Rébus

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é um tipo de escrita que utiliza figuras para repre- sentar palavras. O picto- grama deixa de significar diretamente o objeto que representa para indicar o fonograma corresponden- te ao nome desse objeto. Assim, é possível escrever o nome de uma pessoa ou de um lugar utilizando ape- nas as imagens. Este foi um passo significativo na passagem do ideograma e do hieróglifo em direção ao alfabeto. Sabemos do papel essen- cial que tem as homofo- nias na poesia, chamadas de rimas entre os clássicos, trocadilho entre os mais modernos. Uma placa de albergue representando um leão de ouro pode ser lida em francês como Au lit on dort, que soa algo pa- recido a “uma cama para dormir”. A leitura é possível apenas no interior de uma mesma língua. Os surrealistas utilizaram este recurso com freqüên- cia. É emblemática a ima- gem do grupo de pintores, poetas e escritores de olhos fechados, ao redor da pin- tura de René Magritte onde a figura de uma mulher nua substitui essa expressão na frase “eu não vi a mulher nua que se escondeu na floresta”. Os artistas foto- grafados, a partir do alto à esquerda, em sentido ho- rário, são: Maxime Alexan- dre, Louis Aragon, André Breton, Luis Buñuel, Cau- penne, Paul Éluard, Marcel Fourrier, René Magritte, Al- bert Valentin, André Thirion, Yves Tanguy, Georges Sa- doul, Paul Nougé, Camille Goemans, Max Ernst e Salvador Dalí. As imagens conseguem comunicar uma idéia de um modo mais rápido do que as palavras. Um exemplo de como isso funciona é o cartaz de Paul Rand para um conhe- cido fabricante de computado- res. Simples e direto, a imagem persiste na memória por muito mais tempo do que aquelas três letras que usualmente identificam a empresa. O escritor francês Stendhal inse- riu em um dos seus romances o desenho do letreiro de um res- taurante com uma inscrição em forma de rébus (abaixo). Usando apenas quatro letras ele cons- truiu uma frase que identifica o lugar de uma maneira curiosa. Quando se pronuncia em fran- cês A long sous p, G grand a pe- tit, diz-se também Allons souper, j´ai grand appétit, ou “vamos jantar, estou com fome”. O poeta e artista catalão Joan Brossa, atento aos jogos de lin- guagem, colocou a letra “x” ao lado de uma fotografia do mar (na página à esquerda) e assim fez um poema visual em que o tí- tulo resolve o enigma: Ode a Marx. Lewis Carrol, em uma de suas cartas (à direita), colocou dese- nhos que funcionam como um rébus, mostrando que a lingua- gem pode ser vista como um jogo, algo que pede para ser decifrado. Amir Brito RÉBUS cles: π 126 127

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Artigo na revista Tupigrafia 9

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é um tipo de escrita que utiliza figuras para repre-sentar palavras. O picto-grama deixa de significar diretamente o objeto que representa para indicar o fonograma corresponden-te ao nome desse objeto. Assim, é possível escrever o nome de uma pessoa ou de um lugar utilizando ape-nas as imagens. Este foi um passo significativo na passagem do ideograma e do hieróglifo em direção ao alfabeto. Sabemos do papel essen-cial que tem as homofo-nias na poesia, chamadas de rimas entre os clássicos, trocadilho entre os mais modernos. Uma placa de albergue representando um leão de ouro pode ser lida em francês como Au lit on dort, que soa algo pa-recido a “uma cama para dormir”. A leitura é possível apenas no interior de uma mesma língua.Os surrealistas utilizaram este recurso com freqüên-cia. É emblemática a ima-gem do grupo de pintores, poetas e escritores de olhos fechados, ao redor da pin-tura de René Magritte onde a figura de uma mulher nua substitui essa expressão na frase “eu não vi a mulher nua que se escondeu na floresta”. Os artistas foto-grafados, a partir do alto à esquerda, em sentido ho-rário, são: Maxime Alexan-dre, Louis Aragon, André Breton, Luis Buñuel, Cau-penne, Paul Éluard, Marcel Fourrier, René Magritte, Al-bert Valentin, André Thirion, Yves Tanguy, Georges Sa-doul, Paul Nougé, Camille

Goemans, Max Ernst e Salvador Dalí. As imagens conseguem comunicar uma idéia de um modo mais rápido do que as palavras. Um exemplo de como isso funciona é o cartaz de Paul Rand para um conhe-cido fabricante de computado-res. Simples e direto, a imagem persiste na memória por muito mais tempo do que aquelas três letras que usualmente identificam a empresa. O escritor francês Stendhal inse-riu em um dos seus romances o desenho do letreiro de um res-taurante com uma inscrição em forma de rébus (abaixo). Usando apenas quatro letras ele cons-truiu uma frase que identifica o lugar de uma maneira curiosa. Quando se pronuncia em fran-cês A long sous p, G grand a pe-tit, diz-se também Allons souper, j´ai grand appétit, ou “vamos jantar, estou com fome”.

O poeta e artista catalão Joan Brossa, atento aos jogos de lin-guagem, colocou a letra “x” ao lado de uma fotografia do mar (na página à esquerda) e assim fez um poema visual em que o tí-tulo resolve o enigma: Ode a Marx.Lewis Carrol, em uma de suas cartas (à direita), colocou dese-nhos que funcionam como um rébus, mostrando que a lingua-gem pode ser vista como um jogo, algo que pede para ser decifrado.

Amir Brito

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