Receitas contra a fome final · 2016-05-06 · burkina faso cuba indonésia chile lesoto madagascar...

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Desvendandonovoshorizontes p2p2p2p2p2

Virando o mundodecabeça para baixo -Um sistema desegurança alimentarna Índia p5p5p5p5p5

América Central, Brasile Tailândia -Apresentando a adiversidade p8p8p8p8p8

Um remédio contraas lagartas e aengenharia genética,o "atrai-repele" noQuênia p10p10p10p10p10

Entrevista como ecologistaetíope Dr.TewoldeEgziabher p14p14p14p14p14

Sem química: novaagricultura emBangladesh p15p15p15p15p15

Revoluçãonos arrozais p20 p20 p20 p20 p20

Financiado pela Greenpeace, Pão para o Mundo e o De-partamento de Desenvolvimento Internacional do ReinoUnido, pesquisadores da Universidade de ESSEX realiza-ram o maior estudo já feito sobre agricultura responsáveldo ponto de vista ambiental e social *.

O estudo, que abrange projetos em mais de 4 milhões depropriedades rurais em 52 países, mostra como países po-bres podem ser auto-suficientes em produção de alimen-tos usando tecnologias baratas, utilizadas localmente eque não prejudicam o meio ambiente.

Os três exemplos documentados nesta brochura - da Ín-dia, Quênia e Bangladesh - mostram como a criatividadee um entendimento ecológico levam a uma agriculturaque promove a diversidade biológica e cultural.

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receitas contra a fome

Todas as fotos são do © Greenpeace. Paracréditos, veja no fim da sessão. Frente everso capa: Karen Robinson. Impresso porIpsis, São Paulo, Brasil

Greenpeace InternacionalKeizersgracht 1761016 DW AmsterdãHolanda

t (31) 20 523 6222

f (31) 20 523 6200

Greenpeace BrasilRua dos Pinheiros, 240 conj. 32São Paulo - SP

t (11) 3066 1155

f (11) 3082 5500

Septembro 2001ISBN 90-73361-76-1

Produzido em associação

indice

■ Reduzindo a Pobreza Alimentar com Agricultura Sustentável: Um Levantamento de NovasEvidências, Jules Pretty e Rachel Hine, Centro de Meio Ambiente e Sociedade, Universidade deEssex, Fev 2001

com Pão para o Mundo

RECIPES AGAINST HUNGER

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Desvendando Novos Horizontes

O

Agricultor num dos campos (de alta altitude) debatata na Bolívia

O Greenpeace ajudou a financiar o maior estudo já realizadoem agricultura social e ecologicamente responsável.

comunidades locais por uma dietasaudável e diversificada, a agriculturaindustrial volta sua produção para osmercados mundiais. Apesar da produçãomundial de alimentos ter triplicado suaprodutividade face aos anos 50, maispessoas passam fome hoje do que há 20anos. Pequenos agricultores familiaresque são retirados de suas terras nãoconseguem pagar (e,conseqüentemente, consumir) pelo oque é produzido, agravando a destruiçãoambiental, a pobreza e a fome.

Pobreza e fome andam de mãosdadas. Supostas "soluções" tecnológicas,como a engenharia genética, escondemos problemas sociais e ambientais quegeram a fome. Outro agravante é a faltade rastreamento da cadeia produtiva(quem produz nossos alimentos, qual oprocesso e onde são produzidos, comosão distribuídos e quem tem acesso aeles).Mudanças práticas simples comomelhorar a captação de água de chuvapodem aumentar drasticamente acolheita assim como medidas

sociais básicas são cruciais. Entre 1970 e1995, a oferta de atenção básica à saúde e amelhora no grau da escolaridade dasmulheres foram responsáveis pela reduçãode praticamente 75% nos índices dedesnutrição infantil. Há um conflitofundamental nas áreas de pesquisa edesenvolvimento em agricultura que sedivide entre as necessidades da indústriaprivada e as demandas reais dos pobres e domeio ambiente. Em 1989, foram destinadosUS$ 7 bilhões para o desenvolvimento deprojetos em agricultura, pesca e florestas emtodo o mundo. Em 1999, essa quantiareduziu-se para US$ 3 bilhões. "O cerne doproblema," diz Von Hernandez doGreenpeace Sudeste Asiático “é o fato de queo investimento em agriculturaecologicamente segura está obviamentesendo negligenciado”. O argumento de que atecnologia da engenharia genética seja vitalpara alimentar o mundo se baseia nahipótese de que a fome resulta da falta dealimentos. A verdade é que cerca de umterço das crianças no mundo

Greenpeace busca “garantir a capacidade da Terra de nutrir a vidaem toda a sua diversidade”.

Encontrar soluções para anecessidade alimentar das pessoas pormeio de uma agricultura ecológica eculturalmente responsável é o cerne denossa sobrevivência. Métodos agrícolasque ameaçam a segurança alimentarda população, além de atingir não sóaqueles que passam fome, apresentamriscos para a preservação do meioambiente: as florestas e as vidasselvagens são destruídos na busca demais alimentos e novas terras paraagricultura.

Hoje, a agricultura industrial estámais para a mineração. O seu sistemacompromete a própria terra, da qualdependem todas as nossasnecessidades alimentares futuras. Asfalhas do modelo agrícola atualameaçam ricos e pobres.

Ao invés de orientar a produçãode alimentos para as necessidades de

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são desnutridas, sendo que 80% delasvivem em países com excedentes dealimentos. Na Índia, (onde se concentraum terço do contingente mundial quesofre com a fome e onde 53% dascrianças são subnutridas), silostransbordavam, com mais de 50 milhõesde toneladas de grãos estocadas no anode 2000. Num mundo onde o livrecomércio tem prioridade sobre o direitodas pessoas à alimentação, a existênciade 1,1 bilhão de pessoas subnutridasparece inevitável.

O que pode reverter a devastaçãocausada pela agricultura industrial egarantir que o mundo possa se alimentarno futuro? Financiado pelo Pão para oMundo e pelo Departamento deDesenvolvimento Internacional do ReinoUnido, pesquisadores da Universidade deEssex realizaram o maior estudo já feitosobre a agricultura ambiental esocialmente responsável. O estudo incluiprojetos em mais de 4 milhões depropriedades rurais em 52 países. Elemostra como países pobres podem serauto-suficientes na produção dealimentos, utilizando tecnologias baratas,disponíveis, acessíveis localmente, e quenão trarão danos ao meio ambiente. Estapesquisa não é a fórmula para asegurança alimentar global nem é umcatálogo exaustivo de “respostas reais”para o problema da fome, mas mostra a

"É hora de reconhecermos"É hora de reconhecermos"É hora de reconhecermos"É hora de reconhecermos"É hora de reconhecermoscomo falsas as promessascomo falsas as promessascomo falsas as promessascomo falsas as promessascomo falsas as promessasda Engenharia Genéticada Engenharia Genéticada Engenharia Genéticada Engenharia Genéticada Engenharia Genéticae da indústria dee da indústria dee da indústria dee da indústria dee da indústria de

agrotóxicos. Finalmente agrotóxicos. Finalmente agrotóxicos. Finalmente agrotóxicos. Finalmente agrotóxicos. Finalmentechegou a hora de apoiar achegou a hora de apoiar achegou a hora de apoiar achegou a hora de apoiar achegou a hora de apoiar averdadeira revoluçãoverdadeira revoluçãoverdadeira revoluçãoverdadeira revoluçãoverdadeira revoluçãoagrícola, que contemplaagrícola, que contemplaagrícola, que contemplaagrícola, que contemplaagrícola, que contempla

as múltiplas necessidades as múltiplas necessidades as múltiplas necessidades as múltiplas necessidades as múltiplas necessidades de comunidades locais e do de comunidades locais e do de comunidades locais e do de comunidades locais e do de comunidades locais e do

ambiente, restaura a terraambiente, restaura a terraambiente, restaura a terraambiente, restaura a terraambiente, restaura a terradegradada pela agriculturadegradada pela agriculturadegradada pela agriculturadegradada pela agriculturadegradada pela agriculturaindustrial e para ajudar osindustrial e para ajudar osindustrial e para ajudar osindustrial e para ajudar osindustrial e para ajudar ospobres a combater a suapobres a combater a suapobres a combater a suapobres a combater a suapobres a combater a suapobreza e fome.”pobreza e fome.”pobreza e fome.”pobreza e fome.”pobreza e fome.”

Acima: pesquisa agrícola no Quênia. À direita: oagricultor boliviano Gabriel Crispin e seu filhoEsteban. A segurança alimentar deles, acima detudo, depende apenas da própria capacidade emproduzirem seus alimentos.

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realidade e o potencial da agriculturaambientalmente responsável. Asdescobertas são dramáticas: a adoçãodestes métodos de agricultura aumentama colheita destes agricultores numamédia de 73%.

Projetos de Agricultura na Índia -como mostrado pela Sociedade deDesenvolvimento do Decã - ilustram acomo os resultados da agriculturatradicional podem ser melhoradosunsando métodos ambiental esocialmente responsáveis. Iniciativascomo o Programa de Desenvolvimento deBacias do Governo de Rajasthan ensinamà comunidade local a aumentar afertilidade do solo. Técnicas como oplantio de árvores, cercas vivas oucultivos acabam com a erosão. Sãotécnicas simples, de impactos reais: emaldeias que empregam estes métodos, aprodução de arroz, trigo e sorgo (tipo decereal) tem crescido mais que o dobro,enquanto solos pobres readquiriram afertilidade.

As soluções não estão emalimentar o mundo, mas na construçãode vias que permitam ao mundo que sealimente. A segurança alimentar -habilidade de uma comunidade em senutrir de forma consistente com umadieta variada - é um problema complexoque não será resolvido do dia para a noite:ele depende das pessoas terem acesso à

terra e também ao dinheiro, por meio damelhor distribuição de renda. AEngenharia Genética não provênenhum deles. A Engenharia Genética,não só não traz qualquer solução, comotambém representa uma ameaça dedanos irreversíveis ao meio ambiente,

que é base real para a segurançaalimentar das pessoas. Esta tecnologia eo sistema industrial sustentado por elaaumentam a dependência por insumosquímicos caros e por monoculturas,enquanto negam às pessoas uma dietaequilibrada e destroem o ambiente

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FOTOS: SOPHIA EVANS, MATTHIAS ZIEGLER,SOPHIA EVANS, FLORIAN JAENICKE

Mulher aduba o solo com composto orgânico na ÍndiaMulher aduba o solo com composto orgânico na ÍndiaMulher aduba o solo com composto orgânico na ÍndiaMulher aduba o solo com composto orgânico na ÍndiaMulher aduba o solo com composto orgânico na Índia

do qual todos dependemos. Ela tambémintensifica a dependência às empresas quefornecem a tecnologia e aos países queconcedem empréstimos para cubrir os custosaltos. Ao contrário de apresentarem soluções,os transgênicos contribuem para propagar aspiores práticas da agricultura industrial. Deum modo perverso, sua adoção em grandeescala aumentaria ainda mais o número devítimas da fome.

É hora de reconhecermos como falsas aspromessas da Engenharia Genética e daindústria de agrotóxicos. É a hora de apoiar averdadeira revolução agrícola que contemplaas múltiplas necessidades de comunidadeslocais e do meio ambiente, restaura a terradegradada pela agricultura industrial e paraajudar os próprios pobres acombater suapobreza e fome. Devemos reconhecer que aagricultura - e as tecnologias que acaracterizam - devem fazer parte dascomunidades onde elas são praticadas, poissão inter-relacionadas. As decisões - nospaíses industrializados e nos países maispobres do mundo - sobre como usamos a terrae cultivamos nossos alimentos precisam levarem conta este fato.

O ativista Miguel Altieri, acadêmico naUniversidade da Califórnia, em Berkeley,explica o problema de modo simples: "NaAmérica Latina, 80% da melhor terra agrícolaestá nas mãos de 20% dos agricultores, orestante está distribuído entre os 80%

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dos agricultores familiares - que são os queproduzem 50% das batatas, 60% do milhoe 70% do feijão. Portanto, são os pequenosagricultores e pobres que alimentam ocontinente, não os grandes".

Os pequenos agricultores, no Sul e noLeste da Ásia, assim como na AméricaLatina, são quem possuem osconhecimentos e a motivação em protegero meio ambiente, em benefício próprio epara os recursos globais comuns, dos quaistodos dependemos. Assim sendo, o desafiodas próximas revoluções agrícolas é criarmecanismos que permitam a essesagricultores que se alimentem e tambémàs suas comunidades e protejam o meioambiente. Os agricultores europeus enorte-americanos logo terão que aprenderas mesmas lições.

O Greenpeace trabalha por soluçõesreais. O futuro da agricultura está emreconhecer seu papel não só na produçãode alimentos, mas em nos oferecer águalimpa, manter a preservação da fauna eflora diversas e do sólo fértil, comoalicerces do futuro de todos nós.

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Virando o mundode cabeça parabaixo

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Lakshmi pertence à mais inferior das castas darígida hierarquia indiana, a dos dalit, ou"intocáveis". Agora um dos pesquisadoresagrícolas de maior renome no país, M. S.Swaminathan, pioneiro do arroz híbrido e pai da"Revolução Verde", está prestes a lhe fazer umavisita no pequeno município de Humnapur noestado de Andhra Pradesh.

Mais de 80 variedades de sementes são armazenadasMais de 80 variedades de sementes são armazenadasMais de 80 variedades de sementes são armazenadasMais de 80 variedades de sementes são armazenadasMais de 80 variedades de sementes são armazenadaspor Lakshmi em seus potes de argilapor Lakshmi em seus potes de argilapor Lakshmi em seus potes de argilapor Lakshmi em seus potes de argilapor Lakshmi em seus potes de argila

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organizando o conhecimento tradicional e ajudando adesenvolver, a partir de fontes naturais, os adubos e os controlesde pragas.

A DDS também construiu uma "escola verde", onde criançasdalit, que normalmente vivem em condições não muito melhoresque os indivíduos em servidão por dívidas, aprendem lições quelhes vai gerar renda e matérias acadêmicas que lhes permitirãoingressar na sociedade, caso assim o queiram. A organizaçãotambém está treinando mulheres na produção de rádio e de vídeo,de formaque possam contar suas histórias para o resto do mundo.Algumas dessas novas produtoras de vídeo estão viajando paraoutros países como o Peru a fim de compartilhar o seuconhecimento sobre agricultura ecológica, ou "permacultura", epara aprender com outras experiências.

“O fato de as mulheres dalit, que são pobres, analfabetas emarginalizadas, poderem gerenciar projetos desse nível decomplexidade é o maior fato político da década”, disse P. V.Satheesh, diretor da DDS.

À primeira vista, poucos ambientes seriam menospromissores para uma revolução agrícola sustentável. Essesvilarejos estão localizados no Decã, um planalto elevado que seestende por centenas de quilômetros ao sul da Índia. As chuvassão esparsas e em períodos irregulares. A maior parte do solo épobre - em geral, apenas alguns centímetros de poeira e lateritopulverizado, que na estação seca dá ao solo uma coloraçãomarrom avermelhada. Terras secas semelhantes cobrem doisterços da Índia. Portanto, o sucesso do trabalho da DDS serve deexemplo para grande parte do país, e para muitas outras partes domundo.

O Decã é uma terra rigorosa e difícil de trabalhar, mas, se bemtratada, pode florescer. Trinta anos atrás, mais de setentavariedades de sementes eram plantadas em algumas propriedades.Meio século atrás, as mangas dessa região eram tão apreciadasque o Nazeem de Hyderabad, governante hereditário do distrito,enviou guardas armados para proteger a caravana que trazia asfrutas ao seu palácio. Quando menino, Jayappa se mostrava hábilpara o aprendizado.

té pouco tempo atrás, pessoas como Lakshmi eram vistas por integrantes das demais castas como subumanos, úteis apenas para os trabalhos mais degradantes e não merecendo nem mesmo um

nome. Para piorar a sua situação, foi abandonada pelomarido, que, ao partir, levou consigo o filho. Em muitas partesda Índia, as mulheres são consideradas inferiores aoshomens, não importando a casta, e a mulher abandonada é amais desprezada de todas.

Mas quando recebeu a visita do Greenpeace, Lakshmimostrou em seu quintal o que pode ser uma chave para ofuturo da agricultura, se esta for vista sob o prisma da justiçae da sustentabilidade. Dentro de cestos simples e de potes debarro, pôde-se observar mais de oitenta variedades desementes, parte do legado de uma das agriculturas mais ricase diversificadas do mundo. Quando fizer a visita, o Dr. Swaminathan verá que esse"banco de genes comunitário" é parte de um contexto maisamplo: Lakshmi cuida das sementes para o seu sangham -uma associação voluntária de mulheres pobres. E o dela éapenas um entre setenta e cinco sanghams. Cada um écomposto de sessenta famílias, que integram a Sociedadepara o Desenvolvimento do Decã (DDS). A DDS é umaorganização que está transformando em realidade aagricultura ecológica voltada para a população. Diariamente,a

organização prova que a agricultura de alta tecnologia eintensiva em capital é desnecessária e inadequada paraatender as necessidades de centenas de milhões de pessoasmais pobres do mundo.

Juntamente com os bancos de genes comunitários quemantêm e controlam, as mulheres da DDS montaram seuspróprios sistemas para garantir a segurança alimentar, comdepósitos de grãos em cada vilarejo que elas mesmascontrolam e e administram.

Um centro de ciência agrícola local contribui reunindo e

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Grandes quantidades de esterco de vaca são tambémacrescentadas para aumentar a fertilidade. Barreiras de terra ediques de pedra ajudam a reter a umidade do solo. A retenção daágua beneficia não apenas os pequenos proprietários, quenormalmente se encontram na parte mais elevada e mais pobre,mas também seus vizinhos rio abaixo, que, como resultado, têmseus poços mais cheios durante um período maior do ano.

Diferentes culturas são plantadas em conjunto para manter asaúde do solo. Elas normalmente incluem variedades de sorgo(conhecido localmente como jawar), outra espécie tolerante àseca e extratora de nutrientes, e leguminosas (como o guandu),que adicionam nitrogênio ao solo.

Ao atravessar um desses campos, normalmente se vê umamistura de doze ou mais espécies de plantas voltadas para aalimentação. Manemma, um membro do sangham no vilarejo deGangwar, tem 22 variedades diferentes, plantadas em três acres.Também há verduras silvestres, que foram eliminadas outransformadas em invasoras em fazendas que usam grandesquantidades de agrotóxicos. Algumas plantas nativas sãoaltamente nutritivas e importantes para a segurança alimentarlocal durante todo o ano. “Nada disso foi nossa invenção,” dizSuresh cientista do KVK, o centro de ciência agrícola local. “Quasetudo o que ensinamos são coisas que alguns agricultores já vêmfazendo há séculos. Tudo o que fizemos foi juntar o conhecimentode forma que o torne fácil de usar e que ajude a disseminá-lo,para um público mais amplo”.

Nova é a forma como o centro coletou e sistematizou omelhor do conhecimento tradicional. Um bom exemplo disso é umsistema de manejo que não usa agrotóxicos (NPM) que a KVKdifunde através de um display em forma de mandala comsementes e tratamentos. Ele mostra no tempo e no espaço asações e práticas que o agricultor deve empreender de modo aproteger sua produção ao longo do ano sem o uso de agrotóxicos.Pode soar complicado, mas a mandala esquematiza informações erelações complexas de uma forma fácil tanto para letrados comopara analfabetos. Juntamente com os bancos de sementescomunitários como o da Lakshmi, a DDS considera que a sua maiorconquista foi a criação de Sistemas Públicos de Distribuição (doinglês, PDS) sediados no município, mantidos e administrados pelacomunidade. Eles armazenam grãos alimentícios essenciaisproduzidos pelos membros do sangham, prontos para distribuiçãoa preços acessíveis durante os períodos mais difíceis do ano.

Por duas vezes, seu tio teve que tirá-lo de uma escola local: afamília precisava até mesmo do pouco dinheiro que umacriança poderia obter trabalhando para os senhores das terrase a educação era um luxo, que julgavam não estar ao seualcance. Quando Jayappa tinha onze anos, seu pai morreu eum poderoso dono de terras da região ilegalmente se apossouda pequena propriedade da família. Aos dezessete anos,Jayappa obteve um empréstimo, levou o grande proprietáriode terras à justiça e ganhou a causa, mas teve que passarnove anos trabalhando para pagar a dívida.

Nos vinte anos seguintes, Jayappa trabalhou emdiferentes partes de Andhra Pradesh [Distrito de Medak],muitas vezes para agricultores que adotavam métodos de altatecnologia, sempre recebendo um salário miserável. “Nós,trabalhadores assalariados, víamos a terra sendo morta, aomesmo tempo em que permanecíamos pobres”, diz. Então, nadécada de 80, Jayappa ficou sabendo sobre a recém-criadaDDS: grupos compostos por algumas das pessoas mais pobresque existiam no momento, que se reuniam, juntando suasmodestas economias, alcançando gradualmente maiorautonomia, e adotando técnicas de agriculturaecologicamente corretas.

Ao voltar ao vilarejo onde nasceu, Jayappa montou umsangham com a ajuda da DDS. No início, trabalhou comoutros homens, mas acabou percebendo que muitos delesqueriam empréstimos do cofre da comunidade para finsextravagantes e irreais. Os conflitos ameaçavam acabar como sangham. A solução, segundo ele, foi buscar o apoio dasmulheres. Elas tendiam a tomar decisões mais modestas esensatas. No início, contando com economias de pelo menos5 rupias (aproximadamente 0,65 reais) os sanghams dasmulheres em Algol e outros vilarejos da DDS gradualmentevoltaram a cultivar solos extremamente pobres, queanteriormente mal produziam 40-50kg por acre. Atualmente,as terras rejuvenescidas produzem 200-300 kg de sorgo (tipode cereal), 50kg de guandu, 50 kg de leguminosas eamaranto, fibra, e forragem suficientes para duas cabeças degado por acre. Ao todo, a DDS gerou, em uma década, milnovos postos de trabalho e o lucro obtido por hectareaumentou em até 12 vezes. Tudo isso eliminando o uso dequímicos, e aumentando a biodiversidade nas lavouras. Noprocesso utilizado, inicialmente, plantas como a crotalária sãousadas para preparar o solo.

À Esquerda: a "escola verde", onde as criançasaprendem práticas agrícolas e desenvolvem ahabilidade com a terra. À direita: a "mandala"explica o método de gerenciamento das sementespara agricultores analfabetos

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“Com os cultivarestransgênicos,teríamos que

comprar muitosinsumos diferentes.

A tecnologia viria com muitas incertezas e custos

escondidos.”

O DDS gerou milhares de postos de trabalho. Os ganhosO DDS gerou milhares de postos de trabalho. Os ganhosO DDS gerou milhares de postos de trabalho. Os ganhosO DDS gerou milhares de postos de trabalho. Os ganhosO DDS gerou milhares de postos de trabalho. Os ganhosforam elevados em cerca de 12 vezes. Além disso, houve aforam elevados em cerca de 12 vezes. Além disso, houve aforam elevados em cerca de 12 vezes. Além disso, houve aforam elevados em cerca de 12 vezes. Além disso, houve aforam elevados em cerca de 12 vezes. Além disso, houve aeliminação do uso de produtos químicos e o aumento daeliminação do uso de produtos químicos e o aumento daeliminação do uso de produtos químicos e o aumento daeliminação do uso de produtos químicos e o aumento daeliminação do uso de produtos químicos e o aumento dabiodiversidadebiodiversidadebiodiversidadebiodiversidadebiodiversidade

A necessidade surgiu porque o sistema de PDS dogoverno tem sido desastroso: ele encorajou a compra e oconsumo de arroz importado em regiões como o distrito deMedak onde nunca foi parte da dieta básica. “Comer arroz viroumoda”, diz Satheesh. “As comunidades que sobreviviam de umadieta altamente nutritiva com base no sorgo e no painçomudaram para um tipo de alimento que desconheciam. Os seussistemas imunológicos ficaram comprometidos e eles foramexpostos a doenças”. “Não se pode separar a cultura daalimentação”, disse ele. “Negar a comida indígena é um atopolítico e devemos estar conscientes dele”.

Com um PDS controlado pela comunidade, alimentostradicionais, que antes estavam quase esquecidos voltaram amuitos lares. Os preços algumas vezes diferemconsideravelmente dos encontrados na maioria das feiras. Porexemplo, um milheto grosso que rende muito pouco em feirasconvencionais, tem um alto valor nos mercados das mulheres.

Mesmo que as chuvas tenham sido escassas neste ano, osangham das mulheres no município de Eedulpally poderáalimentar suas famílias três vezes por dia. Mas o PDS significamais do que simplesmente ter alimentos suficientes para asobrevivência; é uma questão de dignidade humana. “Nós anteséramos muito solitárias” disse Sundaramma, uma das líderesdo sangham. “Trabalhávamos o dia inteiro e ficávamos a sós emnossas casas à noite. Agora, trabalhamos, conversamos e

cantamos juntas. Dividimosas nossas obrigações. Hoje,conversamos com homense com pessoas de castassuperiores. Nos tornamosushar (alertas,inteligentes)".Quando criaram o sanghamem Eedulpally, as mulheresnão tinham nem condiçõesde comprar um sári de boaqualidade. Hoje elas nãoprecisam mais ficar

em casa enquanto suas roupas secam, e, além do banco dealimentos, as mulheres de Eedulpally puderam criar umbalwadi um lugar coberto para as crianças ficarem aoscuidados de um adulto, ao invés de ter que passar o diasentadas sob um sol escaldante enquanto suas mãestrabalham.

No vilarejo de Basantpur o sangham criou uma horta deplantas medicinais que atende às necessidades de saúde dacomunidade. Em apenas 5 acres (2 hectares) de solo pedregosocrescem 45 ou mais espécies de arbustos e árvores.Santoshamma, um membro do sangham que cuida do jardim,mostra com orgulho algumas das plantas que lá crescem.Groselhas espinhosas, plantadas devido ao alto conteúdo devitamina C; a árvore nim, cujas folhas são usadas para ocontrole da sarna e para o tratamento de moléstias que afetamrecém-nascidos e mães. É feita uma combinação de extratos detrês plantas de uma parte do jardim, que resulta numtratamento eficaz contra tosse, dor estomacal e doenças depele; o romã ajuda nos movimentos do intestino e notratamento da disenteria. A bandagurja é aplicada à picada dacobra e pode manter uma pessoa viva tempo suficiente paralevá-la ao hospital, mesmo quando se foi mordida por umacobra-rei, uma das espécies mais venenosas do mundo.

Mahatma Gandhi chamava os dalits de "o povo deDeus". A relação das mulheres com a terra transcede aatribuição de produzir alimentos: é um compromissoreligioso, manifestado em atos diários e em festivais aolongo do ano agrícola. No distrito de Medak, cada estação doano é interpretada como um estado da deusa mãe terra.“Quando os riachos e os rios estão cheios, significa que aMãe está de barriga cheia e corre contente”, dizem osnativos. Para eles, se a terra está fertil, vingando diversassementes, a Mãe está com o ventre inchado da gravidez.Espigas em formação são o sofrimento da Mãe com as doresdo parto; e a formação de sementes significa que a mãe estáamamentando seus filhos”.

Um dos maiores desafios é garantir à nova geração aconfiança e a capacidade de defender a sua cultura e lidarcom o mundo moderno. Para isso, a DDS fundou uma "escolaverde" ou Pacha saale, em 1993, para dar uma segundachance aos dalit locais que nunca tiveram a chance de ir àsescolas do governo ou que tiveram que abandonar osestudos devido a falta de recursos, entre outros motivos.

É inerente à "escola verde", desde a sua estrutura físicaaté o currículo acadêmico, uma filosofia de autoconfiança eproteção ambiental. Os prédios em forma de colmeia foramconstruídos com pedras locais, sem que fossem utilizadosrecursos caros como madeira e cimento. Custaram menosque a metade do dinheiro gasto em média para a construçãodos prédios na região, mantendo uma temperaturaagradável mesmo nos dias mais quentes.

“Estamos questionando a construção do conhecimento”,disse Satheesh, diretor da DDS.“O pressuposto é de que oconhecimento parte daqueles indivíduos com um nível maiselevado de educação. Aqui vemos o inverso". Outra batalhacrucial para a DDS é em relação à mídia. Em Andhra Pradesh,assim como na maior parte da Índia, a televisão e o rádiotendem a refletir a política oficial do governo, que favorece aagricultura de alta tecnologia. Em repúdio, a DDS treinoualguns membros dos sanghams na produção independentede programas de rádio e vídeo, para que eles mesmosfizessem seus próprios programas. “Através do cinema

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COLHEITA PERMANENTENAS HORTAS DA TAILÂNDIA

MILHO - o ouro dos MaiasConsumido sozinho ou com manteiga, cozido como polenta

ou tortilhas, o milho é muito saboroso. Não é surpreendente que oseu plantio - considerado o "ouro dos Maias" - tenha se espalhadopelo mundo a partir da América Central. O milho começou suamarcha triunfal pelo planeta há 500 anos, e agora é a terceiracultura mais utilizada na alimentação - depois do trigo e do arroz.No ano 2000 foram produzidas quase 591 milhões de toneladas. NaAmérica Latina, o milho corresponde a quase 50% de toda aprodução de cereais (de aproximadamente 76 milhões detoneladas). Na África são colhidos 34 milhões de toneladas, mais deum terço de sua produção total de grãos. No entanto, 75% daprodução global é destinada para ração animal.

Existem 50 mil variedades de milho guardadas nos bancosgenéticos do mundo, um enorme patrimônio genético adaptado adiferentes climas e condições. Apesar disso, ele também égeneticamente manipulado. Nos EUA, o milho chamado "Bt", quecontém uma toxina inseticida, é plantado em mais de 20 milhões dehectares.

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podemos nos expressar”, disse uma jovem". “Quandopessoas de fora vêm fazer filmes sobre nós, eles não entendem oque dizemos".

As mulheres da DDS mostraram que é possível retirar daterra alimentos em maior quantidade e de melhor qualidade doque os resultados obtidos pelos métodos "modernizadores".Com isso, puderam reverter o quadro de degradação dosrecursos naturais, aumentar a resistência deles aos efeitosadversos e criar fortes grupos locais que lhes dão apoio. Aospoucos estão conquistando adeptos, além do respeito por partede cientistas, economistas e outros profissionais.

E então, o que Lakshmi irá dizer ao Dr. Swaminathan? “Quando nos alimentávamos de híbridos (culturas da

"revolução verde’), notávamos que tínhamos fortes coceiras napele. O gado não gostava da forragem e o cultivo de sorgohíbrido foi prejudicado, pois este extraiu um grande número denutrientes do solo". “No caso dos transgênicos, teríamos quecomprar muitos insumos diferentes. A tecnologia viria commuitas incertezas e custos escondidos.”

“Esse ano, a chuva está escassa. Mesmo sem quantidadesuficiente de chuva, ainda esperamos sucesso na colheita, poisas nossas variedades podem resistir à seca, e, graças ao aduboque usamos, o solo ainda está bastante vivo. Quando a chuvavier, alguns de nossos campos irão se recuperar, graças à grandevariedade de que dispomos”.

“A mim não interessa a engenharia genética. Não precisodela. Tenho em mãos todas essas sementes, que possocompartilhar com os outros. Elas nos fornecem alimentos bons enutritivos e também são excelentes forragens para os nossosanimais. Nós as conhecemos bem. E também conhecemosnossa terra muito bem”.

TEXTO CASPAR HENDERSON | FOTOS FLORIAN JAENICKEContatos e outras informações: Deccan Development Societywww.ddsindia.org

Conhecidas simplesmente como "hortas caseiras",as pequenas propriedades tailandesas são verdadeirosparaísos: pequenas florestas tropicais compostas por grandediversidade de plantas. Produtivas e eficientes, de tamanhoraramente maior do que 2 mil metros quadrados, essashortas fornecem o sustento necessário para uma família.Porém, essas formas de cultivo estão ameaçados

por causa da migração doscamponeses para as cidadese pela agriculturaindustrializada. As folhas dos coqueirossombreiam a horta,oferecendo tambémalimento e material deconstrução. Há tambémárvores frutíferas comomangueiras, mamoeiros ebananeiras de crescimentorápido, junto a arbustos emilho.

Diretamente no solo,há espinafre silvestre elegumes de raiz comoinhame e batata-doce, além

de uma gama de ervas. Dessa maneira, há o que colherdurante o ano inteiro. Outro fator positivo é a atuação dosinsetos “benéficos”, que controlam as pragas, enquanto asfolhas em decomposição fornecem uma rica compostagem.As hortas caseiras são ecossistemas complexos quegarantem a subsistência de muitas famílias na Tailândia eem outros países tropicais. Para o meio ambiente, elastambém representam uma reserva genética preciosa, devidoà sua alta biodiversodade.

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FOTOS: ACIMA, THORSTEN FUTH, TOP SOPHIA EVANS, ABAIXO, MATTIAS ZEIGLERFOTOS: ACIMA, THORSTEN FUTH, TOP SOPHIA EVANS, ABAIXO, MATTIAS ZEIGLERFOTOS: ACIMA, THORSTEN FUTH, TOP SOPHIA EVANS, ABAIXO, MATTIAS ZEIGLERFOTOS: ACIMA, THORSTEN FUTH, TOP SOPHIA EVANS, ABAIXO, MATTIAS ZEIGLERFOTOS: ACIMA, THORSTEN FUTH, TOP SOPHIA EVANS, ABAIXO, MATTIAS ZEIGLER

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MAIS QUEMAIS QUEMAIS QUEMAIS QUEMAIS QUECAFÉCAFÉCAFÉCAFÉCAFÉAjuda para os pequenos

agricultores do Brasil

Um adubo orgânico, composto deleite, beterraba, farinha de ossose esterco de gado, bananeirasque dão sombra e cujas folhas aovirarem matéria orgânica nutremo solo. Esses são alguns dostruques da agriculturasustentável que popularizou aAPTA, uma ONG brasileira, entreos agricultores do Espírito Santo.Há mais de 70 mil pequenosagricultores nesta parte da costaAtlântica, cuja fonte principal derenda é o café. Como os preços

do mercado global estãoextremamente baixos, a rendados agricultores reduziu-se emum terço. Nem o café orgânicoeles conseguem vendr por umpreço melhor. Como a pobreza ea fome tem causas mais amplasdo que a quebra das safras, aAPTA está voltada paraaumentar colheitas de formasustentável.

São propostas novas fontesde renda, como o cultivo defrutas e de hortaliças, etambém mudanças nas formasde comercialização: ao invés devenderem para osatravessadores, os pequenosagricultores dessa regiãocomercializam cebolas, frutas ehortaliças diretamente nomercado para duplicar suarenda.

TESOURO DOTESOURO DOTESOURO DOTESOURO DOTESOURO DOCAMPOCAMPOCAMPOCAMPOCAMPOCuidando das sementesna EtiópiaGuardadas nas inúmeras latinhas e sacosque enchem as prateleiras do Institutopara a Conservação e Pesquisa daBiodiversidade (do inglês, IBCR) na capitalda Etiópia, Adis Abeba, estão as sementesde centenas de variedades de plantasalimentares. Elas variam desde as jáesquecidas até as mais utilizadasna região.

A Etiópia é o berço de muitasculturas, e o IBCR é um verdadeirotesouro. Mas a conservação do ricolegado exige mais do que meros arquivosde sementes. É preciso também conservaro conhecimento dos agricultores sobre asvariedades locais, seu melhoramentogenético e sua conservação.

É por isso que o IBCR coopera commais de 200 agricultores que preservame propagam as variedades tradicionais.Assim, os pesquisadores costumamdescobrir que algumas delas se adaptammelhor às condições mais difíceis deplantio do que as sementes híbridasmodernas que - devido a essa

propriedade - não se

reproduzem bem e precisam serrecompradas todos os anos. Através deum longo processo de adaptação, assementes locais ganham em rendimentocom muito menos - ou nenhum - doscontroles químicos normalmente usadospara dominar os agro-ecossistemas. Eficam muito mais robustas para resistiràs doenças, pragas esecas.

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Um remédiocontra as lagartase a engenhariagenéticaLançando mão de todos seus recursos, asLançando mão de todos seus recursos, asLançando mão de todos seus recursos, asLançando mão de todos seus recursos, asLançando mão de todos seus recursos, asgrandes empresas de agrotóxicos procuramgrandes empresas de agrotóxicos procuramgrandes empresas de agrotóxicos procuramgrandes empresas de agrotóxicos procuramgrandes empresas de agrotóxicos procuramimpor o uso do milho geneticamente modificadoimpor o uso do milho geneticamente modificadoimpor o uso do milho geneticamente modificadoimpor o uso do milho geneticamente modificadoimpor o uso do milho geneticamente modificado(ou transgênico) nos campos do Quênia. Os(ou transgênico) nos campos do Quênia. Os(ou transgênico) nos campos do Quênia. Os(ou transgênico) nos campos do Quênia. Os(ou transgênico) nos campos do Quênia. Oscientistas desse país da África Oriental, porém,cientistas desse país da África Oriental, porém,cientistas desse país da África Oriental, porém,cientistas desse país da África Oriental, porém,cientistas desse país da África Oriental, porém,já desenvolveram um método natural dejá desenvolveram um método natural dejá desenvolveram um método natural dejá desenvolveram um método natural dejá desenvolveram um método natural deprodução que é mais rentável para osprodução que é mais rentável para osprodução que é mais rentável para osprodução que é mais rentável para osprodução que é mais rentável para osagricultores.agricultores.agricultores.agricultores.agricultores.

U

St John’s wort, a parasite on

m depois do outro, os homens da vizinhança selevantam dos bancos que Lawrence Odek trouxe daigreja para dar ao ambiente o "dia de campo", diapara compartilhar informações agrícolas em suafazenda. Eles louvam o espírito pioneiro do anfitrião

e revelam francamente outros avanços, que Odek, um agricultorde 48 anos, poderia utilizar. E quando as piadas, críticas ou invejase misturam aos elogios, Lawrence Odek sabe a resposta. "Émelhor convidar todos os vizinhos para o dia de campo", explicaele. "Bem melhor do que ser incomodado por visitas todos os dias,quando vêm olhar meus milharais, e pisotear a colheita semquerer!"

Dois campos do tamanho de quadras de tênis transformarama fazenda de Odek em uma atração agrícola. Um deles se parececom a maioria dos milharais do ensolarado Vale Lambwe, no litoralqueniano do Lago Vitória: um quadrado de plantas com poucomais de um metro de altura, destruídas por lagartas, que perfuramo caule e com as espigas murchas como se fossem ameixas secas.No meio do milharal seco e amarelado, cresce a erva-roxa de SãoJoão, parasita que se alimenta das raízes das plantas jáenfraquecidas. Próximo a este campo, há a plantação de ummilharal todo verde, sadio e muito alto. Os agricultores escutamem pé, a explicação que Lawrence Odek oferece por estecontraste inacreditável. Neste momento, nenhuma piada ouquaiquer tipo de “zombaria” são feitas.

Há quase um século, quando os agricultores coloniaisplantaram os primeiros campos de milho na África, essa novacultura importada da América, rapidamente substituiu a entãobase tradicional da produção, o sorgo, pois rendia mais e, acima de tudo, era mais saboroso. Por outro lado, infelizmente, era maisvulnerável às pragas da exótica flora e fauna africanas. Em

particular, para a erva de São João e para uma espécie delagarta chamada de Chilo partellus, o milho é o prato ideal.Essa espécie de lagarta que tem cerca de 1cm decomprimento foi trazida acidentalmente da Índia no iníciodos anos 20. Desde então, os milharais têm sido suas vítimas.Juntos, (ervas e lagartas) destroem praticamente a metade daprodução no Quênia, gerando prejuízos de vários milhões dedólares.

Para os agricultores de subsistência do Vale Lambwe, osdanos são ainda mais devastadores. Eles não conseguem nemmesmo comprar os inseticidas importados usados em grandesfazendas para diminuir as perdas. Sem dinheiro para pagar asescolas de seus filhos, a maioria deles utiliza-se do milhocomo moeda corrente. Quando quebra a safra, as criançasabandonam a escola para a família não passar fome, e,mesmo assim, muitas vezes, passam fome. Antigamente, aofinal da colheita semestral, Lawrence Odek raramente ficavacom mais do que três sacas (180 quilos), que mal davam paraalimentar uma família de dez pessoas.

Há dois anos, Lawrence e seu irmão viajaram para Mbita,capital de sua província. Lá souberam que um certo Dr. Khanhavia criado um mecanismo de controle para as pragas domilho e buscava agricultores dispostos a experimentá-lo naprática.Logo depoisde algumas conversas,eles concordaram emplantar um de seusmilharais sob ométodo doDr. Khan,denominado“atrai-repele”.

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Acima: Os irmãos Odek, Lawrence(à esquerda) e Joseph (à direita)viajaram para Mbita paraconhecer o método "atrai-repele"contra as pragas com o Dr. ZeyarKhan. Aman Rabilo (à direita) éoutro pioneiro no método, que tembom resultado sem utilizaragrotóxicos. O milho sadio - nestafoto - é uma raridade no Quênia.A maioria dos campos sãodizimados pelas traças eenfraquecidos pela "invasora" ervade São João

Os irmãos Odekcolhem hoje 15 sacasde milho de um sómilharal, cinco vezesmais do que colhiamantes em toda afazenda!”

Zeyaur Khan, um cientista da Índia, é o diretor depesquisa no Centro Internacional para a Fisiologia e Ecologiade Insetos (em inglês, ICIPE), entidade cuja fama, em 1995,se espalhou para além dos círculos científicos quando o seudiretor, Hans Herren, ganhou o Prêmio Mundial daAlimentação. Herren conseguiu evitar que um tipo de insetochamado cochonilha (o mealybug) destruísse colheitas demandioca na África, sem usar agrotóxicos - como era aprática. Ele simplesmente espalhou pelos campos ospredadores naturais da praga: moscas "ichneumon" ejoaninhas. O Dr. Khan esperava aplicar um métodosemelhante para as plantações de milho. De fato, a tarefaseria mais árdua, por ter que lidar não só com um inseto mascom a erva de São João também. A lagarta foi vencida pormétodos rigorosamente científicos, mas foi um golpe de sorteque aniquilou a erva de São João.

A equipe de Khan testou mais de 400 gramíneas parasaber onde a exótica mariposa Chilo partellus e seus parentesafricanos, um pouco menos vorazes, depositavam seus ovoscom mais freqüência. A conclusão foi de que elas adoravam ocapim “napier”. Podendo optar entre o milho e este capim, de80% a 90% das lagartas escolhia o capim. Esta descobertapermitiu a Khan encontrar o elemento "atrai" de seu método.Quando plantado ao redor do milho, pudesse repeli-las. Estepapel finalmente coube a uma leguminosa sul-americanaconhecida como “desmodium”. Os estudos revelaram, porém,que esta planta prateada oferecia outras vantagens comoevitar que a chuva carregue o solo superficial, auxiliar na

fertilização da terra ao fixar nitrogênio e - para surpresa dospesquisadores - suprimir as plantas invasoras, pois as suasraízes “liberam” substâncias químicas que inibem ocrescimento da erva de São João. A estratégia "atrai-repele",de início, foi mais trabalhosa para os irmãos Odek. Mas seusesforços foram compensados: eles colhem hoje 15 sacas demilho em apenas um milharal, cinco vezes maisdo quecolhiam antes em toda a fazenda!

Por isso, os vizinhos fazem fila para introduzir o métodoem seus próprios campos. Mas, no entanto, dois fatorescontra o método do "atrai-repele" persistem : 1- É precisocomprar as sementes do desmodium (e elas são caras) oucultivá-las (e isto demora). 2 - para o sistema funcionareficientemente, osagricultores precisam deinstruções detalhadas sobrecomo organizar o milharal.Nos dias de campo, osagricultores, à beira do LagoVitória, ensinam uns aosoutros, o que é muito maiseficaz do que trazerespecialistas estrangeiros para dar preleções. O Dr. Khan seconvenceu que este método funcionaria também fora doQuênia. Em 1999, instrutores etíopes e da Tanzânia deveriamser treinados em Mbita para levar a técnica a seus países, masfaltou o financiamento. Assim, os dois países sofreramquebras em suas safras de milho ao mesmo tempo.

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Para ajudar a resolver estes problemas, Hans Herren usoufundos de seu Prêmio Global da Alimentação para criar aentidade "Biovision", com a missão de disseminar o seu método"atrai-repele".

Stephen Mugo, por outro lado, não enfrenta dificuldadesfinanceiras, mesmo pesquisando os mesmos problemas queZeyaur Khan. O orçamento milionário para seu projeto, MilhoResistente a Insetos para a África (do inglês, IRMA), é pago pelaFundação Novartis para o Desenvolvimento "Sustentável"criada pelo consórcio de transgênicos Novartis, da Suíça. Mugovê a participação da multinacional como "uma contribuiçãohumanitária para a guerra contra a fome no mundo".

Este projeto se estabeleceu no Quênia por causa da"situação política vantajosa", como reconhece Mugo. Mesmonão sendo legalmente permitida a comercialização deorganismos geneticamente modificados, quem conhece osmeandros legais e “jeitinhos” do país consegue autorizaçãoespecial. No ano passado, a multinacional agrícola Monsantotambém começou a plantar sua batata-doce transgênica emterritório queniano. Os responsáveis pelo IRMA não esperamdificuldades para lançar seus experimentos com milhotransgênico a céu aberto em 2002.

"Essa gente sabe se cuidar", conta uma jornalista de umarevista industrial no Quênia que pediu que seu nome não fosserevelado, temendo represálias. Ela informa que as grandesempresas conseguem se "agraciar" com as autoridades fazendodoações bem dirigidas, arrumando patrocínios e assumindocertas contas, atos corriqueiros em um país onde a corrupçãodo governo é alvo freqüente até do Banco Mundial e do FundoMonetário Internacional. Quando Hans Herren deu umapalestra em uma convenção organizada pela Novartis emNairobi, em busca de um financiamento igual para métodosnão-transgênicos, foi denunciado por autoridades

do governo. Evidentemente, o delato teve origem interesseira.Fontes próximas informam que essas mesmas autoridades jácriaram uma empresa que terá os direitos de venda dassementes da Novartis, quando o milho transgênico estiverpronto.

Para Mugo, coordenador do IRMA, esse tipo de denúncia éconstrangedora. Ele não se preocupa com os aspectos políticosou comerciais do projeto. "Eu me concentro no trabalhocientífico." E neste contexto, ele jura que há resultadosimpressionantes. Sua equipe, diz ele, trabalhou com o bacillusthuringiensis que age como inseticida natural no solo, eidentificou uma variante da substância ativa que éparticularmente eficaz contra as lagartas. A técnica dotransplante dos genes bacteriais já é dominada, nos EUA, ondeo milho Bt é plantado há anos. A incumbência de Mugo éencontrar uma variedade de milho apropriado para o Quênia.

O cientista pretende lidar com qualquer risco ambientalcom a ajuda de um grupo de especialistas encarregados depesquisar a interação entre produtos industriais e o reinobiológico. Ele não se impressiona com o fato de especialistasindependentes considerarem o prazo previsto “negligente”. Oúnico problema que Mugo reconhece é que as lagartas, emgeral, vão, um dia, se tornar resistentes ao Bt, principalmenteporque o tipo de programa de manejo de resistênciaimplementado nos EUA nunca será viável nos minúsculosmilharais africanos. Em sua opinião, entretanto, os benefíciosdo seu projeto serão amplamente compensadores. Quanto ao"atrai-repele", ele acha apenas uma idéia bonita, pois adisposição seqüencial do plantio exige demais dos agricultores.

Mugo acredita que o plantio simultâneo de três diferentesculturas é uma prática antieconômica. Com o milho Bt porém,a técnologia vem junto com a semente, e nada pode dar errado."O agricultor só precisa semear, colher e comer."

À esquerda: Chilo partellusChilo partellusChilo partellusChilo partellusChilo partellus(mariposa) e um punhadode suas lagartas (abaixo).O cientista indiano ZeyaurKhan desenvolveu ométodo "atrai-repele" paracombatê-las

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O capim Napier cresce junto ao milho. Atraídas pelo capim e repelidas pelo desmodium, as lagartas abandonamO capim Napier cresce junto ao milho. Atraídas pelo capim e repelidas pelo desmodium, as lagartas abandonamO capim Napier cresce junto ao milho. Atraídas pelo capim e repelidas pelo desmodium, as lagartas abandonamO capim Napier cresce junto ao milho. Atraídas pelo capim e repelidas pelo desmodium, as lagartas abandonamO capim Napier cresce junto ao milho. Atraídas pelo capim e repelidas pelo desmodium, as lagartas abandonamos milharais. A prática desse método pelos quenianos resultou no incremento das safrasos milharais. A prática desse método pelos quenianos resultou no incremento das safrasos milharais. A prática desse método pelos quenianos resultou no incremento das safrasos milharais. A prática desse método pelos quenianos resultou no incremento das safrasos milharais. A prática desse método pelos quenianos resultou no incremento das safras

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Claro que para começar eles teriam que comprar asemente. E também os herbicidas químicos (porque o milhoBt não é resistente à erva São João) e os adubos químicos,antes que seu pesado investimento possa frutificar. Com ométodo "atrai-repele", em contraste, o "faz-tudo" desmodiumenriquece o solo sozinho com nitrogênio. "Antes de qualqueroutro problema", comenta a jornalista queniana, "a verdade éque os pequenos agricultores empobrecidos na África nãotêm como pagar a tecnologia genética. Fica claro que oobjetivo aqui não é vencer a fome, mas comercializar - comargumentos humanitários - uma tecnologia controversa."

Lawrence Odek concorda com a jornalista. "Não há umsó homem que participa de meu dia de campo que possapagar as sementes convencionais de milho de altorendimento." Se há um só agricultor no Vale Lambwe capazde fazer investimentos na própria fazenda, seria o

próprio Odek, devido aos resultados do plantio no sistema"atrai-repele" tão criticado por Mugo. O milho colhido vaiquase exclusivamente para a alimentação e “pagamento” daescola, mas também vende-se muito bem o capim “napier” edesmodium, ambos com muita demanda para forragem.

E esta situação já cria um problema inteiramente novo para Odek. Será que ele investe o dinheiro ganho em umestábulo de vacas leiteiras? "Meus vizinhos não param de medar conselhos", conta o agricultor. "Mas ninguém podedecidir por mim. Até conhecer a técnica do ”atrai-repele”' eununca tinha encarado um dilema desses." ■

TEXTO MARCEL KEIFFENHEIM | FOTOS MATTHIAS ZIEGLER

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Como os países ricos poderiamComo os países ricos poderiamComo os países ricos poderiamComo os países ricos poderiamComo os países ricos poderiamcontribuir?contribuir?contribuir?contribuir?contribuir?Apoiando os esforços dos paísessubdesenvolvidos para melhorar suasinfraestruturas. Nós precisamos deestradas decentes para transportar anossa produção para os mercadosconsumidores. Precisamos preservar osalimentos e estar numa posição que nospermita processá-los. Necessitamostambém de armazéns onde possamosmanter os excedentes das boas safraspara os momentos mais difíceis.

Mas nada disso é necessariamenteMas nada disso é necessariamenteMas nada disso é necessariamenteMas nada disso é necessariamenteMas nada disso é necessariamenteincompatível com o uso da engenhariaincompatível com o uso da engenhariaincompatível com o uso da engenhariaincompatível com o uso da engenhariaincompatível com o uso da engenhariagenética na agricultura...genética na agricultura...genética na agricultura...genética na agricultura...genética na agricultura...Nós só devemos nos voltar para essa novatecnologia quando resolvermos outrosproblemas. Também não precisamos denovas plantas para nos alimentarmos,pois a natureza nos fornece todos osnutrientes necessários, que devem serdistribuídos de forma mais igual. Aengenharia genética não apresentasoluções, mas riscos. Os trópicosoriginaram um grande número deespécies, que constituem um grande“banco de dados” genético, valoroso einsubstituível. Se espécies geneticamentemodificadas forem lançadas no meioambiente, poderão contaminá-lo eespécies poderão desaparecer, e isso éirreversível.

Você acredita que a agriculturaVocê acredita que a agriculturaVocê acredita que a agriculturaVocê acredita que a agriculturaVocê acredita que a agriculturasustentável possa produzir alimentossustentável possa produzir alimentossustentável possa produzir alimentossustentável possa produzir alimentossustentável possa produzir alimentosem em em em em volume suficiente para acabar comvolume suficiente para acabar comvolume suficiente para acabar comvolume suficiente para acabar comvolume suficiente para acabar coma fome?a fome?a fome?a fome?a fome?Sim, tenho convicção disso. O estudo deJules Pretty fornece muitos exemplosdisso. A agricultura no norte deixou deser uma alternativa para nós. Ela destróio solo e contamina os lençóis freáticos,de onde tiramos água para beber.Podemos usar adubos artificiais, masapenas se eles melhorarem o solo, aoinvés de destrui-lo. Todos os métodosprecisam passar por um teste: não se devepermitir que eles perturbem os ciclos eprocessos naturais. A agriculturasustentável não é mais artigo de luxo. É aúnica esperança que nos resta.

ENTREVISTA: MICHAEL FRIEDRICH

A engenharia genéticaproduz riscos, não soluções

* Reduzindo a Pobreza Alimentar com a AgriculturaSustentável: Um Levantamento de Novas Evidências,Jules Pretty e Rachel Hine, Centro de Meio Ambientee Sociedade, Universidade de Essex, Fev 2001

O ecologista etíope Dr. Tewolde Egziabher, 61, representaO ecologista etíope Dr. Tewolde Egziabher, 61, representaO ecologista etíope Dr. Tewolde Egziabher, 61, representaO ecologista etíope Dr. Tewolde Egziabher, 61, representaO ecologista etíope Dr. Tewolde Egziabher, 61, representaos países subdesenvolvidos nas conferências sobreos países subdesenvolvidos nas conferências sobreos países subdesenvolvidos nas conferências sobreos países subdesenvolvidos nas conferências sobreos países subdesenvolvidos nas conferências sobreengenharia genética, biodiversidade e patenteamentoengenharia genética, biodiversidade e patenteamentoengenharia genética, biodiversidade e patenteamentoengenharia genética, biodiversidade e patenteamentoengenharia genética, biodiversidade e patenteamento de genes. Ele é o coordenador da agência de proteção de genes. Ele é o coordenador da agência de proteção de genes. Ele é o coordenador da agência de proteção de genes. Ele é o coordenador da agência de proteção de genes. Ele é o coordenador da agência de proteçãoambiental da Etiópia e também do Instituto para oambiental da Etiópia e também do Instituto para oambiental da Etiópia e também do Instituto para oambiental da Etiópia e também do Instituto para oambiental da Etiópia e também do Instituto para oDesenvolvimento Sustentável, organização sem finsDesenvolvimento Sustentável, organização sem finsDesenvolvimento Sustentável, organização sem finsDesenvolvimento Sustentável, organização sem finsDesenvolvimento Sustentável, organização sem finslucrativos.lucrativos.lucrativos.lucrativos.lucrativos.

GREENPEACEGREENPEACEGREENPEACEGREENPEACEGREENPEACE Como o senhor avalia oComo o senhor avalia oComo o senhor avalia oComo o senhor avalia oComo o senhor avalia oargumento dos “gigantes” da agriculturaargumento dos “gigantes” da agriculturaargumento dos “gigantes” da agriculturaargumento dos “gigantes” da agriculturaargumento dos “gigantes” da agriculturamundial ao afirmarem que as plantasmundial ao afirmarem que as plantasmundial ao afirmarem que as plantasmundial ao afirmarem que as plantasmundial ao afirmarem que as plantastransgênicas são instrumentos detransgênicas são instrumentos detransgênicas são instrumentos detransgênicas são instrumentos detransgênicas são instrumentos decombate à fome no mundo?combate à fome no mundo?combate à fome no mundo?combate à fome no mundo?combate à fome no mundo?TEWOLDETEWOLDETEWOLDETEWOLDETEWOLDE Não me agrada. É ingenuidadeimaginar que seja possível melhorar asplantas e os seus códigos genéticos, que seevoluíram ao longo de milhares de anos,pela simples troca ou acréscimo de umnovo gene. A interação entre genes eproteínas é muito complexa. É por isso quemuitos experimentos genéticos dão errado.

Mas o senhor não leva a promessa delesMas o senhor não leva a promessa delesMas o senhor não leva a promessa delesMas o senhor não leva a promessa delesMas o senhor não leva a promessa delesa sério?a sério?a sério?a sério?a sério?Não, eles estão fugindo do âmago daquestão. A fome nos paísessubdesenvolvidos deve-se principalmenteà distribuição injusta dos alimentos. Hoje,o mundo produz mais do que nunca, mas,mesmo assim, o número de pessoas quepassam fome está num patamar jamaisvisto. Produzir um volume ainda maior nãosignifica que os pobres serão beneficiados.Eles simplesmente não têm dinheiro paracomprar alimentos. E a engenhariagenética não mudará esse quadro.

Mas a engenharia genética não podeMas a engenharia genética não podeMas a engenharia genética não podeMas a engenharia genética não podeMas a engenharia genética não podeproduzir plantas melhores adaptadasproduzir plantas melhores adaptadasproduzir plantas melhores adaptadasproduzir plantas melhores adaptadasproduzir plantas melhores adaptadasaos solos áridos ou salinos?aos solos áridos ou salinos?aos solos áridos ou salinos?aos solos áridos ou salinos?aos solos áridos ou salinos?Fala-se muito sobre isso, mas não hánenhuma prova. O que as grandes empresasquerem, é completamente diferente: elasquerem que os agricultores compremvariedades resistentes aos agrotóxicosespecíficos, tornando-os dependentes deles.A Indústria das Ciências da Vida tambémtem outro objetivo: controlar as sementes ea variedade genética das diferentesespécies de plantas e animais dos paísessubdesenvolvidos. A estratégia é

sempre a mesma: fornecer sementes degraça até os agricultores esgotarem seusrecursos ou até que elas não sejam maisutilizáveis. A partir daí começar a cobrarpor elas.

Essa é uma acusação grave.Essa é uma acusação grave.Essa é uma acusação grave.Essa é uma acusação grave.Essa é uma acusação grave.Ela coincide com as experiências que játivemos com agrotóxicos e fertilizantesartificiais. E, hoje, são essas mesmasempresas agroquímicas que promovem aengenharia genética. Controlar acaracterística das sementes não resolveráo problema da fome, ainda mais porqueos agricultores pobres pagarão por elas.

Se as colheitas melhorarem,Se as colheitas melhorarem,Se as colheitas melhorarem,Se as colheitas melhorarem,Se as colheitas melhorarem,os agricultores poderão pagar ...os agricultores poderão pagar ...os agricultores poderão pagar ...os agricultores poderão pagar ...os agricultores poderão pagar ...Cerca de 30 grupos diferentes possuem patentes sobre o “arroz dourado”. Nenhum deles cobra alguma taxa no momento, mas, quando tiverem ocontrole sobre os agricultores, aí vãoquerer ganhar dinheiro. As empresasagrícolas estão usando as patentes paranos tornar dependentes de suas sementes.Por acaso há outra forma mais eficaz decolonialismo? A indústria da engenhariagenética poderá facilmente nos fazer dereféns. Não é assim que alcançaremos apaz no mundo. Ao contrário, esse quadrocausará rebeliões nunca vistas, commultidões de refugiados indo para ospaíses mais ricos.

Por que o Programa das Nações UnidasPor que o Programa das Nações UnidasPor que o Programa das Nações UnidasPor que o Programa das Nações UnidasPor que o Programa das Nações Unidaspara o Desenvolvimento (do inglêspara o Desenvolvimento (do inglêspara o Desenvolvimento (do inglêspara o Desenvolvimento (do inglêspara o Desenvolvimento (do inglêsPNUD), apoia a engenharia genética?PNUD), apoia a engenharia genética?PNUD), apoia a engenharia genética?PNUD), apoia a engenharia genética?PNUD), apoia a engenharia genética?Porque o trabalho deles depende dodinheiro da indústria e assim o relatórioda PNUD fica desacreditado. As vezes me questiono se eles realmente estão do lado dos países em desenvolvimento.

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Uma mensagemUma mensagemUma mensagemUma mensagemUma mensagemde Bangladeshde Bangladeshde Bangladeshde Bangladeshde Bangladesh

Densamente povoado e ameaçado por inundaçõesDensamente povoado e ameaçado por inundaçõesDensamente povoado e ameaçado por inundaçõesDensamente povoado e ameaçado por inundaçõesDensamente povoado e ameaçado por inundaçõese tempestades, Bangladesh é um dos países maise tempestades, Bangladesh é um dos países maise tempestades, Bangladesh é um dos países maise tempestades, Bangladesh é um dos países maise tempestades, Bangladesh é um dos países maispobres do mundo. Desde que adotaram o sistemapobres do mundo. Desde que adotaram o sistemapobres do mundo. Desde que adotaram o sistemapobres do mundo. Desde que adotaram o sistemapobres do mundo. Desde que adotaram o sistema“nayakrishi andolon” - a nova agricultura, que“nayakrishi andolon” - a nova agricultura, que“nayakrishi andolon” - a nova agricultura, que“nayakrishi andolon” - a nova agricultura, que“nayakrishi andolon” - a nova agricultura, queencontra cada vez mais adeptos e pode ser umencontra cada vez mais adeptos e pode ser umencontra cada vez mais adeptos e pode ser umencontra cada vez mais adeptos e pode ser umencontra cada vez mais adeptos e pode ser umexemplo para toda a região, - os agricultoresexemplo para toda a região, - os agricultoresexemplo para toda a região, - os agricultoresexemplo para toda a região, - os agricultoresexemplo para toda a região, - os agricultorespassaram a colher safras melhores, que trouxerampassaram a colher safras melhores, que trouxerampassaram a colher safras melhores, que trouxerampassaram a colher safras melhores, que trouxerampassaram a colher safras melhores, que trouxerammaior qualidade de vida.maior qualidade de vida.maior qualidade de vida.maior qualidade de vida.maior qualidade de vida.

Korshed Alam faz parte de um movimentorevolucionário, mesmo assim não porta armas. Suajornada começa às 4 da madrugada. Ele cultivaapenas 1,4 hectares num dos países mais pobres domundo. Mas o seu exemplo tem potencial para

agricultura industrial. A revolução de Korshed é ecológica. Comodezenas de milhares de agricultores em todo o Bangladesh, eleabandonou a química e as sementes híbridas não por causa deseu compromisso com os princípios da agricultura orgânica, masporque a sua opção faz mais sentido no que se refere apreservação do meio ambiente.

"Mudou a minha vida", declara, agachado junto a outrosagricultores sob a sombra de uma grande jaqueira no povoado deNandoria. "Antes de mudarmos, todos tínhamos doenças na pelepor causa da química. Chegou a um ponto em que não podíamoscomer peixe porque estava envenenado. As plantas silvestres ouhaviam morrido ou ficaram amargas. Mas, ao abandonar oscomponentes químicos temos comida boa e gostosa; é maissadia e tem mais vitaminas."

A visão da agricultura convencional prega a eficiência, amaximização do rendimento da produção de uma culturaúnica como o arroz ou o milho. Korshed trabalhava assim. Elecomprava as sementes de "alto rendimento" no mercado locale espalhava adubos artificiais no solo. Obedientes à doutrinados extensionistas oficiais (fiéis às práticas indústriais),pulverizava a lavoura várias vezes para controlar as pragas.Mesmo quando o veneno começou a contaminar todo o soloe a água, Korshed não via outras alternativas.

Ele explica: "Antes de adotarmos os produtos químicos osolo era bom, e o uso de um pouco de adubo dava um grandeimpulso à produtividade. Mas, o rendimento começou a cair, etivemos que elevar a concentração de fertilizantes porhectare. Ao final das contas, o volume que passamos a usarfoi elevado em mais de 100 vezes num intervalo de 30 anos.Pior ainda: o preço triplicou no mesmo período. Dessamaneira, todos perdiam, mas tinham que prosseguirutilizando a química para colher uma boa safra e ganhar odinheiro suficiente para pagar as sementes do próximo ano".

Presos nesse círculo vicioso, agricultores do país inteirofaliram. Muitos foram obrigados a vender a terra e migrarpara as cidades na busca por trabalho. Enquanto isso,ninguém questionava os fundamentos econômicos daagricultura convencional. A propaganda comercial dos novoshíbridos e dos agrotóxicos "cada vez melhores" dominavamoutdoores e emissoras de rádio. Ninguém enxergava umaalternativa. Aí veio a enchente de 1988 - As inundaçõesocorrem normalmente em Bangladesh, longe de seremdesastres (como são qualificados), a cheia periódica éessencial para a fertilidade do solo e para a sobrevivência

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Korshed Alam, o revolucionário pacífico. No centro e à direita:demonstrações da boa administração das sementes, seja nas estocagens ounos campos. As mulheres são responsáveis pelo estoque de sementes

dos peixes. Entretanto, o ocorrido em 1988 foi descomunal:Perdurou por semanas e muitos agricultores perderam tudo.Tangail, uma pequena cidade, que fica três horas ao norte dacapital Dacca, foi a mais atingida. Lá, uma pequena ONGradical, de nome UBINIG, sigla que em bengali, (o idiomaoficial do Bangladesh), quer dizer "Pesquisa em Políticas paraAlternativas em Desenvolvimento", conduzia um programa depesquisa com tecelões artesanais.

"Sequer tínhamos experiência com a agricultura", lembraFarida Akhter, atual diretora-executiva da organização. Elaainda explica: “Mas, a gente tinha que fazer alguma coisa.Assim, juntamos uma equipe de médicos, cuidamos da águapotável e ajudamos a comprar roupas para as pessoas".

Quando a água começou a baixar, a UBINIG - que, nopassado, teve diversas experiências ambientais - enfrentouum dilema, pois um grupo de agricultores procurou Farida afim de pedir financiamento para a compra de insumosquímicos e sementes, para começar a plantar de novo.

"Pensamos que o fornecimento desses insumos não iriaajudar ", declara Farida. "Ao invés disso, dissemos que se elesquisessem conversar sobre alternativas, nós toparíamos".Assim, a UBINIG convocou reuniões comunitárias e discutiucom os agricultores alternativas à agricultura química."Foram as mulheres que responderam mais positivamente",ela lembra. "A maioria dos homens, especialmente os jovens,não enxergavam alternativa alguma".

Numa das reuniões, uma parteira idosa contou àassembléia sobre os abortos espontâneos que havia visto. Elaresponsabilizou os produtos químicos pela ruína da saúde depessoas e de animais. Em seguida, outros agricultorescontaram histórias sobre as doenças causadas pelosagrotóxicos e sobre as vultuosas dívidas contraídas para pagá-los. Eles falaram também sobre a deterioração do solo, antesconhecido pela sua textura macia e que havia sidotransformado em algo duro como cimento. “Agora, nossapremissa número um é 'a erradicação do uso de agrotóxicos'.A importância desse princípio tornou-se óbvia com adeclaração daquela parteira".

Aquela reunião, além de fazer com que seusparticipantes alterassem suas práticas agrícolas, deu início aum movimento nacional, agora conhecido como nayakrishiandolon, que significa "nova agricultura". O nome foiescolhido para mostrar que os adeptos desse novo modeloretrocedessem para os moldes tradicionais, mas avançassenrumo a algo novo e melhor. Também demonstra que houvemuito aprendizado com os erros da "revolução verde".

Korshed hoje se orgulha de seus campos. "Quando usavaa agricultura moderna neste campo eu praticava amonocultura (de cana-de-açúcar)", conta, apontando paraum roçado verdejante do outro lado de um riacho. "Agora,com as plantações intercaladas, minha colheita édiversificada. Eu tenho cebola, alho, batata, rabanete,lentilha, abóbora e batata-doce, além da cana-de-açúcar. Oexcedente gerado é comercializado na feira do povoado”, dizKorshed. Ele ainda reforça que o novo método, além dediversificar as plantações, “dispensa a necessidade decomprar produtos químicos"- O nitrogênio se fixa no solo pelaação de leguminosas como feijão e quiabo, dispensando oadubo químico. O nitrogênio se fixa no solo pela ação deleguminosas como feijão e quiabo, arranca um pé de quiabo,e mostra como as raízes estão impregnadas de nódulosbrancos de nitrogênio. O composto utilizado vem do aguapédos “laguinhos”, das folhas de bananeira, dos arrozais e doesterco do gado, formado em menos de um mês em função doclima quente e úmido de Bangladesh. O solo é macio erepleto de de humus de minhoca, que “são os arados danatureza", na opinião de Korshed. Ao verem este exemplo emNandoria, dez outros povoados vizinhos também sedeclararam “Nayakrishi”, enquanto outros dezoito jádemostraram interesse no método.

Em Bangladesh, 65 mil famílias aderiram à “novaagricultura”. A UBINIG criou, cinco centros Nayakrishi emdiferentes regiões do país, onde realiza oficinas para osagricultores e coordena o intercâmbio de conhecimentosentre os povoados. Atualmente, o centro de Tangail emprega40 pessoas, sendo a maioria extensionistas que visitam ospovoados próximos para realizarem reuniões semanais sobre aexperiência com as demais comunidades.

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Um desses coordenadores é Abu Bakar, ex-agricultor de25 anos. Sentado numa esteira, de pernas cruzadas, nopovoado de Nallapara, ele está reunido com 20 agricultoreslocais, com as esposas deles e com um grupo de crianças.Enquanto ele fala sobre os pontos da agenda de discussão, ogrupo se alimenta com arroz torrado. Nesta semana, oassunto principal é como fazer um inventário de sementes. Éhora de plantar o arroz nas sementeiras bem cuidadas, que,mais tarde, assim que as chuvas cessarem, serátransplantado para os arrozais. Também podem ser plantadasas novas bananeiras, mas os bambus, que crescemprofusamente (úteis em tudo, de casas a pontes), estão

"grávidos" e não devem ser cortados. Há muitosdetalhes, todos práticos. Abu Bakar realiza duas outrês destas reuniões por dia, abrangendo entre 13 e17 aldeias. "Meu objetivo é envolver o quanto maisagricultores possível, para ouvir as suaspreocupações", diz Bakar. "A participação aumentaporque as pessoas estão curiosas para ver comofunciona o Nayakrishi. O número de adeptos estácrescendo rapidamente”.

Hayet Ali, 58 anos, é um dos participantesdessas reuniões. Segundo seu testemunho, antes deadotar o o Nayakrishi, “a água estava tãocontaminada que ninguém botava o pé". "Perdemosmuitas variedades de sementes regionais porque ogoverno promovia só as híbridas. O solo endureceu,e todos perdíamos dinheiro comprando produtosquímicos e sementes”, declara Ali. Mas, afirma ele,“depois da enchente de 1988 buscamos conversarcom a UBINIG a respeito de alternativas.

"Olhe esta cerca. Ela é composta de quinze tipos deárvores", aponta Raiqul Haque, conhecido como "Tito",diretor do centro Nayakrishi no litoral. "Os pássaros chegampara fazer seus ninhos. As folhas que caem se decompõemno solo, gerando alimento para os microorganismos. Estábrotando algumas gramíneas e outras plantas silvestres. Issoé que é diversidade - e está por toda parte", atesta o animadoHaque. Num giro pelo centro, seu entusiasmo contagia. "Estávendo esse charco?", pergunta, enquanto aponta para umlago cuja superfície se agita o tempo todo devido aoscardumes. "O esterco dos patos é um grande alimento para opeixe”, explica. Haque conta que a comunidade possui 31raças de galinha e, por isso, nem é preciso arar o solo dolocal, pois ficou tão fértil que é possível enfiar as sementescom o dedo.

"Olha, se uso agrotóxicos destruo todas as formas devida, inclusive insetos benéficos, que servem de alimentopara as galinhas. Se utilizo adubo, extermino osmicroorganismos do solo. Só assegurando a biodiversidade éque podemos garantir a segurança alimentar para todos",afirma o diretor. Segundo ele, por causa desse compromisso,o centro está implementando um programa para replantar avegetação nativa do manguezal, outrora habitado por tigres,elefantes, macacos e crocodilos. mas que fora destruído poruma criação comercial de camarões nos anos 80.

A filosofia de Raiqul Haque gera uma reviravolta noconceito convencional da agricultura. Na Europa, muitosagricultores e políticos acreditam que é preciso abandonar abiodiversidade, ao adaptar os campos para as operaçõesindustriais. Cresce cada vez o volume dos estoques dealimentos, sem melhorar em nada a distribuição e a

Logo de início constatamosque ao substituirmos amonocultura pela policultura,passamos a comer nossas própriasvariedades de arroz e legumes e,portanto, melhor”, relata. Para oagricultor, a mudança possibilitoua venda das pequenas sobras etambém o ganhos de dinheiro.“Além disso tudo, nossa saúdemelhorou, sumiram as doenças depele, de estômago e até o cólera",conclui.

A prática do Nayakrishiconsiste na promoção dadiversidade - não só emvariedades de sementes, mas emtodo o ecossistema onde sãoplantadas. Os campos onde ametodologia é aplicada refletem anatureza: pássaros, insetos, rãs epeixes saltam e esvoaçam nomeio das plantações. Num campoeuropeu ou norte-americano, auniformidade e homogeneidade seespalha pelo horizonte, e abiodiversidade severamentereduzida devido às práticas daagricultura moderna.

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segurança alimentar. "Talvez você não entenda, mas quando falo em segurança

alimentar, me refiro na satisfação das necessidades de todas asformas de vida, não só na dos humanos. Isto não é possível sema biodiversidade. Posso ter uma plantação para mim, mas comoficam as árvores, os insetos, o capim e as galinhas?", sequestiona Raiqul Haque. Em suma, a nova agriculturaabandona a visão do ser humano separado da natureza,dominando-a. Ao contrário, nós fazemos parte de um ciclomaior de vida. É um conceito muito mais amplo do que a meraagricultura orgânica, cuja meta principal é abandonar osinsumos químicos. O Nayakrishi, além de rechaçá-los,considera a proteção do ecossistema um elemento fundamentalno papel do ser humano.

Farhad Mazhar, companheiro de Farida e co-diretor daUBINIG, conta uma história que ilustra bem o conceito."Quando visito um povoado para treiná-lo, primeiro dou umavareta para um agricultor e mando bater na criança maispróxima. Ele diz: “Não vou”. Aí, o questiono. “E por quê?”. “Paranão machucá-la”, é a resposta que ouço. Então, rebato: “Porque você joga agrotóxicos na terra, machucando a vida?”. Ecompleto, explicando que “trata-se de um princípio ético:insetos e pássaros têm direito de se alimentar. Para que cortaruma planta, que serve de alimento para outra forma de vida?"

Talvez seja por este enfoque que o Nayakrishi possua umconceito de "lar" diferente do Ocidente. Na Europa, a famíliarural inclui um agricultor, sua esposa, seus filhos e, em algunscasos, um ou dois parentes mais idosos. Em Bangladesh, asvacas, as cabras, galinhas, as árvores e as plantas silvestres quecrescem no quintal também são consideradas membros do"lar". As árvores sombreiam as cabanas e protegem o pátio

de terra batida do forte sol tropical, além de proverem frutas,material para a construção e lenha. Plantas silvestres, quedurante tanto tempo foram contaminadas por agrotóxicos,apresentam grande utilidade medicinal, e também servemcomo alimentos. Ao entardecer, uma revoada de pombos pousano teto de uma cabana. Tito espalha sementes para eles, e seilumina: "Eles também fazem parte do centro Nayakrishi!"

A ênfase na vida comunitária não é por acaso. O pilarcentral no sistema da nova agricultura é o trabalho conjunto,principalmente para guardar sementes. Cada casa tem seubanco de sementes particular, e cada comunidade possui umcentro onde são compartilhadas e se juntam os recursos. Comoterceira salvaguarda, cada centro regional Nayakrishi tem um"centro de preservação" de toda a área, onde se estocammilhares de variedades. Cada centro é projetado para manteruma temperatura agradável através da circulação natural doar. Em Tangail, centenas de garrafas de vidro, repletas desementes, são penduradas nas vigas de uma casa. Cada qual écuidadosamente etiquetada com o nome, lugar de origem,nome científico e um número. Ao todo, só este centro guarda1400 variedades cultivadas. Há ainda 298 de arroz, 68 defeijão, 16 de milho, 31 de trigo, 36 de pimenta, 113 dejaqueiras, 7 de batatas, 4 de mostarda, e várias outras espéciestambém. Cada variedade se adapta melhor a um certo tipo desolo e a uma época determinada do ano.

Estocar sementes exige muita habilidade: saberexatamente em que condições guardá-las, quantas vezes secá-las ao sol depois etc.São conhecimentos tradicionalmente dasmulheres, e servem como mecanismo de prestígio nacomunidade e na família. "Somos muito mais respeitadas porsermos quem cuida das sementes", diz Sharbanu Banu, emNallapara. “É um vínculo que une a família e a comunidade",diz, sorrindo. "Nosso lema é: “Irmãs segurem as sementes namão!", conclui.

Podem ser preocupações locais, mas Sharbanu não se vêapenas como parte de um movimento local ou nacional. "Églobal", diz ela. "No ano passado fizemos um encontro de trêsdias com agricultores de todas as partes, inclusive do exterior.A grande questão foi o patenteamento das sementes - astransnacionais estrangeiras roubam nossas sementes paralucrarem com elas. Se alguma empresa aparece por aqui, nãorevelamos nada a eles", declara. Vários dos agricultores dealdeias próximas participaram de manifestações de protesto emDacca, e alguns viajaram com a "caravana popular"internacional, que percorreu boa parte da Ásia no ano 2000,encontrando-se com outros agricultores e difundindo atécnica.

"Quando promovemos a agricultura ecológica estamosrealmente combatendo as empresas transnacionais", afirmaFarhad Mazhar. "É mais do que dizer “Não queremos aMonsanto”, pois realmente somos capazes de demonstrar queestamos melhor sem ela", diz Farhad. Sua posição não édogmática: "Não sou contra o mercado e nem contra ocomércio internacional. É que as necessidades locais deveriamestar em primeiro lugar e o comércio deveria ser menosexplorador”. Segundo ela, a agricultura Nayakrishi é maisviável economicamente do que a moderna convencional e,com isso, muitas famílias estão produzindo culturas para omercado também".

Entretanto, apesar do avanço, há nuvens negras nohorizonte. A engenharia genética é o novo chavão entre asempresas sementeiras e de agrotóxicos. A Ásia é o alvo certo

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Opposite top: the roads are used for working on jute. Below: chemical-free ricefields are better habitats for other food sources including fish.This page: children play among the jute plants

WORDS MARK LYNAS | PHOTOS KAREN ROBINSON

“Não sou contra omercado e nem contrao comérciointernacional. É que asnecessidades locaisdeveriam estar emprimeiro lugar ”

de empresas como a Syngenta, ávida em vender suassementes transgênicas patenteadas aos agricultores de todo ocontinente. A Syngenta encontrou no "arroz dourado" achave de sua campanha promocional. Esse novo arroz égeneticamente enriquecido com vitamina A, supostamentepara combater a desnutrição. Haroun Rashid, que cultiva umhectare de terra perto do povoado Baratia na região deTangail, não se impressiona. Não havia ouvido falar no "arrozdourado", mas entendeu na hora qual era o jogo. "Com essearroz só teríamos um tipo de vitamina", responde. "E asoutras?", questiona-se. Um outro agricultor completa:"Imagine se houver uma pessoa com deficiência de vitaminaA em uma família de sete. Se todos comerem o 'arrozdourado', os outros seis é que vão adoecer!". Com essaafirmação todos riem e a decisão está tomada: "Não, não nosinteressa", confirma Haroun. "Já bastam com as “soluções”químicas que nos empurraram. Chega".

Ao invés de importar as inovações da agroindústriaocidental, os adeptos do Nayakrishi pretendem exportaralgumas idéias para sistemas agrícolas que eles considerampredatórios, até mesmo para aqueles que parecem sebeneficiar deles. "Os agricultores ocidentais têm uma vidamiserável", afirma Farhad. "Eu sei porque já convivi com elesno Canadá. As pessoas são infelizes. Há muitos casos desuicídio". Quando questionado acerca da afirmação de que aEuropa é auto-suficiente em alimentos, ele contestaveementemente: "Isso é um mito. Os Europeus produzemuma caloria de comida para cada 9 calorias de energia gastascom a produção”. Ainda de acordo com Farhad, “emBangladesh, ganhamos 3 calorias de alimentos para 1 caloriade energia gasta”. Em sua opinião, todo o petróleo e os adubosutilizados no continente vêm da pirataria de recursos deoutros países, usando o poder militar e econômico. "Não valeargumentar que a Europa é auto-suficiente em alimentos."

"No ano passado, visitei alguns agricultores no Canadá, e medei conta de que estamos melhores em Bangladesh",complementa Farida. "Um deles tinha quase 3 mil hectares evários tratores imensos, mas só o filho morava com ele. Elese sentia só, e tive dó". Diante da afirmação de que “a vidaem uma aldeia alemã não é melhor do que em uma aldeia emBangladesh" , ela argumenta com muita calma: "A vida émelhor em uma aldeia aqui do que lá, porque os alemães nãoconseguem ter umavida normal. O governolhes paga para nãoplantarem nada".Questionada sobre apobreza, diz que "aspessoas nos países donorte sofrem com acarência de felicidade",sentenciando ainda que "é difícil para eles se darem conta que têm menos coisas doque nós". Perguntada sobre a fome, a sua visão: “Aqui vai umcardápio típico para uma refeição noturna no centroNayakrishi em Tangail: arroz local (marrom claro, soltinho,com um sabor sutil de castanha), dhaal (lentilhas comcebola, alho, gengibre, óleo e água), vagens com sementes dejaca (como nozes macias) cozidas com amaranto, camarão deágua doce e folhas de abóbora (cozida como espinafre comum toque de pimenta), além de peixe fresco (cozido comcebola, cuúrcuma e outros condimentos em um molhodelicioso). No final, mangas doces recém-colhidas, e leite devaca”.

E então, alguém está servido de um prato de arroztransgênico “enriquecido” com vitamina A?

É, acho que ninguém! ■

Página ao lado: Alto-arrozais que não são cultivados com produtos químicos são melhores habitats paraoutras fontes de alimentação, incluindo o peixe.Abaixo- estradas são utilizadas para a confecção das jutas. Nesta página: crianças brincam entre as

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parte) sem usar agrotóxicos ou adubosquímicos artificiais! Nestas condiçõesde crescimento, foi comprovado que ocomposto é uma perfeita fonte denutrientes.

O novo método levanta dúvidas namaioria dos rizicultores : "Mas o cultivode grandes números de plantas nãoprecisa de muita água?". A resposta ésimples: assim, atende-se melhor asnecessidades naturais da planta doarroz, além de garantir mais espaçopara o desenvolvimento das folhas e daraiz, disponibilizando um volume maiorde nutrientes.

“O SIR promete um rendimentomaior que o método convencional deplantar arroz, mas também exige maiorhabilidade e envolve mais riscos”, opinaUphoff. Ao seu ver, esta foi uma dasprincipais razões pelas quais estemétodo não foi desenvolvido antes. Defato existem problemas práticos: nãosão todos os agricultores que podemirrigar as plantações na hora certa. Ocerto é irrigar de cima para baixo, e àsvezes faltam bombas d’água para estetipo de operação. Além disso, nem todospodem empregar trabalhadores paralimpar as ervas-daninhas invasorasantes da venda da colheita.Finalmente, nem todos possuemhabilidade e conhecimentonecessários. Também há medosirracionais de experimentar coisasnovas que rompam tradições earrisquem a sobrevivência da própriafamília. Um rizicultor raramente podese dar ao luxo de fazer experiênciascom o seu ganha-pão.

SIR - a revoluçãonos arrozais

Cada vez que um grupo deagricultores ao redor domundo ouve falar sobre onovo sistema, elesmostram-se céticos -

são plantadas. Os agricultores nãoficam mais esperando um mês antes detransplantarem os brotos ao arrozal, jáque o plantio pode ser feito depois deoito a doze dias. Além disso, eles sãoplantados individualmente, e nãoamontoados em um maço.

Enquanto o arroz está crescendo,os agricultores precisam tomar decisõesprecisas. Os arrozais geralmente sãoinundados a fim de mantê-los comágua o suficiente e ao mesmo tempopara diminuir a infestação por pragas.Apesar de tolerar a inundação, osresultados não serão necessariamentemelhores, pois as folhas e,especialmente a raiz, se desenvolvemplenamente somente quando a plantarecebe a quantidade certa de água.Com o SIR, porém, o arrozal recebe aquantidade exata de água para sedesenvolver.

Por outro lado, as plantas invasorasprecisam ser eliminadasmecanicamente. Ao fazer isto, o padreLalaunie descobriu que arejar a terracom uma enxada, estimulava ocrescimento das plantas. Assim, comoresultado direto de seu trabalho, aquantidade de arroz colhida porhectare de terra foi o dobro daquantidade média produzida pelométodo convencional. E isto (na maior

ou até indignados. Ao primeiro contato,pede-se que esqueçam os seusconhecimentos a respeito de plantaçãode arroz e tudo o que aprenderam sobretécnicas modernas. As sementescultivadas de maneira perfeita, asnovas e mais eficientes misturas deadubos artificiais, herbicidas einseticidas de algum laboratório de altatecnologia não vão mais garantir umalto rendimento. A fórmula mágica estásimplesmente em cultivar o arrozal deoutra maneira. “A desconfiança - comoalgo tão simples não foi descobertoantes? - faz com que os cientistastambém reajam com indiferença”. Foiassim que Norman Uphoff, professorda Universidade Cornell, em NovaIorque, descreveu a postura negativa deseus colegas. Para complicar as coisasainda mais, este novo método - fruto dedécadas de observações, de pesquisas etestes práticos - vem sendodesenvolvido não por um cientistaespecializado, mas por um padrejesuíta.

O padre (católico) francês Henride Lalaunie, é um experiente agricultor.Ele veio para Madagascar em 1961com a esperança de ajudar a resgataros pequenos agricultores da miséria.Lalaunie observou a maneira como elescultivavam o arroz, que é o alimentobásico dos habitantes da ilha, eimplantou seus próprios campos deensaio, onde conduziu suasexperiências com vista aos métodosmais promissores. Vinte anos maistarde, o padre formulou um novoconceito, que permite o colhimento demais arroz plantando menos sementes.Assim foi desenvolvido o que seconhece como o “Sistema deIntensificação do Arroz” (SIR).

Com o método SIR, somente umdécimo do número normal de sementes

TEXTO CLAUDIA SCHIEVELBEIN | FOTOSKAREN ROBINSON

O "Sistema de Intensificação doO "Sistema de Intensificação doO "Sistema de Intensificação doO "Sistema de Intensificação doO "Sistema de Intensificação doArroz (SRI) permite que mais grãosArroz (SRI) permite que mais grãosArroz (SRI) permite que mais grãosArroz (SRI) permite que mais grãosArroz (SRI) permite que mais grãossejam colhidos, utilizando-se umsejam colhidos, utilizando-se umsejam colhidos, utilizando-se umsejam colhidos, utilizando-se umsejam colhidos, utilizando-se umnúmero menor de sementes que onúmero menor de sementes que onúmero menor de sementes que onúmero menor de sementes que onúmero menor de sementes que otradicionaltradicionaltradicionaltradicionaltradicional

Mesmo assim - e, talvez, istodemonstre melhor o valor do sistema -o numero de agricultores, emdiferentes países, que adotam o SIRaumenta cada vez mais. EmMadagascar existem 50 mil rizicultorescultivando sob o método de Henri deLalaunie. Países como a China,Bangladesh, Sri Lanka e Cambojareagiram de maneira positiva - nãoapenas pela produção, mas tambémporque houve boa aceitação dastécnicas. A Ásia mostra-se muitoreceptiva com a nova idéia. Agora,especialistas aguardam os resultados deestudos em desenvolvimento noCamboja, conduzidos pela famosaUniversidade Wageningen, da Holanda.

Norman Uphoff profetiza que “ogrande salto virá quando o SIR superaro estigma do charlatanismo”. Quandoficar realmente provado que o métodoconfere ao uso da água e da terra maiseficiência, ao mesmo tempo em queajuda a preservar o meio ambiente, aterra poderá produzirá mais e melhor.“Poucos rizicultores precisam dobrar asua colheita de arroz”, declara Uphoff.“Por isso, sobrará espaço no campo parao cultivo de outros cereais e dehortaliças. Com isso, terão maisalimentos para a família e tambémverão nisso oportunidades para novasfontes de renda”.

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