Raquel Folmer Corrêa - Repositório Institucional da UFSC
Transcript of Raquel Folmer Corrêa - Repositório Institucional da UFSC
Raquel Folmer Correcirca
TECNOLOGIAS SOCIAIS E EDUCACcedilAtildeO
POSSIBILIDADES E LIMITES DE TRANSFORMACcedilAtildeO DE
SENTIDOS
Tese submetida ao Programa de Poacutes-
Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e
Tecnoloacutegica da Universidade Federal de
Santa Catarina para a obtenccedilatildeo do Grau
de doutora em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e
Tecnoloacutegica
Orientador Prof Dr Irlan von Linsingen
Florianoacutepolis
2016
Dedico esta tese a educadoras e educadores
com interesse em tecnologias sociais
AGRADECIMENTOS
Agradeccedilo aos meus familiares ao Franco ao meu orientador Irlan
e agrave Suzani aos colegas amigas e amigos do DiCiTE da turma de
doutorado de 2012 da UNTL em Timor-Leste do IFRS de Caxias do
Sul aos meus alunos e alunas do IFRS e agrave Dona Eneida Muito obrigada
pelo apoio carinho e companheirismo
Esta tese contou com o auxiacutelio financeiro da Capes
Ser dialeacutetico significa ter o vento da histoacuteria nas
velas As velas satildeo os conceitos Poreacutem natildeo
basta dispor das velas O decisivo eacute a arte de
posicionaacute-las
Walter Benjamin (2009 p 515)
RESUMO
Nesta tese investigo de que maneira e em que medida o
desenvolvimento de uma perspectiva criacutetica sobre Tecnologias Sociais
(TS) pode colaborar para transformar sentidos deterministas sobre
tecnologia que satildeo debatidos entre juventudes do ensino meacutedio teacutecnico
As contribuiccedilotildees teoacutericas utilizadas satildeo os estudos latino-americanos
que relacionam Ciecircncia Tecnologia e Sociedade (CTS) em perspectiva
educacional e alguns de seus possiacuteveis interlocutores O objetivo
consiste em analisar possibilidades e limites para discutir TS e
transformar sentidos identificados com determinismo tecnoloacutegico em
Cursos Teacutecnicos Integrados ao Ensino Meacutedio (CTIEM) de modo a
promover mobilizaccedilatildeo para a autoria Os procedimentos metodoloacutegicos
adotados para atingir o objetivo proposto envolvem coleta e anaacutelise de
dados primaacuterios e secundaacuterios Os dados foram coletados durante todo o
ano de 2015 no Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do
Rio Grande do Sul (IFRS) da cidade de Caxias do Sul tanto em
documentos disponibilizados pela direccedilatildeo do IFRS quanto com
intervenccedilotildees junto a seus estudantes dos primeiros anos dos CTIEM A
anaacutelise dos dados envolveu a apreciaccedilatildeo quantitativa (elaboraccedilatildeo de
graacuteficos quadros e tabelas) que foi executada com o auxiacutelio do
programa Excel 2013 e qualitativa que se baseou na leitura criacutetica
descriccedilatildeo e anaacutelise soacutecio-histoacuterica de dados coletados Os resultados
indicam certa sensibilidade de estudantes para com a temaacutetica
socioteacutecnica proposta na transformaccedilatildeo de sentidos deterministas sobre
tecnologia sobretudo na disposiccedilatildeo para a realizaccedilatildeo de projetos
autorais Aleacutem disso os resultados apontam a necessidade de elaboraccedilatildeo
de projetos conjuntos entre estudantes docentes de diversas disciplinas e
a coletividade escolar para o desenvolvimento colaborativo de TS que
integrem diferentes conhecimentos Esta tese foi desenvolvida no grupo
Discursos da Ciecircncia e da Tecnologia na Educaccedilatildeo (DiCiTE) e contou
com o apoio financeiro da Capes
Palavras-chave Tecnologias sociais Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo CTS Ensino
meacutedio teacutecnico Autoria
ABSTRACT
In this thesis we investigate in what way and to what extent the
development of a critical perspective on Social Technologies (ST) can
collaborate to transform deterministic meanings of technology that are
discussed by students of the technical high school The theoretical
contributions used are Latin American studies relating Science
Technology and Society (STS) in educational perspective and some of
its possible interlocutors The main goal is to analyze the possibilities
and limits to discuss ST and transform identified senses with
technological determinism in Integrated Technical Courses to High
School (ITCHS) to promote mobilization for authorship The
methodological procedures adopted to achieve the proposed objective
involve collecting and analyzing primary and secondary data All data
were collected throughout the year 2015 at the Instituto Federal de
Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) from the
city of Caxias do Sul in both documents made available by the direction
of IFRS as with interventions with their students of the first years of
ITCHS Data analysis involved the quantitative assessment (preparation
of charts and tables) which was performed with the aid of Excel 2013
program and qualitative which was based on critical reading
description and sociohistorical analysis of the data collected The results
indicate certain sensitivity to students with the socio-technical subject
proposed in transforming deterministic way of technology particularly
in the arrangement for carrying out authorial projects Moreover the
results indicate the need for development of joint projects among
students teachers of various disciplines and the school community for
the collaborative development of ST integrating different
knowledge This thesis was developed in the group Discursos da Ciecircncia
e da Tecnologia na Educaccedilatildeo (DiCiTE) and received financial support
from Capes
Key-words Social Technologies Education STS education Technical
high school Authorship
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Arte sobre desenvolvimento tecnoloacutegico 39
Figura 2 - Gradaccedilotildees do determinismo tecnoloacutegico 42
Figura 3 - Uma leitura sobre as dimensotildees das TS 144
Figura 4 - Esquema sobre caracteriacutesticas das TS 145
Figura 5 - Siacutembolos e lema da cidade 166
Figura 6 - Construccedilatildeo social das tecnologias 193
Figura 7 - Determinismo tecnoloacutegico 01 194
Figura 8 - Determinismo tecnoloacutegico 02 194
Figura 9 - Autoria 196
Figura 10 - Dados sobre homofobia 198
Figura 11 - O problema do transporte de catildees 201
Figura 12 - Resiacuteduos e aacutereas de lazer 204
Figura 13 - Planta do centro de convivecircncia 205
Figura 14 - Proposta de melhorias 207
Figura 15 - Identidade visual do aplicativo 209
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Estrateacutegias para o ensino da Sociologia 92
Quadro 2 - Relaccedilotildees entre produccedilatildeo de conhecimentos e
emancipaccedilatildeo social
107
Quadro 3 - Caracterizaccedilotildees de tecnologia 118
Quadro 4 - Paralelo entre TC e TA 133
Quadro 5 - Dimensotildees examinadas na conceituaccedilatildeo de TS 137
Quadro 6 - Diferenccedilas entre TC e TS 138
Quadro 7 - Caracteriacutesticas de TS 138
Quadro 8 - Comparaccedilatildeo entre TA e AST 140
Quadro 9 - Discussotildees sobre desenvolvimento tecnoloacutegico 143
Quadro 10 - Descriccedilatildeo dos tipos de TS 148
Quadro 11 - Origem e ano de publicaccedilotildees 152
Quadro 12 - Principais temas em TS e ano de publicaccedilatildeo 153
Quadro 13 - Relaccedilatildeo de candidatosas por vagas 179
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 - Temas de TS desenvolvidas no Brasil 34
Graacutefico 2 - Necessidades especiais entre estudantes do IFRS 88
Graacutefico 3 - Coletividades 151
Graacutefico 4 - Populaccedilatildeo economicamente ativa e inativa 167
Graacutefico 5 - Escolaridade da populaccedilatildeo 169
Graacutefico 6 - Evoluccedilatildeo do IDHM em Caxias do Sul 170
Graacutefico 7 - Mobilidade ateacute o IFRS 172
Graacutefico 8 - Concentraccedilatildeo de estudantes por curso no ano de 2015 180
Graacutefico 9 - Idade dosas estudantes no ano de 2015 181
Graacutefico 10 - Autodeclaraccedilatildeo eacutetnico-racial entre estudantes do IFRS 185
Graacutefico 11 - Histoacuteria escolar entre estudantes do IFRS 185
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Distribuiccedilatildeo geral de alunosas por curso turno e sexo 87
Tabela 2 - Regiotildees e tipos de TS 149
Tabela 3 - Entidades que desenvolvem TS 150
Tabela 4 - Religiatildeo declarada 166
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo de alunosas por curso turno e sexo que
participaram da pesquisa
184
LISTA DE MAPAS E FOTOGRAFIAS
Mapa 1 - Cidade de Caxias do Sul ndash RS 164
Mapa 2 - Renda domiciliar meacutedia urbana 168
Mapa 3 - Bairro Nossa Senhora de Faacutetima 171
Fotografia 1 - Exemplo de resposta agrave pergunta inicial 190
Fotografia 2 - Cartaz elaborado pelo grupo 200
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABONG - Associaccedilatildeo Brasileira de Organizaccedilotildees Natildeo
Governamentais
AD - Anaacutelise de Discurso
AEL - Academia Estudantil de Letras
AST - Adequaccedilatildeo Socioteacutecnica
AULP - Associaccedilatildeo das Universidades de Liacutengua Portuguesa
BB - Banco do Brasil
BICT - Bacharelados Interdisciplinares em Ciecircncias e Tecnologia
BTS - Banco de Tecnologias Sociais
CAPES - Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel
Superior
CED - Centro de Ciecircncias da Educaccedilatildeo
CEFET - Centros Federais de Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica
CampT - Ciecircncia e Tecnologia
CFDH - Conselho Federal de Defesa dos Direitos Humanos
CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e
Tecnoloacutegico
COCTS - Cuestionario de Opiniones de Ciencia Tecnologiacutea y Sociedad
CS - Ciecircncias Sociais
CST - Construccedilatildeo Social da Tecnologia
CTFMIEM - Curso Teacutecnico em Fabricaccedilatildeo Mecacircnica Integrado
ao Ensino Meacutedio
CTIEM - Cursos Teacutecnicos Integrados ao Ensino Meacutedio
CTPIEM - Curso Teacutecnico em Plaacutesticos Integrado ao Ensino
Meacutedio
CTQIEM - Curso Teacutecnico em Quiacutemica Integrado ao Ensino
Meacutedio
CTS - Ciecircncia Tecnologia e Sociedade
CTSA - Ciecircncia Tecnologia Sociedade e Ambiente
DiCiTE - Discursos da Ciecircncia e da Tecnologia na Educaccedilatildeo
DIY - Do It Yourself
ECT - Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica
ECTS - Estudos Sociais da Ciecircncia e da Tecnologia
EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria
ENEM - Exame Nacional do Ensino Meacutedio
FBB - Fundaccedilatildeo Banco do Brasil
FEE - Fundaccedilatildeo de Economia e Estatiacutestica Siegfried Emanuel
Heuser
FGV - Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas
GEECITETL - Grupo de Estudos sobre Ensino de Ciecircncias e
Tecnologia na Formaccedilatildeo de Professores em Timor-Leste
GTrsquos - Grupos de Trabalho
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IDHM - Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal
IFFarroupilha - Instituto Federal Farroupilha
IFRS - Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do
Rio Grande do Sul
IFSul - Instituto Federal Sul-riograndense
Ipea - Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada
IPF - Instituto Paulo Freire
ITCP - Incubadora Tecnoloacutegica de Cooperativas Populares
ITS - Instituto de Tecnologia Social
LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional
MCT - Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia
MDS - Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome
MEC - Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
MI - Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional
OCEMSociologia - Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino
Meacutedio-Sociologia
ONGs - Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais
ONU - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
OSCIPs - Organizaccedilotildees da Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico
PCNrsquos - Paracircmetros Curriculares Nacionais
PCT - Poliacutetica de Ciecircncia e Tecnologia
PETROBRAS - Petroacuteleo Brasileiro SA
PLACTS - Pensamento Latino-americano sobre Ciecircncia
Tecnologia e Sociedade
PPCs - Projetos Pedagoacutegicos dos Cursos
PPGECT - Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica
e Tecnoloacutegica
PPI - Projeto Poliacutetico Institucional
PQLP - Programa de Qualificaccedilatildeo de Docente e Ensino de
Liacutengua Portuguesa
PROEJA - Programa Nacional de Integraccedilatildeo da Educaccedilatildeo
Profissional com a Educaccedilatildeo Baacutesica na Modalidade de Jovens e
Adultos
PUCSP - Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo
REDTISA - Red de Tecnologiacuteas para la Inclusioacuten Social
RS - Rio Grande do Sul
RTS - Rede de Tecnologia Social
SCOT - Social Construction of Technology
SECIS - Secretaria de Inclusatildeo Social
SENAI - Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial
SL - Software Livre
STS - Science and Technology Studies
TA - Tecnologia(s) Apropriada(s)
TAR - Teoria Ator-Rede
TC - Tecnologia(s) Convencional(ais)
TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TCT - Teoria Criacutetica da Tecnologia
TFM - Curso Teacutecnico em Fabricaccedilatildeo Mecacircnica
TIS - Tecnologias para a Inclusatildeo Social
TP - Curso Teacutecnico em Plaacutesticos
TQ - Curso Teacutecnico em Quiacutemica
TS - Tecnologia(s) Social(ais)
UENF - Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Ribeiro
UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina
UnB - Universidade de Brasiacutelia
UNEB - Universidade do Estado da Bahia
UNTL - Universidade Nacional Timor Lorosarsquoe
UTFPR - Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute
VOSTS - Views On Science-Techology-Society
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 33
QUESTOtildeES 46
OBJETIVOS 46
TESE 47
PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 47
RELEVAcircNCIA 49
TOacutePICOS 50
CAPIacuteTULO 1 PROCESSOS EDUCACIONAIS 53
11 SUJEITO 53
12 EDUCACcedilAtildeO 55
121 Paulo Freire e autonomia 57
122 Theodor Adorno e emancipaccedilatildeo social 61
123 Antonio Gramsci e a escola unitaacuteria 65
124 Karl Marx e a politecnia 67
13 ECT E EDUCACcedilAtildeO CTS 72
131 Estudos em Educaccedilatildeo CTS 77
14 JUVENTUDES 84
15 ENSINO DE SOCIOLOGIA NO ENSINO MEacuteDIO 89
16 AUTORIA 93
17 OUTRA EDUCACcedilAtildeO POSSIacuteVEL 102
CAPIacuteTULO 2 TECNOLOGIA E TECNOLOGIAS SOCIAIS 109
21 TECNOLOGIA 109
211 Dimensotildees de anaacutelise 109
212 Sentido geral 111
213 Teoria Criacutetica da Tecnologia 116
22 TECNOLOGIAS SOCIAIS 127
221 Origens contraposiccedilotildees e relaccedilotildees 127
222 Denominaccedilotildees e sentidos 135
223 Ponderaccedilotildees 145
224 TS tipos exemplos entidades e coletividades
relacionadas
148
225 Relaccedilotildees com processos educacionais 151
CAPIacuteTULO 3 ANAacuteLISES 161 31 CONTEXTO 163
311 A cidade 163
312 O bairro 171
313 Os Institutos Federais de Educaccedilatildeo Ciecircncia e
Tecnologia
174
314 O Cacircmpus do IFRS em Caxias do Sul 177
32 SENTIDOS SOBRE TECNOLOGIA 183
321 Anaacutelise da questatildeo inicial 186
322 Anaacutelise dos questionaacuterios 190 33 AUTORIA E TECNOLOGIAS SOCIAIS 192
331Campanha contra homofobia nas escolas 197
332 Transporte de catildees em coletivos 200
333 Aacuterea de convivecircncia reciclaacutevel 203
334 Inovaccedilotildees no site da escola 206
335 Aplicativo para estudos e lazer 208
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 213
REFEREcircNCIAS 219
APEcircNDICES 243
Apecircndice A - Termo de consentimento para coleta de dados -
Diretor Geral
243
Apecircndice B - Termo de consentimento para coleta de dados -
Diretor de Ensino
244
Apecircndice C - Termo de consentimento livre e esclarecido -
alunosas (modelo)
245
Apecircndice D - Questionaacuterio 246
Apecircndice E - Roteiro didaacutetico 253
Apecircndice F - Texto base das aulas 259
ANEXOS 263
Anexo A - Registro das aulas sobre tecnologia no sistema de
controle acadecircmico do IFRS
263
Anexo B - Exemplo de plano de ensino dos CTIEM examinados 264
Anexo C - Representaccedilatildeo graacutefica do perfil de formaccedilatildeo
disponiacutevel nos Projetos Pedagoacutegicos dos Cursos (PPCs)
268
33
INTRODUCcedilAtildeO
O pensador da epiacutegrafe Walter Benjamim (1892-1940)
anunciava no seacuteculo passado o que muitos outros pensadores e
pensadoras tambeacutem reconheciam e que acredito ser ainda atual a
importacircncia de nosso posicionamento como sujeitos histoacutericos e em
busca de autonomia e emancipaccedilatildeo social Essa posiccedilatildeo pode ilustrar a
intenccedilatildeo geral que unifica os diferentes momentos que foram
necessaacuterios para a realizaccedilatildeo desta tese Desde a pesquisa de mestrado
com novos entendimentos sobre tecnologias passando pela percepccedilatildeo
da importacircncia da problematizaccedilatildeo da educaccedilatildeo em processos de
emancipaccedilatildeo social ateacute uma tentativa de articulaccedilatildeo de debates sobre
educaccedilatildeo e tecnologia
No mestrado ao pesquisar sobre Tecnologias Sociais (TS)1
percebi que muitas iniciativas de desenvolvimento eram voltadas a
temas educacionais Meu levantamento de dados no Banco de
Tecnologias Sociais (BTS) da Fundaccedilatildeo Banco do Brasil (FBB)
mostrou que entre 2001 e 2008 35 do total de TS desenvolvidas no
Brasil (e cadastradas no BTS) estavam voltadas a problemas nos temas
ligados agrave educaccedilatildeo (CORREA 2010 2013b) O graacutefico 1 abaixo
ilustra como as tecnologias que examinei estavam direcionadas a
solucionar questotildees relativas a diferentes temaacuteticas
1 Sendo aluna evadida da Engenharia Quiacutemica minha primeira graduaccedilatildeo
busquei atividades de pesquisa sobre tecnologias no curso de Ciecircncias Sociais
Ali sob orientaccedilatildeo da profordf Dra Maiacutera Baumgarten verifiquei que linhas de
pesquisas que inter-relacionavam tecnologias e problemas sociais poderiam
resgatar alguns de meus interesses de estudos originais
34
Graacutefico 1 - Temas de TS desenvolvidas no Brasil
Fonte (CORREcircA 2010 2013b)
Portanto no graacutefico 1 acima eacute possiacutevel verificar o predomiacutenio de
tecnologias voltadas a problemas nos temas ligados agrave educaccedilatildeo como
destaquei anteriormente Foram 157 casos desse tipo de um total de 447
tecnologias examinadas Esse nuacutemero expressivo levou-me a buscar
subsiacutedios teoacutericos para analisar sentidos2 sobre tecnologia em processos
educacionais (entendidos aqui em sentido amplo como relaccedilotildees entre
sujeitos que envolvem ensino e aprendizagem)
Encontrei-os de fato no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em
Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica (PPGECT) da Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC) nas discussotildees propiciadas nas disciplinas e
seminaacuterios do doutorado e sobretudo no grupo de estudos a que me
filiei o DiCiTE (Discursos da Ciecircncia e da Tecnologia na Educaccedilatildeo)
Nesses ambientes pude examinar de modo mais especiacutefico e
aprofundado implicaccedilotildees sociais da tecnologia na educaccedilatildeo
Busquei identificar dentro dos Estudos Sociais da Ciecircncia e da
Tecnologia (ECTS) em especial dos ECTS latino-americanos correntes
teoacutericas que considero as mais apropriadas ao estudo de TS na educaccedilatildeo
no Brasil Aleacutem disso na medida do possiacutevel tentei relacionar
autoresas que podem ser considerados como pertencentes a outras
2 Sentidos satildeo aqui entendidos como uma construccedilatildeo histoacuterica permeada por
valores criados e transformados por sujeitos em determinadas situaccedilotildees O
sentido permite espaccedilos para a autoria
35
correntes teoacutericas com meu proacuteprio olhar (de mulher latino-americana)
sobre o problema estudado
Minha primeira intenccedilatildeo foi investigar a formaccedilatildeo docente inicial
em Ciecircncias Sociais (CS) na Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS) para examinar sentidos sobre tecnologia que por ali
circulavam (eram debatidos) ou que atravessavam (sem ser
necessariamente discutidos) aquele contexto Eu havia passado por tal
formaccedilatildeo haacute pouco tempo e muitas questotildees em relaccedilatildeo agrave tecnologia me
deixavam inquieta naquele periacuteodo Na aproximaccedilatildeo com as leituras
propostas no acircmbito da Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica (ECT)
busquei portanto literaturas sobre formaccedilatildeo docente inicial e sobre o
ensino de Sociologia no Brasil de modo a articulaacute-las com os ECTS
Durante essa construccedilatildeo do problema de pesquisa para a tese tive
a oportunidade de fazer parte do Programa Proacute-Mobilidade
Internacional da Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel
Superior (Capes) com a Associaccedilatildeo das Universidades de Liacutengua
Portuguesa (AULP) na cooperaccedilatildeo entre Brasil e Timor-Leste Fiquei
dois meses do ano de 2014 em Timor-Leste sob orientaccedilatildeo do prof Dr
Gaspar Varela e participei sobretudo da articulaccedilatildeo de estudos e
pesquisas com docentes e discentes da Universidade Nacional Timor
Lorosarsquoe (UNTL)
Essa articulaccedilatildeo foi mediada pelo Grupo de Estudos sobre Ensino
de Ciecircncias e Tecnologia na Formaccedilatildeo de Professores em Timor-Leste
(GEECITE-TL) co-coordenado por professoresas timorenses e pela
profordf brasileira Faacutetima Suely Ribeiro Cunha colega do doutorado do
PPGECT da UFSC Aleacutem disso acompanhei os trabalhos de colegas
cooperantes em Timor-Leste no projeto Programa de Qualificaccedilatildeo de
Docente e Ensino de Liacutengua Portuguesa (PQLP) gerido pelo Ministeacuterio
da Educaccedilatildeo (MEC) brasileiro e pela Capes e co-coordenado no Brasil
pela profordf Dra Patricia Montanari Giraldi do Centro de Ciecircncias da
Educaccedilatildeo (CED) da UFSC
Saiacute do Brasil com a intenccedilatildeo de investigar aspectos gerais da
formaccedilatildeo docente em Timor-Leste de modo a levantar novas questotildees
para a minha pesquisa de tese Com isso participei da concepccedilatildeo e
realizaccedilatildeo da oficina ldquoOs alquimistas estatildeo chegandordquo como parte do
projeto de pesquisa ldquoOs alquimistas estatildeo chegando sentidos sobre
conhecimentos na cooperaccedilatildeo entre professores do Brasil e Timor-
Lesterdquo desenvolvido em conjunto com a profordf Dra Mariana Brasil
Ramos do CED da UFSC e tambeacutem participante do Projeto Proacute-
Mobilidade naquele momento
Contudo dos relatos de colegas com mais experiecircncia em Timor-
36
Leste e de minha aproximaccedilatildeo com o prof Estanislau Alves Correia
docente da UNTL verifiquei que existiam demandas para refletirmos
sobre possibilidades e limites nas articulaccedilotildees entre a produccedilatildeo de
conhecimentos tradicionais e a produccedilatildeo cientiacutefica atual sobretudo em
relaccedilatildeo agrave ECT Com isso colaborei com a organizaccedilatildeo e participei da
mesa-redonda ldquoTecnologias Sociais e Produccedilatildeo de Conhecimentosrdquo
promovida pelo GEECITE-TL na UNTL com a comunicaccedilatildeo
ldquoTecnologias Sociais elementos para debates em perspectiva
educacionalrdquo
As discussotildees com docentes e discentes da UNTL que resultaram
dessa mesa-redonda levaram-me a refletir sobre as possibilidades de
explorar a questatildeo da autoria ao articular TS e educaccedilatildeo Nesse sentido
busquei possibilidades de relacionar uma perspectiva criacutetica de TS com
a questatildeo da autoria em ambientes educacionais Pois acredito que
sujeitos que fazem parte de processos educacionais em um contexto de
construccedilatildeo de autoria podem ter possibilidades de ler e interpretar
criativa e criticamente a realidade social3 na qual estatildeo inseridos
A partir dessas possibilidades os sujeitos poderiam estar
mobilizados a mostrarem suas visotildees sentidos e experiecircncias acerca dos
problemas socioteacutecnicos4 vivenciados Esses uacuteltimos aqui entendidos a
partir da percepccedilatildeo de que a tecnologia natildeo eacute o produto de uma uacutenica
racionalidade teacutecnica mas a combinaccedilatildeo de fatores teacutecnicos e sociais na
qual eacute possiacutevel tanto perceber significaccedilotildees sociais atribuiacutedas a artefatos
quanto considerar a importacircncia do contexto social nas direccedilotildees e
influecircncias do desenvolvimento tecnoloacutegico
3 Uso o termo sem qualquer pretensatildeo explicativa filosoacutefica Sem deixar de
compreender a complexidade das discussotildees filosoacuteficas e socioloacutegicas sobre a
categoria ldquorealidaderdquo o que interessa aqui eacute destacar algo que reconhecemos ter
existecircncia independente de noacutes Por realidade social podemos compreender
relaccedilotildees estabelecidas entre sujeitos e entre sujeitos e aquilo que os rodeia 4 Utilizo o termo ldquosocioteacutecnicordquo como uma abordagem que possibilite anaacutelises
integradas de fatores teacutecnicos e sociais a fim de superar determinismos
tecnoloacutegicos e sociais As perspectivas dos sistemas tecnoloacutegicos de Hughes
dos conjuntos socioteacutecnicos de Pinch e Bijker das mediaccedilotildees socioteacutecnicas da
Teoria Ator-Rede (TAR) de Latour e Callon e da construccedilatildeo social da
tecnologia e da Adequaccedilatildeo Socioteacutecnica (AST) de Dagnino e Thomas no
contexto latinoamericano satildeo certamente influecircncias teoacutericas Contudo natildeo eacute o
caso de eu estar estritamente filiada a qualquer uma dessas perspectavias
Socioteacutecnico aqui significa que a sociedade eacute tatildeo tecnologicamente construiacuteda
quanto as tecnologias satildeo socialmente desenvolvidas
37
Na volta para o Brasil busquei aprofundar a questatildeo da autoria e
relacionaacute-la com a formaccedilatildeo docente inicial em CS Entretanto tive
dificuldades para realizar a pesquisa no campo selecionado (UFRGS)
Meu contexto no momento levou-me a considerar novos sujeitos de
pesquisa de modo que os encontrei entre estudantes do ensino meacutedio
teacutecnico O fato de eu passar a atuar no Instituto Federal de Educaccedilatildeo
Ciecircncia e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) Cacircmpus Caxias do
Sul como docente temporaacuteria da disciplina de Sociologia nas turmas de
Cursos Teacutecnicos Integrados ao Ensino Meacutedio (CTIEM) naquele
momento com uma grande imersatildeo no contexto escolar local aliada agraves
dificuldades encontradas na coleta de dados junto agrave UFRGS levaram-
me a reavaliar se meu referencial teoacuterico permitiria relacionar
juventudes ensino de Sociologia no ensino meacutedio sentidos sobre
tecnologia e TS
Verifiquei que algumas abordagens dentro dos ECTS latino-
americanos principalmente em perspectiva educacional poderiam
contribuir para o entendimento de tais inter-relaccedilotildees E nesse espaccedilo
percebi que eu tambeacutem poderia trazer contribuiccedilotildees com minha
pesquisa Portanto nesta tese trato de dois grandes temas educaccedilatildeo e
tecnologia com vistas a indicar uma possibilidade de abordagem sobre
TS no ensino meacutedio
A intenccedilatildeo de enfocar TS no ensino meacutedio surgiu sobretudo da
identificaccedilatildeo jaacute antiga de percepccedilotildees restritas sobre tecnologia muito
presentes no imaginaacuterio social de modo geral e em contextos
educacionais especificamente Uma dessas percepccedilotildees5 eacute o sentido
determinista sobre tecnologia que examino tendo em vista sua
problematizaccedilatildeo a partir dos princiacutepios socioloacutegicos do estranhamento e
da desnaturalizaccedilatildeo Com isso considero possibilidades de
transformaccedilatildeo desse sentido
A ideia de determinismo tecnoloacutegico comumente aparece ao
tratarmos das relaccedilotildees entre tecnologia e sociedade6 Essa percepccedilatildeo natildeo
eacute algo novo De acordo com Chaacutevarro (2004) e Smith e Marx (1994) na
modernidade desde o estabelecimento de um imaginaacuterio sobre o
5 Percepccedilatildeo que natildeo eacute apenas minha mas de boa parte de pesquisadores sobre
ciecircncia e tecnologia como atesta por exemplo o estudo de Wyatt (2008) que eacute
examinado adiante 6 Para um levantamento bibliograacutefico histoacuterico e conceitual sobre determinismo
tecnoloacutegico do ponto de vista dos ECTS latino-americanos verificar
DAGNINO R Neutralidade da ciecircncia e determinismo tecnoloacutegico
Campinas Unicamp 2008
38
progresso a tecnologia apareceria como sua principal causa De modo
que teriacuteamos herdado do Iluminismo a ideia de que a ciecircncia seria uma
forccedila libertadora e que investir em tecnologia levaria ao maior
desenvolvimento produtivo e consequentemente ao bem-estar (SMITH
MARX1994)
No artigo ldquoDeterminismo Tecnoloacutegico na Cultura Americanardquo
(Technological Determinism in American Culture) (SMITH 1994) o
autor procura mostrar como obras de arte e anuacutencios publicitaacuterios
contribuiacuteram para o surgimento da crenccedila generalizada na tecnologia
como a forccedila motriz do desenvolvimento social A figura 1 abaixo7 faz
parte dessa anaacutelise Nela o autor destaca uma mulher que representaria
a deusa da liberdade (um velho siacutembolo republicano agora identificado
com o progresso) que flutua em direccedilatildeo ao ocidente (civilizaccedilatildeo) e
carrega consigo um livro escolar (educaccedilatildeo) e os fios do teleacutegrafo
(tecnologia de comunicaccedilatildeo) De acordo com Smith (1994 p10) ldquoa
pintura transmite claramente a atitude da cultura dominante para com a
natureza os nativos americanos e mais geralmente a mudanccedila linear e
melhoria atraveacutes da ciecircncia e da tecnologiardquo8
7 Pintura do ano de 1872 do tipo oacuteleo sobre tela de John Gast chamada
Westward-ho ou American Progress 8 ldquoThe painting clearly conveys the dominant cultures attitude toward nature
Native Americans and more generally linear change and improvement
through science and technologyrdquo Traduccedilatildeo livre da autora
39
Figura 1 - Arte sobre desenvolvimento tecnoloacutegico
Fonte (SMITH 1994 p 12)
Portanto como destaca Huguet (2003) o seacuteculo XX herdou uma
proposta ideoloacutegica e social que legitimava o crescimento tecnoloacutegico
como sinocircnimo de desenvolvimento e incorporava dimensotildees de
grandiosidade e aceleraccedilatildeo ainda imprevistas ateacute aquele momento
(CORREcircA 2010 2013a) Para aleacutem dessa questatildeo estritamente
econocircmica Huguet (2003) tambeacutem destaca o caraacuteter eacutetico que estaria
relacionado agrave ideia de determinismo Pois faria parte dessa ideia um
efeito libertador aos chamados paiacuteses do Norte9 (centrais colonialistas
9 Refiro-me ao Norte e Sul geograacutefico metafoacuterico e epistecircmico das anaacutelises de
Santos e Meneses (2010) Meneses (2014) e Santos (2007) que contestam a
hegemonia dos saberes e valores ocidentais (de domiacutenio colonialista
imperialista e capitalista) sobre as resistecircncias do Sul e investigam
possibilidades de uma ecologia dos saberes baseada em diaacutelogos horizontais
que reconheccedila conhecimentos plurais (epistemologias do Sul) Eacute importante
compreendermos que como destaca Meneses (2014) ldquoo Sul epistecircmico coincide
parcialmente com o Sul geograacutefico O Sul global refere-se agraves regiotildees do mundo
que foram submetidas ao colonialismo europeu e que natildeo atingiram niacuteveis de
desenvolvimento econocircmico semelhantes ao do Norte global (Europa e Ameacuterica
40
ldquodesenvolvidosrdquo) frente a sua responsabilidade moral histoacuterica sobre os
males causados aos chamados paiacuteses do Sul (periferia colonizados ldquoem
desenvolvimentordquo) (HUGUET 2003)
Podemos perceber portanto que o entendimento da ideia de
determinismo tecnoloacutegico na contemporaneidade tambeacutem pode facilitar
a compreensatildeo das formas com que paiacuteses do Norte e do Sul se
relacionam atualmente Haacute um discurso legitimador e salvacionista
daqueles sobre o Sul ldquomiseraacutevel e atrasadordquo (HUGUET 2003) E isso eacute
importante para pensarmos o contexto educacional brasileiro sobretudo
ao discutirmos sobre emancipaccedilatildeo social autonomia e autoria
Assim tais relaccedilotildees entre Norte e Sul parecem-me relevantes
para o exame de processos educacionais no Brasil Contudo eacute
importante aleacutem desse breve histoacuterico sobre o determinismo
tecnoloacutegico apresentar inicialmente uma compreensatildeo geral das
definiccedilotildees que envolvem essa questatildeo O filoacutesofo norte-americano
Andrew Feenberg (1991) apresenta uma abordagem interessante ao
esclarecer que atraveacutes da concepccedilatildeo de determinismo tecnoloacutegico tenta-
se explicar fenocircmenos sociais e histoacutericos de acordo com um fator
principal que no caso seria a tecnologia
Para Feenberg (1991) determinismo tecnoloacutegico significa que
existiria a possibilidade de o destino da sociedade ser ao menos de
modo parcial dependente de um fator considerado natildeo-social que o
influenciaria sem no entanto sofrer uma influecircncia reciacuteproca Assim o
determinismo estaria baseado na suposiccedilatildeo de que as tecnologias tecircm
uma loacutegica funcional autocircnoma que poderia ser explicada sem se fazer
referecircncia agrave sociedade Nesse sentido o autor trata ainda do chamado
coacutedigo teacutecnico10 que significa que certos produtos possuem um design
(projeto) que encerra em si todo o contexto de suas concepccedilotildees e estatildeo
do Norte) A sobreposiccedilatildeo natildeo eacute total porque por um lado no interior do Norte
geograacutefico vastos grupos sociais estiveram e estatildeo sujeitos agrave dominaccedilatildeo
capitalista e colonial e por outro lado porque no interior do Sul geograacutefico
houve sempre as lsquopequenas Europasrsquo pequenas elites locais que se beneficiaram
da dominaccedilatildeo capitalista e colonial e que depois das independecircncias a
exerceram e continuam a exercecirc-la por suas proacuteprias matildeos contra as classes e
grupos sociais subordinadosrdquo (MENESES 2014 p 92) 10 Feenberg explica que o coacutedigo teacutecnico se refere a uma traduccedilatildeo entre uma
demanda puacuteblica e uma especificaccedilatildeo teacutecnica ldquoEu desenvolvi o conceito de
lsquocoacutedigo teacutecnicorsquo para falar desse processo de traduccedilatildeo Ele eacute o modelo do
conteuacutedo veiculado de um lado no discurso dos movimentos sociais e de
outro nas especificaccedilotildees teacutecnicasrdquo (MARICONDA MOLINA 2009 p 168)
41
ligados a determinadas estrateacutegias Estas representariam interesses
correspondentes a instacircncias especiacuteficas do tipo de sociedade Por
exemplo no capitalismo as grandes corporaccedilotildees (FEENBERG 2002
2012)
De acordo com Castro (2009) tais interesses especiacuteficos tambeacutem
se relacionam ao consumismo tecnoloacutegico Um projeto de um
smartphone por exemplo jaacute prevecirc quando ele sairaacute de linha e carrega
consigo uma estrateacutegia de obsolescecircncia programada Tal projeto
incorpora uma estrateacutegia de consumo que se baseia na novidade Com
isso o consumidor entende que a aquisiccedilatildeo de novos produtos
tecnoloacutegicos significa um progresso e acredita que estaacute ldquoevoluindordquo e
que tem um produto melhor de uacuteltima tecnologia mesmo que o produto
antigo tivesse a mesma qualidade (CASTRO 2009) E essa eacute uma
constataccedilatildeo importante para o debate sobre determinismo tecnoloacutegico
em processos educacionais que envolvem as juventudes e suas praacuteticas
de consumo por exemplo
Em termos de definiccedilotildees Chandler (1995) destaca assim como
fez Feenberg (1991) que na perspectiva determinista o desenvolvimento
tecnoloacutegico seria o principal condicionante da mudanccedila e das estruturas
sociais Chandler (1995) aponta que na concepccedilatildeo determinista da
tecnologia as relaccedilotildees entre tecnologia e sociedade podem ser
consideradas segundo as categorias de autonomia condicionamento e
unidirecionalidade A tecnologia seria desenvolvida de modo autocircnomo
e independente seria o grande condicionante do desenvolvimento da
sociedade e a relaccedilatildeo entre tecnologia e sociedade ocorreria de modo
unidirecional daquela agindo sobre esta
Assim a fonte primordial das mudanccedilas sociais se caracterizaria
pelo desenvolvimento de tecnologias Resistecircncias e intervenccedilotildees
sociais poliacuteticas institucionais e culturais postas aos processos de
desenvolvimento de tecnologias teriam pouco ou nenhum efeito pois as
tecnologias afetariam inexoravelmente todos os acircmbitos sociais
(CHANDLER 1995 WYATT 2008)
Nesse mesmo sentido Bimber (1994) destaca que existem duas
condiccedilotildees que devem ser preenchidas para que possamos considerar o
determinismo tecnoloacutegico A primeira delas eacute a de que a mudanccedila social
tenha como causa fenocircmenos ou leis anteriores e a segunda condiccedilatildeo eacute a
de que tais leis dependam de caracteriacutesticas da tecnologia de modo que
os sujeitos natildeo exerccedilam accedilatildeo em relaccedilatildeo agraves mudanccedilas Ao considerar
essas condiccedilotildees o autor destaca trecircs possiacuteveis interpretaccedilotildees do
determinismo tecnoloacutegico e quais delas poderiam satisfazer essas
condiccedilotildees quais sejam a normativa a nomoloacutegica e a de consequecircncias
42
imprevistas
Na primeira a causa da mudanccedila estaria nas praacuteticas sociais e nas
crenccedilas dos sujeitos enquanto na segunda a sociedade se desenvolveria
de maneira fixa e determinada independente da resistecircncia dos sujeitos e
a terceira apontaria a possibilidade de efeitos sociais involuntaacuterios e
indeterminados Para Bimber (1994) a segunda interpretaccedilatildeo
nomoloacutegica eacute a uacutenica que satisfaz as duas condiccedilotildees e portanto eacute a que
infere a condiccedilatildeo de determinismo tecnoloacutegico (CORREcircA 2010)
Para aleacutem de possiacuteveis caracterizaccedilotildees do determinismo
tecnoloacutegico eacute importante destacar que a ideia de determinismo pode
assumir diversos significados Smith e Marx (1994) trazem a ideia de
uma imagem gradativa na qual poderiacuteamos visualizar dois extremos
opostos que representariam cada um um grau de determinismo Um
extremo seria chamado de hard (determinismo forte) e o outro soft (determinismo fraco) Nessa imagem o lado hard atribuiria agrave tecnologia
o poder de promover mudanccedilas sociais de modo inevitaacutevel e necessaacuterio
enquanto o extremo soft ainda consideraria aspectos sociais
econocircmicos poliacuteticos e culturais nessas mudanccedilas Tal como na figura 2
abaixo
Figura 2 - Gradaccedilotildees do determinismo tecnoloacutegico
Fonte Elaboraccedilatildeo da autora
Portanto para esses autores o determinismo tecnoloacutegico pode
significar tanto que a tecnologia ou seus atributos intriacutensecos tem o
poder de efetuar mudanccedilas quanto existiria uma matriz mais diversa e
complexa do ponto de vista social econocircmico poliacutetico e cultural
(SMITH MARX 1994)
Ainda em relaccedilatildeo aos significados Chaacutevarro (2004) lembra que
a ideia determinista sobre a tecnologia estaacute presente tanto em discursos
otimistas (tecnoacutefilos) do progresso como mostrado anteriormente
quanto em discursos pessimistas (tecnofoacutebicos) daquele Para uma visatildeo
tecnoacutefila a soluccedilatildeo dos problemas implicaria em pensaacute-los
tecnologicamente com um apoio irrestrito agraves promessas e feitos da
tecnologia muitas vezes sem grande olhar criacutetico sobre os seus usos
(FURTADO 2009) E esse apoio exigiria liberdade para que natildeo
43
houvesse controle externo sobre o desenvolvimento da investigaccedilatildeo
tecnoloacutegica pois assim se garantiria o bem-estar humano Controle
aqui significaria restriccedilatildeo da liberdade que levaria ao atraso econocircmico
e ateacute cultural
A visatildeo tecnofoacutebica compreenderia no entanto essa falta de
controle como o iniacutecio do caminho para um desastre OA tecnofoacutebicoa
criticaria e chegaria ateacute a rejeitar o desenvolvimento tecnoloacutegico que
elea veria como fonte de diversos problemas sociais (FURTADO
2009) Contudo eacute importante destacar que natildeo entendo a visatildeo
tecnofoacutebica como uma afiliaccedilatildeo contemporacircnea ao ludismo11 como
poderia ser suposto
Essa breve indicaccedilatildeo de pontos que considero importantes no
debate sobre determinismo tecnoloacutegico inclui tambeacutem uma perspectiva
que considera o porquecirc da forte influecircncia dessa ideia determinista em
noacutes Wyatt (2008) esclarece que ldquoinclusive nossos haacutebitos linguiacutesticos
persistem em nomear eacutepocas histoacutericas e sociedades inteiras por seus
artefatos tecnoloacutegicos dominantesrdquo12 (WYATT 2008 p 168) e que isso
pode ser testemunhado desde em museus ateacute nos meios de
comunicaccedilatildeo13 Desse modo assim como Wyatt (2008) questiono por
que a ideia de determinismo permanece
Contudo uma posiccedilatildeo extremamente oposta do tipo de
determinismo social que consideraria que o desenvolvimento
tecnoloacutegico depende intensamente de nosso livre arbiacutetrio para tomarmos
decisotildees de acordo com nossas preferecircncias valorativas poderia estar a
subestimar a forccedila com que as tecnologias influem culturalmente
Nesses extremos de determinismos podemos natildeo perceber que entre
11 Natildeo compreendo o movimento ludista (Europa seacutec XIX) como
simplesmente a quebra de maacutequinas em represaacutelia a inovaccedilotildees tecnoloacutegicas
Assim como Hobsbawm (2000) entendo que no ludismo natildeo havia uma
hostilidade especial contra as maacutequinas os trabalhadores natildeo estavam
preocupados com o progresso teacutecnico abstratamente mas com o desemprego e
em manter um padratildeo de vida digno (idem) 12 ldquoYet the linguistic habit persists of naming whole historical epochs and
societies by their dominant technological artefactsrdquo (WYATT 2008 p 168)
Traduccedilatildeo livre da autora 13 A autora cita o exemplo de uma seacuterie de cinco palestras apresentadas no ano
de 2005 na rede de raacutedio inglesa BBC que se chamava ldquoThe triumph of
technologyrdquo (O triunfo da tecnologia) com uma palestra cujo nome era
ldquoTechnology will determine the future of the human racerdquo (A tecnologia iraacute
determinar o futuro da raccedila humana) (WYATT 2008)
44
tecnologias e valores ocorrem interaccedilotildees muacutetuas e complexas e natildeo
apenas uma influecircncia com direccedilatildeo uacutenica (CORREcircA 2010)
Sob as condiccedilotildees capitalistas atuais por exemplo parece difiacutecil
refutar a ideia de que a adoccedilatildeo de certas tecnologias exerce influecircncia
forte na sociedade Mas eacute importante considerarmos que vivemos em
uma sociedade com um niacutevel de interaccedilatildeo com outros fatores que natildeo
apenas tecnoloacutegicos Portanto parece-me difiacutecil justificar uma
insistecircncia na tecnologia como o elemento fundamental das
transformaccedilotildees sociais assim como outra determinaccedilatildeo (como a
econocircmica por exemplo) Fatores poliacuteticos econocircmicos religiosos
culturais assim como a opiniatildeo puacuteblica e os processos educacionais
comumente aparecem como inter-relacionados a tecnologias (CORREcircA
2010)
Embora natildeo seja a referecircncia teoacuterica desta tese cito aqui a
perspectiva da Construccedilatildeo Social da Tecnologia (CST)14 que contraacuteria
ao determinismo forte (hard) considera a forccedila da dimensatildeo
sociocultural nas mudanccedilas teacutecnicas Os autores Pinch e Bijker (2008)
desenvolvem estudos nos quais mostram como a tecnologia eacute uma
construccedilatildeo social Um exemplo eacute sua investigaccedilatildeo sobre o
desenvolvimento da bicicleta cujo desenho final dependeu das praacuteticas
de uso de seus possiacuteveis consumidores Nesse sentido Bijker (2008)
desenvolve o conceito de marco tecnoloacutegico que se apoia nos
significados que os sujeitos conferem a uma tecnologia e na gramaacutetica
que se desenvolve ao redor desses para explicar como a sociedade
interfere no desenho de uma tecnologia15 (PINCH BIJKER 2008)
Filiados ou natildeo agrave perspectiva da CST podemos como faz
Dieacuteguez (2005) problematizar posicionamentos deterministas sobre
tecnologia Um passo para isso seria compreendermos que muitas
inovaccedilotildees tecnoloacutegicas natildeo satildeo desenvolvidas que muitos aspectos
econocircmicos influenciam na adaptaccedilatildeo de tecnologias e finalmente que
existem tecnologias mais ldquoelaacutesticasrdquo que podem ter uma exploraccedilatildeo
mais diversificada Algo que Wyatt (2008)16 tambeacutem examina ao fazer 14 Do inglecircs Social Construction of Technology tambeacutem conhecida
como SCOT 15 O que procura demonstrar que a mediaccedilatildeo dos sujeitos seria central nos
processos de desenvolvimento tecnoloacutegico Os autores esclarecem que a
tecnologia comportaria algo como uma ldquoflexibilidade interpretativardquo pois ela
poderia ser compreendida de diversos modos por diferentes grupos de
usuaacuteriosas 16 Destaco que Wyatt (2008) faz uma anaacutelise dos STS sofisticada que inclui
uma categorizaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do princiacutepio de simetria por autores como
45
um levantamento de como os chamados Estudos da Ciecircncia e
Tecnologia (STS na sigla em inglecircs para Science and Technology
Studies) vecircm analisando a questatildeo pelo menos nos uacuteltimos 25 anos
De acordo com a autora para a maioria dos analistas dos STS o
determinismo tecnoloacutegico natildeo eacute um modelo adequado mas como eacute uma
crenccedila comum entre os sujeitos natildeo eacute possiacutevel rejeitaacute-lo Ela ainda
reforccedila que essa crenccedila no determinismo permanece pois ele encerra
caracteriacutesticas como simplicidade conformidade com as experiecircncias
dos sujeitos entendimento de que as tecnologias satildeo coisas misteriosas
de origem desconhecida de modo que facilmente nos adaptamos a ideia
ou como a autora chama modelo de determinismo (WYATT 2008)
Mesmo que se possa aceitar diferentes graus e significados sobre
o determinismo procurei demarcar caracteriacutesticas que me parecem
encerrar o conteuacutedo central de determinismo tal como ele eacute analisado
em meus estudos de modo geral e nesta tese especificamente A saber
que o determinismo tecnoloacutegico pode ser examinado como uma
compreensatildeo restrita sobre as relaccedilotildees entre os sujeitos e as tecnologias
na qual haveria pouca oportunidade de conhecimento participaccedilatildeo e
controle dos processos que envolvem questotildees relacionadas agrave tecnologia
(elaboraccedilatildeo desenvolvimento produccedilatildeo divulgaccedilatildeo apropriaccedilatildeo e
ensino) pelos sujeitos
Com isso destaquei pontos que considero importantes acerca da
questatildeo do determinismo tecnoloacutegico tendo em vista debates sobre
processos educacionais Penso que compreender esses aspectos da
perspectiva determinista pode ajudar no exame de sentidos sobre
tecnologia que atravessam os (e circulam nos) CTIEM17 Cursos estes
entendidos como uma categoria com suas contradiccedilotildees seus espaccedilos e
tempos soacutecio-histoacutericos especiacuteficos e nos quais as juventudes
constroem reconstroem e satildeo atravessadas por diversos sentidos sobre
suas (im)possibilidades de inserccedilatildeo na realidade social
Minha intenccedilatildeo ao apontar problemas relacionados agrave ideia
persistente de determinismo tecnoloacutegico na atualidade (tais como o fato
de ele conter uma compreensatildeo restrita das relaccedilotildees entre os sujeitos e a
produccedilatildeo tecnoloacutegica natildeo considerar fatores sociais no
David Bloor Trevor Pinch Wiebe Bjiker e Michel Callon aleacutem de apresentar
sua proacutepria posiccedilatildeo no debate Essa classificaccedilatildeo natildeo eacute explorada nesta tese
Uma leitura aprofundada pode ser realizada a partir do artigo de Wyatt do ano
de 2008 que utilizo aqui como referecircncia 17 Esclareccedilo que minhas anaacutelises natildeo silenciam perspectivas natildeo-deterministas
que emergem durante a realizaccedilatildeo da pesquisa
46
desenvolvimento da tecnologia nos isentar de responsabilidades sobre o
que eacute desenvolvido e silenciar relaccedilotildees de dominaccedilatildeo em acircmbito
geopoliacutetico Norte-Sul) foi reforccedilar as implicaccedilotildees que um sentido
determinista da tecnologia pode ter de modo especiacutefico no que se
refere a processos educacionais
Busco o auxiacutelio do pensador brasileiro Rubem Alves (1933-
2014) para demonstrar a importacircncia de abordar o determinismo
tecnoloacutegico em sala de aula Embora o autor natildeo trate nomeadamente do
determinismo tecnoloacutegico e reflita sobre relaccedilotildees entre conhecimento e
poliacutetica no ato de pesquisa concordo com ele em um ponto no qual eacute
destacado que ldquonatildeo se conquistam os determinismos pela sua
ignoracircncia Eacute necessaacuterio contemplaacute-los face a face No momento em que
os reconhecemos e os chamamos pelo seu nome proacuteprio o caminho para
a liberdade e a iniciativa estaacute abertordquo (ALVES 1989 p 85-86)
QUESTOtildeES
Com isso penso que o problema de pesquisa foi construiacutedo de
modo que seja possiacutevel compreender as duas questotildees fundamentais que
conduzem as investigaccedilotildees desta tese (i) de que maneira e em que
medida uma perspectiva criacutetica sobre TS pode colaborar para
transformar sentidos deterministas sobre a tecnologia nos CTIEM E
(ii) em que sentidos a promoccedilatildeo de contextos educacionais voltados agrave
construccedilatildeo de autoria a partir de um posicionamento criacutetico sobre TS
pode mobilizar estudantes dos CTIEM para a emancipaccedilatildeo social18 e a
autonomia
OBJETIVOS
Para buscar responder a essas duas questotildees destaco que o
objetivo geral da pesquisa eacute analisar possibilidades e limites para
discutir tecnologia e TS e transformar sentidos deterministas sobre
tecnologia a partir de uma perspectiva criacutetica sobre TS nos CTIEM
Como suporte a esse objetivo geral apresento os quatro objetivos
18 Assim como a autonomia e a autoria a emancipaccedilatildeo social eacute uma categoria
importante nesse estudo No capiacutetulo 1 desta tese eacute apresentada a perspectiva
emancipatoacuteria educacional de Adorno (1995) utilizada e possiacuteveis diaacutelogos com
a pesquisa internacional ldquoReinventar a Emancipaccedilatildeo Social para novos
manifestosrdquo organizada pelo socioacutelogo portuguecircs Boaventura de Sousa Santos
(SANTOS 2009) que tem relevacircncia no quadro da pesquisa socioloacutegica atual
embora natildeo trate especificamente da questatildeo educacional mesmo que ela seja
referida
47
especiacuteficos (i) identificar sentidos sobre tecnologias que circulam entre
estudantes dos CTIEM (ii) problematizar tais sentidos de acordo com os
princiacutepios socioloacutegicos de estranhamento e desnaturalizaccedilatildeo (iii)
examinar possibilidades de promover autoria entre estudantes a partir de
um posicionamento criacutetico sobre TS e (iv) verificar se e como
promover contextos educacionais voltados agrave autoria pode indicar
sentidos de emancipaccedilatildeo social e autonomia entre estudantes
TESE
Tais objetivos assim como a pesquisa das questotildees propostas satildeo
o apoio para que eu possa defender a seguinte tese sentidos
deterministas sobre tecnologia que satildeo discutidos entre estudantes dos
CTIEM podem ser transformados atraveacutes de processos educacionais que
contemplem o desenvolvimento de uma perspectiva criacutetica sobre TS
Isso ocorre na medida em que essesas estudantes possam visualizar
possibilidades de emancipaccedilatildeo social ao constituiacuterem-se autonomamente
como autoresas capazes de compreender e modificar os contextos
socioteacutecnicos determinados soacutecio-historicamente que os satildeo
apresentados
PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
Os procedimentos19 necessaacuterios para realizar a pesquisa
compreendem coleta e anaacutelise de dados primaacuterios e secundaacuterios
qualitativos e quantitativos Os instrumentos de coleta de dados
primaacuterios satildeo uma questatildeo inicial formulada agravesaos estudantes (O que eacute
tecnologia para vocecirc) um questionaacuterio com questotildees de muacuteltipla
escolha20 (conforme Apecircndice D) e uma tarefa final de elaboraccedilatildeo de
TS aleacutem do meu diaacuterio de campo (memoacuteria das aulas) A coleta de
dados secundaacuterios envolve pesquisa bibliograacutefica e documental Faz
19 Todas as consideraccedilotildees que se referem aos procedimentos metodoloacutegicos satildeo
detalhadas no capiacutetulo 3 desta tese 20 Tendo em vista a criacutetica feita por Thiollent (1985) ao positivismo empiacuterico
nas pesquisas sociais considerei a utilizaccedilatildeo do questionaacuterio de modo criacutetico e
histoacuterico e avaliei as vantagens (i) e desvantagens (ii) de sua utilizaccedilatildeo Tais
como (i) facilidade de aplicaccedilatildeo e anaacutelise praticidade e rapidez ao responder e
apresentaccedilatildeo de diversas alternativas (aleacutem da alternativa aberta) e (ii) exigecircncia
de tempo na sua preparaccedilatildeo para garantir diversas opccedilotildees de resposta conexatildeo
com os pressupostos teoacutericos e possibilidade de influecircncia no sujeito
respondente Dentro desse quadro a considerar o espaccedilo e o tempo da pesquisa
e com o cuidado de enfocar as condiccedilotildees soacutecio-histoacutericas dos sujeitos da
pesquisa essa pareceu a opccedilatildeo mais adequada
48
parte da pesquisa ainda a elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de um roteiro didaacutetico
na temaacutetica socioteacutecnica (conforme Apecircndice E)
Alguns dados foram coletados durante todo o ano de 2015
diretamente no IFRS sendo que a pergunta inicial e os questionaacuterios
foram aplicados no iniacutecio do terceiro trimestre escolar a partir do mecircs
de outubro e as apresentaccedilotildees de seminaacuterios com elaboraccedilotildees de TS
aconteceram no mecircs de dezembro
A pesquisa aqui proposta envolve uma discussatildeo sobre estudantes
dos CTIEM contudo tendo em vista a possibilidade de
operacionalizaccedilatildeo da pesquisa e a coerecircncia com o meu plano de
trabalho e o planejamento de ensino no IFRS foram selecionados
estudantes apenas dos primeiros anos dos CTIEM Com isso o universo
da pesquisa eacute composto por 184 alunosas matriculadosas nos primeiros
anos e que tecircm entre 14 e 18 anos de idade21 Contudo infrequecircncias
ausecircncias e opccedilatildeo por natildeo participar da pesquisa exigem um recorte que
finaliza com 149 estudantes que satildeo os sujeitos da pesquisa22
A descriccedilatildeo quantitativa elaboraccedilatildeo de graacuteficos quadros e
tabelas envolve a utilizaccedilatildeo do programa Excel 2013 A anaacutelise
qualitativa por sua vez baseia-se na leitura criacutetica descriccedilatildeo e anaacutelise
soacutecio-histoacuterica dos dados documentais das respostas agrave pergunta inicial
dos questionaacuterios da memoacuteria das aulas e da produccedilatildeo sobre TS Na
pesquisa proposta os dados quantitativos satildeo considerados como um
suporte importante mas o caraacuteter da pesquisa eacute qualitativo Contudo
destaco que assim como Trivintildeos (1987) natildeo haacute aqui uma
caracterizaccedilatildeo dicotocircmica entre o qualitativo e o quantitativo Do ponto
de vista de uma pesquisa dialeacutetica (na qual os polos analisados satildeo
diferentes mas se implicam mutuamente um depende necessariamente
do outro) existe uma relaccedilatildeo necessaacuteria entre a mudanccedila quantitativa e a
mudanccedila qualitativa
Esse enfoque qualitativo que corresponde a um modo de
compreender e analisar a realidade pode ser examinado dentro do que
Trivintildeos (1987) chama de ldquocriacutetico-participativo com visatildeo histoacuterico-
estruturalrdquo (p 117) Nesse quadro autores como Marx Engels
Gramsci Adorno Horkheimer Marcuse e Habermas entre outros
partem da necessidade de conhecer a realidade ldquopara transformaacute-la em
processos contextuais e dinacircmicos complexosrdquo (TRIVINtildeOS 1987 p
21 Um perfil sociodemograacuteficos dosas estudantes eacute apresentado no capiacutetulo 3
desta tese 22 Destaco que dentre esses sujeitos selecionei cinco TS (31 alunosas) para
analisar de modo mais aprofundado como descrevo no capiacutetulo 3
49
125) Assim nesta tese a intenccedilatildeo eacute realizar uma pesquisa que capte
tanto a aparecircncia quanto a essecircncia do problema delineado (descrito)
Interessam portanto suas origens causas consequecircncias e contradiccedilotildees
tendo em vista possibilidades de transformaccedilotildees da realidade
A ideia eacute examinar relaccedilotildees entre tecnologia e educaccedilatildeo tendo em
vista a obtenccedilatildeo de dados que possibilitem ampliar a compreensatildeo de
qualidades constitutivas dessas relaccedilotildees (dos sentidos que as atravessam
que ali circulam suas contradiccedilotildees) e verificar possibilidades de
transformaccedilatildeo desses sentidos dentro de processos educacionais Em
termos metodoloacutegicos ao apropriar-me dessas relaccedilotildees em primeiro
lugar ligo-as agrave minha concepccedilatildeo de mundo e em seguida procuro
inseri-las em um quadro teoacuterico de apoio Portanto ao buscar a
historicidade e contradiccedilotildees dessas relaccedilotildees penso que as escolhas
metodoloacutegicas realizadas estatildeo de acordo com o referencial teoacuterico
escolhido que por sua vez tem coerecircncia com minha consciecircncia social
RELEVAcircNCIA
A relevacircncia dessa iniciativa de pesquisa encontra-se nas
possibilidades de (i) compreender (e poder transformar) soacutecio-
historicamente sentidos restritos sobre tecnologias que circulam entre as
juventudes em especiacutefico de estudantes dos CTIEM (ii) expandir
entendimentos sobre processos educacionais voltados agrave mobilizaccedilatildeo
para autoria emancipaccedilatildeo social e autonomia em um paiacutes do Sul e (iii)
ampliar espaccedilos para debater as muacuteltiplas relaccedilotildees entre tecnologia e
sociedade
O entendimento criacutetico de tais relaccedilotildees eacute percebido aqui como um
fator a ser considerado na compreensatildeo de processos educacionais
criacuteticos e contextualizados (sensiacuteveis agraves diversidades poliacuteticas de classe
religiosas eacutetnico-raciais23 e de gecircnero) vinculados a perspectivas de
efetiva transformaccedilatildeo social
23 Conforme Gomes (2012) no Brasil militantes e intelectuais utilizam o termo
ldquoeacutetnico-racialrdquo para demonstrar que consideram as muacuteltiplas dimensotildees que
envolvem a histoacuteria as culturas e a vida de negros no paiacutes Ao adotarem o termo
ldquoraccedilardquo natildeo o fazem no sentido bioloacutegico pelo contraacuterio ldquotrabalham o termo
raccedila atribuindo-lhe um significado poliacutetico construiacutedo a partir da anaacutelise do tipo
de racismo que existe no contexto brasileiro e considerando as dimensotildees
histoacuterica e cultural que este nos remeterdquo (GOMES 2012 p 47)
50
TOacutePICOS
Operacionalizei a tese dentro do pressuposto de que natildeo eacute
interessante uma visatildeo isolada das partes do estudo tendo em vista que
elas estatildeo inter-relacionadas Desse modo a fundamentaccedilatildeo teoacuterica por
exemplo natildeo tem um capiacutetulo especiacutefico pois ela vai apoiar de maneira
dinacircmica as ideias que surgem no desenvolvimento da pesquisa
Entretanto para tentar desenvolver de modo objetivo os argumentos e
apresentar de maneira concisa os dados desta tese o texto estaacute dividido
em trecircs partes aleacutem das consideraccedilotildees finais
No primeiro capiacutetulo discuto sobre processos educacionais
Apresento meus posicionamentos e filiaccedilotildees teoacutericas em relaccedilatildeo agrave
educaccedilatildeo ECT Educaccedilatildeo CTS (Ciecircncia Tecnologia Sociedade)
juventudes ensino de Sociologia no ensino meacutedio e autoria Aleacutem da
discussatildeo conceitual trago aspectos histoacutericos e bibliograacuteficos sobre tais
temas de modo que as informaccedilotildees desse capiacutetulo possam encaminhar
para entendimentos sobre tecnologia tal como delineado de maneira
especiacutefica no segundo capiacutetulo
No capiacutetulo 2 apresento uma discussatildeo relativa aos contextos
socioculturais poliacuteticos e educacionais nos quais os debates sobre
tecnologia estatildeo inseridos Para isso examino o caraacuteter social da
tecnologia a partir de diferentes autoresas exponho minha filiaccedilatildeo
teoacuterica e delineio o sentido geral sobre tecnologia que eacute considerado na
pesquisa de tese Apoacutes realizo uma reflexatildeo histoacuterica conceitual e
documental sobre TS e apresento estudos sobre relaccedilotildees entre TS e
processos educacionais
Com o foco em examinar sentidos sobre tecnologia que
atravessam os (e circulam nos) CTIEM no terceiro capiacutetulo apresento
detalhadamente os procedimentos envolvidos na coleta e anaacutelise de
dados Exponho informaccedilotildees relevantes para a pesquisa sobre o IFRS
(histoacuteria constituiccedilatildeo e missatildeo entre outros dados) e sobre aspectos
sociodemograacuteficos qualitativos e quantitativos dos sujeitos da pesquisa
De acordo com minha opccedilatildeo por adotar a teacutecnica de pesquisa de
intervenccedilatildeo socioloacutegica (THIOLLENT 1985) ao realizar uma anaacutelise
criacutetica dos dados coletados intenciono que a partir desses dados os
sentidos sejam examinados segundo uma perspectiva teoacuterica que
permita o retorno a esses sentidos agora contextualizadas em muacuteltiplas
relaccedilotildees
Tal movimento envolve mediaccedilotildees em trecircs momentos A partir
do caos concreto (no qual satildeo captadas as qualidades gerais da
realidade) passa-se por uma instacircncia abstrata (na qual estabelecem-se
as relaccedilotildees soacutecio-histoacutericas do fenocircmeno determinam-se os traccedilos
51
quantitativos do exame) ateacute chegar novamente ao concreto agora
pensado (no qual estabelecem-se os aspectos essenciais do fenocircmeno
seu fundamento sua realidade e possibilidade o que nele eacute singular e
geral necessaacuterio e contingente)
Conforme informo na dedicatoacuteria esta tese foi escrita para
educadoras e educadores de qualquer modalidade de ensino e de
diferentes formaccedilotildees disciplinares que tenham interesse em TS
52
53
CAPIacuteTULO 1 PROCESSOS EDUCACIONAIS
Neste primeiro capiacutetulo tendo em vista o que estaacute envolvido24
com a educaccedilatildeo desenvolvo consideraccedilotildees acerca de elementos que
vejo como importantes na investigaccedilatildeo de relaccedilotildees dessa com a
tecnologia Inicialmente apresento meu posicionamento geral sobre o
sujeito desse processo e destaco o que compreendo por educaccedilatildeo de
modo geral e segundo autoresas que podem ajudar-me a analisar em
alguma medida o contexto25 nacional atual
Apoacutes reflito sobre ECT e Educaccedilatildeo CTS tendo em vista alguns
princiacutepios do ensino de Sociologia no ensino meacutedio (estranhamento e
desnaturalizaccedilatildeo) questotildees de autoria e as juventudes que compotildeem os
CTIEM (sujeitos do conhecimento) Finalizo o capiacutetulo com uma
tentativa de relacionar essas perspectivas com indagaccedilotildees sobre uma
outra educaccedilatildeo possiacutevel A ideia eacute que esse capiacutetulo inicial relacione
autoresas e teorias em relaccedilatildeo agrave autonomia autoria e emancipaccedilatildeo
social que possam trazer subsiacutedios para um debate sobre tecnologia e
TS em ambientes educacionais
11 SUJEITO
No contexto geral das discussotildees de que participo na aacuterea da
ECT percebo ao menos alguns temas efetivos que derivam de
concepccedilotildees sobre a natureza as funccedilotildees aplicaccedilotildees e implicaccedilotildees
sociais do conhecimento da ciecircncia da tecnologia e da educaccedilatildeo
Central em tudo isso estatildeo as concepccedilotildees sobre o sujeito
fundamentalmente sobre o sujeito do conhecimento que perpassam
todos esses temas e implicam em diferentes posicionamentos em relaccedilatildeo
a eles26
24 Considero que processos educacionais envolvem interaccedilotildees entre
professoresas estudantes escola estrutura fiacutesica materiais da escola poliacutetica
educacional interna e externa participaccedilatildeo de paisresponsaacuteveis abertura agrave
comunidade procedimentos avaliativos e componentes curriculares 25 Nesta tese uso o termo ldquocontextordquo em sentido geral como inter-relaccedilatildeo de
circunstacircncias (sociais culturais poliacuteticas econocircmicas tecnoloacutegicas
educacionais) que acompanham dadas situaccedilotildees Natildeo eacute minha intenccedilatildeo discutir
o termo de acordo com teorias antropoloacutegicas ou linguiacutesticas 26 Muitos estudos epistemoloacutegicos investigam as relaccedilotildees entre sujeito (S)
objeto (O) e imagem (I) Algo que natildeo seraacute explorado de modo especiacutefico nesta
tese Tendo em vista uma leitura voltada a questotildees educacionais eacute possiacutevel
compreender ideias baacutesicas sobre essas relaccedilotildees e especificamente sobre
54
Considero que essas concepccedilotildees podem ser analisadas como
conjuntamente interligadas mas de modo a respeitar suas
particularidades Como jaacute referenciei tratarei fundamentalmente sobre
relaccedilotildees entre tecnologia e educaccedilatildeo contudo eacute importante iniciar esse
estudo com uma breve indicaccedilatildeo de como compreendo o sujeito nesse
processo
Uma primeira inspiraccedilatildeo para localizar de maneira mais
especiacutefica quem eacute(satildeo) meu(s) sujeito(s) foi construiacuteda a partir do
acompanhamento das leituras realizadas no DiCiTE Naquele ambiente
pesquisadoresas tecircm interesse por questotildees que relacionam educaccedilatildeo
ECTS e linguagem Ali tambeacutem satildeo investigados aspectos da Anaacutelise
de Discurso (AD) francesa sobretudo do filoacutesofo francecircs Michel
Pecirccheux (1938-1983) Nessa imersatildeo pude compreender que para a AD
o sujeito assume determinadas posiccedilotildees e manteacutem uma relaccedilatildeo com o
mundo De modo que a maneira como ele eacute visto e como se vecirc estaacute
vinculada a certa posiccedilatildeo ideoloacutegica
Sem explorar o rico referencial da AD considero o seu sujeito
que estaacute imerso em relaccedilotildees e vinculado agrave ideologia Assim nesta tese
com meu foco em estudantes dos CTIEM meu paracircmetro eacute o ser
humano Como afirma Severino (1994) entendo o ser humano como
entidade histoacuterica influenciado pelas condiccedilotildees objetivas de sua
existecircncia ao mesmo tempo em que atua sobre elas por meio de sua
praacutexis27 Reconheccedilo o sujeito tanto em sua subjetividade (como produtor
e transformador de sentidos) quanto imerso nos contextos soacutecio-
histoacutericos vivenciados
realismo realismo criacutetico e modelo dialeacutetico respectivamente nas seguintes
referecircncias utilizadas na ECT HESSEN J Teoria do Conhecimento Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 SCHAFF A Histoacuteria e Verdade Satildeo Paulo
Martins Fontes 1995 BECKER F Modelos pedagoacutegicos e modelos
epistemoloacutegicos In SILVA L H AZEVEDO JC (Org) A paixatildeo de
aprender II Petroacutepolis Vozes 1995 27 Sem entrar no debate acerca da possiacutevel ambiguidade do conceito quando
tratado particularmente por Marx e Engels na obra ldquoA ideologia alematilderdquo
(MARX ENGELS 1982) considero a posiccedilatildeo de Castoriadis (1986) quando
esse autor afirma que a praacutexis eacute o fazer no qual ldquoo outro ou os outros satildeo
visados como seres autocircnomos () Existe na praacutexis um por fazer mas esse por
fazer eacute especiacutefico eacute precisamente o desenvolvimento da autonomia () (p 94)
A praacutexis eacute entendida aqui portanto de modo geral como praacutetica humana que
tende a criar condiccedilotildees indispensaacuteveis agrave existecircncia da sociedade agraves atividades
materiais agrave produccedilatildeo (SEVERINO 1994)
55
Contudo a ideia eacute a de que esse sujeito a que me refiro natildeo
apareccedila em minhas anaacutelises do capiacutetulo 3 de maneira abstrata e
homogecircnea Busco representar a diversidade sem perder de vista a
unicidade Minha intenccedilatildeo eacute a de que as pluralidades e diferenccedilas
poliacuteticas de classe religiosas eacutetnico-raciais e de gecircnero possam emergir
sensivelmente Pois concordo com Santos (2014) quando a autora
afirma que a ciecircncia tem gecircnero e aponta a necessidade de
problematizaccedilatildeo de determinaccedilotildees essencialistas no que diz respeito
sobretudo a questotildees de gecircnero
Assim considero osas estudantes dentro de minhas perspectivas
teoacutericas como sujeitos ativos e integrados (natildeo acomodados) na
construccedilatildeo de conhecimentos e em busca permanente de
conscientizaccedilatildeo de consciecircncia criacutetica Essa minha percepccedilatildeo tem base
no educador brasileiro Paulo Freire (1921-1997) que pensa em sujeitos
ldquointerferidoresrdquo (homem Sujeito) imersos em relaccedilotildees que os integram
aos seus contextos (FREIRE 1983)
Ao avaliar possibilidades de transformar sentidos sobre
tecnologia tendo em vista processos educacionais penso que considerar
a capacidade de integraccedilatildeo dos sujeitos seja fundamental ldquoA integraccedilatildeo
resulta da capacidade de ajustar-se agrave realidade acrescida da de
transformaacute-la a que se junta a de optar cuja nota fundamental eacute a
criticidaderdquo (FREIRE 1983 p 42) Esse sujeito (com identidades
poliacutetica religiosa eacutetnico-racial e de gecircnero) integrado ativo criacutetico
seria capaz de alterar a realidade soacutecio-histoacuterica que lhe eacute apresentada
Seria portanto um sujeito autor que constitui uma base das relaccedilotildees
entre educaccedilatildeo e tecnologia que busco examinar
12 EDUCACcedilAtildeO
Natildeo pretendo tratar educaccedilatildeo e tecnologia como abstraccedilotildees mas
como produccedilotildees soacutecio-histoacutericas complexas e que podem ser localizadas
geograacutefica e temporalmente Penso no contexto educacional brasileiro
no iniacutecio da segunda deacutecada do seacuteculo XXI Considero com isso as
intencionalidades dos sujeitos do conhecimento (envolvidos em
processos educacionais) a historicidade temporalidade e contradiccedilotildees
das teorias tecnoloacutegicas e educacionais e uma perspectiva natildeo
determinista da tecnologia28 no desenvolvimento econocircmico e social
28 Meu posicionamento em relaccedilatildeo agrave tecnologia seraacute exposto no segundo
capiacutetulo desta tese
56
Trato aqui de uma reflexatildeo sobre a educaccedilatildeo como aacuterea no qual o
cenaacuterio sociopoliacutetico brasileiro estaacute expresso com suas contradiccedilotildees
desigualdades preconceitos e tambeacutem suas virtualidades Assim como
a filoacutesofa brasileira Marilena Chauiacute e o filoacutesofo huacutengaro Istvaacuten
Meacuteszaacuteros compreendo a educaccedilatildeo como atividade social permanente e
inseparaacutevel do processo de formaccedilatildeo humana Meacuteszaacuteros (2008) aponta
ainda que ldquosem um progressivo e consciente intercacircmbio com processos
de educaccedilatildeo abrangentes como lsquoa nossa proacutepria vidarsquo a educaccedilatildeo
formal natildeo pode realizar as suas muito necessaacuterias aspiraccedilotildees
emancipadoras rdquo (p 59 grifos do autor)
Brandatildeo (1995) lembra-nos de que a educaccedilatildeo existe de muitos
modos sendo que alguns desses podem ter como princiacutepio a
transformaccedilatildeo A educaccedilatildeo como algo que envolve um movimento de
transformaccedilatildeo interna de uma condiccedilatildeo de saber a outra condiccedilatildeo de
saber ou ainda agrave compreensatildeo do outro de si mesmo da realidade do
tempo presente e da cultura acumulada (CHAUIacute 2003) de modo geral
pode ser entendida segundo uma concepccedilatildeo problematizadora ou
dialoacutegica (FREIRE 1987) Isso implicaria numa atuaccedilatildeo cidadatilde dos
sujeitos com ela envolvidos tendo em vista as possibilidades de
transformaccedilatildeo desses sujeitos e da sociedade
Tal transformaccedilatildeo pode ser encontrada em Meacuteszaacuteros (2008)
quando esse declara tal qual Freire (1987) que educar natildeo eacute transferir
conhecimentos (JINKINGS 2008) e sustenta que a educaccedilatildeo (como
conscientizaccedilatildeo e testemunho de vida) deve ser permanente e contiacutenua
para poder ser assim chamada Para ele
Sim ldquoa aprendizagem eacute a nossa proacutepria vidardquo
como Paracelso afirmou haacute cinco seacuteculos e
tambeacutem muitos outros que seguiram seu caminho
mas que talvez nunca tenham sequer ouvido seu
nome Mas para tornar essa verdade algo oacutebvio
como deveria ser temos de reivindicar uma
educaccedilatildeo plena para toda a vida para que seja
possiacutevel colocar em perspectiva a sua parte
formal a fim de instituir tambeacutem aiacute uma reforma
radical Isso natildeo pode ser feito sem desafiar as
formas atualmente dominantes de internalizaccedilatildeo
fortemente consolidadas a favor do capital pelo
proacuteprio sistema educacional formal (MEacuteSZAacuteROS
2008 p 55 grifo do autor)
57
Ao abordar as perspectivas de uma educaccedilatildeo para aleacutem do
capital o autor condena propostas apenas reformistas Para ele deveria
haver uma alteraccedilatildeo fundamental em todo o sistema de internalizaccedilatildeo29
Em termos de educaccedilatildeo seria necessaacuteria uma alternativa concreta e
abrangente Contudo Meacuteszaacuteros (2008) compreende que a tarefa
histoacuterica enfrentada eacute ldquoincomensuravelmente maior que a negaccedilatildeo do
capitalismo O conceito para aleacutem do capital eacute inerentemente concreto
Ele tem em vista a realizaccedilatildeo de uma ordem social metaboacutelica que
sustente concretamente a si proacutepriardquo (p 62 grifos do autor)
Acredito haver aqui um ponto de convergecircncia entre Meacuteszaacuteros
(2008) e Paulo Freire (1987) pois os dois autores fazem uma criacutetica agrave
educaccedilatildeo capitalista
121 Paulo Freire e autonomia
Meu interesse pelo pensamento de Paulo Freire vai ao encontro
de uma tendecircncia nacional de crescimento de utilizaccedilatildeo de suas obras
em pesquisas acadecircmicas Ao analisarem poliacuteticas de curriacuteculo sob um
ponto de vista freireano Saul e Silva (2012) fizeram um levantamento
no banco de dados da Capes e verificaram a existecircncia de 228 registros
de teses que utilizaram o referencial freireano entre os anos 1987 e
2010 O total de registros para esse periacuteodo com dissertaccedilotildees chega a
1441 pesquisas Portanto mesmo que examinado de maneira pontual e
dentro de um quadro teoacuterico diverso considero que o pensamento
freireano ao qual faccedilo referecircncia colabora fundamentalmente com as
perspectivas criacuteticas aqui apontadas
Ao analisar a criacutetica de Freire (1987) agrave educaccedilatildeo capitalista
(educaccedilatildeo bancaacuteria educaccedilatildeo do opressor) podemos compreender (de
modo simplificado) a educaccedilatildeo bancaacuteria e examinar relaccedilotildees entre
educadora e educandoa A accedilatildeo doa primeiroa se dividiria em um
momento inicial de aquisiccedilatildeo de conhecimentos e em seguida ocorreria
uma narraccedilatildeo dessa primeira accedilatildeo aaos educandasos Essases por sua
vez copiariam ou arquivariam o que ouviram Essas accedilotildees deixam
educadora e educandoa em situaccedilotildees bem definidas De modo que oa
educadora seria uma saacutebioa detentora de conhecimentos e oa
educandoa seria aquelea que natildeo sabe (FREIRE 1987)
29 De modo abreviado essa internalizaccedilatildeo corresponderia a que os sujeitos
adotassem como suas as metas de reproduccedilatildeo do sistema capitalista Algo que a
educaccedilatildeo sob o domiacutenio do capital se proporia a fazer
58
Freire (1987) explica porque natildeo pode ser produzido
conhecimento nesse processo
Natildeo pode haver conhecimento pois os educandos
natildeo satildeo chamados a conhecer mas a memorizar o
conteuacutedo narrado pelo educador Natildeo realizam
nenhum ato cognoscitivo uma vez que o objeto
que deveria ser posto como incidecircncia de seu ato
cognoscente eacute posse do educador e natildeo
mediatizador da reflexatildeo criacutetica de ambos A
praacutetica problematizadora pelo contraacuterio natildeo
distingue estes momentos no quefazer do
educador-educando Natildeo eacute sujeito cognoscente em
um e sujeito narrador do conteuacutedo conhecido em
outro Eacute sempre um sujeito cognoscente quer
quando se prepara quer quando se encontra
dialogicamente com os educandos (FREIRE
1987 p 69 grifo do autor)
Portanto na loacutegica da educaccedilatildeo bancaacuteria um lado educaria e
agiria (seria sujeito) enquanto o outro lado seria educado e passivo
(seria objeto) Este uacuteltimo seria um depoacutesito reservado a arquivar
informaccedilotildees com possibilidades tolhidas de desenvolver consciecircncia
criacutetica e libertar-se de situaccedilotildees de opressatildeo A educaccedilatildeo bancaacuteria como
praacutetica de dominaccedilatildeo condicionaria os sujeitos agrave adaptaccedilatildeo agrave realidade
social dada Isso destituiria o homem como sujeito ativo e livre para
optar
Essa concepccedilatildeo bancaacuteria da educaccedilatildeo que foi brevemente
examinada eacute um exemplo de educaccedilatildeo antidialoacutegica Acima apontei
uma perspectiva de educaccedilatildeo problematizadora ou dialoacutegica A
dialogicidade em Freire (2013) seria algo como uma exigecircncia
epistemoloacutegica Pois a construccedilatildeo da autonomia passaria pela
conscientizaccedilatildeo30 pelo esforccedilo de conhecimento criacutetico dos obstaacuteculos
que impedem a transformaccedilatildeo do mundo (FREIRE 2011) Tal
conscientizaccedilatildeo dependeria da relaccedilatildeo consciecircncia-mundo (o sujeito se
30 Freire (1980) lembra-nos de que o homem eacute o uacutenico ser vivo que conseguiria
tomar distacircncia do mundo em uma visatildeo em perspectiva para justamente
conseguir uma aproximaccedilatildeo maior e conhececirc-lo Esse movimento eacute uma tomada
de consciecircncia mas para ser conscientizaccedilatildeo deve existir em uma praacutexis
Assim a conscientizaccedilatildeo seria uma posiccedilatildeo criacutetica assumida pelo sujeito
59
constitui em sua subjetividade pela consciecircncia do mundo e do outro) e
implicaria transformaccedilatildeo do mundo
O diaacutelogo seria o proacuteprio movimento que constituiria a
consciecircncia (do mundo) o encontro de sujeitos para ldquoser maisrdquo
(FREIRE 1987) Nessa praacutetica dialoacutegica o sujeito poderia construir sua
autonomia Brandatildeo (1981) reforccedila que na perspectiva freireana o
diaacutelogo eacute fundamental ldquoeacute o sentimento do amor tornado accedilatildeo
(BRANDAtildeO 1981 p 103) E nisso o autor explicita as relaccedilotildees entre
sujeitos natureza e trabalho no diaacutelogo freireano
A relaccedilatildeo entre sujeitos e natureza ocorreria pelo diaacutelogo e nela o
mundo seria transformado e a histoacuteria aconteceria Em outro momento
do mesmo diaacutelogo ocorreriam as relaccedilotildees entre os sujeitos na natureza e
pelo trabalho O trabalho natildeo eacute uma relaccedilatildeo entre o homem e a
natureza O trabalho eacute uma relaccedilatildeo entre os homens atraveacutes da natureza
(BRANDAtildeO 1981 p 104) Assim como em Meacuteszaacuteros (2008) e como
mostrarei adiante na perspectiva de ensino politeacutecnico o trabalho seria
algo fundamental nas relaccedilotildees entre os sujeitos aiacute incluiacutedos os
processos educacionais fundamentalmente
Uma educaccedilatildeo contra a proposta bancaacuteria seria portando
essencialmente dialoacutegica problematizadora e tentaria promover a
autonomia do sujeito educando Esse teria noa educadora um sujeito
que faz parte de seu processo de formaccedilatildeo A contradiccedilatildeo educadora
(sujeito) ndash educandoa (objeto) seria superada A educaccedilatildeo
problematizadora seria entatildeo possiacutevel com a superaccedilatildeo da contradiccedilatildeo
entre educadora e educandosas e dentro do diaacutelogo E isso faz sentido
ao examinarmos a famosa constataccedilatildeo freireana de que
Jaacute agora ningueacutem educa ningueacutem como tampouco
ningueacutem se educa a si mesmo os homens se
educam em comunhatildeo mediatizados pelo mundo
Mediatizados pelos objetos cognosciacuteveis que na
praacutetica ldquobancaacuteriardquo satildeo possuiacutedos pelo educador
que os descreve ou os deposita nos educandos
(FREIRE 1987 p 69)
Em sua proposta dialoacutegica Freire (1987) ainda demonstra
preocupaccedilatildeo com um entendimento restrito sobre a educaccedilatildeo que a desvinculasse de sua inter-relaccedilatildeo com os sujeitos ldquoem suas culturas
vivendo suas vidasrdquo (BRANDAtildeO 1995) E desse modo propotildee um
processo de ensino que possibilite a construccedilatildeo de condiccedilotildees para que os
sujeitos possam ser todos seres para si tendo em vista uma educaccedilatildeo
60
que possibilite a construccedilatildeo de uma realidade social aberta agrave autonomia
desses sujeitos Tal abertura agrave autonomia tem relaccedilatildeo com mobilizaccedilatildeo para a
curiosidade e a criticidade e contra memorizaccedilotildees mecacircnicas Pressupotildee
a compreensatildeo da mutabilidade e historicidade do conhecimento tendo
em vista a inexistecircncia de conhecimento absoluto Com isso Freire
(2011) destaca a importacircncia de estarmos abertos31 tanto para
conhecermos o que jaacute foi produzido quanto para produzirmos novos
conhecimentos Mas essa abertura chamada de curiosidade natildeo deveria
ser algo ingecircnuo (baseada apenas na experiecircncia) e sim uma
curiosidade epistemoloacutegica (FREIRE 2011) criacutetica
Segundo o autor deveria haver a superaccedilatildeo da ingenuidade para
chegar agrave criticidade32 atraveacutes da educaccedilatildeo para a autonomia Pois natildeo
haveria possibilidades para autonomia segundo visotildees ingecircnuas do
mundo sem criticidade Nesse processo a curiosidade se relaciona com
a criatividade sendo a primeira condiccedilatildeo para a segunda Essa relaccedilatildeo
integraria as condiccedilotildees para tanto conhecermos o que do mundo natildeo
fizemos quanto nele acrescentarmos nossa produccedilatildeo (FREIRE 2011)
Para finalizar a contribuiccedilatildeo do pensamento freireano
fundamentalmente na questatildeo da autonomia no que penso sobre
educaccedilatildeo no contexto nacional atual (que pode ser relacionado com TS)
trago sua perspectiva acerca do ensino tecnicista Para o autor o ensino
teacutecnico-cientiacutefico eacute necessaacuterio poreacutem natildeo eacute suficiente para a construccedilatildeo
da autonomia Tambeacutem seria necessaacuteria uma formaccedilatildeo eacutetica e esteacutetica
Pois ao compreendermos que fazemos o mundo a partir de nossa
liberdade temos um compromisso eacutetico que se relaciona com a esteacutetica
pois temos liberdade de construir beleza e feiura Contudo essa
formaccedilatildeo eacute muitas vezes preterida em nome de treinamentos puramente
teacutecnicos e isso diminuiria o caraacuteter formador da educaccedilatildeo (FREIRE
2011)
Com isso eacute possiacutevel perceber que na perspectiva freireana a
educaccedilatildeo envolve um movimento dialeacutetico entre o fazer e o pensar sobre
o fazer entre ingenuidade e criticidade Nesse processo a integraccedilatildeo
(comunhatildeo) entre educandoa e educadora e a curiosidade seriam
31 Ao verificar a premissa do autor de que a educaccedilatildeo para a autonomia soacute eacute
possiacutevel nessas condiccedilotildees de possibilidades posso considerar relaccedilotildees entre a
educaccedilatildeo para a autonomia e a autoria em processos educacionais como
destacarei adiante 32 Voltarei a essa questatildeo ao considerar os princiacutepios de estranhamento e
desnaturalizaccedilatildeo no ensino de Sociologia
61
fundamentais De acordo com o autor a curiosidade eacute parte do ser
humano e o conhecimento comeccedila por ela e pelas perguntas (FREIRE
FAUNDEZ 1986) Entretanto como jaacute mencionei para ele eacute necessaacuteria
a superaccedilatildeo da curiosidade ingecircnua para uma curiosidade
epistemoloacutegica Algo que poderia ser realizado com reflexatildeo criacutetica que
visaria a autonomia
Em conjunto com uma educaccedilatildeo voltada agrave autonomia penso em
processos educacionais que possibilitem emancipaccedilatildeo social Podemos
considerar autonomia e emancipaccedilatildeo33 como intimamente relacionadas
Nesse sentido trago abaixo uma perspectiva que acredito poder fazer
essa relaccedilatildeo no que diz respeito agrave educaccedilatildeo
122 Theodor Adorno e emancipaccedilatildeo social
O tema da emancipaccedilatildeo social eacute constantemente debatido
sobretudo nas Ciecircncias Humanas Nessa aacuterea de conhecimento uma
definiccedilatildeo usual pode ser encontrada em Cattani
O conceito de emancipaccedilatildeo social designa o
processo ideoloacutegico e histoacuterico de liberaccedilatildeo por
parte de comunidades poliacuteticas ou de grupos
sociais da dependecircncia tutela e dominaccedilatildeo nas
esferas econocircmicas sociais e culturais
Emancipar-se significa livrar-se do poder exercido
por outros conquistando ao mesmo tempo a
plena capacidade civil e cidadatilde no Estado
33 O filoacutesofo alematildeo Juumlrgen Habermas tem uma contribuiccedilatildeo importante nos
estudos sobre a emancipaccedilatildeo com a Teoria da Accedilatildeo Comunicativa Embora essa
natildeo seja exatamente examinada nesta tese destaco que para Habermas (1989) a
emancipaccedilatildeo pressupotildee uma accedilatildeo voltada para o entendimento o que faz com
que ela seja possiacutevel quando ocorre a expansatildeo dos processos de accedilatildeo
comunicativa que se fundamentam necessariamente na capacidade da
humanidade de alcanccedilar consensos racionais atraveacutes do processo de
argumentaccedilatildeo O autor considera que a emancipaccedilatildeo significa autonomia do
sujeito e diz respeito a um tipo especial de auto-experiecircncia relativa agrave
intersubjetividade na qual os processos de auto-entendimento se entrecruzam
com um ganho de autonomia (HABERMAS 1993) Portanto eacute possiacutevel
compreender que para Habermas (1989) a emancipaccedilatildeo pressupotildee uma accedilatildeo
voltada para o entendimento o que faz com que ela seja possiacutevel quando ocorre
a expansatildeo dos processos de accedilatildeo comunicativa que se fundamentam
necessariamente na capacidade da humanidade de alcanccedilar consensos racionais
atraveacutes do processo de argumentaccedilatildeo
62
democraacutetico de direito Emancipar-se denota
ainda aceder agrave maioridade de consciecircncia
entendendo-se por isso a capacidade de conhecer
e reconhecer as normas sociais e morais
independentemente de criteacuterios externos impostos
ou equivocadamente apresentados como naturais
(2009 p 175)
A partir dessa definiccedilatildeo considero uma perspectiva
emancipatoacuteria que pressuponha o exerciacutecio criacutetico e reflexivo da
razatildeo34 tendo em vista processos educacionais enquanto possibilidades
de superaccedilatildeo das formas de dominaccedilatildeo vigentes Nesse aspecto acredito
que algumas reflexotildees do filoacutesofo alematildeo Theodor Adorno (1903-
1969) podem contribuir
Assim como Paulo Freire Adorno possui uma obra vasta e
teoricamente densa na qual destacam-se preocupaccedilotildees com a liberdade
humana Para buscarmos relaccedilotildees mais pontuais de seus trabalhos com a
temaacutetica educacional atual eacute importante compreendermos ao menos dois
pontos intimamente interligados O primeiro deles diz respeito a suas
criacuteticas agrave induacutestria cultural e o segundo ao seu contexto sociopoliacutetico
Em relaccedilatildeo a esse destaco que Adorno viveu e produziu tendo a
Segunda Guerra Mundial no seu horizonte35 Portanto questotildees sobre
barbaacuterie (do nazismo e de Estados totalitaacuterios) a personalidade
autoritaacuteria a racionalidade teacutecnica e possibilidades de emancipaccedilatildeo
humana satildeo relacionadas a essas suas vivencias
Juntamente com seu compatriota e colega o filoacutesofo Max
Horkheimer (1895-1973) Adorno eacute considerado membro fundamental
da chamada Escola de Frankfurt cujos conjuntos de trabalhos satildeo
conhecidos como Teoria Criacutetica36 A Escola teve seu desenvolvimento
34 Natildeo entrarei na discussatildeo filosoacutefica acerca dos sentidos do termo ldquorazatildeordquo
Minha referecircncia nesse momento eacute a criacutetica que Adorno e Horkheimer (1985)
fazem agrave ideia de razatildeo originaria do Iluminismo que visava agrave emancipaccedilatildeo dos
sujeitos e ao progresso social mas terminou por levar a uma maior dominaccedilatildeo
desses sujeitos em virtude do desenvolvimento tecnoloacutegico e industrial Para
esses autores o problema estava na razatildeo controladora e instrumental que
busca sempre a dominaccedilatildeo tanto da natureza quanto dos sujeitos 35 No ano de 1933 quando Hitler assumiu como chanceler do Terceiro Reich o
autor parte da Alemanha para a Inglaterra e posteriormente para os Estados
Unidos regressando a Frankfurt apenas em 1950 (HORKHEIMER e
ADORNO 1991) 36 Voltarei a examinar a Teoria Criacutetica e a Teoria Criacutetica da Tecnologia (TCT)
no proacuteximo capiacutetulo
63
na Alemanha desde 1924 a partir da criaccedilatildeo do Instituto para a Pesquisa
Social Mas a ideia de uma instituiccedilatildeo permanente sob a forma de um
instituto de investigaccedilatildeo independente surgiu apoacutes a realizaccedilatildeo da
Primeira Semana de Trabalho Marxista em 1922 que pretendia
repensar o marxismo (ASSOUN 1991)
De acordo com Wiggershaus (2002) a Escola pode ser assim
chamada por apresentar os seguintes elementos um quadro
institucional pensadores influentes um manifesto um novo paradigma
e uma revista Portanto Escola de Frankfurt Instituto para a Pesquisa
Social e Teoria Criacutetica estatildeo relacionados embora natildeo sejam uma
unidade e guardem suas especificidades (WIGGERSHAUS 2002) Isso
eacute importante para compreendermos o pensamento de Adorno em relaccedilatildeo
agrave educaccedilatildeo e emancipaccedilatildeo que iniciam com o exame da induacutestria
cultural
A induacutestria cultural eacute um tema fundamental para tratarmos da
educaccedilatildeo no autor pois ele via aquela como a impeditiva da
possibilidade humana de agir com autonomia O termo foi utilizado pela
primeira vez no ano de 1947 no livro ldquoDialeacutetica do Esclarecimento
fragmentos filosoacuteficosrdquo escrito em coautoria com Horkheimer Nele os
autores destacam como a consciecircncia humana pode ser dominada pela
comercializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo dos bens culturais
Sob o poder do monopoacutelio toda cultura de massas
eacute idecircntica e seu esqueleto a ossatura conceitual
fabricada por aquele comeccedila a se delinear Os
dirigentes natildeo estatildeo mais sequer muito
interessados em encobri-lo seu poder se fortalece
quanto mais brutalmente ele se confessa de
puacuteblico O cinema e o raacutedio natildeo precisam mais se
apresentar como arte A verdade de que natildeo
passam de um negoacutecio eles a utilizam como uma
ideologia destinada a legitimar o lixo que
propositalmente produzem Eles se definem a si
mesmos como induacutestrias e as cifras publicadas
dos rendimentos de seus diretores gerais
suprimem toda duacutevida quanto agrave necessidade social
de seus produtos (ADORNO HORKHEIMER
1985 p 100)
O termo induacutestria cultural substitui o entatildeo usual cultura de
massa que poderia deixar margens para que se acreditasse que existiria
64
alguma cultura surgindo das massas naquela escala industrial que eles
verificavam
O autor esclarece que quando um bem cultural eacute vendido
juntamente com um carro de luxo por exemplo esse bem perde
capacidade de despertar reflexotildees e indagaccedilotildees no sujeito O que
ocorreria nessa situaccedilatildeo seria uma distraccedilatildeo do sujeito enquanto ele
recebe uma grande quantidade de informaccedilotildees atraveacutes dos meios de
comunicaccedilatildeo como em uma propaganda para vender um carro luxuoso
(ADORNO HORKHEIMER 1985) Pois a induacutestria cultural enquanto
meio de ideologizaccedilatildeo natildeo vende apenas mercadorias mas ideias e
opiniotildees
Nesse processo ficaria comprometida a capacidade criacutetica e a
autonomia dos sujeitos A induacutestria cultural se utilizaria da distraccedilatildeo
para que os sujeitos venham a esquecer a opressatildeo vivida e tenham foco
em temas irrelevantes (alienaccedilatildeo) Nesse sentido Adorno (1995)
apresenta sua criacutetica ao modelo de educaccedilatildeo voltada para a adaptaccedilatildeo e
passividade das massas Algo que Freire (1983) e Meacuteszaacuteros (2008) a
seus tempos e em seus contextos tambeacutem criticaram
Mesmo que o autor trate da educaccedilatildeo alematilde de sua eacutepoca
(pessimista devido a barbaacuterie dos campos de concentraccedilatildeo nazistas37)
sua criacutetica eacute atual e pertinente a paiacuteses do Sul pois demonstra
contradiccedilotildees que vivenciamos atualmente na educaccedilatildeo segundo um
sistema de produccedilatildeo capitalista Aleacutem disso penso em uma leitura de
Adorno tendo em vista sobretudo a induacutestria cultural de modo a
problematizar possibilidades de colonizaccedilatildeo das condiccedilotildees
emancipatoacuterias (atenccedilatildeo agrave reproduccedilatildeo de discursos sexistas racistas e
homofoacutebicos por exemplo)
Adorno (1995) considera que a educaccedilatildeo teria um poder de
resistecircncia Suas criacuteticas ao sistema educacional evidenciam a relevacircncia
que o autor daacute ao tema Ele pensa em educaccedilatildeo como formaccedilatildeo
dinacircmica integrando conhecimentos em ciecircncias humanidades e artes
tendo em vista uma vivecircncia democraacutetica (ZUIN PUCCI RAMOS-DE-
OLIVEIRA 2008)
Nas suas palavras
37 A importacircncia desse contexto de barbaacuterie em Adorno (1995) eacute destacada em
sua concepccedilatildeo de educaccedilatildeo ldquoOra a concepccedilatildeo de educaccedilatildeo de Adorno objetiva
exatamente criticar essa sociedade que potencialmente carrega dentro de si o
retorno da barbaacuterierdquo (ZUIN PUCCI RAMOS-DE-OLIVEIRA 2008 p 119)
65
A seguir e assumindo o risco gostaria de
apresentar minha concepccedilatildeo inicial de educaccedilatildeo
Evidentemente natildeo a assim chamada modelagem
de pessoas porque natildeo temos o direito de modelar
pessoas a partir de seu exterior mas tambeacutem natildeo a
mera transmissatildeo de conhecimentos cuja
caracteriacutestica de coisa morta jaacute foi mais do que
destacada mas a produccedilatildeo de uma consciecircncia
verdadeira Isso seria inclusive da maior
importacircncia poliacutetica sua ideia se eacute permitido
dizer assim eacute uma exigecircncia poliacutetica Isto eacute uma
democracia com o dever de natildeo apenas funcionar
mas operar conforme seu conceito demanda
pessoas emancipadas Uma democracia efetiva soacute
pode ser imaginada enquanto uma sociedade de
quem eacute emancipado (ADORNO 1995 p 141-
142 grifos do autor)
A educaccedilatildeo natildeo sendo inconsciente aparece portanto
relacionada tanto com uma tarefa poliacutetica (como nos trabalhos de Paulo
Freire) quanto como experiecircncia emancipatoacuteria Nesse aspecto e
brevemente destaquei pontos importantes para compreendermos
possibilidades de emancipaccedilatildeo social (possibilidade de criacutetica agrave situaccedilatildeo
de vulnerabilidade vivida) atraveacutes de processos educacionais Com
pontos em comum os dois autores que satildeo considerados a seguir
apresentam propostas efetivas de ensino segundo algumas perspectivas
gerais vistas ateacute agora
123 Antonio Gramsci e a escola unitaacuteria
Um sentido poliacutetico e emancipatoacuterio da educaccedilatildeo tambeacutem pode
ser analisado em alguns pontos especiacuteficos nas perspectivas do filoacutesofo
italiano Antonio Gramsci (1891-1937) Meacuteszaacuteros (2008) destaca a
posiccedilatildeo democraacutetica de Gramsci com seu resgate do sentido estruturante
da educaccedilatildeo e de sua relaccedilatildeo com o trabalho Relaccedilatildeo que tambeacutem pode
ser encontrada em Adorno (1995) que assim como Gramsci destaca a
possibilidade emancipatoacuteria da educaccedilatildeo
A autonomia e a conscientizaccedilatildeo em Freire (1980 1983 2011)
tambeacutem podem ser vistas na resistecircncia agrave ideologia dominante
(hegemonia) analisada por Gramsci Portanto guardando as
especificidades de cada posiccedilatildeo teoacuterica especiacutefica Gramsci pode
dialogar com os autores tratados anteriormente no sentido de buscar um
66
rompimento com a loacutegica do capital E sua atualidade e relevacircncia no
contexto educacional em um paiacutes do Sul tambeacutem vai nessa direccedilatildeo
Eacute possiacutevel compreender o pensamento de Gramsci em relaccedilatildeo agrave
educaccedilatildeo a partir de sua proposta de integraccedilatildeo entre educaccedilatildeo trabalho
e cultura Nessa integraccedilatildeo um aspecto fundamental eacute a questatildeo da
hegemonia38 Para Gramsci (1982) a educaccedilatildeo estaria relacionada tanto
com a hegemonia quanto com a contra hegemonia A primeira teria
respaldo natildeo apenas no Estado mas tambeacutem na esfera privada sendo
que o modo segundo o qual a escola se organiza contribuiria para a
consolidaccedilatildeo da hegemonia que seria exercida essencialmente em niacutevel
da cultura e da ideologia (GRAMSCI 1982) Mas nesse ambiente
tambeacutem seriam formados sujeitos que auxiliariam na formaccedilatildeo de contra
hegemonia
Gramsci investiga a educaccedilatildeo tendo o sistema de ensino italiano
de sua eacutepoca como paracircmetro e o projeto da pedagoga russa Nadežda
Krupskaia39 (1869-1939) para a revisatildeo da educaccedilatildeo na Ruacutessia (desde a
Revoluccedilatildeo Russa de 1917) em mente A partir dessa anaacutelise e em
contrapartida ao dualismo (humanista x profissional) verificado na
escola italiana ele apresenta sua proposta de escola unitaacuteria Essa que
teria caraacuteter puacuteblico seria uacutenica de cultura geral e integrativa de
capacidades manuais e intelectuais
O advento da escola unitaacuteria significa o iniacutecio de
novas relaccedilotildees entre trabalho intelectual e trabalho
industrial natildeo apenas na escola mas em toda a
vida social O princiacutepio unitaacuterio por isso refletir-
se-aacute em todos os organismos de cultura
transformando-os e emprestando-lhes um novo
conteuacutedo (GRAMSCI 1982 p 125)
Portanto na escola unitaacuteria poderiam se iniciar as novas relaccedilotildees
entre trabalho intelectual e trabalho manual para aleacutem dessa e que
38 De modo simplificado podemos compreender a questatildeo da hegemonia em
Gramsci conforme explica Sassoon (1996) segundo a qual hegemonia indica
ldquoo princiacutepio organizador de uma sociedade na qual uma classe se impotildee sobre
as outras natildeo apenas atraveacutes da forccedila mas tambeacutem mantendo a sujeiccedilatildeo da
massa da populaccedilatildeordquo (p 350) e essa sujeiccedilatildeo considera a influecircncia no modo
como os sujeitos pensam 39 Conforme Manacorda (2013) o documento de Krupskaia eacute uma indicaccedilatildeo
expliacutecita e direta do modelo de escola unitaacuteria (escola uacutenica do trabalho) que
Gramsci ldquotem presente de forma constante em suas reflexotildeesrdquo (p 170)
67
seguiriam na vida social (GONZALES 1996) Uma questatildeo importante
na integraccedilatildeo do mundo da cultura com o mundo do trabalho eacute a de que
os trabalhadores sejam sujeitos intelectualmente ativos com acesso aos
conhecimentos e subsiacutedios para o desenvolvimento de atividades
culturais (GONZALES 1996)
Nessa escola unitaacuteria haveria tambeacutem uma preocupaccedilatildeo com o
desenvolvimento da criatividade Sua proposta apresentava vaacuterias fases
na escola e a uacuteltima delas ldquojaacute deve contribuir para desenvolver o
elemento de responsabilidade autocircnoma nos indiviacuteduos deve ser uma
escola criadorardquo (GRAMSCI 1982 p 124) Contudo natildeo haacute aiacute a ideia
de uma escola de ldquoinventores e descobridoresrdquo (GRAMSCI 1982) mas
um meacutetodo de investigaccedilatildeo e de conhecimento (cujo domiacutenio indica
maturidade intelectual) que pressupotildee inter-relaccedilatildeo entre educadora e
educandoa e no qual essea tem papel ativo e independente
Meu uacuteltimo apontamento sobre as reflexotildees de Gramsci em
relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo se refere a ideia de omnilateralidade Essa
concepccedilatildeo que diz respeito agrave emancipaccedilatildeo dos sujeitos atraveacutes do
trabalho seraacute tratada com mais detalhes em Marx a seguir Contudo
destaco que Gramsci considera que a base da cultura da educaccedilatildeo e da
escola seria a praacutetica produtiva do trabalho industrial (MANACORDA
2010)
Assim como o pensador alematildeo Karl Marx (1818-1883) Gramsci
privilegia a formaccedilatildeo do sujeito na perspectiva da omnilateralidade
Guardadas as diferenccedilas entre a escola unitaacuteria desse com a politecnia
daquele ambos ponderavam sobre uma educaccedilatildeo voltada agrave preparaccedilatildeo
dos sujeitos na sociedade socialista Desse modo a seguir exponho
algumas consideraccedilotildees sobre princiacutepios educativos em Marx que podem
colaborar com as reflexotildees sobre a educaccedilatildeo na atualidade
124 Karl Marx e a politecnia
O conceito de politecnia surgiu nas obras de Marx em meados do
seacuteculo XIX40 E foi tratado tambeacutem por pensadores como Lecircnin e
Gramsci (MANACORDA 2010) aleacutem de Krupskaia como jaacute
mencionei Conforme Saviani (1987) no contexto em que Marx
comeccedilou a refletir sobre politecnia a escola ainda natildeo era uma
instituiccedilatildeo democratizada mas restrita a classes privilegiadas
40 Entretanto Manacorda (2013) lembra-nos de que Krupskaia havia estudado a
questatildeo e encontrado referecircncias agrave educaccedilatildeo geral politeacutecnica em Lavoisier
Condorcet Rousseau Pestalozzi e Robert Owen
68
Mesmo que Marx juntamente com seu amigo compatriota e
parceiro intelectual Friedrich Engels (1820-1895) natildeo tivesse foco
especificamente na educaccedilatildeo escolar (a politecnia se refere agrave categoria
trabalho central nesses autores41) ele forneceu subsiacutedios para a criacutetica
da influecircncia do capitalismo nesse acircmbito de formaccedilatildeo (criacutetica comum
aos autores apontados acima) Como bem destaca Manacorda (2010 p
33) ldquo() a temaacutetica pedagoacutegica eacute de fato tratada de maneira ocasional
em seus aspectos especiacuteficos mas que acima de tudo estaacute colocada
organicamente no contexto de uma criacutetica rigorosa das relaccedilotildees sociaisrdquo
De modo geral a politecnia trata de uma concepccedilatildeo marxista (ou
marxiana42) de educaccedilatildeo segundo a qual o ser humano deve ser
integralmente desenvolvido em suas potencialidades (princiacutepio da
omnilateralidade) (MANACORDA 2010) Esse desenvolvimento
ocorreria atraveacutes de um processo educacional de totalidade que
proporcionaria formaccedilatildeo cientiacutefica (capacitaccedilatildeo teacutecnica) poliacutetica e
cultural geral (esteacutetica) tendo em vista a libertaccedilatildeo do ser humano Tal
propoacutesito educacional apresentaria as condiccedilotildees necessaacuterias agrave formaccedilatildeo
de seres ldquogeneacutericosrdquo e ldquouniversalizadosrdquo (MARX 1988) de modo que a
razatildeo da existecircncia do trabalhador natildeo poderia ser restrita agraves condiccedilotildees
naturais e agraves possibilidades de produccedilatildeo material (MANACORDA
2010 SILVA 2008)
Eacute importante esclarecer aqui que Marx e Engels (2004) ao
integrarem educaccedilatildeo e trabalho43 consideravam tambeacutem uma
regulaccedilatildeo do trabalho infantil (reduccedilatildeo da jornada e proibiccedilatildeo de
41 Conforme Saviani (2003) na politecnia natildeo existe trabalho manual puro e
nem trabalho intelectual puro sendo que ldquotodo trabalho humano envolve a
concomitacircncia do exerciacutecio dos membros das matildeos e do exerciacutecio mental
intelectual Isso estaacute na proacutepria origem do entendimento da realidade humana
como constituiacuteda pelo trabalhordquo (SAVIANI 2003 p 138) 42 Para Manacorda (2010) a politecnia trata de uma concepccedilatildeo marxiana pois eacute
inerente ao pensamento de Marx 43 Mesmo que brevemente eacute importante destacar as reflexotildees de Marx sobre a
oposiccedilatildeo entre trabalho alienado e trabalho produtivo Gonzales (1996)
esclarece que para Marx o trabalho natildeo seria apenas uma categoria econocircmica
mas tambeacutem e fundamentalmente antropoloacutegica Seria no trabalho que haveria
identificaccedilatildeo entre homem e natureza Daiacute que o trabalho alienado seria uma
atividade que produziria algo exterior produzindo necessidades do mercado e
natildeo do sujeito Ali a produccedilatildeo estaria direcionada para a necessidade de outros
sujeitos e o seu produto natildeo pertenceria ao trabalhador Jaacute o trabalho produtivo
seria uma atividade pela qual o homem desenvolveria a si mesmo seria a
expressatildeo proacutepria do sujeito de suas faculdades fiacutesicas e mentais
69
trabalho noturno) tendo em vista a sauacutede fiacutesica e intelectual desses Ao
fazer uma criacutetica ao emprego fabril de crianccedilas e adolescentes Marx e
Engels (2004 p 60) afirmam que ldquoa sociedade natildeo pode permitir que
pais e patrotildees empreguem no trabalho crianccedilas e adolescentes a menos
que se combine este trabalho produtivo com a educaccedilatildeordquo E essa
preocupaccedilatildeo vinha da percepccedilatildeo de que haveria uma tendecircncia da
induacutestria moderna para incorporar o trabalho de crianccedilas e jovens
Em seguida definem o que entendem por educaccedilatildeo
Por educaccedilatildeo entendemos trecircs coisas Educaccedilatildeo
intelectual Educaccedilatildeo corporal tal como a que se
consegue com os exerciacutecios de ginaacutestica e
militares Educaccedilatildeo tecnoloacutegica que recolhe os
princiacutepios gerais e de caraacuteter cientiacutefico de todo o
processo de produccedilatildeo e ao mesmo tempo inicia
as crianccedilas e os adolescentes no manejo de
ferramentas elementares dos diversos ramos
industriais (MARX ENGELS 2004 p 60)
Nesses termos Marx e Engels (2004) indicam a finalidade de sua
proposta ldquoEsta combinaccedilatildeo de trabalho produtivo pago com a educaccedilatildeo
intelectual os exerciacutecios corporais e a formaccedilatildeo politeacutecnica elevaraacute a
classe operaacuteria acima dos niacuteveis das classes burguesa e aristocraacuteticardquo
(MARX ENGELS 2004 p 60) Como destaca Frigotto (1999) o
princiacutepio educativo do trabalho visaria que o trabalhador tivesse
condiccedilotildees de superar uma visatildeo reducionista e utilitarista do trabalho
dentro de um processo coletivo ldquoorganizado de busca praacutetica de
transformaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais desumanizadoras e portanto
deseducativasrdquo (p 8) E nesse processo o desenvolvimento de
consciecircncia criacutetica seria fundamental
Na leitura que Manacorda (2010) e Silva (2008) fazem de Marx e
Engels a politecnia seria uma base formadora necessaacuteria agrave superaccedilatildeo da
unilateralidade em que o trabalhador estaria mantido em funccedilatildeo da
formaccedilatildeo voltada exclusivamente para a sua capacitaccedilatildeo produtiva Essa
unilateralizaccedilatildeo44 se caracterizaria por uma concepccedilatildeo capitalista na
qual os sujeitos precisariam atualizar suas habilidades teacutecnicas e
produtivas sempre que ocorressem inovaccedilotildees nas formas de produccedilatildeo
44 Silva (2008) destaca que a unilateralizaccedilatildeo eacute o oposto da onilateralizaccedilatildeo
Esta uacuteltima como a universalizaccedilatildeo se caracteriza como o processo que
proporciona a superaccedilatildeo da alienaccedilatildeo pela formaccedilatildeo do sujeito onilateral
atraveacutes da politecnia
70
mas sem alterar as relaccedilotildees de produccedilatildeo (MARX 1988) Assim a
unilateralizaccedilatildeo seria o oposto da universalizaccedilatildeo defendida por Marx e
Engels (MANACORDA 2010)
Em relaccedilatildeo agrave operacionalizaccedilatildeo da proposta de uniatildeo entre
educaccedilatildeo e trabalho Marx ao contraacuterio de Gramsci (1982) natildeo detalha
a implantaccedilatildeo de sua proposta para uma escola pautada nos pressupostos
socialistas Entretanto Rodrigues (2008) descreve que as ideias centrais
de um ensino politeacutecnico satildeo (i) educaccedilatildeo puacuteblica gratuita obrigatoacuteria
e uacutenica para todas as crianccedilas e jovens (ii) combinaccedilatildeo de educaccedilatildeo
(intelectual corporal e tecnoloacutegica) com a produccedilatildeo material para
superar o distanciamento entre essas atividades (iii) formaccedilatildeo onilateral
(multilateral integral) da personalidade e (iv) integraccedilatildeo reciacuteproca da
escola agrave sociedade com o propoacutesito de superar o estranhamento entre as
praacuteticas educativas e as demais praacuteticas sociais
Kuenzer (2013) destaca que a educaccedilatildeo politeacutecnica se refere agrave
integraccedilatildeo com vistas agrave emancipaccedilatildeo A ideia seria integrar trabalho
cultura e ciecircncia proporcionar o domiacutenio intelectual da teacutecnica e
articular teoria e praacutetica parte e totalidade disciplinaridade e
transdisciplinaridade O ensino politeacutecnico visaria promover portanto
aprendizagem com significado e assegurar a participaccedilatildeo de estudantes
na sistematizaccedilatildeo dos conhecimentos (KUENZER 2013) Princiacutepios
tambeacutem encontrados nos autores45 que foram vistos ateacute agora
No que diz respeito especificamente ao Brasil essa proposta de
educaccedilatildeo jaacute esteve na pauta de discussotildees pedagoacutegicas e fora dela por
diversas vezes46 Em resumo eacute possiacutevel destacar a iniciativa do filoacutesofo
e pedagogo brasileiro Dermeval Saviani atraveacutes de um curso de
doutorado da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo (PUCSP)
nos anos 1980 que buscou desenvolver uma criacutetica consistente ao
especialismo ao autoritarismo e ao reprodutivismo em educaccedilatildeo assim
como ao marxismo vulgar Segundo Rodrigues (2008) Saviani entendia
45 Destaco principalmente que essas posiccedilotildees vatildeo ao encontro de Freire
(1985) pois educaccedilatildeo se refere a comunicaccedilatildeo e dialogicidade Algo que
exige alteridade Como natildeo haveria transferecircncia (de conhecimentos) a
interlocuccedilatildeo a troca e a criaccedilatildeo de sentidos seriam possiacuteveis Portanto natildeo
haveria espaccedilo para assistencialismo nessa relaccedilatildeo dialoacutegica 46 Em artigo publicado no ano de 2014 examinei a Proposta Pedagoacutegica para o
Ensino Meacutedio Politeacutecnico e Educaccedilatildeo Profissional Integrada ao Ensino Meacutedio
do Governo do Estado do Rio Grande do Sul (RS) mandato 2011-2014 A ideia
foi compreender modos pelos quais a tecnologia era entendida na proposta
(CORREcircA 2014)
71
que estudar teoria da formaccedilatildeo humana consistia em apreender
concepccedilotildees de homem sociedade e educaccedilatildeo em Marx e Gramsci
Natildeo haacute aqui a intenccedilatildeo de explicitar a trajetoacuteria do ensino
politeacutecnico no Brasil (ou em outros lugares) Contudo de modo geral e
tendo em vista as diferentes perspectivas dosas autoresas47 envolvidos
no debate pedagoacutegico politeacutecnico eacute possiacutevel destacar que a proposta
brasileira de educaccedilatildeo politeacutecnica pode ser caracterizada por trecircs eixos
fundamentais dimensatildeo infraestrutural (reapropriaccedilatildeo do domiacutenio do
trabalho ndash possiacutevel desde as transformaccedilotildees tecnoloacutegicas) dimensatildeo
socialista (ruptura com a educaccedilatildeo estritamente profissionalizante) e
dimensatildeo pedagoacutegica (buscar praacuteticas pedagoacutegicas concretas)
(RODRIGUES 2008)
Sendo assim assinalo que na politecnia o ser humano seria o foco
central e natildeo o mercado de trabalho Tendo em vista que o
conhecimento da realidade histoacuterica e social em dado periacuteodo partiria
das consideraccedilotildees sobre os elementos materiais que a determinariam no
ensino politeacutecnico haveria a busca por uma formaccedilatildeo na qual o
trabalhador pudesse atuar no cenaacuterio poliacutetico e desfrutar do patrimocircnio
cultural produzido pela humanidade (RODRIGUES 2008)48
Saviani (1989 2003) destaca que o sentido de politecnia
envolvido na proposta de ensino politeacutecnico natildeo prevecirc um trabalhador
polivalente que exerce muacuteltiplas funccedilotildees antes se refere ao domiacutenio
dos fundamentos cientiacuteficos das diferentes teacutecnicas que caracterizam o
processo de trabalho produtivo moderno tendo em vista que o
trabalhador possa desenvolver diversas modalidades de trabalho com a
compreensatildeo do seu caraacuteter e da sua essecircncia
Esse autor lembra que mesmo que a politecnia signifique
literalmente muacuteltiplas teacutecnicas esse conceito natildeo se refere agrave totalidade
das diferentes teacutecnicas fragmentadas autonomamente consideradas ldquoSe
a politecnia fosse o conjunto da totalidade das teacutecnicas disponiacuteveis
haveria uma relaccedilatildeo sempre incompleta sempre sujeita a acreacutescimordquo
(SAVIANI 2003 p140) Portanto a educaccedilatildeo politeacutecnica natildeo significa
47 Eacute possiacutevel aprofundar a questatildeo ao verificar autoresas como Acaacutecia Kuenzer
Gaudecircncio Frigotto Joseacute Rodrigues e Luciacutelia Machado entre outros 48 Esses princiacutepios tambeacutem aparecem em Freire (1983) Meacuteszaacuteros (2008) e
Adorno (1995) que criticam modelos de educaccedilatildeo voltadas agrave adaptaccedilatildeo e
passividade sem integraccedilatildeo de conhecimentos
72
absolutamente o ensino de uma multiplicidade de teacutecnicas embora
contenha uma dimensatildeo tecnoloacutegica central em sua perspectiva49
Para finalizar os apontamentos sobre a politecnia destaco a
controveacutersia que existe em relaccedilatildeo agrave qual seria a sua melhor
denominaccedilatildeo As opccedilotildees aqui listadas seriam (i) educaccedilatildeo tecnoloacutegica e
(ii) educaccedilatildeo politeacutecnica Conforme Saviani (2003) em (i) encontramos
uma apropriaccedilatildeo pelo discurso burguecircs hegemocircnico enquanto que em
(ii) ldquoa concepccedilatildeo de politecnia foi preservada na tradiccedilatildeo socialista
sendo uma das maneiras de demarcar esta visatildeo educativa em relaccedilatildeo
agravequela correspondente agrave concepccedilatildeo dominanterdquo (SAVIANI 2003 p
146)
A seguir examino alguns pontos sobre a ECT e a Educaccedilatildeo CTS
de modo que a opccedilatildeo pela educaccedilatildeo politeacutecnica fique delineada
13 ECT E EDUCACcedilAtildeO CTS
A ECT em sentidos gerais se ocupa de processos educacionais
(formais ou natildeo) no que diz respeito a temas em ciecircncia e tecnologia
(ou CampT)50 com consideraccedilatildeo dos contextos nos quais esses processos
se estabelecem Muitos estudos tecircm foco por exemplo (i) nas
implicaccedilotildees sociais da ciecircncia e da tecnologia na educaccedilatildeo (ii) em uma
formaccedilatildeo de professoresas que contemple a contextualizaccedilatildeo do ensino
em temas cientiacuteficos e tecnoloacutegicos (iii) nas formas de socializaccedilatildeo
(divulgaccedilatildeo) dos conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos (iv) nas
epistemologias e histoacuterias das Ciecircncias Naturais e da Matemaacutetica (v)
em processos de ensino e aprendizagem em Biologia Quiacutemica Fiacutesica e
Matemaacutetica (vi) nas relaccedilotildees entre miacutedias novas tecnologias de
informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo e o ensino de ciecircncias e de tecnologia (vii)
em poliacutetica cientiacutefica e tecnoloacutegica (viii) em estudos focados na anaacutelise
do funcionamento da linguagem (ix) em relaccedilotildees de gecircnero no acircmbito
das ciecircncias e da tecnologia e (x) em relaccedilotildees entre ciecircncia tecnologia
sociedade e ambiente (CTSA) entre outros temas
Conforme Grinspun (2009) a tecnologia envolve um saber que
pode ser adquirido pela teoria praacutetica e pesquisa daiacute a centralidade da
educaccedilatildeo tecnoloacutegica ldquoquer para preparaccedilatildeo de todo aquele que vive em
49 Voltarei ao tema politeacutecnico adiante para analisar suas possibilidades e
limites na investigaccedilatildeo sobre transformaccedilatildeo de sentidos sobre tecnologia atraveacutes
de uma perspectiva criacutetica de TS 50 Uma discussatildeo sobre as nomenclaturas em relaccedilatildeo agrave CampT satildeo feitas no
proacuteximo capiacutetulo
73
sociedades em que a tecnologia estabeleceu-se quer para a formaccedilatildeo de
pessoal habilitado que a crie desenvolva e opererdquo (GRINSPUN 2009
p 17) Mas isso natildeo significaria uma formaccedilatildeo teacutecnica-profissional
antes uma educaccedilatildeo em sentido amplo como formaccedilatildeo humana tendo
em vista responsabilidades frente aos aspectos tecnoloacutegicos da
sociedade como a que aqui defendo
Em termos de educaccedilatildeo baacutesica51 Moll (2010) destaca as relaccedilotildees
entre educaccedilatildeo e tecnologia no ensino profissional e tecnoloacutegico tendo
em vista o caraacuteter poliacutetico da educaccedilatildeo e as potencialidades para que
esse modelo de ensino seja mais uma ferramenta para transformar a
sociedade superando desigualdades sociais econocircmicas culturais e
poliacuteticas Nesse mesmo aspecto e incluindo o termo profissional agrave
educaccedilatildeo tecnoloacutegica concordo com Frigotto (2010) na defesa da
integraccedilatildeo (e natildeo apenas articulaccedilatildeo) da formaccedilatildeo profissional agrave
educaccedilatildeo baacutesica
O estabelecimento de um viacutenculo mais orgacircnico
entre a universalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo baacutesica e a
formaccedilatildeo teacutecnico-profissional implica resgatar a
educaccedilatildeo baacutesica (fundamental e meacutedia) na sua
concepccedilatildeo unitaacuteria e politeacutecnica ou tecnoloacutegica
Portanto trata-se de uma educaccedilatildeo natildeo dualista
que articule cultura conhecimento tecnologia e
trabalho como direito de todos e condiccedilatildeo de
cidadania e democracia efetivas (2010 p 37)
Desse modo articulo minha perspectiva sobre educaccedilatildeo
(politecnia) dentro do quadro geral da ECT (nas implicaccedilotildees sociais da
tecnologia na educaccedilatildeo) bem como da Educaccedilatildeo CTS
Lembro que essa uacuteltima eacute uma aacuterea dentro dos ECTS52 Ao
examinaacute-la eacute interessante destacar que de modo geral nos ECTS
quando buscamos estabelecer relaccedilotildees entre ciecircncia tecnologia e
sociedade consideramos que ciecircncia e tecnologia satildeo contextuais pois
satildeo desenvolvidas em situaccedilotildees soacutecio-histoacutericas especiacuteficas Nessa
direccedilatildeo Linsingen (2002) aponta que tais relaccedilotildees
51 Voltarei ao tema da educaccedilatildeo baacutesica e profissional no terceiro capiacutetulo 52 Para uma visatildeo histoacuterica e mais esquemaacutetica de classificaccedilotildees dentro dos
chamados enfoques CTS verificar a seguinte referecircncia SANTOS W L P
Significados da educaccedilatildeo cientiacutefica com enfoque CTS In SANTOS W L P
AULER D CTS e educaccedilatildeo cientiacutefica desafios tendecircncias e resultados de
pesquisa Brasiacutelia Editora UnB 2011
74
() natildeo existe agrave margem do proacuteprio contexto
social em que se desenvolve e no qual os
conhecimentos e os artefatos adquirem relevacircncia
e valor Desse modo as imbricaccedilotildees entre ciecircncia
tecnologia e sociedade apresentam uma
complexidade muito maior do que as decorrentes
das relaccedilotildees imaginadas entre campos estanques
que se comunicam mas sem interpenetraccedilatildeo
apontando para uma anaacutelise mais cuidadosa e
abrangente das reciprocidades ao inveacutes da
simples aplicaccedilatildeo da claacutessica relaccedilatildeo linear entra
elas (LINSINGEN 2002 p100)
A complexidade dos ECTS como campo interdisciplinar
tambeacutem pode ser verificada na variedade de perspectivas teoacutericas que o
compotildee Neles perpassam desde estudos construtivistas (TAR e estudos
socioteacutecnicos por exemplo) influenciados pelo Programa Forte na
Sociologia do Conhecimento (BLOOR 2009) ateacute anaacutelises estruturais da
TCT (FEENBERG 1991) herdeira da Escola de Frankfurt
Sendo que Thomas Kuhn Paul Feyerabend David Bloor
Hernaacuten Thomas Ludwik Fleck Rosalba Casas Bruno Latour Mariano
Zukerfeld Pablo Kreimer Michel Callon Hebe Vessuri Karin Knorr-
Cetina Trevor Pinch Wiebe Bijker e Andrew Feenberg satildeo algumas das
referecircncias estrangeiras (de fora do Brasil) entre tantas outras comuns
em todo o campo teoacuterico de anaacutelises (COLLINS 2015 ABRAHAtildeO
2015)
Em relaccedilatildeo aos ECTS latino-americanos Linsingen (2007)
explica que suas reflexotildees abordam as especificidades que se referem agrave
ciecircncia e tecnologia na Ameacuterica Latina e de modo mais abrangente
ibero-americanas Esses estudos que desde meados dos anos 196053
vem contribuindo de modo sistemaacutetico para a ressignificaccedilatildeo da
natureza do conhecimento cientiacutefico e tecnoloacutegico e de suas implicaccedilotildees
socioculturais e socioeconocircmicas podem ser considerados como ldquoum
campo de trabalho de caraacuteter criacutetico com relaccedilatildeo agrave tradicional imagem
53 Nesse contexto desenvolveu-se o chamado Pensamento Latino-americano
sobre Ciecircncia Tecnologia e Sociedade (PLACTS) que tinha foco na elaboraccedilatildeo
da Poliacutetica de Ciecircncia e Tecnologia (PCT) dos paiacuteses latino-americanos em
contraposiccedilatildeo aos chamados paiacuteses avanccedilados (DAGNINO THOMAS
DAVYT 1996)
75
essencialista da ciecircncia e da tecnologiardquo (CASSIANI LINSINGEN
GIRALDI p 61 2011)
Linsingen (2007) destaca ainda que os ECTS latino-americanos
contestam percepccedilotildees sociais hegemocircnicas da ciecircncia e tecnologia muito
presentes em diferentes campos de conhecimento e com influecircncia nas
poliacuteticas puacuteblicas desses paiacuteses Nessas percepccedilotildees ldquotanto ciecircncia
quanto tecnologia e por extensatildeo todas as aacutereas teacutecnicas que lhes datildeo
sustentaccedilatildeo deveriam estar alheias a interesses opiniotildees e valoraccedilotildeesrdquo
(LINSINGEN 2007 p 03)
Em contraposiccedilatildeo a essa percepccedilatildeo os ECTS latino-americanos
consideram como jaacute apontei aspectos filosoacuteficos antropoloacutegicos
poliacuteticos e socioloacutegicos da ciecircncia e da tecnologia bem como elementos
educacionais com elas envolvidos A relaccedilatildeo desses estudos com
processos educacionais considera reflexotildees sobre condicionamentos
sociais poliacuteticos econocircmicos e ambientais nas decisotildees e nos processos
cientiacuteficos e tecnoloacutegicos compreendidos como praacuteticas sociais natildeo
neutras e dependentes de contextos histoacutericos (CASSIANI
LINSINGEN 2010)
Em termos educacionais e nessa direccedilatildeo concordo com
Linsingen (2007) quando ele destaca que a Educaccedilatildeo CTS tem
preocupaccedilatildeo com uma abordagem educacional que seja contextualizada
(como ensinar o que eacute importante para esse sujeito nessa situaccedilatildeo
especiacutefica) que problematize a noccedilatildeo de transferecircncia de
conhecimentos (como mobilizarmos para a autoria e autonomia) que
esteja em sintonia com os aspectos sociais (para quem e onde estou
falando) e comprometida em termos curriculares (o que estounatildeo estou
ensinando e por quecirc)
Dentro dessa abordagem pesquisas (destaco aqui algumas em
Educaccedilatildeo em Ciecircncias) buscam articulaccedilotildees com pressupostos da
pedagogia de Paulo Freire Os diferentes enfoques teoacutericos de autoresas
como Delizoicov (2008) Auler (2006) Auler e Delizoicov (2001)54
54 Com a intenccedilatildeo de contribuir para a construccedilatildeo de uma imagem mais realista
das atividades cientiacuteficas e tecnoloacutegicas os autores mostram uma importante
relaccedilatildeo entre CTS e a superaccedilatildeo do que eles chamam de mitos no ensino de
ciecircncias superioridade do modelo tecnocrata perspectiva salvacionista da
ciecircncia e tecnologia e determinismo tecnoloacutegico aleacutem da neutralidade da
ciecircncia e da tecnologia (ldquomito originalrdquo) grifo dos autores Auler e Delizoicov
(2001) apontam que aproximaccedilotildees com o referencial freireano podem contribuir
para a superaccedilatildeo desses mitos Tendo em vista que para Freire (1983 1987) a
educaccedilatildeo tambeacutem eacute entendida como uma leitura criacutetica do mundo os autores
destacam que ldquouma reinvenccedilatildeo da concepccedilatildeo freireana deve incluir uma
76
Nascimento e Linsingen (2006) e Cassiani Linsingen e Lunardi
(2012)55 discutem e buscam ampliar essas articulaccedilotildees Como destaca
Linsingen (2007) satildeo estimuladas possibilidades de debates que
envolvem os sentidos dos ECTS em relaccedilatildeo sobretudo agrave investigaccedilatildeo
temaacutetica freireana (temas geradores)
De maneira simplificada aponto que a perspectiva de educaccedilatildeo
dialoacutegico-problematizadora (FREIRE 1983) pode ser entendida como
um levantamento coletivo de temas relevantes para os sujeitos de modo
que o quotidiano poderia ser compreendido com vistas a sua
transformaccedilatildeo Na investigaccedilatildeo temaacutetica (FREIRE 1987) os temas
geradores estatildeo portanto relacionados com a vivecircncia dosas
educandosas e consideram os conhecimentos historicamente
produzidos
Lembremos que Freire (1987) esclarece que o que se pretende
investigar satildeo os sujeitos que se encontram envolvidos em seus temas
geradores de modo que esses uacuteltimos nos daratildeo um ldquouniverso miacutenimo
temaacuteticordquo Para o autor o conceito de tema gerador natildeo eacute uma
arbitrariedade ldquoou uma hipoacutetese de trabalho que deva ser comprovada
Se o lsquotema geradorrsquo fosse uma hipoacutetese que devesse ser comprovada a
investigaccedilatildeo primeiramente natildeo seria em torno dele mas de sua
existecircncia ou natildeordquo (FREIRE 1987 p 88)
Ao se referir agrave metodologia de investigaccedilatildeo dos temas geradores
Freire (1987) enfatiza que ldquoo tema gerador natildeo se encontra nos homens
isolados da realidade nem tampouco na realidade separada dos homens
Soacute pode ser compreendido nas relaccedilotildees homem-mundo (FREIRE 1987
p 98) Desse modo poderia ser iniciado o desenvolvimento de uma
metodologia dialeacutetica (codificaccedilatildeo e descodificaccedilatildeo) conscientizadora
atraveacutes da qual os sujeitos poderiam pensar seu mundo de modo criacutetico
Delizoicov (2008) indica que nesse sentido uma linha de accedilatildeo
seria estabelecida com o intuito de apreender e trabalhar os temas
geradores dialeticamente no transcorrer de todo o processo educativo
Considero que o destaque do autor para possibilidades dialeacuteticas da
investigaccedilatildeo temaacutetica satildeo importantes para pensarmos a complexidade
dos processos educacionais em um paiacutes do Sul tendo em vista busca por
contextos de autonomia e emancipaccedilatildeo
compreensatildeo criacutetica sobre as interaccedilotildees entre Ciecircncia-Tecnologia-Sociedade
dimensatildeo fundamental para essa lsquoleitura do mundorsquo contemporacircneordquo (AULER
DELIZOICOV 2001 p 09) 55 Autoresas que vivenciam essas articulaccedilotildees na praacutetica de formaccedilatildeo de
professores em Timor-Leste
77
Em conjunto com a busca por um contexto possiacutevel para que os
sujeitos possam tomar decisotildees informadas e criacuteticas em assuntos sobre
ciecircncia e tecnologia (CASSIANI LINSINGEN 2010) um dos
interesses dos ECTS e da Educaccedilatildeo CTS eacute a investigaccedilatildeo sobre
produccedilatildeo de conhecimentos e TS Portanto quando trato da Educaccedilatildeo
CTS ou na perspectiva educacional dos ECTS considero aleacutem dos
conhecimentos ldquooficiaisrdquo (i) os conhecimentos situados costumeiros
ancestrais e taacutecitos que emergem de modo bem marcado na
configuraccedilatildeo das TS e (ii) diaacutelogos entre esses conhecimentos
ecologia56 dos saberes (SANTOS MENESES 2010 SANTOS 2007)
como mostrarei no segundo capiacutetulo
Antes disso apresento a seguir estudos latino-americanos
recentes57 que em alguma medida relacionam-se com a Educaccedilatildeo CTS
131 Estudos em Educaccedilatildeo CTS
O primeiro estudo a que me refiro traz o estado da arte da
temaacutetica em Educaccedilatildeo CTS Intitulado ldquoAs abordagens teoacuterico-
metodoloacutegicas dos trabalhos apresentados no V TECSOC e no
ESOCITE4S e sua articulaccedilatildeo com o campo da Educaccedilatildeo CTSrdquo
56 Esclareccedilo que ao buscar entender o termo ldquoecologiardquo em Boaventura
considero dois aspectos O primeiro deles eacute certo cuidado com uma possiacutevel
naturalizaccedilatildeo de aspectos soacutecio-histoacutericos ao utilizar termos das Ciecircncias
Bioloacutegicas nas Ciecircncias Sociais E o segundo deles diz respeito a minha
profunda falta de expertise em Ciecircncias Naturais Nesse quadro percebo que
nas Ciecircncias Bioloacutegicas ecologia pode ser referir a pelo menos trecircs aspectos
relaccedilotildees (seres vivos e meio) interaccedilotildees (entre seres) e coexistecircncia (em
determinados ambientes) Conforme as anaacutelises propostas por Boaventura
Meneses (2014 p 93) esclarece que ldquoA ideia da ecologia denota
multiplicidades e relaccedilotildees natildeo destrutivasrdquo A autora elenca as cinco ecologias
desenvolvidas por Boaventura ecologia dos saberes (identificar outros saberes e
criteacuterios de rigor) ecologia das temporalidades (inclui vaacuterias temporalidades)
ecologia dos reconhecimentos (identificar diferenccedilas entre iguais sem
desconsiderar sua legitimidade) ecologia das transescalas (desglobalizar o local
e globalizar a diversidade) e ecologia das produtividades (recuperar e valorizar
sistemas alternativos de produccedilatildeo) assim compreendo que uma possibilidade
de leitura para o termo possa considerar um sentido de conflito e tensatildeo no qual
as contradiccedilotildees lutas e resistecircncias apareceriam e natildeo seriam silenciadas 57 Os trabalhos a que faccedilo referecircncia foram enviados ao VI Simpoacutesio Nacional
de Ciecircncia Tecnologia e Sociedade (VI ESOCITE BrasilTECSOC) realizado
na cidade do Rio de Janeiro no ano de 2015 e estatildeo disponiacuteveis em
httpwwwrio2015esociteorgsiteanaisarquivoresumoMODALIDADE=6
78
(SILVEIRA MATOS GANHOR 2015) o artigo traz um levantamento
dos uacuteltimos encontros TECSOC e ESOCITE4S (realizados nos anos de
2013 e 2014 respectivamente) Os autores analisaram textos dos Grupos
de Trabalho (GTrsquos) de Educaccedilatildeo CTS e buscaram apreender a
perspectiva adotada os referenciais teoacutericos e as metodologias
propostas A ideia seria verificar como as visotildees estampadas nos artigos
desses GTrsquos operacionalizariam a formaccedilatildeo CTS aleacutem de seu proacuteprio
discurso ou de suas intenccedilotildees
No trabalho ldquoA participaccedilatildeo puacuteblica em Ciecircncia e Tecnologia e a
Educaccedilatildeo CTSrdquo (ldquoLa participacioacuten puacuteblica en Ciencia y Tecnologiacutea y
la Educacioacuten CTSrdquo)58 Ortega (2015) considera que a cidadania
cientiacutefica-tecnoloacutegica eacute exercida mediante mecanismos e processos de
participaccedilatildeo puacuteblica intrinsecamente relacionados com visotildees sobre
ciecircncia e tecnologia A autora destaca que existem processos de
participaccedilatildeo ex ante na Ameacuterica Latina e aponta a extensatildeo universitaacuteria
e processos de desenvolvimento de TS como exemplos de coproduccedilatildeo
de conhecimentos A partir dessas consideraccedilotildees ela busca aprofundar
articulaccedilotildees possiacuteveis entre a pedagogia criacutetica baseada no lugar e os
ECTS Tendo em vista produzir conhecimentos em Educaccedilatildeo CTS a
autora analisa um processo de formaccedilatildeo para participaccedilatildeo puacuteblica na
cidade de Campinas no estado de Satildeo Paulo
Com foco na educaccedilatildeo tecnoloacutegica o trabalho ldquoArticulaccedilotildees
entre CTS e Paulo Freire na definiccedilatildeo de objetos de educaccedilatildeo
tecnoloacutegicardquo de Niezwida (2015) analisa o contexto da educaccedilatildeo
tecnoloacutegica (o que ensinar) na Argentina A autora defende a educaccedilatildeo
tecnoloacutegica como um acircmbito potencial de intervenccedilatildeo mesmo que
indireto em questotildees de tecnocientiacuteficas59 Para isso ela propotildee que se
assumam tanto pressupostos epistemoloacutegicos e pedagoacutegicos adequados
quanto uma perspectiva distinta sobre o que eacute ser professora alunoa e
conhecimento nesse acircmbito de formaccedilatildeo
Tendo a divulgaccedilatildeo cientiacutefica como relacionada com a Educaccedilatildeo
CTS Socorro e Penido (2015) abordam espaccedilos natildeo formais de
divulgaccedilatildeo de ciecircncia e tecnologia no trabalho ldquoA contribuiccedilatildeo do
Instituto Kirimurecirc na divulgaccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia em espaccedilos
natildeo formais da Baia de Todos os Santosrdquo Ao analisarem as
contribuiccedilotildees do Instituto as autoras realizam um levantamento e uma
anaacutelise dos meacutetodos e abordagens das praacuteticas de divulgaccedilatildeo cientiacutefica
58 Artigo original em liacutengua espanhola Traduccedilatildeo livre da autora 59 Na paacutegina 98 em nota de rodapeacute faccedilo algumas consideraccedilotildees sobre o uso do
termo ldquotecnocientiacuteficordquo
79
nos espaccedilos natildeo formais dos municiacutepios da Baia de Todos os Santos e as
contribuiccedilotildees na promoccedilatildeo da difusatildeo do conhecimento em ciecircncia e
tecnologia nas aacutereas das Ciecircncias da Natureza
A divulgaccedilatildeo cientiacutefica tambeacutem eacute tema do artigo de Janning
(2015) ldquoAnaacutelise dos discursos sobre ciecircncia em um livro de divulgaccedilatildeo
cientiacutefica sobre formigas diaacutelogos com educaccedilatildeo CTSrdquo O autor analisa
um livro de divulgaccedilatildeo cientiacutefica sobre a vida das formigas pois no
tema haveria potencial didaacutetico para os ensinos fundamental e meacutedio
Pelo estudo de formigas seria possiacutevel desenvolver educaccedilatildeo ambiental
ao se relacionar temas como pragas agriacutecolas interaccedilotildees ecoloacutegicas e
coevoluccedilatildeo folclore e conhecimentos tradicionais Para isso o autor
utiliza os referenciais teoacuterico-metodoloacutegicos da AD de linha francesa e
contribuiccedilotildees da perspectiva discursiva de Educaccedilatildeo CTS Os resultados
mostraram que eacute possiacutevel relacionar sociedades humanas e das formigas
perceber questotildees sobre o papel do cientista do meacutetodo e do erro na
pesquisa assim como verificar como um discurso natildeo cientiacutefico se
transforma atraveacutes de efeitos de sentidos em discurso cientiacutefico no
livro analisado
O estudo intitulado ldquoEducaccedilatildeo CTS nos bacharelados
interdisciplinares em ciecircncia e tecnologia na regiatildeo nordeste do Brasilrdquo
de Lucena e Cabral (2015) traz resultados de uma pesquisa iniciada no
ano de 2010 sobre a poliacutetica do Governo Federal do Brasil de
desenvolvimento e implantaccedilatildeo de Bacharelados Interdisciplinares em
Ciecircncias e Tecnologia (BICT) O objetivo das autoras seria mapear a
presenccedila das disciplinas em humanidades nos cursos existentes na
regiatildeo Nordeste e identificar relaccedilotildees com abordagens CTS Ao
analisarem documentos oficiais projetos pedagoacutegicos e curriacuteculos entre
outros materiais elas apontam tanto para a contribuiccedilatildeo dos estudos
CTS para a formaccedilatildeo eacutetica e responsaacutevel de cientistas e engenheiros
quanto para a ampliaccedilatildeo desses estudos no espaccedilo dos BICT
Os sentidos construiacutedos sobre Educaccedilatildeo CTS por docentes em um
curso de Engenharia faz parte da anaacutelise realizada por Jacinski (2015)
No trabalho ldquoEducaccedilatildeo CTS no curso de Engenharia da Computaccedilatildeo
sentidos construiacutedos pelos docentesrdquo o autor traz resultados de uma
pesquisa qualitativa feita no curso de Engenharia de Computaccedilatildeo da
Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute (UTFPR) Nessa pesquisa
o autor articulou referenciais da Educaccedilatildeo CTS e dos ECTS com uma
perspectiva discursiva do Ciacuterculo de Bakhtin Suas conclusotildees mostram
dificuldades em abrir a caixa-preta da tecnologia para osas futurosas
engenheirosas e apontam para a permanecircncia de uma tensatildeo dialoacutegica
entre uma formaccedilatildeo que problematize os aspectos sociais da tecnologia
80
e uma organizaccedilatildeo curricular disciplinar que reitere perspectivas
deterministas e lineares da tecnologia
O trabalho ldquoA inclusatildeo do saber do catador na construccedilatildeo de
plataforma informativo-educativa em prol da reciclagem inclusivardquo de
Ventura e Andrade (2015) tem foco na gestatildeo problemaacutetica de resiacuteduos
soacutelidos em aacutereas urbanas Os autores analisam como a Plataforma
Online Interativa Passo Certo (que segundo eles eacute uma proposta
tecnoloacutegica diferenciada de aprendizagem) envolveria diretamente
catadoresas latino-americanosas em seu processo de criaccedilatildeo e
desenvolvimento Para os autores essa participaccedilatildeo teria valorizado
osas catadoresas como detentoresas de saberes imprescindiacuteveis para a
gestatildeo dos resiacuteduos soacutelidos
Reis (2015) parte do suposto de que assuntos controversos tais
como transgecircnicos ou ceacutelulas tronco necessitariam ser debatidos em
sociedade mas essa precisaria ter conhecimentos mais profundos (aleacutem
das informaccedilotildees veiculadas na miacutedia) e que natildeo estatildeo contemplados
pelo curriacuteculo escolar Com isso a autora apresenta o estudo ldquoA
Ciecircncia vai agrave Sociedade Projeto de Extensatildeo Universitaacuteria Oficinas
Filosoacuteficas em Ciecircncia Tecnologia e Sociedade (CTS)rdquo que objetiva
levar alunosas do ensino meacutedio da cidade de Campos dos Goytacazes
(RJ) a refletirem sobre as consequecircncias dos avanccedilos tecnoloacutegicos O
projeto desenvolvido na Universidade Estadual do Norte Fluminense
Darcy Ribeiro (UENF) resultou em dados que segundo a autora podem
levar agrave compreensatildeo das concepccedilotildees que osas alunosas possuem sobre
ciecircncia e universidade
O trabalho de Silva (2015) e colegas intitulado ldquoDiscussotildees
educacionais em CTS relato de experiecircncia em sala de aula na visatildeo
discente do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Tecnologia da UTFPRrdquo
compartilha experiecircncias docentes sobre praacuteticas de ensino na
perspectiva das muacuteltiplas visotildees disciplinares relacionadas agraves discussotildees
CTS Os autores fizeram um levantamento de dados e de documentaccedilotildees
de suas experiecircncias em sala de aula e consideraram a experiecircncia
discente como ponto de partida para a percepccedilatildeo dos dilemas
disciplinares na academia e da problemaacutetica CTS na universidade Com
isso integram tanto as formaccedilotildees especificas de graduaccedilatildeo quanto as
linhas e temaacuteticas de pesquisa de cada docente e discente
A educaccedilatildeo ambiental com abordagem CTS eacute tema do estudo de
Gomes (2015) No artigo ldquoO potencial das controveacutersias
sociocientiacuteficas para a educaccedilatildeo ambiental com abordagem CTSrdquo a
autora reflete sobre a necessidade de apresentar e discutir os problemas
ambientais no acircmbito escolar (educaccedilatildeo ambiental) de modo que
81
cidadatildesatildeos possam ter consciecircncia dos problemas e das formas de
solucionaacute-los A ideia seria resgatar aspectos da trajetoacuteria histoacuterica da
inserccedilatildeo e aperfeiccediloamento da educaccedilatildeo ambiental no acircmbito escolar
que acabou culminando na proposiccedilatildeo e desenvolvimento de pesquisas
sobre a viabilidade e importacircncia do uso de controveacutersias
sociocientiacuteficas na educaccedilatildeo escolar
O artigo de Bueno (2015) intitulado ldquoCiecircncia tecnologia e
interdisciplinaridade numa perspectiva histoacuterico-criacutetica aspectos
pedagoacutegicos na formaccedilatildeo docenterdquo traz um relato de experiecircncia em um
curso de Licenciatura interdisciplinar em Ciecircncias Naturais em uma
universidade puacuteblica A autora utiliza uma abordagem pedagoacutegica
histoacuterico-criacutetica para mostrar aspectos epistemoloacutegicos na formaccedilatildeo
docente e destaca a dimensatildeo da tecnologia presente na organizaccedilatildeo do
trabalho pedagoacutegico Eacute enfatizada a abordagem interdisciplinar
necessaacuteria agrave formaccedilatildeo docente fundamentada em uma pedagogia
progressista e em perspectivas criacuteticas da ciecircncia e da tecnologia
Um olhar sobre museus existentes em paiacuteses latino-americanos
que possuam exposiccedilotildees destinadas agrave saberes e teacutecnicas de civilizaccedilotildees
preacute-colombianas eacute a intenccedilatildeo do estudo de Gorri (2015) no artigo
ldquoExposiccedilotildees destinadas agrave saberes e teacutecnicas de civilizaccedilotildees preacute-
colombianas em museus latino-americanos e o Ensino de Ciecircncias e
Tecnologiasrdquo O trabalho objetiva investigar em quais museus de paiacuteses
latino-americanos encontram-se exposiccedilotildees destinadas a temaacuteticas em
ciecircncia e tecnologia para compreender como elas podem contribuir para
problematizaccedilotildees sobre a dominacircncia e a neutralidade concedidas aos
conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos a partir da consolidaccedilatildeo do
contexto histoacuterico da modernidade-colonialidade
A colonialidade tambeacutem eacute debatida no trabalho de Diniz (2015)
ldquoDiaacutelogos e olhares sobre CTS em Timor-Leste uma experiecircncia no
curso de Poliacuteticas Puacuteblicas da UNTLrdquo A autora apresenta um relato
sobre experiecircncias vivenciadas a partir da co-docecircncia na disciplina
Ciecircncia Tecnologia e Ciecircncias dos Valores Humanos ministrada para
estudantes do 6ordm periacuteodo do curso de Poliacuteticas Puacuteblicas da Faculdade de
Ciecircncias Sociais da UNTL Com isso ela destaca que um dos desafios
encontrados foi a dificuldade de professoresas timorenses e
brasileirosas para interpretar e compreender as ementas das disciplinas
(muitas vezes traduzidas da liacutengua indoneacutesia) E pontua que a Educaccedilatildeo
CTS natildeo deveria ser tratada apenas nessa disciplina mas
transversalmente nas demais disciplinas da proposta curricular do curso
Diferentes sentidos produzidos sobre tecnologia no Norte e no
Sul tambeacutem satildeo tema do estudo de Trevisan (2015) No trabalho
82
ldquoCiecircncia teacutecnica e tecnologia em dicionaacuterios de Sociologia e Ciecircncias
Sociaisrdquo o autor considera que o dicionaacuterio eacute uma tecnologia que pode
funcionar como instrumento pedagoacutegico e testemunho valioso para a
compreensatildeo de diferentes interpretaccedilotildees Seu estudo investigou a
dicionarizaccedilatildeo dos termos ciecircncia teacutecnica e tecnologia em 42
dicionaacuterios de Sociologia e Ciecircncias Sociais publicados em doze paiacuteses
do Norte e em 19 dicionaacuterios de Sociologia e Ciecircncias Sociais
publicados em oito paiacuteses do Sul totalizando 61 obras publicadas entre
os anos de 1905 e 2010 O objetivo seria a comparaccedilatildeo da
dicionarizaccedilatildeo ou natildeo dos termos objetos da investigaccedilatildeo e das
definiccedilotildees presentes nos termos dicionarizados para identificar se
haveria questotildees que apontem para especificidades regionais
O trabalho ldquoGeneacutetica raccedila e poliacuteticas de accedilotildees afirmativas a
partir de questotildees sociocientiacuteficasrdquo (DIAS SERRA E SEPULVEDA
ARTEAGA 2015) parte da verificaccedilatildeo de que os discursos cientiacuteficos e
praacuteticas das tecnociecircncias estiveram comprometidos com processos
sociais de dominaccedilatildeo entre povos de modo a compor complexas
relaccedilotildees de poder Os autores consideram que conhecimentos derivados
das Ciecircncias Naturais contribuiacuteram para criaccedilatildeo e legitimaccedilatildeo do
conceito de raccedila ao longo da histoacuteria com objetivos expliacutecitos de
inferiorizaccedilatildeo marginalizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo eacutetnicas A partir de uma
estrateacutegia pedagoacutegica derivada da abordagem educacional CTSA
objetivam construir uma questatildeo sociocientiacutefica com base no debate
entre grupos sociais diversos a respeito dos resultados de estudos sobre a
composiccedilatildeo eacutetnica da populaccedilatildeo brasileira e suas implicaccedilotildees para as
poliacuteticas de accedilotildees afirmativas A ideia seria promover uma educaccedilatildeo das
relaccedilotildees eacutetnico-raciais
No artigo de Maurici (2015) ldquoHaacute controveacutersias cientiacuteficas na
Prova do ENEM Contribuiccedilotildees dos Estudos CTS agrave Educaccedilatildeordquo satildeo
analisadas as questotildees relacionadas agrave disciplina de Fiacutesica da prova
amarela do Exame Nacional do Ensino Meacutedio (ENEM) do ano de 2013
O autor busca identificar a presenccedila ou natildeo de temas que envolvem
controveacutersias cientiacuteficas a natureza dessas controveacutersias que conteuacutedos
satildeo favorecidos e o que elas contribuem para uma educaccedilatildeo
emancipadora Com isso pretende evidenciar a contribuiccedilatildeo dos estudos
das controveacutersias cientiacuteficas no ensino de ciecircncias de modo a ampliar a
visatildeo dosas alunosas sobre relaccedilotildees CTS
Com essa breve apresentaccedilatildeo de alguns estudos recentes em
Educaccedilatildeo CTS pretendo mostrar diversas aproximaccedilotildees com a questatildeo
Mas acima de tudo busco evidenciar o quanto pode ser simplista a
avaliaccedilatildeo generalizada de ldquoapatiardquo dos sujeitos envolvidos com esses
83
estudos pois haacute um interesse na temaacutetica da Educaccedilatildeo CTS ainda que a
interaccedilatildeo com a PCT nacional ldquoande a passos lentosrdquo Uso aspas e
posiciono-me em referecircncia ao artigo de Dagnino Silva e Padovanni
(2011) que haacute algum tempo questionaram a lentidatildeo da Educaccedilatildeo
CTS
Nesse artigo os autores examinam relaccedilotildees entre a Educaccedilatildeo
CTS e a PCT Para eles as causas da lentidatildeo da Educaccedilatildeo CTS podem
ser analisadas desde uma perspectiva de um jogo poliacutetico entre os
sujeitos envolvidos Sujeitos que satildeo organizados de acordo com a
tipologia60 do coraccedilatildeo vermelho versus coraccedilatildeo cinza e mente vermelha
versus mente cinza Em resumo os autores destacam a necessidade de
engajamento dos sujeitos envolvidos com a Educaccedilatildeo CTS (que teriam o
coraccedilatildeo vermelho em sua maioria) na problematizaccedilatildeo do conhecimento
em ciecircncia e tecnologia que eacute produzido (algo que quem teria a mente
cinza natildeo faria) E assim apontam as potencialidades da perspectiva da
AST
Segundo a concepccedilatildeo da adequaccedilatildeo socioteacutecnica a
tecnociecircncia existe desde que reprojetada (ou
usando um anglicismo corrente redesenhada)
poderia servir de suporte a diferentes estilos de vida
cada um refletindo diferentes propostas a respeito
do bem-viver Isso resultaria em escolhas de
projetos diferentes dado que orientadas por outros
interesses e valores (alternativos) (DAGNINO
SILVA PADOVANNI 2011 p 121)
Com isso destaco que o que os autores chamam aqui de AST eacute
basicamente a perspectiva da TCT que examinarei adiante Como
leitores de Feenberg eles apontam a necessidade de criticar o
determinismo tecnoloacutegico Portanto propotildeem que a AST seja adotada
por uma via filosoacutefica para ldquomudar o comportamento apaacutetico da
comunidade da ECTSrdquo (DAGNINO SILVA PADOVANNI 2011 p
122)
Tendo em vista a metaacutefora dos autores identifico-me com a
mente e o coraccedilatildeo vermelhos ou seja considero a Educaccedilatildeo CTS em
suas possibilidades e limites para transformar a realidade superando
desigualdades sociais econocircmicas culturais e poliacuteticas Contudo natildeo
60 O vermelho estaria relacionado com uma perspectiva de inclusatildeo social
justiccedila equidade e sustentabilidade enquanto o cinza se referiria agrave adequaccedilatildeo
ao conhecimento tecnocientiacutefico produzido
84
apoio o suposto de ldquoapatiardquo dos sujeitos envolvidos com a Educaccedilatildeo
CTS Desse modo examino possibilidades emancipatoacuterias (que visam a
autonomia dos sujeitos e a abertura agrave alteridade) em processos
educacionais contextualizados e mobilizados para diaacutelogos e trocas de
aprendizagens agrave moda da ecologia dos saberes de Santos e Meneses
(2010) e Santos (2007)
A seguir apresento quem satildeo os sujeitos (natildeo apaacuteticos natildeo
acomodados ativos e integrados na construccedilatildeo de conhecimentos e na
compreensatildeo do domiacutenio intelectual da teacutecnica - politecnia) que
considero nesta tese
14 JUVENTUDES
Ao destacar minhas perspectivas sobre educaccedilatildeo em diferentes
autoresas de modo a chegar em uma ideia sobre politecnia desenvolvi
entendimentos sobre o que penso que possa ser uma educaccedilatildeo
transformadora Refleti tambeacutem sobre essas possibilidades segundo a
ECT e a Educaccedilatildeo CTS Jaacute expus minhas concepccedilotildees sobre o sujeito do
conhecimento (ativo integrado natildeo acomodado natildeo abstrato e natildeo
homogecircneo) que aparecem aqui como as juventudes que compotildeem os
CTIEM do IFRS Cacircmpus Caxias do Sul Nesse momento portanto
reflito sobre para quem pensei essa educaccedilatildeo de modo concreto nesta
tese
Antes de tratar de relaccedilotildees entre juventudes e escola exploro
brevemente alguns sentidos sobre o termo ldquojuventudesrdquo Muitosas
autoresas examinam o tema e existe uma produccedilatildeo teoacuterica consistente
na aacuterea No entanto natildeo eacute meu propoacutesito recuperar todos os debates
sobre juventudes tampouco elaborar uma definiccedilatildeo para ele Ao
compreender a complexidade do tema busco demarcar o sentido geral
que eacute aqui utilizado
Diferentes aacutereas de produccedilatildeo de conhecimento procuram definir o
que seria a ldquojuventuderdquo Destaco trecircs perspectivas a saber (i) Ciecircncias
Meacutedicas na qual se estabelece o termo ldquopuberdaderdquo para nomear as
transformaccedilotildees em uma crianccedila que se torna adulto (ii) Psicologia
Psicanaacutelise e Pedagogia nas quais o termo ldquoadolescecircnciardquo marca
mudanccedilas na personalidade mente e comportamento do sujeito que se
torna adulto e (iii) Sociologia na qual o termo ldquojuventuderdquo costuma
expressar o interstiacutecio entre as funccedilotildees sociais da infacircncia e as funccedilotildees
sociais do adulto (GROPPO 2000)
85
Adoto aqui o uso que a Sociologia faz do termo que natildeo eacute
restrito a determinaccedilotildees de faixas etaacuterias61 considera fatores sociais
culturais e econocircmicos aleacutem das posiccedilotildees que os sujeitos ocupam na
sociedade em um momento de construccedilatildeo de autonomia Utilizo o termo
no plural ldquojuventudesrdquo para marcar a heterogeneidade e diversidade
que acredito estar ali representada Concordo com Souza (2003) para
quem
A juventude deve ser encarada pois como uma
categoria histoacuterica Isso implica natildeo falar
genericamente da juventude como se fosse um
bloco homogecircneo mas sim uma categoria
segmentada estudantes e natildeo estudantes
trabalhadores e natildeo trabalhadores homens e
mulheres moradores das grandes e das pequenas
cidades ou ainda zona rural A condiccedilatildeo juvenil
portanto natildeo soacute varia de sociedade para
sociedade mas no interior de uma mesma
formaccedilatildeo social ao longo do tempo de grupo para
grupo ou de classe para classe (SOUZA 2003 p
45-46)
Portanto eacute possiacutevel entender que ao falarmos sobre juventudes
estamos a tratar tanto de um momento de transiccedilatildeo (mas que natildeo se
reduz a uma mera passagem) quanto de um processo que sofre
influecircncia do contexto soacutecio-histoacuterico no qual se desenvolve e que tem
suas especificidades na constituiccedilatildeo dos sujeitos
Em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do puacuteblico jovem o socioacutelogo brasileiro
Juarez Dayrell (1996) tem no contexto soacutecio-histoacuterico um fator
importante para relacionar juventudes e escola Esse autor defende a
escola como espaccedilo sociocultural inserida na cultura onde os sujeitos
teriam relevacircncia Para ele eacute importante resgatar o papel dos sujeitos na
trama social que constitui a escola enquanto instituiccedilatildeo
Embora eu natildeo siga estritamente sua perspectiva sobre a escola
os relatos da pesquisa do autor com professoresas de cursos noturnos
em escolas da rede puacuteblica de ensino da cidade de Belo Horizonte nos
anos 1990 mostram alguns caminhos para a compreensatildeo das
juventudes
61 Conforme a UNESCO (2004) uma definiccedilatildeo predominantemente etaacuteria
abrangeria o ciclo que vai dos 15 aos 29 anos
86
Dayrell (1996) aponta que as juventudes nas escolas nesse
contexto precisam ser compreendidas
como sujeitos soacutecio-culturais () implica em
superar a visatildeo homogeneizante e estereotipada da
noccedilatildeo de aluno dando-lhe um outro significado
Trata-se de compreendecirc-lo na sua diferenccedila
enquanto indiviacuteduo que possui uma historicidade
com visotildees de mundo escalas de valores
sentimentos emoccedilotildees desejos projetos com
loacutegicas de comportamentos e haacutebitos que lhe satildeo
proacuteprios (DAYRELL 1996 p05)
Verifiquei muitas descriccedilotildees do autor no meu quotidiano no
IFRS As juventudes com as quais convivi naquele ambiente tambeacutem
estatildeo presentes em alguma medida na descriccedilatildeo do autor
Eacute a convivecircncia rotineira de pessoas com
trajetoacuterias culturas interesses diferentes que
passam a dividir um mesmo territoacuterio pelo menos
por um ano Sendo assim formam-se subgrupos
por afinidades interesses comuns etcEacute a
formaccedilatildeo de panelinhas quase sempre
identificadas por algum dos estereoacutetipos correntes a
turma da bagunccedila os CDF os mauricinhos ()
Com as conversas e brincadeiras ocorrendo
preferencialmente no interior de cada um deles
cada grupo tem regras e valores proacuteprios Ao
mesmo tempo haacute vaacuterios alunos soltos que
parecem natildeo se ligar a nenhum dos grupos ou
porque natildeo se identificam ou porque de alguma
forma satildeo excluiacutedos (DAYRELL p 15 1996)
De modo que eacute interessante nesse momento retomar alguns
dados apresentados na introduccedilatildeo desta tese e que podem ajudar em uma
visualizaccedilatildeo dosas estudantes com osas quais interagi na pesquisa
Trabalhei com todosas estudantes matriculados (e com frequecircncia) nos
primeiros anos dos trecircs CTIEM oferecidos nos turnos matutino e
vespertino no Cacircmpus Caxias do Sul Satildeo eles Curso Teacutecnico em
Fabricaccedilatildeo Mecacircnica Integrado ao Ensino Meacutedio (CTFMIEM) Curso
87
Teacutecnico em Plaacutesticos Integrado ao Ensino Meacutedio (CTPIEM) e Curso
Teacutecnico em Quiacutemica Integrado ao Ensino Meacutedio (CTQIEM)62
A seguir apresento dados quantitativos que tentaratildeo durante o
texto trazer aspectos qualitativos para a anaacutelise
Tabela 1 - Distribuiccedilatildeo geral de alunosas por curso turno e sexo63
Cursoturno Feminino Masculino Total
TFMManhatilde 02 30 32
TFMTarde 05 23 28
TPManhatilde 19 11 30
TPTarde 22 08 30
TQManhatilde 12 20 32
TQTarde 20 12 32
Total 80 104 184
Fonte Elaboraccedilatildeo da autora
Por hora a partir da tabela 1 acima eacute possiacutevel verificar que a
distribuiccedilatildeo de estudantes por cursos e turnos eacute similar e que a
quantidade de alunos (56) eacute levemente maior que a de alunas (44)
No TFM nos dois turnos haacute predomiacutenio de alunos (53) com apenas 07
alunas Enquanto no TP tambeacutem no somatoacuterio dos dois turnos verifico
41 alunas e 19 alunos No contexto maior do Cacircmpus de Caxias do Sul
a partir de dados de 2015 verifiquei o registro de 553 de estudantes
do sexo masculino e 447 do feminino
Dentro do quadro geral de estudantes do IFRS no que diz
respeito a necessidades especiais meus sujeitos seguem o padratildeo ali
apresentado conforme graacutefico 2 abaixo com menos de 5 de
estudantes com alguma necessidade especial declarada (dados de 2015)
62 Daqui por diante CTFMIEM = TFM CTPIEM = TP e CTQIEM = TQ 63 Nos primeiros anos dos CTIEM natildeo fiz uma discussatildeo preliminar sobre sexo
identidade de gecircnero e orientaccedilatildeo sexual por isso na coleta de dados solicitei o
sexo de nascimento dosas estudantes
88
Graacutefico 2 - Necessidades especiais64 entre estudantes do IFRS
Fonte Assistecircncia estudantil do IFRSCaxias do Sul
Com esses dois destaques que faccedilo nesse momento mais que
tentar apresentar as juventudes com as quais interagi procuro mostrar as
situaccedilotildees que eu encontrava em sala de aula e segundo as quais a
pesquisa se desenvolveu Ressalto que esses nuacutemeros natildeo pretendem
silenciar as diferenccedilas que se apresentam em sala de aula As discussotildees
do terceiro capiacutetulo (com o exame de outros dados) pretendem
justamente evidenciaacute-las
Concordo com Dayrell (2007) no ponto em que ele alerta para o
fato de que as relaccedilotildees entre juventudes e escola natildeo satildeo lineares de
causa e efeito satildeo mais complexas pois fazem parte das mudanccedilas
profundas que ocorrem na sociedade Para o autor a socializaccedilatildeo ocorre
em muacuteltiplos espaccedilos e tempos o que implica em reconhecer que a
dimensatildeo educativa natildeo se reduz agrave escola e que as propostas educativas
para jovens natildeo precisam acontecer dominadas pela loacutegica escolar
Desse modo natildeo ignoro que os sentidos sobre tecnologia que eu
busco examinar circulam (satildeo debatidos) em um espaccedilo e entre sujeitos
posicionados soacutecio-historicamente Assim passo agrave reflexatildeo de como
efetivamente na praacutetica do ensino de Sociologia no ensino meacutedio
existiriam possibilidades de transformar sentidos sobre tecnologias entre
essas juventudes Para isso apresento a seguir consideraccedilotildees sobre o
ensino de Sociologia no ensino meacutedio
64 Fiacutesicas e cognitivas
89
15 ENSINO DE SOCIOLOGIA NO ENSINO MEacuteDIO
Minha intenccedilatildeo de verificar possibilidades de transformar
sentidos sobre tecnologia no ensino meacutedio pode ser realizada segundo
minha aacuterea de atuaccedilatildeo a Sociologia Nas reflexotildees que permeiam
minhas atividades docentes as seguintes questotildees satildeo constantes Por
que ensinar O que ensinar Como ensinar Como mobilizar para a
aprendizagem O que eu aprendi O que eleselas aprenderam O que
foi esquecido Como transformar sentidos Como avaliar essa
transformaccedilatildeo65
Junto a isso mantenho certa vigilacircncia para organizar modos
significativos de propor uma transposiccedilatildeo didaacutetica relevante aleacutem de
buscar relacionar minhas ideias com uma leitura criacutetica das Orientaccedilotildees
Curriculares para o Ensino Meacutedio-Sociologia (OCEM-Sociologia) da
proposta curricular Liccedilotildees do Rio Grande da Lei de Diretrizes e Bases
da Educaccedilatildeo Nacional (LDB) e dos Paracircmetros Curriculares Nacionais
(PCNrsquos)
Desse modo alguns princiacutepios fundamentais do ensino de
Sociologia no ensino meacutedio como os princiacutepios epistemoloacutegicos de
desnaturalizaccedilatildeo e estranhamento satildeo agora considerados Moraes e
Guimaratildees (2010) fazem uma leitura das OCEM-Sociologia e destacam
que o estranhamento se relaciona com questotildees do tipo Por que eacute
assim Sempre foi assim Eacute assim em outros lugares Portanto
estranhar se refere agrave admiraccedilatildeo do desconhecido ou inesperado
por achar estranho ao perceber (algueacutem ou algo)
diferente do que se conhece ou do que seria de se
esperar que acontecesse daquela forma por
surpreender-se assombrar-se em funccedilatildeo do
desconhecimento de algo que acontecia haacute muito
tempo por sentir-se incomodado ou ter sensaccedilatildeo
de incocircmodo diante de um fato novo ou de uma
nova realidade por natildeo se conformar com alguma
coisa ou com a situaccedilatildeo em que se vive natildeo se
acomodar rejeitar (MORAES GUIMARAtildeES
2010 p 46)
65 Retornarei a essas questotildees na discussatildeo de resultados no capiacutetulo 3 onde as
questotildees acerca de ldquopara quemrdquo e ldquoonderdquo ensinar que jaacute foram apresentadas no
toacutepico sobre juventudes retornaratildeo
90
Assim compreendo que o estranhamento eacute um passo significativo
na mobilizaccedilatildeo para aprender e transformar a realidade social que se
apresenta Algo que jaacute destaquei ao tratar de Paulo Freire Vejo o
princiacutepio da desnaturalizaccedilatildeo de modo similar
A desnaturalizaccedilatildeo como o nome indica prevecirc que a
compreensatildeo de fenocircmenos sociais seja independente de explicaccedilotildees de
origem natural Ou seja os fenocircmenos sociais tecircm origem soacutecio-
histoacuterica que resultam de relaccedilotildees sociais
Haacute uma tendecircncia sempre recorrente de se
explicarem as relaccedilotildees sociais as instituiccedilotildees os
modos de vida as accedilotildees humanas coletivas ou
individuais a estrutura social a organizaccedilatildeo
poliacutetica etc com argumentos naturalizadores
Primeiro perde-se de vista a historicidade desses
fenocircmenos isto eacute que nem sempre foram assim
segundo que certas mudanccedilas ou continuidades
histoacutericas decorrem de decisotildees e essas de
interesses ou seja de razotildees objetivas e humanas
natildeo sendo fruto de tendecircncias naturais
(MORAES GUIMARAtildeES 2010 p 47)
Acredito que uma concepccedilatildeo problematizadora e dialoacutegica da
educaccedilatildeo estaacute relacionada com tais princiacutepios epistemoloacutegicos Minha
intenccedilatildeo com o ensino de Sociologia baseado em tais princiacutepios eacute a de
que atraveacutes das atitudes de estranhamento e desnaturalizaccedilatildeo (o que
chamo de perspectiva criacutetica na qual possamos compreender que aquilo
que resulta da obra humana pode ser visto como produto da accedilatildeo de
sujeitos histoacutericos e natildeo como determinaccedilatildeo natural ou iluminaccedilatildeo
divina) osas estudantes possam
(i) transformar sentidos problemaacuteticos sobre tecnologia
(ii) considerar suas possibilidades de para aleacutem de participar de
debates tecnoloacutegicos e cientiacuteficos promover novas questotildees sobre esses
assuntos e
(iii) visualizarem possibilidades de emancipaccedilatildeo social nesse
processo de autoria
De modo que se perguntem o que ciecircncia e tecnologia tecircm a ver com o seu quotidiano como e por que dar importacircncia e significado a
esses temas entre outras tantas reflexotildees possiacuteveis Acredito que essa
intenccedilatildeo estaacute de acordo (sem desconsiderar criacuteticas) com os documentos
oficiais supracitados que preveem a organizaccedilatildeo dos componentes
curriculares da educaccedilatildeo baacutesica no Brasil
91
Eacute importante destacar que atividades com questotildees cientiacuteficas e
tecnoloacutegicas em sala de aula natildeo satildeo exatamente novidade e tornaram-se
mais frequentes nas uacuteltimas deacutecadas impulsionadas pelos ECTS A
partir da deacutecada de 1970 esses estudos se consolidaram como campos
de reflexatildeo sobre condicionamentos sociais poliacuteticos econocircmicos e
ambientais nas decisotildees e nos processos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos
(CORREcircA GEREMIAS 2015)
Alguns debates atuais no campo dos ECTS propotildeem tratar as
relaccedilotildees entre ciecircncia tecnologia e os sujeitos de modo abrangente e
com foco didaacutetico nos estudos de caso por exemplo Os socioacutelogos
britacircnicos Harry Collins e Trevor Pinch (2010a 2010b) que jaacute
mencionei trazem contribuiccedilotildees em relaccedilatildeo agrave abertura de oportunidades
a diferentes sujeitos para se pensar sobre ciecircncias e tecnologias
Segundo esses autores o objetivo de suas anaacutelises natildeo eacute oferecer
poliacuteticas ou dizer aos leitores como devem se posicionar contra ou a
favor de tal tecnologia mas criar um espaccedilo para pensar essas questotildees
Seus estudos remetem a episoacutedios de questotildees controversas em ciecircncia e
tecnologia marcantes do passado e do presente CORREcircA GEREMIAS
2015) De acordo com esses autores ldquoreflexos autoritaacuterios acompanham
a tendecircncia a enxergar a ciecircncia e a tecnologia como misteriosas ndash
segredos de uma casta privilegiada como sacerdotes com acesso
especial a um conhecimento bem aleacutem do raciociacutenio comumrdquo
(COLLINS PINCH 2010b p08)
Embora natildeo sejam meu referencial teoacuterico penso que os
episoacutedios relatados por Collins e Pinch (2010a 2010b) podem ser
usados nas salas de aula para mobilizar estudantes a questionar a
relevacircncia da ciecircncia e da tecnologia na sua vida entre muitas outras
apropriaccedilotildees possiacuteveis de ocorrer Para isso seria interessante aleacutem do
resgate histoacuterico sobre o desenvolvimento de artefatos propor
problematizaccedilotildees sobre as implicaccedilotildees sociais de sua produccedilatildeo e
adoccedilatildeo
Para finalizar66 meus apontamentos sobre o ensino de Sociologia
no ensino meacutedio destaco os debates acerca de estrateacutegias de ensino Um
modelo usual eacute apresentado no quadro 1 abaixo
66 Natildeo tratarei do histoacuterico da recente obrigatoriedade do ensino de Sociologia
juntamente com Filosofia no ensino meacutedio brasileiro Leituras aprofundadas a
esse respeito podem ser encontradas em MEIRELLES M et al (Orgs) Ensino
de Sociologia Trabalho Ciecircncia e Cultura Porto Alegre EvangrafLAVIECS
2013a MEIRELLES M et al (Orgs) O ensino de Sociologia no RS
Repensando o lugar da Sociologia Porto Alegre EvangrafLAVIECS 2013b
92
Quadro 1 - Estrateacutegias para o ensino da Sociologia
Fonte (ABREU 2009)
Contudo para aleacutem dessas divisotildees estanques penso que o
contexto da sala de aula dosas estudantes (sua situaccedilatildeo soacutecio-histoacuterica
e suas histoacuterias de vida) dos CTIEM em questatildeo e da temaacutetica a ser
discutida deva ser considerada para uma opccedilatildeo estrateacutegica efetiva Em
geral compreendo que o ensino de Sociologia pode ser inicialmente
desenvolvido numa articulaccedilatildeo entre as perspectivas de Carvalho
(2004) (origens pensadores e atualidade) e de Tomazi (2010) (teorias
conceitos e temas)
Desse modo acredito que minha proposta de problematizar
questotildees sobre tecnologia considera oa estudante na construccedilatildeo de seus
proacuteprios conhecimentos (autonomia) Isso fica presente no objetivo de
mobilizaacute-los para aleacutem de propor a criacutetica buscar modos de transformar
visotildees que distanciam compreensotildees sobre tecnologia do seu quotidiano
(emancipaccedilatildeo) A seguir destaco aspectos importantes nessa construccedilatildeo
tendo em vista a mobilizaccedilatildeo para a autoria
93
16 AUTORIA
Outro ponto importante nesta tese eacute apresentar alguns elementos
para debater a questatildeo da autoria Conforme Hollanda (2010) uma ideia
de autoria tal qual a utilizada geralmente na atualidade tem origem
aproximadamente apoacutes a Revoluccedilatildeo Francesa (1789-1799) com a
ascensatildeo do individualismo e da economia de mercado Naquele
contexto as primeiras leis reguladoras da propriedade intelectual
(copyright-inglesa e droit dauteur-francesa) foram elaboradas de modo
a considerar o debate acerca das disputas entre o direito dos sujeitos e o
interesse puacuteblico (HOLLANDA 2010)
Em termos de produccedilatildeo teoacuterica Hollanda (2010) destaca que o
filoacutesofo francecircs Michel Foucault (1926-1984) eacute fundamental no debate
sobre autoria sobretudo por seu texto do ano de 1969 ldquo O que eacute um
autorrdquo (Quest un auteur) Para a autora nessa obra ldquoFoucault desloca
a ideia essencialista da existecircncia real de uma autoria para a noccedilatildeo de
funccedilatildeo do autor Ou seja a autoria eacute uma noccedilatildeo construiacuteda
historicamente e existe apenas em sua funcionalidade cultural e
comercialrdquo (HOLLANDA 2010 sp)
No que diz respeito agrave educaccedilatildeo Juacutenior (2013) trata de autoria na
produccedilatildeo de textos acadecircmicos a partir da noccedilatildeo de moldura jaacute utilizada
por estudiosos de Artes Plaacutesticas Ele entende a autoria como um
complexo de componentes moldurais ldquodemarcadores de sentido entre o
que estaacute lsquoditorsquo pela obra e pode ser lido desde lsquodentrorsquo da moldura e
aquilo que estaacute dito pela obra fora da moldurardquo (JUacuteNIOR p 233) 67
Aleacutem disso Juacutenior (2013) natildeo compreende a autoria como um atributo
individual mas como um componente social fundamental nos processos
de produccedilatildeo de conhecimentos
Sem ignorar a gecircnese e a densidade teoacuterica do tema da autoria em
diversas aacutereas de conhecimento o foco de minhas reflexotildees nesse
momento eacute investigar de que maneira e em que medida eacute possiacutevel
promover a autoria segundo uma visatildeo criacutetica de TS em ambientes
educacionais Como eu relatei na introduccedilatildeo essa questatildeo tomou
contornos mais definidos a partir de minhas interaccedilotildees com docentes e
discentes da UNTL em Timor Leste Contudo antes disso o tema da
67 Assim a autoria seria algo como um demarcador simboacutelico de espaccedilos de
circulaccedilatildeo de sentidos nas quais a dialeacutetica entre as propriedades
ldquointramolduraisrdquo e os componentes ldquoextra-molduraisrdquo se expressariam
(JUacuteNIOR 2013 p 239)
94
autoria tornou-se objeto de minhas reflexotildees devido a aproximaccedilotildees que
tive com as leituras no grupo DiCiTE
Em pesquisas realizadas por integrantes do grupo existem
discussotildees voltadas agrave perspectiva discursiva de Educaccedilatildeo CTS
(CASSIANI LINSINGEN 2010) que buscam contribuiccedilotildees da AD
francesa e de abordagens de educaccedilatildeo criacutetica como as de Paulo Freire
por exemplo Um dos elementos presentes nos estudos do grupo diz
respeito a construir processos formativos que considerem a questatildeo da
autoria e possibilitem ldquomaior inserccedilatildeo social das pessoas no sentido de
se tornarem aptas a participarem dos processos de tomadas de decisotildees
conscientes e negociadas em assuntos que envolvam ciecircncia e
tecnologiardquo (LINSINGEN 2007 p 13)
Uma ideia geral que perpassa tais pesquisas eacute a de que atraveacutes do
conceito de autoria seria possiacutevel relacionar posiccedilotildees dos sujeitos nos
processos de ensino-aprendizagem com os sentidos produzidos a partir
dessas posiccedilotildees (GIRALDI 2010 CASSIANI GIRALDI
LINSINGEN 2012) ldquoAo assumir a posiccedilatildeo de autor o sujeito situa-se
em uma determinada posiccedilatildeo social filiando-se a uma rede de sentidos
Assim para a assunccedilatildeo da autoria eacute preciso que os processos de
ensinoaprendizagem escolar permitam a abertura de um espaccedilo de
dizerrdquo (GIRALDI 2010 p 136) Nesses espaccedilos citados pela autora
penso nas possibilidades de desenvolvimento de autonomia
Compreendo que haacute uma questatildeo de autonomia dos sujeitos
envolvida nos processos formativos participativos e conscientes citados
logo acima por Linsingen (2007) A autonomia tambeacutem faz parte das
reflexotildees de Giraldi (2010) que ao debater profundamente a questatildeo da
autoria no ensino de ciecircncias destaca a necessidade dosas estudantes
colocarem-se como sujeitos de sua aprendizagem A autora aproxima-se
de Freire (1987) e de sua criacutetica agrave educaccedilatildeo bancaacuteria de modo que vecirc
na assunccedilatildeo da autoria possibilidades de autonomia
Portanto meu interesse pelo tema da autoria e minha intenccedilatildeo de
examinar relaccedilotildees entre esta e a autonomia e a emancipaccedilatildeo social na
educaccedilatildeo tecircm origem no DiCiTE A partir de entatildeo busquei construir
sentidos sobre autoria em relaccedilatildeo a TS Para isso aleacutem de minha
experiecircncia em Timor-Leste outra circunstacircncia que foi influente diz
respeito a uma situaccedilatildeo pessoal na qual eu fui comparada agrave Aracne por
defender um trabalho autoral
95
O mito de Aracne tem muitas versotildees68 mas trata basicamente
de uma disputa entre Aracne (uma mortal habilidosa nas artes de tecer e
bordar) e a deusa romana protetora dos artesatildeos Minerva69 Nos relatos
Minerva natildeo aprecia o fato da mortal natildeo lhe dar creacuteditos por suas
habilidades como pode ser observado no trecho de diaacutelogo descrito
abaixo
ldquo() - Maacutes conveacutem agradecer sempre agrave Minerva este dom
recebido
- Ora e que meacuteritos eu teria se devo exclusivamente a ela meu
talento ndash disse Aracne - Ela que cuide de seus bordados que eu cuido
dos meusrdquo (FRANCHINI SEGANFREDO 2012 p 219)
Com isso a deusa Minerva haveria proposto uma disputa com a
mortal Aracne na qual cada uma delas deveria produzir um bordado que
seria julgado pelas ninfas (divindades mortais que auxiliavam osas
deusesas) A deusa entatildeo desenhou uma cena na qual mostrava o
descontentamento dosas deusesas ldquocom mortais presunccedilosos que se
atreviam a concorrer com elesrdquo (BULFINCH 2006 p 115) enquanto
Aracne escolheu ldquoassuntos destinados a provar os enganos e erros dos
deusesrdquo (BULFINCH 2006 p 115) No final da disputa o
descontentamento da deusa com a beleza do trabalho da mortal resultou
em um castigo com a transformaccedilatildeo dessa em uma aranha Contudo
Aracne mesmo metamorfoseada passou a produzir trabalhos ainda mais
belos
A criacutetica que recebi levou-me a refletir sobre como buscar
possibilidades de relacionar uma perspectiva criacutetica de TS com a
questatildeo da autoria em ambientes educacionais de modo que estudantes
tendo em vista o mito de Aracne possam (i) desenvolver (mais) atitudes
criacuteticas (estranhamento e desnaturalizaccedilatildeo) em relaccedilatildeo a conhecimentos
previamente construiacutedos (ii) pensar (mais) criticamente sobre a
importacircncia de seu posicionamento como produtores (autores) de
conhecimentos (elaborar problemas e soluccedilotildees socioteacutecnicas) e (iii)
compreender que a tecnologia eacute produccedilatildeo humana (feita por sujeitos em
condiccedilotildees soacutecio-histoacutericas determinadas) e natildeo algo ldquomaacutegicordquo e fora de
suas possibilidades de entendimento
68 No entanto em todas as versotildees da histoacuteria que examinei Aracne sempre eacute
transformada em aranha pela deusa Minerva no final do relato e permanece a
ideia de que Aracne defendia seu trabalho como autoral a despeito de ter sido
ou natildeo disciacutepula da deusa 69 Na mitologia grega Minerva eacute chamada de Atena
96
Essa reflexatildeo sobre o mito de Aracne poderia ajudar a
desmistificar as ideias de genialidade e exterioridade muitas vezes
envolvidas na produccedilatildeo de tecnologias Aleacutem disso destaco que natildeo eacute o
caso aqui de propor autoria como sinocircnimo de individualidade
privatizaccedilatildeo centralizaccedilatildeo ou mesmo de propriedade Penso que a
relaccedilatildeo com a defesa que Aracne faz da sua arte possa se referir ao
pensamento criacutetico e a autonomia sem prescindir de concepccedilotildees sobre
trabalhos em formatos colaborativos de trocas produtivas e de criaccedilatildeo
compartilhada
Acredito que desse modo a ideia de autoria tambeacutem pode estar
relacionada em alguma medida com outro movimento que me inspira70
em relaccedilatildeo agrave temaacutetica autoral qual seja o debate envolvido nos
princiacutepios baacutesicos do Software Livre (SL)71 Para compreendermos o
baacutesico desse debate eacute importante lembrarmos algumas ideias gerais
sobre computaccedilatildeo como as que apresento modestamente a seguir
Os computadores (incluiacutedos aqui notebooks tablets e etc)
precisam de programas para seu funcionamento sendo que o chamado
sistema operacional eacute o programa responsaacutevel pelo funcionamento do
computador que faz a comunicaccedilatildeo entre hardware (mouse teclado
etc) e software (aplicativos) Existem programas que possuem o coacutedigo-
fonte (conjunto de comandos em alguma das linguagens de programaccedilatildeo
existentes) aberto desenvolvido por programadoresas voluntaacuteriosas
espalhadosas na internet e distribuiacutedo sob Licenccedila Puacuteblica Geral LPG
(conhecida em inglecircs como copyleft em contraposiccedilatildeo ao copyright) O
Linux eacute um exemplo de nuacutecleo de um sistema operacional desse tipo e
faz parte dos chamados SL (SILVEIRA 2009)
Jaacute o Windows da empresa Microsoft eacute um exemplo de software
proprietaacuterio que natildeo possui coacutedigo-fonte disponiacutevel e vende uma
licenccedila para que oa usuaacuterioa possa utilizaacute-lo Conforme Silveira
(2004) o software proprietaacuterio estaacute orientado ao benefiacutecio de fabricantes
(geralmente meacutedias ou grandes empresas) e o SL se orienta
principalmente para o benefiacutecio de seussuas usuaacuteriosas Sendo que a
grande consequecircncia sociocultural e econocircmica do SL seria sua aposta
no compartilhamento de informaccedilotildees e conhecimentos
70 Verifico que tal inspiraccedilatildeo tambeacutem aparece em estudos como o de Silveira
(2009) que reflete sobre tecnologia e processos de emancipaccedilatildeo inclusive com
base nas perspectivas teoacutericas de Boaventura de Sousa Santos no que diz
respeito agrave globalizaccedilatildeo contra hegemocircnica 71 Nesta tese natildeo exploro o histoacuterico os pressupostos poliacuteticos e a eacutetica do SL
Para maiores informaccedilotildees verificar a referecircncia feita a Silveira (2004)
97
Silveira (2004) destaca que a movimentaccedilatildeo em torno do
desenvolvimento de SL comeccedilou nos anos 1980 e ganhou forccedila atraveacutes
da internet O autor classifica ldquodefensores e opositoresrdquo do SL Osas
primeirosas seriam aleacutem de interessadosas em programaccedilatildeo e sistemas
computacionais ldquoos acadecircmicos os cientistas os mais diferentes
combatentes pela causa da liberdade e mais recentemente as forccedilas
poliacutetico-culturais que apoiam a distribuiccedilatildeo mais equitativa dos
benefiacutecios da era da informaccedilatildeordquo (SILVEIRA 2004 sp) Para o autor
osas opositoresas seriam grandes empresas capitalistas usuaacuterias de um
modelo econocircmico baseado na exploraccedilatildeo de licenccedilas de uso de
software e do controle monopoliacutestico de coacutedigos essenciais dos
programas de computadores72
Richard Stallman presidente da Fundaccedilatildeo do Software Livre
(Free Software Foundation) esclarece que em contraposiccedilatildeo ao
software proprietaacuterio (defendido pelosas opositoresas do SL) o SL diz
respeito agrave liberdade dosas usuaacuteriosas para (i) executar (ii) copiar (iii)
distribuir e (iv) estudar e melhorar o software (modificaccedilatildeo)
(STALLMAN 2008)73 Essas quatro liberdades citadas se relacionam
com os princiacutepios do SL para ser socialmente justo economicamente
viaacutevel e tecnologicamente sustentaacutevel (SILVEIRA 2004) Aleacutem disso
Silveira (2004) esclarece que os projetos de SL envolvem tanto a
colaboraccedilatildeo entre sujeitos interessados quanto a descentralizaccedilatildeo do
poder de modo a preservar as quatro liberdades envolvidas com SL
Em sentido similar Raymond (1998) faz uma comparaccedilatildeo entre
dois modos diferentes de organizar o desenvolvimento de software
quais sejam cathedral (catedral) e Bazaar (bazar) O primeiro deles
identificado com o software proprietaacuterio corresponderia a maior parte
do mundo comercial e funcionaria de modo hierarquizado e
conservador Jaacute o modelo bazar baseado no mundo do Linux e
identificado com o SL natildeo possuiria uma organizaccedilatildeo formal e
apresentaria tendecircncias voluntaacuterias Por estar em constante
aprimoramento dosas usuaacuteriosas a capacidade de inovaccedilatildeo desse
uacuteltimo seria mais alta que a do modelo catedral do software proprietaacuterio
(RAYMOND 1998)
72 Contudo essa afirmaccedilatildeo natildeo estaacute fora de controveacutersias em torno do fato de
que atualmente grandes empresas capitalistas faccedilam uso de SL 73 Free software is a matter of the users freedom to run copy distribute study
change and improve the software (STALLMAN 2008) Traduccedilatildeo livre da
autora
98
Tendo em vista um sentido dinacircmico de criaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo
social penso nas possibilidades de relacionar essas caracteriacutesticas do SL
com uma perspectiva criacutetica de TS tal como examinarei no capiacutetulo 2 (a
partir da paacutegina 115) Portanto a partir de minha inserccedilatildeo no DiCiTE e
primeira aproximaccedilatildeo com o tema da autoria procurei relacionar essa
temaacutetica com uma leitura sobre o mito de Aracne e com princiacutepios que
entendo que sejam compartilhados com desenvolvedoresas de SL
Contudo minhas vivecircncias em Timor-Leste levaram-me a refletir
sobre outros aspectos que poderiam ajudar a compor uma ideia de
autoria voltada a TS tendo em vista as perspectivas de criaccedilatildeo
colaborativa que apresentei na minha leitura sobre o mito de Aracne e
no desenvolvimento de SL Essas reflexotildees tomaram forma na
oportunidade que tive de participar de uma mesa-redonda sobre TS e
produccedilatildeo de conhecimentos na UNTL na qual debatemos sobre
perspectivas educacionais em TS como referi na introduccedilatildeo desta tese
Com alguma familiaridade com debates promovidos na aacuterea das
Ciecircncias Sociais sobre ldquoo que eacute ser brasileiroardquo minha preparaccedilatildeo para
a mesa-redonda envolveu alguns questionamentos acerca da construccedilatildeo
de identidades dosdas timorenses Minha preocupaccedilatildeo era compreender
para (com) quem eu falaria e como o tema sobre TS poderia ter
relevacircncia naquele contexto
De minhas observaccedilotildees e discussotildees com docentes e discentes da
UNTL compreendi que o fato de o paiacutes haver passado por um processo
de colonizaccedilatildeo por parte de Portugal que se seguiu a uma ocupaccedilatildeo
violenta por parte da Indoneacutesia74 estava relacionado agrave adoccedilatildeo do lema
oficial ldquopaz e desenvolvimentordquo e agrave vontade manifesta de reconstruccedilatildeo
do paiacutes Natildeo uma reconstruccedilatildeo imposta de fora mas um processo do
povo timorense com o povo timorense e para o povo timorense
Ao perceber essa demanda expressa sobretudo pelas juventudes
timorenses (estudantes da UNTL) busquei articular TS e educaccedilatildeo com
a questatildeo da autoria dentro daquilo que eacute conhecido como a eacutetica do
movimento DIY (sigla em inglecircs para Do It Yourself em portuguecircs
ldquofaccedila vocecirc mesmordquo) Conforme Carvalho (2015) o movimento DIY faz
criacutetica ao consumismo e busca a promoccedilatildeo de uma postura poliacutetica
74 Para uma inserccedilatildeo maior na compreensatildeo da histoacuteria timorense e sua relaccedilatildeo
com produccedilatildeo de conhecimentos verificar a tese de doutorado da seguinte
referecircncia PEREIRA P B (2014) O Programa de Qualificaccedilatildeo de Docentes
e Ensino de Liacutengua Portuguesa no Timor-Leste (PQLP) Um olhar para o
Ensino de Ciecircncias Naturais Tese de Doutorado Educaccedilatildeo Cientiacutefica e
Tecnoloacutegica UFSC Florianoacutepolis 2014
99
associada agrave produccedilatildeo proacutepria de bens de consumo de modo caseiro e
com baixo impacto ambiental negativo
O movimento teve forccedila em sua difusatildeo juntamente com a
cultura da muacutesica punk75 nos anos 1970 com quem compartilhava a
negaccedilatildeo do consumismo e a iniciativa de criaccedilatildeo proacutepria O DIY
incentiva a produccedilatildeo local (costura artesanato alimentos orgacircnicos de
agricultura familiar ou caseira) o consumo consciente (identificar
origem e custo ambiental) as produccedilotildees artiacutesticas colaborativas
(produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de muacutesica literatura e viacutedeo em rede) e a
autossuficiecircncia e independecircncia dos sujeitos (CARVALHO 2015)
Em relaccedilatildeo agrave autoria minha contextualizaccedilatildeo do DIY para
debates sobre desenvolvimento de TS com as juventudes timorenses
envolveu problematizar as possibilidades de articulaccedilatildeo entre os
conhecimentos locais e a produccedilatildeo cientiacutefica atual via TS mas aleacutem
disso destacar o potencial criativo existente em cada um de noacutes A
intenccedilatildeo foi estabelecer um debate sobre as possibilidades que temos
para desenvolver projetos de um novo jeito do nosso jeito voltados ao
nosso contexto nas condiccedilotildees soacutecio-histoacutericas atuais
A ideia ali foi mostrar que as TS tambeacutem poderiam ser vistas
dessa maneira como o jeito proacuteprio de cada sujeito em seu coletivo
pensar em seus problemas ou antes fazer a criacutetica de sua condiccedilatildeo
desnaturalizaacute-la e problematizaacute-la [com o cuidado de natildeo compreender
TS segundo perspectivas problemaacuteticas envolvidas com as Tecnologias
Apropriadas (TA)] De modo a resgatar seus conhecimentos e
75 Resumidamente punk eacute um estilo musical originaacuterio dos anos 1970 derivado
do rock tanto da Inglaterra quanto dos Estados Unidos Eacute um tipo de muacutesica
caracterizada por ter poucos acordes ser simples e raacutepida Na origem tinha
letras que expressavam a realidade de jovens pobres desempregados e sem
futuro Criticavam o governo a educaccedilatildeo os poliacuteticos a monarquia os
impostos a pobreza o desemprego e a falta de perspectiva (SHAND
KEMPIM 2002 BIVAR 1983) Um dos principais diferenciais do punk em
relaccedilatildeo ao rock progressivo que dominava a eacutepoca era que o fatilde conseguia tocar
como o seu iacutedolo porque o som era faacutecil de ser executado (BIVAR 1983) De
certa maneira o distanciamento entre fatilde e iacutedolo ou entre ouvinte e banda
diminuiacutea Desse modo o punk estava envolvido com a ideia de que ldquose vocecirc
natildeo gosta do que existe faccedila vocecirc mesmordquo (SAVAGE 2005 sp) Nesse
espiacuterito do DIY os punks comeccedilaram a criar suas proacuteprias artes plaacutesticas
roupas aacutelbuns e publicaccedilotildees editoriais (SAVAGE 2005) Sendo que a
socializaccedilatildeo independente dessas produccedilotildees eacute algo fundamental para as bandas
punk Exemplos de bandasartistas punk da primeira geraccedilatildeo Sex Pistols
Ramones The Clash Television e Patti Smith (artista solo)
100
potencialidades como sujeitos que possam ter acesso conhecimento e
possibilidade de escolha criacutetica em questotildees relacionadas ao
desenvolvimento produccedilatildeo divulgaccedilatildeo educaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de
tecnologias
Portanto a partir de minha inserccedilatildeo no DiCiTE com o
conhecimento do tema sobre autoria passei a buscar relaccedilotildees entre essa
temaacutetica e TS Algo que me levou a uma leitura sobre o mito de Aracne
uma reflexatildeo sobre processos colaborativos envolvidos com o
desenvolvimento de SL e chegou ateacute o movimento DIY e suas
possibilidades criativas e autossuficientes Desse modo penso em
autoria ou produccedilatildeo autoral de TS tendo em vista tanto a apropriaccedilatildeo
(sujeitos envolvidos em seus problemas socioteacutecnicos) quanto a criaccedilatildeo
(sujeitos (re)constroem sentidos sobre seus sentimentos) para uma
mobilizaccedilatildeo reflexiva e criacutetica para a accedilatildeo e a transformaccedilatildeo Destaco
que natildeo eacute o caso de pensar na autoria como um estaacutegio final a ser
alcanccedilado como o resultado de um conjunto de accedilotildees Antes interessam
todos os processos de produccedilatildeo de novos sentidos Processos que natildeo
satildeo individuais porque se relacionam com o interdiscurso76
A partir dessas influecircncias nesta tese busco relacionar a
construccedilatildeo de autoria com possibilidades de desenvolvimento de
autonomia em contextos educacionais na medida em que sujeitos na
posiccedilatildeo de autoresas natildeo satildeo apenas usuaacuteriosas Uma usuaacuterioa de TS
por exemplo comumente estaria inseridoa em uma poliacutetica puacuteblica para
resoluccedilatildeo de problemas socioteacutecnicos que foi pensada de modo vertical
(desde o Estado ateacute o sujeito) que reproduziria soluccedilotildees utilizadas em
diferentes contextos e natildeo participaria necessariamente de alguma
etapa dos processos de identificaccedilatildeo e resoluccedilatildeo dos seus problemas
Jaacute o sujeito que faz parte de processos educacionais em um
contexto de construccedilatildeo de autoria sujeito autor tornaria puacuteblico que
seus problemas socioteacutecnicos satildeo importantes e que eacute relevante a busca
coletiva de soluccedilotildees Ou seja produzir e reconhecer sentidos de modo
contextualizado estaria relacionado ao desenvolvimento de TS
sobretudo na questatildeo da autonomia e da relaccedilatildeo problemanatildeo problema
e soluccedilatildeo (THOMAS 2009) na medida em que os sujeitos poderiam
tanto considerar e apresentar publicamente seus problemas socioteacutecnicos
76 Na AD o interdiscurso (o jaacute-dito) pode ser entendido como formulaccedilotildees
feitas e jaacute esquecidas que se relacionam com os dizeres dos sujeitos Assim
podemos compreender sentidos e formulaccedilotildees do que jaacute foi dito de modo
contextualizado soacutecio-historicamente
101
como relevantes como teriam possibilidades de tornarem-se autoresas
na resoluccedilatildeo destes
Em minhas reflexotildees sobre perspectivas educacionais em TS
considero que autoria e autonomia satildeo noccedilotildees que podem ser
examinadas de modo profiacutecuo quando em relaccedilatildeo como jaacute destaquei
sobretudo segundo a proposta educacional freireana articulada aos
ECTS algo tambeacutem analisado em autoresas como Nascimento e
Linsingen (2006)
Freire (2011 1987) defende processos educacionais relacionados
com a vivecircncia dos sujeitos e que consideram os conhecimentos
historicamente produzidos Nascimento e Linsingen (2006) partiram de
tais pressupostos e os relacionaram agrave Educaccedilatildeo CTS ao analisarem o
ensino de ciecircncias Acredito que uma construccedilatildeo similar em relaccedilatildeo a
TS tambeacutem possa ser realizada
Para isso eacute possiacutevel partir da interpretaccedilatildeo criacutetica que Freire
(1992) apresenta sobre a tecnologia qual seja ldquonunca talvez a frase
quase feita ndash exercer o controle sobre a tecnologia e pocirc-la a serviccedilo dos
seres humanos ndash teve tanta urgecircncia de virar fato quanto hoje em defesa
da liberdade mesma sem a qual o sonho da democracia se esvairdquo
(FREIRE 1992 p133) Contudo vejo as potencialidades relacionadas a
TS com cautela para natildeo as pensar de modo determinista como
comumente se faz com as TA e as Tecnologias Convencionais (TC)77
Acreditar que por si soacute as TS teriam uma natureza
emancipatoacuteria que linearmente colaborariam nos processos de
autonomia dos sujeitos pode caracterizar o mesmo problema do
determinismo tecnoloacutegico que critico (CORREcircA 2010) Sem ignorar os
desafios inerentes a qualquer processo educativo aposto no potencial
pedagoacutegico emancipatoacuterio das TS e considero que um passo inicial
nesse processo seja a criacutetica agrave noccedilatildeo estrita de usuaacuterioa A partir dessa
criacutetica buscamos modificar uma possiacutevel posiccedilatildeo reativa (usuaacuterioa) em
accedilotildees de caraacuteter ativo colaborativo e criativo (buscar soluccedilotildees para
dificuldades e carecircncias socioteacutecnicas de suas coletividades) atraveacutes de
accedilotildees de efeito transformador
Contudo natildeo eacute o caso de considerar aqui que os sujeitos natildeo
tenham disposiccedilatildeo para enfrentar seus problemas socioteacutecnicos ou de
propor a mobilizaccedilatildeo para autoria como um processo de ldquoautoajudardquo
que desconsideraria estruturas opressivas que conferem uma situaccedilatildeo de
vulnerabilidade aos sujeitos A intenccedilatildeo eacute buscar interaccedilatildeo com as
juventudes atraveacutes de processos educacionais que destaquem tais
77 As TA e TC seratildeo examinadas no segundo capiacutetulo desta tese
102
situaccedilotildees opressoras e mobilizem para reflexotildees sobre possibilidades
emancipatoacuterias criativas e colaborativas Algo que jaacute referi ao tratar do
pensamento freireano em relaccedilatildeo agrave superaccedilatildeo de visotildees ingecircnuas para se
chegar na criticidade atraveacutes da educaccedilatildeo para a autonomia
Para finalizar este primeiro capiacutetulo apresento no proacuteximo toacutepico
algumas questotildees sobre as possibilidades de uma educaccedilatildeo voltada para
a autoria uma outra educaccedilatildeo possiacutevel Portanto retomo a temaacutetica da
emancipaccedilatildeo social que foi vista em Adorno (1995) considero
posicionamentos de autoresas com interesse em temas sobre gecircnero
raccedilaetnia religiatildeo e classe social e busco diaacutelogos possiacuteveis com a
proposta de Santos (2009) para reinventar a emancipaccedilatildeo social
17 OUTRA EDUCACcedilAtildeO POSSIacuteVEL
Neste capiacutetulo inicial esbocei o pensamento de autoresas e
orientaccedilotildees teoacutericas que tecircm relaccedilatildeo com o que penso sobre educaccedilatildeo na
perspectiva que delineei ateacute agora (politecnia) Qual seja dialoacutegica
transformadora criacutetica com formaccedilatildeo integral (atenda agraves dimensotildees do
desenvolvimento humano) com consciecircncia poliacutetica e contextualizada
Minha intenccedilatildeo natildeo foi examinar todos os autoresas que tratam de
relaccedilotildees entre educaccedilatildeo e tecnologia Assim como no tempo e espaccedilo
desta tese natildeo seria possiacutevel aprofundar a riqueza teoacuterica de cada
autora
Fiz escolhas e aproximaccedilotildees que acredito mostrarem aspectos
importantes mesmo que pontuais dessas relaccedilotildees tendo em vista o
contexto de minha anaacutelise Mais que isso osas autoresas que escolhi
discutir aqui fazem parte das minhas histoacuterias de leitura na vida
acadecircmica e acredito que em alguma medida tecircm contribuiccedilotildees ao
problema de pesquisa que apresentei
Portanto minha referecircncia a Freire Adorno Gramsci e Marx diz
respeito a minhas histoacuterias de leituras mais antigas A escolha desse
referencial natildeo significa a reproduccedilatildeo ingecircnua de algo como uma
epistemologia masculina (SANTOS 2014) Autorases que tratam de
questotildees relativas ao feminino e ao feminismo tambeacutem fazem parte de
minhas leituras mais recentes e certamente influenciam meu olhar sobre
as relaccedilotildees que busco investigar entre educaccedilatildeo e tecnologias no Brasil
atual Entre essas autoras cito Heleieth Saffioti Moema Viezzer Mariacutea
Luisa Femeniacuteas Donna Haraway e Sandra Harding Embora essas
autoras possam adotar diferentes perspectivas tecircm uma mirada sobre
gecircnero raccedilaetnia religiatildeo classe social e tecnologia que interessam
em minhas anaacutelises
103
Uma das pioneiras no Brasil em analisar questotildees sobre a
situaccedilatildeo da mulher na sociedade capitalista foi Heleieth Saffioti A
autora busca interpretar e superar problemas da posiccedilatildeo feminina no
modo de produccedilatildeo capitalista e examina a condiccedilatildeo da mulher na
perspectiva socialista (SAFFIOTI 2011) Ainda no Brasil Moema
Viezzer eacute escritora e socioacuteloga dedicada agrave educaccedilatildeo popular de mulheres
atraveacutes da Rede Mulher de Educaccedilatildeo que fundou nos anos 1980 Seus
estudos relacionam gecircnero e meio ambiente Eacute uma das organizadoras
do II Plano Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres (VIEZZER
MOREIRA GRONDIN 2009)
Mariacutea Luisa Femeniacuteas eacute uma filoacutesofa argentina cujos trabalhos
dialogam com diferentes campos disciplinares na tentativa de evidenciar
os modos pelos quais mulheres e o que ela chama de ldquosubalternos latino-
americanos em geralrdquo satildeo caracterizados nos discursos centrais
(FEMENIacuteAS 2007) que eu aqui chamo de Norte Como bem destaca
Santos (2014) a autora procura mostrar como cultura classe social
raccedilaetnia e religiatildeo estatildeo entrecruzados e relacionados com questotildees de
gecircnero na Ibero-Ameacuterica
Uma pesquisadora reconhecida segundo a perspectiva criacutetica
feminista da ciecircncia e tecnologia eacute Donna Haraway Com a ideia de
ciborgue criatura de um mundo poacutes-gecircnero ela trata de hibridaccedilatildeo de
quimeras de binocircmios modernos do tipo animal e maacutequina natural e
fabricado branco e negro macho e fecircmea entre outros exemplos
(HARAWAY 2013) Aleacutem disso tambeacutem interessam os
posicionamentos da autora em relaccedilatildeo ao pensamento de fronteira e seu
poder para a emancipaccedilatildeo e a resistecircncia (HARAWAY 1991)
A filoacutesofa norte-americana Sandra Harding complementa estudos
sobre gecircnero com a identificaccedilatildeo de trecircs tipos de investigaccedilatildeo feminista
A autora destaca o empirismo feminista as teorias poacutes-modernas e as
teorias perspectivistas ou do ponto de vista (Standpoint Epistemologies)
Filiada a essa uacuteltima Harding (1992 2004) considera que as
experiecircncias satildeo localizadas e portanto o conhecimento cientiacutefico deve
partir de localizaccedilotildees sociais objetivas A teoria do ponto de vista
considera tanto que os objetos devam ser compreendidos poliacutetica e
criticamente a partir do ponto de vista em que foram produzidos quanto
deva haver uma ampliaccedilatildeo de anaacutelises para permitir a presenccedila de outros
sujeitos tradicionalmente excluiacutedos
Para aleacutem dessas referecircncias (tanto explicitadas na abordagem
teoacuterica quanto as que acompanham ldquosilenciosamenterdquo as anaacutelises)
procuro estabelecer um diaacutelogo com algumas perspectivas de
Boaventura de Sousa Santos pois seus estudos tecircm (i) relevacircncia no
104
quadro socioloacutegico atual (ii) o Brasil (e o Sul) como campo de
pesquisas (iii) preocupaccedilatildeo com a questatildeo da emancipaccedilatildeo social (iv)
consideraccedilatildeo com a educaccedilatildeo78 e (v) posicionamento criacutetico agrave
globalizaccedilatildeo do capital (ponto que o aproxima do referencial que
utilizo) Portanto vejo que o exame mesmo que breve de seus
posicionamentos em relaccedilatildeo a Epistemologias do Sul (SANTOS
MENESES 2010) e Sociologia das Ausecircncias e das Emergecircncias
(SANTOS 2002 2007) pode colaborar de modo profiacutecuo com as
minhas questotildees de investigaccedilatildeo79
Meneses (2014) esclarece que os processos que conferem
inteligibilidade e intencionalidade agraves experiecircncias sociais satildeo muacuteltiplos
e variados sendo que todas essas experiecircncias sociais produzem e
reproduzem conhecimento Tais accedilotildees pressupotildeem a presenccedila de vaacuterias
epistemologias Portanto o termo ldquoepistemologias do Sulrdquo considera
uma pluralidade epistemoloacutegica um ldquoreconhecimento de conhecimentos
plurais em presenccedilardquo (p 92) Em Epistemologias do Sul (SANTOS
MENESES 2010) os autores buscam possibilidades de descentralizar a
produccedilatildeo de conhecimento cientiacutefico do Norte para o Sul
78 O que fica evidente em sua fala sobre ldquoA relaccedilatildeo entre universidade e
educaccedilatildeo popular atual momento histoacutericordquo como convidado do Foacuterum Social
Temaacutetico que marcou os 15 anos dos Foacuteruns Sociais Mundiais em janeiro do
ano de 2016 em Porto Alegre Disponiacutevel em
lthttpwwwforumeducacaopopularorggt 79 Sinto-me agrave vontade para estabelecer esse diaacutelogo pois como explica Trivintildeos
(1987) ldquoestamos conscientes que o investigador pode usar em seus trabalhos
conceitos que tenham as suas raiacutezes em ideologias diferentes inclusive opostas
() As aquisiccedilotildees do ser humano pertencem agrave humanidade O homem pode
recorrer a elas natildeo importando seu lugar no cosmos rdquo (p 13) Portanto para
aleacutem de pensar sobre ecologia dos saberes na educaccedilatildeo baacutesica via TS posso
realizar uma investigaccedilatildeo na qual use tais princiacutepios na praacutetica Ou seja busco
dentro de uma visatildeo criacutetica (e sensiacutevel a questotildees de gecircnero classe religiatildeo e
raccedilaetnia) possiacuteveis pontos de conexatildeo entre o Pensamento Pedagoacutegico
Socialista o Pensamento Pedagoacutegico Brasileiro Progressista a Teoria Criacutetica
(da Tecnologia) e as Epistemologias do Sul pois eles tecircm em comum a busca
por transformaccedilatildeo social e natildeo apenas uma reforma Natildeo ignoro diferenccedilas
epistemoloacutegicas importantes que possam haver entre essas perspectivas
Contudo entendo que a realidade social eacute complexa o suficiente (e que os
problemas nas aacutereas educacionais satildeo dilemaacuteticos) para que eu verifique que a
observaccedilatildeo a partir de um uacutenico acircngulo pode silenciar ou invisibilizar possiacuteveis
soluccedilotildees Natildeo eacute o caso como jaacute destaquei de resumir inadvertidamente a
complexidade dos autoresas que trago aqui mas mostrar a educadoras e
educadores leitorases desta tese alguns caminhos possiacuteveis
105
Jaacute no iniacutecio do texto Meneses (SANTOS MENESES 2010) ao
citar Santos esclarece os trecircs posicionamentos fundamentais para
compreendermos as ideias dos autores ou seja o Sul existe podemos ir
ateacute laacute e podemos aprender desde laacute e com os de laacute Para isso seria
necessaacuterio problematizarmos a influecircncia monopolizadora do
pensamento europeu tendo em vista as relaccedilotildees entre dominaccedilatildeo
colonial dominaccedilatildeo cientiacutefica e possibilidades de resistecircncias A ideia
central eacute a de que a democratizaccedilatildeo das sociedades passa
necessariamente pela democratizaccedilatildeo do conhecimento
A Sociologia das Ausecircncias e das Emergecircncias (SANTOS 2002
2007) se relaciona com a pesquisa realizada pelo autor e que citei
anteriormente ldquoReinventar a Emancipaccedilatildeo Social Para Novos
Manifestosrdquo que investigou possibilidades de uma globalizaccedilatildeo
alternativa agrave neoliberal e ao capitalismo global em diferentes paiacuteses
(Aacutefrica do Sul Brasil Colocircmbia Iacutendia Moccedilambique e Portugal) Nesse
intento tiveram voz movimentos sociais e Organizaccedilotildees Natildeo
Governamentais (ONGs)
Em termos teoacutericos o autor explica que
enquanto a sociologia das ausecircncias amplia o
campo das experiecircncias sociais jaacute disponiacuteveis a
sociologia das emergecircncias expande o campo de
experiecircncias sociais possiacuteveis As duas
sociologias estatildeo estreitamente associadas visto
que quanto mais experiecircncias estiverem
disponiacuteveis hoje no mundo mais experiecircncias
seratildeo possiacuteveis no futuro Quanto mais ampla for
a realidade criacutevel mais vasto seraacute o campo de
sinais ou pistas em que acreditar e de futuros
possiacuteveis e concretos Quanto maior for a
multiplicidade e a diversidade das experiecircncias
disponiacuteveis e possiacuteveis (conhecimentos e agentes)
maior seraacute a expansatildeo do presente e a contraccedilatildeo
do futuro (SANTOS 2006 p 88)80
80 Mientras que la sociologiacutea de las ausencias expande el campo de las
experiencias sociales ya disponibles la sociologiacutea de las emergencias expande
el campo de las experiencias sociales posibles Las dos sociologiacuteas estaacuten
estrechamente asociadas visto que cuanto maacutes experiencias estuvieren hoy
disponibles en el mundo maacutes experiencias seriacutean posibles en el futuro Cuanto
maacutes amplia fuera la realidad creiacuteble maacutes vasto seriacutea el campo de las sentildeales o
pistas creiacutebles y de los futuros posibles y concretos Cuanto mayor fuese la
multiplicidad y la diversidad de las experiencias disponibles y posibles
106
E em relaccedilatildeo agrave produccedilatildeo de conhecimentos eacute possiacutevel perceber
que interessam diaacutelogos desde a biotecnologia passando pela justiccedila a
agricultura e a produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica Nesses termos em
discurso atual81 o autor trata do eminente diaacutelogo (interconhecimentos)
com a educaccedilatildeo Essa vista como negligenciada nos uacuteltimos anos de
modo que tanto juventudes como futuro ficaram comprometidos
Portanto seria necessaacuterio superar a dualidade entre educaccedilatildeo
popular (emancipadora das mentes e das praacuteticas) e educaccedilatildeo formal
(reguladora das mentes e das praacuteticas) pois a educaccedilatildeo formal estaacute
diversificada e democratizada constituindo um campo de luta
importante Para o autor precisamos aprofundar os diaacutelogos e as inter-
relaccedilotildees necessaacuterias para que toda a educaccedilatildeo seja popular e
emancipadora Algo que acredito poder ser desenvolvido em um ensino
politeacutecnico atento ao contexto educacional brasileiro atual E que
corresponde ao que considero como uma posiccedilatildeo criacutetica sobre TS em
processos educacionais Esse posicionamento se refere tanto a minhas
experiecircncias nos CTIEM do IFRS Cacircmpus Caxias do Sul quanto a
minha consciecircncia social
No quadro 2 logo abaixo apresento um esquema das relaccedilotildees que
Santos e Meneses (2010) estabelecem entre produccedilatildeo de conhecimentos
dominaccedilatildeo e possibilidades de emancipaccedilatildeo social Desse modo penso
a educaccedilatildeo em um momento de transiccedilatildeo no qual as possibilidades para
diaacutelogos emancipatoacuterios estatildeo em pauta e quando indagaccedilotildees sobre
relaccedilotildees (produccedilotildees e apropriaccedilotildees) entre diferentes conhecimentos satildeo
pertinentes
(conocimientos y agentes) mayor seriacutea la expansioacuten del presente y la
contraccioacuten del futuro (SANTOS 2006 p 88) Traduccedilatildeo livre da autora 81 Foacuterum Social de Educaccedilatildeo Popular (2016) Verificar em
httpwwwforumeducacaopopularorg
107
Quadro 2 - Relaccedilotildees entre produccedilatildeo de conhecimentos e emancipaccedilatildeo social
Fonte Elaboraccedilatildeo da autora a partir de texto de Santos e Meneses (2010)
Nesse quadro 2 acima localizo portanto o desenvolvimento de
TS como um momento de possibilidades de diaacutelogos horizontais entre
conhecimentos com inter-relaccedilatildeo entre teorias criacutetica a dogmatismos e
sensiacutevel a diferentes experiecircncias interpretaccedilotildees e valores dos sujeitos
envolvidos Algo que tambeacutem procuro relacionar com Freire (2011
1987) que considera os conhecimentos historicamente produzidos e faz
uma defesa de processos educacionais contextualizados e atentos agraves
vivecircncias dos sujeitos Assim como com a perspectiva defendida por
Feenberg de abertura de assuntos teacutecnicos agrave esfera puacuteblica como
verificamos na seguinte fala ldquoO aumento da esfera puacuteblica incluindo a
tecnologia marca uma mudanccedila radical do consenso anterior que
assegurava que os assuntos teacutecnicos deveriam ser decididos por
especialistas teacutecnicos sem interferecircncia leigardquo (FEENBERG 2004
p16)
108
Com o foco de atenccedilatildeo em processos educacionais no Brasil
tento refletir sobre novas (e antigas) questotildees educacionais apresentadas
pelas mudanccedilas soacutecio-histoacutericas contemporacircneas em relaccedilatildeo a
tecnologias Assim a seguir busco aprofundar as discussotildees sobre
tecnologia e TS tendo em vista suas possibilidades e limites
educacionais em contextos regionais latino-americanos
109
CAPIacuteTULO 2 TECNOLOGIA E TECNOLOGIAS SOCIAIS
Na primeira parte desta tese meu foco foi em processos
educacionais Abordei a ECT de modo geral e a Educaccedilatildeo CTS como
uma especificidade em relaccedilatildeo agravequela que como um ramo dos ECTS
concentra-se em inter-relaccedilotildees entre perspectivas CTS e processos
educacionais Aleacutem disso destaquei influecircncias de diferentes autoresas
e correntes teoacutericas em tais inter-relaccedilotildees e busquei caracterizar como
considero o sujeito nas anaacutelises propostas
Nesta segunda parte ao delinear o sentido geral sobre tecnologia
que eacute aqui considerado examino pesquisas sobre o caraacuteter social da
tecnologia e posicionamentos de diferentes autoresas em relaccedilatildeo agrave
tecnologia Nesse processo dialogo com algumas perspectivas teoacutericas
(TCT por exemplo) e exponho a minha filiaccedilatildeo Para finalizar realizo
uma reflexatildeo sobre TS que inclui a sua histoacuteria conceitos pesquisas e
suas relaccedilotildees com processos educacionais
21 TECNOLOGIA
Consideremos mesmo que inicialmente que a tecnologia possa
ser algo como uma resposta a necessidades sociais Resposta essa que eacute
produzida em determinada sociedade e sob certas condiccedilotildees A partir
disso podemos compreender que diferentes modos de analisar essa
sociedade podem levar a muacuteltiplos pontos de vista no exame sobre a
tecnologia e podem produzir conhecimentos sobre esse tema com certas
particularidades Nesta tese destaco contribuiccedilotildees da Filosofia da
Educaccedilatildeo e das Ciecircncias Sociais mas eacute possiacutevel considerar a tecnologia
sob diversos olhares
211 Dimensotildees de anaacutelise
A tecnologia possui portanto muacuteltiplas dimensotildees82 que mesmo
que interligadas podem ser examinadas em separado Tais como a
econocircmica a poliacutetica a cientiacutefica e a ideoloacutegica (FIGUEIREDO 1989)
Essa uacuteltima faz referecircncia ao entendimento da tecnologia como algo
neutro que independe de interesses Figueiredo (1989) esclarece que ldquoa
dimensatildeo ideoloacutegica da tecnologia refere-se ao fato de a tecnologia se
82 Outras dimensotildees tambeacutem podem ser destacadas Cupani (2011) por
exemplo apresenta dimensotildees da tecnologia segundo o ponto de vista do
filoacutesofo norte-americano Carl Mitcham
110
apresentar como um processo neutro de domiacutenio e controle da natureza
em benefiacutecio de todosrdquo (p18) 83
Na dimensatildeo econocircmica as relaccedilotildees entre incremento
tecnoloacutegico inovaccedilatildeo e processo de industrializaccedilatildeo satildeo abordadas sob
diferentes teorias de desenvolvimento A anaacutelise com foco na poliacutetica
faz referecircncia agrave esfera de manifestaccedilatildeo de interesses sob determinadas
condiccedilotildees tendo em vista contextos institucionais de disputa por poder
Em relaccedilatildeo agrave ciecircncia Figueiredo (1989) esclarece que a tecnologia tem
uma histoacuteria proacutepria relacionada com a ciecircncia Contudo ciecircncia e
tecnologia apesar de muitas vezes se complementarem natildeo satildeo
substituiacuteveis entre si84
Essas constataccedilotildees natildeo significam a suposiccedilatildeo de
uma ciecircncia neutra contraposta a uma tecnologia
comprometida com interesses Ambas as
atividades satildeo expressatildeo cognitiva -
teoacutericopraacutetica - de interesses sociais e de
possibilidades por eles criadas O importante a
destacar eacute que os conhecimentos cientiacuteficos
produzidos ateacute um determinado momento satildeo
componente fundamental do campo de
possibilidades de avanccedilos tecnoloacutegicos Do
mesmo modo e em sentido inverso o
desenvolvimento tecnoloacutegico pressiona na direccedilatildeo
83 A problematizaccedilatildeo desse entendimento que apresenta como neutro o que eacute
ideoloacutegico eacute importante em processos educacionais que examinam a ideia de
determinismo tecnoloacutegico A seguir na apresentaccedilatildeo da TCT de Feenberg
(2002 2003 2012) essa questatildeo seraacute explorada com mais profundidade 84 A abordagem de Figueiredo (1989) permite o exame da tecnologia sem
prescindir de sua relaccedilatildeo com a ciecircncia mas de modo a considerar aquela como
objeto especiacutefico com suas dimensotildees proacuteprias para anaacutelise Como referi a
autora esclarece que ciecircncia e tecnologia tecircm histoacuterias proacuteprias que se cruzam
poreacutem sem se dissolverem uma na outra Isso permite que questotildees importantes
relativas a elas sejam examinadas conjuntamente ou em separado de acordo
com a anaacutelise pretendida Portanto mesmo com meu foco na tecnologia faccedilo
referecircncia aos termos ciecircncia e tecnologia em separado conjuntamente
(CampT - ciecircncia e tecnologia) utilizo o termo ldquosocioteacutecnicordquo para fazer
referecircncia agrave tecnologia dentro de minha perspectiva como produccedilatildeo social E
em alguns momentos abordo o termo tecnocientiacuteficordquo (utilizado aqui como um
recurso de linguagem para significar relaccedilotildees entre ciecircncia e tecnologia Natildeo eacute o
caso de eu fazer referecircncia a esse termo como necessariamente relacionado agrave
tecnociecircncia essa eacute examinada adiante)
111
da ampliaccedilatildeo das fronteiras do conhecimento
existente (FIGUEIREDO 1989 p 17)
De modo similar Baumgarten (2002 2006b) enfatiza que nem
toda teacutecnica deriva da ciecircncia sendo que as teacutecnicas podem fornecer agrave
ciecircncia novos objetos de pesquisa assim como expandir os caminhos
para a proacutepria investigaccedilatildeo
Enquanto a ciecircncia constitui-se em enunciados
(leis teorias) permitindo conhecer-se a realidade
e modificaacute-la a teacutecnica promove a transformaccedilatildeo
do real consistindo em operaccedilotildees visando a
satisfazer determinadas necessidades a ciecircncia e a
teacutecnica pressupotildeem portanto um plano uma
concepccedilatildeo um desiacutegnio a ser realizado
(BAUMGARTEN 2002 p 313)
A autora tambeacutem destaca que foi em torno do seacuteculo XVIII que
se passou a utilizar o termo tecnologia com o significado de
melhoramento racional das artes (teacutecnicas) em especial daquelas que se
exerciam na induacutestria mediante seu estudo cientiacutefico e de seus
produtos (BAUMGARTEN 2006b p 291 grifos da autora) Assim a
autora procura situar a tecnologia em relaccedilatildeo ao seu caraacuteter social e
resgata a aproximaccedilatildeo histoacuterica entre ciecircncia e tecnologia
Portanto a tecnologia pode ser examinada em diferentes
contextos (sociocultural econocircmico poliacutetico e educacional por
exemplo) e por sujeitos com propoacutesitos distintos O que corrobora sua
importacircncia na constituiccedilatildeo das sociedades contemporacircneas e seu debate
em processos educacionais E eacute justamente essa dimensatildeo educacional
que eacute explorada nesta tese atraveacutes de uma perspectiva criacutetica de TS
212 Sentido geral
Destaco a perspectiva do filoacutesofo brasileiro Aacutelvaro Vieira Pinto
(1909-1987) que assim como os estudos em Educaccedilatildeo CTS latino-
americanos e Feenberg (2002 2003 2012) considera o caraacuteter
ideoloacutegico da tecnologia Embora sua abordagem seja filosoacutefica o autor
contribui para um olhar socioloacutegico sobre a tecnologia pois sua anaacutelise
tem uma mirada sobre a produccedilatildeo humana como produccedilatildeo de relaccedilotildees
sociais construccedilatildeo de formas de convivecircncia (FREITAS 2005 2006)
De acordo com Kleba (2008) Aacutelvaro Vieira Pinto faz parte de
um grupo de teoacutericos que procuraram explicar o atraso (grifo do autor)
112
econocircmico e poliacutetico brasileiro atraveacutes de diferentes olhares ldquosejam
cultural-raciais como em Oliveira Viana cultural-poliacuteticas como em
Raymundo Faoro ou na figura do Jeca-Tatu de Monteiro Lobato e
econocircmicas como em Celso Furtado e Caio Prado Juacutenior entre tantos
outrosrdquo (KLEBA 2008 p9) Nesse contexto Pinto (2005) procura
demonstrar a funccedilatildeo ideoloacutegica da tecnologia em relaccedilatildeo ao chamado
subdesenvolvimento85
Ao declarar que ldquotodo objeto incorpora em si uma ideia
originada no pensamento de algueacutem pertencente a uma sociedade
determinada na qual tem interessesrdquo (PINTO 2005 p 323) a
preocupaccedilatildeo do autor eacute com o papel ideoloacutegico da tecnologia no Brasil
Um dos debates que o autor propotildee eacute justamente a problematizaccedilatildeo da
tecnologia em relaccedilatildeo ao subdesenvolvimento principalmente em sua
funcionalidade para manter relaccedilotildees de dominaccedilatildeo do centro sobre a
periferia (FREITAS 2005) ou na terminologia que uso nesta tese do
Norte sobre o Sul
Dentro desse propoacutesito Pinto (2005) analisou o conceito de
tecnologia sob algumas perspectivas dentre as quais aponto quatro
definiccedilotildees No primeiro significado destacado pelo autor ldquoa lsquotecnologiarsquo
tem de ser a teoria a ciecircncia o estudo a discussatildeo da teacutecnica
abrangidas nessa uacuteltima noccedilatildeo as artes as habilidades do fazer as
profissotildees e generalizadamente os modos de produzir alguma coisardquo
(PINTO 2005 p 219)
Assim o autor considera seu sentido geneacuterico poreacutem essencial
visto como uma teoria ou uma ciecircncia No segundo significado
apresentado por Pinto (2005) a tecnologia equivale pura e simplesmente
agrave teacutecnica Indiscutivelmente constitui este o sentido mais frequente e
popular da palavra o usado na linguagem corrente quando natildeo se exige
precisatildeo maiorrdquo (p219) Para o autor as duas palavras mostram-se
assim ldquointercambiaacuteveis no discurso habitual coloquial e sem rigorrdquo
(PINTO 2005 p 219)
O terceiro significado aparece ligado ao segundo como sinocircnimo
da teacutecnica poreacutem com certa particularidade
() encontramos o conceito de lsquotecnologiarsquo
entendido como o conjunto de todas as teacutecnicas de
85 O conceito da amanualidade eacute central no pensamento do autor Com ele os
efeitos da passagem do subdesenvolvimento ao desenvolvimento atraveacutes do
trabalho satildeo explicados O que significaria a possibilidade de manusear a
realidade com recursos cada vez mais elaborados (FREITAS 2006)
113
que dispotildee uma determinada sociedade em
qualquer fase histoacuterica de seu desenvolvimento
Em tal caso aplica-se tanto agraves civilizaccedilotildees do
passado quanto as condiccedilotildees vigentes
modernamente em qualquer grupo social (PINTO
2005 p 219)
De acordo com o autor o terceiro significado assume importacircncia
por ser a ele ldquoque se costuma fazer menccedilatildeo quando se procura referir ou
medir o grau de avanccedilo do processo das forccedilas produtivas de uma
sociedaderdquo (PINTO 2005 p220)
Por fim Pinto (2005) apresenta a quarta acepccedilatildeo do termo
tecnologia na qual destaca a ideologia da teacutecnica
Toda tecnologia contendo necessariamente o
sentido jaacute indicado de logos da teacutecnica
transporta inevitavelmente um conteuacutedo
ideoloacutegico Consiste numa determinada acepccedilatildeo
do significado e do valor das accedilotildees humanas do
modo social de realizarem-se das relaccedilotildees do
trabalhador com o produto ou o ato acabado e
sobretudo envolve a ligaccedilatildeo entre o teacutecnico em
seu papel de fabricante de um bem ou autor de um
empreendimento e o destino dado agravequilo que cria
A teacutecnica representa o aspecto qualitativo de um
ato humano necessariamente inserido no contexto
social que a solicita a possibilita e lhe daacute
aplicaccedilatildeo (PINTO 2005 p 320-321)
Tal definiccedilatildeo que destaca a autoria de sujeito(s) e apresenta a
tecnologia em relaccedilatildeo ao local e agraves condiccedilotildees em que ela eacute produzida
pode levar agrave compreensatildeo do caraacuteter social que a tecnologia pode
assumir enquanto realizaccedilatildeo humana Esse caraacuteter segundo Feenberg
natildeo reside na loacutegica do funcionamento interno da tecnologia mas na
relaccedilatildeo dessa loacutegica com um contexto social86 (2002 p 79) Eacute possiacutevel
compreender portanto que a tecnologia tem caraacuteter histoacuterico e coletivo
de modo a incluir interesses poliacuteticos e econocircmicos bem como valores
sociais e morais (ARAUacuteJO 1998 BAUMGARTEN 2008b)
86 The social character of technology lies not in the logic of its inner workings
but in the relation of that logic to a social context (FEENBERG 2002 p 79)
Traduccedilatildeo livre da autora
114
Esse entendimento eacute importante para analisarmos sentidos sobre
tecnologia em processos educacionais que envolvem autoria Nesse
aspecto a quarta definiccedilatildeo de Pinto (2005) pode ser relacionada com
uma educaccedilatildeo problematizadora dialoacutegica e politeacutecnica que possibilite
processos de emancipaccedilatildeo social
As relaccedilotildees de influecircncia muacutetua entre Pinto e Freire natildeo satildeo
novidade Sendo que o fato de Freire (1983) o chamar de mestre ao
desenvolver as ideias de consciecircncia criacutetica e consciecircncia ingecircnua natildeo eacute
surpresa De acordo com Faveri (2014) tais categorias jaacute estatildeo presentes
na obra de Pinto que eacute citado por Freire (1983)
A consciecircncia criacutetica ldquoeacute a representaccedilatildeo das coisas
e dos fatos como se datildeo na existecircncia empiacuterica
Nas suas correlaccedilotildees causais e circunstanciaisrdquo
ldquoA consciecircncia ingecircnua (pelo contraacuterio) se crecirc
superior aos fatos dominando-os de fora e por
isso se julga livre para entendecirc-los conforme
melhor lhe agradarrdquo (FREIRE 1983 p 105)
Para aleacutem dessas categorias Faveri (2014) esclarece que tanto
Pinto quanto Freire pensam a educaccedilatildeo como ato poliacutetico Para os dois
autores na educaccedilatildeo eacute importante definir claramente que sujeito se quer
formar e para viver em qual contexto soacutecio-econocircmico-cultural se
pretende formaacute-lo (FAVERI 2014)
A partir do conhecimento de que Pinto (2005) eacute leitor de Marx
considero a seguinte passagem como relacionada com uma perspectiva
politeacutecnica
Deste modo a teacutecnica aparentemente mais
grosseira ou confinante conduz pela apreensatildeo do
seu significado teoacuterico ou epistemoloacutegico agrave
aquisiccedilatildeo do universal representado pelo igual
valor existencial do trabalho de cada homem Seraacute
entatildeo o momento em que o teacutecnico natildeo se
identificaraacute mais com a teacutecnica particular de sua
profissatildeo ateacute agora causa de limitaccedilatildeo existencial
mas teraacute negado a identificaccedilatildeo restritiva para
alcanccedilar a identificaccedilatildeo universal com a teacutecnica
ou seja com a totalidade da capacidade de atuaccedilatildeo
primaacuteria livre Galgando a compreensatildeo unitaacuteria
da teacutecnica na plena universalidade em funccedilatildeo de
novas condiccedilotildees sociais em que exercer passaraacute a
dominar a que executa e todas as demais sabendo
115
o que significa quanto vale e quais as finalidades
dela em vez de ser como agora dominado por
ela a ponto de receber do trabalho particular
profissional sua qualificaccedilatildeo social enquanto ser
humano (PINTO 2005 p 223)
Desse modo considero que o autor tambeacutem percebe assim como
Marx o domiacutenio intelectual da teacutecnica como princiacutepio de libertaccedilatildeo do
trabalhador de emancipaccedilatildeo do sujeito87 E essa uacuteltima natildeo estaacute
descolada dos processos de dominaccedilatildeo do Norte sobre o Sul
De acordo com Freitas (2005) a quarta definiccedilatildeo sobre a teacutecnica
que destaca sua ideologia mostra que Pinto (2005) via os processos de
dominaccedilatildeo como a disseminaccedilatildeo a partir do centro (Norte) de um dos
significados da teacutecnica como universal ldquoreservando ao mundo da
periferia a condiccedilatildeo de lsquopaciente receptorrsquo das inovaccedilotildees teacutecnicas
quando na verdade jaacute se pronunciava uma lsquofase histoacutericarsquo na qual era
possiacutevel atuar como lsquoagente propulsorrsquo do proacuteprio desenvolvimentordquo
(FREITAS 2005 p 4)
No esquema que apresentei no quadro 2 faccedilo uma leitura de
Santos e Meneses (2010) justamente nesse sentido Qual seja que
processos de dominaccedilatildeo natildeo ocorrem apenas por via econocircmica mas
tambeacutem atraveacutes de formas de conhecimentos (epistemologias) Assim
nesses processos de dominaccedilatildeo os conhecimentos hegemocircnicos do
Norte seriam hierarquicamente superiores aos conhecimentos do Sul
que como ldquopaciente receptorrdquo natildeo poderia divergir da ordem dominante
a custo de ser considerado como irracional
Freitas (2005 2006) mostra que Pinto (2005) tambeacutem vai contra
tal propoacutesito ao rejeitar que as teacutecnicas mais elaboradas fossem
disseminadas a partir da generosidade de seus usuaacuterios ldquoA tecnologia jaacute
pertence aos estratos mais simples da sociedade Esses estratos natildeo
podem ganhar na condiccedilatildeo de daacutediva aquilo que jaacute eacute constitutivo do
seu proacuteprio ser socialrdquo (PINTO 2005 p 20-21) O que retoma sua
preocupaccedilatildeo com a emancipaccedilatildeo dos sujeitos e a relaccedilatildeo dessa com o
domiacutenio dos fundamentos da tecnologia E que permite identificar uma
87 Freitas (2006) destaca que das histoacuterias de leitura de Pinto em relaccedilatildeo a
Marx surgem relaccedilotildees entre educaccedilatildeo emancipaccedilatildeo e tecnologia Pois segundo
o autor Pinto via que as juventudes por sua importacircncia deveriam ter
condiccedilotildees de operar tecnologias cada vez mais elaboradas Sendo que quanto
mais elaboradas elas fossem mais seriam disseminadas e menos estariam
vinculadas a mecanismos de acumulaccedilatildeo de riqueza individual
116
relaccedilatildeo com a busca por reconhecimento e diaacutelogos entre diferentes
conhecimentos como constitutiva de tal emancipaccedilatildeo
Nesse aspecto como bem destaca Figueiredo (1989) ldquoa
tecnologia circunscreve-se assim ao acircmbito do fazer humano no
campo da accedilatildeo social Um campo de saberes em disputa de exerciacutecios
de poder e de lutas por hegemoniardquo (p01) Portanto a partir do
entendimento do caraacuteter ideoloacutegico da tecnologia destaco a TCT
Entendo que essa auxilia na compreensatildeo da natureza dos interesses
envolvidos na temaacutetica e pode colaborar atraveacutes de suas categorizaccedilotildees
com a anaacutelise dos sentidos sobre tecnologias que circulam nos CTIEM
213 Teoria Criacutetica da Tecnologia
A TCT de Feenberg recebe a influecircncia entre outros
elementos88 da Teoria Criacutetica frankfurtiana Como destaquei no capiacutetulo
anterior a Teoria Criacutetica se refere ao conjunto de trabalhos
(heterogecircneos) de pensadores com interesses diversos como os jaacute
mencionados Horkheimer e Adorno aleacutem de Herbert Marcuse (1898-
1979) Walter Benjamin (1892-1940) Erich Fromm (1900-1980) e
Juumlrgen Habermas (1929)
Sem desconsiderar a densidade dos trabalhos produzidos naquele
contexto destaco abaixo um excerto do texto ldquoFilosofia e Teoria
Criacuteticardquo Nele Horkheimer (1980) comenta seu ensaio intitulado
ldquoTeoria Tradicional e Teoria Criacuteticardquo escrito na deacutecada de 1930 e que eacute
considerado como sendo a substacircncia teoacuterica de uma tentativa original
de unir teoria (pensamento filosoacutefico) e praacutetica (tensotildees do presente)
(ASSOUN 1991)
Horkheimer (1980) busca esclarecer que
Em meu ensaio Teoria Tradicional e Teoria
Criacuteticardquo apontei a diferenccedila entre dois meacutetodos
gnosioloacutegicos Um foi fundamentado no Discours
de la Meacutethode cujo jubileu de publicaccedilatildeo se
88 Outras influecircncias de Feenberg (1996a) para examinar a tecnologia podem ser
vistas em seus debates com Marcuse (de quem foi aluno) e Habermas
(CORREA 2010) Esses natildeo satildeo explorados nesta tese mas podem ser
encontrados em seu artigo do ano de 1996 ldquoMarcuse ou Habermas duas criacuteticas
da tecnologiardquo no qual o autor critica o pessimismo do primeiro em relaccedilatildeo agrave
ordem poliacutetica e tambeacutem o posicionamento do segundo em relaccedilatildeo agrave
exterioridade da ciecircncia e da tecnologia do mundo da vida
117
comemorou neste ano e o outro na criacutetica da
economia poliacutetica A teoria em sentido tradicional
cartesiano como a que se encontra em vigor em
todas as ciecircncias especializadas organiza a
experiecircncia agrave base da formulaccedilatildeo de questotildees que
surgem em conexatildeo com a reproduccedilatildeo da vida
dentro da sociedade atual Os sistemas das
disciplinas contecircm os conhecimentos de tal forma
que sob circunstacircncias dadas satildeo aplicaacuteveis ao
maior nuacutemero possiacutevel de ocasiotildees A gecircnese
social dos problemas as situaccedilotildees reais nas quais
a ciecircncia eacute empregada e os fins perseguidos em
sua aplicaccedilatildeo satildeo por ela mesma consideradas
exteriores ndash A teoria criacutetica da sociedade ao
contraacuterio tem como objeto os homens como
produtores de todas as suas formas histoacutericas de
vida As situaccedilotildees efetivas nas quais a ciecircncia se
baseia natildeo eacute para ela uma coisa dada cujo uacutenico
problema estaria na mera constataccedilatildeo e previsatildeo
segundo as leis da probabilidade O que eacute dado
natildeo depende apenas da natureza mas tambeacutem do
poder do homem sobre ele Os objetos e a espeacutecie
de percepccedilatildeo a formulaccedilatildeo de questotildees e o
sentido da resposta datildeo provas da atividade
humana e do grau de seu poder (HORKHEIMER
1980 p 155)
No texto Horkheimer (1980) adota uma postura criacutetica ao
positivismo e considera que () a teoria tradicional natildeo se ocupa da
gecircnese social dos problemas das situaccedilotildees reais nas quais a ciecircncia eacute
usada e dos escopos para os quais eacute usada (p 20) Em contraposiccedilatildeo o
autor defende que uma teoria criacutetica seja autocriacutetica e esclarecida que
visualize as accedilotildees de dominaccedilatildeo social haja vista o impedimento da
reproduccedilatildeo constante dessas mesmas
Com isso o autor critica o caraacuteter cientificista e reducionistas das
Ciecircncias Sociais que se ocupariam primordialmente em coletar e
classificar dados de modo a ignorar intervenccedilotildees que constantemente
ocorreriam no contexto social Esse posicionamento criacutetico segundo
Assoun (1991) se refere a sua proposta de reorganizaccedilatildeo da sociedade de modo a superar a razatildeo instrumental Pois essa visaria agrave dominaccedilatildeo
da natureza para fins lucrativos colocaria ciecircncia e tecnologia a serviccedilo
do capital e agiria em funccedilatildeo de interesses de classes e natildeo de interesses
da sociedade como um todo
118
A partir disso e sem desconsiderar outras influecircncias89 Feenberg
apresenta sua anaacutelise acerca da tecnologia a TCT dentro de um
prolongamento criacutetico na Escola de Frankfurt O quadro 3 abaixo
resume uma conferecircncia ldquoO que eacute Filosofia da Tecnologia rdquo (What is
Philosophy of Technology) pronunciada no Japatildeo e ilustra sua teoria
de modo didaacutetico e sinteacutetico90
Quadro 3 - Caracterizaccedilotildees de tecnologia
A Tecnologia eacute Autocircnoma Humanamente
Controlada
Neutra
(separaccedilatildeo completa
entre meios e fins)
Determinismo
(por exemplo a teoria
da modernizaccedilatildeo)
Instrumentalismo
(feacute liberal no progresso)
Carregada de Valores
(meios formam um
modo de vida que
inclui fins)
Substantivismo
(meios e fins ligados
em sistemas)
Teoria Criacutetica
(escolha de sistemas de
meios-fins alternativos)
Fonte Feenberg (2003 p 06)
O proacuteprio autor explica como o quadro 3 pode ser interpretado
O eixo vertical oferece duas alternativas ou a
tecnologia eacute neutra de valor () ou estaacute carregada
de valor () A escolha natildeo eacute oacutebvia De uma
perspectiva um dispositivo teacutecnico eacute
simplesmente uma concatenaccedilatildeo de mecanismos
causais Natildeo haacute qualquer quantidade de estudos
cientiacuteficos que possa nela encontrar algum
89 Em sua paacutegina na internet Feenberg (1996b) resume suas influecircncias e sua
abordagem para o estudo filosoacutefico da tecnologia Algo que traduzo livremente
como construtivismo hermenecircutico historicismo democracia teacutecnica e meta-
teoria da tecnologia Verificar detalhes em
lthttpwwwsfuca~andrewfMethod1htmgt 90 Essas questotildees jaacute vinham sendo desenvolvidas nas obras Questioning
technology do ano de 2001 e Transforming technology a Critical Theory
revisited do ano de 2002 (Tambeacutem utilizo aqui uma traduccedilatildeo da Universidade
Nacional de Quilmes Argentina do ano de 2012) e esclarecem a linha de
argumentaccedilatildeo fundamentada por Feenberg (2003) no que se refere a temas
centrais para as relaccedilotildees entre tecnologia e sociedade
119
propoacutesito Mas para outros pontos de vista isso
natildeo chega ao ponto essencial As tecnologias no
eixo horizontal estatildeo consideradas como
autocircnomas ou humanamente controlaacuteveis Dizer
que a tecnologia eacute autocircnoma natildeo quer dizer que
ela se faz a si mesma Os seres humanos ainda
estatildeo envolvidos mas a questatildeo eacute eles tecircm de
fato a liberdade para decidir como a tecnologia
seraacute desenvolvida O proacuteximo passo depende da
evoluccedilatildeo do sistema teacutecnico ateacute noacutes Se a resposta
eacute natildeo entatildeo se pode dizer justificadamente que
a tecnologia eacute autocircnoma no sentido de que a
invenccedilatildeo e o desenvolvimento tecircm suas proacuteprias
leis imanentes as quais os seres humanos
simplesmente seguem ao interagirem nesse
domiacutenio teacutecnico Por outro lado a tecnologia pode
ser humanamente controlaacutevel enquanto se pode
determinar o proacuteximo passo de evoluccedilatildeo
conforme nossas intenccedilotildees (FEENBERG 2003 p
06)
Nesse quadro eacute possiacutevel verificar (i) se a tecnologia seria neutra
ou carregada de valores e (ii) se a tecnologia poderia ter seus efeitos
controlados pelos sujeitos ou atuaria de modo autocircnomo A partir das
combinaccedilotildees de (i) e (ii) eacute possiacutevel estabelecer quatro visotildees segundo as
quais se podem examinar as relaccedilotildees entre tecnologia e sociedade
determinismo instrumentalismo substantivismo e teoria criacutetica
A perspectiva do determinismo que jaacute foi aqui examinada e eacute um
sentido central para a pesquisa desta tese aceita a neutralidade e a
combina com a percepccedilatildeo de autonomia Desde esse ponto de vista a
tecnologia seria valorativamente neutra e natildeo seria controlada pelo
homem sendo ela que moldaria a sociedade
Os deterministas acreditam que a tecnologia natildeo eacute
controlada humanamente mas que pelo contraacuterio
controla os humanos isto eacute molda a sociedade agraves
exigecircncias de eficiecircncia e progresso Os
deterministas tecnoloacutegicos usualmente
argumentam que a tecnologia emprega o avanccedilo
do conhecimento do mundo natural para servir agraves
caracteriacutesticas universais de natureza humana tais
como as necessidades e faculdades baacutesicas ()
As tecnologias como o automoacutevel estendem
nossos peacutes enquanto os computadores estendem
120
nossa inteligecircncia A tecnologia enraiacuteza-se por um
lado no conhecimento da natureza e por outro nas
caracteriacutesticas geneacutericas da espeacutecie humana Natildeo
depende de noacutes adaptarmos a tecnologia a nossos
caprichos senatildeo pelo contraacuterio noacutes devemos nos
adaptar agrave tecnologia como expressatildeo mais
significativa de nossa humanidade (FEENBERG
2003 p 07)
Feenberg (1991) desenvolve duas teses-base sobre o
determinismo (i) a tese do progresso linear na qual o progresso teacutecnico
parece seguir um curso linear e fixo de fases menos avanccediladas para as
mais avanccediladas necessariamente e (ii) a tese da determinaccedilatildeo pela
base segundo a qual satildeo as instituiccedilotildees que precisam se adaptar aos
imperativos da base tecnoloacutegica Nas palavras do autor ldquoo
determinismo eacute somente uma estoacuteria feita para mostrar porque as coisas
tecircm que ser como satildeo Na realidade haacute sempre escolhas e alternativasrdquo
(MARICONDA MOLINA 2009 p 168)
A teoria instrumentalista combina as percepccedilotildees de neutralidade e
de controle humano da tecnologia Esta eacute a visatildeo-padratildeo moderna
segundo a qual a tecnologia eacute simplesmente uma ferramenta ou
instrumento da espeacutecie humana com os quais noacutes satisfazemos nossas
necessidades (FEENBERG 2003 p 06) O instrumentalismo oferece a
visatildeo mais popular de tecnologia muitas vezes relacionada com
perspectivas tecnoacutefilas
Para o autor o instrumentalismo eacute baseado na ideia do senso
comum de que as tecnologias satildeo ferramentas prontas para servir os
propoacutesitos de seus usuaacuterios A tecnologia eacute considerada neutra sem
conteuacutedo valorativo proacuteprio91 (FEENBERG 2002 p 05) Contudo
para Feenberg (2003) a tecnologia natildeo eacute um instrumento neutro e os
meios e os fins estatildeo conectados O autor destaca que se eacute possiacutevel
algum tipo de controle humano da tecnologia esse natildeo seraacute um controle
instrumental
O substantivismo combina as percepccedilotildees de autonomia e da
tecnologia condicionada por valores Segundo Feenberg (2003) esse
termo foi adotado ldquopara descrever uma posiccedilatildeo que atribui valores
substantivos agrave tecnologia em contraste com as visotildees como a do
91 It is based on the commonsense idea that technologies are tools standing
ready to serve the purposes of their users Technology is deemed neutral
without valuative content of its own (FEEMBERG 2002 p 05) Traduccedilatildeo livre
da autora
121
instrumentalismo e a do determinismo nos quais a tecnologia eacute vista
como neutra em si mesma (p 07)
O autor explica que por valores substantivos entende
um compromisso com uma concepccedilatildeo especiacutefica
de uma vida boa Se a tecnologia incorpora um
valor substantivo natildeo eacute meramente instrumental e
natildeo pode ser usado a diferentes propoacutesitos de
indiviacuteduos ou sociedades com ideacuteias diferentes do
bem O uso da tecnologia para esse ou aquele
propoacutesito seria uma escolha de valor especiacutefica
em si mesma e natildeo soacute uma forma mais eficiente
de compreender um valor preacute-existente de algum
tipo (FEENBERG 2003 p 07)
Poreacutem a autonomia preservada pelo substantivismo caracterizaria
uma tecnologia ameaccediladora e maleacutevola A tecnologia uma vez
libertada fica cada vez mais imperialista tomando domiacutenios sucessivos
da vida social (FEENBERG 2003 p 08) Nessa perspectiva identifico
uma visatildeo tecnofoacutebica como jaacute referi anteriormente e destaco a posiccedilatildeo
do pensador francecircs Jacques Ellul (1912-1994) para quem o sistema
tecnoloacutegico promoveria uma instrumentalizaccedilatildeo total dos sujeitos e se
apresentaria como um destino do qual natildeo haveria maneira de escapar
(ELLUL 1964 CORREcircA 2010)
Feenberg (2002) explica que existiria espaccedilo para as decisotildees dos
sujeitos mas o determinismo e o substantivismo natildeo o considerariam E
ldquofazem parecer que a tecnologia tem sua proacutepria loacutegica de
desenvolvimento mas noacutes descobrimos que podemos agir e mudar a
tecnologia portanto essas teorias natildeo podem ser verdadeirasrdquo
(MARICONDA MOLINA 2009 p 168) O substantivismo apresenta
em suas concepccedilotildees poucas ou nenhuma possibilidades de controle e
de transformaccedilatildeo de uma estrutura de dominaccedilatildeo autocircnoma da
tecnologia posiccedilatildeo da qual Feenberg (2002 2003 2004 2012) se
distancia ao caracterizar a TCT
Na TCT os valores incorporados agrave tecnologia satildeo socialmente
especiacuteficos natildeo sendo representados adequadamente por abstraccedilotildees
como a eficiecircncia ou o controle Conforme Feenberg (2003) a tecnologia natildeo moldaria (no sentido em que as molduras satildeo limites e
contecircm o que estaacute por dentro mas natildeo determinam os valores
percebidos dentro delas) apenas um modo de vida Sendo que considera
a possibilidade de diferentes estilos de vida distintos da mediaccedilatildeo
122
tecnoloacutegica Algo similar ao que Dagnino Silva e Padovanni (2011)
defendem com sua abordagem sobre AST como apontei na p 71
A TCT assim como o instrumentalismo considera a
possibilidade de controle humano da tecnologia No entanto ao
contraacuterio desse aquela percebe a tecnologia como carregada de valores
e natildeo como neutra Em teoria criacutetica a tecnologia natildeo eacute vista como
ferramentas mas como estruturas para estilos de vida As escolhas estatildeo
abertas para noacutes e situadas num niacutevel mais alto do que o instrumental
(FEENBERG 2003 p11)
A tecnologia carregaria portanto os valores resultantes de sua
vinculaccedilatildeo com o contexto capitalista natildeo sendo um mero instrumento
neutro Os valores e interesses dos sujeitos no caso as classes
dominantes influenciariam no desenho nas decisotildees e nos
procedimentos Desse modo a tecnologia natildeo constituiria uma entidade
autocircnoma ldquoela natildeo eacute um destino mas sim um cenaacuterio de lutardquo92
(FEENBERG 2002 p 15)
Com isso Feenberg (2002 2012) defende uma posiccedilatildeo natildeo
determinista cujas teses baacutesicas seriam que (i) o desenvolvimento
tecnoloacutegico estaacute sobre determinado tanto por criteacuterios teacutecnicos quanto
sociais de progresso e podem por conseguinte bifurcar-se em diversas
direccedilotildees conforme a hegemonia que prevalecer e que (ii) enquanto as
instituiccedilotildees sociais se adaptam ao desenvolvimento tecnoloacutegico o
processo de adaptaccedilatildeo eacute reciacuteproco - a tecnologia muda em resposta agraves
condiccedilotildees em que se encontra tanto quanto ela as influencia
Essa posiccedilatildeo demonstra o caraacuteter ambivalente93 da tecnologia
presente na possibilidade de a tecnologia ser instrumentalizada para
diferentes sistemas (CUPANI 2011)
A teoria da instrumentalizaccedilatildeo defende que a
tecnologia deve ser analisada em dois niacuteveis o
niacutevel de nossa relaccedilatildeo funcional original com a
realidade e o niacutevel de propoacutesito e implementaccedilatildeo
No primeiro niacutevel procuramos achar recursos que
podem ser mobilizados em dispositivos e sistemas
para descontextualizar os objetos da experiecircncia e
92 On this view technology is not a destiny but a scene of strugglerdquo
(FEENBERG 2002 p 15) Traduccedilatildeo livre da autora 93 Essa ambivalecircncia da tecnologia significa que natildeo haveria uma uacutenica relaccedilatildeo
entre avanccedilo tecnoloacutegico e distribuiccedilatildeo social de poder pois a tecnologia estaria
disponiacutevel a desenvolvimentos alternativos
123
reduzi-los a suas propriedades normais Isso
envolve um processo () em que os objetos satildeo
retirados de seus contextos originais e postos agrave
anaacutelise e manipulaccedilatildeo enquanto os sujeitos se
colocam para controle agrave distacircncia () No
segundo niacutevel introduzimos propoacutesitos que
podem ser integrados a outros dispositivos e
sistemas jaacute existentes tais como princiacutepios eacuteticos
e esteacuteticos O niacutevel primaacuterio simplifica objetos
para incorporaccedilatildeo a um dispositivo enquanto o
segundo niacutevel integra os objetos simplificados a
um ambiente natural e social (FEENBERG 2004
p 6-7)
Como argumenta Feenberg (2002 2004 2005) aleacutem de um
produto cultural eacute possiacutevel perceber na tecnologia uma dupla
instrumentalizaccedilatildeo que sugere a possibilidade de que ela venha a ter
rumos diferentes A tecnologia constitui basicamente uma atitude ou
orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave realidade (instrumentalizaccedilatildeo primaacuteria) No
entanto ela eacute tambeacutem um modo de accedilatildeo ou realizaccedilatildeo no mundo social
A essecircncia da tecnologia reside na uniatildeo (dialeacutetica) entre ambos os
niacuteveis de instrumentalizaccedilatildeo
Eacute importante destacar que Feenberg (1999) vecirc a tecnologia como
um poder que atingiria diferentes domiacutenios nas sociedades modernas
Para ele osas especialistas em sistemas teacutecnicos teriam um grande
controle sobre o desenvolvimento urbano logiacutestico habitacional e em
escolhas de inovaccedilotildees Desse modo a tecnologia ampliaria seu poder
sobre o quotidiano dos sujeitos ao mesmo tempo em que a democracia
poliacutetica perderia poder para aquelesas especialistas sendo que essesas
uacuteltimosas teriam mais poder sobre decisotildees essenciais para a vida
quotidiana do que as instituiccedilotildees poliacuteticas Tal situaccedilatildeo levaria agrave
chamada tecnocracia Situaccedilatildeo na qual os debates puacuteblicos satildeo
substituiacutedos por decisotildees de especialistas teacutecnicos Daiacute a necessidade de
discutir possibilidades de se democratizar a proacutepria tecnologia
(FEENBERG 1999)
Algo tambeacutem presente em Thomas (2009) quando o autor afirma
que seria ldquoingecircnuo pensar que semelhante niacutevel de decisotildees possa ficar
exclusivamente em matildeo de lsquoperitosrsquo assim como conceber que a
participaccedilatildeo natildeo informada pode melhorar as decisotildeesrdquo (p 76) Esse
autor assim como Feenberg (1999) procura demonstrar as fragilidades
de posicionamentos que natildeo consideram o desenvolvimento tecnoloacutegico
como um tema central para debates sobre democracia
124
Minha opccedilatildeo teoacuterica pela TCT de Feenberg ao contraacuterio de
correntes teoacutericas bastante populares nos ECTS como o construtivismo
e a TAR por exemplo vai ao encontro do que o autor esclarece em
termos da anaacutelise da questatildeo do determinismo tecnoloacutegico
A sociologia da tecnologia sofria uma revoluccedilatildeo
de si mesma nos anos 80 com a emergecircncia das
polecircmicas entre a escola do construtivismo social
e a teoria de redes dos atores tanto na Inglaterra
como na Franccedila Tinha conhecimento desses
debates e com eles muito aprendi mas estava
insatisfeito com a recusa das duas escolas de
pensamento engajarem-se com os temas mais
amplos da modernidade levantados pela Escola de
Frankfurt No entanto a nova sociologia da
tecnologia natildeo oferecia uma metodologia frutiacutefera
e argumentos fortes contra o determinismo
tecnoloacutegico que poderiam ser empregados para
apoiar a ideia de mudanccedila democraacutetica na esfera
teacutecnica Minha abordagem eacute informada pelos
estudos tecnoloacutegicos contemporacircneos e desse
modo alcanccedila um niacutevel de concreticidade ()
(FEENBERG 2004 p 03)
Aleacutem dessa posiccedilatildeo assumida em relaccedilatildeo a questotildees importantes
dos ECTS o pensamento de Feenberg tambeacutem interessa pelo fato de que
o autor tem uma preocupaccedilatildeo em articular sua TCT com a questatildeo
educacional94 Conforme destaca Silva (2005) Feenberg se auto intitula
como um dos fundadores da educaccedilatildeo online Para Feenberg (2001) as
teorias instrumentais e substantivistas podem ser verificadas nos
processos educacionais No instrumentalismo (otimista) se buscariam
possibilidades de reduzir custos com processos de formaccedilatildeo humana
tendo em vista esforccedilos para incrementar a produccedilatildeo e aumentar os
lucros enquanto no substantivismo (pessimista) as possibilidades de
articulaccedilatildeo entre tecnologia e educaccedilatildeo natildeo seriam visualizadas pois a
tecnologia eliminaria elementos pedagoacutegicos fundamentais como por
exemplo o diaacutelogo
94 Silva (2005) enfatiza que Feenberg desenvolve projetos de pesquisa em que
articula sua TCT com a educaccedilatildeo De modo que o proacuteprio Feenberg jaacute haveria
feito referecircncia agrave captaccedilatildeo de US$632000 que conseguiu para o
desenvolvimento de um novo software para foacuteruns de discussatildeo online
125
Nesse quadro dualista o autor esclarece que a TCT poderia
contribuir para uma terceira perspectiva de relaccedilotildees entre tecnologia e
educaccedilatildeo na medida em que a TCT apresenta a tecnologia natildeo como um
destino mas como possibilidades para os sujeitos Com isso seria
necessaacuterio romper com o determinismo tecnoloacutegico e visualizar as
inovaccedilotildees tecnoloacutegicas natildeo como um destino mas como oportunidades
para aperfeiccediloar os processos educacionais (FEENBERG 2001)
Assim Feenberg (2003 2004) aponta para uma modificaccedilatildeo
cultural proveniente de avanccedilos democraacuteticos O autor afirma que eacute
possiacutevel agrave humanidade escolher o mundo no qual deseja viver A TCT
possibilita pensar em tais escolhas em maneiras de submetecirc-las a
controles mais democraacuteticos de modo que seja possiacutevel a intervenccedilatildeo
democraacutetica na tecnologia Para o autor
A teoria criacutetica da tecnologia sustenta que os seres
humanos natildeo precisam esperar um Deus para
mudar a sua sociedade tecnoloacutegica num lugar
melhor para viver A teoria criacutetica reconhece as
consequumlecircncias catastroacuteficas do desenvolvimento
tecnoloacutegico ressaltadas pelo substantivismo mas
ainda vecirc uma promessa de maior liberdade na
tecnologia O problema natildeo estaacute na tecnologia
como tal senatildeo em nosso fracasso ateacute agora em
inventar instituiccedilotildees apropriadas para exercer o
controle humano dela (FEENBERG 2003 p 09)
Na TCT examinam-se exemplos95 nos quais haacute uma tendecircncia de
maior participaccedilatildeo dos sujeitos envolvidos com os processos de
mudanccedila tecnoloacutegica nas decisotildees sobre o desenho e o desenvolvimento
da tecnologia A esfera puacuteblica parece estar se abrindo lentamente para
abranger os assuntos teacutecnicos que eram vistos antigamente como esfera
exclusiva dos peritos (FEENBERG 2003 p 11) Compreendo que o
autor busca entre outros aspectos refletir sobre possibilidades de
democratizar usos de tecnologias na sociedade
Esses posicionamentos de Feenberg sobre a tecnologia
interessam-me especialmente para buscar compreensotildees acerca de
sentidos sobre tecnologia que atravessam os (e circulam nos) CTIEM
Entendo que o desenvolvimento de tecnologia assim como os contextos
95 Cupani (2011) e Silva (2005) apresentam os exemplos da aacuterea de
telecomunicaccedilatildeo e da medicina explorados por Feenberg para mostrar como os
sujeitos afetam o desenvolvimento tecnoloacutegico
126
educacionais96 ocorre historicamente e encontra-se sujeitado em
alguma medida a transformaccedilotildees que partem do acircmbito da accedilatildeo
humana Por isso a importacircncia do foco nas possibilidades de
intervenccedilatildeo social (transformaccedilatildeo de sentidos) a partir da accedilatildeo dos
sujeitos (educaccedilatildeo emancipadora)
Penso que esse posicionamento pode ser relacionado com Freire
(1987) Meacuteszaacuteros (2008) e Adorno (1995) pois para eles a tecnologia
seria uma expressatildeo do processo de engajamento dos sujeitos no mundo
e estaria relacionada com a transformaccedilatildeo Percebo que tanto para Freire
(1987) quanto para Feenberg (2003) Meacuteszaacuteros (2008) e Adorno (1995)
a tecnologia teria uma dimensatildeo poliacutetica pois como praacutetica humana natildeo
seria neutra e acompanharia a visatildeo de mundo da sociedade na qual seria
produzida e utilizada
Portanto Feenberg (2003 2004) destaca a importacircncia de os
sujeitos compreenderem que a mediaccedilatildeo do processo poliacutetico que atua
em interesses proacuteprios da sociedade como tal pode englobar tambeacutem as
questotildees tecnoloacutegicas Para o autor portanto a esperanccedila97 nas
potencialidades democraacuteticas da tecnologia e na abertura da esfera
puacuteblica aos assuntos teacutecnicos precisa ser mantida Vejo que essa
abertura tem um caminho em processos educacionais que mobilizem
para autoria tendo em vista uma perspectiva criacutetica de TS Tema que
apresento a seguir
96 Como jaacute referi o tema da educaccedilatildeo jaacute foi explorado em alguma medida por
Feenberg Conforme Mariconda e Molina (2009) e Silva (2005) o autor jaacute nos
anos 1980 nos Estados Unidos participou do projeto do primeiro programa de
educaccedilatildeo online Fato que o ajudou a definir limites e possibilidades desse
formato educacional como espaccedilo para interaccedilatildeo pedagoacutegica por meio da
escrita 97 Essa esperanccedila do autor se relaciona ao fato de que a hegemonia do chamado
coacutedigo teacutecnico do capitalismo natildeo pode impedir que haja iniciativas contraacuterias
Conforme jaacute destaquei na introduccedilatildeo desta tese Feenberg (2002) afirma que a
sociedade pode ser comparada a um jogo e que desde esse ponto de vista as
estrateacutegias de domiacutenio que preservam a autonomia operacional satildeo contestadas
por taacuteticas dos dominados que aproveitam suas margens de manobra Assim
como a autonomia operacional serve como a base estrutural da dominaccedilatildeo um
diferente tipo de autonomia eacute conquistado pelos dominados uma autonomia que
opera com o jogo no sistema para redefinir e modificar suas formas e
propoacutesitos
127
22 TECNOLOGIAS SOCIAIS
Esta parte da tese traz alguns elementos que discuti na pesquisa
para o mestrado ocasiatildeo na qual fiz um levantamento sobre TS
desenvolvidas no Brasil na atualidade conforme informei na introduccedilatildeo
Esses dados encaminham uma discussatildeo teoacuterica e um levantamento
bibliograacutefico que podem auxiliar na investigaccedilatildeo de possibilidades e
limites de transformaccedilatildeo de sentidos deterministas sobre tecnologia em
ambientes educacionais tendo em vista uma perspectiva criacutetica sobre TS
Para isso introduzo a temaacutetica das TS pela origem do debate
221 Origens contraposiccedilotildees e relaccedilotildees
Origens
O termo ldquoTecnologia Socialrdquo foi desenvolvido no Brasil no iniacutecio
dos anos 2000 Nesse contexto o desenvolvimento de TS tecircm suas
origens nos chamados novos movimentos sociais no movimento dos
ECTS nas metodologias de pesquisa participativas na crise da visatildeo
tradicional das poliacuteticas de ciecircncia e tecnologia nos meacutetodos de trabalho
e abordagem socioteacutecnica nas chamadas TA e nos princiacutepios freireanos
da educaccedilatildeo popular entre outros (ITS 2009 SANTOS 2008)
Em relaccedilatildeo a essa uacuteltima a uacutenica origem que exploro aqui
destaco que os princiacutepios de educaccedilatildeo popular freireanos satildeo
constituintes importantes da origem do desenvolvimento de TS no
Brasil Lembremos de modo breve e simplificado que jaacute nos anos
1960 no interior do estado do Rio Grande do Norte (no municiacutepio de
Angicos) Paulo Freire promoveu a alfabetizaccedilatildeo de sujeitos a partir da
discussatildeo de questotildees diaacuterias baseadas nas experiecircncias de vida dessas
pessoas Ao partir da praacutetica de que faria sentido uma agricultora
aprender as palavras terra e colheita por exemplo foram alfabetizados
300 sujeitos no que ficou conhecido como 40 horas de Angicos
Ao verificar que osas trabalhadoresas rurais estavam sem
alfabetizaccedilatildeo ou acesso agrave escola ele utilizava as chamadas palavras
geradoras que emergiam da realidade dos sujeitos de modo que oa
educandoa passasse a construir novas palavras Como jaacute destaquei a
ideia dos temas geradores envolve uma construccedilatildeo coletiva e com a
participaccedilatildeo doa educandoa e doa educadora como sujeitos do
processo de aprendizagem Por isso a influecircncia nas TS na qual os
sujeitos deveriam participar da construccedilatildeo e resoluccedilatildeo de seus
problemas socioteacutecnicos A perspectiva freireana eacute dinacircmica contiacutenua e
128
criacutetica e assim como as TS prevecirc o resgate da cultura e da cidadania de
sujeitos em situaccedilatildeo de vulnerabilidade98
Contraposiccedilotildees
Inicialmente as TS foram pensadas como uma contraposiccedilatildeo agrave
chamada Tecnologia Convencional (TC) De acordo com Dagnino
(2004) a TC se configuraria como a tecnologia predominante na
atualidade Seria caracterizada por ser utilizada por empresas privadas
por poupar matildeo-de-obra e usar intensivamente insumos sinteacuteticos aleacutem
de ser ambientalmente insustentaacutevel Conforme Baumgarten (2006c) e
Rutkowski (2005) a TC teria seu cerne em demandas empresariais e das
camadas ricas ou influentes da populaccedilatildeo A TC atuaria na manutenccedilatildeo
e promoccedilatildeo dos interesses das classes dominantes aleacutem de disseminar e
sustentar a ideologia dessas classes na sociedade
Os processos envolvidos no desenvolvimento de TC carregam
intrinsecamente a ideia de determinismo tecnoloacutegico jaacute examinada E
essa por sua vez encontra-se muitas vezes relacionadas a uma
perspectiva denominada de tecnociecircncia99 Premebida (2008) esclarece
que o termo pode ser entendido como a fusatildeo de ciecircncia sistemas
tecnoloacutegicos e organizaccedilatildeo da induacutestria com o capital financeiro O
termo eacute tido como cunhado pelo filoacutesofo belga Gilbert Hottois no final
da deacutecada de 1970 e muito difundido nos uacuteltimos anos pelos trabalhos
de Bruno Latour sobre a produccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e
tecnoloacutegico (PREMEBIDA 2008 p 37)
Para Echeverriacutea (2003) ldquoa tecnociecircncia eacute um instrumento de
domiacutenio e transformaccedilatildeo natildeo soacute da natureza mas tambeacutem das
sociedades revelando-se muito uacutetil para determinados grupos sociais
98 Em meus estudos utilizo o termo ldquovulnerabilidade socialrdquo pois o
compreendo como expressatildeo da maior ou menor possibilidade dos sujeitos
controlarem as forccedilas que afetam seu bem-estar Nos debates acerca do uso de
termos como inclusatildeo social e exclusatildeo social considera-se que eles seriam
termos eurocecircntricos que natildeo teriam sentido em sociedades que nunca
conheceram a plena integraccedilatildeo social (MTE 2007) Para aleacutem do debate acerca
da inadequaccedilatildeo do uso dessas expressotildees para o estudo da realidade de paiacuteses
do Sul utilizo o termo ldquovulnerabilidade socialrdquo de modo a buscar apreender o
dinamismo dos processos de desigualdade de maneira mais ampla Para captar
esse dinamismo considero zonas de vulnerabilidade com tendecircncia agrave
precarizaccedilatildeo e estruturas de oportunidades existentes no Brasil na atualidade 99 Segundo Albagli (1999) a tecnociecircncia conseguiu ultrapassar os limites da
produccedilatildeo material e passou a exercer influecircncia nas esferas culturais e
simboacutelicas da sociedade
129
transnacionais em princiacutepio natildeo-estatais que obtecircm atraveacutes dela
grandes ganhosrdquo (p 310) A tecnociecircncia seria um sistema de accedilotildees
eficientes baseadas em conhecimentos teacutecnicos e cientiacuteficos que visaria
transformar o mundo (para aleacutem de explicaacute-lo) e implicaria natildeo soacute uma
profissionalizaccedilatildeo mas uma empresarializaccedilatildeo da atividade cientiacutefica e
sendo um fator relevante de inovaccedilatildeo e desenvolvimento econocircmico
passaria a ser tambeacutem um poder dominante na sociedade tendendo
sua praacutetica ao segredo e agrave privatizaccedilatildeo100 (ECHEVERRIacuteA 2003
BAUMGARTEN 2006a)
Relaccedilotildees
Eacute portanto em contraposiccedilatildeo a essas perspectivas de TC e da
tecnociecircncia que as TS satildeo pensadas Mas as ideias que compotildeem as TS
natildeo surgem espontaneamente Conforme Dagnino (2014) ldquo() remonta
ao iniacutecio dos anos sessenta do seacuteculo passado quando surgiu a ideia de
Tecnologia Intermediaacuteria (que originou o movimento da Tecnologia
Apropriada e veio a desembocar no atual da TS)rdquo (p 155) As TS tecircm
portanto relaccedilatildeo com as TA tambeacutem propostas como alternativas agraves TC
(DAGNINO BRANDAtildeO NOVAES 2004)
Nesse sentido Brandatildeo (2001) esclarece que as TA satildeo
reconhecidas como iniciativas provenientes de movimentos ocorridos na
Iacutendia durante o final do seacuteculo XIX Contexto no qual pensadores como
Mahatma Gandhi (1869-1948) tiveram sua atenccedilatildeo voltada para
processos de reabilitaccedilatildeo e desenvolvimento de tecnologias tradicionais
praticadas nas aldeias como estrateacutegia de luta e resistecircncia contra o
domiacutenio britacircnico (produccedilatildeo artesanal de tecidos por exemplo)101
100 Destaco que pensadoresas de diversas aacutereas tecircm refletido sobre a
possibilidade de se alterar o quadro que envolve a questatildeo tecnocientiacutefica atual
Hobsbawm (2005) alerta para o fato de que ldquoas forccedilas geradas pela economia
tecnocientiacutefica satildeo agora suficientemente grandes para destruir o meio
ambiente ou seja as fundaccedilotildees materiais da vida humana () Nosso mundo
corre o risco de explosatildeo e implosatildeo Tem de mudarrdquo (p 562) Penso que uma
proposta de mudanccedila para esse cenaacuterio passa pela proacutepria reflexatildeo sobre a
tecnociecircncia que pode ser feita a partir das TS 101 Essa produccedilatildeo teve como siacutembolo uma espeacutecie de roda de fiar chamada de
Charkha No projeto de Gandhi havia uma preocupaccedilatildeo com a transformaccedilatildeo da
sociedade hindu atraveacutes de um crescimento endoacutegeno sem imposiccedilotildees externas
Essa perspectiva implicava num crescimento que previa melhorar as teacutecnicas
locais de uso corrente e adaptar a tecnologia moderna ao contexto social e
econocircmico da Iacutendia (CORREcircA 2010)
130
Apesar de Gandhi natildeo usar a expressatildeo tecnologia apropriada
seu projeto estava delineado de acordo com tal perspectiva e previa a
promoccedilatildeo de pesquisas cientiacuteficas e tecnoloacutegicas para a identificaccedilatildeo e a
soluccedilatildeo de problemas concretos da Iacutendia (DAGNINO BRANDAtildeO
NOVAES 2004)
Conforme Brandatildeo
A percepccedilatildeo de que a transferecircncia
indiscriminada de tecnologia a partir dos paiacuteses
industrializados natildeo era uma soluccedilatildeo adequada
para os paiacuteses em desenvolvimento jaacute estava de
fato presente no Sarovaya no ano de 1909 Esta
concepccedilatildeo estava baseada no desenvolvimento das
aldeias com os meios de produccedilatildeo para satisfazer
as necessidades baacutesicas em poder das famiacutelias ou
cooperativas de famiacutelias A educaccedilatildeo ndash baseada
no trabalho manual e na identificaccedilatildeo e soluccedilatildeo
dos problemas de importacircncia imediata ndash era o
instrumento para desenvolver a inteligecircncia
criativa Em resumo autodeterminaccedilatildeo a niacutevel de
aldeia concentraccedilatildeo nos problemas importantes
imediatos antes que em planos de longo prazo
busca de inteligecircncia criativa atraveacutes do
desenvolvimento total do indiviacuteduo e mudanccedilas
sociais obtidas atraveacutes da desobediecircncia civil natildeo-
violenta e a natildeo cooperaccedilatildeo eram os elementos
centrais do seu enfoque para o desenvolvimento
O conceito de desenvolvimento de Gandhi incluiacutea
uma poliacutetica cientiacutefica e tecnoloacutegica expliacutecita que
era essencial para sua implementaccedilatildeo A
insistecircncia de Gandhi na proteccedilatildeo dos artesanatos
das aldeias natildeo significava uma conservaccedilatildeo
estaacutetica das tecnologias tradicionais Ao contraacuterio
implicava o melhoramento das teacutecnicas locais a
adaptaccedilatildeo da tecnologia moderna ao meio
ambiente e agraves condiccedilotildees da Iacutendia e o fomento da
pesquisa cientiacutefica e tecnoloacutegica para identificar e
resolver os problemas importantes imediatos Seu
objetivo final era a transformaccedilatildeo da sociedade
Hindu atraveacutes de um processo de crescimento
orgacircnico feito a partir de dentro e natildeo atraveacutes de
uma imposiccedilatildeo externa (2001 p 31)
131
Essas ideias influenciaram o economista alematildeo Ernst Friedrich
Schumacher (1911-1977) que criou a expressatildeo tecnologia intermeacutedia
depois de visitar a Iacutendia no ano de 1963 Brandatildeo (2001) afirma que
Schumacher foi o responsaacutevel por introduzir e popularizar a TA no
mundo ocidental com a criaccedilatildeo do Grupo de Desenvolvimento da TA
em 1966
As ideacuteias de Schumacher a respeito da tecnologia
intermediaacuteria influenciadas por Gandhi a quem
ele considerava o maior economista do seacuteculo 20
foram mais bem difundidas e causaram grande
impacto a partir de 1973 com a publicaccedilatildeo do seu
famoso livro Small is beautiful economics as if
people mattered traduzido para mais de quinze
idiomas e que talvez tenha sido a obra que mais
conseguiu popularizar a Tecnologia Apropriada
(TA) no mundo introduzindo-a no mundo
acadecircmico e nos estudos governamentais de
vaacuterios paiacuteses Neste livro que reuacutene alguns dos
seus ensaios entre eles Economia em um Paiacutes
budista Economia natildeo-violenta e Niacuteveis de
tecnologia escritos entre 1955 e 1963 ao explicar
que as tecnologias desenvolvidas nos paiacuteses
desenvolvidos natildeo se adequam aos paiacuteses em
desenvolvimento pois sua tecnologia moderna
por ser demasiadamente grande agrave medida que
cresce requer mais insumos para a sua
manutenccedilatildeo Schumacher propotildee uma pesquisa
visando agrave geraccedilatildeo de TAs para as zonas rurais
(BRANDAtildeO 2001 p 33)
No Brasil o livro de Schumacher eacute intitulado ldquoO negoacutecio eacute ser
pequenordquo Nele o autor avalia a necessidade de um enfoque regional de
desenvolvimento conjugado ao uso de uma TA aos paiacuteses pobres Nas
palavras do autor
O desenvolvimento econocircmico em aacutereas de pobreza
soacute pode ser fecundo quando baseado no que
designei por tecnologia intermeacutedia Em uacuteltima
anaacutelise a tecnologia intermeacutedia seraacute de uso
intensivo de matildeo-de-obra e prestar-se-aacute a ser
utilizada em estabelecimentos fabris de escala
pequena Mas tanto a intensidade de matildeo-de-obra
como a escala pequena natildeo implicam uma
132
tecnologia intermeacutedia () Uma tal tecnologia
intermeacutedia seria imensamente mais produtiva do
que a tecnologia proacutepria (que amiuacutede se acha em
decomposiccedilatildeo) mas tambeacutem seria imensamente
mais barata do que a tecnologia requintada de uso
altamente intensivo de capital da induacutestria
moderna () A tecnologia intermeacutedia tambeacutem se
enquadraria de um modo muito mais natural no
ambiente relativamente rudimentar em que vai ser
utilizada O equipamento seria razoavelmente
simples e portanto compreensiacutevel adequado agrave
manutenccedilatildeo e reparos no local O equipamento
simples eacute normalmente menos dependente de
mateacuterias-primas de grande pureza ou especificaccedilotildees
exatas e muito mais adaptaacutevel a flutuaccedilotildees do
mercado do que o equipamento altamente
sofisticado Os homens satildeo mais facilmente
treinados a supervisatildeo o controle e a organizaccedilatildeo
satildeo mais simples e haacute muito menor vulnerabilidade
a dificuldades imprevistas (SCHUMACHER 1977
p 159 - 161)
Verifico que essa proposta pretendia uma tecnologia que se
caracterizasse pelo baixo custo de capital pequena escala e
simplicidade abarcando tambeacutem uma dimensatildeo ambiental que por
tudo isso foi entendida como mais adequada aos paiacuteses pobres
Neder (2008) esclarece que o movimento iniciado por
Schumacher mobilizou praticantes e teoacutericos de diversas localidades que
defendiam e buscavam viabilidade de tecnologias que fossem
apropriadas agraves culturas locais e agraves realidades regionais em escalas
dominadas pelos sujeitos Teacutecnicos e militantes na Europa Aacutesia e
Ameacuterica Latina nos anos 1960 e 1970 propuseram a luta pela
perspectiva de uma TA em peacute de igualdade com a cultura tecnocientiacutefica
hegemocircnica (NEDER 2008)
No quadro 4 abaixo Brandatildeo (2001) traccedila um paralelo entre
uma sociedade baseada em TC (Hard Technology-tecnologia fortedura)
e uma sociedade com base no que ele chama de Tecnologia Alternativa
(Soft Technology-tecnologia suavemacia) aqui usada como sinocircnimo
de TA Nele eacute possiacutevel perceber que o autor considera que uma
sociedade baseada em TA se aproximaria da visatildeo que melhor se
encaixa em uma noccedilatildeo sustentaacutevel de desenvolvimento Mas revela a
complexidade envolvida nessa questatildeo e afirma defender uma TA para o
desenvolvimento sustentaacutevel mas natildeo como uma panaceia que
133
solucione todos os problemas advindos da incapacidade dos modelos
econocircmicos por deacutecadas dominantes em resolver os problemas mais
baacutesicos da populaccedilatildeo do mundo (BRANDAtildeO 2001 p42)
Quadro 4 - Paralelo entre TC e TA
Sociedade Baseada em Tecnologia
Convencional
(Hard Technology)
Sociedade Baseada em
Tecnologia Alternativa
(Soft Technology)
1 Ecologicamente doente
2 Grande consumo de energia
3 Alto iacutendice de poluiccedilatildeo
4 Uso irreversiacutevel de materiais e
energia
5 Funcional somente por tempo
limitado
6 Produccedilatildeo em massa
7 Especializaccedilatildeo em alto niacutevel
8 Nuacutecleo familiar
9 Importacircncia agraves cidades
10 Poliacutetica de consenso
11 Fronteiras estabelecidas pela
riqueza
12 Alienaccedilatildeo da natureza
13 Comeacutercio internacional
14 Destruidora da cultura local
15 Tecnologia passiacutevel de ser mal-
usada
16 Altamente destruidora de outras
espeacutecies
17 Inovaccedilatildeo regida por lucros e
perdas
18 Economia orientada para o
crescimento
19 Capital intensivo
20 Centralista
21 Aliena jovens e velhos
22 A eficiecircncia geral aumenta com
grandeza
23 Meacutetodos operacionais muito
complicados para compreensatildeo geral
24 Acidentes tecnoloacutegicos frequumlentes
e graves
25 Soluccedilotildees uacutenicas para problemas
Ecologicamente sadia
Pequeno consumo de energia
Baixo iacutendice de poluiccedilatildeo
Uso reversiacutevel de materiais e
energia
Funcional por tempo ilimitado
Induacutestria artesanal
Pouca especializaccedilatildeo
Unidades comunais
Importacircncia agraves vilas
Poliacutetica democraacutetica
Fronteiras estabelecidas pela
natureza
Integrada agrave natureza
Intercacircmbio local
Compatiacutevel com a cultura local
Medidas de seguranccedila contra mau
uso
Dependente do bem-estar de
outras espeacutecies
Inovaccedilatildeo regida pela necessidade
Economia estabilizada
Trabalho intensivo
Natildeo-centralista
Integra jovens e velhos
A eficiecircncia geral aumenta com a
pequenez
Meacutetodos operacionais
compreensiacuteveis para todos
Acidentes tecnoloacutegicos raros e
sem gravidade
Soluccedilotildees diversas para problemas
134
teacutecnicos e sociais
26 Na agricultura importacircncia da
monocultura
27 Criteacuterios de quantidade altamente
valorizados
28 Trabalho empreendido
principalmente por dinheiro
29 Produccedilatildeo alimentar feita por
induacutestrias especializadas
30 Ciecircncia e tecnologia alienadas da
cultura
31 Pequenas unidades totalmente
dependentes de outras
32 Ciecircncia e tecnologia exercida por
elites especializadas
33 Ciecircncia e tecnologia separadas
das outras formas de conhecimento
34 Distinccedilatildeo acentuada entre
laborlazer
35 Desemprego em grande escala
36 Metas teacutecnicas vaacutelidas somente
para uma pequena porccedilatildeo do globo
por tempo limitado
teacutecnicos e sociais
Na agricultura importacircncia agrave
diversificaccedilatildeo
Criteacuterios de qualidade altamente
valorizados
Trabalho empreendido
principalmente por satisfaccedilatildeo
Produccedilatildeo alimentar feita por
todos
Ciecircncia e tecnologia integradas agrave
cultura
Pequenas unidades auto-
suficientes
Ciecircncia e tecnologia exercida por
todos
Ciecircncia e tecnologia integradas
com outras formas de
conhecimento
Distinccedilatildeo leve ou natildeo existente
entre laborlazer
(conceito natildeo vaacutelido)
Metas teacutecnicas vaacutelidas para
todos os homens em todos os
tempos
Fonte (BRANDAtildeO 2001 p41)
As ideias de Gandhi e Schumacher presentes na perspectiva de
TA foram acolhidas inclusive pelo Norte Contudo Dagnino Brandatildeo e
Novaes (2004) apontam que a partir de meados dos anos 1980 as
iniciativas de desenvolvimento de TA perdem forccedila devido ao contexto
geopoliacutetico neoliberal que se agravou Aleacutem disso Dias e Novaes
(2009) mostram que as TA tinham uma debilidade importante Essa
consistia em pressupor que o simples alargamento do leque de
alternativas tecnoloacutegicas agrave disposiccedilatildeo do Sul poderia alterar a natureza
do processo que presidiria a adoccedilatildeo de tecnologia
Thomas e Fressoli (2009) vatildeo aleacutem e consideram que as TA
apresentaram uma seacuterie de restriccedilotildees pois foram
desenhadas para situaccedilotildees de pobreza extrema de
nuacutecleos familiares ou pequenas comunidades
geralmente aplicam conhecimentos tecnoloacutegicos
simples e tecnologias antigas deixando de lado
novos conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos
disponiacuteveis Concebidas como meros bens de uso
135
normalmente perdem de vista que ao mesmo
tempo geram bens de troca e dinacircmicas de
mercado De fato normalmente ignoram os
sistemas de acumulaccedilatildeo e os mercados de bens e
serviccedilos em que estatildeo inseridas e resultam
economicamente insustentaacuteveis (p 114)102
Contudo o desenvolvimento de TS busca evitar os equiacutevocos
detectados nas TA De acordo com Fonseca e Serafim (2009) a
proposta das TS pretende superar a visatildeo do movimento pela TA com a
realizaccedilatildeo da criacutetica agrave neutralidade e ao determinismo E foi esse
cuidado que ressaltei ao apontar possibilidades e limites de mobilizaccedilatildeo
(criativa colaborativa e autossuficiente) para a autoria em ambientes
educacionais via TS Aleacutem disso Dagnino Brandatildeo e Novaes (2004)
consideram que o movimento da TA apontou elementos para o processo
de elaboraccedilatildeo do marco analiacutetico-conceitual hoje disponiacutevel para a
formulaccedilatildeo de um conceito de TS adequado agrave realidade brasileira como
mostrarei adiante
222 Denominaccedilotildees e sentidos
Atualmente o termo ldquoTecnologia Socialrdquo eacute muito conhecido seja
por quem estuda tecnologia seja por quem desenvolve accedilotildees em
perspectiva de inovaccedilatildeo e inclusatildeo socioteacutecnica Contudo na literatura
disponiacutevel as TS satildeo muitas vezes relacionadas agraves TA e vaacuterias
denominaccedilotildees aparecem para fazer referecircncia a iniciativas que se
contrapotildeem agrave TC e agrave tecnociecircncia Satildeo elas tecnologia alternativa
tecnologia utoacutepica tecnologia intermediaacuteria tecnologia adequada
tecnologia socialmente apropriada tecnologia ambientalmente
apropriada tecnologia adaptada ao meio ambiente tecnologia correta
tecnologia ecoloacutegica tecnologia limpa tecnologia natildeo-violenta
tecnologia natildeo-agressiva ou suave tecnologia branda tecnologia doce
tecnologia racional tecnologia humana tecnologia de auto-ajuda
102 Disentildeadas para situaciones de extrema pobreza de nuacutecleos familiares o
pequentildeas comunidades normalmente aplican conocimientos tecnoloacutegicos
simples y tecnologiacuteas maduras dejando de lado el nuevo conocimiento
cientiacutefico y tecnoloacutegico disponible Concebidas como simples bienes de uso
normalmente pierden de vista que al mismo tiempo generan bienes de cambio
y dinaacutemicas de mercado De hecho normalmente ignoran los sistemas de
acumulacioacuten y los mercados de bienes y servicios en los que se insertan y
resultan econoacutemicamente insustentables (p 114) Traduccedilatildeo livre da autora
136
tecnologia progressiva tecnologia popular tecnologia do povo
tecnologia orientada para o povo tecnologia orientada para a sociedade
tecnologia democraacutetica tecnologia comunitaacuteria tecnologia de vila
tecnologia radical tecnologia emancipadora tecnologia libertaacuteria
tecnologia liberatoacuteria tecnologia de baixo custo tecnologia da escassez
tecnologia adaptativa tecnologia de sobrevivecircncia e tecnologia
poupadora de capital (BRANDAtildeO 2001)
Para aleacutem de todas essas denominaccedilotildees apresento alguns
sentidos sobre TS que aparecem nos discursos sobre o tema Como jaacute
mencionei desde o iniacutecio dos anos 2000 existem tentativas de
formulaccedilatildeo de um conceito de TS ou de unificaccedilatildeo de ideias recorrentes
acerca do tema por entidades e pesquisadoresas que tratam dessa
questatildeo Aponto aqui algumas dessas iniciativas
A seguinte definiccedilatildeo para TS produtos teacutecnicas eou
metodologias reaplicaacuteveis desenvolvidas na interaccedilatildeo com a
comunidade e que represente efetivas soluccedilotildees de transformaccedilatildeo social
(MCT 2010 RTS 2004) eacute utilizada por
Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia do Brasil (MCT) atraveacutes da
Secretaria de Inclusatildeo Social (SECIS) busca promover inclusatildeo social
por meio de accedilotildees que melhorem a qualidade de vida e estimulem a
geraccedilatildeo de ocupaccedilatildeo e renda (MCT 2010)
Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas (FGV) atraveacutes da Incubadora
Tecnoloacutegica de Cooperativas Populares (ITCP) desenvolve TS que
visam agrave construccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para o desenvolvimento local
sustentaacutevel baseadas em princiacutepios da socioeconomia solidaacuteria
(MATSUMOTO 2008 sp)
Rede de Tecnologia Social (RTS) tem entre seus noacutes o MCT o
Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome (MDS) o
Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional (MI) a Petroacuteleo Brasileiro SA
(PETROBRAS) o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e
Tecnoloacutegico (CNPq) a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria
(EMBRAPA) o Instituto Paulo Freire (IPF) a FBB o Instituto de
Tecnologia Social (ITS) a Associaccedilatildeo Brasileira de Organizaccedilotildees Natildeo
Governamentais (ABONG) e o Conselho Federal de Defesa dos Direitos
Humanos (CFDH) entre outras instituiccedilotildees (RTS 2010)
O ITS define TS de modo similar ao MCT FGV e RTS TS eacute
ldquoum conjunto de teacutecnicas metodologias transformadoras desenvolvidas
eou aplicadas na interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo e apropriadas por ela que
representam soluccedilotildees para inclusatildeo social e melhoria das condiccedilotildees de
vidardquo (ITS 2004 p 130) Aleacutem disso o ITS (2009) indica no quadro 5
137
abaixo as dimensotildees que seratildeo analisadas para considerar se uma
iniciativa se constitui como TS ou natildeo
Quadro 5 - Dimensotildees examinadas na conceituaccedilatildeo de TS
Dimensotildees CaracteriacutesticasIndicadores
Conhecimento Ciecircncia
Tecnologia e Inovaccedilatildeo
1 Objetiva solucionar demanda social
2 Organizaccedilatildeo e sistematizaccedilatildeo
3 Grau de inovaccedilatildeo
Participaccedilatildeo Cidadania e
Democracia
4 Democracia e cidadania
5 Metodologia participativa
6 Difusatildeo
Educaccedilatildeo
7 Processo pedagoacutegico
8 Diaacutelogo entre saberes
9 ApropriaccedilatildeoEmpoderamento
Relevacircncia Social
10 Eficaacutecia
11 Sustentabilidade
12 Transformaccedilatildeo social
Fonte (ITS 2009 sp)
Jaacute a FBB que manteacutem um banco de dados sobre TS o BTS jaacute
referido na introduccedilatildeo desta tese caracteriza TS como ldquotodo processo
meacutetodo ou instrumento capaz de solucionar algum tipo de problema
social e que atenda aos quesitos de simplicidade baixo custo faacutecil
reaplicabilidade e impacto social comprovado (PENA MELLO 2004
p 84) No site da FBB disponiacutevel em ltwwwtecnologiassocialorgbrgt
as TS satildeo definidas similarmente como produtos teacutecnicas ou
metodologias reaplicaacuteveis desenvolvidas na interaccedilatildeo com a
comunidade e que representem efetivas soluccedilotildees de transformaccedilatildeo
social (BTS 2008 FBB 2008 sp)
Segundo a FBB (2008) o conceito remete a uma proposta
inovadora de desenvolvimento que considera a participaccedilatildeo coletiva no
seu processo de organizaccedilatildeo desenvolvimento e implantaccedilatildeo aleacutem de
estar baseado na disseminaccedilatildeo de soluccedilotildees para problemas voltados a
demandas sociais concretas Para a entidade tecnologias sociais podem aliar saber popular organizaccedilatildeo social e conhecimento teacutecnico-
cientiacutefico Importa essencialmente que sejam efetivas e reaplicaacuteveis
propiciando desenvolvimento social em escala (FBB 2008 sp)
Pelo exame dessas conceituaccedilotildees percebo que as TS se propotildeem
de modo geral a atender questotildees relativas agrave melhoria de condiccedilotildees de
138
vida e agrave diminuiccedilatildeo de desigualdades sociais via desenvolvimento local
sustentaacutevel
Jaacute para Tait Fonseca e Dagnino (2007) o conceito de TS deveria
ser empregado para se referir a produtos e metodologias que fossem
claramente identificados com a oacuterbita da produccedilatildeo primordialmente nos
ambientes de cooperativas tendo em vista que essas entidades seriam
teoricamente fundamentais no processo de promoccedilatildeo de sustentabilidade
social via ambiente de produccedilatildeo A partir desse entendimento eacute
interessante examinar as contraposiccedilotildees apresentadas por Dagnino
(2004) em relaccedilatildeo aos sentidos sobre TS em relaccedilatildeo agrave TC
Quadro 6 - Diferenccedilas entre TC e TS
O que faz a TC ser diferente da TS
A TC eacute funcional para a
empresa privada que no
capitalismo eacute a
responsaacutevel por
transformar
conhecimento em bens e
serviccedilos
Os governos dos paiacuteses
centrais apoacuteiam seu
desenvolvimento
As organizaccedilotildees e os
profissionais que a
concebem estatildeo
imersos no ambiente
social e poliacutetico que a
legitima e demanda
Porque trazem
consigo seus valores e
por isso a reproduzem
Fonte (DAGNINO 2004 p 195)
Quadro 7 - Caracteriacutesticas de TS
Como eacute (ou deveria ser) a TS
Adaptada a pequeno
tamanho fiacutesico e financeiro
Natildeo-discriminatoacuteria (patratildeo
x empregado)
Orientada para o mercado
interno de massa
Liberadora do
potencial e da
criatividade do produtor
direto
Capaz de viabilizar
economicamente os
empreendimentos
autogestionaacuterios e as
pequenas empresas
Fonte (DAGNINO 2004 p 193)
139
Verifico que Dagnino (2004) concebe TS fortemente
contrapostas agrave TC e ao contexto capitalista de produccedilatildeo O autor
apresenta um conjunto de princiacutepios normativos envolvidos com TS
pelos quais essas deveriam ser adaptadas a pequenos produtores e
consumidores de baixo poder econocircmico natildeo promovedoras do
controle segmentaccedilatildeo hierarquizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo nas relaccedilotildees entre
patrotildees e empregados orientadas para o mercado interno de massa
incentivadoras do potencial e da criatividade de produtores diretos e dos
usuaacuterios e capazes de viabilizar economicamente empreendimentos
como cooperativas populares incubadoras e pequenas empresas
(DAGNINO 2004)
Esse autor tem conceituado TS como
o resultado da accedilatildeo de um coletivo de produtores
sobre um processo de trabalho que em funccedilatildeo de
um contexto socioeconocircmico (que engendra a
propriedade coletiva dos meios de produccedilatildeo) e de
um acordo social (que legitima o associativismo)
os quais ensejam no ambiente produtivo um
controle (autogestionaacuterio) e uma cooperaccedilatildeo (de
tipo voluntaacuterio e participativo) permite (a accedilatildeo
referida) uma modificaccedilatildeo no produto gerado
passiacutevel de ser economicamente apropriada
segundo a decisatildeo do coletivo (DAGNINO 2014
p 204)
Para desenvolver a TS Dagnino (2014) aponta a necessidade de
um processo de AST como jaacute apontei anteriormente com as seguintes
modalidades (i) alteraccedilatildeo na distribuiccedilatildeo da receita gerada (ii)
apropriaccedilatildeo (iii) repotenciamento (iv) ajuste no processo de trabalho
(v) alternativas tecnoloacutegicas (vi) incorporaccedilatildeo de conhecimento
tecnocientiacutefico existente e (vii) busca de conhecimento tecnocientiacutefico
novo103
Uma adequaccedilatildeo social e teacutecnica para TS como a exposta acima eacute
ampliada na proposta de inspiraccedilatildeo construtivista de Thomas e Fressoli
(2009) e Thomas e Buch (2008) Para esses autores a AST pode ser
compreendida como um processo que busca promover adequaccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos tanto aos requisitos de caraacuteter teacutecnico e
econocircmico como fundamentalmente ao conjunto de aspectos de
103 Um detalhamento de cada uma das sete modalidades natildeo eacute explorado aqui
Para mais informaccedilotildees ver a referecircncia Dagnino (2014)
140
natureza socioeconocircmica e ambiental Equipamentos insumos e formas
de organizaccedilatildeo da produccedilatildeo em forma tangiacutevel ou taacutecita se vinculam a
processos de participaccedilatildeo democraacutetica no processo de trabalho na
atenccedilatildeo ao ambiente e agrave sauacutede de trabalhadores e consumidores bem
como agrave capacitaccedilatildeo autogestionaacuteria (THOMAS BUCH 2008)
A AST eacute compreendida portanto como um processo e natildeo como
um resultado a ser buscado (como o que ocorre com as TA) Ela
substituiria a idealizaccedilatildeo tiacutepica do laboratoacuterio pela praacutetica concreta dos
movimentos sociais (THOMAS BUCH 2008) Assim os autores
destacam a importacircncia da participaccedilatildeo de coletividades em especial de
movimentos sociais e ao contraacuterio de Dagnino (2004) natildeo partem da
comparaccedilatildeo com a TC mas da comparaccedilatildeo com a TA No quadro 8 a
seguir Thomas (2008) relaciona TA e a perspectiva de AST em termos
sociocognitivos104
Quadro 8 - Comparaccedilatildeo entre TA e AST
Tecnologias
Apropriadas
Adequaccedilatildeo
Socioteacutecnica
Concepccedilatildeo baacutesica Estoque de
tecnologias
Tecnologias
singulares
Produccedilotildees ad hoc
Montagem socioteacutecnica
Construccedilatildeo do
problema
social
Processo exoacutegeno
Conhecimento de
especialistas
Processo endoacutegeno
Muacuteltiplos saberes
Relaccedilatildeo problema ndash
soluccedilatildeo
Uniacutevoca
Linear
Singular
Monovariaacutevel
Flexibilidade
interpretativa
Natildeo linear
Plural
Sistecircmica
Desenho da
tecnologia
Exoacutegeno
Teacutecnico
Centrado no artefato
Endoacutegeno
Socioteacutecnico
Centrado na dinacircmica
socioteacutecnica
Equipe de desenho Grupo de
especialistas
Divisatildeo social do
trabalho
Coletivo de produtores e
usuaacuterios de tecnologias
Divisatildeo teacutecnica do
trabalho
Processo de
concepccedilatildeo e
Transferecircncia e
difusatildeo Adaptaccedilatildeo a
Co-construccedilatildeo
104 Natildeo exploro aqui cada componente da AST apresentado no quadro 8
141
construccedilatildeo condiccedilotildees locais
Conhecimentos
implicados
Homogecircneos
Expertise
Predomiacutenio de
conhecimentos de
engenharia
Heterogecircneos
Conhecimentos
codificados e taacutecitos
Transdisciplinar
Intensidade dos
conhecimentos
Baixa
Tecnologias antigas
Alta Tecnologias
intensivas em
Conhecimentos
Presenccedila de
conhecimento taacutecito
Efeitos natildeo
desejados
Integrado ao processo de
desenho
Papel do usuaacuterio Receptor passivo
Ao final da linha
Participante ativo
Ao iniacutecio do processo
Capacitaccedilatildeo dos
usuaacuterios
Ex post Usuaacuterio
passivo
Ex ante Usuaacuterio ativo
Fonte (THOMAS 2008 sp)105
Penso que o importante nesse momento eacute compreender que a
intenccedilatildeo dos autores eacute a de que natildeo se repitam nas TS os erros
cometidos pelas iniciativas baseadas nas TA Nesses termos a AST para
TS poderia ser entendida como um procedimento no qual uma
tecnologia sofreria um processo de adequaccedilatildeo aos interesses poliacuteticos de
grupos sociais relevantes diferentes daqueles que lhes deram origem
(THOMAS FRESSOLI 2009 THOMAS BUCH 2008)
Destaco tambeacutem que Thomas (2012) apresenta uma
compreensatildeo das TS como Tecnologias para a Inclusatildeo Social (TIS)
Nas palavras do autor
As Tecnologias para a Inclusatildeo Social satildeo uma
maneira de desenhar desenvolver implementar e
gerenciar tecnologias orientadas a resolver
problemas sociais e ambientais gerando
dinacircmicas sociais e econocircmicas de inclusatildeo social
e de desenvolvimento sustentaacutevel () e alcanccedilam
uma ampla gama de produccedilotildees de tecnologias de
produtos processos e organizaccedilatildeo (THOMAS
2012 p 27)106
105 Original em liacutengua espanhola Traduccedilatildeo livre da autora 106 Las Tecnologiacuteas para la Inclusioacuten Social son una forma de disentildear
desarrollar implementar y gestionar tecnologiacuteas orientadas a resolver
problemas sociales y ambientales generando dinaacutemicas sociales y econoacutemicas
de inclusioacuten social y de desarrollo sustentablerdquo [hellip] y ldquoalcanzan un amplio
142
Um sentido sobre TS que dialoga com a AST das TIS e
compreende a questatildeo da inovaccedilatildeo social eacute encontrado em Baumgarten
(2008a 2008b) A autora reflete acerca da temaacutetica de inovaccedilatildeo social
contextualizada com uma visatildeo geral sobre as atuais formas de produzir
ciecircncia e tecnologia que considere o papel de redes de produccedilatildeo de
conhecimentos para sustentabilidade social Para ela esse debate se
refere tanto agrave vinculaccedilatildeo entre produccedilatildeo de ciecircncia tecnologia e
inovaccedilatildeo relacionada a necessidades e possibilidades sociais quanto agrave
importacircncia crescente de apropriaccedilatildeo por parte de diferentes sujeitos de
conhecimentos que possam ser incorporados a TS Essas entendidas
como
As tecnologias sociais teriam pois a
potencialidade para expressar instacircncias fiacutesicas e
virtuais de trocas reintegraccedilatildeo de saberes
contrabandos inter campos e disciplinas que se
fazem por sendas atraveacutes das quais constroem
conhecimentos que datildeo conta da complexidade do
mundo real e de nossas capacidades para construiacute-
lo e reconstruiacute-lo de acordo com nossas
necessidades e potencialidades (BAUMGARTEN
2010 sp)
Nesse sentido as TS poderiam se articular como um noacute no qual
seria possiacutevel conectar uma ampla rede de sujeitos (BAUMGARTEN
2010) Nessa perspectiva de TS a teacutecnica seria entendida como um
meio de emancipaccedilatildeo social e natildeo como instrumento de dominaccedilatildeo
forma de controle ou causa de desigualdade social (CORREcircA 2010)
Thomas (2009) tambeacutem apresenta um apanhado de diferentes
posicionamentos teoacutericos desenvolvidos sobre TS a partir da deacutecada dos
anos 1960 O quadro 9 abaixo traz uma siacutentese dessas contribuiccedilotildees
abanico de producciones de tecnologiacuteas de producto proceso y organizacioacuten
(THOMAS 2012 p 27) Original em liacutengua espanhola Traduccedilatildeo livre da
autora
143
Quadro 9 - Discussotildees sobre desenvolvimento tecnoloacutegico
Fonte (VALADAtildeO ANDRADE NETO 2014 p 56)
Eacute possiacutevel verificar que o quadro 9 apresenta posicionamentos
criacuteticos em relaccedilatildeo a padrotildees lineares e convencionais de
desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico Destaco portanto a
importacircncia das posiccedilotildees acima referidas no entendimento das TS
Desde a perspectiva normativa e contraposta agrave TC de Dagnino (2004)
passando pela AST das TIS em contraposiccedilatildeo agrave TA de Thomas (2012) e
Thomas e Fressoli (2009) ateacute a perspectiva de inovaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo
social desenvolvido por Baumgarten 2008a 2008b) mostram-me modos
de abordar a questatildeo de maneira criacutetica e com relevacircncia aos sujeitos envolvidos com as TS
E esse sentido criacutetico seria importante para pensarmos sobre TS
em processos educacionais Compreender que a tecnologia eacute produccedilatildeo
humana permeada de valores (caraacuteter ideoloacutegico) e que como tal pode
ser construiacuteda conforme nossos interesses e de acordo com nossos
144
contextos (de diversidade eacutetnico-racial de gecircnero e de classes por
exemplo) pode auxiliar na mobilizaccedilatildeo para autoria em ambientes
educacionais
Assim apresento a figura 3 abaixo na qual esquematizo um
modo possiacutevel de relacionar criticamente dimensotildees gerais das TS com
as categorias que utilizo nesta tese
Figura 3 - Uma leitura sobre as dimensotildees das TS
Fonte Elaboraccedilatildeo da autora
A ideia eacute que em torno de uma perspectiva criacutetica sobre TS em
processos educacionais seja possiacutevel promover (i) diaacutelogos entre
diferentes conhecimentos (ii) mobilizaccedilatildeo de estudantes para autoria na
(maior) compreensatildeo da relevacircncia de seus problemas (e soluccedilotildees)
socioteacutecnicos (iii) (resgate de) sentidos na busca por emancipaccedilatildeo
social e (iv) possibilidades (maiores) de compreender a tecnologia como
conhecimento humano possiacutevel de ser aprendido
Ao apontar essas quatro dimensotildees possiacuteveis de anaacutelises em TS
procuro natildeo silenciar seu caraacuteter poliacutetico tampouco os conhecimentos
produzidos pelas diversidades que compotildeem as juventudes brasileiras no
contexto escolar da atualidade E em alguma medida busco refletir sobre as relaccedilotildees entre essas diversidades e os possiacuteveis aspectos que
representariam sua unicidade em um contexto nacional mais geral
Acredito que promover uma perspectiva criacutetica de TS (que
apresente a histoacuteria das teacutecnicas a importacircncia dos sujeitos as
145
contradiccedilotildees e os efeitos desses desenvolvimentos em nossas culturas)
pode colaborar com debates nos quais estudantes (como autoresas e natildeo
apenas usuaacuteriosas) percebam (mais) que seus problemas socioteacutecnicos
tecircm relevacircncia e que eleselas tecircm possibilidades (autonomia) de
desenvolver autoria na busca por soluccedilotildees criativas e colaborativas
(emancipaccedilatildeo social)
Entretanto vaacuterios sentidos sobre TS que circulam e muitas
iniciativas de desenvolvimento que estatildeo implantadas apresentam
caracteriacutesticas que merecem ser examinadas com algum cuidado
223 Ponderaccedilotildees
Um sentido sobre TS muito disseminado no Brasil se refere agrave
proposta da FBB107 que como apontei anteriormente destaca as
dimensotildees de simplicidade baixo custo faacutecil reaplicabilidade e resposta
social comprovada Um esquema dessas caracteriacutesticas pode ser visto na
Figura 4 abaixo
Figura 4 - Esquema sobre caracteriacutesticas das TS
Fonte Elaboraccedilatildeo da autora
Junto a isso as possibilidades de (i) apropriaccedilatildeo das TS pelos
sujeitos e (ii) articulaccedilatildeo entre conhecimentos tradicionais e
107 A popularidade do conceito de TS utilizado pela FBB ocorre porque essa
manteacutem desde 2001 um banco de dados de TS que serve de base para o Precircmio
FBB de TS que ocorre a cada dois anos O Banco do Brasil (BB) tem presenccedila
expressiva em todas as regiotildees do paiacutes e conta com um suporte de publicidade
amplo Desse modo o Precircmio FBB de TS tem divulgaccedilatildeo em todo o paiacutes em
vaacuterias miacutedias o que confere expressividade ao seu alcance e ao nuacutemero de
iniciativas inscritas
146
conhecimentos socioteacutecnicos tambeacutem satildeo caracteriacutesticas apontadas por
autoresas e instituiccedilotildees que discutem a questatildeo De modo que apresento
a seguir certas consideraccedilotildees em relaccedilatildeo a algumas dessas dimensotildees
das TS para que elas possam ser pensadas de modo menos ingecircnuo
O aspecto da simplicidade muitas vezes se traduz como pontual
Em minha pesquisa para a dissertaccedilatildeo identifiquei que as TS analisadas
satildeo dirigidas prioritariamente agrave soluccedilatildeo de problemas pontuais muitas
vezes parciais de sujeitos em situaccedilatildeo de vulnerabilidade O que pode
carregar um sentido assistencialista Ou seja praacuteticas normalmente
paliativas que prestam assistecircncia a sujeitos necessitados de uma
coletividade em detrimento de uma poliacutetica que os tire da sua condiccedilatildeo
de carecircncia e vulnerabilidade (CORREcircA 2010) Frente a isso eacute
interessante pensarmos na simplicidade como a busca pelo uso de
conhecimentos locais
Em relaccedilatildeo agrave reaplicaccedilatildeo considero importante a distinccedilatildeo de
replicaccedilatildeo De acordo com Barros (2007) replicaccedilatildeo eacute uma coacutepia de um
modelo sem exercer alteraccedilotildees As TS envolvem reaplicaccedilatildeo porque
precisam ser reconstruiacutedas o tempo todo Pois os conhecimentos se
reconstroem com a participaccedilatildeo de todosas osas que interagem na sua
multiplicaccedilatildeo (BARROS 2007) Portanto as TS podem ser reaplicaacuteveis
(ou adaptadas para cada contexto) desde reflexotildees criacuteticas e em conjunto
com os sujeitos envolvidos
As possibilidades de mediaccedilatildeo entre conhecimentos tradicionais
e conhecimentos socioteacutecnicos atraveacutes de TS pode ser pensada desde
uma perspectiva interdisciplinar108 Nessa direccedilatildeo Rocha Neto (2002)
propotildee inter-relaccedilotildees entre Ciecircncias Sociais e Ciecircncias Naturais Para o
autor a ampliaccedilatildeo do escopo das atividades de pesquisa e a realizaccedilatildeo
de projetos de relevacircncia social com a colaboraccedilatildeo de diferentes aacutereas
do conhecimento pode ser uma iniciativa nessa direccedilatildeo
108 De acordo com Pombo (2006) o modelo atual de produccedilatildeo de
conhecimentos cientiacuteficos levou ao extremo de especializaccedilotildees cientiacuteficas As
disciplinas acadecircmicas instituiacutedas mantecircm pouca ou nenhuma comunicaccedilatildeo
muitas vezes dentro da mesma aacuterea de conhecimento O que parece desperdiccedilar
possibilidades de diaacutelogo entre acadecircmicos aacutereas campos de conhecimentos e
desses com os sujeitos Sem desconsiderar a importacircncia dos especialistas e a
relevacircncia acadecircmica e social de estudos aprofundados aponto que muitas
vezes especializaccedilotildees extremas podem levar a fragmentaccedilatildeo de conhecimentos
que podem natildeo contemplar uma integraccedilatildeo de conhecimentos que possibilitem
abranger a complexidade que as problemaacuteticas atuais apresentam (CORREcircA
2010)
147
Contudo para aleacutem da abertura e integraccedilatildeo entre aacutereas
acadecircmicas eacute importante o diaacutelogo com os sujeitos que produzem
conhecimentos em outras instacircncias Jaacute nos anos 1980 Santos (2010b)
apresentava seu paradigma emergente que permite pensarmos em uma
educaccedilatildeo em um momento de transiccedilatildeo Para pensarmos sobre TS de
modo menos ingecircnuo seria importante considerarmos as teses do autor
de que (i) todo o conhecimento cientiacutefico-natural eacute cientiacutefico social (ii)
todo o conhecimento eacute local e total (iii) todo o conhecimento eacute
autoconhecimento e (iv) todo o conhecimento cientiacutefico visa constituir-
se em senso comum (SANTOS 2010b)
O autor destaca que com a emergecircncia do novo paradigma
comeccedilaria a desaparecer a diferenccedila hieraacuterquica entre senso comum e
conhecimento cientiacutefico Essa equidade entre os tipos de conhecimento
natildeo visaria desfavorecer o conhecimento cientiacutefico que inegavelmente
atua em muitos sentidos na melhoria da qualidade de vida dos sujeitos
mas fazer perceber que natildeo eacute necessaacuterio abdicar dos conhecimentos
locais nativos das artes filosoacutefico e especulativo para aceitar a ciecircncia
e a tecnologia
Com isso a possibilidade de contemplar uma integraccedilatildeo de
conhecimentos nas TS natildeo representaria um simples somatoacuterio mas a
recriaccedilatildeo e a reconstruccedilatildeo de conhecimentos que cruzariam as fronteiras
das disciplinas acadecircmicas e extrapolariam os muros da academia Para
isso considero a importacircncia de oportunizar conhecimentos em ciecircncia
e tecnologia para os sujeitos (domiacutenio intelectual da teacutecnica) que lhes
permitam um debate informado e criacutetico sobre o tema (autonomia)
A esse respeito Castro (2009) esclarece que leva tempo para
educar algueacutem a ser criacutetico com a tecnologia e a conhecer sua proacutepria
capacidade de decisatildeo Portanto o autor destaca que seria importante
introduzir essa discussatildeo na escola inicial porque ali as crianccedilas jaacute tecircm
celular videogames e muitas possibilidades tecnoloacutegicas Tendo em
vista o exemplo das discussotildees ecoloacutegicas que comeccedilaram a ser
apresentadas fortemente agraves crianccedilas nas seacuteries inicias de ensino poderia
ser relevante comeccedilar a combater cedo a dimensatildeo ideoloacutegica de que a
tecnologia eacute apoliacutetica (CASTRO 2009)
Antes de examinar os detalhes que envolvem as TS em processos
educacionais destaco tipos de TS exemplos entidades e coletividades
que as desenvolvem no Brasil contemporacircneo
148
224 TS tipos exemplos entidades e coletividades
relacionadas109
Em minha dissertaccedilatildeo elaborei uma tipologia sobre TS pois
naquele contexto fazia sentido identificaacute-las como materiais ou
imateriais Na primeira categoria identifiquei produtos mercadorias e
creacutedito enquanto na segunda analisei serviccedilos processos e formas de
gestatildeo Essa definiccedilatildeo do tipo de tecnologia natildeo foi feita em relaccedilatildeo
apenas agrave finalidade da TS mas considerei o contexto110 no qual o
desenvolvimento ocorria os sujeitos em situaccedilatildeo de vulnerabilidade
com a qual a TS se relacionava e o problema a ser resolvido Desse
modo procurei evitar uma percepccedilatildeo instrumental das TS O quadro 10
abaixo mostra a prevalecircncia de TS de tipo imaterial que em percentual
correspondia a 87 dos casos que analisei
Quadro 10 - Descriccedilatildeo dos tipos de TS
Fonte Correcirca (2010)
109 Satildeo exemplos de TS muito divulgados soro caseiro Banco Palmas cisternas
para captaccedilatildeo de aacutegua cafeacute com floresta e encauchados de vegetais da
Amazocircnia entre outras iniciativas que podem ser verificadas emlt
httpfbborgbrtecnologiasocialgt 110 Considerei a proposiccedilatildeo de Feenberg (2002) para quem o caraacuteter social da
tecnologia natildeo reside na loacutegica do seu funcionamento interno mas na relaccedilatildeo
dessa loacutegica com um contexto social
149
Subdividi as TS imateriais em (i) serviccedilos (ii) processos e (iii)
gestatildeo Satildeo exemplos de cada um desses casos (i) serviccedilos gratuitos de
auxiacutelio em questotildees juriacutedicas coleta de lixo por prefeituras confecccedilatildeo
de documentos de identificaccedilatildeo como carteira de identidade
distribuiccedilatildeo de alimentos cadastro de desempregadosas e empreacutestimo
de equipamentos ortopeacutedicos entre outros (ii) cursos de educaccedilatildeo
popular capacitaccedilatildeo de professoresas capacitaccedilatildeo de lideranccedilas
comunitaacuterias formaccedilatildeo de monitoresas de desenvolvimento rural
cursos de informaacutetica para sujeitos em situaccedilatildeo de vulnerabilidade e
cursos de aperfeiccediloamento teacutecnico e (iii) gerecircncia de atividades de
economia solidaacuteria
Essa categorizaccedilatildeo eacute importante pois apareceraacute em alguma
medida no exame dos dados sobre as TS desenvolvidas por estudantes
dos CTIEM Cacircmpus Caxias do Sul
Acredito que a relaccedilatildeo entre tipos de TS desenvolvidas e sua
localizaccedilatildeo pode ilustrar o contexto no qual faccedilo minha investigaccedilatildeo A
tabela 2 abaixo traz alguns dados nesse sentido Tabela 2 - Regiotildees e tipos de TS
Fonte Correcirca (2010)
Destaco que a Regiatildeo Sul como pode ser visto tem maior
desenvolvimento de TS de tipo imaterial (64 casos) Podemos observar
que essas TS satildeo a maioria em todas as regiotildees do Brasil Em minha
dissertaccedilatildeo verifiquei que TS imateriais de tipo serviccedilos e processos
sobretudo no tema da educaccedilatildeo estatildeo relacionadas com esse padratildeo
Apresento abaixo dados sobre as entidades que desenvolvem TS
no Brasil
150
Tabela 3 - Entidades que desenvolvem TS
Fonte Correcirca (2010)
Destaco as entidades que tecircm alguma relaccedilatildeo com processos
educacionais Na tabela 3 acima elas estatildeo distribuiacutedas entre entidades
puacuteblicas (oacutergatildeos dos poderes executivo legislativo e judiciaacuterio em
acircmbitos federais estaduais e municipais empresas puacuteblicas escolas
universidades e centros de pesquisas) em fundaccedilotildees (de empresas
privadas) em educacionais privadas (faculdades centros de pesquisa e
escolas privadas que natildeo tecircm caraacuteter filantroacutepico) em assistenciais e
filantroacutepicas (entidades autodeclaradas desse modo natildeo satildeo oacutergatildeos
governamentais) no 3ordm setor sindicatos e cooperativas (Organizaccedilotildees da
Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico - OSCIPs ONGs e associaccedilotildees
privadas de interesse puacuteblico) e na categoria outras Embora a perspectiva educacional possa estar diluiacuteda em vaacuterias
categorias eacute possiacutevel verificar que as entidades classificadas como
puacuteblicas somam 37 das TS desenvolvidas com 165 casos dos quais
76 satildeo nomeadamente entidades educacionais Assim como os 89 casos
em oacutergatildeos relacionados ao poder executivo legislativo e judiciaacuterio de
151
prefeituras estados e do Governo Federal podem ter relaccedilatildeo com
processos educacionais (CORREcircA 2010)
Por fim apresento o graacutefico 3 abaixo que contempla as
coletividades envolvidas com as TS que analisei
Graacutefico 3 - Coletividades
Fonte Correcirca (2010)
O graacutefico 3 acima mostra que na categoria de coletividades
classificadas como especiacuteficas existem 7 de casos de TS (voltadas ao
puacuteblico analfabeto e a professoresas) Estudantes correspondem a 45
casos 10 do total Os trecircs grandes grupos de coletividades para as
quais as TS se dirigem satildeo pequenosas agricultoresas adolescentes e
famiacutelias de baixa renda (CORREcircA 2010) Mesmo que o nuacutemero de TS
voltadas a analfabetosas e professoresas seja baixo se for considerada
a concentraccedilatildeo de TS dirigidas a problemas no tema educaccedilatildeo eacute possiacutevel
relacionar esses sujeitos como demandantes de TS nessa temaacutetica
Tendo em vista essas informaccedilotildees sobre TS desenvolvidas no
Brasil na atualidade examino a seguir algumas iniciativas que as
relacionam em alguma medida com processos educacionais
225 Relaccedilotildees com processos educacionais
As TS satildeo debatidas sob diversos pontos de vista a partir de
diferentes aacutereas e com preocupaccedilotildees distintas Bioacutelogosas fiacutesicosas
152
geoacutegrafosas ecologistas economistas profissionais da aacuterea da sauacutede
educadoresas estudantes engenheirosas cientistas sociais
participantes de ONGs OSCIPs e de movimentos sociais poliacuteticos
sindicalistas e gestoresas institucionais entre muitos outros sujeitos
desenvolvem estudos ou implantam iniciativas sobre TS no Brasil na
atualidade
Antes de apresentar estudos sobre relaccedilotildees entre TS e processos
educacionais destaco um levantamento de obras sobre TS publicadas
entre os anos de 2003 e 2011 tanto no Brasil quanto em outros paiacuteses
(FREITAS SEGATTO 2013) Para tentar caracterizar a produccedilatildeo
cientiacutefica sobre TS os autores coletaram uma amostra de 133
publicaccedilotildees entre artigos em perioacutedicos (com e sem Qualis111) artigos
completos em anais resumos em anais livros e capiacutetulos de livros entre
outros documentos Desses 925 (123) satildeo de origem nacional e 75
(10) de origem estrangeira (FREITAS SEGATTO 2013)
No quadro 11 abaixo eacute possiacutevel verificar o nuacutemero de
publicaccedilotildees por ano e por paiacutes no qual o Brasil aparece com destaque
na produccedilatildeo de obras sobre TS no periacuteodo analisado
Quadro 11 - Origem e ano de publicaccedilotildees
Fonte (FREITAS SEGATTO 2013)
Os autores tambeacutem organizaram os dados coletados em relaccedilatildeo
aos temas das publicaccedilotildees conforme pode ser visto no quadro 12
111 O chamado Qualis se refere a avaliaccedilotildees que expressam a pertinecircncia do
conteuacutedo de um perioacutedico para uma determinada aacuterea do conhecimento A
qualidade dos perioacutedicos eacute classificada anualmente pela Capes em estratos que
compreendem desde a melhor avaliaccedilatildeo (A1) passando por A2 B1 B2 B3 B4
e B5 ateacute a menor pertinecircncia (C) e pode ser verificada em
lthttpssucupiracapesgovbrsucupirapublicconsultascoletaveiculoPublicac
aoQualislistaConsultaGeralPeriodicosjsfgt
153
abaixo Destaco a pequena presenccedila de relatos em temas sobre
educaccedilatildeo com apenas uma publicaccedilatildeo ateacute o momento da coleta dos
dados
Quadro 12 - Principais temas em TS e ano de publicaccedilatildeo
Fonte (FREITAS SEGATTO 2013)
Penso que o tema da educaccedilatildeo possa estar presente mesmo que
silenciado pois pode natildeo ter sido feita uma referecircncia clara no tiacutetulo da
obra (que foi o meacutetodo de coleta de dados utilizado pelos autores) Haacute
tambeacutem o fato de que muitas iniciativas de desenvolvimento de TS na
aacuterea educacional natildeo satildeo relatadas nesse tipo de formato de publicaccedilatildeo
Em minha dissertaccedilatildeo verifiquei o apelo de TS nessa aacuterea como
154
referenciei na introduccedilatildeo desta tese Entretanto nos anos iniciais de
reflexatildeo sobre TS no Brasil havia realmente uma preocupaccedilatildeo na
definiccedilatildeo de prioridades de anaacutelise em TS com focos na divulgaccedilatildeo de
iniciativas de desenvolvimento de TS e na organizaccedilatildeo das demandas
institucionais e poliacuteticas Algo que pode ser visto no quadro 12 acima
onde aparecem 30 publicaccedilotildees (23) concentradas em divulgar
experiecircncias com TS e 23 estudos (17) com ecircnfase nas demandas
institucionais e poliacuteticas
Outra informaccedilatildeo relevante no levantamento de Freitas e Segatto
(2013) eacute a presenccedila de estudos nos temas da AST (que como referi
anteriormente tem preocupaccedilatildeo com iniciativas voltadas a soluccedilotildees
pontuais alinhadas agraves TA) e da inovaccedilatildeo social (que como jaacute apontei
destaca processos inovadores para melhorar ou desenvolver novas TS)
Com isso apresento a seguir contribuiccedilotildees recentes que de alguma
maneira estatildeo relacionadas com processos educacionais112
A ldquoAcademia Estudantil de Letrasrdquo (AEL) foi desenvolvida por
uma professora na Regiatildeo Sudeste do Brasil e atualmente envolve 15
mil alunosas de Ensino Fundamental e Meacutedio A AEL tem como
objetivo despertar o gosto e o interesse pela leitura nosas estudantes
elevar sua autoestima promover inclusatildeo social no processo de
aquisiccedilatildeo da linguagem e agrave formaccedilatildeo integral doa estudante No
projeto cada estudante participante escolhe uma autora para
representar e estudar simulando uma academia de letras113
A TS intitulada ldquoCisterbanrdquo eacute desenvolvida em uma escola na
Regiatildeo Nordeste do Brasil Nela satildeo construiacutedas cisternas a partir do
reaproveitamento da fibra de bananeira Processo mais barato que a
fabricaccedilatildeo de cisternas tradicionais e que amenizam a seca no semiaacuterido
cearense Tambeacutem com foco em produto uma escola municipal da
Regiatildeo Norte do Brasil desenvolve forros ecoloacutegicos feito com
embalagens do tipo longa vida que garante conforto teacutermico
diminuindo a temperatura em ateacute 9ordm C no interior dos lares das
comunidades de baixa renda 112 Com exceccedilatildeo da TS chamada ldquoEscolas Sustentaacuteveisrdquo desenvolvida na
Argentina e que descrevo a seguir todas as iniciativas de desenvolvimento de
TS aqui listadas podem ser acessadas em httpwwwaprenderensinartscombr Satildeo relatos de experiecircncias jaacute
implantadas e que natildeo precisam necessariamente estar publicadas em formato
de artigo 113Informaccedilotildees disponiacuteveis em
httpwwwacademiaestudantildeletrasblogspotcombr
155
O projeto ldquoBanco Verde e Bazar Verderdquo se constitui como um
serviccedilo de troca de materiais reciclaacuteveis por material escolar A
iniciativa desenvolvida na rede puacuteblica de ensino na Regiatildeo Sudeste
funciona como uma troca osas alunosas coletam materiais reciclaacuteveis
(garrafas PET potes de vidros latinhas de alumiacutenio e sacos plaacutesticos) e
trocam por moedas verdes Essas que satildeo depositadas no Banco Verde
que fica dentro da escola podem ser gastas no Bazar Verde que tambeacutem
fica na escola e vende artigos variados de papelaria perfumaria e
tecnologia
Com mais de 200 professoresas formadosas desde 2011 o
projeto intitulado ldquoA Escola eacute a Cidade amp a Cidade eacute a Escolardquo da
Regiatildeo Sudeste do Brasil visa melhorar o ambiente escolar e integrar
educaccedilatildeo e cultura A metodologia da TS eacute formar profissionais que
possam usar a arte em accedilotildees contemporacircneas que contribuam com a
melhoria do ambiente escolar no que diz respeito ao espaccedilo fiacutesico mais
atrativo e na aproximaccedilatildeo dos interesses educacionais e juvenis A
preocupaccedilatildeo com formaccedilatildeo de professoresas (aqui estendida a
alunosas) tambeacutem eacute tema da TS ldquoAbra os Olhos para a Ciecircnciardquo
Iniciativa desenvolvida na Regiatildeo Nordeste do Brasil e que incentiva o
envolvimento de alunosas do ensino meacutedio em atividades de divulgaccedilatildeo
e construccedilatildeo do conhecimento cientifico para a compreensatildeo e resoluccedilatildeo
de problemas socioambientais
A TS ldquoAdolescentes Protagonistasrdquo tem foco na formaccedilatildeo de
jovens na relaccedilatildeo entre direitos humanos cidadania e orccedilamento
puacuteblico A TS consiste em oficinas em escolas puacuteblicas do Distrito
Federal A ldquoAdolescentes Protagonistasrdquo problematiza a escola a partir
da reflexatildeo sobre educaccedilatildeo de qualidade trabalha com formaccedilatildeo em
orccedilamento puacuteblico direitos humanos cidadania comunicaccedilatildeo e
processo legislativo Na possibilidade de diaacutelogo com o parlamento
osas adolescentes aprendem a defender seus interesses sem a
intermediaccedilatildeo de outros sujeitos
Na Universidade do Estado da Bahia (UNEB) o ldquoLaboratoacuterio de
Desenvolvimento de Tecnologias Sociaisrdquo desenvolve projetos
tecnoloacutegicos de recuperaccedilatildeo de aacutereas urbanas degradadas Segundo
Nunes (2005) o laboratoacuterio utiliza uma metodologia participativa e
estimula a integraccedilatildeo dos diversos sujeitos atraveacutes da formaccedilatildeo de
parcerias com universidades e empresas A participaccedilatildeo coletiva eacute
estimulada atraveacutes de um foacuterum de discussatildeo que aborda os principais
temas principalmente sobre a problemaacutetica socioambiental da regiatildeo O
foacuterum busca apontar soluccedilotildees para os problemas locais atraveacutes da
156
construccedilatildeo de uma agenda para a viabilizaccedilatildeo da sustentabilidade local
(NUNES 2005)
O projeto do ldquoObservatoacuterio do Movimento pela Tecnologia
Social na Ameacuterica Latinardquo com sede na Universidade de Brasiacutelia
(UnB) visa identificar discutir analisar e avaliar a efetividade de
experiecircncias com TS implantadas como soluccedilotildees cientiacuteficas e
tecnoloacutegicas a partir de demandas sociais Conforme Neder (2008) o
observatoacuterio pretende cobrir as muacuteltiplas dimensotildees do movimento de
entidades civis empresas puacuteblicas oacutergatildeos governamentais e poliacuteticas
puacuteblicas governamentais expressas nos uacuteltimos anos
O curso ldquoFundamentos da Tecnologia Socialrdquo tambeacutem
oferecido na UnB tem como objetivo sistematizar as dificuldades e
necessidades enfrentadas hoje pelos que defendem as inovaccedilotildees
socioteacutecnicas e TS As metas do curso consistem em discutir as bases
da apropriaccedilatildeo da teacutecnica sob uma visatildeo de pluralismo tecnoloacutegico nas
praacuteticas cientiacuteficas e acadecircmicas e realizar discussotildees empiacutericas a
partir do exame de alguns casos de TS no Brasil (NEDER 2008)
Aleacutem de discutir os fundamentos teoacutericos de TS o curso segue a linha
de pesquisa de anaacutelise de tecnologias para a sustentabilidade
Por fim destaco uma iniciativa desenvolvida na Argentina com
coordenaccedilatildeo da Red de Tecnologiacuteas para la Inclusioacuten Social (REDTISA) voltada ao desenvolvimento de TS tendo em vista a ideia
de escolas sustentaacuteveis Conforme a coordenadora Paula Juarez o
projeto eacute uma iniciativa que aborda problemas de escolas rurais a partir
da perspectiva dos sistemas tecnoloacutegicos sociais Assim problemas em
temas como aacutegua saneamento energia nutriccedilatildeo e sauacutede seriam
debatidos com a comunidade escolar e sujeitos locais de modo a buscar
soluccedilotildees socioteacutecnicas adequadas e necessaacuterias a cada realidade O
projeto envolveria desde o desenho comunitaacuterio da proposta a
autoconstruccedilatildeo com matildeo de obra local e uso de materiais locais ateacute a
formaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo de docentes como agentes de desenvolvimento
(REDTISA 2016)
Jaacute em relaccedilatildeo agrave produccedilatildeo acadecircmica brasileira sobre TS fiz duas
revisotildees (julho de 2015 e maio de 2016) no banco de teses e dissertaccedilotildees
da Capes disponiacutevel para acesso em
lthttpbancodetesescapesgovbrbanco-tesesgt A busca pelo termo
ldquotecnologia social educaccedilatildeordquo em tiacutetulos de documentos disponiacuteveis
apenas de origem da Plataforma Sucupira no periacuteodo de 2013 a 2016 na
aacuterea de concentraccedilatildeo ldquoeducaccedilatildeordquo resultou em 6945 registros
encontrados A maioria desses registros tratava de tecnologia em geral
tecnologia assistiva tecnologia educacionaleducativa e de
157
comunicaccedilatildeoinformaccedilatildeodigitaismoacuteveis Apenas um registro citava TS
no tiacutetulo114
Uma pesquisa nos mesmos paracircmetros que citei acima mas
apenas para o termo ldquotecnologia socialrdquo e aberta a todas as aacutereas de
concentraccedilatildeo resultou em 212 registros Na aacuterea de concentraccedilatildeo
ldquoeducaccedilatildeordquo resultaram oito trabalhos mas apenas dois deles continham
TS no tiacutetulo115 Outra pesquisa apenas com o diferencial de buscar o
termo no plural ldquotecnologias sociaisrdquo resultou em 241 trabalhos sendo
que apenas sete deles estavam na aacuterea de concentraccedilatildeo ldquoeducaccedilatildeordquo e
desses somente dois continham TS no tiacutetulo116
Com isso antes de pretender examinar os detalhes que envolvem
as TS nos CTIEM busquei apenas apontar estudos iniciativas
perspectivas e posicionamentos que podem colaborar com o exame
proposto Encaminhei um sentido sobre tecnologia que me guia durante
a pesquisa busquei relacionaacute-lo com o enfoque educacional que me
orienta e procurei dialogar com autoresas que podem contribuir em
alguma medida com minhas reflexotildees Assim procuro apontar caminhos
possiacuteveis para compreender e investigar o caraacuteter social da tecnologia
sobretudo em processos educacionais
Compreendo assim como Feenberg (2002 2012) que a
tecnologia pode ser vista como engendrada por relaccedilotildees sociais entre
sujeitos os quais defendem interesses e atuam a partir de valores
proacuteprios agrave sua cultura Noccedilatildeo que tambeacutem percebo em Freire (1968)
quando o autor esclarece que a tecnologia como uma praacutetica humana eacute
114 COSTA S Q B G da A Educaccedilatildeo intergeracional como tecnologia
social uma abordagem da intergeracionalidade no acircmbito da Universidade
Federal do Tocantins-UFT 2015 Mestrado (Educaccedilatildeo) ndash UFT Palmas 2015 115 OLIVEIRA J P de Tecnologia Social na Educaccedilatildeo Profissional e
tecnoloacutegica perspectivas da formaccedilatildeo do curso teacutecnico integrado em
informaacutetica do IFRN ndash Campus Mossoroacute 2015 Mestrado (Educaccedilatildeo
Profissional) ndash IFRS Natal 2015 e COSTA S Q B G da A Educaccedilatildeo
intergeracional como tecnologia social uma abordagem da
intergeracionalidade no acircmbito da Universidade Federal do Tocantins-UFT
2015 Mestrado (Educaccedilatildeo) ndash UFT Palmas 2015 116 JULIANO M C C Rede Famiacutelia um estudo sobre uma experiecircncia de
tecnologia social e seu diaacutelogo com a promoccedilatildeo de resiliecircncia comunitaacuteria e a
Educaccedilatildeo Ambiental 2013 Doutorado (Educaccedilatildeo Ambiental) ndash FURG Rio
Grande 2013 e MEAULO M P Fundaccedilatildeo Dorina Nowill Para Cegos Um
Estudo Sobre a Educaccedilatildeo Natildeo Formal e Tecnologias Sociais Presentes na
Inclusatildeo de Portadores de Deficiecircncia Visual 2014 Mestrado (Educaccedilatildeo) ndash
Centro Universitaacuterio Salesiano de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2014
158
poliacutetica e intencional natildeo eacute neutra e natildeo se produz nem se usa sem uma
visatildeo de mundo Assim como o posicionamento do autor sobre a
educaccedilatildeo a tecnologia poderia estar relacionada com a praacutetica da
liberdade
Percebo que a liberdade tanto no desenvolvimento tecnoloacutegico
quanto em processos educacionais eacute uma expressatildeo de emancipaccedilatildeo
social autonomia e consciecircncia criacutetica E essas satildeo categorias
importantes em relaccedilatildeo a TS que se pretendam mobilizadoras de
juventudes para a autoria Portanto destaco a vigilacircncia com a qual
examino sentidos sobre TS que circulam nos CTIEM do IFRS Cacircmpus
Caxias do Sul Minha atenccedilatildeo eacute para o que emerge e tambeacutem para o que
estaacute ausente (sentidos natildeo deterministas) Algo que Santos (2010a) jaacute
alerta em sua ecologia dos saberes
Diz o autor que
() eacute crucial comparar o conhecimento que estaacute
sendo aprendido com o conhecimento que estaacute
sendo esquecido ou desaprendido A ignoracircncia soacute
eacute uma condiccedilatildeo desqualificadora quando o que
estaacute sendo aprendido tem mais valor do que o que
estaacute sendo esquecido A utopia do
interconhecimento eacute aprender outros
conhecimentos sem esquecer a si mesmo Esta eacute a
ideia de prudecircncia que permanece na ecologia dos
saberes (SANTOS 2010a p52)117
O que acredito ser possiacutevel sobretudo ao buscarmos mobilizar
estudantes para a autonomia e a emancipaccedilatildeo social dentro de uma
perspectiva criacutetica da Educaccedilatildeo CTS Nesse sentido concordo com
Linsingen (2007) no que o autor afirma que esse tipo de educaccedilatildeo
envolve fundamentalmente favorecer um ensino desobre ciecircncia e
tecnologia atento agrave formaccedilatildeo de sujeitos com consciecircncia criacutetica em
relaccedilatildeo a suas possibilidades de participarem ativamente (autoria) da
transformaccedilatildeo da realidade em que vivem
117 Es crucial para comparar el conocimiento que se estaacute siendo aprendido con
el conocimiento que por lo tanto estaacute siendo olvidado o desaprendido La
ignorancia es solo una condicioacuten descalificadora cuando lo que se estaacute siendo
aprendido tiene maacutes valor que lo que se estaacute siendo olvidado La utopiacutea del
interconocimiento es aprender otros conocimientos sin olvidar el de uno mismo
Esta es la idea de la prudencia que subsiste bajo la ecologiacutea de los saberes
Traduccedilatildeo livre da autora
159
Tanto para esse autor quanto para mim uma renovaccedilatildeo educativa
dentro da Educaccedilatildeo CTS pode ser favorecida por mudanccedilas de
perspectivas de educadoresas e de educandosas atraveacutes da qual o
ensino de temas em tecnologia deixaria de ser enfocado em conteuacutedos
distantes e fragmentado baseado em conhecimentos supostamente
neutros e autocircnomos e passaria a ter foco em situaccedilotildees reais vividas
pelosas educandosas em seus contextos (LINSINGEN 2007)
Podemos ainda lembrar de Freire (2011) e Gramsci (1982) que
como destaquei no primeiro capiacutetulo chamam a atenccedilatildeo para a
curiosidade e a criatividade na construccedilatildeo de conhecimentos Algo que
acredito que estaria presente na intenccedilatildeo de mobilizar estudantes para a
autoria (com inspiraccedilatildeo em propostas de produccedilatildeo coletiva e de criacutetica a
modelos previamente impostos sem contextualizaccedilatildeo que fazem parte
tanto do movimento SL quanto da eacutetica do DIY) no desenvolvimento de
TS segundo uma perspectiva criacutetica
E eacute sob tais perspectivas que no proacuteximo capiacutetulo apresento
minha pesquisa sobre processos de desenvolvimento de TS entre
juventudes dos CTIEM do IFRS Cacircmpus Caxias do Sul
160
161
CAPIacuteTULO 3 ANAacuteLISES
A terceira parte desta tese eacute dedicada agraves anaacutelises dos dados
coletados conforme informei na introduccedilatildeo Os exames aqui realizados
visam examinar possibilidades e limites de transformar sentidos
deterministas sobre tecnologia a partir de uma perspectiva criacutetica sobre
TS nos CTIEM Os passos para alcanccedilar esse objetivo geral envolvem
identificar sentidos sobre tecnologias que circulam entre estudantes dos
CTIEM problematizar (estranhar e desnaturalizar) tais sentidos
examinar possibilidades de promover autoria entre estudantes a partir de
um posicionamento criacutetico sobre TS e verificar se e como promover
contextos educacionais voltados agrave autoria pode indicar emancipaccedilatildeo
social e autonomia entre estudantes
Para isso elaborei e realizei um roteiro didaacutetico para desenvolver
a temaacutetica socioteacutecnica tal como apresento de modo especiacutefico no
Apecircndice E mas que eacute discutido durante a anaacutelise dos dados Nesse
roteiro mostro como coletei dados primaacuterios atraveacutes de uma questatildeo
inicial formulada agravesaos estudantes (o que eacute tecnologia para vocecirc)
apliquei um questionaacuterio com questotildees de muacuteltipla escolha (conforme
Apecircndice D) e mobilizei para uma tarefa final de elaboraccedilatildeo de TS
como mostrarei a seguir A memoacuteria das aulas atraveacutes dos registros em
meu diaacuterio de campo tambeacutem satildeo subsiacutedios para as anaacutelises Assim
como os dados secundaacuterios (pesquisa bibliograacutefica e documental) que
aparecem durante toda a tese mas aqui com o foco em documentos
sobre o IFRS
Os procedimentos e anaacutelises que detalharei satildeo parte da intenccedilatildeo
geral de captar tanto a aparecircncia quanto a essecircncia do problema de
pesquisa que esbocei na introduccedilatildeo Procuro mostrar que ao examinar
sentidos sobre tecnologias que atravessam sem debates os (e circulam
sendo debatidos nos) CTIEM interesso-me por suas origens causas
consequecircncias e contradiccedilotildees tendo em vista possibilidades de
transformaccedilotildees da realidade social Essas possibilidades satildeo aqui
verificadas tendo em vista que as TS podem contribuir para uma
ecologia dos saberes (SANTOS MENESES 2010 SANTOS 2010a
SANTOS 2007) que busque legitimar diferentes formas de
conhecimentos
Acredito que tal legitimidade estaacute relacionada com o
entendimento da emergecircncia como pode sugerir a Sociologia das
Ausecircncias e das Emergecircncias (SANTOS 2002 2007) de
compreendermos que problemas socioteacutecnicos (e as soluccedilotildees apontadas)
de estudantes de ensino meacutedio satildeo relevantes Estudos em Educaccedilatildeo
162
CTS latino-americanos atuais tecircm dado visibilidade a percepccedilotildees sobre
relaccedilotildees entre ciecircncia tecnologia e sociedade em componentes
curriculares da ECT de Engenharias e de aacutereas das Ciecircncias Naturais e
Exatas (JACINSKI 2015 NIEZWIDA 2015) Neles haacute uma
problematizaccedilatildeo importante da mera inserccedilatildeo de disciplinas de Ciecircncias
Humanas em aacutereas teacutecnicas (SILVEIRA MATOS GANHOR 2015
LINSINGEN 2007) Nesse contexto percebo certa ausecircncia de
discussotildees voltadas agrave formaccedilatildeo baacutesica
Uma vez identificada essa ausecircncia vislumbro a emergecircncia de
possibilitar tambeacutem a estudantes de ensino meacutedio acesso a (mais)
conhecimentos (e possibilidades de criacuteticas) sobre a realidade
socioteacutecnica com a qual elesas podem interagir diariamente Nessa
leitura que faccedilo de Santos (2006) vejo a Sociologia das Emergecircncias
como a ldquocontraccedilatildeo do futuro para dentro do presenterdquo (p 88)118 Ou
seja ao apresentar uma ausecircncia percebida considero a emergecircncia da
inclusatildeo de novos sujeitos nos debates socioteacutecnicos Sujeitos
especiacuteficos (com identidades de gecircnero poliacuteticas e eacutetnico-raciais) que
emergem do contexto escolar
Nesse sentido lembro a escola visualizada por Freire (2011) que
assim como osas educadoresas deveria natildeo soacute respeitar os
conhecimentos ldquocom que os educandos sobretudo os das classes
populares chegam a ela - saberes socialmente construiacutedos na praacutetica
comunitaacuteria - mas tambeacutem () discutir com os alunos a razatildeo de ser de
alguns desses saberes em relaccedilatildeo com o ensino dos conteuacutedosrdquo (p 31)
Penso que discussotildees sobre TS podem constituir processos educacionais
integrados e natildeo estritamente teacutecnicos nas quais seja possibilitada a
compreensatildeo da produccedilatildeo intelectual da tecnologia (politecnia) e seu
caraacuteter contextual (adequada agrave realidade de coletividades especiacuteficas)
A seguir apresento detalhadamente os procedimentos envolvidos
na coleta e anaacutelise de dados Inicialmente trago informaccedilotildees sobre a
cidade de Caxias do Sul sobre o bairro no qual o IFRS estaacute localizado e
sobre o proacuteprio Cacircmpus (histoacuteria constituiccedilatildeo e missatildeo entre outras)
Momento no qual tambeacutem apresento um breve panorama sobre o IFRS e
a educaccedilatildeo profissional no Brasil Na segunda parte do capiacutetulo
apresento sentidos sobre tecnologias que circulam entre as juventudes
que compotildeem os CTIEM analisados identificados atraveacutes da anaacutelise da
pergunta inicial e do questionaacuterio Por fim exponho possibilidades de
promover autoria entre estudantes a partir do desenvolvimento de TS e
118 ldquola contraccioacuten del futuro en el presenterdquo Traduccedilatildeo livre da autora
163
analiso esse desenvolvimento tendo em vista problemaacuteticas relacionadas
agrave emancipaccedilatildeo social e autonomia
31 CONTEXTO
Longe de querer abordar o contexto a partir de teorias linguiacutesticas
ou antropoloacutegicas o que pretendo nesse momento eacute apenas apresentar
algumas circunstacircncias que tecircm relaccedilatildeo com a investigaccedilatildeo que realizo
Portanto por contexto refiro-me a certas situaccedilotildees relacionadas a
espaccedilos os quais os sujeitos da minha pesquisa transitam de alguma
maneira
311 A cidade
A instalaccedilatildeo do IFRS no bairro Nossa Senhora de Faacutetima119 em
Caxias do Sul foi estrateacutegica Para compreender tanto os processos que
envolveram tal resoluccedilatildeo quanto as culturas locais eacute importante
verificar alguns aspectos da cidade e do bairro De acordo com dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) Caxias do Sul eacute a
segunda cidade mais populosa do estado do RS com mais de 435 mil
habitantes no ano de 2015120 (963 vivem na aacuterea urbana e 37 na
aacuterea rural) atraacutes somente da capital do estado Porto Alegre Municiacutepio
do qual estaacute agrave 127 km de distacircncia apenas conforme pode ser
visualizado no mapa 1 abaixo
119 Daqui em diante apenas Faacutetima 120 213612 homens e 221952 mulheres (IBGE 2015)
164
Mapa 1 - Cidade de Caxias do Sul ndash RS
Fonte Google mapas (2016)
A regiatildeo na qual a cidade estaacute localizada que faz parte da
chamada serra gauacutecha121 era originalmente habitada pelo povo indiacutegena
Kaingang (ou caingangue)122 mas a partir do final do seacuteculo XIX
comeccedilou a receber sistematicamente migrantes vindosas da Europa
sobretudo da Itaacutelia E a identificaccedilatildeo italiana eacute ainda marcante na regiatildeo
Variaccedilotildees da liacutengua italiana assim como festas religiosas (catoacutelicas)
atividades agriacutecolas e a culinaacuteria da eacutepoca colonial123 satildeo preservadas
121 Gauacutechoa eacute o gentiacutelico de naturais do RS sinocircnimo de sul-rio-grandense 122 Para informaccedilotildees sobre o povo Kaingang nesse contexto verificar a seguinte
referecircncia DORNELLES S S De Coroados a Kaingang as experiecircncias
vividas pelos indiacutegenas no contexto de imigraccedilatildeo alematilde e italiana no Rio
Grande do Sul do seacuteculo XIX e iniacutecio do XX Dissertaccedilatildeo (Mestrado em
Histoacuteria) - UFRGS Porto Alegre 2011 123 Osas migrantes da regiatildeo satildeo conhecidosas (de modo ateacute elogioso) como
ldquocolonosrdquo e ldquocolonasrdquo pois um dos objetivos de sua instalaccedilatildeo seria colonizar
(no sentido de ocupaccedilatildeo territorial e desenvolvimento de atividades agriacutecolas
em um novo espaccedilo com a preservaccedilatildeo de costumes haacutebitos e culturas trazidos
de seus locais de origem) o lugar Frente a isso faccedilo uso do termo ldquocolonialrdquo no
sentido geral em que ele circula na regiatildeo e natildeo faccedilo referecircncia a debates
decoloniais descoloniais ou poacutes-coloniais de maneira especiacutefica embora
compreenda que uma anaacutelise desse tipo nesse contexto seria profiacutecua
165
com orgulho A induacutestria do turismo explora tais referecircncias e vende
com sucesso o estilo de vida ruacutestico dosas primeirosas migrantes
Um exemplo eacute a Festa da Uva que ocorre a cada dois anos desde
1931 (interrompida entre 1938 e 1950) e eacute dedicada a reavivar tradiccedilotildees
e celebrar a migraccedilatildeo italiana na regiatildeo Contudo mais do que o apelo
simboacutelico a Festa da Uva marca a predominacircncia da regiatildeo de Caxias
do Sul na produccedilatildeo nacional de uva De acordo com dados do IBGE
(2015) a produccedilatildeo de uva estimada para o ano de 2015 no RS seria de
876286 toneladas sendo que 80 desse total viria da regiatildeo de Caxias
do Sul O RS foi responsaacutevel por 565 da produccedilatildeo de uva no Brasil
em 2014 o equivalente a 812537 toneladas
Narrativas sobre as dificuldades enfrentadas na chegada ao Brasil
satildeo populares como pode ser visto no trecho abaixo disponiacutevel no site
da prefeitura da cidade
Era preciso conquistar a terra pelo trabalho
Trabalhar para viver e trabalhar para pagar a terra
Nos depoimentos de imigrantes o sonho de
colheitas abundantes e as facilidades de plantio
que a ldquovelha Itaacuteliardquo natildeo podia mais oferecer seria
concretizado na Serra Gauacutecha atraveacutes de muito
trabalho Um trabalho estafante recompensado
por colheitas fartas em uma terra ainda virgem
() A mesa tornou-se menos pobre a casa mais
confortaacutevel mantinha-se com austeridade a prole
que se tornava numerosa (CAXIAS 2015)
O silenciamento dos povos que jaacute habitavam a regiatildeo (ldquoterra
ainda virgemrdquo) e o valor dado agrave terra e ao trabalho como meio de
conquistas pessoais marcam ainda hoje certo ideaacuterio geral sobre o que
poderia ser compreendido como a vocaccedilatildeo da cidade Essa inclinaccedilatildeo eacute
expressa no lema ldquoFeacute e Trabalhordquo que eacute parte da identidade visual
adotada pela atual gestatildeo municipal como pode ser visto na figura 5
abaixo
166
Figura 5 - Siacutembolos e lema da cidade
Fonte CAXIAS 2015
Em relaccedilatildeo agrave feacute ao examinar alguns indicadores disponiacuteveis no
site do IBGE (2015) eacute possiacutevel verificar que a religiatildeo declarada pela
maioria da populaccedilatildeo da cidade eacute a catoacutelica conforme a tabela 4
abaixo Dados que corroboram percepccedilotildees gerais que podemos ter ao
convivermos com moradoresas da cidade sobre sua ligaccedilatildeo simboacutelica
com o Vaticano e ao observarmos a quantidade expressiva de festas
catoacutelicas promovidas por diversas paroacutequias durante todo o ano
Entendo que outras expressotildees de feacute tecircm pouco espaccedilo de divulgaccedilatildeo
em massa eou satildeo pouco declaradas em tal contexto
Tabela 4 - Religiatildeo declarada
Religiatildeo declarada Quantidade de pessoas (mil)
Catoacutelica apostoacutelica romana 332101
Evangeacutelicas 60230
Espiacuterita 11859
Fonte Elaboraccedilatildeo da autora a partir de dados do IBGE (2015)
Em relaccedilatildeo a trabalho e renda eacute possiacutevel verificar no graacutefico 4
abaixo que a maioria da populaccedilatildeo economicamente ativa (com 18 anos
ou mais) da cidade estava ocupada no ano de 2010 (753) Natildeo haacute
dados oficiais atualizados mas induacutestrias do setor metalmecacircnico que
segundo a Fundaccedilatildeo de Economia e Estatiacutestica Siegfried Emanuel
Heuser (FEE) concentra dois terccedilos dos empregos formais da cidade
anunciaram na imprensa local demissotildees durante todo o ano de 2015124
124 Informaccedilotildees tambeacutem disponiacuteveis em
httpwwwsimecscombrnoticias20150617crise-no-setor-metalmecanico-
empresas-apresentam-desempenho-economico-preocupante-nos-primeiros-
cinco-meses-de-2015
167
Graacutefico 4 - Populaccedilatildeo economicamente ativa e inativa
Fonte PNUD (2015)
Contudo de acordo com dados do IBGE (2015) no ano de 2013
o nuacutemero de empresas atuantes em Caxias do Sul era de 26477
unidades (o que lhe conferiu o primeiro lugar sendo que o
segundo lugar no RS ficaria com o municiacutepio de Novo Hamburgo com
15352 unidades) Aleacutem disso informaccedilotildees jornaliacutesticas especializadas
mostram que a cidade concentra 21 dos 500 maiores grupos de
empresasinduacutestrias da Regiatildeo Sul do Brasil125
De acordo com dados do IBGE do ano de 2010 o rendimento
meacutedio per capita (por pessoa) no muniacutecipio de Caxias do Sul eacute de pouco
mais de 1400 reais o que o coloca em 33ordm lugar entre os municiacutepios
brasileiros e 6ordm entre os do RS Jaacute o mapa 2 a seguir mostra que a
renda domiciliar meacutedia urbana no ano de 2013 era de mais de 3 mil
reais
125 Informaccedilotildees disponiacuteveis em httpwwwamanhacombr500maiores
168
Mapa 2 - Renda domiciliar meacutedia urbana
Fonte IBGE (2015)
Em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo dados do IBGE (2015) mostram que no
ano de 2012 a populaccedilatildeo residente alfabetizada era de 391554 pessoas
(aproximadamente 89) A quantidade de matriacuteculas no ensino
fundamental e meacutedio eram respectivamente 56408 e 16360 A
escolaridade da populaccedilatildeo de 25 anos ou mais no ano de 2010 pode ser
verificada no graacutefico 5 a seguir A partir dele eacute possiacutevel fazer uma
comparaccedilatildeo com dados nacionais ou seja em Caxias do Sul 28 da
populaccedilatildeo estava em condiccedilatildeo de analfabetismo (no Brasil 118)
446 possuiacuteam o ensino meacutedio completo (358 no Brasil) e 135
possuiacuteam o ensino superior completo (112 no Brasil) (IBGE 2015
PNUD 2015) Eacute possiacutevel verificar uma disparidade consideraacutevel em
relaccedilatildeo agrave taxa nacional apenas no criteacuterio do analfabetismo
169
Graacutefico 5 - Escolaridade da populaccedilatildeo
Fonte PNUD (2015)
Se analisarmos indicadores de longevidade (esperanccedila de vida ao
nascer em anos que em Caxias do Sul eacute de 7658) juntamente com
dados como renda e educaccedilatildeo como mostrei acima teremos o chamado
Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM)126 Esse varia
de 0 (zero) a 1 (um) e quanto mais proacuteximo de 1 (um) maior o
desenvolvimento humano O IDHM de Caxias do Sul eacute 0782 o que a
situa na faixa de desenvolvimento humano alto (IDHM entre 0700 e
0799) A dimensatildeo que mais contribui para o IDHM do municiacutepio eacute a
da longevidade com iacutendice de 0860 seguida de renda (renda per
capita em R$) com iacutendice de 0812 e de educaccedilatildeo da populaccedilatildeo
(percentual de pessoas estudando de acordo com a faixa etaacuteria) com
iacutendice de 0686 (PNUD 2015)
O graacutefico 6 abaixo traz uma comparaccedilatildeo entre o IDHM de
Caxias do Sul e o de outros municiacutepios brasileiros Nele podemos ver
certa situaccedilatildeo levemente favoraacutevel do municiacutepio em relaccedilatildeo ao IDHM
gauacutecho e nacional no ano de 2010
126 O IDH eacute medido pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) com base em
indicadores de educaccedilatildeo renda e expectativa de vida como jaacute referi No Brasil
o levantamento ocorre a cada dez anos e eacute feito em parceria com o Instituto de
Pesquisa Econocircmica Aplicada (Ipea) Assim como o IDH os dados mais
recentes do IDHM satildeo de 2010
170
Graacutefico 6 - Evoluccedilatildeo do IDHM em Caxias do Sul
Fonte PNUD (2015)
Conforme explicitei na introduccedilatildeo desta tese entendo que a
adoccedilatildeo estrita de meacutetodos quantitativos sobretudo de mediccedilatildeo de
qualidade de vida pode trazer limitaccedilotildees e generalizaccedilotildees silenciadoras
de especificidades importantes Contudo o IDHM pode ser uacutetil para
analisarmos criticamente impactos de poliacuteticas puacuteblicas na populaccedilatildeo
nessas aacutereas por exemplo
Para aleacutem de tentar contextualizar aspectos da cidade (e sua
caracterizaccedilatildeo marcada pela opulecircncia) na qual a investigaccedilatildeo eacute
realizada o que busco com esses dados nesse momento eacute compreender
certos discursos generalizados que muitas vezes verifico tanto nas
miacutedias locais quanto entre estudantes dos CTIEM E que entendo
estarem sintetizados na seguinte frase que consta no site da prefeitura
da cidade ldquoA garra e determinaccedilatildeo herdadas dos imigrantes satildeo a marca
do povo caxienserdquo (CAXIAS 2015)
Percebo que haveria um modo peculiar entre descendentes de
migrantes italianosas de encarar os desafios e construir um
desenvolvimento econocircmico baseado em esforccedilos pessoais Sendo que
ecircxitos alcanccedilados seriam derivados de trabalho pessoal intensivo O que
pode deixar margens para que se possa pensar que a natildeo obtenccedilatildeo de progresso econocircmico seria reponsabilidade do sujeito que natildeo
empregou esforccedilo suficiente para alcanccedilar os seus objetivos
Natildeo eacute minha intenccedilatildeo levantar dados para especular acerca de
possiacuteveis atitudes individualistas ou colaborativas (de menor ou maior
171
apoio agrave presenccedila do Estado em atividades de regulaccedilatildeo por exemplo) de
residentes em Caxias do Sul Nesta tese natildeo abordo sentidos atribuiacutedos
ao trabalho por sujeitos especiacuteficos Trago essas percepccedilotildees porque elas
fazem parte em alguma medida do contexto no qual a investigaccedilatildeo eacute
realizada e penso que eacute importante que natildeo sejam silenciadas Nesse
mesmo sentido a seguir apresento algumas informaccedilotildees sobre o bairro
no qual o Cacircmpus de Caxias do Sul do IFRS estaacute instalado
312 O bairro
O IFRS de Caxias do Sul estaacute localizado na parte Nordeste do
bairro Faacutetima conhecido como Faacutetima Alta Local esse que faz parte da
regiatildeo setentrional da cidade Seus limites satildeo ao Norte a Rodovia RSC
453 (que compotildee a Rodovia Rota do Sol que liga a serra gauacutecha ao
litoral) no Leste estaacute o Rio Tega (complexo dalrsquoboacute ndash barragens Satildeo
Miguel e Satildeo Pedro) ao Sul o bairro universitaacuterio e no Oeste o bairro
pioneiro O mapa 3 a seguir ilustra essas referecircncias e mostra uma zona
de limite entre residecircncias (e pequenos comeacutercios informais) induacutestrias
e aacutereas pouco urbanizadas
Mapa 3 - Bairro Nossa Senhora de Faacutetima
Fonte Google mapas (2015)
172
De acordo com dados do IBGE (2015) a populaccedilatildeo do Faacutetima no
ano de 2010 era de 13759 pessoas o que o coloca em 6ordm lugar como
bairro mais populoso da cidade (entre os 65 bairros do municiacutepio)
Contudo a maioria dosas estudantes do IFRS reside fora do bairro
Entre estudantes dos CTIEM que investiguei menos de 10 moravam
proacuteximo agrave escola127 Mais de 80 dosas alunosas residem em outras
partes da cidade como pode ser verificado a partir do graacutefico 7 abaixo
que indica meios de transporte utilizados para chegar agrave escola (dados de
2015)
Graacutefico 7 - Mobilidade ateacute o IFRS
Fonte Assistecircncia estudantil do IFRSCaxias do Sul
Nas imediaccedilotildees do IFRS existem pelo menos trecircs instituiccedilotildees
municipais de ensino fundamental uma unidade baacutesica de sauacutede um
grupo de convivecircncia das mulheres do bairro uma associaccedilatildeo para as
crianccedilas um centro de encontros e praacutetica da doutrina espiacuterita uma
igreja do Evangelho Quadrangular uma igreja Assembleia de Deus
uma Agecircncia de Desenvolvimento Adventista e uma Igreja Catoacutelica128
Ao lado da escola ficam o centro comunitaacuterio e uma quadra de esportes
127 A partir de agora uso o termo ldquoescolardquo como sinocircnimo do IFRS de Caxias do
Sul e natildeo no sentido geral de instituiccedilatildeo 128 Podemos verificar que somente no entorno do IFRS existem cinco tipos
diferentes de locais relacionados com espiritualidade e religiatildeo O que natildeo deve
contrariar os dados gerais do IBGE (2015) para a cidade conforme destaquei na
tabela 4 acima mas reforccedila a percepccedilatildeo de que religiotildees e outras expressotildees de
feacute diferentes do catolicismo satildeo pouco declaradas oficialmente
173
Essa uacuteltima muitas vezes utilizada para as atividades da disciplina de
Educaccedilatildeo Fiacutesica do IFRS pois ainda natildeo haacute um local apropriado para
essas atividades nas dependecircncias da escola
Em geral a infraestrutura do bairro eacute problemaacutetica em
saneamento baacutesico (sistema de tratamento de esgoto precaacuterio)
pavimentaccedilatildeo de ruas (vias com calccedilamento irregular ou inexistente)
cobertura de iluminaccedilatildeo puacuteblica (postes com luzes danificadas) e
limpeza de aacutereas natildeo habitadas (terrenos com formaccedilatildeo vegetal sem
cuidados) Existem pelo menos trecircs linhas de ocircnibus urbanos que
circulam na regiatildeo mas com precisatildeo de horaacuterios insatisfatoacuteria (atrasos
constantes) Contudo um dos maiores problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo residente e tambeacutem pela comunidade escolar eacute a inseguranccedila
Traacutefico de drogas e assassinatos satildeo noticiados regularmente na
imprensa local como destaco nas seguintes manchetes de um jornal da
cidade129 24072015 ldquoHomem eacute preso com maconha no bairro
Faacutetimardquo 29112015 ldquoTrinta facadas mataram avoacute e neta no bairro
Faacutetimardquo 02122015 ldquoHomem eacute encontrado morto em parada de ocircnibus
no bairro Faacutetimardquo 19122015 ldquoEstudante de Quiacutemica no Instituto
Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) eacute assassinada no bairro Faacutetima
quando ia para o trabalhordquo130 16012016 ldquoHomem eacute baleado no bairro
Faacutetimardquo
Portanto temas sobre violecircncia urbana satildeo comumente discutidos
na escola Nas minhas aulas de Sociologia essa temaacutetica sempre
apareceu Verifiquei que osas alunosas apresentavam reaccedilotildees que
transitavam entre o sentimento de medo de sofrer alguma violecircncia no
caminho para a escola ateacute a praacutetica de atos preconceituosos com colegas
ou servidoresas que moravam no bairro ou nas proximidades Esse
contexto levou agrave participaccedilatildeo da comunidade escolar no projeto
ldquoAlianccedila pela Pazrdquo que entre suas accedilotildees promoveu uma caminhada
pelas ruas do bairro no mecircs de novembro do ano de 2015 A intenccedilatildeo foi
unir comunidades escolares locais e moradoresas do bairro para chamar
a atenccedilatildeo da cidade para problemas de inseguranccedila no Faacutetima
129 Tendo em vista diferentes apelos que temas sobre a violecircncia urbana podem
ter sobretudo na miacutedia destaco o cuidado que tive em minha busca no jornal de
maior circulaccedilatildeo na cidade com as chamadas ldquomanchetes sensacionalistasrdquo
Notiacutecias disponiacuteveis em lthttppioneiroclicrbscombrrsgeralcidadesgt 130 Esse fato obviamente teve grande impacto e gerou muita comoccedilatildeo na
escola A aluna em questatildeo (que frequentava minhas aulas) residia no bairro e
tinha apenas 16 anos
174
Com esses destaques acredito que certos aspectos culturais que
estatildeo presentes no quotidiano da escola foram considerados Embora
minha intenccedilatildeo seja investigar sentidos sobre tecnologia natildeo deixo de
chamar a atenccedilatildeo para possibilidades de problematizar relaccedilotildees entre a
declarada opulecircncia da cidade e (i) sua proclamada ligaccedilatildeo com o
trabalho de descendentes de migrantes europeus e (ii) situaccedilotildees de
vulnerabilidade social que estatildeo presentes no Faacutetima
Com isso natildeo desejo apenas levantar possiacuteveis contradiccedilotildees
expressas mas buscar compreender um pouco sobre ideias mais gerais
que circulam entre as juventudes dos CTIEM que estatildeo aleacutem do meu
foco de pesquisa mas satildeo relevantes para o entendimento do contexto
geral Algo que tambeacutem se refere a uma mirada sobre os Institutos
Federais como apresento a seguir
313 Os Institutos Federais de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia
Eacute importante lembrarmos que os atuais Institutos Federias tecircm
relaccedilatildeo com a educaccedilatildeo profissional Conforme Kuenzer (2006) a
poliacutetica de educaccedilatildeo profissional no Brasil teve iniacutecio com a criaccedilatildeo das
chamadas Escolas de Aprendizes Artiacutefices nas capitais do Brasil no ano
de 1909 pelo entatildeo presidente Nilo Peccedilanha A partir da deacutecada de
1930 a burguesia industrial crescente comeccedilaria a desenvolver um
projeto de fortalecimento do capitalismo nos grandes centros urbanos do
paiacutes Desse modo a autora afirma que agraves classes populares estaria
disponiacutevel uma formaccedilatildeo (praacutetica) necessaacuteria agrave manutenccedilatildeo de sua
condiccedilatildeo enquanto descendentes das elites teriam acesso agrave formaccedilatildeo
intelectual (propedecircutica)
Assim ldquo() desenvolveu-se uma rede de escolas de formaccedilatildeo
profissional em diferentes niacuteveis () com a finalidade de atender agraves
funccedilotildees instrumentais inerentes agraves atividades praacuteticas que decorriam da
crescente diferenciaccedilatildeo dos ramos profissionaisrdquo (KUENZER 2006 p
17) Sendo que ao longo do seacuteculo XX as escolas de formaccedilatildeo teacutecnica
se desenvolveram em paralelo a escolas de formaccedilatildeo propedecircutica com
vistas a atender diferentes demandas e classes Algo que Gramsci (1982)
jaacute criticava ao propor a escola unitaacuteria
Desde as Escolas de Aprendizes Artiacutefices a educaccedilatildeo
profissional passou por vaacuterias mudanccedilas que englobaram a formaccedilatildeo de
Liceus Industriais em 1937 Escolas Industriais e Teacutecnicas em 1942
Escolas Teacutecnicas Federais em 1959 Centros Federais de Educaccedilatildeo
Tecnoloacutegica (CEFET) iniciados em 1978 e retomados em 1999 ateacute
175
chegar aos atuais Institutos Federais de Educaccedilatildeo Ciecircncia e
Tecnologia131 criados em 2008 (OLIVEIRA 2015)
Os Institutos Federais como instituiccedilotildees de ensino puacuteblicas
ligadas ao Governo Federal foram inicialmente concebidos tendo em
vista o potencial jaacute instalado nos CEFET Escolas Teacutecnicas Federais
Agroteacutecnicas e vinculadas agraves Universidades Federais Eles fazem parte
da Rede Federal de Educaccedilatildeo Profissional Cientiacutefica e Tecnoloacutegica
Essa atua em todos os estados brasileiros e oferece cursos teacutecnicos
superiores de tecnologia licenciaturas mestrado e doutorado (IFRS
2015)
Satildeo instituiccedilotildees que visam oferecer cursos em educaccedilatildeo
profissional e tecnoloacutegica de modo a fortalecer os arranjos produtivos
sociais e culturais das localidades onde estatildeo instalados Nesse sentido
seus objetivos envolveriam (aleacutem da educaccedilatildeo profissional teacutecnica em
niacutevel meacutedio e para jovens e adultos) a formaccedilatildeo inicial e continuada de
trabalhadoresas a realizaccedilatildeo de pesquisas e o desenvolvimento de
atividades de extensatildeo articuladas com o mundo do trabalho e os
coletivos locais (IFRS 2015)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo em niacutevel superior e de poacutes-graduaccedilatildeo o
objetivo seria promover o estabelecimento de bases soacutelidas em
educaccedilatildeo ciecircncia e tecnologia tendo em vista processos de geraccedilatildeo e
inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (IFRS 2015) Tal formaccedilatildeo compreenderia os
cursos superiores de tecnologia (formaccedilatildeo de profissionais para os
diferentes setores da economia) as licenciaturas (formaccedilatildeo de
professoresas para a educaccedilatildeo baacutesica e para a educaccedilatildeo profissional) e
os bacharelados engenharias mestrados e doutorados (formaccedilatildeo de
especialistas nas diferentes aacutereas do conhecimento)
Tendo em vista a ecircnfase dos Institutos Federais na produccedilatildeo
desenvolvimento e divulgaccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos e
tecnoloacutegicos tambeacutem eacute seu objetivo ldquoestimular e apoiar processos
educativos que levem agrave geraccedilatildeo de trabalho e renda e agrave emancipaccedilatildeo do
cidadatildeo na perspectiva do desenvolvimento socioeconocircmico local e
regionalrdquo (IFRS 2015 sp) A Lei nordm 11892 de 29122008 que
instituiu a Rede Federal de Educaccedilatildeo Profissional Cientiacutefica e
131 A atual Rede Federal de Educaccedilatildeo Profissional Cientiacutefica e Tecnoloacutegica da
qual fazem parte os Institutos Federais teve um significativo desenvolvimento
na atualidade Entre os anos de 1909 e 2002 foram construiacutedas 140 escolas
teacutecnicas no paiacutes A expansatildeo dessa rede entre os anos de 2003 e 2015 contou
com a implantaccedilatildeo de 562 unidades que proporcionaratildeo a oferta de 600 mil
vagas (OLIVEIRA 2015)
176
Tecnoloacutegica e criou os Institutos Federais de Educaccedilatildeo Ciecircncia e
Tecnologia destaca que entre outras finalidades e caracteriacutesticas os
Institutos Federias devem
(i) ofertar educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica formando e
qualificando cidadatildeos com vistas na atuaccedilatildeo profissional nos diversos
setores da economia com ecircnfase no desenvolvimento socioeconocircmico
local regional e nacional (ii) desenvolver a educaccedilatildeo profissional e
tecnoloacutegica como processo educativo e investigativo de geraccedilatildeo e
adaptaccedilatildeo de soluccedilotildees teacutecnicas e tecnoloacutegicas agraves demandas sociais e
peculiaridades regionais e (iii) promover a produccedilatildeo o desenvolvimento
e a transferecircncia de tecnologias sociais (BRASIL 2008 grifo da autora)
Algo que em princiacutepio poderia levar a um distanciamento da
perspectiva de educaccedilatildeo profissional voltada agrave manutenccedilatildeo de interesses
de classes que seria desenvolvida historicamente no Brasil como
destacou Kuenzer (2006) E leva-me a reflexatildeo sobre o desenvolvimento
de TS entre as juventudes do IFRS como apresentarei adiante
No RS existem trecircs Institutos Federais quais sejam o Instituto
Federal Sul-riograndense (IFSul) o Instituto Federal Farroupilha
(IFFarroupilha) e o IFRS Esse uacuteltimo estaacute presente em 16 cidades de
diferentes regiotildees132 do RS Bento Gonccedilalves Canoas Caxias do Sul
Erechim Farroupilha Feliz Ibirubaacute Osoacuterio Porto Alegre (dois
Cacircmpus) Rio Grande Sertatildeo Alvorada133 Rolante Vacaria
Veranoacutepolis e Viamatildeo
Atualmente o IFRS registra cerca de 15 mil alunosas
matriculadosas em 180 opccedilotildees de cursos nas diferentes modalidades de
ensino disponiacuteveis Nele trabalham mais de 1600 profissionais (mais de
840 professoresas e 840 teacutecnicos-administrativos) sendo que quase
50 dosas servidoresas satildeo mestresas ou doutoresas Estaacute
classificado entre os dez maiores Institutos Federais do Brasil em
nuacutemero de alunosas e servidoresas (IFRS 2015)
O IFRS em consonacircncia com os Institutos Federais propotildee a
valorizaccedilatildeo da educaccedilatildeo em todos os niacuteveis e em termos curriculares
apresenta um arranjo educacional proposto a discutir possibilidades de
combinaccedilatildeo do ensino de Ciecircncias Naturais Humanidades e Educaccedilatildeo
Profissional e Tecnoloacutegica para o ensino meacutedio Tem como objetivos
oportunizar possibilidades de acesso agrave educaccedilatildeo gratuita e de qualidade
e fomentar o atendimento a demandas localizadas ldquocom atenccedilatildeo
132 Os Cacircmpus atuam em aacutereas distintas como agropecuaacuteria de serviccedilos aacuterea
industrial vitivinicultura turismo moda e outras (IFRS 2015) 133 Nessas uacuteltimas cinco cidades o IFRS estaacute em processo de implantaccedilatildeo
177
especial agraves camadas sociais que carecem de oportunidades de formaccedilatildeo
e de incentivo agrave inserccedilatildeo no mundo produtivordquo (IFRS 2015
sp) Assim seu foco estaria voltado agrave justiccedila social equidade
competitividade econocircmica e geraccedilatildeo de novas tecnologias
Dentro dessa poliacutetica destaco que osas alunosas possuem
acompanhamento pedagoacutegico psicoloacutegico e de estudos orientados
(possibilidade de estudo individualizado direto com oa professora)
Existem subsiacutedios financeiros de apoio agrave permanecircncia na escola
disponibilizados atraveacutes de auxiacutelio alimentaccedilatildeo auxiacutelio transporte e
auxiacutelio material escolar entre outros De modo que o IFRS e os
Institutos Federais de modo geral possui uma estrutura privilegiada em
relaccedilatildeo agrave maioria das instituiccedilotildees de ensino puacuteblicas municipais e
estaduais do Brasil
O IFRS foi pensado para ser um centro de excelecircncia do ensino
puacuteblico (IFRS 2015) Com isso busca conexatildeo com as induacutestrias locais
tendo em vista ldquoo compromisso de intervenccedilatildeo em suas respectivas
regiotildees identificando deficiecircncias no mercado de trabalho e criando
soluccedilotildees teacutecnicas e tecnoloacutegicas para o desenvolvimento sustentaacutevel
com inclusatildeo socialrdquo (IFRS 2015 sp) Nesse momento natildeo questiono
sobre como essa inclusatildeo seria entendida nos diversos Cacircmpus (em qual
modelo produtivo que perfil profissional para qual mercado e com que
tipo de tecnologia) nem sobre que accedilotildees efetivas estariam em curso
Antes destaco aspectos pontuais do IFRS de Caxias do Sul
314 O Cacircmpus do IFRS em Caxias do Sul
No ano de 2008 o entatildeo presidente da Repuacuteblica Luiz Inaacutecio
Lula da Silva anunciou que Caxias do Sul fora uma das cidades
contempladas com um Cacircmpus do IFRS Fato que atendeu agrave Chamada
Puacuteblica MECSETEC nordm 1 de 2007 de apoio agrave fase dois do plano134 de
expansatildeo da Rede Federal de Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica e fez parte da
iniciativa do Governo Federal de implantar 150 novas unidades da Rede
(IFRS 2015)
A contrapartida da Chamada Puacuteblica que citei acima seria a
doaccedilatildeo de uma aacuterea de terra em zona urbana (com dimensotildees miacutenimas
de 20 mil metros quadrados) agrave uniatildeo por parte da prefeitura da cidade O
que ocorreu no mecircs de dezembro do ano de 2008 quando a prefeitura de
134 O plano previa a instalaccedilatildeo de uma escola teacutecnica em cada cidade polo do
paiacutes Com a lei 11892 essas instituiccedilotildees passaram a integrar diferentes
Institutos Federais (IFRS 2015)
178
Caxias do Sul designou uma aacuterea de 30 mil metros quadrados no
Faacutetima para a construccedilatildeo da escola (IFRS 2015) A intenccedilatildeo seria
dispor de um local no qual o IFRS tivesse possibilidades de impactar de
maneira socialmente positiva na comunidade local Algo que destaquei
anteriormente ao comentar sobre a escolha estrateacutegica do Faacutetima
Os Institutos Federais do RS tecircm uma poliacutetica de definir por meio
de audiecircncias puacuteblicas com representantes da sociedade os novos cursos
que seratildeo ofertados nas suas unidades Nesse sentido no iniacutecio do ano
de 2009 representantes de diversos sindicatos (patronais e de
trabalhadores) empresas instituiccedilotildees de ensino poder puacuteblico
(municipal estadual e federal) e ONGs reuniram-se de modo que foram
definidas as seguintes ofertas quatro cursos superiores (Tecnologia em
Metalurgia Tecnologia em Logiacutestica Licenciatura em Quiacutemica e
Licenciatura em Matemaacutetica) e cinco cursos teacutecnicos (Plaacutesticos
Quiacutemica Mecacircnica Cozinha e Comeacutercio) (IFRS 2015)
Junto a isso foi definido o projeto de construccedilatildeo das instalaccedilotildees
prediais do Cacircmpus e a execuccedilatildeo da obra comeccedilou jaacute no mecircs de
fevereiro do ano de 2009 No ano de 2010 a escola iniciou suas
atividades mas ainda em uma sede provisoacuteria localizada no bairro
Floresta Foi apenas no iniacutecio do ano de 2014 que a sede proacutepria e
definitiva (com um espaccedilo de mais de 7 mil metros quadrados de aacuterea
construiacuteda) foi ocupada (IFRS 2015)
O Cacircmpus de Caxias do Sul estaacute em processo de expansatildeo Ateacute o
ano de 2015 estavam em funcionamento 14 salas de aula dois
laboratoacuterios de informaacutetica trecircs laboratoacuterios de quiacutemica laboratoacuterios de
liacutenguas matemaacutetica fiacutesica biologia ensaios mecacircnicos
instrumentaccedilatildeo tratamentos teacutermicos metalografia preparaccedilatildeo
mecacircnica fundiccedilatildeo e conformaccedilatildeo laboratoacuterio de corte soldas e
usinagem de processos e fabricaccedilatildeo mecacircnica caracterizaccedilatildeo e
processos de transformaccedilatildeo de poliacutemeros hidraacuteulica e pneumaacutetica aleacutem
de biblioteca cantina salas de convivecircncia e sala de professoresas
(IFRS 2015) Aleacutem disso osas alunosas contam com apoio
especializado de profissionais em assistecircncia social psicologia e
pedagogia
No ano de 2015 foram ofertados os seguintes cursos
Niacutevel meacutedio teacutecnico e profissionalizante em Plaacutesticos Quiacutemica e
Fabricaccedilatildeo Mecacircnica (em dois turnos diurnos) aleacutem do Curso Teacutecnico
em Administraccedilatildeo Integrado ao Ensino Meacutedio na modalidade PROEJA
(Programa Nacional de Integraccedilatildeo da Educaccedilatildeo Profissional com a
Educaccedilatildeo Baacutesica na Modalidade de Jovens e Adultos) no turno noturno
Modalidade Subsequente Teacutecnico em Plaacutesticos (turno noturno)
179
Graduaccedilatildeo Licenciatura em Matemaacutetica (turno diurno e noturno)
e Tecnoacutelogo em Processos Metaluacutergicos (turno diurno e noturno)
Poacutes-Graduaccedilatildeo Mestrado Profissional em Tecnologia e
Engenharia de Materiais135
A relaccedilatildeo entre o nuacutemero de vagas oferecidas (330) e a procura
de estudantes por essas vagas para o ano de 2015 no Cacircmpus de Caxias
do Sul pode ser vista no quadro 13 abaixo Nele eacute possiacutevel verificar a
existecircncia de cursos com pouca procura o que levou a direccedilatildeo da escola
a propor medidas de publicidade sobre a oferta de vagas na instituiccedilatildeo
no ano de 2015
Quadro 13 - Relaccedilatildeo de candidatosas por vagas
Fonte (IFRS 2015)
No graacutefico 8 abaixo estatildeo disponiacuteveis os percentuais de
estudantes em cada curso Como jaacute referi o Cacircmpus ofereceu 330 vagas
nas modalidades meacutedio PROEJA subsequente e graduaccedilatildeo136 No ano
de 2015 havia 840 estudantes matriculadosas incluindo todas as
modalidades de ensino A previsatildeo eacute de que novos cursos superiores
sejam ofertados e que 14 mil estudantes estejam matriculados no IFRS
de Caxias do Sul no ano de 2016 (IFRS 2015)
135 Aleacutem de Caxias do Sul suas aulas satildeo ofertadas em Cacircmpus de mais duas
cidades da regiatildeo Farroupilha e Feliz 136 Conforme o que estaacute previsto no artigo 8o da Lei nordm 11892 ou seja que os
Institutos Federais garantam o miacutenimo de 50 de suas vagas para educaccedilatildeo
profissional teacutecnica de niacutevel meacutedio prioritariamente na forma de cursos
integrados para osas concluintes do ensino fundamental e para o puacuteblico da
educaccedilatildeo de jovens e adultos e o miacutenimo de 20 de suas vagas para educaccedilatildeo
superior em cursos de licenciatura bem como programas especiais de formaccedilatildeo
pedagoacutegica com vistas agrave formaccedilatildeo de professoresas para a educaccedilatildeo baacutesica
sobretudo nas aacutereas de ciecircncias e matemaacutetica e para a educaccedilatildeo profissional
(BRASIL 2008)
180
Graacutefico 8 - Concentraccedilatildeo de estudantes por curso no ano de 2015
Fonte Assistecircncia estudantil do IFRSCaxias do Sul
Para a elaboraccedilatildeo do graacutefico 8 osas estudantes do mestrado
ainda natildeo haviam sido contabilizadosas pois as aulas na poacutes-graduaccedilatildeo
iniciaram em meados do ano de 2015 No graacutefico acima podemos
verificar que mais de 60 da ocupaccedilatildeo de vagas estaacute no niacutevel meacutedio
Esse dado se relaciona com o graacutefico 9 abaixo que indica a idade
dosas estudantes
181
Graacutefico 9 - Idade dosas estudantes no ano de 2015
Fonte Assistecircncia estudantil do IFRSCaxias do Sul
Podemos verificar que em sua maioria satildeo menores de 18 anos
Osas estudantes dos CTIEM que satildeo os sujeitos da minha pesquisa
tecircm entre 14 e 18 anos (maioria entre 15 e 16 anos) como jaacute referi
anteriormente Outros aspectos sobre o Cacircmpus e osas estudantes
tambeacutem satildeo considerados na segunda e na terceira parte deste capiacutetulo
quando analiso as atividades em relaccedilatildeo ao desenvolvimento de TS
Antes disso e para finalizar essa parte destaco alguns pontos do
Projeto Poliacutetico Institucional (PPI) e dos Projetos Pedagoacutegicos dos
Cursos (PPCs) do IFRS de Caxias do Sul que podem ajudar a compor o
contexto geral (geofiacutesico poliacutetico institucional e pedagoacutegico) de minha
pesquisa
Conforme descrito no PPC do curso de Fabricaccedilatildeo Mecacircnica
(mas que eacute similar ao dos outros dois cursos) o IFRS tem seu PPI
pautado em diretrizes pedagoacutegicas que concebem a educaccedilatildeo como
um processo complexo e dialeacutetico uma praacutetica
contra hegemocircnica que envolve a transformaccedilatildeo
humana na direccedilatildeo do seu desenvolvimento pleno
Ela deve ser emancipatoacuteria ou seja possibilitar a
construccedilatildeo de conhecimentos de forma
significativa e que possa ponderar o educando
para sua inserccedilatildeo no mundo do trabalho ()
compreendida como acessiacutevel e inclusiva voltada
para todos os sujeitos independente de gecircnero
etnia classe social ou outra relaccedilatildeo qualquer
(IFRS 2013 p 13-14)
182
Aleacutem disso ainda eacute destacado que todosas aquelesas
servidoresas que fazem parte da instituiccedilatildeo podem ser sujeitos
transformadores da realidade Concepccedilotildees que compreendo como
relacionadas com a perspectiva politeacutecnica na qual me filio conforme
apontei na primeira parte desta tese E que de maneira mais geral
tambeacutem estatildeo presentes tanto em Meacuteszaacuteros (2008) e sua reivindicaccedilatildeo a
favor de uma educaccedilatildeo plena quanto em Freire (1987 2011) e seu
posicionamento em relaccedilatildeo a formaccedilatildeo de consciecircncia criacutetica dosas
educandosas
Outro aspecto do PPC que vai ao encontro de minhas
perspectivas teoacutericas diz respeito a premissa137 do trabalho assumido
como princiacutepio educativo O PPC destaca que as relaccedilotildees entre trabalho
ciecircncia tecnologia e cultura satildeo indissociaacuteveis Algo bem visiacutevel em
Gramsci (1982) Portanto o IFRS deveria ldquogarantir as competecircncias e
habilidades na formaccedilatildeo apresentada baseando-se em princiacutepios eacuteticos
poliacuteticos e pedagoacutegicos que buscam articular tecnologia e humanismordquo
(IFRS 2013 p 15) E tal formaccedilatildeo estaria baseada em uma metodologia
interdisciplinar fundamentada em referenciais de uma educaccedilatildeo
emancipatoacuteria
Compreendo que os princiacutepios apresentados no PPI e no PPC do
IFRS sinalizam positivamente para uma concepccedilatildeo politeacutecnica da
educaccedilatildeo com vistas agrave emancipaccedilatildeo dos sujeitos Algo que estaacute de
acordo com minhas posiccedilotildees sobre a temaacutetica educacional Entretanto
questiono-me se mesmo dentro dessa perspectiva poliacutetico-pedagoacutegica o
IFRS de Caxias do Sul tem rompido com a loacutegica dualista entre
formaccedilatildeo teacutecnica e propedecircutica historicamente desenvolvida no Brasil
e se tem proporcionado ldquoproduccedilatildeo desenvolvimento e transferecircncia de
tecnologias sociaisrdquo conforme indicado legalmente (BRASIL 2008
sp)
Essas satildeo questotildees que em alguma medida podem ir aleacutem do
que pretendo nesta tese mas que fazem parte da cultura escolar e podem
ter influecircncia na minha pesquisa Portanto elas acompanham as anaacutelises
que apresento a seguir
137 Premissa fundamentada no Documento Base da Educaccedilatildeo Profissional
Teacutecnica de Niacutevel Meacutedio Integrado ao Ensino Meacutedio (BRASIL 2007)
183
32 SENTIDOS SOBRE TECNOLOGIA
Conforme jaacute referi durante o texto a realizaccedilatildeo da pesquisa desta
tese envolveu a elaboraccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo de um roteiro didaacutetico e de um
questionaacuterio na temaacutetica socioteacutecnica Esclareccedilo que o roteiro tem base
no meu plano de ensino (disponiacutevel no Anexo B) e no planejamento de
ensino do IFRS Portanto ele comtempla os objetivos de ensino-
aprendizagem em relaccedilatildeo agrave componente curricular de Sociologia e natildeo
necessaacuteria e estritamente os meus objetivos de pesquisa embora eles
guardem intersecccedilotildees importantes
Assim o roteiro se constituiu como uma espeacutecie de guia que
colaborou com a organizaccedilatildeo da coleta dos dados e por isso o exploro
com detalhes ao longo das anaacutelises Natildeo eacute minha intenccedilatildeo fazer um
levantamento quantitativo acerca de percepccedilotildees sobre tecnologia
baseado no questionaacuterio como explicitarei adiante Ele foi construiacutedo
para levantar questotildees e mediar discussotildees (desnaturalizar e estranhar)
embora seus resultados sejam contemplados nas anaacutelises em alguma
medida
Iniciarei as anaacutelises com a apresentaccedilatildeo de alguns dados sobre
osas estudantes que efetivamente participaram da pesquisa Depois
apresento sentidos sobre tecnologias de acordo com as respostas agrave
pergunta inicial e no final desse toacutepico apresento alguns sentidos sobre
tecnologia que se referem ao questionaacuterio
Natildeo eacute possiacutevel nesse momento caracterizar as identidades
poliacuteticas de gecircnero religiosas e eacutetnico-raciais de modo mais marcado
nessas juventudes No entanto apresento a seguir informaccedilotildees sobre
sexo autodeclaraccedilatildeo eacutetnico-racial e histoacuteria escolar que mesmo que
gerais podem ajudar a ilustrar as juventudes com as quais interagi
Aspectos mais especiacuteficos dessesas jovens seratildeo abordados no proacuteximo
toacutepico na anaacutelise das TS desenvolvidas
O periacuteodo de realizaccedilatildeo da pesquisa contou com oito aulas na
disciplina de Sociologia realizadas no terceiro trimestre escolar entre
os meses de outubro e dezembro do ano de 2015 Estiveram envolvidos
todos os primeiros anos dos CTIEM nos turnos da manhatilde e da tarde
totalizando seis turmas (uma turma de cada um dos trecircs cursos em cada
turno)138 e 149 estudantes conforme pode ser visto na tabela 5 abaixo
138 Lembro que existem os cursos de Quiacutemica Plaacutesticos e Fabricaccedilatildeo Mecacircnica
disponiacuteveis ou em periacuteodo matutino ou vespertino
184
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo de alunosas por curso turno e sexo que participaram da
pesquisa
Cursoturno Feminino Masculino Total
TFMManhatilde 02 23 25
TFMTarde 05 16 21
TPManhatilde 15 07 22
TPTarde 20 08 28
TQManhatilde 08 18 26
TQTarde 18 09 27
Total 68 81 149
Fonte Elaboraccedilatildeo da autora
A tabela 5 acima mostra que 46 das estudantes que
participaram da pesquisa eram meninas enquanto os meninos
representaram um percentual levemente maior com 54 de
participaccedilatildeo Algo que segue o quadro geral dos cursos com leve
preponderacircncia do percentual masculino como jaacute mostrei na tabela 1
Em relaccedilatildeo a questotildees eacutetnico-raciais dessesas jovens osas
envolvidosas com a pesquisa seguem a amostragem do graacutefico 10
abaixo no qual a maioria das autodeclaraccedilotildees139 satildeo quanto a categoria
(do IBGE) ldquobrancordquo
139 Desde o ano de 2013 o IFRS destina 50 de suas vagas para estudantes
vindosas de escolas puacuteblicas e destas reserva vagas para pretos pardos e
indiacutegenas em proporccedilatildeo no miacutenimo igual agrave de pretos pardos e indiacutegenas na
populaccedilatildeo da Unidade da Federaccedilatildeo onde estaacute instalada a instituiccedilatildeo de acordo
com os dados do IBGE
185
Graacutefico 10 - Autodeclaraccedilatildeo eacutetnico-racial entre estudantes do IFRS
Fonte Assistecircncia estudantil do IFRSCaxias do Sul
Essa maioria de estudantes autodeclaradosas na categoria
ldquobrancosrdquo se relaciona com dados de amostragem eacutetnico-racial do IBGE
para a cidade de Caxias do Sul Em relaccedilatildeo a escolas de origem
dessesas estudantes eacute possiacutevel verificar que a maioria cursou o ensino
fundamental integralmente em escolas puacuteblicas conforme o graacutefico 11
abaixo
Graacutefico 11 - Histoacuteria escolar entre estudantes do IFRS
Fonte Assistecircncia estudantil do IFRSCaxias do Sul
Embora os dados do graacutefico 11 englobem todos os cursos da
escola ele representa significativamente a origem escolar dosas
estudantes da pesquisa Que satildeo de modo geral em sua maioria vindos
186
de escolas puacuteblicas (o que pode ser um indicativo de renda no Brasil) na
sua maior parte satildeo moradoresas de fora do bairro Faacutetima satildeo
autodeclaradosas ldquobrancosrdquo (como a maioria da populaccedilatildeo da regiatildeo) e
em nuacutemero quase igual entre meninas (46) e meninos (54)
Com esse quadro em mente (mas sem esquecer as especificidades
relacionadas a essesas estudantes) podemos examinar como a pesquisa
aconteceu tendo em vista o roteiro didaacutetico previsto que estaacute disponiacutevel
no Apecircndice E
321 Anaacutelise da questatildeo inicial
Na primeira aula com as turmas retomei os trecircs temas que
haviam sido desenvolvidos na primeira parte do trimestre (ideologia
miacutedias e consumo) e propus que osas alunosas pensassem em possiacuteveis
relaccedilotildees com tecnologias pois esse seria o proacuteximo tema (elesas tinham
o cronograma das aulas com essas informaccedilotildees) Em um segundo
momento dessa aula expliquei que durante o desenvolvimento da
segunda parte do trimestre eu realizaria uma pesquisa para o meu
doutorado Apresentei informaccedilotildees sobre essa atividade forneci e fiz a
leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e
entreguei a todosas uma folha de papel em branco para que
expressassem o que pensavam sobre tecnologia sem necessidade de
identificaccedilatildeo e com devoluccedilatildeo para mim no final do periacuteodo
A pergunta feita foi O que eacute tecnologia para vocecirc Esse
momento visava verificar que sentidos sobre tecnologia emergiriam
espontaneamente140 dessa espeacutecie de chuva de ideias Essa praacutetica jaacute era
recorrente nos iniacutecios de um novo tema para discussatildeo e minha intenccedilatildeo
foi mobilizar para que elesas pudessem se expressar criativamente com
possibilidades de debates entre si e sem preocupaccedilatildeo com respostas
corretas ou incorretas Minha atenccedilatildeo tambeacutem estava voltada a
possibilidades de abertura de espaccedilos de dizer (GIRALDI 2010)
Organizei as respostas agrave questatildeo inicial tendo em vista as quatro
perspectivas sobre os relacionamentos entre tecnologia e sociedade
propostos por Feenberg (2003)141 determinismo instrumentalismo
140 Destaco que osas estudantes satildeo proibidosas pela direccedilatildeo da escola de
utilizar qualquer tipo de aparelho celular e de acessar a internet nas salas de
aula 141 Domingues (2010) realizou anaacutelise semelhante baseada nas perspectivas
apontadas por Feenberg (2003) a partir de respostas de empreendedores de
187
substantivismo e teoria criacutetica conforme indiquei no quadro 3
Esclareccedilo que ao considerar as categorias apontadas pelo autor natildeo
tenho intenccedilatildeo de encaixar essas primeiras declaraccedilotildees dosas estudantes
nesse quadro de modo fechado Mesmo com a atenccedilatildeo voltada a
sentidos deterministas sobre tecnologia minha ideia envolve examinar
relaccedilotildees entre tecnologia e sociedade segundo visotildees dessas juventudes
de modo mais dinacircmico tendo os paracircmetros de neutralidadenatildeo
neutralidade e autonomianatildeo autonomia da tecnologia como
aproximaccedilotildees
A seguir apresento quatro conjuntos de respostas com as
referecircncias que as fazem pertencer a cada grupo (palavras e expressotildees
que as categorizam em uma das quatro perspectivas) Essas referecircncias
foram construiacutedas tendo em vista a separaccedilatildeo que fiz por turmas
Analisei as respostas de cada turma separadamente (embora eu as
apresente sem fazer essa distinccedilatildeo) e com atenccedilatildeo aos seus contextos
Esse cuidado foi necessaacuterio pois cada uma das turmas tinha suas
especificidades e algumas vezes certas palavras de referecircncia
significavam de modos diferentes de acordo com as histoacuterias escolares
daquelesas estudantes dos preconceitos que circulavam no interior de
cada curso de suas expectativas em relaccedilatildeo ao mundomercado de
trabalho e de nossas vivecircncias nas aulas de Sociologia Os conjuntos
estatildeo dispostos desde o que concentrou o maior nuacutemero de referecircncias
ateacute o que menos as apresentou
Esclareccedilo que algumas respostas faziam referecircncia a mais de uma
perspectiva ao mesmo tempo Nesses casos busquei a perspectiva que
mais se destacava dentro das especificidades que citei acima Em geral
as respostas foram curtas a maioria com frases pequenas e muitas com
apenas uma ou duas palavras
No primeiro conjunto (determinismo tecnologia autocircnoma e
neutra) concentrei 84 respostas que se aproximavam de referecircncias com
ideias sobre avanccedilo progresso inovaccedilatildeo e invenccedilatildeo sem que os
sujeitos aparecessem necessariamente relacionados Algumas respostas
142
ldquoEacute aquilo que dita o estilo de vida das pessoas atualmenterdquo
incubadoras tecnoloacutegicas universitaacuterias sobre relaccedilotildees entre tecnologia e
sociedade 142 A partir de agora utilizo itaacutelico e aspas para transcrever passagens das
respostas dosas alunosas
188
ldquoVivemos na era da evoluccedilatildeo da tecnologia e ela evolui e nos
leva para evoluir tambeacutemrdquo
ldquoOs bens materiais satildeo um exemplo eles mudam assim as pessoas tambeacutem mudam para se adaptar a essas mudanccedilasrdquo
ldquoComo novos produtos se criamrdquo
ldquoPara mim tecnologia eacute inovaccedilotildees desde uma coisa mais simples ateacute mais complexas mudando seu jeito de viver e de convivecircncia com os
que estatildeo no redorrdquo
O segundo bloco (instrumentalismo tecnologia controlaacutevel e
neutra) com 44 respostas concentrou sentidos mais positivos
(tecnoacutefilos) sobre tecnologia e com aproximaccedilatildeo de referecircncias com
ideias sobre utilidade ferramentas instrumentos ou artefatos
construiacutedos para realizar tarefas atendimento a necessidades humanas e
com sujeitos envolvidos em accedilotildees Algumas respostas
ldquoAlgo que facilitamelhora nossa vidardquo
ldquoQuando aplicamos o que sabemos para fazer ferramentas que
nos ajudamrdquo
ldquoTudo que inventamos para nos ajudarrdquo
ldquoEacute o melhor entretenimento dos jovens atualmenterdquo
O terceiro conjunto de respostas (substantivismo tecnologia com
valores e autocircnoma) concentrou 10 respostas aproximadas a sentidos
mais negativos (tecnofoacutebicos) sobre tecnologia com referecircncias a deias
sobre dominaccedilatildeo da vida humana falta de controle sobre a tecnologia e
impossibilidades de escolha Algumas respostas
ldquoAs novas tecnologias fazem a gente querer os novos produtos
produzidos aumentando nosso consumo e desperdiacuteciordquo
ldquoEacute uma rede universal que controla quase todo o planeta () de
tatildeo importante que eacute ela estaacute mais para um estado de espiacuterito globalrdquo ldquoSatildeo as coisas que estatildeo nos dominandordquo
ldquoEacute um dos principais fatores para o consumismordquo
No quarto bloco (teoria criacutetica tecnologia com valores e
controlaacutevel) concentrei seis respostas com referecircncias aproximadas a
possibilidades de escolha dos sujeitos sobre a tecnologia
desenvolvimento da tecnologia relacionado com seu contexto e
consciecircncia da responsabilidade sobre o que eacute desenvolvido Algumas
respostas
189
ldquoO conceito de tecnologia varia de acordo com o tempordquo
ldquoAcredito que eacute importante usa-la com consciecircncia e preparaccedilatildeo necessaacuteria para tal accedilatildeordquo
ldquoA tecnologia existe pois haacute dinheiro e pessoas que possuem
capacidade mental ou seja se natildeo houver pessoas mentalmente desenvolvidas e economicamente bem desenvolvidas natildeo seraacute possiacutevel
obter tecnologiasrdquo ldquoMuitas vezes natildeo sabemos usa-la e ela vira uma arma em
nossas matildeosrdquo
Contudo para cinco respostas natildeo foi possiacutevel uma aproximaccedilatildeo
a um quadro de referecircncias que eu pudesse operacionalizar Escaparam-
me as possibilidades de filiaacute-las ao que Giraldi (2010) chama de rede de
sentidos Satildeo casos de repostas com possibilidades de sentidos para
interpretaccedilatildeo (polissemia) e de filiaccedilotildees que eu natildeo consegui apreender
Como por exemplo ldquonintendordquo ldquoa cabeccedila do Gabrielrdquo e ldquo() mas e
uma arvore Soacute porque natildeo foi o homem que a criou ela natildeo eacute
tecnologia Francamente ela eacute porque foi feita com o intuito de fazer
fotossiacutentese e produzir oxigecircnio e aleacutem disso sem elas seria quase
impossiacutevel a nossa existecircnciardquo Penso que eu poderia fazer uma aproximaccedilatildeo a referecircncias mais
instrumentais dessas respostas Nintendo seria uma ferramenta para
entretenimento o Gabriel poderia ter sido comparado agrave inteligecircncia de
um computador por exemplo Natildeo ignoro a existecircncia de polissemia
Portanto optei por deixaacute-las abertas a interpretaccedilotildees e diferentes
possibilidades de filiaccedilatildeo de sentidos sem relacionaacute-las diretamente com
o meu quadro de referecircncias e com cuidado para natildeo as silenciar
Minha impressatildeo geral e inicial de um sentido determinista sobre
tecnologia entre as juventudes dos CTIEM emergiu de maneira
destacada na maioria das respostas Do mesmo modo uma perspectiva
instrumental tambeacutem foi representativa Penso que a resposta que um
aluno forneceu em forma de desenho representa esses sentidos sobre
tecnologia
A fotografia 1 que exponho abaixo pode ser relacionada com as
perspectivas de Feenberg (1991 2002 2003) sobre determinismo
tecnoloacutegico na medida em que eacute possiacutevel fazer uma leitura acerca de um
progresso teacutecnico que percorreria niacuteveis do mais simples ateacute um mais
complexo O desenvolvimento dos artefatos seguiria uma linearidade de
etapas necessaacuterias e cada etapa desse desenvolvimento possibilitaria a
proacutexima sem ramificaccedilotildees ou desvios fora da linha principal
190
Fotografia 1 - Exemplo de resposta agrave pergunta inicial
Fonte Elaboraccedilatildeo da autora a partir de resposta de estudante
Com isso podemos refletir sobre as possibilidades de inserir os
sujeitos na representaccedilatildeo que o aluno fez no desenho acima de modo a
transformar percepccedilotildees focadas na tecnologia em visotildees mais criacuteticas
sobre relaccedilotildees CTS O combate agrave ideia de tecnologia isenta de valores
parece-me ser um caminho profiacutecuo (necessaacuterio embora natildeo suficiente)
e algo que possa ser desenvolvido desde uma perspectiva criacutetica de TS
322 Anaacutelise dos questionaacuterios
Na segunda aula com a continuidade de discussotildees sobre
tecnologia apliquei o questionaacuterio com 18 questotildees e muacuteltiplas escolhas
de respostas (entre cinco e oito) para cada uma aleacutem do espaccedilo aberto
para respostas natildeo previstas conforme estaacute disponiacutevel no Apecircndice D
A atividade ocupou todo o tempo do periacuteodo mas a elaboraccedilatildeo de um
questionaacuterio longo foi proposital
Conforme eu indiquei na introduccedilatildeo desta tese sigo a perspectiva
de Thiollent (1985) e minha opccedilatildeo metodoloacutegica foi adotar a teacutecnica de
pesquisa de intervenccedilatildeo socioloacutegica Nesse sentido meu questionaacuterio eacute
modestamente inspirado na Enquete Operaacuteria de 1880 elaborada e
aplicada por Marx a trabalhadoresas na Franccedila (THIOLLENT 1985)
Minha inspiraccedilatildeo nessa praacutexis vai no sentido de que antes de ser um
levantamento de dados o proacuteprio questionaacuterio visa levar a problematizar
relaccedilotildees nas quais os sujeitos estatildeo inseridos e que ainda natildeo foram
refletidas dessa forma
Portanto o questionaacuterio natildeo foi aqui proposto como um
instrumento de coleta de dados para anaacutelises quantitativas de modo
estrito Tampouco para avaliar atitudes frente a relaccedilotildees CTS agrave moda
dos VOSTS (sigla em inglecircs para Views On Science-Techology-Society
ndash visotildees sobre Ciecircncia-Tecnologia-Sociedade) canadenses ou dos
COCTS (sigla em espanhol para Cuestionario de Opiniones de Ciencia
Tecnologiacutea y Sociedad ndash questionaacuterio de opiniotildees sobre Ciecircncia
Tecnologia e Sociedade) espanhoacuteis (CUNHA SILVA 2009)
191
O questionaacuterio foi pensado dentro dos princiacutepios socioloacutegicos de
desnaturalizaccedilatildeo e estranhamento A ideia foi apresentar questotildees
(algumas dilemaacuteticas) que natildeo seriam avaliadas dentro dos paracircmetros
de correccedilatildeo ou incorreccedilatildeo mas que causassem inquietaccedilatildeo e
mobilizassem para a problematizaccedilatildeo A intenccedilatildeo de Marx era a de que
ao lerem as questotildees de sua enquete osas trabalhadoresas refletissem
sobre suas condiccedilotildees de trabalho (THIOLLENT 1985) A discussatildeo do
questionaacuterio nas aulas dos CTIEM teve esse mesmo sentido de
mobilizaccedilatildeo para (mais) consciecircncia criacutetica (FREIRE 1983)
Contudo a proposta natildeo estaacute baseada em accedilotildees de causa e efeito
(identificar um problema aplicar um meacutetodo e avaliar a soluccedilatildeo) e de
classificaccedilatildeo dosas estudantes entre deterministas e natildeo deterministas
por exemplo A intenccedilatildeo foi refletir contextualmente sobre os modos
pelos quais essas juventudes dos CTIEM se posicionam ao serem
apresentadas formalmente a discussotildees CTS Assim discuto respostas
dadas a trecircs questotildees (07 11 e 12) que faziam referecircncia a autonomia e
neutralidade da tecnologia
A partir da questatildeo de nordm 07 seria possiacutevel refletir sobre
possibilidades de sujeitos natildeo especialistas tomarem parte em decisotildees
sobre o desenvolvimento tecnoloacutegico As respostas ficaram
basicamente divididas entre um posicionamento que entenderia o
desenvolvimento tecnoloacutegico como algo independente das accedilotildees dos
sujeitos (aproximadamente 42) e um posicionamento que
compreenderia que em alguma medida os sujeitos estariam envolvidos
com o desenvolvimento tecnoloacutegico (48)
Nas questotildees de nordm 11 e 12 seria possiacutevel ponderar sobre
contextos valores e sentimentos envolvidos com o desenvolvimento
tecnoloacutegico De modo geral verifiquei que a maioria dosas estudantes
(87) compreende que lugares eacutepocas interesses valores e intenccedilotildees
dos sujeitos estatildeo relacionados com o desenvolvimento tecnoloacutegico
Com isso questionei-me se a tese da neutralidade seria mais faacutecil de ser
problematizada
Penso que os questionamentos e duacutevidas acerca de possibilidades
de participaccedilatildeo nos proacuteximos passos que algum desenvolvimento
tecnoloacutegico seguiraacute satildeo maiores do que a visualizaccedilatildeo de que o
desenvolvimento de tecnologias pode carregar valores culturais Minha
percepccedilatildeo vem de algumas reflexotildees sobre muitas respostas de
estudantes agrave questatildeo inicial com referecircncias agrave tecnologia como
ldquoaplicativos para facilitar nossa vidardquo
Dentro de um grande quadro de interpretaccedilotildees provaacuteveis indico
uma possibilidade de anaacutelise baseada na verificaccedilatildeo de que osas
192
estudantes tecircm uma referecircncia de tecnologia nos aplicativos de celulares
e smartphones Assim esses aplicativos que satildeo vistos de modo
positivo atendem a suas necessidades e por isso estatildeo relacionados a
seus sentimentos valores e expectativas Poreacutem compreendo que
essesas estudantes como usuaacuteriosas natildeo visualizem tantas
probabilidades de desenvolverem aplicativos ou de decidirem como e
quando eles poderiam ser atualizados por exemplo No limite a posiccedilatildeo
de usuaacuterioa estaria relacionada a perspectivas de menores
possibilidades de escolhas e participaccedilatildeo em processos de
desenvolvimento tecnoloacutegico
Esclareccedilo que compreendo que embora eu ainda natildeo tivesse
apresentado o texto de apoio e um posicionamento CTS nessas questotildees
algunsmas estudantes podem ter antecipado em alguma medida
respostas que entenderiam como mais apropriadas agrave aula de Sociologia
na qual a situaccedilatildeo soacutecio-histoacuterica dos sujeitos sempre foi discutida
De qualquer maneira entendo que o questionaacuterio mobilizou para
debates e busca de posicionamentos Verifiquei que osas alunosas
transitaram desde uma preocupaccedilatildeo em saber se o questionaacuterio ldquocairia
na provardquo ateacute a solicitaccedilatildeo de ldquomudar a respostardquo que havia sido dada agrave
questatildeo inicial da aula anterior Com isso possiacuteveis contradiccedilotildees entre
posicionamentos na questatildeo inicial e respostas ao questionaacuterio satildeo aqui
compreendidas dentro do processo geral de problematizaccedilatildeo da temaacutetica
socioteacutecnica
A seguir apresento os proacuteximos passos dentro do roteiro didaacutetico
que chegam ateacute o desenvolvimento TS
33 AUTORIA E TECNOLOGIAS SOCIAIS
Apoacutes as duas primeiras aulas que envolveram respostas agrave questatildeo
inicial e ao questionaacuterio iniciamos a terceira aula com a retomada de
discussotildees sobre alguns toacutepicos deste uacuteltimo A partir disso iniciei uma
exposiccedilatildeo dialogada sobre tecnologia do ponto de vista de estudos em
Educaccedilatildeo CTS latino-americanos Fizemos a leitura de um texto de
apoio sobre tecnologia e TS de minha autoria (disponiacutevel no Apecircndice
F) e assistimos a um audiovisual de cinco minutos chamado ldquoO que eacute
tecnologia afinalrdquo disponiacutevel em
lthttpwwwyoutubecomwatchv=eFqXjF4KNxAampfeature=rel
atedgt
A figura 6 abaixo eacute um exemplo de informaccedilatildeo que mediou as
discussotildees desse momento e que esteve disponiacutevel nos slides
apresentados durante as aulas Destaco que nesse processo busquei
193
articular minha perspectiva sobre educaccedilatildeo (politecnia) dentro do
quadro geral da ECT (nas implicaccedilotildees sociais da tecnologia na
educaccedilatildeo) bem como da Educaccedilatildeo CTS Assim a ideia foi ilustrar
como podemos pensar nas tecnologias como desenvolvimento soacutecio-
histoacuterico e contextual
Figura 6 - Construccedilatildeo social das tecnologias
Fonte Elaboraccedilatildeo da autora
Na 4ordf aula foram retomadas as discussotildees sobre tecnologias com
inserccedilatildeo do termo ldquosocioteacutecnicordquo para fazer referecircncia agraves relaccedilotildees
apresentadas na terceira aula Com os recursos de leitura e debates sobre
o texto disponibilizado no encontro anterior o primeiro momento da
aula envolveu uma problematizaccedilatildeo do determinismo tecnoloacutegico e na
segunda etapa discutimos sobre TS As figuras 7 8 e 4 abaixo ficaram
disponiacuteveis nos slides durante a aula e ilustraram os debates propostos
para esse momento
194
Figura 7 - Determinismo tecnoloacutegico 01
Fonte Google imagens
Figura 8 - Determinismo tecnoloacutegico 02
Fonte Montagem da autora a partir de imagem disponiacutevel no Google imagens
195
Figura 4 - Esquema sobre caracteriacutesticas das TS
Fonte Elaboraccedilatildeo da autora
As aulas de nuacutemero 5 e 6 foram realizadas no laboratoacuterio de
informaacutetica da escola Na 5ordf aula retomei a temaacutetica socioteacutecnica incluiacute
uma perspectiva de autoria nos debates e forneci informaccedilotildees sobre a
tarefa final de elaboraccedilatildeo de um projeto sobre TS para resolver um
problema socioteacutecnico relevante no quotidiano dosas alunosas No
segundo momento da aula houve a divisatildeo dosas estudantes em grupos
de livre escolha para a realizaccedilatildeo da tarefa final e o iniacutecio das pesquisas
para executaacute-la
Na 6ordf aula prosseguimos com as pesquisas orientadas no
laboratoacuterio de informaacutetica Imagens dos slides e textos ficaram agrave
disposiccedilatildeo para consulta Ressaltei novamente o aspecto autoral da
atividade com criatividade e originalidade na construccedilatildeo e resoluccedilatildeo do
problema socioteacutecnico levantado
Nesse sentido retomo a advertecircncia de Gramsci (1982) para
quem uma educaccedilatildeo integral e com o domiacutenio intelectual da teacutecnica se
relacionava com o desenvolvimento da criatividade Sendo esta uacuteltima
entendida como meacutetodo de investigaccedilatildeo e de conhecimento que busca
maturidade intelectual e natildeo promover ldquoinventores e descobridoresrdquo no
sentido de sujeitos ldquoprivilegiadosrdquo ou ldquoiluminadosrdquo A figura 9 abaixo
ilustrou o que se pretenderia superar com a mobilizaccedilatildeo para a autoria
196
Figura 9 - Autoria
Fonte Montagem da autora a partir de imagem disponiacutevel no Google imagens
As duas uacuteltimas aulas (7ordf e 8ordf) ficaram reservadas agraves
apresentaccedilotildees de seminaacuterios com os projetos sobre TS discussotildees
acerca dessas iniciativas e auto avaliaccedilotildees finais Destaco que osas
estudantes foram mobilizados para pensar coletiva colaborativa criativa
e criticamente sobre problemas e soluccedilotildees socioteacutecnicos vivenciados Os
modos pelos quais os projetos poderiam ser apresentados tambeacutem
tiveram essa orientaccedilatildeo
A partir desse detalhamento do roteiro que as aulas seguiram a
seguir descrevo e analiso cinco projetos de desenvolvimento de TS
dentre os pouco mais de 20 que foram apresentados nos seminaacuterios
finais Esse recorte foi necessaacuterio para privilegiar aspectos mais
especiacuteficos e contextualizados tanto dos sujeitos envolvidos quanto dos
sentidos sobre tecnologia e TS que foram debatidos nessa atividade
Todos os projetos apresentados nos seminaacuterios foram analisados
mas estabeleci criteacuterios de escolha para os que seriam aqui descritos
Esses criteacuterios foram os seguintes (i) envolvimento dosas alunosas do
grupo na realizaccedilatildeo da tarefa (pesquisa sobre TS e debates para levantar
o problema a ser resolvido) (ii) destaque agrave relevacircncia de um problema
do seu quotidiano (iii) estabelecimento de relaccedilatildeo do projeto com a
temaacutetica socioteacutecnica e (iv) incorporaccedilatildeo de um modo pessoal e possiacutevel
de resolver o problema destacado
197
Portanto verifiquei que em alguma medida os projetos aqui
descritos143 foram desenvolvidos por estudantes que ocuparam os
tempos das aulas no laboratoacuterio de informaacutetica para investigar sobre TS
Momentos nos quais estabeleceram diaacutelogos entre osas componentes do
grupo para decidir sobre o problema tendo em vista que este uacuteltimo teria
relevacircncia no seu dia-a-dia Buscaram de algum modo um paracircmetro
de comparaccedilatildeo nas caracteriacutesticas baacutesicas de TS (simplicidade baixo
custo resposta social e possibilidade de reaplicaccedilatildeo) e sobretudo
mostraram alguma iniciativa para apresentar algo (levantamento e
possiacutevel resoluccedilatildeo do problema) que fosse conforme suas
possibilidades contextualizado com suas caracteriacutesticas pessoais e que
envolvesse seus conhecimentos Os cinco projetos escolhidos satildeo
apresentados a seguir
331 Campanha contra homofobia nas escolas
O grupo da turma do CTIEM de quiacutemica que desenvolveu um
projeto tendo em vista a questatildeo da homofobia nas escolas era composto
por cinco estudantes As quatro meninas e o menino do grupo tinham
entre 15 e 16 anos de idade natildeo trabalhavam no contra turno natildeo eram
residentes do Faacutetima e cursavam pela primeira vez o 1ordm ano Percebi que
a sua integraccedilatildeo nesse formato de grupo ocorreu pelos laccedilos de
amizades que eles haviam estabelecido durante o ano letivo Todosas
ocupavam lugares proacuteximos na parte do fundo da sala de aula e era
comum encontraacute-losas reunidosas nos intervalos das aulas
Duas meninas do grupo jaacute haviam trabalhado comigo em um
projeto de pesquisa sobre diversidade linguiacutestica (sotaques giacuterias) nas
diferentes regiotildees do Brasil De modo geral o grupo era coeso quanto ao
interesse por questotildees debatidas na aacuterea das Ciecircncias Humanas
Verifiquei que nas duas aulas com pesquisas orientadas no laboratoacuterio
143 Destaco que algumas iniciativas interessantes ficaram fora das descriccedilotildees
apresentadas nesta tese Por exemplo o desenvolvimento de diversos aplicativos
para celular e smartphones Desde um que compararia preccedilos de medicamentos
em diferentes farmaacutecias da cidade passando por um que mostraria a localizaccedilatildeo
do ocircnibus e o tempo que ele levaria para chegar ao usuaacuterioa ateacute um com dicas
de sauacutede e boa forma e outro com notiacutecias e informaccedilotildees sobre o quotidiano da
escola Contudo alguns projetos analisados natildeo foram aqui explorados por natildeo
atenderem aos criteacuterios definidos como por exemplo um separador de moedas
e um ar condicionado caseiro que satildeo semelhantes a ideias divulgadas no Brasil
pelo Manual do Mundo e que podem ser conferidos em
lthttpwwwmanualdomundocombrgt
198
de informaacutetica elesas investigaram TS desenvolvidas no Brasil e jaacute
naqueles espaccedilos elaboraram um esboccedilo da apresentaccedilatildeo final A figura
10 abaixo eacute um slide que foi apresentado pelo grupo no seminaacuterio final
Figura 10 - Dados sobre homofobia
Fonte Montagem da autora a partir de slides da apresentaccedilatildeo do grupo de
alunosas
Eacute interessante verificar que o grupo buscou articular informaccedilotildees
do seu quotidiano na escola com outros dados de pesquisas como os do
slide da figura 10 acima E assim construiacuteram conhecimentos sobre o
problema da homofobia A seguinte fala apresentada em um slide do
grupo mostra esse sentido de problematizaccedilatildeo de situaccedilotildees vivenciadas
ldquoPara pensar 87 da comunidade escolar tem preconceito contra homossexuais Homofobia nas escolas eacute um reflexo do
preconceito na sociedade rdquo
Acredito que esse tema tenha emergido por conta da possiacutevel
orientaccedilatildeo sexual de uma participante do grupo que em diferentes
niacuteveis sofria com preconceito de colegas Destaco que questotildees sobre gecircnero (sexo orientaccedilatildeo sexual e identidade de gecircnero) satildeo previstas
para as turmas dos segundos anos da escola mas pelo interesse
demonstrado indiquei e orientei leituras sobre o tema do ponto de vista
da Sociologia para o grupo
199
A partir da percepccedilatildeo de um problema elesas pensaram em uma
soluccedilatildeo baseada na prestaccedilatildeo de serviccedilo de apoio a viacutetimas de
homofobia na escola e encaminhamento agrave assistecircncia estudantil Nesse
processo a duacutevida que elesas apresentaram foi sobre a pertinecircncia
dessa questatildeo para TS tendo em vista que elesas natildeo haviam
identificado um problema teacutecnico mas um problema social De modo
que o grupo pensou em acrescentar ao projeto a possibilidade de
desenvolver um aplicativo de celular para denuacutencias contra situaccedilotildees de
homofobia na escola
Minha estrateacutegia foi mobilizaacute-losas para a (maior) percepccedilatildeo de
que seus problemas quotidianos (e seus conhecimentos sobre eles) tecircm
relevacircncia e que as soluccedilotildees apontadas satildeo igualmente importantes Na
investigaccedilatildeo envolvida nesta tese visualizo possibilidades de processos
educacionais atuarem na transformaccedilatildeo da realidade social Assim como
Freire (2011 1987) defende processos educacionais relacionados com a
vivecircncia dos sujeitos procurei natildeo silenciar os conhecimentos
produzidos pelo grupo Esse uacuteltimo entendido como integrante das
diversidades que compotildeem as juventudes brasileiras no contexto escolar
da atualidade
Nessa perspectiva o grupo desenvolveu o projeto e buscou nas
carateriacutesticas baacutesicas de TS algumas referecircncias para apresentar
soluccedilotildees ao problema identificado Em um de seus slides aparecia a
seguinte proposta
ldquoCriar campanhas para que a sociedade entenda que cada indiviacuteduo eacute livre e tem sua forma de amar Independentemente da sua
escolha o que nos resta eacute respeitarrdquo
Osas integrantes do grupo buscaram apresentar algo que
entendiam como possiacutevel de ser feito com pouco investimento
financeiro e que visualizavam que ajudaria a resolver o problema
levantado A apresentaccedilatildeo da proposta para osas colegas da turma
contou com uma boa recepccedilatildeo Conforme estaacute retratado na fotografia 2
abaixo uma de suas accedilotildees consistia em colar cartazes educativos sobre
homofobia nas dependecircncias da escola Algo que relaciono com o
interesse de todosas os integrantes do grupo pelas aulas da disciplina de
Artes144
144 O Anexo C mostra as disciplinas obrigatoacuterias para cada curso a cada ano
200
Fotografia 2 - Cartaz elaborado pelo grupo
Fonte Adaptado de fotografia feita pela autora
De modo geral o que acompanhei do grupo na elaboraccedilatildeo do
projeto indica uma mobilizaccedilatildeo para a relevacircncia de seus problemas
como de interesse a um grupo maior de sujeitos do seu contexto e uma
disposiccedilatildeo para desenvolver os projetos com sensibilidade aos modos
com que cada integrante do grupo pudesse colaborar Destaco que foi
importante desenvolver junto ao grupo e agrave turma questotildees acerca da natildeo
linearidade entre a identificaccedilatildeo de um problema e sua resoluccedilatildeo A
complexidade e os vaacuterios rumos que esses processos podem seguir
foram apontados
332 Transporte de catildees em coletivos
Ainda nessa turma de quiacutemica na qual foi abordada a homofobia
foi desenvolvido um projeto sobre o transporte de animais domeacutesticos
em coletivos urbanos O grupo que desenvolveu a atividade era
composto por trecircs meninas e um menino (namorado de uma das
meninas) Suas idades estavam entre 15 e 16 anos todasos residentes
fora do Faacutetima sem exercerem atividades de trabalho ou estaacutegio no
contra turno da escola e pela primeira vez no 1ordm ano Assim como osas
colegas que abordaram a homofobia percebi que os laccedilos que os uniam
como grupo eram de amizade Para aleacutem dessa atividade conjunta em
201
sala de aula elesas sentavam proacuteximos na aacuterea central da sala e
mantinham conviacutevio nos outros espaccedilos da escola
Havia certa coesatildeo no grupo quanto aos planos futuros de
seguirem estudos na aacuterea da Quiacutemica (engenharia farmaacutecia e quiacutemica
forense) Com exceccedilatildeo do menino que sempre expressou natildeo
compreender a necessidade de estudar Sociologia e Filosofia eu
percebia que a disciplina de Sociologia era entendida dentro de um
conjunto de conhecimentos necessaacuterios para atingir as metas
profissionais estabelecidas Verifiquei que as meninas pesquisaram
sobre TS e escolheram um tema que elas vivenciavam como problema
quotidiano
A figura 11 abaixo traz um slide no qual o grupo apresentava
seu problema
Figura 11 - O problema do transporte de catildees
Fonte Slides da apresentaccedilatildeo do grupo de alunosas
Em relaccedilatildeo ao grupo que problematizou a homofobia aqui as
impressotildees gerais sobre o transporte coletivo da cidade natildeo foram
contrapostas com outras fontes ou outros tipos de informaccedilatildeo Durante
as pesquisas procurei propor ao grupo o estabelecimento de relaccedilotildees
entre suas percepccedilotildees iniciais sobre o transporte puacuteblico e informaccedilotildees
disponiacuteveis sobre o tema Minha intenccedilatildeo natildeo foi desmobilizaacute-los do
problema levantado antes disso foi lembraacute-los da importacircncia de uma
leitura menos ingecircnua e naturalizada da realidade social Algo que
202
Moraes e Guimaratildees (2010) destacam com os princiacutepios socioloacutegicos de
desnaturalizaccedilatildeo e estranhamento
Contudo o problema levantado pelo grupo pareceu-me sensiacutevel agrave
relevacircncia do tema no seu quotidiano Acompanhei a elaboraccedilatildeo do
problema durante as aulas e verifiquei que o grupo identificou uma
iniciativa de transporte de catildees similar e jaacute em uso em outro contexto
Apoacutes alguns debates elesas optaram por prosseguir com o projeto pois
ele tratava de um problema que era importante para o grupo naquele
momento
A proposta apresentada conforme as suas falas envolvia
ldquoA melhor soluccedilatildeo no quesito custo X benefiacutecio seria a implantaccedilatildeo de casas de cachorro (semelhantes a uma gaiola poreacutem
com o conforto adequado ao bicho) embaixo de cada banco assim o
dono poderia acomodar o seu animal fechar a porta da casa e sentar-se no banco logo acima Dessa forma natildeo atrapalharia ningueacutem e o
animal estaria protegido rdquo O grupo apresentou a ideia aosagraves colegas tendo em vista que as
gaiolas poderiam ser produzidas pelosas proacuteprios estudantes nos
laboratoacuterios da escola em alguma disciplina teacutecnica e com custo baixo
A intenccedilatildeo seria levar as gaiolas a empresas de transporte mas o modo
como haveria a produccedilatildeo natildeo foi estabelecido O grupo foi questionado
pelosas colegas sobre vaacuterios aspectos do projeto desde a originalidade
(questionamento da existecircncia de um produto similar) ateacute aspectos
sanitaacuterios do transporte de animais
Ao fim dos debates osas colegas pensaram que haveria
possibilidade para tal atividade mas que seria interessante desenvolver
algum material plaacutestico novo para as gaiolas Percebi certa preocupaccedilatildeo
de algunsmas estudantes com a necessidade de haver inovaccedilatildeo na
proposta de gaiola apresentada o que poderia estar relacionado ao que
Feenberg (1991 2002 2003) chamaria de perspectivas deterministas do
progresso teacutecnico
Contudo de modo geral verifiquei que as meninas do grupo
estiveram sensiacuteveis para refletir sobre um problema vivenciado e para
pensar em soluccedilotildees dentro de suas possibilidades de execuccedilatildeo Embora
natildeo tivessem apresentado maiores problematizaccedilotildees da situaccedilatildeo do
transporte puacuteblico na cidade percebi certa abertura para (maior)
compreensatildeo da inserccedilatildeo dos sujeitos (e suas demandas) no
desenvolvimento tecnoloacutegico
203
333 Aacuterea de convivecircncia reciclaacutevel
A utilizaccedilatildeo de pallets145 para construccedilatildeo de um espaccedilo de
convivecircncia na escola fez parte do projeto desenvolvido por sete
meninos do CTIEM em fabricaccedilatildeo mecacircnica Assim como o projeto das
gaiolas para catildees os meninos focaram em um produto Esses meninos
tinham entre 15 e 17 anos de idade todos residiam fora do Faacutetima
estavam pela primeira vez no 1ordm ano e dois deles participavam do
Projeto Jovem Aprendiz do Serviccedilo Nacional de Aprendizagem
Industrial (SENAI) no contra turno da escola
Assim como a maioria de seus colegas de turma (25 meninos e
apenas duas meninas) os meninos do grupo pensavam em trabalhar nas
aacutereas teacutecnicas (engenharias e setor metalmecacircnico) da regiatildeo no futuro
Entretanto eu percebia o interesse dos meninos desse grupo em temas
socioloacutegicos pois natildeo raro eles traziam materiais para discussatildeo em sala
de aula (sobretudo em relaccedilatildeo agrave perspectiva socioloacutegica sobre trabalho
modos de produccedilatildeo e reestruturaccedilatildeo produtiva)
Apesar de grande e diverso o grupo contava com meninos
integrados por laccedilos de amizade desenvolvidos durante o ano escolar
Embora separados na sala de aula era comum encontraacute-los reunidos
inclusive no contra turno Durante as pesquisas para o projeto sobre TS
percebi que havia dificuldade em escolher algo comum (problema) a
todo o grupo Durante nossas conversas eles relataram que gostavam de
slackline146 e tinham previsto um espaccedilo para essa praacutetica no projeto que
estavam desenvolvendo na disciplina de Educaccedilatildeo Fiacutesica
Busquei mobilizaacute-los para refletirem sobre tal projeto tendo em
vista a temaacutetica socioteacutecnica Eles avaliaram que estavam
desenvolvendo TS e passaram a organizar o projeto em termos de
problemas e soluccedilotildees identificadas O interessante foi a relaccedilatildeo entre
conhecimentos produzidos em outra aacuterea que em um primeiro momento
natildeo teve relaccedilatildeo com a atividade proposta mas que passou a fazer parte
de um conjunto maior de possibilidades Eles verificaram que
conhecimentos de diferentes disciplinas poderiam estar envolvidos no
projeto que eles planejavam
No iniacutecio das pesquisas no laboratoacuterio verifiquei certa
preocupaccedilatildeo com a questatildeo da autoria pois o projeto havia sido pensado
145 Satildeo estradosbases de madeira metal ou plaacutestico utilizados para
movimentaccedilatildeo de caixas em induacutestrias ou grandes estabelecimentos comerciais 146 Esporte que permite agraveao praticante andar e fazer manobras por cima de uma
fita elaacutestica esticada entre dois pontos fixos
204
para outra disciplina Contudo nos debates que eles estabeleceram (e
que eu participei) percebi que houve uma distinccedilatildeo entre ldquoproduzir algo
colaborativo e do nosso jeitordquo e ldquotrazer algo que nunca foi feito antesrdquo
De modo que eles buscaram ampliar alguns aspectos do projeto tendo
em vista a apresentaccedilatildeo aos colegas
A figura 12 abaixo traz um slide que o grupo produziu para
apresentar seu projeto agrave turma
Figura 12 - Resiacuteduos e aacutereas de lazer
Fonte Slides da apresentaccedilatildeo do grupo de alunos
Os meninos partiram de problemas vivenciados no seu quotidiano
(necessidade de um espaccedilo de convivecircncia e resiacuteduos natildeo aproveitados)
e os relacionaram com possibilidades de soluccedilotildees disponiacuteveis (pallets
descartados pelas induacutestrias vizinhas ao Faacutetima) e em alguma medida
exequiacuteveis (simplicidade na execuccedilatildeo) Utilizaram seus conhecimentos
das aulas da disciplina de Desenho Teacutecnico e elaboraram uma planta
para o projeto como mostra a figura 13 abaixo
205
Figura 13 - Planta do centro de convivecircncia
Fonte Slides da apresentaccedilatildeo do grupo de alunos
Podemos verificar na figura 13 acima o espaccedilo destinado ao
slackline em vermelho A fala a seguir conteacutem um pouco da projeccedilatildeo de
resultados que os meninos apresentaram agrave turma
ldquoPara esta aacuterea de convivecircncia grande parte dos materiais
seratildeo obtidos atraveacutes de empresas materiais estes que natildeo satildeo utilizados pela mesma e satildeo descartados O espaccedilo contaraacute tambeacutem
com flores e plantas algumas frutiacuteferas rdquo
Compreendo que a escola fazia parte da vida dos meninos do
grupo de maneira especial Para aleacutem desse espaccedilo de socializaccedilatildeo que o
projeto deles procurava resgatar haveria ali um caminho para a
realizaccedilatildeo das expectativas profissionais futuras Aleacutem disso eu
percebia nesse grupo uma abertura agrave perspectiva politeacutecnica de
educaccedilatildeo como destacada por Marx e Engels (2004) e Saviani (1989
2003) Pois eles demonstravam uma percepccedilatildeo positiva sobre a
integraccedilatildeo entre ensino teacutecnico humanidades artes e atividades fiacutesicas
Penso que os meninos mostraram um pouco desses sentimentos na
intenccedilatildeo de desenvolver algo que poderia ser ampliado para zonas
carentes desses espaccedilos no Faacutetima e em outras unidades do IFRS
206
334 Inovaccedilotildees no site da escola
Tal sentimento de pertencimento e cuidado com a escola que
verifiquei nos meninos do curso de fabricaccedilatildeo mecacircnica apareceu em
alguma medida no grupo que desenvolveu o projeto de melhoria para a
paacutegina do IFRS de Caxias do Sul na internet No entanto esse grupo
composto por oito meninos do CTIEM da quiacutemica natildeo era tatildeo coeso e
pude perceber uma divisatildeo interna em dois subgrupos
Os meninos tinham entre 15 e 17 anos de idade um deles era
residente do Faacutetima e o uacutenico a trabalhar no contra turno da escola
Observei que ele e mais dois meninos do grupo formavam um subgrupo
enquanto os outros cinco meninos formavam o segundo subgrupo No
primeiro subgrupo os trecircs meninos formaram laccedilos de amizade durante
o ano sentavam proacuteximos no fundo da sala de aula e estavam sempre
juntos nas atividades da escola Eles demonstravam um interesse por
temas socioloacutegicos na medida em que era mais uma disciplina a ser
estudada Quanto a planos para o futuro profissional apenas um deles
apresentava o desejo de cursar Educaccedilatildeo Fiacutesica no ensino superior
Os cinco meninos do que chamo aqui de segundo subgrupo
tambeacutem haviam estabelecido laccedilos de amizade ao longo do ano escolar
sentavam proacuteximos na lateral da sala de aula e eram parceiros nas
atividades escolares Todos eles expressavam interesse na disciplina de
Sociologia de alguma forma Desde o que gostaria de ldquoaprender os
fundamentos da revoluccedilatildeo socialistardquo passando pelo que pensava em
ldquoestudar o suiciacutedio entre jovens roqueirosrdquo ateacute os que buscavam
diferentes explicaccedilotildees para problemas sociais vivenciados na sua cidade
Um interesse geral nesse subgrupo era por informaacutetica SL e pela
chamada cultura hacker que eles relacionaram com textos sobre
ideologia que haviacuteamos debatido na primeira parte do trimestre
Contudo os dois subgrupos estavam caracterizados como apenas
um grupo pois mantinham relacionamentos de amizade na sala de aula
O que os unia como grupo era a proposta de projeto atividade na qual
desenvolveram debates profiacutecuos Acompanhei as atividades de
pesquisa e verifiquei que eles concordavam que o site da escola natildeo era
funcional A fala a seguir que ilustrou um slide da apresentaccedilatildeo do
seminaacuterio do grupo mostra os problemas identificados
ldquoProblemaacutetica menu muito extenso e confuso difiacutecil para novos usuaacuterios utilizarem informaccedilotildees sobre a instituiccedilatildeo muito lsquoescondidasrsquo
sem acesso faacutecil agrave notiacutecias e arquivos antigos natildeo possui mapa da
instituiccedilatildeo e o botatildeo viacutedeo natildeo funciona rdquo
207
Em outro slide disponiacutevel na figura 14 abaixo o grupo mostrou
a imagem do site e as melhorias que poderiam ser feitas destacadas em
vermelho
Figura 14 - Proposta de melhorias
Fonte Slides da apresentaccedilatildeo do grupo de alunos
Na apresentaccedilatildeo do projeto aos colegas o grupo destacou que
gostaria de resolver os problemas levantados de modo simples
(ldquoreescrever os comandosrdquo no site) barato e com conhecimentos sobre
programaccedilatildeo disponiacuteveis na proacutepria internet A turma recebeu o projeto
de modo positivo e fez outras sugestotildees de melhorias no site Muitosas
alunosas demonstraram interesse em conhecer melhor os processos de
produccedilatildeo organizaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de conteuacutedo digital no site da escola
e pensaram em levar a pauta ateacute a direccedilatildeo
Ao acompanhar o desenvolvimento do projeto verifiquei que os
trecircs meninos do primeiro subgrupo tiveram mais iniciativa ao demostrar
os problemas do site e deixaram a parte de resoluccedilatildeo para os meninos do
segundo subgrupo Com isso busquei mobilizar os primeiros para que
eles tanto visualizassem (mais) a importacircncia de apontar problemas
relevantes do seu quotidiano quanto compreendessem (mais) que as
resoluccedilotildees natildeo precisariam ser necessariamente deixadas a especialistas
que poderiacuteamos compreender aspectos do desenvolvimento tecnoloacutegico
que permitiriam nossa participaccedilatildeo informada nesse processo como
defende Feenberg (2002 2003)
208
335 Aplicativo para estudos e lazer
Ainda na aacuterea de informaacutetica e programaccedilatildeo o grupo de sete
alunosas do CTIEM de plaacutesticos desenvolveu o projeto de um
aplicativo para smartphone que uniria estudos e entretenimento O grupo
era composto por trecircs meninas e quatro meninos com idades entre 15 e
16 anos todosas residentes fora do Faacutetima nenhuma trabalhava no
contra turno escolar e estavam pela primeira vez no 1ordm ano
Embora constituiacutessem um grupo grande apresentavam coesatildeo
nas decisotildees sobre o desenvolvimento do projeto Ao contraacuterio dos
outros grupos que desenvolveram projetos sobre TS e foram aqui
citados osas estudantes desse grupo natildeo sentavam proacuteximos ou
ficavam juntos nos intervalos das aulas Contudo observei que elesas
geralmente realizavam as tarefas da escola entre si O que acredito que
os caracterizou como integrados por laccedilos de amizade e estudos
De modo geral o grupo demostrava interesse na Sociologia natildeo
apenas como uma disciplina a ser estudada na escola mas como um tipo
de ldquoconhecimento importante para compreender a sociedaderdquo
Aquelesas que jaacute tinham uma projeccedilatildeo de futuro profissional pensavam
em seguir estudos universitaacuterios na medicina nas engenharias ou na
fiacutesica Natildeo destacaram interesse em aacutereas relacionadas com informaacutetica
e programaccedilatildeo de modo especiacutefico mas algunsmas declararam que
desenvolver SL era ldquoum oacutetimo hobbyrdquo
Na descriccedilatildeo do slide de apresentaccedilatildeo do projeto para a turma eacute
possiacutevel verificar as suas motivaccedilotildees
ldquoAtualmente a tecnologia mais utilizada pelos jovens eacute o celular
Muitas vezes os alunos usam o celular apenas para entretenimento e acabam largando os estudos de lado poreacutem o que aconteceria se
juntaacutessemos o entretenimento com os estudos De acordo com esta
ideia surgiu o EIFante rdquo
O grupo afirmou que a ideia seria juntar estudos e lazer
(ldquoentretenimento inteligenteldquo) tendo em vista a oacutetima memoacuteria de um
elefante A identidade visual do aplicativo seria desenvolvida a partir de
uma imagem da internet que consta na figura 15 abaixo e foi
apresentada em slide na sala de aula
209
Figura 15 - Identidade visual do aplicativo
Fonte Slides da apresentaccedilatildeo do grupo de alunosas
No acompanhamento que fiz durante o desenvolvimento do
projeto o grupo informou-me de que a ideia do ELFante veio de um
programa antigo que sincronizava dados de diversas agendas tinha um
espaccedilo grande para armazenar informaccedilotildees e rapidez na execuccedilatildeo das
tarefas Desde o iniacutecio das atividades sobre TS elesas pensaram sobre
isso e buscaram justificar sua escolha como pode ser visto na seguinte
fala que fez parte da apresentaccedilatildeo do grupo agrave turma
ldquoVantagens do Aplicativo EIFante praticidade graacutetis e leve
auxiacutelio e maior foco nos estudos para as provas memorizaccedilatildeo dos conteuacutedos trabalhados entretenimento de forma educativa interaccedilatildeo
com professores e colegas de forma divertida rdquo
O grupo pensava em um produto faacutecil de ser feito (ldquonecessidade apenas de noccedilotildees baacutesicas de programaccedilatildeordquo) de usar (ldquocom interface
amigaacutevelrdquo) e de acessar (ldquolanccedilado na Google Play e App Storerdquo) O
funcionamento do aplicativo foi apresentado da seguinte forma
ldquoPerguntas e Respostas perguntas separadas por seacuteries e
mateacuterias conecte com suas redes sociais desafie seus colegas nas diversas mateacuterias disponiacuteveis crie novas perguntas para cada mateacuteria
e interaja com seus professores atraveacutes do quiz rdquo
A apresentaccedilatildeo do grupo levou a debates sobre quem poderia
produzir o conteuacutedo se professoresas participariam e se as avaliaccedilotildees
escolares poderiam utilizar resultados do aplicativo De modo geral a
210
turma recebeu a proposta de modo positivo e osas estudantes
demostraram interesse em usaacute-lo Fato que os levou a refletir sobre
possibilidades de desenvolver (natildeo apenas aplicativos e softwares)
soluccedilotildees para problemas socioteacutecnicos do quotidiano a partir de seus
conhecimentos integrando diferentes conhecimentos e dentro de seus
contextos Nesses cinco casos analisados verifiquei certa preocupaccedilatildeo
inicial dos grupos em elaborar ldquoprodutos e inovaccedilotildeesrdquo para facilitar o
quotidiano Por outro lado certa perspectiva instrumental foi
compartilhada com intenccedilotildees manifestas de relacionar meios e fins no
desenvolvimento dos projetos Em alguma medida nos debates
proporcionados pelos seminaacuterios finais osas alunosas destacaram a
importacircncia de haver oportunidades de escolha (ou ao menos
conhecimento) entre diferentes caminhos para o desenvolvimento de
tecnologias
Em relaccedilatildeo agrave autoria no desenvolvimento de TS durante as
pesquisas no laboratoacuterio destaquei a importacircncia dosas estudantes
buscarem seus conhecimentos articularem com outros conhecimentos
disponiacuteveis e refletirem sobre soluccedilotildees contextualizadas e simples
Nesse processo percebi dois aspectos (i) a necessidade de retomarmos
as diferenccedilas entre TS simples e TS pontual e restrita De modo que o
contexto soacutecio-histoacuterico (aspectos estruturais e poliacuteticos) no qual o seu
projeto seria desenvolvido fosse considerado e (ii) as possibilidades de
explorar as aproximaccedilotildees entre a questatildeo da autoria e da natildeo
neutralidade Tendo em vista as indicaccedilotildees de que elesas possam
visualizar as tecnologias como relacionadas a seus desejos seria
interessante discutir sobre a contextualizaccedilatildeo dos valores incorporados
ao desenvolvimento tecnoloacutegico conforme a realidade social em que ele
ocorre
Para aleacutem das especificidades nas trajetoacuterias de pesquisa de cada
grupo procurei manter a mobilizaccedilatildeo dosas alunosas para (i) a
relevacircncia de seus problemas socioteacutecnicos (e as soluccedilotildees apontadas) do
quotidiano no contexto maior de sua realidade social (ii) (maior)
compreensatildeo de caracteriacutesticas do desenvolvimento tecnoloacutegico tendo
em vista participaccedilatildeo informada nos debates sobre os rumos desse
desenvolvimento e (iii) as possibilidades contidas nas articulaccedilotildees de
seus conhecimentos (situados costumeiros ancestrais e taacutecitos) com
conhecimentos disponiacuteveis nas diversas disciplinas escolares (e no
quotidiano da vida escolar) para refletir sobre participaccedilatildeo informada e
criacutetica em processos de transformaccedilatildeo social
211
E eacute a partir dessas consideraccedilotildees que encaminho as reflexotildees
finais que apresento a seguir
212
213
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Ao fim das anaacutelises pude perceber ainda mais a complexidade
envolvida tanto em questotildees educacionais quanto na temaacutetica
socioteacutecnica Lembro de um texto do escritor uruguaio Eduardo Galeano
(1940-2015) no qual ele reflete sobre determinismos tecnoloacutegicos e
sociais Na sua ldquoBreve histoacuteria da revoluccedilatildeo tecnoloacutegicardquo (GALEANO
2009 p 331-332) ele nos diz
Crescei e multiplicai-vos dissemos
e as maacutequinas cresceram e se multiplicaram
Tinham nos prometido que trabalhariam para
noacutes
Agora noacutes trabalhamos para elas
As maacutequinas que noacutes inventamos
para multiplicar a comida
multiplicam a nossa fome
As armas que inventamos para nos defender
nos matam
Os automoacuteveis que inventamos para nos mover
nos paralisam
As cidades que inventamos para nos encontrar
nos desencontram
Os grandes meios que inventamos para
nos comunicarmos
natildeo nos escutam nem nos vecircem
Somos maacutequinas de nossas maacutequinas
Elas alegam inocecircncia
E tecircm razatildeo
Essas reflexotildees estiveram sempre presentes em minha intenccedilatildeo de
investigar de que maneira e em que medida uma perspectiva criacutetica
sobre TS poderia colaborar para transformar sentidos deterministas
sobre tecnologia entre juventudes do ensino meacutedio teacutecnico O
entendimento de posiccedilotildees deterministas tambeacutem me levou a buscar
compreender em que sentidos a promoccedilatildeo de contextos educacionais
voltados agrave construccedilatildeo de autoria a partir de uma perspectiva criacutetica sobre TS poderia mobilizar tais estudantes para a emancipaccedilatildeo social e
a autonomia
Nesse processo de investigaccedilatildeo encontrei diferentes desafios tais
como o cuidado em natildeo considerar meus sujeitos da pesquisa de
maneira abstrata homogecircnea ou idealizada em buscar representar as
214
diversidades sem perder de vista a unicidade em verificar pluralidades e
diferenccedilas poliacuteticas de classe religiosas eacutetnico-raciais e de gecircnero em
natildeo assumir uma perspectiva salvacionista das TS e da Educaccedilatildeo CTS e
em natildeo ignorar contradiccedilotildees silenciamentos e a polissemia Desafios
esses que foram aliados do pequeno tempo para o desenvolvimento do
roteiro didaacutetico dos equiacutevocos inerentes agrave minha primeira experiecircncia
como docente no ensino meacutedio formal e das dificuldades estruturais para
superaccedilatildeo das contradiccedilotildees agraves quais me referi
Dentro do possiacutevel procurei que o desenvolvimento da temaacutetica
socioteacutecnica tivesse significado para osas estudantes no
estabelecimento de relaccedilotildees com as realidades sociais nas quais elesas
estavam inseridosas Abordei TS como tema a ser estudado dentro dos
princiacutepios de desnaturalizaccedilatildeo e estranhamento tendo em vista o
rompimento com visotildees hierarquizadas sobre conhecimento Minha
intenccedilatildeo foi destacar o caraacuteter processual da produccedilatildeo de conhecimentos
e a importacircncia da alteridade interaccedilatildeo e interdependecircncia dos sujeitos
nesse processo
Destaco minha compreensatildeo acerca da existecircncia de perspectivas
educacionais (re)produtoras de heteronomia Frente a isso busquei
desenvolver em alguma medida praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agrave
formaccedilatildeo criacutetica dos sujeitos Abordei questotildees socioteacutecnicas na
educaccedilatildeo baacutesica tendo em vista possibilidades de mudanccedilas estruturais
de base Minha intervenccedilatildeo junto aos CTIEM visou problematizar a
origem soacutecio-histoacuterica do desenvolvimento tecnoloacutegico as relaccedilotildees de
poder ali envolvidas e nossas possibilidades de participaccedilatildeo nesses
processos
Compreendo que os cuidados que tive natildeo puderam garantir algo
como o cumprimento ideal de meus objetivos Percebi limites tanto para
alguma transformaccedilatildeo de sentidos deterministas sobre tecnologia entre
juventudes quanto para mobilizaccedilotildees para a autoria De maneira geral
tais limites podem se referir tanto a praacuteticas docentes (tipo de
abordagem e escolha pedagoacutegica tempo disponiacutevel) quanto agrave estrutura
escolar (componentes curriculares possibilidades de trabalho
interdisciplinar) por exemplo
Em especiacutefico verifiquei a importacircncia de desenvolver com
estudantes questotildees acerca da natildeo linearidade entre a identificaccedilatildeo de
um problema e sua resoluccedilatildeo de modo a apontar as muacuteltiplas
influecircncias e os vaacuterios rumos que esses processos podem seguir Aleacutem
disso foi necessaacuterio embora natildeo suficiente tendo em vista um processo
de transformaccedilatildeo e criaccedilatildeo de novos sentidos destacar diferenccedilas e
possiacuteveis aproximaccedilotildees entre TC TS e TA aleacutem de problematizar a
215
contextualizaccedilatildeo dos valores incorporados ao desenvolvimento
tecnoloacutegico conforme a realidade social em que ele ocorre
Verifiquei que a tarefa de mobilizaccedilatildeo de estudantes para
desenvolvimento autoral de TS em niacutevel disciplinar apenas na
disciplina de Sociologia foi um fator limitante Assim como a busca por
novas praacuteticas pedagoacutegicas e didaacuteticas natildeo se constituiu como uma
tarefa simples Contudo visualizei algumas possibilidades para
transformaccedilatildeo de sentidos e criaccedilatildeo de novos sentidos sobre o
desenvolvimento tecnoloacutegico
As anaacutelises realizadas indicaram certa sensibilidade de estudantes
para com a temaacutetica socioteacutecnica proposta na transformaccedilatildeo de sentidos
deterministas sobre tecnologia sobretudo na disposiccedilatildeo para a
realizaccedilatildeo de projetos autorais Entendo que foi profiacutecuo mobilizaacute-losas
para aleacutem de refletir sobre problemas socioteacutecnicos do quotidiano
pensar em possibilidades de soluccedilotildees de acordo com seus desejos
dentro de suas possibilidades e contextos
Considero que a disposiccedilatildeo manifesta pelosas estudantes para
projetos autorais pode estar relacionada com autonomia na medida em
que ocorre certo tipo de desenvolvimento de maturidade intelectual
nesse processo Maturidade desenvolvida pela criatividade colaboraccedilatildeo
e abertura para trabalhos conjuntos e compartilhados entre diferentes
conhecimentos Esses trabalhos conjuntos mais que interdisciplinares
podem envolver a coletividade escolar e os diferentes conhecimentos
produzidos por seus sujeitos de modo geral
Portanto a integraccedilatildeo de diferentes conhecimentos no
desenvolvimento de TS seria possiacutevel em grupo E nessas experiecircncias
conjuntas os processos educacionais estariam sensiacuteveis ao
desenvolvimento de maturidade intelectual Maturidade vinculada agrave
autonomia como destaquei acima e agrave emancipaccedilatildeo social Essa uacuteltima
ligada a possibilidades dos sujeitos se posicionarem socialmente tanto
em relaccedilatildeo a criacuteticas a situaccedilotildees de vulnerabilidade vivenciadas quanto agrave
libertaccedilatildeo de condiccedilotildees de dependecircncia e tutela
Dessa maneira minhas intervenccedilotildees junto agraves juventudes dos
CTIEM do IFRS mostraram que em alguma medida existem
possibilidades de transformar sentidos deterministas sobre tecnologia (e
construir novos sentidos) atraveacutes de processos educacionais sensiacuteveis a
uma perspectiva criacutetica sobre TS (processos colaborativos de
desenvolvimento) Em tais processos as juventudes parecem
compreender (mais) que os problemas socioteacutecnicos satildeo (socialmente)
construiacutedos e que as tecnologias podem atender a seus desejos e
incorporar valores contextuais
216
Nas pesquisas que realizei para esta tese sobretudo nas oito aulas
de desenvolvimento do roteiro didaacutetico verifiquei que a temaacutetica
socioteacutecnica natildeo era necessariamente um problema para as juventudes
do CTIEM Entretanto houve a construccedilatildeo de problemas na medida em
que foram exploradas as possibilidades de participaccedilatildeo via autoria com a
criaccedilatildeo de TS De modo que percebo que ao constituiacuterem-se como
autoresas (e natildeo mais apenas usuaacuteriosas) satildeo visualizadas as
possibilidades de autonomia e liberaccedilatildeo de tutela e dependecircncia
Poreacutem natildeo entendo esse processo como algo linear e
previamente determinado pelo desenvolvimento de TS entre juventudes
Compreendo a complexidade aqui envolvida e aponto uma
possibilidade entre outras tantas que poderiam ser exploradas para
desenvolver processos educacionais atentos a perspectivas CTS
Procurei natildeo reproduzir praacuteticas pedagoacutegicas problemaacuteticas e nesse
sentido verifiquei a necessidade de atenccedilatildeo constante Contudo penso
que foi possiacutevel obter dados sobre relaccedilotildees entre tecnologia e processos
educacionais que permitam ampliar a compreensatildeo de qualidades
constitutivas dessas relaccedilotildees Algo que acredito ser proveitoso para
educadoresas com interesse em TS
Em termos acadecircmicos creio que estudos que relacionam
sentidos sobre tecnologia e juventudes que compotildeem a educaccedilatildeo baacutesica
podem contribuir com as produccedilotildees na aacuterea da ECT Pois ao considerar
temas em ciecircncia e tecnologia a ECT tambeacutem estaacute atenta aos contextos
nos quais processos educacionais formais se desenvolvem Com isso
procurei relacionar minha perspectiva politeacutecnica sobre educaccedilatildeo dentro
de um quadro da Educaccedilatildeo CTS latino-americana com vistas a
contribuir com estudos da ECT sobretudo nas implicaccedilotildees sociais da
tecnologia na educaccedilatildeo
Existem muitos aspectos a serem ainda explorados Para aleacutem das
TS destaco a importacircncia de investigaccedilotildees que examinem em que
sentidos a questatildeo da inclusatildeo social seria desenvolvida nos Institutos
Federais Seria possiacutevel questionar qual modelo produtivo seria
considerado que perfil profissional estaria previsto para qual mercado e
com que tipo de tecnologia as accedilotildees seriam pensadas Aponto tambeacutem
a relevacircncia de pesquisas sobre o desenvolvimento da perspectiva
poliacutetico-pedagoacutegica do IFRS Seria interessante a verificaccedilatildeo mais
atenta sobre a manutenccedilatildeo ou natildeo da loacutegica dualista entre formaccedilatildeo
teacutecnica e propedecircutica e suas implicaccedilotildees na formaccedilatildeo discente
Embora natildeo tenha sido o foco de abordagem nesse estudo as
questotildees relacionadas ao curriacuteculo tecircm relevacircncia em debates sobre
processos educacionais A literatura sobre o tema apresenta trabalhos
217
importantes sobre as relaccedilotildees entre curriacuteculo e normas sociais por
exemplo Destaco tambeacutem estudos nos quais os conhecimentos e
experiecircncias que osas alunosas possuem satildeo considerados em
organizaccedilotildees curriculares mais flexiacuteveis e atentas a especificidades
locais e regionais
Na aacuterea educacional natildeo haacute muita novidade no fato de que os
conteuacutedos curriculares deveriam permitir que estudantes tenham
possibilidades de adotar uma postura criacutetica sobre diferentes aspectos da
realidade social De modo que o curriacuteculo natildeo apresentaria uma uacutenica
visatildeo ou interpretaccedilatildeo mas representaria as complexidades da realidade
social Dessa maneira penso que estudos criacuteticos sobre questotildees
curriculares no IFRS tambeacutem podem trazer contribuiccedilotildees para o
entendimento de relaccedilotildees entre educaccedilatildeo e tecnologia
Minha intenccedilatildeo geral nesta tese foi considerar possiblidades de
transformaccedilotildees pertinentes a dois grandes temas educaccedilatildeo e tecnologia
Verifiquei possibilidades e potencialidades assim como limites e
desafios Poreacutem natildeo perdi a disposiccedilatildeo de mobilizar juventudes para
reflexotildees natildeo deterministas e natildeo neutras sobre tecnologia tendo em
vista uma educaccedilatildeo (politeacutecnica) criacutetica integral permanente e
contextualizada
Iniciei essas consideraccedilotildees finais com a reflexatildeo de Galeano
sobre as condiccedilotildees dilemaacuteticas do desenvolvimento socioteacutecnico Para
encerrar refiro-me ao poeta brasileiro Maacuterio Quintana (1906-1994) que
em sua ldquoDas utopiasrdquo (QUINTANA 1997 p 36) lembra-nos de que
Se as coisas satildeo inatingiacuteveishellip ora
Natildeo eacute motivo para natildeo querecirc-lashellip
Que tristes os caminhos se natildeo fora
A presenccedila distante das estrelas
E eacute essa atitude de projetar caminhos tendo em vista suas
possibilidades concretas de execuccedilatildeo que continua presente ao finalizar
essa etapa de reflexotildees e pesquisas sobre TS na educaccedilatildeo baacutesica
Sobretudo permanece a intenccedilatildeo de ir aleacutem e procurar criacutetica e
comparativamente complementos teoacutericos e metodoloacutegicos que possam
ajudar a subsidiar pesquisas relevantes e tragam contribuiccedilotildees aos debates sobre relaccedilotildees entre sentidos sobre tecnologia e processos
educacionais
As experiecircncias pelas quais passei nos diferentes momentos que
envolveram a execuccedilatildeo desta tese mobilizaram-me para prosseguir em
estudos que possam em alguma medida gerar interpretaccedilotildees originais
218
aos novos e velhos problemas da aacuterea da educaccedilatildeo em geral e da ECT
brasileira em particular Com minha atenccedilatildeo voltada aos sujeitos
mantenho o interesse em processos nos quais diferentes sujeitos possam
ter participaccedilatildeo informada e criacutetica em questotildees socioteacutecnicas Para que
como disse Walter Benjamin (2009) na epiacutegrafe desta tese esses
sujeitos possam cada vez mais dominar a arte de ldquoposicionar as velasrdquo
219
REFEREcircNCIAS
ABRAHAtildeO L H L Apontamentos sobre Thomas Kuhn e Paul
Feyerabend antagonismos aproximaccedilotildees e os estudos sociais da
ciecircncia In PREMEBIDA A NEVES F M DUARTE T R
Investigaccedilotildees Contemporacircneas em Estudos Sociais da Ciecircncia e
Tecnologia Jundiaiacute Paco editorial 2015
ABREU M Liccedilotildees do Rio Grande Referencial Curricular para as
escolas estaduais (2009) Disponiacutevel
emlthttpwwweducacaorsgovbrdadosrefer_curric_vol5pdfgt
Acesso em 10 mai 2015
ADORNO T W Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e terra
1995
ADORNO T W HORKHEIMER M Dialeacutetica do esclarecimento
Fragmentos filosoacuteficos Rio de Janeiro Zahar 1985
ALBAGLI S Novos espaccedilos de regulaccedilatildeo na era da informaccedilatildeo e do
conhecimento In LASTRES H ALBAGLI S (orgs) Informaccedilatildeo e
globalizaccedilatildeo na era do conhecimento Rio de Janeiro Campus 1999
ALVES R Conversas com quem gosta de ensinar Satildeo Paulo Cortez
1989
ARAUacuteJO H (org) Tecnociecircncia e cultura ensaios sobre o tempo
presente (apres) Satildeo Paulo Estaccedilatildeo liberdade 1998
ASSOUN P A Escola de Frankfurt Satildeo Paulo Aacutetica 1991
AULER D Educaccedilatildeo CTS Articulaccedilatildeo entre pressupostos do educador
Paulo Freire e referenciais ligados ao movimento CTS In LOacutePES A
B PEINADO V-B LOacutePES M J RUZ M T P (Org) Las
Relaciones CTS em la Educacioacuten Cientiacutefica Maacutelaga Editora da
Universidade de Maacutelaga 2006
AULER D DELIZOICOV D Alfabetizaccedilatildeo cientiacutefico-tecnoloacutegica
para quecirc Ensaio ndash Pesquisa em Educaccedilatildeo em Ciecircncias Volume
03Nuacutemero 1 ndash Jun 2001
220
BARROS L Entrevista ao jornal da Fundamig (2007) Disponiacutevel
em lthttpwwwfundamigorgbrgt Acesso em 05 out 2008
BAUMGARTEN M Ciecircncia tecnologia e desenvolvimento ndash redes e
inovaccedilatildeo social (2008b) In Parcerias Estrateacutegicas Brasiacutelia Centro
de Gestatildeo e Estudos Estrateacutegicos n 26 p 101-123 junho de 2008a
_______ Conhecimento e sustentabilidade poliacuteticas de ciecircncia
tecnologia e inovaccedilatildeo no Brasil contemporacircneo Porto Alegre
UFRGSSulina 2008b
_______ Tecnociecircncia e trabalho In CATTANI A HOLZMANN L
(orgs) Dicionaacuterio de trabalho e tecnologia Porto Alegre UFRGS
2006a
_______ Tecnologia In CATTANI A (org) Dicionaacuterio criacutetico sobre
trabalho e tecnologia Porto Alegre UFRGSVozes 2002
_______ Tecnologia In CATTANI A HOLZMANN L (orgs)
Dicionaacuterio de trabalho e tecnologia Porto Alegre UFRGS 2006b
_______ Tecnologias sociais e inovaccedilatildeo social In CATTANI A
HOLZMANN L (orgs) Dicionaacuterio Criacutetico sobre Trabalho e
Tecnologia Porto Alegre 2010
_______ Tecnologias sociais e inovaccedilatildeo social In CATTANI A
HOLZMANN L (orgs) Dicionaacuterio de trabalho e tecnologia Porto
Alegre UFRGS 2006c
BECKER F Modelos pedagoacutegicos e modelos epistemoloacutegicos In
SILVA L H AZEVEDO JC (Org) A paixatildeo de aprender II
Petroacutepolis Vozes 1995
BENJAMIN W Teoria do Conhecimento Teoria do Progresso [N98]
p 515 In Passagens Editora UFMG Belo Horizonte 2009
BIMBER B Three Faces of Technological Determinism In SMITH
M R MARX L Does Technology Drive History The Dilemma of
Technological Determinism Massachusetts MIT 1994
221
BIVAR A O que eacute Punk Satildeo Paulo Brasiliense 1983
BLOOR D Conhecimento e imaginaacuterio social Satildeo Paulo Unesp
2009
BRANDAtildeO C R O que eacute o meacutetodo Paulo Freire Satildeo Paulo Editora
Brasiliense 1981
______ O que eacute educaccedilatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1995
BRANDAtildeO F C Programa de Apoio agraves Tecnologias Apropriadas -
PTA avaliaccedilatildeo de um programa de desenvolvimento tecnoloacutegico
induzido pelo CNPq 2001 Dissertaccedilatildeo (Mestrado de Poliacutetica e Gestatildeo
de Ciecircncia e Tecnologia) - UnB Brasiacutelia 2001
BRASIL Documento Base da Educaccedilatildeo Profissional Teacutecnica de
Niacutevel Meacutedio Integrado ao Ensino Meacutedio (2007) Ministeacuterio da
Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Profissional e Tecnoloacutegica Brasiacutelia
DF 2007
______ Lei nordm 11892 (2008) Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa
do Brasil Brasiacutelia DF 2008 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Disponiacutevel em lt
httpwwwplanaltogovbrccivil_03_ato2007-
20102008leil11892htmgt Acesso em 19 abr 2016
BTS (BANCO DE TECNOLOGIAS SOCIAIS) Tecnologia Social
(2008) Disponiacutevel em lthttpwwwtecnologiasocialorgbrbtsgt
Acesso em 05 ago 2008
BUENO N L Ciecircncia tecnologia e interdisciplinaridade numa
perspectiva histoacuterico-criacutetica aspectos pedagoacutegicos na formaccedilatildeo
docente (2015) Disponiacutevel em lt
httpwwwrio2015esociteorgsiteanaisarquivoresumoMODALIDAD
E=6gt Acesso em 12 nov 2015
BULFINCH T O livro de ouro da mitologia histoacuterias de deuses e
heroacuteis Rio de Janeiro Ediouro 2006
CARVALHO L M G de et al (org) Sociologia e ensino em
debate experiecircncias e discussatildeo de Sociologia no Ensino Meacutedio Ijuiacute
Ed Unijuiacute 2004
222
CARVALHO L O espiacuterito punk do movimento Do It Yourself
(2015) Disponiacutevel em lthttppontoeletronicome2015do-it-
yourselfgt Acesso em 22 abr 2016
CASSIANI S GIRALDI P M LINSINGEN I Eacute possiacutevel propor a
formaccedilatildeo de leitores nas disciplinas de Ciecircncias Naturais Contribuiccedilotildees
da anaacutelise de discurso para a educaccedilatildeo em ciecircncias Educaccedilatildeo teoria e
praacutetica Vol 22 n 40 Rio Claro SP Brasil Maiago-2012
CASSIANI S LINSINGEN I Educaccedilatildeo CTS em perspectiva
discursiva contribuiccedilotildees dos Estudos Sociais da Ciecircncia e da
Tecnologia Redes Buenos Aires V 16 nordm 31 dezembro de 2010 p
163-182
CASSIANI S LINSINGEN I GIRALDI P M Histoacuterias de leituras
produzindo sentidos sobre Ciecircncia e Tecnologia Proacute-Posiccedilotildees
(UNICAMP Online) v 64 p 1-12 2011
CASSIANI S LINSINGEN I LUNARDI G Enfocando a Formaccedilatildeo
de Professores de Ciecircncias no Timor-Leste Alexandria Revista de
Educaccedilatildeo em Ciecircncia e Tecnologia v5 n2 p189-208 setembro 2012
CASTORIADIS C A instituiccedilatildeo imaginaacuteria da sociedade Rio de
Janeiro Paz e Terra 1986
CASTRO F Falsa neutralidade (2009) Entrevista a Fernando Tula
Molina agrave Agecircncia FAPESP Jan 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwagenciafapespbrmateria9971entrevistasfalsa-
neutralidadehtmgt Acesso em 11 jan 2009
CATTANI A D et al Dicionaacuterio Internacional da Outra Economia
Coimbra Almedina 2009
CAXIAS Prefeitura Municipal de Caxias do Sul (2015) Terra
Disponiacutevel em
lthttpswwwcaxiasrsgovbrcidadetextophpcodigo=661gt Acesso
em 07 nov 2015
CHANDLER D Technological or Media Determinism (1995)
Disponiacutevel em
223
lthttpwwwaberacukmediaDocumentstecdettecdethtmlgt Acesso
em 05 jun 2012
CHAUIacute M A universidade puacuteblica sob nova perspectiva (2003)
Revista Brasileira de Educaccedilatildeo nordm 24 p 5-15 SetOutNovDez
(2003) Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfrbedun24n24a02pdf
gt Acesso em 01 nov 2015
CHAacuteVARRO L A El debate sobre el determinismo tecnoloacutegico de
impacto a influencia mutua (2004) In SampT - Sistemas e telemaacutetica da
Universidade ICESI p121 - 143 Disponiacutevel em lthttpopenpdfcom
gt Acesso em 07 mar 2012
COLLINS H Estudos Sociais da Ciecircncia a jornada In PREMEBIDA
A NEVES F M DUARTE T R Investigaccedilotildees Contemporacircneas
em Estudos Sociais da Ciecircncia e Tecnologia Jundiaiacute Paco editorial
2015
COLLINS H PINCH T O Golem O que vocecirc deveria saber sobre
ciecircncia Belo Horizonte Fabrefactum 2010a
COLLINS H PINCH T O Golem agrave solta O que vocecirc deveria saber
sobre tecnologia Belo Horizonte Fabrefactum 2010b
CORREcircA R F Determinismo tecnoloacutegico elementos para debates em
perspectiva educacional In Revista Tecnologia amp Sociedade Curitiba
n 18 p 173-182 dez 2013a
______ Ensino Politeacutecnico uma leitura sobre tecnologia In
Germinal Marxismo e Educaccedilatildeo em debate Salvador v 6 n 1 p
195-204 jun 2014
______ Notas sobre Tecnologias Sociais Brasileiras In MACIEL A
L S BORDIN E M B (Org) Muacuteltiplos olhares sobre Tecnologias
Sociais pesquisas e praacuteticas sociais Porto Alegre FIJO 2013b v 01
p 105-121
______ Tecnologia e sociedade anaacutelise de tecnologias sociais no
Brasil contemporacircneo 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sociologia) -
UFRGS Porto Alegre 2010
224
CORREcircA R F GEREMIAS B M Controveacutersias tecnoloacutegicas na
construccedilatildeo da Usina de Belo Monte In CIVIEIRO SCHWERTL
OLIVEIRA FRONZA (Org) (Com) Textos Reflexatildeo e accedilatildeo no fazer
pedagoacutegico da Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica Blumenau FURB
2015
COSTA S Q B G da A Educaccedilatildeo intergeracional como tecnologia
social uma abordagem da intergeracionalidade no acircmbito da
Universidade Federal do Tocantins-UFT 2015 Mestrado (Educaccedilatildeo) ndash
UFT Palmas 2015
CUNHA A M SILVA D Construccedilatildeo e validaccedilatildeo de um
questionaacuterio de atitudes frente agraves relaccedilotildees CTS (2009) Disponiacutevel
em lthttpposgradfaeufmgbrposgradviienpecpdfs1195pdfgt
Acesso em 28 jul 2016
CUPANI A Filosofia da tecnologia um convite Florianoacutepolis Ed da
UFSC 2011
DAGNINO R A tecnologia social e seus desafios In LASSANCE JR
A et al (orgs) Tecnologia Social uma estrateacutegia para o
desenvolvimento Rio de janeiro Fundaccedilatildeo Banco do Brasil 2004
_______ Neutralidade da ciecircncia e determinismo tecnoloacutegico
Campinas Unicamp 2008
______ Tecnologia Social Contribuiccedilotildees conceituais e metodoloacutegicas
(Vol 2) Campina Grande Eduepb Florianoacutepolis Insular 2014
DAGNINO R BRANDAtildeO F NOVAES H Sobre o marco analiacutetico-
conceitual da tecnologia social In LASSANCE JR A E et al
Tecnologia Social uma estrateacutegia para o desenvolvimento Rio de
janeiro Fundaccedilatildeo Banco do Brasil 2004
DAGNINO R SILVA R B PADOVANNI N Por que a educaccedilatildeo
em ciecircncia tecnologia e sociedade vem andando devagar In SANTOS
W L P e AULER D CTS e educaccedilatildeo cientiacutefica desafios tendecircncias
e resultados de pesquisa Brasiacutelia Editora UnB 2011
225
DAGNINO R THOMAS H DAVYT A El pensamiento en Ciencia
tecnologiacutea y sociedade en Ameacuterica Latina una interpretacioacuten poliacutetica de
su trayectoria Redes Buenos Aires v 3 n 7 1996
DAYRELL J A A escola como espaccedilo soacutecio-cultural In ______
(org) Muacuteltiplos olhares sobre educaccedilatildeo e Cultura Belo Horizonte
Editora UFMG 1996
______ A escola ldquofazrdquo as juventudes Reflexotildees em torno da
socializaccedilatildeo juvenil (2007) Educaccedilatildeo e Sociedade Campinas vol28
n100 ndash Especial p 1105-1128 out 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwcedesunicampbrgt Acesso em 15 mar 2011
DELIZOICOV D La Educacioacuten en Ciencias y la Perspectiva de Paulo
Freire Alexandria Revista de Educaccedilatildeo em Ciecircncia e Tecnologia v1
n2 p37-62 jul 2008
DIAS R NOVAES H Contribuiccedilotildees da economia da inovaccedilatildeo para a
reflexatildeo acerca da tecnologia social In Tecnologia Social ferramenta
para construir outra sociedade DAGNINO R (org) Campinas
Unicamp 2009
DIAS T L S SERRA E SEPULVEDA C A ARTEAGA J S
Geneacutetica raccedila e poliacuteticas de accedilotildees afirmativas a partir de questotildees sociocientiacuteficas (2015) Disponiacutevel em
lthttpwwwrio2015esociteorgsiteanaisarquivoresumoMODALIDA
DE=6gt Acesso em 07 nov 2015
DIEacuteGUEZ A El determinismo tecnoloacutegico indicaciones para su
interpretacioacuten (2005) Argumentos de Razoacuten Teacutecnica 8 2005 p 67-
87 Disponiacutevel em lt httpopenpdfcomgt Acesso em 05 mar 2009
DINIZ V Diaacutelogos e olhares sobre CTS em Timor-Leste uma
experiecircncia no curso de Poliacuteticas Puacuteblicas da UNTL (2015)
Disponiacutevel em
lthttpwwwrio2015esociteorgsiteanaisarquivoresumoMODALIDA
DE=6gt Acesso em 08 nov 2015
DOMINGUES L L S A produccedilatildeo tecnoloacutegica em incubadoras de
empresas 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sociologia) ndash UFRGS
Porto Alegre 2010
226
DORNELLES S S De Coroados a Kaingang as experiecircncias vividas
pelos indiacutegenas no contexto de imigraccedilatildeo alematilde e italiana no Rio
Grande do Sul do seacuteculo XIX e iniacutecio do XX Dissertaccedilatildeo (Mestrado em
Histoacuteria) - UFRGS Porto Alegre 2011
ECHEVERRIacuteA J Introduccedilatildeo agrave metodologia da ciecircncia Coimbra
almedina 2003
ELLUL J The Technological Society New York Vintage Books
1964
FAVERI J E Aacutelvaro Vieira Pinto contribuiccedilotildees agrave educaccedilatildeo
libertadora de Paulo Freire Satildeo Paulo Liber Ars 2014
FBB (FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL) O que eacute tecnologia social
(2008) Disponiacutevel em lthttp wwwtecnologiassocialorgbr gt
Acesso em 12 jan 2008
FEENBERG A La ensentildeanza lsquoonlinersquo y las opciones de
Modernidade (2001) Disponiacutevel em
lthttpwwwsfuca~andrewfbooksSpan_La_ensenanza_online_y_las_
opciones_de_modernidadpdf gt Acesso em 22 mar 2016
______ Marcuse ou Habermas duas criacuteticas da tecnologia (1996a)
Disponiacutevel em lthttpwww-rohansdsuedufacultyfeenberggt Acesso
em 05 dez 2008
______ O que eacute a Filosofia da Tecnologia (2003) Disponiacutevel em
lthttpwwwsfuca~andrewfgt Acesso em 03 mar 2015
______ Racionalizaccedilatildeo subversiva tecnologia poder e democracia
(1991) Disponiacutevel em lthttpwwwsfuca~andrewflanguageshtmgt
Acesso em 03 mar 2015
______ Symposia on Questioning Technology (1999) Disponiacutevel
em
lthttpwwwsfuca~andrewfsymposia_questioning_technologyhtmlgt
Acesso em 20 mar 2016
227
______ Summary remarks on my approach to the philosophical
study of technology (1996b) Disponiacutevel em
lthttpwwwsfuca~andrewfMethod1htmgt Acesso em 25 mar 2016
______ Teoria Criacutetica da Tecnologia nota autobiograacutefica (2004)
Disponiacutevel em lthttpwwwsfuca~andrewflanguageshtmgt Acesso
em 12 ago 2007
______ Teoria Criacutetica da Tecnologia um panorama (2005)
Disponiacutevel em lthttpwwwsfuca~andrewflanguageshtmgt Acesso
em 06 mar 2011
______ Transformar la tecnologiacutea Una nueva visita a la teoria
criacutetica Bernal Universidade Nacional de Quilmes 2012
______ Transforming technology a Critical Theory revisited New
York Oxford University Press 2002
FEMENIacuteAS M L Introducciacuteon In FEMENIacuteAS M L (Org) Perfiles
del feminismo ibero-americano V3 Buenos Aires Cataacutelogos 2007
FIGUEIREDO V Produccedilatildeo social da tecnologia Satildeo Paulo EPU
1989
FONSECA R SERAFIM M A Tecnologia Social e seus arranjos
institucionais In Tecnologia Social ferramenta para construir outra
sociedade DAGNINO R (org) Campinas Unicamp 2009
FRANCHINI A S SEGANFREDO C As melhores histoacuterias da
mitologia deuses heroacuteis monstros e guerras da tradiccedilatildeo grego-romana
Porto Alegre LampPM 2012
FREIRE P Agrave sombra desta mangueira Rio de Janeiro Paz e Terra
2013
______ Accedilatildeo cultural para a liberdade e outros escritos Rio de
Janeiro Paz e Terra 1968
______ Conscientizaccedilatildeo teoria e praacutetica da libertaccedilatildeo uma
introduccedilatildeo ao pensamento de Paulo Freire Satildeo Paulo Editora Moraes
1980
228
______ Educaccedilatildeo como praacutetica da liberdade Rio de Janeiro Paz e
Terra 1983
______ Extensatildeo ou comunicaccedilatildeo Rio de Janeiro RJ Paz e Terra
1985
_____ Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica
educativa Satildeo Paulo Paz e Terra 2011
______ Pedagogia da esperanccedila Um reencontro com a Pedagogia do
Oprimido Rio de Janeiro Paz e Terra 1992
______ Pedagogia do oprimido Rio de Janeiro Paz e Terra 1987
FREIRE P FAUNDEZ A Por uma pedagogia da pergunta Rio de
Janeiro Paz e Terra 1986
FREITAS C C G SEGATTO A P Tecnologia social
Caracterizaccedilatildeo da produccedilatildeo cientiacutefica (2013) In Espacios Venezuela
vol 34 (2) p 11 2013 Disponiacutevel em lt
httpwwwrevistaespacioscomgt Acesso em 07 out 2015
FREITAS M C Economia e educaccedilatildeo a contribuiccedilatildeo de Aacutelvaro Vieira
Pinto para o estudo histoacuterico da tecnologia Revista Brasileira de
Educaccedilatildeo v 11 n 31 janabr 2006
______ O conceito de tecnologia o quarto quadrante do ciacuterculo de
Aacutelvaro Vieira Pinto In PINTO A V O Conceito de Tecnologia Rio
de Janeiro Contraponto 2005
FRIGOTTO G A relaccedilatildeo da educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica com a
universalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo baacutesica In MOLL J Educaccedilatildeo
profissional e tecnoloacutegica no Brasil contemporacircneo desafios tensotildees
e possibilidades Porto Alegre Artmed 2010
______ Educaccedilatildeo e a crise do capitalismo real Satildeo Paulo Cortez
1999
FURTADO P Combater o Futuro Um olhar sobre as representaccedilotildees
ldquotecnofoacutebicasrdquo de ciecircncia e tecnologia na cinematografia moderna
229
(2009) E-topia Revista Electroacutenica de Estudos sobre a Utopia nordm 10
(2009) Disponiacutevel
emlthttplerletrasupptsitedefaultaspxqry=id05id164ampsum=simgt
Acesso em 10 jun 2010
GALEANO E Espelhos Uma histoacuteria quase universal Porto Alegre
LampPM 2009
GIRALDI P M Leitura e escrita no ensino de ciecircncias espaccedilos para
produccedilatildeo de autoria 2010 Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e
Tecnoloacutegica) - UFSC Florianoacutepolis 2010
GOMES A S A O potencial das controveacutersias sociocientiacuteficas para
a educaccedilatildeo ambiental com abordagem CTS (2015) Disponiacutevel em lt
httpwwwrio2015esociteorgsiteanaisarquivoresumoMODALIDAD
E=6gt Acesso em 05 nov 2015
GOMES N L Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre
relaccedilotildees raciais no Brasil uma breve discussatildeo (2012) Disponiacutevel
em lthttpwwwacaoeducativaorgbrfdhwp-
contentuploads201210Alguns-termos-e-conceitos-presentes-no-
debate-sobre-RelaC3A7C3B5es-Raciais-no-Brasil-uma-breve-
discussC3A3opdfgt Acesso em 17 jul 2016
GONZALES W R C Gramsci e a Organizaccedilatildeo da Escola Unitaacuteria
(1996) Boletim teacutecnico do Senac vol 22 1 Janeiro-Abril (1996) p
27-33 Disponiacutevel em lthttpwwwsenacbrBTS221boltec221chtmgt
Acesso em 02 mai 2015
GORRI A P Exposiccedilotildees destinadas agrave saberes e teacutecnicas de
civilizaccedilotildees preacute-colombianas em museus latino-americanos e o
Ensino de Ciecircncias e Tecnologias (2015) Disponiacutevel em
lthttpwwwrio2015esociteorgsiteanaisarquivoresumoMODALIDA
DE=6gt Acesso em 20 nov 2015
GRAMSCI A Os intelectuais e a organizaccedilatildeo da cultura Rio de
Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1982
GRINSPUN M P S Z (Org) Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica desafios e
perspectivas Satildeo Paulo Cortez 2009
230
GROPPO L A Juventude ensaios sobre sociologia e histoacuteria das
juventudes modernas Rio de Janeiro DIFIL 2000
HABERMAS J Passado como futuro Rio de Janeiro Tempo
Brasileiro 1993
_______ Teoria de la accioacuten comunicativa complementos y
estudios previos Madrid Ed Catedra 1989
HARAWAY D Ciencia cyborgs y mujeres La reinvencioacuten de la
naturaleza Madrid Ed Caacutetedra 1991
HARAWAY D KUNZRU H TADEU T (Orgs) Antropologia do
ciborgue As vertigens do poacutes-humano Belo Horizonte Autentica
2013
HARDING S After the Neutrality Ideal Science Politics and Strong
Objectivityrdquo (1992) Social Research v 59 nordm3 1992
______ Introduction Standpoint theory as a site of political
philosophic and scientific debate In HARDING S The feminist
standpont theory reader Intellectual and political controversies New
York New York 2004
HESSEN J Teoria do Conhecimento Satildeo Paulo Martins Fontes
2003
HOBSBAWM E Era dos extremos O breve seacuteculo XX 1914-1991
Satildeo Paulo companhia das letras 2005
______ Os Trabalhadores estudos sobre a histoacuteria do operariado Rio
de Janeiro Paz e Terra 2000
HOLLANDA H B de O decliacutenio da autoria na web amp nas artes
(2010) Disponiacutevel em lt
httpwwwculturarjgovbrartigoso-declinio-da-autoria-na-web-nas-
artesgt Acesso em 14 abr 2016
HORKHEIMER M Textos escolhidos (Coleccedilatildeo Os pensadores) Satildeo
Paulo Abril Cultural 1980
231
HORKHEIMER M ADORNO T W Textos escolhidos (Coleccedilatildeo Os
pensadores) Satildeo Paulo Nova Cultural 1991
HUGUET M El determinismo tecnoloacutegico
iquestUn nuevo discurso legitimador (2003) In
Claves de Razoacuten Praacutectica nordm134 p 31shy45 julioagosto 2003
IBGE (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
ESTATIacuteSTICA) Cidades (2015) Disponiacutevel em
lthttpwwwcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=4305
10ampidtema=16ampsearch=rio-grande-do-sul|caxias-do-sul|sintese-das-
informacoesgt Acesso em 20 nov 2015
IFRS Informaccedilotildees (2015) Disponiacutevel em
lthttpcaxiasifrsedubrsiteconteudophpcat=49gt Acesso em 14 ago
2015
______ PPC Projeto Pedagoacutegico do Curso Teacutecnico em Fabricaccedilatildeo
Mecacircnica Integrado ao Ensino Meacutedio (2013) IFRS ndash Cacircmpus Caxias
do Sul 2013
ITS (INSTITUTO DE TECNOLOGIA SOCIAL) Guia para
elaboraccedilatildeo de estudos de caso (2009) Disponiacutevel em
lthttpwwwitsbrasilorgbrgt Acesso em 12 jan 2009
_______ Reflexotildees sobre a construccedilatildeo do conceito de tecnologia social
In LASSANCE JR A et al (orgs) Tecnologia Social uma
estrateacutegia para o desenvolvimento Rio de janeiro Fundaccedilatildeo Banco do
Brasil 2004
JACINSKI E Educaccedilatildeo CTS no curso de Engenharia da
Computaccedilatildeo sentidos construiacutedos pelos docentes (2015) Disponiacutevel
em
lthttpwwwrio2015esociteorgsiteanaisarquivoresumoMODALIDA
DE=6gt Acesso em 20 nov 2015
JANNING D P Anaacutelise dos discursos sobre ciecircncia em um livro de
divulgaccedilatildeo cientiacutefica sobre formigas diaacutelogos com educaccedilatildeo CTS
(2015) Disponiacutevel em
lthttpwwwrio2015esociteorgsiteanaisarquivoresumoMODALIDA
DE=6gt Acesso em 20 nov 2015
232
JINKINGS I Apresentaccedilatildeo In MEacuteSZAacuteROS I A educaccedilatildeo para
aleacutem do capital Satildeo Paulo Boitempo 2008
JULIANO M C C Rede Famiacutelia um estudo sobre uma experiecircncia
de tecnologia social e seu diaacutelogo com a promoccedilatildeo de resiliecircncia
comunitaacuteria e a Educaccedilatildeo Ambiental 2013 Doutorado (Educaccedilatildeo
Ambiental) ndash FURG Rio Grande 2013
JUacuteNIOR N K Toacutepicos sobre Ciecircncia Sociedade e Autoria no mercado
de ideias o lugar da ciecircncia no mundo (2013) In MEIRELLES M et al (Orgs) Ensino de Sociologia Trabalho Ciecircncia e Cultura Porto
Alegre EvangrafLAVIECS 2013a
KLEBA J B Tecnologia subdesenvolvimento e a domesticaccedilatildeo do
futuro ndash Uma reflexatildeo criacutetica sobre a filosofia da teacutecnica de Aacutelvaro
Vieira Pinto (2008) Disponiacutevel em lt
wwwocytorgcoesocitePonencias_ESOCITEPDF6BRS072pdfgt
Acesso em 14 ago 2009
KUENZER A A gestatildeo democraacutetica da Educaccedilatildeo Profissional
desafios para sua construccedilatildeo In BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
Secretaria de Educaccedilatildeo a Distacircncia Ensino Meacutedio Integrado agrave Educaccedilatildeo
profissional 2006 Brasiacutelia MEC 2006 Disponiacutevel em
lthttpportalmecgovbrsetecarquivospdf2boletim_salto07pdfgt
Acesso em 15 abr 2016
______ Dilemas e sentidos atuais do ensino meacutedio e da educaccedilatildeo
profissional (painel) In Seminaacuterio Internacional de educaccedilatildeo do RS
concepccedilotildees e sentidos da educaccedilatildeo UFRGS SEDUCRS Porto Alegre
2013 Disponiacutevel em
lthttpwwweducacaorsgovbrpsehtmlpalestrajspACAO=acao1gt
Acesso em 20 jul 2013
LINSINGEN I Engenharia tecnologia e sociedade novas
perspectivas para uma formaccedilatildeo Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo ndash
Ensino de Ciecircncias Naturais) - UFSC Florianoacutepolis 2002
______ Perspectiva educacional CTS aspectos de um campo em
consolidaccedilatildeo na Ameacuterica Latina Ciecircncia amp Ensino vol 1 nuacutemero
especial novembro de 2007
233
LUCENA M M A CABRAL C G Educaccedilatildeo CTS nos
bacharelados interdisciplinares em ciecircncia e tecnologia na regiatildeo nordeste do Brasil (2015) Disponiacutevel em lt
httpwwwrio2015esociteorgsiteanaisarquivoresumoMODALIDAD
E=6gt Acesso em 20 nov 2015
MANACORDA M A Marx e a pedagogia moderna Campinas
Aliacutenea 2010
______ O princiacutepio educativo em Gramsci Americanismo e
conformismo Campinas Aliacutenea 2013
MARICONDA P R MOLINA F T Entrevista com Andrew
Feenberg Scientiae Studia Satildeo Paulo 2009 vol7 n1 p 165-171
MARX K Manuscritos econocircmico-filosoacuteficos e outros textos
escolhidos Vol II Satildeo Paulo Nova Cultural 1988
MARX K ENGELS F A Ideologia Alematilde In MARX K ENGELS
F Obras escolhidas V 1 Lisboa Avante 1982
MARX K ENGELS F Textos sobre Educaccedilatildeo e Ensino Satildeo Paulo
Centauro 2004
MATSUMOTO C Y O papel das Incubadoras de Cooperativas no
desenvolvimento local sustentaacutevel (2008) In Sustentabilidade e
cooperativismo II Mostra FIESP de Responsabilidade Socioambiental
ITCP-FGV Disponiacutevel em lt httpwwwitcpfgvorgbrgt Acesso em
03 mar 2009
MAURICI L Haacute controveacutersias cientiacuteficas na Prova do ENEM
Contribuiccedilotildees dos Estudos CTS agrave Educaccedilatildeo (2015) Disponiacutevel em
lthttpwwwrio2015esociteorgsiteanaisarquivoresumoMODALIDA
DE=6gt Acesso em 20 nov 2015
MCT (MINISTEacuteRIO DE CIEcircNCIA E TECNOLOGIA) Tecnologias
Sociais (2010) Disponiacutevel em
httpwwwmctgovbrindexphpcontentview308089html Acesso
em 25 jun 2010
234
MEAULO M P Fundaccedilatildeo Dorina Nowill Para Cegos Um Estudo
Sobre a Educaccedilatildeo Natildeo Formal e Tecnologias Sociais Presentes na
Inclusatildeo de Portadores de Deficiecircncia Visual 2014 Mestrado
(Educaccedilatildeo) ndash Centro Universitaacuterio Salesiano de Satildeo Paulo Satildeo Paulo
2014
MEIRELLES M et al (Orgs) Ensino de Sociologia Trabalho
Ciecircncia e Cultura Porto Alegre EvangrafLAVIECS 2013a
______ (Orgs) O ensino de Sociologia no RS Repensando o lugar da
Sociologia Porto Alegre EvangrafLAVIECS 2013b
MENESES M P Diaacutelogos de saberes debates de poderes
possibilidades metodoloacutegicas para ampliar diaacutelogos no Sul global
(2014) In Em Aberto Brasiacutelia v 27 n 91 p 90-110 janjun 2014
MEacuteSZAacuteROS I A educaccedilatildeo para aleacutem do capital Satildeo Paulo
Boitempo 2008
MOLL J Educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica no Brasil
contemporacircneo desafios tensotildees e possibilidades Porto Alegre
Artmed 2010
MORAES A C GUIMARAtildeES E F Metodologia de Ensino de
Ciecircncias Sociais relendo as OCEM-Sociologia In MORAES A C
(Coord) Sociologia Ensino Meacutedio Coleccedilatildeo Explorando o Ensino
Meacutedio v 15 Brasiacutelia MECSEB 2010
MTE (MINISTEacuteRIO DO TRABALHO E EMPREGO) Aspectos
Conceituais da Vulnerabilidade Social (2007) Convecircnio MTE -
DIEESE (2007) Disponiacutevel em
ltwwwmtegovbrobservatoriosumario_2009_TEXTOV1pdfgt Acesso
em 28 ago 2009
NASCIMENTO T G LINSINGEN I Articulaccedilotildees entre o enfoque
CTS e a pedagogia de Paulo Freire como base para o ensino de ciecircncias
(2006) Convergencia Revista de Ciencias Sociales vol 13 nuacutem 42
sep-dic 2006 p 95- 116 Universidad Autoacutenoma del Estado de Meacutexico
Toluca Meacutexico Disponiacutevel em
lthttpwwwredalycorgarticulooaid=10504206gt Acesso em 12
mar 2016
235
NEDER R T Tecnologia social como pluralismo tecnoloacutegico (2008)
In VII Jornadas Latinoamericanas de Estudios Sociales de la
Ciencia y la Tecnologiacutea ndash Esocite Rio de Janeiro Disponiacutevel em
lthttpwebcachegoogleusercontentcomsearchq=cachebTxjnPY6-
xAJwwwnecsoufrjbresocite2008trabalhos35537doc+ampcd=1amphl=pt
-BRampct=clnkampgl=brgt Acesso em 20 set 2009
NIEZWIDA N R A Articulaccedilotildees entre CTS e Paulo Freire na
definiccedilatildeo de objetos de educaccedilatildeo tecnoloacutegica (2015) Disponiacutevel em
lthttpwwwrio2015esociteorgsiteanaisarquivoresumoMODALIDA
DE=6gt Acesso em 20 nov 2015
NUNES E J F Laboratoacuterio de desenvolvimento de tecnologias sociais
(2005) In Scripta Nova Revista electroacutenica de geografiacutea y ciencias
sociales Universidad de Barcelona Vol IX nuacutem 194 (96) 1 de agosto
de 2005 Disponiacutevel em lt httpwwwubesgeocritsnsn-194-96htmgt
Acesso em 01 nov 2008
OLIVEIRA J P de Tecnologia Social na Educaccedilatildeo Profissional e
tecnoloacutegica perspectivas da formaccedilatildeo do curso teacutecnico integrado em
informaacutetica do IFRN ndash Campus Mossoroacute 2015 Mestrado (Educaccedilatildeo
Profissional) ndash IFRS Natal 2015
ORTEGA O La participacioacuten puacuteblica en Ciencia y Tecnologiacutea y la
Educacioacuten CTS Caminos posibles basados en el lugar (2015)
Disponiacutevel em
lthttpwwwrio2015esociteorgsiteanaisarquivoresumoMODALIDA
DE=6gt Acesso em 20 nov 2015
PENA J O MELLO C J Tecnologia social a experiecircncia da
Fundaccedilatildeo Banco do Brasil na disseminaccedilatildeo e reaplicaccedilatildeo de soluccedilotildees
sociais efetivas In LASSANCE JR A E et al Tecnologia Social uma
estrateacutegia para o desenvolvimento Rio de janeiro Fundaccedilatildeo Banco do
Brasil 2004
PEREIRA P B O Programa de Qualificaccedilatildeo de Docentes e Ensino
de Liacutengua Portuguesa no Timor-Leste (PQLP) Um olhar para o
Ensino de Ciecircncias Naturais 2014 Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo
Cientiacutefica e Tecnoloacutegica) - UFSC Florianoacutepolis 2014
236
PINCH T J BIJKER W E La construccioacuten social de hechos y
artefactos o acerca de como la sociologia de la ciencia y la sociologia
de la tecnologia pueden beneficiarse mutuamente In THOMAS H
BUCH A Actos actores y artefactos sociologia de la tecnologia
Bernal quilmes editorial 2008
PINTO A V O conceito de Tecnologia (Vol 1) Rio de janeiro
Contraponto 2005
PNUD (PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO) Cidades (2015) Disponiacutevel em
lthttpatlasbrasilorgbr2013ptperfil_mcaxias-do-sul_rseducacaogt
Acesso em 22 nov 2015
POMBO O Epistemologia da Interdisciplinaridade (2006)
Disponiacutevel em
lthttpwwweducfculptdocentesopomboinvestigacaoportofinalpdf
gt Acesso em 15 set 2009
PREMEBIDA A As biotecnologias e a politizaccedilatildeo da vida 2008
Tese (Doutorado em Sociologia) - UFRGS Porto Alegre 2008
QUINTANA M Das Utopias In QUINTANA M Quintana de
Bolso Porto Alegre
RAYMOND E The Cathedral and the Bazaar (1998) First Monday
v3 n3 Mar 1998 Disponiacutevel em
lthttpfirstmondayorgojsindexphpfmarticleview578499gt Acesso
em 15 abr 2016
REDTISA Escuelas Sustentables (2016) Disponiacutevel em lt
httpwwwredtisaorgesnoticias310escalando-gestion-tecnologica-
inclusiva-escuelashtmlgt Acesso em 19 abr 2016
REIS V M S A Ciecircncia vai agrave Sociedade Projeto de Extensatildeo
Universitaacuteria ldquoOficinas Filosoacuteficas em Ciecircncia Tecnologia e Sociedade
(CTS)rdquo (2015) Disponiacutevel em lt
httpwwwrio2015esociteorgsiteanaisarquivoresumoMODALIDAD
E=6gt Acesso em 20 nov 2015
237
ROCHA NETO I Tecnologias Sociais (2002) Revista Diaacutelogos v 1
p 8-16 Disponiacutevel em
lthttpwwwiehamorghtmldocsTecnologias_Sociais_Conceitos_e_pe
rspectivaspdfgt Acesso em 12 out 2011
RODRIGUES J Educaccedilatildeo Politeacutecnica (2008) In PEREIRA I B
Dicionaacuterio da Educaccedilatildeo Profissional em Sauacutede Rio de Janeiro
EPSJV 2008 Disponiacutevel em
lthttpwwwepsjvfiocruzbrdicionarioverbetesedupolhtmlgt Acesso
em 05 dez 2012
RTS (REDE DE TECNOLOGIA SOCIAL) Apresentaccedilatildeo In
LASSANCE JR A E et al Tecnologia Social uma estrateacutegia para o
desenvolvimento Rio de janeiro Fundaccedilatildeo Banco do Brasil 2004
_______ Integrantes (2010) Disponiacutevel em
lthttpwwwrtsorgbrintegrantestodas-as-instituicoesgt Acesso em 06
jun 2010
RUTKOWSKI J Rede de tecnologias sociais pode a tecnologia
proporcionar desenvolvimento social In LIANZA S ADDOR F
Tecnologia e desenvolvimento Social e Solidaacuterio Porto Alegre
UFRGS 2005
SAFFIOTI H A questatildeo da mulher na perspectiva socialista (2011)
Lutas Sociais Satildeo Paulo n27 p82-100 2011 Disponiacutevel em lt
httprevistaspucspbrindexphplsarticleview18733gt Acesso em 20
mar 2016
SANTOS B S As vozes do mundo Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo
Brasileira 2009
______ Conocer desde el Sur para una cultura poliacutetica emancipatoacuteria
Lima
Fondo Editorial de la Facultad de Ciencias Sociales 2006
______ Descolonizar el saber reinventar el poder Montevideo
Trilce 2010a
238
______ Para uma sociologia das ausecircncias e uma sociologia das
emergecircncias In Revista Criacutetica de Ciecircncias Sociais N 63 Outubro
de 2002 p 237-280
______ Renovar a teoria criacutetica e reinventar a emancipaccedilatildeo social
Satildeo Paulo Boitempo 2007
______ Um Discurso sobre as Ciecircncias Satildeo Paulo Cortez 2010b
SANTOS B S MENESES M P (Orgs) Epistemologias do Sul Satildeo
Paulo Cortez 2010
SANTOS M G dos O feminismo na histoacuteria suas ondas e desafios
epistemoloacutegicos In BORGES M L TIBURI M (Org) Filosofia
machismos e feminismos Florianoacutepolis Edufsc 2014
SANTOS S M dos A experiecircncia com esporte e educaccedilatildeo do
Instituto Bola pra Frente de projeto agrave tecnologia social 2008
Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Bens Culturais e Projetos Sociais) - Fundaccedilatildeo
Getuacutelio Vargas Rio de Janeiro 2008
SANTOS W L P Significados da educaccedilatildeo cientiacutefica com enfoque
CTS In SANTOS W L P e AULER D CTS e educaccedilatildeo cientiacutefica
desafios tendecircncias e resultados de pesquisa Brasiacutelia Editora UnB
2011
SASSOON A S Hegemonia In OUTHWAITE W e BOTTOMORE
T Dicionaacuterio do pensamento social do seacuteculo XX Rio de Janeiro
Zahar 1996
SAUL A M SILVA A F G da O pensamento de Paulo Freire em
sistemas puacuteblicos de ensino pesquisando poliacuteticas de curriacuteculo em um
mesmo territoacuterio sob diferentes olhares (2012) In Revista Teias v
13 n 27 p09-26 janabr 2012
SAVAGE J Trecircs deacutecadas de ldquofaccedila vocecirc mesmordquo (2005) Entrevista a
Marcelo Orozco agrave Revista Cult Ediccedilatildeo 96 Out 2005 Disponiacutevel em
lthttprevistacultuolcombrhome201003tres-decadas-de-faca-voce-
mesmogt Acesso em 10 abr 2016
SAVIANI D Escola e democracia Campinas Cortez 1987
239
______ O Choque teoacuterico da politecnia Trabalho Educaccedilatildeo e Sauacutede
vol 1 p131-152 2003
______ Sobre a Concepccedilatildeo de Politecnia Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo
Oswaldo Cruz 1989
SCHAFF A Histoacuteria e Verdade Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
SCHUMACHER E F O negoacutecio eacute ser pequeno Rio de Janeiro
Zahar 1977
SEVERINO A J Filosofia da educaccedilatildeo construindo a cidadania Satildeo
Paulo FTD 1994
SHAND T KEMPIM G (prod) Sex Pistols Never Mind the
Bollocks ST2 Viacutedeo 2002
SILVA A J Politecnia versus alienaccedilatildeo contribuiccedilotildees conceituais para
o estudo sobre a ofensiva capitalista na educaccedilatildeo (2008) In Jornada
do HISTEDBR Anais da VIII Jornada do HISTEDBR Campinas
FEUNICAMP HISTEDBR 2008 Disponiacutevel em
lthttpwwwhistedbrfaeunicampbracer_histedbrjornadajornada8res
umosAdnilson20Silva20(R)docgt Acesso em 12 dez 2012
SILVA C R et al Discussotildees educacionais em CTS relato de
experiecircncia em sala de aula na visatildeo discente do Programa de Poacutes-
Graduaccedilatildeo em Tecnologia da UTFPR (2015) Disponiacutevel em lt
httpwwwrio2015esociteorgsiteanaisarquivoresumoMODALIDAD
E=6gt Acesso em 20 nov 2015
SILVA G C A tecnologia como um problema para a teoria da
educaccedilatildeo (2005) Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) - Unicamp
Campinas 2005
SILVEIRA S A Inclusatildeo digital software livre e globalizaccedilatildeo
contra hegemocircnica (2009) Disponiacutevel em lt httpwwwufrgsbrsoft-
livre-eduinclusao-digital-software-livre-e-globalizacao-contra-
hegemonica-2gt Acesso em 17 abr 2016
240
______ Software livre a luta pela liberdade do conhecimento Satildeo
Paulo Editora Fundaccedilatildeo Perseu Abramo 2004
SILVEIRA J C MATOS B T P GANHOR J P As abordagens
teoacuterico-metodoloacutegicas dos trabalhos apresentados no V TEC SOC e
no ESOCITE4S e sua articulaccedilatildeo com o campo da Educaccedilatildeo CTS
(2015) Disponiacutevel em lt
httpwwwrio2015esociteorgsiteanaisarquivoresumoMODALIDAD
E=6gt Acesso em 20 nov 2015
SMITH M R Technological Determinism in American Culture In
SMITH M R MARX L Does Technology Drive History The
Dilemma of Technological Determinism Massachusetts MIT 1994
SMITH M R MARX L Does Technology Drive History The
Dilemma of Technological Determinism Massachusetts MIT 1994
SOCORRO M S PENIDO M C M A contribuiccedilatildeo do Instituto
Kirimurecirc na divulgaccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia em espaccedilos natildeo formais da Baia de Todos os Santos (2015) Disponiacutevel em lt
httpwwwrio2015esociteorgsiteanaisarquivoresumoMODALIDAD
E=6gt Acesso em 20 nov 2015
SOUZA R M de Escola e Juventude o aprender a aprender Satildeo
Paulo Paulus 2003
STALLMAN R The Free Software Definition (2008) In Free
Software Foundation Disponiacutevel em lt
httpwwwfsforglicensingessaysfree-swhtmlgt Acesso em 10 abr
2016
TAIT M FONSECA R DAGNINO R Um Enfoque Tecnoloacutegico
para Inclusatildeo Social (2007) In Seminaacuterio Altec 2007 Disponiacutevel em
lt httpwwwasociacionaltecorghtmlexpohtm gt Acesso em 08 nov
2013
THIOLLENT M J M Criacutetica metodoloacutegica investigaccedilatildeo social e
enquete operaacuteria Satildeo Paulo Polis 1985
241
THOMAS H Tecnologias para Inclusatildeo Social e Poliacuteticas Puacuteblicas na
Ameacuterica Latina IN OTTERLOO A (Org) Tecnologias Sociais
Caminhos para a sustentabilidade Brasiacutelia RTS 2009
______ Tecnologiacuteas para la inclusioacuten El desafio de la adecuacioacuten
socio-teacutecnica Simpoacutesio - Tecnologias Sociais Divulgaccedilatildeo de CampT e
Inovaccedilatildeo na Ameacuterica Latina 4ordf Reuniatildeo Ciecircncia Tecnologia e
Sociedade [Anotaccedilotildees pessoais] Porto Alegre 2008
______ Tecnologiacuteas para la inclusioacuten social en Ameacuterica Latina de las
tecnologiacuteas apropiadas a los sistemas tecnoloacutegicos sociales Problemas
conceptuales y soluciones estrateacutegicas In THOMAS H FRESSOLI
M SANTOS G Tecnologiacutea desarrollo y democracia Nueve
estudios sobre dinaacutemicas socio-teacutecnicas de exclusioacuteninclusioacuten social
Buenos Aires MINCYT 2012
THOMAS H BUCH A Actos actores y artefactos sociologia de la
tecnologia Bernal quilmes editorial 2008
THOMAS H FRESSOLI M En buacutesqueda de una metodologiacutea para
investigar Tecnologiacuteas Sociales In DAGNINO R (org) Tecnologia
social ferramenta para construir outra sociedade Campinas
IGUNICAMP 2009
TOMAZI N D Sociologia para Ensino Meacutedio Satildeo Paulo Saraiva
2010
TREVISAN L Ciecircncia teacutecnica e tecnologia em dicionaacuterios de
Sociologia e Ciecircncias Sociais (2015) Disponiacutevel em
lthttpwwwrio2015esociteorgsiteanaisarquivoresumoMODALIDA
DE=6gt Acesso em 20 nov 2015
TRIVINtildeOS A N S Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A
Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 1987
UNESCO Poliacuteticas deparacom Juventudes Brasiacutelia Unesco 2004
Disponiacutevel em
lthttpunesdocunescoorgimages0013001359135923porpdfgt
Acesso em 15 mai 2016
242
VALADAtildeO J A D ANDRADE J A NETO J R C Abordagens
socioteacutecnicas e os estudos em tecnologia social (2014) In Pretexto v
15 n 1 P 44-61 janmar 2014
VENTURA A C ANDRADE J C S A inclusatildeo do saber do
catador na construccedilatildeo de plataforma informativo-educativa em prol da reciclagem inclusiva (2015) Disponiacutevel em lt
httpwwwrio2015esociteorgsiteanaisarquivoresumoMODALIDAD
E=6gt Acesso em 20 nov 2015
VIEZZER M L MOREIRA T GRONDIN L M V (Orgs) Nosso
plano em accedilatildeo conhecendo divulgando aplicando o II Plano Nacional
de Poliacuteticas para Mulheres Toledo Instituto de Comunicaccedilatildeo Solidaacuteria
2009
ZUIN A A S PUCCI B RAMOS-DE-OLIVEIRA N R Adorno
O poder educativo do pensamento criacutetico Petroacutepolis Vozes 2008
WIGGERSHAUS R A Escola de Frankfurt Histoacuteria
desenvolvimento teoacuterico significaccedilatildeo poliacutetica Rio de janeiro Difel
2002
WYATT S Technological Determinism is Dead Long Live
Technological Determinism In HACKETT E J et al (eds) The
Handbook of Science amp Technology Studies Cambridge MA MIT
Press 2008
243
APEcircNDICES
Apecircndice A Termo de consentimento para coleta de dados - Diretor
Geral
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC
Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica
TERMO DE CONSENTIMENTO PARA COLETA DE DADOS
Solicitaccedilatildeo de coleta de dados no Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Rio
Grande do Sul ndash IFRSCacircmpus Caxias do Sul-RS
Senhor Diretor Geral JULIANO CANTARELLI TONIOLO
Eu Raquel Folmer Correcirca com a identidade nuacutemero 9057472574 aluna do curso de Doutorado no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica (PPGECT)
da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) sob orientaccedilatildeo do prof Dr Irlan von
Linsingen solicito autorizaccedilatildeo para (1) coletar dados institucionais do IFRSCaxias do Sul
(informaccedilotildees sobre a estrutura curricular PPCrsquos e dados sociodemograacuteficos) e (2) aplicar
questionaacuterio aos alunosas dos primeiros anos dos cursos Teacutecnico Integrado ao Ensino Meacutedio
em Plaacutesticos Quiacutemica e Fabricaccedilatildeo Mecacircnica Esses dados seratildeo uacuteteis para a realizaccedilatildeo do texto de minha tese doutoral Particularmente para analisar sentidos sobre tecnologias que
circulam entre estudantes do Ensino Meacutedio Teacutecnico do Rio Grande do Sul
Grata por sua colaboraccedilatildeo Raquel Folmer Correcirca
Florianoacutepolis _________________
__________________________
Raquel Folmer Correcirca - doutoranda
- orientador
244
Apecircndice B Termo de consentimento para coleta de dados - Diretor de
Ensino
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC
Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica
TERMO DE CONSENTIMENTO PARA COLETA DE DADOS
Solicitaccedilatildeo de coleta de dados no Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Rio
Grande do Sul ndash IFRSCacircmpus Caxias do Sul-RS
Senhor Diretor de Ensino VITOR SCHLICKMANN
Eu Raquel Folmer Correcirca com a identidade nuacutemero 9057472574 aluna do curso de Doutorado no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica (PPGECT)
da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) sob orientaccedilatildeo do prof Dr Irlan von
Linsingen solicito autorizaccedilatildeo para (1) coletar dados institucionais do IFRSCaxias do Sul (informaccedilotildees sobre a estrutura curricular PPCrsquos e dados sociodemograacuteficos) e (2) aplicar
questionaacuterio aos alunosas dos primeiros anos dos cursos Teacutecnico Integrado ao Ensino Meacutedio em Plaacutesticos Quiacutemica e Fabricaccedilatildeo Mecacircnica Esses dados seratildeo uacuteteis para a realizaccedilatildeo do
texto de minha tese doutoral Particularmente para analisar sentidos sobre tecnologias que
circulam entre estudantes do Ensino Meacutedio Teacutecnico do Rio Grande do Sul Grata por sua colaboraccedilatildeo
Raquel Folmer Correcirca
Florianoacutepolis _________________
__________________________
Raquel Folmer Correcirca - doutoranda
- orientador
245
Apecircndice C Termo de consentimento livre e esclarecido - alunosas
(modelo)147
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Eu ___________________________________________________________ autorizo a
utilizaccedilatildeo de dados obtidos em sala de aula no Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Rio Grande do Sul - Campus Caxias do Sul - para a realizaccedilatildeo de pesquisa para
elaboraccedilatildeo de tese de doutorado junto ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica
e Tecnoloacutegica da UFSC intitulada TECNOLOGIAS SOCIAIS E EDUCACcedilAtildeO POSSIBILIDADES E LIMITES DE TRANSFORMACcedilAtildeO DE SENTIDOS Tambeacutem autorizo
a apresentaccedilatildeo de trabalhos em encontros cientiacuteficos Concedo ainda o direito de retenccedilatildeo e uso
para fins de ensino e divulgaccedilatildeo em jornais eou revistas cientiacuteficas do paiacutes e do estrangeiro Se caso eu tiver novas perguntas sobre este estudo posso chamar os responsaacuteveis pela pesquisa
no telefone (54) 99497932 para qualquer esclarecimento sobre os meus direitos como
participante deste estudo Estou ciente que nada tenho a exigir a tiacutetulo de ressarcimento ou indenizaccedilatildeo pela participaccedilatildeo nas accedilotildees propostas Assim a assinatura desse Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) formaliza a autorizaccedilatildeo para a publicaccedilatildeo de
dados Vale salientar que seraacute garantido o anonimato dos sujeitos participantes Declaro que apoacutes ter lido e compreendido as informaccedilotildees contidas neste TCLE concordo em participar
desse estudo E atraveacutes deste instrumento autorizo os pesquisadores Raquel Folmer Correcirca e
Irlan von Linsingen a utilizarem as informaccedilotildees obtidas com a finalidade de desenvolver trabalho de cunho cientiacutefico na aacuterea de Educaccedilatildeo
Florianoacutepolis _____________________
______________________________________________ Assinatura doa alunoa participante
____________________________
Raquel Folmer Correcirca - doutoranda
- orientador
147 Originais assinados pelosas alunosas em posse da autora
246
Apecircndice D Questionaacuterio
QUESTIONAacuteRIO
Estimadoa alunoa
Este questionaacuterio traz 18 perguntas seguidas por diferentes afirmaccedilotildees ou
apenas afirmaccedilotildees sobre nossas relaccedilotildees com tecnologia Leia atentamente
cada questatildeo reflita se vocecirc concorda ou discorda com cada afirmaccedilatildeo e
escolha dentre as alternativas disponiacuteveis aquela uacutenica que vocecirc reconhece
como a mais proacutexima ao que vocecirc pensa MARQUE APENAS UMA
ALTERNATIVA O questionaacuterio eacute frente e verso
SEXO F ( ) M ( ) IDADE_____anos
1 O melhor modo de descrever tecnologia eacute
(A) Tecnologia eacute tudo que nos rodeia
(B) Tecnologia satildeo todos os aparelhos que nos rodeiam
(C) Tecnologia satildeo todos os novos aparelhos que nos rodeiam
(D) Tecnologia satildeo aparelhos (produtos) metodologias e tambeacutem serviccedilos
(E) Tecnologia eacute toda a aplicaccedilatildeo praacutetica da ciecircncia
(F) Tecnologia satildeo ferramentas prontas para servir os propoacutesitos dos usuaacuterios
(G) Satildeo as produccedilotildees humanas que visam uma finalidade praacutetica mas que
podem envolver pesquisa
(H) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso
eacute_____________________________
2 O processo de produzir tecnologia eacute melhor descrito como
(A) Tudo o que fazemos para entender o mundo
(B) Tudo o que fazemos para mudar o mundo
(C) Tudo o que fazemos para melhorar o mundo
(D)Tudo o que fazemos e que transforma a natureza e o mundo e envolve
nossos desejos gostos e valores
(E) Tudo o que eacute feito nas faacutebricas tanto para melhorar ou piorar o mundo
(F) Tudo o que eacute feito para descobrir os segredos da natureza
(G) A aplicaccedilatildeo da ciecircncia para entender o universo
(H) A descoberta de novos modos de fazer as coisas
(I) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso
eacute_____________________________
3 Definir o que eacute tecnologia eacute difiacutecil porque ela serve para muitas coisas
Mas a tecnologia eacute PRINCIPALMENTE
(A) Muito parecida com a ciecircncia
(B) A aplicaccedilatildeo da ciecircncia
247
(C) Processos meacutetodos instrumentos maacutequinas e ferramentas com aplicaccedilotildees
praacuteticas para o uso diaacuterio
(D) Robocircs eletrocircnicos computadores sistemas de comunicaccedilatildeo e maacutequinas
(E) Uma teacutecnica para construir coisas ou uma forma de resolver problemas
praacuteticos
(F) Inventar desenhar e transformar coisas (por exemplo membros humanos
artificiais computadores e veiacuteculos espaciais)
(G) Ideias e teacutecnicas para fazer coisas e organizar as pessoas para o progresso
da humanidade
(H) Saber como fazer coisas (por exemplo instrumentos e maacutequinas)
(I) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso
eacute______________________________
4 O desenvolvimento de uma nova tecnologia (reator nuclear ou aparelho
para cirurgia cardiacuteaca por exemplo) pode ser colocado em praacutetica ou natildeo
A decisatildeo de usar uma nova tecnologia depende PRINCIPALMENTE
(A) Da explicaccedilatildeo dosas teacutecnicosas que a desenvolveram pois elesas sabem
avaliar os riscos
(B) Das pessoas que deram dinheiro para que a tecnologia fosse desenvolvida
pois elas que investiram
(C) Da faacutebrica que iraacute produzir pois laacute eacute que haveraacute possiacuteveis impactos
ambientais e de risco aos trabalhadoresas
(D) Do governo pois ele poderaacute oferecer a toda a populaccedilatildeo a tecnologia
(E) Vai depender do tipo de tecnologia pois para cada uma existe uma
especialista que pode avaliar
(F) Vai depender de vaacuterios aspectos como osas especialistas osas
investidoresas e o governo
(G) Vai depender de um amplo debate puacuteblico entre todos os segmentos
interessados inclusive a populaccedilatildeo inicialmente leiga no assunto
(H) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso
eacute_____________________________
5Ciecircncia e tecnologia satildeo bastante relacionadas estre si porque
(A) Ciecircncia eacute a base dos avanccedilos tecnoloacutegicos e eacute difiacutecil ver como a tecnologia
pode ajudar a ciecircncia
(B) A investigaccedilatildeo cientiacutefica leva a aplicaccedilotildees praacuteticas tecnoloacutegicas e as
aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas aumentam a capacidade da investigaccedilatildeo cientiacutefica
(C) Mesmo sendo diferentes estatildeo unidas de modo tatildeo proacuteximo que eacute difiacutecil
separaacute-las
(D) Tecnologia eacute a base dos avanccedilos cientiacuteficos e eacute difiacutecil ver como a ciecircncia
pode ajudar a tecnologia
(E) Ciecircncia e tecnologia satildeo a mesma coisa
248
(F) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso
eacute______________________________
6 A tecnologia influencia a sociedade
(A) A tecnologia natildeo influencia muito a sociedade
(B) A tecnologia influencia bastante a sociedade
(C) A tecnologia nos influencia se noacutes deixarmos
(D) Independentemente de deixarmos ou natildeo a tecnologia nos influencia
(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso
eacute_____________________________
7 O desenvolvimento tecnoloacutegico pode ser controlado pelas pessoas natildeo
especialistas pelos cidadatildeos
(A) Sim porque osas especialistas saiacuteram da populaccedilatildeo em geral Portanto a
populaccedilatildeo em geral controla um pouco os avanccedilos da tecnologia
(B) Sim porque os avanccedilos tecnoloacutegicos satildeo patrocinados pelo governo e ao
eleger o governo a populaccedilatildeo escolhe o tipo de avanccedilo tecnoloacutegico que
ocorreraacute
(C) Sim porque a populaccedilatildeo deveria ter acesso e possibilidade de escolha nas
questotildees que envolvem o desenvolvimento tecnoloacutegico
(D) Sim mas apenas quando estatildeo organizados em grupos (associaccedilotildees ONGrsquos
cooperativas por exemplo)
(E) Natildeo o desenvolvimento tecnoloacutegico soacute pode ser controlado pelosas
teacutecnicosas diretamente envolvidosas no desenvolvimento da tecnologia pois
elesas entendem todos os processos envolvidos
(F) Natildeo porque a tecnologia avanccedila tatildeo raacutepido que osas natildeo especialistas natildeo
conseguem acompanhar
(G) Natildeo porque a tecnologia se desenvolve de modo independente das pessoas
e nem osas especialistas podem controlar o rumo que uma tecnologia teraacute
(H) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso
eacute_____________________________
8 Investir em tecnologia melhora a qualidade de vida das pessoas
(A) Sim porque a tecnologia sempre tem melhorado a vida das pessoas e natildeo haacute
razatildeo para isso natildeo acontecer mais agora
(B) Sim porque investir em tecnologia leva ao desenvolvimento econocircmico
que leva ao desenvolvimento social tambeacutem
(C) Sim porque a tecnologia torna nossa vida mais faacutecil
(D) Sim mas apenas para aqueles que tem acesso a essa tecnologia quem natildeo
tem acesso natildeo eacute afetado
(E) Natildeo porque satildeo desenvolvimentos independentes
249
(F) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso
eacute______________________________
9 A sociedade influencia a tecnologia
(A) A sociedade natildeo influencia muito a tecnologia
(B) A sociedade influencia bastante a tecnologia
(C) A sociedade natildeo influencia a tecnologia pois a tecnologia segue um rumo
independente do que podemos decidir
(D) A sociedade influencia a tecnologia na medida em que podemos usar ou natildeo
uma tecnologia de acordo com nossos gostos e valores mesmos que haja
pressatildeo para utilizar determinadas tecnologias
(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso
eacute_____________________________
10 Quem deve decidir que tecnologia seraacute desenvolvida em nosso paiacutes eacute
(A) Osas engenheirosas e teacutecnicosas pois satildeo osas especialistas
(B) Os governantes pois satildeo os grandes investidores
(C) Os governantes e osas especialistas
(D) Aleacutem dos governantes e especialistas as lideranccedilas religiosas tambeacutem
devem ser ouvidas pois a tecnologia envolve valores morais das pessoas
(E) Aleacutem de governantes e especialistas a sociedade em geral tambeacutem precisa
poder decidir o que seraacute desenvolvido
(F) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso
eacute______________________________
11 No desenvolvimento de tecnologia estatildeo envolvidos
(A) Os contextos (lugar e eacutepoca de seu desenvolvimento)
(B) A histoacuteria do que estaacute sendo desenvolvido (quem jaacute produziu como)
(C) Interesses poliacuteticos e econocircmicos
(D) Valores sociais e morais
(E) Todas as alternativas anteriores
(F) Nenhuma das alternativas anteriores pois depende basicamente da parte
teacutecnica e econocircmica
(G) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso
eacute_____________________________
12 A tecnologia tambeacutem se relaciona com o que desejamos
(A) Sim pois como ela eacute desenvolvida por seres humanos ela carrega nossos
valores e intenccedilotildees
(B) Sim mas isso natildeo impede que a tecnologia se desenvolva fora do controle
da sociedade
250
(C) Natildeo pois o desenvolvimento de tecnologia eacute um processo neutro sem
envolvimento sentimental
(D) Natildeo pois embora o ser humano desenvolva tecnologia seus sentimentos
natildeo interferem
(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso
eacute_____________________________
13 Em sua relaccedilatildeo com tecnologia vocecirc se considera
(A) Observadora acompanho o que eacute desenvolvido mas natildeo compro nem uso
nem passo a diante
(B) Usuaacuterioa comproganho o que eacute desenvolvido e que me agrada para minha
proacutepria utilizaccedilatildeo
(C) Divulgadora comproganho e independente de utilizar ou natildeo divulgo o
que eacute desenvolvido e que me agrada
(D) Autora procuro desenvolver tecnologia dentro do que me agrada ou dos
problemas que quero resolver
(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso
eacute_____________________________
14 Em sua relaccedilatildeo com tecnologia vocecirc gostaria de ser
(A) Observadora acompanhar o que eacute desenvolvido mas natildeo comprar nem
usar nem passar a diante
(B) Usuaacuterioa comprarganhar o que eacute desenvolvido e que me agrada para
minha proacutepria utilizaccedilatildeo
(C) Divulgadora comprarganhar e independente de utilizar ou natildeo divulgar o
que eacute desenvolvido e que me agrada
(D) Autora procuraria desenvolver tecnologia dentro do que me agrada ou dos
problemas que gostaria de resolver
(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso
eacute_____________________________
15 O desenvolvimento uso e disseminaccedilatildeodistribuiccedilatildeo de tecnologia estaacute
relacionado a
(A) Poliacutetica
(B) Economia
(C) Cultura
(D) Educaccedilatildeo
(E) Todas as alternativas anteriores
(F) Nenhuma das alternativas anteriores pois depende basicamente da parte
teacutecnica logiacutestica e econocircmica
(G) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso
eacute_____________________________
251
16 Vocecirc concorda com a afirmaccedilatildeo ldquotoda tecnologia eacute social assim como
toda a sociedade eacute tecnoloacutegicardquo
(A) Sim pois os seres humanos desenvolvem tecnologia entatildeo ela eacute social e a
sociedade eacute tecnoloacutegica pois eacute difiacutecil vivermos sem tecnologia
(B) Sim e natildeo Sim a tecnologia eacute social pois eacute desenvolvida por seres
humanos E natildeo a sociedade natildeo eacute tecnoloacutegica pois podemos viver sem
tecnologia
(C) Natildeo Toda tecnologia natildeo eacute social pois mesmo que os seres humanos a
desenvolvam ela pode seguir um desenvolvimento independente dos humanos
E natildeo toda a sociedade natildeo eacute tecnoloacutegica pois podemos viver sem tecnologia
(D) Natildeo e sim Toda tecnologia natildeo eacute social pois mesmo que os seres humanos
a desenvolvam ela pode seguir um desenvolvimento independente dos humanos
E sim e a sociedade eacute tecnoloacutegica pois eacute difiacutecil vivermos sem tecnologia
(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso
eacute_____________________________
17 Vocecirc concorda que o desenvolvimento uso e distribuiccedilatildeo de tecnologia
tenha conteuacutedo ideoloacutegico
(A) Sim pois como toda a produccedilatildeo humana ela eacute cheia de valores
sentimentos e intenccedilotildees
(B) Sim mas ela tem os valores proacuteprios do desenvolvimento teacutecnico e natildeo os
valores humanos
(C) Natildeo pois a tecnologia natildeo eacute afetada por questotildees morais sentimentais e de
valores
(D) Natildeo mas podemos pensar em uma utilidade da tecnologia que faccedila bem agraves
pessoas
(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso
eacute_____________________________
18 Vocecirc concorda com a seguinte afirmaccedilatildeo ldquoRevoacutelveres natildeo matam seres
humanos satildeo os seres humanos que puxam o gatilho e matam outros seres
humanosrdquo
(A) Sim pois o revoacutelver foi desenvolvido para a defesa e as pessoas se matam
com ele porque querem
(B) Sim mas o revoacutelver foi feito para matar
(C) Natildeo pois o revoacutelver foi desenvolvido para matar pessoas Armas apenas de
defesa natildeo podem ter capacidade de matar
(D) Natildeo mas os seres humanos natildeo inventaram o revoacutelver com intenccedilatildeo de
matar
(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso
eacute_____________________________
252
Fim
Por favor antes de devolver seu questionaacuterio verifique se todas as questotildees
foram respondidas
Obrigada
253
Apecircndice E Roteiro didaacutetico
1 Tiacutetulo
Tecnologia e tecnologias sociais autoria em problemas socioteacutecnicos
2 Tema
Problematizaccedilatildeo da temaacutetica tecnoloacutegica e suas relaccedilotildees com uma
perspectiva criacutetica sobre Tecnologias Sociais (TS) na resoluccedilatildeo autoral de
problemas socioteacutecnicos de juventudes dos Cursos Teacutecnico Integrados ao
Ensino Meacutedio (CTIEM)
3 Contextualizaccedilatildeo e justificativa
Alguns estudos latino-americanos atuais que relacionam ciecircncia
tecnologia e sociedade (CTS) de um ponto de vista educacional tecircm dado
visibilidade a percepccedilotildees sobre relaccedilotildees CTS em componentes curriculares da
Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica (ECT) de Engenharias e de aacutereas das
Ciecircncias Naturais e Exatas Nesses estudos haacute uma problematizaccedilatildeo importante
da mera inserccedilatildeo de disciplinas de Ciecircncias Humanas em aacutereas teacutecnicas Nesse
contexto percebo certa ausecircncia de discussotildees voltadas agrave formaccedilatildeo baacutesica
Uma vez identificada essa ausecircncia vislumbro a emergecircncia de
possibilitar tambeacutem a estudantes de ensino meacutedio acesso a (mais)
conhecimentos (e possibilidades de criacuteticas) sobre a realidade socioteacutecnica com
a qual elesas podem interagir diariamente Ao apresentar uma ausecircncia
percebida considero a emergecircncia da inclusatildeo de novos sujeitos nos debates
socioteacutecnicos Sujeitos especiacuteficos que emergem do contexto escolar dos
CTIEM
Nesse sentido este roteiro traz uma possibilidade de abordagem
educacional sobre TS O objetivo eacute mobilizar alunosas (e professoresas) para
promover (participar de) debates criacuteticos sobre temas socioteacutecnicos em seu
quotidiano Ao abordar esses temas a ideia eacute que novas questotildees surjam e que
possam vir a contribuir para a Educaccedilatildeo CTS
A intenccedilatildeo aqui eacute que estudantes considerem suas possibilidades para
para aleacutem de participar de debates socioteacutecnicos promoverem novas questotildees
sobre esses assuntos De modo que se perguntem o que tecnologia e TS tecircm a
ver com o seu quotidiano como e por que dar importacircncia e significado a esses
temas entre outras reflexotildees possiacuteveis
Penso que discussotildees sobre TS podem constituir processos educacionais
integrados e natildeo estritamente teacutecnicos nas quais seja possibilitada a
compreensatildeo da produccedilatildeo intelectual da tecnologia (politecnia) e seu caraacuteter
contextual (adequada agrave realidade de coletividades especiacuteficas) De modo que os
temas desenvolvidos possam ser relacionados com o mundo do trabalho e as
praacuteticas sociais preparando osas educandosas para o exerciacutecio da cidadania
A relevacircncia dessa iniciativa encontra-se nas possibilidades de (i)
problematizar relaccedilotildees entre sujeito e sociedade e o papel do sujeito na
254
construccedilatildeo da realidade social (ii) compreender (e poder transformar) soacutecio-
historicamente sentidos sobre tecnologias que circulam (satildeo debatidos) entre as
juventudes em especiacutefico de estudantes dos CTIEM (iii) ampliar espaccedilos para
debater as muacuteltiplas relaccedilotildees entre tecnologia e sociedade e (iv) vincular tais
debates a perspectivas socioloacutegicas do mundo do trabalho e da cidadania
4 Objetivos
Identificar sentidos sobre tecnologia que circulam entre estudantes dos
CTIEM problematizar (estranhar e desnaturalizar) tais sentidos examinar
possibilidades de promover autoria entre estudantes a partir de um
posicionamento criacutetico sobre TS e estabelecer relaccedilotildees entre a temaacutetica
socioteacutecnica e o mundo do trabalho e o desenvolvimento cidadatildeo
5 Conteuacutedos
Tecnologia determinismo tecnoloacutegico e TS
6 Metodologia
Apresento uma proposta pedagoacutegica com foco no ensino de Sociologia I
em CTIEM mas aberta a diferentes perspectivas e modalidades de ensino
Penso que pode ser interessante e produtivo promover aberturas inter e
transdisciplinares e propor a colegas de disciplinas como Histoacuteria Biologia e
Geografia por exemplo a participaccedilatildeo nessas atividades Contudo cabe a
docentes adequarem as atividades ao seu contexto de ensino e sobretudo
modificaacute-la de acordo com seus propoacutesitos e planejamentos
O roteiro didaacutetico estaacute distribuiacutedo em oito momentos (aulas de 50
minutos) tendo em vista apenas uma aula por semana O desenvolvimento das
atividades envolve uma problematizaccedilatildeo inicial leitura de texto
acompanhamento de exibiccedilatildeo de audiovisual aula expositiva-dialogada
pesquisa orientada apresentaccedilatildeo de trabalhos e debates de finalizaccedilatildeo Cada
turma dos CTIEM estaacute dividida em grupos de aproximadamente seis
estudantes em cada grupo de modo que existam cerca de cinco grupos em cada
turma (o que contemplaria osas 30 alunosas geralmente frequente em cada
turma) Cada grupo tem entre 10 e 15 minutos para apresentaccedilatildeo de seu trabalho
final
7 Roteiro
1ordf aula Explicaccedilatildeo da proposta de estudo sobre tecnologia (e da
pesquisa para tese) e lanccedilamento da questatildeo inicial (o que eacute tecnologia para
vocecirc) a ser respondida individualmente mas com abertura a diaacutelogos entre
osas alunosas
2ordf aula Retomada do tema socioteacutecnico e aplicaccedilatildeo do questionaacuterio
individual
3ordf aula discussatildeo do questionaacuterio iniacutecio da exposiccedilatildeo dialogada sobre
tecnologia do ponto de vista de Estudos em Educaccedilatildeo CTS latino-americanos
Leitura de um texto sobre tecnologia de minha autoria Exibiccedilatildeo do viacutedeo ldquoO
255
que eacute tecnologia afinalrdquo que tem cinco minutos e mostra imagens de diversas
tecnologias desenvolvidas em diferentes periacuteodos Viacutedeo disponiacutevel em
httpwwwyoutubecomwatchv=eFqXjF4KNxAampfeature=related
A figura 6 abaixo (de minha autoria) eacute um exemplo de informaccedilatildeo que
pode mediar as discussotildees desse momento
Figura 6 - Construccedilatildeo social das tecnologias
Fonte Elaboraccedilatildeo da autora
4ordf aula Retomada de ideias sobre tecnologia introduccedilatildeo da
problematizaccedilatildeo do determinismo tecnoloacutegico e de ideias sobre TS
As figuras 7 e 8 abaixo estatildeo disponiacuteveis livremente na internet e
podem ilustrar os debates propostos para esse momento
Figura 7 - Determinismo tecnoloacutegico 01
Fonte Google imagens
256
Figura 8 - Determinismo tecnoloacutegico 02
Fonte Montagem da autora a partir de imagem disponiacutevel no Google imagens
Para a exposiccedilatildeo dialogada sobre TS a figura 4 abaixo pode ilustrar as
discussotildees
Figura 4 - Esquema sobre caracteriacutesticas das TS
Fonte Elaboraccedilatildeo da autora
5ordf e 6ordf aulas Explicaccedilatildeo da tarefa final de elaboraccedilatildeo de TS para
resolver um problema socioteacutecnico relevante no seu quotidiano Divisatildeo dos
grupos Pesquisas orientadas no laboratoacuterio de informaacutetica Imagens e textos
ficam agrave disposiccedilatildeo para consulta Apresentar a importacircncia de buscar
originalidade e autoria na construccedilatildeo e resoluccedilatildeo do problema socioteacutecnico
levantado
A figura 9 abaixo pode ilustrar o que se pretende com o
desenvolvimento de autoria
257
Figura 9 - Autoria
Fonte Montagem da autora a partir de imagem disponiacutevel no Google imagens
7ordf aula iniacutecio das apresentaccedilotildees de seminaacuterios com elaboraccedilotildees de TS
8ordf aula final das apresentaccedilotildees de seminaacuterios com elaboraccedilotildees de TS (se
for o caso) debates sobre os seminaacuterios e auto avaliaccedilotildees finais
8 Materiais utilizados
Folhas de papel para a questatildeo inicial questionaacuterio texto de apoio
slides com toacutepicos sobre a temaacutetica (figuras notiacutecias jornaliacutesticas peccedilas
publicitaacuterias viacutedeos) computadores para pesquisas e projetor multimiacutedia para
apresentaccedilotildees
9 Avaliaccedilatildeo
A avaliaccedilatildeo eacute aqui entendida como um continuum que perpassa todos os
processos de ensino-aprendizagem desenvolvidos durante as aulas Eacute
interessante destacar que fazem parte desse processo tanto uma avaliaccedilatildeo
formativa (avaliaccedilatildeo ldquoparardquo o aprendizado ocorre continuamente) quanto uma
avaliaccedilatildeo somativa (avaliaccedilatildeo ldquodordquo aprendizado pontual com atribuiccedilatildeo de
notas) Para essa proposta haacute preocupaccedilatildeo com uma avaliaccedilatildeo formativa mas
penso que o desenvolvimento e apresentaccedilatildeo das propostas de TS tenham
tambeacutem um caraacuteter somativo
O que apresento aqui satildeo ideias para desenvolver com osas alunosas a
problematizaccedilatildeo (dentro dos princiacutepios socioloacutegicos de estranhamento e
desnaturalizaccedilatildeo) a argumentaccedilatildeo a construccedilatildeo de conhecimentos e a
capacidade de se posicionar dialogicamente de modo informado sobre questotildees
socioteacutecnicas Com isso os criteacuterios considerados nas avaliaccedilotildees dosas
alunosas contemplam as reflexotildees e entendimentos dosas mesmosas sobre (i)
o que e como tecnologias e determinismo tecnoloacutegico significam no dia-a-dia
(ii) TS como tema de relevacircncia a estudantes (como podem influenciar o
258
trabalho os relacionamentos o lazer etc) e (iii) possibilidades e limites de
desenvolver autoria na resoluccedilatildeo de seus problemas socioteacutecnicos e relaccedilotildees
dessa com princiacutepios socioloacutegicos de cidadania (o que eacute possiacutevel fazer como e
por quecirc)
A atribuiccedilatildeo de notas fica relacionada com a mobilizaccedilatildeo para os
debates a pesquisa e a apresentaccedilatildeo da tarefa final
10 Sugestotildees de audiovisuais para reflexotildees sobre a temaacutetica
2001 uma Odisseia no Espaccedilo (EUAInglaterra 1968 Stanley
Kubrick)
Admiraacutevel Mundo Novo (EUA 1998 Leslie Libman)
A Guerra do Fogo (FranccedilaCanadaacute 1981 Jean-Jacques Annaud)
Alphaville (FranccedilaItaacutelia 1965 Jean-Luc Godard)
Blade runner o caccedilador de androides (EUA 1982 Ridley Scott)
Gattaca - Experiecircncia Geneacutetica (EUA 1997 Andrew Niccol)
Matrix (EUAAustraacutelia 1999 irmatildeos Wachowski)
259
Apecircndice F Texto base das aulas
IFRS - Cacircmpus Caxias do Sul
Sociologia I Profordf Raquel Folmer Correcirca
TECNOLOGIA
Percebe-se que a palavra tecnologia eacute empregada largamente em
diferentes contextos (social cultural econocircmico poliacutetico educaccedilatildeo) sendo
utilizada para as mais diversas finalidades e por pessoas com propoacutesitos
distintos Poreacutem do mesmo modo que o seu uso se torna cada vez mais
corrente confusotildees e imprecisotildees semacircnticas permeiam o seu emprego O
filoacutesofo brasileiro Aacutelvaro Vieira Pinto apresenta a tecnologia como ldquoa teoria a
ciecircncia o estudo a discussatildeo da teacutecnica abrangidas nessa uacuteltima noccedilatildeo as artes
as habilidades do fazer as profissotildees e generalizadamente os modos de
produzir alguma coisardquo (2005 p 219)148
Ele tambeacutem destaca que
toda tecnologia contendo necessariamente o
sentido jaacute indicado de logos da teacutecnica transporta
inevitavelmente um conteuacutedo ideoloacutegico Consiste
numa determinada acepccedilatildeo do significado e do valor
das accedilotildees humanas do modo social de realizarem-se das
relaccedilotildees do trabalhador com o produto ou o ato acabado
e sobretudo envolve a ligaccedilatildeo entre o teacutecnico em seu
papel de fabricante de um bem ou autor de um
empreendimento e o destino dado agravequilo que cria A
teacutecnica representa o aspecto qualitativo de um ato
humano necessariamente inserido no contexto social
que a solicita a possibilita e lhe daacute aplicaccedilatildeo (ibidem p
320-321)
A socioacuteloga gauacutecha Maiacutera Baumgarten (2006)149 situa a tecnologia em
relaccedilatildeo ao seu caraacuteter social e destaca que o ser humano tem a capacidade de
inventar teacutecnicas aperfeiccediloaacute-las e transmiti-las Ela pontua que na tecnologia
148 PINTO A V O conceito de Tecnologia (Vol 1) Rio de janeiro
Contraponto 2005 149 BAUMGARTEN M Tecnologia In CATTANI A HOLZMANN L
(orgs) Dicionaacuterio de trabalho e tecnologia Porto Alegre UFRGS 2006
260
que reside a possibilidade de transformaccedilatildeo da realidade Para ela uma ideia
geral de tecnologia pode ser compreendida como
() atividade socialmente organizada baseada em
planos e de caraacuteter essencialmente praacutetico
Tecnologia compreende portanto conjuntos de
conhecimentos e informaccedilotildees utilizados na
produccedilatildeo de bens e serviccedilos provenientes de
fontes diversas como descobertas cientiacuteficas e
invenccedilotildees obtidas por meio de distintos meacutetodos
a partir de objetivos definidos e com finalidades
praacuteticas () como toda produccedilatildeo humana a
tecnologia deve ser pensada no contexto das
relaccedilotildees sociais e dentro de seu desenvolvimento
histoacuterico (ibidem p 288)
Tendo em vista essas consideraccedilotildees pode-se compreender o
desenvolvimento os usos e as aplicaccedilotildees da tecnologia enquanto fenocircmeno
eminentemente social relacionado agrave poliacutetica agrave economia agrave educaccedilatildeo e agrave
cultura
TECNOLOGIAS SOCIAIS
Tecnologia Social compreende produtos teacutecnicas ou metodologias
reaplicaacuteveis desenvolvidas na interaccedilatildeo com a comunidade e que representem
efetivas soluccedilotildees de transformaccedilatildeo social Eacute um conceito que remete para uma
proposta inovadora de desenvolvimento considerando a participaccedilatildeo coletiva
no processo de organizaccedilatildeo desenvolvimento e implementaccedilatildeo Estaacute baseado
na disseminaccedilatildeo de soluccedilotildees para problemas voltados a demandas de
alimentaccedilatildeo educaccedilatildeo energia habitaccedilatildeo renda recursos hiacutedricos sauacutede meio
ambiente dentre outras
As Tecnologias Sociais podem aliar saber popular organizaccedilatildeo social e
conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Importa essencialmente que sejam efetivas e
reaplicaacuteveis propiciando desenvolvimento social em escala
A Fundaccedilatildeo Banco do Brasil caracteriza tecnologia social como todo
processo meacutetodo ou instrumento capaz de solucionar algum tipo de problema
social e que atenda aos quesitos de simplicidade baixo custo faacutecil
reaplicabilidade e impacto social comprovado Tecnologias sociais satildeo
definidas similarmente como produtos teacutecnicas ou metodologias reaplicaacuteveis
desenvolvidas na interaccedilatildeo com a comunidade e que representem efetivas
soluccedilotildees de transformaccedilatildeo social Podemos compreender que tecnologias
sociais se propotildeem a atender questotildees relativas agrave melhoria das condiccedilotildees de
vida e agrave diminuiccedilatildeo de desigualdades sociais via desenvolvimento local
sustentaacutevel Nessa perspectiva de tecnologia social a teacutecnica seria entendida
como um meio de emancipaccedilatildeo social e natildeo como instrumento de dominaccedilatildeo
forma de controle ou causa de desigualdade social Satildeo exemplos de
261
Tecnologias sociais o soro caseiro (mistura de aacutegua accediluacutecar e sal que combate a
desidrataccedilatildeo e reduz a mortalidade infantil) as cisternas de placas preacute-moldadas
que atenuam os problemas de acesso a aacutegua de boa qualidade agrave populaccedilatildeo do
semiaacuterido entre outros
262
263
ANEXOS
Anexo A Registro das aulas sobre tecnologia no sistema de controle
acadecircmico do IFRS150
Fonte IFRS 2015
150 Os pontos amarelos indicam o registro das aulas sobre tecnologia Contudo
uma aula sobre tecnologia natildeo foi registrada nesse sistema pois foi cedida de
modo informal a mim pelosas colegas professoresas na semana do dia
10112015 A primeira coluna agrave esquerda do ponto amarelo indica as datas em
que as aulas ocorreram
264
Anexo B Exemplo de plano de ensino dos CTIEM examinados151
Disciplina Sociologia I
Carga Horaacuteria 30 horasaula
Periacuteodo 2015
Curso Teacutecnico em Fabricaccedilatildeo Mecacircnica-Manhatilde
Atendimento Segunda-feira 1330-1530
Professora Raquel Folmer Correcirca
raquelcorreacaxiasifrsedubr
Ementa
Desenvolvimento de uma educaccedilatildeo escolar vinculada com o mundo do
trabalho e a praacutetica social preparando o educando para o exerciacutecio da cidadania
Busca de compreensatildeo das sociedades humanas como objeto de conhecimento
cientiacutefico atraveacutes do estudo de relaccedilotildees instituiccedilotildees e estruturas sociais em seu
caraacuteter atual e em suas dinacircmicas de transformaccedilatildeo Problematizaccedilatildeo das
relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade e do papel do sujeito na construccedilatildeo da
realidade social Estudo sobre formas de trabalho relaccedilatildeo entre trabalho e
Direitos Humanos Modos de Produccedilatildeo origem e desenvolvimento da
Sociologia teorias socioloacutegicas claacutessicas e perspectivas atuais miacutedia ideologia
alienaccedilatildeo desenvolvimento sustentaacutevel
Objetivos
Desenvolver no educando uma perspectiva socioloacutegica de modo a
desnaturalizar a visatildeo de sociedade e da vida social construiacuteda no senso comum
Proporcionar a mobilizaccedilatildeo de conceitos e teorias socioloacutegicas como
ferramentas analiacuteticas para a compreensatildeo da vida quotidiana e do mundo do
trabalho a partir de uma visatildeo criacutetica
Programa
1 Introduccedilatildeo ao pensamento socioloacutegico
2 Teorias socioloacutegicas claacutessicas
3 Modos de produccedilatildeo
4 Trabalho e suas relaccedilotildeesimplicaccedilotildees na contemporaneidade
5 Temas atuais em Sociologia miacutedias e consumoconsumismo
6 Temas atuais em Sociologia tecnologias
151 Todos os CTIEM nos quais desenvolvi as atividades seguem o mesmo plano
265
Cronograma
Trimestre Descriccedilatildeo de conteuacutedos
1ordm trimestre
Introduccedilatildeo ao pensamento socioloacutegico
Produccedilatildeo social do conhecimento
O olhar socioloacutegico problematizaccedilatildeo e desnaturalizaccedilatildeo
Modernidade e origens do pensamento socioloacutegico
AVALIACcedilAtildeO
Teorias socioloacutegicas claacutessicas
Durkheim ndash fato social
Marx ndash classes sociais
Weber ndash accedilatildeo social
AVALIACcedilAtildeO
2ordm trimestre
Modos de produccedilatildeo
Antiguidade
Idade meacutedia
Modernidade
AVALIACcedilAtildeO
Trabalho e suas relaccedilotildeesimplicaccedilotildees
Fordismo
Taylorismo
Trabalho no Brasil
AVALIACcedilAtildeO
3ordm trimestre
Temas atuais em Sociologia miacutedias e
consumoconsumismo
Ideologia
Miacutedias
Consumo e consumismo
AVALIACcedilAtildeO
Temas atuais em Sociologia tecnologias
Determinismo tecnoloacutegico
Consumo e tecnologias
Trabalho e tecnologia
AVALIACcedilAtildeO
Metodologia
As aulas seratildeo em sua forma geral expositivasdialogadas A professora
trabalharaacute de modo que os temas encaminhem aos principais autoresas da
Sociologia e aos conceitos socioloacutegicos As aulas seratildeo iniciadas com a
recapitulaccedilatildeo da aula anterior e a apresentaccedilatildeo do objetivo da aula do dia
Haveraacute apresentaccedilatildeo do tema com levantamento dos entendimentos dosas
alunosas sobre o mesmo seguido do diaacutelogo com osas autoresas da
Sociologia e apresentaccedilatildeo dos conceitos (atraveacutes de leitura e interpretaccedilatildeo de
texto audiovisuais ou muacutesica) Os debates seratildeo promovidos durante toda a aula
e seratildeo propostas atividades de reflexatildeo sobre os mesmos (produccedilatildeo textual
266
individual grupos de trabalho coletivos etc) Ao final haveraacute sugestotildees de
materiais adicionais sobre o tema orientaccedilotildees sobre a disponibilizaccedilatildeo do
material na plataforma moodle e por fim encaminhamentos sobre a aula
seguinte
Teacutecnicas e Recursos
bull Recapitulaccedilatildeo de aula bull Aulas expositivasdialogadas bull Trabalhos em grupos
bull Debates bull Leitura de textos
bull Quadrocaneta bullTextosaudiovisuaismuacutesicas bullData Show
bullLivros didaacuteticosrevistasinternet
Avaliaccedilatildeo
A avaliaccedilatildeo seraacute contiacutenua durante todas as aulas nas quais comumente
haveraacute a produccedilatildeo de textos curtos do tipo respostas a questotildees
propostasinterpretaccedilatildeo de texto e de materiais audiovisuais Essas produccedilotildees
seratildeo em grupos ou individualmente Haveraacute tambeacutem a solicitaccedilatildeo de pesquisa
em aula de termos em livros revistas e na internet
Em datas preacute-combinadas (conforme cronograma) haveraacute avaliaccedilotildees
especiacuteficas de modo que osas alunosas sejam avaliadosas trimestralmente
atraveacutes de 2 instrumentos diferentes Cada uma das duas avaliaccedilotildees do trimestre
teraacute nota 45 Ao final do ano oa alunoa poderaacute obter 90 pontos das avaliaccedilotildees
especiacuteficas (45 por avaliaccedilatildeo x 2 avaliaccedilotildees) Em caso de ausecircncia nessas
avaliaccedilotildees especiacuteficas oa alunoa que quiser realizar outra avaliaccedilatildeo deveraacute
protocolar requerimento (junto ao protocolo acadecircmico) no prazo maacuteximo de 48
horas a contar da data de realizaccedilatildeo da prova anexando ao mesmo justificativa
para ausecircncia devidamente comprovada Oa alunoa que natildeo realizar o pedido
no prazo estipulado natildeo teraacute direito a prova de segunda chamada Oa alunoa
que faltar a prova de segunda chamada ficaraacute com nota 000 (zero) nesse campo
Criteacuterios que seratildeo considerados durante as aulas pontualidade
assiduidade empenho e interesse nas atividades propostas entrega dos trabalhos
solicitados na data marcada postura adequada em relaccedilatildeo aosagraves colegas e com a
professora O atendimento a esses criteacuterios constitui 10 ponto na nota final
A uacuteltima aula poderaacute contar com atividades de avaliaccedilotildees muacutetuas
Oa alunoa que obtiver um aproveitamento anual referente a meacutedia das
notas registradas no Diaacuterio de Classe maior ou igual a 70 (estipulado pela
instituiccedilatildeo) seraacute considerado aprovadoa
Oa alunoa que natildeo atingir essa meacutedia teraacute o direito de realizar uma
avaliaccedilatildeo final que contemplaraacute todo o conteuacutedo ministrado durante o ano
Nesse caso seraacute consideradoa aprovadoa aquelea que obtiver um resultado
final referente a meacutedia entre a avaliaccedilatildeo final e o aproveitamento anual maior
ou igual a 50 (estipulado pela instituiccedilatildeo)