Rare lança, pela primeira vez no Brasil, as Campanhas por ... Brasil Newsletter... · Rare lança,...

16
Resex Cururupu (MA) Informativo da Rare Brasil n o 1 | maio 2016 Rare lança, pela primeira vez no Brasil, as Campanhas por Orgulho voltadas para a pesca sustentável Sob nova direção ................................................................................. pág. 10 Rare na mídia ....................................................................................... pág. 11 Fique por dentro: vídeos educativos, parceria solidária, política pesqueira e mais ..................................... pág. 11 Entrevistas com Coordenadores de Campanha ................................ pág. 12 (c) Enrico Marone

Transcript of Rare lança, pela primeira vez no Brasil, as Campanhas por ... Brasil Newsletter... · Rare lança,...

Resex Cururupu (MA)

Informativo da Rare Brasilno 1 | maio 2016

Rare lança, pela primeira vez no Brasil, as Campanhas por Orgulho voltadas para a pesca sustentável

• Sob nova direção ................................................................................. pág. 10

• Rare na mídia ....................................................................................... pág. 11

• Fique por dentro: vídeos educativos, parceria solidária, política pesqueira e mais ..................................... pág. 11

• Entrevistas com Coordenadores de Campanha ................................ pág. 12

(c)

En

rico

Mar

on

e

2

Resex Pirajubaé (SC)

Resex Canavieiras (BA)

Resex Baía de Iguape (BA)

Resex Cururupu (MA) Resex Delta do Parnaíba (MA e PI)

Resex Prainha do Canto Verde (CE)

Marca registrada da ONG em todo o mundo, as Campanhas por Orgulho que a Rare implementa no país promovem o engajamento comunitário em projetos de melhoria da gestão pesqueira em seis Reservas Extrativistas Marinhas no litoral brasileiro. Em parceria com governo, universidades e organizações da sociedade civil, a Rare utiliza metodologia que alia marketing social e ciência da conservação visando a proteção de recursos marinhos e o incremento da qualidade de vida da população costeira tradicional.

(c)

Már

cia

Co

ta

(c)

Már

cia

Co

ta

(c) C

láu

dia

Qu

inta

nill

a

(c)

Arq

uiv

o R

are

(c)

En

rico

Mar

on

e

(c)

En

rico

Mar

on

e

3

Dois anos depois de desembarcar no Brasil com o propósito de implantar o programa Pesca para Sempre – uma aliança formada com o Fundo de Defesa Ambiental e a Universidade da Califórnia/Santa Bárbara para apoiar comunidades com uma gestão pesqueira efetiva –, a Rare realiza o lançamento oficial das Campanhas por Orgulho em seis reservas marinhas no litoral de Santa Catarina, Bahia, Ceará, Maranhão e Piauí. No Brasil, o programa vem sendo implementado pela Rare em parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a Comissão Nacional para o Fortalecimento das Reservas Extrativistas Marinhas (Confrem), universidades, associações de moradores e pescadores das comunidades das áreas-alvo e organizações atuantes nessas regiões.

Atividade produtiva relevante para o país sob o ponto de vista social, econômico e cultural, a pesca vem enfrentando, há anos, ameaças como a prática ilegal e predatória, que põem em risco o equilíbrio e a saúde dos ecossistemas litorâneos brasileiros. Estudos apontam que o consumo de peixes e frutos do mar per capita no Brasil aumentou cerca de 50% entre 2005 e 2010. Sabe-se que a pesca tradicional responde por 50% da produção do pescado marinho nacional e que um a cada três estoques pesqueiros considerados de valor comercial encontra-se esgotado. É neste cenário que a Rare e seus parceiros vêm interceder, com o objetivo de promover a gestão sustentável da pesca artesanal, proteger os recursos naturais costeiro-marinhos e melhorar a vida de milhares de famílias que têm na atividade a base para sua sobrevivência.

A intervenção se dá por meio da Campanha por Orgulho, uma metodologia desenvolvida pela Rare já executada com sucesso em diversos países nas últimas décadas. Baseia-se no uso de ferramentas de marketing social para impulsionar mudanças de comportamento que beneficiam a natureza e a qualidade de vida das pessoas. Sua implementação exige um esforço coordenado que inclui desde o estímulo ao sentimento de apropriação e orgulho dos recursos naturais das áreas e a mediação de conflitos até ações de monitoramento biológico e proposição de medidas de manejo mais adequadas, visando a adoção de práticas sustentáveis e a recuperação da produtividade. Para tanto, a Rare trabalha com parceiros e lideranças locais para identificar públicos e espécies-alvo, entender as barreiras que impedem o comportamento sustentável, elaborar e executar um

plano que aponte um caminho para a mudança social e biológica necessária, contribuindo para a qualidade de vida e a conservação ambiental. A campanha promove uma série de atividades e ações para diferentes públicos, dentre elas o uso de mascotes carismáticos de espécies importantes localmente que facilitam ações de educação ambiental em escolas, espaços e eventos públicos e compartilham informações sobre as ameaças à biodiversidade.

Com foco no planejamento e na gestão de áreas marinhas protegidas, o pacote de Campanhas por Orgulho que a Rare e seus parceiros estão executando no país – sob o slogan “Pescar, Conservar, Prosperar” – tem dois anos e meio de duração. As áreas escolhidas são as Reservas Extrativistas (Resex) Marinhas de Pirajubaé (SC), Baía de Iguape (BA), Canavieiras (BA), Prainha do Canto Verde (CE), Cururupu (MA) e Delta do Parnaíba (PI e MA). Nessas localidades, o esforço é capitaneado por uma organização parceira local – governamental ou da sociedade civil –, que destaca um membro qualificado de sua equipe, com credibilidade local e capacidade de liderança, para atuar como o Coordenador de Campanha. Ao longo da implementação, a organização parceira e o coordenador recebem extensa capacitação em marketing social voltado para comunidades, planejamento de campanhas e gestão pesqueira. Os eventos de lançamento das Campanhas contam com programação diversificada para adultos e crianças e tiveram início em fevereiro, na Resex Pirajubaé, e encerraram o ciclo no final de abril, na Resex Delta do Parnaíba. Abaixo, seguem informações específicas sobre a iniciativa em cada localidade.

Eventos reúnem comunidades de seis Reservas Extrativistas Marinhas, situadas em cinco Estados

da costa brasileira, para marcar o lançamento oficial das Campanhas por Orgulho

Brasil

Pirajubaé

Canavieiras

Baía de Iguape

Prainha do Canto Verde

Delta do Parnaíba

Cururupu

4

O evento inaugural de lançamento das Campanhas por Orgulho no Brasil aconteceu no final de fevereiro em Santa Catarina, onde foi criada a primeira Reserva Extrativista Marinha do país, a Resex de Pirajubaé. A campanha, batizada de ‘Berbigão para Sempre’, visa engajar a comunidade de Costeira de Pirajubaé, na baía sul em Florianópolis, em um esforço para o planejamento e a gestão participativa da Resex, cujo principal produto é o molusco berbigão. Seu lançamento reuniu aproximadamente 150 pessoas, entre moradores, parceiros, voluntários, representantes políticos, lideranças locais e jornalistas. Uma programação diversificada – que incluiu atividades educativas e recreativas como corrida de canoa, exposição de fotos, almoço preparado por um chef à base de berbigão e apresentações culturais – ajudou a chamar a atenção do público para os objetivos da campanha: recuperar o estoque natural do berbigão, resgatar a autoestima do pescador e melhorar a qualidade de vida das famílias que vivem da renda de sua extração.

A chegada do mascote da campanha, o berbigão, foi um dos pontos altos do evento. Crianças e adultos se divertiram fotografando e interagindo com o símbolo da iniciativa e participaram da escolha de seu nome – Berbiguito – por meio de uma votação popular promovida ao longo do dia. “Nosso objetivo com a campanha é promover o senso de orgulho nas pessoas em relação às espécies, às tradições e aos hábitats locais que tornam suas comunidades únicas e especiais. E o mascote é o chamariz para esse processo. Por isso, foi muito gratificante poder testemunhar o carisma do Berbiguito e ver como ele seduzia e mobilizava a comunidade”, afirma Márcia Cota, diretora de estratégia e desenvolvimento da Rare.

Ficha-resumo

Lançamento da campanha: 27/fevereiro/2016

Área-foco: Costeira de Pirajubaé, comunidade localizada no sudoeste da ilha de Santa Catarina, a 6,5 km do centro de Florianópolis.

Espécie-alvo: Berbigão (Anomalocardia brasiliana)

Parceiros locais: Associação Caminhos do Berbigão, Coletivo UC da Ilha, Prefeitura de Florianópolis, Universidade Federal de Santa Catarina e ICMBio.

Coordenador de Campanha: Fabrício Gonçalves, pescador artesanal, presidente da Associação Caminhos do Berbigão. Graduado em Engenharia de Aquicultura, tendo atuado por dez anos em projetos de aquicultura. (ver entrevista pág. 14)

Berbiguito confraternizando com pescadores da Costeira de Pirajubaé e vencedores da corrida de canoas promovida durante evento de lançamento da campanha “Berbigão para Sempre”

Pirajubaé “Berbigão para Sempre”

(c)

Már

cia

Co

ta

5

No mês que comemora o Dia Internacional da Mulher, marisqueiras de comunidades pertencentes ao município de Maragogipe, na Baía de Todos os Santos na Bahia, se reuniram com suas famílias para celebrar o papel das mulheres extrativistas, a valorização da cultura local e a esperança de um futuro melhor. Isso aconteceu em meados de março, no evento de lançamento da campanha “Marisqueira com orgulho, quilombola para sempre!”, na Resex Marinha Baía de Iguape.

A área da reserva é cercada por ecossistemas de Mata Atlântica e manguezais e abriga comunidades remanescentes de quilombo cujas famílias tiram o seu sustento da extração de ostras e outros moluscos, atividade liderada pelas mulheres. A ostra do mangue e a lambreta são espécies-alvo da campanha que visa recuperar o estoque natural de ostras no estuário por meio da implantação de um cultivo comunitário – inaugurado no dia do lançamento –, do resgate da autoestima das marisqueiras e da adoção de práticas de manejo mais sustentáveis. A iniciativa, que pretende incrementar a renda das famílias extrativistas por meio do aumento da produção de ostras nativas, teve seu lançamento marcado por um clima festivo, que reiterou a força do grupo e a determinação em construir um futuro mais próspero. Na agenda, samba de roda, apresentação de capoeira e um cardápio farto de café da manhã e almoço que incluiu quitutes produzidos pela comunidade, como bolo de tapioca, lelê de milho, siri, lambreta, ostra na brasa e feijão de corda.

Em um discurso emocionado durante a cerimônia de lançamento, Janete Sena, marisqueira e líder da comunidade quilombola Baixão do Guaí, falou das condições do trabalho, das dificuldades enfrentadas e da expectativa com o projeto: “Apostamos nesta iniciativa. Somos guerreiras e não nos deixamos abater. Acreditamos e queremos que a melhoria de renda venha facilitar a vida da gente e dos nossos filhos. Antes tínhamos vergonha de sair cobertas de lama, tínhamos vergonha de ser marisqueira, de aparecer suja. A cada dia, a gente vem levantando a autoestima e temos que permanecer unidas”.

Ficha-resumo

Lançamento da campanha: 16/março/2016

Área-foco: Comunidades de Capanema e Baixão do Guaí, localizadas no município de Maragojipe (BA), ambas remanescentes de quilombo.

Espécies-alvo: ostra-do-mangue (Crassostrea rhizophorae) e lambreta (Lucina pectinata)

Parceiros locais: Fundação Vovó do Mangue, ICMBio e Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.

Coordenador de Campanha: Daniel Souza Andrade, graduado em Administração, é natural de Maragojipe, um dos membros co-fundadores da Fundação Vovó do Mangue há 18 anos. É um entusiasta do trabalho da organização pela proteção e recuperação dos manguezais, o qual apoia até hoje. (ver entrevista pág. 12)

Marisqueiras comemoram o lançamento da Campanha por Orgulho na Resex Baía de Iguape, onde as mulheres extrativistas são responsáveis pelo sustento das famílias.

Baía de Iguape “Marisqueira com orgulho, quilombola para sempre!”

(c)

Már

cia

Co

ta

6

Atividades educativas e recreativas voltadas para estudantes e pescadores mobilizaram, por três dias, a comunidade da Reserva Extrativista Marinha Prainha do Canto Verde, no município cearense de Beberibe, para o lançamento da campanha “O mar da Prainha é nosso. Pescador que pesca legal tem peixe para sempre”. Nos últimos anos, houve uma queda acentuada na produção de pescado na Prainha, que tem como principal atividade econômica a pesca. E foi o intuito de reverter esse quadro que levou a Campanha por Orgulho para essa área protegida situada a 110 km de Fortaleza. Ali, Rare e parceiros estão trabalhando com o objetivo de estabilizar o estoque pesqueiro visando sua recuperação em médio prazo, garantir a pesca sustentável de cinco espécies-alvo e preservar o ecossistema marinho, estabelecendo regras para a atividade. Para tanto, a comunidade da Prainha, conhecida por sua capacidade de organização social e histórico de resistência e luta pela manutenção de seu modo de vida e defesa do território – que tem na própria criação da Resex, em 2009, uma de suas principais conquistas –, está sendo chamada para mais uma força-tarefa. Desta vez, a convocação é para um esforço coordenado de planejamento e gestão participativa da pesca na reserva, procurando melhorar a qualidade de vida das famílias cuja renda depende da atividade.

Uma gincana temática sobre a pesca envolveu estudantes de uma escola municipal parceira da iniciativa em pesquisas, desenhos e uma série de informações acerca das espécies-alvo, demonstrando um enfoque especial da campanha junto à nova geração. “Quando ouvi as respostas dos alunos às perguntas sobre a importância de conservar as espécies-alvo, pude confirmar que estamos atingindo o nosso objetivo de sensibilizá-los para a causa da conservação ambiental”, afirmou a professora Marlene. Ao todo, um público de mais de 400 pessoas participou do evento de lançamento, que teve também na programação oficina sobre vigilância comunitária, teatro de boneco, caminhada, regata de jangadas, apresentações artísticas e barracas de comida, bebida e artesanato.

Ficha-resumo

Lançamento da campanha: 18 a 20/março/2016

Área-foco: comunidade da Prainha do Canto Verde, localizada no litoral leste do Ceará, no município de Beberibe, a 110 km de Fortaleza.

Espécies-alvo: cavala, serra, guarajuba, ariacó e robalo.

Parceiros locais: Associação dos Moradores da Prainha do Canto Verde, ICMBio, Escola Municipal Bom Jesus dos Navegantes e Universidade Federal do Ceará.

Coordenador de Campanha: Lindomar Fernandes, ex-pescador e membro do conselho da Associação dos Moradores da Prainha do Canto Verde.

Um encontro educativo e ecológico tradicional na Prainha, a regata de jangadas encerrou a programação de lançamento da Campanha por Orgulho na reserva.

Prainha do Canto Verde “O mar da Prainha é nosso. Pescador que pesca legal tem peixe para sempre.”

(c)

Cla

ud

ia Q

uin

tan

illa

7

Quatro comunidades do litoral sul da Bahia são o foco de atuação da Campanha por Orgulho “Robalo - eu pesco, eu amo, eu cuido”, cuja execução está em andamento na Reserva Extrativista Marinha de Canavieiras. O robalo é o peixe mais explorado e de maior importância econômica na região, que contém uma das maiores áreas contínuas de manguezais do Estado da Bahia e abrange trechos extensos e não degradados de Mata Atlântica, um dos biomas mais ricos e ameaçados do planeta. Seu bom estado de conservação leva a reserva a atrair pescadores de outras localidades, o que faz com que a espécie, uma valiosa fonte de renda para a população local, venha sofrendo uma forte pressão. É este o cenário que a campanha da Rare e parceiros pretende reverter, promovendo um esforço pelo crescimento do estoque do robalo e a restauração da saúde do ecossistema costeiro-marinho local, por meio do engajamento e da valorização dos pescadores.

Assim como nas demais cinco Resex, pesquisadores ligados a uma universidade serão responsáveis pelo monitoramento biológico do robalo e por fornecer as informações necessárias para embasar as ações da campanha. Javan Lopes, analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e chefe substituto da reserva, salienta que a provisão de dados poderá subsidiar a modificação das portarias reguladoras, visando melhores resultados na conservação da espécie que, consequentemente, acarretam maior qualidade de vida para os pescadores. “A Campanha por Orgulho torna-se ainda mais valiosa por ter metodologia participativa. Ao mesmo tempo em que faz uso do conhecimento de quem mais entende do assunto – os pescadores artesanais –, disciplina a organização de informações e estimula o educador ambiental que há em cada um”.

A questão da autoestima e do reconhecimento social da atividade pesqueira foi a tônica do evento de lançamento da campanha, realizado no município de Belmonte e prestigiado por cerca de 200 pessoas, entre moradores, parceiros, voluntários, representantes políticos e lideranças locais. “Nós somos pescadores de robalo, meu pai era pescador de robalo, que é um produto nobre. Então, quem pesca robalo deveria ser tratado como nobre também. Temos que valorizar mais os pescadores”, desabafou Carlos Alberto Pinto dos Santos, coordenador geral da Comissão Nacional para o Fortalecimento das Reservas Extrativistas Marinhas (Confrem), na cerimônia. Sr. João, pescador e presidente da Associação Mãe dos Extrativistas de Canavieiras (Amex), endossou o coro, afirmando que “esta campanha não é da Rare nem da Amex, ela é de todos nós. Nós temos orgulho de ser pescador”.

Além da agenda principal em torno da temática da pesca, mde apresentação de capoeira, alimentação com cardápio típico e sorteio de brindes, o evento disponibilizou, ainda, de forma gratuita, uma barbearia para os pescadores e um posto móvel de saúde onde os moradores puderam fazer exames de HIV e hepatite.

Marisqueiras exibem, orgulhosas, o banquete à base de pratos típicos com frutos do mar que prepararam para a cerimônia de lançamento.

Canavieiras “Robalo - eu pesco, eu amo, eu cuido”

(c)

Lari

ssa

Sto

ner

Ficha-resumo

Lançamento da campanha: 19/março/2016

Área-foco: comunidades da sede do município de Canavieiras, de Campinhos e Puxim do Sul e de Belmonte (cuja população pesca na Resex, mas mora fora de sua área).

Espécie-alvo: robalo-flecha (Centropomus undecimalis) e robalo peva (C. parallelus).

Parceiros locais: Associação Mãe dos Extrativistas de Canavieiras (Amex), ICMBio, Conservação Internacional e Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.

Coordenador de Campanha: Vanessa Santana Santos, bióloga, nascida em família de pescadores, tem participação ativa em grupos comunitários e trajetória de trabalho musical junto a crianças e jovens em Caravelas (BA).

Assessora Pesqueira: Pedrina Rodriguez Reis, marisqueira, liderança comunitária e filha de pescador tradicional de Belmonte (BA). É vice-presidente da Associação Mãe dos Extrativistas de Canavieiras (Amex).

8

A região conhecida como reentrâncias maranhenses, detentora de uma extensa área contínua de mangues preservados, cobrindo diversos rios, dunas e praias, foi o cenário do lançamento de mais uma Campanha por Orgulho no litoral brasileiro no mês de março. O evento aconteceu no povoado de Guajerutiua, pertencente ao município de Cururupu no norte do Maranhão, uma das 13 ilhas que integram a Reserva Extrativista Marinha de Cururupu, cuja comunidade é formada em sua grande maioria por pescadores tradicionais. A campanha “Pescando Sustentabilidade” já vem sendo implementada há mais de um ano nesta área que é a maior Resex do Brasil e abriga a maior variedade de artes de pesca desenvolvidas em uma só região no país. O objetivo da Rare e parceiros é sensibilizar os pescadores para que respeitem o período de desova da pescada amarela – peixe de maior valor econômico no Estado, conhecido regionalmente como o ‘ouro do Maranhão’ –, aumentar o estoque da espécie e melhorar a qualidade de vida e a renda de milhares de famílias que dependem dela para sobreviver.

O evento que marcou o lançamento oficial da iniciativa mobilizou cerca de 200 pessoas – pescadores e seus familiares, alunos e professores da escola municipal parceira, representantes de órgãos ambientais, lideranças locais e integrantes do Grupo Verde, que promove ações de limpeza na comunidade, como coleta de lixo e mutirão de contenção da maré e da erosão da praia – com atrações como gincana escolar, apresentação do mascote de pescada amarela, a espécie-alvo, batizado de “Amarelinha”, solenidade religiosa, exposição de fotos de moradores da comunidade e um concurso culinário.

O oceanólogo e analista ambiental do ICMBio, Eduardo Menezes de Borba, que é o chefe da Resex Cururupu, aponta a importância de agregar os jovens através da campanha ao mostrar a preocupação com o recurso natural e o próprio entrosamento do pescador em prol de um trabalho em conjunto para a reserva. Segundo ele, a campanha também traz uma contribuição bastante promissora para a gestão da unidade ao focar em sua principal espécie de pesca. “A parceria entre Rare, Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Sociobiodiversidade Associada a Povos e Comunidades Tradicionais do ICMBio, universidade e comunidades vai permitir a coleta de importantes informações para subsidiar futuras medidas de conservação na Resex, como por exemplo uma área restrita por um determinado período e tamanhos mínimos para a captura”.

Ficha-resumo

Lançamento da campanha: 19/março/2016

Área-foco: comunidades de Guajerutiua e Cururupu, ilhas situadas no litoral norte do Maranhão, na região conhecida como reentrâncias maranhenses.

Espécie-alvo: Pescada amarela (Cynoscion acoupa).

Parceiros locais: ICMBio, Unidade Integrada Raimundo Tavares, Associação de Moradores da Resex Extrativista Marinha de Cururupu (AMREMC), Câmara de Vereadores de Cururupu, Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Sociobiodiversidade Associada a Povos e Comunidades Tradicionais (CNPT, do ICMBio) e Universidade Estadual do Maranhão.

Coordenador de Campanha: Josenilde Ferreira Fonseca (Mocinha), nativa de Guajerutiua, mora em Mangunça e tem casa em Cururupu, pescadora, filha e esposa de pescador, nasceu e cresceu na Resex, é Secretária da AMREMC e da Secretaria da Mulher da Confrem.

Amarelinha foi o nome escolhido pelos moradores durante o evento em um concurso para batizar o mascote da pescada amarela, a espécie-alvo símbolo da campanha.

Cururupu “Pescando sustentabilidade”

(c)

En

rico

Mar

on

e

9

No dia 30 de abril aconteceu, na Reserva Extrativista Marinha Delta do Parnaíba (divisa norte do litoral do Maranhão e do Piauí), o último evento de lançamento do pacote das seis Campanhas por Orgulho que a Rare está implementando no Brasil. A iniciativa “Robalo para Sempre” tem como personagem principal o robalo-flecha, peixe de alto valor comercial que é uma fonte de renda importante para a comunidade local.

O foco do trabalho da Rare e parceiros na Resex Delta do Parnaíba é organizar e fortalecer a comunidade de Canárias, situada no município de Araioses (MA), para trabalhar com a pesca de forma coletiva e despertar a atenção de pescadores, moradores e turistas sobre a situação crítica da atividade na reserva. O povoado foi escolhido por ser, dentre os cinco que compõem a Resex, o mais dependente da pesca artesanal e o de maior contingente populacional.

A cerimônia de lançamento da campanha, prestigiada por cerca de 500 comunitários – entre crianças, jovens e pescadores –, teve uma diversificada programação lúdica, cultural e gastronômica permeada pela temática ambiental, que incluiu ainda a inauguração da sede de duas associações locais – Associação de Moradores e Associação de Pescadores de Canárias –, reformada com o apoio da Rare, do ICMBio e da CIA. Uma marcha conduzida pelo mascote da campanha – o robalo –, teve ampla adesão de alunos da Escola Municipal Freitas Diniz, que convidaram os moradores para acompanhá-los até a quadra esportiva, onde, após a solenidade de abertura, eles apresentaram paródias, poesias e músicas elaboradas com o apoio dos professores. “Foi muito especial, pois essas crianças passaram as mensagens de que é preciso cuidar da pesca, do robalo e do meio ambiente”, afirma Luciano Galeno, coordenador da campanha.

O presidente da Associação de Pescadores de Canárias, José Raimundo Oliveira, salientou o envolvimento das gerações futuras e o aspecto científico do projeto, que contribuirá para o melhor conhecimento sobre o estoque do robalo. “Houve um aumento da demanda e do número de pescadores, temos mais barcos pescando, o assoreamento dos rios e as mudanças climáticas. A partir do estudo em parceria com a UFPI e os pescadores vamos fazer com que possa ter robalo para sempre. Esse projeto é muito importante para os pescadores hoje e amanhã; as pessoas devem ter consciência de que os acordos podem fazer o pescado prosperar cada vez mais”.

As crianças foram as protagonistas do evento de lançamento na Resex, sinalizando o engajamento da geração futura nas ações de conservação ambiental na região.

Delta do Parnaíba “Robalo para Sempre”

(c)

Tati

ana

Reh

der

Ficha-resumo

Lançamento da campanha: 30/abril/2016

Área-foco: comunidade pesqueira de Canárias, que tem aproximadamente 2 mil moradores, localizada no município de Araioses, no Maranhão.

Espécie-alvo: robalo (Centropomus undecimalis).

Parceiros locais: Comissão Ilha Ativa (CIA), Associação de Pescadores da Ilha das Canárias, ICMBio e Universidade Federal do Piauí.

Coordenador de Campanha: Luciano Silva Galeno, formado em turismo, desenvolveu projeto de ecoturismo com comunidades pesqueiras da Resex. Atualmente trabalha na ONG local CIA liderando o programa de educação ambiental na Resex.

10

Desde fevereiro deste ano, a Rare Brasil está sob nova direção. O biólogo Luís Henrique de Lima assumiu a liderança executiva da ONG, sendo responsável pelo seu planejamento estratégico, gestão de parcerias institucionais e captação de recursos, além da coordenação da equipe

de profissionais da Rare no país e proposição de modelos de gestão pesqueira nas áreas marinhas protegidas e zonas de livre acesso onde a organização atua. Com mestrado e doutorado em zoologia pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), Lima tem larga experiência acadêmica, administrativa e técnica em gestão de projetos, coleta de dados e estatística pesqueira, manejo da pesca, conservação costeiro-marinha e formulação de políticas públicas. Nos últimos 25 anos, dedicou sua carreira a estes temas, desempenhando funções de elaboração e implementação de projetos de pesquisa, geração de conhecimento, negociações internacionais, capacitação e gestão de equipes e projetos multidisciplinares em iniciativas importantes no governo, em agência de cooperação internacional e no terceiro setor.

Após passagens pelo Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) e o Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais, a Rare é a terceira ONG no currículo do biólogo, que por dois anos atuou como consultor do Ministério do Meio Ambiente (MMA) para em seguida juntar-se ao hoje extinto Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), onde permaneceu por quatro anos. No MMA, Lima dedicou-se à atualização de áreas prioritárias para conservação da biodiversidade marinha e costeira e no MPA era responsável pelo monitoramento da pesca e da aquicultura no país, em parceria com o IBGE e outros institutos de pesquisa (trabalho iniciado na Secretaria Especial de Pesca e Aquicultura, que antecedeu a criação do Ministério). Lima deixou o governo para responder pela temática de meio ambiente no setor de Ciências Naturais da Unesco, no Brasil, onde geria projetos de planejamento, gestão integrada e uso sustentável de recursos naturais, com foco em recursos hídricos.

“Eu sou movido a desafios e, em minha trajetória profissional, felizmente, eles não faltaram. Ao contrário, sobraram!”, afirma Lima. “O trabalho no Ministério da Pesca, onde construímos uma metodologia estatística pesqueira do país e remodelamos processos de coleta de dados, foi um dos mais desafiadores e gratificantes por termos podido avançar numa fronteira que é uma

lacuna grave em nossa ciência da conservação costeiro-marinha”, revela. Com exceção de alguns períodos, podemos afirmar que o Brasil sempre foi carente de informações relacionadas à atividade da pesca e à produção de recursos pesqueiros em suas águas. Não há dados confiáveis sobre número de embarcações de pesca e tampouco tem sido realizado o controle de desembarque pesqueiro ou monitoramento dos estoques de peixes no país. Lima lamenta o fato de a iniciativa desenvolvida e implementada pelo MPA na sua gestão não ter tido continuidade, devido às sucessivas mudanças na gestão deste setor. “Infelizmente, as últimas estatísticas nacionais que temos hoje ainda são do período em que eu estava à frente disso no Ministério e sem estas informações-chave é praticamente impossível avançar rumo à sustentabilidade da pesca como atividade econômica no país”. Soma-se a isso o grave problema enfrentado pelo setor no Brasil, marcado pela pesca desenfreada – muitas vezes predatória e ilegal –, pela captura acidental de espécies, pela captura de juvenis e pela pesca em período de reprodução, o que ameaça forte e gravemente a capacidade natural de reposição das populações de peixe e o equilíbrio dos ecossistemas.

O biólogo conta que o convite da Rare o instigou por ser uma oportunidade de voltar a trabalhar exclusivamente na área marinha e, mais especificamente, com a pesca artesanal, um ramo que sempre o atraiu. Foi seduzido

pela possibilidade de constituir, na sua visão, um modelo ‘redondo’, que atua em todas as frentes necessárias: mudança de comportamento humano, políticas públicas, monitoramento biológico, manejo pesqueiro, provisão de alimentos e melhoria da qualidade de vida de comunidades de base. Para ele, que assumiu a direção da Rare em um momento em que o Brasil está passando por mudanças e incertezas no cenário da gestão pública da pesca, os caminhos para a resolução dos problemas e conflitos locais do setor devem emergir da diversidade de saberes e da construção coletiva e colaborativa de soluções. “O programa Pesca para Sempre, que a Rare está implantando no Brasil, baseia-se em uma metodologia pautada por esse planejamento participativo, almejando o fortalecimento, a conscientização e o envolvimento de comunidades pesqueiras para que assumam comportamentos mais sustentáveis diante dos recursos marinhos. E o trabalho é amparado por alianças e parcerias institucionais sólidas, que asseguram a efetividade e o sucesso das ações”, explica. Lima acredita que esse modelo pode fazer a diferença no âmbito local, exercendo, também, uma importante influência global. “Sabemos que ações de conservação e de manejo pesqueiro bem-sucedidas contribuem para que os ecossistemas marinhos – que, já se sabe, serão os mais afetados – possam resistir e se adaptar melhor às mudanças climáticas no planeta”, completa.

Rare Brasil sob nova direção (c

) E

nri

co M

aro

ne

“Sou movido a desafios”

11

Nos últimos meses, diversos veículos da mídia nacional e regional repercutiram o trabalho que a Rare e parceiros estão executando pela melhoria da gestão da pesca nacional e publicaram conteúdos sobre as Campanhas por Orgulho. Emissoras de TV e rádio, portais de informação, blogs e jornais impressos de Santa Catarina, Bahia, Ceará e Maranhão, como portal R7, RIC TV, SBT, Diário do Nordeste, O Povo, A Tarde, Correio da Bahia e Hora de Santa Catarina veicularam matérias sobre

a iniciativa. O diretor executivo da Rare, Luís Lima, foi entrevistado para o site da revista Época e participou dos programas de rádio Planeta Estadão e Planeta, nas rádios Estadão e Território Eldorado, respectivamente, do grupo Estado de São Paulo. Um colunista do Estadão abordou a iniciativa da Rare com enfoque na cadeia produtiva do pescado e os portais de informação Exame, Agência O Globo e Estadão Conteúdo divulgaram a notícia sobre o lançamento das Campanhas no Brasil.

Parceria Presente ConscienteEm 2015, a Rare estabeleceu uma parceria com o site Presente Consciente, uma plataforma de apoio à captação de recursos para organizações sem finalidade lucrativa. Por meio do site, as pessoas podem contribuir para o trabalho da Rare de duas formas: promovendo eventos solidários e campanhas voluntárias de mobilização pela causa, solicitando doações para a Rare; ou presenteando amigos e familiares por meio da compra de um vale-presente (chamado Felicicard) em forma de doação financeira direcionada para a Rare. Os fundos arrecadados são 100% investidos nos projetos da organização no Brasil.

Gestão pesqueira no Brasil No final de março, o Ministério do Meio Ambiente e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) selaram uma parceria inédita entre os dois órgãos para a execução de agendas comuns referentes à gestão da pesca no país. Dentre as principais ações anunciadas, destacam-se a definição, pelos próximos dois anos, da programação para os nove Comitês Permanentes de Gestão (CPGs), que são as instâncias onde setor pesqueiro, governo federal e sociedade civil debatem e estabelecem acordos sobre as medidas de manejo recomendas por especialistas. A equipe técnica envolvida comunicou que o fluxo das atividades foi montado para propiciar uma maior integração entre as recomendações científicas e as discussões entre os vários setores, nas reuniões plenárias. Neste ano, já devem acontecer pelo menos uma reunião plenária e um encontro dos respectivos Subcomitês Científicos. E no início de abril, veio outra boa nova: seis meses após a extinção do Ministério da Pesca e Aquicultura finalmente saiu o decreto da criação da nova Secretaria de Pesca dentro da estrutura do Mapa.

Rare na mídia

Fique por dentro

O Condutor, o elefante e o caminho A Rare produz alguns vídeos curtos, atrativos e educativos para divulgar sua metodologia de trabalho. Esses materiais integram a estratégia de ensino e treinamento da ONG no âmbito global. “O condutor, o elefante e o caminho” é um vídeo que ilustra o processo de mudança de comportamento – um pilar importante da atuação da Rare –, e mostra como as emoções influenciam a tomada de decisão, usando a analogia proposta pelo psicólogo norteamericano Jonathan Haidt. Assista em http://learning.rare.org/portuguese/.

Estratégia de 5 anos Quem quiser conhecer a estratégia de trabalho da Rare no Brasil, referente ao quinquênio 2015-2020, pode acessar em www.rare.org/pt-br/brazil um sumário executivo, que contém as metas e os objetivos da atuação da organização no país.

Oportunidade na Rare A Rare Brasil está com uma vaga aberta para Gerente de Programa em seu escritório no Rio de Janeiro. Dentre as principais funções atribuídas à posição estão o gerenciamento de campanhas de marketing social para comunidades pesqueiras marinhas e o treinamento de líderes comunitários em ferramentas de marketing social e manejo pesqueiro. O candidato deverá ter, como requisitos mínimos, bacharelado em área afim com as temáticas relacionadas à função (mestrado é desejável), nível avançado – escrito e falado – de inglês, experiência de cinco a sete anos em gerência de projetos de conservação e disponibilidade para viagens. Profissionais interessados na posição devem acessar o link www.rare.org/pt-br/careers para prosseguir com sua candidatura no sistema online e atentar para o fato de que CVs enviados por email não serão considerados para o recrutamento. A previsão para o início do trabalho é junho.

12

Entrevistas com Coordenadores da Campanha por Orgulho

Daniel Souza Andrade, Coordenador da Campanha “Marisqueira com orgulho, quilombola para sempre!” na Resex Baía de Iguape

Uma banda de rock formada por amigos na adolescência inspirou o nome da ONG que o administrador de empresas Daniel Souza Andrade ajudou a fundar há 18 anos em sua cidade natal, Maragogipe, no Recôncavo Baiano. Então com 16 anos, ele era o caçula do grupo “Vovó do Mangue”, que escrevia letras contra o ‘sistema’, produzia fanzines educativos e empreendia ações solidárias em prol da comunidade e do manguezal. As ameaças ao ecossistema e a vontade de contribuir para a realidade local por meio de uma ação mais concreta levou Daniel e colegas da banda a criarem a Fundação Vovó do Mangue, dedicada a projetos socioambientais com foco na proteção e na recuperação dos manguezais. Desde jovem, a preocupação com a questão ambiental e a condição social de pescadores e marisqueiras acompanha Daniel, que conheceu de perto o modo de vida da categoria ainda criança, quando costumava ir com os tios nas pescarias. A trajetória profissional do administrador inclui passagens por diversas empresas de diferentes ramos, o que lhe conferiu um aprendizado de trabalho em equipe e desenvolveu sua capacidade de liderança e de antecipar e contornar problemas. Daniel já foi diretor da Fundação e hoje, aos 36 anos, é um membro ativo e orgulhoso do trabalho da organização, que é a principal ONG atuante na região.

Capacidade de liderança, consciência socioambiental e junção entre o conhecimento tradicional e o científico

(c)

Sac

ha

Gilb

ert

13

P: Como você vê o potencial da campanha para resgatar o orgulho das marisqueiras da Resex Baía de Iguape em relação à profissão? Já há algum sinal disso?

R: A campanha tem um grande potencial e já começamos a ver mudanças positivas no comportamento das marisqueiras, que estão se sentindo mais ‘empoderadas’, valorizadas e orgulhosas. A parceria com a Secretaria de Política para as Mulheres da Bahia, que vem promovendo cursos, tem sido fundamental neste processo de resgate da autoestima das marisqueiras. Elas já falam da mariscagem com mais orgulho e não pensam em abandonar a atividade.

P: Você acredita que a educação socioambiental funciona como fator revigorador do meio ambiente das Reservas Extrativistas?

R: Acredito que sim. Ainda que os maiores impactos negativos sobre o meio ambiente na Baía de Iguape sejam causados por empresas e empreendimentos – como a Hidrelétrica Pedra do Cavalo que mudou todo o curso dinâmico das águas do rio Paraguaçu e o Estaleiro Indústria Naval que trouxe grande reflexo de outras espécies vindas em água de lastro –, e que esta seja uma realidade que não temos poder para modificar, nós podemos fazer a nossa parte numa escala micro e ver resultados. Acredito naquela ideia de que ações locais podem gerar mudanças globais. Se tivermos mais comunidades preocupadas com a questão do descarte correto do lixo, por exemplo, ou conscientes de que não se deve cortar o manguezal, verificaremos, com certeza, uma melhoria na qualidade de vida das pessoas e do meio ambiente. E quanto mais pessoas forem tocadas por essas mensagens, mais agentes multiplicadores teremos em defesa do meio ambiente.

P: Como tem sido a experiência de coordenar uma Campanha por Orgulho e fazer esse intermédio entre a Rare e as marisqueiras?

R: Tem sido muito gratificante, além de um aprendizado constante. Eu fui muito bem recebido pelas marisqueiras das comunidades de Capanema e Baixão do Guaí, e acredito que construímos juntos uma relação de confiança e amizade. Não há felicidade maior para mim do que receber uma ligação de Dona Rita (que é uma marisqueira e liderança local engajada no projeto), quando eu preciso viajar para Salvador, perguntando quando eu retorno pois elas estão sentindo a minha falta. Isso é muito gratificante. E tem sido um aprendizado enorme, tanto no que diz respeito aos conhecimentos tradicionais que elas possuem sobre o manguezal, tanto no sentido de coordenar um trabalho com tantas pessoas diferentes envolvidas e ter que, algumas vezes, gerenciar crises e contornar ruídos de comunicação, por exemplo.

P: Que visão você tinha da Rare antes de começar o trabalho efetivamente? Hoje tem uma visão diferente?

R: Como tudo que é novo, no primeiro momento eu tive a preocupação de analisar e entender a proposta de trabalho feita pela Rare, até pelo fato de que as comunidades muitas vezes rejeitam o que vem de fora e seria necessário convencê-las da importância do programa. Após a primeira visita da equipe da Rare à Resex Baía de Iguape, quando tive a chance de conhecer alguns integrantes pessoalmente, percebi que eram pessoas sérias e especializadas, com as quais poderíamos aprender bastante também. Além disso, destaco a flexibilidade e capacidade de negociar da equipe da Rare, sempre buscando formas de solucionar impasses junto às comunidades. Sem falar no acompanhamento do desenrolar do trabalho que, mesmo à distância, tem sido fundamental para me dar o suporte necessário para desenvolver as atividades. A equipe do ICMBio também tem sido importante neste processo e acredito que todos nós, instituições, pessoas e comunidades ganhamos com isso.

P: O que mais tem aprendido ao longo desse trabalho, de formatação e implementação da campanha?

R: A maior lição que tive até agora é a de valorizar o saber tradicional. Cada vez que vou ao manguezal com as marisqueiras recebo uma aula sobre o funcionamento desse ecossistema e das espécies que nele vivem, conhecimento construído por elas de maneira empírica e passada de geração para geração. O conhecimento delas impressiona até mesmo os professores da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, que fazem questão de valorizá-lo. É este caminho que estamos trilhando, conhecimento tradicional e científico caminhando juntos.

14

Fabrício Gonçalves, Coordenador da Campanha “Berbigão para Sempre” na Resex Pirajubaé

Paixão pelo mar, conhecimento técnico e compromisso com o diálogo

O catarinense Fabrício Gonçalves tem 37 anos e é nativo de Florianópolis onde, desde criança, teve contato com o mar e a arte da pesca. Aprendeu a jogar tarrafa com o avô e tornou-se pescador artesanal. Aos 21 anos, decidiu cursar Engenharia de Aquicultura na Universidade Federal de Santa Catarina e descobriu o valor social, econômico e ambiental que o molusco berbigão tem para a comunidade onde nasceu. Trabalhou por dez anos em projetos de aquicultura, tendo atuado no cultivo de camarão e ostras. Desde 2012, preside a Associação Caminhos do Berbigão e há seis anos integra a Secretaria de Comunicação da Comissão Nacional para o Fortalecimento das Reservas Extrativistas Marinhas (Confrem), o que lhe permite um intercâmbio de conhecimento e experiência com extrativistas de todo o Brasil.

(c)

Sac

ha

Gilb

ert

15

P: A atividade extrativista na Resex Pirajubaé sofreu grande impacto no último ano por motivos ainda desconhecidos. Já é possível notar como a Campanha por Orgulho tem contribuído para diminuir esse efeito?

R: Com o diagnóstico preliminar, as pesquisas quantitativa e qualitativa, o levantamento de marketing social que apura o conhecimento, a atitude e a prática e, principalmente, com o treinamento que obtivemos da Rare, conseguimos identificar as principais ações para a recuperação do berbigão e as estratégias pesqueiras a serem implementadas. Dentre os resultados iniciais da campanha, podemos destacar: o projeto de limpeza do cascalho, o primeiro manejo realizado de forma coletiva pelos extrativistas; a parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina para o monitoramento do berbigão, para o qual o apoio financeiro da Rare é fundamental; o lançamento da campanha, algo inédito na Resex Pirajubaé, que teve grande repercussão na comunidade; e, por último, o diálogo que a Rare está promovendo com outras instituições para alcançar o resultado de conservação.

P: : Como tem sido a experiência de coordenar uma Campanha por Orgulho e fazer esse intermédio entre a Rare e os extrativistas?

R: Muito enriquecedora. Apesar de já trabalhar há um bom tempo com os extrativistas e de já presidir a Associação, o treinamento e a metodologia da Rare proporcionaram um outro olhar sobre a realidade em que estou inserido. Esta função de coordenador de campanha tem muitas responsabilidades, principalmente quando envolve diretamente a vidas das pessoas, sua tradição, trabalho e sentimentos.

P: Das mudanças de comportamento almejadas pela campanha, qual é a mais difícil de ser alcançada? Por quê?

R: Todas são difíceis, sabemos que nenhuma mudança de comportamento é fácil. A prioridade seria a ‘revisão das normas de extração’, para a qual a participação dos extrativistas é essencial. A ‘limpeza do cascalho’ tem que ser antecedida pelos resultados preliminares. ‘Melhorar a qualidade do produto final’ necessita de investimento e conhecimento e a ‘vigilância comunitária dos recursos pesqueiros’ é também um assunto delicado, sobre o qual iremos dialogar com o ICMBio. Por último, o ‘manejo do berbigão’ requer conhecimento sobre formas de se fazer uma extração consciente e sustentável, que será construído com o envolvimento da academia e dos extrativistas.

P: O que é ser um bom líder comunitário, na sua opinião?

R: Ser um bom líder é pensar no coletivo, buscar o bem de todos os seus camaradas, demonstrar conhecimento e comprometimento com a sua bandeira. Para ser um líder você tem que ser aceito, participar das discussões, saber conversar nas situações mais diversas, conhecer a realidade na prática. Exige muito trabalho.

P: O que você sonha em deixar como legado desta campanha para a Resex Pirajubaé?

R: Meu sonho é despertar o sentimento de pertencimento e amor pela Resex Pirajubaé, fazendo com que os extrativistas e os pescadores se sintam responsáveis pela defesa do território e de nossos recursos pesqueiros. Espero que a conscientização da comunidade para a necessidade da preservação seja renovada e, com isso, consigamos melhorar a qualidade de vida de todos.

16

Rare Brasil

Rua Visconde de Pirajá, 177 - sala 801Ipanema – 22.410-001Rio de Janeiro, RJ

(21) 3268-3641 | [email protected]

www.rare.org/pt-br

Informativo

Texto, revisão e coordenação editorial: Isabela Santos

Colaboração: Ruggeron Reis