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  • Msica12 Novembro 2011Ciclo Concertos no Palco

    Recital a dois cravos

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    Sb 12 de Novembro 18hPalco do Grande Auditrio Durao: 1h10 com intervalo M12

    Cravo Aapo Hkkinen Cravo Marcos Magalhes

    Franois Couperin (16681733)Allemande deux clavecins

    Gaspard Le Roux (ca. 1660-1707)Suite em R para dois cravos

    J.S. Bach (1685-1750)Fantasia em L menor, BWV 922Concerto em D Maior, BWV 1061Allegro; Adagio ovvero Largo; Fuga

    intervalo

    J.S. Bach (1685-1750)Fantasia em D menor, BWV 906

    Christoph Schaffrath (1709-1763)Duetto II em L menorAllegro; Adagio; Allegro

    Mrio Laginha (1960)Suite do Musgo, pea para dois cravos (estreia mundial)

    G.F. Hndel (1685-1759)Concerto grosso em L menor op. 6/4 Arranjo de Enrico BaianoLarghetto Affetuoso; Allegro; Largo e Piano; Allegro

    meia centena de peas, a maioria das quais organizada segundo os princpios da suite instrumental, com um prel-dio introdutrio e uma srie de danas que se lhe seguem, entre as quais a Allemande, a Sarabanda e a Gavotte. O que a torna singular , porm, a apre-sentao sistemtica de verses alterna-tivas para os andamentos de dana, sob a forma de trio destinado a duas partes instrumentais agudas no especificadas, com acompanhamento de baixo-cont-nuo. Para alm desta possibilidade de execuo, inspirada nos trios-sonata de cmara, Le Roux soma ainda a algumas das peas, como presente Suite, partes obbligato para um segundo cravo, inse-rindo uma derradeira Gigue, em partitura integral para dois cravos.

    A mesma predileo pelos jogos de sonoridades entre instrumentos distintos emana da Allemande deux clavecins de Franois Couperin (1668-1733), com-positor, cravista e terico musical ligado escola francesa do Barroco pleno, responsvel por um vasto catlogo musical que inclui obras vocais religiosas e seculares, peas de cmara e quatro livros de Pices de Clavecin, ncleo este que figura entre as maiores realizaes musicais setecentistas.

    Sobrinho de Louis Couperin, Franois Couperin ocupou os postos musicais mais destacados da corte francesa, entre os quais o de organista da Capela Real, mestre de msica dos infantes e compo-sitor titular, criando sua volta uma aura de respeitabilidade e venerao que lhe granjeou o cognome Le Grand.

    A Allemande deux clavecins inau-gura a nona ordre do segundo livro das Pices de Clavecin (Paris, 1717), segundo o termo que os criadores

    O frtil legado de msica barroca para tecla continua, hoje em dia, a represen-tar um testemunho bem vivo da diver-sidade de estilos, formas e idiomas que outrora permearam as mltiplas corren-tes musicais europeias, das mais proemi-nentes s mais perifricas e injustamente esquecidas. Os compositores franceses deram um contributo decisivo para a disseminao de toda uma literatura destinada a instrumentos como o cravo, o clavicrdio, o virginal e o rgo, logo a partir das primeiras dcadas do sculo XVII. Entre estes, figuraram nomes como Jacques Chambonnires (c.1602-1672), Louis Couperin (c.1626-1661) e Jean-Henri dAnglebert (1635-1691), a quem se deve a gnese e a consolidao da escola francesa para cravo, sobretudo por via de um repertrio constitudo por danas estilizadas. Menos conhecido o compositor e cravista Gaspard Le Roux (c.1660-c.1707), cuja Suite em R menor, para dois cravos, faz parte do presente programa. Muito pouco se sabe acerca da vida deste compositor e cravista, o qual veio a dar continuidade tradi-o musical francesa at aos incios do sculo XVIII. A par com referncias espo-rdicas na imprensa peridica de Paris, subsiste uma meno a Le Roux no Livre commode, contenant les adresses de la ville de Paris (Paris, 1692) de Blegny du Pradel e ainda o panegrico tecido pelo musicgrafo Sbastian de Brossard, que o considerou um excelente cravista e msico notvel.

    Em 1705 foram publicadas em Paris, com privilgio real, as Pices de cla-vessin de Le Roux, pedra de toque do seu legado de composies, de que se conhecem apenas mais alguns motetes e rias srias. A recolha integra cerca de

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    obra anuncia j os contornos da futura forma sonata de primeiro andamento, no modo como promove a oposio entre dois temas distintos, a sua transforma-o numa seco modulante intermdia e a recapitulao derradeira do tema principal. de salientar que Fantasia BWV 906 se encontra apensa uma fuga fragmentria cuja data de composio remonta a cerca de 1704.

    No subsistiu, no tempo, a verso originria do Concerto em D maior, BWV 1061, obra que se conhece na verso para dois cravos, cordas e baixo--contnuo, elaborada entre 1732 e 1735, em Leipzig. uma limitao comum, de resto, a outros concertos, entre os quais os Concertos para cravo, BWV 1052 e BWV 1063 e o Concerto para flauta, violino e cravo, BWV 1044. Os estudos recentes dos musiclogos Siegbert Rampe e Dominik Sackmann inferem que a primeira verso do Concerto BWV 1061 ter tido origem durante o perodo de Weimar e destinar-se-ia apenas a dois cravos, razo pela qual a obra , por vezes, interpretada com recurso a este efetivo. Apesar de no apresentar indi-cao de tempo, o carter do primeiro andamento aponta para um Allegro de concerto, com figuraes motvicas pro-lixas e progresso rpida de harmonias, aspetos que concorrem para uma sensa-o global de exuberncia e diversidade, muito ao gosto italiano. O Adagio ovvero Largo que se segue impe um pathos contrastante, mais voltado para a con-templao. Os dois instrumentos parti-lham as linhas condutoras do discurso meldico, apoiadas numa estrutura de acompanhamento bastante simplificada. Na Fuga final o compositor evidencia muita da arte imitativa pela qual era

    de 1750, situando-se na linha das pro-postas francesas, no que diz respeito s linhas rtmicas enrgicas e ao uso de acordes quebrados, mas introdu-zindo, ao mesmo tempo, uma elabo-rada conceo contrapontstica, a qual permaneceria apangio dos compo-sitores germnicos do Barroco tardio, mais notavelmente de Johann Sebastian Bach. No andamento lento sobressai, por outro lado, uma sensibilidade meldica prxima do estilo galante, o que coloca Schaffrath na linha de viragem estilstica, entre o Barroco final e o despertar das tendncias classicistas, representadas por Johann Gottlieb Graun (1703-1771), Carl Heinrich Graun (1704-1759) e Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788), entre outros compositores.

    Johann Sebastian Bach (1685-1750) e Georg Friedrich Hndel (1685-1759) encontram-se, sem dvida, entre os vultos mais conhecidos de toda a msica barroca e a eles se deve uma sntese monumental de influncias nacionais, a percorrer um corpus massivo de gneros instrumentais e vocais, verdadeiro patri-mnio da cultura europeia.

    De Johann Sebastian Bach escuta-remos trs obras, duas Fantasias e o Concerto para dois cravos, em D maior, BWV 1061. Logo desde o incio da sua atividade como organista, nas cidades de Arnstadt, Mhlhausen e Weimar, Bach dedicou muito do seu tempo ao cultivo de preldios, tocatas, fantasias e fugas para tecla, composies que podiam ser executadas, igualmente, noutros ins-trumentos, como o cravo ou o clavicr-dio. Estas peas relativamente breves, muitas vezes articuladas em dpticos ou trpticos, adequavam-se, sobremaneira, s situaes em que eram habitualmente

    executadas, no curso das liturgias lutera-nas ou a preceder peas vocais de maior escala, na mesma tonalidade. Podiam tambm servir como balo de ensaio para o desenvolvimento de motivos musicais ou harmonizaes, com fins pedaggicos. Em qualquer dos casos, a sua natureza improvisada permitia ajus-tes diversos no prprio ato de execuo, pelo que o autgrafo ou cpia legtima nunca devem ser vistos como texto musical absoluto, mas como estrutura de base, sempre recetiva ao contributo criativo do intrprete.

    O facto de a Fantasia em D menor, BWV 922, ter chegado atualidade por via de uma coleo de cpias manuscri-tas realizada, conjuntamente, por dois colaboradores de J. S. Bach em Weimar, Johann Tobias Krebs e Johann Gottfried Walther, torna plausvel situar a compo-sio entre 1708 e 1717, precisamente no perodo em que Bach ocupou as funes de msico de cmara, organista e diretor musical da orquestra daquela cidade. Contudo, a investigao admite ainda tratar-se de uma obra gerada em data anterior a 1708, tendo depois transitado para o repertrio em uso na corte de Weimar. Esta possibilidade deriva da anlise das caractersticas estilsticas da obra e, em particular, da repetio de padres motvicos fixos, elo que partilha com o Preldio em L menor, BWV 569.

    Os subtis cromatismos da Fantasia BWV 922 so comuns Fantasia em D menor, BWV 906, uma obra proce-dente dos finais da dcada de 1730, quando Bach ocupava o posto de Kantor da Igreja de So Toms, em Leipzig. Revelando o mesmo tipo de textura livre, baseada na sucesso de figuraes rpidas, ascendentes e descendentes, a

    franceses utilizavam para designar uma sucesso de danas estilizadas com caractersticas contrastantes e que correspondia, noutros contextos, suite ou partita. A par com as obras de Le Roux, a Allemande de Franois Couperin representa um dos raros exemplos de msica composta expressamente para dois cravos, da qual ressalta o carter majestoso da ancestral dana de passos, em compasso quaternrio, com a tpica anacrusa inicial. Igualmente caractersti-cos so os harpejos inspirados no style brise das peas para alade e os ela-borados ornamentos, fruto de dcadas de refinamento. Aos intrpretes cabe, muitas vezes, fazer recurso a conven-es tcitas como a ingalit, segundo a qual se torna possvel alterar o padro rtmico de uma sequncia homog-nea de figuras, geralmente grupos de semicolcheias.

    A uma distinta corrente de msica barroca pertence o compositor germ-nico Christoph Schaffrath (1709-1763), do qual se sabe ter ocupado, a partir de 1740, o posto de cravista na corte berli-nense do Prncipe Frederico da Prssia (mais tarde Frederico o Grande). No ano seguinte, foi nomeado msico ao servio da irm de Frederico, Amalia, tendo o seu nome figurado, ne