reaproveitamento energético de refugos de rotomoldagem

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BRUNO BRANDINO ZUIM REAPROVEITAMENTO ENERGÉTICO DOS REFUGOS INDUSTRIAIS DO PROCESSO DE ROTOMOLDAGEM A PARTIR DA GASEIFICAÇÃO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo Curso de Engenharia Elétrica com ênfase em Sistemas de Energia e Automação ORIENTADOR: Prof. Dr. Valdir Schalch São Carlos 2013

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O desenvolvimento do sistema capitalista, o crescimento populacional e o aumento da produção de bens de consumo são alguns dos fatores que contribuem para a geração crescente e, por vezes, desordenada dos resíduos sólidos no planeta. Contudo, em muitos casos não há a prática de destinação e disposição ambientalmente adequada para tais materiais. Possíveis tratamentos para os resíduos englobam processos termoquímicos de reaproveitamento energético, os quais convertem materiais de baixo valor agregado em produtos de interesse, tal como a eletricidade. Este trabalho consistiu, particularmente, na avaliação da instalação de um sistema de gaseificação em uma indústria de médio porte. A partir de um estudo de caso, foram obtidos os dados do processo de transformação de polímeros por seu processo produtivo de rotomoldagem, segundo os quais foi estimada a quantidade de energia possível de ser gerada a partir do poder calorífico da resina polimérica proveniente dos refugos industriais, sendo estes o combustível para o processo de gaseificação. A estratégia metodológica compreendeu a determinação das rotas produtivas e dos equipamentos constituintes do sistema gaseificador. Dessa forma, foram discutidas, primeiramente, as vantagens e as desvantagens da eventual utilização de tal sistema para a empresa do estudo de caso. Por fim, foi considerada tal hipótese para outros possíveis tipos de indústrias presentes no mercado, principalmente no que se refere às diferentes capacidades produtivas. Os resultados destacam, em relação à indústria alvo, que o sistema ainda não é viável, em razão de seu baixo consumo de resina polimérica. No entanto, a discussão aponta uma série de vantagens para esta aplicação em empresas de grande porte. Nestas, além de assegurarem-se demandas poliméricas satisfatórias para a geração de energia elétrica em escalas tangíveis, outros inconvenientes intrínsecos à aquisição do sistema gaseificador são também minimizados. A análise dos resultados permitiu concluir, ainda, que um processo de tratamento de resíduos, tal como a gaseificação, não propicia apenas o benefício energético, mas integra uma das possíveis medidas capazes de desenvolver plenamente um sistema de gestão ambiental empresarial. Este sistema, ao considerar a destinação correta dos resíduos em vez da simples disposição final, contemplaria aspectos econômicos e ambientais. Ao mesmo tempo, a organização fortificaria sua imagem e projetar-se-ia competitivamente no mercado, minimizando o risco de eventuais prejuízos financeiros.

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  • BRUNO BRANDINO ZUIM

    REAPROVEITAMENTO ENERGTICO

    DOS REFUGOS INDUSTRIAIS DO

    PROCESSO DE ROTOMOLDAGEM A

    PARTIR DA GASEIFICAO

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado

    Escola de Engenharia de So Carlos, da

    Universidade de So Paulo

    Curso de Engenharia Eltrica com nfase em

    Sistemas de Energia e Automao

    ORIENTADOR: Prof. Dr. Valdir Schalch

    So Carlos

    2013

  • RESUMO ZUIM, B. B. Reaproveitamento energtico dos refugos industriais do processo de rotomoldagem a partir da gaseificao. 2013. 140 p. Trabalho de Concluso de Curso (Graduao) Escola de Engenharia de So Carlos, Universidade de So Paulo, So Carlos, 2013. O desenvolvimento do sistema capitalista, o crescimento populacional e o aumento da produo de bens de consumo so alguns dos fatores que contribuem para a gerao crescente e, por vezes, desordenada dos resduos slidos no planeta. Contudo, em muitos casos no h a prtica de destinao e disposio ambientalmente adequada para tais materiais. Possveis tratamentos para os resduos englobam processos termoqumicos de reaproveitamento energtico, os quais convertem materiais de baixo valor agregado em produtos de interesse, tal como a eletricidade. Este trabalho consistiu, particularmente, na avaliao da instalao de um sistema de gaseificao em uma indstria de mdio porte. A partir de um estudo de caso, foram obtidos os dados do processo de transformao de polmeros por seu processo produtivo de rotomoldagem, segundo os quais foi estimada a quantidade de energia possvel de ser gerada a partir do poder calorfico da resina polimrica proveniente dos refugos industriais, sendo estes o combustvel para o processo de gaseificao. A estratgia metodolgica compreendeu a determinao das rotas produtivas e dos equipamentos constituintes do sistema gaseificador. Dessa forma, foram discutidas, primeiramente, as vantagens e as desvantagens da eventual utilizao de tal sistema para a empresa do estudo de caso. Por fim, foi considerada tal hiptese para outros possveis tipos de indstrias presentes no mercado, principalmente no que se refere s diferentes capacidades produtivas. Os resultados destacam, em relao indstria alvo, que o sistema ainda no vivel, em razo de seu baixo consumo de resina polimrica. No entanto, a discusso aponta uma srie de vantagens para esta aplicao em empresas de grande porte. Nestas, alm de assegurarem-se demandas polimricas satisfatrias para a gerao de energia eltrica em escalas tangveis, outros inconvenientes intrnsecos aquisio do sistema gaseificador so tambm minimizados. A anlise dos resultados permitiu concluir, ainda, que um processo de tratamento de resduos, tal como a gaseificao, no propicia apenas o benefcio energtico, mas integra uma das possveis medidas capazes de desenvolver plenamente um sistema de gesto ambiental empresarial. Este sistema, ao considerar a destinao correta dos resduos em vez da simples disposio final, contemplaria aspectos econmicos e ambientais. Ao mesmo tempo, a organizao fortificaria sua imagem e projetar-se-ia competitivamente no mercado, minimizando o risco de eventuais prejuzos financeiros. Palavras-chave: resduos slidos, reaproveitamento energtico, gaseificao, refugos industriais, rotomoldagem.

  • ABSTRACT ZUIM, B. B. Energy recovery of the industrial scrap from the rotational molding process through gasification. 2013. 140 p. Trabalho de Concluso de Curso (Graduao) Escola de Engenharia de So Carlos, Universidade de So Paulo, So Carlos, 2013. The development of the capitalist system, the population growth and the rising production of consumer goods are some of the factors that contribute to the growing and, at times, disordered generation of solid waste on the planet. However, in some cases there is still no environmentally sound destination and disposal conducts for such materials. Possible treatments include energy recovery through thermo chemical processes, which convert low value-added products into ones of interest, such as electricity. The present study consisted, particularly, of the evaluation of installing a gasification system in a medium-sized industry. Based on a case study, data were obtained from the polymer transformation process of its productive process of rotational molding, through which allowed to estimate the achievable amount of energy that could be generated from the calorific value of the polymer resin derived from the industrial scrap, being this one the fuel for the gasification process. The methodological strategy involved the determination of the production routes and also the constituent equipment of the gasifier system. Thus, were discussed, first, the advantages and disadvantages of the eventual use of such a system for the targeted company. This hypothesis was considered for other existing sorts of industries, especially regarding to the different productive capacities. The results revealed, concerning to the targeted industry, that the system is not yet feasible, due to its low consumption of polymer resin. Nevertheless, the discussion suggests a range of advantages for this application in large-sized companies. In these ones, besides being ensured satisfactory polymer demands for generating electricity in tangible scales, other drawbacks inherent to the acquisition of the gasifier system are also minimized. The analysis of the results led to the conclusion, moreover, that a waste treatment process, such as gasification, not only provides the energy benefit, but integrates one of the suitable measures for developing a fully corporate environmental management system. This system, by addressing a proper waste management instead of its simple final disposal, would contemplate both economic and environmental aspects. At the same time, the organization would fortify its image and project itself competitively in the market, minimizing the risk of any financial losses. Keywords: solid waste, energy recovery, gasification, industrial scraps, rotational molding.

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    Abreviatura/Sigla Descrio

    A Cinzas

    ABELPRE Associao Brasileira de Empresas de Limpeza Pblica e

    Resduos especiais

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    ABQUIM Associao Brasileira da Indstria Qumica

    ABS Acrilonitrila butadieno estireno

    ADN ou DNA cido Desoxirribonuclico

    ANNEL Agncia Nacional de Energia Eltrica

    ASTM American Society for Testing and Materials

    BEN Balano Energtico Nacional

    BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social

    BR Borracha de Polibutadieno

    C Carbono

    CD Compact Disc (Disco Laser)

    CEMPRE Compromisso Empresarial para a Reciclagem

    CMM Crescimento Mensal Mdio

    CMMAD Comisso Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

    CNUMAD Conferncia das Naes Unidas de Meio Ambiente e

    Desenvolvimento

    CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

    CP Capacidade Produtiva

    DPMM Demanda Polimrica Mensal Mdia

    EG Eficincia do Gaseificador

    EGM Eficincia Global do MACI

    EIA Estudo de Impacto Ambiental

    ET Energia Trmica

  • ETA Estao de Tratamento de gua

    ETE Estao de Tratamento de Esgoto

    ETS Eficincia Total do Sistema

    EVA Espuma Vinlica Acetinada

    FU Fator de Utilizao

    H Hidrognio

    IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

    Renovveis

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IMNC ndice Mdio de No Conformidade

    INC ndice de No Conformidade

    IUPAC International Union of Pure and Applied Chemistry

    MACI Motor Alternativo de Combusto Interna

    MCC Material Contendo Carbono

    MP Massa Polimrica Mensal Mdia

    N Nitrognio

    NBR Borracha Nitrilica

    O Oxignio

    ONU Organizao das Naes Unidas

    PA Poliamida

    PC Poder Calorfico

    PCI Poder Calorfico Inferior

    PCS Poder Calorfico Superior

    PE Polietileno

    PEAD Polietileno de Alta Densidade

    PEBD Polietileno de Baixa Densidade

    PELBD Polietileno Linear de Baixa Densidade

    PET Poli (tereftalado de etileno)

  • PEUAPM Polietileno de Ultra Alto Peso Molecular

    PEUBD Polietileno de Ultra Baixa Densidade

    PI Potncia Instalada

    PIB Produto Interno Bruto

    PMMA Polimetil Metacrilato

    PNRS Poltica Nacional dos Resduos Slidos

    POM Polixidometileno (Poliacetal)

    PP Polipropileno

    ppm Partes por Milho

    PS Poliestireno

    PT Potncia Trmica

    PTFE ou TEFLON Politetrafluoretileno

    PVC Policloreto de Vinila

    PVDC Policloreto de Vinilideno

    PVF Polifluoreto de Vinila

    QP Quantidade Processada

    RIMA Relatrio de Impacto Ambiental

    RS Resduos Slidos

    RSS Resduos de Servio da Sade

    RSU Resduos Slidos Urbanos

    S Enxofre

    SBR Borracha de Butadieno Estireno

    SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente

    SNVS Sistema Nacional de Vigilncia Sanitria

    TG Turbinas ou Microturbinas a Gs

    TU Tempo de Utilizao

    VM Vazo Mssica

    W Umidade

  • SUMRIO

    1. INTRODUO .............................................................................................................. 12

    1.1. A problemtica dos resduos slidos ....................................................................... 13

    1.2. Desenvolvimento sustentvel .................................................................................. 15

    2. OBJETIVOS .................................................................................................................. 18

    3. REVISO BIBLIOGRFICA .......................................................................................... 19

    3.1. Resduos slidos ..................................................................................................... 19

    3.1.1. Definies ......................................................................................................... 20

    3.1.2. Conceitos iniciais .............................................................................................. 21

    3.1.3. Caracterizao ................................................................................................. 22

    3.1.3.1. Composio elementar .............................................................................. 23

    3.1.3.2. Poder calorfico .......................................................................................... 24

    3.1.4. Classificao .................................................................................................... 25

    3.1.5. Acondicionamento e armazenamento ............................................................... 26

    3.1.6. Coleta e transporte ........................................................................................... 27

    3.1.7. Tratamento e destinao final ........................................................................... 29

    3.1.7.1. Triagem ...................................................................................................... 30

    3.1.7.2. Reciclagem ................................................................................................ 31

    3.1.7.3. Compostagem ............................................................................................ 33

    3.1.7.4. Digesto anaerbia .................................................................................... 34

    3.1.7.5. Incinerao ................................................................................................ 35

    3.1.8. Disposio final ................................................................................................ 36

    3.2. Polmeros ................................................................................................................ 39

    3.2.1. Nomenclatura ................................................................................................... 39

    3.2.2. Histrico ........................................................................................................... 41

    3.2.3. Origem e utilizao ........................................................................................... 42

    3.2.4. Classificao .................................................................................................... 44

    3.2.5. Polietileno ......................................................................................................... 46

    3.2.5.1. Polietileno linear de baixa densidade ......................................................... 48

    3.2.6. Biodegradao e reciclagem ............................................................................ 50

    3.3. Processos produtivos industriais de transformao de polmeros ........................... 52

    3.3.1. Moldagem por injeo ...................................................................................... 53

  • 3.3.1.1. Histrico ..................................................................................................... 53

    3.3.1.2. Etapas gerais do processo ......................................................................... 54

    3.3.1.3. Tipos de injeo ......................................................................................... 55

    3.3.1.4. Mquinas de injeo .................................................................................. 55

    3.3.1.5. Parmetros do processo ............................................................................ 57

    2.3.2. Extruso ........................................................................................................... 58

    3.3.2.1. Histrico ..................................................................................................... 59

    3.3.2.2. Etapas gerais do processo ......................................................................... 60

    3.3.2.3. Tipos de extruso ....................................................................................... 61

    3.3.2.4. Mquinas de extruso ................................................................................ 63

    3.3.2.5. Parmetros do processo ............................................................................ 64

    2.3.3. Rotomoldagem ................................................................................................. 64

    3.3.3.1. Histrico ..................................................................................................... 65

    3.3.3.2. O processo ................................................................................................. 68

    3.3.3.2.1. Dosagem do p ................................................................................... 69

    3.3.3.2.2. Aquecimento do molde ........................................................................ 69

    3.3.3.2.3. Resfriamento e rotao ........................................................................ 72

    3.3.3.2.4. Desmoldagem ..................................................................................... 73

    3.3.3.3. Matria-prima ............................................................................................. 73

    2.3.3.3.1. Moagem .............................................................................................. 73

    3.3.3.3.2. Pigmentao ........................................................................................ 75

    3.3.3.4. Tipos de mquinas ..................................................................................... 76

    3.3.3.4.1 Rock and Roll ....................................................................................... 76

    3.3.3.4.2. Clamshell ............................................................................................. 76

    3.3.3.4.3. Shuttle ................................................................................................. 77

    3.3.3.4.4. Turret ................................................................................................... 78

    3.3.3.5. Vantagens e limitaes .............................................................................. 78

    3.3.4 Outros processos .............................................................................................. 79

    3.3.4.1. Moldagem por sopro .................................................................................. 79

    3.3.4.2. Termoformagem ......................................................................................... 80

    3.3.4.3. Calandragem ............................................................................................. 81

    3.3.4.4. Moldagem por compresso ........................................................................ 82

    3.4. Aproveitamento energtico ..................................................................................... 83

  • 3.4.1. Pirlise .............................................................................................................. 85

    3.4.2. Gaseificao ..................................................................................................... 87

    3.4.2.1. Tipos de gaseificadores ............................................................................. 91

    3.4.2.1.1. Gaseificadores de leito fixo .................................................................. 92

    3.4.2.1.1.1. Gaseificador contracorrente .......................................................... 92

    3.4.2.1.1.2. Gaseificador co-corrente ............................................................... 94

    3.4.2.1.2. Gaseificadores de leito fluidizado ........................................................ 95

    3.4.2.1.2.1. Gaseificador de leito fluidizado circulante ...................................... 95

    3.4.2.1.2.2. Gaseificador de leito fluidizado borbulhante .................................. 96

    2.4.2.2. Comparao entre gaseificadores .............................................................. 97

    3.4.2.3. Limpeza do gs de sntese......................................................................... 98

    3.4.2.4. Utilizao do gs de sntese ..................................................................... 105

    3.4.2.4.1. Aproveitamento trmico ..................................................................... 106

    3.4.2.4.2. Gerao de energia e eltrica ............................................................ 106

    3.4.2.4.2.1. Motores alternativos de combusto interna ................................. 107

    3.4.2.4.2.2. Motores stirling ............................................................................ 108

    3.4.2.4.2.3. Turbinas a gs ............................................................................ 110

    3.4.2.4.2.4. Clulas a combustvel ................................................................. 111

    4. ESTUDO DE CASO..................................................................................................... 113

    4.1 Dados obtidos ........................................................................................................ 115

    5. METODOLOGIA .......................................................................................................... 117

    5.1. Consideraes iniciais........................................................................................... 117

    5.2. Taxa de gerao de refugos ................................................................................. 118

    5.3. Vazo mssica ...................................................................................................... 119

    5.4. Potncia trmica ................................................................................................... 120

    5.5. Especificao do reator de gaseificao ............................................................... 121

    5.6. Eficincia total do sistema ..................................................................................... 122

    5.7. Capacidade produtiva ........................................................................................... 123

    6. RESULTADOS E DISCUSSO ................................................................................... 124

    7. CONCLUSES ........................................................................................................... 129

    8. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................ 132

  • 12

    1. INTRODUO

    Pode-se definir industrializao como um processo de modernizao pelo qual os

    meios de produo de uma sociedade passam, trazendo como consequncias diretas o

    aumento da produtividade e a alterao da dinmica das relaes sociais.

    Na Idade Mdia, tcnicas avanadas de manufatura, agricultura e artesanato

    iniciaram e conduziram os povos a um avano na produo, sendo estes os primeiros

    fomentos ao desenvolvimento industrial. O primeiro pas do mundo a atravessar uma fase

    de pleno desenvolvimento industrial foi a Inglaterra. No sculo XVIII, houve a chamada

    Primeira Revoluo Industrial, momento a partir do qual este pas passou a basear seu

    desenvolvimento econmico nas indstrias. Essa fase teve como principais caractersticas

    desde a inveno da mquina a vapor explorao dos trabalhadores, dentre outros

    fatores, os quais impulsionaram o estabelecimento do sistema capitalista na economia.

    A Segunda Revoluo Industrial, ocorrida no sculo XIX, esteve inserida no

    contexto do Imperialismo, em que os pases partiam em busca de novas reas e territrios

    de influncia por todo o mundo. Assim, poderiam vender seus produtos industrializados e

    obter matrias-primas necessrias s suas indstrias. Pode-se dizer que essa Revoluo

    acabou por expandir os principais grupos de pases detentores de tecnologias e produes

    industriais, sendo um perodo caracterizado pela descoberta e utilizao da energia eltrica

    e o uso do petrleo como importante matria-prima dos processos industriais.

    Em um cenrio mais contemporneo, a Terceira Revoluo Industrial, por sua vez,

    pode ser caracterizada pelo uso da informtica e da telemtica, as quais atriburam maior

    velocidade s relaes de trabalho e produo. Comparado a pases como os Estados

    Unidos ou Japo, o Brasil sem dvida iniciou com certo atraso seu processo de

    industrializao, experimentando um desenvolvimento industrial mais vigoroso e

    representativo apenas no governo de Getlio Vargas, a partir do qual se investiu

    fortemente na industrializao de base. Em um segundo momento, no governo de

    Juscelino Kubitscheck, houve outro significativo desenvolvimento das indstrias de

    produo de bens de consumo, junto proliferao das empresas multinacionais.

    Nas dcadas de 70, 80 e 90, a industrializao do Brasil continuou a se

    desenvolver, embora o pas tenha sofrido alguns perodos de estagnao e crises

    econmicas. Mudanas de governos e moedas, criao de novas leis, dentre outros

    acontecimentos, marcaram essa transformao no cenrio brasileiro. Atualmente, o Brasil

    desfruta de um extenso parque industrial, capaz de produzir e distribuir uma vasta gama de

    produtos por seu territrio. Embora grande parcela da indstria nacional ainda seja voltada

    s commodities, o que atribui ao pas certa carncia ou at mesmo dependncia em

  • 13

    alguns setores de tecnologia mais fina e elaborada, o parque industrial brasileiro vem

    passando por uma intensa fase de transformao, buscando acompanhar as tendncias da

    crescente urbanizao e do exacerbado aumento do consumo por grande parte da

    populao. Nesse contexto, o mundo corporativo indubitavelmente se reestrutura, na

    incessante busca de sua parcela do mercado e da maximizao de seus lucros, atravs da

    competitividade comercial.

    de se esperar, porm, que essa dinmica traga graves consequncias ao meio

    ambiente e ao prprio Homem, como a futura escassez dos recursos naturais, a

    transformao do meio fsico, a perspectiva da crise energtica e do esgotamento da gua

    potvel, o aumento do volume de resduos produzidos e a problemtica de sua disposio,

    dentre outros problemas. A produo de resduos, embora inerente a toda e qualquer

    forma de vida ou atividade, vem se acelerando de forma exponencial em vista dessa

    dinmica.

    Diante de possveis entraves ao seu prprio desenvolvimento, no resta alternativa

    ao Homem que no se preocupar em resolv-los ou ao menos minimiz-los. Dessa forma,

    aquela antiga viso, da Natureza como fonte inesgotvel de recursos materiais e

    energticos e que possui capacidade infinita de deposio e depurao aos poucos

    substituda por um modelo com base no ciclo de vida e integrao da gesto dos resduos.

    Segundo Zanin (2004), esse conceito requer a montagem de um sistema complexo de

    procedimentos e aes em que a quantidade de resduos a ser reaproveitada dentro de um

    sistema produtivo ou de consumo seja cada vez maior e que a quantidade a ser disposta,

    menor.

    1.1. A problemtica dos resduos slidos

    No incio do sculo XXI, com uma populao estimada de 6,2 bilhes, eram

    gerados mais de um bilho de toneladas de resduos slidos por ano (ZANIN, 2004).

    Segundo Borges (2000), em 2000, o Brasil produziu o dobro da quantidade de resduos

    que produzia 15 anos antes.

    Sabe-se, por certo, que estes ndices de produo de resduos esto intimamente

    ligados tanto ao crescimento populacional quanto s mudanas de comportamento da

    sociedade. Como consequncia inevitvel deste processo, tem-se uma srie de impactos

    ambientais. O agravamento da situao ambiental iniciou-se aps a Revoluo Industrial,

    j que as tecnologias desenvolvidas resultaram em uma melhora nas condies de vida da

    sociedade e geraram significativo crescimento populacional. Nesse contexto, j se tornava

  • 14

    irreversvel o processo de desenvolvimento de tcnicas de produo em massa, visando

    atender a demanda crescente de consumo. Os processos industriais passaram a gerar

    produtos em velocidade cada vez maior, contribuindo para o aumento da produo de

    resduos, seja durante o processo de fabricao, seja pelo estmulo ao consumo.

    Entretanto, sabido que a elevada gerao de resduos no caminha em parceria

    com o descarte correto. Segundo a (Associao Brasileira de Empresas de Limpeza

    Pblica e Resduos Especiais ABRELPE, 2012), dos 64 milhes de toneladas de

    resduos produzidos pela populao, 24 milhes (37,5%) foram enviados para destinos

    inadequados. Assim, a adequada destinao desses resduos representa um dos maiores

    desafios para o Brasil e para a humanidade.

    De acordo com o Panorama dos Resduos Slidos produzido anualmente pela

    Abrelpe, cerca de trs mil cidades, 54% do total, incluindo as capitais Belm e Braslia,

    ainda enviam resduos para destinos inadequados. Alm disso, o desconhecimento dos

    brasileiros em relao ao destino dos resduos tambm preocupante. De acordo com o

    estudo Consumo Sustentvel da WWF-Brasil (2013), uma em cada trs pessoas no faz

    ideia para onde vo os prprios resduos produzidos em sua casa.

    fato que faltam os investimentos necessrios para avanar na coleta e destinao

    correta dos resduos slidos, mas prticas sustentveis na hora de consumir ainda so

    deixadas de lado por grande parte dos brasileiros. o que revela outros dados do estudo

    Consumo Sustentvel. O valor do produto, por exemplo, considerado um aspecto

    fundamental por 70% dos entrevistados. Caractersticas do produto ligadas

    sustentabilidade, no entanto, como os meios utilizados na produo, o tempo que o

    produto leva para desaparecer na natureza e o fato de a embalagem ser reciclvel, ficam

    em segundo plano (WWF-Brasil, 2013).

    Vive-se, pois, em meio problemtica dos resduos slidos. O sistema capitalista, o

    crescimento populacional, o aumento da produo de bens de consumo, dentre outros

    fatores, parecem no ceder de forma alguma, enquanto a gerao massiva de resduos

    continuar sendo inerente a tais avanos. Contudo, no h como dispor eterna e

    adequadamente todos esses resduos, o que pode configurar, no futuro, uma situao de

    calamidade.

    Aprovada em 2010, a Poltica Nacional de Resduos Slidos (PNRS) foi elaborada

    para organizar e definir a forma como o pas deve tratar seus resduos, a partir de

    definies e conceitos estabelecidos com rigor. Depois de sua aprovao foi criado, ainda,

    o Plano Nacional de Resduos Slidos, que determina para 2014 o fechamento dos lixes

    a cu aberto, dando lugar construo de aterros sanitrios apropriados. Como

    penalidade, os municpios que no cumprirem a determinao sero enquadrados por

    crimes ambientais.

  • 15

    perceptvel, portanto, que embora a problemtica da gerao de resduos e sua

    disposio final ainda sejam alarmantes, algumas aes esto sendo colocadas em

    prtica, na tentativa de frear este processo. Ainda que no sejam suficientes para alterar

    completamente o cenrio ambiental, social e econmico do Brasil, no que se refere ao

    manejo adequado dos resduos slidos, deixam claro por onde se deve comear.

    1.2. Desenvolvimento sustentvel

    Segundo Agra Filho (2012), para atender s suas necessidades bsicas, a

    sociedade interfere no ambiente, provocando alteraes sensveis em suas condies

    naturais. Desse modo, torna-se indispensvel o entendimento do processo de gerao dos

    impactos ambientais como consequncia dos processos dinmicos e interativos que

    ocorrem entre os diversos componentes do ambiente natural e social.

    Em geral, os problemas ambientais emergem da inadequao ou insustentabilidade

    dos prprios padres de produo e de consumo da sociedade que, por sua vez,

    constituem o seu modelo de desenvolvimento (MAIA e GUIMARES, 1997). Em meio a

    esse paradoxo de desenvolvimento e necessidade de prticas ambientalmente mais

    corretas, surge o conceito de desenvolvimento sustentvel.

    H muito anos j se considerava a ideia da necessidade de ao menos tentar impor

    limites ao crescimento desordenado da sociedade. Diante dessa polmica, a Organizao

    das Naes Unidas (ONU) decidiu realizar a primeira Conferncia Mundial sobre o

    Ambiente Humano, em 1972, na cidade de Estocolmo.

    Apesar das controvrsias e da heterogeneidade de interesses envolvidos, os

    princpios e recomendaes resultantes dessa conferncia representaram um marco no

    enfoque conceitual do desenvolvimento. Proclama-se a falncia do modelo de

    desenvolvimento existente e preconiza-se a necessidade de alternativas qualidade do

    crescimento e que se reconhea o ambiente como dimenso fundamental e base de sua

    sustentao.

    As iniciativas e manifestaes internacionais evoluram para a criao da Comisso

    Mundial sobre o Meio Ambiente, tambm instituda pela ONU, que resultou no relatrio

    Nosso Futuro Comum. Nesse documento props-se a seguinte definio para o

    desenvolvimento sustentvel: o desenvolvimento que atende s necessidades do

    presente sem comprometer a possibilidade das geraes futuras atenderem a suas

    prprias necessidades (CMMAD, 1988).

  • 16

    Atravs dos compromissos firmados na Conferncia das Naes Unidas de Meio

    Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD, 1997), os governos nacionais consolidaram a

    perspectiva de se redirecionarem os processos de crescimento econmico vigentes para

    um novo modelo de desenvolvimento regido pela integrao e sustentabilidade nas suas

    dimenses sociais, econmicas, ecolgicas, geopolticas e culturais (SACHS, 1993).

    Esse desenvolvimento considera, como suas caractersticas fundamentais, a

    equidade na distribuio dos bens econmicos e ecolgicos, o consenso social dos seus

    propsitos econmicos e a prudncia na apropriao dos recursos ambientais

    (ACSELRAD, 1997; SACHS, 1993). Ainda para este ltimo autor, o planejamento do

    desenvolvimento deve considerar as seguintes dimenses do ecodesenvolvimento:

    Sustentabilidade social: prega a construo de uma civilizao com maior

    equidade na distribuio de rendas e bens, de modo a reduzir o abismo entre os

    padres de vida dos ricos e dos pobres.

    Sustentabilidade cultural: inclui a procura de razes endgenas de processos de

    modernizao e de sistemas agrcolas integrados; processos que busquem

    mudanas dentro da continuidade cultural e que traduzam o conceito normativo

    de ecodesenvolvimento em um conjunto de solues especficas para o local, o

    ecossistema, a cultura e a rea.

    Sustentabilidade econmica: deve ser viabilizada atravs da alocao e do

    gerenciamento mais eficiente dos recursos e de um fluxo constante de

    investimentos pblicos e privados. A eficincia econmica deve ser avaliada em

    termos macrossociais, e no apenas atravs do critrio da rentabilidade

    empresarial de carter microeconmico.

    Sustentabilidade espacial: deve ser dirigida para a obteno de uma

    configurao rural-urbana mais equilibrada e uma melhor distribuio territorial

    de assentamentos urbanos e atividades econmicas, com nfase no que segue:

    Reduzir a concentrao excessiva nas reas metropolitanas;

    Frear e reverter a destruio de ecossistemas frgeis, mas de

    importncia vital;

    Promover a agricultura e a explorao agrcola das florestas atravs de

    tcnicas modernas e regenerativas altamente controladas;

    Explorar o potencial da industrializao descentralizada, acoplada

    nova gerao de tecnologias;

    Criar uma rede de reservas naturais e de biosfera, para proteger a

    biodiversidade.

    Sustentabilidade ecolgica: pode ser aperfeioada utilizando-se das seguintes

    ferramentas:

  • 17

    Ampliar a capacidade de carga do planeta Terra intensificando o uso do

    potencial de recursos dos diversos ecossistemas, com um mnimo de

    danos aos sistemas de sustentao da vida;

    Limitar o consumo de combustveis fsseis e de outros recursos e

    produtos que so facilmente esgotveis ou danosos ao meio ambiente,

    substituindo-os por recursos ou produtos renovveis e/ou abundantes,

    usados de forma no agressiva ao meio ambiente;

    Reduzir o volume de resduos e de poluio, atravs da conservao de

    energia e de recursos e da reciclagem;

    Promover a autolimitao no consumo de materiais;

    Intensificar a pesquisa para a obteno de tecnologias de baixo teor de

    resduos e eficientes no uso de recursos para o desenvolvimento

    urbano, rural e industrial;

    Definir normas para uma adequada proteo ambiental atravs de

    instrumentos econmicos, legais e administrativos necessrios para o

    seu cumprimento.

    A efetivao da sustentabilidade compreenderia, portanto, o atendimento e

    aplicao de todas essas condies, o que representa, incontestavelmente, um dos

    maiores desafios para a humanidade. Por fim, este trabalho se baseia, principalmente, nos

    aspectos da sustentabilidade ecolgica aliados aos da sustentabilidade econmica.

  • 18

    2. OBJETIVOS

    O objetivo principal deste Trabalho de Concluso de Curso (TCC) consistiu na

    realizao de um estudo de caso em uma indstria de transformao de polmeros pelo

    processo de rotomoldagem. Foram obtidos, essencialmente, os dados de consumo de

    matria-prima desta indstria, bem como a gerao de produtos no conformes pelo

    processo produtivo.

    A partir destes dados, estimou-se a quantidade de energia possvel de ser gerada a

    partir do poder calorfico da resina polimrica, ou seja, da utilizao da matria-prima

    presente nos produtos no conformes como combustvel para o processo de gaseificao.

    Para isso, foram traadas rotas produtivas e definidos os equipamentos constituintes do

    sistema gaseificador.

    De acordo com a anlise da escala de grandeza da potncia obtida, foram

    estabelecidas comparaes entre as vantagens e as desvantagens da eventual utilizao

    de um sistema de gaseificao para esse tipo de aplicao. Por fim, estendeu-se esta

    anlise a outros casos, englobando diferentes capacidades e caractersticas produtivas

    das indstrias de transformao de polmeros existentes no mercado.

  • 19

    3. REVISO BIBLIOGRFICA

    Este captulo visa a contextualizar a proposta deste trabalho, a partir da reunio de

    conceitos, definies e diferentes opinies de diversos autores com relao a todos os

    assuntos pertinentes ao completo desenvolvimento dos objetivos e da metodologia

    apresentada.

    3.1. Resduos slidos

    O desenvolvimento da sociedade impossvel sem a gerao de resduos, que

    compreende desde sobras de alimentao e entulhos provenientes de construes, at

    baterias e carcaas de eletroeletrnicos, cuja gerao acelerada pelo consumo cada vez

    maior e mais diversificada da populao. Diante desse cenrio surge o problema de como

    geri-los e gerenci-los.

    Felizmente, a sociedade atual tem visto o problema de maneira diferenciada, dando

    importncia que revela avanos significativos no que se refere produo, tratamento e

    disposio final de resduos slidos. Tem havido, gradativamente, uma maior abertura do

    tema no mbito poltico, sendo inmeras vezes tema central de discusses e assuntos

    abordados pela mdia.

    Neste sentido, a palavra lixo, associada a qualquer coisa imprestvel, nociva e que

    no possui valor, passa a ser substituda por resduo, passando a sugerir outra concepo,

    segundo a qual se muda drasticamente a abordagem do assunto. Enquanto se define o

    lixo, de forma simplista, como tudo aquilo que na realidade no tem mais funo e pode

    ser descartado, a nova perspectiva permite vrias alternativas para os resduos slidos:

    Evitar a produo de certos resduos;

    Diminuir sua produo ou a quantidade de materiais polimricos utilizados nas

    embalagens dos produtos;

    Reutiliz-los antes de considerar uma alternativa mais complexa;

    Submet-los ao processo de reciclagem;

    Aproveit-los energeticamente, ou seja, utilizar a energia presente nos resduos

    atravs de processos qumicos, fsicos ou biolgicos;

    Inertizar e dispor os resduos sem valor (rejeitos).

    Cada uma dessas opes apresenta, sem dvidas, certas dificuldades e no so

    facilmente realizveis. A opo de evitar a produo de certos resduos, por exemplo, no

  • 20

    de simples execuo no que diz respeito aos principais bens de consumo. Assim, deve-

    se considerar a viabilidade das estratgias em cada situao.

    Essencialmente, este captulo visa a abordar os diversos aspectos dos resduos

    slidos, desde sua definio e caractersticas at formas de disposio final. So tratados,

    ainda, conceitos que dizem respeito gesto e gerenciamento destes materiais.

    3.1.1. Definies

    A literatura de resduos slidos apresenta, sem dvidas, diversos conceitos e

    abordagens para o assunto. Segundo a (Associao Brasileira de Normas Tcnicas -

    ABNT, 2004), resduos slidos so

    resduos nos estados slido ou semisslido, que resultam de atividade da comunidade de origem: industrial, domstica, comercial, agrcola, de servios e de varrio. Ficam includos nesta definio os lodos provenientes dos sistemas de tratamento de gua, aqueles gerados em equipamentos e instalaes de controle de poluio, bem como determinados lquidos cujas particularidades tornem invivel o lanamento na rede pblica de esgotos ou corpos dgua, ou exijam, pra isso, solues tcnica e economicamente inviveis face melhor tecnologia prtica disponvel.

    Outra definio relevante a contida na Agenda 21, na qual consta que resduos

    slidos

    compreendem todos os restos domsticos e resduos no perigosos, tais como os resduos comerciais e institucionais, o lixo da rua e os entulhos de construo. Em alguns pases, o sistema de gesto dos resduos slidos tambm se ocupa dos resduos humanos, tais como excrementos, cinzas de incineradores, sedimentos de fossas spticas e de instalaes de tratamento de esgoto. Se manifestarem caractersticas perigosas, esses resduos devem ser tratados como resduos perigosos (CNUMAD, 1997).

    Vale observar, ainda, a definio da Legislao norte-americana que define

    resduos slidos como

    qualquer tipo de lixo, refugo, lodo de estao de tratamento de esgoto, de tratamento de gua ou de equipamento de controle de poluio de ar e outros materiais descartados, incluindo slidos, lquidos, semisslidos, gases em contineres resultantes de operaes industriais, comerciais, de minerao e agrcolas, e de atividades da comunidade, porm no inclui slidos ou materiais dissolvidos e esgoto domstico, slidos ou materiais dissolvidos na gua de fluxo de retorno em irrigao e descargas pontuais (USA 1989).

  • 21

    Por fim, a Lei n 12.305, que constitui a PNRS, estabelece, em seu inciso XVI do

    Artigo 3, que so considerados resduos slidos trs grandes grupos de materiais:

    1. Material, substncias, objetos ou bens descartados resultantes de atividades

    humanas em sociedade, nos estados slido ou semisslido;

    2. Lquidos cujas particularidades tornem invivel o seu lanamento na rede pblica

    de esgotos ou em corpos de gua, ou exijam, para isso, solues tcnica ou

    economicamente inviveis em face da melhor tecnologia disponvel;

    3. Gases contidos em recipientes (BRASIL, 2010).

    Outra definio importante com relao ao resduo consiste na avaliao de sua

    periculosidade. Esta caracterstica atribuda a um resduo que, em funo de suas

    propriedades fsicas, qumicas ou infecto-contagiosas, pode apresentar (ABNT, 2004):

    a) Risco sade pblica, provocando mortalidade, incidncia de doenas ou

    acentuando seus ndices;

    b) Risco ao meio ambiente, quando o resduo for gerenciado de forma inadequada.

    3.1.2. Conceitos iniciais

    Embora criteriosamente definidos pela PNRS, vale reiterar que os resduos slidos

    englobam os gases e lquidos, uma vez que, se o gs contido no recipiente no pudesse

    ser considerado resduo slido, este deveria ser completamente removido do recipiente, o

    que muitas vezes no vivel. Em outras palavras, se os gases no fossem assim

    considerados, embalagens s poderiam ser descartadas caso se fizesse vcuo dentro

    delas, o que um contrassenso (SOUTO e POVINELLI, 2012).

    Quanto aos lquidos, o fato de poder consider-los como resduos slidos permite

    que lquidos perigosos sejam acondicionados em tambores e dispostos em aterros de

    resduos industriais. Por fim, o termo semisslido permite que os lodos de estaes de

    tratamento de gua (ETA) e de tratamento de esgoto (ETE) sejam gerenciados como

    resduos slidos e, como tais, dispostos em aterros, desde que atendidos determinados

    requisitos (SOUTO e POVINELLI, 2012).

    A PNRS tambm formalizou os conceitos de destinao final ambientalmente

    adequada dos resduos e disposio final ambientalmente adequada dos rejeitos, duas

    definies distintas, embora complementares (BRASIL, 2010).

    Um resduo passa a ser chamado de rejeito quando se esgotarem todas as

    possibilidades de tratamento e recuperao por processos tecnolgicos disponveis e

  • 22

    economicamente viveis, de modo que no haja alternativa que no seja a disposio final

    ambientalmente adequada (BRASIL, 2010).

    Dessa forma, o que se entende por destinao final ambientalmente adequada o

    encaminhamento dos resduos para reutilizao, reciclagem, compostagem,

    aproveitamento energtico, dentre outras destinaes admitidas pelo poder pblico, no

    intuito de evitar danos ou riscos sade pblica e segurana, minimizando, ainda, os

    impactos ambientais negativos (BRASIL, 2010).

    J a disposio final ambientalmente adequada se refere exclusivamente aos

    rejeitos, consistindo na sua disposio ordenada em aterros. Como a disposio final

    tambm um tipo de destinao final, ela tambm deve evitar os mesmos aspectos

    negativos da destinao final ambientalmente adequada, segundo a Brasil (2010).

    Por fim, vale ressaltar que esta poltica tambm instituiu a responsabilidade

    compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos. Isto significa que, atualmente, os

    fabricantes, distribuidores, comerciantes, titulares dos servios pblicos de limpeza urbana

    e manejo de resduos slidos e os prprios consumidores so responsveis pelos resduos

    em geral.

    3.1.3. Caracterizao

    As caractersticas dos resduos slidos basicamente determinam a classificao

    dos resduos e, consequentemente, a forma de manuseio e operao. Algumas das

    caractersticas importantes so (PHILLIPI JR., 2005):

    Densidade aparente, medida em unidade de massa por unidade de volume;

    Umidade, em porcentagem de massa;

    Composio qualitativa, que corresponde lista dos materiais e substncias de

    interesse presentes nos resduos;

    Composio quantitativa, que corresponde quantidade percentual dos

    materiais ou quantidade massa/massa de substncias de interesse;

    Caracterizao qumica, que corresponde quantificao dos elementos

    qumicos presentes ou ao comportamento do resduo submetido a testes

    qumicos especficos, como lixiviao, solubilizao e combusto.

    Neste trabalho, se faz necessria uma abordagem mais especfica de dois

    conceitos envolvidos na caracterizao qumica dos resduos slidos: a composio

    elementar e o poder calorfico destes materiais.

  • 23

    3.1.3.1. Composio elementar

    A anlise qumica elementar corresponde porcentagem em massa dos principais

    componentes que constituem a biomassa e outros materiais contendo carbono. Os

    elementos considerados so: carbono (C), hidrognio (H), enxofre (S), oxignio (O),

    nitrognio (N), cinzas (A) e umidade (W).

    A composio elementar caracterstica fundamental e de extrema importncia do

    combustvel e constitui a base para a anlise de processos como a combusto e a

    gaseificao. A quantidade de ar necessria para alimentar o processo, o volume de gases

    de sada e sua composio e o poder calorfico so determinados e calculados a partir

    desse conceito.

    Nos clculos de combusto ou gaseificao da biomassa, por exemplo, utiliza-se a

    composio em base mida. Nos manuais e publicaes especializados, os valores da

    composio elementar dos combustveis so apresentados em base seca e em base

    combustvel, o que os torna independentes de eventuais variaes nos teores de umidade

    e cinzas. Cabe mencionar, porm, que em casos no quais o material j se encontre seco

    antes de alimentar tais processos de recuperao energtica, deve-se considerar a base

    seca ou anular a umidade nos clculos dos demais parmetros.

    Na Tabela 3.1 mostrada uma comparao da composio elementar de alguns

    materiais como madeira, plstico, papel e papelo.

    Combustvel

    Elemento

    %C %H %O %N %S %Cinzas %W PCS(MJ/kg)

    Resto de Alimento 48 6,4 37,6 2,6 0,4 5 0 18,82

    Papel e papelo 44 6 44 0,3 0,2 6,8 0 16,33

    Txteis 55 6,6 31,2 4,6 0,15 2,5 0 22,07

    Madeira 49,5 6 42,7 0,2 0,1 1,5 0 18,32

    Plstico 60 7,2 22,8 0 0 10 0 25,28

    Tabela 3.1: Composio elementar e PCS de alguns combustveis (SANNER et al., 1970).

    Observa-se que o plstico, embora contenha a maior porcentagem de carbono

    dentre os materiais apresentados, apresenta a mais alta porcentagem de cinzas. Por outro

    lado, o papel e o papelo, quando comparados ao plstico, por exemplo, chegam a

    apresentar o dobro de oxignio, em porcentagem, em suas composies.

  • 24

    3.1.3.2. Poder calorfico

    O poder calorfico (PC) pode ser definido como a quantidade de energia liberada na

    forma de calor durante a combusto completa de um determinado combustvel. O valor

    dessa propriedade pode variar muito de acordo com o teor de umidade do combustvel.

    O Poder Calorfico Superior (PCS) considera que a gua presente no combustvel

    no evapora junto aos gases de combusto, enquanto o Poder Calorfico Inferior (PCI)

    considera que a gua presente no combustvel seja toda vaporizada junto a tais gases.

    importante ressaltar que para vaporizar a gua presente na biomassa necessita-se de

    energia, o que justifica o PCS ser maior que o PCI.

    O PC pode ser determinado atravs da combusto de uma amostra analisada em

    uma bomba calorimtrica. Entretanto, se estes valores no esto disponveis, possvel

    determin-los a partir de inmeras relaes matemticas obtidas empiricamente, tendo

    como referncia a composio elementar do resduo em anlise. O cientista russo Dimitri

    Mendeleiev descreveu a primeira frmula para calcular o PCI de um combustvel, como

    mostrado na Equao 3.1:

    W%12,25S%O%85,108H%95,1029C%13,339PCI (3.1)

    A Equao 3.2 representa, por sua vez, uma frmula para a determinao do PCS

    de um combustvel (YOUNG, 2010).

    W11,2S51,10O34,10H83,111C91,34PCS (3.2)

    Elucidativamente, na tabela 3.2 so relacionados, segundo Young (2010), os

    poderes calorficos de alguns resduos slidos que compem o RSU. Neste caso, suas

    respectivas umidades foram consideradas para efeito da obteno daquela grandeza.

    Tipo de resduo slido Poder Calorfico (kJ/kg) Umidade (%)

    Resduo de comida 4.600 70,0

    Papel 16.700 6,0

    Plstico 32.500 2,0

    Txtil 17.500 10,0

    Borracha 23.300 2,0

    Madeira 18.600 60,0

    Tabela 3.2: Poder calorfico de alguns resduos que compe o RSU (YOUNG, 2010).

  • 25

    3.1.4. Classificao

    A classificao de resduos slidos envolve uma srie de aspectos, tais como a

    identificao do processo ou atividade que lhes deu origem, suas caractersticas e seus

    constituintes. Estes ltimos ainda so comparados com listagens de resduos e

    substncias cujo impacto sade e ao meio ambiente j conhecido. A identificao dos

    constituintes a serem avaliados na caracterizao do resduo deve ser criteriosa e

    estabelecida de acordo com as matrias-primas, os insumos e o processo que lhe deu

    origem (ABNT, 2004).

    Ainda para efeitos da norma NBR 10004 (ABNT, 2004), os resduos so

    classificados em:

    Resduos classe I - Perigosos: aqueles que apresentam periculosidade,

    conforme definido em 3.4.1 ou outra caracterstica, como inflamabilidade,

    corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade, dentre outros atributos

    tambm definidos pela norma;

    Resduos classe IIA No perigosos e no inertes: aqueles que no se

    enquadram nas classificaes de resduos classe I ou de resduos classe II B.

    Os resduos classificados na classe II A podem apresentar propriedades tais

    como biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em gua;

    Resduos classe II B Resduos no perigosos e inertes: so resduos que,

    quando amostrados de uma forma representativa, segundo a ABNT NBR 10007,

    e submetidos a um contato dinmico e esttico com gua destilada e deionizada,

    temperatura ambiente, conforme a ABNT NBR 10006, no tiverem nenhum de

    seus constituintes solubilizados a concentraes superiores aos padres de

    potabilidade da gua, excetuando-se aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor. So

    as rochas, tijolos, vidros e certos plsticos e borrachas que no so

    decompostos facilmente.

    Por outro lado, a Lei n 12.305, que constitui a PNRS, estabelece, em seu artigo 13,

    a classificao dos resduos slidos quanto origem:

    a) Resduos domiciliares: os originrios de atividades domsticas em residncias

    urbanas;

    b) Resduos de limpeza urbana: os originrios da varrio, limpeza de logradouros

    e vias pblicas e outros servios de limpeza urbana;

    c) Resduos slidos urbanos: os englobados nas alneas a e b;

    d) Resduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de servios: os gerados

    nessas atividades, excetuados os referidos nas alneas b, e, g, h e j;

  • 26

    e) Resduos dos servios pblicos de saneamento bsico: os gerados nessas

    atividades, excetuados os referidos na alnea c;

    f) Resduos industriais: os gerados nos processos produtivos e instalaes

    industriais;

    g) Resduos de servios de sade: os gerados nos servios de sade, conforme

    definido em regulamento ou em normas estabelecidas pelos rgos do Sisnama

    e do SNVS;

    h) Resduos da construo civil: os gerados nas construes, reformas, reparos e

    demolies de obras de construo civil, includos os resultantes da preparao

    e escavao de terrenos para obras civis;

    i) Resduos agrossilvopastoris: os gerados nas atividades agropecurias e

    silviculturais, includos os relacionados a insumos utilizados nessas atividades;

    j) Resduos de servios de transportes: os originrios de portos, aeroportos,

    terminais alfandegrios, rodovirios e ferrovirios e passagens de fronteira;

    k) Resduos de minerao: os gerados na atividade de pesquisa, extrao ou

    beneficiamento de minrios.

    3.1.5. Acondicionamento e armazenamento

    A qualidade da operao de coleta e transporte dos RSU depende da forma

    adequada do seu acondicionamento e armazenamento, segundo os locais, dias e horrios

    estabelecidos pelo rgo de limpeza urbana para a coleta. A populao tem, portanto,

    participao decisiva nesta operao.

    Segundo Oliveira (1992), o acondicionamento correto dos resduos slidos

    importante medida que contribui para evitar a proliferao de vetores, alm de minimizar

    problemas relacionados aos odores indesejveis e esttica do ambiente, fatores estes

    decisivos para garantir o bem-estar dos cidados.

    Em resumo, a importncia do acondicionamento e do armazenamento adequado

    est em:

    Evitar acidentes;

    Evitar a proliferao de vetores;

    Minimizar o impacto visual e olfativo;

    Reduzir a heterogeneidade dos resduos, no caso de haver coleta seletiva;

    Facilitar a realizao da etapa da coleta.

  • 27

    Para isso, a forma de acondicionamento deve obedecer a normas especficas, as

    quais so estabelecidas de modo a facilitar as etapas subsequentes de coleta e de

    transporte dos RSU. Nos locais onde no possvel o acesso dos veculos de coleta, por

    exemplo, devem ser instaladas lixeiras coletivas em pontos estratgicos. Estes, por outro

    lado, devem ser acessveis a aqueles veculos e objetivam essencialmente que a

    populao concentre o despejo dos resduos produzidos.

    Em alguns casos, ainda, inevitvel a necessidade de armazenar os resduos

    durante um determinado perodo no local de gerao, at que sejam coletados. Isso exige,

    contudo, instalaes fsicas prediais especficas para cada tipo de resduo, em especial

    nas indstrias, no comrcio de grande porte e nos estabelecimentos de servios de sade.

    3.1.6. Coleta e transporte

    A coleta consiste em uma etapa fundamental no gerenciamento dos resduos

    slidos, o qual ser futuramente abordado. Trata-se do processo atravs do qual os

    resduos so reconhecidos junto ao gerador e encaminhados para a destinao final. A

    coleta dos resduos deve ser feita com frequncia adequada, levando em conta que o

    acmulo excessivo de resduos pode aumentar os riscos para o meio ambiente e para a

    sade pblica, enquanto que a frequncia excessiva eleva o custo operacional a nveis no

    viveis (PHILLIPI JR., 2005).

    Segundo o Cempre (2000), a coleta dos RSU, feita pelo municpio ou empresa

    concessionria, recebe o nome de Coleta Regular, enquanto a coleta dos outros tipos de

    resduos recebe o nome de Coleta Especial. A coleta regular normalmente feita pelas

    ruas, porta a porta, por caminhes compactadores. Os RSU podem ser acondicionados em

    sacos plsticos, como ocorre no Brasil ou em contineres, como acontece na Alemanha.

    A coleta especial, por sua vez, envolve procedimentos mais complexos, uma vez

    que h diversos resduos que no podem ou no devem ser simplesmente misturados aos

    RSU, devendo ser coletados separadamente. o caso dos RSS, dos resduos da

    construo civil, entre outros assim definidos por lei. H outros casos nos quais se aplica,

    ainda, o que se chama de logstica reversa.

    Logstica reversa o nome que se d ao processo de retornar um material do

    consumidor para o fabricante, o oposto da logstica convencional, que se refere ao

    processo de levar um material do fabricante ao consumidor final. Formalmente, de acordo

    com a PNRS, a logstica reserva

  • 28

    o conjunto de aes, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituio dos resduos slidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinao final ambientalmente adequada.

    Os materiais hoje sujeitos a logstica reversa so os agrotxicos, seus resduos e

    embalagens, pilhas e baterias, pneus, leos lubrificantes, diversos tipos de lmpadas,

    produtos eletroeletrnicos e seus componentes e demais produtos cuja embalagem, aps

    o uso, constitua resduo perigoso (BRASIL, 2010).

    Os sistemas de logstica reversa para esses produtos e suas embalagens devem

    ser estruturados e implementados pelos fabricantes, importadores, distribuidores e

    comerciantes, independentemente do servio pblico de limpeza urbana e manejo de

    resduos slidos. Neste contexto, os consumidores, por sua vez, so responsveis por

    devolver queles primeiros os produtos objeto desta ao.

    A PNRS prev, ainda, que a logstica reversa pode ser estendida para outros

    produtos, dependendo do grau e extenso do impacto de seus resduos sade pblica e

    ao meio ambiente, bem com da viabilidade tcnica e econmica do processo.

    Quando existe, ainda, uma segregao prvia de acordo com a constituio ou

    composio dos resduos, tem-se a Coleta Seletiva (BRASIL, 2010), a qual costuma ser

    associada a melhores desempenhos e resultados. Tanto o processo de triagem quanto o

    de separao realizada por catadores no apresentam, em contrapartida, uma eficincia

    muito alta. Segundo Schalch e Leite (2000), a triagem a posteriori no consegue recuperar

    mais de 50% dos materiais reciclveis. Ademais, os catadores no conseguem separar

    fragmentos de resduos do restante da massa de lixo.

    A segregao na fonte permite, portanto, otimizar os sistemas de tratamento e

    disposio final, uma vez que aumenta a qualidade e a quantidade de matria-prima

    disponvel. Porm, quando se permite que um resduo perigoso seja misturado a outros

    no perigosos, o resultado que a massa total destes materiais acaba sendo classificada

    como perigosa e deve ser tratada e disposta como tal. Sendo assim, deve se evitar ao

    mximo essa mistura de resduos.

    De maneira geral, os resduos, uma vez coletados, devem ser transportados at os

    pontos de destinao final, sejam eles as indstrias de reciclagem, as centrais de

    tratamento ou os aterros. Quando as distncias e os volumes so pequenos, o transporte

    dos resduos pode ser feito pelos prprios veculos de coleta. De maneira geral, estes

    veculos devem ser escolhidos de acordo com a quantidade de resduos, do tipo de

    resduo transportado, das caractersticas topogrficas e da malha viria da regio a ser

    atendida. Horrios e itinerrios devem ser selecionados de modo a minimizar o incmodo

  • 29

    populao pelo rudo, alm dos riscos decorrentes do excesso de trfego em certas vias e

    dos riscos de acidentes, principalmente no transporte de produtos perigosos.

    Entretanto, em cidades grandes ou quando os aterros esto muito distantes,

    preciso lanar mo de estaes de transbordo. Estas consistem em instalaes nas quais

    se faz o translado dos resduos de um veculo coletor a outro veculo com capacidade de

    carga maior. Este segundo veculo o que transporta os resduos at o seu destino final.

    Estas instalaes podem resumir-se a uma simples plataforma elevada, dotada de uma

    rampa de acesso, ou a um edifcio sofisticado e de grandes dimenses (SOUTO e

    POVINELLI, 2012).

    Phillipi Jr. (2005) destaca algumas das vantagens do emprego de estaes de

    transbordo:

    Reduo do tempo ocioso do servio de coleta, uma vez que o veculo coletor e

    a mo-de-obra so utilizados exclusivamente na coleta;

    Possibilidade de reduo do tempo necessrio ao procedimento de coleta, de

    maneira que o lixo permanea tempo mais curto na via pblica;

    Maior flexibilidade na programao de coleta;

    Menor quantidade de veculos circulando, o que diminui o custo do transporte,

    composto pelo combustvel, manuteno dos veculos e salrios, alm de

    minimizarem os impactos ao meio ambiente e reduzirem o trnsito.

    3.1.7. Tratamento e destinao final

    Como os RSU so gerados em grande quantidade, torna-se imprescindvel adotar

    tcnicas que minimizam o volume a ser disposto. O tratamento de resduos slidos

    compreende a utilizao dessas tcnicas que visam pelo menos estabilizao do volume

    destes materiais para aumentar a vida til dos aterros sanitrios e evitar uma srie de

    outros eventuais problemas.

    Segundo Souto e Povinelli (2012), a escolha da alternativa de tratamento a ser

    adotada deve enfocar, basicamente, os seguintes aspectos:

    Custos de implantao e operao;

    Disponibilidade financeira dos agentes envolvidos;

    Capacidade de atender s exigncias legais;

    Quantidade e capacitao tcnica dos recursos humanos.

    Ainda de acordo com estes autores, o fato de uma alternativa apresentar um alto

    custo em termos absolutos, como um incinerador, no razo suficiente para que seja

  • 30

    descartada, pois talvez seja a mais barata e eficaz para tratar um determinado resduo

    industrial ou de servios da sade quando comparada a outras.

    A operao que precede qualquer processo especfico de tratamento a triagem,

    enquanto a reciclagem, por sua vez, representa o reprocessamento de materiais,

    permitindo novamente sua utilizao (CALDERONI, 1997). A menos destes dois

    processos, as demais tecnologias com foco na estabilizao dos resduos podem ser

    divididas em processos biolgicos e fsico-qumicos. Entre os primeiros esto a

    compostagem, a vermicompostagem e a digesto anaerbia. Entre os ltimos, a

    incinerao, a pirlise, a gaseificao, a hidrlise trmica, entre outros processos.

    Nos subitens seguintes, ser abordada grande parte destas tecnologias no que diz

    respeito s caractersticas, ao funcionamento, viabilidade entre outros aspectos

    importantes na eventual considerao de aderir a um determinado tratamento de resduos.

    Particularmente, os processos de gaseificao e pirlise ganham um destaque especial,

    sendo abordados mais a diante, quando se define de forma mais abrangente e no

    apenas para os RSU o conceito de aproveitamento energtico. Esse tratamento especial

    se deve ao fato da gaseificao integrar a proposta baseada no estudo de caso deste

    trabalho e a pirlise constituir etapa fundamental do processo de gaseificao.

    3.1.7.1. Triagem

    O objetivo deste processo separar os materiais que se deseja recuperar, ou

    aqueles prejudiciais qualidade do processamento ou durabilidade dos equipamentos.

    Pode ser executada manualmente em ptios, mesas ou esteiras rolantes. Mtodos

    mecnicos e automatizados, como equipamentos magnticos, peneiras, separadores

    balsticos entre outros tambm servem ao processo (PHILLIPI JR., 2005).

    A operao de triagem pode ser realizada em usinas, nos aterros, nos lixes ou em

    outros locais apropriados. Quando realizada nos sacos espera de coleta, pelos

    catadores, tem o inconveniente de causar sujidade local e outros problemas j

    mencionados anteriormente.

    Nos processos manuais, quanto maior o grau de separao desejado e menor a

    quantidade de impurezas permitidas, maior ser a mo de obra envolvida. No caso da

    separao de materiais a recuperar, o grau de pureza e a limpeza do produto final

    influenciam sobremaneira o valor de mercado. Aps a triagem, os materiais podem ser

    prensados a fim de baratear o transporte at os locais onde sero industrializados. Por fim,

  • 31

    a eficincia da mo de obra de triagem pode ser avaliada pela quantidade de resduos

    triados por pessoa, por hora (PHILLIPI JR., 2005).

    No Brasil, tem havido importantes investimentos nesse setor, dada a elevada

    importncia do processo de triagem. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e

    Social (BNDES) informou, em junho deste ano, que vai destinar R$ 21,3 milhes para a

    instalao de 12 centrais de triagem e a capacitao de 2.160 catadores do Distrito

    Federal.

    De acordo com o BNDES, 98% das 2,4 mil toneladas coletadas diariamente no

    Distrito Federal so aterrados em lixes e os 2% restantes so encaminhados para a

    reciclagem pelos catadores. No entanto, a maioria das 33 cooperativas desta regio no

    tem estrutura fsica para realizar a triagem dos resduos coletados.

    Alm das 12 centrais de triagem que sero instaladas, cada uma receber um

    caminho de seis toneladas para dar suporte logstico operao. Os catadores sero

    capacitados para realizar triagem, classificao, prensagem, comercializao e gesto de

    empreendimentos coletivos.

    O projeto prev, ainda, a formao de um corpo tcnico para apoiar as cooperativas

    na gesto e desenvolver um programa de limpeza, manuteno de galpes de triagem,

    construo e equipagem de uma central de comercializao, estruturao de uma escola

    de formao para os catadores, bem como o fortalecimento das cooperativas que no

    foram selecionadas para as centrais de triagem, de modo a inseri-las no modelo.

    Os recursos so do Fundo Social do BNDES e correspondem a 50% do valor total a

    ser investido. a quarta operao do tipo aprovada pelo banco, que j contratou

    operaes semelhantes com os municpios do Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre.

    3.1.7.2. Reciclagem

    A reciclagem um processo que permite a reinsero de materiais descartados em

    um ciclo produtivo, por meio de sua transformao. Em outras palavras, este processo

    possibilita que materiais considerados resduos para o gerador passem a configurar

    matrias-primas secundrias para outro indivduo e para a sociedade como um todo. A

    reciclagem difere da reutilizao ao passo que exige um maior grau de processamento,

    excedendo a simples triagem e limpeza do material.

    As tcnicas para o processamento de resduos com vista reciclagem so

    normalmente especficas para cada material. Costumam envolver algum grau de

  • 32

    fragmentao de resduo, triturao ou moagem, para facilitar o seu transporte,

    armazenamento e processamento.

    Segundo Phillipi Jr. (2005), as entidades empresariais promovem os chamados

    bancos ou bolsas de resduos. Neste sentido, as empresas apresentam os resduos que

    geram, com detalhes de quantidade e qualidade. Outras empresas, por sua vez, que

    utilizam tais resduos como matria-prima em seus processos produtivos, podem se

    informar sobre como obt-los diretamente com o gerador.

    importante que se tenha em mente que a reciclagem s faz sentido do ponto de

    vista econmico se o custo do produto reciclado for inferior ao custo do produto

    confeccionado a partir de materiais virgens, ou se o custo da reciclagem for menor que o

    custo de outras formas de tratamento e disposio final (ANDRADE, 2002). Caso nenhuma

    dessas condies seja satisfeita, a reciclagem somente vai acontecer se for obrigatria por

    lei.

    A reciclagem de materiais pela indstria, por exemplo, depende muito desta

    viabilidade econmica. Sobre esse processo pesa tambm a dificuldade de

    desenvolvimento de mercado para os produtos reciclados, que muitas vezes so vistos

    como produtos de qualidade inferior. Diversos fabricantes de produtos confeccionados a

    partir de materiais reciclados ainda no se utilizam de argumentos adequados otimizao

    desta informao, no intuito de motivar a aquisio destes produtos por parte dos

    consumidores. Economia de energia, preservao de matrias-primas e recursos naturais

    e reduo da quantidade dos RSU que so destinados aos aterros sanitrios, so alguns

    dos argumentos positivos da prtica da reciclagem.

    No Brasil, nos ltimos anos, foram desenvolvidas diversas iniciativas para colaborar

    com a eficincia dos processos de triagem e coleta seletiva e, consequentemente, da

    reciclagem. Exemplo disto so as auto declaraes ambientais, que consistem em textos,

    na simbologia e em grficos presentes em produtos industrializados em geral,

    consolidando-se como excelente interface com o consumidor. Os smbolos mais comuns

    so apresentados na figura 3.1.

    Figura 3.1: Principais smbolos das auto declaraes ambientais (ABIQUIM, 2009).

  • 33

    A norma NBR 13230 da ABNT padroniza os smbolos que identificam os diversos

    tipos de resinas plsticas utilizadas. O principal objetivo facilitar a etapa de triagem dos

    diversos resduos plsticos que sero encaminhados reciclagem. Na tabela 3.3 so

    relacionados os smbolos existentes aos seus respectivos termoplsticos e s suas

    principais caractersticas, bem como a algumas das aplicaes aps a reciclagem de cada

    material.

    Termoplstico Simbologia Caractersticas Uso aps reciclagem

    Polietileno Tereftalato (PET)

    Transparente e extremamente leve.

    Tecido para bolsas, lonas e velas nuticas,

    cordas e fios.

    Polietileno de Alta Densidade (PEAD)

    Leve, rgido e com boa

    resistncia qumica.

    Sacaria industrial, garrafas de detergente,

    tubos.

    Policloreto de Vinila (PVC)

    Transparente, leve e

    resistente. Tubos e acessrios para

    jardim, cercas.

    Polietileno de Baixa Densidade (PEBD)

    Flexvel, leve, transparente e impermevel.

    Reservatrios industriais e de resduos, tubos,

    filmes para uso agrcola.

    Polipropileno (PP) Rgido, brilhante e

    resistente a variaes trmicas.

    Caixas e recipientes para transporte, artigos

    de decorao.

    Poliestireno (PS) Impermevel, leve,

    transparente, rgido e brilhante.

    Lixeiras, material para isolamento trmico,

    acessrios em geral.

    Outros (ABS, EVA, PA, etc.)

    - -

    Tabela 3.3: Smbolos padronizados e principais atributos dos termoplsticos (ABIQUIM, 2009).

    3.1.7.3. Compostagem

    A compostagem, um processo biolgico de decomposio controlada de matria

    orgnica contida em restos de origem animal ou vegetal, produz um composto, til para

    melhorar as propriedades fsicas do solo, alm de ter propriedades fertilizantes (NAUMOFF

    e PERES, 2000).

  • 34

    De acordo com Bidone e Povinelli (2010), este composto estabilizado e tambm

    chamado de hmus. Essa tcnica pode ser utilizada para tratar a frao orgnica dos RSU.

    Para Phillipi Jr. (2005), o processo promove a inativao da maioria dos agentes

    patognicos normalmente presentes nos resduos slidos, j que so expostos a

    temperaturas da ordem de 65 a 70C.

    H inmeras alternativas de processos tecnolgicos de compostagem, desde os

    mais simples, como a compostagem em montes periodicamente revirados, at instalaes

    de grande porte com tambores rotativos. A compostagem pode ser realizada por meio de

    processos aerbios, anaerbios ou mistos, mas um processo lento que, dependendo da

    tecnologia empregada, pode levar de 45 a 180 dias (PHILLIPI JR., 2005).

    A vermicompostagem, por sua vez, um processo complementar compostagem

    que visa a melhorar as caractersticas do composto, aumentando a disponibilizao de

    macro e micronutrientes, produzindo um material mais estvel (BIDONI e POVINELLI,

    2010).

    Segundo estes autores, os agentes deste processo so as minhocas, as quais

    dependem de algumas condies para sua sobrevivncia. O composto no pode estar

    encharcado, pois isso levaria morte daqueles animais por afogamento. Por outro lado,

    tambm no pode estar ressecado, uma vez que a umidade essencial realizao do

    processo.

    3.1.7.4. Digesto anaerbia

    Esse mtodo de tratamento baseia-se no rendimento da atividade microbiana,

    principalmente dos microrganismos anaerbios que, atravs de seu metabolismo,

    transformam a matria orgnica em produtos combustveis, como gs metano e hidrognio

    e em um composto, potencialmente utilizvel como condicionador do solo (SOUTO e

    POVINELLI, 2012).

    Mata-Alvarez (2000) afirma que a energia produzida pela digesto anaerbia

    ultrapassaria a necessria para a operao do sistema de tratamento, alm de que este

    processo causaria menores impactos ambientais por liberar menos gases estufa por

    tonelada de resduo tratado que qualquer outro sistema, inclusive a compostagem.

    Os sistemas de digesto anaerbia podem ser divididos em sistemas de fluxo

    contnuo e sistemas em batelada. Os primeiros podem tratar quantidades muito maiores de

    resduo, porm sua implantao mais custosa quanto comparada aos sistemas de

    batelada. Estes, por sua vez, requerem reas muito maiores.

  • 35

    Os reatores anaerbios tambm podem ser divididos em sistemas a seco e a

    mido, tambm conhecidos como sistemas com alta e baixa concentrao de slidos,

    respectivamente. Os sistemas com alta concentrao trabalham com os resduos na sua

    umidade natural, enquanto os de baixa concentrao requerem adio de gua, sendo que

    o meio de reao tem a aparncia de uma sopa (LISSENS et al., 2001).

    Para Souto e Povinelli (2012), os reatores anaerbios hoje disponveis no mercado

    no so capazes de estabilizar completamente a matria orgnica. Sendo assim, faz-se

    necessrio que os resduos que saem do reator sejam estabilizados de forma aerbia, ou

    seja, por compostagem. Cumpre ressaltar que os reatores conseguem trabalhar com

    cargas orgnicas muito mais altas que os sistemas de compostagem, de modo que suas

    vantagens residem tanto na possibilidade do aproveitamento do biogs quanto na

    economia de rea para a instalao do sistema.

    3.1.7.5. Incinerao

    A incinerao uma tcnica que pode ser usada para qualquer tipo de resduo

    orgnico. De acordo com Cempre (2000), esta tecnologia consiste na combusto dos

    resduos em temperaturas acima de 800C, com injeo de ar para garantir a queima

    completa, ou seja, a converso total da matria orgnica em gs carbnico e gua.

    Neste processo, no somente toda a matria orgnica, mas tambm praticamente

    toda a umidade eliminada, enquanto os resduos so convertidos em cinzas, devendo ser

    classificadas de acordo com a NBR 10004 da ABNT e encaminhadas para a destinao

    final correspondente. So gerados, ainda, alguns gases txicos que tambm devem sofrer

    o tratamento adequado.

    Embora seja muito criticada por essa gerao de gases, a incinerao a tcnica

    de escolha de alguns pases que dispem de poucas reas para aterros, como o caso da

    Sua e do Japo (CEMPRE, 2000). Neste ltimo pas, mais de 70% dos resduos slidos

    domsticos so incinerados (USHIMA e SANTOS, 2000). No Brasil, a incinerao muito

    utilizada para o tratamento de RSS, com capacidade instalada para tratar 58.874 toneladas

    por ano (ABRELPE, 2013). A larga utilizao da incinerao para o tratamento destes

    ltimos tipos de resduos se deve ao fato dos agentes patognicos serem destrudos, alm

    de eliminar uma srie de compostos qumicos txicos nele presentes.

    Alguns incineradores so projetados de modo a permitir o aproveitamento do calor

    da queima para a produo de energia eltrica. Uma das desvantagens desse processo

    est no risco de produo e emisso de compostos txicos e cancergenos, os quais

  • 36

    podem depositar-se no solo e entrar na cadeia alimentar via vegetais e provocar danos

    ambientais graves. Tecnicamente, existes, porm, algumas formas de minimizar essa

    possibilidade, mediante resfriamento mais rpido dos gases e filtragem de materiais

    particulados, entre outros mtodos.

    Leo e Tan (1998), a partir de um estudo a respeito de alternativas para os

    resduos slidos do municpio de So Paulo, mostram que a incinerao de alguns

    componentes dos resduos slidos domsticos pode no ser economicamente mais

    interessante que a coleta seletiva e reciclagem, embora investimentos mais expressivos

    em educao ambiental possam inverter essa situao. No mesmo trabalho, os autores

    concluem que, considerando mais especificamente o ponto de vista ambiental e tendo

    como parmetro o efeito estufa a elevao da temperatura da superfcie da terra devido

    ao aumento da presena de certos gases na atmosfera -, a reciclagem se torna mais

    vantajosa.

    3.1.8. Disposio final

    Os resduos no tratados e os rejeitos dos diversos processos de tratamento

    precisam ser finalmente dispostos no solo. A soluo mais frequentemente indicada o

    aterro sanitrio. Segundo Oliveira (1992), estes locais so obras de engenharia destinadas

    a acomodar os resduos sobre o solo, minimizando os impactos ambientais e os riscos

    sade. Devem possuir drenos para os lquidos percolados que se formam na

    decomposio natural da matria orgnica e impermeabilizao adequada para evitar a

    contaminao de aquferos. Ademais, precisam dispor de drenos tambm responsveis

    por escoar os gases que se formam no processo de fermentao da matria orgnica.

    A operao de aterros sanitrios, por sua vez, deve incluir a compactao dos

    resduos e sua cobertura diria com terra, a qual tem por objetivo ajudar a evitar a

    emanao de maus odores e a proliferao de vetores. Alm disso, deve haver um sistema

    de drenagem de guas pluviais e tratamento adequado para o chorume, bem como um

    sistema de monitoramento de lenol fretico.

    De acordo com Phillipi Jr. (2005), entre as solues sanitria e ambientalmente

    adequadas, os aterros sanitrios so considerados a forma mais barata, no curto prazo,

    para solucionar a questo dos resduos slidos em cidades mdias e grandes.

    Quando a capacidade de um aterro se esgota, a rea deve ser recuperada do ponto

    de vista paisagstico e de utilizao pela sociedade, respeitando-se as limitaes tcnicas

    inerentes s caractersticas dos terrenos aterrados com resduos.

  • 37

    Um dos mais importantes aspectos de um projeto de aterro sanitrio consiste na

    determinao das reas de sua localizao. Do ponto de vista tcnico, precisam favorecer

    e facilitar as atividades ali realizadas, como transporte, manuseio e cobertura dos resduos.

    J sob a tica econmica, devem ser financeiramente acessveis e prximas o suficiente

    dos centros de gerao, no intuito de no encarecer demasiadamente os custos de

    transporte. Segundo os aspectos ambientais, o terreno deve possuir caractersticas

    hidrogeolgicas favorveis, tais como solo de baixa permeabilidade e alta estabilidade

    mecnica, ausncia de movimentos naturais de terra e lenol fretico suficientemente

    distante. Por fim, no que diz respeito perspectiva social, deve ser devidamente negociada

    com a comunidade, uma vez que poucos tendem a aceitar impassivelmente a ideia de

    serem vizinhos de um aterro sanitrio (PHILLIPI JR., 2005).

    Resumidamente, dentre as principais caractersticas que devem ser levadas em

    considerao na definio das reas potencias para instalao de aterros sanitrios

    destacam-se:

    Dados populacionais;

    Caractersticas dos resduos;

    Situao da coleta e transporte dos resduos produzidos na regio, inclusive

    custos;

    Dados geotcnicos, tipo de solo e relevo;

    guas subterrneas, superficiais e regime de chuvas;

    Legislao, incluindo o uso e ocupao do solo;

    Investimento necessrio aquisio das terras;

    Dados sociopolticos das comunidades envolvidas (PHILLIPI JR., 2005).

    Com o passar do tempo, entretanto, as reas acessveis para dispor os resduos

    slidos tendem a se esgotar, provocando aumento de custo devido ao preo dos novos

    terrenos ou s maiores distncias em relao aos centros geradores. Vale ressaltar, ainda,

    que no futuro existe a possibilidade de esgotarem-se totalmente as reas factveis para

    instalao de aterros sanitrios.

    a partir dessa realidade que se torna imperioso considerar cada vez mais as

    tecnologias alternativas de tratamento e aproveitamento energtico dos resduos slidos.

    Porm, vrias so as leis e resolues j existentes no mbito da disposio, as quais

    objetivam alterar, para melhor, a dinmica deste processo. Embora essa prtica seja

    inevitvel, faz-se necessrio garantir condies adequadas e ambientalmente corretas,

    desde o projeto ao funcionamento correto dos aterros.

    Neste sentido, a resoluo CONAMA N 001/1986 prev a necessidade de se

    estabelecerem as definies, as responsabilidades, os critrios bsicos e as diretrizes

  • 38

    gerais para uso e implementao do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) como um dos

    instrumentos da Poltica Nacional do Meio Ambiente. Para tal, faz-se necessria a

    elaborao de um estudo de impacto ambiental e respectivo Relatrio de Impacto

    Ambiental (RIMA), a serem submetidos aprovao do rgo estadual competente e do

    IBAMA, para o licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, tais como os

    aterros sanitrios (CONAMA, 1986).

    Em resumo, o EIA consiste em um documento tcnico de avaliao do impacto

    ambiental de qualquer alterao das propriedades fsicas, qumicas e biolgicas do meio

    ambiente, causada por qualquer forma de matria ou energia resultante das atividades

    humanas que, direta ou indiretamente, afetam:

    A sade, a segurana e o bem-estar da populao;

    As atividades sociais e econmicas;

    A biota, ou o conjunto de seres vivos de um ecossistema, o que inclui a flora, a

    fauna, os fungos e outros grupos de organismos;

    As condies estticas e sanitrias do meio ambiente;

    A qualidade dos recursos ambientais.

    Dentre os aspectos mais importantes da adeso elaborao do EIA, destacam-se:

    Visa a garantir que as medidas preventivas sejam compatveis com o

    desenvolvimento sustentvel;

    Proporciona um instrumento de tomada de deciso que integra variveis

    ambientais, econmicas, sociais e tecnolgicas (instrumento de gesto);

    Permite a elaborao de um respectivo RIMA, para que a sociedade possa ter

    acesso e compreender o projeto.

    O RIMA, por sua vez, reflete as concluses do EIA, o qual deve ser apresentado de

    forma objetiva e adequada a sua compreenso. Todas as informaes desse documento

    devero ser traduzidas em linguagem acessvel e ilustradas por mapas, quadros, grficos

    e demais tcnicas de comunicao visual, de modo que se possa entender as vantagens e

    desvantagens do projeto, bem como todas as consequncias ambientais de sua

    implementao (CONAMA, 1986).

    Existem, entretanto, formas de disposio na quais no h quaisquer cuidados para

    a reduo de impactos, normalmente sendo chamadas de lixes. No podem, a rigor,

    constiturem formas de disposio final, j que dispor significa colocar de forma ordenada

    (FERREIRA, 1993). Os lixes so inadequados do ponto de vista sanitrio porque

    propiciam a proliferao de vetores, os quais podem provocar o aparecimento de doenas.

    Podem provocar tambm a poluio do solo, das guas, do ar e de diversos problemas

    ambientais.

  • 39

    Do ponto de vista social, acabam refletindo a misria presente na regio, j que so

    fontes de sustento para os catadores. Infelizmente, os lixes so a forma mais numerosa

    de locais de disposio final no Brasil (IBGE, 2000), sendo dispostos milhares de toneladas

    de resduos por dia em locais com essa classificao.

    Para situaes intermedirias entre os lixes e os aterros sanitrios, utilizada a

    expresso aterros controlados. Segundo Phillipi Jr. (2005), esta ltima denominao

    cumpriu durante algum tempo a funo de diferenciar situaes de descuido total daquelas

    que j incorporavam alguns cuidados, mas atualmente considerada imprpria por muitos

    profissionais, j que passa a impresso de que os riscos ambientais esto todos

    controlados dentro das normas estabelecidas, o que no verdade. Tipicamente, esses

    aterros recebem cobertura diria de terra, mas no possuem sistemas de

    impermeabilizao e de drenagem de lquidos e gases.

    3.2. Polmeros

    A palavra plstico tem origem no grego plastiks, que significa adequado

    moldagem. Plsticos so materiais formados pela unio de grandes cadeias moleculares

    chamadas polmeros e estes, por sua vez, so macromolculas formadas a partir de

    molculas menores (monmeros) e caracterizadas por seu tamanho, sua estrutura qumica

    e interaes intra e intermoleculares. As unidades qumicas fundamentais (meros) so

    unidas por ligaes covalentes, que se repetem ao longo da cadeia.

    Os polmeros so capazes de adquirir condies plsticas por ao de calor e

    presso e podem ser obtidos atravs de reaes polimricas produzidas pelo Homem,

    sendo considerados sintticos. Por outro lado, existem os polmeros naturais, encontrados

    e extrados diretamente da natureza.

    Na figura 3.2 so apresentados alguns exemplos de polmeros comuns, associados

    s suas respectivas unidades repetitivas e aos monmeros que lhe do origem.

    3.2.1. Nomenclatura

    Analogamente s substncias orgnicas, os polmeros possuem um nome que se

    relaciona diretamente com a sua frmula qumica. De acordo com a IUPAC - International

    Union of Pure and Applied Chemistry (2012), os polmeros so designados pelo prefixo

    poli seguido do nome da unidade repetitiva colocado entre parntesis. A ttulo de

    suposio, se se considerasse o nome da unidade repetitiva como ABC, o nome do

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    Figura 3.2: Principais polmeros, associados s suas respectivas unidades repetitivas e ao monmero de origem (ABIQUIM, 2009).

    polmero correspondente seria poli (ABC).

    Muitos polmeros possuem nomes mais comuns e populares, pois foram

    desenvolvidos antes da sistematizao da nomenclatura das substncias qumicas. Por

    exemplo, o polmero normalmente designado por polipropileno, de acordo com a

    nomenclatura recomendada pela IUPAC, dever-se-ia designar-se por poli (1-metiletileno).

    No entanto, a IUPAC reconhece que esses nomes comuns se encontram

    fortemente enraizados na linguagem popular e no seria sensato aboli-los definitivamente.

    No entanto, recomenda-se que a comunidade cientfica recorra classificao dos

    polmeros de acordo com a nomenclatura sistemtica.

    No intuito de simplificar a designao de polmeros e materiais polimricos

    frequente o uso de abreviaes atravs de siglas. Os polmeros sintticos so muitas

    vezes designados por um nome comercial atribudo pela empresa que o sintetiza. Por

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    exemplo, o poli (tetrafluoroetileno) muito conhecido por um dos seus nomes comerciais

    o Teflon. Na figura 3.3 so apresentados alguns polmeros relacionados s suas

    estruturas, nome