Recomendações da DGS sobre o Zika

download Recomendações da DGS sobre o Zika

of 7

Transcript of Recomendações da DGS sobre o Zika

  • 7/25/2019 Recomendaes da DGS sobre o Zika

    1/7

    Orientao n 001/2016 de 15/01/2016 atualizada a 08/02/2016 1/6

    NMERO: 001/2016

    DATA: 15/01/2016

    ATUALIZAO: 08/02/2016

    ASSUNTO: Doena por vrus Zika

    PALAVRAS-CHAVE: Vrus Zika; Arboviroses;Aedes aegypti; Aedes albopictus

    PARA: Sistema Nacional de Sade

    CONTACTOS: [email protected] termos da alnea a) do n 2 do artigo 2 do Decreto Regulamentar n 14/2012, de 26 de

    janeiro, emite-se a Orientao seguinte:

    1. Introduo

    O vrus Zika um vrus da famlia Flaviviridaeque essencialmente transmitido a seres humanos

    pela picada de mosquitos infetados. Os principais vetores so espcies do gneroAedes.

    A doena adquiriu recentemente expresso epidmica, particularmente nos seguintes pases1:

    Barbados, Bolvia, Brasil, Cabo Verde, Colmbia, Curaao, Costa Rica, Repblica Dominicana,

    Equador, El Salvador, Fiji, Guiana Francesa, Guadalupe, Guatemala, Guiana, Haiti, Honduras, IlhasMaldivas, Jamaica, Martinica, Mxico, Nova Calednia, Nicargua, Panam, Paraguai, Porto Rico,

    Saint Martin, Suriname, Tailndia, Tonga, Venezuela e Ilhas Virgens (EUA). Foram tambm

    reportados casos no Pacfico: American Samoa, Samoa, Fiji, Nova Calednia (Frana), Ilhas

    Salomo e Vanuatu.

    A associao entre a infeo pelo vrus Zika durante a gravidez e casos de microcefalia em fetos e

    recm-nascidos, tal como a ocorrncia de alteraes neurolgicas esto sob investigao. No

    foi, ainda, estabelecido nexo de causalidade entre a infeo e a microcefalia e as alteraes

    neurolgicas, existindo apenas uma relao espao-temporal.

    No dia 1 de fevereiro de 2016, a Organizao Mundial da Sade declarou que os casos de

    microcefalia e a ocorrncia de alteraes neurolgicas, pela sua gravidade e pela carga que

    implicam para as famlias, constituem uma emergncia de Sade Pblica de mbito

    internacional.

    Em Portugal, foram confirmados pelo Instituto Ricardo Jorge 6 casos importados desta doena, 5

    dos quais provenientes do Brasil e 1 da Colmbia. Todos, no plano clnico, os casos evoluram

    favoravelmente.

    1http://ecdc.europa.eu/en/healthtopics/zika_virus_infection/zika-outbreak/Pages/Zika-countries-with-transmission.aspx

    Francisco

    HenriqueMoura George

    Digitally signed by Francisco

    Henrique Moura GeorgeDN: c=PT, o=Ministrio da Sade,ou=Direco-Geral da Sade,

    cn=Francisco Henrique MouraGeorgeDate: 2016.02.08 19:49:35 Z

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]
  • 7/25/2019 Recomendaes da DGS sobre o Zika

    2/7

    Orientao n 001/2016 de 15/01/2016 atualizada a 08/02/2016 2/6

    2. Caractersticas clnicas

    O perodo de incubao varia entre 3 a 12 dias aps a picada do mosquito fmea infetado.

    Reala-se que a maioria das infees assintomtica (cerca de 80%).

    Os sintomas so semelhantes a outras infees por arbovrus: febre, exantema que pode ser

    maculopapular, conjuntivite, mialgias, artralgias, mal-estar e cefaleias, sintomas normalmente

    ligeiros e que duram 2-7 dias2.

    3.

    Transmisso

    O mosquito Aedes aegypti o principal vetor do vrus Zika. Outras espcies do gnero Aedes

    podem ser vetores, em especialAedes albopictus.

    Foram tambm identificadas outras vias de transmisso3,5, tais como:

    a. Transmisso perinatal, provavelmente por via transplacentria ou durante o parto

    quando a me est infetada;

    b. Transmisso sexual devida presena de vrus no smen;

    c. Transfuso de sangue e derivados.

    4. Procedimentos perante uma pessoa com suspeita de infeo por vrus Zika

    4.1. Mulher regressada de rea afetada:

    a) Em idade frtil:

    i. Se est grvida3,4

    E apresenta sintomas compatveis com doena por Zika, recomenda-se:

    o Tratamento sintomtico;

    o Diagnstico laboratorial;

    o Realizao de ecografia:

    se detetada microcefalia, calcificaes intracranianas ououtras alteraes do Sistema Nervoso Central: fazer

    amniocentese para pesquisa do RNA viral (ou do vrus Zika);

    sem alteraes: repetir ecografia de 4 em 4 semanas.

    2

    http://www.who.int/mediacentre/factsheets/zika/pt/

    3http://www.cdc.gov/zika/transmission/index.html 4https://www.rcog.org.uk/globalassets/documents/news/zika-virus-interim-guidelines.pdf

  • 7/25/2019 Recomendaes da DGS sobre o Zika

    3/7

    Orientao n 001/2016 de 15/01/2016 atualizada a 08/02/2016 3/6

    E sem sintomas compatveis com Zika, recomenda-se:

    o Realizao de ecografia:

    se detetada microcefalia ou calcificaes intracranianas ou

    outras alteraes do Sistema Nervoso Central: fazer

    amniocentese para pesquisa do RNA viral (ou do vrus Zika);

    sem alteraes: repetir ecografia de 4 em 4 semanas.

    ii. Se no est grvida, recomenda-se:

    Realizao de tratamento sintomtico;

    Evitar engravidar durante 28 dias.

    b) Em idade no frtil apenas recomendado o tratamento sintomtico.

    Se a mulher est grvida ou a planear engravidar, os cuidados descritos no Ponto 4.2 devem ser

    observados no caso de o seu companheiro ter regressado de uma rea afetada.

    As decises individuais relativamente adoo de medidas no contempladas nesta Orientao

    so da responsabilidade do mdico que acompanha a gravidez e devem ser analisadas caso a

    caso.

    4.2.

    Homem regressado de rea afetada5:

    a) Se apresenta sintomas (suspeita de infeo por vrus Zika, com ou sem confirmao

    laboratorial):

    i. Realizar tratamento sintomtico;

    ii. Utilizar preservativo nas relaes sexuais durante 6 meses, luz do princpio da

    precauo e segundo os conhecimentos atualizados.

    b) Se no apresenta sintomas: utilizar preservativo nas relaes sexuais durante 28 dias.

    Estas medidas devem ser cumpridas luz do princpio da precauo, em especial se a mulher

    est grvida ou a planear engravidar.6

    5

    https://www.gov.uk/guidance/zika-virus6Embora o risco de transmisso sexual seja considerado baixo so necessrios mais estudos sobre a persistncia viralno smen.

  • 7/25/2019 Recomendaes da DGS sobre o Zika

    4/7

    Orientao n 001/2016 de 15/01/2016 atualizada a 08/02/2016 4/6

    5. Diagnstico laboratorial

    Perante a suspeita de infeo por vrus Zika as amostras biolgicas (sangue e urina) devem ser

    enviadas para o Instituto Ricardo Jorge ou para laboratrios com capacidade instalada para o

    diagnstico.

    O Instituto Ricardo Jorge faz o diagnstico de doena por vrus Zika atravs da deteo de RNA

    viral em amostras biolgicas de doentes (na fase aguda) e da deteo de anticorpos IgM e IgG no

    soro.

    O perodo de virmia curto (at 5 dias, em regra). Por isso, a deteo direta do vrus pode ser

    realizada durante os primeiros 3-5 dias aps o incio dos sintomas no sangue e at 10 dias na

    urina.

    As amostras so para:

    Pesquisa de anticorpos (mnimo 3 dias depois do incio dos sintomas): soro ou plasma;

    Deteo de RNA (at 5 dias depois do incio dos sintomas): sangue colhido em EDTA; ou

    at 10 dias depois do incio dos sintomas: urina; lquido amnitico e tecidos fetais;

    A deteo de anticorpos IgM especficos para o vrus Zika pode ser efetuada a partir do

    terceiro dia aps o aparecimento da febre.

    Os resultados serolgicos devem ser interpretados em articulao com os clnicos e de acordo

    com a eventual exposio anterior do doente a outras infees por flavivrus (por exemplo,

    dengue) ou a vacinaes contra flavivrus (febre-amarela, encefalite transmitida por carraas e

    encefalite japonesa).

    O diagnstico diferencial, assim como a pesquisa de eventual coinfeo, devem ser feitos com

    outras doenas transmitidas por mosquitos, tais como dengue e chikungunya. O paludismo,

    apesar de ser transmitido por outro vetor e provocado por um plasmodium tambm deve ser

    considerado no diagnstico.

    O perodo de resposta para as anlises realizadas no Centro de Estudos de Vectores e DoenasInfeciosas do Instituto Ricardo Jorge, em guas de Moura, de 3 dias teis para o diagnstico

    serolgico e 5 dias teis para o diagnstico molecular a contar da data da receo da amostra no

    Centro de guas de Moura do Instituto Ricardo Jorge.

    As amostras devem ser acompanhadas do respetivo formulrio (ver Anexo), transportadas em

    meio refrigerado e enviadas de acordo com as normas de transporte de amostras para:

    Instituto Ricardo Jorge

    Av Padre Cruz, 1649-016 Lisboa

    ou

    Centro de Estudos de Vectores e Doenas Infecciosas do Instituto Ricardo JorgeAv. Liberdade 5, 2965-575 guas de Moura

  • 7/25/2019 Recomendaes da DGS sobre o Zika

    5/7

    Orientao n 001/2016 de 15/01/2016 atualizada a 08/02/2016 5/6

    6. Tratamento e gesto de caso

    O tratamento sintomtico, baseado principalmente no alvio da dor, na administrao de

    antipirticos e de anti-histamnicos (erupes pruriginosas). No existe atualmente nenhuma

    vacina ou tratamento especfico para a doena por vrus Zika7.

    Recomenda-se reforo hdrico para compensar eventual desidratao associada febre.

    O tratamento com cido acetilsaliclico e anti-inflamatrios no-esterides est desaconselhado

    por um aumento do risco de sndrome hemorrgico, bem como risco de sndrome de Reye aps

    infeo viral em crianas e adolescentes.

    Perante um doente com suspeita de doena por vrus Zika, o mdico deve realizar a notificao

    imediata no SINAVE (selecionar a doena Febres Hemorrgicas Virais e Febres por Arbovrus

    Febre Zika).

    7.

    Medidas preventivas

    A principal medida de preveno a proteo contra a picada do mosquito.

    A DGS tem no seu siteinformaes para profissionais e cidados http://www.dgs.pt/paginas-de-

    sistema/saude-de-a-a-z/zika.aspx

    Recomendam-se as seguintes medidas:

    1. Antes do incio da viagem os cidados devem procurar aconselhamento em Consulta do

    Viajante8;

    2. As grvidas no devem deslocar-se, neste momento, para zonas afetadas. Caso tal no

    seja possvel, devem procurar aconselhamento em Consulta do Viajante e seguir

    rigorosamente as recomendaes dadas;

    3. As pessoas imunocomprometidas ou com doenas crnicas graves devem obter

    aconselhamento junto do seu mdico antes de planear uma viagem a uma rea afetada;

    4. Os cidados que se deslocam para reas afetadas devem adotar medidas de proteo

    sexual, nomeadamente o uso do preservativo;

    5. No pas de destino seguir as recomendaes das autoridades locais;

    6. Assegurar proteo contra a picada de mosquitos:

    a) Utilizar vesturio adequado para diminuir a exposio corporal picada (camisas de

    manga comprida, calas);

    b) Optar preferencialmente por alojamento com ar condicionado;

    7 http://ecdc.europa.eu/en/healthtopics/zika_virus_infection/factsheet-health-professionals/Pages/factsheet_health_professionals.aspx8

    http://www.portaldasaude.pt/portal/conteudos/informacoes+uteis/saude+em+viagem/consulta+de+saude+do+viajante.htm

    http://www.dgs.pt/paginas-de-sistema/saude-de-a-a-z/zika.aspxhttp://www.dgs.pt/paginas-de-sistema/saude-de-a-a-z/zika.aspxhttp://www.dgs.pt/paginas-de-sistema/saude-de-a-a-z/zika.aspxhttp://www.dgs.pt/paginas-de-sistema/saude-de-a-a-z/zika.aspx
  • 7/25/2019 Recomendaes da DGS sobre o Zika

    6/7

    Orientao n 001/2016 de 15/01/2016 atualizada a 08/02/2016 6/6

    c) Utilizar redes mosquiteiras;

    d) Ter especial ateno aos perodos do dia em que os mosquitos do gnero Aedes

    picam mais frequentemente (a meio da manh e desde o entardecer ao por do sol).

    e) Aplicar repelentes observando as instrues do fabricante, fazendo notar:

    i. Crianas e mulheres grvidas podem utilizar repelentes de insetos apenas

    mediante aconselhamento de profissional de sade;

    ii. No so recomendados para recm-nascidos com idade inferior a 3 meses;

    iii. Se tiver de utilizar protetor solar e repelente, dever aplicar primeiro o

    protetor solar e depois o repelente.

    Os viajantes provenientes de uma rea afetada que apresentem, at 28 dias aps a data de

    regresso, sintomatologia sugestiva de infeo por vrus Zika, devem contactar a Sade 24 (808 24

    24 24), referindo a viagem recente.

    8.

    Microcefalia congnita9

    A microcefalia congnita uma situao pouco comum cujas causas podem ser genticas ou

    ambientais (relacionadas com toxicidade, radiao ou infeo). Em Portugal, a microcefalia tem

    uma prevalncia estimada de 1 por 10 mil nascimentos, frequentemente/maioritariamente

    devidos a alteraes cromossmicas10.

    uma condio definida por permetro ceflico inferior a dois desvios padro para a idade

    gestacional no feto ou para a idade e o sexo no recm-nascido.

    A avaliao fetal deve ser realizada por ecografia, com confirmao da idade gestacional, da

    medio do permetro ceflico e da observao detalhada das estruturas intracranianas11. No

    recm-nascido a avaliao feita no momento do nascimento e aps 24 horas.

    No protocolo de investigao da microcefalia diagnosticada durante o perodo fetal, deve ser

    includa, entre as causas infeciosas, a pesquisa da infeo por Zika nas mulheres que viajaram de

    zonas afetadas ou que tiveram relaes sexuais com homens que viajaram de zonas afetadas.

    No necessria esta investigao no caso de no existir histria de viagem para reas afetadas.Na suspeita de infeo fetal a grvida deve ser referenciada para um centro de Diagnstico Pr

    Natal.

    Francisco George

    Diretor-Geral da Sade

    9http://www.paho.org/hq/index.php?option=com_content&view=article&id=11552&Itemid=41672&lang=en 10Dados do Registo Nacional de Anomalias Congnitas.11

    Para alm da microcefalia e das calcificaes intracranianas esto descritas outras malformaes associadas com ainfeco a ZIKA: ventriculomegalia, lisencefalia, paquigiria, artrogripose secundrias ao envolvimento central ou perifricodo sistema nervoso.

  • 7/25/2019 Recomendaes da DGS sobre o Zika

    7/7

    INSA-IM60_05 Pg. 1 de 1

    FOLHA DE INQURITO

    Hospital/Centro de sade _________________________________________________________

    Servio ________________________________ Mdico _________________________________

    Contacto telefnico ______________________ E-mail __________________________________

    Nome do doente _________________________________________________________________

    Data de nascimento __/__/____ Profisso/ocupao _____________________________________

    Dados clnicos __________________________________________________________________

    _______________________________________________________________________________

    _______________________________________________________________________________

    Data do incio dos sintomas __/__/____ Data da colheita das amostras para anlise __/__/ ______

    Teraputica anterior colheita ______________________________________________________

    Picada por insectos ou carraas ______________________________________________________

    Outras informaes epidemiolgicas _________________________________________________

    Viagens recentes:

    Pas/Regio ____________________________________________ de __/__/____ a __/__/ _____

    Vacinas recentes:

    Febre Amarela Encefalite Transmitida por Carraas Encefalite Japonesa em __/__/_____

    Outras __________________________________________________________________________

    Pedido de diagnstico laboratorial para _______________________________________________

    Testes requisitados: Amostras biolgicas:

    Pesquisa de anticorpos IgG e IgM Soro Plasma (mn. 1 ml)

    Pesquisa de cidos nucleicos (PCR, RT-PCR)Sangue total em EDTA (mn. 3 ml)

    Urina (mn. 3 ml)

    As amostras biolgicas devem ser enviadas ao INSA acondicionadas e refrigeradas a 4C,

    acompanhadas do respectivo termo de responsabilidade e folha de inqurito preenchida.