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O Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas – SBRT fornece soluções de informação tecnológica sob medida, relacionadas aos

processos produtivos das Micro e Pequenas Empresas. Ele é estruturado em rede, sendo operacionalizado por centros de pesquisa, universidades, centros de educação profissional e tecnologias industriais, bem como associações que promovam a interface entre a oferta e a demanda tecnológica. O SBRT é apoiado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE e pelo Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação – MCTI e de seus institutos: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq e Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia – IBICT.

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Dossiê Técnico VELOSO, Camila Leão Reciclagem de lixo tecnológico e os riscos do descarte

inadequado

Instituto Euvaldo Lodi – IEL/BA 13/6/2013

Resumo O dossiê apresenta definições de lixo eletrônico, relacionando-o com o consumismo, trazendo possíveis soluções para o problema e relatando o trabalho de algumas organizssações que desenvolvem o trabalho de coleta, seleção e destinação do lixo tecnológico.

Assunto TRATAMENTO E DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS PERIGOSOS Palavras-chave Aproveitamento de resíduos; coleta de resíduo; composição

química; consumo; descarte de resíduo; gerenciamento de resíduo; reciclagem; resíduo tecnológico; tratamento de resíduo; tratamento de resíduo sólido

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Sumário 1 INTRODUÇÃO................................................................................................................ 2 2 OBJETIVO......................................................................................................................

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3 LIXO ELETRONICO E SUA COMPOSIÇÃO.................................................................

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4 REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E O LIXO ELETRONICO................................................. 5 5 CONSUMISMO............................................................................................................... 6 CONSUMO E GERAÇÃO DE RESÍDUOS.....................................................................

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7 IMPACTO AMBIENTAL DO LIXO ELETRONICO......................................................... 8 DESCARTE DO LIXO ELETRONICO............................................................................ 8.1 Logística Reversa: uma opção de descarte............................................................ 9 RECLICLAGEM DE LIXO ELETRONICO...................................................................... 9.1 Processo de reciclagem da empresa Descarte Certo............................................ 9.2 Projeto Descarte Correto.......................................................................................... 9.3 Reciclagem de pilhas e de baterias......................................................................... 9.3.1 Processos de Reciclagem...................................................................................... CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES...........................................................................

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REREFÊNCIAS.............................................................................................................. 17 Conteúdo 1 INTRODUÇÃO Para Ferreira e Ferreira (2008), as catástrofes climáticas e naturais da última década estão servindo de alguma maneira para alertar a humanidade sobre a importância do cuidado com o meio ambiente e com os recursos naturais. Tanto os fabricantes quanto os consumidores devem adotar uma conduta mais consciente e cuidadosa, tirando o foco do processo de compra-e-venda e atentando-se também para as etapas de fabricação e de descarte desses bem de consumo. O desenvolvimento acelerado vem causando a rápida obsolescência dos aparelhos eletrônicos no Brasil e no mundo. Um usuário médio nos Estados Unidos tende a trocar seus aparelhos eletrônicos a cada 18 a 24 meses. Desse modo, a vida moderna na sociedade atual expressa um caráter veloz e de supervalorização do novo (SMAAL, 2009). Segundo Smaal (2009), a quantidade de lixo eletrônico já representa 5% de todos os resíduos produzidos pela humanidade. O Brasil produz cerca de 2,6 Kg de e-lixo por habitante, o que corresponde a menos de 1% da quantidade de lixo eletrônico produzido em todo o mundo. Porém, com o crescente desenvolvimento e o fácil acesso econômico a esses produtos, espera-se que esse número eleve-se também num ritmo acelerado. No Brasil, são fabricados cerca de 10 milhões de computadores e 80 milhões de celulares por ano, dentre os quais menos de 2% serão descartados da maneira correta. Para sustentar esse sistema de produção, cada vez mais recursos são extraídos da natureza, o

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que vem se fazendo investir nos processos de reciclagem e reutilização dos produtos obsoletos, a fim de minimizar os impactos ambientais (SMAAL, 2009). Segundo Ferreira e Ferreira (2008), os avanços no conhecimento tornaram mais fácil e mais rápido o acesso aos recursos tecnológicos, principalmente no aspecto financeiro, já que esses bens estão cada vez mais baratos no mercado devido a livre concorrência. Isso gera uma demanda elevada de sucata eletroeletrônica. Com isso, acredita-se que a reciclagem do lixo eletrônico é de suma importância para estabelecer um equilíbrio entre o modelo de vida atual da humanidade, voltado para avanços e desenvolvimento contínuo, e a preservação dos recursos do planeta. 2 OBJETIVO O objetivo desse dossiê é informar acerca do processo de reciclagem do lixo eletrônico no Brasil e da necessidade de implementação dessa prática de maneira mais efetiva. 3. LIXO ELETRÔNICO E SUA COMPOSIÇÃO De acordo com Ferreira e Ferreira (2008), o que se conhece por resíduos ou lixo eletrônico, ou ainda e-lixo, são aparelhos ou materiais obsoletos gerados pela atividade humana. Os principais eletroeletrônicos são: computadores, telefones celulares, geladeiras, CDs, DVDs, microchips, baterias e pilhas, além de todo o material e peças que os compõem. Segundo Costa ([201-?]), lixo eletrônico também pode ser classificado como um tipo especial de resíduo sólido, como os equipamentos que precisam de corrente elétrica para seu funcionamento e que são descartados após uso. Segundo Lima, Silva e Lima (2008), o e-lixo ainda apresenta características peculiares, comparado ao lixo comum. Trata-se de um lixo volumoso, que ocupa um espaço físico maior, além de possuir componentes perigosos que necessitam de um manejo adequado no processo de descarte. A figura 1 demonstra o percentual de cada tipo de resíduo dentro da composição do lixo eletroeletrônico (FREITAS, 2009).

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Figura 1 – Percentual de cada tipo de resíduo dentro da composição do lixo eletroeletrônico

Fonte: (FREITAS, 2009)

O contínuo crescimento desse tipo de lixo é consequência da Revolução Industrial, processo responsável pelo desenvolvimento tecnológico e científico, que modificou o sistema de produção e as práticas sociais (COSTA, [201-?]). 4 REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E O LIXO ELETRÔNICO A Revolução Industrial foi o marco inicial da cultura de fomento ao consumo na maioria dos países do mundo. O desenvolvimento tecnológico trouxe inquestionáveis benefícios à sociedade, como o avanço da medicina e a facilidade de comunicação, com mais agilidade na execução de tarefas simples do cotidiano (FERREIRA; FERREIRA, 2008).

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Conforme Casagrande Jr. ([200-?]), o processo de produção linear, implementado com sucesso no sistema econômico vigente a partir da Revolução Industrial, tem trazido sérios problemas de ordem ambiental. Esse processo é denominado linear porque ocorre em fases contínuas: a extração de matéria-prima, o processo de produção, o processo de distribuição dos produtos, de consumo e de descarte. Como se observa, é um processo linear e não cíclico, já que não se preocupa em sua essência com a reutilização ou reciclagem dos materiais descartados. O sistema de produção linear tem seu início com a extração de matéria-prima, que em geral acontece nos países mais pobres. Os recursos naturais tornam-se cada vez mais escassos, já que são esgotáveis e não acompanham o ritmo acelerado da demanda mercadológica. Nas três últimas décadas, consumiu-se cerca de 33% dos recursos naturais do planeta (THE STORY OF STUFF PROJECT, [200-?]). No momento da produção, principalmente quando se trata de produtos eletroeletrônicos, realiza-se a união de recursos naturais com recursos tóxicos, a fim de fornecer algumas propriedades ao produto, como resistência ao fogo. O manejo inadequado dos produtos tóxicos no sistema de produção tem sido responsável pelo fenômeno da poluição, tornando a água imprópria para o consumo e influenciando nas mudanças do clima (THE STORY OF STUFF PROJECT, [200-?]). O sistema de distribuição desses produtos tem como principal aliado a mídia, que fomenta e cria necessidades de consumo. Desse modo, as pessoas sentem-se motivadas a consumir, pelo simples fato de consumir, sem ter nenhuma real necessidade ou ainda nenhuma vinculação com o produto adquirido, o que facilita o processo de descarte. Desse modo, grandes volumes de lixo, principalmente de lixo eletrônico, são gerados e se acumulam no final desse processo linear, que não tem como foco a preocupação com a reciclagem desses resíduos. (CASAGRANDE JR., [200-?]). 5 CONSUMISMO De acordo com Ferreira e Ferreira (2008), a urbanização mundial, que teve seu início com a Revolução Industrial, vem fomentando o consumo inconsciente e gerando problemas irreversíveis ao meio ambiente. O constante interesse do homem pelos avanços da tecnologia e a competitividade mercadológica do capitalismo, aliados à postura consumista das pessoas, têm sido os principais responsáveis pelo acúmulo de sucata tecnológica numa velocidade muito alta (FERREIRA; FERREIRA, 2008). Após a Segunda Guerra Mundial, o fomento a uma postura mais consumista foi uma estratégia dos governos para reerguer as economias dos países abalados pelas guerras. A cultura do descartável e das necessidades criadas foi implementada com o intuito de tornar mais dinâmico o mercado, e, desse modo, gerar direta e indiretamente mais empregos. Essa estratégia, apesar de ter sido eficiente no seu objetivo, não abarcou uma visão mais holística do processo. Para gerar bens de consumo em uma larga escala é necessária uma avaliação de como será realizado o processo de produção e descarte desses produtos, quando se tornarem obsoletos (THE STORY OF STUFF PROJECT, [200-?]). A exteriorização dos custos para o grande empresário acontece justamente no momento em que ocorre a isenção das responsabilidades, no que se refere aos aspectos que antecedem a produção do bem (escolha de materiais recicláveis, cuidados no manejo das substâncias

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tóxicas) e nos aspetos que acontecem no descarte do bem produzido (recolhimento, reciclagem, descarte adequado) (LEITE; LAVEZ; SOUZA, 2009). Para manter funcionando todo esse sistema de produção-consumo, foi criada uma cultura de consumo que se baseia em dois principais preceitos: a obsolescência planejada e a obsolescência percebida. O fenômeno da obsolescência planejada acontece quando um produto é criado para ter uma vida útil reduzida. Isso pode acontecer devido a uma qualidade inferior do produto, a uma indisponibilidade de peças de reposição ou ao fato de, diante de uma avaria, o conserto tornar-se economicamente menos vantajoso (FREITAS, 2009). O homem da sociedade moderna tende a sentir-se valorizado socialmente, à medida que tem o poder de consumir. Esse emparelhamento da necessidade de possuir determinado bem de consumo, juntamente com o sentimento de felicidade e de realização foi algo culturalmente ensinado às gerações modernas. A poupança, a economia e o zelo com as coisas não são estimulados, pois o importante é reforçar cada vez mais o consumo e, consequentemente, a economia (THE STORY OF STUFF PROJECT, [200-?]). 6 CONSUMO E GERAÇÃO DE RESÍDUOS O modo de vida da sociedade moderna, com a rápida obsolescência dos produtos e a facilidade de crédito, vem provocando o aumento contínuo na quantidade de e-lixo produzido. A produção de lixo eletrônico cresce 5% ao ano, sendo que cerca de três quilos de lixo são gerados para produzir cada quilo de um computador (FERREIRA; FERREIRA, 2008). Na atual dinâmica de funcionamento da sociedade moderna, observa-se o fenômeno da obsolescência percebida, que acontece quando uma pessoa é convencida a se desfazer de algo para se sentir incluída e fazendo parte do grupo de consumo, mesmo que esse bem ainda seja perfeitamente útil (DALLA FAVERA, 2008). A verdade é que esse modelo de sistema vem se tornando insustentável, como afirma Casagrande Jr. ([200-?]), já que o consumismo exacerbado não vem trazendo a tão prometida felicidade, muito menos melhoria na qualidade de vida das pessoas. O que se vê é uma concentração de renda nas classes mais favorecidas. O consumidor, como passou a ser conhecido o indivíduo na sociedade, tende a se sentir insatisfeito e frustrado diante de um produto novo lançado no mercado, quando o compara com o equipamento que dispõe. Daí o consumo é fomentado pela cultura, e o descarte de equipamentos percebidos como inúteis aumenta a cada dia (TAVARES; FERREIRA; TORRES, 2009). Segundo Taveres, Ferreira e Torres (2009), o consumo cresce de modo diretamente proporcional à geração de resíduos, principalmente os eletrônicos. O consumismo humano começa a se tornar insustentável, no que diz respeito aos recursos biológicos do planeta, e então começam a surgir as preocupações ecológicas.

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7 IMPACTO AMBIENTAL DO LIXO ELETRÔNICO Segundo Freitas (2009), os produtos eletrônicos são compostos por algumas substâncias tóxicas, a exemplo do mercúrio, do arsênio e do chumbo. Estas podem acarretar danos à saúde humana, caso os equipamentos sejam descartados de maneira inadequada. Alguns desses metais têm a propriedade da bioacumulação ao longo da cadeia alimentar, acumulando-se nos organismos vivos que estão no topo da cadeia, os homens. No quadro 1, Dalla Favera (2008) explica os efeitos que substâncias tóxicas presentes em componentes eletrônicos causam para à saúde, bem como onde estas são encontradas:

Componente Efeito na saúde Onde é usado

Chumbo Causa danos ao sistema nervoso e sanguíneo.

Computador, celular e televisão.

Mercúrio Causa danos cerebrais e ao fígado.

Computador, monitor e TV de tela plana.

Cádmio Causa envenenamento, danos aos ossos, rins, pulmões e afeta o sistema nervoso.

Computador, monitores de tubo antigos, baterias de laptops.

Arsênico Causa doenças de pele, prejudica o sistema nervoso e pode causar câncer no pulmão.

Celular

Berílio Causa câncer no pulmão Computador, celular.

Retardante de chamas (brt)

Causam desordens hormonais, nervosas e reprodutivas.

Diversos componentes eletrônicos, para previnir incêndios.

PVC Se queimado e inalado, pode causar problemas respiratórios.

Em fios, para isolar a corrente.

Quadro 1 – Componentes presentes em produtos eletrônicos e seus efeitos na saúde humana Fonte: (DALLA FAVERA, 2008)

Dalla Favera (2008) alerta, ainda, para o fato de que todo lixo eletrônico descartado de maneira incorreta tende a trazer prejuízos à saúde humana. Pode-se falar tanto de prejuízos diretos, quanto catadores se expõem diretamente ao lixo comum, onde podem se contaminar por substâncias químicas oriundas de produtos descartados de modo inadequado, ou indiretos, quando ocorre a contaminação de lençóis freáticos ou do ar, através da incineração desse tipo de lixo. Um meio de evitar tais prejuízos está no descarte adequado e na reciclagem deste material. Segundo Affonso (2008 apud FERREIRA; FERREIRA, 2008), boa parte dos materiais que compõem um computador podem ser recicladas. Por exemplo, 80% do alumínio e do ferro, 90% do cobre, 98% do ouro e da prata que são usados nas peças do computador descartado podem ser reciclados ao invés de serem retirados da natureza para produzir novos computadores.

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8 DESCARTE DO LIXO ELETRÔNICO Farias e Marcos (2013 apud HOLANDA, 2013) expõem a consciência como um fator importante quando se trata de descarte do lixo eletrônico. Cada vez mais as OGN’s participam ativamente para a criação de leis e políticas que garantam práticas adequadas, tanto no processo de fabricação, quanto no processo de descarte dos produtos eletroeletrônicos (FERREIRA; FERREIRA, 2008). Segundo Freitas (2009), desde a década de 1990 existem diversos projetos para implementar um processo de produção de “computador verde”, ou seja, um equipamento que consuma menos matéria-prima não reciclável na sua produção e que não consuma tanta energia durante sua vida útil. Marcos (2013 apud HOLANDA, 2013) sugere que “campanhas de orientação do consumidor devem ser feitas, para que eles façam o descarte correto do lixo eletrônico” e informa, ainda que "em dez anos, se nada for mudado, vai ter caos". Atualmente não há uma preocupação notável dos grandes empresários com o descarte adequado dos bens eletroeletrônicos produzidos. Segundo Ribeiro (2008 apud FERREIRA; FERREIRA, 2008), 90% do lixo eletrônico produzido atualmente pode ser reaproveitado de alguma maneira, negócio que se torna cada vez mais rentável. Segundo Holanda (2013), a Política Nacional de Resíduos Sólidos, no seu artigo 33, seção II, capítulo III prevê que os produtos a seguir devem ser moldados ao sistema de devolução no pós-consumo:

I - agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim como outros produtos cuja embalagem, após o uso, constitua resíduo perigoso, observadas as regras de gerenciamento de resíduos perigosos previstas em lei ou regulamento, em normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama, do SNVS e do Suasa, ou em normas técnicas; II - pilhas e baterias; III - pneus; IV - óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens; V - lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; VI - produtos eletroeletrônicos e seus componentes (HOLANDA, 2013)

Em relação às pilhas e baterias, por exemplo, a legislação brasileira, na Lei nº 6.938/81, resolução 257/99, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), exige que as baterias e pilhas sejam encaminhadas para um descarte adequado, devendo ser direcionadas para o fabricante (FERREIRA; FERREIRA, 2008). A maior parte das empresas ainda não está propensa a receber a sucata eletrônica proveniente dos produtos que fabricou, o que as impede de reaproveitar materiais em outros equipamentos, reduzindo os custos do processo de produção (FREITAS, 2009). Algumas empresas, atualmente, realizam a coleta adequada destes equipamentos para que seja dada a devida destinação e/ou reciclagem. Abaixo serão descritos alguns projetos bem sucedidos no Brasil, como o Descarte Certo, que é uma empresa que atua em parceria com corporações e residências a fim de recolher o e-lixo e encaminhá-lo para as usinas de reciclagem. O Projeto Descarte Correto também é um exemplo de empresa que utiliza o lixo

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eletrônico como base para qualificar profissionais e implementar centros de inclusão digital em comunidades carentes.

Figura 2 – Recolhimento de lixo eletroeletrônico

Fonte: (FERREIRA, 2012) 8.1 Logística Reversa: uma opção de descarte Segundo Freitas (2009), a logística reversa é o processo de coleta, desmontagem e processamento do material que compõe os produtos eletroeletrônicos, a fim de assegurar uma recuperação sustentável. Leite, Lavez e Souza (2009), por sua vez, denominam a logística reversa como o gerenciamento do caminho inverso dos materiais que formam o produto eletroeletrônico. Este processo tem ganhado espaço no Brasil. Desse modo, a empresa responsável por fabricar e inserir o produto no mercado, também se responsabiliza pelo seu descarte adequado. Brito e Dekker (2002 apud LEITE; LAVEZ; SOUZA, 2009) comentam que o processo de logística reversa funciona como um método de gerar lucro direta e indiretamente, pois, além da redução dos custos obtida pelo reaproveitamento de materiais recolhidos ou reciclados, a empresa forma uma boa imagem corporativa, agregando a sua marca a responsabilidade com o meio ambiente e com a sustentabilidade. Isso já funciona como um diferencial de mercado para aqueles consumidores conscientes. Para uma empresa implementar esse processo de logística reversa, Leite, Lavez e Souza (2009) apontam alguns requisitos os quais tornam o processo viável: primeiro é necessário se ter um centro de recolhimento, ou seja, um espaço para receber o lixo eletrônico ou ainda uma logística que realize esse recolhimento à domicílio ou em diferentes pontos. É importante também que se tenha uma área própria para a triagem desse material recebido, separando as peças cabíveis de reutilização, de reparos e de reciclagem. Como se pode perceber, é necessário possuir mão-de-obra especializada para realizar essa separação de maneira adequada, de modo a enviar cada material paras suas respectivas indústrias recicladoras.

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Figura 3: Processo de Reciclagem do e-lixo.

Fonte: (SANTOS; SANTANA, 2012)

Ainda para Leite, Lavez e Souza (2009), o fator legislativo também é um forte impulsionador para que as empresas passem a se importar com o descarte adequado dos bens eletrônicos que produzem. Os danos ao meio ambiente já estão ganhando grandes dimensões, e toda a sociedade começa a se mobilizar para encontrar soluções e punir aqueles que parecem não se preocupar com o bem comum. Também para Casagrande Jr. ([200-?]), uma legislação ambiental mais rigorosa seria a solução mais eficiente para incentivar a inovação tecnológica a favor da sustentabilidade. Lima, Silva e Lima (2008) apontam, ainda, para o cunho social nesse processo de manufatura reversa, onde peças e até equipamentos obsoletos para algumas pessoas e empresas podem ser úteis para outras pessoas marginalizadas do processo de inclusão digital. Leite, Lavez e Souza (2009) exemplificam através de um estudo de caso, o processo de logística reversa que acontece na empresa ITAUTEC, empresa que produz computadores, notebooks e terminais eletrônicos aqui no Brasil. Após a devolução dos produtos eletrônicos danificados ou obsoletos, esses são enviados para a fábrica em Jundiaí- SP, onde existe uma triagem e separação manual dos elementos que compõem as máquinas. Assim, as peças em melhor estado, são destinadas a centros de reparação da assistência técnica. Os outros componentes que não poderão ser reutilizados passam pelo processo de descaracterização, onde são enviados as suas respectivas indústrias recicladoras. No caso das placas de computadores, são enviadas para reciclagem em Cingapura. 9 RECICLAGEM DE LIXO ELETRÔNICO A reciclagem de lixo eletrônico pode ser vista como uma interessante oportunidade econômica, diante da demanda de descarte que se tem atualmente. A coleta, o teste dos equipamentos, a desmontagem e a separação dos materiais passíveis de reciclagem ou, ainda, de reuso, têm sido um processo cada vez mais viável e lucrativo, além de contribuir para a sustentabilidade dos recursos naturais, já que boa parte desses produtos retorna ao mercado sem precisar ser extraído novamente da natureza (BIZZO, 2007 apud FERREIRA; FERREIRA, 2008).

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Segundo Tavares, Ferreira e Torres (2009), a preocupação com a reciclagem do lixo tecnológico passa a ser fomentada pela mídia, com comerciais que incentivam a tomada de consciência por parte dos indivíduos, mas também pela legislação, que tende a se tornar cada vez mais rígida, principalmente no que diz respeito à responsabilização dos fabricantes pelo recolhimento e reciclagem dos equipamentos produzidos. Apenas 10 a 15% do lixo tecnológico é tratado ou reciclado em todo o mundo. Do mesmo modo, a quantidade de produtos fabricados cresce a cada dia, então são necessárias mais ações que acelerem o processo de mudança cultural, a fim de modificar as práticas sociais voltadas ao consumo sustentável (TAVARES; FERREIRA; TORRES, 2009). 9.1 Processo de reciclagem da empresa Descarte Certo No Brasil, a empresa Descarte Certo se propõe a fazer a gestão completa do processo de descarte de resíduos eletrônicos pós-consumo. De acordo com informações fornecidas por Ernesto Watanabe, um dos fundadores da Descarte Certo, a empresa inicia o processo de reciclagem com a criação de modelos de negócios que possibilitem a pessoas físicas ou empresas destinarem seus resíduos. A prestação do serviço começa com a rede de operadores logísticos, parceiros, que coletam os produtos/resíduos onde estiverem, a nível nacional, em qualquer quantidade. Esses produtos são levados às unidades de Manufatura Reversa, a partir de um planejamento que minimize custos financeiros e ambientais, mantendo, porém, a rastreabilidade (informação por e-mail em 23/05/2013). Na unidade de Manufatura Reversa, segundo Watanabe, o material passa por processos que se iniciam com classificação, pesagem, inspeção visual e identificação com os dados mencionados. Eles podem se enquadrar em 3 processos: destruição agendada, destruição imediata ou processo via Receita Federal (caso em que o fabricante, sob determinadas condições, pode recuperar os impostos pagos durante a fabricação de produtos que nunca chegam ao mercado). No momento de sua destruição, os materiais seguem para as linhas de desmontagem, onde os processos são diferenciados por tipo de produto, tanto em processo quanto em equipamentos utilizados. Da desmontagem saem os resíduos, que serão separados, classificados, pesados novamente e, eventualmente, processados para valorização (moagem de plásticos, prensagem de metais etc.) (informação por e-mail em 23/05/2013). Finalmente, os resíduos são vendidos ou enviados para aterro – apenas quando a tecnologia não permite o reaproveitamento. Na saída, é realizada uma nova pesagem para garantir o chamado Balanço de Massa, em que são comparados os pesos na entrada e saída, para assegurar que nada se perdeu no processo (informação por e-mail em 23/05/2013). Na triagem, Watanabe informa que não se empregam máquinas, apenas é realizada a separação manual dos materiais. Somente na Manufatura Reversa foi implementado o uso de algumas máquinas para facilitar o processo. Os equipamentos utilizados pela Descarte Certo podem ser importados ou nacionais, dependendo da função. Utiliza-se, por exemplo, uma máquina prensadora de metais, outra de moagem do plástico e as máquinas utilizadas para pesagem do material. A empresa afirma, porém, que este processo ainda não justifica uma grande automação por conta do volume e de alguns aspectos de Política Industrial que até o momento não provê programas que valorizem o reaproveitamento de resíduos. É necessário também haver um bom esforço da empresa na qualificação da mão-de-obra para realizar esses processos (informação por e-mail em 23/05/2013).

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De acordo com Watanabe, o uso de EPI é mandatório para as pessoas que trabalham em todas as etapas desse processo, variando, contudo, a depender do tipo de contato que ocorrerá com os materiais. Existe o risco da exposição a alguns contaminantes, o que pode ser perigoso principalmente na desmontagem dos aparelhos. Logo, os equipamentos utilizados pelos trabalhadores são básicos, como jaleco, capacete, luva e óculos. Em alguns processos que exijam contato parcial em ambientes com máquinas, pede-se o uso de máscara e protetor auricular (informação por e-mail em 23/05/2013).

Existe diferença entre os processos de reciclagem, já que um computador, por exemplo, é composto por materiais mais simples como o plástico, mas também por outros elementos como as baterias. Watanabe explica que não só o processo é diferente, como também a Certificação Ambiental. Particularmente, itens como pilhas, baterias, lâmpadas e outros, sequer são manuseados nas plantas da Descarte Certo. Separam-se esses produtos e os encaminham para empresas certificadas para realizar a reciclagem de cada tipo de material. Acompanhado do respectivo CADRI – Certificado de Autorização de Destinação de Resíduo Industrial. O processamento de alguns produtos geram resíduos perigosos, como o gás dos refrigeradores ou os vidros dos tubos de TV. Esses também requerem processos diferentes de resíduos inertes como plásticos ou metais, os quais são realizados por empresas específicas (informação por e-mail em 23/05/2013).

9.2 Projeto Descarte Correto Em Manaus, no Amazonas, ainda existe o Projeto Descarte Correto, que foi criado há cerca de 2 anos e se tornou uma organização social especializada na gestão de lixo tecnológico, responsável ainda pela educação ambiental e capacitação profissional de jovens de comunidades carentes (GITEL, 2013). Nesse projeto social, são recebidos ou coletados produtos eletrônicos sem mais utilidade e, num galpão, é realizado o processo de triagem, onde as peças são separadas. Nesse galpão também acontece a montagem de novas máquinas, como computadores e impressoras, os quais são encaminhados para centros de inclusão digital, em parcerias com igrejas e ONG’s de comunidades carentes da região (GITEL, 2013).

Figura 4 - Centros de inclusão digital com computadores e equipamentos reutilizados.

Fonte: (GITEL, 2013)

Para o processo de coleta, existem os chamados pontos de coleta, onde as pessoas físicas podem descartar equipamentos velhos, com ou sem utilidade; e a empresa conta com um carro para realizar a coleta em firmas, cobrando apenas uma taxa simbólica. No caso de empresas a Descarte Correto, são emitidos certificados de destinação final, amparados por

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órgãos ambientais (Ibama e Ipaam) que dão a licença para operar os equipamentos, fazendo com que as empresas que descartam corretamente o e-lixo podem apresentá-los a auditorias e trâmites da ISO 14000 (GITEL, 2013).

O Projeto ainda capacita jovens carentes, entre 16 e 24 anos, que buscam o primeiro emprego, fornecendo aulas para desenvolver habilidades específicas na área de manutenção de computadores e redes, bem como noções de manufatura reversa e educação ambiental. A empresa também comercializa a sucata eletrônica proveniente dos processos de desmontagem, como cobre e ferro, realizando parcerias com indústrias e usinas de reciclagem (GITEL, 2013). Prolongando a vida útil dos computadores e equipamentos, além de proporcionar a inclusão digital em centros que proporcionam a capacitação de pessoas em vulnerabilidade social, são também reduzidas a quantidade de lixo eletrônico que seria enviada a aterros sanitários, bem como a matéria-prima que seria extraída da natureza para produzir novas máquinas (GITEL, 2013). A cada 10 computadores recuperados e remontados, é criado um centro de inclusão digital em comunidades carentes da região. O importante, também é dar visibilidade ao projeto e fomentar a cultura de reutilização de materiais já disponíveis no meio para iniciar um novo ciclo de produção, ao invés de buscar na natureza os recursos esgotáveis para isso (GITEL, 2013).

Figura 5 – Processo de Manufatura Reversa e reciclagem do lixo eletrônico

realizado pela empresa Descarte Correto Fonte: (GITEL, 2013)

9.3 Reciclagem de Pilhas e de Baterias Segundo Wolff e Conceição (2001), a crescente preocupação com o descarte adequado de pilhas e de baterias no Brasil é decorrente das consequências causadas pelo acúmulo de

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substancias tóxicas e metais pesados ao longo da cadeia trófica, o que vem prejudicando o meio ambiente e a saúde humana. Além disso, os recursos naturais extraídos da natureza para fabricar esses equipamentos estão diminuindo, o que faz com que comece a se pensar na reciclagem e reutilização dos materiais oriundos de aparelhos obsoletos. As pilhas e baterias são como mini-usinas que transformam energia química em energia elétrica. O que difere uma pilha de uma bateria, é que a pilha é uma unidade simples, constituída de um polo negativo (ânodo) e um polo positivo (cátodo), mergulhados no eletrólito que irá facilitar essa reação química entre os dois elétrodos. Já as baterias são formadas por uma série de pilhas ligadas em série. Os eletrólitos podem ser ácidos ou básicos, a depender do tipo de pilha ou bateria, e os eletrodos são constituídos por uma variedade de metais pesados, potencialmente perigosos, como chumbo e mercúrio (WOLFF; CONCEIÇÃO, 2001). As pilhas de zinco-carbono, bem como as alcalinas de manganês, são aquelas mais comuns, composta por zinco, manganês, aço, carbono, cloretos e água. São destinadas ao uso geral, como nos aparelhos domésticos, e contabilizam a grande maioria do total de pilhas comercializadas no mercado nacional (WOLFF; CONCEIÇÃO, 2001).

Tabela 1 – Porcentagem de vendas de pilhas e de baterias no Brasil

TIPOS DE PILHAS E BATERIAS % VENDAS

Pilhas de Zinco-carbono 68,31%

Pilhas Alcalinas 29,28%

Baterias de Celular 1,08%

Baterias Automotivas 1,3%

Baterias Industriais 0,02%

Fonte: (WOLFF; CONCEIÇÃO, 2001)

O zinco, o manganês e o aço podem ser reciclados, enquanto o carbono pode ser reutilizado. Assim, observa-se que cerca de 55% do conteúdo médio de uma pilha pode ser reciclado e mais 10% pode ser reutilizado (WOLFF; CONCEIÇÃO, 2001).

Tabela 2 – Porcentagem do conteúdo médio de uma pilha de uso geral

MATERIAL QUANTIDADE NA

PILHA

Outros 35%

Zinco 20%

Manganês 20%

Aço 15%

Carbono 10%

Fonte: (WOLFF; CONCEIÇÃO, 2001)

Segundo Wolff e Conceição (2011), a recuperação de alguns metais decorrentes de pilhas e baterias já utilizadas vem ganhando espaço como uma atividade comercial. O chumbo, por exemplo, pode ser recuperado de baterias automotivas, o níquel-cádmio das baterias de celular e o zinco metálico das pilhas tipo zinco-carbono. A Resolução do CONAMA nº 257/1999 estabelece que as pilhas e baterias que contenham em sua composição chumbo, cádmio, mercúrio e seus compostos, depois de utilizadas,

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tenham os procedimentos de reutilização, reciclagem e tratamento ambientalmente adequados. Em 2008, a resolução nº 401 veio para gerar mais efetividade no que diz respeito à responsabilização dos fabricantes pelo ciclo completo dos produtos produzidos. A cada ano, a legislação tende a tornar mais rigoroso o controle da fabricação e do tratamento final dado a produtos como pilhas e baterias, a fim de garantir a segurança ambiental (WOLFF; CONCEIÇÃO, 2011). 9.3.1 Processos de Reciclagem O processo de eletrorefino é uma das alternativas para se recuperar o zinco das pilhas de zinco-carbono utilizadas. Nesse processo ocorre a purificação de metais como o cobre. Passa-se uma corrente através de uma solução iônica, onde estão mergulhados o ânodo e o cátodo e, através de reações, ocorre a purificação do elemento (WOLFF; CONCEIÇÃO, 2011). Tenório e Espinosa ([200-?]) ainda apontam alguns métodos de reciclagem desses metais pesados (encontrados em pilhas e baterias) que foram surgindo ao longo dos anos, fomentados pelas pressões políticas e das legislações cada vez mais rigorosas. Para reciclar pilhas e baterias existem três processos diferentes: o baseado em operações de tratamento de minérios, hidrometalúrgica e pirometalúrgica. Abaixo, pode observar-se os ciclos dos processos pirometalúrgicos e hidrometalúrgicos (TENÓRIO; ESPINOSA, [200-?]).

PROCESSO DE RECICLAGEM POR ROTA PIROMETALÚRGICA

Produto Inicial: Sucata de pilhas e baterias

TRIAGEM (separação das baterias por tipo)

PROCESSAMENTO FÍSICO E MECÂNICO

TRATAMENTO TÉRMICO (atmosfera controlada)

Produto Final: material contendo ferro, níquel e cobalto

Quadro 2 – Esquema geral para reciclagem de baterias por rota pirometalúrgica Fonte: (MANTUANO et al., 2011)

PROCESSO DE RECICLAGEM POR ROTA HIDROMETALÚRGICA

Produto inicial: Sucata de pilhas e baterias

TRIAGEM (separação das baterias por tipo)

PROCESSAMENTO FÍSICO E MECÂNICO

LIXIVIAÇÃO

BENEFICIAMENTO DE LICORES: Extração por solventes, precipitação, troca iônica

RECUPERAÇÃO DO METAL OU COMPOSTOS: Eletrólise, precipitação de compostos, etc.

Produto final: Metal ou compostos metálicos

Quadro 3 – Esquema geral para reciclagem de pilhas e baterias por rota hidrometalúrgica Fonte: (MANTUANO et al., 2011)

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Tenório e Espinosa ([200-?]), ainda apontam os principais métodos de reciclagem de pilhas e baterias utilizadas em todo o mundo, no quadro abaixo.

PRINCIPAIS PROCESSOS DE RECICLAGEM DE PILHAS E BATERIAS

SUMITOMO - Processo Japonês totalmente pirometalúrgico de custo bastante elevado,

utilizado na reciclagem de todos os tipos de pilhas, menos as do tipo Ni-Cd.

RECYTEC - Processo utilizado na Suíça nos Países Baixos desde 1994 e que combina pirometalurgia, hidrometalurgia Mineralurgia. É utilizado na reciclagem de todos os tipos de

pilhas e também lâmpadas fluorescentes e tubos diversos que contenham mercúrio

Esse processo não é utilizado para a reciclagem de baterias de Ni-Cd, que são separadas e enviadas para uma empresa que faça esse tipo de reciclagem

O investimento deste processo é menor que o SUMITOMO entretanto os custos de operação são maiores.

ATECH- Basicamente mineralúrgico e portanto com custo inferior aos processos anteriores,

utilizado na reciclagem de todas as pilhas.

SNAM-SAVAM- Processo Francês, totalmente pirometalúrgico para recuperação de pilhas do tipo Ni-Cd.

SAB-NIFE- Processo Sueco, totalmente pirometalúrgico para recuperação de pilhas do tipo

Ni-Cd.

INMETCO- Processo Norte Americano da INCO (Pennsylvania, EUA), foi desenvolvido inicialmente, com o objetivo de se recuperar poeiras metálicas provenientes de fornos elétricos. Entretanto, o processo pode ser utilizado para recuperar também resíduos

metálicos proveniente de outros processos e as pilhas Ni-Cd se enquadram nestes outros tipos de resíduos

WAELZ- Processo pirometalúrgico para recuperação de metais provenientes de poeiras. Basicamente o processo se dá através de fornos rotativos. É possível recuperar metais

como Zn, Pb, Cd

Quadro 4 – Processos de Reciclagem de Pilhas e Baterias

Fonte: (TENÓRIO E ESPINOSA, [200-?])

Os materiais produzidos através desses processos de reciclagem, em geral, são comercializados a indústrias que produzem baterias ou pilhas, ou ainda para as que se envolvem na fabricação de aço inoxidável (TENÓRIO; ESPINOSA, [200-?]). Conclusões e recomendações Há a necessidade de se repensar o estilo de vida voltado para o consumo descontrolado. Além disso, é preciso associar o desenvolvimento do conhecimento à criação de melhores práticas de fabricação e manejo desses recursos poluentes e nocivos. Utilizar os aparelhos e equipamentos até o final de sua vida útil, ou ainda adotar práticas de responsabilização pelo ciclo final após o descarte são ações que devem cada vez mais ser implementadas em nossa cultura. Os indivíduos devem estar atentos aos fabricantes que se propõe a recolher os equipamentos ao final de sua vida útil, às empresas e associações que recolhem materiais eletrônicos obsoletos destinando-os a centros de inclusão digital ou

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programas de formação, enfim, são práticas conscientes que tornam os cidadãos elementos ativos nessa proposta de mudança social. Uma possível solução para o problema do e-lixo no Brasil seria a criação de normas e leis mais rigorosas que obrigassem os fabricantes de eletroeletrônicos a reduzir o índice de substâncias tóxicas em seus produtos, a coletar e descartar adequadamente aqueles produtos por ele fabricados, reutilizando e reciclando o que fosse possível, sob pena de multa e perda do alvará de funcionamento. Outra sugestão seria o fomento à criação de máquinas e equipamentos que otimizassem o processo de reciclagem do lixo eletrônico, já que se trata de um processo com suas especificidades por conta da diversidade de material envolvido na constituição de um produto eletrônico. Seria essa uma forma de incentivar o uso do conhecimento a favor do futuro do planeta e do desenvolvimento sustentável. Recomenda-se o contato com algumas empresas brasileiras bem sucedidas no ramo de reciclagem de lixo tecnológico, como a Descarte Certo <http://www.descartecerto.com.br> e da CEMPRE <http://www.cempre.org.br>. Referências CASAGRANDE JR., Eloy Fassi. Inovação tecnológica e sustentabilidade: integrando as partes para proteger o todo. [Novo Hamburgo], [200-?]. Disponível em: <http://aplicweb.feevale.br/site/files/documentos/pdf/23231.pdf>. Acesso em: 08 mar. 2013. COSTA, Márcio Henrique Pena et al. Geração e destinação de lixo eletrônico: um estudo de caso em empresa de telecomunicações. [Rio Bonito], [201-?]. Disponível em: <http://www.web-resol.org/textos/576-302.pdf>. Acesso em: 05 jun. 2013. DALLA FAVERA, E. C. Lixo eletrônico e a sociedade. 2008, 8 f. Trabalho como requisito parcial para aprovação na disciplina de Computadores e Sociedade (Graduação em Ciência da Computação), Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2008. Disponível em: <http://www-usr.inf.ufsm.br/~favera/elc1020/t1/artigo-elc1020.pdf>. Acesso em: 08 mar. 2013.

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