Raymond 1917 Trad Cook

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Reflexões sobre “Raymond” [por Sir Oliver Lodge] uma apreciação e análise Walter Cook

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Crítica ao livro Raymond de Oliver Lodge

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Reflexões sobre “Raymond” [por Sir Oliver Lodge]uma apreciação e análise

Walter Cook

Traduzido por Vital Cruvinel Ferreira e Vitor Moura Visoni em 28 de agosto de 2015.

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REFLEXÕES SOBRE “RAYMOND”

UMA APRECIAÇÃO E ANÁLISE

POR

WALTER COOK

LONDONGRANT RICHARDS LTD.

ST. MARTIN’S STREET1917

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PRIMEIRA EDIÇÃO Maio de 1917Reimpressão Junho de 1917

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PREFÁCIO

Este pequeno livro foi escrito com um objetivo; francamente, o inverso daquele que levou à publicação de “Raymond”.

Ele tenta dissuadir os enlutados nesta guerra de ter esperança onde, como o autor acredita, nenhuma consolação real ou saudável pode ser encontrada.

Aqueles que praticam ou aceitam o Espiritualismo são muitas vezes inclinados a atribuir ao Materialismo qualquer falha em “engolir” suas “evidências”, ou até mesmo à descrença, por parte do cético. Esta visão pode, em parte, estar correta. Em North of the Tweed1, nos primeiros dias, uma recusa semelhante no que diz respeito à “tigela” de mingau, como preliminar para o café da manhã, foi considerado, e muitas vezes de forma bastante justa, como indicando uma falta de tom moral no recusante.

Acontece também que a “dúvida honesta” com relação ao Espiritualismo provoca ira por parte do crente. Isso não

1 A expressão “North of the Tweed” é usada para se referir aos habitantes e locais de Queensland, o 2º maior estado da Austrália. (N. T.)

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deveria ocorrer no caso da fé ou da crença bem fundamentada. É provavelmente o sinal de angústia que a Razão voa quando o incognoscível ou o incrível são confundidos com, e mascarados como, um Fato provado ou aceito.

O autor não espera, portanto, que seu livro agrade (ou venda) àqueles que professam e chamam a si mesmos de Espiritualistas — e isso é de se lamentar.

O argumento de que “evidências”, aceitas e aprovadas por um importante cientista, estão além da capacidade de refutação de um leigo desconhecido, é um forte argumento. O inverso é, no entanto, igualmente potente — ou seja, que se, como este livro tenta mostrar, mesmo um cientista treinado pode ser iludido e enganado nestes assuntos, então o Espiritualismo é um perigo, uma vez que ninguém, mesmo sensato, pode se envolver sem penalidade; e que, se não for agora revivido permanentemente, até mesmo pela poderosa defesa referida, então o Espiritualismo pode ser considerado morto por pelo menos uma geração.

Na esperança de que se possa, em algum grau, verificar o presente e notório renascimento de um ana-

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cronismo perigoso e enganador, devido em grande parte à defesa de Sir Oliver Lodge, este livro é oferecido ao público pelo Autor, que, no entanto, não teve nenhum desejo ou intenção, em qualquer parte dele, de ferir os sentimentos daqueles que possuem tanto, e a muito custo conseguiram, um direito a um tratamento cortês, como daqueles a quem as “evidências” invocadas por Sir Oliver parecem adequadas ou consoladoras.

W. Cook.1º de março de 1917.

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Esta página foi deixada em branco intencionalmente.

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CAPÍTULO I

Deep folly! yet that this could be—That I could wing my will with mightTo leap the grades of life and light,And flash at once, my friend, to thee.

. . . . . . . . .Ah dear, but come thou back to me:Whatever change the years have wrought,I find not yet one lonely thoughtThat cries against my wish for thee.

— TENNYSON, “In Memoriam”.

A dedicatória do mais recente livro de Sir Oliver Lodge — “Para sua Mãe e Família” — e as palavras de abertura do Prefácio, “Este livro é em homenagem ao meu filho, que foi morto na guerra”, são quase suficientes para desarmar as críticas a partir de qualquer ponto de vista.

O mais cruel dos críticos certamente preferiria restringir sua análise a uma apreciação da parte do livro de Sir Oliver Lodge que tão comoventemente revela uma amável e encantadora personalidade — a de seu filho Raymond, que morreu por seu país.

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Muitos, infelizmente! igualmente jovens, talvez igualmente admiráveis e brilhantes, fizeram o mesmo sacrifício; mas aqui, na seleção admirável de suas cartas, a Memória por seu irmão, as Reminiscências de seu pai e, quase sagrado demais para tocar, no “Lamento” de sua mãe, temos uma imagem suave e muito comovente que, ainda que olhemos para ela de qualquer forma, parece quase se concentrar somente na tristeza da perda desta jovem vida. Os retratos colocados no livro do bom e jovem rapaz, com sua nobre cabeça e um toque de tristeza premonitória nos olhos e na boca, ajuda a ilusão: pois é ilusão; não há monopólio da tristeza hoje em dia, e não tristeza, mas orgulho, é a emoção correta que nós sentimos diante desses inúmeros sacrifícios tão disposta e nobremente feitos — e que ainda estão por fazer — pela juventude inteira da Inglaterra, quase parece.

Certamente, a primeira parte do livro de Sir Oliver alcança o objeto proposto por ele no Prefácio — e mais: “Um sentimento amigável” é uma descrição imparcial do que o leitor deve sentir pelo “escritor das cartas” e o

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original dos retratos. Sir Oliver Lodge quase fez de sua própria perda a nossa. É na segunda parte do livro que a crítica deve se voltar, involuntária o suficiente,

para o exercício de sua função mais usual: àqueles capítulos que Sir Oliver descreve como a “parte supranormal” de seu livro. Esta parte da obra trata, e descreve, as “evidências” e experimentos sobre os quais Sir Oliver se baseia para estabelecer a continuidade da personalidade após a morte, no caso particular tratado, e para provar a possibilidade de comunicação com aqueles que passaram para o “outro lado”.

Novamente é possível sentir uma indisposição para analisar de forma crítica quaisquer “evidências” ou “manifestações”, que trouxeram, nas palavras de Sir Oliver, “alívio” em seu luto para aqueles que detinham o jovem herói, Raymond Lodge, tão próximo e querido a eles. A publicação, no entanto, por um cientista distinto e muito conhecido do calibre de Sir Oliver, pode ter imensas possibilidades tanto para o mal quanto para o bem; e

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espera-se que a mesma sensação de “dever” que levou Sir Oliver Lodge a tornar públicos esses assuntos e crenças íntimas pode desculpar, e até mesmo justificar, sua crítica por um escritor bastante avesso à tarefa. O objetivo principal de Sir Oliver Lodge em publicar essas experiências, como afirmado no Prefácio — a esperança de que elas possam “consolar” alguma parte da multidão dos igualmente enlutados — parece, de fato, para o escritor, uma razão muito válida para a crítica proposta; pois nada pode ser concebido mais desastroso para o bem-estar mental da nação, ou mais aviltante para a dignidade das memórias dos nossos heróis, do que famílias inteiras de pessoas de luto na Inglaterra sendo seduzidas de sua tristeza por o que seja, sobretudo, pelo antigo e folclórico “Espiritualismo”; ou que devemos conceber que o “estado futuro” de nossos heróis esteja suscetível à intromissão de convocação de médiuns pagos e profissionais.

O termo “Espiritualismo” é moderno, mas tudo o que ele representa é tão antigo quanto a história mítica — e não tão confiável. Pelo

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nome que for, o culto pode ser periodicamente rebatizado, e sua prática não produziu ainda, na experiência humana, qualquer resultado tangível para a humanidade, ou qualquer evidência que, hoje em dia, seja considerada em um Tribunal de Justiça. A persistência do culto é, de fato, extraordinária ao longo do desenvolvimento humano, mas sua prevalência parece predominar no estágio de selvageria — antes do alvorecer da religião — e voltar quando a civilização degenera e, com ela, o instinto religioso saudável. O Espiritualismo, em suma, parece ser característico da infância e também da velhice de nações ou civilizações. O que parece verdadeiro nisto tudo pode ser válido no caso do indivíduo, e o que foi dito, há muito, no que diz respeito aos tempos futuros de pressão e juízo, parece ser exemplificado hoje em dia, quando os rumores de “aparições” vem a nós dos campos de batalha de Flandres e um cientista veterano expõe o ocultismo: “os vossos jovens terão visões e os vossos velhos terão sonhos.” Visões e sonhos! Nem sons nem evidências tangíveis. O

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ouvido é menos falível do que o olho, e a mão um melhor medidor da realidade do que o cérebro.

Tudo isso, no entanto, é difícil de argumentar, e, tanto quanto o espaço permitir, com as exceções abaixo referidas no que diz respeito a certas formas de “manifestações”, propõe-se agora examinar as reais “evidências” dadas por Sir Oliver Lodge na parte II da obra sob revisão.

É dado como certo que a Parte II incorpora todo o caso que Sir Oliver deseja apresentar ao público, no que diz respeito ao caso particular tratado, para aceitação ou crítica; e que o caso presente, do modo apresentado, deve ficar de pé ou cair, com relação às experiências “supranormais” descritas, pelo que aparece nesta parte do livro.

Restrições de espaço aqui impedem um exame de pouco mais do que algumas das experiências ou “evidências” dadas nesta parte do livro — o leitor desejando conhecer uma gama mais ampla dos “fenômenos” pode se reportar ao próprio livro. Mas, o próprio Sir Oliver, como observado na “Introdução” à

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Parte II, fez uma “seleção” — sem dúvida razoável — ao apresentar essas experiências, então um crítico pode exercer uma escolha bastante similar, e alegar estabelecer seus pontos — se, de fato, ele conseguiu fazê-lo, ao tratar de apenas algumas dessas “evidências” — “ex uno disce omnes”, como diz o próprio Sir Oliver, mas em outra abordagem.

Como Sir Oliver Lodge sugere no Capítulo 1, o leigo pode ter dificuldade em compreender a técnica da ciência ou da prática do Espiritualismo de hoje; e, sem um glossário dos termos utilizados, os registros das experiências detalhadas na Parte II do livro são difíceis de acompanhar.

Tecnicamente, assim, no Espiritualismo —

Um “assistente” é qualquer pessoa presente em uma “sessão” com um “médium”, e que consulta tal “médium” pessoalmente com vista à comunicação, ou manifestações, do “Mundo Espiritual”.

Um “médium” é uma pessoa, geralmente um profissional pago, com o pretenso poder de receber tais comunicações ou evocar tais manifestações; geralmente em um estado de “transe”, e também sob um “controle”.

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Um “controle” é um “espírito”, ou, como costuma ser chamado, um “familiar” do “outro lado”, i.e., no “Mundo Espiritual”. Não necessariamente, mas algumas vezes aparentemente, uma pessoa que morreu, e que, como espírito, possui o poder de comunicar os pensamentos ou palavras de outros “espíritos”, ou dos mortais que morreram, falando por meio da boca do “médium”. Logo, de fato, um “médium” no “Mundo Espiritual”. Esses “controles” ou “familiares” possuem nomes, aparentemente de sua própria invenção ou adoção — tais como “Feda” ou “Moonstone”. Sir Oliver descreve um “controle” como “certamente, uma personalidade secundária” do “médium”, mas conclui que ele não sabe o que este termo significa exatamente.

Um “comunicador” é o “espírito” de uma pessoa morta ou outro “espírito” que deseja ou é impelido a se “comunicar” com o “assistente”, e assim o faz através dos canais acima.“Escrita automática” é a escrita produzida pela mão do “médium”, ou mesmo por qualquer um que tenha o “dom”, independentemente da própria vontade do escrevente, e, aparentemente, sem consciência deste do que está escrito; a essência do que é escrito sendo o produto de outra inteligência, ou seja, daquilo que provém de um “espírito”.

NOTA. — Esta “manifestação”, sendo, por sua natureza, particularmente suscetível à influência do auto-engano — nas palavras de Sir Oliver, ela “pode, com a melhor das intenções, ser mal aplicada”, e, portanto, no mínimo, de duvidoso valor como

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“evidência”, que aqui propõe-se excluí-la do “exame” e de qualquer coisa a menos que seja uma menção incidental.“Telecinesia” parece significar “movimento direto de matéria inorgânica” causado pela ação de espíritos — tais como as “mesas girantes” e as “pancadas na mesa”, “sessões de mesa”, etc.

NOTA — Esta “manifestação”, sendo, por sua natureza, desacreditada na opinião pública pelos ditames do bom senso, propõe-se aqui excluir as “sessões” em que elas formam os meios de “comunicação” de exame completamente. Isto o escritor está mais disposto a fazer, pelas razões dadas imediatamente abaixo.

No que se refere à questão das “batidas de mesa” e das “sessões de mesa” descritas no livro de Sir Oliver, o escritor aqui deseja observar, de forma geral, que:

O objetivo do escritor é sério e é claramente difícil lidar sobriamente com um ramo de seu tema no qual os seguintes itens de descrição e comentário, no livro de Sir Oliver, se aplicam. Em certa ocasião a mesa empregada tornou-se tão exuberante e tão imbuída de “personalidade vivaz” de “Raymond”, a ponto de mostrar o desejo de ficar no colo de Lady Lodge.

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Citações dos “registros” dessas “sessões de mesa” são lidas a seguir —

“A mesa agora parecia querer ficar no colo de Lady Lodge, e fez carícias para lá e para cá, e parecia como se não pudesse chegar perto o suficiente dela.

A mesa balançou para lá e para cá com um movimento alegre, porém difícil de descrever no papel.”

A mesa é representada como “rindo”. Sir Oliver registra que “ocasionalmente a mesa tinha alguns rompantes e tinha que ser acalmada; tanto a mesa e coisas como vasos de flores se quebraram.”

Sir Oliver diz de uma mesa — uma “alegre” —

“Durante o tempo em que está animada... pode dar boas vindas a um recém-chegado, pode demonstrar alegria e tristeza, diversão ou seriedade; pode ocupar o tempo com uma canção como se juntasse ao coro; e, o mais notável de tudo, pode exibir afeto de uma forma inconfundível”.

Sir Oliver diz ainda:

“A extração de música elementar a partir de todos os tipos de objetos improváveis — como utensílios de cozinha — é um conhecido desempenho de palco. A utilização de objetos improváveis para fins de comunicação, ainda que não fosse esperado, deveria ser incluído na mesma categoria geral”.

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Para o escritor isto parece significar que, porque ao bater em uma chaleira alguém pode produzir sons, então uma mesa “alegre” pode exibir afeto de uma forma inconfundível.

Que, no entanto, estas “manifestações” foram encaradas com total seriedade por alguns dos “assistentes”, é demonstrado pelo fato de que pelo menos algumas das “sessões” em que estas palhaçadas da mesa ocorreram foram iniciadas com uma oração.

Quanto aos meios de “comunicação” mais geralmente empregados nas “sessões” descritas no livro de Sir Oliver, a saber, “médiuns” e “controles”, Sir Oliver, ao ilustrar as razões para a natureza frequentemente insatisfatória das “comunicações” recebidas, compara estes meios de comunicação a um telefone mal acabado, operado por pessoas, uma das quais está relutante a falar através dele e outra na dúvida se há alguém do outro lado. A ilustração parece, ao escritor, falhar nisto, a saber, que nenhum telefone, capaz de transmitir as palavras

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articuladas de forma audível, automaticamente torna sem sentido o que é falado por ele.Aqui mais uma nota técnica parece necessária.É costume no registro das “comunicações” descrevê-las da seguinte forma:

“JONES”, “JONES”,S. B.

Isso significa que o espírito do senhor Jones está se comunicando através da ação do “médium” S. (Sr. ou Sra. Smith), e, em outra ocasião, através de B. (Sr. ou Sra. Brown), Smith e Brown recebendo suas respectivas comunicações através da ação de seus respectivos “Controles” ou “Familiares”, que podem ser chamados, ou chamam a si mesmos (tanto faz).

É agora conveniente, para a elucidação que se segue, descrever aqui a dramatis personae acoplada, ou referida, nas “sessões”, um exame das quais é tentado mais tarde.

O escritor aqui também deseja afirmar que toda a informação dada abaixo é extraída

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exclusivamente do livro de Sir Oliver Lodge, sem outras fontes de informação, mesmo estando disponíveis ou procuradas, por ele:

“DRAMATIS PERSONAE”“Assistentes”

1. “O. J. L.” — Sir Oliver Lodge, etc., pai de Raymond Lodge. Eminente cientista, autor de Survival of Man e outros livros sobre temas espiritualistas; membro, ou correspondente, da Society for Psychical Research — já convencido da Sobrevivência da Personalidade, etc., após a morte.

2. “M. F. A. L.”, Lady Lodge, mãe de Raymond Lodge. Interessada no espiritualismo desde 1889. Cética até 1906, nas datas da primeira e segunda visitas da Sra. Piper (ver “Médiuns”) à Inglaterra.

3. “A. M. L.”, Sr. Alec Lodge, irmão mais velho de Raymond.4. “L. L.”, Sr. Lionel Lodge, irmão mais velho de Raymond.5. “H.”, Srta. Honor Lodge, irmã de Raymond. Não foi uma “assistente” até 2 de

março de 1916. “Assistente” em “sessões de mesa” apenas.6. “Srta. R.” — Srta. Robbins, “assistente” com a Sra. Piper na entrega da

mensagem “Fauno” apenas.7. “Madame” — Madame Le Breton, mãe de dois filhos mortos na guerra.

“Assistente” com a Sra. Kennedy e Sra. Leonard, a quem ela foi apresentada “para o conforto” de Lady Lodge.

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“Comunicadores”1. “R. L.” — segundo tenente Raymond Lodge, filho mais novo de Sir Oliver

Lodge e Lady Lodge. Nascido em 25 de janeiro de 1889. Morto em combate no Flandres, em 14 de setembro de 1915, 26 anos.

2. “R. H.” — Dr. Richard Hodgson, falecido. Aparentemente, em vida, membro ou correspondente da SPR, e, com o Sr. F. W. H. Myers (falecido), agora atuando com um “círculo” de espíritos de outros membros falecidos da S.P.R., amigos de Sir Oliver, ajudando Raymond a “comunicar-se” com sua família.

3. “F. W. H. M.” — Sr. F. W. H. Myers, falecido, como declarado acima. Erudito e poeta. Autor de Human Personality, etc. Membro da S.P.R.

4. “Paul” ou “Paulie” — Sr. Paul Kennedy, filho da Sra. K. Kennedy. Morreu depois dos resultados de um acidente, em 23 de junho de 1914, com 17 anos.

5. “Avô W.” — Falecido. Padrasto de Lady Lodge. Aparece com Raymond no mundo espiritual.

“Médiuns”1. Sra. Verrall. — Viúva do Dr. Arthur Verrall. Não é uma médium profissional.

Erudita talentosa. Interpreta a mensagem “Fauno”.2. Sra. Piper. — Escrevente automática e médium. Suas “mensagens” foram muito

estudadas pela Sociedade de Pesquisas Psíquicas (SPR). Residente por 30 anos perto de Boston, EUA. Visitou a Inglaterra em 1889 e em 1906. Correspondente de Sir Oliver Lodge através de sua filha (e secretária), Srta. Alta Piper.

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3. Sra. Kennedy (Kathie). — Escrevente automática. Não é uma médium profissional. Esposa do Dr. Kennedy. Mãe de Paul (ver “Comunicadores” acima). Sir Oliver Lodge a conheceu em agosto de 1914. Também uma “assistente” e, mais especialmente, a “organizadora” de “sessões” de Sir Oliver Lodge e família. Amiga da família.

4. Sra. Leonard. — Médium profissional, apresentada pela Sra. Kennedy e conhecida dela desde 14 de setembro de 1915.

5. Sr. Vout Peters. — Médium profissional, apresentado pela Sra. Kennedy.6. Sra. Clegg. — Médium profissional, apresentada pela Sra. Kennedy.7. Sra. Brittain. — Médium profissional, apresentada pela Sra. Kennedy. Um fracasso.

“Controles” ou “Familiares”1. “Phinuit”. — “Controle” ou “familiar” da Sra. Piper.2. “R. H.”. — Idem. (ver também “Comunicadores”).3. “Rector”. — Idem. (ver também “Comunicadores”).4. “Feda”. — “Controle” ou “familiar” da Sra. Leonard, “uma menina indiana”.5. “Moonstone”. — Idem para o Sr. Vout Peters, um “iogue” em uma vida anterior.6. “Redfeather”. — Idem para o Sr. Vout Peters. Um “indiano”, fala um inglês

“rudimentar”.7. “Biddy”. — Idem para o Sr. Vout Peters. Uma mulher irlandesa, começa falando

com sotaque irlandês, mas abandona mais tarde. Em vida foi uma lavadeira.8. “Hope”. Idem para a Sra. Clegg.

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9. “Um capitão”. Idem para a Sra. Clegg. Um militar que fala em voz alta e marcial.

Diversos1. Dr. Arthur Verrall. — Falecido. Marido da Sra. Verrall.2. Srta. Alta Piper. — Filha da Sra. Piper. Anotadora ou secretária de sua mãe. Envia da América de tempos em tempos para Sir Oliver Lodge os relatos e os “manuscritos” das sessões da Sra. Piper.3. Sr. J. A. Hill. — Membro ou correspondente da S.P.R. Correspondente e amigo de Sir Oliver Lodge. Também um “assistente” com Vout Peters. Escritor sobre o espiritualismo. Organizador da primeira sessão de Sir Oliver Lodge com Vout Peters.4. “O. W. F. L.” — Sr. Oliver Lodge. O filho mais velho de Sir Oliver. Escritor do livro de memórias de Raymond. Poeta, autor de uma obra de poemas. Não toma parte nas “sessões”.5. “B.L.” — Sr. Brodie Lodge, filho de Sir Oliver. Sócio nos negócios com o Sr. Alec Lodge (ver “Assistentes”). Não toma parte nas “sessões”.6. Srta. Rosalynde Lodge. — Filha de Sir Oliver. Citada apenas em sessões de “mesa” (no qual Raymond, estranhamente, soletra o nome de sua irmã incorretamente) com a Sra. Leonard.7. Espíritos dos falecidos membros da S.P.R. Líderes da S.P.R. no “outro lado”.

Falecidos amigos de Sir Oliver Lodge, etc, etc.

Aqui cabe fazer muito apropriadamente um reconhecimento da evidente, meticulosa e, pode-se mesmo dizer, da honestidade aterradora

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com que todos os detalhes dos assuntos tratados são colocados por Sir Oliver Lodge em seu livro. Estes detalhes, juntamente com a ajuda do índice admirável, fornecem uma riqueza de evidência interna suficiente para todos os fins da crítica.

Para que o leitor possa acompanhar o exame das várias “sessões” e os comentários que se seguem, propõe-se agora uma lista de todas as “sessões” (exceto as “sessões de mesa” e de “escrita automática”) referidas no livro, em ordem cronológica. (Ver págs. 26-27)

A partir de uma olhadela na Lista das Sessões, que se estendem ao longo de um período de nove meses, alguns fatos importantes e sugestivos ficam bem aparentes:

1. Que, mais especialmente no que se refere às primeiras “sessões”, a Sra. Kennedy desempenha um papel muito importante no que pode muito bem ser considerado a tragédia destas “evidências”, aceitas por Sir Oliver Lodge como genuínas: a Sra. Kennedy sendo a intermediária pela qual as “sessões” foram “organizadas” a fim de

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LISTA DAS “SESSÕES”“Assistente”

Nome do médiumData da “sessão”

Nome Se anônimoNome do

“organizador” da “sessão”

1. Sra. Piper 05/08/1915 Srta. Robbins Desconhecido DesconhecidoA mensagem “Fauno” 08/08/19152. Sra. Leonard 24/09/1915 Lady Lodge e

Madame Le BretonAnônimo Sra. Kennedy

3. Sra. Leonard 27/09/1915 Sir Oliver Lodge Anônimo Sra. Kennedy4. Sr. Vout Peters 27/09/1915 Lady Lodge Anônimo Sra. Kennedy5. Sra. Brittain 13/10/1915 Sir Oliver e Lady

LodgeAnônimo Sra. Kennedy

6. Sra. Leonard 22/10/1915 Sir Oliver e Lady Lodge

Não anônimo Desconhecido (Sra. Kennedy presente)

7. Sr. Vout Peters 23/10/1915 Lady Lodge e Sr. Alec Lodge

Anônimo Sra. Kennedy

8. Sr. Vout Peters 29/10/1915 Sir Oliver Lodge Anônimo Sr. J. A. Hill9. Sra. Leonard 17/11/1915 Sr. Lionel Lodge Anônimo Sr. L. Lodge10. Sra. Leonard 26/11/1915 Lady Lodge Não anônimo Desconhecido11. Sra. Leonard 03/12/1915 Sir Oliver Lodge Não anônimo Desconhecido

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LISTA DAS “SESSÕES” — continuação.“Assistente”

Nome do médiumData da “sessão”

Nome Se anônimoNome do

“organizador” da “sessão”

12. Sra. Leonard 21/12/1915 Sr. Alec Lodge Não anônimo Desconhecido13. Sra. Leonard 18/01/1916 Sir Oliver Lodge Não anônimo Desconhecido14. Sra. Leonard 04/02/1916 Lady Lodge Não anônimo Desconhecido15. Sra. Clegg 03/03/1916 Sir Oliver Lodge Anônimo Sra. Kennedy16. Sra. Leonard 03/03/1916 Sir Oliver Lodge Não anônimo Desconhecido17. Sra. Leonard 24/03/1916 Sir Oliver Lodge e

Lady LodgeNão anônimo Desconhecido

18. Sra. Leonard 26/05/1916 Sr. Lionel Lodge e “Norah”

Não anônimo Desconhecido

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garantir o anonimato dos “assistentes” em que Sir Oliver deposita tanta, e tão constantemente reiterada, importância.2

2. De um total de dezoito “sessões”, não menos do que doze foram realizadas com uma e a mesma médium, a Sra. Leonard, apresentada e “recomendada” à Lady Lodge pela Sra. Kennedy; e, das restantes seis “sessões”, cinco foram realizadas com médiuns também originalmente apresentados a um ou outro da família de Sir Oliver por esta mesma senhora.

2 Ao descrever as circunstâncias que cercaram estas “sessões”, Sir Oliver usa os seguintes termos: “Membros da família a quem o médium era um completo estranho, e que não deram nenhuma pista sobre sua identidade”.

“Minha própria aparência geral é conhecida ou pode ser adivinhada, mas isso não se aplica aos membros de minha família que foram de forma bastante anônima às sessões privadas cuidadosamente organizadas por uma amiga em Londres (a Sra. Kennedy, esposa do Dr. Kennedy), que não tinha nenhuma relação”.

“A Sra. Leonard, então uma completa estranha.”“Eu fui sozinho a sua casa ou apartamento, como um completo estranho, para quem um agendamento

foi feito através da Sra. Kennedy.”“Lady Lodge teve sua primeira sessão como uma completa estranha para o Sr. Vout Peters, que havia

sido convidado para o devido propósito, sem dar qualquer nome, na casa da Sra. Kennedy às 15h30min.”“Indo sozinho e de forma anônima, e não dando nenhuma informação além do fato de que eu era um

amigo da Sra. Kennedy.”“Dando importância sobre aquelas (‘sessões’), que foram organizadas e realizadas de uma forma

anônima, de modo que não havia a menor pista da identidade”.

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3. Que embora, como o escritor acredita, facilmente supõe-se — e é, de fato, sugerido na obra sob revisão — que Sir Oliver Lodge levou sua anteriormente cética família en bloc com ele em sua aceitação da autenticidade destas distintas “evidências”, os irmãos, os Srs. Oliver e Brodie Lodge, não tomaram nenhuma parte nas “sessões”, e são, de fato, notabilizados pela ausência quase total de seus nomes nos registros ou nas “comunicações”. O Sr. Oliver Lodge, o filho mais velho da família, evidentemente, a partir da “Memória” escrita por ele e das “cartas do Fronte” por Raymond, sobre os termos mais íntimos de afeto com Raymond durante o curso da vida deste último, agora não faz nenhum esforço para receber estas “comunicações” de seu irmão, e é apenas aludido uma vez, se de fato, na “sessão” de 27 de setembro de 1915, em uma “pantomima”, ou “trocadilho” por “Moonstone”, como segue: — “Raymond” aparece ou é visto por Moonstone segurando “em sua mão um punhado de azeitonas3” como uma “prova de que ele está aqui”. Mais tarde na

3 Em inglês, azeitona se escreve olive. (N. T.)

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“sessão”, Raymond explica esta imagem dizendo: “É um Roland para o seu Oliver.”4 Sir Oliver Lodge elucida esta passagem referindo-se ao fato de que “em casamentos recentes, a família ganhou um Rowland (genro) e perdeu (por assim dizer) um Oliver (filho)”.

No tocante e inteiramente respeitável “Memória”, que o Sr. Oliver Lodge contribui para o livro de Sir Oliver, nenhuma passagem induz o escritor de qualquer maneira à aceitação das conclusões de Sir Oliver. Qualquer um de nossos heróis mortos pode ser considerado como “silenciosamente chamando-nos, sua família, de uma paralisante tristeza para um corajoso e grande esforço.” O conteúdo de “Memória” foi, no entanto, omitido por Sir Oliver como “incompleto”.

As observações acima se aplicam também, mutatis mutandis, para o caso do Sr. Brodie Lodge, que também não toma qualquer parte nestes procedimentos familiares ou nas “sessões”, embora, na “sessão” de 21 de dezembro de 1915, um desejo de que ele deveria tomar parte é claramente expresso por Raymond a seu irmão Alec, falando através de “Feda”. O Sr. Brodie Lodge

4 Roland foi sobrinho e o mais famoso dos paladinos de Carlos Magno. Ele se tornou amigo de Oliver, outro paladino, depois de travar com ele um único combate em que nem dos dois ganhou. Roland foi morto na Batalha de Roncesvalles. (N. T.)

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é um homem de negócios, um sócio do Sr. Alec Lodge.Para retornar por um momento ao papel desempenhado pela Sra. Kennedy neste

assunto: — Sir Oliver diz desta senhora, apresentada a ele pessoalmente um ano antes de quando as “sessões” começaram, e tendo ouvido falar dela pela primeira vez em uma carta de agosto de 1914: “Sua experiência pessoal levou-a a ser simpática e prestativa, e é tanto afiada quanto crítica nas considerações evidenciais”. Se o senso crítico e aguçado da Sra. Kennedy, pelo menos, no desejo de afastar qualquer suspeita de conivência, consciente ou inconsciente, é autêntico e característico dela, então é realmente estranho que esta qualidade não a tenha impulsionado a pedir que Sir Oliver selecionasse, pelo menos ocasionalmente, algum outro intermediário que não ela para organizar as “sessões” em que ele tão evidente e honestamente desejava manter em segredo a identidade do assistente; e tendo em vista o desejo dele de que o assunto a ser investigado não fosse prematuramente divulgado ao médium selecionado.

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Das oito “sessões” anônimas realizadas, a Sra. Kennedy “organizou” seis.Das duas “sessões” anônimas restantes o Sr. J. A. Hill organizou uma para Sir Oliver

com o médium Vout Peters, que, no entanto, já tinha sido previamente (seis dias antes) “arranjado” para uma sessão com Lady Lodge e o Sr. Alec Lodge, pela Sra. Kennedy.

A “sessão” anônima que sobrou foi organizada pelo Sr. Lionel Lodge para ele mesmo, que desejava evitar a intervenção da Sra. Kennedy. O Sr. Lionel, assim, escreveu uma carta para a médium, a Sra. Leonard, para uma “sessão”, e datou, mas não assinou sua carta. A Sra. Leonard afirmou que ela nunca recebeu essa carta, mas, por outro lado, a carta não parece ter sido devolvida para o “remetente” pelos Correios. As “sessões” com a Sra. Leonard para outros membros da família foram, em três ocasiões anteriores, organizadas pela Sra. Kennedy.

Em todas as ocasiões em que um novo médium é sugerido para avaliação, e com relação a cada

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um dos médiuns empregados, consultados por Sir Oliver e os membros de sua família, a Sra. Kennedy é a primeira a apresentar o médium e é a “organizadora” da “sessão”.

A Sra. Kennedy, de fato, pode ser considerada como a fons et origo de todo o episódio, pois foi esta senhora que primeiro, com sua própria mão, em escrita “automática”, anunciou o fato — ou a despertar a ideia na mente de Sir Oliver Lodge — de que a “personalidade sobrevivente” de Raymond desejava se comunicar com seu pai e sua mãe. Sir Oliver descreve esses incidentes iniciais, nos seguintes termos:

“Ao ver o anúncio da morte do Sr. R. Lodge em um jornal, a Sra. Kennedy ‘falou’ a Paul” (filho da Sra. Kennedy, falecido em 23 de junho de 1915) “a respeito e pediu-lhe que o ajudasse. Ela também solicitou uma ‘sessão’ especial com a Sra. Leonard para o mesmo fim, embora sem dizer por quê. O nome ‘Raymond’ foi naquela ocasião soletrado” (isto é, pelas “batidas” da mesa) através da médium, e ele foi dito estar dormindo. Isto foi em 18 de setembro. No dia 21 estava Sra. Kennedy a escrever no jardim quando sua mão grafou estas palavras de Paul:

“‘Aqui estou ... Vi aquele menino, filho

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de Sir Oliver; sente-se melhor e teve um esplêndido repouso. Conte-o aos seus pais’.*

“A 22 de setembro, durante uma ‘conversa’ com Paul, a mão da Sra. Kennedy também escreveu isto:

“‘Vou levar Raymond a Sir Oliver quando ele vier ver-vos. .... Ele está tão contente. DIGA-O AO SEU PAI E À SUA MAE (sic). Esteve dormindo longo tempo, mas hoje falou.’

“No dia 23, durante a visita que Lady Lodge lhe fez, a Sra. Kennedy grafou nestes termos uma suposta mensagem de Raymond:

“‘Aqui estou, mãe ...’”

Conclui-se das “comunicações” acima — pelas batidas da mesa e pela escrita automática apenas — para ou pela Sra. Kennedy, que o episódio todo, e as intermináveis “sessões” da família Lodge, se originaram daí. Não se pode colocar muita ênfase sobre este ponto. No dia seguinte, a série de “sessões” começa com a Sra. Leonard como médium, a Sra. Kennedy organizando a “sessão” e acompanhando Lady Lodge à casa da médium.

** Esta referência a Raymond Lodge — “aquele menino, filho de Sir Oliver” — é bastante natural vindo de uma senhora de meia-idade, ela própria uma mãe, ou seja, a Sra. Kennedy, que provavelmente é incapaz de compreender a artificialidade quase grotesca desta referência como relatada ipsissima verba de um rapaz de 17 anos, referindo-se a alguém crescido, e, para ele, um homem maduro de 26. (Ver nota na p. 39)

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De tudo o que precede, parece ficar estabelecido fora de questão ou de dúvida:1. Que o anonimato dos assistentes, com tanta insistência e implicitamente invocada

por Sir Oliver, depende inteiramente, não apenas da boa-fé, discrição e reticência da Sra. Kennedy na organização com os vários médiuns para essas “sessões anônimas”, mas também do sucesso dos esforços pessoais desta senhora em preservar o absoluto anonimato dos vários membros da família Lodge em questão, bem como em manter em segredo a natureza das “comunicações”, que estes “assistentes” desejavam, e de fato esperavam, receber.

Ultrapassa os limites da experiência humana que uma senhora, profunda e pessoalmente interessada no sucesso de “manifestações” ou experiências semelhantes, e ela própria uma amadora no desenvolvimento delas, possa ter falhado em “organizar” nada menos que sete diferentes conjuntos de “sessões”, dado alguma pista ou indicação da identidade dos “assistentes” esperados, ou da natureza do assunto a ser “elucidado” na “sessão”.

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2. Que, a partir da natureza do caso, o valor de “evidências” das várias “sessões” anteriores depende, de uma maneira que é impossível exagerar, do “anonimato” dos “assistentes”, e do fato de saber se a natureza do assunto sobre a qual o médium seria consultado era, ou não era, divulgada ou indicada de alguma forma pela Sra. Kennedy quando fez seus primeiros contatos com os médiuns.

Que Sir Oliver Lodge está totalmente ciente da importância destas considerações é demonstrado pelo fato de que ele faz alusão a elas nada menos do que sete vezes.*

Nas últimas “sessões” a identidade dos “assistentes” era necessária e reconhecidamente conhecida aos médiuns, exceto no caso das Madames Brittain e Clegg. Aliás a identidade de Lady Lodge assumidamente tornou-se conhecida na segunda “sessão” da série, sua primeira “sessão” com a Sra. Leonard, em 24 de setembro de 1915; no caso de Sir Oliver Lodge na terceira “sessão” da série, sua

** Ver nota de rodapé na p. 28.

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primeira “sessão” com a Sra. Leonard, em 27 de setembro de 1915. Desta “sessão” Sir Oliver ingenuamente comenta: “Eu não insisti no meu anonimato, entretanto.” A identidade do Sr. Alec Lodge foi indicada à Sra. Leonard na sua primeira “sessão” com ela, em 21 de dezembro de 1915 (décima segunda da série).

Em relação a esta “sessão”, Sir Oliver observa: “Mas ele (Alec) não conseguiu ir muito anonimamente”. O Sr. Alec, no entanto, coloca isso de forma mais enfática, e inicia seu registro da “sessão” com “A médium sabe que eu sou filho de Sir Oliver Lodge”.

3. Que, tirando as “comunicações” iniciais de “Paul” através da Sra. Kennedy nos dias 18, 21, 22, e 28 de setembro de 1915 — as “comunicações”, note-se, pela escrita “automática” feita pela Sra. Kennedy e pelas “batidas de mesa”, são aceitas como verdadeiras “comunicações espíritas” envolvendo Raymond e anunciam, nas próprias palavras de Raymond, sua presença real como espírito naquela de sua mãe; assim toda a série de “sessões” que se seguem em função

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dessas “comunicações” iniciais, bem como as conclusões de Sir Oliver que são baseadas nelas, são viciadas e não se sustentam.

O caso de Sir Oliver Lodge pode de fato ser rapidamente definido como segue:De duas hipóteses alternativas ou conclusões: — (1) Esta Sra. Kennedy falhou, ou

por desventura, descuido ou desígnio, em preservar o completo anonimato de todos os “assistentes” nos seus “arranjos” para as “sessões anônimas” com os médiuns; e que suas comunicações iniciais de “Paul”, por meio de sua própria escrita automática e batidas de “mesa”, foram o resultado de autoengano e comunicações espirituais não genuínas.

(2) Que Raymond, como espírito, se comunica com frequência, por meio de médiuns, com vários, mas não todos, os membros da sua família; provando assim, além de qualquer dúvida, a sua identidade e personalidade sobrevivente.

Destas duas hipóteses ou conclusões, Sir Oliver Lodge, baseado nas evidências apresentadas em seu livro e em parte examinadas acima, nos pede

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para aceitar a última, não só como a mais crível, mas como provada além de qualquer dúvida.

Antes de aceitar a última das conclusões mencionadas acima, parece desejável examinar e avaliar os seguintes dados:

A Sra. Kennedy se apresentou a Sir Oliver Lodge por carta, datada de 16 agosto de 1914, como uma pessoa interessada em assuntos espiritualistas nos quais Sir Oliver era um especialista, e sugeriu um encontro. Em sua carta, a Sra. Kennedy afirma que ela mesma praticara a “escrita automática” dezenove anos atrás, e periodicamente desde então, mas descartou ou “deixou de lado” a prática porque ela estava consciente do “autoengano” na matéria. Também que, após a morte de seu filho em junho de 1914, a prática foi resgatada, mas que ela está agora encafifada pela questão de saber se as comunicações feitas agora, na forma indicada, são de seu (falecido) filho Paul ou são as emanações de sua própria mente “subconsciente”.5

5 Que as dúvidas da Sra. Kennedy sobre os sussurros de sua “mente subconsciente” no conteúdo de sua “escrita automática” estavam bem fundadas é suficientemente indicado na nota de rodapé da p. 34: A relatada ipsissima verba de “Paulie” sendo de fato adequada para a Sra. Kennedy, mas “grotescamente artifical” quando considerada como dele.

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Antes de finalmente deixar a questão do “anonimato” dos “assistentes”, e da associada boa fé dos “médiuns”, é desejável aludir ao que o próprio Sir Oliver diz, em geral, sobre este assunto, apesar de sua insistência de que tais condições, em casos particulares, já foram apontadas.

No Capítulo III da Parte II, Sir Oliver Lodge diz:

“É praticamente impossível para os médiuns descobrirem e ficarem, normalmente, a par da história familiar de seus numerosos assistentes.”

“Praticamente impossível” significa, no entanto, que é “normalmente possível” para estas pessoas fazer exatamente isso. É de conhecimento comum que é uma parte essencial do negócio dos médiuns profissionais (cujo pão de todo dia depende do seu sucesso em satisfazer seus “assistentes”), e dos videntes (um ramo do negócio da Sra. Leonard), et hoc genus omne, em informar-se tanto quanto possível da

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história e das características de seus potenciais clientes.A própria Sra. Kennedy, uma mera amadora no negócio, não teve qualquer

dificuldade no assunto. Embora naquele momento fosse “apenas uma amiga recente”, ela notou a morte do tenente Raymond Lodge nos jornais e usou a informação, ou permitiu o seu uso, nas comunicações que ela deu, normalmente, a Lady Lodge. Ela já estava ciente, ou se fez ciente, de que Sir Oliver Lodge era, mais ou menos ardentemente, dado à investigação do espiritualismo, bem como um eminente cientista.

As indicações acima, a reputação da Sra. Piper como médium (ou escrevente automática) com a Sociedade de Pesquisas Psíquicas, os relatórios daquela sociedade, a conexão, tanto de Sir Oliver Lodge e do Sr. J. A. Hill, e também do Sr. Myers (falecido), com a Sociedade e com os médiuns em geral, a morte do tenente Raymond Lodge e a consequente e, dadas as circunstâncias, quase inevitável ansiedade de sua família em receber uma “comunicação” do seu espírito, eram

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assuntos em relação aos quais a informação estava prontamente acessível a todos os “médiuns” de renome, ou notoriedade, em Londres.

Neste contexto, é difícil acreditar que os médiuns, como classe ou profissão, diferem de outras profissões, e que estariam sem alguns dos modos (ou hábitos) sindicais de intercomunicação profissional, ou até mesmo, para usar um termo de boa reputação nesta conexão, sem algum elemento de esprit de corps.

Que algumas dessas eficientes conexões existem é indicado com clareza suficiente no livro de Sir Oliver, que registra uma expressão de desaprovação profissional na boca de um membro da categoria em relação às palhaçadas muito recentes de outro membro, cujo comportamento deveria, portanto, ser prontamente reportado. Que este incidente tenha ocorrido é considerado por Sir Oliver como uma evidência “excepcionalmente clara” em favor de seu caso geral.

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CAPÍTULO II

“... ‘Tests? Didn’t the creature tell Its nurse’s name, and say it lived six years, And rode a rocking-horse? Enough of tests! Sludge never could learn that!’

He could not, eh?You compliment him. ‘Could not?’ Speak for

yourself! I’d like to know the man I ever saw Once, — never mind where, how,why, when, —

once sawOf whom I do not keep some matter in mindHe’d swear I ‘could not’ know, sagacious soul!’

— BROWNING, Mr. Sludge, the Medium

O espaço não permite o exame de mais do que algumas das sessões registradas por Sir Oliver Lodge, nem uma seleção mais ampla parece necessária. As a seguir, são, portanto, escolhidas da “Lista das Sessões” dada nas pgs. 26-27 para a análise que se propõe a fazer agora. As “sessões” selecionadas são as primeiras, as mais recentes e a última registrada em sua totalidade por Sir Oliver.

O caso específico do “grupo fotográfico” também é tratado separadamente.

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LISTA DAS “SESSÕES” SELECIONADAS PARA EXAMENúmero

na Série

Data Médium Assistente Notas

1 08/08/1915 Sra. Piper Srta. Robbins A mensagem “Fauno”2 24/09/1915 Sra. Leonard Lady Lodge e Madame Le Breton Anônimo3 27/09/1915 Sra. Leonard Sir Oliver Lodge Anônimo*4 27/09/1915 Sr. Vout Peters Lady Lodge Anônimo*8 29/10/1915 Sr. Vout Peters Sir Oliver Lodge Anônimo*11 03/12/1915 Sra. Leonard Sir Oliver Lodge Não anônimo15 03/03/1916 Sra. Clegg Sir Oliver Lodge Anônimo

*Relacionada ao Grupo Fotográfico

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EXAME DAS “SESSÕES” SELECIONADAS

Nº 1 na Série — A mensagem inicial de “Piper” ou a mensagem “Fauno”. Datada de 8 de agosto de 1915.

Mensagem, “Myers”; Controle, “R.H.”“P”

Ao apresentar esta “sessão”, Sir Oliver diz:

“A primeira sugestão que tive de que qualquer coisa má podia acontecer foi uma mensagem de Myers, colhida na América pela Sra. Piper, e aparentemente comunicada por ‘Richard Hodgson’, certa ocasião em que uma Miss Robbins estava em sessão em casa da Sra. Piper, em Greenfield, New Hampshire, a 8 de agosto de 1915. De tudo fui informado pela Srta. Alta Piper (A. L. P.), que me enviou a documentação original. Dou abaixo o relato do que, em certo momento da sessão da Srta. Robbins, depois de tratarem de assunto que dizia respeito só a ela e nada a mim, começou abruptamente deste modo:

R. H. — Agora, Lodge, que não estamos aí como outrora, isto é, completamente, estamo-lo no bastante para receber e enviar mensagens. Myers diz que você toma a parte do poeta; e ele, a do Fauno.

Srta. R. — Fauno?R. H. — Sim. Myers. Protege. Ele compreenderá (evidentemente referindo-se

a Lodge). Que tem você a dizer, Lodge? Bom trabalho. Pergunte à Sra. Verral, ela também compreenderá. Assim pensa

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Arthur (Refere-se ao Dr. Arthur Verral, falecido — O. J. L.).“Srta. R. — Você quis dizer Arthur Tennyson?”“R. H. — Não. Myers sabe. Veja... Você misturou as coisas (para a Srta. R.),

mas Myers está ciente sobre o Poeta e o Fauno”.

Ao receber a esclarecedora “mensagem” acima, Sir Oliver se comunicou com a Sra. Verrall, que o indicou à Ode de Horácio, Carm., II, XVII, 27-80:

Me truncus illapsus cerebroSustulerat, nisi Faunus ictumDextra levasset, MercurialiumCustos virorum.

— uma citação, como a Sra. Verrall diz, “provável de ocorrer em um trabalho detalhado sobre gramática latina,” e por isso, talvez, não além do escopo da Sra. Piper, ou pelo menos do de seus associados. Sir Oliver, naturalmente, não tinha a mínima ideia da mensagem, mas estava inclinado a pensar que se referia a alguma futura perda financeira dele que Myers poderia evitar — um exemplo, pelo menos, da “futilidade” das mensagens ou avisos espiritualistas. A Srta. Robbins, a

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quem a comunicação realmente foi feita — o motivo não é dito — pensou que a referência a “Arthur” era, como ela diz, de “Arthur” Tennyson, o poeta (porém, conhecido por seu nome de batismo “Alfred”).

Pode-se notar que, na referida Ode, Horácio descreve-se, aparentemente, como “ileso”, e em outros lugares como “quase morto”, em função da queda da árvore, o golpe iminente sendo aliviado por Fauno, o guardião dos poetas.

Com um filho, Raymond Lodge, no fronte, Sir Oliver bem que poderia, então, ter associado o suposto “aviso” com o perigo que Raymond passava e que Myers propôs evitar ou mitigar. Sir Oliver, no entanto, não associou a mensagem até depois da morte de Raymond em ação em 14 de setembro de 1915. Sir Oliver, então, escreveu para o reverendo M. A. Bayfield sobre o assunto como um “interessante incidente da S.P.R.”, e reclamando que Myers “não tinha sido capaz de evitar o golpe.” O Rev. Bayfield, no entanto, explica a discrepância pela sugestão de que o “avi-

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so” e “atenuação do golpe” referidos ao próprio Sir Oliver, em que “uma mensagem especial do ‘ainda vivo’ Myers, que seu filho ainda vive” iria “proteger ‘Sir Oliver’ de ser esmagado pelo golpe, de perder a fé e a esperança”... “Muitos homens assim golpeados têm, como Merlin, deitado

‘as deadAnd lost to life and use and name and fame’.”

Esta interpretação um pouco rebuscada Sir Oliver a aceita como definitiva e convincente. Ela provavelmente explica em grande medida a aceitação de Sir Oliver, por razões igualmente pequenas, de todas as outras “evidências” a respeito das “comunicações” de Raymond a ele e, mais tarde, à sua família.

Para o escritor, de qualquer forma, a seguinte explicação sobre a “mensagem” aparece, pelo menos na mesma probabilidade, e de fato, em todas as circunstâncias do caso, um tanto menos rebuscada, do que a do Rev. Bayfield:

A Sra. Piper estando, através de sua filha, a Sta. Alta, em correspondência frequente com Sir Oliver, pode muito bem ter estado, e com toda a pro-

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babilidade (como indicado acima) estava, ciente de que ele tinha um filho no fronte, como muitas outras pessoas, com vários filhos, naquele momento na Inglaterra. A “mensagem”, se isso significa alguma coisa, se assemelha muito mais a uma indicação (e a uma avaliação da Sra. Piper) da extrema probabilidade que este filho de Sir Oliver no fronte seria ferido, mas, através da intervenção espiritual de Myers, como Horácio o Poeta, não morto.

Raymond Lodge tendo nascido no ano da primeira visita de Sra. Piper à Inglaterra (e no de seu primeiro contato com Sir Oliver), em 1889, e sendo um menino de dezessete anos apenas, e, possivelmente, ausente na escola na época da segunda visita da Sra. Piper em 1906, pode, muito provavelmente, não ter sido apresentado a ela. É muito mais provável que a Sra. Piper tinha em mente o irmão mais velho de Raymond, o Oliver, do que, provavelmente, o filho de Sir Oliver no fronte. Além disso, Oliver é o “poeta” da família, e escreveu e publicou um volume de seus poemas. A alusão ao “poeta”, portanto, na mensagem, e a sugerida ocorrência a

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ele de alguma lesão física (“Myers está ciente sobre o Poeta e o Fauno”) são bastante naturais na boca da Sra. Piper, escrevendo, ou em sã consciência, e não parecem precisar de qualquer explicação “sobrenatural” ou outra que não seja um desejo da parte da Sra. Piper em fornecer material, através de Sir Oliver Lodge, para as investigações da Sociedade de Pesquisas Psíquicas, o que ela habitualmente faz.

Se, por outro lado, a “mensagem” foi realmente enviada através da Sra. Piper, por uma “personalidade” no mundo espiritual que se chama “Myers”, então, numa interpretação simples da mensagem, “Myers” não é um espírito da Verdade, mas — como Oliver Cromwell descreveu um “comunicador” semelhante — um “demônio mentiroso”; pois “Myers” previu o que não aconteceu, e afirmou o que não realizou.*

** Retirado de Obras de Referência, o escritor não foi capaz de verificar a citação dada aqui, mas, de acordo com sua lembrança, o evento referido se deu, de certa forma, como se segue:

É sabido que, em seus últimos anos, Cromwell foi perseguido pela expectativa (seria ocioso dizer, o medo) de ser assassinado.

Um dia, sozinho e imerso nos negócios em seu “Gabinete”, Oliver viu-se de frente a um estranho que, de alguma forma, conseguiu entrar.

O desconhecido declarou que o Senhor Jesus apareceu-lhe e anunciou que ele, o estranho, receberia alguma grande recompensa (o escritor não se lembra o que exatamente) de suas mãos, do Senhor Guardião; sem o que as consequências seriam, ou poderiam, ser desagradáveis para ele, Oliver.

Cromwell, que neste período, de modo algum sofria de “nervos”, explicou ao estranho que “não era o Senhor Jesus, mas um demônio mentiroso”, que tinha-lhe aparecido: e que, portanto, ele, Oliver, não tinha a obrigação moral de cumprir com as suas exigências; menos ainda ele, o estranho, era obrigado a tomar quaisquer medidas adicionais na questão.

Este ponto de vista do caso causou tanta “perplexidade” ao estranho que ele ficou que saiu “sem resposta”, e de uma só vez se retirou — e, sem dúvida, foi adequadamente cuidado do lado de fora. Oliver continuou com seu trabalho.

Ocorreu ao escritor que tivesse Sir Oliver sido capaz (no que diz respeito a “Myers”) de simular o ceticismo de seu grande xará, alguns problemas — e muitos prejuízos — teriam sido evitados.

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No. 2 na Série — Primeira “sessão” (“anônima”) de Lady Lodge com a Sra. Leonard. Em 24 de setembro de 1915.

“Comunicação”, “Paul” “L”; “Controle”, “Feda” (Sra. Kennedy presente). Madame Le Breton também presente.

Lady Lodge relata esta “sessão” dessa forma:

“A Sra. Leonard entrou em uma espécie de transe, eu acho, e voltou como uma menina indiana chamada ‘Freda’ ou ‘Feda’, esfregando as mãos e

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falando de forma boba como uma criança faria. No entanto, ela logo disse que estavam presentes um senhor de idade e um jovem, a quem ela descreveu; e a Sra. Kennedy me disse depois que eram seu pai e seu filho Paul. Então Feda descreveu alguém que estava deitado, com uns 24 ou 25 anos, ainda incapaz de se sentar; as características que ela descreveu poderiam muito bem ser de Raymond. Feda logo disse que viu um grande ‘R’ ao lado deste jovem, depois um ‘A’, depois ela viu uma longa letra com um rabicho que ela não podia compreender, etc., e, finalmente, ela disse que ouviu ‘Yaymond’ (que é apenas sua maneira de pronunciá-lo) [O nome foi, presumivelmente, obtido de Paul. — O. J. L.]” [Nota do escritor: Mais provavelmente da Sra. Kennedy, que foi a primeira a anunciá-lo pela escrita automática; estava presente, e “organizou” esta sessão].

“Então, ela (Feda) disse que ele parecia abrir os olhos e sorrir” [Nota do escritor: Nada “original”, muito claramente seguindo a sugestão da Sra. Kennedy (de Paul), que em 21 de setembro Raymond havia então apenas despertado de um “repouso esplêndido.”] “... E havia também um senhor de idade, barba branca cheia, etc. (evidentemente meu padrasto, mas Feda disse com um bigode, o que foi um erro), com um ‘W’ ao lado dele.” [Nota do escritor: “Avô W.”] etc.

Em relação a esta inicial e “anônima” “sessão”: — além das notas intercaladas por Sir Oliver Lodge — e pelo escritor — acima, os seguintes pontos são dignos de nota:

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1. Se, como diz Sir Oliver em outra parte, essa “sessão” foi realizada principalmente para o benefício de Madame Le Breton (que desejava comunicar-se com seus dois filhos), a aparição (de acordo com a Sra. Kennedy) do pai e filho da Sra. Kennedy não era necessária ou desejável, a não ser que, na verdade, fosse para acentuar, na mente do cético, uma conexão próxima da Sra. Kennedy com todo o episódio; ou para explicar um “mau chute” de Feda em uma descrição de alguém conhecido pela Madame Le Breton ou pela Lady Lodge; os antecedentes da Sra. Kennedy sendo totalmente desconhecidos por essas senhoras.

2. A descrição de Feda para Raymond não vai mais longe do que para fins de identificação de sua mãe do que isso “poderia muito bem ter pertencido a Raymond”. Compare isso — “ainda não conseguia sentar-se”, “parecia apenas abrir os olhos”, (em 24 de setembro) com a descrição de Paul (ou da Sra. Kennedy) da situação de Raymond em 21 ou 22 de setembro: “Ele está melhor e teve um repouso esplêndido”, “ele está tão alegre”, “ele falou claramente hoje”; e no

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dia 28, quando Raymond claramente não é apenas capaz de falar com sua mãe como também de ser “socialmente ativo”.

3. A “pequena menina indiana”, de fato, não teria, ou simularia, a dificuldade com a letra “R” (em “Raymond”), que aflige as crianças inglesas e “Feda”: um “truque” infeliz por parte da médium.

4. A fotografia do “Avô W.”, apresentada no lado oposto da p. 258 do livro de Sir Oliver, mostra ele no final da vida, quando os hábitos pessoais não mudam, bem barbeado acima de seu lábio superior — um detalhe que ninguém (nem mesmo uma menina indiana) ao descrever este senhor, na presença real de sua “personalidade sobrevivente”, poderia deixar de observar. É especialmente interessante notar que, em uma data posterior, isto é, 17 de novembro, em uma “sessão” com o Sr. Lionel Lodge, “Feda”, não tendo qualquer dúvida nesse ponto, se torna consciente de seu deslize ou infeliz erro quanto ao “bigode”, se esforça sobremaneira para corrigi-lo: “Mas sem bigode”, diz “Feda” ao Sr. Lionel, que toma

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nota em seu registro da “sessão”. “Isto parecia preocupar ‘Feda’, e ela repetiu isso várias vezes como se estivesse tentando deixar claro”.

Como “evidência”, o registro da “sessão” analisada acima parece não só ser inútil para os propósitos de Sir Oliver, mas fatal para o caso.

No. 3 na Série — Primeira sessão (anônima) de Sir Oliver Lodge com a Sra. Leonard. 27 de setembro de 1915

“Comunicação”, “Controle”, “Raymond”; “Feda”, “L.”

Sir Oliver tomou notas “literais” desta “sessão” e as reproduz, na íntegra, a fim de dar, como ele diz, “a visão geral de uma ‘sessão’ com ‘Feda’” — o que ele certamente conseguiu.

Pela mesma razão, a sessão é reproduzida aqui também, praticamente, in extenso.Primeiro, “Feda” descreve, como ela fez a Lady Lodge em 24 de setembro, um

senhor idoso (avô W.) como presente, mas se abstém de descrição pessoal.

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Então “Feda”, no relatório literal de Sir Oliver, continua assim:

Há alguém aqui ainda em dificuldades; não plenamente refeito; aspecto juvenil; de forma como um lineamento; ainda não aprendeu como formar-se. É um moço de altura um tanto acima da mediana; bem construído, nada espesso ou pesado; bem construído. Mantém-se bem. Não está aqui de muito tempo. Cabelo entre cores. Não me é fácil descrevê-lo, porque ainda não se construiu solidamente como outros o fazem. Tem olhos pardos; cabelos castanhos e curtos; cabeça bem modelada; sobrancelhas também castanhas, não muito arqueadas; nariz bem feito, reto, um pouco mais largo nas narinas; boca bem desenhada e grande, mas não parece grande porque ele traz os lábios apertados; queixo não muito forte; rosto oval. Não está ainda completamente construído, mas é como se Feda o conhecesse. … Paulie ri também. Diz Paul que ele já esteve aqui... Sim, já o vi antes. Feda liga a ele uma letra. A letra R. (Nota por Sir Oliver. — Então Feda murmurou, como para si mesma: “Tente me dar outra letra.”) (Pausa.)

Feda continua: “É um nome engraçado, não é Robert ou Richard. Ele não fornece o restante dele, mas diz R novamente; é dele. Ele quer saber onde está sua mãe; ele procura por ela. Não entende por que ela não está aqui. Ele veio vê-lo antes, e disse que uma vez pensou que você sabia que estava

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lá, e que duas ou três vezes não tinha muita certeza.…”Raymond então fala: “Tenho comigo instrutores e professores”… Feda:

“Mostrou-me um M”.O. J. L.: “Ele quer mandar alguma mensagem para alguém de casa? Ou ele

dará o nome de algum dos seus instrutores?”Feda: “Ele me mostra um H maiúsculo, e diz que não é de um instrutor; é de

alguém que ele conhece do lado terreno… Agora o primeiro cavalheiro com a letra W” (Avô W.) “está indo na direção dele e coloca o braço sobre seu ombro”.

Feda, em seguida, descreve o que ela imagina que se sente ao ser ferido ou morto por uma granada:

“Há também nele um barulho, um terrível barulho que corre... Você pode achar isso estranho, mas ele sente que você não se preocuparia tanto quanto outra pessoa; duas outras, duas senhoras, Feda acha. Você saberia, ele diz; mas duas senhoras ficariam preocupadas e inseguras; mas agora ele acredita que elas sabem mais”.

Sir Oliver aqui interpola:

“Mas a alusão indireta mais notável, ou aparente alusão, a algo como a mensagem ‘Fauno’, veio no fim da sessão, após Raymond ter ido, e logo antes de a Sra. Leonard sair do transe.”

Feda, falando por si própria:

Ele acaba de retirar-se, mas Feda vê alguma coisa que é apenas simbólica; vê uma cruz caindo sobre

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vós; muito escura, caindo sobre vós; escura e feia; e à medida que cai retorce-se e aparece toda luz, a luz brilha sobre vós. É uma espécie de azul pálido, mas fica completamente branco quando vos toca. Sim, é o que Feda vê. A cruz parecia escura, mas subitamente se retorceu e ficou uma bela luz. A cruz é um meio de esconder a luz real. Vai ajudar muito...

“Você sabia que você tem um guia colorido?... ele diz que vosso filho é a cruz de luz...” (Aqui mais lenga-lenga que o escritor não tem paciência para transcrever). “Feda está desaparecendo. Adeus.”

Sir Oliver diz:

“Após a sessão e antes de eu ir embora, eu perguntei à Sra. Leonard se ela sabia quem eu era. Ela replicou: ‘Por acaso você está ligado àquelas duas senhoras que vieram sábado à noite?’ À minha afirmativa, a Sra. Leonard respondeu: ‘Oh! Então eu sei, porque a senhora francesa deu o nome; ela disse “Lady Lodge” no meio de uma frase em francês’.

“Eu também falei para ela sobre não ter muitas sessões e retesar seu poder”.

Sir Oliver poderia ter adicionado “de invenção”.Com relação a essa primeira “sessão” de Sir Oliver com a Sra. Leonard: “Feda”,

tendo sido corrigida por Lady Lodge em uma “sessão” anterior

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por um “deslize” ruim em sua descrição do “Avô W.”, está decididamente mais prevenida nesta ocasião. Embora Raymond seja difícil de descrever por ele não estar ainda completamente “formado” — uma cláusula de segurança, feita para encobrir os erros, repetida não menos do que quatro vezes — “Feda” fornece uma longa descrição dele que se aplicaria igualmente bem a muitos dos outros vinte jovens oficiais que aparecem com Raymond na fotografia do grupo referida mais tarde, e reproduzida no livro de Sir Oliver.

Nenhuma dificuldade relativa a uma “formação” insuficiente da parte de Raymond foi notada por “Feda” três dias antes quando Raymond (com menos experiência na arte) se “materializou” para a “sessão” de sua mãe. Deduz-se que essa dificuldade é introduzida para opor-se ao senso crítico perspicaz de um observador treinado como seu pai, Sir Oliver Lodge.

A “descrição” de “Feda” de Raymond não serviria para propósitos de identificação; mas o mesmo defeito é comum a muitas “figuras de linguagem” similares que emanam mesmo dos

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peritos da Scotland Yard. “Uma garotinha indiana” pode, assim, ser perdoada por alguma vagueza nesse ponto. “Uma cabeça bem modelada” é o único item que sem dúvida se encaixa no grande retrato de Raymond fornecido no livro de Sir Oliver. Esta frase, no entanto, dificilmente seria esperada na boca de uma “garotinha indiana”.

A inevitável influência de Kennedy é outra vez aparente; pois “Paul”, a quem Raymond nunca conheceu, ou ouviu falar a respeito quando “na carne”, aqui aparece novamente em íntima e alegre associação com ele.

“Feda” agora vacila quanto ao nome de Raymond; “É um nome engraçado, não é Robert ou Richard”. “Feda” agora não tem nenhuma dificuldade com a letra R, mas esquece que ela aprendeu o nome “Yaymond” três dias atrás, embora agora ela reconheça a “personalidade sobrevivente” a quem pertence.

Raymond está aparentemente tão angustiado pela ausência de sua mãe nesta sessão, embora (ou esquecendo que) ele já falou com ela uma vez após sua morte — na casa da

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Sra. Kennedy (28 de setembro), “Aqui estou, mãe” — que ele permanece, aparentemente, bem indiferente à presença de seu pai, a quem, até onde o livro de Sir Oliver nos diz, ele não teve desfrutou nenhuma comunicação “´post-mortem” anterior. Isso não somente é “sobrenatural”, como também é não natural.

Que não é “Raymond” quem está falando para, ou através de Feda, é bastante claro; pois, ao falar ao, ou para a informação de seu próprio pai, é inacreditável que um filho, referindo-se a duas pessoas (uma delas sua mãe), e a quem, ele acredita, estão inclinadas a serem incrédulas no que concerne à sua própria “personalidade sobrevivente”, se referisse a elas como “duas senhoras”.

Que é uma inteligência “adulta”, e não particularmente perspicaz, a saber a dela própria, que está usando a Sra. Leonard como uma “porta-voz”, e não a de uma “garotinha indiana” é evidente pelo fato de no relatório textual de Sir Oliver Lodge das elocuções de “Feda”, a “garotinha indiana” diz — após Raymond ter “ido”, e portanto não está mais falando para ou através dela: — “Ele acaba de retirar-se, mas ‘Feda’ vê alguma coisa que é apenas simbólica”.

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O uso dos termos acima dificilmente estariam no currículo de uma Escola Infantil Missionária Indiana, e são no mínimo incomuns na boca mesmo de uma criança inglesa, incapaz sequer de pronunciar a letra “R”, ou a ler a letra “Y” — a letra “com um rabicho”.

Parece desnecessário comentar o restante da “sessão” que contém, como Sir Oliver diz, uma “indireta” ou “aparente” alusão à mensagem “Fauno” ou à “queda da árvore” de Horácio. A “árvore”, ou “golpe iminente”, agora virou uma “cruz”, “pálida azul” de um lado e “branca” do outro.

Um “guia colorido” também é mencionado que, entretanto, não se materializa, mas que, através de “Feda”, convida Sir Oliver a “provar ao mundo a verdade”. Esta súplica Sir Oliver atende pela publicação do volume sob revisão, o que provavelmente fez mais para advertir e, esperamos, incidentalmente desacreditar a atividade mediúnica do que qualquer outra publicação.

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“Feda”, então, de forma não tão repentina, “desaparece” e diz “adeus”.Não há, até onde o escritor pode julgar, uma palavra no relatório textual de Sir Oliver

desta “sessão”, que busca provar, além de qualquer dúvida, que a “personalidade sobrevivente” de Raymond esteve de algum modo envolvida nisso, ou que “Feda” esteve falando por ou para essa personalidade.

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CAPÍTULO III

EXAME DAS “SESSÕES” SELECIONADAS(continuação)

“...‘Cheat others if you can, Me, if yon dare!’ And, my wise sir, I dared —

Did cheat you first, made you cheat others next.”— BROWNING, Mr. Sludge, the Medium.

“The ‘Philosopher’s Stone’, the squaring of the circle, the question of Life After Death — There is no intelligence so acute but that prolonged attempt upon the impracticable shall blunt it; no wit so keen but that the adamantine surface of the unknowable shall turn its edge.” — ANON.

As 3 sessões seguintes são analisadas em conjunto por questão de brevidade, e também porque elas estão ligadas no tocante ao “grupo fotográfico”, que é examinado em separado posteriormente.

Nos. 4 (a), 8 (b) e 11 (c) na Série:

(a) A primeira “sessão” de Lady Lodge (anônima) com o Sr. Vout Peters, na casa

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da Sra. Kennedy, “arranjada” pela Sra. Kennedy — 27 de setembro de 1915 (a Sra. Kennedy tomando notas).

(b) A primeira “sessão” de Sir Oliver Lodge com o Sr. Vout Peters, “arranjada” pelo Sr. J. A. Hill — 29 de outubro de 1915 (anônimo).

(c) Uma “sessão” de Sir Oliver Lodge (não anônimo) com a Sra. Leonard — 8 de dezembro de 1915.

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(a) A primeira “sessão” de Lady Lodge com Vout Peters; a Sra. Kennedy tomando notas. 27 de setembro de 1915:

O registro dessa “sessão” ocupa seis páginas do Capítulo VII, mas não se propõe tratá-la em extensão aqui, já que consiste principalmente de generalidades descaradas sem valor algum como “evidência”.

Em três ocasiões quando Peters tenta particularidades ele é “incorreto”, e dessas Lady Lodge o corrige duas vezes: “Ele não me beijou na testa”; “eu não acho que ele foi reservado perante estranhos”. Nessas ocasiões Peters teve o atrevimento não apenas de sugerir, mas afirmar, que ele, Peters, sabe mais do que a mãe de Raymond.

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Peter se aventura, entretanto, em uma descrição verbal de Raymond, mas, como “Feda” em outro caso, erra na questão do bigode. Ele diz de Raymond: “Muito alto, de costas bem largas, ereto, rosto bastante comprido, lábios carnudos, bigode, ótimos dentes”. Esta descrição, como a de Feda, pode bem se aplicar a centenas ou milhares de jovens oficiais no novo Exército, mas não pode de forma alguma se aplicar a Raymond, que, em todas as fotografias dele mostradas no livro de Sir Oliver, não se revela um traço de bigode.

O registro é interessante, entretanto, no tocante ao seguinte ponto: Peters, que evidentemente não está ainda suficientemente “preparado”, desaprova uma “sessão” com o próprio Sir Oliver; “Raymond”, através de “Moonstone” e Peters, pessoalmente se opõe a isso como “isso não é bom” e dizendo “ele (Sir Oliver) simplesmente assustará o médium (Peters) o quanto puder.”

De fato uma “sessão” de Sir Oliver com Peters não acontece até um mês depois — 29 de outubro de 1915. (No. 8, na Série, examinada abaixo).

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(b) A primeira sessão de Sir Oliver Lodge com Peters (anônimo). 29 de outubro de 1915.

Esta sessão abre com “Peters”, in propria persona, informando Sir Oliver que ele, Peters, está com medo dele — mostrando claramente que Peters sabe muito bem quem seu “assistente” é (veja o aviso de Peters na sessão tratada acima).

Peters, então, embora ainda assustado, se torna — em um “estalar” de “dedos” — Moonstone, e embarca numa descrição de Raymond, mas agora discretamente pula o item do bigode.

“Moonstone” prossegue: “Olhe aqui, eu conheço este homem: e não é a primeira vez que ele esteve conosco. Agora ele sorri, porque eu o reconheci”. [Nota de Sir Oliver: “Bem característico”.] Aqui quase somos levados a pensar que a coragem do Sr. Vout Peters exigiu um fortificante; ou que as relações de “Moonstone” com outros espíritos eram mais próximas do que transparecia pelos registros.

“Moonstone”, de fato, está claramente

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“cheio de si” e nem um pouco assustado por Sir Oliver, a quem ele prossegue perguntado sobre a sua saúde “interior”. Tranquilizado sobre esse ponto, “Moonstone” fornece uma autobiografia dele próprio para Sir Oliver, que agora é informado que “Moonstone”, um patriarca de “mais de cem” em uma vida anterior, era então um “iogue”. “Moonstone” então, como um ex-“iogue”, se estende sobre o dogma cristão do “sacrifício”, aplicando-o à morte de Raymond e aos esforços secundários de Sir Oliver para avançar a causa do espiritualismo.

“Moonstone”, falando por Raymond, expressou anteriormente a pia esperança que Sir Oliver “será capaz de montar sobre os sofismas dos tolos, e fazer a Sociedade, a Sociedade” (A Sociedade para as Pesquisas Psíquicas) “de algum uso no mundo”.

Peters, ou “Moonstone”, felizmente, já explicou que ele não recebe suas ideias de Raymond “verbatum” (sic). “Moonstone”, durante essa “sessão”, já interveio para “proteger” o “médium” (o Sr. Vout Peters) e para impedir a divulgação

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de questões muito íntimas pelo próprio Raymond no “‘controle’ pessoal” de Peters, alegando que “o médium ficaria doente por isso.”

Uma consideração similar pelo leitor requer que essas citações das elocuções de Peters terminem aqui.

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(c) Sessão de Sir Oliver Lodge (não anônimo) com a Sra. Leonard. 3 de dezembro de 1915.

Nesta “sessão”, “Raymond”, falando através de “Feda” para Sir Oliver, está claramente ignorante, ou esqueceu, que ele já, em 23 de outubro, entrevistou seu irmão Alec Lodge com a ajuda do Sr. Vout Peters, “Moonstone”, “Redfeather”, e “Biddy”, embora na primeira ocasião, o contato emocional entre os dois irmãos foi tão íntimo e pessoal que (de acordo com Peters) Raymond segurou as mãos de seu irmão através de seu agente (Peters); Alec também estando ciente que suas mãos “foram agarradas de uma forma idêntica à de Raymond”; Peters sendo

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“sacudido por soluços” e “a voz extraordinariamente semelhante à de Raymond”; Raymond conclui — “e oh! Graças a Deus posso falar... Diga a papai que sou feliz. Que me sinto feliz de ele não ter vindo. Se ele estivesse aqui eu não poderia falar... Se vovó não ajudasse, eu não poderia. Tenho agora de retirar-me... quebrado... Mas falei, graças a Deus.”

A “corrente” emocional, de fato, foi tão grande, que “nenhuma nota pôde ser tomada, mesmo pela Sra. Kennedy” que, como de costume, estava presente.

Nesta “sessão” posterior — 3 de dezembro — “Feda”, falando por Raymond, diz, a meia voz: “Al-lec, ele diz, Al-lec, Al-lec. Ele fica repetindo algo sobre Alec. Ele esteve tentando chegar a Alec, se comunicar com ele; e ele não viu se conseguiu se fazer sentir — se ele realmente conseguiu passar”. Raymond então diz, falando através de “Feda”: “Alec está aqui?” Sir Oliver responde: “Não, mas eu espero que ele venha”.

Raymond: “Diga-lhe para não dizer quem ele é”.

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Eu de fato me diverti aquela primeira vez que Lionel veio — eu pude falar por horas”.A inferência é clara: não é Raymond falando, mas “Feda” (ou a Sra. Leonard) que ou

não sabe, ou mais provavelmente esqueceu, os fatos e detalhes da “sessão” de Alec com Peters, quando, de acordo com Peters, Raymond segurou a mão de Alec no que Sir Oliver descreve como “controle pessoal” de Peters.

Também está claro que é Peters e não Raymond quem se opõe à presença mais crítica de Sir Oliver nas “sessões” dele. A Sra. Leonard não tem tal objeção nas dela. — Aparentemente, a consciência não “nos faz todos covardes” — somente, neste caso, a do Sr. Vout Peters.

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O Episódio do Grupo Fotográfico. — Ligado às três sessões examinadas acima, Nos. 4, 8 e 11 na série.

Este incidente, que Sir Oliver Lodge descreve como “uma evidência peculiarmente boa” — “um caso de primeira ordem” e como “uma

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das melhores evidências já fornecidas”, surgiu da seguinte maneira:Em 24 de agosto de 1915, um “grupo fotográfico” de 21 oficiais, com o Segundo

Tenente Raymond Lodge entre eles, foi tirado na França. Três “exposições”, ou “negativos”, foram feitos, os quais estão reproduzidos no livro de Sir Oliver.

Os negativos e originais somente foram enviados pelo fotógrafo, pouco após a “exposição”, ao Capitão Boast, um oficial irmão de Raymond. Como o fotógrafo não tinha papel para impressão suficiente que lhe permitisse fazer mais cópias para entregar aos oficiais envolvidos, o Capitão Boast comprou os negativos e os enviou para impressão aos Srs. Gale e Polden, na Inglaterra, que os receberam em 15 de outubro de 1915. Um grande número de cópias parece então ter sido impresso, pois a Sra. B. P. Cheves (a mãe do Médico Oficial, do 2º Regimento Lancashire do Sul, ao qual o Ten. Raymond Lodge era ligado) sozinha tinha, em 28 de novembro de 1915, meia dúzia de cópias em

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sua posse (com um código-chave para os nomes), uma de tais cópias ela enviou a Lady Lodge, que a recebeu em 7 de dezembro de 1915.

Houve um “considerável” atraso no envio da fotografia para Lady Lodge que, na recepção da carta datada de 28 de novembro da Sra. Cheves, oferecendo a ela a fotografia, respondeu “prontamente”, socilitando-a.

Em 7 de dezembro outra nota foi recebida da Sra. Cheves, declarando que “a fotografia estava sendo enviada”, em resposta a uma questão de Lady Lodge sobre o atraso.

Sir Oliver não diz se a fotografia chegou pelo correio ou de outro modo. Ao recebê-la o invólucro exterior estava molhado pela chuva.

É certo que Raymond nunca viu os negativos; ele pode, ou não, ter visto os originais, feitos na França e referidos acima. O Capitão Boast escreve, em resposta à pergunta de Sir Oliver sobre este ponto, quase onze meses após a fotografia ser tirada, dizendo que acredita que Raymond viu os originais, mas “não pode dizê-lo com certeza”, embora ele

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veja isso como “bem provável”. Em 12 de setembro, Raymond foi para as trincheiras, onde ele certamente não veria os originais, e, em 14 de setembro, foi morto em ação.

O “caso” de Sir Oliver, com relação a este grupo fotográfico, é brevemente o seguinte:

1º. Que, em 27 de setembro de 1915, em sua “sessão” com Lady Lodge (No. 4 na série), o Sr. Vout Peters, falando como ou por Raymond, pela agência de “Moonstone”, enfaticamente se referiu à existência deste particular grupo fotográfico, dizendo, “Ele” (Raymond), é específico que eu vos diga isso”. Sir Oliver diz, “Esta frase é provavelmente a que me fez procurar por tal fotografia, e me esforçar para obter registros sólidos feitos de antemão”.

2º. Que em 3 de dezembro de 1915, dois meses e seis dias após, a Sra. Leonard (médium), falando como, ou por, Raymond, pela agência de “Feda”, “descreveu mais” este mesmo grupo fotográfico (referido por Peters em 27 de setembro) com

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notável precisão, “muitos detalhes estando corretos e praticamente nada errado”.3º. Que a referência de Peter e este particular grupo fotográfico em 27 de setembro,

e a “descrição adicional” de “Feda” (ou da Sra. Leonard) (veja Calendário, p. 116, cap. IV) dela em 3 de dezembro, são “evidências” genuinamente supranormais, provando além de qualquer dúvida que a “personalidade sobrevivente” de Raymond comunicou uma informação de prova quanto a este grupo fotográfico através dos médiuns envolvidos, porque: —

1º. Em 27 de setembro, os negativos desta fotografia ainda não estavam na Inglaterra; e,

2º. Em 3 de dezembro, nem ele, Sir Oliver, nem ninguém de sua família já tinha visto uma impressão ou cópia dela.

Propõe-se agora examinar o “caso” de Sir Oliver, como afirmado acima, à luz dos atuais registros das “sessões” (a), (b) e (c), (Nos, 4, 8 e 11 na série), referindo a este assunto:

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(a) A sessão de Lady Lodge com o Sr. Vout Peters. 27 de setembro de 1915. (Sra. Kennedy

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presente e tomando notas, que foram enviadas ao Sr. J. A. Hill “à época”. Sr. Vout Peters falando, pela agência de “Moonstone”, de Raymond:

“A senhora tem diversos retratos desse moço. Antes que partisse ele deixou um bom retrato — dois — não, três. [Nota por Sir Oliver: “Assim como muitos outros.”] “Dois em que está só e um em que está num grupo de homens. É específico que eu vos diga isso. Num desses retratos vê-se a sua bengala”. [Nota pela Sra. Kennedy: “Moonstone” (i.e. Peters) “coloca uma imaginária bengala sob seu braço”.] [Nota por Sir Oliver: “Não conhecido ainda.”]

Acima tem-se uma e a única referência a, ou “descrição” de, qualquer “grupo fotográfico”. (Peço que o leitor aqui observe que, no registro, a frase isolada — “É específico que eu vos diga isso” — pode se referir ou à frase que a precede, ou àquela que vem depois dela, i.e., à existência de algum “grupo fotográfico”, ou a Raymond ter uma benga-

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la sob o seu braço nessa fotografia — ou a ambos).

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(b) A sessão de Sir Oliver com Vout Peters. 29 de outubro de 1915.

Nesta “sessão”, Peters não faz nenhuma menção a qualquer “grupo”, ou outra fotografia, embora (de acordo com Sir Oliver) ele, Peters, represente Raymond como “específico” que a existência deste grupo fotográfico fosse mencionado a Lady Lodge; Raymond (de acordo com Sir Oliver) “esperava que fosse boa ‘evidência’”.

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(c) Sessão de Sir Oliver (não anônimo) com a Sra. Leonard. 3 de dezembro de 1915:

Nesta sessão Sir Oliver introduz o assunto do grupo fotográfico “tirado com alguns outros homens”, e, após uma preliminar “pesca”6 por Sir Oliver, e de “evasivas” por Feda, o seguinte diálogo ocorre entre Sir Oliver e Raymond, ou “Feda” falando por Raymond:

O. J. L. (Sir Oliver): “Recorda-se da fotografia?”

6 Seria o equivalente hoje às técnicas conhecidas como “leitura a frio” e “leitura a quente”. Embora por métodos diferentes, em ambos tenta-se “pescar” informações por meios normais. (N. T.)

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Feda: “Pensa que outros se fotografaram com ele, não um ou dois, mas diversos”.

. . . . . . . . . .O. J. L.: Lembra-se de como aparecia nesse grupo?Feda: Não, não se lembra disso.O. J. L.: Não é o que pergunto: quero saber se estava sentado ou de pé.Feda: Ele não supõe que estivesse de pé. Alguns estavam de pé em redor. Ele

estava sentado, com outros de pé atrás. Uns sentados e outros de pé, supõe ele.O. J. L.: Eram soldados?Feda: “Diz que sim — uma mistura. Um chamado C. estava com ele; e alguém

chamado R. — não o seu próprio nome, mas outro R. K, K, K, — ele diz qualquer coisa a respeito de K. E também menciona um nome que começa por B.” (a pronúncia torna-se indistinta, dando ideia de Berry ou Burney — então claramente), “tome nota de B”.

. . . . . . . . . .O. J. L.: “Raymond estava de bengala?”Feda: “Não se lembra disso. Lembra-se de que alguém inclina-se-lhe sobre o

ombro, mas não tem certeza se foi fotografado assim. Mas alguém queria se inclinar sobre ele, ele se lembra”.

. . . . . . . . . .O. J. L.: “Isso foi ao ar livre?”Feda: “Sim, praticamente”. (E a meia voz): “Que é que quer dizer com ‘sim,

praticamente’? Deve ser fora de casa ou dentro de casa. Você disse ‘sim’,

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não é? Feda pensa que ele diz “sim”, porque também diz ‘praticamente’”.O. J. L.: “Pode ter sido num galpão”.Feda: “Pode, sim. Procure mostrá-lo a Feda”. “Atrás da fotografia vejo linhas

que descem. Parece um fundo escuro, com listas”. (Neste ponto a mão da Sra. Leonard traça linhas no ar). Pode-se perguntar: estes registros das elocuções reais de Peters e da Sra. Leonard

(como médiuns) constituem evidência “supranormal”, provando, além de toda a dúvida, o “caso” de Sir Oliver como declarado acima?

Pelas razões apresentadas, parece que a resposta é decididamente negativa. Peters, em 27 de setembro, se refere a um grupo fotográfico em que Raymond

aparece com “outros homens” — uma experiência comum a centenas, ou milhares, de outros jovens oficiais no novo Exército.

Ele menciona a aparição de Raymond neste grupo com uma bengala — um suplemento ao uniforme também comum a, praticamente, todos os oficiais do novo Exército, e levado por, aparentemente, qualquer outro oficial no grupo fotográfico reproduzido no livro de Sir Oliver.

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Até então, a referência geral de Peters a algum grupo fotográfico (em que Raymond aparece) era algo perfeitamente seguro a se aventurar no que diz respeito, praticamente, a qualquer jovem oficial do novo Exército. As particularidades adicionais de Peters, entretanto, mostram conclusivamente que esta referência a algum grupo fotográfico não pode se aplicar nem ao grupo específico reproduzido no livro de Sir Oliver (sobre o qual Sir Oliver se baseia) nem a Raymond; porque, no último grupo, a bengala de Raymond não está sob o seu braço, mas no chão, por cima do pé, e não é segura por ele de modo algum; e também porque nem nesta, nem em qualquer outra fotografia no livro de Lodge, Raymond mostra o mais leve vestígio do bigode com que Peters o supre em outra parte na mesma “sessão”.

Ninguém, nem mesmo um médium dando “chutes” aleatórios, cometeria mais erros do que Peters nesta curta referência às fotografias de Raymond (citadas em completo acima) em 27 de setembro.

Peters finalmente “amplia” para apenas três retratos como de posse da família de

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Raymond na data em que ele (Peters) está falando. “Dois em que está só e um em que está num grupo de homens”.

O próprio Sir Oliver contraria esta afirmação pela “nota”: “Assim como muitos outros”, i.e., Peters subestimou o número de fotografias.

Peters afirma que o único grupo fotográfico ao qual ele se refere estava em posse da família antes que Raymond “partisse”.

Na verdade, como Sir Oliver bem sabe, não estava. O próprio Raymond, até a data de sua morte em 14 de setembro, sabia que este grupo fotográfico não fora enviado à sua família, e se tal conhecimento está disponível após a morte, também sabia, em 27 de setembro (quando se supõe ele fornece essas particularidades a Peters), que ainda não tinha sequer chegado a sua família.

Peters, como mostrado acima, também descreve Raymond como “específico” de que sua família fosse informada ou da existência deste único grupo fotográfico ou que, nele, ele aparece com uma bengala sob seu braço.

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Ambos estes itens de informação de “teste” estão, e eram conhecidos por Raymond em vida, errados.

O próprio Sir Oliver nos diz em outra parte (p. 114) que, de fato, Raymond foi levado em outra ocasião em um grupo com outros oficiais, e em nenhum desses grupos, nem em qualquer outra fotografia, Raymond tem uma bengala “sob seu braço”.

Infere-se claramente que a referência de Peters às fotografias, em grupo ou de outro modo, em 27 de setembro, foi apenas um “chute” aleatório geral e sem-vergonha sobre assuntos aos quais é certo ele não tem conhecimento, seja “supranormal” ou de outro tipo — um “chute” aleatório e ruim similar a sua última tentativa, nesta mesma “sessão”, quando ele diz: “Você tem em sua casa prêmios” (atléticos) “que ele ganhou” e que Sir Oliver descarta como “incorreto”.

Infere-se com igual certeza que o intenso desejo de Sir Oliver em obter “evidência” levou-o, apesar das flagrantes imprecisões de Peters, a pular para a conclusão que a referência de Peters em 27 de setembro foi de fato

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ao particular grupo fotográfico que ele (Sir Oliver) reproduz no livro, e o qual “Feda” subsequentemente — dois meses e seis dias depois — descreve mais ou menos de modo preciso.

Tão grande é sua ansiedade para obter evidências e, nas palavras de Sir Oliver, “procurar por tal fotografia, e me esforçar para obter registros sólidos feitos de antemão”, que a Sra. Kennedy “à época”, i.e., em ou logo após 27 de setembro, envia suas notas originais, ou uma cópia, da “referência” de Peters a algum “grupo fotográfico” ao Sr. J. A. Hill.

É fácil reconhecer o escopo em que esse procedimento foi calculado para dar publicidade na questão das expectativas de Sir Oliver com relação ao surgimento subsequente de um grupo fotográfico. Tanto a Sra. Kennedy como o Sr. J. A. Hill são investigadores ardentes em assuntos espiritualistas, ambos são consultores de e familiares com médiuns, e o Sr. J. A. Hill é, acredito, um membro, ou pelo menos um correspondente, da Sociedade para as Pesquisas Psíquicas, cujo corpo o assunto foi eventualmente, mas possivelmente posteriormente, relatado.

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De 15 de outubro a 3 de dezembro de 1915 — um período de 48 dias — cópias do

grupo fotográfico referido estavam disponíveis a qualquer um neste país que desejasse ou tivesse a oportunidade de encomendá-las ou obtê-las — só a Sra. Cheves tinha seis cópias em sua posse.

Em 3 de dezembro “Feda” dá sua descrição desta fotografia — da seguinte forma: vaga e vacilante com relação a vários detalhes em que alguém que se sentou para a original dificilmente teria qualquer dúvida; mas notavelmente precisa com relação a outros detalhes fáceis o suficientes para serem lembrados por alguém que apenas tivesse visto, ou ouvido uma descrição por outra pessoa que tivesse visto uma cópia: e a quem a existência de um “código-chave” não fosse desconhecida, mas que não tivesse uma memória particularmente boa para nomes.

C, R e B são letras prováveis o suficiente para tentar ao se adivinhar as letras iniciais dos nomes de 21 ingleses. K é mais improvável, mas na realidade, nenhum dos “assistentes” (com pelo menos muitos cujos nomes Raymond deve ter sido familiar em vida) tinha

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nomes começando com essas letras. “Berry” e “Burney”, nomes de duas sílabas, são adivinhações ruins de “Boast”, o nome real do “sentante” cujo nome começa com B.

As “linhas” “verticais” e as demais, na barraca que forma o fundo para a fotografia descrita por “Feda”, de fato aparecem nas reproduções fornecidas no livro de Sir Oliver. Essas “linhas” verticais são os “ligantes” mantendo o telhado de revestimento da cabana em posição e as horizontais são as junções do forro de madeira das paredes externas. Esses detalhes dificilmente seriam lembrados por um “sentante” como Raymond (que aparentemente não conseguia lembrar sua própria aparência na fotografia), e, à época, certamente não seriam vistos por um “sentante” que sentava, naturalmente, com suas costas para o fundo e sobre o chão, onde o telhado da barraca não era visível para ele.

Assim, aparentemente, com respeito à “confiabilidade” de “Feda” neste assunto, estamos diante de duas alternativas.

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1ª. Que a “personalidade sobrevivente” de Raymond comunicou informações de “teste” confiáveis concernentes a esta fotografia para “Feda”, e através da Sra. Leonard para Sir Oliver Lodge, em 3 de dezembro de 1915.

2ª. Que entre as datas de 15 de outubro e 3 de dezembro a Sra. Leonard, sem o conhecimento de Sir Oliver, ficou ciente de alguns detalhes ou descrições da fotografia real — da qual muitas cópias já estavam na Inglaterra — pela agência humana normal; tal comunicação ou agência, consciente ou inconsciente, sendo, sob as circunstâncias, não somente possível, mas provavelmente disponível.

O leitor pode escolher entre essas duas alternativas com relação às “revelações” de “Feda”.

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Nos. 15 e 16 na Série.

Essas duas “sessões” são tomadas em conjunto como parcialmente independentes.

No. 15 — A primeira “sessão” de Sir Oliver — e última — com a Sra. Clegg (uma nova médium) — arranjada pela Sra. Kennedy — (anônima), Sra. Kennedy presente. — 3 de março de 1916.

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Esta “sessão”, talvez a mais censurável na série — consistindo, como principalmente faz, das imitações desta “senhora idosa” do que ela supõe serem as exclamações e contorções corporais próprias de um oficial mortalmente ferido, i.e., Raymond Lodge: “Acudam-me, onde está o doutor?” — “contorções” — “esfregava as costas” — “respirava com esforço” — “debatendo” (sic) — “movia-se de um lado para o outro” — “em atitudes de aleijada ou ferida” — pode facilmente ser descartada com bem poucas palavras relacionadas ao suposto “anonimato” de Sir Oliver nesta “sessão” — arranjada pela Sra. Kennedy e realizada em sua casa.

Sir Oliver Lodge, ao descrever esta “sessão”, diz:

Às 11 e um quarto de sexta-feira, 3 de março de 1916, cheguei à casa da Sra. Kennedy e com ela fiquei a conversar até que a Sra. Clegg aparecesse, as 11 e meia. A Sra. Clegg entrou na sala, falou à Sra. Kennedy e disse: “Oh, é esse o senhor a quem tenho de atender?” Foi-lhe indicado um assento próximo ao fogo e a dona da casa disse-lhe que repousasse por um momento da sua caminhada de ônibus. Ela, entretanto, logo que se sentou, advertiu: ‘Oh,

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esta sala está cheia de gente, e oh, como alguém se mostra ansioso por manifestar-se! Ouço dizer: “Sir Oliver Lodge”. Conhecem alguma pessoa com este nome?’

“Eu disse, ‘Sim, eu o conheço’.”“A Sra. Kennedy levantou-se para atenuar a luz; (Nota pelo escritor — um

sinal bastante forte para a Sra. Clegg ser menos ingênua) — a Sra. Clegg prosseguiu: “Quem é Raymond, Raymond, Raymond? Está de pé junto a mim”.

Evidentemente ela estava entrando em transe, de modo que afastamos seu assento da lareira e sem mais preparação ela ‘partiu’”.

Aqui se seguiram as “contorções” etc., como notado acima, e Sir Oliver continua:

A Sra. Kennedy procurou ajudá-la com transmissão de força. Ajoelhou-se-lhe ao lado e acariciou-a. Fiquei à espera.

Aqui se seguem mais “pantomimas”: “Acudam-me, onde está o doutor?” — “debatendo” (sic) e mais “contorções” — uma atuação muito repugnante para fornecer mais detalhes aqui. Um “Capitão” então age como o “controle” da Sra. Clegg, e ela fala “em uma voz vigorosa e marcial, como se ordenando coisas”, mas não diz “nada em qualquer momento”.

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No. 16. — Sessão de Sir Oliver Lodge com a Sra. Leonard (não anônimo) na noite do mesmo dia. 3 de março de 1916, das 21h15min às 23h15min.

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Esta “sessão” é descrita por Sir Oliver como “uma das melhores” e que “merece bastante atenção”, porque nela “um conhecimento completo da atuação da Sra. Clegg foi mostrado”.

O registro desta “sessão” ocupa 21 páginas do livro de Sir Oliver, e é grande demais para reproduzi-la aqui. Ela contém, além de muito material sem valor, sem dúvida algumas referências a circunstâncias verificáveis ligadas a Sir Oliver, sua família e amigos. Isto não é surpreendente, já que Sir Oliver, e vários membros da sua família, estiveram agora “sentando” com a Sra. Leonard em intervalos, auxiliados pela Sra. Kennedy, continuamente, por um período de cinco meses, ultimamente sem qualquer pretensão ou tentativa de “anonimato”.

Para o presente propósito é suficiente dizer que, nesta “sessão”, Raymond, falando por Feda, enquanto expressa um gosto pessoal pela Sra. Clegg (a médium da manhã) reclama um tanto amargamente do seu “debater” (sic) e incapacidade geral enquanto médium. Esta tendência da parte da Sra. Clegg para “debater” é perdoada e explicada,

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entretanto, para Raymond pelo filho “Paul” da Sra. Kennedy (em espírito — não, é claro, pela Sra, Kennedy na carne), quanto à “ideia” da Sra. Clegg da “coisa correta a ser feita” sob as circunstâncias; Raymond ipsissima verba sendo:

“Paulie disse que ela achou que era a coisa correta a ser feita! Mas eu queria que ela não achasse.”

Pelo dito, parece que, embora os meros mortais possam ser levados pelas artimanhas conscientes dos médiuns, os espíritos estão cientes que, na ocasião em que achem que valha a pena, essas de outro modo estimadas pessoas de fato são condescendentes com uma encenação consciente, cínica e fraudulenta.

Com relação a essas duas “sessões”, o escritor espera que seja talvez supérfluo observar:

1. Que a Sra. Clegg, antes de “partir”, estava, em seu estado de consciência normal, bem ciente da identidade de Sir Oliver — seu pronunciamento prematuro do nome de Sir Oliver evidentemente evocou alguma leve “diversão” da parte da Sra. Kennedy.

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2. Que muitas, ou ao menos várias, horas se passaram entre a “sessão” matinal de Sir Oliver com a Sra. Clegg e a sua “sessão” noturna com a Sra. Leonard, o fato que a “encenação” da Sra. Clegg era “de total conhecimento” na “sessão” noturna com a Sra. Leonard deve, considerando tudo, causar pouca surpresa.

Ao revisar as qualificações dos vários médiuns consultados por ele e sua família nestes assuntos, Sir Oliver Lodge pensa que Peters “se saiu tão bem quanto qualquer médium”, e em outra parte considera que “as circunstâncias sob as quais os ‘sensitivos’” (i.e., médiuns) “trabalham são difíceis e devem ser melhoradas”.

No geral, os registros, no entanto, parecem indicar que em habilidade profissional, a Sra. Leonard tem alguns “pontos” de vantagem sobre Peters e que a Sra. Clegg pode se sair “um pouco melhor” que ambos. Se o magistrado da polícia endossaria a recomendação final de Sir Oliver isso deve ser visto como extremamente duvidoso.

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Com a “análise” acima, e as observações sobre o débâcle das duas “sessões” finais, o

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escritor está feliz de concluir a desagradável tarefa de revisar esta parte do livro de Sir Oliver Lodge: os capítulos restantes da Parte II consistindo apenas de “mais material inverificável” e “uns poucos incidentes isolados”.

A Parte III contém artigos sobre Sir Oliver sobre — entre outros assuntos — “A argumentação de que todas as comunicações psíquicas são de uma natureza trivial e lidam com tópicos insignificantes” e “a atitude do sábio e do prudente” com relação a esses assuntos.

Um exame das “evidências” apresentadas por Sir Oliver Lodge em apoio à sua crença e argumento de que a personalidade sobrevivente de Raymond pode, e de fato, se comunica pela agência de outros (nos casos tratados, médiuns profissionais) com seus amigos e parentes vivos, parece apontar para a conclusão que, como frequentemente ocorre quando as emoções estão envolvidas — afeições familiares, a dor do luto, etc. — o Desejo, no caso de Sir Oliver, foi Pai do Pensamento.

O desejo intenso por alguma certeza que

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a personalidade consciente de fato sobrevive à Grande Mudança foi de fato natural e se desenvolveu no homem em muitos países e sob muitos sistemas, tanto da Filosofia e Religião, em muitas épocas. Tanto é assim que nós, em qualquer país ocidental, somos quase incapazes de conceber qualquer outra aspiração como animando a alma humana.

E ainda assim permanece o fato que provavelmente o grande número de seres humanos que já habitou esta Terra desde que o homem surgiu sobre ela manteve uma Fé a qual esta ideia de uma personalidade sobrevivente é absolutamente detestável. O “Nirvana” dos budistas parece significar, tão próximo quanto o pensamento ou a linguagem europeia pode defini-lo, um estado de Felicidade em que a personalidade cessou de existir.

Será que essas grandes questões serão resolvidas por fim por médiuns profissionais pagos? Teriam os Srs. e Sras. Sludge & Co. a chave para o grande segredo que desconcertou tanto a Filosofia e a Ciência desde o seu surgimento?

Posso, de fato, esperar comprar por um guiné na Bond Street, ou por meia coroa em East

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London, algum truque que me permitirá erguer a cortina em que atrás está — Aquilo a que as religiões se dividiram desde que o homem foi dotado de uma alma? Não faria eu melhor, na Noite da dúvida e do questionamento, deixar a certeza quanto a essas grandes questões onde, com grande respeito, elas pertencem, e me satisfazer a esperar que

“... with the morn those angel faces smileWhich I have loved, long since, and lost awhile”?

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