Rafael Yamaga
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RAFAEL YAMAGA
A Graduao em Publicidade e Propaganda Uma pesquisa em sala de aula sobre a educao para a comunicao
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Cincias da Comunicao, rea de Concentrao Interfaces Sociais da Comunicao, Linha de Pesquisa Educomunicao, da Escola de Comunicaes e Artes da Universidade de So Paulo, para obteno do ttulo de Mestre em Cincias da Comunicao, sob a orientao do Prof. Dr. Adilson Odair Citelli.
So Paulo 2009
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AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Catalogao na Publicao Servio de Biblioteca e Documentao
Escola de Comunicaes e Artes da Universidade de So Paulo
Yamaga, Rafael A Graduao em Publicidade e Propaganda Uma pesquisa em sala de aula sobre a educao para a comunicao / Rafael Yamaga. - - So Paulo : R. Yamaga, 2009. 298 p. :il.
Dissertao (Mestrado) Departamento de Comunicaes e Artes/Escola de Comunicaes e Artes /USP. Orientador: Prof. Dr. Adilson Odair Citelli. Bibliografia
1. Comunicao. 2. Publicidade e Propaganda. 3. Pesquisa em Sala de Aula. 4. Formao. 5. Ensino Superior. 6. Educomunicao. 7. Yamaga, Rafael I. Citelli, Adilson Odair II.Ttulo
CDD 21 ed. 302
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FOLHA DE APROVAO
Rafael Yamaga A Graduao em Publicidade e Propaganda
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Cincias da Comunicao, rea de Concentrao Interfaces Sociais da Comunicao, Linha de Pesquisa Educomunicao, da Escola de Comunicaes e Artes da Universidade de So Paulo, para obteno do ttulo de Mestre em Cincias da Comunicao, sob a orientao do Prof. Dr. Adilson Odair Citelli.
Aprovado em:____________________
Banca Examinadora:
Prof.Dr._____________________________________________________________
Instituio:_________________________ Assinatura:________________________
Prof. Dr._____________________________________________________________
Instituio:_________________________ Assinatura:________________________
Prof. Dr._____________________________________________________________
Instituio:_________________________ Assinatura:________________________
Prof. Dr._____________________________________________________________
Instituio:_________________________ Assinatura:________________________
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Aos professores, pelo conhecimento, dedicao e questionamentos. Aos companheiros de jornada, pelo alento e compreenso.
Ao CNPq, por ter financiado esta pesquisa.
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RECONHECIMENTO
A palavra o territrio comum do locutor e do interlocutor. Mikhail Bakhtin, autor da
frase, compreendia as manifestaes humanas, atravs de enunciados, como um
prolongamento do discurso interior. Conheci as obras do terico russo na Escola de
Comunicaes e Artes da Universidade de So Paulo, antes de ser aceito para o
curso de Mestrado. Hoje, encaro a frase acima como o grande desafio da presente pesquisa e de outras, em quaisquer reas do conhecimento. O pesquisador, em
campo, observa processos e dinmicas do corpus escolhido, que, em meu caso,
manifesta- se atravs de movimentos, olhares, posturas, sorrisos e sensaes, alm
da palavra escrita e falada. Com o auxlio de mtodos previamente elaborados que
venham a possibilitar a coleta de dados, o trabalho de investigao in loco no se
encerra com a prospeco. preciso classificar as informaes obtidas, sistematizar a anlise e, por fim, apresentar um trabalho de meses, anos, sob a forma de
dissertao ou tese.
A palavra, portanto, ocupa papel central na divulgao desse tipo de trabalho.
Atravs de um conjunto de enunciados, apresento os resultados de meu estudo e, se consigo faz-lo de maneira satisfatria, graas aos professores e colegas da
ECA-USP. Ingressar no Mestrado foi uma experincia que revolucionou todos os
aspectos de minha vida. No se trata somente de abrir perspectivas acadmicas e
profissionais, falo, em primeira pessoa, de fortalecimento de minha perspectiva de
vida, de subsdios para enfrentar o que ainda vir, em forma da continuao desta
pesquisa e de desafios acerca de outros temas.
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Acredito que esta dissertao no capaz de demonstrar a riqueza do curso stricto
sensu propriamente dito, as aulas, os seminrios, os trabalhos e as orientaes
dadas pelos professores. Fao absoluta questo de incluir a manifestao de minha
admirao ao comprometimento dos docentes para com seus alunos e disciplinas
ministradas. As experincias vividas nas salas da USP foram fundamentais e
responsveis por criar as bases tericas e metodolgicas dos diversos momentos
em que estive em campo, para fazer a pesquisa propriamente dita, em diversas
instituies de ensino.
Convido os leitores desta dissertao a refletir sobre a importncia da escolha
vocacional pela docncia e dos seus reflexos em nossas vidas. Gostaria de
agradecer pessoalmente a cada um dos professores que tive, principalmente
queles dos quais tenho recordaes duras e marcantes. s professoras do ensino fundamental, responsveis, juntamente com minha famlia, pelo princpio da formao de meu carter; aos professores do ensino mdio, pela apresentao e
organizao do conhecimento cientfico; aos docentes do ensino superior, pela
participao no amadurecimento pessoal e intelectual e aos da ps-graduao, por
me ajudarem a transformar anos de estudo em uma pesquisa que pretende contribuir para a melhoria da qualidade do ensino. Um brinde abnegao.
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RESUMO
YAMAGA, Rafael. A Graduao em Publicidade e Propaganda. Uma pesquisa em sala de aula sobre a educao para a comunicao. 2009. 298 p. Dissertao (Mestrado) Escola de Comunicaes e Artes da Universidade de So Paulo, So Paulo, 2009.
As caractersticas dos cursos de Publicidade e Propaganda na cidade de So Paulo
foram observadas e analisadas atravs de um procedimento que envolveu etapas
distintas. A definio do objeto a ser pesquisado (instituies de ensino superior) obedeceu a critrios de representatividade de classes econmicas e sociais
discentes. A relao entre o poder aquisitivo dos alunos e sua escolha pela
instituio e as possveis implicaes em sala de aula foram estudadas
presencialmente, em pesquisa de campo. Assistimos a cerca de cinquenta horas de
aulas em etapas iniciais e de concluso dos cursos. As observaes em classe
foram categorizadas na tentativa de se criar uma tipologia das prticas de ensino,
sem quaisquer intenes classificatrias ou constituintes de juzo de valor. Os dados que contam com as opinies dos estudantes foram coletados por mtodo misto,
qualitativo (entrevistas, questionrios abertos via internet e debates com alunos) e quantitativo (questionrios fechados, com amostra definida). Buscamos identificar a formao oferecida e verificar se o discurso de cada universidade , de fato,
colocado em prtica nas aulas. Algumas concluses demonstram aspectos
apreciados por alunos e adequados formao do publicitrio. Outras apontam para
prticas de ensino em desacordo com os interesses discentes e, por vezes, com a
formao exigida pelo mercado de trabalho publicitrio.
Palavras-Chave: Publicidade; Propaganda; Pesquisa em Sala de Aula; Formao;
Ensino Superior; Educomunicao.
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ABSTRACT
YAMAGA, Rafael. Graduation in Advertising. A research at classroom about the education for communication. 2009. 298 p. Dissertation (Masters) Escola de Comunicaes e Artes da Universidade de So Paulo, So Paulo, 2009.
The characteristics of the advertising courses in the city of So Paulo were observed
and examined by a procedure involving distinct steps. The definition of the object to be researched (teaching institutions), followed, regarding students, criteria of representativeness of social and economic classes. The relationship between the
students purchasing power and their choice for the institution and the possible
implications in the classroom were studied in person, at field research. We have seen
around fifty hours of classes in initial and final steps of the courses. The observations
in classrooms were categorized in an attempt to create a typology of teaching
practices, without any classificatory intentions or judgement. The data containing the students opinions were collected by mixed method, qualitative (open questionnaires, interviews via the Internet and "debates" with students) and quantitative (closed questionnaires with a defined sample). We have aimed to check the offered formation and verify if each university speech is, indeed, a practice in the classroom. Some
conclusions demonstrate aspects appreciated by students and appropriate to the
advertisers formation. Others show teaching practices that are not in agreement to
the students interests and sometimes, to the demands of the advertisement business
market.
Keywords: Advertising; Classroom Research; Formation; Higher Education;
Educommunication.
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SUMRIO
INTRODUO ................................................................................................. 9 Transformando inquietaes em indagaes; de incomodado a pesquisador. Uma histria fundamental para se chegar ao objeto de pesquisa ....................................... 12 O exerccio da monitoria: conhecendo um pouco sobre os bastidores da Universidade ............................................................................................................... 18
Uma pesquisa de campo pr-mestrado ................................................................... 20
1. DEFINIO DO OBJETO DE PESQUISA......................................................... 25 1.1. A construo do objeto terico. As diversas possibilidades de estudo ................ 26 1.2. Delineando os problemas e construindo o referencial terico .............................. 29
1.2.1. A propaganda a alma do negcio ou a propaganda o negcio? ..................... 30
1.3. Tericos de referncia.......................................................................................... 32
2. CURRCULO MNIMO E AS LEIS DE DIRETRIZES E BASES ............................... 41 2.1. O fim do Currculo Mnimo ................................................................................... 53
2.2. O Plano Nacional de Educao e as Novas Diretrizes Curriculares Nacionais.... 58
3. METODOLOGIA ......................................................................................... 67 3.1. A escolha das instituies .................................................................................... 68
3.2. Procedimentos adotados para a pesquisa em sala de aula ................................. 86
3.3. Para o levantamento da amostra em cada curso ................................................. 87
3.4. A abordagem do grupo e a presena do pesquisador ......................................... 99
3.4.1. Concluso sobre amostragem dos grupos observados ........................................... 104
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4. PESQUISA DE CAMPO .............................................................................. 109 4.1. Sistematizao das anlises .............................................................................. 110
4.1.2. Nota sobre as descries e anlises ....................................................................... 113
4.2. Universidade Mackenzie .................................................................................... 115
4.3. Faculdades Oswaldo Cruz ................................................................................. 154
4.4. Escola de Comunicaes e Artes da Universidade de So Paulo ..................... 192
5. CONCLUSES ........................................................................................ 239
6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................... 265
7. ANEXOS ................................................................................................ 272
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INTRODUO
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Transformando inquietaes em indagaes; de incomodado a pesquisador.
Uma histria fundamental para se chegar ao objeto de pesquisa.
Em 1994, ao ingressarmos no curso de Publicidade, Propaganda e Marketing
da Universidade Mackenzie, em So Paulo, a relao candidato/ vaga para o
vestibular na instituio era de 56 candidatos para uma vaga1; o mesmo curso na
Universidade de So Paulo apresentava 82 candidatos para uma vaga2. Era o
grande movimento dos cursos de Publicidade e Propaganda, atendendo ou tentando
atender demanda surpreendente por capacitao profissional especfica. Existem
muitas idiossincrasias no fenmeno que no nos permitem reduzi-lo e dizer se tratar
da profisso da moda, embora, ao mesmo tempo, a expresso possa ser utilizada
aqui com fins didticos.
Dentre os cinco vestibulares mais concorridos no ano de 1994, na regio Sudeste, o
da Escola de Comunicaes e Artes (ECA) da Universidade de So Paulo (USP), era o primeiro e o da Universidade Mackenzie vinha em 3 lugar; Universidade
Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho (UNESP) e Universidade Paulista (UNIP) em segundo e quarto, respectivamente3. Da pode-se imaginar o tamanho das
turmas de Publicidade e Propaganda nas universidades particulares que, para
aquele ano, receberam 174.7074 alunos somente nos cursos de Cincias Sociais
1 Universidade Mackenzie, e-mail enviado pela secretaria da Faculdade de Comunicao e Artes em
agosto de 2007. 2 DURAND, Jos Carlos. Educao e ideologia do talento no mundo da publicidade. Cad. Pesqui. ,
So Paulo, v. 36, n. 128, 2006. Disponvel em: . Acesso em: 29 jun. 2008. Em 2008, segundo informaes da FUVEST, os cursos mais disputados foram os de jornalismo e publicidade e propaganda (41,63 e 41,02 candidatos/vaga, respectivamente). Em 2009 a tendncia se repete, sendo que, h tempos, a carreira mais concorrida a de oficial da Polcia Militar (masculino e feminino em primeiro e segundo lugares). 3 Fonte: INEP/MEC.
4 Idem.
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Aplicadas, onde se situa a rea de Publicidade e Propaganda. O que vimos, no ano
de 1994, foram duas classes de 120 alunos cada, subdivididas em grupos menores
designados por nmeros. Para que se tenha a dimenso do que estamos tentando
retratar, segue a nomenclatura dada poca:
Turmas F (habilitao em Marketing). Subdivididas em F1, F2, F3 e F4. Turmas G (habilitao em Criao) Subdivididas em G1, G2, G3 e G4.
importante ressaltar que falamos sobre uma poca imediatamente anterior quele em que houve um grande aumento no nmero de aberturas de faculdades pelo
Estado de So Paulo e pelo Brasil perodo iniciado por volta do ano 2000. Ficam
claras as dimenses de turmas compostas por jovens de idade mdia de 18 anos5 e das implicaes para a universidade no que tange s instalaes fsicas,
professores, material didtico e planejamento. As universidades claramente adaptavam-se a essa enorme demanda e, em nosso caso6, a um curso cujas prerrogativas epistemolgicas e tericas no eram claras e - por assim dizer- no
clssicas. Os profissionais que estavam em evidncia naquele momento no
possuam graduao em Publicidade e Propaganda (mesmo porque tais cursos surgiram aps a formao de alguns dos profissionais mais referenciados), o meio estava em transio de tcnicas e linguagens, migrando do recorte e colagem quase
ldicos para os possantes computadores. Falava-se precocemente sobre internet e
atravs dela almejava-se diminuir a defasagem produo publicitria de outras partes do mundo; a linguagem da publicidade, o cdigo do jogo das propagandas estava em mudana e adaptao e o ensino da profisso sinalizava e corroborava
5 Fonte: INEP.
6 Matriculados em 1994 no Mackenzie.
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esse perodo de oscilaes. Era uma atmosfera estimulante onde as teorias no
impunham maneirismos e formalismos hermticos. Alis, muito se dizia que teoria
era uma mera formalidade do curso a fim de atribuir valor acadmico a uma
profisso vista como essencialmente prtica7. A ideia do publicitrio sozinho,
sentado em sua mesa, olhando ora para o papel em branco, ora para sua bela
janela com vista exuberante era uma constante criar era um dom que precisava somente de treino e o profissional de criao necessitava e dispunha de todo o
tempo do mundo.
Em um ambiente assim, tivemos contato com as primeiras teorias da comunicao,
que trouxeram bibliografia densa, requerendo muita leitura. Logo no primeiro
semestre conhecemos parte da obra de Charles Sanders Peirce e a semitica norte-
americana. A teoria do signo, com menes esparsas a Saussure e Jakobson. Trs
aulas por semana de uma disciplina nomeada Cincia da Comunicao. Havia
tambm as aulas de Sociologia, trazendo Nietzsche, Weber e Marx com leitura
indicada de trechos de suas obras, posteriormente discutidas em aula. Ainda no
primeiro semestre, tivemos aulas de Psicologia (que no citou autores, mas procurou passar conceitos de parte da teoria sobre a mente humana, destacando id,
ego e superego). Claro, como se espera de um curso de Publicidade, tivemos aula de Desenho, Redao e Expresso Oral (com contedo voltado exclusivamente para a gramtica da Lngua Portuguesa), Fotografia e outras disciplinas situadas em multimeios, alm de Estatstica e Anlise de Dados. Algo nos chamou ateno
naquela poca e, sem que percebssemos, tornar-se-ia a centelha do nosso
mestrado. A maioria evidente dos alunos mostrava total desinteresse pelas matrias
que davam conta de teoria, seja ela dos signos, da linguagem, da histria das
7 Regulamentada em junho de 1965.
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sociedades ou do comportamento humano. O que mais se ouvia entre os colegas
era pra qu estamos aprendendo isso?. Na poca, se que podemos dizer, havia
distanciamento crtico inconsciente de nossa parte: tnhamos interesse e apreo
pelas odiadas matrias que assombravam os jovens ingressantes do curso de Publicidade. No conseguamos compreender como algum podia no gostar de
assuntos to fascinantes. Mas que no passavam naquele momento, de fato, de
assuntos interessantes. O argumento de nossos colegas era simples, como aquelas
frases inocentes que ditas atravs do cndido discurso popular parecem ganhar
fora inquestionvel: qual a relao desse monte de teoria com a publicidade?.
Pois bem. Naquele momento eu tinha que concordar. As aulas no faziam nenhuma
relao (perceptvel naquela poca) com a linguagem publicitria, com a histria da propaganda ou com qualquer outro elemento de vis pragmtico, funcional, de
aplicao imediata; talvez se esperasse que os prprios alunos fizessem essas
relaes, as construes de sentidos e fluxos de pensamento, depositando f em
nosso amadurecimento intelectual e desenvolvimento de pensamento crtico. Em
dado momento, beneficiado pelo interesse imediato que tivemos por Peirce,
Saussure, Jakobson e Marx, tivemos um daqueles segundos de iluminao,
momentos que parecem realmente instantneos, independentes de processos
anteriores: vimos a conexo daquele repertrio lingustico, filosfico, sociolgico e
artstico com nosso futuro ofcio de publicitrio. O domnio do cdigo, das
articulaes lingusticas, da competncia discursiva e dos primeiros elementos de
persuaso e- por que no?- manipulao, fizeram-se presentes. E fomos, afoitos,
compartilhar essa iluminao com os colegas; decepo. No encontramos reflexo
da empolgao em nenhum de nossos amigos, nem mesmo um trao de simpatia
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por aquele monte de teoria. Ficamos indignados. Surgiu ento a primeira
indagao que fazemos questo de destacar:
Como os estudantes no conseguem enxergar a relao entre a teoria da
comunicao e publicidade?
Iniciamos um processo de questionamento, inerente curiosidade humana e fomos
pesquisadores mais de uma dcada atrs, sem conhecer qualquer metodologia e
comeamos, por assim dizer, a pensar em razes causais que poderiam levar os
alunos a no enxergar a relao da universidade com o mercado publicitrio.
Fazamos parte do corpo estudantil e, mesmo no compartilhando da opinio,
tnhamos a inexperincia e a teimosia caractersticas da idade. Rapidamente,
formulamos a causa para aquele desinteresse por parte dos alunos: A culpa dos
professores que no sabem dar aula sobre esses assuntos. Claro. Estava l, h 14
anos, sem pesquisa alguma, a panaceia do presente estudo de mestrado. No havia
naquele momento a maturidade e o esprito crtico para se evitar pensamento to
simplista e imprudente. Hoje lembramos com saudosismo daqueles anos e graas quela vivncia, desprovida de rigor metdico, metodolgico e epistemolgico
tomamos conhecimento de uma situao, que, descrita nesta introduo, ajuda a situar nosso objeto terico. Como so dadas as aulas explicitamente tericas, de formao bsica, nos
cursos de Publicidade e Propaganda? Por que elas tm que ser dadas? De que
forma atrair a ateno de jovens de primeiro ano/ semestre para essas aulas?
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A presente pesquisa buscou retomar as dvidas acima e, agora, com mais
maturidade intelectual, preparo terico e conscincia crtica para tratar as questes
epistemolgicas do ensino Superior, contando com acesso e conhecimento das
tenses burocrticas (pejorativamente e no pejorativamente falando) do Ensino no Brasil e, sobretudo, com a orientao de diversos professores da USP.
O incmodo que sentimos naquela poca trouxe consequncias imediatas e
outras, em longo prazo. Observvamos como a universidade representava o grande
espao de encontro de pessoas e ideias para os mais de duzentos alunos, contando
somente os daquele curso. E como o contato com colegas de muitos outros cursos e
etapas passava a constituir o meio social do jovem em formao. A riqueza de experincias de vida e de informao, mostrou-nos um vis que no havamos
pensado antes, acerca do ambiente universitrio. A escola como espao de dilogo,
de vivncias extra-aprendizado formal, de amizades e de toda a sorte de relaes
humanas em constante e incessante negociao de sentidos e mediaes de
discurso. Olhvamos maravilhados para toda aquela nova experincia e foi
exatamente da que outra dvida surgiu: Qual o papel social da Universidade e do
prprio aluno na medida em que o mundo acadmico est circunscrito e permeado
pela sociedade como um todo?. Como dito, as relaes constitudas dentro da
universidade extrapolavam os seus portes e ficava claro que as amizades iriam
continuar, mesmo aps o trmino do curso. E no somente no mbito das relaes
pessoais, mas em interferncias marcadamente sociais. Visitas a espaos de arte
(museus, casas de cultura) requeridas ou mesmo guiadas por professores tinham impacto real e perceptvel naquele mundo fora da escola. Os comportamentos
adquiridos poderiam ento permanecer com o aluno anos depois de sua sada da
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universidade. No novidade que a vida nas faculdades contribui para formar a
personalidade dos jovens e que o conhecimento adquirido em sala de aula ajuda a mudar o mundo em que vivemos. Mas tratamos aqui de uma preocupao mais
direta, com foco centrado nas intenes iniciais das universidades. Todo o aparelho
universitrio, suas salas de aula, seus corredores, jardins, bibliotecas, teatros, centros acadmicos e diretrios estudantis, opera dentro de um conjunto maior, constitudo pela prpria universidade, pelo governo, pelos profissionais das mais
variadas atividades, pelos cidados e por todas as estruturas e elementos
formadores da sociedade.
O exerccio da monitoria: conhecendo um pouco sobre os bastidores da
Universidade.
A monitoria nos deu noo de como seria a docncia e uma das responsveis
por identificarmos nossa vontade de lecionar. Passamos a compreender melhor a
responsabilidade do professor no ambiente formal e informal de ensino. Pela prpria
hierarquia explcita e implcita, pela prtica predominante das aulas expositivas, o
professor era o grande formador de opinio e seu discurso poderia influenciar
centenas de jovens vidos por conquistar o mundo. Ficamos cientes da dificuldade em preparar aulas para classes enormes e de como as deficincias de estgios
anteriores da educao eram responsveis pela maioria das dificuldades no ensino
superior. Conversamos com nossos professores, em dilogo aberto, e vimos de
perto e de maneira menos fantasiosa o que era propriamente dar aula em
faculdade.
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Soubemos na mesma poca que o professor tambm estudava8 e que fazia
algo de nome estranho e prticas duvidosas: a pesquisa. Professores defendendo
seus ttulos de doutorado, ps-doutorado e especializao. Docentes que eram
escritores e que utilizavam sua experincia em aulas para escrever livros,
apresentando os resultados dos estudos. Instigante. Havia ento, naquele momento,
o profissional que dava e assistia a aulas, publicava e fazia pesquisa?! Ningum
melhor do que ele para sugerir mudanas na maneira de lecionar a formao bsica
(Cincia da Comunicao, Sociologia e outras disciplinas relacionadas) na faculdade. Ele est ciente da teoria, conhece bem seus alunos e capaz de alterar o
contedo das disciplinas oferecidas e at de decidir quais aquelas que seriam
oferecidas pelos cursos e ajudariam a compor a formao universitria. A ingenuidade dos anos 90 ainda nos espanta, pois soubemos naquele momento que
existia a figura do Coordenador de Curso, do Coordenador Pedaggico, do
Diretor de Graduao, do Reitor e de inmeros outros cargos que participavam da
formulao de um curso. O professor era parte de algo maior, emaranhado, e sujeito a interferncias e subjetividades de todo tipo. Descrevemos aqui as atribuies do monitor9, pois so importantes para que
na quinta parte desta dissertao, compreendamos as concluses acerca da
participao dos discentes que, segundo os dados coletados na pesquisa, podem
contribuir para melhorar o dilogo entre professores e classe:
1. Colaborar nas aulas, seminrios, trabalhos prticos e de laboratrios; 2. Assistir ao professor na orientao de alunos, esclarecendo e auxiliando os
estudantes nas atividades realizadas em classe e/ou laboratrios, em pesquisas e na seleo de bibliografia;
3. Auxiliar o professor na elaborao de listas de exerccios e trabalhos complementares;
8 O que era espantoso na poca e at paradigmtico - como algum que sabe tudo precisa
estudar?, pensvamos nos anos 90. 9 Universidade Mackenzie, entregue ao aluno em 1994.
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4. Dirimir as dvidas dos alunos quanto aos exerccios e trabalhos complementares;
5. Dar assistncia ao professor na coleta de dados e informaes que possam contribuir para a elaborao das atividades dentro e fora da sala de aula;
6. Disponibilizar um horrio especfico para planto de dvidas; 7. Participar das pesquisas realizadas pelos professores responsveis; 8. Cumprir os horrios estabelecidos para Monitoria, sem prejuzo da
frequncia s aulas, do cumprimento de trabalhos escolares e provas.
Todas as Instituies de Ensino Superior (IES) pesquisadas neste trabalho oferecem o programa de monitoria e suas disposies gerais so bastante similares
entre si. A Universidade de So Paulo conta, tambm, com o equivalente da
monitoria na Ps-Graduao. O Programa de Aperfeioamento de Ensino, o PAE,
dispe sobre aspectos similares aos citados na monitoria e , em ltima anlise, um
estgio para a docncia. Participamos do PAE no ano de 2008 e, graas a essa
experincia, conhecemos um pouco mais sobre o exerccio da docncia na ECA-
USP. Contribumos e participamos ativamente das prticas de ensino em uma
disciplina10, observando as relaes entre alunos, professores e ns, na figura de
estagirios. Pelos mesmos motivos relativos monitoria, acreditamos ser importante
incluir a meno do PAE no presente trabalho.
Uma pesquisa de campo pr-mestrado.
O rigor acadmico se faz presente no processo de seleo para ingresso nos
cursos de ps-graduao da ECA/USP. Frisamos que esta pesquisa pode ajudar a lanar luz sobre a formao para a Publicidade, inclusive no sentido de verificar se
os alunos graduados pelos cursos pesquisados apresentam-se aptos a ingressar em
10 Lngua Portuguesa Redao e Expresso Oral II.
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IES que oferecem ps-graduao. Assim, para nossos propsitos, o prprio critrio
de seleo da ps instrumento capaz de fornecer parmetros para compreender
que tipo de alunos as IES esto formando em suas graduaes. Pressupe-se que
o profissional publicitrio esteja sempre atualizando conhecimentos, frequentando especializaes e cursos livres. A suposio anterior no surgiu de livros, estatutos
ou do Ministrio da Educao (MEC); o prprio mercado de atuao profissional, no somente o de publicidade e propaganda, tem exigido profissionais com atestados de
capacitao profissional.
O processo seletivo da ECA11 consistiu-se de trs etapas: prova, entrevista e
apresentao de pr-projeto de pesquisa. Para a primeira, bibliografia extensa, dividida em geral e especfica. Muitos dos autores escolhidos para a prova foram
estudados no curso, aps o ingresso. A segunda, a entrevista, conduzida pelos
prprios professores do programa. A terceira etapa, o pr-projeto, deveria conter informaes sobre aquilo que o candidato pretende pesquisar, com questionamentos
centrais e as possveis fontes de consulta. Acreditvamos, poca, ser necessrio
colher informaes para formatar o texto a ser submetido para anlise dos
professores da IES. A pesquisa feita com vistas ao ingresso no mestrado, antes dele
(pr-mestrado), foi de grande utilidade para aquela necessidade especfica. Com efeito, para os resultados desta dissertao, consideramos a experincia relevante e
julgamos necessrio descrev-la, mostrando sua relao com os dados da pesquisa feita em 2007 e 2008.
Em 2005 decidimos ir a campo, com recursos prprios, tencionando levantar
dados preliminares a fim de verificar se nossas inquietaes quando estudantes de
11 Fomos candidatos em 2006 e 2007 (ano de ingresso no curso)
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graduao ainda permaneciam. Queramos saber se, aps tantos anos, os cursos de
Publicidade e Propaganda haviam mudado. Ainda, se em funo da evoluo
natural do mercado de trabalho, as grades curriculares haviam sido adaptadas
mas, principalmente, desejvamos verificar se os alunos mantinham-se desinteressados pela teoria apresentada por algumas das disciplinas nos cursos.
Fomos a campo com o que dispnhamos na poca: certo afastamento crtico dos
grupos pesquisados (agora j no fazamos mais parte do processo de aprendizagem formal12 do grupo em questo). Visitamos a Universidade Mackenzie (1 e 6 semestres) e a Faculdade Oswaldo Cruz (4 semestre). Conferimos alguns pontos em comum entre as faculdades, a saber:
No primeiro ano/semestre (quando o aluno inicia os estudos), a quantidade de matrias com teor explicitamente terico (de formao bsica) diminuiu em relao a 199913;
Ainda havia grande desinteresse por parte da maioria dos estudantes com
relao disciplina Cincia da Comunicao. O mesmo comportamento foi
observado em outras disciplinas, como Psicologia e Cultura Brasileira;
Os alunos disseram algo alarmante e triste que pode ser demonstrado com a
seguinte frase: esses professores tm que saber que aqui faculdade e l
12 Pensamos que um pesquisador no e nem pode ser to diferente de um aluno; apenas no
estvamos l, naquele momento, legalmente matriculados. 13
Ano em que assistimos a ltima aula na Universidade Mackenzie e no qual conclumos o curso. Uma anlise posterior revelou que algumas das disciplinas foram remanejadas para etapas subsequentes.
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fora vida real. Essa matria (referindo-se naquele momento disciplina Filosofia da Comunicao) no serve pra nada 14.
No pretendemos analisar aqui o teor das observaes apontadas. As
discusses sobre os dados de pesquisa de campo em todos os seus momentos
podem ser encontradas no captulo 4. Por ora, basta observar que a pesquisa pr-
mestrado foi essencial para detectar que a problemtica ainda existia. Mais do que
isso, pudemos nos reinserir no objeto de estudo, vivenciando suas dinmicas e nos preparando para a anlise com amparo metodolgico que estaria por vir. Ainda no
sabamos disso, mas o mais importante dessa fase da pesquisa foi a primeira
abordagem com distanciamento crtico e vigilncia de pesquisador no pendamos
para o lado da escola, nem para o grupo de alunos. Ouvimos dilogos nas
entrelinhas, nos intervalos e durante a prpria aula. Observamos a metodologia de
cada professor, em anotaes livres, atentando para como cada docente interagia
(ou no) com os alunos. Vimos como os discentes participavam das atividades e atravs de suas reaes percebemos que algumas aulas realmente no iam muito
bem nas duas faculdades aprendemos que a interao visvel em sala de aula
estava longe de ser o nico ndice para avaliar a eficcia de uma disciplina15. Ainda,
percebemos que o melhor que faramos na pesquisa do Mestrado seria observar o
ecossistema universitrio e no avali-lo e sugerir intervenes. No tnhamos e
14 Aluno do curso de Publicidade e Propaganda com nfase em Marketing na Faculdade Oswaldo
Cruz (agosto de 2005). 15
Aqui esbarramos em uma dificuldade persistente que tem a ver com a avaliao do que se aprende e do que se ensina. Um aluno participante em aula no sinnimo, necessariamente, de um aluno que realmente depreendeu o sentido das aulas de maneira satisfatria da mesma forma, um aluno pouco participativo pode ter assimilado tanto ou mais do que o aluno absorto em discusses de sala de aula sobre a matria. Estamos atentos a isso. Essas observaes, preliminares ou mesmo as que se encontram mais a frente no tm como objetivo e nem constituem instrumento cientfico vlido para qualificar as instituies.
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ainda no temos a inteno de destratar algumas dcadas de cursos em exerccio e
os prprios docentes.
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1. DEFINIO DO OBJETO DE PESQUISA
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1.1. A construo do objeto terico. As diversas possibilidades de estudo
Em conversas com o orientador de nosso mestrado, durante a disciplina por
ele ministrada16 (participao como ouvinte) ficou claro nosso despreparo para uma pesquisa do porte que havamos imaginado. Muito antes de iniciarmos um recorte no
objeto de estudo, o professor Adilson Citelli tratou de por ordem na casa de nossos pensamentos. Ora, lidamos aqui com Interfaces Sociais, percebo que voc
pretende estudar os cursos de Comunicao na Graduao, mas qual seria a
interface, aquilo que constituiria um elo entre sociedade e universidade? -
perguntou o professor. Pensamos na prpria universidade, com espaos fsicos
destinados a ensino e convvio, com sua prpria ocupao de espaos urbanos,
formando uma rede de servios (papelarias, alimentao, insumos e suprimentos de toda ordem, entre outros) demandados por todos os indivduos que frequentam a escola. Mas no era bem isso do que se tratava.
As interfaces so produzidas, em dado momento, pelos futuros publicitrios
matriculados nas IES pesquisadas; suas obras para as diferentes mdias circularo
na sociedade, em maior ou menor grau, representando, em nosso modo de ver, a
profisso de maior influncia no mundo moderno no que tange formao de
opinio e comportamento. Claro, tal observao suscita questionamentos e opinies
contrrias. Mas fato que os anncios publicitrios so grandes formadores de
hbitos de consumo e de opinio propriamente dita, no necessariamente manifesta
em compra. Jornais, revistas, rdios, TV, Internet e um sem nmero de meios e
veculos perpassam e se espalham diante de todo e qualquer cidado, atingindo os
16 Prof. Dr. Adilson Odair Citelli, disciplina Linguagem, Comunicao e Educao.
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mais ricos, os mais pobres, jovens, idosos, mulheres, homens, catlicos, evanglicos e seguramente todo e qualquer segmento social existente no mundo. A etnia, a
religio, o poderio econmico; quaisquer que sejam as categorias estudadas, esto todas elas sujeitas interferncia da publicidade e nesse sentido que pensamos ser o publicitrio, o mais influente dos profissionais. Jornalistas e outros
comunicadores sociais tambm ocupam lugar de destaque junto ao cidado. Mas o recorte de estudo revela uma profisso muito presente em nosso meio hoje em dia. H imensa gama de possibilidades empregatcias para um bacharel em
Propaganda. Alm dos papis como redatores, diagramadores, roteiristas, contatos
comerciais e de posies dentro de uma organizao como gerentes, assistentes e
diretores, o mercado de se fazer crer com intuitos comerciais ou mesmo
institucionais- comerciais parece nunca cessar a demanda por habilidades
diferenciadas. Novas tecnologias e, mais do que isso, novos meios de produo
publicitria, absorvem e exigem profissionais especializados. A formao oferecida
parece proporcionar polivalncia aos profissionais de propaganda, sendo possvel
encontrar graduados atuando no necessariamente como publicitrios, mas, ao
mesmo tempo, no desconectados da formao; existem profissionais trabalhando
como jornalistas, relaes pblicas, diagramadores de pginas de Internet e outros postos de trabalho quase inimaginveis. Da ressurge, com mais fora, uma de
nossas questes: o papel social do publicitrio, como cidado dentro e fora da
faculdade. As interfaces sociais, portanto, so dadas atravs de seu prprio
trabalho: peas de outdoor, jornal, revista e todo e qualquer veculo que circule pela sociedade. A conscincia social do publicitrio perante a obra de cunho
mercadolgico deve ser estudada e nos propusemos a verificar se a formao social
debatida na graduao de Publicidade e Propaganda.
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No entanto, com o passar do tempo e o aprofundamento de nossas
pesquisas, percebemos que tentvamos lidar com questes complexas e volumosas
demais. Atravs de conversas com profissionais do mercado publicitrio,
professores e, principalmente com docentes que compuseram a banca do exame de
qualificao17, decidimos reservar certas searas desta pesquisa para outras
ocasies. O estudo do impacto dos anncios publicitrios, de sua recepo, difuso
e repercusso comunicacional, por si s j capaz de render um extenso texto decorrente de igualmente longa pesquisa. As obras publicitrias s quais fizemos
referncia anteriormente so os expoentes mais evidentes de influncia na
comunidade, por parte dos publicitrios. Contudo, alm do vis explcito, temos o
prprio profissional como agente social, no desvinculado de sua produo, mas sim
alm de suas obras; como cidado, como parte do enorme organismo do fazer
crer, atuando nas relaes interpessoais, nas transaes comerciais e corporativas.
No atribumos universidade papel exclusivo no processo de formao do
estudante como cidado. Existem fatores inmeros que influenciam no
comportamento do indivduo na sociedade a Universidade, representada pelos
cursos que oferece, importante, mas no nica no processo de educao para a
cidadania. Focamos nossas pesquisas no ser- humano, no profissional em
formao e nos conhecimentos por ele adquiridos nos cursos. Buscamos
compreender se a universidade, de fato, fornece elementos para os estudantes, de
maneira que os jovens consigam organizar seus pensamentos, desenvolver habilidades, operar novas categorias e dar origem a outras.
17Novembro de 2008
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1.2. Delineando os problemas e construindo o referencial terico
O tpico anterior, essencial para definirmos o objeto da pesquisa, leva-nos a ao recorte claro, uma vez que atuamos na educomunicao18: estudar o processo de
ensino e aprendizado sem nos estendermos para a vida do futuro profissional e seu
desenvolvimento aps a concluso do curso. No se trata de fechar os sentidos e
nos concentrar da porta da Universidade para dentro, mas sim de uma questo de
recorte metodolgico. Segundo Lopes (2003, p.136) [...] a primeira fase da pesquisa emprica constituda por operaes de carter totalmente terico feitas sempre em
funo do fenmeno de comunicao que se quer investigar. Os fenmenos
decorrentes da formao do publicitrio servem como base para apontar que tipo de
profissional conclui a graduao nas universidades. No cabe a ns categorizar o
profissional formado, com certificado em mos, mas sim observar seus
movimentos e detectar como (e se) est preparado para atuar no mercado de trabalho. Em ltima anlise, com o devido distanciamento crtico, que tipo de
profissional emerge ao final do curso. No avaliaremos, em momento algum, o mau
publicitrio, o bom publicitrio. O professor bom/ ruim. A faculdade indicada/
execrada. Observamos as prticas de ensino na medida em que educar para a
18 O Ncleo de Comunicao e Educao (NCE) da Universidade de So Paulo assim discorre sobre
a Educomunicao: Os recentes estudos desenvolvidos pelo NCE sobre a inter-relao comunicao e educao apontam para a emergncia de um campo de interveno social caracterizado por oferecer um suporte terico-metodolgico que permite aos agentes sociais compreenderem a importncia da ao comunicativa para o convvio humano, a produo do conhecimento, bem como para a elaborao e implementao de projetos colaborativos de mudanas sociais. O conceito e as prticas educomunicativas vm somar-se s propostas dos Parmetros Curriculares Nacionais no que se refere especialmente rea das linguagens e suas tecnologias. O conceito da educomunicao prope, na verdade, a construo de ecossistemas comunicativos abertos, dialgicos e criativos, nos espaos educativos, quebrando a hierarquia na distribuio do saber, justamente pelo reconhecimento de que todas as pessoas envolvidas no fluxo da informao so produtoras de cultura, independentemente de sua funo operacional no ambiente escolar.
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comunicao, atravs da comunicao, distingue-se dos demais cursos das reas
de Exatas, Biolgicas e mesmo de Humanas.
Podemos dizer que nos cursos pesquisados, os professores ensinam a comunicar.
Discute-se qual a melhor mensagem e como veicul-la em cada situao. Educar
para comunicar a peculiaridade desse curso e esperamos ter dado conta de
estud-la satisfatoriamente em anlises nesta dissertao. De certo, pensamos que
todo professor, de qualquer rea do conhecimento, constituiu-se em comunicador,
mas nem todos os docentes tm alunos cuja futura profisso requer exmia habilidade para comunicar. A profisso de publicitrio exige mais do que informar,
pede algo alm da habilidade com os signos lingusticos. Requer a capacidade da
persuaso, do poder de convencer, de oferecer sonhos e solues mgicas. Busca
a ateno de determinada audincia, convencendo-a de que o contedo informado
imprescindvel para sua vida, para seu futuro. Ser que as universidades e seus
docentes no buscam a mesma ateno de seus alunos? Ser que no somos
todos aspirantes a publicitrios, tentando mostrar sociedade nossos frutos de
pesquisa e estudos?
1.2.1. A propaganda a alma do negcio ou a propaganda o negcio?
A maior parte do meio acadmico critica o evidente movimento
mercadolgico, relativo ao aumento no nmero de faculdades no Brasil. A
capacidade das novas IES, como formadoras, e suas intenes de ensino que se
confundem com sua vocao financeira so frequentemente assunto de debates na
comunidade docente. No aceitamos e, alm, duvidamos de universidades e
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faculdades que se parecem com multinacionais e que tomam emprestado o modelo
administrativo das corporaes, no separando as instncias financeiras das
educacionais. Alunos no so produto, no so mercado. Nesta dissertao no
discorremos sobre a idoneidade das IES e nem sobre suas tticas comerciais.
Existem trabalhos muito mais ricos e completos acerca do aumento de cursos
superiores disponibilizados no Brasil19 do que sequer poderamos tratar aqui. Antes
de enxergarmos camadas alm do que se v, e de estudarmos o vis menos
evidente da formao do publicitrio, observamos se as IES oferecem ensino que
est em acordo com as Leis de Diretrizes e Bases (LDB) e, portanto, com o Ministrio da Educao (MEC). Mais do que isso, atravs de pesquisa nos meios de comunicao, e principalmente, contando com material fornecido por cada IES,
comparamos a comunicao institucional, escrita, com as dinmicas de aula.
As faculdades cumprem as promessas por elas veiculadas? Frases como: Aqui
voc tem a formao que garante os melhores empregos em menor tempo no
mercado de trabalho passariam por uma comprovao em sala de aula? Como dito
anteriormente, fizemos a opo terico-metodolgica de no nos atermos a dados
que dariam conta do destino dos profissionais formados. O tempo, implacvel para
o pesquisador, foi levado em conta e logo vimos que seria inexequvel dar ateno
merecida a tantas direes. Deveramos sim, verificar se a formao dada garantiria
o melhor lugar no mercado de trabalho. H de se ter muito cuidado agora:
estaramos sujeitos a incorrer em um juzo de valor, que arruinaria nossa pesquisa do ponto de vista metodolgico. No poderamos em momento algum, da mesma
forma como evitamos fazer com as prticas didticas, dizer que a formao dada
19 Ainda assim tentaremos agregar e analisar informaes sobre o ensino superior no captulo 3.
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pela faculdade A cumpre a promessa do anncio de TV, que a formao dada pela
faculdade B no cumpre o que veicula no seu site e assim por diante. So
concluses subjetivas que carecem de meios de objetivao que possam apontar o que a melhor formao e no necessariamente qual das IES capaz de
fornec-la.
1.3. Tericos de referncia
Uma peculiaridade da presente dissertao o fato de o prprio pesquisador
ter feito parte do objeto pesquisado. Como vimos no captulo 1, a bibliografia de algumas disciplinas de nossa prpria graduao foi a responsvel pelo interesse
inicial em estudar o assunto que apresentamos. Analisamos a bibliografia dos cursos
em questo, em linhas gerais, pois consideramos importante, antes de estudar como
so as aulas, compreender sobre o que trataro docentes e discentes naquele
semestre/ ano. De certo, conhecamos muitos dos autores dos textos sugeridos e
essa etapa da pesquisa no teve a inteno de fazer o levantamento bibliogrfico de
cada curso. No obstante, atravs das ementas das disciplinas, tomamos
conhecimento do referencial terico dos cursos. Graas a essa familiaridade,
voltamos a ateno aos diversos grupos de estudantes. Se nos debrussemos
profundamente sobre os textos a fim de compreender a hiptese os alunos no
gostam da teoria, nos envolveramos ainda mais com suas problemticas e talvez
tendssemos para a mera anlise causal: as aulas so mal dadas e os textos so
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difceis, esses professores no ajudam... 20 alm de ser impraticvel com relao ao tempo necessrio para tanto. Assim, tivemos melhores condies de entender as
dificuldades dos professores e dos alunos sem privilegiar nenhum dos lados21.
Portanto, trabalhamos, por assim dizer, com duas bibliografias distintas. Uma
delas, a que consta nas sugestes de leitura e base para os cursos pesquisados,
que foi brevemente analisada a fim de fazermos um estudo do currculo dos cursos e
da grade curricular. A outra, evidentemente, a bibliografia dos autores que amparam
nossos pensamentos e ajudam a coletar, organizar, analisar, e pensar sobre a pesquisa em si. Dividimos a bibliografia do pesquisador, constante no trabalho de
investigao propriamente dito em quatro instncias metodolgicas, conforme vimos
em Lopes (2003, p.119). Obras que nos auxiliaram em momentos epistemolgicos, tericos, metdicos e tcnicos. Algumas interagem em diferentes campos e do
conta de mais de uma instncia de pesquisa, ajudando a construir a teoria sobre o objeto e apontando caminhos para as operaes dentro do mesmo.
Do ponto de vista epistemolgico, pensamos estar falando acompanhados
pelo paradigma marxista. Em certos momentos, o marxismo apresenta-se para ns
como instncia terica, na voz de autores como Lukcs e Bakhtin. fundamentalmente com os autores marxistas que tentamos fazer a ruptura
epistemolgica e sair do lugar comum, da aparente verdade perceptvel. Estudamos
a ideia de luta de classes e distines dadas por suas divises sociais, no sentido de
20 Aluno, durante pesquisa de campo.
21 Ao nos referirmos a lados, usamos a nomenclatura apenas para designar elementos nas
interaes que ocorrem em aula; o professor aprende muito ao ensinar as teorias. A ideia de que o docente detm o contedo e que os alunos so espaos a serem preenchidos com o rico contedo do Mestre no nos cara. Acreditamos em uma negociao de sentidos e discursos muito mais rica do que isso, dialgica; infelizmente, muitas das aulas observadas parecem ter lados realmente divididos. Professor de um lado, ensinando, e alunos do outro, tentando aprender.
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evitarmos o hermetismo, percebendo as nuances dentro de uma mesma classe.
Outro autor importante, Manuel Castells, norteia esse momento, ao priorizar os
movimentos polticos e o surgimento de certa aculturao acerca da prpria
realidade, fenmeno observado em jovens de algumas IES.
Mikhail Bakhtin tem um papel bastante forte j que analisamos a sala de aula e as trocas de sentido que nela ocorrem, utilizando os captulos dois, trs e seis do
livro Marxismo e Filosofia da Linguagem para compreendermos os processos de
linguagem em si. As necessidades individuais e de grupo, a polifonia em sala de
aula e as manifestaes do psiquismo individual, motivado por carter externo e
ligado a um conjunto, amparam a discusso sobre a formao do aluno. Bakhtin nos serve no nvel epistemolgico na medida em que avanamos para a concluso de
que tudo que se faz, principalmente para um publicitrio, no e nunca ser uma
manifestao do individual. O perodo abaixo (BAKHTIN, 2004, p.58) explica o que dizemos, com relao natureza da expresso coletiva e individual:
[...]Os processos cognitivos provenientes de livros e do discurso dos outros e os que se desenvolvem em minha mente pertencem mesma esfera da realidade, e as diferenas que existem, apesar de tudo, entre a mente e os livros no dizem respeito ao contedo do processo cognitivo. O que complica mais o problema de delimitao do psquico e ideolgico e o conceito do individual. Aceita-se, geralmente, uma correlao entre o individual e o social. De onde se extrai a concluso de que o psiquismo individual e a ideologia social. Esta concepo revela-se radicalmente falsa. Social est em correlao com natural: no se trata a do indivduo enquanto pessoa, mas do indivduo biolgico natural. O indivduo enquanto detentor dos contedos e de sua conscincia, enquanto autor dos seus pensamentos, enquanto personalidade responsvel por seus pensamentos e por seus desejos, apresenta-se como um fenmeno puramente scio-ideolgico. Esta a razo porque o contedo do psiquismo individual , por natureza to social quanto a ideologia e, por sua vez, a prpria etapa em que o indivduo se conscientiza de sua individualidade e dos direitos que lhe pertencem ideolgica, histrica e internamente condicionada por fatores sociolgicos.
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Sobre os aspectos metodolgicos, desde o incio da construo do objeto terico e de seus ajustes, at a definio de tcnicas e a preparao da dissertao, caminhamos com a professora Maria Immacolata Vassalo de Lopes. Sua obra
Pesquisa em Comunicao fundamental para a organizao de pensamentos e
procedimentos em todas as etapas da pesquisa; com efeito, o pensar metodolgico
ficaria diminudo ao ser comparado ao pensar terico. O trabalho correria o risco
de ficar carente de rigor metodolgico mnimo e, em decorrncia, ter sua
fundamentao cientfica abalada.
Florestan Fernandes tem papel importante e nos manteve vigilantes e
centrados nas prticas de pesquisa propriamente ditas. As tcnicas de investigao
no momento emprico, durante as aulas assistidas e entrevistas realizadas, os
processos de reconstruo da realidade relacionada com as teorias aqui descritas e
sugeridas no teriam sido organizadas sem a presena do autor em nosso Quadro
Terico de Referncia. Ainda, nos momentos de interpretao dos dados, nos
valemos de Fernandes e sua obra O Problema do mtodo na investigao
sociolgica.
Para tratamento tcnico e metodolgico, refletimos bastante sobre a obra de
Michel Thiollent, especificamente Metodologia da pesquisa-ao. No adotamos o
procedimento da pesquisa-ao propriamente dito, mas a leitura acerca da mesma
expandiu nossa maneira de atuar na pesquisa de campo. Thiollent foi constante
durante toda a fase emprica de nossos trabalhos. No possumos as habilidades
nem o conhecimento dos antroplogos, mas acreditamos que nosso trabalho tem a
ver um pouco com a observao participante da antropologia. Na medida em que
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ocupamos lugar na sala de aula, muitas vezes como elemento estranho e outras
como elemento no detectado e at indetectvel, interferimos no ambiente da
pesquisa e estamos cientes de que, em alguns momentos, alteramos o desenrolar
normal das atividades. Thiollent nos alerta para a conscincia dessa interferncia no
meio observado.
Bourdieu tambm um autor de referncia terico-metdico-metodolgica e
sua obra O ofcio de socilogo foi consultada diversas vezes para que no
cassemos em viso reduzida da sociologia. Bourdieu coloca a educao em
destaque dentro do que chama de estrutura simblica. por ver a escola como um ambiente de produo social, no necessariamente a servio das classes
dominantes, que adotamos pontualmente as anlises do autor. O ensino no pode
ser desvinculado da produo social- se no a produo propriamente dita, constitui
um treinamento para alunos, voltados a produzir para a sociedade. O aprendizado
como processo repleto de inter-relaes e busca de significaes j parte da sociedade e produz valores manifestos em profissionais que em breve atuaro de
forma mais notada em postos de trabalho. Ao tratar da teoria de pesquisa criticando
o modelo norte-americano, Bourdieu se insere automaticamente em nossos estudos
no sentido de nos levar a pensar na sociedade alm da submisso comercial e
mercantil. nesse aspecto, sobre os modelos mercadolgicos aparentemente seguidos pelas faculdades, que encontramos reflexos de sua crtica ao capitalismo e
ao neoliberalismo. Mais frente, veremos se o carter mercantil do ensino superior
realmente existe ou se esse se manifesta apenas como consequncia natural de
uma demanda maior por cursos de graduao.
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Sem dvida, dentro ainda do paradigma marxista e influenciando nossa obra
como um todo est Adlson Citelli. E estamos tratando aqui (no quadro terico de referncias bibliogrficas) de obras pertinentes nossa problemtica, tentando deixar de lado sua figura como orientador da dissertao. A obra de Citelli caminha
pelos ensinos mdio e fundamental, com inquietaes muito similares s nossas e
foi adotada, em primeiro lugar, por identificao com sua ideologia; alis, permitimos
retomar o uso dmod da palavra ideologia. a ideologia que parece guiar Citelli pelos meios educacionais e por suas interaes de linguagem. Partilhamos do
mesmo interesse e a obra do professor indissocivel de nossa reflexo. Citelli
situa-se, portanto, nas quatro instncias em que dividimos - metodologicamente e
didaticamente - nossa bibliografia e todo o trabalho22. No nvel epistemolgico
porque abarca teoria slida e atualizada, em compasso com os dias brasileiros em
que vivemos. O prprio autor faz a ruptura epistemolgica dos textos escolares (ao mostrar que a natureza do texto no define sua funo) 23. Em seu livro Comunicao e Educao - a Linguagem em movimento, faz um trabalho
fundamental para nossos estudos, ao tratar, no captulo Na sala de aula, com
alunos, o relacionamento dos discentes com as mdias e as tecnologias. O
questionrio por ele proposto levanta perfil claro dos alunos do ensino fundamental
do ponto de vista epistemolgico, rompendo as pr-noes do senso comum,
possvel entendermos e discutirmos os fatores econmicos, pedaggicos, sociais e
polticos que amalgamaro o perfil do pr-universitrio. Em Palavras, Meios de
22 Ver novamente LOPES (2003), captulo 6.
23 Citelli estuda os espaos escolares formais, informais e no formais juntamente com os textos
escolares e no escolares. Prope um pensamento em que o uso das produes dos meios de comunicao sempre relativizado; assim, um jornal que tinha a funo de informar uma determinada camada da populao pode, em curto espao de tempo, ocupar um lugar essencial no processo de ensino. A notcia de jornal pode ser trazida para a aula a fim de estudarmos muito alm da construo gramatical, a linguagem, suas inferncias sociais, seu contedo poltico e todas as facetas em conexo com a alfabetizao social do aluno.
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Comunicao e Educao, o autor trata diretamente da Publicidade e de seus
esteretipos reafirmados pelos profissionais do meio e alerta para o uso estrutural e
meramente funcional da lngua, abrindo brecha para que contestemos a formao
dada aos universitrios de Comunicao, no no sentido de alcanarmos um
currculo ideal ou de eliminarmos certas prticas de ensino, mas com vistas
reflexo crtica e acima de tudo, responsvel com o que se ensina nos dias de hoje nas universidades paulistanas.
Em fuso com o nvel terico, onde buscaremos apoio para nossas prprias
observaes e ideias, Adlson Citelli est fortemente presente; no nvel
epistemolgico o autor constitui bases para a quebra de prticas ociosas, viciadas,
ineficazes ou simplesmente infrteis. Ao propor uma maneira diferente de
pensamento e ao, agregando dados colhidos em pesquisa24 a exemplos de
enunciados circulantes na sociedade, o autor passa a analisar suas observaes e
constitui uma srie de raciocnios e percursos lgicos que acabam por formar slida
teoria. E do nvel propriamente terico do autor, juntamente com os dados da pesquisa do presente trabalho, buscamos o entendimento prprio, de onde advm
nossas concluses. Como dito anteriormente, foi nesse nvel em que, auxiliados
pelas aulas do professor e pela sua obra, demos conta da formulao terica do
objeto, e das perigosas solues antecipadas. Cientes do perigo do senso comum25, tivemos o cuidado de transformar as impresses em hipteses, delineadas por
24 Inmeras pesquisas realizadas pelo professor e pelo grupo de estudos por ele coordenado. Mas, a
exemplo, citamos as pesquisas feitas nas escolas pblicas paulistas que tratam como certos materiais considerados no estritamente didticos acabam por entrar e influir no cotidiano da sala de aula. 25
A curiosidade ingnua, de que resulta indiscutivelmente um certo saber, no importa que metodicamente desrigoroso, o que caracteriza o senso comum. O saber de pura experincia feito. Pensar certo, do ponto de vista do professor, tanto implica o respeito ao senso comum no processo de sua necessria superao quanto o respeito e o estmulo capacidade criadora do educando. (FREIRE, 1996, p.29).
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percurso terico26 referencializado em trabalhos anteriores e de autores de muito
mais experincia.
No nvel tcnico, onde formulamos os processos de pesquisa e de anlise de
dados, recorremos a Adilson Citelli, observando seus questionrios em diversas
obras27 e os processos de abordagem (e presena) perante o objeto de estudo. Ainda, a interao entre as pesquisas qualitativas e quantitativas sofreram um
procedimento similar ao que Adilson Citelli utiliza nas obras as pesquisas se
complementam em uma tenso constante onde a diversidade de dados e relaes
da provenientes compem, a nosso ver, panorama mais cuidadoso e, por assim
dizer, realista do ponto de vista da construo do objeto.
Na parte metdica, onde cabe a estruturao do nosso objeto de estudo, ficamos tambm com Citelli j que adotamos o modelo de enunciao de preceitos da parte cientfica dos objetos similares ao seu. Explica-se: pensamos na parte metdica como o mtodo propriamente dito; o que fazer, de que forma fazer, quem
far e assim por diante, constantemente em conexo com o nvel tcnico. A
enunciao dos processos de formulao da problemtica encontrar seu lugar no
nvel terico28 atravs de todos os autores citados neste tpico. Mas a objetivao e toda a reflexo terica ficam por conta de uma srie de mtodos de ordenamento e
26 Pretendia-se haver o estudo tcnico de algumas de nossas ideias para a melhora no ensino das
disciplinas pesquisadas. Mas tivemos conscincia de nossas limitaes e, sobretudo da implacabilidade do tempo. Deixaremos as hipteses propriamente ditas para um Doutorado ou, ainda melhor, para nossa futura vivncia docente exatamente nos cursos pesquisados. 27
Obras cuja natureza era similar aos nossos propsitos. No nos baseamos em questionrios ideais nem tampouco reproduzimos os questionrios estudados. Mas observamos o carter de formulao destes e procuramos encontrar a filosofia por trs dos textos de questionrio. Pensamos em instncias tcnicas utilizando, do referido autor, o livro Comunicao e Educao a linguagem em movimento, principalmente o captulo Uma pesquisa com escola e meios de comunicao. 28
LOPES (2003, p.126-127).
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de exposio da construo cientfica e, pensamos, subjetiva. Segundo Lopes (2003, p.124), temos duas operaes concomitantes e/ou simultneas: a exposio e a causao. A segunda o que nos interessa em Adlson Citelli, no nvel
metdico, haja vista que consiste em traar as conexes entre possibilidades, fatos coletados, dados de pesquisa e tericos e at de possveis proposies para a
problemtica. Ainda segundo Lopes (2003, p. 125), a exposio conquanto elemento do nvel metdico deve dar conta de formalizao e articulao do sentido29 pois
aqui que todas as concluses e a apresentao propriamente dita tornar-se-o
pblicas e, para os leitores, sero a melhor traduo intersemitica daquilo
observado e compreendido pelo pesquisador.
Alguns autores citados durante o trabalho no aparecem aqui j que procuramos dizer neste captulo e no anterior, clara e abertamente sem faltar com o
rigor acadmico, quem somos, de onde viemos e com quem andamos.
Pensamos que companhias (as boas) vo e vem e nos ajudam a caminhar em diferentes momentos.
Ao iniciarmos a montagem de nosso calendrio de pesquisa de campo,
deparamo-nos com a diversificada grade curricular de cada curso que tem, em
nossa opinio, uma razo de ser. A diversificao deve-se, em parte, a fatores
histricos e polticos. Para analisar as diferenas e sua sintonia com a sociedade e
com as necessidades atuais do publicitrio como profissional ativo, traaremos um
breve histrico dos cursos de publicidade no Brasil a fim de justificarmos nossas concluses no prximo captulo.
29 Idem.
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2. CURRCULO MNIMO E AS LEIS DE DIRETRIZES E BASES
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No pretendemos produzir um texto definitivo acerca das bases legais e
comparativas de regimentos nas esferas institucionais da Educao. Preferimos e
precisamos abordar de forma crtica e objetiva os assuntos relativos a tais legislaes quando se mostraram pertinentes ao nosso estudo especfico em sala de
aula. Relaes de causa e consequncia, anlises histricas e organizacionais do
ensino superior podem ser conferidas em obras especficas de autores que contam
com maior experincia e competncia do que as do presente autor. Dito isto,
achamos necessrio retomar a viso filosfica do ensino das disciplinas e de seus
contedos; a Educomunicao instrumento e processo nesse campo. Promover a
discusso e a reflexo, conjuntamente com governo, alunos e professores uma maneira, educativa por excelncia e comunicativa por natureza, de tratar um assunto
demasiadamente envolto por tenses de toda ordem.
Os Currculos Mnimos que eram impostos Comunicao Social como rea
formadora de profissionais, foram constitudos maneira brasileira, por uma srie de
pareceres do Conselho Federal de Educao, retificando e ratificando textos
anteriores, agregando novas e complementares informaes, inserindo textos (por vezes contraditrios) construindo longa srie de currculos adotados. necessrio que tratemos da Lei de Diretrizes e Bases de 1961. Na verdade, o projeto da Lei vem de 194830 e s foi promulgado como Lei em Dezembro de 1961. Era conhecida
como Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional e em um momento confuso
envolvendo Parlamentarismo, seu Primeiro Ministro (Tancredo Neves) e o
30 O ento Ministro da Educao e Sade Pblica Clemente Mariani, apresentou o projeto para o
Presidente da Repblica (Eurico Gaspar Dutra); na verdade a Lei j era prevista pela Constituio de 1934.
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Presidente Joo Goulart, coincidiu31 com a fundao da Universidade de Braslia.
Houve grande repercusso e alguns autores32 chegaram a dizem que a LDB fazia
parte de uma propaganda do Governo e no dava conta dos problemas de ordem
nacional da poca. A LDB regulamentava o Ensino brasileiro em todas as suas
instncias, do Ensino Pr-Primrio ao Superior. Destacamos aqui o artigo 66 que
trata especificamente do Ensino Superior:
Artigo 66 - O Ensino Superior tem por objetivo a pesquisa, o desenvolvimento das Cincias, Letras e Artes e formao de profissionais de nvel universitrio. Quanto estrutura, o Ensino Superior ser ministrado em estabelecimentos agrupados ou no, em universidades, com a cooperao de institutos de pesquisa e centros de treinamento profissional; cursos; graduao (para candidatos que concluram o ensino mdio); ps-graduao (para candidatos que concluram o curso de graduao) e de especializao, aperfeioamento e extenso (requisitos a serem exigidos)
A LDB veio em um momento peculiar, pr-ditatorial, e seus supostos ideais
humanistas e libertadores se viram dizimados. Muitos dos objetivos descritos na LDB, logo em seu artigo 1, ficaram esquecidos e postos de lado mais do que isso:
foram proibidos pelo governo militar. Escolas foram fechadas, cursos extintos,
professores e alunos presos e funcionrios do DOI-CODI (Destacamento de Operaes de Informaes - Centro de Operaes de Defesa Interna) estavam infiltrados no meio estudantil. Havia ainda o grupo de Comando de Caa aos
Comunistas (CCC), formado por estudantes de direita e outros membros de mesma orientao poltica que acabavam por pressionar ainda mais o ambiente de Ensino e
com ele os ideais da Lei da Educao de 1961. Abaixo os pontos inviabilizados do
artigo 1:
31 Ver SAVIANI, 2008, acerca dos fatos que envolveram as datas. Tenses polticas ajustaram os
calendrios. 32
Ver SILVA, 1979 e MOURA, 2002 e GOTTLIEB; SOARES 1996.
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Artigo 1 - A educao nacional, inspirada nos princpios da liberdade e nos ideais da solidariedade humana tem por fim:
A compreenso dos direitos e deveres da pessoa humana, do cidado, do Estado, da famlia e dos demais grupos que compe a comunidade;
O respeito dignidade e s liberdades fundamentais do homem;
O fortalecimento da unidade nacional e da solidariedade internacional;
O desenvolvimento integral da personalidade humana e sua participao na obra do bem comum;
O preparo do indivduo e da sociedade para o domnio dos recursos cientficos e tecnolgicos que lhes permitam usar as possibilidades de vencer as dificuldades do meio;
f) A preservao e expanso do patrimnio cultural;
g) A condenao a qualquer tratamento desigual por motivo de convico filosfica, poltica ou religiosa, bem como a quaisquer preconceitos de classe ou de raa.
Carlos Eduardo Lins da Silva (1979) faz um estudo rigoroso sobre a evoluo dos currculos ideais. Apesar de essa anlise ter sido realizada h quase 30 anos
valemo-nos dela do ponto de vista da descrio dos currculos mnimos e das
reaes da sociedade perante as alteraes na poca; devido ao dinamismo do
ensino e mais ainda s mudanas ocorridas da dcada de 80 at os anos atuais,
no podemos utilizar os dados em relao instantnea e automtica. Mas os fatos
histricos envolvendo datas dos currculos e leis esto muito bem apresentados na
obra do Autor. A histria dos textos regulamentadores, sobrepostos uns aos outros
ao longo dos anos fundamental para entender como a situao atual se apresenta:
atravs de suas consideraes, juntamente com os dados dos Conselhos de Educao e do MEC, relatamos aqui aquilo que julgamos imprescindvel para o
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entendimento da formao da grade curricular das IES brasileiras do incio do sculo
XXI, sobretudo a das IES pesquisadas no trabalho de campo.
Guardamos posicionamento que deve ser explicitado: os primeiros pareceres
sobre um Currculo Mnimo (Parecer 323) tm suas origens s vsperas do perodo de regime militar no Brasil sendo esse documento de 1962. O Parecer 323 traz as
primeiras orientaes para as IES brasileiras, cujas organizaes administrativas eram obviamente muito diferentes das de 2008. Era uma poca de grande
necessidade por profissionais para o rdio e televiso e o parecer dava mostras de
preocupao com a formao de profissionais para um mercado que estava cada
vez mais se firmando. Havia uma lista de disciplinas obrigatrias (denominadas de gerais) e as disciplinas tcnicas, um treinamento propriamente dito. O currculo mnimo dessa poca dispunha somente sobre o curso de Jornalismo, pois era a
nica Habilitao existente no Brasil, dentro da grande rea da Comunicao. Para
os nossos propsitos, destacamos as disciplinas do parecer:
1. Cultura Brasileira 2. Histria e Geografia do Brasil 3. Estudos Sociais e Econmicos 4. Civilizao Contempornea 5. Histria da Cultura Artstica e Literria 6. Portugus e Literatura da Lngua Portuguesa 7. Qualquer lngua estrangeira moderna 8. tica e Legislao da Imprensa 9. Histria da Imprensa 10. Administrao de Jornal e Publicidade 11. Tcnica de Jornal e Peridico 12. Tcnica de Rdio e Telejornal
Disciplinas do Primeiro Currculo Mnimo (1962)
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Encontramos dificuldades em situar as disciplinas por ns pesquisadas nesse
elenco da poca. Podemos dizer que o ensino de Filosofia da Linguagem, dos
Estudos dos Meios de Comunicao e da prpria Semitica recente e a
organizao do conhecimento na dcada de 60 era diferente da maneira com a qual
as IES pesquisadas relacionam as disciplinas em 2008.
O que conhecemos sobre a dcada em questo, no somente pelo imobilismo
imposto pelo regime militar, era a falta de liberdade que as IES tinham no que tange
adaptao das imposies do Conselho de Educao aos fatores locais; sejam eles culturais, sociais ou tecnolgicos. As mltiplas facetas de um curso de
Comunicao Social estavam sob a diretiva de um parecer genrico que permitia
somente que disciplinas de complementao fossem ministradas e assistidas em
faculdades diferentes das de origem.
O parecer que estabelece o segundo currculo mnimo da rea (984/65), ainda indica mudanas para a nica habilitao de Comunicao Social, o Jornalismo. O
documento de 1966 e coloca o curso sob a influncia do Centro Internacional de
Estudos Superiores de Jornalismo para a Amrica Latina (CIESPAL), mantido pela UNESCO. Dados apontam para a incluso de disciplinas humanistas, contendo
instncias tericas da Comunicao (SILVA, 1979, p.82). Nessa mesma poca, pela primeira vez na histria do Brasil, a
profisso de Publicidade e Propaganda orientada por legislao, atravs da Lei n
4680 regulamentada em junho de 1965 por um decreto. A segunda metade da dcada de 60 parece ter sido fundamental para a formao de currculo dirigido ao
ensino tcnico e instrumental. Talvez regida por uma demanda urgente por
profissionais aptos a operar em meios cuja ausncia de treinamento impossibilitaria
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o exerccio de certas profisses; talvez por influncia militar em prol da tecnicidade
que garantiria prontido do cidado a prestar servios imediatos ptria. Na poca,
Bourdieu j alertava para a dominao atravs das formas de reproduo social; ora, de fato, o ensino, em todas as instncias, representava grande instrumento de
controle e subordinao social e um sistema de educao sob comando de regime
totalitarista, ditatorial, no parece demonstrar afeto pela formao realmente
iluminista, com ideais humanitrios e aprendizado crtico. Claro que o modelo norte-
americano era influente na poca, no somente na comunicao, mas em todas as
reas de excelncia do saber e do cotidiano, sendo que, para alguns, o
funcionalismo representava caminho direto para a evoluo da nao e da
incrementao de mo de obra.
No mesmo ano, uma resoluo do Conselho Federal de Educao diminuiu a
quantidade de disciplinas complementares e passou a exigir dezesseis disciplinas
para o currculo mnimo. Seis das disciplinas apontadas davam conta de um carter
tcnico.
Em 1969 veio mais um parecer, definindo o Terceiro Currculo Mnimo e
passando a tratar o curso de Jornalismo como um dos Cursos de Comunicao
que agora contaria com cinco habilitaes: Publicidade e Propaganda, Editorao,
Relaes Pblicas, Polivalente e o prprio Jornalismo. Existiam nove matrias
obrigatrias e comuns s cinco habilitaes. Foi permitido gradativamente s IES, na
primeira metade da dcada de 70, que cada Habilitao escolhesse disciplinas,
incluindo ou removendo-as de seu elenco especfico. Para que uma IES pudesse
abrir ou manter um curso na grande rea da Comunicao, era obrigatria a oferta
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de pelo menos duas habilitaes. Tambm obrigatria era a prtica de estgio, que
deveria ser feito pelos alunos nas etapas finais dos cursos.
Pela primeira vez a universidade podia ensaiar o ajustamento em seus processos, visando acompanhar a sociedade e suprir demanda; mas ainda estava
longe de cri-la, a no ser por professores, que tambm eram escassos para os
cursos ministrados. A Publicidade, desde seu incio no Brasil, ficou conhecida por
formar profissionais por meios quase que estritamente prticos. Era de se esperar
que no houvesse professores para ensinar algo ainda to pouco organizado e de
resultados alcanados graas ao pragmatismo. De fato, a qualificao dos
professores para os cursos de Comunicao Social dessa poca foi bastante
questionada e atingiu seu pice na dcada de 80 como veremos mais adiante.
Em 1977 o Quarto Currculo Mnimo apresentado, mediante, novamente,
um Parecer (1.203). O documento elenca os currculos mnimos anteriores, pontualmente, evidenciando aumento de cursos ligados ao ensino de Comunicao
Social no pas. Instaura uma nova nomenclatura para as Habilitaes e as mantm
divididas em cinco: Publicidade e Propaganda, Relaes Pblicas, Rdio e
Teledifuso, Cinematografia e Jornalismo. O parecer refletia a preocupao da
comunidade acadmica em incorporar o resultado de reflexes e teses ao
pensamento que passava a criticar os modelos tericos importados to em evidncia
nos outros pareceres (SILVA, 1979, p.82). Uma nova mentalidade das IES j passava a distanciar a formao da orientao necessariamente instrumental. Ao
pensar a comunicao brasileira mais identificada com fenmenos latinos, o Ensino
Superior passou a proporcionar formao menos instrumental ou tcnica. As
disciplinas do novo currculo mnimo eram de base mais humanista, dividindo-se em
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aulas de Fundamentao Geral, comuns a todas as habilitaes de Comunicao
Social e em disciplinas de Fundamentao Especfica para cada Habilidade. As
matrias ditas de Fundamentao Humanstica (Geral e Especfica) eram obrigatoriamente dadas na primeira metade do curso. As disciplinas de natureza
Profissional ou Profissionalizantes, na segunda metade, divididas por habilidade
especfica. O ltimo perodo do curso deveria ser destinado prtica dos
conhecimentos atravs de trabalhos que envolvessem projetos Experimentais (VITALI, 2004, p.67).
At meados de 2000, poderamos dizer que foi o modelo de 1977 que
conduziu a totalidade do Ensino Superior, proporcionando fundamentaes tericas
e filosficas nos primeiros anos dos cursos e apresentando disciplinas diretamente
focadas no mercado de trabalho nos ltimos anos. O modelo hegemnico imposto
pelo Currculo Ideal achatou e ignorou idiossincrasias geogrficas e sociais,
consequentemente atrasando o surgimento de profissionais adequados para cada
regio em um pas to grande como o Brasil. O Governo Federal fiscalizava as
universidades e impunha sanes rigorosas para os cursos. Estamos chamando
ateno para alguns dos pontos aqui listados para que se faa um paralelo com os
tempos de hoje: centenas de cursos a mais pelo territrio brasileiro, ttulos diversos contemplados concluso do curso, IES de origens administrativas de toda sorte,
tempo de concluso de curso de 2 a 5 anos e assim por diante. Perguntamos, sem
inteno retrica: o ensino realmente melhorou? Construmos, tanto em poca de
ditadura, como em democracia, um sistema de Ensino Superior em sintonia com os
dias atuais? A sobreposio e a sucesso de currculos mnimos procurou dar conta
de demandas sociais, adequando a formao em Comunicao ao mercado
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profissional de cada poca. Ainda, os pareceres tentavam ajustar o Brasil ao mundo, alinhando e modernizando os currculos mnimos com universidades estrangeiras
(MOURA, 2002, p.27).
Como dissemos, a dcada de 80 foi marcada por severas crticas ao ensino
da Publicidade no Brasil. O mercado de trabalho estrito dava sinais claros de que os
profissionais que nele chegavam no estavam preparados para atuar em suas
agncias, bureaux e escritrios em geral. Nomes referendados no meio publicitrio
abertamente declaravam nunca ter concludo uma faculdade, quanto mais receber
formao especfica em Publicidade. Por esse mercado circulavam graduados em
Economia, Administrao e, muitos, em Jornalismo. J vimos que at 1969 no
havia outra habilitao em Comunicao Social que no fosse o Jornalismo - o que
explica, em parte, o mercado repleto de profissionais com essa formao. Mas,
aliados crise editorial em alguns setores especficos, necessidade da indstria
nacional de vender seus produtos em um meio onde a concorrncia era numerosa e
agressiva33 e procura por empregos maior do que a oferta na rea, muitos
jornalistas migraram de funo. E no havia nenhum entrave tico ou de formao propriamente dito j que muitos dos jornalistas eram, regulamentados pelo diploma, habilitados grande rea da Comunicao Social.
A notoriedade de profissionais no especializados ajudou a questionar ainda mais quais seriam as necessidades do aluno de Propaganda. Professores
constantemente duvidavam da qualidade dos cursos, ainda que num vis menos
mercadolgico; no havia consenso sobre autores, escolas, bibliografia para os
cursos, tampouco para as suas disciplinas. Envolvidos nessa problemtica, alunos
33 O pas tinha o mercado fechado para importaes o que de imediato priorizava a manufatura e os
setores industriais e comerciais locais.
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passavam a contestar as Instituies, atravs dos professores, sobre a formao
que estavam recebendo. Como poderia um mesmo curso dado em duas faculdades
diferentes, numa mesma cidade, com o mesmo fim, apresentar tantas
discrepncias34? Havia ainda o raciocnio raso e ao mesmo tempo lgico, de se
pensar que no era necessrio concluir um curso de nvel superior em Publicidade
para se fazer Publicidade. Esses e outros fatores levaram ao choque de identidades
e valores do curso como um todo e professores chegaram a sugerir o fechamento
dos cursos de Publicidade e Propaganda em So Paulo (VITALI, 2004, p.88).
O Quinto Currculo Mnimo veio em 1983 e tornou pblico que avaliaes
sobre a grade do curso de Publicidade e de todos os cursos de Comunicao Social
haviam sido feitas por uma comisso formada por conselheiros e trs professores
especialmente convocados. A comisso levantou dados sobre a situao dos cursos
perante o mercado de trabalho, os empresrios envolvidos com publicidade e o meio
acadmico. A comisso nomeou representantes que poderiam circular de forma a
cobrir nmero maior de escolas e empregou at questionrios e entrevistas na
coleta dos dados sobre os cursos. Segundo Moura (2002, p. 54) a comisso passou a contar com 21 membros e elaborou uma srie de Diretrizes especficas para que
cada IES formulasse o seu currculo para os cursos de Comunicao Social. Essa
interao entre vrios grupos da sociedade, governo e Universidade chama nossa
ateno. Acreditamos que nesse aspecto que todos os setores completam-se,
onde as demandas so dialogicamente detectadas e ajustes podem e devem ocorrer abertamente. Isso permite romper o ciclo vicioso onde muito se reclama e pouco se
34 Em pesquisa de campo, ouvimos a mesma frase de um estudante de 17 anos da Escola de
Comunicaes e Artes da USP, em 2008, ao comparar seu curso com o da namorada que estudava em outra instituio. A frase surgiu carregada de certa indignao, duvidando da qualidade de ambas a IES, j quem segundo o aluno, no fica clara qual a formao correta.
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faz; se o mercado de trabalho vido por profissionais melhor preparados, cabe
exatamente a esse mercado deixar claro o que a Universidade deve enfatizar. Ao
mesmo tempo, Universidade cabe perceber e assimilar seu papel na formao de
profissionais, no sentido de no apenas atender a demandas imediatas e
possivelmente efmeras de um grupo afeito somente a nmeros e lucro, mas de
educar seus alunos para que, entre outras coisas, possam gerar uma demanda
contrria por conscincia crtica e novas atividades de trabalho. As tenses e
resolues nesse campo no deveriam ser apenas mediadas pelo Governo,
liberando verbas e regulamentando atividades; tampouco ao Governo caberia
apenas atender s demandas da universidade ou do mercado de trabalho. Com os
trs setores35 envolvidos em discusses claras e objetivas, poderemos chegar a uma proposta democrtica e, por isso mesmo, capaz de atender s necessidades e
s responsabilidades de cada setor.
Embora com poucas mudanas evidentes, o Parecer 480/83, que traz o
quinto Currculo Mnimo (MELO, 1991, p.49), minimizou os pontos voltados ao ensino exclusivamente funcional. Assim constam no texto original, as diretrizes
resultantes do trabalho elaborado pela comisso:
1) Incorporar as trs reas de conhecimento necessrias formao: Cincias Sociais, Cincias da Comunicao e da Linguagem e Filosofia e Arte:
Cincias Sociais: para conhecer a realidade social e atravs de modelos tericos e metodolgicos analisar o sistema de produo e os processos de mudana social.
Cincias da Comunicao e da Linguagem: para conhecer os sistemas de comunicao da sociedade e interpret-los atravs dos modelos tericos e metodolgicos de modo a oper-los mediante tcnicas e linguagem.
35 Sobre isto, ver a quinta parte deste trabalho (por ora: universidade e mercado de trabalho no so
duas entidades antagnicas).
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Filosofia e Arte: para compreender os aspectos existenciais e estticos, assim como refletir com tica sobre questes que envolvem valores socioculturais.
2) Respeitar o princpio de flexibilidade do ensino;
3) Ampliar, fortalecer e especificar as matrias tcnico- laboratoriais, com objetivo de reforar as atividades de carter prtico, entendendo como tal no a prtica meramente imitativa, mas a prtica acompanhada da reflexo crtica sobre seu significado.
4) Recomendar aos cursos que organizem as atividades em torno de projetos, a fim de permitir a integrao curricular horizontal e vertical e de se evitar a fragmentao do ensino;
5) Recomendar o rompimento da tendncia diviso rgida entre matrias tericas e prticas;
6) Exigir que os cursos se equipem da maneira mais completa possvel;
7) incorporar ao currculo novas matrias decorrentes do desenvolvimento de novas reas dentro da Comunicao;
8) recomendar a articulao de uma relao orgnica entre ensino, pesquisa e extenso;
9) Fortalecer o ensino de Redao em Lngua Portuguesa com disciplina prtica de redao e expresso oral, visando a produo de textos. Sete perodos do Curso com 60 horas semestrais: os trs primeiros perodos com nfase na gramtica e estilstica, apoiada em textos com leitura obrigatria. Os quatro perodos posteriores com nfase na redao e expresso oral tcnica e especfica da habilitao, e professor com especializao na rea.
2.1. O fim do Currculo Mnimo
O que podemos ponderar, a partir da leitura dos Currculos Mnimos, de seu
teor e de sua sequncia histrica vital para a presente pesquisa, quando
analisamos os currculos das faculdades pesquisadas. Causa-nos certa estranheza
perceber que algo to srio, com implicaes e consequncias sociais to fortes,
tenha sido regulamentado por uma srie de pareceres apoiados em uma antiga Lei
de Diretrizes e Bases. O Ensino Superior se amparava em leis (e outros pareceres)
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dos ensinos mdio e fundamental36. As IES encontravam-se presas e tolhidas por
regime ditatorial que censurava empreitadas de pesquisa e que via o mal e a
poltica subversiva em trabalhos de pesquisadores e estudantes de todo tipo
(SILVA, 1979, p.40). Igualmente, o ensino propriamente dito passava por censura, o que agravava o atraso tecnolgico, cultural e social do Brasil. Exatamente por isso,
por necessitar de condies livres e amplas de trabalho e, por conter indivduos de
maior conscincia crtica e natureza ideolgica orientada para a democracia, a
Universidade representou grande polo de resistncia contra a ditadura, sofrendo
sanes de todo o tipo. pblica e tristemente notria a perseguio a lderes estudantis, professores e discentes de diversas IES. O ens