RÁDIO FEMA FM: UMA ANÁLISE DE COMPORTAMENTO DE ... · Cláudia Costa e Silva e Aline de ......
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NESTÁRIO LUIZ DE OLIVEIRA SANTOS
RÁDIO FEMA FM: UMA ANÁLISE DE COMPORTAMENTO DE
AUDIÊNCIA NO PROGRAMA CIRCUITO ESPORTIVO
Assis (SP)
2012
NESTÁRIO LUIZ DE OLIVEIRA SANTOS
RÁDIO FEMA FM: UMA ANÁLISE DE COMPORTAMENTO DE
AUDIÊNCIA NO PROGRAMA CIRCUITO ESPORTIVO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto Municipal de Ensino Superior de Assis (IMESA) e Fundação Educacional do Município de Assis (FEMA), como requisito parcial à obtenção do certificado de conclusão do curso de Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo.
Orientador: Prof. Ms. Cláudio Messias
Área de concentração: Ciências da Comunicação - Jornalismo
Assis (SP)
2012
FICHA CATALOGRÁFICA
SANTOS, Nestário Luiz de Oliveira.
Rádio Fema FM: Uma análise de comportamento de audiência no programa Circuito
Esportivo / Nestário Luiz de Oliveira Santos. Instituto Municipal de Ensino Superior de Assis-
IMESA/Fundação Educacional do Município de Assis-FEMA, Assis, SP, 2012.
58 p.
Orientador: Cláudio Messias.
Trabalho de Conclusão de Curso – Instituto Municipal de Ensino Superior de Assis.
1. Rádio Fema 2. Audiência
CDD: 070
Biblioteca da FEMA
RÁDIO FEMA FM: UMA ANÁLISE DE COMPORTAMENTO DE
AUDIÊNCIA NO PROGRAMA CIRCUITO ESPORTIVO
NESTÁRIO LUIZ DE OLIVEIRA SANTOS
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Instituto Municipal de
Ensino Superior de Ensino de Assis, como
requisito do curso de graduação em
Comunicação Social, habilitação em
Jornalismo, analisado pela seguinte
comissão examinadora:
Orientador: Prof. Ms. Cláudio Messias
Analisador: Prof. Ms. Silvana Aparecida de Paiva Rodrigues
Assis (SP)
2012
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à minha mãe, Silvana, ao meu pai, Nestário, e à minha irmã, Ana Cláudia.
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, Prof. Ms. Cláudio Messias, por ter aceitado me ajudar neste
trabalho, pela atenção e dedicação no projeto e por ter contribuído para que eu
entendesse um pouco mais sobre rádio e sobre o comportamento da audiência, de
forma que tenhamos conseguido alcançar nosso objetivo de conhecer a audiência
da Rádio Fema e do Circuito Esportivo.
Aos colegas que estiveram comigo durante esses quatro anos de Circuito Esportivo:
Noeli Pires, Felipe Modesto, Alex Caligaris, DJ Francisco, Carlos William, Guilherme
Mendes, Lutércio Alves e Ítalo Luiz, e também a todos os esportistas de Assis que
me ajudaram com entrevistas e informações para o Circuito Esportivo.
Aos meus colegas de classe, Diego Faustino, Kallil Dib, Patrícia Dias, Ítalo Luiz,
Marcos Smania, Felipe Portes, Renato Piovan, Bruce Monteiro, Fabiane Cavina,
Cláudia Costa e Silva e Aline de Cássia, assim como a todos os professores que
contribuíram, durante esses quatro anos, com nossa formação.
Aos meus colegas da EE Antonio Fontana, no distrito de Frutal de Campo, em
Cândido Mota, que foram compreensivos e me incentivaram durante a elaboração
deste Trabalho de Conclusão de Curso.
A todas as pessoas que me ajudaram a realizar as atividades descritas no segundo
capítulo deste trabalho e foram determinantes para que eu tivesse certeza da
profissão a seguir, especialmente o jornalista Alexandre Takazawa, que enfrentou e
venceu muitas adversidades em 2012, e também aos colegas e professores dos
ensinos fundamental e médio, cursados na EE Profª Leny Barros da Silva, em Assis,
vizinhos, colegas de outros trabalhos e amigos.
A toda a minha família, especialmente minha mãe, Silvana, meu pai, Nestário, e
minha irmã, Ana Cláudia. Com carinho a quem não poderá ver este trabalho pronto,
mas colaborou para que ele fosse concretizado: meu tio Zito, minha tia Tereza,
minha avó Célia, minha tia Dirce e meu tio e padrinho Luiz.
E a Deus, pela vida, pela minha família e pela oportunidade de me formar e de
trabalhar na profissão que admiro.
(...) o rádio deve obedecer ao princípio fundamental da propaganda popular que é a
verdade. Uma pequena verdade, mesmo quando tem pouco efeito, é preferível a
uma grande mentira vestida de gala.
Ernesto Che Guevara
(1928-1967)
RESUMO
SANTOS, Nestário Luiz de Oliveira. Rádio Fema FM: Uma análise de
comportamento de audiência no programa Circuito Esportivo. 58 p. Trabalho de
Conclusão de Curso (Graduação) – Instituto Municipal de Ensino Superior de
Assis/Fundação Educacional do Município de Assis. Assis, São Paulo, 2012.
Coletamos, neste trabalho, dados que nos permitam medir e analisar a audiência da
Rádio Fema FM e do programa Circuito Esportivo. Tal pesquisa, segundo
levantamento feito por nós na instituição, é inédita e procura saber se a emissora e o
programa estão correspondendo às expectativas do público. A Rádio Fema, como
emissora educativa, deve promover entre os seus ouvintes informação e
entretenimento. O Circuito Esportivo, por sua vez, tem o objetivo de divulgar as
equipes esportivas da cidade com notícias corretas e relevantes. Para obter os
dados necessários para essa análise, realizamos uma pesquisa presencial, com
pessoas que trabalham ou estudam na Fema e com o público externo, num total de
26 questionários aplicados, e uma pesquisa online, na qual obtivemos nove
entrevistados. Objetivamos, aqui, ter uma avaliação do público quanto à Rádio Fema
e ao Circuito Esportivo, e entender a criticidade e as transformações pelas quais
passa a audiência. Os resultados obtidos neste trabalho poderão, ainda, resultar em
propostas de modificações no Circuito Esportivo, de modo que o programa alcance
seu objetivo de corresponder às expectativas do seu público.
Palavras-chave: Rádio Fema; Circuito Esportivo; Comunicação; Audiência
ABSTRACT
We have collected, in this work, data that allow us to measure and analyze the
audience of Radio FM Fema and sports program called Circuit Sports. Such
research, according to a survey done for us in the institution, is unprecedented and
would like to know if the broadcaster and the program are corresponding to the
expectation of the public. Radio Fema, as educational broadcaster, promotes
information and entertainment, among its listeners. The Circuit Sports, on the other
hand, aims to publicize the city's sports teams with correct and relevant news. To
obtain the necessary data for this analysis, we conducted a survey in person, with
people who work or study in Fema and with the external public, a total of 26
questionnaires, and an online survey with nine interviewees. We aim to have an
evaluation of the public about the Fema and Circuit Sports Radio and understand the
criticality and the changes in audience. The results obtained in this study may also
result in proposed changes to Circuit Sports, so the program reaches its goal to
correspond to expectations of your audience.
Keywords: Radio Fema; Circuit Sports; Communication; Audience
10
SUMÁRIO
Introdução .................................................................................................................................... 11
1. Trajetória entre o radialista, o jornalista e o pesquisador .............................................. 18
1.2 O rádio e a história, a história e o rádio ........................................................................... 24
1.3 O rádio na internet ............................................................................................................... 28
1.4 O rádio e sua linguagem peculiar ...................................................................................... 30
2. Coleta de dados: o contato direto com a audiência ........................................................ 33
2.1 Uma pesquisa-ação dividida em três etapas................................................................... 37
2.2 Pesquisa interna, na Fema.................................................................................................. 41
2.2.1 Análise do objeto ............................................................................................................... 42
2.2.2 Notas .................................................................................................................................... 42
2.3 Pesquisa externa ao campus ............................................................................................. 43
2.3.1 Análise do objeto ............................................................................................................... 45
2.3.2 Notas .................................................................................................................................... 45
2.4 Pesquisa online, com internautas ..................................................................................... 46
2.4.1 Análise do objeto ............................................................................................................... 48
2.4.2 Audiência online aponta pontos positivos e negativos ........................................ 49
2.5 Parâmetros gerais sobre a coleta de dados .................................................................... 50
2.6 Prenúncios para um desfecho: maturidade de reflexão ............................................... 51
3. Propostas que surgem em forma de considerações finais ............................................ 54
4. Referências .............................................................................................................................. 56
4.1 Bibliográficas ........................................................................................................................ 56
4.2 Eletrônicas ............................................................................................................................. 57
5. Anexos ...................................................................................................................................... 58
11
Introdução
Este trabalho busca analisar fenômenos relacionados à audiência da Rádio Fema
FM, emissora educativa vinculada à Fema (Fundação Educacional do Município de
Assis), e do programa Circuito Esportivo, produção levada ao ar semanalmente, às
segundas-feiras, das 18 às 19 horas. Ressaltamos que nosso papel nessa
investigação é de pesquisador e de agente direta e indiretamente envolvido no
objeto, uma vez que desempenhamos, desde 2009, a função de apresentador do
referido programa radiofônico.
A Rádio Fema opera em frequência modulada e foi inaugurada no dia 20 de
setembro de 2008, em caráter experimental. No ano seguinte a emissora incluiu em
sua grade de programação produções de gêneros jornalísticos e de variedades,
entre elas o Circuito Esportivo. Atualmente também é possível ouvir a programação
da Rádio Fema de forma online, ao vivo, através do site da instituição
(http://www.fema.edu.br).
A emissora é vinculada à Fema (Fundação Educacional do Município de Assis), uma
instituição de direito privado, sem fins lucrativos, localizada em Assis, no interior de
São Paulo, a 450 quilômetros da capital do Estado. A Fema foi instituída pela Lei
Municipal nº 2.374, de 19 de outubro de 1985, na gestão do prefeito José Santilli
Sobrinho (1983-1988). Atualmente são oferecidos, na instituição, os cursos de
Administração, Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Ciência da Computação,
Direito, Enfermagem, Jornalismo, Matemática, Publicidade e Propaganda e Química.
Concomitantemente à inauguração da nova programação da Rádio Fema, em 2009,
nós ingressávamos, na condição de discente, no curso de Jornalismo da instituição.
Apresentamos, na ocasião, um projeto de programa esportivo voltado à cobertura
das modalidades mais comuns praticadas ou apreciadas na cidade. Naquele mesmo
ano o programa Circuito Esportivo foi integrado à grade da rádio universitária.
Desde sua estreia, o Circuito Esportivo coloca em pauta as principais modalidades e
equipes esportivas assisenses. Com as constantes transformações por que passam
12
as emissoras comerciais de Assis e região, o programa tornou-se o único do gênero
radiojornalismo esportivo da cidade. Na pesquisa desenvolvida e colocada em
prática neste Trabalho de Conclusão de Curso, a audiência classifica a referida
produção jornalística da Rádio Fema como estando entre as únicas que divulgam o
esporte local com rapidez e constância.
O interesse pelo rádio e, mais especificamente, pela produção de um programa
estritamente voltado ao esporte é despertado em nós em 2004, quando ainda
tínhamos 15 anos de idade. Oito anos se passaram entre os primórdios de nossas
experiências autônomas, a serem relatadas no decorrer desta narrativa de pesquisa,
e a vivência formal e informal em diferentes emissoras de rádio de Assis. A
cobertura esportiva, ressaltamos, esteve presente na maioria dessas experiências.
Em todos os trabalhos realizados no meio de comunicação rádio, antes ou depois do
ingresso no curso de Jornalismo nesta Fundação Educacional do Município de
Assis, nunca tivemos a oportunidade de conhecer a opinião da audiência, ou seja,
verificar a avaliação sobre o nosso trabalho. Procurávamos, como via de regra faz-
se rotineiramente no rádio, desenvolver nossas atividades pensando no público, em
levar até ele informações e comentários corretos, precisos e relevantes. Porém, não
tínhamos um retorno, não sabíamos se estávamos correspondendo às expectativas
daqueles que consomem esse tipo de mídia.
É nesse aspecto que entendemos como salutar o contato com as teorias do
pesquisador colombiano Jesús Martín-Barbero. De acordo com o autor, a sociedade
pós-moderna, caracterizada por alterações permanentes e cada vez mais rápidas de
comportamento no consumo, redistribui os processos comunicativos e exige que os
produtores de conteúdos estejam atentos aos movimentos e alterações de
comportamento da audiência. Ou seja, da condição de meros receptores, os sujeitos
que integram a audiência não só dotam de criticidade sobre o fluxo de informações,
mas, principalmente, ressignificam aquilo que recebem e devolvem os conteúdos a
seus produtores. A capacidade de alterar tais conteúdos e adequar as produções à
realidade daquela audiência específica ditará o sucesso ou o fracasso de
determinados meios de comunicação.
13
Martín-Barbero é, portanto, basilar na condução deste nosso trabalho. Focamos nas
teorias do autor por dois motivos, a esclarecer. O primeiro é referente ao fato de o
Circuito Esportivo ser um programa inserido na grade de programação da Rádio
Fema, uma emissora de gênero classificatório universitário e que, portanto, está
estritamente ligado a processos cognitivos, ou seja, as atividades ali centradas, tanto
na produção quanto na execução de projetos como o Circuito Esportivo, envolvem
relações de ensino-aprendizagem. E, complementando nossa narrativa, é dessa
experiência de ensinar aprendendo ou aprender ensinando que, na execução do
programa de esportes Circuito Esportivo, passamos a compreender mais e melhor o
comportamento da audiência, com suficiência de dados coletados que,
transformados formalmente nesta pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso,
poderá servir de parâmetro para alterações e adequações futuras.
Assim, encontramos neste trabalho a oportunidade de finalmente conhecer o
fenômeno relacionado à audiência, que no senso comum significaria a opinião das
pessoas que acompanham nosso trabalho semanal de levar o Circuito Esportivo ao
ar. Como apresentamos o programa há quatro anos, decidimos, em 2011, no
terceiro ano da faculdade, que o público da Rádio Fema e do Circuito Esportivo seria
o nosso objeto de estudo.
Não há, conforme levantamento bibliográfico feito por nós, outro trabalho que tenha
focado a audiência daquilo que é produzido pela Rádio Fema FM. Acreditamos que
quando se sabe quem são os ouvintes e o que essas pessoas esperam do que é
produzido, esteja-se entendendo ou tendo condições de gerar situações para
entender soluções que sejam posteriormente apresentadas visando ser possível
uma programação que atenda expectativas.
Estamos, aqui, percorrendo os caminhos de uma pesquisa-ação. Optamos por uma
análise ao mesmo tempo qualitativa e quantitativa do fenômeno observado. Ou seja,
pretendemos seguir, conforme propõe Tripp1, o tradicional ciclo de aprimorar a
prática através da oscilação sistemática entre agir no campo da prática e investigar a
1 TRIPP, David. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica. In Educação e pesquisa, São Paulo,
v. 31, n. 3, p. 443-466, set./dez. 2005.
14
respeito dela (Tripp, 2005). Nosso esquema de levantamento de dados, portanto,
segue à seguinte ordem, como ilustrado na figura 1:
AÇÃO INVESTIGAÇÃO
Figura 1 - Parte-se, nessa pesquisa, de uma análise das circunstâncias que envolvem a
audiência e, então, consolida-se a aplicação de dois tipos de questionário.
Nosso olhar sobre a comunicação enquanto fenômeno sociológico percorre o que
conceituam teóricos contemporâneos cujos estudos consideram a incidência das
tecnologias sobre o existir humano. Logo, concordamos com Baccega2 quando essa
define o processo comunicativo enquanto elemento transformador do mundo a partir
da realidade dos interlocutores. A autora define a ação “comunicação” enquanto
exclusividade humana de edição do mundo (Baccega, 1994, p. 11).
2 BACCEGA, Maria Aparecida. Do mundo editado à construção do mundo. In Comunicação &
Educação. São Paulo, ECA/USP, set./dez. 1994.
AGIR para
implantar a
melhora da
prática
Monitorar e
ESCREVER os
efeitos da ação
PLANEJAR
uma melhora
da prática
AVALIAR os
resultados da
ação
15
Já Lopes3 ressalta a importância do tipo de pesquisa que adotamos, qual seja, a
pesquisa empírica, no entendimento da sociedade tecnicamente mediatizadora de
informações. Segundo a autora, devem ser respeitados os parâmetros em que cada
sujeito social envolvido, seja na aplicação da pesquisa, seja na coleta de dados,
estará inserido. Cumprido isso, devemos separar (i) o discurso prevalente no saber
popular e (ii) a dialética científica por trás de cada significação presente nos
enunciados coletados em forma de dados (Braga & Lopes, 2010, p. 31).
Tais parâmetros teóricos foram, sabemos, de grande valia na aplicação de nossa
pesquisa e na análise de dados a partir das orientações científicas neste quarto ano,
o de conclusão, do curso de Jornalismo na Fema. Dizemos isso porque
reconhecemos que a intenção inicial, nossa, era saber se há o hábito de escutar
rádio, se conhece-se a Rádio Fema e, principalmente, se ouve-se o programa
Circuito Esportivo. As pessoas que declarassem escutar o programa nos auxiliariam
com uma avaliação sobre a produção através de notas atribuídas e comentários
espontâneos. Ali, os ouvintes poderiam expressar sua visão sobre o Circuito
Esportivo, dizer do que gostam e o que consideram negativo. Em suma, eles
responderiam à nossa pergunta: o Circuito Esportivo está correspondendo às
expectativas dos ouvintes?
Saímos, por conseguinte, em conformidade com o que é teorizado por Tripp (2005),
de uma identificação do objeto, de uma organização criteriosa de planejamento e
partimos para a ação. A pesquisa, assim, é feita respeitando-se o contexto em que o
programa Circuito Esportivo é levado ao ar, bem como a maneira como a audiência
o avalia sob dois aspectos distintos, cujas peculiaridades, ressaltamos, é necessário
apontar: os ouvintes que sintonizam o programa por vias tradicionais, ou seja,
através dos aparelhos analógicos de captação de ondas eletromagnéticas, e
aqueles que recorrem às mídias móveis e à versão online da emissora. Isso justifica
o porquê de duas formas de aplicação de questionário terem sido adotadas por nós
na fase de coleta de dados, sendo uma voltada para o público que sintoniza
3 BRAGA, José Luiz & LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. Pesquisa empírica em comunicação. São Paulo: Paulus, 2010.
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analogicamente a Rádio Fema e outra para aqueles que recorrem aos meios digitais
de acesso.
O perfil da audiência e sua faixa etária podem, entendemos, influenciar na produção
e na apresentação do programa. Podem e devem, conforme observamos nas teorias
de Jesús Martín-Barbero4. E os resultados, pois, obtidos nesta pesquisa poderão
servir para agregar alterações que impliquem em melhorias na produção do Circuito
Esportivo.
Defendemos que seja importante saber a distribuição socioeconômica dos ouvintes,
assim como conhecer a finalidade com que esse público opta pela emissora que
sintoniza para atender suas expectativas de consumo midiático. Quando se sabe
quem é o público-ouvinte, ratificamos, tem-se a possibilidade de adequar e
direcionar a produção do programa para, então, alcançar o objetivo de atender às
necessidades e expectativas dessa audiência.
Nesse sentido, realizamos uma pesquisa em três níveis: com o público interno,
compreendendo alunos, professores e funcionários da Fema, num total de 12
entrevistas; com o público externo, com pessoas que não estivessem inseridas no
contexto da Fema, abordadas em diversos locais da cidade, com 14 questionários
aplicados; e com ouvintes e internautas que participaram da promoção que sorteou
uma bola de futsal no programa Circuito Esportivo. Nesse último caso, as pessoas
interessadas enviaram mensagens para o programa através de endereço eletrônico
e das redes sociais. Após o sorteio, os participantes receberam uma mensagem, na
qual a equipe do programa esportivo explicava a finalidade científica da promoção e
incentivava as pessoas a responder a um questionário online. Nessa plataforma de
pesquisa, foram obtidas nove entrevistas.
As respostas e o conteúdo dos comentários foram analisados, de forma que
tenhamos (i) uma avaliação do trabalho realizado no programa Circuito Esportivo e
(ii) possibilidades de alteração e/ou adequação de conteúdos conforme as
4 MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. Rio de
Janeiro: Editora UFRJ, 2008.
17
expectativas da audiência. Procuraremos não recair nos equívocos conclusivos
apontados por Tripp (2005), quando este se refere ao emprego amplo e vago do
termo pesquisa-ação, tornando-o sem sentido. Não entendemos, pois, a pesquisa-
ação como mero termo que se aplica a projetos em que práticos buscam efetuar
transformações em suas próprias práticas. O que buscamos, sim, é o entendimento,
com base científica, sobre o comportamento da audiência e a suficiência desse
fenômeno para alterar os conteúdos comunicativos que contemplam o todo.
Analisar, outrossim, o objeto canalizado pela Rádio Fema, aqui apresentado como o
programa Circuito Esportivo, é resgatar a linha histórica de constituição dos meios
de comunicação. Entender que estamos, também, recorrendo a Martín-Barbero5, na
terceira hegemonia da cultura. Evoluímos, portanto, da cultura dialógica em que
prevaleciam o gesto e o olhar, passamos pela cultura mediada pela escrita e
chegamos à cultura mediatizada pela tecnologia. Consecutivamente, segundo o
autor, tivemos 1.300 anos de cultura dialógica, meio milênio de cultura mediada e
desde 1870, com o advento da revolução tecnológica, o mais impactante dos
processos de transformação social pela informação e pela comunicação.
Temos como objetivo, portanto, pesquisar e conhecer o perfil da audiência da Rádio
Fema e do programa Circuito Esportivo, de forma que possamos analisar se há
suficiência para a exibição, no modelo atual, de um programa jornalístico esportivo
na emissora. Também buscamos entender a criticidade da audiência e as
transformações pelas quais ela passa, como propõe Martín-Barbero, buscando
assimilar a importância de se estar atento às mudanças de comportamento da
audiência e de se adequar ou alterar o conteúdo da produção à sua realidade.
Para isso, dividimos este trabalho em três capítulos. O primeiro narra nossa trajetória
no meio de comunicação rádio e passa pela sua evolução no Brasil. O segundo
capítulo analisa os dados coletados nesta pesquisa, apontando a opinião, as críticas
e as propostas coletadas com os entrevistados. O terceiro e último capítulo traz a
5 MARTÍN-BARBERO, Jesús. Globalização comunicacional e transformação cultural. In MORAES,
Dênis de. Por outra comunicação. Rio de Janeiro: Record, 2003.
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conclusão deste trabalho, que destaca a boa aceitação e a boa avaliação dos
ouvintes do programa Circuito Esportivo.
1. Trajetória entre o radialista, o jornalista e o pesquisador
Nosso despertar para o Jornalismo ocorreu em 2003, quando tínhamos 14 anos e
estávamos na oitava série do ensino fundamental na EE Profª Leny Barros da Silva,
em Assis. No segundo semestre daquele ano, a professora de Arte da nossa classe,
Carminha, propôs um trabalho: a elaboração de uma revista. O conteúdo era livre.
Assim, nós e Jean Pedro, amigo com quem fazíamos todos os trabalhos em dupla,
elaboramos a revista “O Cotidiano”. Os temas abordados foram os mais diversos,
com destaque para assuntos de esporte, nosso preferido. Foi o primeiro contato que
tivemos com um meio de divulgação de notícias, e o resultado nos agradou.
Naquele mesmo ano, Matheus Orlando, amigo que estudava em outra escola e tinha
aula com a mesma professora de Arte na sexta série do ensino fundamental,
também recebeu a tarefa de elaborar uma revista. Ele fez a “É gol!”, que falou
exclusivamente sobre futebol. Como o período da realização do trabalho foi
concomitante, elaboramos nossas revistas em parceria. Trocamos informações e
escrevemos textos um para o trabalho do outro.
Depois de entregar o trabalho escolar, Matheus teve a ideia de continuar escrevendo
a revista, já de maneira autônoma, e nos convidou para ajudá-lo. Fizemos mais três
edições da “É gol!”, primeiro com confecção e impressão caseiras, depois com
trabalho finalizado em gráfica.
Esse trabalho chamou a atenção do radialista Luís Marcos Pereira, que na época
trabalhava na Rádio Difusora de Assis AM. Ele convidou o Matheus e a nós para
uma participação semanal no seu programa esportivo, o “Show de Bola”. Em 5 de
maio de 2004, falamos pela primeira vez num microfone de rádio.
19
Além de participar semanalmente do “Show de Bola”, nós e Matheus também
acompanhávamos as jornadas esportivas da equipe de Luís Marcos Pereira, que
transmitia as partidas do Clube Atlético Assisense, time de futebol profissional da
cidade. Nós ficávamos na cabine da rádio no Estádio Antonio Viana Silva, o Tonicão,
e participávamos da transmissão.
Ao longo das participações no programa e nas jornadas, Luís Marcos Pereira foi
conhecendo nossas características enquanto radialista e, certa vez, nos perguntou
se gostaríamos de ser narrador esportivo. Respondemos afirmativamente, já que, de
fato, esse era nosso desejo.
Luís Marcos, então, nos incentivou a começar a narrar os jogos do Assisense, ideia
que nos fascinou. Agora foi nossa vez de convidar Matheus Orlando para trabalhar
conosco: ele seria nosso comentarista. Nosso amigo da revista “O Cotidiano”, Jean
Pedro, também foi chamado. A equipe de transmissão estava formada.
Não precisamos de muita coisa para dar início aos trabalhos. Um gravador portátil
era o principal, já que Luís Marcos sugeriu que gravássemos as narrações para que
nós, da equipe, e ele próprio as ouvíssemos criticamente. Também eram
necessários papel e caneta para as escalações e anotações, e algumas garrafinhas
de água.
A estreia da equipe “É gol!” de narração esportiva ocorreu no dia 18 de julho de
2004, no jogo Assisense 1 x 0 Osvaldo Cruz, realizado no Estádio Tonicão, em
Assis.
Seguimos com as participações no “Show de Bola” e com as narrações até o fim do
ano seguinte. Em novembro de 2005, nós e Matheus nos despedimos da Rádio
Difusora após 79 edições do nosso quadro semanal.
As narrações continuaram em 2006 e, dessa vez, quem se interessou pelo trabalho
da nossa equipe foi o jornalista Vinícius Dônola, então repórter da TV Globo. Dônola
nos conheceu através de uma carta que enviamos para ele pedindo uma entrevista
para um site que havíamos criado. O jornalista chegou a nos ligar para dizer que
havia gostado muito da nossa iniciativa.
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O que Vinícius Dônola fez sem que nós soubéssemos foi enviar nossa carta ao
departamento de esportes da TV Globo no Rio de Janeiro, que também gostou da
história. A pauta estava pronta: os três meninos do interior de São Paulo que
ensaiavam transmissões de futebol.
No dia 30 de abril de 2006, uma equipe de reportagem da TV Tem, afiliada da TV
Globo, comandada pelo repórter Edgar Alencar, atualmente jornalista
correspondente do canal SporTV na China, esteve em Assis e acompanhou uma
narração da nossa equipe. Naquele dia, o Assisense enfrentou o Linense no Estádio
Tonicão. O resultado foi 1 a 1.
A matéria seria exibida no programa “Esporte Espetacular”, mas, devido à cobertura
da Copa do Mundo, que estava sendo realizada na Alemanha, a matéria foi ao ar no
“Globo Esporte” do dia 3 de junho de 2006.
Foram mais de quatro minutos no ar. A matéria com a equipe “É gol!” encerrou
aquela edição do “Globo Esporte”. O texto que abriu a matéria, lido pela jornalista
Mylena Ciribelli, atualmente na TV Record, revelava o sentimento dos três
integrantes da equipe: “Na mochila, um gravador e anotações. Na cabeça, sonhos
maravilhosos. Os meninos de Assis soltam a voz e emocionam”.
No fim da matéria, o repórter Edgar Alencar ainda nos deu a chance de narrar um
gol de Copa do Mundo. Narramos o segundo gol do Brasil na final da Copa de 2002,
contra a Alemanha, marcado por Ronaldo. Na matéria, foram inseridas as imagens
do gol com o áudio da nossa narração ao fundo.
A matéria na TV Globo foi um importante incentivo para que nós e nossos amigos
continuássemos o trabalho e seguíssemos ensaiando transmissões de rádio.
Em janeiro de 2007, ganhamos um espaço na Rádio Comunitária Cidade de Assis
FM. No mês anterior, uma amiga havia nos contado que a emissora faria um teste
para locutor. Inscrevemo-nos e fomos aprovados. Ganhamos um programa diário, o
“Show da Manhã”.
Eram mais de três horas diárias de programa, o que nos proporcionou grande
experiência. Nós tocávamos músicas, líamos notícias da cidade, atendíamos
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ouvintes e também falávamos de esportes, incluindo trechos de nossas narrações
autônomas.
Ainda em 2007, tivemos a alegria de inaugurar a equipe esportiva da Rádio Cidade
de Assis. Pela primeira vez a emissora transmitiu um jogo de futebol ao vivo.
Conosco na narração e o radialista Luiz Carlos Japonês nas reportagens,
transmitimos os quatro jogos do Assisense realizados em Assis pela categoria sub-
20 da Segunda Divisão do Campeonato Paulista.
Em 2007 também começamos a colaborar com o portal Assis Notícias, do jornalista
Alexandre Takazawa, com notícias sobre esportes. Escrever é outra paixão, tanto
que sempre mantivemos blogs que cobriam equipes esportivas de Assis. Atualmente
ainda colaboramos com o Assis Notícias e atualizamos nosso blog com informações
do esporte local.
O “Show da Manhã”, na Rádio Cidade de Assis, foi ao ar com nossa apresentação
até janeiro de 2008, quando tivemos de sair por motivos particulares. Porém,
naquele mesmo ano, uma nova oportunidade no rádio surgiu. Fomos convidados
pelo radialista Augusto César a participar das transmissões esportivas da Rádio
Cultura de Assis AM.
No início, nós acompanhávamos as jornadas e fazíamos alguns comentários. Aos
poucos começamos a narrar partidas de futebol e de basquete. Também
participávamos constantemente do programa “Panorama Esportivo”, com a equipe
de esportes da emissora. O primeiro jogo que narramos na Cultura foi Assisense 0 x
1 Atlético Araçatuba, no dia 27 de abril de 2008.
Esse trabalho rendeu uma repercussão muito positiva, já que a Rádio Cultura
transmitia jogos do time de futebol profissional da cidade, do futebol amador, do
basquete e dos campeonatos Paulista e Brasileiro, que fazíamos do estúdio.
Ser narrador esportivo em uma grande emissora de rádio da cidade e ter nosso
trabalho elogiado por conhecidos radialistas foram um passo importante para que
nós confirmássemos nosso desejo de trabalhar nessa área.
Até que, em 2009, aos 20 anos, ingressamos, na condição de discente, no curso de
Jornalismo da Fema (Fundação Educacional do Município de Assis). A partir dali, os
22
cinco anos de experiência prática se aliariam a conteúdo teórico e contexto histórico
do meio jornalístico e radiofônico.
Nossa entrada na faculdade coincidiu com a inauguração da Rádio Fema, emissora
educativa vinculada à instituição. A Rádio Fema havia sido fundada em 20 de
setembro de 2008 em caráter experimental. No ano seguinte, em 2009, a emissora
passou a contar com programas jornalísticos e de variedades.
Assim que soubemos que a Rádio Fema estava formando uma equipe, mostramos
interesse em apresentar um programa esportivo. A então diretora da emissora, Noeli
Pires, aprovou nosso projeto. Surgia, ali, mais uma oportunidade para que nós
estivéssemos ligados ao rádio. Pouco depois estrearia o programa Circuito
Esportivo, criado com o objetivo de divulgar as equipes esportivas da cidade. Nós
apresentávamos o programa ao lado de Felipe Modesto, então estudante do quarto
ano do curso de Jornalismo da Fema.
Desde 2010 nós temos a companhia de Ítalo Luiz, nosso colega de classe, no
Circuito Esportivo. O programa foi sendo mantido na grade da Rádio Fema e, aos
poucos, foi ganhando padrão e respeito. Atualmente, devido às mudanças por que
passam as emissoras comerciais de Assis, é o único programa esportivo do rádio
assisense. O Circuito Esportivo costuma dar notícias dos times esportivos de Assis,
principalmente de futsal e futebol, com antecipação e, algumas vezes, com
exclusividade entre os veículos de comunicação da cidade.
Nos dois primeiros anos de exibição, o Circuito Esportivo era gravado. Em 2011 o
programa passou a ser ao vivo, ganhando em dinâmica e atualidade de notícias. O
fato de o Circuito Esportivo ser ao vivo também proporcionou que fizéssemos
entrevistas no estúdio com personagens do esporte da cidade, o que rendeu uma
melhor cobertura dos jogos e das competições das quais participam times
assisenses.
Por o Circuito Esportivo ser o único programa esportivo no rádio da cidade e um dos
poucos veículos de comunicação de Assis que falam de esporte com regularidade,
consideramos ter uma grande responsabilidade ao produzi-lo e levá-lo ao ar. Temos
de levar em consideração que os ouvintes podem ter o programa como sua única
fonte de informação do esporte da cidade. Assim, seu conteúdo precisa atender às
23
expectativas do público que consome esse tipo de mídia, pois, acreditamos, ele
procura notícias e comentários sérios e relevantes.
A cobertura dos jogos dos times de futsal e futebol de Assis tornou-se um dos
destaques do Circuito Esportivo. O programa traz informações e comentários das
partidas, escalações e entrevistas com jogadores e técnicos. O objetivo é apresentar
ao ouvinte um conteúdo que o deixe atualizado sobre os jogos, visto que, como já
destacado, o Circuito Esportivo pode ser sua única fonte de informação quanto a
notícias do esporte local.
Em todos esses trabalhos que realizamos no rádio, nunca tivemos a chance de ser
avaliados pelo público. Foram diferentes emissoras e diversos tipos de trabalho:
programas de variedades e esportivos, narração de jogos ao vivo. Contato com o
receptor da nossa mensagem já chegou a ocorrer, como nas ligações que nós
atendíamos na Rádio Comunitária Cidade de Assis. Outro exemplo são os jogos que
transmitíamos no Estádio Tonicão, onde as cabines de imprensa ficam próximas aos
torcedores. Ali, de certo modo, nós víamos a reação do público, que podia nos ver e
nos ouvir. Quando um torcedor não concordava com algo que nós ou alguém da
equipe falávamos ou quando nós, na visão dele, exagerávamos no grito de gol do
time adversário, rapidamente se virava para a cabine. Não nos lembramos de
termos sido ofendidos, nem elogiados. Mas a reação do público, de olhar para a
cabine, era muito interessante: ou algo estava bom, ou estava ruim.
E, pensando nesse “bom” e “ruim”, vimos neste Trabalho de Conclusão de Curso a
oportunidade de ouvir o público e saber a sua opinião quanto ao nosso trabalho e de
nossa equipe. Uma pesquisa com métodos científicos para saber o que a audiência
acha do nosso desempenho no rádio, depois de muitos trabalhos realizados nesse
fascinante meio de comunicação, tornou-se o tema ideal para que nós concluamos
satisfatoriamente nosso curso superior.
Em 2011, no nosso terceiro ano de faculdade – e de Circuito Esportivo –, decidimos
que gostaríamos que a audiência fosse nosso objeto de estudo. As pessoas ouvem
rádio? De que forma? Elas conhecem a Rádio Fema e o Circuito Esportivo? Se
ouvem o programa, qual a opinião delas, do que gostam e o que desaprovam?
Responder a essas questões é o objetivo deste trabalho.
24
1.2 O rádio e a história, a história e o rádio
O rádio foi implantado no Brasil no dia 20 de abril de 1923, quando entrou no ar a
Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, a primeira emissora de rádio do País, fundada
por Roquette Pinto e Henry Morize. No entanto, existem registros de outras
experiências antes dessa data, ocorridas no Recife e no Rio de Janeiro6.
Exatamente um brasileiro é considerado um dos inventores do rádio. Não existe uma
única pessoa que seja reconhecida como a inventora desse meio de comunicação.
Primeiramente, muitos cientistas contribuíram para o surgimento desse meio de
comunicação, como Henrich Rudolph Hertz, Michael Faraday, James C. Maxwell,
Thomas Edison, Brandly e Popoff. No fim do século XIX, em 1896, o italiano
Guglielmo Marconi realizou a transmissão e recepção de ondas a curta distância.
Três anos antes, contudo, o padre brasileiro Roberto Landell de Moura já havia
construído aparelhos de comunicação à distância7. Ele, inclusive, recebeu do
governo brasileiro, em 1900, uma patente de pioneirismo do seu invento.
Nos primeiros anos do rádio, na década de 1920, as propagandas comerciais eram
proibidas. Os recursos para que as emissoras se mantivessem vinham do aluguel
das pessoas que tinham aparelhos de rádio. Naquela época, a programação era
destinada à elite e apresentava óperas, palestras e recitais de poemas. Um dado
curioso é que os próprios ouvintes emprestavam discos para que as emissoras
tocassem as músicas em sua programação.
6 O pesquisador Fabiano Ormanezzi faz riquíssimas observações acerca dessa reflexão em
publicação feita pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, a Intercom, disponível em http://www.intercom.org.br/bibliocom/tres/pdf/fabianoormaneze.pdf, acessado em 31 de outubro de 2012, às 23h40.
7 ROLDÃO, Ivete Cardoso do Carmo. Nas ondas do rádio - da PCR-9 à Educativa: a trajetória das
emissoras de Campinas. Holambra, SP, 2008. 220p.
25
Na década de 1930 o rádio sofreu importantes mudanças. Dois decretos do governo,
de 1931 e 1932, regulamentaram o rádio. Com eles, foi permitida a publicidade nas
emissoras de rádio, que também passaram a ceder uma hora diária ao governo.
As emissoras, então, começaram a se concentrar no desenvolvimento tecnológico e
no aumento da audiência, com o objetivo de adquirir anunciantes. A programação
mudou: humorísticos e músicas populares passaram a ser exibidos. Produtores e
artistas foram contratados.
Esse momento coincidiu com a industrialização no governo do pres idente Getúlio
Vargas. O comércio via no rádio um eficiente meio de divulgação, já que o que era
transmitido chegava até aos cidadãos com menor letramento.
As emissoras cresceram financeiramente, e o rádio consolidou-se. Um dos
momentos em que notou-se a importância do rádio foi em 1932, quando a Rádio
Record convocou as pessoas a participar da Revolução Constitucionalista, em São
Paulo, episódio da História narrado com riqueza pelo jornalista Murilo de Melo Filho
no livro “Testemunho Político”, de 19998.
Ainda na década de 1930 foi criada a “Hora do Brasil”. O objetivo era constituir uma
aproximação entre o povo e o governo. Em 1934, o programa ganhou o nome de “A
Voz do Brasil”. Em 1939, durante a ditadura, o governo passou a censurar jornais,
rádios e cinemas, e “A Voz do Brasil” tornou-se um meio de exaltação ao governo.
Uma das principais emissoras de rádio do Brasil foi a Rádio Nacional, que entrou no
ar em 12 de setembro de 1936, no Rio de Janeiro. Além da grande audiência, a
Rádio Nacional também se destacava por sua organização, que tinha setores
especializados (Melo Filho, 1999, p.69). Suas ondas atingiam países da América do
Norte, da África e da Europa. Em 1940, porém, a emissora foi adquirida pelo
governo e tornou-se um instrumento do regime ditatorial.
O rádio foi o principal meio de comunicação do Brasil da década de 1930 à década
de 1960, quando a televisão começou a ganhar popularidade. A televisão atraiu os
anunciantes do rádio e ainda assumiu sua programação, com destaque para o
entretenimento.
8 FILHO, Murilo de Melo. Testemunho político. Elevação: São Paulo, 1999.
26
Com o surgimento do concorrente, o rádio foi obrigado a mudar sua programação e
passou a investir em informações e músicas. O rádio reergueu-se quando
americanos e japoneses inventaram o transistor. A invenção fez com que o rádio
deixasse de ser um objeto fixo e se tornasse móvel, sendo possível que as pessoas
o levassem para onde quisessem.
Outra importante mudança no rádio ocorreu no fim da década de 1960: o surgimento
das emissoras FM. No início, elas eram restritas a assinantes, mas na década
seguinte tornaram-se públicas. A programação das rádios FM era basicamente
musical, e a audiência cresceu de forma significativa.
Existe, na nossa avaliação, uma diferença importante entre as emissoras AM e FM.
No FM, quando do surgimento de sua proposta, as pessoas queriam escutar
músicas, não os locutores. Assim, quando é passada alguma informação, ela
precisa ser breve, pois sua característica não é noticiosa. No AM, a audiência admite
falas e diálogos. As informações costumam aproximar a emissora do público, pois as
notícias são de interesse da população.
Importante estudo desenvolvido pela Fundação Getúlio Vargas, de São Paulo, a
pedido da Abert9, mostrava que em 2007 havia distribuição de perfil de programação
totalmente diferente para os dois gêneros, quais seja, emissoras AM e emissoras
FM. A pesquisa, definida como Senso da Radiodifusão no Brasil, é resumida no
gráfico 2:
9 Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão.
27
Gráfico 1 - O gráfico da Abert mostra o rádio AM concentrando a programação em
variedades, enquanto o rádio FM concentração veiculação musical.
O rádio possui programas de estilos bastante variados, e existem quatro principais
tipos de locutores:
- Locutor esportivo: deve conhecer tecnicamente o esporte e narrar com entusiasmo
e emoção;
- Entrevistador: deve conhecer o entrevistado para comandar uma entrevista
embasada e com perguntas pertinentes e interessantes;
- Noticiarista: deve ter segurança para passar credibilidade ao público. Também
deve conhecer os assuntos sobre os quais fará comentários;
- Locutor de publicidade: não basta ler o texto, deve ser um bom interpretador.
O rádio está presente nas mais variadas regiões do Brasil, ao lado de milhões de
pessoas. Assim, ele pode ser um eficiente meio de transmissão de informações de
utilidade pública. Notícias sobre educação, saúde e trânsito, por exemplo, chegarão
e poderão ser úteis a muitos brasileiros.
28
A velocidade é uma importante característica do rádio. Ele é um dos mais velozes
meios para que as pessoas tenham acesso à informação. O repórter de rádio tem
facilidade técnica para se locomover e transmitir notícias diretamente do local dos
acontecimentos. As informações são passadas aos ouvintes quase de forma
instantânea. A internet e a televisão, por outro lado, não têm equipamentos de
recepção tão portáteis que permitam que as pessoas sempre tenham acesso a elas.
O rádio ainda possui outra vantagem em relação à televisão, a abrangência. O rádio
exige pouca demanda tecnológica para a instalação das emissoras, que contam com
grande alcance de suas ondas.
1.3 O rádio na internet
O surgimento da internet contribuiu para o trabalho realizado no rádio e seu alcance.
As emissoras obtiveram acesso a notícias em tempo real de todo o mundo e
informações interessantes para o público. As emissoras de rádio também passaram
a disponibilizar sua programação na internet, expandindo seu conteúdo, já que
pessoas de qualquer lugar do mundo conectadas à internet podem escutá-la,
inclusive com boa qualidade de som.
Atualmente também existem emissoras de rádios que funcionam apenas na internet.
Elas não podem ser ouvidas analogicamente, mas trazem programação alternativa
aos internautas, pois geralmente não estão ligadas a patrocinadores.
A primeira rádio comercial a transmitir conteúdo ao vivo pela internet foi a Rádio Klif,
dos Estados Unidos, em 1995. No Brasil, a primeira emissora de rádio que funcionou
29
exclusivamente pela internet foi a Rádio Totem, inaugurada em 5 de outubro de
199810.
A respeito da linguagem jornalística na internet, recorremos à autora Pollyana
Ferrari11, que citou o jornalista americano Jonathan Dube e elencou alguns tópicos
que devem ser seguidos por quem produz conteúdos para a internet:
- Tipo de texto: verificar se a informação será entendida por uma audiência local,
nacional ou internacional, direcionando, assim, o tipo de escrita e a profundidade da
cobertura;
- Pensar para escrever: o jornalista precisa planejar a forma como vai contar uma
história e verificar se é interessante a utilização de áudio, vídeo, gráfico etc;
- Voz ativa: o texto deve ser escrito na voz ativa e tem de conter elementos como
concisão, uso de verbos de ação e substantivos em vez de adjetivos, e até uma
dose moderada de humor;
- Explicação: o jornalista deve apresentar o contexto da notícia para o leitor ou
ouvinte, explicar o que o fato noticiado representa ou quais consequências pode ter
sem que a pessoa tenha que recorrer a outras matérias para entender o fato por
inteiro;
- Direto: o lide é muito importante no texto online. É preciso responder às questões
essenciais: quem, quando, onde, como e por quê. O leitor aprecia textos e
informações diretos;
- Apuração: atenção à checagem de informações. Os fatos devem ser checados
mais de uma vez, o texto deve ser claro e conter contexto. A ética jornalística
também tem de estar presente na elaboração do trabalho.
10
Dados obtidos no artigo científico “O rádio e a internet”, de 2010, produzido pelo Centro
Universitário de Volta Redonda (RJ). Disponível em http://www.slideshare.net/atitudedigital/o-rdio-e-a-
internet#btnPrevious. Acessado em 30 de novembro de 2012, às 23h.
11 FERRARI, Pollyana. Hipertexto, hipermídia. São Paulo: Contexto, 2007.
30
1.4 O rádio e sua linguagem peculiar
Na trajetória histórica do rádio que aqui apresentamos não entramos nos aspectos
culturais que esse importante meio de comunicação estabeleceu. Falamos de sua
influência enquanto instrumento político, como relata o jornalista Melo Filho (1999).
Mas não entramos nos meandros que sob a ótica da linguagem fazem do aparelho
rádio um elemento que, presente em praticamente todos os lares, torna-se muitas
vezes um amigo ou mesmo um membro da família.
Estamos falando de um rádio que não é só anterior à hegemonia da televisão nas
famílias brasileiras. Referimos-nos a um rádio que está presente nas casas,
independentemente da classe social, mas especificamente em algumas regiões do
Brasil. Cidades ou mesmo estados onde a TV não chega, mas o sinal do rádio, sim.
Lares e comunidades que ouvem, sim, o programa “A Voz do Brasil” enquanto fonte
de informação.
Há, pois, grupos sociais que têm nos conteúdos informativos do rádio a única fonte
de informação. A linguagem adotada por essas emissoras, por seus interlocutores,
ganha a condição de fidedignidade. Em se tratando de comunicação, isso não é
exclusividade dessas comunidades geralmente caracterizadas pelo baixo
letramento. O rádio, assim como as mídias em geral, dita comportamentos, consumo
ou, simplesmente, cultura.
O discurso das mídias está presente no que contextualiza Chareaudeau12. Segundo
o autor, o rádio é essencialmente voz e não possui nenhuma imagem que
represente de onde vêm ou como surgem os ruídos transmitidos. Através da sua
forma de narração, o locutor de rádio é capaz de mostrar um pouco de si. Sua
entonação de voz pode demonstrar autoritarismo ou humildade, emoção ou frieza. A
interação entre os locutores permite descobrir a relação entre eles: amizade,
12
CHARAUDEAU, Patrick. O discurso das mídias. São Paulo: Contexto, 2009.
31
distanciamento, polêmica. Todos esses fatores estão ligados à voz, elemento
essencial do rádio.
Charaudeau afirma que a notícia deve ocorrer num tempo próximo ao da sua
transmissão. A notícia deve ser percebida pelo ouvinte como contemporânea, dada
a necessidade de atualidade de informações. O rádio é, para ele, o meio de
comunicação que melhor pode fazer coincidir o tempo da notícia com o tempo da
sua transmissão. A logística simples do repórter, que precisa apenas de um
microfone, aliada à facilidade para que se captem ondas sonoras, faz com que seja
possível ao jornalista estar rapidamente no local da notícia. O rádio, de acordo com
o autor, é a mídia da transmissão direta e do tempo presente.
Para Charaudeau (2009), outra característica do rádio é que ele está próximo da
audiência. Se nos meios impressos e na televisão o contato com o público quase
não existe, o rádio utiliza diversas maneiras para criar intimidade com os ouvintes,
como telefone, mensagens eletrônicas e participações nos programas.
Charaudeau explica que o rádio possui duas propriedades de fala: a descrição e a
explicação. Na descrição, o ouvinte não conta com imagens, ou seja, ele utiliza o
seu poder de sugestão, a sua criatividade e as suas experiências pessoais para
imaginar a cena. Não é o caso da televisão, que mostra a imagem e impede que o
telespectador use a sua imaginação.
Na explicação dos acontecimentos e na exposição de opiniões e pontos de vista, o
ouvinte não tem nenhum suporte escrito e utiliza, de acordo com Charaudeau, um
tipo de compreensão baseado numa lógica “de justaposição”, já que ele não pode,
por exemplo, parar a leitura e voltar a algum ponto que considere necessário para
compreender a mensagem.
Por isso, os jornalistas de rádio têm como característica escrever as suas falas. Eles
acabam por falar da maneira como escrevem. Assim, Charaudeau afirma que o
rádio não exige a mesma concentração de uma leitura de jornal, por exemplo, já que
é possível escutar uma descrição, explicação ou opinião e realizar outras atividades
ao mesmo tempo.
32
Estabelece-se, pois, uma cultura de fidedignidade em relação ao conteúdo
específico do meio rádio e o perfil de público explorado pelos profissionais que
atuam nesse tipo de mídia. A esse respeito, Canclini13 afirma que, do ponto de vista
da cultura, gerações inteiras são influenciadas pela oralidade com que as tradições
são informadas, comunicadas. Ou seja, antes mesmo de experimentar algo, já
sacramenta-se que tal seja bom ou ruim, a partir de enunciados construídos por
outrem, que, mesmo desconhecido fisicamente, já faz parte de um imaginário
coletivo como designador de juízos de valores correspondentes às expectativas de
toda uma coletividade.
Nesse sentido, Nilson Lage14 faz algumas reflexões sobre como deve ser conduzido
o trabalho do jornalista de rádio. Lage, defensor de um rádio que não seja
manipulador e esteja isento em seu papel social de comunicar e informar, reforça
que o texto no rádio é feito para ser lido. Assim, são necessários cuidados para se
evitar que ocorram tropeços na leitura. É recomendável o uso de vírgulas, pontos e
vírgulas ou traços para marcar o texto e facilitar a leitura. Também não deve haver
abreviações, e todas as palavras têm que ser escritas por extenso.
O roteiro de rádio deve diferenciar claramente o texto a ser lido e as marcações para
o técnico ou o sonoplasta. Uma linha com 72 toques equivale a cinco segundos de
leitura.
Para uma locução ao vivo, o jornalista de rádio deve ter material de pesquisa e de
apoio, diminuindo a improvisação.
13 CANCLINI, Néstor García. Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais da globalização. Rio
de Janeiro: Editora UFRJ, 2008.
14 LAGE, Nilson. Linguagem jornalística. 7ª ed. Editora Ática, 2001.
33
2. Coleta de dados: o contato direto com a audiência
Nesta pesquisa, nossa ideia inicial era aplicar um questionário a dois públicos: um
interno, que englobaria alunos, professores e funcionários da Fema, e um externo,
no qual seriam entrevistadas pessoas sem ligação com a referida instituição.
Essa etapa foi cumprida conforme havia sido programada. O questionário externo foi
aplicado por nós em alguns pontos de Assis. Não nos identificamos como produtor e
apresentador do Circuito Esportivo, mas apenas como estudante de Jornalismo da
Fema.
O questionário externo foi aplicado entre os dias 18 e 21 de julho de 2012.
Estivemos no Parque Buracão, local destinado à prática de diversos esportes, como
caminhada, futebol, futsal e basquete, na quadra de esportes da Unesp
(Universidade Estadual Paulista), durante encontro de funcionários e discentes para
a prática de futsal, e em um posto de combustíveis. As pesquisas foram feitas
durante o dia e à noite.
No período de aplicação da pesquisa fazia frio, mas o Parque Buracão e o jogo da
Unesp estavam bastante movimentados. As pessoas abordadas foram solícitas e
responderam ao questionário de forma simpática. Um senhor e uma moça, ambos
no Buracão, nos questionaram sobre a finalidade da pesquisa. Respondemos que
era para um trabalho de faculdade. O mesmo senhor nos perguntou se era possível
ouvir a Rádio Fema pela internet. Dissemos que sim e lhe entregamos o endereço
do site da instituição.
Realizamos 14 questionários na pesquisa externa: foram dez homens e quatro
mulheres. Dez pessoas afirmaram ter o hábito de escutar rádio. Dessas, oito já
ouviram a Rádio Fema, e duas escutam o Circuito Esportivo.
Já a pesquisa interna foi aplicada por Raimunda15. O objetivo de nós não aplicarmos
o questionário no campus da Fema, tomada em conjunto com nosso orientador, foi
15
Nome fictício.
34
obter imparcialidade nas respostas, visto que as pessoas que frequentam a Fema
poderiam nos reconhecer como um dos responsáveis pelo programa. Isso poderia
influenciar nas respostas.
No questionário interno, aplicado nos dias 19 e 20 de julho de 2012, nos períodos da
manhã e da tarde, foram entrevistadas 12 pessoas: sete homens e cinco mulheres.
Nove escutam rádio frequentemente, sendo que seis ouvem a Rádio Fema. Três
pessoas afirmaram ter escutado o Circuito Esportivo.
Com o projeto já em andamento, surgiu a ideia de nosso orientador de utilização de
uma outra ferramenta para a aplicação do questionário: a internet. Montamos, então,
o sorteio de uma bola de futsal. Para participar, seria necessário apenas enviar uma
mensagem com nome, cidade e telefone para o endereço eletrônico do Circuito
Esportivo ou através das redes sociais.
Após o término da promoção, seria enviada uma mensagem aos participantes
explicando que aquela iniciativa fazia parte do nosso Trabalho de Conclusão de
Curso e incentivando-os a responder a um questionário online, com as mesmas
questões aplicadas nas pesquisas presenciais, à exceção das perguntas
socioeconômicas. A iniciativa de alterar tais questões foi tomada para evitar que os
entrevistados fossem incoerentes nas respostas, sendo que, sem contato presencial,
não teríamos condições de nos atentar para o fato. Assim, acreditamos, teríamos
dados mais condizentes com a realidade das pessoas entrevistadas.
A promoção da bola de futsal, oferecida por nosso orientador, foi divulgada no
próprio Circuito Esportivo, com várias publicações no Twitter e no Facebook, redes
sociais digitais, e em matéria publicada no jornal “Voz da Terra”, em Assis, no dia 30
de junho de 2012. O sorteio foi realizado ao vivo, durante o programa do dia 23 de
julho. O vencedor foi Carlos Fernando dos Santos, técnico de futebol e de futsal em
Assis.
35
Entre os dias 25 de julho e 2 de agosto de 2012, nove pessoas responderam ao
questionário online através da plataforma Google Docs16. Sete delas afirmaram ter o
hábito de escutar rádio. Todos os entrevistados disseram já ter ouvido o Circuito
Esportivo. É o que mostra a síntese dos questionários, apresentada a seguir pela
tabela 1 e pela tabela 2:
16
O Google Docs é uma plataforma online e gratuita, na qual é possível criar, disponibilizar e enviar
para outros usuários documentos, planilhas e formulários. No nosso caso, utilizamos o Google Docs
para criar um questionário online sobre o Circuito Esportivo. As pessoas que participaram da
promoção da bola de futsal receberam uma mensagem nossa com o endereço eletrônico do
questionário. Obtivemos nove respostas.
36
COLETA DE DADOS PRESENCIAL
Questão
Prevalência de respostas
Público externo Público interno
Idade 19 a 30 anos 19 a 24 anos
Sexo Masculino Paridade
Atividade Trabalha Trabalha e estuda
Formação Ensino Médio Ensino Superior
Tem o hábito de escutar rádio? Sim Sim
Como escuta rádio? Rádio convencional e internet Rádio convencional
Escuta a Rádio Fema? Sim Paridade
Com que frequência escuta a Rádio Fema?
Diariamente 1 a 7 vezes por semana
Nota para a Rádio Fema 10 8 a 10
Ouve o Circuito Esportivo? Não Não
Quantas vezes já ouviu o programa? 2 a 10 2 a 10
Nota para o Circuito Esportivo 8 a 10 5 a 10
Pontos positivos do Circuito Esportivo Indica a prática de esportes Modo de apresentação, comentários e notícias
Pontos negativos do Circuito Esportivo Muito rápido Apresentação intelectual
Nota – horário e duração 6 a 10 5 a 10
Nota – conteúdo 9 a 10 8 a 9
Nota – apresentação 9 a 10 8 a 10
Nota – linha editorial 9 a 10 6 a 10
Nota – Dinamismo 10 8 a 10
Tabela 1 – Demonstrativo de opinião dos públicos interno e externo da Fema
37
QUESTIONÁRIO APLICADO ONLINE
Questão Prevalência de respostas
Idade 19 a 24 anos
Cidade Assis (SP)
Formação Ensino Superior
Esporte que pratica Futebol e futsal
Jornalistas com os quais se identifica Léo Bianchi
Tem o hábito de escutar rádio? Sim
Como escuta rádio? Internet e rádio convencional
Escuta a Rádio Fema? Sim
Com que frequência escuta a Rádio Fema?
1 vez por semana
Nota para a Rádio Fema 7 a 8
Ouve o Circuito Esportivo? Sim
Quantas vezes já ouviu o programa? 2 a 10
Nota para o Circuito Esportivo 8
Pontos positivos do Circuito Esportivo A cobertura do esporte local
Pontos negativos do Circuito Esportivo Falta de convidados, entrevistas e participação do público
Nota – horário e duração 7 a 8
Nota – conteúdo 9 a 10
Nota – apresentação 7 a 10
Nota – linha editorial 7 a 10
Nota – Dinamismo 7 a 10
Tabela 2 – Demonstrativo do resultado de questionário aplicado na plataforma Google Docs
2.1 Uma pesquisa-ação dividida em três etapas
Estamos vendo, neste trabalho, que a relação histórica entre o meio rádio e seu
público é marcada ora por imposição hegemônica de conteúdos via uso do Estado,
ora de determinação de consumo estabelecida pelo mercado. Tal realidade muda
38
um pouco de configuração no fim do século passado, com o advento do que as
Ciências da Comunicação passam a trabalhar como conceito de Novas Tecnologias
da Informação e da Comunicação, as NTIC.
Os meios modernos de comunicação, configurados essencialmente por impressos,
cinema, rádio e televisão, ganham, no fim do século XIX, a internet e o computador
de uso pessoal como elementos agregadores. Sai-se, portanto, como afirma
Marques de Mello (2010), das Tecnologias da Informação e da Comunicação para
entrar-se nas Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação. Leitores,
ouvintes e telespectadores, outrossim, assumem a condição de internautas.
Marques de Melo salienta, também, a importância de outro desdobramento da
tecnologia que começa no rádio e nesse período abordado incide diretamente no
cotidiano da maioria absoluta da população mundial: a telefonia móvel. O aparelho
celular é utilizado, em suma, para a comunicação entre uma ou mais pessoas. Mas
será capital para a explosão tecnológica desse tipo de instrumento: o aparelho de
comunicação.
Juntadas as plataformas tecnológicas, têm-se as emissoras de rádio, os provedores
de internet e as operadoras de telefonia celular. Reunidas, elas formam uma potente
ferramenta de persuasão, dando reconfiguração na nomenclatura dos processos.
Surgem, então, as Tecnologias Digitais da Informação e da Comunicação, que na
contemporaneidade são as principais norteadoras dos caminhos do consumo,
mediado pela informação, no planeta.
É a partir desse cenário atual que aplicamos nossa pesquisa que dá fundamentação
ao Trabalho de Conclusão de Curso. Consideramos, nesse ínterim, a necessidade
que vimos de entender a maneira como a audiência concebe o programa Circuito
Esportivo e fizemos a opção pela pesquisa-ação enquanto método de investigação
neste Trabalho de Conclusão de Curso. Assim, concordamos com Thiollent (2002),
sobre a necessidade de imersão sobre a realidade do pesquisado e a aproximação
entre o objeto e o fenômeno.
Para tanto, aplicamos três questionários com especificidades de abordagem. O
primeiro, com foco em entrevistados situados no campus da Fundação Educacional
do Município de Assis. Já o segundo foi aplicado junto ao público externo. Em
39
ambos os casos as abordagens foram presenciais. Já o terceiro questionário,
aplicado online, não teve todos os elementos dos anteriores e teve por objetivo,
sucinto, medir o grau de aprovação do programa de esportes. Parâmetros gerais
sobre a concepção da audiência sobre a Rádio Fema e o programa Circuito
Esportivo podem ser vistos no Gráfico 2:
Gráfico 2 - Os questionários foram aplicados respeitando-se as três realidades da audiência: públicos interno e externo e internautas
Em conformidade com o pensamento de Thiollent, esse tipo de abordagem torna-se
importante porque faz da pesquisa-ação um instrumento através do qual o
entrevistado participa diretamente de eventuais alterações implicadas pelo estudo
em questão. Nossa pesquisa, portanto, é realizada em um espaço de interlocução
onde os atores implicados participam na resolução dos problemas, com
conhecimentos diferenciados, propondo soluções e aprendendo na ação. Nesse
40
espaço, os pesquisadores, extensionistas e consultores, exercem um papel
articulador e facilitador em contato com os interessados. Possíveis manipulações,
diz Thiollent, devem ficar sob controle da metodologia e da ética.
Consideramos, também, o que Goffman17 reconfigura enquanto sociedade do
espetáculo conceituada por Guy Debord18. No entender do autor, durante um
processo comunicativo ocorre um tipo de encenação que torna qualquer interação
humana uma representação simbólica. Somos, portanto, sabedores de que precisam
ser consideradas as circunstâncias em que as perguntas dos questionários foram
aplicadas e a conveniência existente em cada resposta lançada. Se, pois, Debord
aborda a construção de sentidos por trás da agenda de cada meio de comunicação,
Goffman aprofunda os estudos sobre a teatralidade que cada pessoa insere em seu
cotidiano, mesmo não estando sob as luzes midiáticas.
A esse respeito Giddens19 salienta para a intenção comunicativa envolvida nesses
processos comunicativos como um todo. No entender do autor, por mais que a
intenção presente na resposta seja positiva, a validade ou não desse fator
dependerá do contexto social em que o interlocutor esteja inserido. Giddens adverte
para o fato de que quem pergunta pode não estar querendo como resposta
exatamente o que indaga, da mesma forma que quem responde pode não ser
compreendido a partir das falas que lança. Sociologicamente, portanto, tudo será,
naquilo que salienta Teixeira20, uma questão de interpretações sobre o subjetivo,
colocando qualquer objetividade em xeque.
17
GOFFMAN, Erving. A representação do eu na vida cotidiana. São Paulo: Vozes, 1985.
18 DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Contraponto: Rio de Janeiro, 2000.
19 GIDDENS, Anthony. Novas regras do método sociológico. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.
20 TEIXEIRA, Lívio. A doutrina dos modos de percepção e o conceito de abstração na filosofia
de Espinosa. São Paulo: Editora Unesp, 2001.
41
2.2 Pesquisa interna, na Fema
A pesquisa com o público interno da Fema foi realizada nos dias 19 e 20 de julho de
2012, nos períodos da manhã e da tarde, por Raimunda21. Houve abordagem direta
a 12 pessoas, e notamos maior nível de escolaridade e menor grau de renda, além
de prevalência de entrevistados do sexo masculino. A maioria dos pesquisados tem
entre 19 e 24 anos, sendo sete homens e cinco mulheres. Três pessoas têm até 18
anos, e outras três, de 25 a 45 anos.
Todos os entrevistados declararam exercer algum tipo de atividade remunerada, ou
seja, trabalham, sendo que nove deles também estudam. A maioria está cursando
ou já tem o ensino superior completo. Apenas uma pessoa declarou possuir o ensino
médio.
Interessante ressaltar a renda das pessoas ouvidas. 75% têm renda de até um
salário mínimo, enquanto a minoria possui renda de até cinco salários mínimos.
Em relação à residência, há paridade na situação dos entrevistados. A maior parte
deles tem casa própria, mas também há pessoas com residência alugada,
financiada e/ou emprestada.
A maioria do público ouvido possui veículos, sejam automóveis ou motocicletas.
Nesse quesito, quando o entrevistado afirmou ter um veículo, disse ser próprio. Três
entrevistados disseram ter automóvel, e quatro, motocicletas.
A maior parte das pessoas tem televisão com programação aberta ou por
assinatura. Em relação à internet, prevalecem entrevistados usuários de serviço de
banda larga. Duas pessoas disseram não ter acesso à internet. 75% dos
entrevistados têm celular com internet. Nenhuma pessoa afirmou não ter celular.
21
Nome fictício. Conforme já explanado neste trabalho, decidimos solicitar a colaboração de uma amiga na coleta de dados com o público interno. O objetivo foi obter imparcialidade nas respostas, já que as pessoas que estudam ou trabalham na Fema poderiam nos reconhecer como produtor e apresentador do Circuito Esportivo. Isso poderia influenciar nas respostas.
42
2.2.1 Análise do objeto
A pesquisa interna foi realizada com 12 pessoas, que trabalham ou estudam na
Fema. Apesar disso, metade afirmou não escutar a Rádio Fema, sendo que 75%
ouvem rádio.
Os entrevistados que declararam ter o hábito de escutar rádio o fazem através de
rádio convencional ou portátil. A minoria ouve rádio pelo celular ou pela internet.
As seis pessoas que afirmaram não ouvir a Rádio Fema não conhecem a emissora.
Quem escuta, o faz com frequência variada: de uma vez por semana a diariamente.
Os entrevistados que escutam a Rádio Fema atribuíram notas de 7 a 10 para a
emissora, sendo que as notas 8 e 10 foram citadas duas vezes cada uma.
Dos 12 entrevistados, nove não ouvem o Circuito Esportivo. Das três pessoas que
conhecem o programa, duas são mulheres, uma de 19 a 24 anos e outra de 31 a 45,
e uma, homem, de 25 a 30 anos. Quem ouve com mais frequência, no entanto, é o
homem. Ele havia escutado dez ou mais vezes, enquanto as duas mulheres
disseram ter ouvido entre duas e cinco vezes.
2.2.2 Notas
As notas atribuídas ao Circuito Esportivo foram variadas: notas 5, 9 e 10. As notas
relacionadas a itens do programa tiveram a mesma variação. Quanto ao horário e à
duração do programa, notas 5, 9 e 10; o conteúdo recebeu duas notas 9 e uma nota
8; a apresentação teve duas notas 10 atribuídas, além de uma nota 8; a linha
43
editorial do Circuito Esportivo recebeu uma nota 6, uma 9 e uma 10; o dinamismo e
a proximidade com o público tiveram notas 8, 9 e 10.
Quanto às notas, as mulheres foram mais exigentes. Elam atribuíram notas 5 e 9
para o Circuito Esportivo, enquanto o homem deu nota 10.
A exigência das mulheres se manteve nas notas atribuídas a itens do Circuito
Esportivo. Uma delas deu nota média de 9,2 (notas de 8 a 10); a segunda, de 7,2
(notas de 5 a 9). A média das duas foi de 8,2. Já o homem deu nota média de 9,6
(notas de 9 a 10).
Na avaliação sobre o programa, as duas mulheres apontaram o modo de
apresentação e os comentários como pontos positivos, e nenhum ponto negativo. Já
o homem citou as notícias como ponto positivo. Como negativo, ele apontou que o
programa é apresentado de forma muito intelectual.
2.3 Pesquisa externa ao campus
Na entrevista com o público externo, ou seja, pessoas abordadas fora do campus da
Fema, realizada no período de 18 a 21 de julho de 2012, em três períodos do dia,
manhã, tarde e noite, em diferentes locais da cidade, o Parque Buracão, a quadra de
esportes da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e um posto de combustíveis,
identificamos mudança no perfil socioeconômico. Houve mais entrevistados com
menores formação e renda, assim como sem atividade remunerada. Houve
prevalência de pessoas do sexo masculino.
Cinco pessoas têm idade entre 19 e 24 anos. Duas, até 18. Também participaram
pessoas de 25 a 65 anos. Foram entrevistados dez homens e quatro mulheres.
A maioria dos entrevistados trabalha, porém, uma pessoa afirmou não realizar
nenhuma atividade remunerada. Somente um entrevistado trabalha e estuda. Mais
44
de 60% das pessoas ouvidas estão cursando ou já completaram o ensino médio. Os
demais 40% têm ensino superior.
Seis entrevistados disseram, na pesquisa por abordagem externa, ter uma renda de
até cinco salários mínimos. Quatro possuem até um salário mínimo, e outros quatro
não têm nenhum tipo de renda.
A maioria das pessoas entrevistadas tem casa e automóvel próprios. Cinco
entrevistados têm residência alugada ou emprestada, e seis não possuem
automóvel. Em relação ao veículo motocicleta, 78% das pessoas não possuem esse
tipo de transporte. Os entrevistados que declararam ter motocicleta afirmaram que o
veículo é próprio.
A pesquisa com o público externo buscou pessoas que não tivessem nenhuma
ligação com a instituição. Ao contrário dos outros dois tipos de pesquisa, dos quais
participaram pessoas que trabalham ou estudam na Fema (público interno) e que
ouvem o Circuito Esportivo e concorreram ao sorteio de uma bola de futsal (público
online), os entrevistados ouvidos fora da Fema, supomos, deram as respostas mais
independentes em relação à emissora e ao Circuito Esportivo. Dois entrevistados
ouvem o programa.
Quanto ao Circuito Esportivo, as pessoas, nesse tipo de entrevista, deram as
maiores notas médias. Em relação ao programa, elas atribuíram nota média de 9.
No que diz respeito a itens da produção radiofônica, a nota média foi de 9,3.
A frequência com que essas pessoas escutam o Circuito Esportivo ficou dividida.
Uma afirmou ter escutado de duas a cinco vezes, enquanto a outra declarou ter
ouvido dez vezes ou mais.
45
2.3.1 Análise do objeto
Em relação à Rádio Fema, o público externo também atribuiu a maior nota média:
8,7. O público interno deu nota média de 8,6, enquanto as pessoas ouvidas online
atribuíram nota média de 7,8.
O questionário externo foi aplicado a 14 pessoas. Dessas, dez escutam rádio, e
apenas duas ouvem o Circuito Esportivo.
Metade dos entrevistados que escutam rádio o fazem através de rádio convencional.
Rádio portátil, celular e internet também foram citados.
Mais da metade das pessoas ouve a Rádio Fema. Os seis entrevistados que não
escutam a emissora disseram que não a conhecem ou que têm suas rádios
preferidas. Uma pessoa afirmou que não tem nenhum aparelho que receba sinais de
rádio.
Quatro pessoas escutam a Rádio Fema diariamente. As demais ouvem de uma a
cinco vezes por semana. Metade dos entrevistados que ouvem a Rádio Fema
atribuiu nota 10 para a emissora, que ainda teve duas notas 7 e duas 8.
Em relação ao Circuito Esportivo, duas pessoas, 14% do total, disseram ouvir o
programa, um homem, de 31 a 45 anos, e uma mulher, de 19 a 24. Ele afirmou ter
escutado o Circuito Esportivo de duas a cinco vezes. Ela, dez ou mais.
2.3.2 Notas
Quanto às notas atribuídas ao programa, a mulher seguiu mais exigente. Ela deu
nota 8, enquanto o homem atribuiu nota 10.
46
Nas notas atribuídas a itens do Circuito Esportivo, o homem seguiu com os índices
mais altos. A mulher deu uma nota média de 8,6 (notas de 6 a 10). O homem
atribuiu nota 10 em todos os itens.
Horário e duração do programa tiveram notas 6 e 10; conteúdo, 9 e 10;
apresentação, 9 e 10; linha editorial, 9 e 10; e dinamismo e proximidade com o
público, duas notas 10.
Na avaliação do Circuito Esportivo, o homem não citou nenhum ponto negativo e
disse que tudo no programa pode ser considerado positivo. A mulher foi mais
específica. Ela apontou que o Circuito Esportivo fala sobre e indica a prática de
esportes como ponto positivo. Como negativo, a duração. Para ela, o programa é
muito rápido.
2.4 Pesquisa online, com internautas
O questionário online foi aplicado por meio da plataforma Google Docs22 e envolveu
os ouvintes do Circuito Esportivo que participaram de uma promoção que sorteou
uma bola de futsal, ao vivo, no programa.
Criamos a promoção de uma bola de futsal no Circuito Esportivo que teria como
requisito para participação o envio de uma mensagem para o endereço eletrônico do
programa com nome completo, cidade e telefone do participante. As pessoas que
participassem receberiam, depois do sorteio da bola, uma mensagem nossa, na qual
falaríamos do objetivo científico da promoção e solicitaríamos a participação delas,
respondendo a um questionário online.
22
Conforme já explanado neste trabalho, o Google Docs é uma plataforma online e gratuita, na qual é
possível criar, disponibilizar e enviar para outros usuários documentos, planilhas e formulários. No
nosso caso, utilizamos o Google Docs para criar um questionário online sobre o Circuito Esportivo. As
pessoas que participaram da promoção da bola de futsal receberam uma mensagem nossa com o
endereço eletrônico do questionário. Obtivemos, nessa plataforma, nove respostas.
47
Anunciamos a promoção pela primeira vez no Circuito Esportivo e nas redes sociais
no dia 18 de junho de 2012, data em que recebemos a primeira inscrição para o
sorteio. A promoção também foi divulgada em matéria publicada no jornal “Voz da
Terra”, em Assis, no dia 30 de junho.
Inicialmente, as inscrições seriam aceitas até o dia 1º de julho, sendo que o sorteio
seria realizado no dia 2 de julho, ao vivo, no Circuito Esportivo. Porém, a Rádio
Fema enfrentou problemas de ordem técnica e permaneceu fora de atividade por
cerca de duas semanas. No retorno, anunciamos novamente a promoção e a
prorrogação do prazo para inscrições: as mensagens poderiam ser enviadas até o
dia 22 de julho. A última inscrição foi realizada no dia 20 de julho.
O sorteio da bola de futsal foi realizado por nós e por Ítalo Luiz, nosso colega de
apresentação, ao vivo, durante o Circuito Esportivo do dia 23 de julho de 2012, às
18h45. O vencedor da promoção foi Carlos Fernando dos Santos, técnico de futebol
e futsal em Assis.
Figura 2 – Anúncio que divulgou a promoção na internet através de sites e redes sociais
48
Ao todo, nove entrevistados responderam ao questionário online no período de 25
de julho a 2 de agosto de 2012. Todos afirmaram ouvir a Rádio Fema e o Circuito
Esportivo. No entanto, oito dos nove internautas afirmaram que escutam a Rádio
Fema apenas uma vez por semana. O Circuito Esportivo também é levado ao ar
semanalmente.
Apenas uma pessoa disse ter ouvido o Circuito Esportivo uma única vez. O restante
escutou entre duas e dez, ou mais, vezes.
Na formulação do questionário buscamos a opinião dos pesquisados sobre a Rádio
Fema. Quatro dos nove internautas atribuíram nota 8 para a emissora. A nota mais
baixa foi 6, citada uma vez, e a mais alta foi 10, atribuída por uma pessoa.
Em relação ao programa Circuito Esportivo, a nota mais citada foi 8, atribuída por
cinco pessoas. Dois entrevistados atribuíram nota 9, e outros dois, nota 10.
2.4.1 Análise do objeto
Nas notas relacionadas a itens do Circuito Esportivo, as pessoas manifestaram boa
aceitação. A maioria atribuiu notas 7 e 8 para o horário e a duração do programa;
quanto ao conteúdo, a maioria das notas foi 10, assim como para a apresentação;
para a linha editorial do Circuito Esportivo, a maior parte das pessoas atribuiu nota 7;
para o dinamismo e proximidade com o público, a maioria dos entrevistados deu
notas 7 e 10.
A maioria das pessoas entrevistadas online tem o hábito de escutar rádio, e o faz
através da internet. Nesse sentido, interessante notar que a maior parte dos
entrevistados é de Assis, mas também participaram pessoas de outras cidades e
estados: Itu (SP), Mafra (SC) e Rio de Janeiro (RJ).
49
Os entrevistados citaram na entrevista os esportes que praticam. A maioria pratica
futebol ou futsal. Também foram citados basquete, corrida, vôlei, ciclismo, tênis,
natação, além de academia e dança.
Foram levantadas, ainda, outras informações com as pessoas que responderam ao
questionário online. A maior parte delas tem até 24 anos, sendo que um entrevistado
tem entre 46 e 65 anos. Mais da metade das pessoas tem o ensino superior em
curso ou completo. Dois entrevistados possuem pós-graduação.
Quando perguntadas sobre com quais jornalistas se identificam, as pessoas citaram
15 nomes, sendo que todos trabalham na área esportiva. Apenas um foi citado duas
vezes: Léo Bianchi, da TV Globo.
2.4.2 Audiência online aponta pontos positivos e negativos
Os entrevistados apontaram, também, pontos positivos e negativos relacionados ao
Circuito Esportivo. Como pontos negativos, eles disseram que o programa não
possui padrão, tem poucos comentários críticos, a falta de humor, o sinal oscilante
da rádio, que o Circuito Esportivo não começa no horário estabelecido (18 horas),
que é repetitivo em alguns momentos, a falta de quadros e o comentarista. Os mais
citados foram a pouca participação do público e de convidados ao vivo.
Como pontos positivos, as pessoas citaram o tipo de abordagem do programa, a
oportunidade para novos talentos do rádio, a apresentação e o formato do Circuito
Esportivo, a dinâmica entre os apresentadores, o conteúdo, as informações, o
contato com os ouvintes através do Twitter e o fato de o programa ser criativo e
interessante. O mais citado foi a cobertura do Circuito Esportivo para os times
esportivos da cidade.
50
2.5 Parâmetros gerais sobre a coleta de dados
Nesta pesquisa, temos três tipos diferentes de audiência. As pessoas que
responderam ao questionário online participaram após se inscrever numa promoção
para o sorteio de uma bola de futsal. Elas ouvem o Circuito Esportivo através da
internet, principalmente as que moram em outras cidades.
Os entrevistados na pesquisa online deram a segunda maior nota média para o
Circuito Esportivo: 8,6. Eles formam o grupo que ouve o programa com maior
frequência. Apenas nesse tipo de pesquisa as respostas dos dois maiores índices de
frequência (seis a nove vezes e dez vezes ou mais) foram maiores do que os dois
menores índices (uma vez e de duas a cinco vezes): cinco respostas ante quatro.
Já em relação às notas atribuídas a itens do Circuito Esportivo, as pessoas que
participaram online foram as mais exigentes e deram a menor nota média: 8.
O público interno compreendeu pessoas que trabalham ou estudam na Fema, ou
seja, os entrevistados têm ligação direta com a instituição e estão em contato com
ela de forma frequente. Apesar disso, metade dos entrevistados afirmou não
conhecer a Rádio Fema, e apenas três afirmaram ouvir o Circuito Esportivo.
Duas pessoas disseram ter escutado o programa de duas a cinco vezes, sendo que
apenas uma ouviu o Circuito Esportivo dez vezes ou mais.
Os entrevistados nessa pesquisa deram a menor nota média ao Circuito Esportivo:
8. Quanto às notas a itens do programa, as pessoas atribuíram a segunda maior
nota média: 8,6.
A pesquisa com o público externo foi realizada fora das dependências da Fema e
buscou pessoas que não tivessem nenhuma ligação com a instituição. Ao contrário
dos outros dois tipos de pesquisa, dos quais participaram pessoas que trabalham ou
estudam na Fema (público interno) e que ouvem o Circuito Esportivo e concorreram
ao sorteio de uma bola de futsal (público online), os entrevistados ouvidos fora da
Fema, supomos, deram as respostas mais independentes em relação à emissora e
ao Circuito Esportivo. Dois entrevistados ouvem o programa.
51
Quanto ao Circuito Esportivo, as pessoas, nesse tipo de entrevista, deram as
maiores notas médias. Em relação ao Circuito Esportivo, elas atribuíram nota média
de 9. No que diz respeito a itens do programa, a nota média foi de 9,3.
A frequência com que essas pessoas escutam o Circuito Esportivo ficou dividida.
Uma afirmou ter escutado de 2 a 5 vezes, enquanto a outra declarou ter ouvido 10
vezes ou mais.
Em relação à Rádio Fema, o público externo também atribuiu a maior nota média:
8,7. O público interno deu nota média de 8,6, enquanto as pessoas ouvidas on-line
atribuíram nota média de 7,8.
2.6 Prenúncios para um desfecho: maturidade de reflexão
Acreditamos, tendo analisado o resultado da pesquisa, que o programa Circuito
Esportivo tem bom nível de aceitação. Este trabalho nos surpreendeu, pois, antes de
realizá-lo, acreditávamos que teríamos dificuldades em encontrar ouvintes da Rádio
Fema e do Circuito Esportivo. Contudo, conseguimos encontrá-los. E localizamos
ouvintes críticos, que atribuíram suas notas e apontaram pontos positivos e
negativos do programa, o que confirma a ideia de Martín-Barbero. Segundo o autor
colombiano, a audiência deixou de ser passiva e agora é crítica. Ela tem várias
formas de avaliar um programa, como telefone, internet, participações ao vivo e
pesquisas, e efetivamente o faz. É necessário, assim, que os responsáveis pelos
programas estejam atentos e acompanhem as mudanças de opinião e de
comportamento da audiência. O sucesso do programa pode depender dessa
atenção dada à opinião da audiência.
Apesar de, numericamente, terem sido minoria, as pessoas que conhecem e ouvem
o Circuito Esportivo apontaram pontos que as desagradam e deram sugestões para
52
que o programa seja agradável à audiência. Esse aspecto, entendemos, entra em
consonância com o que já abordamos nas teorias de Goffman, Giddens e, agora,
Habermas23. Dizemos isso porque concordamos que o discurso da modernidade
presente nos sujeitos sociais altera a construção de sentidos conforme a condição
em que o interlocutor insere tal discurso.
Notamos que vários aspectos do Circuito Esportivo são bem aceitos pela audiência.
Ela demonstrou gostar do modo de apresentação do programa, com dois
apresentadores, do conteúdo, com assuntos do esporte local, e das notícias que são
transmitidas pelo programa. Destacamos, ainda, outro ponto citado pelas pessoas
pesquisadas: o fato de os apresentadores se comunicarem com os ouvintes pelo
Twitter, durante o programa. As redes sociais são uma ferramenta importante de
comunicação, pois, assim, os ouvintes podem, de forma rápida, mandar a sua
pergunta, comentário ou opinião para o programa, interagindo e participando
efetivamente da produção do Circuito Esportivo.
Os itens citados pela audiência como negativos podem ser estudados e
transformados em alterações no programa. Algumas questões podem ser
melhoradas, como a oscilação do sinal da rádio e a falta de padrão no horário de
início do programa. Outras sugestões podem ser analisadas, como a falta de
comentários críticos, de humor, de convidados e de quadros especiais. Se a
produção do Circuito Esportivo concluir que a sua audiência deseja, de fato, que
haja essas mudanças no programa, as sugestões podem ser acatadas e efetivadas.
Há, na expectativa desses interlocutores consultados mediante aplicação do
questionário de nossa pesquisa, posições claras quanto à consciência de que há um
poder estatal, controlador, sobre os meios de comunicação, em especial o rádio, que
no Brasil é um dos vários tipos de concessão nas telecomunicações. Nesse aspecto,
concordamos com Gramsci24, para quem a sociedade civil pretende a contra-
hegemonia, mas consente com a hegemonia pela conveniência do consumo, que
por sua vez representa conforto.
23
HABERMAS, Jünger. O discurso filosófico da modernidade. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
24 GRAMSCI, A. Concepção dialética da História. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.
53
Portanto, acreditamos que o programa tem boa aceitação pela audiência. Porém,
ressaltamos, mais uma vez, conforme propõe Martín-Barbero, que ela é crítica e
deseja que os responsáveis pelo programa estejam sensíveis às alterações pelas
quais passa a audiência. É sempre importante pesquisar e ouvir a opinião dos
ouvintes, saber o que eles querem e o que esperam do programa, o que poderá
resultar em alterações ou adequações no referido programa radiofônico.
54
3. Propostas que surgem em forma de considerações finais
A partir da experiência de pesquisa científica presente neste Trabalho de Conclusão
de Curso, dividimos nossa vida de pesquisador/profissional da comunicação em
duas etapas distintas. A primeira corresponde à parte de nossa vida em que
vivenciamos a prática comunicativa no senso comum. A segunda, mais importante,
é aquela em que passamos a entender os mesmos processos comunicativos sob as
luzes da ciência.
É com esse pensamento em vigor que tiramos algumas conclusões. Uma delas é
que o programa Circuito Esportivo, no ar desde 2009 pela Rádio Fema FM, foi bem
avaliado pelas pessoas pesquisadas neste trabalho. Encontramos ouvintes que
escutam o programa com maior ou menor frequência e pessoas que avaliaram a
produção de forma mais positiva ou mais negativa, como, acreditamos, ocorra na
maioria das produções jornalísticas.
Antes de realizar este trabalho, apontávamos como uma das principais dificuldades
encontrar pessoas que escutassem o Circuito Esportivo. E foi essa, porém, nossa
maior surpresa ao longo da pesquisa. Encontramos ouvintes do programa, e
ouvintes críticos, que atribuíram notas ao Circuito Esportivo e apontaram pontos
positivos e negativos referentes à produção.
Comprovou-se, assim, a teoria do pesquisador colombiano Jesús Martín-Barbero,
que defende que a audiência deixou de ser composta de meros receptores de
informações e transformou-se em uma audiência atenta e crítica.
Neste Trabalho de Conclusão de Curso, os ouvintes atribuíram notas de acordo com
suas concepções sobre o Circuito Esportivo e apontaram melhorias que, para eles,
devem ser realizadas para que o programa se torne mais atrativo à audiência e
atenda às suas necessidades e expectativas.
Defendemos que as respostas aqui obtidas sejam analisadas pelos futuros
responsáveis pela programação da Rádio Fema e pelo Circuito Esportivo. Ao longo
deste trabalho, foram destacados itens do programa que são aprovados pela
55
audiência, e também pontos que foram criticados. Estes, portanto, devem ser
analisados, pois eles são resultado da criticidade dos ouvintes. As propostas aqui
pontuadas podem se transformar, de fato, em alterações ou adequações na
programação da Rádio Fema e na produção do Circuito Esportivo.
Por fim, destacamos que é importante para nós, enquanto comunicador, e para os
atuais e futuros responsáveis pela Rádio Fema e pelo Circuito Esportivo, colocar em
prática a teoria de Jesús Martín-Barbero aqui explanada. Os produtores de conteúdo
midiático devem estar atentos e sensíveis à opinião da audiência, às alterações de
comportamento pelas quais ela passa, às sugestões e propostas apontadas por ela.
Ratificamos que as pessoas não mais ouvem e aceitam de forma passiva o que lhes
é transmitido, mas elas avaliam, criticam, elogiam, querem participar, como
comprovado neste trabalho.
O Circuito Esportivo possui ouvintes, é uma produção bem aceita e bem avaliada e
pode se confirmar como um programa bem-sucedido se mantiver-se atento à
audiência. O público tem opinião e quer ser ouvido, e os responsáveis pela produção
do Circuito Esportivo devem disponibilizar meios para que a audiência se manifeste,
de forma que possam ser realizadas modificações ou adequações de acordo com a
realidade, a criticidade e a exigência da audiência.
56
4. Referências
4.1 Bibliográficas
BACCEGA, Maria Aparecida. Do mundo editado à construção do mundo. In Comunicação & Educação. São Paulo, ECA/USP, set./dez. 1994.
MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2008.
MARTÍN-BARBERO, Jesús. Globalização comunicacional e transformação cultural. In MORAES, Dênis de. Por outra comunicação. Rio de Janeiro: Record, 2003.
CANCLINI, Néstor García. Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais da globalização. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2008.
CHARAUDEAU, Patrick. O discurso das mídias. São Paulo: Contexto, 2009.
FERRARI, Pollyana. Hipertexto, hipermídia. São Paulo: Contexto, 2007.
FILHO, Murilo de Melo. Testemunho político. Elevação: São Paulo, 1999.
GIDDENS, Anthony. Novas regras do método sociológico. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.
GOFFMAN, Erving. A representação do eu na vida cotidiana. São Paulo: Vozes, 1985.
GRAMSCI, A. Concepção dialética da História. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.
HABERMAS, Jünger. O discurso filosófico da modernidade. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
LAGE, Nilson. Linguagem jornalística. 7ª ed. Editora Ática, 2001.
PENA, Felipe. 1000 perguntas. Teorias da Comunicação: conceitos, mídias, profissões. Rio de Janeiro: Editora Rio, 2005.
ROLDÃO, Ivete Cardoso do Carmo. Nas ondas do rádio - da PCR-9 à Educativa: a trajetória das emissoras de Campinas. Holambra, SP, 2008.
STRAUBHAAR, Joseph & LAROSE, Robert. Comunicação, mídia e tecnologia. Trad. José Antonio Lacerda Duarte. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004.
STRELOW, Aline. Reflexões sobre método de pesquisa em jornalismo e uma proposta oriunda do campo. In BRAGA, José Luiz & LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. Pesquisa empírica em comunicação. São Paulo: Paulus, 2010.
TEIXEIRA, Lívio. A doutrina dos modos de percepção e o conceito de abstração na filosofia de Espinosa. São Paulo: Editora Unesp, 2001.
THIOLLENT. Michel J. M. Crítica metodológica, investigação social e enquete operária. São Paulo: Polis, 1980.
57
TRIPP, David. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica. In Educação e pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 3, p. 443-466, set./dez. 2005.
ASSIS, SP. Lei Municipal nº 2.374, de 19 de outubro de 1985. Institui a Fundação Educacional do Município de Assis.
4.2 Eletrônicas
http://www.intercom.org.br/bibliocom/tres/pdf/fabianoormaneze.pdf, acessado em 31
de outubro de 2012, às 23h40.
http://www.abert.org.br/site/images/stories/pdf/perfil.pdf, acessado em 31 de outubro
de 2012, às 23h51.
http://www.abert.org.br/site/images/stories/pdf/rd_brasil.pdf, acessado em 31 de
outubro de 2012, às 22h20.
http://www.slideshare.net/atitudedigital/o-rdio-e-a-internet#btnPrevious, acessado em
30 de novembro de 2012, às 23h.
58
5. Anexos