Realismo / Naturalismo no Brasil (1881 – 1893). Contexto histórico - cultural decadência do...

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Realismo / Naturalismo no Brasil (1881 – 1893)

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Realismo / Naturalismo no Brasil

(1881 – 1893)

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Contexto histórico - cultural•decadência do Segundo Reinado•fortalecimento dos movimentos republicano e abolicionista•desenvolvimento dos órgãos de imprensa

•fundação da ABL (1897): oficialização da literatura nacional

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Machado de Assis(RJ: 1839/1908)

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Características

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•Universalismo•Análise psicológica do comportamento humano

•Anti-determinismo: ênfase nas contradições

•Desmascaramento das relações sociais (Essência X Aparência)

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Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplastro, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado destas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto... Somadas umas coisas a outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseqüentemente que saí quite com a vida. E imaginará mal, porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa, neste capítulo de negativas: não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.

(Memórias Póstumas de Brás Cubas)

•Pessimismo: niilismo

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•“Ironia machadiana”Cuido haver dito, no capítulo XIV, que Marcela morria de amores pelo Xavier. Não morria, vivia. Viver não é a mesma cousa que morrer; assim o afirmam todos os joalheiros desse mundo, gente muito vista na gramática. Bons joalheiros, que seria do amor se não fossem vossos dixes e fiados? Um terço ou um quinto do universal comércio dos corações. Esta é a reflexão imoral que eu pretendia fazer, a qual é ainda mais obscura do que imoral, porque não se entende bem o que eu quero dizer. O que eu quero dizer é que a mais bela testa do mundo não fica menos bela, se a cingir um diadema de pedras finas; nem menos bela, nem menos amada. Marcela, por exemplo, que era bonita. Macela amou-me...

... Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos.

(Memórias Póstumas de Brás Cubas)

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•Digressões- desvio de assunto• Metalinguagem- o uso de palavras para descrever a mesma. Ex : uso um filmeComeço a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse; eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns magros capítulos para esse mundo sempre é tarefa que distrai um pouco da eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direita e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem...

(Memórias Póstumas de Brás Cubas)

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• Relação com o leitorNão me interrompas, leitor precipitado; sei que não acreditas em nada do que vou dizer. Di-lo-ei, contudo, a despeito da tua pouca fé, porque o dia da conversão pública há de chegar.(...)

Upa! Cá estamos. Custou-te, não, leitor amigo? (...) Não creias tu nisso, leitor amado. (...) Sim, meu senhor, os adjetivos nascem dum lado, e os substantivos de outro, e toda sorte de vocábulos está assim dividida por motivo da diferença sexual...-Sexual?

Sim, minha senhora, sexual. As palavras têm sexo. (...)

-Mas, então, amam-se umas às outras?

Amam-se umas às outras. E casam-se. O casamento delas é o que chamamos de estilo. Senhora minha, confesse que não entendeu nada.

-Confesso que não.

Pois entre aqui também na cabeça do cônego.

(O Cônego ou metafísica do estilo)

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•Intertextualidade e citações eruditas

Hamlet observa a Horácio que há mais cousas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de novembro de 1869, quando este ria dela, por ter ido na véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia por outras palavras.

(A Cartomante)

• Quebra da linearidade narrativa

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• Estilo: - concisão- economia vocabular

- capítulos e frases curtas

- correção gramatical

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OBRA

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“Fase romântica”Já sem a idealização e o maniqueísmo românticos, porém ainda sob estrutura folhetinesca e tendência à punição moralista

“Helena”, “Iaiá Garcia”, “A mão e a luva”

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“Fase realista”• “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1881 – marco inicial do realismo brasileiro)Narrador personagem é “defunto-autor” que relata sua vida desde a infância até a morte (começando por esta), entrecortando seu relato com digressões metalingüísticas e filosóficas. Personagem aparentemente isenta por estar morta revela-se pessimista, cínica e elitista.

Infância super protegida, mimada; romance na adolescência com uma prostituta e viagem para a Europa (formação intelectual superficial); romance adúltero na vida adulta e busca frustrada de realização social (na carreira política e na criação do emplastro)

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• Quincas Borba (1891)

Quincas (que estava na miséria) recebe uma herança e vai para Barbacena, onde apaixona-se por Maria Piedade e, recusado, enlouquece e morre. Rubião, herdeiro de Quincas, homem simplório, muda-se para o Rio de Janeiro e apaixona-se por Sofia, mas é explorado por esta e seu marido, Cristiano Palha. Desiludido, Rubião também enlouquece e morre.

Teoria do Humanitismo – sátira ao Positivismo e EvolucionismoLimites entre razão e loucuraSátira ao determinismo nas possíveis explicações (absurdas) para a loucura e morte das personagens

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• Dom Casmurro (1899)

Tema do adultério e discussão sobre a realidade (fato real X fato imaginado)

Bentinho (narrador) acredita ter sido traído pela esposa, Capitu, com o amigo Escobar, suspeita que surge durante o enterro deste e intensifica-se devido à semelhança entre o filho, Ezequiel, e o amigo.Impossibilidade de alcançar a “verdade” por conta da visão parcial (obra escrita sob o viés de Bentinho) – realidade como algo mutável e subjetivo

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“Fase da maturidade”• “Memorial de Aires” (1908)Diário do diplomata Aires, que conhece o casal de velhos Aguiar e Carmo que, por não ter filhos, compensam esta ausência com o afilhado, Tristão. Quando este vai para a Europa, transferem o amor para Fidélia, até que esta se casa com Tristão, deixando o casal sozinho.

Ironia e sarcasmo dão lugar à melancolia e compaixãoPossíveis traços autobiográficos

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Naturalismo• Émile Zola e os “romances de tese”: confirmação de hipóteses sobre a sociedade; romance = laboratório; autor = médico que detecta e cura os “males sociais”• Enfoque em aspectos degradantes do homem e da sociedade (patologias, anomalias)• Comportamento instintivo, animalesco: sexualidade promíscua, violência• Zoomorfismo, escatologias• Determinismo social e racial• Foco nas camadas mais baixas da sociedade• Denúncia social (exploração do homem pelo homem)

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O zunzum chegava ao seu apogeu. (...) As corridas até à venda reproduziam-se, transformando-se num verminar constante de formigueiro assanhado. (...) Rompiam das gargantas os fados portugueses e as modinhas brasileiras. Um carroção de lixo entrou com grande barulho de rodas na pedra, seguido de uma algazarra medonha algaraviada pelo carroceiro contra o burro. E, durante muito tempo, fez-se um vaivém de mercadores. Apareceram os tabuleiros de carne fresca e outros de tripas e fatos de boi; Cada vendedor tinha o seu modo especial de apregoar, destacando-se o homem das sardinhas, com as cestas de peixe dependuradas, à moda de balança, de um pau que ele trazia ao ombro. Nada mais preciso do que o seu primeiro guincho estridente e gutural para surgir logo, como por encanto, uma enorme variedade de gatos, que vieram correndo acercar-se dele com grande familiaridade, roçando-se-lhe nas pernas arregaçadas e miando suplicantemente.(...)E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa, começou a minhocar, a esfervilhar, a crescer, um mundo, uma coisa viva, uma geração, que parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro, e multiplicar-se como larvas no esterco.

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Aluísio Azevedo(1857 – 1913)

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“O Mulato” (1881 – marco inicial)Raimundo, mestiço filho de uma escrava e um fazendeiro, criado na Europa, volta ao Maranhão, onde sofre forte preconceito. Apaixona-se pela prima, Ana Rosa, mas o romance é impedido pelo seu tio. É morto pelo padre Diogo, que se casa com Ana (como seu pai havia sido assassinado pelo padre amante de sua esposa).• Determinismo racial, social e histórico• Anticlericalismo• Crítica ao preconceito racial

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“O Cortiço” (1890)João Romão é um comerciante português que constrói um cortiço no Rio de Janeiro, com a ajuda da negra Bertoleza, sua amante. Ao lado moram Miranda e sua família (a esposa Estela e sua filha Zulmira), membros da alta burguesia carioca que a princípio se incomodam com a situação sórdida do estabelecimento de João Romão.

Dentre os inúmeros moradores do cortiço (que abriga pessoas de baixa renda, como lavadeiras e pedreiros, que apresentam aspectos considerados “problemas sociais” à época, como a prostituição, a promiscuidade e o homossexualismo), destaca-se Jerônimo, um pedreiro português casado com Piedade, homem honesto e trabalhador.

Mas, quando este se apaixona pela mulata Rita Baiana, namorada do capoeirista Firmo, muda de comportamento, passando a beber e a faltar em seu trabalho, até que abandona a esposa, junta-se a Rita e assassina Firmo.

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Após o assassinato, os moradores do cortiço vizinho, onde Firmo morava, ateiam fogo à estalagem de João Romão para vingar a morte do capoeirista, incêndio este que destrói a vida de muitos moradores mas acaba por ajudar João, pois este o reconstrói, deixando-o mais próspero.

Movido pelo desejo de ascensão social, Romão aproxima-se de Miranda e pede a mão de sua filha, Zulmira. Mas para poder casar-se o português deve se livrar de Bertoleza, problema que é resolvido quando o dono do cortiço denuncia a amante a seus donos (pois Romão havia mentido quando dissera a Bertoleza que havia comprado sua alforria, e na verdade ela era uma “escrava fugida”). Ameaçada de voltar ao cativeiro, a negra se suicida, e João Romão fica livre para casar-se com a filha de Miranda.

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• Condicionamento das personagens ao meio físico – determinismo social)•·Satisfação dos instintos•· Visão biológica do ser humano – zoomorfismo;• Determinismo racial (comportamento dos portugueses X comportamento dos brasileiros) ·        •Denúncia social – foco nas “classes baixas” da sociedade.

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Raul Pompéia(1863 – 1895)

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“O Ateneu – Crônica de saudades” (1888)• Misto de ficção e autobiografia• Narrativa em primeira pessoa das recordações de Sérgio sobre sua infância vivida num internato• Formação intelectual, social e sexual do adolescente• Confinamento induz a relações de hipocrisia, falsidade, submissão e ao homossexualismo• Ateneu como um microcosmo que reflete as relações da sociedade• Diretor Aristarco: ambição, hipocrisia e elitismo• Exceção: D. Ema (esposa de Aristarco, paixão platônica e maternal de Sérgio)• “Vingança” e símbolo de decadência: incêndio final

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• Características híbridas:Realismo (crítica social, análise psicológica, foco nas elites)Naturalismo (determinismo social, internato como microcosmo da sociedade, zoomorfismo, aspectos degradantes do comportamento humano, homossexualismo)Expressionismo (deformação grotesca, caricatural)Impressionismo (reflexos subjetivos da memória fragmentada, seqüência cronológica entrecortada por associações inconscientes)