Recensão equipa capa 2015

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Página 1 de 6 Recensão Crítica – Equipa CAPA A presente recensão crítica insere-se no desenvolvimento da atividade número cinco da unidade curricular Educação e Sociedade em Rede, do mestrado em Pedagogia do Elearning da Universidade Aberta. Os objetos de análise da nossa recensão crítica são os vídeos: Students Helping Students. Spring 2010 Class of Digital Ethnography. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=_npqbMKzHl8; A Vision of Students Today. Michael Wesch em colaboração com 200 alunos da Kansas State University, BY-NC-SA license. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=dGCJ46vyR9o; The Machine is (Changing) Us: YouTube and the Politics of Authenticity. Apresentado em 2009 Personal Democracy Forum at Jazz at Lincoln Center. Diponível em: https://www.youtube.com/watch?v=09gR6VPVrpw; The Machine is Us/ing Us. Michael Wesch, BY-NC-SA license. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=NLlGopyXT_g. O mentor dos vídeos é Michael Lee Wesch, professor associado de Antropologia Cultural na Kansas State University. O seu trabalho é reconhecido na área da ecologia dos meios de comunicação quanto à etnografia digital, explorando usos humanos da tecnologia digital. Vencedor de vários prémios, destacamos a 20 de novembro de 2008 o prémio de Professor do Ano pela CASE e pela Fundação Carnegie para o Avanço do Ensino. No que respeita ao primeiro vídeo mencionado, Students Helping Students, com a duração de 4,53 minutos, promove-se o projeto K-State Proud, de entreajuda dos alunos da Kansas State University. O próprio título reflete essa entreajuda e transmite claramente a mensagem que Wesch pretende transmitir: o impacto que um grupo de pessoas que se unem pelo mesmo objetivo tem na vida de uma pessoa. De uma forma alegre e divertida, Wesch descreve como o projeto K-State Proud beneficiou alunos, cujas histórias de vida são dramáticas. Este vídeo reflete os mais básicos instintos do ser humano, somos sociais e sentimos empatia pelos da nossa espécie e estas caraterísticas podem ser ampliadas com a existência das redes sociais que habitam o território digital. As comunidades aumentam e com elas o seu alcance na

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Recensão Crítica – Equipa CAPA

A presente recensão crítica insere-se no desenvolvimento da atividade número cinco da unidade

curricular Educação e Sociedade em Rede, do mestrado em Pedagogia do Elearning da

Universidade Aberta.

Os objetos de análise da nossa recensão crítica são os vídeos:

Students Helping Students. Spring 2010 Class of Digital Ethnography.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=_npqbMKzHl8;

A Vision of Students Today. Michael Wesch em colaboração com 200 alunos da Kansas

State University, BY-NC-SA license.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=dGCJ46vyR9o;

The Machine is (Changing) Us: YouTube and the Politics of Authenticity. Apresentado em

2009 Personal Democracy Forum at Jazz at Lincoln Center.

Diponível em: https://www.youtube.com/watch?v=09gR6VPVrpw;

The Machine is Us/ing Us. Michael Wesch, BY-NC-SA license.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=NLlGopyXT_g.

O mentor dos vídeos é Michael Lee Wesch, professor associado de Antropologia Cultural na

Kansas State University. O seu trabalho é reconhecido na área da ecologia dos meios de

comunicação quanto à etnografia digital, explorando usos humanos da tecnologia digital.

Vencedor de vários prémios, destacamos a 20 de novembro de 2008 o prémio de Professor do

Ano pela CASE e pela Fundação Carnegie para o Avanço do Ensino.

No que respeita ao primeiro vídeo mencionado, Students Helping Students, com a duração de

4,53 minutos, promove-se o projeto K-State Proud, de entreajuda dos alunos da Kansas State

University. O próprio título reflete essa entreajuda e transmite claramente a mensagem que

Wesch pretende transmitir: o impacto que um grupo de pessoas que se unem pelo mesmo

objetivo tem na vida de uma pessoa. De uma forma alegre e divertida, Wesch descreve como o

projeto K-State Proud beneficiou alunos, cujas histórias de vida são dramáticas.

Este vídeo reflete os mais básicos instintos do ser humano, somos sociais e sentimos empatia

pelos da nossa espécie e estas caraterísticas podem ser ampliadas com a existência das redes

sociais que habitam o território digital. As comunidades aumentam e com elas o seu alcance na

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obtenção de objetivos positivos. Aqui são só abordados os aspetos positivos porque são esses

que se pretende fomentar, mas não podemos esquecer que muitas redes sociais com objetivos

bem mais sinistros também já atuam nestas redes.

No segundo, A Vision of Students Today, com a duração de 4,44 minutos, promove-se a reflexão

sobre o estado atual da educação e aquilo que a tecnologia tem a oferecer para o engajamento

dos alunos. Resumem-se algumas das características mais importantes dos estudantes de hoje:

como aprendem, o que precisam para aprender, os seus objetivos, esperanças, sonhos, o que

as suas vidas serão, como e que tipos de mudanças irão ocorrer nas suas vidas. Neste vídeo a

mensagem que está implícita é que devemos refletir na forma como nos podemos aproximar

dos alunos de hoje. A tecnologia tem aqui um papel muito importante, uma vez que está bem

presente na vida dos estudantes.

Importa refletir sobre este vídeo, porque a educação é a base para a construção do futuro. A

realidade apresentada ainda é a vivida na maioria dos locais de ensino, existindo um

desfasamento entre a realidade vivida pelos alunos e as instituições educacionais. Ao

analisarmos o vídeo falta apenas uma informação, qual o investimento em tecnologia e na sua

aplicação, pois não devemos desvincular o papel do Estado como principal investidor num

processo que vai garantir a sua continuidade. É importante meditar seriamente como devemos

aproveitar o que já está acessível à maior parte dos estudantes, de forma a não perdermos

tempo e rentabilizarmos ao máximo a aquisição e manuseamento de conhecimento.

Facebook®, Youtube®, Websites são muitos dos recursos utilizados pelos alunos e esta será a

forma mais eficaz de aproximação e de obtenção de resultados mais eficazes, sem desperdício

de recursos, como um livro que não vai ser lido ou uma sala de aula, na qual os alunos estão

presentes fisicamente, mas cuja atenção não está centrada no que lá se passa. Muitos alunos

consideram que a tecnologia pode ser a solução, aproximando-nos daquilo que realmente

importa.

O terceiro vídeo, The Machine is (Changing) Us: YouTube and the Politics of Authenticity, tem a

duração de 33,44 minutos e traduz a participação de Wesch na Conferência apresentada no

Personal Democracy Forum de 2009, no Lincoln Center, sobre os novos meios de informação e

as novas formas de interação que emergem no YouTube®. Iniciando a sua palestra com a

referência a duas obras sobre a sociedade em 1984, lembra que na sociedade do Big Brother®

os livros foram relegados e os factos verídicos ocultados à população, transparecendo a

sociedade infoxicada, que consome informação cegamente, o que confere aos meios de

comunicação uma natureza ecológica específica. Eles moldam as conversações e apontam para

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um esvaziamento da dimensão social, agora fortemente patrocinada pelos meios de

comunicação. Com o fenómeno da Web 2.0 e dos novos meios de informação e comunicação,

um novo momento de nos explorarmos e reencontrarmos surge e ganha evidência. É esta a base

do estudo do palestrante com os seus alunos, tendo por objetivo observar os comportamentos

atuais no YouTube.

A grande conclusão foi que existe um desbloqueio da personalidade, a recognição, que nos leva

a refletir sobre nós próprios, ao nos revermos digitalmente na interação com os outros. A esta

observação Wesch designa de inversão cultural, uma autenticidade individual e liberdade de

expressão, gerando novas formas de auto-conhecimento. Assim, o Whatever, que a meio da

palestra Wesch havia apontado como sinónimo de indiferença geracional, ganha, atualmente,

um novo significado de manifestação cultural: "I care. Let's do whatever it take…by whatever

means necessary!".

O orador salienta a revolução cultural que pode advir desta nova ferramenta, no entanto no

final afirma que ainda estamos a tentar descobrir a melhor forma de a manejarmos e sabermos

tirar partido dela, sem nos deixarmos arrastar pelo histerismo da novidade e da supremacia da

tecnologia. Ao utilizarmos o Youtube® devemos saber dominar algumas ferramentas

tecnológicas para não sermos arrastados no turbilhão de informação que existe e que torna

difícil a pesquisa do material realmente relevante, para não nos expormos de forma incorreta

abrindo portas para a privacidade que pretendemos manter. Ao criarmos um conteúdo devemos

ter em atenção a forma e contexto para que seja corretamente interpretado. Também devemos

ter em atenção que o conteúdo não é controlado e por isso podemos acabar por aceder a

material perturbador. Ficou claro que muitos procuram através desta plataforma encontrar um

meio onde se possam afirmar e auto consciencializar.

Por fim, o quarto vídeo, The Machine is Us/ing Us, com a duração de 4,33 minutos, que reflete

as potencialidades da Web 2.0 e a virtualização do real. Em comparação com a escrita em papel,

o hipertexto mostra-se mais flexível, podendo estar entreligado e estabelecendo uma rede

muito abrangente a qualquer momento e em qualquer lugar. A passagem do HTML ao XML

trouxe alterações relevantes. Enquanto o HTML preocupa-se em formatar dados em etiquetas,

o XML estrutura a informação que se pretende armazenar, nomeadamente a estrutura, a marca,

a lógica própria da informação. Quem irá organizar toda a informação disponível na rede? Nós

todos, com base em etiquetas que vamos dando às informações. A rede usa-nos e é o nosso

reflexo. A Web 2.0 conecta e liga pessoas, lugares, tempos. Há que se reavaliar todos os direitos

autorais e intencionalidades na rede, bem como a reconfiguração das relações. Este vídeo

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espelha bem a forma como nos relacionamos com a máquina/ tecnologia. Por um lado,

utilizamos a máquina para divulgação da nossa informação, sendo que somos nós que a

controlamos e organizamos na rede… ao mesmo tempo que a “máquina nos usa”, pois é o nosso

reflexo, porque afinal… “the machine is us”.

Independentemente das críticas apontadas a Wesch, a verdade é que a escola está desadequada

ao tempo atual e a necessidade de mudança de paradigma é uma realidade, promovida em

grande escala pelo advento das novas tecnologias. É este o grande foco de Wesch, a necessidade

de adequarmos as práticas docentes à sociedade em rede em que vivemos, que promovam

interações no ciberespaço e concretizem atividades pedagógicas de sucesso. Michael Wesch

deixa-nos em cada um dos vídeos aqui analisados mensagens óbvias e nas quais a tecnologia é

referida no que respeita à sua evolução de forma bem elucidativa, o que nos leva mesmo a

interrogar sobre o futuro, tal é a velocidade vertiginosa a que a mesma avança. Aponta assim a

Web 2.0 e os novo meios de comunicação como formas facilitadores dessa mudança de

paradigma. A tecnologia surge como forma de socializar, mas também como forma de aprender

e evoluir como ser humano, agora sem barreiras de tempo e de espaço, interagindo numa escala

global. A máquina, enquanto produto do social, reflete e espelha esse mesmo social, bem

patente na expressão “Educar é estar mais atento às possibilidades do que aos limites”, de

Wesch.

O modelo atual de educação encontra-se obsoleto e urge uma transformação radical que

(re)atraia os alunos à escola e à educação. As necessidades hoje são outras, pois

a Internet, as redes, o celular, a multimídia estão revolucionando nossa vida no quotidiano. Cada vez resolvemos mais problemas conectados, a distância. Na educação, porém, sempre colocamos dificuldades para a mudança, sempre achamos justificativas para a inércia ou vamos mudando mais os equipamentos do que os procedimentos. A educação de milhões de pessoas não pode ser mantida na prisão, na asfixia e na monotonia em que se encontra. Está muito engessada, previsível, cansativa. (MORAN, 2004).

Na sociedade da imagem e do espetáculo e o quadro e o giz já não estão de acordo e já não

fazem sentido para os alunos da e-geração. A sala de aula tem de se abrir ao mundo exterior e

não fazer com que a escola seja um mundo à parte e desadequado. As novas tecnologias

revolucionaram o conhecimento e democratizaram-no e a educação ganhou novas dimensões.

Citando Almeida (2005):

É importante integrar as potencialidades das tecnologias de informação e comunicação nas atividades pedagógicas, de modo que favoreça a representação textual e hipertextual do pensamento do aluno, a seleção, a articulação e a troca de

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informações, bem como o registro sistemático de processos e respetivas produções, para que possa recuperá-las, refletir sobre elas, tomar decisões, efetuar as mudanças que se fizerem necessárias, estabelecer novas articulações com conhecimentos e desenvolver a espiral da aprendizagem.

A nova configuração colaborativa, construtivista e interacionista da educação evidenciou-se e

não podemos fugir a ela enquanto educadores. Só assim se pode promover uma educação

adequada e ajustada aos alunos do século XXI. Como Wesch realça “Let’s do whatever it

takes….by whatever means necessary”.

Assim, os professores têm uma grande responsabilidade: "serem os catalisadores da sociedade

do conhecimento” (HARGREAVES, 2003). É fundamental lançarmos mãos à obra, com o apelo

de Wesch, para mudarmos as práticas, repensarmos formas alternativas de educação na

sociedade da informação, do conhecimento e da aprendizagem. Vivemos numa sociedade

digital, exigente e competitiva, mas que nos dá a todos um manancial de oportunidades imenso.

A educação e a tecnologia caminham lado a lado e há essa preocupação de que o acesso à

aprendizagem deva ser cada vez mais acessível, no qual o elearning, fruto dessa mudança, pode

ter o papel de facilitar e ajudar a essa nova era educacional.

A importância e o grande contributo de Wesch é esse apelo à ação, pois a escola deve preparar

o futuro, até porque, “if we teach today as we taught yesterday, we rob our children of

tomorrow” (DEWEY, 1916).

Concluimos citando Wesch (2009):

Taken together, this new media environment demonstrates to us that the idea of learning as acquiring information is no longer a message we can afford to send to our students, and that we need to start redesigning our learning environments to address, leverage, and harness the new media environment now permeating our classrooms.

25 de Janeiro de 2015

Equipa Capa: Ana Melão, António Costa, Daniela Belo e Hélder Pereira

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REFERÊNCIAS

ALMEIDA, M. (2005). Prática e formação de professores na integração de mídias.

DEWEY, J. (1916). Democracy and Education. An introduction to the philosophy of education.

New York: Free Press.

HARGREAVES, A. (2003). O Ensino na Sociedade do Conhecimento: a educação na era da

insegurança. Colecção Currículo, Políticas e Práticas. Porto: Porto Editora.

MORAN, J. (2004). Educação e Tecnologias: Mudar para valer.

WESCH, M. (2009). From Knowledgable to Knowledge-able: Learning in New Media

Environments. Disponível em:

http://www.academiccommons.org/2014/09/09/from-knowledgable-to-

knowledge-able-learning-in-new-media-environments/