Reboco Caído - Reflexos e Reflexões

RebocoCaído

Fabio da Silva Barbosa

Porto Alegre, inverno de 2014Coisa Edições

Edição e Diagramação: Jeison Placinsch Roberta Fofonka Capa: Luanda SoaresRevisão: Jeison PlacinschLogo Coisa Edições: Roberta Fofonka

Impresso no Brasil1ª edição em julho de 2014.Esta publicação foi impressa de forma totalmente independente, com respeito ao trabalho de seus criadores e isenta de qualquer esquemamercadológico. A reprodução é autorizada desde que citadose comunicados os autores e editores.

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Todos os direitos desta edição reservados a Coisa Ediçõ[email protected]/coisaedicoesPorto Alegre-RS Brasil

Editorial

Índice

CracolândiaDisneylândia......................... 7crescendo ...................................... 8No chão......................................... 9Já era......................................... 10NO NADA........................................ 11O Sem Caráter.................................. 12Enquanto o tempo passa......................... 13Para o Malandro Vagabundo / Feito com Carinho.. 14Mentiras....................................... 15Enquanto isso... .............................. 16Ele ........................................... 17desacreditando................................. 18Depois do lado de K............................ 19Cistite ....................................... 20Cristine ...................................... 21Imagine........................................ 22As novas flores................................ 23Porque o sonho virou pesadelo.................. 24A cozinha do velho Chinês...................... 25Pessoas........................................ 26Balada......................................... 27Balada 2....................................... 28Balada 3....................................... 29Não me rendo à hipocrisia...................... 30Carros......................................... 31Placebo........................................ 32Não quero mais................................. 33Apenas vomitando (ou “Apenas defecando”)....... 34Evolução? ..................................... 35hahahahahahahhauuuuuuuuuuuuaaaaaaaaaaaaaaaaahah-ahaha.......................................... 36

sumindo ....................................... 37O bêbado....................................... 38Revelação...................................... 39Amor........................................... 40Qualquer... Não me parece bom o suficiente..... 41Qualquer coisa................................. 42Registros desiguais............................ 43Mesmo assim.................................... 44passando....................................... 45Tristeza....................................... 46PPbb .......................................... 47Por enquanto .................................. 48Pensar para que, se podemos ser vegetais? ..... 50!? ............................................ 52Sem razão – Mundo insano....................... 53Resposta à um amigo ........................... 54Práxis......................................... 55Tradições/Traições............................. 56Novos tempos estão chegando.................... 57Reboco caído................................... 58

Introdução

Reboco caído é coisa fácil de encontrar em qual-quer favela do Rio de Janeiro e acredito que em mui-tos outros estados (provavelmente em todos). Para bacana deve ser até exótico, mas em favela é registro corriqueiro. E eles ficam lá, caídos. Só esperando seus irmãos caírem para fazer companhia. Há os que logo passam uma vassoura para tudo ficar bem limpinho até a próxima queda. Desde novo passei por diversas experiências. Experiências com trabalhos, situações, estados e vai saber o que mais. Fiz o registros dos meus rebocos e dos rebocos que via caindo a minha volta. É muito reboco caindo. E as paredes já não se sustentam mais. Fui escrevendo como sentia, como via. Um jeito de es-crever nada convencional. O fluxo contínuo da mente materializando o jorro de realidade que explodia em meu ser. Em um mundo onde insetos comem crianças e crianças comem os restos, existem aqueles que estão tomando Sol e água de coco. Nada contra Sol e água de coco. O problema é que quando não há o mesmo para todos, a desigualdade vai se tornando cada vez mais radical. O caos mais bizarro se apodera do físico e do mental. Nesse ponto, o ser humano mostra sua face mais extre-ma. Ou, às vezes, não. Vai saber. Só estou contando o que vi e o que senti, mesmo que por um minuto apenas. Pois as visões vão mudando, assim como os sentimentos. Não há nada como o sentir, o viver, o achar, o mudar... Nada é como nada.

F.S.B

7FABIO DA SILVA BARBOSA

CracolândiaDisneylândia

fuma garoto a pedrasonha sonhos de menino

a garota do mais tempo no vícionão pode mais sonhar

amigo palavra distantetalvez só mesmo o cachimbo

a toda hora chega gentea toda hora gente vai

para onde estamos indopara onde a gente vai

8 REBOCO CAÍDO

crescendo

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...

Fabio

Typewriter

Fabio

Typewriter

Fabio

Typewriter

Fabio

Typewriter

Fabio

Typewriter

Fabio

Typewriter


No chão

deitado na sarjetasentia o vômito na gargantapareciam gorgulhos epiléticoschicoteando meu espírito

a úlcera se contorcianum bailar de merda e sanguepareciam agulhas e facasmoendo minha carne

o cheiro da podridão já invadia minhas narinas não podia mais reagira minha própria chacina

mesmo assim queriamais uma dose assassinasentir os neurônios falecendonão continuar existindo ou sendo

10 REBOCO CAÍDO

Já era

mais um fim do mundo está chegandoe você com seu dedo na minha caraesperando que implore perdãoesperando que erga as mãos

é aí que o dia seguinte chegae já estou envolvido na merdaa lavagem cerebral foi feitajá não lembro mais como era

agora não tenho mais coragem de sairminha mente / meu corpojá eraESPERA

ainda existe um soproa vida parece agir / reagirserá que vouconseguir


NO NADA

a cabeça gira agonizantenada mais parece florescerfantasmas e espasmos sombriostorturam o desprovido de tudonada mais será compreendidonenhum pensamento faz sentidomandando a merdatoda rima e métricatão inútil a comunicaçãoas coisas começam a surgirpapéis rasgados no cantoriscos e rabiscos em toda partea grande fogueira irá se acendersufocando o calor infernal em meu ser

12 REBOCO CAÍDO

O Sem Caráter

Baba ovo, lambe botas, puxa saco Sempre bajulando seu algoz- Terrível velhaco Dizíamos a uma só voz

Logo foi promovidoTornou-se um desprezível fiscalNão tolerava atraso ou conflitoNão podíamos passar mal

Tinha orgulho de ser odiadoAchava que não fazia parte dos trabalhadoresTodos preferiam ver o diaboque esbarrar com este maldito pelos corredores

Um dia o patrão ficou enjoadoDespediu o dedo duroHavia achado um novo brinquedoNão precisava mais do cu de burro

O fiscal ficou sozinhoSem amigos para conversar Avaliou todo seu empenhoPercebeu que estivera a se enganar

Aquilo não era apenas fazer seu trabalhoIa além de uma mera tarefaEsqueceu quem era e de onde veioAcreditou na mentira cega


Enquanto o tempo passa

o tempo passaenquanto frutas apodrecem enquanto mentiras são herdadasenquanto jovens se repetemenquanto erros se repetem parecem ter perdido a capacidade de criar o tempo passa enquanto o mundo rodaenquanto poluímosenquanto discutimosenquanto fingimos nos importarparecem ter perdido a capacidade de sonhar

o tempo passa enquanto mentiras são ditas e seguidasenquanto os perdidos pensam se encontrarenquanto somos rotulados e vendidosenquanto não podemos suportarparecem ter perdido a capacidade de voar

14 REBOCO CAÍDO

Para o Malandro Vagabundo / Feito com Carinho

hoje eu canto para o belo malandroque não aceita os grilhões desta prisãoque sai por aí sem hora marcadasem se preocupar com a caminhada

hoje saúdo todas as pessoasque vivem sem prumo, rumo ou broasvagabundo iluminado iluminando a visãonão tem registro, raiz ou manual de instrução

tantos julgam, falam ou explicampoucos percebem, entendem e abraçamquantos acusam, acusaram ou acusarãoalguns observam a lua, tocam viola e questionam a [convenção

mas o bom vagabundo malandro iluminadoestará sempre a bailarpela terra, pelo mar e pelo ar

pela terra pelo mar e pelo ar


Mentiras

Disseram pra estudar!Disseram pra trabalhar!Disseram pra casar!Disseram que isso é se realizar!

Disseram pra mentir!Disseram pra fingir!Disseram pra fugir!Disseram que um dia eu iria conseguir!

Disseram tanta merda!Disseram tanta porra!Disseram tanta zorra!Disseram “É assim mesmo” “Vá e morra”!

16 REBOCO CAÍDO

Enquanto isso...

pendurado na cordabalançava-se como um pêndulo hipnóticoo rosto contorcido em uma medonha caretao enforcado assustava aos que entravam no insalubre [aposento

vítima de bala perdida o pequeno corpo foi perfuradomais uma operação bem sucedida passava na tvfantasiando a assustadora realidade do abandonado

com doze facadas ela morreuainda não se sabe o porque de tanta crueldadeserá que isso é ser humanoou é a desumanidade?

o carro bomba explodiupartiu os corpos em milhares de pedaçospara onde se olhava estava decoradotripas, pernas, pés e antebraços


Ele

Sentado no meio fio, continua invisível. Com a mão estendia, tenta garantir o anestésico do dia. Não sente mais tanta fomee nunca soube o que era lar. As pernas inchadas já possuem uma cor avermelhadae a barba falhada cobre algumas partes do seu rosto. O corpo magro possui uma camuflagem de sujeira de onde exala um odor marcante. Os cabelos se juntam, formando cones grudados. O eterno silêncio o transforma em uma estátua viva. Espasmos trêmulos anunciam que ali ainda existe vida. Carros passam diante de seus olhos. Motos e ônibus variam a paisagem. Pessoas passam de um lado para outro. Moscas e mosquitos já lhe são os únicos amigos. Baratas e ratos fazem visitas também. Restam poucos dentes e o pus escorre dos cantos dos olhos. O papelão disfarça o frio que emana do chão e não tem ninguém para chamar de irmão.Assim vive mais um homem.Degradação, esquecimento e atropelo dos escombros [sociais.Assim é sua vida.Nada mais.

18 REBOCO CAÍDO

desacreditando

quantas vezes acreditei em santosaderi a ismospensei ter descoberto a verdade

quanta merda já faleiquanta gente acreditou

quantas vezes dei chance ao mauquantas vezes me arrependi e fiz de novoquantas vezes descobri o ovo


quantas vezes acrediteiquantas vezes desacrediteiquantas vezes repensei



Depois do lado de K

Cotovelo completamente podreMente corroídaBarriga inchadaDeformação contínuaCaminho sem voltaTempos piores virãoDespencando aos pedaçosParte e parteParto e quartoEsperando pelo melhorSemeando o piorMais dorMais porEstômago doenteCacoetes hediondosSem saberSem terSem crerSem serDifícil explicarDifícil compreender

20 REBOCO CAÍDO

Cistite

LevantarTrabalharObedecerDeitar





Cristine

dizer que não se importa é mais fácil que lutar trancar-se na própria jaula não vai aliviar mesmo quando as grades são de ouro estamos presos as barras estão cada vez mais pesadas independente do seu esforço para não ajudar em nada olhar para trás traz sempre conforto a ilusão é sempre a pior aliada tantas mentes atrasadas transformando esse mundo em um mar de nada o oposto anda sempre entrelaçado assim como o acaso da vida e um simples acaso afirmar incertezas também pode ser um grande antídoto mas quando vem a ressaca você sente que não é nada daquilo quanto piolho e lêndea nessa cabeça desertaquantas voltas e piruetas se estabelecem como meta até lugar nenhum nunca mais fim

22 REBOCO CAÍDO

Imagine

Sem empresa e sem EstadoSem colonizador ou colonizadoNem patrão ou exploradoNem rico nem assalariado

O que ainda não veio está por virO que ainda não veio está por vir

Pelo fim da violência e do violentadoNenhum líder ou lideradoPara que comandante e comandado?Por que tem de ser assim ou assado?

O que ainda não veio está por virO que ainda não veio está por vir

Quem diz o que é feio ou bonito?Quem estabelece o que tem de ser cumprido?O que é verdadeiro e o que é mentiroso?Não queremos seu perfume fedido


As novas flores

eles são como semeadoresque espalham morte e sangue em nossas vidassomos a terra em que nos enterramo descartável do descartávelatravés do medo e paranóia impedem a vidaafastam-nos de nossos irmãosfazem acreditar ser impossível a felicidadeque viver sem temer é um perigoeles insistem que devemos ter medo do perigomas o perigo não é nosso irmãoo perigo é apenas o sabor de estar vivoé o oposto dessa morte confortávele segura que vivemos dia a diaa incerteza é a felicidade de vivercriar raízes é virar plantavirar vegetal é vegetarse evitarmos o desconhecidoficamos apenas com o que já sabemosnada mais será aprendidose não nos aventurarmos pela vida aforase não abraçarmos o desconhecidolascando um beijo na bocaestaremos apenas andando em círculossó a loucura é descobertasó a loucura caminha rumo ao sabersó a loucura salvaa loucura o mal gosto e o perigoeis a Santíssima trindade que devemos beber

24 REBOCO CAÍDO

Porque o sonho virou pesadelo

Quem menos trabalhamais direitos temQuem mais trabalha é tratado como refém

Quem inventa arma é agraciadoQuem faz cultura é ignorado

Quem aceitaé massacradoQuem vai a lutaé criminalizado

Mas têm estóriasque contam pra dormirSe estiver despreparadopode até cair


A cozinha do velho Chinês

o espírito sai do corpo quando a gente menos esperaé aí que a mente se desespera

o corpo sai de cima quando acaba de gozaresperar, parar, pensar

a vida segue em frente quando nada parece bomsuco gástrico homicida faz aquele belo som

miudezas gentilezas vai tudo pelo ar

26 REBOCO CAÍDO

Pessoas

Aceitando mentiras impostasse calouRecusando seu direito a falase enterrouCavando sua sepulturase enganouTapando a luz do SolrastejouVivendo de joelhosnunca levantouPor toda a existêncialamentou

Recusando mentiras impostasse rebelouUsando seu direito a falagritouErguendo-se pelo conhecimentovoouSendo seu próprio SolbrilhouVivendo de pélutouPor toda a existênciafestejou

Aceitando tudo como estáse acomodouUsando seu direito a falabostejouVivendo sob a alienaçãonão buscouEstagnado sob o SolestacionouAcreditando estar sobre os demaisse enganouDe toda sua existência nada ficou ...


Balada

Escuto sons estridentesParece um terremotoMe agito pensando que é um novo som underground,mas são só bombas lançadas pelo império

A vida vai passando através dessa vitrineRodando nas calotas dos carrosQuero apenas resistirPor mais alguns segundos

As cidades estão decadentesNo campo a violência explodeEstou apenas caminhandoObservando alguns corpos sem vida


O ser humano parasitando o planetaParecem vírus devastadoresNão me resta mais nada a fazerAlém de repetir esse refrão


28 REBOCO CAÍDO

Balada 2

Andando por aí vejo prédios e paredes encardidasEm becos e vielas me percocomo em um mundo sem rumoA vida se refugia em um universo paraleloE não queremos ser apenas mais um eloNessa corrente soturnaTenho muito para dizerNão vou gastar meu tempo com refrãoDentes podres e pernas feridasEssa é apenas mais uma vidaa dizer adeus.


Balada 3

Era um cidadão comumDaqueles com CPF, RGe título de eleitorTinha um sonho americano,mas um furo esvaziava seu regadorUma cambada de picaretaSó mamata e mutretaMuito vampiro para lhe sugarMas a esperança nunca morreEssa vida é um corre corree ninguém vai te ajudarMas você ainda crêque o pior está por virE ninguém vai acreditar

30 REBOCO CAÍDO

Não me rendo à hipocrisia

estou cansado de pessoas que sabem tudodizendo o quanto a hipocrisia é belao quanto a verdade é rudeo quanto devemos ter cuidado com o que dizemosestou cansado dos senhores do sabercom suas regras impostasnos impondo seu certoque aceitaram tão passivamentequanto o gado aceita a morte quando vai ao abatedouroe olha que ele não aceitaisso não tem nada a ver com aceitaçãoisso é só força de expressãoestou cansado da mentira peçonhentaque nos enfraqueceenquanto os alimentaque nos mutila em forma de graduaçãoque nos castra enquanto cidadãoda lavagem cerebral que somos obrigados a aceitardessa forja que nos formada sutileza azedadas amargas boas maneirase de versos métricos que me enfadammas não como as fadas me enfadamfadas da vidafadas feridas


Carros

Carros, Carros, CarrosMotos, Motos, MotosÔnibus, Ônibus, ÔnibusPor onde quer que olhesó carros a passarO sinal diz que posso passarMas onde quer que olhe,só carros a passarSigo apressado entre carros,caminhões e autofalantesAtinjo o outro ladopara só carros passarCarros, Carros, CarrosMotos, Motos, MotosÔnibus, Ônibus, ÔnibusPor onde quer que olhesó carros a passar

32 REBOCO CAÍDO

Placebo

Siga verdadese repita o que dizem,mas nunca escute a sua própria razão.

O revolucionário que sonha burguês.Seu estilo de vida é o mesmo que o deles. Mais um otário querendo se dar bem.

Compre a nova necessidade.Mesmo não precisando, você não pode viver sem.

Aquele suco 100% naturalpossui frutas com agrotóxicos que te fazem mal.Siga toda propaganda e verás quanta gente te engana.


Não quero mais

Não quero ser engrenagem do seu sistemapois não vejo nada que valha a penaComo pode mente tão pequenaNão quero fazer parte do problema

Cerveja quente tá mais baratoMe amarro no meu gatoPrefiro sem comida no pratoque ficar doente ao seu lado

Prefiro ir ao teatroque um televisor bem barato Nem quero fazer parte do sistemaNão quero cumprir essa pena

34 REBOCO CAÍDO

Apenas vomitando (ou “Apenas defecando”)

embora goste de excessostudo de mais me enjoamuito afeto enche o sacoviver sem afeto é maldiçãoeterno e para sempre representam tempo em demasiapara ontem já passouconsciência de mais me cheira a chaticeinconsciência constante vira alienaçãoquem tudo aceita é manipuladoquem tudo rejeita sem pensar também é manipuladomuito equilíbrio já desequilibrao desequilíbrio também tem sua medidamas não existem medidas certascada um é cada umo certo e o errado impostos por paranóiasnão me enoje com suas bulas


Evolução?

que tipo de evolução é essa que esquece uma grande maiorialançada a misériaesquecida na margem?que tipo de evolução é essaque ainda cria pássaros presos em gaiolasse diverte com maus tratos aos animaise acredita que tudo está aqui para ser sugado [até o fim?que tipo de evolução é essaque nos limita o agir e o pensarnos fazendo crer que somos livresmas livres até que ponto?que tipo de evolução é essaque uma elite minoria finge estar em Las Vegas (urgh)onde as pessoas fecham os olhos para não ver o que [está claroonde todos afundam nos mesmos erros ?

36 REBOCO CAÍDO

hahahahahahah-hauuuuuuuuuuuuaaaaaaaaaaaaaaaaahahahaha

andando pela madrugadaescorro pela escuridãocompletamente a vontadelivre de qualquer certeza ou convicção

as ruas me caem bemapreciando do concreto ao valãodespido de conceitos inúteisque acorrentam o fracoe ficam mais fortes a cada geração

a vida não é nadaparecido com o que pensamnão passa perto do que dizemque pregam ou impõemessas pessoas sem imaginação

o corpo não é santoe a vida também nãofazemos por fazerpor prazernão esperarmos sua compreensão


sumindo

tenho saudades daquele seu jeitodaquela pessoao que aconteceu pelo caminho?tudo está se apagandovocê está aqui mas não é mais vocêa vida consegue fazer isso com algumas pessoasapagá-las sem fazê-las sumir as vezes elas chegam a ficar transparentesmesmo estando aliaparentementecomo sempre

38 REBOCO CAÍDO

O bêbado

cambaleando pela ruabêbado de amargura e depressãolutando para não se arrastaras lágrimas a inundarchicotadas de calor e friorios de sangue e dorprivado da própria vidacarcinomas e feridasviolência e censuracontrole e torturatudo tudo virando prisãodeturpando e distorçãoacreditando em mentirasprisioneiro e prisão


Revelação

ImpactoPorra, seu filho da putaRezo pela bomba atômicaDesgraçadoInfelizÓdioLoucuraRancorTristezaAmarguraEspírito suicidaAprendizagemSuperaçãoCrescimentoVidaMorte

40 REBOCO CAÍDO

Amor

mais interessante sentir que falarnão é para assistir não é para explicar

seja eterno ou de carnavalpode ser diferentepode ser igual

nunca coube em uma definiçãotem de ser livretem de ser libertação


Qualquer... Não me parece bom o suficiente

É engraçado...Cheguei ao ponto onde nada faz sentidoNada que me digam parece bom o suficienteDoutrinas e ideologias... Pensamentos... Enfim...Tudo parece falho Tudo sem saborTudo parece hipocrisiaMas isso não me afligeO nada me parece o mais...A única...Ai... Ai...Difícil dizer

42 REBOCO CAÍDO

Qualquer coisa

Mais Uma vez me iludi que a felicidade poderia abrir suas asas sobre nós.Parece que por mais que o tempo passea esperança sempre consegue segar,nos deixando por fimencolhidos como aberraçõesem um canto imundocom as palmas estendidas para o ar.Sigo nessa luta inglória,sem esperar por nenhuma vitória.Combatendo o pseudo intelectualismoe a terrível ditadura do correto.Desprezo total pelo que você diz que é belo.O instinto e a intuição, esse é o elo.Conceitos ultrapassados Vidas dedicadas a ser como os outrosFrustraçãoEssa é a sua colheita malditaCada vez me fecho mais em mime vou me matando pouco a poucoSó quando me tornar inteligível e sem sentido para todosconseguirei erguer meu troféu de lata de novo


Registros desiguais

a cabeça pelo mundoos olhos registraras pessoas a choraras pessoas a andaras pessoas a sofreras pessoas a viver

a minoria velejandopelo mundo desigualenquanto pra uns é pauleirapara outros carnavalsofrimento sem limitesalegria banal

é bebida de granfinoé cerveja e cachaçaé bolacha no caféé bolacha na carcaçaenquanto muitos vertem lágrimasalguns acham graça

44 REBOCO CAÍDO

Mesmo assim

Algumas coisas na vida não têm meta ou sentido e mesmo assim não deixamos de desejar. Desejo... Piada sem graça. O interior do nosso eu explode com fúria e serenidade, equilibrando os pratos há muito raspados. Por que tanto medo e apego a regra sem sentido imposta por uma minoria mórbida e limitada? Os pés se inclinam no parapeito da falta de compreensão e verdade. Malditas verdades. Invencionices de uma classe que se julga sábia. Hahahahaha. AAAAAAAAAAaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa malditos sábios. Trancados em seus gabinetes, não fazem mais que teorizar. São muito parecidos com os religiosos que se aproveitam de seu suposto conhecimento, se pondo a cima dos demais e impondo o caminho e a verdade. Ninguém fica sobre mim. Se ficar, puxo a escada e jogo lá do alto.


passando

passou carnavalpassou quarta de cinzase eu aquivendo o cano do banheiro vazar a rede elétrica não funcionapedaços da parede e teto caem pelo chão sem saber como resolversem dinheirosem perspectiva a única vontade é mudar o mundousar ao máximo o tempoconstruindo outra coisa completamente débilo debilitado escoa desprendendo de todos os esforçosatentando contra a razãotentando o impossível sem conseguir resolver o que está a sua voltacontinua sozinho a vagar

46 REBOCO CAÍDO

Tristeza

lá vem ela lá vem elaas vezes chegando assimacompanhada da melancolia e da frustraçãopor vezes temperada de raivapor vezes de solidãoos sozinhos se tornam mais solitáriosos poetas chamam de inspiraçãoalguns até gostamalguns não suprotamclamam pela mortesuplicam pelo fim da agoniatem quem apreciecomo se admira uma paisagemou um cartão postalé complicadoé difícilé tristemesmo quando alegreé triste


PPbb

PPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPP

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48 REBOCO CAÍDO

Por enquanto

ELES:

enquanto eles estão no ar condicionadoa degradação ambiental e o desmatamento destrói [nosso planeta

enquanto eles comema fome não para de assombrar

enquanto eles fazem leis que não trazem nenhuma [mudança significativa para o povobecos e vielas são violentados de todas as formas [possíveis e imagináveis

enquanto eles se misturamtentam sempre e sempre nos separar

enquanto eles fazem campanhasuma minoria se dá bem em cima da grande maioria

enquanto eles compramo lixo não para de se acumular

enquanto eles fazem acordos e apertam as mãoso caos impera

enquanto eles exportam sua produçãoíndios e camponeses têm seus direitos surrupiados

enquanto eles pregam a mentiraa intolerância e o desrespeito cresce como a [pior das pragas

NÓS E VOCÊS:

enquanto eles pensam de forma egoístanós pensamos no coletivo


enquanto eles nos massacramnós mostramos caminhos mais justos

enquanto eles valorizam a futilidadenós valorizamos o conhecimento

eles e nósnós e eles

desatando nossos nósdesatando os nós deles

quem somos nós?Quem são eles?

olhe para o espelhoolhe para as paredes

de que lado você está?para onde você vai?

você é nósou você é deles?

50 REBOCO CAÍDO

Pensar para que, se podemos ser vegetais?

O mestre mandou: Parem de pensar!E assim, os obedientes cidadãos obedecem.

Ninguém mais pensa.

Questionar, então, se torna inviável diante da falta [de pensamento.

Toda a mentira é empurrada goela abaixo.

Tudo tudo tudo sem sabor.

Lastimável.

A comida é de mentira, as notícias são recheadas de mentiras, a verdade é a verdadeira mentira, o prazer é de mentira...

Nada nada nada de verdade.

A verdade se tornou crime.

O dinheiro cegou a todos, a mídia cegou a todos, a mentira cegou a todos, todos cegaram a todos.

Mentiras arbitrárias, inventadas por motivos arbitrários, para enganar ao povo obediente.

Engulam nossas mentiras como se fossem pílulas de vitamina – Gritam sem compaixão.

A verdadefobia é a nova doença.

Pensar causa pânico,

dores de cabeça e no estômago.


Vamos fingir que não estamos nem aí.

Façamos de conta que nada é da nossa conta.

Mintamos para nós mesmos.

Vamos fortalecendo a enganação.

O ter se torna mais importante que o ser.

Tudo pelo comodismo suicida.

A covardia e o comodismo se proliferam como pestes implacáveis.

Governantes se aproveitam de nossa disposição para sermos enganados.

Doutores, sábios, mentecaptos, acadêmicos e até os artistas estão trilhando rumo a alienação.

E agora?

Agora cada um escolhe seu lado.

Uns são aproveitadores e outros aproveitados.

Os que não servem para um lado ou para o outro são descartados logo de cara

Mas, uma coisa é certa: Todos são enganadores e enganados.

52 REBOCO CAÍDO

!?

Tenho andado muito confusoA cabeça a milEscrevendo poucoAs certezas que muito tempo não tenhome abandonaram de vezHá dias não escrevoMesesNão sei mais o que dizerPerdi a crençaaté mesmo na descrençaEstá cada vez mais difícil continuarFalta de arVazio absolutoCrer apenas na utopiaDistanciar-me dos humanosAdoecer com saúdeSaúde...Hum...Não tenho nada com issoDeve ter algo haver com a felicidadeNão saber mais o que é verdade ou mentira por opção Isso é se alienar?Isso é se drogar?Se masturbar?“Aí meu DeusSanta televisão”Gritam-me os fanáticos da sabedoria boçalFicar se deprimindo com angústias intermináveis [parece o único jeito de prosseguirPor mais que me esforce não consigo ser como elesJá não me esforço mais para isso faz muito tempoNem me lembro se me esforcei algum diaPor que faria uma violência dessas contra mim?Por quê?Para que?


Sem razão – Mundo insano

RepressãoNão razãoAgressãoNão razãoAlienaçãoNão razão

Sangue coaguladoGrades a cercarGritos pela noiteQuerem nos agarrar

OpressãoNão razãoViolaçãoNão razãoRegressãoNão razão

Pânico orquestradoCanos a dispararFacas afiadasQuerem nos parar

RepressãoNão razãoOpressãoNão razãoAgressãoNão razão

54 REBOCO CAÍDO

Resposta à um amigo

EngraçadoAcordei putoCom vontade de começar a gritar na janelaXingar, blasfemar...Completamente desacreditado e desacreditandoPensei em te mandar um e-mail dizendo:“Ai, meu deusQue merda”Foi nesse momento que me deparei com esse seu e-mailSempre com esperança, tendo uma visão otimista das [coisasAcreditando na lutaIsso aplacou minha fúria e equilibrou minha falta de féAcendi um cigarro, dando sequência ao meu suicídio [consciente,escolhendo seguir a caminhadaPara onde?Não seiSe quer me preencho de nada


Práxis

Vozes caladasentorpecidas pelas mentirasVidradas em conceitos falsoscriados por elites criadaspara manter tudo como estáQuem sabe mais do que?Quem tem mais o que?Vote no opressorQuem vai dominar?Quem vai explorar?É mais fácil teorizarAgir é para quem sabeque a ação é tudo que temosA verdade é sempre questionávelAção direta a todo vaporErrar é melhor que se conformarNão podemos nos adaptarToda açãoReaçãoPelo eterno transformarEm tempo: Quer conhecer alguém?Olhe além das palavras e observe o que ele faz.

56 REBOCO CAÍDO

Tradições/Traições

Quem é que diz o que é bom gosto?Quem determina o normal.Quem faz da vida um desgosto?Quem te protege do mal.

Quem define o seu posto?Quem alimenta o banal.Quem te acorrenta ao relógio?Quem impõe o trivial.

Quem é que diz do que eu gosto?Quem se acha maioral.Quem me impede de estar vivo?Quem sustenta essa moral.


Novos tempos estão chegando

Tempos em que o povo não desejará somente pão e circoTempos em que o povo não desejará apenas uma doutrina [para seguir cegamente, sem senso críticoSerão os tempos da verdadeira revoluçãoOnde as pessoas olharão para dentro de si e seguirão [seu espíritoOnde ninguém mais escolherá por nósNós faremos escolhas reaisNão serão necessários os velhos líderes e ícones que se julgam indispensáveis para guiar o momento [de mudançaA mudança está vindo dos que a desejamNão é uma vontade que precise de manual, ou ensinamentos, mas a vontade do essencial, vinda [naturalmente de dentro do homemNão a vontade do consumo, mas a vontade da beleza [e da liberdade de ser feliz

58 REBOCO CAÍDO

Reboco caído

quero um lugaronde a beleza não me incomodecom seus rostos bonitosseus corpos perfeitosquero um lugaronde aprecie os defeitosonde possam os sujeitoscantarem e rodopiarempor todas as praças e camposdespidoscompletamente nusonde os excessossejam adoradosos certos estejam erradose haja um culto aos depravadoso pudor seja execradoo mal desmascaradoe os fúteis renegadosvamos para o mundoonde todo Raimundonão importa se sugismundonos abrace e faça um brindeonde os sábios escrevam erradoe o esquecido seja lembradochega de ser deturpadoque se crie outro ladoe não se tenha mais cuidado

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