Ranicultura - trabalho

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 UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA ANIMAIS SILVESTRES RANICULTURA FERNANDO HENRIQUE PETRNONI Recife, 09/11/2011 Aspectos Gerais

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO

DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA

ANIMAIS SILVESTRES

RANICULTURA

FERNANDO HENRIQUE PETRNONI

Recife, 09/11/2011

Aspectos Gerais

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A rã criada comercialmente em cativeiro no Brasil é a rã-tourogigante (Rana catesbeiana). Este animal de origem norte-americana,introduzido em nosso país em 1935, foi escolhido pelos criadores devido assuas características zootécnicas, como: precocidade (crescimento rápido),prolificidade (alto número de ovos por postura) e rusticidade (facilidade de

manejo). Outras espécies de rãs (nativas do Brasil, como a rã-pimenta, rã-manteiga ou paulistinha) também podem ser criadas em cativeiro, porém,até o momento, comparativamente à rã-touro, apresentam menordesempenho produtivo e maiores dificuldades técnicas e burocráticas.

As rãs possuem características biológicas e fisiológicas bem distintasdos animais comumente criados. O seu ciclo de vida compreende uma faseexclusivamente aquática (onde recebem o nome de girinos) e outraterrestre (rã propriamente dita, porém com extrema dependência da água).

A área média recomendada para a implantação de um ranáriocomercialmente rentável varia entre 500 e 700m2. Com esse projeto, oranicultor pode atingir uma produção média anual de 2.000 kg de carne.Recomenda-se água de boa qualidade, preferencialmente de mina ou poço.O custo de implantação médio no Estado de São Paulo varia entre R$ 30,00e R$ 50,00/m2 de área construída. O custo de produção médio é deaproximadamente R$ 7,00/kg de carne, e o preço médio no atacado em SãoPaulo gira em torno de R$ 9,00 a R$13,00/kg de carne, segundo FERREIRA(2001).

Escolha do local

Como todas as criações para fins zootécnicos, a criação de rãs exigeuma a correspondências de alguns fatores para auxiliar no sucesso daprodução, fatores estes:

•  Topografia: É aconselhável o uso de um terreno plano para que adistribuição da água possa ser feita de maneira uniforme e, sepossível, uma inclinação de 5° para facilitar o escoamento da mesma.A área deve ter boa incidência solar e protegida de ventos fortes.

• Atividade sonora: Pela sensibilidade aos sons por parte das rãs, éimprescindível que o ranário permaneça longe de fontes emissoras debarulhos fortes, pois acometidas a estes, é possível que apresentemmudança no seu comportamento alimentar e reprodutivo.

• Água: Uma unidade mínima de produção (600 m²) consome 10 000litros de água por dia, esta água deve ser farta, doce e limpa com pHentre 6,5 e 7,2, contendo 5 a 10 mg de oxigênio por litro.Recomenda-se que a temperatura varie de 22ºC a 30ºC, pois águas

mais frias, 15ºC a 17ºC, retardam o processo de metamorfose queocorreria de 3 a 4 meses para 6 a 10 meses.

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• Determinantes Gerais: Outros aspectos também devem serobservados na escolha do local, alta umidade relativa do ar, baixaaltitude e distanciamento de poluentes do ar, como indústrias oupropriedades que apliquem defensores agrícolas, pois as rãs sãoextremamente sensíveis à qualidade do ar que as rodeia por isso são

classificadas como bioindicadoras naturais de poluição.

Processo Produtivo

Os ranários comerciais, em sua maioria, são constituídos por váriossetores tais como: Reprodução, Desenvolvimento Embrionário, Girinagem,Metamorfose e Engorda. O setor de Engorda representa cerca de 70% das

instalações em um ranário.

Para os setores de reprodução e engorda são necessárias áreas secascom cochos e abrigos e uma área com piscina. As outras fases sãoexclusivamente aquáticas.

 Todos os tanques são construídos em alvenaria com cobertura de telade náilon, geralmente sombrite 50%, e ficam sob estufas ou galpõesagrícolas. Dessa forma pode-se promover o aumento da temperaturaambiente, permitindo assim um desenvolvimento mais rápido dos animais.

Um esquema que representa de maneira sucinta o processo deprodução é o fluxograma abaixo.

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Reprodução

Nesta etapa contamos com duas áreas distintas, uma de Mantença eoutra e Acasalamento. As baias de Mantença são designadas para manteras rãs durante todo o ano, fazendo-se necessário a separação física entremachos e fêmeas. A densidade populacional deve ser de 10 indivíduos porm², como a o numero de casais recomendados em uma UMP é de 10, estaárea deverá ter 2 m². As Baias de Acasalamento tem a função de abrigar oscasais durante o processo homônimo, que ocorre em no máximo 5 dias. Afim de redução de custo, em uma UMP, pode-se reutilizar o tanque dosgirinos para o acasalamento, fazendo-se necessário uma manutenção deuma lâmina d’água de 20 a 30 cm de profundidade. Retornando

posteriormente os casais para suas respectivas baias de Mantença.Lembrado que a relação de machos por fêmeas é de 1:1 no máximo 1:2.

O período natural de reprodução desta espécie, para as condiçõesclimáticas do Estado de São Paulo, estende-se do início de setembro atémeados ou final de fevereiro. A quantidade de óvulos por postura varia deacordo com o peso e idade dos animais. Com cerca de um ano e peso de150 a 200 gramas, a rã-touro já está apta à reprodução, podendo produzirde 3000 a 5000 óvulos.

EclosãoApós o acasalamento as desovas são retiradas e colocadas nos

tanques de Girinos em um quadro de madeira flutuante de 50x50 cm com ofundo de tela de nylon de 2 mm (1 000 ovos por caixa), de maneira que, asdesovas, fiquem submersas e com boa aeração. Depois da eclosão, 10 dias,as larvas saem do quadro e começam a povoar os tanques nos primeirosdias não se deve fornecer alimentação, pois as larvas estarão sealimentando do saco vitelino. A alimentação só deve ser fornecida quandose notar uma movimentação mais ativa dos girinos.

Girinagem

Este setor possui quatro tanques, podendo ser de fibra de vidro oucaixas d’água ou tanques de alvenaria no chão ou tanques cavados forradosou não com lona, dois destes tanques com capacidade 10 000L destinado asfases G1 e G2 comportando até 5 000 indivíduos. Os outros dois tanquescom capacidade de 4 000L para as fases G3 e G4 comportando até 2 000indivíduos. Todos os tanques necessitam de um sistema de abastecimento edrenagem individual. As fases de desenvolvimento podem sercaracterizadas da seguinte forma:

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• G1- fase de crescimento onde ainda não se iniciou a metamorfose.Neste estádio, ocorre o desenvolvimento do pulmão, o que possibilitaao girino respirar quando vem á superfície.

• G2- Inicia-se a metamorfose: os membros se desenvolvem e já podem

ser observados como dois pequenos apêndices na parte posterior docorpo.

• G3- Desenvolvimentos dos membros, mas ainda não estãocompletamente formadas.

• G4- As quatro patas estão quase que totalmente formadas, além dodesenvolvimento dos olhos, boca e nádegas.

• G5- É o clímax da metamorfose. Nesta fase, as patas anterioresexteriorizam-se. A cauda vai sendo absorvida, gradativamente,

fornecendo energia para o animal. Após essa fase, o animal setransforma ficando semelhante ao animal adulto (imago).

Os tanques devem ser limpos semanalmente com a renovação totalda água, aproveita-se esta limpeza para a separação de 3 a 5% dosanimais para o calculo médio do peso, permitindo adequação dadisponibilidade de alimento. Neste mesmo momento faz-se a separaçãodos animais na fase G5.

A alimentação nesta fase é crucial para o desenvolvimento futuro dosanimais e, consequentemente, um ganho de peso e diminuição do tempode abate. A tabela abaixo permite uma noção básica do consumo dealimentos neste processo.

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A ração ofertada é do tipo farelada com 40 a 60% de proteína bruta,geralmente é utilizada ração de peixes carnívoros. A alimentação tem de serdisponibilizada 7 vezes ao dia.

Após a coleta, os G5 devem permanecer em tanques com aguapés

até que a cauda desapareça por completo, para então iniciar a fase deengorda.

Engorda

Nesta etapa os imagos permaneceram até atingir um peso médio de110gr. Este processo pode ser dividido em três etapas: inicial, crescimentoe terminação. A fase inicial se dá até a obtenção de peso médio de 30gr,nesta fase o animal consome até 10% da sua massa corporal justificado porsua alta taxa de crescimento. No crescimento, 30 a 80gr, as rãs crescemmuito, porém engordam menos, nesta etapa diminui-se o fornecimento de

alimento gradativamente até que se atinja uma taxa de 5% de relação entreconsumo de alimento e massa corporal. Na fase terminal as rãs, acima de80gr, engordam tanto quanto crescem. A estrutura para o processo deengorda deve ter em média 400m². A disponibilidade de ração e a ilustraçãoda estrutura para engorda podem ser observadas a seguir.

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Os abrigos possuem a finalidade principal de atender as necessidadesdo sono, além de servirem de abrigo na presença do homem. O cocho éonde se disponibiliza a alimentação diária para todas as rãs. A piscina é olocal coberto por água que serve para as necessidades de evacuação,regulação térmica e hidratação do corpo.

As rãs necessitam de uma alimentação dinâmica (não estática),

enquanto estão em cativeiro, e a solução mais comum e a inserção delarvas (20 a 30% em relação à ração) de mosca junto à ração, estas larvaspodem ser obtidas por compra ou produção de moscários, não éaconselhável colocar carcaças para atrair moscas e posterior captura desuas larvas por questões de higiene e profilaxia. A alimentação édisponibilizada diariamente, pela manhã após a limpeza das baias e trocada água. Se a sobra de alimento for menor ou igual a 200gr, a quantidadede ração pode ser igual à disponibilizada no dia anterior, caso ultrapasse as200gr recomenda-se diminuir 100gr do total.

A densidade nas baias das rãs é de 50/m², enquanto que dos imagosé de 100/m², o tempo de engorda varia de 90 a 120 dias quando atingem opeso de 180 a 200gr, quando estão prontas para o abate. Caso sejanecessário faz-se o vazio sanitário das baias com cloro ou água sanitária pordois ou três dias.

Abate

O abate e dividido em duas etapas: Inspeção e Seleção; Abate eProcessamento; Na primeira o animal é avaliado antes do abate para julgarseu tamanho e aspecto sanitário, posteriormente é aplicado o período de

 jejum, 36hr, para então encaminhar ao abate. Nesta etapa os animais sãolavados com água clorada corrente (20 a 30 ppm). O método de abate maisindicado para uma UMP é a insensibilização por choque térmico. Esteprocesso consiste em colocar as rãs em água clorada, com 10% deconcentração de sal, a 2°C. Desta maneira o animal o animal permanecerácalmo e insensibilizado pelo frio, oportunizando assim, a sangria, a retiradade pele, a eventração, inspeção pós-morte, evisceração e acondicionamentode carcaça. A pele e o fígado devem ser condicionados em sacos plásticopara o futuro processamento.

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Embalagem e Conservação

As peças podem ser embaladas em sacos plástico transparentes ou

bandejas de isopor, contudo necessita que a carne seja rapidamente levadaao congelador para manter a textura e sabor. Após isso devem sercondicionadas em ambientes de baixas temperatura com no máximo 20ºC.

Comercialização

O sucesso de qualquer produção está intimamente ligado àcomercialização de seus produtos, por isso é de suma importância que,antes de se iniciar a criação, tenha-se feito uma pesquisa com o mercadoreceptor levantando questões como, apreciação da carne; interesse doconsumidor final; relação entre custo de produção, valor de comercializaçãoe nível econômico do publico atingido na área de comercialização.

A ranicultura gera mais produtos do que simplesmente a carne,temos como exemplo a relação abaixo:

• fígado: usado na fabricação de patê, de delicioso sabor;

• intestino: utilizado como linha cirúrgica interna (catgut);

• pele curtida: usada na confecção de roupas e artesanato;

• pele in natura: atende à medicina humana na recuperação dequeimaduras;

• gordura visceral: fabricação de cremes para a indústria cosmética.

As patas, a cabeça e outras partes consideradas inaptas são descartadas.

Investimento

Em São Paulo, onde se produz grande parte das rãs do país, o custode investimento varia de 50 a 70 reais/m². Contudo podemos observar

abaixo a tabela com o custo de construção de um sistema anfigranja.

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Na próxima tabela observamos o orçamento do conjunto de obras

civis, máquinas, equipamentos, móveis e utensílios para duas UMPs.

Os índices financeiros do empreendimento estão dispostos na tabelaa seguir.

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  Todas as tabelas acima estão calculadas a situação econômicareferente ao ano de 1999.

Informações sobre a carne de rã

Podemos observar, na tabela a seguir, a comparação da composiçãoda carne de rã com as de outras culturas.

Condições da água para produção de rãs

A tabela trata de parâmetros a serem observados na água utilizadana criação do ranário.

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Anexos

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Segmentação da cadeia produtiva de rãs. Lima e Agostinho (1992)

Larvas de moscas utilizadas na alimentação.

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Aspectos da sexagem.

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