Marques ga nhourepercuss ão nacional e diz que seu caso representa muitos outros Foto: Acervo pessoal/divulgação Mariana Mesquita O mito da “democracia racial” brasileira vem sendo abalado nas redes sociais, de forma continuada e lamentável. Casos de racismo explícito, ao longo do último mês, atingiram a atriz Taís Araújo, o jogador de futebol Michel Bastos e a candidata a miss pelo Estado de Goiás, Tainara Santos. Antes deles, a jornalista e “garota do tempo” da TV Globo, Maria Júlia Coutinho, e a gestora ambiental pernambucana Dandara Marques também tinham sido alvo do mesmo tipo de ofensa. E em vez de se calarem, todas as vítimas escolheram denunciar o agressor. “O fenômeno das redes sociais mostra a extensão do racismo no Brasil”, conrma a promotora Helena Capela, que é integrante do GT Racismo, grupo do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) que presta apoio às vítimas e à polícia civil, responsáve l pela investigação dos crimes de racismo de forma geral. Os dados assustam: embora a Secretaria Estadual de Defesa Social não tenha dados especícos sobre a internet, computou 1.391 casos de injúria racial desde j aneiro de 2013. Mas, para Helena, o racismo não aumentou - ele sempre existiu. “A diferença é que na internet as pessoas se sentem ‘protegidas’ e escrevem sem pensar. Alguns casos tomam proporções muito maiores do que o criminoso e a vítima poderiam imaginar”, explica a promotora, que acredita que a impunidade e a lentidão da Justiça inuenciam negativamen te o processo. “Hoje a sociedade se sente mais livre para manifestar o racismo          

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CRIME

Racismo virtual: sem medode buscar a defesaEm vez de se calarem, vítimas procuram medidas judiciais

Publicado em 04/11/2015, às 00h05

       

Vítima de racismo, Dandara Marques ganhou repercussão nacional e diz que seucaso representa muitos outros

Foto: Acervo pessoal/divulgação

Mariana Mesquita

O mito da “democracia racial” brasileira vem sendo abalado nas

redes sociais, de forma continuada e lamentável. Casos de

racismo explícito, ao longo do último mês, atingiram a atriz Taís

Araújo, o jogador de futebol Michel Bastos e a candidata a miss

pelo Estado de Goiás, Tainara Santos. Antes deles, a jornalista e

“garota do tempo” da TV Globo, Maria Júlia Coutinho, e a gestora

ambiental pernambucana Dandara Marques também tinham

sido alvo do mesmo tipo de ofensa. E em vez de se calarem,

todas as vítimas escolheram denunciar o agressor.

“O fenômeno das redes sociais mostra a extensão do racismo no

Brasil”, con�rma a promotora Helena Capela, que é integrante

do GT Racismo, grupo do Ministério Público de Pernambuco

(MPPE) que presta apoio às vítimas e à polícia civil, responsável

pela investigação dos crimes de racismo de forma geral. Os

dados assustam: embora a Secretaria Estadual de Defesa Social

não tenha dados especí�cos sobre a internet, computou 1.391

casos de injúria racial desde janeiro de 2013. Mas, para Helena,

o racismo não aumentou - ele sempre existiu. “A diferença é que

na internet as pessoas se sentem ‘protegidas’ e escrevem sem

pensar. Alguns casos tomam proporções muito maiores do queo criminoso e a vítima poderiam imaginar”, explica a promotora,

que acredita que a impunidade e a lentidão da Justiça

inuenciam negativamente o processo.

“Hoje a sociedade se sente mais livre para manifestar o racismo

 

       

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crime cibernét ico Ministério Público de Pernambuco crime

Igualdade Racial racismo

publicamente”, concorda Vera Baroni, yabassé (cargo feminino

do Candomblé) e ativista dos Direitos Humanos. “O fato de

muitos negros ocuparem posições de visibilidade nos meios

sociais e na mídia incomoda, porque quebra os privilégios dos

racistas, que se acreditam superiores por serem brancos e agem

de forma inaceitável contra outras pessoas com base apenas no

fato de terem mais melanina na pele”, a�rma Vera.

O meia Michel Bastos foi chamado de “macaco negro safado”,

após ter mandado a torcida do São Paulo “calar a boca” depois

de ter feito o último gol na vitória do time sobre o Sport, noúltimo sábado. Já Taís, Maria Júlia, Tainara e Dandara foram

vítimas também de machismo. “Quando se trata de uma mulher

negra, a primeira coisa a ser criticada é o cabelo, que é um

elemento de destaque da feminilidade. Por muito tempo, o

cabelo crespo foi encarado como ruim, sujo, fedorento. E

quando uma mulher negra se destaca por qualquer razão, mas

ainda mais por sua beleza, ela é atacada porque esses

pressupostos são abalados”, analisa Vera Baroni. “O cabelo é

algo que nos dá personalidade. Quando um negro usa e ousa

assumir sua identidade, isso choca algumas pessoas. Assumir

um padrão de beleza que vai contra o que a mídia impõe é

revolucionário. Cabelo é política”, reforça Dandara Marques. Ao

expor orgulhosamente sua cabeleira na internet, ela foi atacada

por um desconhecido de São Paulo. “Me dê uma caixa de

fósforos que faço progressiva nessa infeliz”, disse ele, entre

outras ofensas.

CASOS AUMENTAM A CADA ANO

Mais de 2.165 episódios de racismo foram denunciados, desde

2011, à ouvidoria do Ministério da Igualdade Racial, através do

fone (61) 2025-7001 ou do e-mail [email protected]. O

número cresce a cada ano. Para o secretário especial de Políticas

de Promoção da Igualdade Racial, Ronaldo Barros, é

importantíssimo que os casos sejam denunciados e

investigados.

Em Pernambuco, os boletins de ocorrência contra atos racistas,

em geral, podem ser registrados em qualquer delegacia ou, se

forem crimes virtuais, na Delegacia de Repressão aos Crimes

Cibernéticos de Pernambuco, no bairro da Boa Vista.

Paralelamente, o MPPE oferece o apoio do GT Racismo, cujo

fone é o 31827000, e de uma central de denúncias, que atende

através do fone 0800 281 9455.

A promotora Helena Capela, do GT Racismo do MPPE, lamenta o

fato de que a maioria dos crimes de racismo seja classi�cada

pelos juízes como simples injúria racial, delito que tem uma

pena menor. “Nós entendemos que este tipo de ofensa

repercute em todo um grupo e afeta a sociedade. Ao

desquali�car alguém por sua cor, está se atingindo os direitosbásicos de cidadania daquela pessoa”, a�rma.

“Ao mesmo tempo que a internet aumenta o racismo, ela nos dá

condições de combatê-lo”, analisa a pernambucana Dandara

Marques. Vítima de preconceito, ela não imaginava que seu caso

fosse ganhar repercussão nacional. “Foi surpreendente e muito

positivo receber dezenas de mensagens de apoio de

desconhecidos que se identi�cavam comigo. Isso me deu forças

para lutar, pois vejo que estou brigando não apenas por mim,

mas por muitas outras pessoas que estão sendo representadas

por meio de minha atitude”, resume.

PALAVRAS-CHAVE