RAFAEL PEIXOTO MEIRA Microfundamentos da macroeconomia: … · 2019. 8. 12. · em seus dois ramos...
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE ECONOMIA
RAFAEL PEIXOTO MEIRA
Microfundamentos da macroeconomia: da Crítica de Lucas à economia da complexidade
Campinas 2019
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE ECONOMIA
RAFAEL PEIXOTO MEIRA
Microfundamentos da macroeconomia: da Crítica de Lucas à economia da complexidade
Prof. Dr. José Ricardo Fucidji – orientador
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Econômicas do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas para obtenção do título de Mestre em Ciências Econômicas. ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO ALUNO RAFAEL PEIXOTO MEIRA E ORIENTADA PELO PROF. DR. JOSÉ RICARDO FUCIDJI.
Campinas 2019
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Ficha catalográfica Universidade Estadual de Campinas Biblioteca do Instituto de Economia Mirian Clavico Alves - CRB 8/8708
Peixoto Meira, Rafael, 1989-
P359m Microfundamentos da macroeconomia : da crítica de Lucas à economia da
complexidade / Rafael Peixoto Meira. – Campinas, SP : [s.n.], 2019.
Orientador: Jose Ricardo Fucidji.
Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de
Economia.
1. Economia - Metodologia. 2. Macroeconomia. 3. Economia da
complexidade. I. Fucidji, Jose Ricardo, 1971-. II. Universidade Estadual de
Campinas. Instituto de Economia. III. Título.
Informações para Biblioteca Digital
Título em outro idioma: Microfoundations of macroeconomics : from Lucas' critique to the complexity economics Palavras-chave em inglês: Economics - Methodology Macroeconomics Complexity economics Área de concentração: Teoria Econômica Titulação: Mestre em Ciências Econômicas Banca examinadora: Jose Ricardo Fucidji [Orientador] Adriana Nunes Ferreira Tatiana Massaroli de Melo Data de defesa: 31-05-2019 Programa de Pós-Graduação: Ciências Econômicas
Identificação e informações acadêmicas do(a) aluno(a)
- ORCID do autor: https://orcid.org/0000-0003-3970-4403 - Currículo Lattes do autor: http://lattes.cnpq.br/4847948312254807
http://lattes.cnpq.br/4847948312254807
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE ECONOMIA
RAFAEL PEIXOTO MEIRA
Microfundamentos da macroeconomia: da Crítica de Lucas à economia da complexidade
Prof. Dr. José Ricardo Fucidji – orientador
Defendida em 31/05/2019
COMISSÃO JULGADORA Prof. Dr. José Ricardo Fucidji - PRESIDENTE Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Prof.ª Dr.ª Adriana Nunes Ferreira Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Prof.ª Dr.ª Tatiana Massaroli de Melo Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP)
A Ata de Defesa, assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de vida acadêmica do aluno.
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RESUMO
Esse trabalho analisa o debate em torno do que ficou cunhado na literatura como ‘microfundamentos da macroeconomia’, e tem como objetivo discutir tanto as críticas ao modo como eles são propostos pela teoria econômica mainstream quanto visões alternativas da conexão entre o micro e o macro. Apesar de existir atualmente um ‘novo consenso em macroeconomia’, a sua estratégia de microfundamentação baseada no agente representativo é alvo de inúmeras críticas, por apresentar diversos problemas de agregação e ignorar a importância das interações entre os agentes e dos mecanismos de influência do macro sobre o micro. Estes são dois aspectos que estão no centro de diversas propostas alternativas de conexão entre a microeconomia e a macroeconomia, e que muitas vezes são expressos por meio do conceito de emergência. Embora esse seja um conceito mal especificado no debate econômico, em várias abordagens – como será defendido aqui –, ele é utilizado representando justamente estes dois aspectos. Dentre essas abordagens, é destacada nessa dissertação a da economia da complexidade, que enxerga a economia enquanto um sistema complexo adaptativo e propõe a sua análise a partir – entre outros métodos – de modelos baseados em agentes (ABMs). Estes possibilitariam o estudo das interações e feedbacks existentes no sistema econômico a partir do exame tanto das regras de comportamento dos agentes quanto das redes de conexão entre eles. Assim, tais modelos seriam capazes de analisar os principais mecanismos de influências causais existentes entre a microeconomia e a macroeconomia, considerando uma relação dinâmica e continua entre esses dois domínios. Será discutido nesse trabalho, também, como a análise de tais mecanismos de influência constitui um modo de explicação adequado dos fenômenos em ciências sociais – o que é referido no debate como ‘explicação baseada em mecanismos’. A partir disso, conclui-se que microfundamentar a macroeconomia consistiria em explicar os mecanismos de influência das interações entre os agentes microeconômicos sobre as estruturas macroeconômicas, porém, levando-se em conta, também, os diversos outros mecanismos em ação e a forma dinâmica como os mecanismos nos diversos níveis se relacionam.
Palavras-chave: microfundamentos, emergência, complexidade, mecanismos,
interações
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ABSTRACT
This work analyzes the debate around what has been coined in the literature as 'micro-foundations of macroeconomics' and aims to discuss both the critiques of the way they are proposed by mainstream economic theory and alternative visions of the connection between micro and macro. Although there is currently a 'new consensus in macroeconomics', its strategy of microfoundation based on the representative agent is criticized for presenting several problems of aggregation and ignoring the importance of the interactions between the agents and the mechanisms of influence of the macro over the micro. These are two aspects that are at the center of several alternative proposals of connection between microeconomics and macroeconomics, and which are often expressed through the concept of emergence. Although this is a badly specified concept in the economic debate, in several approaches – as it will be argued here – it is used for representing these two aspects. Among these approaches, the complexity economics, which sees the economy as a complex adaptive system, is emphasized in this dissertation and proposes its analysis based on – among other methods – agent-based models (ABMs). These would make possible the study of the interactions and feedbacks existing in the economic system from the examination of both the agents’ rules of behaviour and the networks of connection inter agents. Thus, they would be capable of analyzing the main mechanisms of causal influences between microeconomics and macroeconomics, considering a dynamic and continuous relationship between these two domains. It will also be discussed in this paper how the analysis of such mechanisms of influence constitutes a proper way of explaining phenomena in social sciences – what is referred to in the debate as 'mechanism-based explanation'. From this, it is concluded that to microfound the macroeconomics would involve explaining the mechanisms of influence of and the interactions between microeconomic agents on macroeconomic structures, however, considering also the various other mechanisms in action and the dynamic forms with which they relate.
Keywords: microfoundations, emergence, complexity, mechanisms, interactions
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Sumário
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 9
CAPÍTULO 1: O DEBATE DA MICROFUNDAMENTAÇÃO DA MACROECONOMIA12
1.1. Introdução ................................................................................................................................. 12
1.2. Uma visão histórica ................................................................................................................. 14
1.2.1. A microfundamentação mainstream como a “única” proposta de
microfundamentação? ............................................................................................................... 18
1.3. A microfundamentação mainstream ..................................................................................... 20
1.4.Críticas à microfundamentação mainstream ........................................................................ 23
1.4.1. Agentes Representativos ............................................................................................... 28
1.5. Microfundamentações alternativas ....................................................................................... 35
1.6. Considerações Finais .............................................................................................................. 40
CAPÍTULO 2: O CONCEITO DE EMERGÊNCIA ............................................................. 42
2.1. Introdução ................................................................................................................................. 42
2.2. Conceitos importantes no debate sobre emergência ........................................................ 44
2.2.1. Superveniência ................................................................................................................ 45
2.2.2. Realizabilidade múltipla .................................................................................................. 49
2.2.3. Downward causation ....................................................................................................... 49
2.3. A classificação de Bedau ....................................................................................................... 53
2.3.1. “Emergência fraca” e simulações computacionais ..................................................... 60
2.4. Emergência em ciências sociais e economia...................................................................... 64
2.6. Considerações finais ............................................................................................................... 73
CAPÍTULO 3: A ECONOMIA DA COMPLEXIDADE ....................................................... 75
3.1. Introdução ................................................................................................................................. 75
3.2. Cognição e comportamento ................................................................................................... 76
3.3. Estruturas e redes de interação ............................................................................................ 81
3.4. Modelos baseados em agentes (ABMs) .............................................................................. 83
3.4.1. História dos ABMs ........................................................................................................... 85
3.4.2. Explicação generativa ..................................................................................................... 87
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3.4.3 ABMs em macroeconomia .............................................................................................. 90
3.4.4. Microfundamentos de modelos macroeconômicos baseados em agentes ........... 93
3.5. Explicação baseada em mecanismos .................................................................................. 97
3.6. Considerações finais ............................................................................................................. 102
CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 104
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 107
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Introdução
Existe um debate na teoria econômica – que já dura mais de 80 anos – sobre
a necessidade de microfundamentação da macroeconomia. De acordo com Hoover
(2009, p. 387), esse debate nasce logo depois da separação da teoria econômica
em seus dois ramos principais – Microeconomia e Macroeconomia –, com a
publicação do livro Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda de John Maynard
Keynes, em 1936, e as críticas que este recebeu devido à sua incompatibilidade
com a teoria microeconômica do equilíbrio geral, como em Leontief (1936). Porém, a
partir dos anos 1970, com a famosa “crítica de Lucas” (LUCAS, 1976), este tema
ganha destaque, com o mainstream pendendo fortemente para uma visão de defesa
de tal microfundamentação (HOOVER, 2015). Atualmente, esse debate gira em torno
da proposta de conexão micro-macro da Nova Síntese Neoclássica (NSN) que,
embora tenha se tornado a abordagem macroeconômica mainstream, é alvo de
inúmeras críticas – que vão desde aspectos mais técnicos, dos seus modelos DSGE
(Dynamic Stochastic General Equilibrium), até questões metodológicas e inclusive
ontológicas (e.g., Fagiolo e Roventini (2012); Gatti et al. (2011); Denis (2016)). Com
isso, uma grande parcela das críticas à microfundamentação da macroeconomia,
atualmente, se destina às características da NSN, como, por exemplo, pressupostos
irrealistas e uma estrutura analítica inadequada, além da sua visão alinhada ao
individualismo metodológico.
Dentro desse contexto, diversos críticos da microfundamentação da NSN
utilizam o termo emergência para caracterizar a conexão entre microeconomia e
macroeconomia, como contraposição à visão reducionista ali presente. Apesar de o
conceito de emergência frequentemente aparecer com significados diferentes na
literatura – com cada autor definindo-o de maneira diferente (ou, às vezes, até sem
uma definição precisa) –, para grande parte dos autores do debate em economia, e
em ciências sociais em geral, ele possui como aspecto fundamental a formação das
macroestruturas a partir das interações entre os agentes. Partindo dessa visão, seria
inadequado analisar a macroeconomia a partir de um agente representativo, como o
faz a teoria econômica mainstream.
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Dentre os diversos autores que ressaltam a centralidade das interações entre
agentes no processo de emergência – que, por sua vez, seria fundamental na
conexão entre a microeconomia e a macroeconomia –, estão aqueles associados à
economia da complexidade (ARTHUR, 1999). Essa abordagem entende o sistema
econômico enquanto um sistema complexo adaptativo, no qual tanto as interações
entre os componentes influenciam as propriedades do sistema quanto o sistema
influencia as próximas interações entre os seus componentes, de forma dinâmica e
cíclica. Assim, o feedback do macro sobre o micro seria um aspecto também central,
juntamente com as interações entre os agentes, na conexão entre o micro e o
macro.
A partir disso, esse trabalho pretende analisar concepções de
microfundamentação alternativas à proposta pela teoria economia mainstream – que
não imponham uma relação reducionista da macroeconomia na microeconômica,
como a NSN. Em especial, concepções que considerem as interações entre os
agentes e os feedbacks do macro sobre o micro. Tais aspectos são encontrados na
economia da complexidade, mas também em diversos autores sem ligação direta
com essa abordagem (como Lawson (2012), Vercelli (2016), Chick (2016), entre
outros).
Assim, o trabalho irá, primeiramente, se debruçar sobre o debate na teoria
econômica a respeito de microfundamentos, com o objetivo de mostrar como esse
conceito foi e continua sendo utilizado de diversas formas. Em seguida, investigará
como o conceito de emergência é utilizado por diversos autores como uma proposta
de conexão micro-macro alternativa à da NSN, que foca nas interações entre os
agentes e explicita a impossibilidade de se derivar o comportamento agregado a
partir do comportamento de um único agente representativo. Por fim, é apresentada
e discutida a economia da complexidade, que aparece como uma proposta de
análise da relação micro-macro que incorpora esses dois aspectos acima
apontados: a interação entre os agentes e o feedback do macro sobre o micro. De
forma mais específica, o trabalho estará dividido em três capítulos:
a) Uma contextualização do debate sobre microfundamentação da
macroeconomia, e o estado em que tal debate se encontra atualmente.
b) Um exame de diferentes propostas do conceito de emergência, e como
ele pode representar a conexão entre microeconomia e macroeconomia.
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c) Uma análise da economia da complexidade, e sua visão da relação entre
microeconomia e macroeconomia.
Sobre o item a), o que se pretende fazer, de modo mais concreto, é uma
revisão da literatura a respeito do debate sobre microfundamentação da
macroeconomia, procurando apresentar uma breve exposição histórica, diferentes
conceitualizações desse termo e os principais argumentos levantados a seu favor e
contra. Como, atualmente, este debate gira muito em torno da microfundamentação
proposta pela NSN, pretende-se também analisá-la, com um foco em suas
características metodológicas.
Com relação ao item b), será feita uma exposição e comparação de diferentes
propostas de conceitualização da noção de emergência. Pretende-se mostrar como,
apesar de importantes discrepâncias, há uma convergência, no debate econômico, a
uma noção centrada nas interações entre os agentes.
Já sobre o item c), será feita uma exposição da economia da complexidade e
sua visão de sistema econômico enquanto um sistema complexo adaptativo. Será
discutido como essa abordagem coloca esses dois aspectos da conexão micro-
macro (as interações entre os agentes e o feedback do macro sobre o micro), a
partir do comportamento dos agentes e das redes de interação entre eles.
Adicionalmente, serão examinados os modelos baseados em agentes (ABMs), e
como esses possibilitam um tipo de explicação baseada em mecanismos.
Ao final desses três capítulos, se seguirá uma conclusão, procurando
conectar de forma sucinta os temas abordados durante o trabalho, com o objetivo de
apontar uma relação micro-macro alternativa à presente na microfundamentação da
NSN, e que inclua tanto a influência das interações entre os agentes
microeconômicos sobre o sistema macroeconômico emergente quanto a influência
do feedback desse sistema sobre as interações subsequentes. Já antecipando, aqui,
a conclusão do trabalho, o que se procurará mostrar é que esses dois mecanismos
de influência, que se intercalam de forma dinâmica, são centrais para se explicar a
conexão entre a microeconomia e a macroeconomia.
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Capítulo 1: O debate da microfundamentação da macroeconomia
1.1. Introdução
A conexão entre o comportamento individual e o comportamento coletivo (ou
agregado) sempre foi uma questão que esteve presente no debate econômico,
porém, propostas sistematizadas sobre tal conexão só surgiram com a divisão da
teoria econômica em microeconomia e macroeconomia, nos anos 1930. Isso porque,
como coloca Hoover (2009, pp. 386-7), “Questions about the relationship between
these two groups of concerns could hardly be articulated until a categorical
distinction between macroeconomics and microeconomics had been drawn”.O termo
“microfundamentos”, por sua vez, só aparece nos anos 1950, de forma esparsa, e só
se populariza a partir dos anos 1970 (HOOVER, 2012, p. 23). Atualmente, tanto esse
termo quanto a questão sobre a conexão micro-macro em geral giram em torno da
teoria macroeconômica associada ao que ficou conhecido como a Nova Síntese
Neoclássica (NSN). Essa, embora tenha se tornado a abordagem macroeconômica
mainstream, é alvo de inúmeras críticas. Com isso, uma grande parcela das críticas
à microfundamentação da macroeconomia, atualmente, se destina a características
da NSN, como, por exemplo, seus pressupostos do agente representativo e das
expectativas racionais, e seu discurso de “obrigatoriedade” de adequação da teoria
macroeconômica a certos microfundamentos.
Apesar dessa identificação, recorrente na literatura, entre microfundamentos e
a NSN, diversos autores (e.g., Hartley (2002); Hoover (2012); Vercelli (2016))
defendem uma visão mais pluralista a respeito do conceito de microfundamentos, de
modo que tal termo possa fazer referência a outras estratégias de conexão entre o
micro e o macro, diferentes da existente na NSN. Entendendo microfundamentos a
partir dessa visão pluralista, é possível criticar o modo específico como esses são
propostos pela NSN, e admitir a possibilidade de formas alternativas, que não
imponham um reducionismo da teoria macroeconomia na teoria microeconomia,
como proposto pela NSN.
A partir disso, o objetivo desse capítulo é examinar as principais questões
envolvidas em uma microfundamentação da macroeconomia, analisando, para isso,
as principais propostas que surgiram ao longo do tempo e a proposta mainstream
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atual (NSN). Como será visto, há na literatura diversas propostas alternativas de
conexão entre a microeconomia e a macroeconomia.
Desse ponto em diante, sempre que o termo microfundamentos fizer
referência à proposta da NSN será explicitado que se trata dela.Tal proposta é
denominada de diversas formas na literatura (e.g., apenas ‘microfoundations’ (KING,
2012); ‘MIF’ (VERCELLI, 2016); ‘representative-agent program’ (HOOVER, 2012)), e
nesse trabalho será denominada de ‘microfundamentação mainstream’. O que se
está aqui atribuindo, exatamente, a essa proposta, é a utilização de certos
pressupostos na estratégia de microfundamentação da macroeconomia: agentes
representativos, expectativas racionais e estrutura teórica de equilíbrio geral. Tais
pressupostos estão presentes tanto nos novos clássicos, quanto nos novos
keynesianos e, posteriormente, na NSN (DUARTE, 2012, p. 203). Assim,
‘microfundamentação mainstream’ faz referência à teoria macroeconômica
mainstream desde meados dos anos 1970 até os dias atuais.
Esse capítulo, resumidamente, apresenta como o desenvolvimento histórico
do debate sobre microfundamentos culmina, depois do surgimento de diferentes
propostas, na microfundamentação mainstream; e, após um breve detalhamento
dessa última, discute críticas e alternativas a essa proposta. Será visto, aqui, que
grande parte das críticas se dirige ao uso do pressuposto do agente representativo e
que diversos autores – a partir de visões e argumentações completamente
diferentes – propõem que, dado os problemas associados a esse pressuposto, a
conexão entre a macroeconomia e a microeconomia envolveria o conceito de
emergência – muito embora esse conceito seja mal especificado no debate. O
pressuposto do agente representativo apresenta uma série de problemas
relacionados a agregação, especialmente ao desconsiderar a existência de
interações entre os agentes na economia.
De forma mais específica, esse capítulo se dividirá em mais cinco seções: na
seção 1.2, será feita uma breve exposição histórica do debate em torno da
microfundamentação da macroeconomia, e como a microfundamentação
mainstream se tornou a proposta dominante; a seção 1.3 discute a
microfundamentação mainstream, que atualmente é o foco do debate sobre
microfundamentos; a seção 1.4 apresenta as principais críticas à
microfundamentação mainstream, focando-se nas críticas metodológicas (em
especial, ao uso de agentes representativos); a seção 1.5 apresenta uma conclusão
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dessa discussão e algumas visões alternativas de conexão entre a microeconomia e
macroeconomia, indicando como diversos autores utilizam o termo “emergência”
para caracterizar tal conexão.
1.2. Uma visão histórica
É possível analisar a história das propostas de microfundamentação da
macroeconomia a partir de diversas óticas, como, por exemplo, focando-se no seu
desenrolar cronológico (como faz King (2012)) ou identificando propostas ou projetos
que possam ser enquadrados em programas relativamente coesos (como em
Hoover (2012)). Hoover (2012) identifica, ao longo do século XX, três programas de
microfundamentos – o programa do equilíbrio geral (general-equilibrium program), o
programa da agregação (aggregation program) e o programa do agente
representativo (representative-agent program). Já King defende a existência de
apenas uma microfundamentação propriamente dita, que ele denomina de
“microfoundations dogma” (KING, 2012, p. 75) – e que diria respeito ao programa do
agente representativo, indicado por Hoover –, porém aponta, também, que ideias a
respeito da conexão entre a microeconomia e a macroeconomia foram se
desenvolvendo ao longo do tempo até desembocarem em tal ‘dogma’. Essa
identificação mais restrita, de King, a respeito de microfundamentos, como será
visto, provém da sua associação direta entre o conceito de microfundamentos e um
reducionismo da teoria macroeconômica na teoria microeconômica. Tal conceito,
porém, pode ser tomado de forma mais ampla e plural, como faz Hoover.
Hoover (2012), em sua análise da história dos microfundamentos em
economia, antes de apresentar os programas citados, indica a existência, também,
de uma “pré-história” das microfundamentações, na qual, muito embora houvesse
um exame da relação entre macroeconomia e microeconomia, tal exame não era
empregado na construção de um programa sistemático de investigação a respeito
dessa relação. Hoover destaca, como fazendo parte dessa “pré-história” Frisch,
Keynes e Hicks. Os programas de microfundamentação que se seguiram receberam
grande influência desses autores.
De acordo com Hoover (2012), para Keynes e para Frisch – que foi quem
cunhou os termos “microeconomia” e “macroeconomia” –, a relação entre
microeconomia e macroeconomia era de interdependência, na qual a dinâmica micro
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dependeria de variáveis e parâmetros provenientes da macroeconomia, e a
dinâmica macro seria o resultado de toda a dinâmica micro. Para se chegar a esse
resultado da dinâmica macro, entretanto, Frisch argumentava que, dada a
impossibilidade – analítica ou por falta de dados – de se utilizar todos os detalhes de
toda a dinâmica micro, era necessário recorrer-se ao uso de agregados como
representação das propriedades macro. Já Keynes procurava identificar qual seria o
comportamento macro dados certos comportamentos individuais, de forma
‘impressionistic’, como aponta Hoover (2012, p. 30), que utiliza o termo emergência
para caracterizar essa estratégia: “Emergence is perhaps the most characteristic
feature of Keynes’s account of the relationship of microeconomic to macroeconomic
behavior” (HOOVER, 2012, p. 35). Hicks, por sua vez, defendia que a teoria
macroeconômica poderia ser completamente derivada da microeconômica,
considerando o comportamento do sistema como idêntico ao comportamento
individual, estratégia que ele sustentava com base em seu teorema da mercadoria
composta, como aponta Hoover (2012, p. 36): “Hicks’s theoretical rationale for the
assumption that what is true of the individual is true of the group […] is found in what
would later be referred to as his ‘composite-commodity theorem’”. É como resposta a
esse teorema que surge o primeiro programa de microfundamentação identificado
por Hoover.
Hoover aponta que o teorema da mercadoria composta estabelecia uma série
de condições sob as quais o agregado poderia ser tratado como o caso individual.
Entretanto, ele acrescenta, “Hicks does not address the applicability of the theorem
to the real world. Subsequent developments in aggregation theory, however, suggest
that its range of applicability is exceedingly narrow” (HOOVER, 2012, p. 36). Assim,
dada essa dificuldade, uma postura que foi tomada por diversos autores foi
permanecer com modelos formais de equilíbrio geral nos quais cada agente era
tratado como um indivíduo diferente. Essa postura daria origem ao programa de
microfundamentação do equilíbrio geral (HOOVER, 2012, p. 37).
Hoover não se aprofunda muito na análise desse programa, para além da sua
caracterização enquanto uma resposta à visão de Hicks, pois tal programa, de
acordo com ele, “essentialy became the domain of economic theorists – generally
regard as microeconomists, even when they addressed coordination failures – and
hardly affected mainstreram macroeconomics” (HOOVER, 2012, p. 38). Nesse
programa, a relação entre a teoria macroeconômica e a teoria microeconômica seria
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a mesma defendida por Hicks, de que a primeira seria completamente derivada da
segunda. Porém, dadas as exigências associadas ao teorema da mercadoria
composta, no programa do equilíbrio geral, a estratégia seria criar modelos nos
quais todos os agentes seriam inclusos.
O próximo programa de microfundamentação identificado por Hoover é o
programa da agregação, que tem na macroeconometria de Klein (1946) seu principal
exemplo. Hoover aponta que, embora esse programa seja bem diferente do
programa do equilíbrio geral, os dois partem de praticamente o mesmo lugar:
agentes individuais resolvendo problemas de otimização, situados em um equilíbrio
Walrasiano. Entretanto, como Klein considerava um equilíbrio geral detalhado
impraticável – assim como Frisch –, para fins de modelagem econométrica, os
indivíduos acabavam sendo substituídos por agregados. Porém, isso não poderia
ser realizado de qualquer maneira, sendo necessário, na visão de Klein, o uso de
“métodos apropriados de agregação”. Caso isso fosse satisfeito, as funções
macroeconômicas teriam as mesmas propriedades das funções microeconômicas
(HOOVER, 2012, p. 39). Com relação a tais métodos apropriados de agregação,
Hoover aponta que Klein propunha tomar como dadas tanto a teoria microeconômica
do equilíbrio geral quanto a teoria macroeconômica Keynesiana e buscar agregados
que tornassem essas duas compatíveis. Mais especificamente, partia-se de poucas
equações macroeconômicas e procurava-se desagregá-las o máximo possível, na
direção de um modelo Walrasiano de equilíbrio geral.
Por último, Hoover (2012, p. 46) apresenta o programa do agente
representativo, que, de acordo com ele, suplanta o programa da agregação já no
começo dos aos 1980. Tal programa é introduzido por economistas novo clássicos,
porém, posteriormente, adotado por todos os macroeconomistas mainstream –
notadamente pelos novos Keynesianos, passando a exercer, assim, uma
dominância, na academia, na questão acerca de microfundamentos – sendo por
muitos tomada como a única microfundamentação propriamente dita. Como Hoover
coloca:
Microfoundations as a concept, in the minds of many, has come to exclude the earlier programs altogether. The general-equilibrium program of microfoundations has come to be seen as a respectable area of research, but one that is essentially microeconomic; while the aggregation program of microfoundation is falsely characterized as an analysis of aggregates without any substantial connection to microeconomics. (HOOVER, 2012, p. 46)
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O programa do agente representativo, de acordo com Hoover (2012, p. 46),
tem como marco de seu estabelecimento a publicação do Microeconomic
Foundations, em 1970, editado por Edmund Phelps, e com contribuições de Robert
Lucas e Leonard Rapping. Porém, é em um outro artigo de Lucas – “Expectations
and the Neutrality of Money” (1972) – que as bases teóricas desse programa são
firmadas, como aponta Hoover (sobre tal artigo):
Programmatically, it serves a function not dissimilar to Klein’s articles on aggregation. Each provides a sort of theoretical reassurance that something that we cannot do in practice at least works in principle. In Lucas’s case, it allows him to conclude that we could get the desired result out of a fully articulated general-equilibrium model with heterogeneous agents; and knowing that we could, it is OK to short-circuit the process and to work with much simpler models. (HOOVER, 2012, p. 48)
De forma mais específica, o que permitiria tal “curto-circuito” seria o uso da
hipótese de expectativas racionais, que gerava uma solução simultânea para o
indivíduo e para o sistema, sendo, dessa forma, desnecessária a inclusão de todos
os agentes heterogêneos na análise. Assim, através da hipótese de expectativas
racionais, esse programa defendia um ‘método de agregação’ semelhante ao que
Hicks havia proposto, no qual seria possível considerar o comportamento do sistema
como idêntico ao dos indivíduos. Ou seja, a teoria macroeconômica seria
completamente derivada da teoria microeconômica, utilizando-se, para tanto, o
pressuposto do agente representativo. Porém, tal pressuposto aparece apenas
como um dispositivo para simplificar a conexão entre o indivíduo e o sistema, e o
que dá sustentação teórica aos modelos é a hipótese de expectativas racionais,
combinada com a otimização intertemporal (HOOVER, 2012, pp. 49-50). O uso de
agentes representativos não é sequer justificado:
Sargent (1979: 371, fn. 4) refers to the “standard device of ‘representative’ agents” as needing no special justification and by the time that Sargent’s Dynamic Macroeconomic Theory (1987) appears – the representative agent model has become the workhorse of the new classical macroeconomics. […] there is never any discussion of the conditions under which this assumption [agentes representativos] is warranted more generally. It is truly just assumed without comment. So, in effect, the new classic macroeconomists sleepwalked into their most characterized methodological position. (HOOVER, 2012, p. 50)
A relação entre esses programas pode ser resumida da seguinte forma. A
partir do teorema da mercadoria composta de Hicks, que requeria condições muito
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estritas para a agregação, o programa do equilíbrio geral tomava a posição de que,
devido a essas condições estritas, apenas seriam aceitáveis modelos (de equilíbrio
geral) em que cada indivíduo fosse especificado. Hoover aponta que essa posição
acaba por culminar em análises puramente microeconômicas, sem muito impacto
sobre o direcionamento da teoria macroeconômica. Outras duas atitudes diferentes
dessa, e opostas entre si, são a do programa da agregação e a do programa do
agente representativo. Klein e o programa da agregação, dados os problemas
envolvendo agregação, tentam superá-los a partir da construção de métodos de
agregação apropriados, que tornariam compatíveis a teoria microeconômica do
equilíbrio geral e a teoria macroeconômica Keynesiana. O programa do agente
representativo, por sua vez, toma um caminho oposto, desconsiderando os
problemas de agregação e derivando a teoria macroeconômica da microeconômica,
a partir do pressuposto do agente representativo.
Essa análise histórica realizada por Hoover mostra a possibilidade de
diversidade de abordagens sobre a conexão entre microeconomia e
macroeconomia. Tal diversidade, entretanto, é frequentemente ignorada no debate
atual, focado quase que exclusivamente no programa do agente representativo, que
passa a ser a abordagem mainstream. Por um lado, o mainstream mantém, desde a
ascensão da escola novo clássica, um discurso de ‘obrigatoriedade’ de
microfundamentos para a macroeconomia, do tipo proposto por ela; por outro, e
talvez como uma resposta a isso, críticos desse tipo de microfundamentação
concentram suas análises nos aspectos (pressupostos) específicos desse programa.
1.2.1. A microfundamentação mainstream como a “única” proposta de
microfundamentação?
A estratégia de microfundamentação enquadrada por Hoover no programa do
agente representativo, como citado acima, acabou por dominar o mainstream
econômico a partir dos anos 1970, sendo considerado até hoje o modo sui generis
de microfundamentar a macroeconomia. Assim, ela é tida por diversos autores como
sendo o único projeto de microfundamentação propriamente dito, muito embora eles
reconheçam que tal debate seja mais antigo e tenha se desenvolvido desde os anos
1930 (JARDIM et al., 2009; KING, 2012; DENIS, 2016). King (2012), por exemplo,
aponta que
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19
The microfoundations dogma could have become established at any time after 1870, when the marginal revolution symbolized a shift in the focus of mainstream economics towards the study of individual behavior and away from the macroeconomic questions of growth and distribution. In fact it did not emerge then, or indeed (as we have seen) for another century. This is a real historical puzzle. Why in the 1970s, and not very much earlier? Why then, and not in the late 1930s, in reaction to the General Theory? (KING, 2012, p. 98)
Entretanto, sobre esse aspecto da historiografia da microfundamentação
proposta por King (2012), Hoover (2013), comentando o livro The microfoundations
delusion: metaphor and dogma in the history of macroeconomics, afirma:
Although King’s survey reaches back into the 1930s, he concludes that microfoundations is a product of the 1970s, first reaching its full expression in the real-business-cycle models of the early 1980s. He identifies microfoundations with the representative-agent rational-expectations model. The core of his book is an historical – or, at least, chronological – account of how that approach came to dominate macroeconomics and a case for why the approach itself is wrong. […] King’s emphasis on the metaphor of foundations (e.g., foundations of a building on which the higher floors are built) and on the importance of metaphor in science (more asserted than demonstrated or analyzed) forces him into a narrow historiographical box. The problem is that he adopts – if the term is not too oxymoronic – a “metaphorical literalism”. Only those who view microeconomics as foundational in the sense that macroeconomics is supposed to be fully derivable from microeconomics and that macroeconomics is completely dispensable count as endorsing the metaphor of foundations and thus as supporting a microfoundational program. It is for this reason that King sees true microfoundations as entering macroeconomics only in the mid-1970s. […] On my view, microfoundations has been a central issue in macroeconomics from an early date, and there are multiple microfoundational programs distinguished by different conceptions of the micro/macro relationship and various pragmatic and theoretical goals (Hoover 2012).(HOOVER, 2013, pp. 90-92)
Essas diferenças a respeito da história das microfundamentações em
macroeconomia derivam em parte do próprio conceito de microfundamentação.
Partindo-se da visão de que microfundamentos necessariamente envolvem um
reducionismo completo da teoria macroeconômica na teoria microeconômica, de
modo que a primeira se torna dispensável, então microfundamentos são
estabelecidos na teoria econômica apenas nos anos 1970. Porém, partindo-se da
visão de que microfundamentos podem envolver diversas concepções a respeito da
relação entre o micro e o macro, então é possível distinguir várias propostas (ou
programas) ao longo do século XX e atualmente. Vercelli (2016), por exemplo,
aponta que
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From a descriptive point of view, ‘microfoundations’ may simply indicate the need to understand the individual decisions, choices or actions underlying the behaviour of one or more microeconomic variables, that is, variables referring to the economy as a whole. In this broad meaning, microfoundations do not need to be reductionist in the sense that macroeconomic behaviour is derived through simple operations od addition or averaging from the choices of isolated individuals. (…) Our criticism of microfoundations are restricted to the dogmatic version suggest by the MIF [a microfundamentação mainstream] and do not mean to deny the fecundity of a constructive reflection on microfoundations in the wider sense of trying to build a variety of bridges between individual and collective behaviour in both causal directions. (VERCELLI, 2016, p. 155)
Nessa mesma direção, indicando que uma parcela das críticas à
microfundamentação se dirige ao modo específico como essa é feita pelo
mainstream atual, Lengnick (2013, p. 1) escreve que “one of the main building blocks
that many scholars are unsatisfied with is the way microfoundation is provided.” De
forma similar, Napoletano et al. (2012, p. 2) afirmam que “This approach looks sound
and uncontroversial, so at first glance no problem arises. However, the worries are
related to the type of microfoundations adopted by DSGE models.” Assim, para
diversos autores, o problema não estaria em propor uma microfundamentação para
a macroeconomia, mas sim no modo como essa é realizada.
Como citado acima, Hoover acredita que o conceito de microfundamentos
proposto por King é muito estreito, sendo que para ele pode haver diferentes modos
de microfundamentar a macroeconomia. Entretanto, como o debate atual sobre
microfundamentos gira em torno basicamente do programa do agente
representativo, uma vez que esse representa a visão mainstream sobre o tema, a
próxima seção analisará com maior profundidade esse programa que, como
mencionado na introdução, será denominado de microfundamentação mainstream.
1.3. A microfundamentação mainstream
Como apontado por Hoover (2012), a partir dos anos 1970 o programa do
agente representativo se torna a abordagem mainstream de microfundamentação da
macroeconomia, e, ainda que tenha sofrido modificações, se mantém – no que diz
respeito à sua estratégia de conexão entre o micro e o macro – atualmente sob o
nome de Nova Síntese Neoclássica (NSN) e seus modelos DSGE. Assim, convém
fazer, aqui, uma breve análise sobre a NSN, uma vez que essa frequentemente é
tomada como referência em tal debate.
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21
De acordo com Fagiolo e Roventini (2012, pp. 70-71), os modelos DSGE
surgiram a partir de duas abordagens “concorrentes”, quais sejam a dos Ciclos
Reais de Negócios (RBC) e a Novo Keynesiana, levando, assim, ao
desenvolvimento do que ficou cunhado como a Nova Síntese Neoclássica.
Blanchard (2016) aponta que o primeiro modelo DSGE era um modelo RBC que
representava uma economia sem distorções, sendo que, posteriormente, foi
incorporando uma série de análises Novo Keynesianas, resultando num tipo de
modelo parecido com o que é usado atualmente. Esse modelo resultante pode ser
resumido, assim, como um modelo RBC com competição monopolística,
imperfeições nominais e uma regra de política monetária. O modo como ocorre esse
‘consenso’ entre abordagens distintas, merece aqui, uma exposição mais detalhada.
De acordo com Duarte (2012, p. 192), baseando-se em Gregory Mankiw e
Michael Woodford, existiriam dois consensos na história da macroeconomia: “[...] the
neoclassical syntesis of the 1950s and 1960s and the recent new consensus (from
the late 1990s to the present day). Labeled as the new neoclassical synthesis by
Marvin Goodfriend and Robert King”. Sobre essa segunda, Duarte coloca:
Mainstream macroeconomists see the new synthesis as a bridge between two broad fields: the classical (which incorporates monetarist ideas and is composed of the new classical and real business cycle theorists) and the Keynesian (basically the new Keynesians and the Keynesians of the 1970s associated with the large-scale econometric models). (DUARTE, 2012, p. 195)
Duarte escreve, ainda, que o que uniu essas três abordagens foi uma
convergência metodológica em torno dos modelos DSGE:
The central point of convergence in the new synthesis was methodological: the use of dynamic stochastic general equilibrium (DSGE) models that explain not only the evolution of the potential output over time as mostly a supply-side phenomenon, but also short-run and inefficient deviations of the actual output from its “natural” level (the level achieved if prices were flexible) that arise as consequence of wages and prices rigidity. (DUARTE, 2012, p. 210)
Tal convergência, por sua vez, teria surgido através de uma necessidade de
dar respostas à crítica de Lucas (1976):
New classical, RBC and new Keynesians economists all worked in a similar fashion to address the Lucas critique, by providing the kind of microfoundations that nowadays characterizes not only their research
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program but also the models of the new consensus macroeconomics. (DUARTE, 2012, p. 196)
Assim, apesar de suas diferenças, essas três abordagens compartilhavam
diversos aspectos metodológicos e teóricos:
[...] despite the major points of disagreement among the new classical and RBC macroeconomists, on the one hand, and the new Keynesians on the other, these two camps share significant methodological and theoretical grounds: they all adopt the rational expectations hypothesis, favor general equilibrium models with microfoundations, and have in their benchmark models a representative agent in an environment of complete markets and complete information. (DUARTE, 2012, p. 203)
Como citado na introdução desse capítulo, é o compartilhamento desses
aspectos metodológicos e teóricos que permite o uso da alcunha
“microfundamentação mainstream” para se referir desde os novos clássicos até a
NSN.
Esses aspectos metodológicos, como será visto, são alvos de diversas
críticas – tanto aquelas dirigidas à proposta de microfundamentação da NSN quanto
dirigidas a aspectos técnicos dos modelos DSGE. Fagiolo e Roventini (2012, p. 69),
por exemplo, escrevem que “the basic assumptions of mainstream DSGE models,
e.g. rational expectations, representative agents, perfect market etc., prevent the
understanding of basic phenomena underlying the current economic crisis”. Dentre
esses pressupostos, os do agente representativo e o de expectativas racionais estão
entre os mais criticados na literatura sobre microfundamentos da teoria mainstream
(e.g., Kirman (1992); Hoover (2009); King (2012); Chick (2016); Vercelli (2016)).
A conclusão a que Fagiolo e Roventini (2012) chegam, a partir da análise
desses dois pressupostos – agentes representativos (RA) e expectativas racionais
(RE) –, é que, devido ao seu caráter ultra irrealista, modelos baseados neles são
seriam adequadas para análises de política. Como eles escrevem: “[...] the RE and
RA assumptions strongly reduce the realism of DSGE models. This is not a minor
issue when one has to perform policy analyses” (FAGIOLO E ROVENTINI, 2012, p. 84).
Diversos outros autores chegam a conclusões similares, principalmente a
partir da análise do pressuposto do agente representativo. Hoover afirma que “once
we recognize that representative-agent models do not deal with individuals, we see
that macroeconomics mimics the forms of microeconomics without successfully
implementing an individualist methodology” (HOOVER, 2006, p. 6). Gaffeo et al.
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(2008), de forma mais dura, afirmam que “[...] a microfoundation strategy that
assumes away individuals’ heterogeneity and interactions like the RA approach is not
just over-simplistic, it in fact represents an incorrect scientific practice”. Stiglitz e
Gallegati (2011, p. 7) defendem que “[...] the RA approach is simply not up to the
task of enhancing our understanding of modern macroeconomies”. Gatti et al. (2010)
colocam assim a questão:
Unfortunately, it is becoming more and more apparent that microfounded
macroeconomics as a field of scientific knowledge – exemplified by [...] (DSGE)
models – has been locked into a wrong trajectory. (…) If one wants to take the
Lucas’s critique seriously, therefore, it should be realized that the standard
microfoundation methodology, according to which aggregate outcomes are nothing
but the choices of a single agent amplified n times, must be discarded, not because
of an iconoclastic passion but simply because it is incorrect. (Gatti et al., 2010, p.
116, 117)
É perceptível, assim, que muitas das críticas aos modelos DSGE, e à NSN
em geral, se dirigem ao seu uso do pressuposto do agente representativo. Para
diversos autores, tal pressuposto não se mostra uma forma adequada de conexão
entre o micro e o macro, resultando em modelos inadequados para a análise da
macroeconomia, principalmente se o intuito for a elaboração de políticas. A próxima
seção discute com maior profundidade tais críticas.
1.4.Críticas à microfundamentação mainstream
Como exposto na seção 1.2, a relação entre microeconomia e
macroeconomia é alvo de um debate já antigo na teoria econômica, havendo
diversas propostas distintas de caracterizá-la. A microfundamentação mainstream é
a proposta dominante na teoria mainstream desde os anos 1970, sendo assim o
objeto central dessa discussão no debate atual. Assim, grande parte das críticas à
microfundamentação da macroeconomia se dirigem a ela. Inclusive, diversos
autores não se colocam de forma contrária à microfundamentação da
macroeconomia entendida de forma mais geral, mas apenas a essa proposta
atualmente empregada pelo mainstream econômico. Com isso, essa seção
apresentará algumas das principais críticas direcionadas à microfundamentação
mainstream – algumas delas já apontadas na seção anterior. Dentre essas, se
destacam como alvo: o seu discurso de imposição de microfundamentos (de um tipo
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específico); a sua visão alinhada ao individualismo metodológico; o uso do
pressuposto do agente representativo.
Com relação ao primeiro, há um caráter de obrigatoriedade no discurso de
diversos autores que tratam da fundamentação da macroeconomia na
microeconomia – do tipo proposto pela microfundamentação mainstream –, o que
muitas vezes está relacionado a uma rejeição de qualquer linha de pesquisa que se
desvie disso. Como Vercelli (2016) aponta:
This article argues that the MIF [pode ser entendida como a microfundamentação mainstream] has dogmatic implications. Not by chance has it been systematically used as a crucial argument to exclude a priori the status of scientific theory from alternative macroeconomic theories (such as those of Keynesian or Marxian ascendency) and to show that only mainstream approach founded on the MIF can be soundly used for prediction and policy. (…) As has been well known since the late 1970s or so, papers lacking this particular sort of microfoundations have been systematically rejected by high-ranking economic journals and their authors found it increasingly difficult to be accepted by ‘top’ economics departments or to be consulted by economic organizations and mass media. (VERCELLI, 2016, pp. 154, 155)
De forma semelhante, Denis coloca:
Thus mainstream economics partitions macroeconomic research activity into two kinds: microfounded models, regardless of their distance from reality, are scientific, while ‘ad hoc’ models, that is, everything else, regardless of their proximity to reality, are conjectures, which may or may not lead to scientific theory to the extent that, over time, they are discovered to be amenable to being microfounded. (DENIS, 2016, p. 139)
Para Hoover (2009), essa imposição de uma microfundamentação é uma
ideologia que, além de se configurar como uma “ilusão coletiva”, ainda se baseia em
uma visão equivocada a respeito da ontologia do mundo social. Nas suas palavras:
In referring to microfoundations for macroeconomics as an ideology, I use ideology both in the neutral sense of a more or less coherent set of beliefs guiding the collective activity of macroeconomic research and in its pejorative sense of false consciousness – a collective illusion shared by macroeconomists. My contention is that, even in its neutral sense, the ideology of microfoundations rests on a mistake about the ontology of the social world; while, in its pejorative sense, it shares the characteristic, common to political ideologies, of serving as a tool of persecution and intellectual repression. (HOOVER, 2006, p. 388)
King (2012) aborda esse aspecto normativo associado à proposta de
microfundamentação mainstream defendendo que essa se trata de uma (má)
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analogia. E, enquanto tal, ela é utilizada para exercer o papel de distinguir entre
práticas – de teoria macroeconômica – que seriam boas das práticas ruins:
‘Microfoundations’ is a spatial analogy, taken from architecture, from the building trades or from constructional engineering. It has some very clear implications. Foundations have to come first, they must be solid, and they need to be reasonably extensive. […] You cannot construct a high-rise building first and then put in the foundations, as an afterthought. They must be solid: we all know what happened to the foolish man in the bible who built his house upon sand, and Takishi Negishi’s stepping stones would not be a great improvement. Finally, they must be extensive: you would not want an entire shopping center to have the same meagre foundations as a single suburban house. Mainstream economists claim that their ‘microfoundations’ satisfy all three conditions. The model of the rational, forward-looking, utility-maximizing representative agent already exists; it is logically sound; and it has been applied to a very wide range of (micro)economic behaviour […]. Heterodox economists are at a considerable disadvantage on all three criteria: their microeconomics is a work-in progress that lacks the rigorous analytical core of neoclassical theory and is in principle incapable of supplanting the other social sciences. Thus the ‘microfoundations’ analogy place opponents of the mainstream at a very methodological disadvantage. (KING, 2012, p. 22)
Em contraposição a esse tipo de fundamentação, King (2012, p. 10) defende
que a relação entre as teorias macroeconômica e microeconômica deveria ser vista
como uma relação horizontal, na qual nenhuma das duas se colocaria como
‘fundação’ da outra, ou seja, nenhuma viria primeiro e nem seria mais importante
que a outra. O autor acredita que a microeconomia, e o comportamento individual,
são relevantes para o estudo da macroeconomia, porém aquela não deveria ser
tomada como mais fundamental que essa. Skouras e Kitromilides (2014) relacionam
tal posição de King a uma rejeição do individualismo metodológico em economia:
Methodological individualism clearly implies the methodological primacy of micro-theory. […] If economic theory is to be unified, this must be done in a way that preserves the primacy of micro-theory. Micro-foundations do exactly this: they assert the primacy of micro-theory in unifying economic theory. Establishing Micro-foundations means that all propositions in macroeconomics must be reducible to microeconomic propositions relating to the behavior of individual agents. It is this belief that King (2012) calls ‘the Microfoundations dogma’ and shows convincingly to be untenable. From this he draws the conclusion that neither can the primacy of micro-theory be established and justified nor is it essential for economic theory to be unified. (SKOURAS E KITROMILIDES, 2014, p. 69)
Entretanto – e entrando na segunda série de críticas –, essa relação entre a
microfundamentação mainstream e o individualismo metodológico, embora seja
apontada por diversos autores (e.g., Denis (2016), Vercelli (2016), King (2012)), é um
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tanto ambígua, uma vez que o próprio conceito de individualismo metodológico é
mal especificado no debate. Existiriam, inclusive, versões fortes desse conceito que
seriam incompatíveis com as práticas da microfundamentação mainstream. Assim,
haveria dois aspectos centrais da crítica ao alinhamento da microfundamentação
mainstream ao individualismo metodológico: (i) esse se mostraria uma estratégia
inadequada de análise em ciências sociais; (ii) a microfundamentação mainstream
não seria consistente com versões mais fortes desse conceito. Tanto Vercelli quanto
Hoover enfatizam bem esse Segundo ponto:
The MIF [microfundamentação mainstream] is thus presented as the only research strategy consistent with methodological individualism. Before discussing to what extent this claim is justified, let us emphasize that Lucas’ methodological individualism does not advocate reduction to isolates individuals. […] So far so good. The acknowledgement of the crucial role of interactions between individuals adds considerably to the plausibility and persuasiveness of the MIF. Actual MIF models, however, are hardly consistent with methodological individualism, and, when they may claim to be consistent with it, they comply with a very idiosyncratic version of it. (VERCELLI, 2016, p. 157)
The reductionist impulse in macroeconomics is frequently referred to as methodological individualism. The term is not apt. Practical macroeconomics does not consist of true microeconomic models – that is, of models in which the behavior of macroeconomic aggregates is derived from the composition of the behaviors of individual economic actors. This would obviously be a very difficult way to approach the economy, posing problems of a similar nature to trying to explain the formation of hurricanes molecule by molecule, applying the established principles of Newtonian mechanics. In practice, macroeconomists generally accept the representative-agent model as a workable microfoundation. [...] Once we recognize that representative-agent models do not deal with individuals, we see that macroeconomics mimics the forms of microeconomics without successfully implementing an individualist methodology. (HOOVER, 2006, pp. 388-9)
Hoover defende, ainda, que apesar de uma adequação ao individualismo
metodológico parecer ser a motivação – e, portanto, a imposição normativa – para a
defesa da microfundamentação mainstream, na verdade, tal motivação seria uma
visão ontológica a respeito da realidade econômica:
I conjecture that the real underlying motivation is not methodological but ontological. The ontological mistake of macroeconomics is to believe that the objects of macroeconomic analysis are not ontologically independent. Macroeconomists fear that they are not dealing with solid economic entities unless the can trace the route along which those entities reduce ontologically to individual decision-makers. But, since this is an impracticable
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task, they emphasis the connection of the aggregate to the individual by aping the analytical forms of microeconomics. (HOOVER, 2009, p. 389)
Desse modo, Hoover relaciona dois aspectos centrais das críticas à
microfundamentação mainstream: um aspecto normativo e um aspecto
metodológico. O medo dos macroeconomistas de não estarem lidando com
entidades econômicas sólidas faria com que eles defendessem a exigência de se
prover microfundamentos à macroeconomia, ou seja, a exigência de se conectar a
macroeconomia diretamente ao comportamento individual dos agentes; porém,
como essa tarefa seria impraticável (na visão de Hoover), esses macroeconomistas
acabam recorrendo a pressupostos problemáticos, como o do agente representativo,
em sua tentativa de conectar o agregado ao individual.
A crítica mais contundente a respeito da definição de individualismo
metodológico – e a adequação de propostas de explicação em ciências sociais a
esse conceito –, entretanto, talvez seja a de Hodgson (2007), onde o autor examina
as raízes historias desse termo e o seu uso no debate econômico. Hodgson conclui
que o termo é raramente utilizado de forma precisa, e que a maior ambiguidade está
na questão sobre se o tipo de explicação a ele associado deveria ser em termos de
indivíduos, apenas, ou em termos de indivíduos mais as relações entre esses. Nas
suas palavras:
[...] much of the confusion in the debate over methodological individualism stems from whether methodological individualism means one or other of the following:
(a) social phenomena should be explained entirely in terms of individuals alone; or
(b) social phenomena should be explained in terms of individuals plus relations between individuals.
The first of these versions (a) has never been achieved in practice, for reasons given above. It has been also shown above that many advocates of methodological individualism fail to specify this doctrine clearly in such narrow terms. It is just as well, as version (a) is unattainable in practice. By contrast, the problem with the second version (b) is not that it is wrong but that the term ‘methodological individualism’ is unwarranted. The critique here is brief but no less devastating. In modern social theory, structures are typically defined as sets of interactive relations between individuals. (HODGSON, 2007, p. 220)
Essa argumentação de Hodgson não apenas fragiliza o termo ‘individualismo
metodológico’, como também evidencia o papel das interações entre os indivíduos
na explicação de fenômenos sociais. Esse é um ponto central do tipo de relação
micro-macro defendido por vários autores, como será visto ao longo desse trabalho.
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Inclusive, o conceito de emergência, que muitos desses autores utilizam para
caracterizar tal relação centrada em interações, é também colocado por Hodgson
como modo de enfatizar essas interações:
The philosophical literature on emergent properties establishes that novel properties may emerge when entities interact, properties that are not possessed by the entities taken in isolation. […] Hence the admission of ‘interactive relations between individuals’ in the definition of methodological individualism opens the door to properties that are emergent, ad not the properties of individuals, taken severally. (HODGSON, 2007, p. 220)
Com isso, a estratégia da microfundamentação mainstream de considerar o
comportamento do sistema como igual ao comportamento de um agente
representativo, tomado isoladamente, apresenta fundamentos metodológicos no
mínimo frágeis. O pressuposto do agente representativo possivelmente é o maior
alvo das críticas metodológicas à microfundamentação mainstream. Ao final da
seção anterior, foram mencionadas diversas dessas críticas. Cabe aqui, agora,
analisar de forma mais profunda de onde exatamente emanam os problemas
associados a essa estratégia de conexão entre a microeconomia e a
macroeconomia, que é a terceira série de críticas à microfundamentação
mainstream.
1.4.1. Agentes Representativos
O uso de agentes representativos é um dos aspectos mais marcantes da
proposta de microfundamentação que se inicia com os novos clássicos e depois é
adotada pelos novos Keynesianos e pela Nova Síntese Neoclássica, ao ponto de
Hoover (2012) denominar essa proposta de ‘programa do agente representativo’,
como mostrado na seção 1.2. Entretanto, pouca justificativa é oferecida para o uso
desse dispositivo metodológico. Já as críticas ao seu uso são abundantes. Sobre
essa situação, Hartley escreve:
One of the most widely used methods of studying the macroeconomy, if not the predominant method, is the representative agent model. In these models, the macroeconomy is studied not by working out theories regarding how aggregate economies behave, but rather by working out theories regarding how an individual behaves and transferring these rules of behavior to the aggregate level. Oddly, there has been extraordinarily little discussion in the macroeconomic literature about either the property or usefulness of representative agent
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models as a means of studying the macroeconomy. There are no widely cited justification for its use; there are assorted critiques of its use, but while these critiques were relatively well known among microeconomic theorists, there is little evidence that macroeconomists took much notice. (HARTLEY, 2002, 3)
Antes de entrar nas críticas ao uso desse pressuposto, porém, é importante
analisar melhor no que exatamente ele consiste. De acordo com Hartley:
In a new classical representative agent model, this well-defined and mathematically derived individual demand curve is used as the exact specification of the aggregate demand curve. To fit the requirements of a new classical representative agent model, the aggregate curve must be exactly the same as the rigorously derived individual curve. (HARTLEY, 2002, p. 4)
É visível que se trata de um pressuposto irrealista, porém é necessário
analisar quais são, de fato, as implicações do seu uso, e se ele é justificável. Como
mencionado acima, entretanto, essa estratégia raramente é justificada, e mesmo
quando uma defesa é apresentada, ela aparece de forma breve e bem geral. Como
Hartley aponta:
It would be very convenient to be able to turn to the series of papers written by others in which the case for using representative agent models to study the macroeconomy is convincingly set forth. Unfortunately, such a series of papers does not exist. What does exist is a large set of introductions, paragraphs, and parenthetical asides that, when brought together, set forth the rationale for using representative agent models. […] By examining the comments made by prominent new classical economists, we can find three related justifications for the modern use of representative agent models. Briefly, these justifications are that representative agent models allow us to avoid the Lucas critique, that they are a powerful means of constructing Walrasian (or general equilibrium) models, and that they are a means of providing microfoundations for macroeconomics. (HARTLEY, 2002, p. 6)
Essas três justificativas citadas por Hartley, entretanto, de acordo com esse
autor, não fornecem uma boa sustentação para o uso do pressuposto de agentes
representativos, uma vez que até a própria relação entre elas e esse pressuposto
são discutíveis. Como o autor escreve: “[...] the representative agent model does not
solve the Lucas critique, it does not help in the creation of Walrasian models, and it
does not provide microfoundations” (HARTLEY, 2002, p.7). Vejamos como Hartley
relaciona o pressuposto do agente representativo principalmente com a crítica de
Lucas e com microfundamentos.
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Com relação à crítica de Lucas, Hartley (2002, p. 24) aponta que embora essa
apresente um problema teórico interessante, ela não indica nenhuma solução a tal
problema. De forma mais específica, ela argumenta a necessidade de se inserir
‘deep parameters’ no modelo, mas não especifica como fazê-lo. A crítica de Lucas
(1976) suscitaria a necessidade de microfundamentos para a macroeconomia a
partir do argumento de que políticas econômicas alteram a estrutura
macroeconômica, o que inviabilizaria a análise macroeconômica a partir de seus
próprios parâmetros. Ou seja, como os parâmetros macroeconômicos variam com a
implantação de políticas econômicas, seria necessário o uso de parâmetros que
estariam na base microeconômica da economia, ou “parâmetros profundos” (deep
parameters) – como as preferências, tecnologias e restrições de recursos –, para se
analisar o impacto de políticas macroeconômicas. Entretanto, Hartley defende que
modelos com agentes representativos também apresentam parâmetros que variam
com mudanças de políticas, o que os tornariam também suscetíveis à crítica de
Lucas:
Lucas (1976) tells us that old-style Keynesian macroeconomic models are fatally flawed. Such models do not incorporate the effects of regime changes on the fixed parameters in the model. Thus, policy predictions using these models are not reliable; the fixed parameters may change with every change in policy. […] If the argument in the previous paragraph is true, then representative agent models suffer the same fate as their Keynesian siblings. […] representative agent models do not contain invariant taste and technology parameters. Thus, the policy predictions using a representative agent model are similarly not reliable. […] If Lucas (1976) gives us a theoretical presumption that old-style Keynesian macroeconomics models are not useful, then it also gives us a theoretical presumption that representative agent models are not useful. (HARTLEY, 2002, pp. 52-53)
Com relação ao fornecimento de microfundamentos, Hartley ressalta, antes
de tudo, que não é uma proposição exata e pode ser tomada de diferentes formas –
assim como outros autores já citados no presente trabalho –, sendo a proposta pelos
novo clássicos – com seu uso de agentes representativos - apenas uma das
possibilidades:
The differences in the possible aims of microfoundations are crucial to an understanding of the role of the representative agent. We saw in the last chapter that if the aim of microfoundations is taken to be that of the Austrian, then representative agent models are not satisfactory. But when new classicals argue for microfoundations, they are arguing for something much less stringent than the Austrian ideal […] On the other hand, when the new
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classicals argue for microfoundations, they are arguing for something much more stringent than the old-style Keynesian ideal. (HARTLEY, 2002, pp. 130-131)
Com isso, para se avaliar a capacidade do uso de agentes representativos em
oferecer microfundamentos, é necessário, antes, analisar o que os novos clássicos
entendem por microfundamentos. De acordo com Hartley (2002, p. 127), “The
neoclassical microfoundations goal is to explain macroeconomic relations in terms of
microeconomic behavior […]”. Além disso, Hartley (2002, p. 130) continua, “in the
new clasical arguments, microfoundations is shorthand for a model in which the
starting point is a utility – or profit – maximization problem”. Assim, os novos
clássicos defendem uma microfundamentação que consiste em explicar a
macroeconomia a partir do comportamento microeconômico dos agentes, porém,
para tanto, eles partem de um modo específico – e defendem ser o único apropriado
– de explicar esse comportamento microeconômico. Sobre esse aspecto, Vercelli
aponta:
According to this particular view, [microfundamentação mainstream] a macroeconomic theory or model is considered to be microfounded if, and only if, it is derived from a particular kind of decision and/or game theory applied to single or ‘representative’ economic agents. (VERCELLI, 2016, p. 154)
Esse modo de oferecer microfundamentos, baseado em uma abordagem
microeconômica específica, por sua vez, se relaciona aos outros dois argumentos,
expostos acima, para o uso de agentes representativos, quais sejam a crítica de
Lucas e a tradição Walrasiana. Como Hartley (2002, p. 29) coloca: “Fundamentally,
both the Lucas critique and the Walrasian tradition are arguments for incorporating
rigorous microfoundations into macroeconomics”. Elaborando mais essa relação
entre microfundamentos e tanto a crítica de Lucas quanto a tradição Walrasiana,
Hartley explica:
The Lucas critique is intricately tied up with an appeal to microfoundations. Recall that the reason purely macroeconomic models change with regimes is that agents’ behaviors change. The proposed solution to this problem is to directly model the behavior of individual agents, which is exactly the same as saying we need to provide microfoundations for our macroeconomic models. There are also similarities between the Walrasian tradition and microfoundations. Microfoundations proponents argue that we need to ground all of economics in microeconomic models of the economy;
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Walrasian methodology also calls for rigorous microeconomic models of the whole economy. (HARTLEY, 2002, p. 30)
É importante deixar clara essa relação, para se entender a crítica que Hartley
faz do uso de agentes representativos como provedores de microfundamentos.
Como mostrado acima, a necessidade de se prover microfundamentos – no sentido
defendido pelos novos clássicos – surgiria devido à incapacidade de modelos
puramente macroeconômicos responderem a mudanças de políticas, o que tornaria
imperativo a análise da macroeconomia a partir do comportamento dos seus
agentes microeconômicos, ou seja, a partir da teoria microeconômica. Entretanto,
Hartley (2002, p. 158) defende, “there is simply no plausible way to argue that the
microeconomic foundations provided by representative agent in any way resemble
the microeconomic foundations provided by modern microeconomic theory”. Ou seja,
o uso de agentes representativos tornaria impossível a fundamentação da
macroeconomia na teoria microeconômica moderna. Isso porque tal fundamentação
exigiria uma teoria microeconômica na qual a interação entre os agentes e a
existência de heterogeneidade não desempenhariam nenhum papel. Porém, como
Hartley (2002, p. 167) coloca, “current micro theory looks nothing like this”. E
elaborando melhor a questão, acrescenta que
[…] the whole notion of micro theory as a monolithic entity is wrong. Rather, there are lots of micro theories. At best, representative agent models can provide microfoundations of a certain type. It isn’t at all clear that the type of microfoundations that representative agent models can provide is the most accurate or even the most interesting. Microeconomic models with asymmetric information or strategic interactions cannot be provided by representative agent model. Microeconomic models with interesting cooperative or noncooperative games between agents cannot be provided by a representative agent model. [...] Representative agent models are thus at best using the microeconomics of a quarter-century ago; if representative agent models provide microfoundations, a host of microeconomic theorists in the past twenty years have done nothing to enhance our understanding of the microeconomy. (HARTLEY, 2002, pp. 167-168)
Toda essa crítica de Hartley à hipótese de agentes representativos exposta
até aqui se limita a responder aos três prontos usualmente levantados como
justificativa para o seu uso – a crítica de Lucas, a tradição Walrasiana e o
fornecimento de microfundamentos. Entretanto, há também uma série de críticas ao
agente representativo que focam no problema da agregação envolvido no seu uso.
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Hartley (2002) também aborda esse tópico, relacionando-o com a questão de
microfundamentos:
The existence of these aggregation problems is undoubtedly one of the primary tangible reasons some economists profess a need for microfoundations. If stable macroeconomic relations are difficult or impossible to come by, then it would seem that our only recourse is to develop microeconomic models that can explain macroeconomic phenomena. With their microfoundational aims, representative models may seem to get around the aggregation problem. […] If we understand the activities of every single agent in the economy, the aggregation problem vanishes as there is nothing to aggregate. Representative agent models seem to be a simplified manner of modeling the actions of all agents. But representative agent models do not bypass the aggregation problem; in fact, they suffer from exactly the same problems as traditional macroeconomic models. In general, it is impossible to provide a consistent model of the macroeconomy by using a representative agent. […] In sum, the conditions for consistent aggregation are so severe that we can safely say that they do not hold in reality. This has long been recognized about macroeconomic equations. What seems to be less recognized, at least in the macroeconomic literature, is that there is nothing in the representative agent framework which in any way alleviates the problems of aggregation. (HARTLEY, 2002, p. 133, 135)
Para entender os problemas relacionados à agregação a que Hartley faz
referência, um bom ponto de partida é o artigo de Kirman (1992) sobre o uso de
agentes representativos. De acordo com Kirman, o comportamento agregado de um
grupo heterogêneo de agentes dificilmente (praticamente nunca) coincidiria com o
comportamento de um agente “representativo” desse grupo. Kirman apresenta
quatro motivos principais responsáveis por isso, que são bem resumidos por Fagiolo
e Roventini (2012):
First, individual rationality does not imply aggregate rationality: one cannot provide any formal justification to support the assumption that at the macro level agents behave as a maximizing individual. Second, even if one forgets the previous point, and uses RA fiction to provide micro-foundations to macroeconomics, one cannot safely perform policy analyses with such models, because the reactions of the representative agent to shocks or parameter changes may not coincide with the aggregate reactions of the represented agents. Third, even if the first two problems are resolved, there may be cases where given two situations a and b, the representative agent prefers a, whereas all the represented individuals prefer b. Finally, the RA assumption introduces additional difficulties at the empirical level, because whenever one tests a proposition delivered by a RA model, one is also jointly testing the RA hypothesis. Hence, the rejection of the later hypothesis may show up in the rejection of the model proposition that is being tested. (FAGIOLO E ROVENTINI, 2012, p. 77)
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Foge do escopo do presente trabalho se aprofundar nas questões teóricas
apresentadas por Kirman para defender esses quatro motivos, porém, é
interessante, aqui, expor algumas partes da sua análise. A incompatibilidade entre o
comportamento individual e o comportamento agregado, de acordo com Kirman, só
seria eliminada caso pressupostos muito fortes fossem adotados. Como ele aponta,
“these assumptions are so special that few economists would consider them
plausible” (KIRMAN, 1992, 120). Como exemplos desses pressupostos, ele cita:
Typical examples are that all individuals should have identical homothetic utility functions (that is, ones with linear Engel curves); or that all individuals should have homothetic utility functions, not necessarily identical, but that the relative income distribution should be fixed and independent of prices. (KIRMAN, 1992, p. 120)
Além disso, assim como Hartley, Kirman (1992, p. 121) aponta que o uso de
agentes representativos possui como motivação o fornecimento de
microfundamentos para o comportamento agregado, porém, ele acrescenta que
também existe a motivação de fornecer uma estrutura na qual o equilíbrio é único e
estável:
The needs for microfoundations and for a stable and unique equilibrium would not seem, by themselves, to justify the use of such an artificial device as the representative agent. The simple answer would be to find conditions implied by assumptions on the individuals in an economy which guarantee uniqueness and stability. However, a series of results starting with those of Sonnenschein (1972) and Debreu (1974) show unequivocally that no such conditions exist. (KIRMAN, 1992, p. 121)
Assim, como não haveria a possibilidade de se chegar a um equilíbrio único e
estável do comportamento agregado a partir da relação entre os comportamentos
individuais, mesmo com pressupostos muito estritos sobre tais comportamentos
individuais, o uso de agentes representativos se colocaria como única alternativa –
para os novos clássicos. Como aponta Kirman:
Now if the behaviour of the economy could be represented as that of an individual, the situation would be saved, since textbook individual excess demand functions do have unique and stable equilibria. This is where the representative individual comes into the picture. By making such an assumption directly, macroeconomists conveniently circumvent these difficulties, or put alternatively, since they wish to provide rigorous microfoundations and they wish to use the uniqueness and stability of equilibrium and are aware of the Sonnenschein-Debreu-Mantel result, they see this as the only way out. (KIRMAN, 1992, p. 122)
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Ou seja, para Kirman, dados os problemas de unicidade e estabilidade dos
modelos de equilíbrio geral, o pressuposto do agente representativo se torna a
opção utilizada pelos novos clássicos para conectar o comportamento agregado ao
comportamento individual. Para Kirman, entretanto, tal estratégia seria uma “pseudo-
microfundamentação”:
It should be clear by now that the assumption of a representative individual is far from innocent; it is the fiction by which macroeconomists can justify equilibrium analysis and provide pseudo-microfoundations. I refer to these as pseudo-microfoundations, since the very restrictions placed on the behavior of the aggregate system are those which are obtained in the individual case and, as we have seen, there is no formal justification for this. (KIRMAN, 1992, p. 125)
Assim, o pressuposto do agente representativo não apenas é deixado sem
uma justificativa estruturada, pela microfundamentação mainstream, mas uma
justificativa formal não seria nem possível, dados os problemas de agregação
envolvidos. Somando-se a isso o caráter normativo, de tal microfundamentação,
presente no mainstream econômico atual, fica fácil entender a extensão das críticas
sofridas por essa proposta de microfundamentação, mesmo havendo no
mainstream, atualmente, um ‘consenso’ em teoria macroeconômica. Dado isso,
diversos autores sugerem que a conexão entre as teorias microeconômica e
macroeconômica deveria ser abordada de maneira alternativa.
1.5. Microfundamentações alternativas
As críticas direcionadas à microfundamentação mainstream partem de
autores que apresentam uma diversidade de visões, entre si, enorme. Dessa forma,
são bem variadas as propostas alternativas de conexão micro-macro. Alguns
autores, como King (2012), defendem que as teorias microeconômica e
macroeconômica devam ser desenvolvidas de forma autônoma uma da outra –
muito embora, uma possa apresentar contribuições para a outra. Outros autores,
como Hoover (2006), sugerem que ambas as teorias devem partir de uma ontologia
própria e independente e, a partir daí, uma conexão deve ser buscada, porém, não é
apresentado um método específico para tanto. E autores ligados à economia da
complexidade (e.g., Gaffeo et al. (2008); Gatti et al. (2010); Stiglitz e Gallegati
(2011); Lengnick (2013)), defendem que a relação entre a macroeconomia e a
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microeconomia envolve, de forma central, tanto interações entre agentes quanto
feedbacks do macro sobre o micro. Entretanto, há um ponto interessante de
convergência entre esses diversos autores: eles defendem que a conexão entre o
micro e o macro se configura como uma relação de emergência – muito embora o
significado de emergência se mostre vago e varie de autor para autor.
A crítica de King (2012) à microfundamentação mainstream tem como um de
seus elementos centrais um princípio que ele relaciona diretamente ao conceito de
emergência: a falácia da composição. Para ele, “since the microfoundations dogma
is inconsistent with both of these principles [o outro princípio seria o de “downward
causation”], the dogma itself must be false” (KING, 2012, p. 9). Sobre tal princípio,
King explica: “the fallacy of composition entails that an entire economy may behave
in ways that cannot be inferred from the behavior of its individual agents” (KING,
2012, p. 9). Para ele, esse princípio estaria relacionado aos conceitos de
emergência e irredutibilidade:
The fallacy of composition is closely related to the concepts of emergence and irreducibility. The latter is ‘often viewed as the sense in which emergent properties are autonomous from