Artigo Manual do Agricultor Brasileiro - versão temporalidades
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RAYMUNDO NINA RODRIGUES E AS TEMPORALIDADES DO IMPRESSO:
PRODUÇÃO E CIRCULAÇÃO DE JORNAIS E REVISTAS A PARTIR DO OLHAR
DE UM MÉDICO DURANTE A PRIMEIRA REPÚBLICA
JOELMA TITO DA SILVA
1. Prelúdio
O trabalho que ora realizamos constitui um desdobramento do estudo desenvolvido na
tese “Nina Rodrigues: os náufragos do tempo e a esfinge do futuro”, cujo mote principal são as
camadas temporais que se entrecruzam e se separam na barafunda de experiências sobre o
presente, passado e futuro, num esforço de entender como o tempo foi mobilizado de diversas
maneiras nas construções de um médico-cientista obcecado pelo futuro, no embate com a
duração lenta atribuída ao Outro (Fabian: 2013), entendendo o presente como lugar da ação
(Koselleck: 2006; 2014). Especialmente a partir dos anos de 1930, este posicionamento de Nina
Rodrigues foi definido pelos seus leitores como pessimista, uma categoria temporal
correspondente ao desencantamento produzido pela certeza de que o vir-à-ser estaria marcado
pela decadência motivada pela mestiçagem.
Embora não seja o objetivo do presente artigo enfrentar, de forma mais intensa, a
questão acima, deve-se enfatizar que a problemática das experiências temporais perpassará toda
a construção do texto, cujo objetivo é analisar a relação entre a circulação de impressos e o
tempo a partir das considerações de Raymundo Nina Rodrigues sobre a imprensa brasileira na
Primeira República. “Um dos mais racistas de nossos pensadores racistas”, como afirmou a
antropóloga Mariza Correa (2010), Nina Rodrigues interessou-se profundamente pelos jornais
e revistas: dedicou-se à atividade editorial, especialmente nos primeiros anos de carreira como
lente da Faculdade de Medicina da Bahia, escreveu artigos, traduziu pesquisas internacionais
no âmbito da imprensa médica brasileira, publicou estudos em anais europeus de Medicina
Legal e Antropologia Criminal e foi, também, um consumidor dessas produções externas.
Quanto às folhas de ampla divulgação, era leitor frequente de jornais diários como o
Correio de Notícias, A Bahia, O Diário da Bahia e o Jornal de Notícias, razão pela empregou
Trabalho apresentado ao XXIX Simpósio Nacional de História – Contra os Preconceitos: história e democracia,
realizado na Universidade de Brasília, de 24 a 28 de julho de 2017. Doutora em História Social pela Universidade Federal do Ceará e servidora do Instituto Federal do Rio Grande
do Norte.
fragmentos de textos jornalísticos como fontes de pesquisa e fez usos particulares desses meios
a fim de divulgar o consultório, onde atendia pacientes com moléstias cardíacas, tornar públicas
polêmicas travadas com seus pares e divulgar fatos pertinentes a sua prática de professor e
médico. No escopo deste artigo sugerimos que o “dr. Nina”, tal como era conhecido na
Faculdade..., analisava questões acerca da imprensa estruturando-as com durações semelhantes
ao do diagnóstico, de forma a identificar o corpo sadio ou o corpo doente, o agente intimo
responsável pela gênese da doença e seus ritmos de evolução.
Sendo assim, trabalhamos com a hipótese de que, ao pensar os impressos na sua relação
com a sociedade brasileira, Nina Rodrigues o fez a partir de uma experiência de temporalidade
fundada na lógica do diagnóstico médico: se, por um lado, periódicos (como Gazeta Médica da
Bahia) comportavam a maravilha da disseminação do conhecimento, mas definhavam, pois no
Brasil não haveria uma classe médica efetivamente ligada em redes; por outro lado, jornais
como o Jacobino (Rio de Janeiro), de caráter profundamente político, representariam o perigo
da difusão de ideias consideradas patológicas e radicais, acelerando o processo de (de)formação
de indivíduos degenerados e socialmente segregados. Havendo, segundo essa chave de leitura,
um descompasso entre a modernidade dos impressos, carregados de aceleração, e o ritmo lento
e doentio da sociedade brasileira. As hierarquias temporais, expressas através de hierarquias
raciais e espaciais explicariam, para Nina Rodrigues, as razões da minguada produção e
circulação do jornalismo médico e, por outro, lado identificariam as causas dos perigos da
proliferação de jornais políticos, quando estes atingiam leitores não ideais, egressos do mundo
dos não-leitores.
2. A imprensa especializada: o tempo acelerado dos textos
Editar jornais, assinar e ler periódicos, publicar artigos e produzir textos que se
movimentavam sinuosamente por diferentes publicações constituíam atividades integrantes da
vida do denominado “homem de ciência”, entendido como masculino, ativo e reflexivo. A partir
dessa relação com os impressos a carreira científica e professoral estava em processo constante
de configuração e reconfiguração. Em notas, memórias e artigos, os letrados demarcavam
posições, reforçando sua autopromoção e criando espaços para a intervenção social. Assim, o
caráter durável dos textos em sua materialidade e a temporalidade parcelada e regular de suas
publicações serviam a elaboração permanente da imagem e do lugar ocupado pelos ditos
homens de saber.
Pois bem, se é verdade que nos primeiros anos de República houve um refluxo na
atividade de divulgação científica, relacionadas ao semelhante declínio no cenário internacional
(MASSARINI & MOREIRA, 2002: 52), não deixava de haver setores que militavam pela
imprensa profissional. Nesse sentido, como médico e professor, Nina Rodrigues mergulhava
no mundo das palavras escritas e das letras impressas exercendo funções editoriais e produzindo
textos científicos, que fazia circular por diferentes jornais. Entre 1891 e 1893, atuou como editor
da Gazeta Médica da Bahia (GMB) e esteve ativamente envolvido com as atividades da
imprensa e das sociedades profissionais. Talvez por essa razão, a maioria de seus estudos tenha
sido publicada nos números do periódico baiano durante os primeiros anos de sua carreira.
Entre 1888 e 1893, Nina Rodrigues apresentou ao público especializado vinte e cinco
textos, dos quais dezenove foram impressos na GMB. Além disso, dois artigos editados na GMB
figuraram, também, em O Brazil Médico, são eles: Os mestiços Brasileiros (1890) e A
Organização do Serviço Sanitário no Brasil (1891); há ainda a publicação do opúsculo
Fragmentos de patologia intertropical que saiu pela Lythographia Tourinho de Salvador em
1892 e reúne os artigos publicados na GMB sobre o beribéri, problemas que afetam o sistema
nervoso (1890) e os aneurismas ocorridos nas veias cardíacas (1891).
A velha Gazeta instalada no Norte da República representava um espaço de
sociabilidade para os médicos vinculados à Faculdade de Medicina da Bahia e à Santa Casa de
Misericórdia do Estado. Nina Rodrigues ocupou lugar de destaque como editor-chefe do
periódico por dois anos. Nesse momento, envolveu-se diretamente nas ações pela manutenção
da imprensa especializada e em prol do funcionamento da Sociedade Médica da Bahia, assunto
que o ocupava nos editoriais e nas notas publicadas na GMB. No editorial comemorativo do 23º
aniversário do periódico, Nina Rodrigues enfatizava a função da imprensa como mecanismo de
circulação, tradução e resenha de trabalhos estrangeiros:
Na sua qualidade embora de revista mensal, a Gazeta mantem o desejo de trazer o
público medico em dia com o movimento scientifico estrangeiro, não só pela
transcripção integral dos trabalhos mais notáveis, como pela resenha itelligente dos
trabalhos de suas associações e imprensa médica (GMB, 1891: 4).
A imprensa e as associações médicas nacionais e internacionais deveriam figurar numa
publicação, cujo objetivo declarado era de atuar diretamente na discussão sobre o ensino
ofertado nas escolas médicas brasileiras e tratar das atividades clínicas. Pela natureza acadêmica
que assumia, a GMB possuía público restrito e especializado, composto por clínicos,
farmacêuticos, professores e estudantes de medicina e farmacologia. Assumia como princípio
básico a atualização de seus leitores acerca da produção científica no Brasil e em várias partes
do mundo. Além disso, Nina Rodrigues afirmava que um periódico de tal gênero deveria atuar
para romper com o isolamento que, segundo o redator, marcava a produção científica no país
de modo a produzir uma “larga difusão d’esses conhecimentos”. Porém, Nina Rodrigues
mostra-se duvidoso quanto à efetiva articulação da imprensa médica baiana no sentido de inserir
seus profissionais nas redes amplas das comunidades científicas.
Com o objetivo de resolver tal questão, o redator anunciou a abertura de uma nova
sessão nas páginas do periódico, cuja finalidade seria a produção análises bibliográficas de
estudos nacionais publicados em brochuras e na imprensa brasileira.
Tendo sido criada por uma associação de facultativos em julho de 1866, composta
por Virgílio Damásio, Silva Lima e Pacífico Pereira, a GMB era descrita na Memória do Estado
de 1893 como uma “antiga e conceituada publicação scientífica”, de periodicidade mensal,
editada por fascículos, contendo entre 60 e 64 páginas com uma tiragem de 500 exemplares por
número, semelhante ao montante verificado na publicação da Revista do Ensino Primário. Isso
demonstra o alcance restrito dessas revistas apresentadas enquanto “científicas e literárias”,
deliberadamente direcionadas para um leitor interessado em assuntos acadêmicos. Se no
primeiro caso a promoção da ciência médica se transforma em justificativa para a publicação
do periódico para um público especializado, no segundo, o objetivo era promover as discussões
pedagógicas, circulando no meio do professorado.
Com base nos dados apresentados na Memória Histórica do Estado da Bahia de 1893
de Francisco Vicente Viana e José Carlos Ferreira, publicada por ordem de Joaquim Manoel
Rodrigues de Lima, então governador do Estado, podemos visualizar o lugar ocupado pela
Gazeta entre os jornais de maior circulação de S. Salvador, conforme o quadro abaixo:
Tabela 1 – Circulação dos jornais em Salvador (1892)
Jornal Periodicidade Tiragem
Jornal de Notícias Diária 6.000
Diário da Bahia Diária 4.000
Correio de Noticias Diária 4.000
Diário de Notícias Diária -
Leituras Religiosas Semanal 4.000
Estado da Bahia - 1.000
Monitor Catholico Semanal 1.000
Gazeta Médica da Bahia Mensal 500
Revista do Ensino Primário Mensal 500
Echo da Mocidade – Grêmio Literário e Científico Quinzenal -
A Verdade – Igreja Baptista Mensal - Fonte: VIANNA & FERREIRA, 1903.
Esse quadro constitui uma representação parcial dos periódicos que circulavam naquele
ano na capital Baiana. Mesmo os escritores da Memória reconheceram ser uma atividade longa
enumerar as “muitas outras publicações hebdomadárias”. As folhas editadas e impressas em S.
Salvador circulavam por outras localidades do Estado, convivendo com publicações locais. A
dimensão apresentada pela potencial difusão dessas folhas pode ser avaliada pelo comentário
feito na Memória acerca do Diário de Notícias, fundado em 1875 e apontado como “o primeiro
jornal noticioso, imparcial, completamente neutro nas luctas partidárias que se publicou em
todo o Brazil; bem como foi o primeiro que iniciou o serviço telegraphico diário, de todas das
partes do mundo civilisado”. Em 1892 o Correio Geral contabilizava o volume de maços de
jornais em na capital baiana em 312.122 recebidos e 304.658 expedidos (VIANNA &
FERREIRA, 1903: 400-1).
A Sociedade Médica da Bahia criava estratégias afim de fazer circular a circulação sua
Gazeta de tiragem mensal. Em 1893 a redação da GMB divulgou a tabela de valores
estabelecida para as diferentes modalidades de assinaturas semestrais e anuais, expondo as
estratégias de seus produtores para atrair diferentes perfis de leitores. Estudantes e clínicos da
capital e de outras localidades e estudantes formavam o público geral da revista. Aqueles que
moravam fora de S. Salvador e desejassem receber os fascículos deveriam enviar a quantia de
6 mil reis, para a assinatura semestral, ou 12 mil réis, referentes à anuidade adiantada, em
correspondência registrada ou em vale postal pelo Correio, endereçada ao redator-gerente que
entre 1891 e 1893, era Nina Rodrigues.
Sem o acréscimo do valor referente às postagens, o custo da assinatura do periódico era
menor para os moradores da capital, ficando para eles fixado em 5 mil ou 10 mil réis, a depender
do período que pretendiam receber o jornal. Facilitava-se a aquisição do periódico para os
estudantes de medicina e áreas afins. Para os acadêmicos a taxa era abatida em mil réis por
semestre. Ao trabalhar com a Literatura médica, a publicação possuía um caráter pedagógico e
prestava-se ao consumo não apenas dos profissionais clínicos e professores, mas, igualmente,
dos alunos dos cursos de medicina e farmacologia.
Além de criar condições de difusão no Brasil via serviço postal, a Gazeta projetava-se
ao consumo internacional e contava com os serviços de H. Mahler, agente de vendas em Paris,
na Rua Richer, n. 23. O envio de exemplares deste e de outros jornais para o além-mar e o
recebimento de publicações internacionais competia ao escaler da Guarda-moria da alfândega
que, não raro, atrasava a distribuição das correspondências (GMB, 1891: 278).
Sobre o serviço de impressão, a GMB foi produzida até meados da década de 1890 pela
Litho-Typographia de João Gonçalves Tourinho responsável por diversas publicações que
circulavam na cidade. O estabelecimento de Tourinho produzia material impresso para grupos
profissionais e privados, que laçavam almanaques, livros científicos, publicações religiosas,
jornalísticas, diários de viagem etc. Como também para os órgãos político-administrativos da
Província e, posteriormente, do Estado da Bahia. Entre o material oficial reunido e impresso
nesta Litho-Typographia estão os documentos produzidos pela Assembleia Legislativa da
Bahia e os arquivos de instituições públicas como a Santa Casa de Misericórdia.
3. A patologia da Gazeta Médica da Bahia
No período em que assumiu as funções de redator-chefe, Nina Rodrigues assumia como
missão fundamental da imprensa especializada aproximar a “classe médica” nacional pelas
páginas da Gazeta. Segundo ele:
Não é uma nova phase toda a actividade que se prepara assim para a Gazeta Medica
condemnada ainda ao isolamento que tem vivido; é ao contrário a esperança de que a
classe medica brazileira tenha reformado finalmente, como já era tempo, os seus
antigos hábitos de retrahimento e de indifferença e esteja preparada para receber e
apoiar os esforços dos que têm trabalhado sempre pelos seus creditos e pelos creditos
de suas tradicções (Idem).
Há aqui o diagnóstico do médico sobre a patologia que, acreditava, acometia as páginas
impressas na velha gazeta. O problema estava localizado no estado de “isolamento” no qual se
encontrava a Sociedade Médica da Bahia, responsável pela edição e publicação do periódico
desde 1888. Isolamento científico e descaso, neste duplo Nina Rodrigues julgava encontrar a
origem das dificuldades enfrentadas pela imprensa médica no Brasil, particularmente na Bahia,
para cumprir sua função pedagógica e fazer circular o conhecimento científico:
Por entre as ovações ruidosas e deslumbrantes com que as constantes mutações
políticas que tudo esterilisam n’este paiz celebram o triumpho e as ephemeras glórias
de um dia, d’aqueles que no dia seguinte serão condenados ao esquecimento pelo
desfavor da última encenação, a Gazeta Médica, obscura e impassível, prossegue sua
missão superior de doutrinar toda a classe social, e de plantar os gémens de uma
organização científica, fecunda e duradoura. Não desllumbram ofuscantes
scintillações com que, por momentos, se libram no espaço esses meteoros de nova
espécie, mas não a commove igualmente d’elles o celer e fatal ocaso (Idem: 2).
Diante do “fatal ocaso”, o conhecimento científico adormece no horizonte como a noite.
Nina Rodrigues emprega tal metáfora para demonstrar que a atividade de produção do
conhecimento, entre elas a produção de jornais especializados como a GMB, existia no país às
duras penas e estava condicionada a atividade de alguns estudiosos, sem compor, portanto, uma
comunidade científica nacional. A crítica de Nina Rodrigues não se concentrava, apenas no
nível da produção dos jornais, mas, também na sua leitura:
A Gazeta Médica da Bahia, resumindo toda a história da nossa literatura médica no
quarto de século de sua existência, está destinada a dar ás futuras gerações o extranho
espectaculo de uma collectanea de trabalhos médicos nacionaes, accumulados pela
boa vontade de muito pouco, quase que sem conhecimento de muitos contemporâneos
a quem a grave incumbência uma assimilação parasitária dos trabalhos estrangeiros
distrahiu sempre do estudo do que nos pertence, assim como das preocupações de uma
constituição regular de boas escolas médicas futuras (Idem).
Atuando ativamente na GMB até 1893 não é estranho que a produção científica de Nina
Rodrigues passasse, sobretudo, por este periódico, conforme afirmamos anteriormente.
Todavia, além da GMB o médico participou da concepção e formatação de outros jornais
acadêmicos. Deste modo, em 1891 foi relacionado como integrante da comissão editora da
Revista dos Cursos da Faculdade em 1891, ao lado de Pacifico Pereira, Almeida Couto, Jose
Olympio e Deocleciano Ramos. Esse grupo redigiu os regulamentos da revista, cuja publicação
enfrentava dificuldades, uma vez que a diretoria da Faculdade afirmava não dispor de verbas
para financiar o empreendimento, como ocorrera anteriormente com a “Revista dos Cursos
Práticos” (Idem:92). Nina Rodrigues se valeu, mais uma vez, do noticiário da GMB para
lamentar os revezes enfrentados pelo projeto de publicação da Revista dos Cursos. Nesse
mesmo protesto, direcionou suas queixas para a situação de debilidade enfrentada pela
Sociedade Médica na Bahia e os problemas sofridos pela imprensa médica de forma geral:
É uma missão penosa a da imprensa médica n’este paiz sempre que procura despertar
o verdadeiro interesse pelo espírito de associação scientifica.
Parece que a Sociedade Medica da Bahia vai ter a sorte das outras sociedades medicas
que a precederam n’esta cidade.
Quase abandonada nos últimos tempos, pois que só a frequentavam já a meza e um
ou outro membro, por fim já por mais dous mezes que não se reúne mais. É que
qualquer obstáculo por mais insignificante que fosse e que bastaria o simples acordo
dos sócios para resolver deveria servir de pretexto a uma dissolução que tem como
verdadeira causa a conspiração da nossa indolência como uma indiferença e abandono
inconfessáveis. [...] Fechem-se, a sociedades scientíficas, suprima-se a imprensa
médica, desprezem-se os frutos da observação clínica, e não mereçam atenção os
estudos práticos; mas tenhamos consciência do nosso atrazo e a coragem precisa de
confessal-a, sujeitando-nos sem protestos que nada significam, à severidade do juízo
com que somos tratados de vez em quando (Idem).
A Sociedade Medica da Bahia não possuía patrimônio e se sustentava com recursos
parcos, advindos da contribuição mensal de seus membros efetivos no valor de mil réis. Nos
anos de 1890, a Sociedade contava com 50 sócios e 6 correspondentes, não possuía biblioteca
própria, e serviam-se de livros e revistas doados por seus integrantes (VIANNA & FERREIRA,
Op.cit.396). Entre janeiro de 1890 e dezembro de 1893, a GMB registrou a entrada de 33
publicações compostas, sobretudo, por teses defendidas nas Faculdades da Bahia e do Rio de
Janeiro, periódicos uruguaios e argentinos. Além de livros franceses. Embora as sessões
bibliográficas e as notas de recebimento de publicações demonstrem a pouca regularidade das
doações de materiais para o acervo da GMB, esses pequenos noticiários expõem as redes de
contato estabelecidas entre a Sociedade Médica Baiana e outras sociedades profissionais
formadas, especialmente, na capital federal e na França.
Se no futuro a esperança se debatia com o desalento, no presente vivia-se a certeza do
desprezo das instituições e da maioria dos profissionais pelas atividades científicas e seus
instrumentos de divulgação. O tema da “indiferença” dos médicos e das autoridades públicas
em relação aos trabalhos médicos brasileiros aparece em grande parte dos comentários
editoriais de Nina Rodrigues. Como exemplo podemos citar o elogio do médico ao
empreendimento do Dr. Carlos Costa, bibliotecário da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro
e pertencente à Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, responsável pela
publicação do Annuario Médico Brazileiro em 1891, um catálogo de dados bibliográficos sobre
a produção brasileira levantados nos anos de 1889 e 1890. Além de organizar o Annuario,
Carlos Costa publicou, em 1893 um catálogo sistemático em dois volumes, no qual classificou
por tema as 9.117 obras alocados pertencentes àquele estabelecimento de ensino no ano
anterior. Em 1895, esses dados foram complementados e a quantidade de publicações
catalogadas ultrapassou os 10 mil volumes (COSTA, 1893 & 1895). Para Nina Rodrigues o
trabalho do Dr. Carlos Costa na organização de acervos e divulgação dos trabalhos produzidos
pelos médicos brasileiros constituía mais um trabalho solitário, realizado pelo esforço
individual de um profissional. Mais uma vez, a temática da apatia da classe medica brasileira é
recolocada por Nina Rodrigues com o objetivo de enfatizar a dispersão dos médicos pelos vários
recantos do país e a formação de núcleos de atuação independentes, cuja comunicação interna
se estabelece de maneira precária, dificultando a disseminação e circulação dos trabalhos
produzidos pelas experimentações e observações de estudiosos brasileiros.
Em julho de 1893, a Gazeta noticiava o afastamento de Nina Rodrigues das funções de
gerente do periódico, em seu lugar assumiu Braz do Amaral. A nota não apresenta informações
precisas sobre os motivos do desligamento, resumindo-se apenas a sublinhar que o “illustrado
colega” havia comunicado à redação impossibilidade de permanecer no cargo.
4. O Jacobino e os leitores perigosos na Primeira República: o caso de Marcelino Bispo
Raymundo Nina Rodrigues – leitor de Cesare Lombroso, Alexandre Lacassagne e
Gabriel Tarde – publicou em 1899, na Revista Brasileira, um texto intitulado “O regicida
Marcellino Bispo”, no qual analisou os crimes contra líderes políticos arquitetados através da
confabulação entre dois indivíduos, do uso de jornais e da exacerbação das crenças místicas.
Nesse estudo procurava demonstrar suas hipóteses acerca da natureza epidêmica da loucura
coletiva que tem como embrião a associação entre duas pessoas, baseando-se nas discussões
sobre as patologias da multidão travadas em fins do século XIX.
O caso utilizado como mote para o estudo foi o atentado articulado contra Prudente de
Morais que culminou com a morte de um Marechal e tornou “desgraçadamente” famoso o
alagoano Marcellino Bispo de Mello, assaz leitor do jornal O Jacobino1. Nina Rodrigues
estabeleceu como problemática central de sua argumentação o alcance do poder de sugestão
oferecido pela imprensa e por líderes carismáticos sobre indivíduos diagnosticados, por ele, como
naturalmente propensos a desenvolver hábitos criminosos. O parecer do médico não estava
desligado dos amplos dilemas sobre a sociedade brasileira vividos em fins do século XIX.
A agitação política e uma concepção autoritária de nação caracterizaram os anos iniciais
da República, materializada na disputa pelo poder entre diferentes projetos políticos. Depois
dos primeiros presidentes militares, a chefia da nação foi assumida pelo paulista Prudente de
Morais, membro do Partido Republicano Federal, eleito com o apoio dos cafeicultores. O
primeiro governo civil que chegava ao poder depois de instalada a república viveu momentos
conturbados e teve que lidar com os ataques oriundos de diferentes grupos. De forma concreta,
sofria oposição dos “restauradores” monarquistas, para os quais a instabilidade
1 O atentado à Prudente de Morais ocorreu no dia 05 de novembro de 1897 e vitimou o Ministro de Guerra Carlos
Machado Bitencourt. Nos autos do processo foram interrogados líderes civis e militares suspeitos de participação
no ato, entre eles estava o vice-presidente da República, Manoel Vitorino.
experimentada pelo executivo poderia resultar na retomada do poder por militares. Enquanto
isso, os chamados “jacobinos” desconfiavam do governo e acreditavam que sua fragilidade
pudesse criar um ambiente propício para a atuação e vitória dos restauradores.
A ênfase no sucesso final da operação militar contra os moradores de Canudos (1897)
ajudaria a desmobilizar as movimentações desses grupos, conferindo legitimidade ao governo
de Prudente de Morais. O atentado sofrido pelo presidente ofereceu as condições favoráveis
para o fortalecimento do governo, possibilitando, inclusive, o decreto do estado de sitio no dia
12 de novembro (COSTA, 1999: 396-7; GONES, 2008: 290).
Nesse ambiente de disputa entre projetos de nação, Nina Rodrigues estudou o caso de
regicídio, sempre buscando mostrar-se distante de qualquer móvel político, o seu parecer
pretendia-se unicamente médico. Diante dessa constatação, pretendemos sugerir, neste pequeno
ensaio, que se o fato político serviu de mote para o escrutínio médico, objetivando diagnosticar
as causas concorrentes para o evento, no fundo, mal disfarçava as visões de mundo do cientista,
claramente inclinado a reafirmar posicionamento político contrário às ações dos jacobinos,
considerados radicais, e a legitimar a demarcação de diferenças profundas entre sujeitos
civilizados, capazes de ação refletida e de apropriação ativa da leitura, e existências primitivas,
incultas, caracterizadas pela passividade, cujo ingresso no mundo das letras ocorria de forma
inautêntica e perigosa. Pessoas, enfim, incapazes de ascender à cidadania e movidos pela
paixão. Eis o caso do alagoano, de origem indígena, antigo aluno da Escola Militar e anspeçada do
Exército, que tinha o improvável hábito de ler jornais e escrever poesias.
No diagnóstico acerca do estado de saúde mental do agressor, Nina Rodrigues
apresentava o homem responsável pelo atentado à Prudente de Morais como um jovem de 22
anos, cujo ato, cometido em pleno ritual de celebração da República vitoriosa diante dos
alegados últimos redutos da monarquia, fora arquitetado pela influência de um “violento
propagandista”. Sugestionado, Bispo converteu-se “no mais inconsciente instrumento do
crime”.
O caso de Marcellino Bispo transformava-se em objeto de curiosidade médica e conferia
a seus atos indício inequívoco de comportamento patológico, comum a um “degenerado
inferior” que funcionou como massa de manobra para os planos golpistas do meticuloso
Deocleciano Martyr, um Florianista radical, ex-integrante do Batalhão Tiradentes, presidente
do Clube dos Jacobinos e do Partido Jacobino, publicava suas ideias em um pequeno jornal,
alcunhado de O Jacobino, do qual foi criador e exercia a função de redator-chefe.
O impresso colocava em circulação as propostas e as bandeiras de luta de um grupo
radical de composição diversa, cuja maioria dos participantes era oriunda dos setores militares,
embora contasse com o apoio de intelectuais e políticos ligados às oligarquias estaduais (Idem:
97).
Para Nina Rodrigues, a leitura de O Jacobino alimentou o fanatismo inerente de Bispo
em torno dos projetos políticos de setores do Exército, crentes na existência de uma missão dos
militares para a nação, qualificada pelo médico como “falsa ou exagerada”. Posicionando-se
contra os “jacobinos”, Nina Rodrigues concluía que as proposições desse grupo político, de
atuação efetiva no Rio de Janeiro, foram passivamente incorporadas pelo “degenerado
hereditário”, mestiço de índios do antigo aldeamento Urucu, situado em Alagoas”. A descrição
dos médicos da polícia designados para avaliarem Bispo na prisão diferia ligeiramente daquela
oferecida por Nina Rodrigues. Para estes, o prisioneiro era um homem de: “estatura mediana,
pardo, quase branco, de dentes alvíssimos e musculatura vigorosa” (GAZETA DA TARDE,
1897: p.1). O sujeito “quase branco” descrito no relato médico-policial era de ascendência
indígena, herança ressaltada por Nina Rodrigues para provar, de forma causal, a predisposição
de Bispo à sugestão.
Além disso, em análise das fotografias e gravuras nas quais aparecia o assassino suicida,
o médico apontava um indício de que fora Bispo, essencialmente, um degenerado: a
proeminência de sua mandíbula. Segundo o universo de análise de Nina Rodrigues, um dos
estigmas físicos indicadores da predisposição criminosa ou mórbida. O impulso classificatório
lançava Nina Rodrigues ao esquema elaborado por E. Régis para definir as características dos
“regicidas” típicos, através da regularidade de comportamentos patológicos e estigmas
degenerados condicionantes da ação criminosa e violenta. Estaria, então, Bispo encaixado nesta
categoria por critérios de idade e por laços hereditários. A natureza psíquica degenerada se
expressaria, dessa forma, pelos seguintes elementos:
Desequilíbrio mental: Bispo seria, antes de tudo, um fraco;
Instabilidade doentia: Sempre em fuga, deixou a casa em Muricy/AL aos 15 anos e não
se fixava em trabalhos e lugares. Chegou ao Rio de Janeiro em 1896, um ano antes do
crime;
Misticismo exacerbado e disposição para executar o atentado, cujo epílogo fora o
suicídio do assassino.
Nina Rodrigues considerava Marcellino Bispo um degenerado nato, predisposto à
exaltação mística e que, em “sua preferência pela carreira militar” localizava-se o “germen da
orientação para o fanatismo pelo exército e pelo marechal Floriano”. Era, enfim, um sujeito
passivo à sugestão jornalística com “tendências sonhadoras e poéticas” (NINA RODRIGUES,
1939: 178). O leitor – diagnosticado pelo crivo do médico como degenerado – seria portador
de uma personalidade passiva e súcuba. Bispo foi descrito, dessa forma, enquanto
femininamente predisposto a constituir-se em “prisioneiro moral do primeiro aventureiro”. Nas
palavras de Nina Rodrigues, Bispo possuía:
Inteligência acanhada, instrução rudimentar, affectividade mórbida que lhe abria o
coração a todas as suggestões em que entrasse uma solicitação de aparência generosa
aos seus ideais confusos de grandeza pátria, facilmente convertido pelo ambiente em
um fanático do marechal Floriano, e possuindo toda a violência agressiva de um
degenerado e hereditário, estava ele admiravelmente talhado para se constituir
prisioneiro moral do primeiros aventureiro de habilidade e sem escrúpulos, que delle
quizesse fazer um instrumento perigoso explorando essas tendências sentimentais
(Idem: 168).
Nina Rodrigues julgava que, enquanto Bispo agia como um súcubo criminoso de
comportamento mental passivo, frágil, ascendente e facilmente manipulável, propenso ao
fanatismo, Deocleciano Martyr, também classificado como criminoso e degenerado, ocupava
posição de íncubo. Teria personalidade dominante e era a representação do sujeito patológico
ativo, de personalidade masculina e destituída de escrúpulos, conhecedor das artimanhas da
manipulação. O médico o adjetivava como “inteligente” e “astuto”, concluindo que Martyr teria
aproveitado habilmente a conturbada fase política que agitava o “espírito público” para fazer
valer seus ideais exaltados e sua convicção sobre o papel dos militares na salvação pública.
Nessa chave de leitura, ele seria capaz de mobilizar esperanças, explorar o entusiasmo da
“mocidade das escolas civis e militares”, de animar os degenerados como Marcellino Bispo.
Diocleciano Martyr teria, enfim, pleiteado “a chefia dos sentimentos florianistas, fazendo tudo
para desvirtual-os, convertendo-os numa seita intolerante” e utilizado o jornal por ele editado
como instrumento político para arregimentar adeptos à sua causa (Idem:167-8).
O Jacobino disseminaria ideias consideradas perigosas a um público manipulável,
composto por jovens exaltados e homens degenerados que, por ventura soubessem ler. O hábito
da leitura de jornais foi destacado pelos policiais responsáveis pelo interrogatório de Bispo na
cadeia. Frequentando o mundo da leitura fluída dos jornais, o preso se dizia inocente e revelava,
segundo a polícia, “alguma inteligência, rebatendo com argumentos certas objecções que fazem
as suas negativas” (GAZETA DA TARDE, 1897: 1).
Bispo aparece em Nina Rodrigues como um receptor facilmente seduzível por ideias
sentimentais transformadas em texto panfletário. Leitores perigosos, seduzíveis por estímulos
vários, de cérebros acanhados, de mentes débeis, de compreensão inautêntica, indivíduos sem
qualidade que, uma vez colocados frente à multiplicidade de excitações textuais e imagéticas,
representavam um perigo para as elites tradicionais e para a paternal crítica social, angustiadas
diante da proliferação de leitores que reconfiguravam o texto de formas inéditas. Para Jacques
Rancière esse debate foi fortemente articulado no final do século XIX com o objetivo de
identificar a natureza da recepção e apropriação de textos no contexto de proliferação dos
leitores não ideais de origem, de corpo, enfim, de lugar totalmente opostos à representação de
uma elite letrada (RANCIÈRE, 2010: 50). Marcelino Bispo nos aparece aqui como uma dessas
ameaças.
O perigo da leitura patológica e desvairada através dos romances fora ressaltada pelo
médico Pedro Napoleão Chernoviz (PINHEIRO FILHO, 2014: 98). Tal como os leitores
perigosos entravam em contato com os romances que se espalhavam pelos folhetins em
periódicos, o Marcellino descrito por Nina Rodrigues encontrara estímulo na leitura dos jornais,
e os lia como uma figura deformada, vinda do mundo dos não leitores, passivo, ingênuo,
manipulável pelas letras redondas, incapaz de ação refletida.
Para Nina Rodrigues, a presença estimulante do mundo das letras diferia o caso de
Marcellino Bispo daquela ocorrida com a disseminação epidêmica do delírio nas multidões,
como teria ocorrido em Canudos, no qual os líderes carismáticos e vesânicos sugestionam
séquitos de fanáticos iletrados em peregrinações, jejuns, formavam sociedades com Leis
particulares etc. No âmbito dos crimes políticos, a disseminação de ideias peregrinava com as
páginas impressas, com a escrita, com a letra, influenciando leitores atavicamente delirantes.
Sobre a produção e o consumo das páginas impressas no jornal carioca, Nina Rodrigues não
tergiversava e concluía: “Pois bem, O Jacobino de Deocleciano Martyr tinha seu público, todo
indicado pela grande lei da segregação social: era escrito para os Marcellinos Bispos”. A
predisposição física hereditária estava associada, assim, às questões propriamente sociais a
colocar na obscuridade uma massa de pessoas segregadas. Nestas condições, não fora difícil
para o redator chefe do jornal, radical opositor ao governo civil de Prudente de Morais,
mobilizar um público conhecido e segregado, navegando através do mundo das palavras
comuns e sentimentais, de forma a adaptar a linguagem de seu jornal para falar às mentes frágeis
por meio de palavras de ordem e termos vulgares.
Nina Rodrigues propunha que a crença nas afirmações impressas e nas “letras redondas”
implicava na existência de um público/leitor natural e socialmente passivo, manipulável de tal
forma a absorver as ideias marcadas nas páginas intencionalmente projetadas pelo redator.
Nesta interpretação, o consumidor do texto possui como referências anteriores apenas sua
existência crédula nas forças sobrenaturais, utilizada como campo aberto para a nova veneração.
A declaração atribuída à Bispo na prisão ao ser interrogado, na qual afirmava ser a sua religião
a “ do Marechal Floriano”, servia para confirmar esta assertiva e reforçava, ainda mais, nos
meios políticos a figura heroica de Prudente de Morais.
5. Considerações finais:
Escolhemos, para fins desse artigo, dois momentos em que Nina Rodrigues posiciona-
se de forma mais direta em relação à imprensa brasileira. No primeiro, tratamos dos primeiros
anos de docência na Faculdade de Medicina da Bahia, quando exerceu função de editor-chefe
da Gazeta Medica da Bahia e utilizou os editoriais do periódico para tecer críticas à imprensa
especializada. No segundo analisamos o artigo de 1899 acerca do regicida Marcelino Bispo,
leitor frequente do jornal O Jacobino. Dos dois lados são identificadas patologias que, segundo
a concepção de Nina Rodrigues, dizem sobre o descompasso temporal do Brasil em relação a
nações vistas como civilizadas. Se por um lado, denunciava a pequena produção da apática
classe médica, transformando os jornais especializados em coletânea de pesquisas estrangeiras,
(posição que não o singularizava na Primeira República), por outro, havia a atividade da
imprensa política poderia encontrar-se com leitores perigosos e atávicos. Assim, o texto
científico passa a servir a um projeto político autoritário, a partir da qual colocava-se em
suspeição as razões mobilizadoras da ação política de indivíduos socialmente segregados,
legíveis a penas a partir da linguagem policialesca e do escrutínio da medicina legal. Nas duas
situações subjaz a questão do tempo. Nina Rodrigues parte de uma temporalidade repartida e
hierarquizada entre a aceleração do tempo moderno (o ideal) e o compasso lento do Brasil “real”
que, segundo o médico, estava repartido entre diferenças raciais, sociais e regionais, não
chegando a constituir-se enquanto povo.
6. Referências e fontes
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______. Annuário Médico Brazileiro. Rio de Janeiro: Typ. e Lith. de Carlos Shimidt, 1895.
COSTA, Emília Viotti da. Da Monarquia à República: momentos decisivos. São Paulo:
Fundação Editora da Unesp, 1999.
GONES, Amanda Muzzi. Monarquistas restauradores e jacobinos: ativismo político. Revista
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MASSARINI, Luisa, MOREIRA, Ildeu de Castro; BRITO, Fátima (Orgs.). Ciência e público:
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PINHEIRO FILHO, José Humberto Carneiro. Um lugar para o tempo dos letrados: leituras,
leitores e a Biblioteca Provincial do Ceará na segunda metade do século XIX. (Dissertação).
Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2014.
RANCIÈRE, Jacques. El espectador emancipado. Buenos Aires: Manantial, 2010.
VIANNA, Francisco Vicente; FEREIRA, José Carlos. Memória sobre o Estado da Bahia.
Salvador: Diário da Bahia, 1903.