Raymond Queneau - Exercícios de Estilo

download Raymond Queneau - Exercícios de Estilo

of 90

Transcript of Raymond Queneau - Exercícios de Estilo

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    1/90

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    2/90

    --IJFf.iGS--iBibli~1 ".1 ~ t;'Jt;uf'lalde B' .':'!:_tlnomiae C.', .. ll' aC~lo

    Cot;y,.,:ghl Editions Gallimnrd 1947T il ul o O ri gi na l:E x er cis es d e 51)'[0

    Capa:V ICTOI! BUl l TON

    AjJoio:J :. 'n vai xada da Franca n o B ra si l

    CIPBrasii. Cataloga(iio-na-fonteS in d ic at o N a ci on al d o s E d it or es d e L iv ro s, R I.Oueneau, Raymund, 1903-1976

    Q51e E x er ci ci os d e e s ti fa / ll ay m ll /1 d Qllelleal/; tradudio,apresentar; : i io e / lo s fa c io , L u iz R e s e nd e .- R io de J ane ir o : Imago Ed., 1995.(Cotecso Lazuli)T ra du ai o d e : E x e rc is es d e s ly lel nc l ul a n ex o s e bibliografiaISBN 85-312-048011 . L it er at ur a e xp er im e nt al . I . R e ze nd e , Lutz:

    1/ . Titulo. llf. SeneCDD - 848.07

    95-1895 CDU - 840-8(07)

    R e se rv ad os t od os o s d ir eit os .Nenhuma parte desta obra / l adera setreproduzida p a r [ ot oc o p ia , m i c ro fi lm e ,p r oc e s so [ o tomecanl co m l eiet t tmicos em p er mi ss ii o e xp re ss a d a E d it or a.

    1995IM AG O E DITORA LTD A.

    Rua Santos Rodr igues, 201-A - Estdcio20250-430 - R io d e Janeiro - R J - Te l.: 293-1092

    '} .~ I r

    Impresso no BrasilP ri nt ed i n B ra zi l

    SUMARIO

    1~Escrevendo Que Se Vira Escrevedor ,- Luiz Rezende

    Anotacao, 19Em Duplicata, 20Litotes, 21Metaforicamente, 22Retrograde, 23Surpresas, 24Sonho, 2SProfecias, 26Stnquises, 27Arco-Iris, 28Gincana Verbal, 29Hesitacoes, 30Precisdes, 31o Lado Subjetivo,Outra Subjetividade,Relato, 34Palavras-Valise, 3SNegatividades, 36Anlrnismo, 37Anagrarnas, 38IJisti n coes Necessanas, 39l'a reoteleutas, 40Versao Oflctal, 41

    3233

    11

    ""

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    3/90

    Texticulo De Orelha, 43Onomatopeias, 44Analise L6gica, 45Insistencia, 47Nao Sei De Nada,Presente, 50Acontecendo, 51Preterite, 52Imperfeito, 53Alexandrinos, S4Pos-Alexandrinos, 55Poliptotos, 56Ap6copes, 57Afereses, 58

    49

    Sincopes, 59Quer Dizer, Ne, 60Exclamacoes, 61Entao, 62Empolado, 63Povao, 64Ocorrencia, 65Cornedia, 67Apartes, 69Parequese, 70

    71antasmatico,Filos6fico, 73Ap6strofe, 75Desajeitado, 76Desenvolto, 78Parcial, 80Soneto, 82Olfativo, 83

    Gustativo, 84ran. 85Visual, 86Auditive,Telegrafico,Ode, 89

    8788

    Perrnutacoes de Grupos de 5 a 9 Letras,Perrnutacoes de Grupos de 4 a 8 Palavras,Helenismos, 92Conjuntos, 93Reacionario, 94Pai-dos-Burros, 96Hai Ku, ' 98Haikikai, 98Versos Livres, 99Feminino, 100Translacao, 102Lipogramas, 103Galicismos, 106Pr6teses, 107Epenteses, 108Paragoges, 109Metateses, 110Gramatica Transformativa, 111Troca-Troca, 114Nomes Proprios, 115Lingua do P~, 116

    ',Poucas-verdades, 117Macarronico, 118D a (Quase) na Mesma, 119Para os Franceses, 120Trocadilhos, 122

    9091

    ""

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    4/90

    Botanico, 123Medicinal, 124Gastron6mico, 125Zool6gico, 126Iniurioso, 127Impotente,Pos-Tudo, '

    128129 '

    Probabilista, 130Retrato, 131Geometrico, 132Sertane]o, 134In terj eicoes I 136Precioso, 137Inesperado, 139

    Agora que Voces ja Leram, 142- L u tz Rezende

    AnexosExerc1cios de Estilo Posslveis,Exercfcios BrasileirosPapo de Botequim, 167

    Pisando na Iaca, 170Brasileirinhc, 172Tupinacara, 175Samba do Crioulo Doido,D a Samba, 179

    Bibliografia, 181

    161

    177

    E E SC RE VE NDO QUE SE VIRA E SC REVEDORL L I iz Rezende

    Ao ouvir as fugas de Bach em concerto, 1 a pel os anos:10, Raymond Queneau teve a ideia de criar urn equivaLente,ilterario, constituido por uma serie de variacoes em tomede urn tema bern simples. Durante 'a guerra, para dtstrair-selim pouco de seus projetos "serios" e de suas atividadeseel!toriais, pos-se a escrever os primeiros exercfcios, emtorno de uma discussao 'entre dois passageiros a bordo deurn onibus. Ap6s tel' composto urn "Dodecaedro", pensavaern parar, mas acabou contagiado pela propria ideia e con-tinuou a serie ate chegar aos 99, "nem multo, nem poucod rnais: 0 ideal grego", Em 1948, os E x e rc tc io s d e E s til o forampublicados pela primelra vez em forma de livro, e logoinspiraram uma pe~a dos Ir rnaos Jacques, 0 que assentousu a popularidade e reforcou a do autor, Raymond Queneauer(J, entao, com Sartre e Preve r t , urn dos decanos da boemiarl rcu lando pelo Saint-Germain-des-Pres existencialista,"n II0 forte contra 0vento da besteira", segundo a elogiosar()rrnula de]uliette Greco, que emplacou urn grande sucessoIransformando em cancao seu poema "Si tu t'Imaglnes" ,

    Inspirado pelo convfvio encontrado na Grecia entre doisI'q~istros de linguagem, com primazia do dem6tico sobre alingua pura, Queneau vinha tentando a defesa e ilustracaodo frances falado desde 0 comeco dos anos 30, e chegou apropugnar urn nco-frances:

    N.

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    5/90

    Mezalor, meza lor keskon nobtyin! Sa dvyin incrouayab,.pazordiner, ranversan, sa vouzaalor indse dri ildaspedontanrvyin pa. 0/1 lrekanc pudutou, I transe, amesa pudutou,sa vou pran toudinkou unalur ninversonaorbase stupefiant.Avre d i r, sC l 71 cmn ta ra n. J e rl u t ou d s ui t Itka t / ig n s i d su , jepapum an pe ch e d e mma!"e . 1

    No comecinho dos anos 70, veio a reconhecer, nao semuma pontinha de nostalgia, que a norma culta estava im-pregnando a fala popular, e atribuiu 0 fenorneno it influen-cia da televisao.

    Em 1958, surgiu Zazi no metro, livro que ganhou urnprernio de humor negro evtrcu filme de Louis Malle, alernde oferecer a Queneau seu primeiro e unico real sucesso deestirna popular.f Para contar a historia de Zazi, garota pro-vincial e mats desbocada que chofer de carninhjio, Queneaulanca mocieradamente mao do seu nee-frances. 0 sucessofoi tanto que por pouco nao apaga a figura do criador; apartir dai, Queneau virou, antes de mais nada, 0 "pai deZazi".

    Ca se chanie aussi, fa chaussette: meia suja tarnbern secanta. 0 problema e extrair cIo cotidiano "sua vela poetica,seu pequeno herotsmo", Georges Perec, proximo de Que-neau, definia esse projeto como a busca do infra-ordinano:"talvez possamos finalmente fundar nossa propria antropo-1 Milis (~Iors, mais alors, qu'est-ce I1l'OIl n'obtienti C ; : 1 1 devient incroYllbir, pos

    Oral/Wire, renvcrsant , ra, va l is a l or s , 1111 d e c cs dro/es d 'a sp e ct d on r Dillie r e v len t : pa s .011 t e rc co nn ait p lu s d u to ut, le (r ill /f aIS , a h, m ai s p iu s rill tout , (:0 ~ 'O / ISp r end t outd 'U /1 c ou p un c a llu re inv ra is em blable , c 'c st s tup efian t. A v rai dire, c 'e st m em emarrant . j'ai relu tOllt de s uite tc s q uatre /ig ne s c i-d es sus . i' a! p as p u m'empecherde,m e m urre !" ("Ecrit en 1937", retornado em B t tt on s , c h if fr e s, l e tt re s , p. 22). Emportugues: "Iat, lal, ukekldal l-icaduplru, nadave custrossu kiagetchlle,egr.ass,adu. paca, neda prassigura. Pareci ate chinuki, valve tupiniki,e ss lgei tchlnhu kcladu, feitukorcu beescritu , legau prakaralhu ... "

    2 A (boa) traducao brasllelra de Zaz! 110 m etro ~ de Irene Cubrlc c fot edltada pelaRocco , em 1985 .

    12

    1 1 ' 1 ' , 1 1 : a qu talara de nos, buscara em nos 0 que tanto fomospll!!lIr nos outros. 0 end6tico, em vez do ex6tico" tapud, 1 1 1 1 ( ' 1 1 1 ' I " , 1991, p. 12 - ver a Bib/iografia, ao final destev()1II 11lL'). Tratase de uma poetica estudadamente esponta-IH'II, com mais rima do que razao, como assinala Iean-YvesPIurllloux (1991), mas nos melhores casos, quando a rimaIlilt' be a razao, abre-se urn espaco de Iinguagern motivada

    IIIHIl' se opera uma relacao, digamos magica, entre fala e11111 lido. 0 laborioso plumitivo descasca chav5es, prover-' 1 1 1 : ' l' l uga re s comuns, guarda a polpa para uso renovado e\I II'I'l' os escombros de urn golpe de pen a que, forcosamente,( I I ' lxa traces textuais,

    QlIeneau e ainda capaz de escrever roteiro para docu-tllI'1l1l'irjo de encomenda, cantando as maravilhas do estire-1111 -m alexandrines I Sua producao poetica, sob a aparenciaII II' dtca, multiplica exigencias e recursos formais, como noI I~() dos Cern mil bilhoes de poemas, 10 sonetos cujos 14

    I'I'SOS podern ser livre mente associados, 0 que resulta,(111llD 0 tltulo indica, em 1014 sonetos - cada verso vern .i",l I'llo numa Iingueta recortada, de forma que a pagina seIIIInpOe de catorze li:ngi.ietas independentes, que podem servlr Ins uma a uma (como em certos livros infantis).

    l.m 1960, criou-se, sob sua insplracao, 0 Ouvroir de1,l/hmlure Potentielle, ou Oulipo. Nao sem humor, 0 nome'II' rvf er e aos atelies (ouvmires) de corte e costura das freiri-"II IS. Quanto a literatura potencial, trata-se de pesquisar1 1 1 , 1 1 rtzes formais que possam em seguida encontrar aplica-I, () ern obras literarias. l-Ching, Taro, jogos ret6ricos dojll'I'fndo alexandrino, formas poeticas dos trovadores pro-ve'1 I~ 'a I.~.. e, sobretudo, recursos Iogtco-matematicos. 0 gru-pll, que teve seu penodo aureo nos anos 60, e incluia, entre1l1l11O.~, ltalo Calvino e Georges Perec, continua existindo, e

    13

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    6/90

    [a publicou tres atlas para expor seus achados. Para Que-neau, fa de jogos, 0 "realismo matematico" e uma forma deconjurar a desgraca ou, ao menos, de torna-la suportavel,provisoriamente relegada a urn nicho da consciencia inati-vo. "E escrevendo que se vira escrevedor": C'est en ectivantq u 'o n d e vi en t ccriv~ron. 0 hornem adorava esta frase, a pontode Iazer dela urn lema, forjado par ele a partir do proverbiofrances c'est en [orgeant qu'on devient [orgeron, "forjando sefaz 0 forjeiro", derfvado por sua vez do latirn fabricando fitfaber. Ela resume admiravelmente a ettca do trabalho arte-sanal que define as relacoes entre Queneau e a literatura.

    Relendo Hegel, como tantos outros de sua geracao,Queneau via na Historia "a ctencia da desgraca humana", Atragedia e cotidiana e difusa: conta-la exige, nessas circuns-tancias, urn que de humor, sob pena de uma Insuportavelnarracao reduzida a desfiar mazelas. "Quando a narradorsorn e desdenha a morte, chamam seu relata urn 'romancec6mico', mas 0 'tom leve' empregado e, na verc!ade, umresqulcio de graca numa paisagem de catastrofe ..." Desert-ganado como a aruo da Hist6ria. IIIGente feliz nao fazhistoria': nao e so trocadilho. A(s) desgracais) formam todoocampo narrative".

    Matthieu Galley, falando da enorrnidade e da "indigen-cia agressiva" dos trocadilhos de Queneau, [a as tinhaassimilado a certo espirito de escola prirnaria. Se 0ubuescoJarry tern urn que de adolescente, e 0 humor derlvado deLautreamont aos surrealistas urn negrume para 13de adulto,a peculiaridade de Queneau talvez esteja nessa mallcia que,mesmo no auge da vulgaridade, guarda certa inocencia ecandura. Seu prirneiro critico, Jean Queval, aproveitou ahomofonia quase perfeita entre recrear e rec riar - re cteer e

    14

    r cc re er - , para estabelecer uma analogia entre espirito de.scola e trabalho literario, ambos funcionando sob 0 impe-rio de aparentes contraries, disciplina e distracao. Mas quetn l ludismo nao nos engane; como diz Queneau, num ecoclantesco, "quem entra aqui deve aceitar todo e qualquerlogo de - e sobre - palavras". Enquanto se [oga, 0 infernor i ca e squ ec ido , E, pela etica queneliana do riso, tentemos,cnquanto tsso, matar a charada, para nao terminarrnosarreganhando os dentes num esgar inenarravelmente ama-rvlo.

    15"

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    7/90

    1".'

    ANOTA

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    8/90

    Por volta do meio da jomada e em tome de rneio-dia,pulo e subo na plataforma e balcao traseiros de um onibu~e trans porte para todos replete e lotado da l inha S, que va lda ontrescarpe e Contra-escarpa ao Campeto e Champer-ret. Percebo e noto ali e nesse Iuga r urn jovem homern eadolescente passado, ridiculo assaz e grotesco 0 bastante:pesco~o magro e gog6 descarnado, fio e cordao em tornodo chapeu e tapa-miolos. Ap6s e depois de urn bate-boc~ eempurra-ernpurra, ele diz e profere em tom evoz c~ora.ml~.-gantes e Ia cr im eja nte s qu e seu viz inho e c o- pa ssa ge ir o m S 1 S te e persiste em esprem e- lo e Irnportuna - lo sem pre e. a ca ?avez que desce e salta u rn gaiato alguem, IS50 eta) coisa ditae feita e depois e assim que abrlu e botou a boca e 0trombone no onibus e no mundo, precipitou-se e dirlgiu-separa e r u mo a urn Lugar e banco recem e no instantinhornesrno uvrevago.Duas horas e cento e vlnte minutes ma r s tarde depois,eu 0 reencontro e minha pessoa ve 0mesmo novamente denovo na Com de Rome e Paco de Rorna em face da gareSaint-Lazare e defronte a estacao Sao Lazaro. Esta e encon-tra-se com urn amigo e ompanheiro que 0 incita e aconse-lha a por e botar mais urn batao e suplernentar 0550 no seumanto sobretudo. .,

    EM DUPUCATA

    20

    LITOTES;Eramos POliCOS tantos a des]ocar-n~s em conserva, dos

    quals urn, ligeiramente aquem de maduro e com ar de1'11 ' f ita lnteligencla, sugeriu, algo veementemente e por11111 lapse de instante aOI se OliSO dizer com certo abuse,l'ivnlheiro que se encontrava a m ui discreta dtstancia de si,ronlcturas sobre 0 cornportamento, qutca libado, deste1\111mo: quase continente, absteve-se de verbo e renunciou

    posj

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    9/90

    .r

    METAFORICAMENTE

    !:

    o astra apoltneo parecia ter imobilizado seu tao celerecurso em zenital posicao e dardejava implacavel no meri-diao escaldante como as dunas de Copacabana, exasperandoo sufoco da massa compacta num cole6ptero de alvo abdo-men, tal sardinhas em lata, quando urn girafoso e glabropinto lancou-se a escarnacao de uma delas, das menossaracoteantes, com repentina arenga que nos ares desfral-dou-se umida de protesto. Em seguida, aspirado por vacuooportuno, subito e volatil partiu ao poleiro.

    Revi-o todavia, cronometricas revolucoes passadas, pe-ripateteando em modica cornunhao e difuso sensa no rna-linc6nico dedalo oode a urbe se traduz em metaforacoletiva, reduzido entretanto a espirrar toda sua arroganctapor obra de somenos botao.

    22

    ,"} I

    RETR 0GRADO"Ao sobretudo bern poderia voce aerescentar urn

    IH1lilo", disse-Ihe 0 amigo. Poi em plena paco de Roma.1: 1011(0 antes ao aconselhado vira eu, avido sobre vagoIII'S .nto se precipitando mal expresso seu mau protestornntra 0vizinho cujos gestos, alegava, extrerno agredlam.III' os extremos ao saber do fluxo de entrada e satda depnssagetros, Trazia 0 descarnado jovem ridtculo chapeu. NaI rnsetra plataforma: era.

    No, ao meio-dia lotado, S, tudo comecara,

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    10/90

    SURPRESAS

    Q u e aperto na traselral E aquele fulaninho, iiihh quecara de bobo, e que arzinho mats ridiculo! Sabe 0 que elefez?! Nao e que deu de emburrar, s6 porque - atrevido 0senhorito! - la rnuito de vez em quando, no lufa-lufa, urncidadao dos mais honestos dava urnas encostadinhas! Caca-rejou 0 quanto pode e depots saiu escaEedido para ir-seabeletar num lugar vago, ainda quentinho! Que displante!Em vez de deixa- lo para uma senhora!Duas horas depois, adivinhem quem eu vejo defronte aestacao?; 0 pr6prio! 0mocetao! Ouvindo dicas de roupa!De urn amigo!Nao da para acreditarl 0 amigo era urn gato, nem tecanto! E entendido em rnoda como ninguern ...

    24

    SONHO

    Tudo era brurna nacarada, sombras rmiltiplas ondeI ultava urn [overn, vejo nitidamente seu rosto encarapita-

    I I I) nurn conspfcuo pescocao, que salientavaseu carater maispnra .ovarde que cabrao. No lugar da fita do chapeu, urn fiorrmeade. Pos-se a discutir com urn lndivlduo indistinto;ilvpols, como que amedrontado, sumiu num corredor escu-rn,

    l im ou tr a parte do sonho, esta andando sob 0 sol a1 1 1 ' 1 Ina defronte a estacao Sao Laza ro , com urn companheiro'Ill' lhe diz: "Voce devia botar outro batao no sobretudo".

    A f e ll acordei.

    2 5

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    11/90

    PROFECIAS

    . .i

    Meio-dia vira, e voce estara na plataforma traseira deum onibus com passageiros saindo pelo ladrao, onde perce-hera urn rapango ridiculo, de pescQ(;oesqueletico e cordaoalgum no feltro mole. Esse [overn ficara desassossegado,pols pensara que esprerne-lo ha, de proposito, urn senhor,e tal ato repetir-se-a sernpre que subira ou descera alguerndo onlbus .

    Protestos havera, e serao proferidos em voz que sealteara, mas tao incondicional sera seu desdern que 0 ad-rnoestado nao se rebaixara a responder. Em panico, 0 rapa-rigo escafeder-se-a sob a nariz do algoz e escarrapachar-se-anum lugar que vago ficara.

    Voce de reve-lo ha, pouco mats tarde, no paco de Rorna,defronte a estacao Sao Lazaro. Urn amigo es tara com ele, edir-lhe-a palavras tais que seus ouvidos escutarao: "0 sobre-tudo nao assentara direito como presente, Para a futuro,para outro botao",

    26

    ,III

    l

    . "

    siNQUISES

    Rid(culo raparigo, que eu me vendo lotado urn dia emulhus cia linha 5, par tracao talvez 0 esticado pescoco, no

    Ilin p 'u cordao eu urn percebi. Arrogante e em lacrimejanteluiu, que contra 0 senhor ele ao seu lado protesta, encontra~I. Encontroes the pais darla este, vez gente cada que desce.Vll)~() senta sabre e se se urn lugar dito precipita, lsto. Pacotill de Rorna, dou rnais com ele ouvindo tarde, duas horas!I"(' no seu sobretudo outro botar, aconselha-o urn amigo1 1 1 1 1 . o.

    27

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    12/90

    AReo-iRIS

    '"

    L a val na boleia de urn ontbus marrom de gente urnrapazelho escal1dalosamente borrado: pescoco indigo, bar-bante rosa no chapeu malva. vermelho de raiva, destratanum tom verde bilioso urn senhor que nao amarela e, aover a cotsa preta, 0 almofadinha fica branco de susto eprefere azular para alvo assento.

    Na hora em que todos os gatos sao pardos, eu 0 reen-contro em frente a uma estacao furta-cor. Roxo de invela,urn amigo dlz que deve por urn botao turquesa para dar ma t scorpo a seu manto cereja.

    ',ll'",~: '

    'II

    28

    GINCANA VERBAL

    Usar: dote, baioneta, inimigo, capela, atmosfera, Basttlha,f / 1 , / lI 'spollclencia.

    E ll estava urn dia na plataforma de urn onibus pequenodl'llllIls para transportar 0dote de Mucuripe Rua, filha dol lu st r e Eng" Reinaldo Cons6rcio jardim, graca s a quem aIumpanhia Municipal de Transportes Coletivos (C.M.T.C.)IIUllo fez para aumentar 0 esplrito gregario do usuario" I 1 rI~o, nao de sentar-se na baioneta de urn inimigo, apesardt!.~dltos populares malevolentes, mas de transportar-se em1 1 1 1 1 1 1 1 < 1 e sudoripara companhia, ainda que eu tenha vistapOI' 1:1 ,nesse dia, urn jovem assaz r idicule , que levava jeito,111t'SInO nao sentando, e que de repente atacou, com voz aII/fII'l/a, urn senhor instalado ern suas costas e que 11aO era'I II rislao. Tendo assim feito pesar a atmosfera, deixou cair\ UnSLi lh a ,

    ')uas horas mais tarde, reencontret-o dando voltas porI' l'OIn urn companhelro que 0 aconselhava a por mais urn1 ,1 1 1 . ( ) no sobretudo, conselho que podia muito bern ter sidoII Illn pot correspondencia.-

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    13/90

    HESITA(:r5Es

    "I

    Onde foi, nao seimuito bern ... em uma igreja, uma latade lixo, uma fossa comum? Urn onibus talvez ... Havia ali ...mas 0 que e mesmo que havia ali? Favas, lombrigas. gota-bas? ... Vai ver que caras ... Com carne em volta, quer dizer,provavelmente vivas, I, rnais ou menos isso ... Gente numonibus, Uma das caras ... ou melhor, urn cara e nao umacara ... nem rnetade ... dava ... na vista? A Vista?... Nao seimats como nem porque. Por sua redondeza? Sua grandegrandeza? Sua megalomania? Ou melbor ... mais exatamen-te . .. por sua pouca idade e multo ... queixo? Nariz? Dedao?Nao: pescocao ... de todo tamanho, e urn chapeu multo,muito estranbo. Ai entao, ne ... quis querela ... e, alga as-sim ... com alguern pOI ali - Velho? Crianca? Hornem?Mulher? A coisa acabou ... ela bern que deve ter acabado seacabando ... eu aeho pelo menos ... de urn jeito ou de outro ...vai ver que urn dos do i s fugiu, ou os dais, sei 1.1.

    Alias, pensando bern, acho ate que vi ele de novo, podeser. .. mas ande? .. Quer dizer, 0 cara ... nao 0 Dutro, 0querelento ... e, 0 de chapeu ... A i ne . .. ele andava par ali,quer dizer, sozinho nao, ne ... tinha rnuita gente ... nao, comele nao ... 0 que e que era mesmo? Uma igreja? Uma fossacomum? Urn centro comercial? .. Eles iam pra 1 .3 e pra ca ...mas aeho que nao era coisa de grupo ... s6 que devia teralguern, acho ate que ... , amigo, conhecido, sci la, ne ... ese diziam qualquer coisa, mas 0que? 0 que? 0 que?

    30

    PRE C IS OE S

    i\.~12:17 min, num ani bus da Iinha Scorn 10 m deIe 1I11Pl'I mente, 2,1m de largura e 3,5 m de a l tura , evoluindo111,(,km clo ponto de partida e Iotado com 48 pessoas, urnIlhllvfduo de 27 anos 3 meses e 8 dias, medindo 1,72 ill e.III~uulo 65 kg, de sexo insignificante, que portava sobre a .I 1.1\'

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    14/90

    o LADO SUBIETIVaMinha Indumentarla, nos idos de hoje, punha-me

    pando de orgulho, posto que estava inaugurando urn cha-peu medito, muito jeitoso, que amcldara a meu gostoinfalfvel: urn complemento perfeito ao manto de caxemirafulva que tenho em tao alta eonta. Eneontrei X na passarelada estacao Sao Lazaro, no tnicio achei 6timo t~-lo comotesternunha enquanto brilhava no meio do vulgo, mas ele,so para estragar rneu prazer, foi logo tentando me eonveneerde que meu sobretudo e fendido demais e que preciso,acrescentar urn botao: e bern verdade que 0 maledicente,por mais que procurasse, nao encontrou nenhum reparo afazer ao cobre-coco, 0galao trancado que apliquel e mesmodernais.

    Poueo antes, eu pusera no devido Iugar urn cafajeste queme brutalizava sem proposito, culpa desses imundos omnibt,tao atulhados e populaceos justa nas horas em que me eazado utiliza-Ios.

    32

    'j

    aUTRA SUBIETIVfDADE

    (iolc, na plataforma traseira do onibus, ia ao meu lado1 1 1 1 1 dl'.\s's ranhosos como ja nao se faz mais, gracas a Deus!'1 1 '1 11 () 'U ainda matava urn! Esse at, urn moleque de unsv IIll' 'seis, trinta e nove anos, me irritava especial mente,1110 lnnlo por causa do pescocao de peru desplumado, rnais11i' liililinha cor-de-beringela enrolada no ch ape u m a rnb em -1 1 1 ' , 1 \ 1 1 , sacripanta de uma figa!

    Ilkm, a onibus ia lotado, e eu aproveitava 0 ernpurra-em-I H I I'l'l do sobe-e-desce para entrar de cotovelo no lomboill,II', T .rminou se escafedendo, 0 covarde! Pena, mal tivei('Illpo de dar uns pis6es nos seus arpeus, tarn ficar roxosII'II() o hapeu ridicule que ia levando. Faltou dizer tarnbem,I111:1 cnsinar urnas verdades ao almofadlnha, que faltava urnhot.lll no seu horrrvel sobretudo decotado dernais.

    33

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    15/90

    RELATO

    IIIIi

    Certa manha par volta do melo-dia, na plataformatraseira de urn onibus quase lotado da linha S - ho]e emdia 84 - circuJando nas imediacoes do parque Monceu,percebi urn personagem de pesco

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    16/90

    NEGATIVIDADES

    No era navlo nern aviao, mas urn meio de transporteterrestre. Nfio era de manhf nem de notte, mas ao meio-dia.Nao era caduco nem bebe, mas rapaz, Nao era ftta nemharbarrte, mas urn galao trancado. Nao era proclssao nemmutirao. mas empuna-ernpurra. Nao era mall nem arnavel,m a s ranz inza . N ao era verdade nem mentira, m as pretexto.Nem de pe nern de boca, mas querendossentar-se.

    Nao era ontem nem arnanha, mas para [a. Nem a Luznem a Central, mas Sao Lazaro. Nern conhecido nem desco-nhecido, mas camarada. Nao e piada nem mentira, mas dicade amigo: nunca acredite em conselho traduzldo.

    36

    .,

    ANl1\IISMO

    Era um a vez urn chapeu marrorn, de Ieltro mole eabast Idil~, am urna trancinha em volta pam enfeitar, urn( IllIp('LI entre outros, cujo destaque aleatorio era mats devi-dn ,~sdeslgualdades do solo e a sua repercussao pelas radasdn wI '1I10 automovel que 0 transportava, a ele a chapeu, A( ' , 1 1 1 : 1 parana, as idas e vindas dos circunstantes causavam11 V lv, () chapeu, movimentos laterals ocasionalmente assaz .Pl'ulIlIllciados, a que terrninou par irrita-lo, ele 0 chapeu,1"\llI'lit1iu entao sua ira la dele Chapell par Intermedlo de\IIil"I:! VOl. nem urn pouco de Ieltro, e que se lhe articulava aI'll', (IChapell, nurna dispostcao estrutural cuja ovolde de1 1 ' . , , ~ o n ~ n c i a , ossea, lrregularmente perfurada e recoberta111111 urna cam ada qualquer de materia animal situava-se sob~I, " I i ( ) chapeu. Depots fot sentar-se, se a chapeu, sernpor1 1 1 ' 1 1 1 l i r a r . .

    I hnas duas horas rnais tarde, a ponca mats de metro eIlwlo do ruvel do solo, em desloeamento continuo clefronte,1c''ilil,'dn Sf io Lazaro) 1&estava ele, a chapeu. Urn desmioladodill I 1 1 1 1 ( ' devia por outro batao no sobretudo ... Outre1 1 0 1 1 1 1 1 . .. . c sobretudo ... dizer isto a elel. .. E de se comer 0( 1 1 1 I1 1 (" I1 ! . . .

    37F il c u ld a d e d e B i b l i o l e c C l : n o l i l i a e G o m ' t lf lj C < l~ a oI U F R G S

    B I B U O T E C A

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    17/90

    ANAGRAMAS

    Nos naurn roah de soarnas urn pito nuds setlenveissona qeu suspoia urn dengar copesco e urn achupe ronadode drocao no gular da tifa, bravlga moe urn trouo saposgreiaque eel causava de elh esperrner de porpisoto. Tendo assimcongiranhado, se crepitipa serbo urn algur rilve.

    Uma hoar mias dreta, co-neontro no capo de Amarifedentro Osa Arloaz. Vaseta moe urn plcorneanho que helzidia: "Ovec viade troba sima mu taobo no teu subredoto",

    38

    "

    DISTINr :;OES NECESSARJAS

    Nrn onlbus (nao confundir com ninho de obus), eu( . nao como velo) urn alto capiau (nao no capim alto)

    I nIT! u m chapeu no coeuruto (nao e urn pe [a no COCQ bruto)111'1111(!0 de urn fio trancado (nada de ofidio transado), Elepi )~.~1IIa (mas nao em p6 e osso ia) urn consplcuo pescoco(11.10 com pico pes co ou coco) , Como 0 povo ernpurrava(1llst into cle polvo corno-o, emburrava), urn novo passageiro(1IHI.c TIU povo massageiro) deslocou 0 dito cujo (e naodl.,\cololl ja 0 dito cu), 0 distinto reclarnou (nao c1amou1I'lilllO dtsso), mas vendo urn Lugar vago (antes que lendo1 1 1 1 1 vulgar alvo), ali se aboletou (nao se Ali the botou).

    Mais tarde, dou com ele (e nao vou com mel) defrontel'.,I.H;ao Sao Lazaro (distinto desta sanc;ao la azaro), falando!I)IIIUm companheiro (njio falhando come urn cao bronhei-1(1) I I respeito de urn botao do seu sobretudo (a nao confun-1111' corn arres, peitudo em botando 0 seu sobre, tudo).

    39 .

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    18/90

    PAREOTELEUTAS

    Um diulo cantculo no veiculo em que circulo, limfanculo com rmnuscula bula gesticula, a sua mandibula emvirgule e capitulo ridfculo. Outro sonarnbulo 0 acula eanula, ele futi I articula, /Icra pu la " , mas seus escru pulosdissim u la , re cu la , capitula e anima 11longe seu cu .

    Em tardula hula, rumo a estacula Santula Lazula, eu 0discu lo; com um amtgulo. dlscu l ia de b6tuJas e s ob r er u lo .

    40

    VERSA0OFICTAL

    'T'(,l1hO a honra de informal' V. S1\dos seguintes fatos,'illl' pude testernunhar tao impa rc ia l quanta hor ro r i z ada -III!'III "

    Neste dia mesmo, par volta do meia-dia, encontrava-me1'1111;1 plataforma de urn orilbus que subia a rua de Corcelhas1'111 til J'ec,:50 ao Campeto. 0 dito onibus estava Iotado, e11I1'~Ill() superlotado, e mister assinalar, pois 0 bilheteiro11t'l U l nl v ar ie s ir np etr an te s em sobrecarga, exorbitando suasI(III~(L'S,gnorando 0regulamento e frisando a indu lgencra.('oIllll parada, os passageiros, ocupados em tramites ascen-

    ti'I'IIIl's descendentes tao somente privados, davarn azo a .IlIqttllal' ernpurra-empurra, 0 que foi motivo de protesto,dl'li .1 .resccntar que respeitoso, par' parte de urn probo! !lillIao veiculado. E digno de nota que, tendo se revelado11111 IlIgt'll' vago, a supracitado encetou ordeirarnente a mar-I1 1 1 1jlll' le va -lo-la a a ba ndona r pr ovlsoria m ente , segundoII~Illspositivos emvigor, 0estado vertical.

    t\('\'cs rcntarci 0 seguinte adendo a este breve relata: tiveIII) I) I'l'gistro ocular do referido cidadao, ness a ocasiaopo tc- r lnrd .s investido de seu estatuto de passageiro e inves-tlllllil ,I vln publica em companhia de LIm personagem naoIdl'llII11('itdo, Ambos procediarn em contradit6ria dlrecao e11I11111~~1111 it lima conversa que, segundo os terrnos arrola-ill I '., I!lII'l'C in d ize r respeito a q u es to es de natureza estetlca,

    I )I!(l;\~ l i l h condicoes, rago que V, S O l Indique a este seu1'1 IdOl' iI,~ ronsequencias a extrair dos fatos, bern como a11111111,'jIlL' vos parecera de born alvitre tomar para que estes

    41

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    19/90

    se repitarn, au nao se repitam, de acordo com as normasgerais de gestao ficcional que orientam a fidedigna escritu-racao de nossos services.

    42

    TEXTicULO DE ORELHA

    () c lebJe romancista XI a quem ta devemos tantasIII)1'illl l:UIgurnas prirnas, apresenta-nos desta vez, com 0 brio11111 ' sornpr deu alento a suas crlacoes, a personagens ines-11'1I'\'fVl'iS agindo em ambiente conhecido e situacoes aoIii' III ' de todos, jovens ou maduros, rernediados ou irre-111I'tl l vcls. 0 enredo transporta-nos nurn orubus onde 01 1 1 '1 ( 110pa acldentalrnente com urn enigmatico personagemIJ111' I t ' l 1 l < 1 acua-lo em lancinante altercacao, mas uma felizI I~I' rl ldade evita 0desenlace extreme. 0 livro apresenta urnh'l II!!d . ouro, onde a misterioso individuo, em conluioI 1 1 11 1 '1 1 11 1 rnes tre em dandismo, entrega-se a urn vertiginosodI log() onde aflora toda sua devassidao vestimentar, X sabeIIHIIO nlnguern por-nos em guarda contra as riscos semprel Id I I lis, c por isto mesmo sempre esquecidos, de abrir de-IIId~: ,~l'lilmos rnodestos, fechados e para todos como seuIn'l ( I, Urna grande l i

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    20/90

    ONOMATOPEIAS

    Na plataforma, toea roca, de urn 6nibus, bi bi, cia linhaS que 1&i a , ssssssss , ja e ra m eio-dia e bern, ble rn b el er n, b le rnbelern, quando urn rldiculo efebo, tsc tsc, com urn dessestapa-rniolos, ufa, virou-se e disse, hm hm, para 0 vizinho,logo com raiva, r l1 a r ha : "Nao vat nem vern, nem no vaivem,tchttchitchtra 0 pe, titica , e sern tchitchltctn, senao virobicho: au", Eo outre: rnau. Crau e pimba. Nissa, vieurn lugarl lvr e bumba, ali po e a bunda.

    No mesmo dla, pouco alern, vemvemvern, dou com amesrno coco oco, toe toe, em cornpanhia de outro efebo, tsctsc, as dais a t ag a re la r er n, tchitchitehi tchatchatcna, sabrebotoes de sobretudo (bur, brr r , mas en a o fazia urn tnozi-nho do bern bom...).

    E pirnba.

    . .'44

    ANALISE L6GICA

    OlllbUS.1'IIIIIf'nrm3.l'lllafnrma t rasei ra de um ontbus. Luga r .MI'I(Hiia.I\pf'Oxi rnadarnente.M ('lo- l la a pr oxim a da m ente . H or a.I' I ss tl g -' i r os .( u cr cl a.I" 1 1 < 1 qu ere la de passageiros. Evento.M(H:O.(:110pCLI. Pescoco longo e magro.M()~'() pescocudo, trancinha no chapeu. Personagem

    1IIIIIIIp:ll.11,1.~haque.Iill.I lin husbaque. Personagem coadjuvante." : 1 1 .1 ' : 1 1 .Ell. 'l'cr 'eire personagem, Narrador,I ' , 1 1 : 1 V 1 ' ;l S .I',II iI v r a s.l'uluvrus, que foi dito.1 . 1 1 1 \ : 1 r 'I iv r e ..( JIII)liltiO.1 1 11 1 I ll gi ll ' livre logo ocupado. Resultado.F~III~:I() S 50 L a za ro.t JOla 1101';1 depots .

    45

    'If

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    21/90

    Amigo.Botao.Frase ouvida. Conclusao.L6gica.L6gico.

    46

    INSISTENCIA

    1fIdia, em torno do meio-dia, tomei urn onibus quaselIdo du Iinha 5. No ani bus quase lotado da linha 5, ja havia

    lIIlI [ov .m assaz ridiculo. Subirarnos no mesma onibus e 0III em , qu tinha subido antes do que eu e ja vinha noIIIhus cia Ii nha 5, quase completo, pOI volta do meio-dia,I,Ill' [Indo na cabeca urn chapeu que achei bastante ridicule,'11qtl 1 subl ra no mesmo onibus da l inha S que 0 r apa z, mas1 !1I 1 p OU '0 depois, urn dia, em tomo do meio-dia.

    ( ) chapeu tinha em volta uma especie de galao trancadoI limo urn libre, e 0 jovern que estava usando sernelhantes11111.11'- '11alao encontrava-se no mesrno orubus que eu , masIIIIHI subido antes, urn onibus quase lotado, pois era meio- .II ,I,S ob a cha peu , cujo galao im ita va u rn libre, espalhava-se

    1 1 1 1 , 1 1 .ara acampanhada por urn pescoco muito, muitoI iluprldo demais. Ah! como era comprido 0 pescoco doII L'1ll ru e portava urn chapeu com urn ga l ao em volta, numnil IU S da linha S, ao rneio-dia daquele dia que podia ser urn1 . 1 . 1 PII (1rn io-dia de urn dia qualquer!

    ~) ntropelo era grande no onibus que nos transportavaHI fflO no ponte final da linha 5, urn dia perto do meio-dta,

    II 1 : 1 1 1m (' ao jovem que lei ia levando havia tempo urnI" i(),'[}()ebaixo de urn chapeu ridiculo. as choques queI' pi uduzium acabaram sub ito provocando urn protesto,

    1111111',>1(1 esse que emanou do jovem de pescocao na plata-I, u ur.: til' urn onibus da linha S, urn dia qualquer quase ao1 1 11 '1 1 1 d il l .

    47

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    22/90

    , 'IIII::,'I IIiil:!'I,I i : : I' i t . I

    Houve uma acusacao formulada em voz umida de dig-nidade of end ida, na plataforma de urn onibus S, por urn[overn usando urn chapeu munido de galao em toda a volta,e este - a jovem, nao 0chapeu - quase levou urn pescocaono pescocao, do of end ida que, de tao ofendido, poderia teresticado urn pouco mats a pescocao do jovem alern dedar-lhe urn pescocao, mas houve tambem um lugar vagoassim de repente nesse Onibus da llnha S quase lotadoporque era meio-dia au quase, e 0 lugar foi logo ocupadopelo jovem de pescocao e chapeu ridicule, que ja vinha deolho porque nao queria mais ser espremido na plataformatraseira do onibus S, urn dia qualquer quase ao meto-dia .

    Duas horas mais tarde, eu 0 revi defronte a estacao SaoLazaro, 0 tal [overn que ji i vira na plataforma do ontbus S,ao meio-dia do rnesmo dia, mas tanto faz ia , Estava com urncompanheiro do seu estilo, que the dava urn conselhorelativo a certo batao do seu sobretudo, e escutava atenta-mente. Quem escutava atentamente, para ser rna is claro,nao era outre senao 0[overn que eu ji i tmha avistado e queestava Jevando urn gaHio em torno do chapeu, na pLataformatraseira de urn 6nibus da linha S quase lotado, urn diaqualquer ao rneio-dia, au quase,

    48

    NAG SEI DE NADA

    N to vern na o, num t6 sabendo ... Ta bem, peguei a SI II 1 I 1 l' ll O c. J ta, sim. Se tinha gente? Ta na cara, que duvida,!HII III Il-lOl , tarnbem, numa hora dessas, po .. , Uns nego ali

    I' I 1 11 01 . ? - urn arrastao, mas sem encosto tinha que seruu III iclota .., Urn cara de chapeu mole? Vai saber. Nao taI 1 I I IIlPUS habito encarar barbado. Alias pra mim tanto faz.lin II' rncado? No chapeu? E , gozado pode ser, ta certo, lapi I' rH! 'g"

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    23/90

    PRESENTE

    : . : " iI : : : ,II1 , 1 'i, I' 'n W ' :' I i i ;,I;

    Ao meio-dia, a canicula estatela os passageiros de oni-bus e estes reagern: trocam mutuos pisces, Uma poucacabeca encima urn pescot;o de marcada presence e orna-secom grotesco chapeu, se inflarna e come 0pau, Vivas bocasesquentam as orelhas presentes com injurias atuais, maslogo refresca a bronca, pois a gcnte se escarrapacha 1.1dentro, em banco e sombra fresca.

    Mais tarde acontece que conselhos vestimentares saoveiculados defronte a estacoes com multiples atrios, elesconcernem urn batao indistinto que dedos pegajosos desuor bolinam de modo ausente.

    II

    50

    A C ONTE C END 0

    11~"I!!lIlcando por conta com 0 ontbus do Campeto,1'~I\ ' l 'su\sernpre passando lotado de bois, de bois, velhos,

    , , 1 1 1 1 1 10 , t' 1 1 1 1 1 1 heres. Vern ficando p a r e c i d o com saida de jogoII I I I I \ - b e I. 56 subindo na marra. Vou logo pagando aIII 1) \ \ ,111 para ficar a vontade, encarando os basbaques..u ln tit' Interessante acontecendo, fico me divertindo com

    pi !II! (I, .sscs caras de pescocao que andarn levando chapeulilll Iii' cit' t rancinha, Volta-e-rneia vern estourando lim em-11111' l ' III pur ra no m eu -deu s-q u e- isso dos sobes-e-d esces.1\lIIln llrundo calado, na minha, mas os de cordao vernII IIld,,!ll' strilar com as vizinhos, ficam dizendo set-la-o-iI' II IIIIS para os outros, so estou sabendo que tern se enca-Illdo l u r ib u nd o s, Mas depois vao logo ficando11 11 '" II1I rudos, estao sempre com medo de lim pescocao nosII!~'I II(.,!It'S, I\i, vao saindo de fininho e se sentando onde e11IIIIII vIII cla ndo .

    " I Il fl l 'L ' que vou voltando do Carnpeto, ando passandoII -III !III(' ,~'.~ta

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    24/90

    PRETERITO

    ,"

    Meio~dia paSSOiU.Os passagetros subiram no onibus.Picamos apertados, Urn cavalheiro de pouca Idade portouna cabeca um chapeu envolto em tranca a guisa de tira,Ostentou alongado pescoco. Queixou-se junto ao vizinhodos golpes .que este the Infllgtu. Assim que percebeu urnlugar vago, precipitou-se sobre ele e ali desmflmgutu.

    Reapercebi-o mais tarde, em frente da e :- .t ac ;ao Sao Laza-ro o Vestlu-se com urn sobretudo, e urn amigo que se encon-trou ali, passado, fez-lhe uma observacao, Foi preciso suporurn botao suplernentar .

    II

    . . '""

    S2

    , IMPERFEITO

    E , . I rnelo-dia. Os passageiros subiarn no onibus. Esta-IIIIlU,~ tip rtados. Urn moco levava na cabeca urn chapeu

    t ll lI ' 1IIIIIa em volta urna tranca em vez de tira, Seu pescocoI I I \n'llprid demais. Oueixava-se ao vizinho dos espremo-III 111"l'evava. Se percebia urn lugar vago, partia e se sentava.

    Mnls tarde eu a percebta defronte ~ estacao Sao Lazaro- ,IIII III{II) se vesna corn urn sobretudo e urn amigo que ta com~III~'.qtllva omentando que. assim nao dava, era precise queP ' P ,( ',~,Sl' r na is u rn b ota o.

    53

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    25/90

    ALEXANDRINOS

    ,~

    Acalc;ada-se subito urn 6nibus SSofrendo 0 sttio preste da turba; tal pes-Te suomdo, se desse, por onde se desceE, no sobe-e-desce, eu, sern que nada pudesseVi-me acuado no fim da plataforma, esseValhacouto de tipos de reles espeoe,Dos quais f6ra conspfcuo 0 horrendo especimeA cava despudorada e chapeu cafajeste,Nao houvera tambem minimo mequetrefePisando, mall, seus pes, se - e sempre que _ dessePe, ao sabor do sobe-e-desce, sern finesse,Ate que 0 do chapeu esbocou verbal fregeContra 0 vi! catatau mas, antes que lhe pregueo tal boa bolacha, mal disse ja se escafedeAte ao primeiro banco e ali al1'\olece.Voltando para casa, 0 que me acontece?Dou com 0 rnesmo tipo em vivrda quermesseC'outro dandi da Iaia: "Caso lhe interesseSaiba que seu mant6 outro corozo padece',,,,Replicando lesto com lfdimo peDe olvido: "Assirn e, pols que se lhe parece".

    'I

    54

    POS-ALEXANDRINOS

    Vm dia, 1

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    26/90

    POLIPTOTOS

    " ; ' :

    Tomei urn ani bus cheio de contribuintes que estica-vam sua mtsera contribuicao a outro contribuinte que es-candia sua barriga de contribuinte atras de uma gavetinhaque permitia aos dernais contribuintes continuarem seutrajeto de contribuintes, Ali notei sobretudo urn contribuin-te para cuja esquisitice contribuiam urn chapeu mole decontribuinte com tal trancinha em volta como jamais con-tribuinte algum contribuiu para envergar. De repente 0ditocontrrbuinte interpelou 0contribuinte vizinho reprovando-lhe amargamente 0 habito de contribuir para seu rnal-estarpisando de prop6sito nos seus pes de contributnte sempreque outros contribuintes eontribuiam para a confusao su-bindo ou descendo do onibus para contribuintes. Depots 0irritado contribuinte aproveitou a contribuicao do aeasopara sentar-se num Iugar "para contribuintes que vinha deliberar urn contribuinte qualquer.

    Algumas horas mats contribuindo, percebi-o no Paco deRorna, entao coalhado de contribuintes, em companhia deoutro contribuinte que contribula para sua elegancia comperitos conselhos sem a menor retribuicao.

    56

    APOCOPES

    E to urn ani Iota. Repa num ta eu pesco e de gira, eque es~ade cha com urn cor tranca. E fibra corn au ~la, que~ des al De foi se sena usa de lne pi nos pes sern que su au .lois urn lu va. . e

    Vott-a dei com e anca de urn la pa ou com urn arm quI . b do seuIhe da conse de elega, e que mostra pa e 0primei asobretu.

    , 57 .~-ll'O~ I t _ 1 C W r : ; u( 'I ..I;~II .. .. . . . .. ' 6 'B U G 1 E C A

    j J ,\ S,-

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    27/90

    AFERESES

    Mei nibus tado.Parei paz jo coco ra rafa, tava peu daocado. Le cou vo tra lana, cusava sar pre bia cia guern, Polstar-se gar gou.

    Tando, le dando do ra tra migo va selhos legancia, travara Ie meiro tao bretudo.

    58

    s iNCOPES

    Pguei nonbus cheo djntje. Vi ~6gu rpaz de pescocorn-pridjrafi xapeu cocornao tira. Elsi m~eu arklama cuotroh;lbakaprvetava trnscao prda nel. Ensgda sijg6 nu luvago.

    a volprkaz, dei cuel no Pasrorn, irarrugalt dad u'a c;:aod -lgans abrutao ..

    59

    r'

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    28/90

    QUER D IZER , N E

    ~I

    Quer dizer, ne, eu entendo, ne: urn sujeito que se metea te pisotear, s6 da pra ficar com raiva, ne ... Mas, depois detanta reclarnacao, ir assim correndinho sessentar feito urnmaricas, nao da pra entender, ne. Quer dizer, acho que foibern 0 que eu vi, ne, outro dia na plataforma traseira do 5,ne: ca pra nos, eu achava a pescoco dele meio comprido,mas a trancinha no chapeu ate que era engracadinha. Querdizer, ne, pro Marcia nao, ne, que eu [arnais da minha vidasara com homem estiloso! ... Mas como eu ia dizendo, De,depois de esgoelar que 0vizinho estava pisando nele, enfioua viola, ne, 130dentro, De, quer dizer, assim sem mais nernmenos sessentou. Entao ne, nao da, ne, se fosse eu, a bolachaque eu pregava. Quer dizer, ne, na orelha do pesudo.

    Ai ne, tern umas coisas engracadas na vida, quer dizer,ne, nem da pra contar, quando a gente menos espera, da decara com a demo. Foi, ne, umas duas horas mats tarde equem e que eu vejo, De, na frente da estacao? 0 magricela,pots e , ne, 0 pr6prio! Eu s6 podia, ne, quer dizer, fiquei laescutando os trique-triques que levavarn, ele e outro sujei-tinho da mesma laia, que ia dizendo: "Poe mais alto 0botao". Ai eu olhei bern, ne, por pura curiosidade, querdizer, ne, era 0 de cima.

    : I:: :,. '~;:'" ,"".'

    ,.,I,

    60

    EXCLAMAc;6ES

    Que coisa! meio-dial hora de pegar 0 onibus! ~uanta),\-nte! quanta gente] que apertol gozad~! aquele ,all. queIocinho l e a pescoco entao! setenta e cinco centimetros.tinncando! e 0 galao! 0 galaol amda nao tinha reparado.que gozado!.mais gozado aindatgozade.sim~! em volta dorhapeul E agora deu de ralharl ele l 0 do galaQ no chapeulro m 0 vizinno I dizendoq u~?! 0 outre? em cima dos pesdele?l nhhh. vai acabar e m tabefe! 'vai simI CO~OI qu~nada?! vai sim, garanto! e isso ail mete broncal val fundo .chupa 0 olhol desce 0paul firme! ue ... fugiu da rinha ... paraxe aboletar num canto! depois de enfezar tanto.

    Esta e a maior! de novo?! ~ e ele siml logo ali, olha. naIr nte da estacacl e , andando para cima e para baixo! comoutre fulaninho! no maior fuchicol ai, vamos ver 0 que elue eles tanto tern para se dtzer ... como?! essa naol. .. queprecise botar mais urn botao l no sobretudo! e! \ no dele!!!

    61

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    29/90

    ENTAO

    . Enuio 0 Onibus chegou. Enta .._VI urn cidadao que h 0 eu pegueI ele ..Entao eume c a rnou a ate - E -pesco~ao dele e a trancinha h. n~ao~ ntao eu vi 0a esbravejar com 0 vizinho no c ap_u. ~ntao ele comec;ouEntao foi correndo sentar. que entao pisava nos pe s dele.

    Ai entao eu dei com ele de novele estava com urn col ega 0 0no p~

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    30/90

    . -

    . povAo.Er,am me~udia passada quandu a genti pudernu pega

    ueci. Ai a genti subimu, [untarnus cararningua rnais u men6nein Dum paga ..Ai dispois a genti vimuorm gozadu, cumpescoscau dipiru iurn fiu TIll taparniolu. Eu oiei ne, prucausa ~ui era gozadu quanda! dispois u omi puxo briga cuotrorni ladu ladu la deli. Ai entau elidici pru otro ei vosse ai6~a meus pe aqui, tudu i C ; U xorarmngando pru causa qui eradi proprositu qui eli axava. Mais e l i tinhumedai, danadu dileva nu qengu. Dai intau eli foi sissenta, tudu orguuiozu.Dispois a genti fumo na estassau cornpras pacagt pru treindas o~se. mais t~v~m pobrerna i n6is perdeu utrein daf quia genu vrmuorm dmovu cuuamigu iu amigu disia acim praeli: "Bototru botau nu cazacau", .

    64

    OCORRENCIA

    - No dia da ocorrencia, a que horas passou 0 onibus.ln linha S das 12:23, direcao Campeto?

    - As 12:38.- Havia muita gente no indigitado onibus?- As pencas.- Algum elemento particular?- Urn elemento particular de pescoco comprido e tran-

    I;it no chapeu.- A atitude do elemento era tao suspeita quanta aindurnentaria e a anatomia?

    - No corneco, 0.10: 0 elemento se comportava normal-mente, mas depois se alterou e foi causa de uma altercacaoque perturbou 0 desenrolar tranquilo da viagem.

    - Vamos passar a descncao objetiva da ocorrencia ..- 0 elernento em questao teve urn acesso de folia,

    referido no manual como ciclottrnicc-paranoico, talvez sobefeito de estrupafeciente, esrnalte de unha au cheirinho-da-1016. .10 foi possivel proceder a verificacao.

    - Seje mais objetivo.- 0 eiemento interpelou urn elemento vizinho corn

    trejeitos de choro e disse que 0 interpelado estava aprovei-tando para pisar proprositadamente nos seus pes sempreque subiam ou desciarn outros elementos.

    - A declaracao tinha fundamento?- Desconheco.- Como se encerrou a altercacao?

    65

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    31/90

    - Com a fuga pr cipitada do-menor, que foi ocupar urnassento vago.- A altercacao deixou sequelas?- Menos de duas horas mais tarde.-: Ern que conststtramj- Na reapancao do eiemento.- On de e como se passou a ocorrencia?- Passando no Paco de Roma.- Qual era a atitude do elemento?- Ia para cirna e para baixo, tornando uma li~ao deelegancia.- Escreve al: ocorrencta de somenas importancla. Deixa

    eu assinar. Porra, t o atrasado pro meu curso de ikebana.

    66

    COMEDIA

    Ato ICena Ia p lata forma traseira de urn Im ibus 5, meio-dia de urn dia

    quatquer.TRO CA DO R - Passinho a frente, faisfavo.Espreme-e spreme de passageiros .Cena IIo tmibus para.TROCADOR - Espacinho pra desce. Sobimais? Lotado!

    Tocupau,

    At o IICerra IMe sm o c en ar io .P R IMETRO PAS SAGElRO (jovem, pescooio, trancinha no cha-

    I J e Ll ) - Quer me parecer, distinto, que 0 senhor pisa nosmeus pe s de prop6sito quando passa alguern.

    S EGUNDO P A S SAGEl RO (da de ombros) - ..., 67

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    32/90

    Desce outro pas sage iro .P R IME IRO PAS SAGE IRO (m anologand o em voz alta) - Oba!

    Urn Lugar vago, ainda quentinho! Na faixa l (dirigindo-se aopublic o) - Tal assento fica livre num momento cntico, e urnconvrte ... 0 que fazer? Ficar no campo de honra, a custa dosmeus pes? Subtrair-rne as injtirias deste cidadao? Sentar ounao sentar, eis a questaol (hesita, vane apalco ea platei comur n olhar agantad o, d epois se precipita e tom a posse d o lugar.)

    Ato III

    J', .

    Cena IPara de Roma.UMJOVEMELEGANTE (a o p rim e iro p as sa ge ir o, a go ra p ed e str e)

    - Grande demais a fenda no seu sobrerudo, devia fechar urnpouco, poe mats alto 0 botao,. . iI: Cena II

    A bordo de um tm ibus S passando em {rente ao Paco deRoma.TERCE IRO PAS SAGE IRO (para 0 quarto) - Olhala, e bern 0sujeito que agorinha mesmo estava as rusgas no meu onibus

    de ida. Tamanha coincrdencia nao po de ser obra do acaso!Vou aproveitar pruma cornedia em tres atos.

    :I,

    68

    APARTES

    o onibus chegou vomitando gente. Se ell pelo menosronseguir por 0pe n o e str ib o . .. a ca bo [a ze nd o u rn c an tin ho pmtnim. Urn dos passageiros v is o r na is ra ro ! u rn p es co ca co e estac ar a d e b os ti io estava com urn chapeu de feltro mole contor-nado par uma especie de cordeleta e~ lugar da t~ran ii o d e i~~tie se r pretensioso e pos-se de repente vixe! quequideu no gaJo.a vituperar urn vizinho 0Dutro niio dd a minima ~T"O papa d~leque acusava de pisar propositalmente parece galinho de bngau tas v ai v er q ue e b ol a mu rc ha nos seus pes. Como vagou urnIugar no onibus quequeu disse?virou as costas e foi ~entar-se.

    Aproximadamente duas horas mais tarde Val =:tanta coincidencia estava no Paco de Roma com urn amigormpoado com a mesrr~a[arinha que inclicava_urn botao do s_e~sobretudo pra qu e ta nta p e ruag em s e is to na o vale urn tos tao .

    69

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    33/90

    PAREQUESE

    Botararn uns bostas abondantes bobeando no onibosque os transbordava na boa bota com os bonus do's bornaisaborrotados. Urn born bota-a-boca-no-trombone esbocouse quando urn bocal de bob6 abommavel se aborreceu comurn probe bobo e botou 0 verba: "Bonito! meu bolo e sobo seu! Bote alern a bota." Quase aeabou em esbornia, masa vibora desbocada, mal deu a bote, borrou-se e escaboliude embocar urnas bolachas no rabo, indo aboletar-se nurntamborete onde desabou como urn rebotalho.Ao cabo de umas boas, esborrei com a bocal em boehi-eho com outre bobo: "Tobo! Bota 0 botao no bolso!"

    70

    FANTASMA TIeO

    Ns, guarda-caca da Planicie Monceu, hemos honra aVa . Sra. relatando por extenso a Inexplicavel e malignapresenca, a data de hoje, dezasseis de maio do ana da gracad mil setecentos e oitenta e tres, as redondezas da portaonental do parque de S.A.R.Dao Filipe, sagrado e consagra-do duque de Orleas, qui

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    34/90

    tal stno, pareciam ali regozijar-se, como plantados pes decouve: para despiste de sua estancia inmunda, houveraminscnto "Paco de Roma" num mural em marcada blasfernia.o quidao, recern-chegando, foi galvanizado por nova crisede desassossego, e lacrirnejante lamentou-se a couve rnaisproxima: "Ele me espezinhou", 0 que dito desaparecerarn,avante ele, a seguir, 0 chapeu. Com 0 que, e ernpos de muyextenso e reflectido modo haver outrossim relatado, paraVossa ciencia, 0 fen6meno acontecido e sua nao menosextraordmana liquidacao, You-me deste passo a taverna doPaulistinha para esvaziar urn chopps.

    72

    FILOSOFlCO

    A cidade pohfonica que se afirrna ho]e, expandindop < I ['a alern do eurocentrismo historista e redutor novosarcanos do inteiramente outro, oferece agenciamentos at6-picos multivocais e multi-sensoriais onde, ja desinvestidosda propria ilusao neurotizante de possessao formal do ser-objeto como (mica fonte do desejo, podemos enfim orques-t ra r series infinitas de relacoes cuja fractalidade constitutivaileixa repercutirern, como numa imensa camera eletronicade ecos iconicos, as rmiltiplas instancias do ser p6s-indus-Irial, para quem 0 aparente caos videoacustico reveste alorrna Indica da afetividade confluente e da sexualidadeplastica como reatualizacao cognitiva constante, muscular) neurolingufstica, da historia paradamica em sua espiralinc ssante, angtco-luciferina, cintilacoes fugazes onde re-hrilharn contudo, fazendo estilhacar-se em miriades signi-l"icantes 0 silencio terrorista da funcao forclusiva, traces daaspiracao vocativarnenre multifacetana que permite ser aooriginario uno tangencialmente conjugado em espezinhan-te atracao pelo baixo dia-a-dia, no que falo comunga e fala,palavra cotidiana de si mesma olvidada, como resgate doalto em vortical avesso. 0 locus muscular privilegiado tor-na-se feixe de enunciacoes conceito-afetivas voluntaria evoluntariosamente abertas na aleatoriedade vetorial cujaropologia alternada justap6e uma variedade de expansivascxpansoes, universes interiores em convivial secancia peri-odicamente provavel e holisticarnente indeterminada, 0que permite as maquinas desejoso-desejantes indexadas ao

    73

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    35/90

    ?roces.so formal de traslado meta(eu)forizante as mais po-Iisserntcas arquiteturas de intra-engrenagem pulsomocio-naI, onde a descoberta se alia ao risco sempre presente deuma reciprocidade falha, expressa em proposicoes rec1usasna logica agressiva remanente: estamos af diante do 6bviosintoma de angustia frente a devorante banalidade do sam-bodrarna da histona, que afeta os sirnulacros antropomorfosde forma tanto mats previstvel quanto mais se acentuamsuas pulsoes estilfstico-primarias, aqui sob a forma de mor-bido ap@ndice. cervical, acola de fina materia serpentina,como se uma mexoravsl forca centripeta encerrasse 0 des-ser nu~a. estase modal-representativa, surda a quaisquerpotencialtdades da supernova catastrofe que nao seus cantosanarm6nicos; e pos-tragico, certo, par6dia prenhe de paixo-es patetico-pIat6nicas, mas virtualmente condenado a am-bivalencia signica uma vez superado 0 f6rceps totalitario dasuperacao: amor-6dio, amor6dio, arnodio esquizicarnenteUDS.

    Na mesma teia episterrnca, outro acontecer fortuito ei1uminado pela coruscante brilhancia do efernero a ritrnaro caos urbico em provisorlos ordenamentos de virtuaisposstveis e de posstveis virtuais, emprestando urn eixo her-meneutico privilegiado a desconstru

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    36/90

    DESAJEITADO

    No costume escrever. Quer dtzer, nao set, Eu bern quegostaria de escrever uma tragedia au urn soneto au uma ode,mas tern regras. Elas me atrapalham. ao e para amadores,nao. Tudo isto ai ja esta bern ruinzinho. Enfim, Ainda hojevi urn caso que eu queria pOr no papel par escrlto. POr nopapel par escrito nao e hi multo born. Deve ser uma dessasexpressoes feitas que desagradarn aos leitores que leern paraos editores que estao procurando a originalidade que lhesparece necessaria nos rnanuscritos que eles publicam depotsque eles foram lidos e que eles acharam desagradaveisexpressoes do genero "pOr no papel par escnto", mas na odeixa de ser a que eu quero fazer com este caso que vi aindahoje, se bern que eu seja LIms imples amador atrapalhadopelas regras da tragedia, da par6dia e da comedia porquenao costumo escrever. Merda, acabei voltando 1

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    37/90

    DESENVOLTO

    1

    Subo no tmibus.- Vai pro Campeto?

    ao sabe ler?Ele moi minhas passagens na maquininha que leva na

    barrlga.-TaL- FaM .Olho em volta.- Escute aqul, cavalheiro.o sujeito esta de chapeu com um fio trancado,- 0 senhor nao pode prestar rnais atencao?R is c o d e p e sc oc ac o.- Mas assirn nao e possfveI!La se vai aboletar num banco.- Que coisa - digo com meus botiies.

    2Subo no tmibus.- Vai pra Contrescarpa?

    ao sabe ler?- Ta bern, nao precisa encrespar.

    78

    Se u realejo sempre moendo a s p as sa ge ns q ue ele me devolveuioidas c om u rn a rz in ho sup e ri or .

    - TaL- FaM .Passando pela e s ta pl o S ao Laza ro .- Olhala 0 sujeito de agora ha pouquinho.Espicho a orelha.- Voce devia p6r outro batao no sobretudo ...Mostr a o nd e .- ... decotado demais ...E como.- Poize - d ig o c om meus bot6es.

    79

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    38/90

    PARCIAL

    Depois de uma espera desrnesurada sob urn calor docao, 0 6nibus apontou afinal na esquina e veio frear encos-tadinha a calcada, Algumas pessoas desceram, outras subi-ram: eu com elas, todo rnundo de montao na plataforma. 0trocador esprerneu veementemente uma buzina e 0veiculoretornou a marcha, Enquanto eu destacava do carne aspassagens que 0 hornern da rnaquineta ia moer na barriga,pus-me a inspecionar os vizinhos. S6 barbado. De rnulher,nem sombra. Que saco, nada de lasquinha. Em volta come-cou uma fuzarca e logo descobri a causa: urn moleque deuns vinte ou quarenta anos, usando uma cabecinha em cimade urn pescocao, urn chapelao em cima da cabecinha e umatrancinha das mars traquinas em torno do chapelao, faziaurn berreiro monstro.

    Sujeitinho mais barato, disse comigo.o sujeitinho nao tinha a menor compostura. Resolveuenfezar 'para cima de urn pobre cidadao que acusou deesmigalhar seus pes a cada sobe-e-desce de passageiros. 0outro encarou feroz seu focinho, procurando uma replica aaltura no repertorio que ja vinha sern duvida carregandoatraves de todas as circunstancias da vida, mas ficou mudode raiva, perdido no pr6prio arquivo. 0 jovem, temendo unstapas como resposta, aproveitou a assento que a chanceviera de deixar em liberdade e aboletou-se precipitadamen-t e o

    Desci antes dele e DaO pude continuar observando seucomportamento. J a 0 apagara da mem6ria quando, duas

    80

    horas mais tarde, eu no 6nibus, ele na calcada. demosnovamerite de cara no Paco de Roma, larnentavel comosempre. . hi dCaminhava para cima e para baixo em cornpan ia .eurn camarada que devia ser a professor de elegancia e ~ueo aconselhava, com pedantismo dandesco, a diminutr aabertura do seu sobretudo com urn batao adjunto.

    Sujeitinho mais barato, disse com rneus ~ot5es.Depois nos dais, eu eo meu 6nibus, contmuamos nosso

    aminho.

    81

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    39/90

    SONETO

    De glabro focinho e coco trancado,Urn chato mocinho de melanc61icoPescocaco ia, meridiana c6lica,Tomar urn onibus quase lotado.Veio a primeiro, esse au talvez urn S,Cuja plataforma, infima espaco,Portava em seu seio perverse rtcacoAcoplado ao verso de quem pudesse.o [overn gtrafico d'outra estrofeApostrofa furioso 0 solerte satireQue, exclarna, quer causar-Ihe catastrofs.P'ca sair do aperto senta-se em vagoLugar. Passa 0 tempo. Em vasto atrioTal bruto batao diz: "Fecha teu saco!"

    82

    -- ---------- . -

    OLFATIVO

    No meridiana S havia, alern do usual odor de povo,odores outros de avo, de polvo, de corvo, de peido, dernonge, de pobre diabo, de morto, de grego, de grogue, de{latus voci, de troianc, de aqui-jaz, de butique, de brega-chi-que, de boticano, de banheirinho, de otario, de sagradave l ,

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    40/90

    GUSTATIVO

    : I

    AOnibus tern gostinho. Esquisito mas incontestavel.

    Cada urn, 0 seu. e quem provou, sabe: basta experimentar.Aquele la, urn S- urn fomo ao melo-dia, de ficar de linguade fora - J para nao fugtr da receita, tinha urn que deamendoim torradinho que dava agua na boca. a forma detras, [a vinha tudo amassado feito pacoca. Uma comilonaque desse as bocas por la teria lambido urn pirulito de unsmetro e sessenta, salgado de meia-cura e com pescoco debalzaquiano, fino e grelhadinho. De cobertura, urn fio dechocolate trancado de lamber os beicos. Sem entrar no bolo,degustamos 0chicle do banana, era rnassa mas deu no maiorabacaxi, com castanhas de imtacao, vinhas da ira e bagosde irnpaciencia coroando 0 pure.

    Duas horas depois, vimos a sobremesa: puro osso ... e taoborn: creme e redondinho!

    84

    TATILAOnibus sao bons de pegar, maciinhos quando a gente

    poe no colo e acaricia com as duas maos, da cabeca as rodas,do motor a traseira, Mas ali na plataforma, logo se percebeIIrna coisa mais dura meio tria, e a barra de apoio, a menos,que seja uma nadega, mais arrebitada e elastica. As vezesduas, dai a gente poe nos plurais. Tambern da para pegarnurn tubo que palpita com muita bobagem dentro, ou numa'spiral mais trans ada que urn terce, mai~ doce que urnchicote, mats aveludada que uma corda. E toda lima arte.utucar, com a ponta dos dedos, a babaquice humana,sobretudo pegajosa de suer.Mas se apaciencia aguenta duas horas e se enrosca nurnacstacao mal-acabada, e mole botar uma mao boba na fres-.ura espessa e subir 0 ossa fora do lugar.

    85

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    41/90

    VISUAL

    Vi5aO de conjunto: verde com teto branco, compndaoe envidracado tao bern que nao sou eu quem vat atirar aprimetra pedra so para estragar. A plataforma traseira sernCor nenhurna, cor-de-gato-pardo, para voces verern melhor.Sobretudo cheio de curvas, urn monte de S5 como urnviolao. Mas ao meio-dia, na famosa hora do olho gordo, eurn pega-pra-capar. Olhando atentamente, e possivel recor-tar no magma formado urn retangulo bege, acresceotar urnoval ocre e colar por cirna urn cone feito a mao, cor-de-bur-ro-fugido, com uma trancinha ab6bora para dar rnais efeito.Depois, espalhar meio a olho, onde der, uma boa rnanchavermelha para exprlmtr a disc6rdia e uma cuspida cor-de-ti-tica para a bile recolhida e 0 cagaco apavorado.

    S6 falta te desenhar urn manto roxo bern chinfra e cravarna fenda urn botao de arrornba, bern redondinho.

    86

    AUDITIVQ

    Pipocante e estalejante, 0 S veio arranhar 0 silenciosomeio-fio. No alto, 0 sol a prumo dava a chave. Os pedestrestocavam a rmisica de sempre, zoando como gaitas em coroslancinantes. Os mais lestos na execucao conseguiram sertransportados rumo ao Campeto, de tao cantantes arcadas.Entre os eleitos arpejantes, figurava uma flauta azeda, arra-nhada pela partitura da vida, cuja coda era uma especie deviolino de cordas trancadas: as escalas aleat6rias de urnfazedor de cimbalos tinham enfatizado seu gongo com astonalidades destoantes de urn tuba de clarineta em clavehumana. 0 onibus seguia seu moderado andante, e da suafossa advinha em surdina a toada dos executantes executa-dos pelo calor gritante, em contraponto com os trinadosque, a intervalos regulates, esgoelava 0 trocador atonal erepetitive, quando alguem por ali deu canja de repente notrombone, e irrompeu uma dodecafonica cacofonia onde osagudos azedos da flauta interpelavam a raiva profunda ecavernosa do contrabaixo: magistral, de par a viola no saxo.Suspiro, silencio, pausa e sobrepausa: ataca a marchatriunfal de urn botao em vias de passar a oitava superior.

    87

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    42/90

    TELEGRAFICO

    ON IBUS LOTADO STOP RA PAZ P E SCO

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    43/90

    PE RMUTAC ;6E S DE G RU PO SDE 5A 9 LETRAS

    Porvo umdia meiod ltado lataf ianap rasei ormat mo-nib radeu muito usnao dopar longe nceus quemo einum~e.par depes rapaz ongod cocol exibi emais chape ndoumistto uesqu barba comum ancad ntetr aftt oesem. Ntelederepe e1ou~e interp hoacha uvizin estepi ndoque sseuspsavano oposit esdepr equesu osempr descia biamou geirosmpassa. Ourapit abandon discuss amentea rsejoga aoparaigarvago remumlu.

    Orasma is algu mash revidefr tarde euo a

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    44/90

    HELENISMOS

    . Nrn hiperaut6mato repleto de petrolonautas fui martir de urn microrama em crania de metaflu~ . ' l' -tip' , ncia: urn npo-? .Icossaplgio, que forizava no acme urn petaspenclclado de calo 1. 0d .'. ~ egma, anatematlZou com toda hubrise sua macLOtraqUela eucilindrica urn efemero e anon'~tr6Po~e, 0 qual, segundo pseudolegomenava, epived::~e os ~lpodes durante a catabase dos metecos metaforiza-dos. Ta.o logo euriscopada uma cenotopl'a, peristrofou-separa all se catapultar.. Em uma cran~a histere, estesiei-o defronte ao siderodr6-~lCO estatma haglOlazarico, peripatando com urn compsan-ropo que lhe simbolava a metaCinese de urn f 1esfmcter passivo de hip6stase. .on a 0

    92

    CONJUNTOS

    Tornemos, no onibus S, 0 conjunto Ados passageirossentados e 0 conjunto D dos passageiros em pe, umaparada aleatoria, encontra-se 0 conjunto P das pessoas espe-rando. Seja Co conjunto dos passageiros que sobem; trata-sede urn subconjunto de P que e ao mesmo tempo a reuniaode C' _:_0 conjunto dos passageiros que permanecem naplataforma traseira do onibus - e C" - 0 conjunto daquelesque vao sentar-se. Demonstrar que 0 conjunto C'' e vazio.

    Sendo F 0 conjunto dos figurinhas e I f} a intersecao deF e de C, composta de urn unico elernento: a partir de urnrenomeno de espezinhamento secante, pondo ern contatoos pes de (sob os de v (elemento qualquer de C' distinto def J , cna-se urn .conjunto M de palavras emitidas por r 0conjunto C" tendo-se tornado nao vazio, dernonstrar queele se cornpoe do elemento unico [.

    Sejam agora P 0 conjunto dos pedestres presentes de-fronte a estacao Sao Lazaro; If, f) a mterseccao de F e de P ,B0 conjunto de botoes do sobretudo de t. B' 0 conjunto dasposicoes possiveis para os bot6es segundo r. Demonstrarque a injecao de B em B' nao e uma bijecao.

    93

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    45/90

    R EA C ION ARlO

    ~ 6nibus chegou, e logtco, com gente saindo peIoladrao 0 intoleravel "passinho a frente, por favor" dobilheteiro. 0 3 0 fossem a jornada de otto horas e os tgnobeissindicatos, nao haveria tais desmandos, Alern do mais, 0povo e indisciplinado, runguem respeita nada neste pais! Aprova e que, para acabar com a pouca-vergonha, e precisodist~ibuir senhas obrigando esta gentalha a respeitar a fila,senao em dois tempos isto aqui virava bagunca. Hoje mes-mo estavarnos ali esperando, bern uns dez, com urn sol derachar_e ai~da por cima 0 onibus ja chegou lotado, vi logoque nao tinha colher-de-cha, enrao resolvi ir dando unschega-pra-las e berrando "0ficia1. II ao mesmo tempo, nao ea toa que ando sempre com urna carteirinha riscada com ascores nacionais, para impor respeito - funciona sempre,cobrador e bicho burro - e acabei subindo: afinal, nao iaperder rneu negocio por causa de urn ze-povinho que parecenao ter nada melhor para fazer que peruar na fila. J

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    46/90

    PAl-DOS-BURROS

    Nrn intervalo de tempo correspondente a duas passa-gens consecutivas de urn dado ponto da esfera celeste pelomeridiano superior OU inferior do lugar, por volta da horaou memento que divide ao meio 0dia alumiado, no estradoda retaguarda de urn vetculo autornovel para transportepublico de passageiros com itinerario preestabelecido CO[-respondendo a decima-oltava letra do alfabeto, fixei a vistaem urn individuo infame, despreztvel, biltre, canalha, coma parte do corpo que liga a cabeca ao tronco excessivamenteestendida em sentido longitudinal, e expondo uma peca defeltro que cedera a cornpressao, munida de copa e abas edestinada a cobrir a cabeca, onde urn corder delgado eentrelacado de tres OU mais madeixas, passando-se alterna-darnente a madeixa da direita ou da esquerda sobre a(s) dorneio, fazra as vezes do tecido reto e fino, de fio natural ausmtetico, cuja largura nao ultrapassa, em geral, 40 cm, usadopara atar, ornamentar, debruar etc. Num dito ou ato repen-tina, irrefletido, a Individuo infame, desprezfvel, biltre,canalha acima dirigiu a palavra a seu limitrofe ou confinan-te, demandando explicacoes, levando em consideracao fato de que a pessoa proxima a quem se dirigia estava-lheesmagando a parte inferior da perna, articulada com esta eassentando por completo no chao, com suas proprias partes,tudo isso intencionalmente e por querer au acinte, adrede.Renunciou ligeiro, em muito pouco tempo, ao vozerio debriga e foi se dar boletos em urn espa

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    47/90

    HAIKUE esse 0Sestribo pescocao

    rebordosa e retiradabotao na moda

    estacao

    HAIKlKAIo onibus chegou

    Urn carinha enchapelado embarcouo pau quebrouDepois na estacaoRolou papo de batao

    98

    VERSOS L IVRE SAOnibuscheiocoracaovaziopescocaotrancadocordaotransadopeschatospes pesde chatopes pes pesachatadospe s sobre pe se 0 escuro encontro no hall da estacao, milolhos

    tarots apagadosdo coracao, do pescoco, do cordao, do pe

    frioe chato como urnbotao.

    99

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    48/90

    FEMININO

    Bando de palermas! Hoje, ia pelo meio-dia {urn calotiio,ainda bern que tinha posto urn pOL /CO d e odorono, seniio 0ves tid inho {e ve de es tacdo - Lim to ma ra-q ue -c aia e m organdi,um sonho! e 0 p re co e ntiio! que m fe z fo i e la, a costure ira - um aamiga da Calu, se quiserem dOLI 0 endereco, ela trabalhadireitinho, num instante ea inda da 0 pano, quase de graca, quebobai), pertinho do parque Monceu (e mais bem frequentadodo qu e 0 Luxemburgo, s6 deixo a menino it brincar le i porquefica ao lade de casa, mas tambem qu e ideia tel ' pelado na suaidadel), 0 ombus passou cheinho, mas fui fazendo charrnepara 0 trocador e me deixararn ernbarcar. aturalmente 0bando d grosseiroes comecou a brandir furiosamente assenhas, mas e eu c m isto! 0 onibus ja ia longe ... e eudentro. Estava urn horror! Fiquei ali superespremida e ne-nhum dos marmanjos refestelados na cabine pensou em selevantar para me oferecer 0 lugar , Uns cafajestesl Do meulado, ia urn rnocoilo caindo de charrne (e chique imo a trancaem volta, em vez de Lima fitinha sem graca, e depois 0 felt-fadesestruturado e 0 pardecu verde-limdo-da-China, eu s6 tinhavisto na revista Onda, tao primeiro mundol), pena que 0pescoco era urn tantinho espichado pro meu gosto (a Calub ern q ue diz que , se um hom em te rn uma parte saliente - urnnarigao, po r exemplo, ou 0 polegar=, e que 0 resto ... eu par mimniio acredito muito nessas invencionices ... se bern que, a s ve-z es . . . ). AqueJa sirnpatia passava 0 tempo todo se rernexendo,eu nao entendia porque ele nao tentava logo alguma coisa,urn grace]o, uma casquinha, sei Ia! E tlmido. pensei, e nao

    100

    estava completamente errada, pois nao e que de repente serneteu a cnoraminga r porque outre homern (tim bagulho)estava esmigalhando seus pes de proposito, ele dizia. SeFosseeu, quer dizer, se eu fosse 0 rapaz, metia-Ihe a mao nacara, mas 0 paspa1ho preferiu sail' eorrendo e se aboletoua sim que viu urn iugar que, alias, nao pensou nem urnminutinho em me oferecer. Oque a gente DaO e obrigada aaturar! Eno pais do galanteio, ainda por cima! Urn nadi~hamats tarde, voltando das Casas Taprati (tinha tim cola daAzedinha Laiala, roxinha com petipods cor-de-jaca e umasmeinhas acat acompanhando, um luxo! Ld na aer6bica asperu as viio se babar de inve ja, pe rguntar em que shopping eufui, mas niio digo nern mortal), la vinha eu passando p~lafrente da Sao Lazaro (ia sentada des sa vez) quando reparei ...adivinha!... ossa, que boca, menina! ... ,0 proprio, s6 quedesta vez urn amigo (Lim gato, n ern te con to l) estava lhedando (a/em de tudo, entendidi simo!) urn conselho de d~co-te (mas eu acna qu e pro v erd o um capotinho assim = : cal~ado,a/em d e v es tir b ern , e [resqumho) . Eu bern que olhei, fingmdoque era por causa do decote, mas vai ver ,q~e nem. selembrava de mim, 0 imbecil nao deu a rmmma: Alias,nenhurn dos dois. Quando eu te digo ...

    101

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    49/90

    TRANSL4~AO

    Urn diabasio, por voltaisrno do meio-navio, no plata-naceo trasflor de urn onic6lise B, perturbador do parrafarMondubim, reparti num cafarnaum de pesga lonita demao,exigindo urn chapeu-de-coiro com urn barbarense em lu-gente do fiteiro. De repercussivo, interpolou seu voador-cas-cudo, achatando que 0 outubro piscamentava nos seuspeadouros de propriaense, sem-sal que subjaziam ou descer-ravam passamanarias, Abanicou rapinantemente 0 disente-rico para se jogralesar em urn lugente veadeirense.Hordeinas mais tardtvagas, na camisa-de-venus paracasacao, eu 0 reverbero defumado ao estacionarnento SaoLourenco do Ipixuna em anirnista conversao com urn cole-gtense que lhe dardejava urn consentimento: "porangueirourn botareu no teu sobrevindo".

    102

    LIPOGRAMAS

    1

    o evento se deu com 0 sol no zenite, nurn onibus designa S cheio de gente. Presente, entre outros, urn rneque-trefe de pescoco cornpriderrirnc, com urn esquisito bone elim fio entretecido pendendo. De repente, a refetido resol-veu discutir com 0 vizinho, suspeito de bulir-lhe os pesmelindrosos nos sobes-e-desces do publico. Contudo, logose esgueirou do diferendo, temendo uns pescocoes, e ern-preendeu 0 preenchirnento de urn sitio disponfvel.

    Uns bons momentos depots, dei com ele de novo emfrente do receptive edificio Bento Leproso, em conspicu~gremio com urn tinhoso de seu proprio estofo, cujos ~es-prop6sitos sabre sobretudos e bot5es escutou embevecido.

    2

    U r n dia, com 0 sol nos pmcaros, subi num onibus dalinha S lotado. Ia la urn rapaz com 0 gogo muito comprido,usando urn tapa-miolos fofo cuja fita fOra substituida porurn fio trancado. Subito, 0 tal dirigiu a palavra ao vizinho,cuja sanha a plantar os cascos nos sapatos do apostrofadorarruinava 0 pouco humor do [aneta. Abandonou logo a

    103

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    50/90

    3

    discussao para DaOtornar uns tapas, indo ocupar urn postovago.Algumas horas transcorridas, vi-o uma nova ocasiao ao

    longo do logradouro publico Sao Lazaro, caminhando paracirna ou para baixo com urn amigo a constatar: "ha muitaabertura no casacao, bota ali outro botao",

    Tudo cornecou com 0 sol a pleno prumo, gracas aosceus logo chegou 0 frescao S, pena que lotado. Dava nosolhos, Ia dentro, urn tresloucado de pescoco longo emexcesso e touca mole decorada com urn cordao tranc;ado.De repente, 0 escandaloso esbravejou que 0 pobre senhorao lado massacrava seus artelhos por querer, nos sobes-e.desces dos transeuntes. Contudo, furtou-se em poucos se-gundos a altercacao, temendo urn tostao na cachola, eaboletou-se logo nurn Iugar vago.

    Algumas horas ap6s tal fato, la estava ele de novoperante meus olhos, defronte a estacao Sao Lazaro, batendopernas com um semelhante que Ihe dava conselhos ultra-aberrantes "bota outro batao no sobretudo arreganhado".

    4

    Um dia, nas cercantas da faixa meridiana, uma jardi-neira da linha S, extremamente cheia, viu-se investida pelaexpectanre leva de variadas classes que insistia em espera-ja.Ali se inseriu, entre as demais pecas raras, urn infame rapaz,

    104

    cuja garganta inenarravel alicercava cabeca e chapeu semestrutura, em que se exibia uma trancinha nada banal. Derepente, semelhante crapula insurgiu-se em reprimendasdirigidas a urn circunstante que, dizia tal impetrante, espe-zinhava adrede seus pes, sempre que subia e descia a rale.Incapaz de levar adiante a rixa, ja que temia a lidima furiade sua incauta vitirna, escafedeu-se para derruir sua vastanulidade em lugar virgem.

    Duas horas mais tarde, revi a tal triste figura em frenteda gare Saint-Lazare, a carninhar para frente e para tras empresenca de urn pilantra de sua especie que lhe dizia: "fechamais tua casaca".

    5

    o acontecimento referido adiante foi presenciado pormim a bordo do transporte coletivo S,indo Iotado certo dlasob 0 sol t6rrido. Entre as passageiros esprernidos, destaca-va-se a singelo exibindo modiglianesco pescoco e tampa namoda, envolta com fio trancado em vez de fita. De repente,veio a tona 0 protesto irado desse elegante, vitima dasinsidiosas espezinhacoes do velho imbecil ao lado, aprovei-tando as movimentos constantes dos passageiros. Temendocorretivos ainda mais diretos, a [overn so pode partir emdemanda do primeiro banco vazio,

    Dais giros mais tarde, reapercebi-o no Paco de Roma,frente a estacao Sao Lazaro, em peripatetica disposicao comtal conselheiro a dizer-lhe em toda amizade: "a batao decirna deste linda casacao poderia ser ligeiramente desloca-do, para dar maximo valor ao caimento".

    , 1 0 5

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    51/90

    GALICISMOS

    A Stava puko kaz miD fa, y percevejy, na plate forme duorobus S, U j@n6mi C - U .. u gra c ,c6mmu si6luy avesse tirado~clma et U cha A ~ -. .' . . pornu etornado dj cordau tressado, EceJen6mI fIkClsuda fohu et akuz assi u RespektabJ'messinh Ade luy ~archa nu zarpiau. POlS senva versji sitio livro. 0

    Mais taRdj, r e cerro Iuy na C u r d] R6. mm, marchevandudj long~em largo eli eopaiiero qui luy dizeve: "Vosse devriafazeRRaJunUi iiotro butau ao teu poreima".

    106

    PR6TESES

    Z u r n idia, apor svolta pdo erneio-adia, kna eplataformautraseira ide pum conibus, vnao nmuito elonge zdo wpar-que Yrnonceu, treparei cern bum frapaz ide ppescoco qlongosdernais pexibindo pum kchapeu ueorn hgalao gtrancadofno elugar wda afita. Lde nrepente, pele minterpelou doyseu avizmho, lachando tque beste ipisava zos kseus opesvde bproposito ccada uvez xque isubiarn pou adesciamspassageiros. Xele nabandonou irapidamente ca ndiscussaospara jir zse tjogar tern rum olugar [vago.

    Calgumas hhoras nmais atarde, feu so lrevi ena gfrentecda bestacao Psao Glazaro, bern laminada uconversacaoucom xum kcolega wque olhe pdava dconselhos ya ppro-posito bde hum cbotao Ide rseu ssssssssssssssssssssobretudo.

    '107

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    52/90

    EPENTESES

    Uom dica, poar volu ta dio mepio-dita, nua platafora-rna trasegira doe uam ornobus, namo mufito lonage duoparoque Moniceu, rexparei eum uam raspaz die pesucocolonago dembais exhibindo uem charpeu coim uom gaplaotranucado neo lugrar dia ficta. Due respente, elle interape-lou seju virzinho, achanado qui esote pissava oas sexus petsdae prosposlto cauda veoz quae subpiam onu desociampassangeiros. Ecle abanidou raspidamente tael disecussaoparta iar soe josgar earn uom luggar valgo.Alegumas horpas maxis tarade, exu renvi taol tipco nuafrenote dia esotacao Suao Larzaro, conuversando anirnba-damente coern uim corlega quie lhae davra conoselhossombre uom bostao dio segu sobrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrre_tudo.

    108

    PARA GO GES

    Urnb diax, para voltarn doc meios-diap, naz platafor-maf traseirar deh umu onibuss, naol muitok longet dorparqueu Monceus, repareio numa rapazx dep pescocohlongou demaist.

    Exibindoy ump chapeuc come umi galaox trancadolnon lugarp day fitax, Deb repentec, interpelouu seul vtzi-nhog, achandoc quem estep pisavam-lhei ost pest deu pro-p6sitoc cadal veza quer subiamu ouf desciamu passageirosk.Abandonoux rapidamentem talo discussaor paras ira semjogart emb ump lugare vagoy.

    Algumasp horasp maisp tardem euh revis tale tipoknac frentex dac estacaow Saot Lazaroy, conversandobanimadamentex coma ume col ega quem lhem davapconselhosa sobrer umo botaol doc seux scbretu-.doooooooooooooooooooooo .

    . 109

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    53/90

    METATESES

    Um dai, pro votla do rneoi-dai, na plafortama traiserade urn 6binus, noa mutio logne do praque Monecu, rerapeiem urn cagafeste de psecoco logno dernias, ebixindo urncheapu essiquito de brabante tancardo subistitundo a tria.De repnete, intrepelou a pagasseiro mias pr6mixo, sbo aagrumento qeu etse noa pavara de psiar-lhe os pse deporposito dunarte a sibudo e a dedisca de passareigos.Abondanou rampiadente tla dsicussao e fio se alobetar mnulagur dipsontvel.Aglumas haors mias trade, vo-i nomavente derfonte aetsacao Soa Larazo, conservando anamido crno cogela qeuleh vada insturcoes rosbe 0 garu de abretura do sue sorbe-tudo.

    110

    GRAMATlCA TRANSFORMAT IVA

    1E s tru tu ra s fr as ic as u nit ari as1) 0 onibus circula, urn incidente se produz entre A e B,

    logo interrompido.2) ova encontro ocone entre A e C, A escuta uma

    proposic;ao transformacional.2 Re gra d e e xp ans iio

    o onibus S / lotado I circula um meio-dia qualquer Iperto do parque Monceu I entre Contra-escarpa e Campe-to .... .. a abominavel boc6 ouvia embevecido patacas quenao valiam urn batao I a elegante jovern escutava~atenta-mente considerat;5es esteticas concernindo seu batao supe-rior.

    a . A s pe c to s s e q il en c ia is :o 6nibus transporta passageiros I circula com A + Bb . Ag en c iam ent os c ont ex to -s e ns fv e is :B pisa em A ::> A e pisado por Bc. S eg me nta ~{ je s p ro po sic io na is c om uta tiv as ( v. 3 a):... segue-se urna altercac;ao oode A reclama de B / B e

    reclamado par A, 111 .

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    54/90

    d . Im plic ac oe s d e o rd em d is iun tiv o-c onju ntiv as (v . 5 ):Tira 0 pe! Mete bronca! Leva a mao!f. Equivalencias ambtguo-parafrasticas (v. 3b):Piou tanto alterado que urn pescocao no pescocao levaria.Tua fenda e arreganhada.

    3 A lgo ri tmo s c omu ta ti vo -p ropo s ic i ona isa . C om uta iiie s d e a lte rn an te s c on ie x tu ais :Incidente < = > bate-boca, rebordosa, frege, escarceu, aza-

    ro;A < = > tipinho de pescocao e chapeu esquisito, rapaz

    c1egante;B :> velho rnatusquela, senhor distinto,b. Equivatencias, parafrases, ambigiiidades:pescocao / bolacha / goela serpentina;botao I troco de osso I buraco que fecha;altercacao I vivido comercio verbal / papo entendido.

    4 Formante s au to - s ign if ican te sa . C l as s es d e d i str ib ui ca o:B,CJD,D~, com forte predorninancia da ultima.b . C l as s es n omonam in ai s:onibus, rapaz, pescocao, senhor / rapaz, senhor, pesco-

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    55/90

    TROCA- TROCA

    Urn dia troca ao meio-dia troca na plataforma trocaonde fica troca 0 trocador troca de urn onibus troca quaselotado troca, percebi troca urn homem troca de pescoco trocacomprido troca que levava troca urn chapeu troca com urnbarbante troca em lugar troca da fita. De repente eletroca troca Improperios com 0 vizinho que troca, diziaele troca, pisava-Ihe os pes troca a cada troca troca depassageiros. Depois foi troca aboletar-se troca num lugartroca vago troca.Urn pouco mais tarde troca eu 0 revi troca frente aestacao Sao Lazaro troca em plena troca-troca troca deimpress5es vestimentares trocadas troca com urn trocamigoelegante.

    114

    NOMES PR6PRIOS

    N Carolina traseira do Breda lorado, percebi Oliviopalito com seu longo Modigliani e Cartola brega de Pio emvez de Fontenelle. Olivio estrilou de repente porque Pitucapisoteava Tonico e Tinoco sernpre que subiam ou desciam .Ubiratas. Pepino alias breve, porque Olivio deixou Chacri-nha de lado e se escafedeu feito Flexa.Dois bons Horacios mais tarde, vi Olivio de novo nafrente de Lazaro com Cicero dando uma de Brummel. Beloconselho: que 0outro fosse ajose Silva para fechar Capotao.

    115 .

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    56/90

    L iN GU A DOP E

    Upum dipia, popor vopoltapa dopa mepeio-dipia,n~p.a plapatapafopormapa trapasepeirapa depe upum opo-nipibupus, napa? ~upuitopo lopongepe dopo paparquepeMoponcepeu, vipi upum gapajopo depe pepescopocopoco~ompripidapao copom upum chapapepeu depe capafa-patepestepc ~u.epe tipinhapa upurn copordapao nopo lupu-gapar dapa flpitapa. Depe repepepentepe, epelepe chipioucopom opo v~p~zipinhopo, apachapandopo quepe opo tipi-nh~p?sopO pipisapavapa opos sepeus pepes depe propopo-POSlPltOPOnopos sopobepes epe nopos depescepes dopospapass~pagepeiropos. Depeixopou prapa lapa apa dipi cu-pussapao epe fopoi sepe jopogapar nupum lupugapar lipi-vrepe.

    Dupuas hoporapas depepopois, depei copom epelepeno.po Pap~

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    57/90

    MACARRONICO

    . ~O l stabat in regionem zeniti et calor atmospheri mag-mSSUllO. Senatus populusque paristensis sudebant. Omnibipassabant lotati. In uno ex supradictls omnibibus que Sdenominationem porta bat, hominem quasi [unum, cumcolla multissimo elongato et cum chapito a cordicula tres-sata cerclato vidi, cujus insultavit alterum hominem qualpro.ximu~ stabat: ficast pietinant, inquit, pedes meos postdeliberationem anima: tUCE. Tunc sedem libram vidente,cucurrit laoSol dUCE horee in coelo habebat descido. Sancti Lazaris~ationem ferrocaminorum passante frentis, junum supra-dictum cum altero ejusdem farina: qui arbiter elegantiarumerat et cujus consiliabulus ad propositum uno ex butoniscapze junioris scultavit vidi,

    118

    D A (QUASE) NA MESMA

    Adia para tudo. Ontem vinha nu frescao esse tal ereina como rararnente Jaci viu. Se eu pes co so himen souesta vai-es-pau dando seu coco concha pele em volta 6!Enfio esse quesito transa do Enao atira. Subi total cipos arreclamar do vice nhoque eu estava sacana e ando. Disco saornais breve, p6 se ele se isca fedeu para sessenta arneis t~baa. Colivre.

    De pais, na frente desta acao, vil tipo nova mente.Caminha va cornum arne gada sua lei ia, esse cu 'tando atento conselho-os de vez tido: "Bota urn batao no teu,sobretudo" .

    119' -

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    58/90

    PARA OS FRANCESES

    PAROCH F R C E SEZICH ( E PARIZYEZICH EP A OU LIC HT CH M AC I rO RT OU GO -C AR YO KC H)

    . E o . , ne be tchign chegadouy janaUU fe e deug meu ali-vyar~ au douch djignYrollch. Ss t meuch tuou de" pr kopraougui BeRlitzy pr tomd oumat"a dj k6k6 cou pachtel yo u souk6dj [about lxmzba (s ic) cou baba di mossa kitava x6katchi.Deupoi "ch souermouch noudnibouchss SS, disseroeou prnotch kikryzess n(i>ll pag m' passaeef', y fo i s"ik""e t-i-doichd61aR prou pat6 final , outaksy erou d6brou, t c kifoi" brcHou.Lanoucnibouchss i au Rapaz cou pichk6ssou kopridou yo uchpe " " euchkiz/tou ad u ournch treesch soubstchitouidiouatchir. Dell reupetchi e l i k6meuss8 aRReuklama k6migollYe n " pRegol l tey, del lpoi"ch dj 61yanou BeRlitz , "keu ker beu-bert", mach eli kotchinoud a RR eukla m ay e '" dice p: -ou.mou. E mouYtou mavel d sou palteu. Vir" k6 mou'/tou gochtou[prazer]" . E l i grirdv sr prye'", ssouchrddou, d ic e : " D ic hk o u l-peu . N reou fa loll brey pourtoughech. reou kopryfeedou[eted6]. K""Ci;tou e moul t?" Nou kameL / ss6 aduf' kicll nfroutchign etedjidou, prouxe e li f lY ss isseta , mach I6gouesseguidau6trou, au neugRCi"", mide'' ''m joYlyady ssimad6 k6RRedlikouci mign b6""ss. E"U di

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    59/90

    TROCADILHOS

    Dei 0 rnta, prol a sumo. Na flataporma daquesse ele iaurn tapa rego de piscoc;:o de peru, de s mesurado, e umafichinha no tapeu chequevava. fmbito suterpelou 0 achi-nho, vizando quejocu 0 a proposinhava de espesiro aodesbirem ou sucerern pastros ousageiros. Rabandonou api-darnente 0 arra carrabo e foi se emboletar a urn vagar luzio.

    Urn hal' de poras d@pols, 0pitinho z a zava pricama e probaixa ta no esguao da sacacao Lazao Saro, cufichando comourn quelega codiz ia: "Poe uais mrn bonotao e tu sorbetudo".

    122

    BOTANICO

    Depois de ficar urn ternpao esperando ali plantadocomo urn pe de couve na estufa, consegui me enxertar numaab6bora que ia voltando para a horta, lotada as pencas. jatinha la criado raizes urn aipim deste tamanho l, com a copaamarrada por urn broto de cip6. 0 pepino cornecou quandoo banana em questao resolveu descascar umas abobrinhascontra 0maracuja-esquecido-na-gaveta ao lado que, segun-do seu coco pouco adubado, fincava-lhe batatas nos cantei-IOS apenas para deixa-los mais verrnelhos que pitanga. Urnasalada completa, mas antes que a vaca tussisse a serio 0 talasp argo cortou 0 abacaxi pela raiz, co:mmedo de levar umacastanh a nos bagos, e lancou os galhos em busca de novachacnnha.

    Mais tarde, revi-o estacado defronte a Estufa dos Ca-piaus, Uma cana-caiana enterrava sua pretensao de ~iC;:O c~muma observacao melosa e infrutffera: "para dar mars tronco,semeie outre grao-de-bico entre a corola e 0 pistilo".

    123

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    60/90

    MEDICINAL

    DeVido a uma sessao fo rcada de helioterapia, terni serposto em quarentena, mas terminei sendo admitido numaambulancia que apresentava uma assustadora taxa de entre-vades, onde diagnostiquei imediatarnente urn gastratgicocom sintomas de gigantisma oosessivo, padecendo de dis-tensao traqueal e reumatisrno deformante da tira do chapeu,Tal cretino teve urn subito acesso histerico, pais urn caco-quirnico estava esprernendo seu tilo, ocasionando-Ihe tur-gescencra e irrita

  • 8/3/2019 Raymond Queneau - Exerccios de Estilo

    61/90

    ZOOLOGICO

    Dentro da galola que, na hora da ortca beber agua,levava 0 rebanho ao Carnpeto, notei urn cervo com pescocode avestruz que levava nos cornos urn tatu rodeado par urnacentopeia. De repents, a vaca foi para 0 brejo, 0 giraffdeovirou bicho, soltando as cachorros para cima de urn pan-de.arara que peruava por ali e the dava nos cascos mas, antesque 0 bicudo sacudisse suas plumas, 0galinho fechou a bicoe fugiu da rinha, .esvoacando feito barata tonta para urnpoleiro largado as moscas.

    Mais tarde, dei com as burros no Zoo16gico e revi-o nomaior sassarico, soltando a franga com outro empavoado.Cacarejavam sobre penas na maior galinhagem.

    126

    INJURIOSO

    Depois de uma espera