Recepção e Tradução de Dostoiévski No Brasil - Bruno Gomide

28
1 38コ Encontro Anual da Anpocs GT 28 – PENSAMENTO SOCIAL NO BRASIL Estado Novo, José Olympio e Dostoiévski: por que uma “coleção” de obras completas? Bruno B. Gomide (USP)

description

Bruno Gomide

Transcript of Recepção e Tradução de Dostoiévski No Brasil - Bruno Gomide

Page 1: Recepção e Tradução de Dostoiévski No Brasil - Bruno Gomide

1

38º Encontro Anual da Anpocs

GT 28 – PENSAMENTO SOCIAL NO BRASIL

Estado Novo, José Olympio e Dostoiévski: por que uma“coleção” de obras completas?

Bruno B. Gomide (USP)

Page 2: Recepção e Tradução de Dostoiévski No Brasil - Bruno Gomide

2

A literatura russa é um dos melhores termômetros das flutuações políticas da era

Vargas. Ela foi especialmente sensível às pressões do Estado Novo, um regime, afinal,

cuja ideologia lastreava-se, em grande medida, na recusa ao comunismo soviético. A

forma como os atores políticos e culturais se relacionaram com o “texto russo”,

mobilizando paixões pró e contra, permite traçar a história do anti-comunismo no Brasil

– história que já foi analisada por diversos ângulos, mas nunca exclusivamente pelo da

literatura russa.

Entre outras reviravoltas políticas e culturais, a década de trinta assistiu ao

fortalecimento do incipiente mercado editorial brasileiro. Uma das conseqüências mais

marcantes ocorreu justamente no universo da literatura russa. É a explosão de

publicações que Brito Broca chamou, com certo mau-humor, de “febre de eslavismo”,

quando se traduziu ficção russa em grande escala. O crítico, curiosamente, não menciona

que ele mesmo fez parte da tal febre, pois foi um dos tradutores da coleção “Biblioteca de

obras russas”, do editor imigrante Georges Selzoff.1 A grafia francesa do seu nome russo

(originalmente Zeltzóv) é típica da ambigüidade do período. O primeiro grande projeto

editorial dedicado aos russos propunha nada menos do que uma coleção inteira traduzida

a partir do original, mas, sintomaticamente, exibia um editor com nome afrancesado, no

velho estilo, e uma equipe que tinha que somar esforços para produzir um único

“tradutor” razoavelmente competente: consta que Selzoff fazia uma primeira versão

literal, e os jovens escritores brasileiros, estreantes nas letras em começos dos anos trinta,

providenciavam um segundo texto, com as qualidades literárias desejáveis. O arranjo,

variação brasileira da prática soviética de “podstrótchnik”, prenuncia, numa versão

tateante, o trabalho a seis mãos tecido pouco mais de trinta anos depois, que também

juntava um russo imigrante (Boris Schnaiderman) com dois escritores brasileiros

(Augusto e Haroldo de Campos). Eles traduziriam não prosa, mas poesia, sendo que essa

mudança de gênero, além da evidente diferença de qualidade das propostas envolvidas,

pode ser vista como um indicador expressivo do novo patamar alcançado pelos estudos

russos no Brasil.

Nos anos trinta, portanto, aparecem oficialmente as primeiras traduções diretas do

russo. Isso não significava um esmero maior com a atividade tradutória ou o incremento

do estudo da língua russa. Nesse período, talvez mais do que em qualquer outro, há um

1 Sobre a coleção de Selzoff, cf. Denise Bottman, “Georges Selzoff, uma crônica”. Tradução em revista, n.14, 2013/1.

Page 3: Recepção e Tradução de Dostoiévski No Brasil - Bruno Gomide

3

forte cruzamento entre política, imigração e tradução de textos russos. Aparecem

tradutores de sobrenomes eslavos (ou vagamente), esquivos para o pesquisador

contemporâneo: Elias Davidovitch, Ivan Petrovitch, J. Jobinsky, Raul Rizinsky. Na

enorme maioria dos comentários críticos então produzidos, a exigência de conhecimento

direto da língua russa e a qualidade das traduções aparecem desvinculadas, embora aqui e

ali percebamos uma tentativa de articular esses aspectos. É o que faz o intelectual

alagoano Valdemar Cavalcanti, para o qual a “Biblioteca de autores russos” continha

livros “traduzidos carinhosamente e editados com bom gosto”2:

“A iniciativa do sr. Georges Selzoff de traduzir para o português uma coleção de grandes obras de

autores russos é, sob todos os pontos de vista, merecedora do melhor acolhimento por parte dos intelectuais

brasileiros. Todos sabemos o quanto vinham sofrendo Dostoiewski e Gorki e Tolstoi com as ultimas

edições em português de suas obras. O russo editor percebeu o martírio infligido aos seus geniais

compatriotas mortos e resolveu fazer a Edição Cultura, a Biblioteca dos Autores Russos, traduzindo ele

mesmo as obras a editar”.3

Esse momento, que vai até meados da década, coincide com uma enorme leva de

publicações de editoras como a Unitas, Pax, Marisa e Calvino, muitas delas associadas a

intelectuais e gráficas de esquerda. No plano transnacional, tal fluxo de Dostoiévskis

misturados a Lênins se afina com as políticas internacionalistas soviéticas de difusão

literária, as viagens de estrangeiros à União Soviética e os alinhamentos de intelectuais a

associações de apoio e ajuda ao povo soviético. Com a Intentona Comunista e o começo

do Estado Novo, a publicação de obras russas no Brasil despenca, para retornar

dramaticamente após fins de 1942. O período que vai desse momento até o fim da guerra

e do Estado Novo talvez tenha sido o de maior presença do “texto russo” no Brasil,

incluindo-se aí o momento de furor editorial atual. Nunca se publicou tanta literatura

russa no Brasil quanto entre 1943 e 1945.4

O referido Valdemar Cavalcanti é um bom exemplo dessas idas e vindas da

literatura russa no Brasil entre o começo dos anos trinta e o fim do Estado Novo: no

2 Jornal de Alagoas, 11-5-32.3 Recorte de jornal, sem indicação de título (possivelmente, Novidade), 19-8-31.4 Uma excelente listagem pode ser encontrada em Denise Bottman: “Bibliografia russa traduzida no Brasil(1900-1950)”. Disponível em:https://www.academia.edu/7164591/Bibliografia_Russa_Traduzida_no_Brasil_1900-1950_(Essa pesquisa apresenta os livros publicados. Em jornais do mesmo período, o número de textos de

escritores russos seria centenas de vezes maior).

Page 4: Recepção e Tradução de Dostoiévski No Brasil - Bruno Gomide

4

primeiro período, ele escreve dezenas de artigos de jornal, saudando enfaticamente a

“febre de eslavismo” e iniciativas como a da Selzoff; em 1937-38 e nos dois anos

seguintes, resenha majoritariamente autores brasileiros (Bandeira, Freyre, Euclides da

Cunha, entre outros), aprecia iniciativas do Ministério da Educação, aborda temas

nacionais (problemas de educação, instrução pública, arqueologia, edições da Brasiliana

e outros livros da Companhia editora Nacional), elogia Alberto Torres, Azevedo Amaral

e considera que o livro de Anor Butler Maciel oferece “oportunos subsídios para o estudo

dos fundamentos políticos da Democracia Autoritária instaurada no Brasil pelo

presidente Vargas, no histórico 10 de novembro”.5 Julga, ademais, que o “(...) Estado

Novo enriquece a nacionalidade de uma seiva diferente e começa a inchar as suas raízes

no espírito coletivo”.6 Naquela altura, não há sinal dos escritores russos, que voltarão

apenas a partir do realinhamento político brasileiro, quando Cavalcanti traduzirá dois

deles: Dostoiévski, para uma coletânea de contos publicada por Rubem Braga e Anibal

Machado, e Ressurreição, de Tolstói, para a José Olympio, em 1945. Além das

traduções, escreverá artigos inflamados sobre “os atentados que no Brasil se verificaram

ao patrimônio cultural da Rússia” e reduziram obras de Dostoiévski e Tolstói a

“rebotalhos literários”, resultando na perseguição pública de textos como Cimento, de

Gladkóv, e O Volga desemboca no mar Cáspio, de Pilniák7 – basicamente, o tipo de livro

gerado pela “febre” de começos da década de trinta, resenhada efusivamente por ele e

engavetada após as turbulências de 1935-37.

A cereja no bolo dos esforços editoriais de então foi a coleção de obras completas

de Dostoiévski publicada pela José Olympio a partir de 1944, assinalando o ápice da

nova fase de contato com a ficção russa. Diga-se, porém, que mesmo nos momentos de

baixa, especificamente em 1937-1941, a literatura russa jamais deixou totalmente de ser

traduzida e comentada. Com uma ressalva importante: era dos escritores do século

dezenove que se falava, quase nunca dos “novos” soviéticos (ou da “moderna literatura

russa”, como se dizia), tidos em geral pela crítica como inferiores àqueles (uma

apreciação equivocada, que só seria desfeita a partir da atividade crítica de Boris

Schnaiderman) e muito mais visados pela repressão política. Dostoiévski, Tolstói e

5 CAVALCANTI, Valdemar, “Apontamentos literários” (Jornal não identificado, 13-2-38 – recorteexistente no acervo do escritor, depositado na Fundação Casa de Rui Barbosa).6 CAVALCANTI, Valdemar. “Retratos”. (Jornal não identificado, 16-2-38 - idem).7 CAVALCANTI, Valdemar. “Livros condenados”. Leitura. Rio de Janeiro, maio 1945.

Page 5: Recepção e Tradução de Dostoiévski No Brasil - Bruno Gomide

5

Górki, em primeiro lugar, e Turguêniev, Gógol e Púchkin, a seguir, eram portos seguros

que possibilitavam aos críticos prolongar a sua freqüentação da cultura russa e, ao

mesmo tempo, realizar um comentário sobre o Brasil, o mundo e a humanidade em

tempos árduos.

A ficção russa estava, portanto, vinculada à discussão estritamente política,

acompanhando o ritmo nervoso do tempo e sendo apropriada de modos radicalmente

diferentes para fins bastante práticos. Entretanto, podia ser tratada também através de

uma perspectiva universalizante, que a tornava cada vez mais canônica, “clássica” e

apolítica, ligada aos grandes temas eternos da condição humana.

Assim, não é de espantar a quantidade de ensaios que aparecem sobre temas

literários russos escritos por uma profusão de críticos das orientações as mais diversas.

Da longa lista a seguir, apenas parcial, alguns são bem conhecidos, outros mereceriam

maior reconhecimento pela dedicação que mostraram no estudo da literatura russa:

Rubem Braga, Otto Maria Carpeaux, Nelson Werneck Sodré, Álvaro Lins, Augusto

Meyer, Wilson Martins, Adônias Filho, Eloy Pontes, Joracy Camargo, Jamil Almansur

Haddad, Hélio Sodré, Edgard Cavalheiro, Modesto de Abreu, Anibal Bonavides, Moacir

Werneck de Castro, Galeão Coutinho, Adonias Filho, Temístocles Linhares, Ubaldo

Soares, D’Almeida Vítor, Otto Schneider, Emmanuel de Benningsen, Santana Dionysio,

Ruy Fernandes, Plácido Ribeiro, Francisco A. Magalhães Gomes e Antonio Candido. Há

ainda um grande número de textos de autores estrangeiros, repercutidos nas revistas

brasileiras: Pio Baroja, Stefan Zweig, Paulo Shostakovitch, Adolfo Casais Monteiro e

muitos outros.

Esses intelectuais mostram um nível de conhecimento muito variável sobre a

história intelectual e literária russa. Em meio a resenhas circunstanciais e artigos

entusiasmados, porém às vezes precários do ponto de vista da exatidão das informações,

há um número significativo de textos de qualidade. Seria um equívoco tratar essa crítica

como “menor”, superada pelo profissionalismo instaurado a partir de começos dos anos

sessenta com a fundação de cursos de literatura russa.8 É um ensaísmo diversificado e,

em seus melhores momentos, desconfiado em relação aos lugares-comuns da crítica

destinada a temas russos, aos chavões que campeavam àquela altura (e que ainda grassam

na imprensa brasileira). À diferença da manifestação isolada de um José Carlos Junior no

8 Para uma discussão instigante sobre esse tema, ver: ROCHA, João Cezar de Castro, Crítica literária: embusca do tempo perdido? Chapecó, Argos, 2011.

Page 6: Recepção e Tradução de Dostoiévski No Brasil - Bruno Gomide

6

fim do século dezenove,9 ampliava-se o clamor por novas traduções e pelo conhecimento

mais aprofundado da língua russa – a ponto de Antonio Candido, de modo irônico, ter se

desdobrado em um pseudônimo (“Fabricio Antunes”, usado também por Ruy Coelho),

que arrogava saber justamente o idioma de Maiakóvski.10

Em meio a tanto entusiasmo pela literatura russa, por que justamente Dostoiévski

foi o escolhido pela José Olympio?

Se os escritores russos foram, coletivamente, objeto de atenção de críticos e

editores, Dostoiévski era indubitavelmente um dos carros-chefe do processo de recepção

da literatura russa no Brasil. Foi alvo do entusiasmo de escritores como Lima Barreto,

Graciliano Ramos e Nelson Rodrigues, e de uma multidão de intelectuais e leitores de

todos os tipos, desde a descoberta internacional do romance russo na década de 1880.

Um bom exemplo da centralidade de Dostoiévski nos debates literários pode ser

visto na troca de correspondência entre Jayme Adour da Câmara e Lima Barreto. A

estréia do primeiro na vida literária adveio associada justamente ao destino dos escritores

russos no Brasil e do mais “russo” dos nossos escritores. Isso acontece em conhecida

carta de Lima Barreto, datada de julho de 1919, em que o escritor carioca dispensa o seu

famoso conselho ao “jovem autor”, o próprio Adour da Câmara: “Leia sempre os russos:

Dostoiévski, Tolstoi, Turguêneff, um pouco de Górki; mas, sobretudo, o Dostoiévski da

Casa dos Mortos e Crime e Castigo”.11 O iniciante participava, assim, de um dos

momentos-chave das relações entre Lima Barreto e a literatura russa. Naquela altura,

leitor dos russos há pelo menos duas décadas, Lima podia dar caráter de síntese às suas

opiniões sobre a tradição literária russa, relativamente nova no plano internacional, mas

já desfrutando de um peso decisivo. É de se supor que o conselho tenha impressionado o

jovem Adour da Câmara, então com pouco mais de vinte anos.

O escritor sugerido é “sobretudo” o Dostoiévski dos romances mencionados

porque Lima movia-se no terreno crítico fornecido pela crítica francesa de fins do século

dezenove, responsável pela primeira onda significativa de difusão da literatura russa.

9 Cf. GOMIDE, Bruno, Da estepe à caatinga: o romance russo no Brasil (1887-1936). São Paulo, Edusp,2011.10 ANTUNES, Fabrício. “A propósito de Maiakovski”. Clima, n. 12. São Paulo, abr. 1943. Este parágrafo eo anterior utilizam comentários apresentados, em forma modificada, em: GOMIDE, Bruno. “Os estudosrussos no Brasil: momentos decisivos”. Tempo Brasileiro, n. 193, abr/jun. 2013..11 Lima Barreto, Um Longo Sonho do Futuro, 1993, p. 280. Este parágrafo e os três seguintes utilizamcomentários apresentados, em forma modificada, em: GOMIDE, Bruno, “Jayme Adour da Camara, umabibliografia russa e uma carta tolstoiana”. Revista Brasileira, 2014 (no prelo).

Page 7: Recepção e Tradução de Dostoiévski No Brasil - Bruno Gomide

7

Para Lima Barretto (e, por extensão, para Adour da Câmara e a maior parte da

intelligentzia russófila latino-americana), tão importante quanto o “niilismo” russo ou a

revolução de 1917, que palpitam nas entrelinhas desse e de outros comentários do

escritor brasileiro, foi o referencial crítico fornecido por obras como O romance russo, de

Melchior de Vogüé, um texto que promovia uma pugna contra o naturalismo francês a

partir de uma matriz ensaística de feitio religioso (e, especificamente, católico).12 Vogüé

sugeria aqueles dois romances como os melhores de Dostoiévski, às expensas de obras

como Os irmãos Karamázov, nebulosas no pensamento e desconjuntadas na arte, no

entender do ensaísta francês. Note-se, porém, que Lima Barreto realizava uma

apropriação insubordinada da obra de Vogüé, parafraseando-a, ao repassar a sugestão

daqueles dois romances para o seu jovem missivista, ao mesmo tempo em que a

confrontava, elevando ao ponto máximo do seu conselho justamente o escritor que, para

Vogüé, não era o apogeu da ficção russa.

Chama a atenção, no conselho dado por Lima, a quantidade moderada de Górki a

ser apropriada, ele que já era um poderoso ícone da esquerda internacional, lido via de

regra em edições baratas: as memórias de diversos escritores brasileiros costumam

localizar o primeiro contato com Górki em livros semi-enterrados em porões e desvãos,

nos bastidores do mundo do trabalho e da pobreza. Era, como se sabe, um autor

apreciadíssimo em círculos anarquistas e socialistas. Portanto, muito mais palatável caso

o objetivo da recomendação epistolar fosse essencialmente político. Desse ponto de vista,

Górki era, em teoria, o antípoda de Dostoiévski, politicamente duvidoso e ideólogo

“perigoso”, porém de apelo muito mais universal no campo da cultura, capaz de atingir

grupos literários diversos e até antagônicos (esse ponto será, como veremos, um

elemento decisivo na apropriação brasileira de Dostoiévski nas décadas seguintes, pelo

menos até o final da tensão estadonovista).

Hoje parece simples, portanto, deduzir por que justamente o autor de Crime e

castigo foi o escolhido para capitanear uma proposta de peso, feita pela emblemática

livraria-editora da Rua do Ouvidor. A coleção de obras completas de Dostoiévski lançada

pela José Olympio a partir de meados dos anos quarenta era, até então, a maior iniciativa

do gênero feita por uma editora de respeito em relação a um autor estrangeiro. Até hoje,

12 Cf. GOMIDE, Bruno, op. cit, 2011, pp. 79-123.

Page 8: Recepção e Tradução de Dostoiévski No Brasil - Bruno Gomide

8

com sua brilhante mescla de traduções, textos críticos e ilustrações, é um dos pontos altos

do nosso mercado editorial, e não apenas daquele relacionado à literatura russa.

Na virada da década de trinta para a de quarenta, quando o projeto começa a se

desenhar, a resposta à pergunta – por que Dostoiévski? - também pareceria natural. Ele

estava em todos os cantos da vida literária nacional, solidamente assentado como um dos

eixos da modernidade literária.

No Brasil, estava tão ligado ao nervo da vida cultural, que muita gente começa a

escrever reclamando da onipresença do escritor e manifestando impaciência com textos

escritos de modo dostoievskiano. Ainda em meados dos anos vinte, referindo-se ao

surrealismo, Mário de Andrade afirmava: “Os franceses estão fazendo do subconsciente

o que fizeram da psicologia de Dostoiewsky quando começaram a usar uma formula do

horror à russa, outra do abismo psicológico, outra da simultaneidade dos sentimentos

contraditórios”.13 Mário de Andrade fez, em outras duas ocasiões, considerações

similares. Em 1936, lamentou a “moda Dostoiévski” e a “moda russa” postas em

circulação pela França.14 Na segunda edição do Compêndio de História da Música,

aludiu à “moda russa que ridiculamente tomou o mundo desde a última década do século

passado”.15 Em 1943, Rubem Braga, resenhando uma edição do Diário de um escritor

lançada pela Vecchi, afirmava que “Proust e Dostoiévski têm exercido a pior influência

na literatura brasileira, o que não é culpa de nenhum dos dois”.16 E, comentando um livro

da escritora argentina Estela Canto, em novembro de 1945, Moacir Werneck Castro

elogiava o fato de ela ter fugido da “tentação da sombra, tão comum entre os nossos sub-

dostoiévskis tropicais, que ocultam a lamentável pobreza de estrutura de seus romances

lançando sobre a história um véu espesso de sombra, de silêncios e de mistérios

inenarráveis”.17

O problema, claro, não era o escritor russo, mas seus imitadores e a generalização

de um “ambiente” associado a ele. Nos jornais literários, há notícias sobre grandes livros

preparados sobre Dostoiévski: escritores comentam, em entrevistas a Vamos Ler!, à

Revista do Globo, a Dom Casmurro, que estão reunindo anotações para a obra

13 ANDRADE, Mario de. Resenha da revista “Estética n. 3”, ago. 1925. A Revista, ano I, n. 2, BeloHorizonte, ago. 1925.14 ANDRADE, Mario de. “Decadência da Influência Francesa no Brasil”, In: Vida literária. São Paulo,Edusp-Hucitec, 1993.15 Andrade, 1933, Compêndio de História da Música, 1933, 2a ed., pp. 144 - 145.16 Braga. BRAGA, Rubem, “O diário de Dostoiévski”, Leitura, n. 5, 1943, p. 16.17 CASTRO, Moacir Werneck de. “O muro de mármore”. Leitura. Rio de Janeiro, nov. 1945, p. 41.

Page 9: Recepção e Tradução de Dostoiévski No Brasil - Bruno Gomide

9

interpretativa decisiva, adequada ao grande papel destinado a Dostoiévski, criador de

pessoas e ficções da nossa era.18 Uma delas fora projetada pelo escritor gaúcho Athos

Damasceno Vieira; outra era a história da literatura russa prometida por Otto Maria

Carpeaux, justamente para a José Olympio. Nenhum desses ensaios foi publicado. A José

Olympio, a seu modo, realizou o tão esperado livro-magno dostoievskiano. Em meio a

um mar de artigos e traduções dispersas, relativos à literatura, à história e à política

russas, ela sistematizou as apostas e ansiedades da época.

O empreendimento da José Olympio é certamente um ponto alto da longa duração

da recepção brasileira de Dostoiévski. Mas é também um produto firmemente enraizado

nas tensões culturais do Estado Novo, pelo menos quanto ao seu nascimento, pois a

coleção prosseguirá depois do término daquele momento autoritário e chegará, acrescida

de novas traduções, quase no seguinte.

Os debates em torno da gestação da coleção não são muito claros, mas há indícios

de que ela começa a ganhar contornos por volta de 1941, ainda no período de retração

editorial da literatura russa. Rachel de Queiroz parece ter desempenhado papel

importante como incentivadora do projeto nesse primeiro impulso. A imprensa passa a

noticiar a coleção timidamente em fins de 1943, ganhando fôlego no primeiro semestre

de 1944. Os comentários iniciais mostram indefinições no escopo da coleção. Além de

títulos diferentes para certas obras, alguns anúncios incluem O diário de um escritor

entre os volumes futuros, portanto conferindo mais veracidade à completude prometida

no título da coleção. A obra, em quatro tomos, seria prefaciada por Álvaro Lins, crítico

que escreveu ensaios excelentes sobre os russos no Correio da manhã, em diálogo com o

recém-chegado Otto Maria Carpeaux. Lins é o grande nome ensaístico que ficou ausente

do desenho final da coleção da José Olympio, designado para uma obra que, até hoje, é

uma das maiores lacunas do mercado editorial brasileiro.

Um anúncio de fevereiro de 1944 publicado na seção “O que leremos em breve”

da revista Cultura Política (um periódico fundamental do Estado Novo) é bem

característico da expectativa em torno das traduções:

“A livraria José Olympio promete para breve a tradução das obras completas de Dostoïewski, feita

através dos melhores textos até hoje conhecidos, baseados nas edições oficiais russas de 1926 a 1929.

18 Para um panorama do ambiente dostoievskiano dos anos trinta, ver GOMIDE, Bruno. Op. cit, 2011, pp.387-467.

Page 10: Recepção e Tradução de Dostoiévski No Brasil - Bruno Gomide

10

Essas edições foram feitas após importantíssimos estudos sobre a obra de Dostoïewski a partir de 1920, por

determinação do governo russo. Os volumes serão ilustrados por Santa Rosa, a bico de pena, e terão

xilografias de Alex de Leskoschek e Osvaldo Goeldi. As traduções foram confiadas a escritores de mérito,

profundos conhecedores, por sua vez, dos romances do genial ficcionista, como Raquel de Queirós, Lúcio

Cardoso, Rosário Fusco, Costa Neves, José Geraldo Vieira”.

Brito Broca, cujo importante papel de comentador da literatura russa (inclusive na

coleção da José Olympio) ainda está por ser estudado, e que já vimos atuando na coleção

de Selzoff, era um dos colaboradores de Cultura política e foi responsável por vários

desses informes.19

Os livros são lançados a partir de julho de 1944, com O eterno marido. Logo

depois vêm O jogador e Humilhados e ofendidos, em setembro e novembro,

respectivamente, do mesmo ano. Desprovida dos grandes romances da maturidade com

os quais Dostoiévski é classicamente associado, pode parecer uma seqüência “fraca” para

abrir os trabalhos de um projeto editorial dessa monta e envolto em tamanha expectativa.

O primeiro livro de apelo ubíquo viria apenas no segundo semestre de 1945: as

Recordações da casa dos mortos, texto-chave na recepção brasileira de Dostoiévski,

encerravam o primeiro fluxo de traduções e, ao mesmo tempo, o próprio Estado Novo.20

Os livros seguintes saem com intervalos maiores, em 1947 e 1949. Depois haverá uma

nova leva no começo dos anos cinqüenta e diversos rearranjos ao longo dessa década e da

seguinte, já com a participação de Boris Schnaiderman a partir de 1960, substituindo

algumas das traduções originais, inclusive a de O eterno marido, o livro de estreia. Boa

parte das obras chegará à quarta ou à quinta edição .

Pode-se especular que a ausência de romances paradigmáticos como Crime e

castigo ou Os irmãos Karamázov na primeira parte do projeto se deve a questões

conjunturais ou ao trabalho maior requerido para a preparação desses textos (há

indicações de que a tradução do primeiro já vinha sendo feita desde o começo dos anos

quarenta). Mas é possível também supor que a abertura com obras “laterais” tenha

19 Brito Broca, além de ter sido um dos colaboradores de Georges Selzoff, escreveu artigos pioneiros sobrea recepção da literatura russa no Brasil e, em fins da década de 1940, traduziu O romance russo, deEugène-Melchior de Vogüé, para a editora A Noite.20 Um fator fundamental para o sucesso da coleção era a sua junção de traduções, aparatos críticos eilustrações: O eterno marido tinha prefácio e tradução de Costa Neves e ilustrações de Axel Leskoschek. Ojogador repetia os mesmos nomes. Humilhados e ofendidos trazia tradução de Raquel de Queiroz, prefáciode Otto Maria Carpeaux e ilustrações de Osvaldo Goeldi. As Recordações da casa dos mortos tinham omesmo tradutor e ilustrador do anterior, e prefácio de Brito Broca.

Page 11: Recepção e Tradução de Dostoiévski No Brasil - Bruno Gomide

11

relação com a perspectiva modernista de releitura de Dostoiévski. O eterno marido, por

exemplo, era uma narrativa central para a interpretação de André Gide, um dos

fomentadores da nova série de traduções francesas dos anos vinte, lastreadas nas

descobertas arquivísticas e nas propostas editoriais russas pós-revolução.21 Elas

ganharam equivalentes editoriais mundo afora, munidas de traduções e aparatos críticos

que reviam e contestavam as versões herdadas do fim de século. A coleção da José

Olympio era a variante brasileira desse fenômeno.

A escolha de um russo para protagonizar a primeira coleção dedicada a um autor

estrangeiro está também estreitamente ligada aos debates sobre a tradução, que se

intensificavam no Brasil ao mesmo passo em que o nosso mercado literário e editorial

encorpava. De todas as grandes tradições literárias, a russa era a mais problemática no

quesito tradução, e a única que não dispunha de traduções diretas, salvo em tentativas

pontuais, como a mencionada coleção de autores russos de Georges Selzoff.22 Mesmo

com problemas de toda natureza, e em registros variadíssimos, era possível encontrar

traduções de obras inglesas, espanholas, francesas e alemãs feitas a partir do original, às

vezes produzidas por escritores brasileiros talentosos. A situação da literatura russa era

muito diferente, e a importância que ela adquirira estava em proporção inversa ao que

havia por aqui no mercado tradutório. Há inúmeros artigos na imprensa da época

reclamando da má qualidade das traduções brasileiras em geral, sendo que os

comentários sobre as traduções de obras russas eram especialmente severos –

sintomaticamente, a palavra “mutilação”, usada comumente para as traduções brasileiras

do russo, se tornou também um termo comum para a censura estadonovista a livros e

idéias.

Há diversas manifestações sobre a necessidade de melhoria das traduções: por

exemplo, o artigo de Gilberto Miranda, que fala da importância da melhoria das

condições de trabalho dos tradutores. Ou a opinião apresentada na revista Cultura

Política, segundo a qual era preciso tomar cuidado com “tanta pachucada estrangeira em

apressadas traduções” que “inundavam” o “mercado livreiro”. A exigência de um

tratamento mais profissional em relação à literatura russa transparece na opinião de

Rubem Braga, que criticava as “péssimas traduções” de Dostoiévski disponíveis. Braga

21 GIDE, André. Dostoievski. Paris, Plon, 1923.22 Sobre a coleção de Selzoff, conferir a pesquisa de Denise Bottmann disponível em:http://naogostodeplagio.blogspot.com.br/search/label/georges%20selzoff (acesso verificado em 11 de maiode 2013).

Page 12: Recepção e Tradução de Dostoiévski No Brasil - Bruno Gomide

12

tentava tomar providências para remediar a situação: ele organizava, naquela altura, um

volume de contos russos que, na qualidade das ilustrações e na diversidade dos tradutores

e críticos, funcionava como uma versão em escala menor do projeto de obras de

Dostoiévski editadas pela José Olympio. Na mesma linha, vimos que Valdemar

Cavalcanti falava de Dostoiévski e Tolstói “desfigurados” pelas “más traduções”. No seu

entender, era uma mutilação similar à cometida pela perseguição política estadonovista

aos livros russos. Carlos Lacerda, então crítico literário, comentava Górki e as “horríveis

traduções que editores bem intencionados nos serviam”. Moacir Werneck de Castro, por

sua vez, reconhecia as limitações da sua própria tradução de um poema de Maiakóvski,

feita a partir do francês. E, por fim, a seção “Movimento literário” de Cultura política

criticava as “traduções estropiadas, tão freqüentes em nosso mercado livreiro”. Oferecia

como alternativa a tradução de Rosário Fusco (um dos que trabalhará na coleção da José

Olympio) para a biografia de Dostoiévski escrita por Henri Troyat.23

As traduções da José Olympio eram indiretas, mas, nas condições da época, eram

o que de melhor podia ser feito. Quase todos os artigos escritos sobre a coleção

ressaltaram o papel das novas traduções. Veja-se, por exemplo, esta, de Lucio Cardoso,

que não participou diretamente da coleção, como prefaciador ou tradutor, mas que é uma

das personalidades do mundo literário que certamente podem ser associadas ao projeto

como fomentadores do “ambiente” dostoievskiano. Após saudar as iniciativas de obras

completas de Edgar Allan Poe e de Balzac, ambas da Globo, ele afirma:

“A livraria José Olympio, que foi a primeira entre nós a iniciar a campanha em prol do

desdenhado autor nacional, campanha que vem sustentando com inexcedível brilho, ainda nitidamente

manifesto há pouco com a estréia de Fernando Sabino e Xavier Placer, não podia ficar atrás nesse

movimento editorial. Assim, já depois de iniciada a coleção dos belíssimos romances de Mazo de La

Roche e com a “Forsyte Saga” no prelo, acha-se agora diante de um empreendimento que honraria

qualquer casa editora – em qualquer parte do mundo: o lançamento das obras completas de Dostoiewski.

Não estamos em face de uma fria tentativa visando lucros imediatos, mas ante um empreendimento

honesto, perfeito, e de responsabilidade perfeitamente nítida. As traduções até agora aparecidas – O eterno

marido e Um jogador – foram entregues a Costa Neves, que tem do “metier” uma larga experiência aliada

23MIRANDA, Gilberto, “Escritores e livros – traduções brasileiras”. Cultura Política, n. 47, dez. 44.BRAGA, Rubem, “O diário de Dostoiévski”. Leitura, n. 5. Rio de Janeiro, abr. 1943; CAVALCANTI,Valdemar, “Livros condenados”. Leitura. Rio de Janeiro, maio 1945; LACERDA, Carlos, “Destinaçãosocial do romance brasileiro”. Revista acadêmica, n. 66. Rio de Janeiro, nov. 1945; CASTRO, MoacirWerneck de, “Numa flauta de vértebra”. Revista acadêmica, n. 62. Rio de Janeiro, nov. 1942; “Movimentoliterário”, Cultura Política, n. 35, dez. 1943.

Page 13: Recepção e Tradução de Dostoiévski No Brasil - Bruno Gomide

13

a um bom gosto indiscutível e a um perfeito senso do que significa a palavra traduzir. Pois traduzir não é

como imagina o melancólico e paquidérmico Sr. Guilherme de Figueiredo, uma exibição de pieguices

gramaticais, e sim uma compreensão viva e forte do texto a transpor, numa linguagem em que, se às vezes

os pronomes não estão muito certos, vale no entanto como uma perfeita transposição do pensamento do

autor”.24

Outra maneira de entendermos a coleção da José Olympio é como o produto

“russo” mais bem acabado no contexto pós-Stalingrado, em que a censura estadonovista

aos temas russos se flexibilizou consideravelmente. As manchetes dos jornais noticiavam

as vitórias do nosso novo aliado, o Exército Vermelho. As páginas dos cadernos culturais

espelhavam as novas dos campos de batalha e traziam anúncios apregoando a triunfante

procedência soviética das edições que serviam de base ao projeto brasileiro. Muitas vezes

essas notas vinham com indisfarçável sentimento de desforra por parte de uma esquerda

até então amordaçada, associando as novas traduções de literatura russa aos feitos

militares soviéticos, defensor, conforme rezava o lugar-comum da época, da cultura,

contra a barbárie nazi-fascista.

Não é por acaso, nesse sentido, que o lançamento das quatro obras iniciais da José

Olympio coincide com a reta final da ditadura varguista. No mesmo contexto e com a

mesma velocidade, há um volume exponencialmente crescente de publicação de obras

russas feitas por outras editoras: Globo, Panamericana, Leitura e a maior concorrente da

José Olympio nessa seara, a Vecchi. No campo dostoievskiano, ela editará dois livros de

peso, o Diário de um escritor (tradução de Frederico dos Reys Coutinho) e Os irmãos

Karamázov, na tradução de Boris Solomônov, pseudônimo de Boris Schnaiderman, que

estreava no ramo da tradução – para nunca mais voltar a uma empreitada tão caudalosa.

Vale observar que a própria José Olympio, naquele período agitado, lançava outros

autores russos, de Berdiáev a Turguêniev.

Interpretar a publicação de Dostoiévski como uma forma de resistência política

(considerável, dada a dimensão do projeto) ao autoritarismo varguista é bastante

razoável. Mas a coleção não se resume a isso. Se a única questão em pauta fosse a

contestação ao regime, haveria outros escritores russos disponíveis no mercado, alguns

até mais adequados ao propósito (no limite, qualquer um serviria). Tolstói também era

24 Lucio Cardoso. “Uma edição de Dostoiewski”. A manhã, n. 00921. Rio de Janeiro, 10 ago. 1944.

Page 14: Recepção e Tradução de Dostoiévski No Brasil - Bruno Gomide

14

muito traduzido, e sua ficção constava de todas as listas do tipo “meus romances

preferidos”, sempre ocupando as primeiras posições. A tradução de Guerra e paz, de

Gustavo Nonnenberg, para a editora Globo, em 1942, constituiu um marco da nova etapa

de publicação dos russos, prefigurando a virada política e simbólica caracterizada por

Stalingrado. Tolstói possuía uma imagem de contestador político muito mais acentuada

do que Dostoiévski, imagem consolidada pelo fato de estar vivo e (muito) presente na

imprensa mundial em paralelo ao “boom” do romance russo de fins do século dezenove.

Já Górki foi possivelmente o escritor mais citado e comentado da imprensa brasileira dos

anos trinta e quarenta, o que se deve, em parte, ao fato de estar atuante até 1936,

representando a tradição da literatura russa continuada em pleno período contemporâneo.

E era, evidentemente, um ícone da esquerda política e cultural internacional, em contraste

com o “perigoso” (aos olhos de certos setores dogmáticos soviéticos) Dostoiévski.

Tolstói e Górki foram tão publicados, em livro, quanto Dostoiévski. Mas, em

nenhum momento, encontramos esboços, anúncios ou o desejo de uma coleção voltada a

eles.

Apesar da presença constante nas livrarias e nas páginas de jornais e revistas,

Tolstói e Górki eram nomes menos ecumênicos do que Dostoiévski. Tolstói não passara,

no Brasil, pelo mesmo processo de ressignificação modernista do seu rival. Seu nome,

correta ou incorretamente, estava mais ancorado no universo dos “clássicos” do século

dezenove. A crítica que lidava com ele era muito mais pobre e anedótica do que a relativa

a Dostoiévski. Praticamente não há, no período, ensaios críticos sobre Tolstói do mesmo

quilate daqueles que prefaciam os volumes da José Olympio. Górki e seus “vagabundos”,

por sua vez, desfrutavam de grande prestígio, mas era uma reputação que passava por

idas e vindas, e, no geral, não há esforços no sentido de se apresentar as especificidades

literárias de sua obra, que somente serão reveladas na crítica de Boris Schnaiderman,uma

década depois.25 Púchkin, Gógol, Turguêniev e outros (com Tchékhov começando a

despontar) localizavam-se em um nicho subsidiário, sempre à sombra dos supracitados.

A escolha precisamente de Dostoiévski envolve uma mistura de resistência política,

acomodação e simbiose dentro da cultura brasileira. Remete a um universo complexo,

ligado às ambigüidades da posição da própria José Olympio no cenário intelectual do

país. É, em outras palavras, um projeto tanto de resistência quanto de conciliação.

25 Cf. GOMIDE, Boris. “Boris Schnaiderman: questões de tradução nas páginas de jornal”. EstudosAvançados, vol. 26, n. 76, 2012.

Page 15: Recepção e Tradução de Dostoiévski No Brasil - Bruno Gomide

15

Dostoiévski era o único nome consensual à esquerda e à direita da vida literária

brasileira. Um artigo de Evaristo de Moraes Filho publicado na Revista do Brasil em

agosto de 1939 tenta definir essa posição:

“Não há por onde fugir, Dostoiewski foi um precursor genial de todo esse movimento literário

contemporâneo. (...) Dostoiewski é o exemplo típico do realista dos dois lados: interpreta, com igual

mestria e genialidade, a alma humana e a socidade, não tira o indivíduo de seu tempo e de seu ambiente,

não separa a cabeça que pensa dos pés que andam pelo chão”.26

Escritores de todas as orientações reivindicavam filiação a Dostoiévski. Nesse

ponto, há uma correlação exata com a pauta mais profunda da editora José Olympio, que

acolhia correntes distintas em sua “casa”. Dostoiévski era o que podia atender melhor aos

seus habitantes, enfeixado em uma coleção que permitia abranger as contradições da vida

intelectual brasileira, “sociais” e “introspectivos”, romancistas do Nordeste e católicos,

comunistas e presidentes. Ele era o nome de consenso para Lucio Cardoso, Raquel de

Queiroz, Octavio de Faria, Tristão de Athayde, Rubem Braga, Brito Broca e tantos outros

(a convergência em torno de Dostoiévski, aliás, pode ser um bom ponto de investigação

para uma análise futura que busque esmaecer fronteiras aparentemente definidas entre os

grupos distintos de ficcionistas no Brasil de fins dos anos trinta). Em seu discurso sobre

Púchkin, de 1880, Dostoiévski pretendia superar as tensões da intelligentsia russa,

oferecendo o poeta como um nexo acima das disputas. No longínquo país sul-americano,

pouco mais de meio século depois, ele mesmo logrou obter um efeito semelhante entre os

intelectuais brasileiros.27

O que nos leva a uma última hipótese para o fato de justamente ele ter sido, entre

todos os escritores (e não apenas os russos), escolhido para se transformar em uma

coleção na José Olympio, editora especializada também em textos de interpretação do

Brasil. Não é o caso de apresentar aqui uma listagem extensa de livros publicados na

conhecida coleção de “Documentos brasileiros”, a partir de 1936, e que lançará cerca de

cinqüenta volumes até o fim do Estado Novo, complementados por outros tantos até o

término do decênio seguinte. Cumpre apenas observar inicialmente que, ao lado de textos

26 FILHO, Evaristo de Moraes. “O realismo dos dois lados”. Revista do Brasil, ano II, 3a fase, n. 14. SãoPaulo, ago. 1939.27 A primeira tradução direta do ensaio de Dostoiévski sobre Púchkin está em Antologia do pensamentocrítico russo. (Org: Bruno B. Gomide). São Paulo, Editora 34, 2013.

Page 16: Recepção e Tradução de Dostoiévski No Brasil - Bruno Gomide

16

mais “históricos”, “sociológicos” e “memorialísticos”, de Sérgio Buarque de Holanda,

Oliveira Lima, Gilberto Freyre e outros, encontramos muitos textos de crítica literária,

por autores como Olívio Montenegro, Elói Pontes e Nelson Werneck Sodré, autores que

escreverão artigos críticos sobre Dostoiévski nos anos seguintes.

(É preciso reiterar que a proposta de uma coleção de obras completas não era

exclusividade da José Olympio. Como demonstra Gustavo Sorá, tal tendência vinha se

desenhando em outras editoras no começo da década de 1940 e foi um “(...) fator de

aceleração da concorrência, uma palavra de ordem das escolhas rentáveis, e um

dinamizador dos processos de diferenciação e distinção entre públicos e editoras”.28 No

que diz respeito a autores brasileiros, a própria José Olympio preparara a coleção de

obras de Humberto de Campos; a Jackson, as obras de Afrânio Peixoto, a Martins, as de

Jorge Amado etc).

Porém, a conexão entre Dostoiévski, sociologia e estética, embora tenha

encontrado uma articulação decisiva na virada dos anos trinta para os quarenta no

imaginário crítico brasileiro, e tenha ganhado uma feição visual e tradutória robusta na

coleção da José Olympio, não é uma invenção daquele momento. Ela remete a uma

maneira particularmente brasileira de ler Dostoiévski que remonta aos primeiros

momentos de contato com ele, em fins do século dezenove. Vale observar, nesse sentido,

que a outra grande coleção idealizada no período estadonovista, rival em ambição da

elaborada pela editora carioca, reproduzia a dicotomia presente na primeira recepção

brasileira entre uma nova forma “russa” e a tradição francesa: referimo-nos, claro, à

Comédia Humana, de Balzac, organizada por Paulo Rónai para a editora Globo.

Desde os primeiros artigos publicados por aqui, Dostoiévski é apresentado como

a ligação mais poderosa, no âmbito da cultura russa, entre literatura e vida nacional. Sua

inovação no campo da ficção seria, por esse ângulo, indissociável do seu papel de, como

rezava o clichê, o “mais russo de todos os russos”, de intérprete das mazelas e dos

tormentos da formação nacional de seu país. É necessário recuar no tempo para uma

melhor compreensão desse processo – por exemplo, para o artigo de Clóvis Beviláqua,

“Naturalismo russo – Dostoievsky”, o primeiro publicado sobre o autor no Brasil.29

28 SORÁ, Gustavo. Brasilianas: José Olympio e a gênese do mercado editorial brasileiro. São Paulo,Edusp, 2010, p. 390.29 Retomo a seguir, nas próximas 2 páginas, considerações feitas, de forma ligeiramente modificada, em:GOMIDE, Bruno, op. cit, 2011, pp. 123-170.

Page 17: Recepção e Tradução de Dostoiévski No Brasil - Bruno Gomide

17

Beviláqua se apóia em uma série de críticos franceses para sua interpretação de

Dostoiévski, notadamente no ensaio fundamental O romance russo, do visconde Eugène-

Melchior de Vogüé. Ao reproduzir as teses do escritor francês sobre as semelhanças e

diferenças entre o realismo russo e francês, e discutir a sua aplicação para o caso

brasileiro, Bevilaqua introduz um aspecto que não está presente no livro resenhado (ou

está, mas apenas parcialmente): o surgimento súbito do romance na Rússia, caso inédito

de uma literatura nacional forte que não apenas brotara em um país até então tido como

“sem-literatura”, como também se tornara rapidamente internacional, a despeito da

barreira lingüística e dos preconceitos existentes contra a “barbárie” russa:

“A francofobia dominante ainda não me pôs de cama. Apenas queria e quero pedir apoio a um

contraste. Seja ou não exato que a França tem o dever hereditário de tudo conhecer do mundo para melhor

guiar o mundo, o certo é que nós, os brasileiros, necessitamos de conhecer o que fazem os mestres para

continuarmos a aprender. (...)

Tenhamos fé. Um dia deixaremos também os nossos mestres de hoje, e iremos pensar por conta

própria. Como a Rússia, cuja emancipação literária data apenas de cinqüenta anos, poderemos emancipar-

nos intelectualmente à força de gênio e de estudo”30.

Do ponto de vista periférico, a difusão do romance russo modificava o sistema

literário mundial e abalava hierarquias. Beviláqua, embora apreciador da novidade

literária russa, manifesta, contudo, uma posição ambígua. O alinhamento com a cultura

francesa, declarado na abertura, será retomado ao final do ensaio, quando, após percorrer

Dostoiévski, e tendo diante de si os dois modelos, manifesta-se em prol de leve

russificação dos franceses, e não de afrancesamento dos russos.

O tema da dissolução do romantismo imitativo e sua substituição por uma arte

autenticamente nacional, por meio da adoção de um naturalismo não-ortodoxo,

transparece na estruturação dos capítulos de Épocas e Individualidades, coletânea de

ensaios publicada por Bevilaqua em 1889 e que traz o texto sobre Dostoiévski

(originalmente impresso em um jornal do Ceará, no ano anterior):

I – Esboço sintético do movimento romântico brasileiro.

II – O teatro brasileiro e as condições de sua existência.

30 Idem, p. 142.

Page 18: Recepção e Tradução de Dostoiévski No Brasil - Bruno Gomide

18

III – Silvio Romero e a história da literatura brasileira.

IV – Aluisio Azevedo e a dissolução romântica.

V – Julio Soury e sua interpretação patológica do caráter de Jesus.

VI – Naturalismo russo – Dostoievsky.

Temos, progressivamente, a derrocada das antigas idéias: dois painéis históricos

do momento romântico em vias de superação; dois capítulos sobre nomes novos (Romero

e Azevedo), atores privilegiados da desmontagem do romantismo; um capítulo

intermediário, que, com a figura de Jesus, reintroduz a religião, mas sob crivo da ciência

e do método histórico; e a culminação em Dostoiévski, união moderna de nacionalidade,

naturalismo e idealismo – em suma, da estética mais avançada e do compromisso com o

país. Vale observar que o romancista russo é o único autor de ficção estrangeiro que

merece um capítulo no livro.

Esse fio condutor será retomado ao longo das décadas seguintes sob ângulos

diferentes e complementares: às vezes, na forma do debate sobre os paralelos históricos,

sociais e culturais entre a Rússia e o Brasil, na linha de Gilberto Freyre Everardo

Backheuser e outros; ou podia ser a discussão, correlata à anterior, e forte nos setores de

esquerda, sobre as possibilidades de implantação do comunismo no Brasil; podia ocorrer

também pela via da sensibilidade, de uma espécie de sentimento íntimo que mesclava as

misérias existenciais e sociais no mesmo universo semântico e fazia com que, nas

palavras de Gilberto Amado, a leitura de Dostoiévski, no Brasil, fosse “um fato”:

“Conheço inúmeras pessoas que fizeram do dia que leram o Crime e Castigo uma data de sua

vida. E não foram somente letrados, homens de cultura, tendo larga instrução dos costumes dos povos. Foi

gente de toda a casta, gente viajada, e gente que nunca arredou pé do Brasil, que nunca saiu de sua cidade

do interior. Livro escrito no meio da neve, por um filho das terras frigidíssimas do norte, muitas vezes lido

ao embalo da rede nos dias cálidos do sertão, por homens nascidos e criados nos trópicos. (...) O gênero

humano é um só, qualquer que seja a latitude em que se ache. Um homem alegre na Rússia é igual a outro

homem alegre no Brasil, ou em qualquer outro ponto do planeta. A lágrima é sempre a mesma; uma gota d’

água; caia dos olhos claros de Nastazia Philippona (sic) ou das pálpebras escuras de qualquer amante

morena das nossas plagas. O soluço que sobe do coração humano diz no seu arquejo estertorado a mesma

agonia”.31

31 AMADO, Gilberto, “História das Minhas Leituras”. Revista do Brasil, n. 107, São Paulo, nov. 1924.

Page 19: Recepção e Tradução de Dostoiévski No Brasil - Bruno Gomide

19

Ou o argumento podia seguir pelo lado da “idéia nativista” na literatura, de que a

Rússia seria modelar. Vários modernistas bateram nessa tecla, em especial Cassiano

Ricardo e Menotti Del Picchia. José Lins do Rego também seguiu orientação similar, em

uma série de artigos jornalísticos que vão desde o começo da década de trinta até os anos

quarenta. No primeiro momento, criticará o romance de Plínio Salgado, autor que, no seu

entender, estava tentando criar o “grande romance da terra”. Não foi assim, porém,

afetando literatura, que “Dostoiévski fez o grande romance da Rússia: foi entrando na

alma de sua gente como uma verruma, se despindo de tudo que era vaidade de homem de

letras para ser somente Dostoiewski”.32 Em 1944, Lins do Rego completará o ciclo e

saudará o projeto da José Olympio como um grande acontecimento cultural: a edição

inaugural de O eterno marido redimia as más traduções existentes, edições de folhetim

que não faziam jus ao russo. Não importava que Dostoiévski fosse, politicamente, um

reacionário. Do ponto de vista humano e artístico, ele era “o mais revolucionário dos

homens”.33

Na leitura brasileira, essa leitura nacionalizante de Dostoiévski ajudava a

suspender a antipatia dos meios comunistas por ele, sentimento que ganhava cada vez

mais força na União Soviética dos anos trinta e quarenta (a ponto de ali ele ter se tornado

uma figura cultural semi-maldita, um estranho no ninho dos “clássicos” cada vez mais

sólidos do século dezenove) e espalhava-se pelo mundo, em graus variáveis de aceitação

por parte de intelectuais de esquerda. No Brasil do período estadonovista, praticamente

não podemos encontrar, na intensa produção crítica a seu respeito, feita inclusive por

escritores comunistas, ressalvas sérias às posições políticas do autor ou à outra faceta do

mesmo fenômeno – a sua estética, dificilmente assimilável a modelos realistas.34

Mas, e esta é a hipótese final deste trabalho, o que reforça ainda mais a idéia de

que haveria uma equivalência entre a perspectiva de transformar Dostoiévski em uma

coleção e o caráter de produtora de textos de interpretação da realidade nacional (tanto no

plano do ensaio quanto no do romance) que notabilizava a José Olympio é a profunda

afinidade entre certos autores que escreveram textos-chave do pensamento social

brasileiro, entre os anos vinte e trinta, e a obra dostoievskiana.

32 REGO, José Lins do. “O último livro do Sr. Plínio Salgado”. Novidade, n. 6. 16 maio 1931.33 REGO, José Lins do. “Uma edição de Dostoiewski”. A manhã, n. 0888. Rio de Janeiro, 2 jul. 1944.34 SWIFT, Megan. “Demonization and Celebration: Dostoevsky’s Soviet Afterlives and Notes from theHouse of the Dead”. Paper (não publicado) apresentado no Congresso Anual da Associação Canadense deEslavística. Victoria, 2013.

Page 20: Recepção e Tradução de Dostoiévski No Brasil - Bruno Gomide

20

Vários intelectuais explicadores da realidade nacional, no período anterior e

posterior à revolução de 30, foram atraídos por Dostoiévski e escreveram ensaios

alentados a seu respeito. É o caso, por exemplo, de Vicente Licínio Cardoso, organizador

do célebre À margem da história da República, coletânea de ensaios de 1924 que ajudou

a lançar as bases de diversas tendências intelectuais dos anos trinta, inclusive as

autoritárias. Em paralelo, Licínio Cardoso publicou extensos artigos sobre Dostoiévski,

em que exaltava a sua capacidade de expressão de uma nacionalidade russa forte.35

Incluídos em Vultos e idéias, são eles “O ambiente do romance russo (tema com

variações sobre o Brasil)” e “Dostoievsky”, este dividido em “I – o pai de espectros

vivos”, “II – da vitalidade de seus romances” e “III – a significação do Idiota”. Ao lado

de um exaustivo paralelo entre Rússia e Brasil, definidos como “pátrias de contrastes”,

“colônias espirituais da Europa” e “amálgama de raças”, Licínio Cardoso propõe a

literatura russa como a fomentadora de um tipo de unidade nacional que não fora obtida

pela política, pela economia ou pela absorção de idéias estrangeiras. De todos os

escritores, Dostoiévski seria o que obtém o melhor ajuste entre forma literária e forma

nacional.36

Virgínio Santa Rosa compartilhava com Licínio Cardoso não apenas a consoante

inicial e o nome tríplice, de indisfarçável sabor “Primeira República”, mas também o

apreço pelo escritor russo. Santa Rosa é, claro, o autor de O sentido do tenentismo,

explicação-chave das novas realidades políticas dos anos trinta, publicado originalmente

no calor da “febre” de eslavismo (a qual, diga-se de passagem, exprimia, em suas

resenhas e artigos críticos, um forte viés anti-bacharelesco).37 É também o autor de

Dostoiévski, um cristão torturado, o maior livro já publicado no Brasil sobre o escritor

russo.38 A edição é de 1980, mas há indicações de que tenha sido preparada nos anos

trinta, no mesmo ritmo em que o autor refletia sobre a realidade brasileira.39 Assim, é

tentador ver os textos interpretativos do país tão característicos da editora José Olympio,

35 CARDOSO, Vicente Licínio. À margem da história da República. Rio de Janeiro, Anuário do Brasil,1924. CARDOSO, Vicente Licínio. Vultos e idéias. Rio de Janeiro, Anuário do Brasil, 1924.36 Cf. GOMIDE, Bruno, op. cit. 2011, pp. 347-386. Sobre Licínio Cardoso, cf. MAIA, João Marcelo Ehlert,A terra como invenção: o espaço no pensamento social brasileiro. Rio de Janeiro, Zahar, 2008.37 Valdemar Cavalcanti, em diversos artigos sobre as traduções russas, sugere que publicá-las no Brasil éuma excelente forma de combate ao bacharelismo.38 SANTA ROSA, Virginio. O sentido do tenentismo. Rio de Janeiro, Schmidt, 1933; SANTA ROSA,Virginio. Dostoiévski, um cristão torturado. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1980.39 Conforme depoimento ao autor deste trabalho por Gilberto Santa Rosa, filho de Virgínio, em 18-11-2008.

Page 21: Recepção e Tradução de Dostoiévski No Brasil - Bruno Gomide

21

em especial a sua coleção de “Documentos brasileiros”, organizada inicialmente por um

intelectual que via o Brasil como uma “Rússia americana”, confluindo simbolicamente

com a grande e inédita coleção de literatura estrangeira, que passava a constituir, por esse

prisma, uma espécie de “brasiliana russa”, ou de “russiana brasileira”. Ela era preparada

por uma editora cujas pontas de lança eram a vanguarda da ficção brasileira e os textos

interpretativos da realidade nacional – os dois pontos, precisamente, que desde fins do

século dezenove vinham se articulando em torno da recepção de Dostoiévski, tido como

exemplo maior de ruptura e inquietação literária (nesse sentido, diferenciando-se da

recepção de um Tolstói ou um Górki) e, ao mesmo tempo, considerado unanimemente

como “o mais russo de todos os russos”.

Em meados da década de quarenta, consolidava-se, enfim, em tom de apoteose,

uma conexão que vinha se gestando desde os primeiros momentos da recepção brasileira,

entre Dostoiévski, um dos grandes transformadores da narrativa realista do século

dezenove, e a “explicação do Brasil”. Essa conexão adquiriu sua face mais notável na

coleção da José Olympio.

BIBLIOGRAFIA (textos citados nas notas de rodapé não serão reproduzidos aqui)

TEXTOS BRASILEIROS (seleção de crítica literária brasileira sobre literatura

russa, publicada entre 1937 e 1945):

ABREU, Modesto de. “A estética de Leon Tolstoi”. Dom Casmurro, n. 83. Rio de

Janeiro, 31 dez. 1938.

BASTOS, Álvaro. “Romance de 12 cadeiras”. Leitura. Rio de Janeiro, ago/set. 1944.

BONAVIDES, Anibal. “Maiacovski”. Leitura, n. 13. Rio de Janeiro, dez. 1943.

BROCA, Brito. “As ‘memórias’ de Tolstoi”. Dom Casmurro, n. 416. Rio de Janeiro, 1o

set. 1945.

CAMARGO, Joracy. “O teatro soviético”. Leitura, n. 10. Rio de Janeiro, set. 1943.

CARPEAUX, Otto Maria. “A guerra e a paz”. Leitura, n. 3. Rio de Janeiro, fev. 1943.

CASTRO, Moacir Werneck de. “Gorki, os vagabundos e a Rússia”. Leitura, n. 4. Rio de

Janeiro, mar. 1943.

Page 22: Recepção e Tradução de Dostoiévski No Brasil - Bruno Gomide

22

CAVALHEIRO, Edgard. “Amores de Dostoiewski”. Vamos Lêr!, n. 166. Rio de Janeiro,

5 out. 1939.

CHIARELO, Natal. “Dostoiewsky, o sofredor”. Revista do Globo, n. 306. Porto Alegre,

25 out. 1941.

COSTA, Dante. “O teatro soviético”. Leitura. Rio de Janeiro, fev. 1945.

COSTA, Dias da. “Um romance de Gorki”. Leitura. Rio de Janeiro, mar. 1945.

COUTINHO, Galeão. “A ‘Alma russa’ e as almas penadas”. Leitura. Rio de Janeiro, abr.

1945.

DOMINGUES, Aurélio. “A ‘Santa Rússia’ e Púshkin”. Leitura, n. 6. Rio de Janeiro,

maio. 1943.

_____. “História da literatura russa”. Leitura, n. 7. Rio de Janeiro, jun. 1943.

DUARTE, Dioclécio D. “Leon Nicolaiévitch Tolstoi”. Leitura, n. 5. Rio de Janeiro, abr.

1943.

DUARTE, Emmo. “A súplica de Ehrenburg”. Leitura. Rio de Janeiro, abr. 1945.

DUARTE, Eustáquio. “O idiota: tema literário”. Dom Casmurro, n. 230. Rio de Janeiro,

13 dez. 1941.

DUÉK, Moysés. “A literatura russa como expressão mesológica”. Dom Casmurro, n.

400. Rio de Janeiro, 28 abr. 1945.

_____. “Os criminosos vistos por Raskolnikoff”. Dom Casmurro, n. 408. Rio de Janeiro,

7 jul. 1945.

DYONISIO, Santanna. “Alguns apontamentos sobre Dostoiewski”. Vamos Lêr!, n. 58.

Rio de Janeiro, 9 set. 1937.

ESCOREL, Lauro. “O drama final de Tolstói”. Leitura. Rio de Janeiro, mar. 1944.

FARIA, J. de Escobar. “Turgueniev e o romance naturalista russo”. Dom Casmurro, n.

68. Rio de Janeiro, 17 set. 1938.

FERNANDES, Ruy. “Dostoievsky, novelista do subconciente”. Dom Casmurro, n. 65.

Rio de Janeiro, 27 ago. 1938.

FILHO, Adônias. “O espírito de Dostoiewski”. Leitura, n. 11. Rio de Janeiro, out. 1943.

FILHO, Augusto de Almeida. “Dostoievski e sua força criadora”. Síntese, n. 38. Rio de

Janeiro, fev. 1945.

FILHO, Gracioso. “Seria Puchkine o inspirador de Dostoievski?”. Dom Casmurro, n.

423. Rio de Janeiro, 3 nov. 1945.

Page 23: Recepção e Tradução de Dostoiévski No Brasil - Bruno Gomide

23

FIRMO, José. “A vida de Turgueniev”. Leitura, n. 1. Rio de Janeiro, dez. 1942.

GERSON, Brasil. “Ehrenburg, o antigo e o moderno”. Leitura. Rio de Janeiro, jul. 1944.

GOMES, Francisco A. Magalhães. “Dostoievksi, o romancista da angústia metafísica”.

Dom Casmurro, n. 358/359. Rio de Janeiro, 8 jul. 1944.

GONÇALVES, Álvaro. “Berdiaeff fala de Dostoievski”. Síntese, n. 37. Rio de Janeiro,

jan. 1945.

GOULART, R. “Dostoiewski”. Dom Casmurro, n. 404. Rio de Janeiro, 26 maio 1945.

IVO, Lêdo. “Golovin”. Leitura. Rio de Janeiro, jul. 1944.

JÚNIOR, Caio Prado. “A cultura soviética”. Leitura. Rio de Janeiro, abr. 1945.

LADEIRA, Álvaro. “Recordações da casa dos vivos”. Vamos Lêr!, n. 470. Rio de

Janeiro, 2 ago. 1945.

LEITE, Fernando. “Dostoievski e o mundo siberiano”. Vamos Lêr!, n. 254. Rio de

Janeiro, 12 jun. 1941.

LEITE, Luiza Barreto. “Máximo Gorky não comove”. Leitura. Rio de Janeiro, jul. 1944.

LIMA, Camilo de Jesus. “O teatro soviético”. Leitura. Rio de Janeiro, nov. 1945.

LINHARES, Temístocles. “A presença de Dostoievsky”. Dom Casmurro, n. 366. Rio de

Janeiro, 26 ago. 1944.

MAIA, Alcides. “Rússia”. Síntese, n. 23. Rio de Janeiro, nov. 1943.

MENDONÇA, Hugolino de. “O jogador Dostoievski”. Síntese, n. 36. Rio de Janeiro,

dez. 1944.

MONIZ, Júlio. “A glória de um gênio torturado”. Dom Casmurro, n. 330. Rio de Janeiro,

4 dez. 1943.

NEVES, Costa. “A moderna literatura russa”. O jornal. Rio de Janeiro, 24 fev. 1944.

PEDROSA, Mílton. “De Puchkin a Kozhenikov”. Leitura. Rio de Janeiro, fev. 1945.

PINTO, Ariosto. “Há ‘fábricas de poesias’ na Rússia”. Síntese, n. 8. Rio de Janeiro, jul.

1942.

PONTES, Eloy. “Ana Karenina e Tolstoi”. Leitura, n. 6. Rio de Janeiro, maio. 1943.

_____. “O sombrio Dostoievsky”. Leitura, n. 10. Rio de Janeiro, set. 1943.

_____. “Os irmãos Karamazov”. Leitura. Rio de Janeiro, mar. 1944.

RAMALHETE, Clóvis. “O Tolstoi de Álvaro Lins”. Vamos Lêr!, n. 380. Rio de Janeiro,

11 nov. 1943.

RIBEIRO, Plácido. “Dostoievsky e o problema do mal”. Dom Casmurro, n. 97. Rio de

Janeiro, 15 abr. 1939.

Page 24: Recepção e Tradução de Dostoiévski No Brasil - Bruno Gomide

24

ROCHA, Hildon. “Dostoievski completo”. Vamos Lêr!, n. 424. Rio de Janeiro, 14 set.

1944.

ROMERO, Abelardo. “Na Santa Rússia”. Leitura. Rio de Janeiro, fev. 1945.

SAMPAIO, Walter. “Cholokhov e o romance socialista”. Leitura. Rio de Janeiro, dez.

1945.

SILVA, H. Pereira da. “O drama do Padre Sérgio”. Vamos Lêr!, n. 483. Rio de Janeiro,

1o nov. 1945.

SOARES, Ubaldo. “O fracassado duelo entre Tourgueneff e Tolstoi”. Vamos Lêr!, n. 53.

Rio de Janeiro, 5 ago. 1937.

_____. “Quatro poemas em prosa de Tourgueneff”. Vamos Lêr!, n. 186. Rio de Janeiro,

22 fev. 1940.

_____. “Natalia Pouchkina e Ana Dostoiewskaia”. Vamos Lêr!, n. 212. Rio de Janeiro,

22 ago. 1940.

_____. “O ‘Dostoiewsky vermelho’ do Sr. Eloy Pontes”. Vamos Lêr!, n. 378. Rio de

Janeiro, 28 out. 1943.

_____. “A arte realista no romance russo”. Vamos Lêr!, n. 400. Rio de Janeiro, 30 mar.

1944.

SODRÉ, Hélio. “Victor Hugo e Dostoiewsky”. Síntese, n. 16. Rio de Janeiro, abr. 1943.

SODRÉ, Nelson Werneck. “Um jogador”. Vamos Lêr!, n. 115. Rio de Janeiro, 13 out.

1938.

_____. “Tolstoi”. O Estado de São Paulo. São Paulo, 28 jan. 1942.

_____. “Contos russos”. Leitura. Rio de Janeiro, abr. 1945.

TORRES, Edith Margarinos. “Na literatura russa”. Dom Casmurro, n. 310. Rio de

Janeiro, 17 jul. 1943.

TORRES, Muriza. “Anna Karenine de Leon Tolstoi”. Dom Casmurro, n. 111. Rio de

Janeiro, 29 jul 1939.

VAINER, Nelson. “A lenda na literatura russa”. Dom Casmurro, n. 193. Rio de Janeiro,

29 mar. 1941.

VITOR, D’Almeida. “A mocidade gloriosa de Gorki”. Expressão, n. 1. Rio de Janeiro,

1938.

_____. “A experiência da adolescência de Gorki”. Esfera, n. 2. Rio de Janeiro, jun. 1938.

_____. “A posição de Gorki na literatura russa”. Dom Casmurro, n. 58. Rio de Janeiro, 7

jul. 1938.

Page 25: Recepção e Tradução de Dostoiévski No Brasil - Bruno Gomide

25

VITORINO, Eduardo. “O primeiro teatro da Rússia”. Síntese, n. 20. Rio de Janeiro, ago.

1943.

_____. “Dostoiewsky e o teatro”. Síntese, n. 33. Rio de Janeiro, set. 1944.

ZINGG, Paulo. “A Rússia e o Brasil”. Leitura. Rio de Janeiro, abr. 1945.

CRÍTICA E HISTÓRIA RUSSA:

ACADEMIA DE CIÊNCIAS DA URSS. Rossía i Západ: iz istóri litieratúrnykh

otnochêni. Leningrado, Naúka, 1982.

ARMSTRONG, John A. “Slavic studies in Western Europe: Some Personal

Observations”. Canadian Slavonic papers, VII, 1966.

AUCOUTURIER, Michel. “The Theory of the Novel in Russia in the 1930s: Lukács and

Bakhtin”. In: GARRARD, John. The Russian Novel from Pushkin to Pasternak. New

Haven e Londres, Yale UP, 1983.

AVINS, Carol. Border Crossings: the West and Russian Identity in Soviet Literature.

Berkeley e Los Angeles, University of California Press, 1983.

BAGNO, V. E. “Iazikí pogranítchnikh kul’tur (Ispânia i Rossía)”. In: ACADEMIA DE

CIÊNCIAS DA RÚSSIA/INSTITUTO DE LITERATURA RUSSA (“PUCHKINSKII

DOM”). Pogranítchnie kul’turi miéjdu vostókom i západom (Rossía i Ispânia). São

Petersburgo, 2001.

BLACK, Cyril E et alli. “An Appraisal of Russian Studies in the United States”. The

American Slavic and East-European Review, XVIII (3), out. 1959.

BOUTCHIK, Vladimir. Bibliographie des ouvres littéraires russes traduites em français.

Paris, Messages, s/d.

BREWSTER, Dorothy. East-West Passage: a Study in Literary Relationships. Londres,

George Allen and Unwin, 1954.

BRISTOL, Evelyn. “The Avant-Garde in Russia and the West”. In: American

Contributions to the Eleventh International Congress of Slavist: Literature, Linguistics,

Poetics. Slavica, 1993.

BROWN, Deming. “Soviet Criticism of American Proletarian Literature of the 1930´s”.

American Contributions to the Fourth International Congress of Slavists. The Hague,

Mouton & Co., 1958.

Page 26: Recepção e Tradução de Dostoiévski No Brasil - Bruno Gomide

26

BYRNES, Robert F. A History of Russian and East European Studies in the United

States. Lanham, University Press of America, 1994.

CHLEIEV, V. V. “Khudôjniki-emigranti v Latínskoi Amerike”. Latinskaia Amerika, 9,

1994.

CLISSOLD, Stephen. Soviet Relations with Latin America, 1918-1968. A Documentary

Survey. Londres, Oxford UP, 1970.

CROSS, Anthony. The Russian Theme in English Literature, From the Sixteenth Century

to 1980. Oxford, W. A. Meeuws, 1985.

CURTISS, John Shelton. “Russian History in the United States: Vistas and

Prospectives”. Canadian Slavonic Papers, XII (1), 1970.

DUKES, Paul. World Order in History: Russia and the West. Londres e Nova York,

Routledge, 1996.

FICHELLE, Alfred. “Origines et développement de l´Institut d´Études Slaves (1919-

1949)”. Revue des études slaves, 27, 1951.

FISKE, John C. “Dostoevskij and the Soviet Critics, 1947-1948”. American Slavic and

East European Review, IX (1), fev. 1950.

FRIDLENDER, G. M. “Dostoievski v otsenke Khose Ortegui-I-Gasseta”. Russkaia

literatura, 1, 1990.

GARNIEZ, Bernard. “Dostoïevsky et l´ambivalence de la critique de la Nouvelle Revue

Française”. Études slaves et est-européennes, VI (3/4), 1961.

HARRIS, Chauncy D. “Russian, Slavic and Soviet Studies in the United States: Some

Memories and Notes”. Russian History, 24 (4), 1997.

JACKSON, Robert-Louis. “Dostoevsky in the Twentieth Century”. Dostoevsky Studies,

1, 1980.

KAYE, Peter. Dostoevsky and English Modernism, 1900-1930. Cambridge, Cambridge

UP, 1999.

KIGA, Kenzo. “Study of the Soviet Union and Eastern Europe in Japan”. Canadian

Slavonic papers, XI (2), 1969.

LEDNICKI, W. “The State of Slavic Studies in America”. American Slavic and East

European Review, XIII (1), fev. 1954.

LUNT, Horace G. “On the History of Slavic Studies in the United States”. Slavic Review,

46 (2), 1987.

Page 27: Recepção e Tradução de Dostoiévski No Brasil - Bruno Gomide

27

MATHEWSON JR., Rufus W. “Dostoevskij and Malraux”. American Contributions to

the Fourth International Congress of Slavists. The Hague, Mouton & Co., 1958.

NILSSON, Nils Ake. “The Challenge from the Periphery”. Scando-Slavica, 27, 1981.

NIQUEUX, Michel. “Le renouvellement des études sur Gor´kij (1986-1996)”. Revue des

études slaves, 68, 1996.

PÉRUS, Jean (org.). Gorki em France. Bibliographie des oeuvres de Gorki traduites en

français, des études et articles sur Gorki publiés en France, en français, de 1899 à 1939.

Paris, Presses Universitaires de France, 1968.

PLATONE, Rossana. “Dostoevskij et la literature populaire dans les Cahiers de

Gramsci”. Revue de littérature comparée, LV, jul/dez. 1981.

POMORSKA, Krystyna. “A Vision of America in Early Soviet Literature”. The Slavic

and East European Journal, XI (4), 1967.

ROMAN, Gail Harrison & MARQUARDT, Virginia Hagelstein (orgs.). The Avant-

Garde Frontier. Russia Meets the West. Gainesville, University Press of Florida, 1992.

RUESCHEMEYER, Marilyn. “The Emigration Experience on Soviet Artists in the

United States”. Canadian Slavonic Papers, XI (2), 1969.

SCHNAIDERMAN, Boris. “Osvaldo Goeldi e Dostoiévski”. Revista da USP, 32, dez-

fev. 1996-97.

_____. Projeções: Rússia/Brasil/Itália. São Paulo, Perspectiva, 1977.

SEDURO, Vladimir. Dostoyevski in Russian Literary Criticism, 1846-1956. Nova York,

Octagon Books, 1981.

_____. Dostoevsky in Russian and World Theater. North Quincy, The Christopher

SHUR, Leonid A. Rossía i Latínskaia Amerika: otcherki polititcheskikh,

ekonomitcheskikh i kul´turnikh otnocheni. Moscou, Mysl, 1964.

STONE, Gerald. “The History of Slavonic Studies in Great Britain”. In: Beiträge zur

Geschichte der Slawistik in Nichtslawischen Ländern. Viena, Academia Austríaca de

Ciências, 1985.

SWIFT, Megan. "Fairytale Nation, Illustrated Children's Literature Under Lenin and

Stalin, 1917-53" (unpublished manuscript – Paper apresentado na conferência anual da

Canadian Association of Slavists. Victoria, 2013).

SZCZEPANSKI, Jan. “Eastern European Studies in the West as Seen from Eastern

Europe”. Canadian Slavonic Papers, XVI (4), 1974.

Page 28: Recepção e Tradução de Dostoiévski No Brasil - Bruno Gomide

28

TERRAS, Victor. “Dostoevsky´s Detractors”. Dostoevsky Studies, 6, 1985.

VAIDYANATH, R. “Soviet Studies in India”. Canadian Slavonic papers, XI (2), 1969.

VERHAAR, H. L. “Notes on the Post-War Development of Slavic and Eastern European

Studies in the Netherlands”. Canadian Slavonic Papers, XII (1), 1970.

WEGNER, Michel. “The Russian Novel: Essence and Influence of a Literary Tradition”.

In: EVANS, John X. (org.), Adjoining Cultures as Reflected in Literature and Language.

Arizona State University, 1983.

WELLEK, René. “A Sketch of the History of Dostoevsky Criticism”. In:

Discriminations. Further Concepts of Criticism. New haven/Londres, Yale UP, 1970.

______. “The Nineteenth-Century Russian Novel in English and American Criticism”.

In: GARRARD, John (org.). The Russian Novel from Pushkin to Pasternak. New Haven

e Londres, Yale UP, 1983.

WILLIAMS, Gareth. The Influence of Tolstoy on Readers of his Works.

Lewiston/Queenston/Lampeter, The Edwin Mellen Press, 1990.