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ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.21; p. 2015 503 CASUÍSTICA DE ENDOCARDIOSE CANINA NO HOSPITAL VETERINÁRIO DA UNIFRAN NO PERÍODO DE 2007 À 2012 Caio Afonso dos Santos Malta 1 , Analice Aureliano dos Santos 2 , Elizete Silva Ribeiro 3 , Daniel Paulino Junior 4 * 1 Dicente do curso de Medicina Veterinária – Unifran – SP – Brasil. 2 Dicente bolsista do programa PIBIC – EM - Unifran – SP – Brasil. 3 Dicente do Programa de Mestrado em Medicina Veterinária de Pequenos Animais- Unifran – SP – Brasil. * 4 Docente do Programa de Mestrado em Ciência Animal – Unifran – SP – Brasil. * email para contato: [email protected] Recebido em: 31/03/2015 – Aprovado em: 15/05/2015 – Publicado em: 01/06/2015 RESUMO A longevidade dos animais de companhia vem aumentando ao longo dos anos, e as alterações decorrentes da idade estão sendo mais reconhecidas. O coração também sofre alterações fisiológicas estruturais bem como patológicas, perdendo sua capacidade funcional e problemas cardiovasculares tendem a parecer. O objetivo deste trabalho foi realizar um levantamento dos casos de endocardiose canina atendidos no Hospital Veterinário da UNIFRAN, no período de 2007 a 2012, avaliando quais as características dos pacientes quanto a sexo, raça, idade, peso, sinais clínicos, queixa principal, exames diagnósticos, tratamento, e sobrevida. Estes foram exibidos em gráficos e discutidos, para expor a realidade da rotina hospitalar, do interior do estado de São Paulo e confrontá-los com os da literatura consultada. Para inclusão do prontuário era avaliado basicamente o item suspeita clínica com posterior presença de sopro, sinais clínicos e dados da resenha. Encontrou-se a tosse como principal sinal clínico em cães de pequeno porte, adultos velhos, onde o principal exame solicitato foi a radiografia, utilizando o principal fármaco do protocolo terapêutico a furosemida, dados esses condizentes com a literatura. O tempo de sobrevida foi em média de quatro anos pós diagnóstico. PALAVRAS- CHAVE: cães, degeneração mixomatosa, relato. CASES OF ENDOCARDIOSIS CANINE IN THE VETERINARY HOSPITAL OF THE UNIFRAN IN PERIOD 2007 TO 2012 ABSTRACT The longevity of pets has been increasing over the years, and the changes that come with age are being more recognized. The heart, due to aging, also undergoes structural physiological and pathological change, losing its functional capacity as cardiovascular alterations appear. The aim of this study was to survey the cases of canine endocardiosis examined at the Veterinary Hospital of UNIFRAN in the period ranging from 2007-2012, and asses the characteristics of patients according to sex, race, age, weight, clinical signs, chief complaint, exams diagnosis, treatment, and survival. These characteristics were displayed using graphs to discuss and contrast the reality of the hospital routines within the hospital located in the interior of the state

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CASUÍSTICA DE ENDOCARDIOSE CANINA NO HOSPITAL VETER INÁRIO DA

UNIFRAN NO PERÍODO DE 2007 À 2012

Caio Afonso dos Santos Malta1, Analice Aureliano dos Santos2, Elizete Silva Ribeiro3, Daniel Paulino Junior4 *

1 Dicente do curso de Medicina Veterinária – Unifran – SP – Brasil. 2 Dicente bolsista do programa PIBIC – EM - Unifran – SP – Brasil.

3 Dicente do Programa de Mestrado em Medicina Veterinária de Pequenos Animais- Unifran – SP – Brasil.

* 4 Docente do Programa de Mestrado em Ciência Animal – Unifran – SP – Brasil. * email para contato: [email protected]

Recebido em: 31/03/2015 – Aprovado em: 15/05/2015 – Publicado em: 01/06/2015

RESUMO

A longevidade dos animais de companhia vem aumentando ao longo dos anos, e as alterações decorrentes da idade estão sendo mais reconhecidas. O coração também sofre alterações fisiológicas estruturais bem como patológicas, perdendo sua capacidade funcional e problemas cardiovasculares tendem a parecer. O objetivo deste trabalho foi realizar um levantamento dos casos de endocardiose canina atendidos no Hospital Veterinário da UNIFRAN, no período de 2007 a 2012, avaliando quais as características dos pacientes quanto a sexo, raça, idade, peso, sinais clínicos, queixa principal, exames diagnósticos, tratamento, e sobrevida. Estes foram exibidos em gráficos e discutidos, para expor a realidade da rotina hospitalar, do interior do estado de São Paulo e confrontá-los com os da literatura consultada. Para inclusão do prontuário era avaliado basicamente o item suspeita clínica com posterior presença de sopro, sinais clínicos e dados da resenha. Encontrou-se a tosse como principal sinal clínico em cães de pequeno porte, adultos velhos, onde o principal exame solicitato foi a radiografia, utilizando o principal fármaco do protocolo terapêutico a furosemida, dados esses condizentes com a literatura. O tempo de sobrevida foi em média de quatro anos pós diagnóstico. PALAVRAS- CHAVE: cães, degeneração mixomatosa, relato. CASES OF ENDOCARDIOSIS CANINE IN THE VETERINARY HOS PITAL OF THE

UNIFRAN IN PERIOD 2007 TO 2012

ABSTRACT The longevity of pets has been increasing over the years, and the changes that come with age are being more recognized. The heart, due to aging, also undergoes structural physiological and pathological change, losing its functional capacity as cardiovascular alterations appear. The aim of this study was to survey the cases of canine endocardiosis examined at the Veterinary Hospital of UNIFRAN in the period ranging from 2007-2012, and asses the characteristics of patients according to sex, race, age, weight, clinical signs, chief complaint, exams diagnosis, treatment, and survival. These characteristics were displayed using graphs to discuss and contrast the reality of the hospital routines within the hospital located in the interior of the state

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of São Paulo, with what we have in the literature. Materials used came for the medical records and were used if clinical suspicion suggested or showed a subsequent heart murmur, clinical signs, and data review. In addition symptoms of coughing as a main clinical sign in small dogs, and older adults, as well as data gained from primary use of radiography was used. Treatment was given using the drug furosemide, and given as per as a therapeutic protocol. Treatment data for the drug was consistent with literature. The survival time for the studied cases was an average of four years post diagnosis. KEYWORDS: dogs, myxoid degeneration, reporting.

INTRODUÇÃO A cada dia os animais se relacionam mais intensamente com o homem,

recebendo maiores atenções e cuidados. Em especial, os cães possuem uma alta expectativa de vida e desse modo surgem às preocupações com o aparecimento das doenças geriátricas (HOSKINS, 2008). Neste contexto a endocardiose deve receber uma atenção especial por se tratar de uma doença que ocorre principalmente em animais de idade mais avançada, caracterizando um processo degenerativo crônico progressivo das válvulas do coração, demostrando uma predileção a cães de pequeno porte (MUCHA, 2007). A função normal das válvulas átrio-ventriculares consiste em evitar o refluxo de sangue aos átrios esquerdo e direito respectivamente durante a sístole, possibilitando assim que o sangue percorra o trajeto correto pela aorta e artéria pulmonar. Caso ocorra degeneração valvular, haverá alteração em sua estrutura tecidual, anatomia e função, levando a sua insuficiência e consequentemente regurgitação de sangue pela má coaptação (SISSON, 2010). A regurgitação de sangue ao átrio promove um som característico conhecido como sopro sistólico e diminui o débito cardíaco, que acarretará a ativação dos mecanismos compensatórios, principalmente o sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA), cronicamente responsáveis pela maioria dos sinais clínicos (CAMACHO, 1996).

O diagnóstico baseia-se no histórico, nos sinais clínicos, como tosse seca, cansaço fácil e achados de exame físico que incluem sopro cardíaco desde o inicio da afecção, sons respiratórios anormais, dificuldades respiratória, taquicardia, pulso femoral fraco e extremidades frias em uma fase mais avançada, associados a exames complementares como radiografias, eletrocardiografia e ecocardiografia. (RIBEIRO, 2010).

Geralmente o tratamento consiste em aliviar os sinais clínicos decorrentes da exacerbação dos mecanismos compensatórios. Dessa forma, fármacos vasodilatadores, diuréticos e inotrópicos positivos (em uma fase final) são utilizados (ETTINGER & FELDMAN, 2009).

O agente vasodilatador mais comumente utilizado é o maleato de enalapril, que atua inibindo a enzima conversora da angiotensina I em angiotensina II, suprindo o mecanismo compensatório Sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona (GORDON & KITTLESON, 2010)

Dentre os diuréticos, a furosemina é o fármaco mais amplamente utilizado, sendo a primeira escolha em pacientes com retenção de líquido secundária a insuficiência cardíaca congestiva (ROKUTAN et al., 2012), demostrando resultados clínicos positivos tanto com o uso contínuo, quanto com o uso em bolus (MEI-YI WU et al., 2014). Consiste em um diurético de alça que atua promovendo o aumento da

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excreção de íons de Sódio e Cloretos no túbulo distal renal, acelerando a diurese e dimunindo a pré-carga (GORDON & KITTLESON, 2010). A dose terapêutica recomendada é de 2 a 4mg/ kg a cada 12 horas, podendo apresentar variações nas dosagens, conforme a gravidade dos sinais clínicos e dos medicamentos usados concomitantes (PLUMB, 2011).

Além da furosemida outro diurético pode ser acrescido no protocolo terapêutico como a espironolactona, um diurético poupador de potássio e antagonista competitivo da aldosterona. Esta é adicionada a terapêutica em casos de retenção crônica de líquidos, secundário a afecções valvulares crônicas e cardiomiopatias não responsivas a terapia convencional (KOGIKA, 2011).

Neste contexto objetivou-se analisar a prevalência de casos de endocardiose, na rotina clínica do Hospital Veterinário de Franca (UNIFRAN), obtendo dados raciais, incidência de gênero e idade da maior ocorrência, assim como dados relacionados, ao tratamento utilizado, meios de diagnósticos, proporcionando uma visão geral sobre o tempo de sobrevida destes animais, após os diagnósticos.

MATERIAL E MÉTODOS

Esta pesquisa foi deliberada aprovada pela comissão de ética no uso de animais (CEUA) da Universidade de Franca (UNIFRAN) sob o protocolo 041/14. Foram analisados 6000 prontuários clínicos referentes aos atendimentos realizados entre janeiro de 2007 e dezembro de 2012 do Hospital Veterinário da Universidade de Franca.

Como critério de inclusão foi inicialmente avaliado no prontuário o item suspeita clínica, onde endocardiose, cardiopatia ou insuficiência cardíaca congestiva (ICC) serviam como inserção da ficha para casuística, associado aos sinais clínicos e características da resenha do animal. Posteriormente a isso, adquiriu-se dados referentes a raça, idade, sexo, sinais clínicos, queixa principal (relatada pelo proprietário), exames realizados, tratamento indicado e posteriormente foi feito contato por telefone, a estes proprietários para conhecimento da sobrevida de cães diagnosticados com endocardiose. Os dados obtidos foram tabulados no programa EXCEL® com posterior apresentação em forma de análise percentual descritiva e gráficos. As identidades dos proprietários, assim como dos animais que fizeram parte desse estudo, foram preservadas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Dentro do período proposto foram avaliadas 6000 fichas de animais atendidos

no Hospital Veterinário da UNIFRAN, das quais 111 (1,85%) eram casos de cardiopatias e destes, 86 (1,43%) de endocardiose canina. Notou-se que a endocardiose é a afecção cardíaca de maior ocorrência, predominando diante de outras como a cardiomiopatia dilatada canina, assim como publicado por KVART & HÄGGSTRÖM (1992). A média de idade destes cães com endocardiose ficou em 11 anos com a mínima de 4 e máxima de 18 anos (figura 1). De acordo com a pesquisa feita por HÄGGSTRÖM et al. (2005), a incidência da doença é maior em animais acima de 16 anos chegando a 75% dos casos. Em animais com idade entre 5 e 8 anos gira em torno de 10% e em animais entre 9 e 12 anos pode chegar a 25%. Os autores ainda comentaram que a ocorrência da doença em cães com menos de 5 anos é baixa.

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FIGURA 1: Gráfico representando as idades dos cães,

encontradas no levantamento de 2007 a 2012 no H.V. da UNIFRAN, que apresentaram endocardiose.

Com relação à predileção racial, conforme apresentado na figura 2, o estudo

em questão observou maior acometimento de cães sem raça definida (SRD) de pequeno e médio porte (n = 26; 30,2%), seguido do Poodle (n = 21; 24,4%), Pinscher (n = 18; 20,9%) e Teckel (n = 6; 6,9%). No estudo feito por FRANCO & CAMANHO (2011) envolvendo 46 cães, as três raças mais acometidas foram Poodle, Pinchers e Teckel respectivamente. A provável explicação da maior incidência em cães SRD demostrado nesse trabalho é o fato desta raça ser a mais predominante na região de Franca. Outra raça que deve receber uma atenção especial é a Cavalier King Charles Spaniel que segundo BOTTE (2012), apresenta uma predisposição genética para o desenvolvimento da doença, adquirindo-a de forma muito precoce quando comparada as demais raças. Diferente do descrito na literatura, no presente trabalho apenas um cão pertencente a raça citada acima apresentou a doença, porém um fator relevante a ser ressaltado é que tal raça é rara na região estudada.

Número de

Idad

e

IDADE DOS CÃES COM ENDOCARDIOSE

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FIGURA 2: Gráfico representando as raças dos cães, encontradas no

levantamento de 2007 a 2012 no H.V. da UNIFRAN, que apresentaram endocardiose.

Quanto ao sexo, dos 86 animais identificados, 47% eram machos e 53% eram

fêmeas, mostrando resultados praticamente equivalentes em relação a disposição sexual. A endocardiose é relatada por KVART & HÄGGSTRÖM (1992) como uma doença de maior ocorrência em cães machos e Neste aspecto nosso estudo encontrou um resultado praticamente igual, com uma diferença muito pequena entre os resultados. NELSON & COUTO (2010) descrevem que os sinais clínicos da doença aparecem de forma similar em ambos os sexos, porém nos machos a progressão da doença é mais rápida.

A principal queixa observada nos prontuários clínicos, que resultaram aos proprietários a levarem seus animais ao atendimento veterinário foi o problema da tosse, sendo este sinal visto 32 vezes (37%). A tosse de origem cardíaca é causada devido ao aumento do átrio esquerdo, comum nos casos da degeneração mixomatosa da valva, o que leva a compressão do brônquio principal esquerdo resultando no reflexo tussígeno. Além disso, o processo de insuficiência cardíaca causada por essa cardiopatia leva a congestão e aumento da pressão venosa pulmonar, promovendo como consequência edema pulmonar, que também pode desencadear o sinal clínico da tosse (CAMACHO & MUCHA, 2004; MARTELES, 2014).

Outras queixas (figura 4) que destacaram-se foram a dispneia com 8 casos (9%) e cansaço (1,1%) e síncope (1,1%), somente com uma queixa cada. De modo geral a dispneia nesses pacientes pode ser explicada devido ao edema pulmonar que a presença da cardiopatia desenvolve, sendo também normal que estes cães se mostrem intolerantes a exercícios (MARTELES, 2014). CAMACHO & MUCHA (2004)

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descrevem que animais cardiopatas demonstram redução da atividade física, intolerância ao exercício e certo grau de letargia e sonolência, que podem ser observados durante a anamnese e exame físico geral. Presenciou-se outras queixas que não apresentam associação direta com a endocardiose, como nódulos (6 casos), vômito (5 casos), dentre outras demonstradas (figura 4). Muitos animais vivem tranquilamente com a doença que permanece de forma inaparente durante anos (NELSON & COUTO, 2010), sendo elas apenas identificadas quando o animal vai ao veterinário por razão de outra doença, como observado neste estudo com exemplo dos nódulos e vômito.

FIGURA 4: Gráfico representando a variável queixa principal, citada pelos

proprietários dos cães, encontrados no levantamento de 2007 a 2012 no H.V. da UNIFRAN, que apresentaram endocardiose.

O diagnóstico de insuficiência cardíaca não deve se basear em um único

exame, este deve ser feito baseado nos sinais clínicos, associados a vários exames complementares como, radiografias, eletrocardiorafia e ecocardiorafia (RIBEIRO, 2010). Isto foi observado neste trabalho, onde diversos exames foram feitos para se obter o diagnóstico da doença. Dentre esses exames a radiografia torácica foi o

Queixa Principal

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mais solicitado, pela baixa complexidade e pelo bom nível de esclarecimento não só cardiovascular como também respiratório. A ultrassonografia, ecocardiograma, eletrocardiograma e exames laboratoriais também foram utilizados, em muitos casos associados à radiagrafia torácica, com o propósito de aumentar a acurácia diagnóstica do quadro. A Figura 5 exibe quais os exames foram realizados nos 86 casos de endocardiose canina.

FIGURA 5: Gráfico representando os exames realizados em sua totalidade dos cães, encontradas no levantamento de 2007 a 2012 no H.V. da UNIFRAN, que apresentaram endocardiose.

Para os animais diagnosticados com endocardiose, foram utilizados alguns

medicamentos de forma isolada, conforme demonstrado na Figura 6, sendo a furosemida o fármaco mais utilizado para o tratamento inicial seguido do enalapril.

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FIGURA 6: Gráfico representando terapêutica indicada para os cães, em levantamento de 2007 a 2012 no H.V. da UNIFRAN, que apresentaram endocardiose

Em alguns casos também houve a necessidade de usar medicamentos

associados a outros (Figura 7).

FIGURA 7: Gráfico representando os fármacos indicados para o tratamento dos cães, quando associados encontradas no levantamento de 2007 a 2012 no H.V. da UNIFRAN, que apresentaram endocardiose.

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O tratamento consiste em uso de drogas isoladas ou simultâneas, como visto neste trabalho, com a função de melhorar o fluxo sanguíneo e reduzir o acúmulo congestivo, além de mecanismos compensatórios. Hoje em dia o arsenal terapêutico disponível para tratamento da insuficiência cardíaca se expandiu muito. Novos e potentes medicamentos podem melhorar o prognóstico do paciente, quando utilizados corretamente e sob condições bem monitoradas (DE MORAIS & SCHWARTZ, 2005).

Corroborando este estudo, FRANCO (2009), descreveu que cães com insuficiência cardíaca secundária a doença valvular (regurgitação da mitral) devem ser tratados com diurético (furosemida) e inibidor de enzima conversora de angiotensina (ECA).

Em dois casos foi obsevado o uso de digoxina associado a um diurético e ou um inibidor de enzima conversora de angiotensina. Tal medicamento pertence a classe dos glicosídeos digitálicos, agentes inotrópicos positivos que promovem seus efeitos através da alteração da sensibilidade dos barorreceptores, diminuição do tônus simpático, aumento da atividade vagal melhorando assim a contratilidade do miocárdio normal ou insuficiente. (KOGIKA, 2011). Segundo ETTINGER & FELDMAN (2009) esse tipo de medicamento pode ser empregado em uma fase mais avançada da doença devido ao seu efeito sobre o miocárdio insuficiente. Porém, GORDON & KITTLESON (2010) descrevem que a digoxina não produz efeito clínico relevante em cães quando comparado a outros agentes inotrópicos positivos, como o pimobendam. O pimobendan, apesar de ser descrito na literatura como um boa escolha terapeutica, não foi utilizado em nenhum tratamento no presente trabalho e uma possível explicação para isso é o fato do pimobendam ser difícil de ser encontrado e ter um valor monetário superior a digoxina na região estudada.

A maioria das doenças cardíacas não tem cura, mas com o tratamento os animais apresentarão melhor qualidade de vida. Os cães de hoje estão vivendo mais e com qualidade, por isso recomenda-se fazer o check-up de seis em seis meses para diagnóstico precoce e posteriormente ao tratamento adequado (FRANCO & CAMACHO, 2011). Como consequência da degeneração e dilatação progressivamente do anel valvar, desenvolver-se o espessamento e o encurtamento ou até mesmo ruptura da cordoalha tendínea, fibrose dos músculos papilares, dilatação, fibrose ou ruptura do átrio esquerdo e fibrose, dilatação do ventrículo esquerdo (MUCHA, 2007). Nos quadros mais graves, observa-se a ruptura do átrio esquerdo resultando no acúmulo de fluido dentro do saco pericárdico (efusão pericárdica) e consequentemente tamponamento cardíaco (WARE, 2000). Contudo o prognostico da insuficiência cardíaca congestiva é reservado, visto as complicações possíveis e que o tratamento apenas melhora a qualidade de vida a partir na melhora sintomática. Nesta pesquisa entrou-se em contato com os proprietários, via telefone, para saber sobre em quais condições se encontravam os pacientes até data atual. O resultado mostrou que dos 37 proprietários que responderam, a maioria apresentou uma sobrevida de mais de dois anos após diagnóstico (Figura 8).

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FIGURA 8: Gráfico representando a sobrevida dos cães, quando associados encontradas no levantamento de 2007 a 2012 no H.V. da UNIFRAN, que apresentaram endocardiose.

CONCLUSÃO Com este estudo, concluiu-se que a endocardiose é a cardiopatia adquirida de maior ocorrência no Hospital Veterinário da UNIFRAN, acometendo cães de meia-idade e idosos, de raças de menor porte, apresentando como principal sinal clínico a tosse e como principal tratamento o uso de furosemida associada ao enalapril. Devido à prevalência da cardiopatia em questão na clínica de pequenos animais destaca-se a importância da realização de exames físicos detalhados e complementares como ecocardiograma, eletrocardiograma e radiografia totácica, nas raças predispostas, bem como a atenção do clínico para pacientes assintomáticos, mas já com a presença da afecção.

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ANOS

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