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RECREAÇÃO E QUALIDADE DE VIDA NUMA CIDADE DOS TRÓPICOS ÚMIDOS: UMA VISÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE LAZER NA CIDADE DE MANAUS-AM Autor: MOTA, Vanderlan Santos Docente da Faculdade de Educação Física da Universidade Paulista – UNIP Campus Manaus – AM/ Brasil. [email protected] [email protected]

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RECREAÇÃO E QUALIDADE DE VIDA NUMA CIDADE DOS TRÓPICOS ÚMIDOS: UMA VISÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS

DE LAZER NA CIDADE DE MANAUS-AM

Autor: MOTA, Vanderlan Santos

Docente da Faculdade de Educação Física da Universidade Paulista – UNIP Campus Manaus –

AM/ Brasil .

[email protected] [email protected]

Resumo

O lazer nos espaços urbanos e públicos na cidade de Manaus não se reduz a formas urbanas originárias de estratégias econômicas e políticas, embora o sentido desta visão, seja se, viciar o lazer. O lazer é, também, uma conquista. Nos espaços periféricos da cidade de Manaus onde há uma grande concentração populacional, o caráter de conquista dos lugares de lazer é bastante evidente. Dramaticamente e coletivamente eles são conquistados, sendo expressões da identidade irredutível dos espaços empobrecidos, da ação solitária de homens, mulheres e, mesmo das crianças, isto tudo é bastante visível, nas ruas de bairros batidos e fechados para a prática dos mais variados tipos de recreações, os bares tidos como clandestinos onde as brincadeiras de sinucas e carteados afloram e até mesmo banhos de igarapés onde na maioria das vezes os mesmos estão poluídos. No entanto, observamos que, na periferia da cidade de Manaus não há uma política pública de lazer e recreação ao ar li vre para sua população, como também, a presença de praças e logradouros públicos para a prática da mesma.

Palavras-chaves: Recreação, Cidade, Lazer, Qualidade de vida, Campos de Várzea. Abstract

The leisure in the urban and public spaces in the city of Manaus is not reduced to original urban forms of economical and politi cal strategies, although the sense of this vision, is been, the leisure to addict. The leisure is, also, a conquest. In the outlying spaces of the city of Manaus where there is a great population concentration, the character of conquest of the leisure places it is quite evident. Dramatically and collectively they are conquered, being expressions of the unyielding identity of the impoverished spaces, of the men's lonely action, women and, even of the children, this everything is quite visible, in the streets of beaten neighborhoods and closed for the practice of the most varied types of recreations, the bars had as clandestine where the games of snookers and played cards surface and even igarapés baths where most of the time the same ones are polluted. However, we observed that, in the periphery of the city of Manaus no there are a public politi cs of leisure and recreation outdoors for his/her population, as well as, the presence of squares and public public areas for the practice of the same.

Key Words: Recreation, City, Leisure, Life the quality, Floodplain the field.

Introdução

“ Olho o mapa da cidade como quem examinasse a anatomia de um corpo...” (MárioQuintana)

Com o crescimento desenfreado da população da cidade de Manaus, principalmente na década de 80 com a migração de pessoas de outros estados, como também, dos interioranos, os espaços foram sendo ocupados sem um planejamento e um ordenamento compatível com a geografia local. Em Manaus esses fatores foram bastante evidenciados no tocante à necessidade de uma mudança e aproveitamento do fator econômico e político, principalmente com a implantação da Zona Franca de Manaus e, conseqüentemente com o Pólo do Distrito Industrial.

Segundo a afirmativa de Marcelli no: “O lazer, embora esteja enraizado na economia e política, humaniza as cidades” (1996). Ele não simboliza um confronto definitivo com o cotidiano, organizado e organizador da reprodução da sociedade, ao contrário, dele faz parte, não define o pleno gozo; contudo contém o lúdico como possibili dade, um emprego do tempo, que varia segundo as disposições do tempo livre para os diferentes usuários dos espaços de lazer, que recupera usos e emoções particulares a essas classes sociais.

O lazer, mais institucionalizado, ou seja, o produzido em espaços públicos pela ação do estado, o da produção e conservação de grandes parques urbanos, por exemplo, não consegue atingir a população de baixa renda de nossa cidade, como é o caso dos cinco novos espaços criados na gestão anterior da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SEDEMA), citando o Parque Samaúma e o Mundo Novo, ambos no bairro da Cidade Nova, zona Norte, e a Ponte da Bolívia, no igarapé da Bolívia. Assim também como o Parque Encontro das Águas, no bairro de Puraquequara, zona Leste e o Parque Tarumã, na Cachoeira Alta. Estes somados aos que já existiam, tais como: o Parque do Mindu, no bairro do Parque Dez, e o Jardim Botânico, no bairro Cidade de Deus,além da reserva Adolfo Ducke, Horto Municipal Chico Mendes, na avenida André Araújo, não amenizam o problema de espaço verde para a recreação e lazer na cidade, onde em seus espaços deveriam ser implantadas pistas para caminhada, corridas, ciclovias, além de implementos fixos para ginástica.

Esses parques bem utili zados para recreação e lazer ao lar li vre, conseguiam atingir diferentes camadas sociais produzindo um encontro real entre

Essas camadas e definindo deferentes usos, tais como, lazer e noção de preservação ambiental, é onde as classes se exercitam e se divertem. É onde, para as camadas mais populares, se produzem encontros de intensa significação, tempo e espaço dos encontros de migrantes, vindos, muitas vezes da mesma região e dispersas no cotidiano das grandes cidades.

Esses espaços bem estruturados, servem também para a festa oficial e oficializada muita das vezes bem visíveis em praças e logradouros públicos de nossa cidade, onde os programas culturais promovidos pelas autoridades políticas em épocas eleitorais tornam-se bem visíveis. Mas essas praças públicas centrais na cidade servem também de lugar dos excluídos e de atividades ilegais como o tráfico de drogas, encontro de homossexuais, lugar de repouso de mendigos, lugar de arregimentação de trabalhadores desocupados, potencialmente disponíveis, portanto, momento do circuito das migrações temporárias.

A significação social desses espaços é múltipla. E cada um tem uma peculiaridade, quase

irredutível, através desses espaços, cria-se um novo ponto de vista, que não prescinde dos outros, o das estratégias políticas e econômicas: é o da prática espacial que chega ao limite de recuperar a ação e a consciência da ação e a consciência das ações individuais, como vida social. Conforme Lefebrve:” Uma certa apropriação concreta e prática... de um tempo e de um espaço, em conflito com as coações“ ( 1970 ). Metodologia

Na Amazônia, as cidades assumem características singulares. Em sua origem, o espaço urbano é construído com relativa harmonia com a natureza. São as águas dos caudalosos rios que orientam os traçados regulares das ruas, campos de várzeas e áreas de recreação e lazer, como também, é a vegetação que dá a visão panorâmica ao cenário natural do externos que trazem novas formas de urbanismo, sendo estas, em sua maioria, pouco adaptável às condições locais, mas representam, contudo a idéia de progresso e de modernidade.

Destaca-se neste estudo, o lazer, a recreação e a qualidade de vida, com uma visão do espaço urbano na cidade de Manaus, espaço esse relacionado com a intenção de recreação e lazer ao ar li vre, como também, uma visão da cidade com relação a sua ocupação territorial e sua expansão, como berço de impressionantes manifestações culturais e esportivas em contato com a natureza. Assim, como outras cidades, Manaus apresenta-se como local de concentração de pessoas e divisão de trabalho, o que possibilita a produção do espaço urbano e sua organização por meio de uma complexa rede de relações sócio-culturais, ambientais e econômicas encravadas em plena selva Amazônica.

Considerando esse contexto específico das áreas urbanas e, particular da cidade de Manaus, ressaltam-se os agravos ambientais que, inevitavelmente surgem e se desenvolvem paralelos ao crescimento das cidades. Destacam-se aí aquelas mais facilmente detectáveis por serem relativamente mais visíveis e por situarem-se diretamente em contato com a população manauara. No último censo em 2000 a população chegou a 1.405.835 habitantes, conforme dados do IBGE. Conseqüentemente a cidade vem apresentando vários problemas de ordem ambiental que refletem diretamente na qualidade de vida de seus moradores, principalmente em se tratando do planejamento desordenado da cidade.

O enfoque metodológico compreende uma visão mais ampla da recreação e do lazer na ocupação dos espaços públicos e áreas verdes, mais precisamente os espaços construídos e as áreas verdes existentes. A hipótese que direcionam o estudo, apontam a falta de planejamento urbano e a ausência de políticas públicas, voltados para o esporte, a recreação e o lazer nos espaços e logradouros públicos, como também, uma visão de uma melhor qualidade de vida do ser com o meio ambiente.

Para que tal enfoque pudesse ser estudado, tomou-se como base análise dos indicadores ambientais e recreacionais em Manaus, através de uma reflexão temporal dos processos históricos que caracterizam a ocupação e transformação de sociedade atual pela importância à saúde e ao bem estar social, por meio da recreação, do lazer e da prática desportiva em geral. Os espaços públicos (de lazer) na cidade de Manaus: emergência de novas práticas e vocações terr itor iais

No imaginário coletivo, a cidade continua ainda associada a um universo feito de asfalto, concreto, veículos, pessoas e muito barulho, em que as ruas se transformam em enormes

garagens, onde a participação do cidadão é diminuta e a população, mais apressada que outrora, corre anônima pelo meio do tráfego, sem parar.

Este é o quadro geral na maior parte das cidades do mundo e em Manaus a maior capital do norte. Em termos populacionais também não é diferente, é necessário reconhecer, no entanto, que outras cidades talvez as mais desenvolvidas, tenham uma melhor integração no seu seio e novas dimensões de humanidade, de harmonia e mesmo de convivialidade.

Deveriam ser construídos em todos os bairros ou em todas as zonas da cidade de Manaus, os espaços públicos urbanos de lazer, isto é, lugares de dinâmica cultural onde o lúdico faça ressaltar um conjunto de expressões ou rituais, sinônimos do direito a cidade e de usufruto de lugares agradáveis para viver. Lugares que ofereçam uma grande escolha de atividades e que, ao prolongarem a, o seu bairro, a sua cidade. O seu ordenamento é atualmente um dos aspectos vitais para a revitalização e a qualidade de vida no meio urbano. Estes interessam a todas as pessoas, independentemente do tempo livre e do grau de acessibili dade de cada um.

Confrontadas com o crescimento e desenvolvimento da cidade de Manaus nos últimos anos, é que nós cidadãos, pedimos respostas abertas a práticas e métodos de planejamento estratégico adaptados à vida de hoje e a organização de cidades empenhadas no desenvolvimento futuro. É preciso ter coragem de redesenhar os espaços públicos urbanos destinados aos cidadãos, de descongelar muito deles, insípidos e desajustados em pelo menos 20 ou 30 anos, de diferenciar os públicos e aceitar a diversidade das práticas recreativas ou não, tolerando as diferentes perspectivas dos utili zadores do espaço citadino.

No entanto, o que se exige é tão só o direito aos novos rituais urbanos e a qualidade de vida na cidade, como também, os antigos espaços para a recreação e o lazer nos espaços verdes da cidade, haja vista, que na maioria das vezes uma grande quantidade da população que almeja esses espaços são oriundos do interior do estado, onde o chamado futebol de várzea é muito comum, assim como os banhos nas margens dos rios e igarapés.

Em relação aos espaços públicos urbanos, os manauaras, neste início do século, querem ser mais li vres, mais responsáveis e participantes e especialmente, tal como noutras cidades, que os deixam passar da imaginação a prática, ou seja, a uma outra maneira de viver o espaço-tempo urbano com a ocupação dos parques e áreas verdes da cidade para a recreação e o lazer. Esporte, lazer e qualidade de vida

O esporte aliado à qualidade de vida é, sem dúvida, um dos grandes desafios atuais, e a responsabili dade de que essa proposição alcance seu objetivo é primeiramente nossa, dos profissionais de Educação Física. De modo um tanto simplista, o esporte tem sido mostrado como o caminho para todos aqueles que buscam uma melhor qualidade de vida. Todos os benefícios da prática esportiva eja apoiada apenas nas ciências biológicas, mas também nas ciências sociais, ambientais e humanas. Mais ainda, que essa fundamentação avança os limites da cientificidade e busque apoio também na subjetividade humana.

O lazer, a recreação e o esporte quali ficam como elemento de nossa cultura também o potencial da melhoria da qualidade de vida às nossas vidas, buscando aproximá-lo da possibili dade de aliar a prática esportiva com os ambientes naturais. Como enfatiza Costa: “O melhor desporto é aquele que cria a beleza da nossa vida. Que deixa a autenticidade interior se soltar dos espartilhos que o tolhem e amorfanham (...), que nos encaminha para o reencontro de nós com os outros” (1997).

A emoção e o sentimento podem definir um esporte que, sem dúvida alguma, aponta para uma vida plena de qualidade, segundo a afirmação de Bento:

“Convenhamos então que o melhor desporto é aquele que cria na nossa vida. Que deixa que a autenticidade interior se solte dos espartilhos que a tolhem e amorfanham do exterior. Acrescentemos a tudo isso que o melhor desporto é o que nos liberta do medo da própria sombra. Que nos encaminha para o reencontro de nós e dos outros, e nos impede de fugirmos da nossa imagem, particularmente se ela é fonte de perturbações” (2001).

Mas nem tudo são rosas em se tratando do meio ambiente com o esporte e o lazer. Na

tentativa de uma melhor qualidade de vida, o homem tem buscado a natureza como o cenário ideal para a sua prática esportiva. Em função disso uma nova gama de modalidades esportivas tem despontado. Rosado alerta que: “A emergência dessas novas modalidades esportivas junto à natureza necessitam de uma avaliação de seu impacto ambiental” (1998). Ele cita o exemplo dos desportos motorizados praticados fora das pistas convencionais, que podem causar sérios danos ambientais em funções dos elevados níveis de poluição provocados por suas máquinas. Até a prática do golfe recebeu severas críticas do autor, o qual aponta a destruição da flora e da fauna locais para a construção dos courts e a necessidade do uso massivo de pesticidas para manter as condições ideais dos campos.

A recreação e o lazer em harmonia com a ecologia, meio ambiente, esporte e qualidade de vida, trabalham em comum acordo para propor uma prática esportiva que ao mesmo tempo em que o esportista se beneficie da natureza, busque também preservá-la. Mas isso só será possível se, na tentativa de preservarmos a natureza, não condenemos o homem a viver fora dela.

Se, por um lado, a preservação da natureza nos aproxima, de um conceito mais amplo de ecologia, por outro, a prática esportiva nos traz para um âmbito mais específico, a ecologia do desenvolvimento humano. Nessa visão, o homem interage com a natureza nas bases de um equilíbrio dinâmico. Se for necessária a ampliação dos espaços para a pratica de uma atividade física saudável, faz-se também indispensável à reconstrução/recuperação dos espaços danificados/ agredidos que já não tem utili dade para a prática desportiva.

Devemos resgatar a noção de que a qualidade de vida através do esporte não depende exclusivamente de qualidade das ralações interpessoais estabelecidas entre os praticantes da relevância que a prática assume para eles e das expectativas impregnadas nos papéis desempenhados por todos as pessoas envolvidas. Ao lado das questões: Onde praticar? E o que praticar? Devemos acrescentar com quem praticar? E como praticar? Ao escolher nossos parceiros de jogo/esporte, recreação/lazer, devemos investir na reciprocidade das relações interpessoais, do equilíbrio de poder na tomada de decisões e, por último, mas não menos importante, na afetividade. Se isso acontecer, estamos assegurando uma mediação ecológica para o entrejogo, esporte e qualidade de vida com uma visão de festividade.

Prazer e contradição: aspectos da constituição segregada dos terr itór ios de lazer

Não há dúvidas de que a recreação tem-se projetado como uma das mais promissoras atividades sociais do atual momento histórico. Tal fato é revelado não somente pelas gigantescas somas financeiras acumuladas Poe esse setor produtivo, mas sobretudo pela crescente introdução do lazer na vida das pessoas, que segundo Rodrigues afirma: “Constitui uma estratégia de criação de uma nova necessidade social, incorporada cada vez mais artifi cialmente ao rol das necessidades vitais das sociedades” (1997:26).

Não se sabe ao certo quando a recreação começou a fazer parte da vida das pessoas

como uma atividade planejada; ao que parece, isto se deu já na antigüidade, quando o tempo de descanso for percebido como uma necessidade social, momento em que algumas atividades destinadas ao repouso, ao prazer e a reposição das energias físicas começaram a se projetar. A esse respeito, Yurgel (1983:05) chegou a afirmar: “Que a conquista do tempo livre, para o homem primitivo, perde-se no fundo da história da humanidade, em seus pormenores” (1983:05).

O tempo de não–trabalho pode ser social e individualmente preenchido por várias atividades, dentre elas o lazer como sinônimo de recreação.

Para fins de análise, optou-se por considerar a palavra lazer como expressão das atividades de diversão. Desta forma o tempo livre, ao contrário das proposições de Yurgel (1983), não se pode ser entendido como sinônimo de lazer, pois o tempo da religião, o da satisfação das necessidades fisiológicas, o da família, entre outros exemplos, são apenas dimensões desse tempo livre, que pode ocasionalmente vir a ser preenchido com as práticas recreativas, sob os mais variados pretextos: repouso, diversão, socialização de experiências, competições, entre muitos outros.

No entanto, uma das mais importantes discussões acerca das implicações do uso recreacional do tempo livre, mostrando que, mesmo no momento de descanso, o trabalhador tem seu tempo apropriado pelo modo de produção capitalista vigente, por meio de inúmeras estratégias de Marketing, que tentam levá-lo ao lazer consumista como forma de evadir-se e alcançar uma foram melhor de viver.

Segundo Rodrigues: “Hoje se dá grande importância ao lazer, como fruto da ampliação do tempo de ócio, que vem a ser um fenômeno da sociedade contemporânea em particular das sociedades industriais do pós-guerra” (1997:06).

Assim os indivíduos vivenciam a ilusão da vida privada, quando na verdade tem seus hábitos e necessidades padronizadas pelas grandes estruturas responsáveis pela reprodução do capital. Ir ao barzinho, assistir ao novo lançamento de filme no cinema, passear no shopping, ou até mesmo ir a praia ou fazer uma viagem ao interior do estado em barcos regionais, formam-se atividades necessárias para o desestressamento, tão vitais quanto à própria alimentação. Os espaços de lazer são definidos, e é para esses oásis de felicidade que as pessoas se dirigem durante o tempo de descanso, para fazerem exatamente o que tantas outras fazem, lógico que, com um gasto maior.

O tempo de folga torna-se um privilégio diário de imitação coletiva. Tudo meticulosamente produzido por empresas e instituições que procuram a cada instante tornar a vida privada uma extensão da vida social, principalmente nos shoppings da cidade: Amazonas, São José, Cecomiz e muitos outros de menor expressão. No caso, do Cecomiz, localizado no Distrito Industrial, há um dado interessante, as festas são realizadas para os industriários nas sextas ou nas vésperas dos feriados, regados com muito forró, cerveja e boi-bumbá, ou seja, direcionando o industriário a passar com sua rota pelo shopping. Não só o direcionamento do lazer ocorre nesses espaços, tempos também, os grêmios esportivos nas fábricas que ocupam o trabalhador nesse caso, o mais freqüente do sexo masculino no seu tempo livre.

Daí uma das grandes razões para se resgatar as reflexões teóricas acerca do cotidiano, pois tudo isso faz parte das ditas macro estruturas, tão discutidas nas obras destinadas ao estudo dessa categoria de análise de reprodução do capital.

A esse respeito, vale a pena trabalhar a idéia de cotidiano a partir de inúmeras visões,

mostrando o quanto as pesquisas voltadas para o estudo do lazer, em espaços ao dedicados aos espaços públicos, que a cada era passa a ser privado, se equivocam ao utili zarem inadequadamente esse conceito. Sob o ponto de vista mercadológico, vale ressaltar que a atividade de lazer tem assumido tanto para a administração pública quanto para a atividade empresarial privada: é uma alternativa promissora de geração de emprego para a primeira, e de renda para ambas, sempre sobre o rótulo do Marketing recreacional, ou da Indústria sem chaminés.

Os territórios destinados ao lazer segregado têm implícito e as suas condições de entrada e permanecia e ofereceu múltiplas oportunidades de busca da identidade perdida, embora não se possa dizer que esta seja alcançada em sua plenitude, trata-se, na maioria das vezes, de paleativos para uma situação angustiante vivida em um contexto maior.

Os espaços destinados ao lazer oferecem oportunidades múltiplas de segregação específicas aos grupos minoritários, mas em contrapartida, reforçam sua segregação aos territórios nos quais sua presença é aceita sem, reservas. Dentro desses grupos podemos ressaltar homossexuais, negros, mulheres sem companheiros, idosos, imigrantes, dentre outros. Obviamente que estamos nos referindo a composições de grupos em sua generosidade, admitindo-se a concorrência dos espaços, ainda que poucos, que oferecem receptividade independentemente da condição minoritária e majoritária.

Os espaços públicos de lazer, como ruas, bares, o próprio local de trabalho, áreas verdes, centros culturais, dentre outros, tem a propriedade de possibilit ar a participação social lúdica, conforme Camargo:

“O lazer abre um campo educativo não para se aprender coisas, mas se executar equili bradamente as possibili dades de participação social lúdica. A esse processo se denomina, educação não-formal ou animação sócio-cultural. Seu objetivo é mostrar que o exercício de atividades voluntárias, desinteressadas, prazerosas e liberatórias pode ser o momento para uma abertura a uma vida cultural intensa, diversificada e equili brada com as obrigações profissionais, familiares, religiosas e políticas” (1992:75).

Faz-se necessário, conforme proposto por Yurgel (1983:13), a redescoberta de forma de lazer assimiláveis pela cultura nacional, não somente a título de humanização das cidades e compromisso com a qualidade de vida da população, mas ainda para a ampliação e democratização dos territórios, de tal forma que ofereçam oportunidades de efetivo encontro com o outro e de permanente construção de uma sociedade mais justa, politi camente consciente e solidária, ao invés de solitária.

No entanto, a sociedade urbano-industrial, como é o caso de Manaus, com seu Pólo Industrial encravado em plena selva Amazônica, inadvertidamente foi tomado por uma necessidade inicial e temporária por bens e serviços generalizados como uma possibili dade de modificação do tempo indefinido. Esses produtos e serviços em primeiro momento, satisfazeram necessidades básicas imediatas comuns e um olhar mais atento poderia ter detectado indícios de que a padronização de comportamentos não se daria indefinidamente. Incentivada principalmente pelos meios de comunicação, dispostos a produzir uma linguagem comum destinada a uma

população que vive problemas comuns, como a poluição ambiental, a violência, os problemas no trânsito, o êxodo rural, dentre outros problemas sociais compartilhados, a heterogeneidade, a diversidade dos grupos sociais foi desconsiderada.

As políticas públicas e privadas destinadas à prestação de serviços de lazer em Manaus, numa cidade dos trópicos úmidos, defrontam-se com a necessidade de se rever à proposição de que a base de vida social esteja na aquiescência em relação a valores e comportamentos típicos.

A disposição para rever os critérios de normalidade social propõe uma nova concentração de cidadania, que defende não somente a idéia de que se resguardam as especificidades, como também, que se proporcionem a participação social, a troca de experiências e o conseqüente enriquecimento cultural, por meio de uma vida plena de significado que poderá ser oferecido pela convivência aceitação e valorização da diversidade.

Os espaços públicos de lazer perdidos

As condições geográficas na Amazônia determinam, pelo menos em sua origem, as

formas de produção do espaço. Foi em torno de extensa malha de rios que os primeiros centros urbanos começaram a se delinear, como na afirmação de Silva: “ Os rios são os centros da vida amazônica e é em suas margens que se realizam o processo econômico e cultural da atividade humana no vale” (1998).

E pode-se entender a importância desta relação, conforme Loureiro: “ A vida na beira (do rio) corresponde uma profunda articulação com a natureza, sendo a água o elemento definidor da cultura dessas populações ribeirinhas” (1992).

E esta cultura acaba por sofrer as interferências dos sistemas políticos e econômicos que se implantaram na Amazônia passando pela áurea época da borracha e grandes construções arquitetônicas na época dos ingleses até a implementação da Zona Franca de Manaus, onde os espaços de lazer e recreação ao ar li vre foram sendo reordenados e ocupados na maioria das vezes sem a devida orientação.

A estrutura urbana na década de 60 e as relações funcionais de trabalho com a implantação da Zona Franca de Manaus refletiram diretamente na expansão da cidade no decorrer das décadas vindouras, como também, pelos impactos causados pela política de integração nacional oriunda do governo federal que diretamente adotaram as diretrizes estaduais de planejamento e a falta de autonomia administrativa do município imposta pelo regime militar, culminando com a intervenção no município, como também as áreas de fronteiras consideradas de Segurança Nacional.

Com a implantação da Zona Franca, Manaus teve um aumento na fonte de renda do município, havendo uma melhora significante em alguns parâmetros sociais, ambientais e estruturais.

Do mesmo modo, prevaleceu na capital a ampliação de seu equipamento urbano. Seus governantes desperdiçavam a oportunidade de reverter o que, para qualquer administrador previdente, era previsível e capaz de ter sido evitado, o caos social. Fachada e vitrine são sinônimas de uma Manaus cujos governantes, com a mentalidade do ontem, fizeram existir hoje para se perpetuarem no poder amanhã.

A cidade foi crescendo e os espaços de recreação e lazer da cidade em épocas passadas, foram sendo desativados como ocorreram com balneários públicos, tais como: balneário do Parque 10, Tarumã e Ponte da Bolívia além dos mais variados campos de várzeas para a prática

de futebol. Tivemos também a demolição do Velódromo, local muito utili zado para corridas ciclísticas, além da desativação do Parque Amazonense, onde ocorriam as corridas de cavalos e jogos de futebol, também as regatas no Porto de Manaus, os campos do General Osório e General Carneiro e as festividades juninas que ocorriam em praças públicas.

Manaus, pelas características que possui de uma cidade encravada no meio da floresta e à margem de um dos maiores rios do mundo, cortada por dezenas de igarapés, possuía o singular hábito dos chamados banhos de igarapés, herdado dos seus ancestrais longínquos, talvez dos seus primitivos habitantes índios que tinham o costume de banhar-se muitas vezes por dia nas águas dos igarapés das suas aldeias.

Muitos desses balneários ficaram famosos pelas festas que faziam parte da cultura manauara. Dentre os banhos públicos de Manaus, um dos que alcançaram maior glória, principalmente durante a década de 40, foi o Parque 10 de Novembro, na chamada estrada do Mindú, que o povo chamava estrada do Parque 10, conforme Andrade: “ Esse maravilhoso parque foi construído pelo então prefeito municipal de Manaus, Antonio Maia, durante a ditadura de Getúlio Vargas, na interventoria de Álvaro Maia” (1984).

A piscina do Parque 10 tinha mais de 100 metros de comprimento por vinte de largura e era feita das águas represadas do igarapé do Mindú. Ali , todos os domingos e feriados, e mesmo nos dias úteis, pois o parque era permanentemente aberto ao público, o seu imenso bosque sempre muito bem cuidado, enchia-se de gente de todos níveis sociais que iam se refrescar, fazer piqueniques, descansar e mesmo dançar nos imensos salões de confortável pavilhão que tinha um magnífico e farto restaurante de comidas regionais, além de alguns campos de futebol de areia que a população utili zam para sua recreação.

Outro balneário muito popular na cidade era a Ponte da Bolívia, embora com as suas águas muito mais bonitas e mais puras, naquela época era menos procurado pela população por falta de transporte coletivo. Não havia ônibus suficiente e os que estavam trafegando não queriam levar ninguém, porque a estrada não era asfaltada, de péssimas condições, cheia de muitos buracos e sem nenhuma garantia.

O balneário do Tarumã sempre foi um logradouro público de muita influência, mesmo localizado em ponto bastante distante da cidade. Por volta de 1960, o igarapé do Tarumã possuía dois pavilhões de palhas arredondados, sob as quais as famílias podiam se abrigar durante os piqueniques. Hoje além de estar totalmente poluído, o igarapé foi totalmente depredado com o cortar das árvores magníficas que rodeavam as margens, como também, retiraram com bombas todas as pedras que davam o toque de verdadeira beleza, neste balneário. As partidas de futebol não eram constantes haja vista, o tipo de solo rochoso desta área. No entanto, em Manaus, os igarapés não são apenas natureza.Toda sociedade, toda cultura cria, inventa, institui uma determinada idéia do que seja a natureza. Nesse sentido, o conceito de natureza não é natural, sendo na verdade criado e instituído pelos homens. Partindo desse principio, os igarapés da cidade foram transformados em esgotos, é a própria criação/invenção, destruição do que é a natureza dos igarapés em Manaus.

Para Valle (1999:76)

“ Entender o espaço urbano construído a partir do aterro dos igarapés do centro de Manaus, nos vários documentos pesquisados, significou caminhar por confusas e tortuosas ruas de aterros e desastres, pelas formações de pântanos nas laterais das ruas que iam surgindo e por todos os problemas causados pelos projetos europeizados que foram sendo implantados na cidade” .

Projetos europeus executados por europeus em uma cidade dos trópicos úmidos, numa tentativa constante de excluir da cidade os igarapés, obstáculos ao crescimento e ao acesso as novas áreas a serem ocupadas, como temos o caso do igarapé do 40 e o amarelinho em Educandos.

Com o aterro dos igarapés e a expansão da cidade, pois primeiramente o núcleo populacional encontrava-se situada próxima dos igarapés, os famosos campos de várzeas foram também sendo aterrados e essas áreas de lazer da população seguiram o embelezamento urbano dos governantes, não obedecendo aos objetivos que na essência, nada tinham a ver com a situação concreta da parcela da população desprovida de recursos.

Não só os balneários públicos proporcionavam lazer na cidade, havia também uma grande festividade no mês de junho com as festas juninas, como também, as festas religiosas em praças públicas, além das atividades desportivas nos campos do General Osório, General Carneiro, Parque Amazonense, Velódromo, regatas no cais do porto e demais campos de várzea da cidade.

Em épocas passadas, anos 60 e 70, durante todo o mês de maio, nos bairros adjacentes à cidade de Manaus, ouvia-se pela noite adentro o bater dos tambores ritmando as toadas dos vaqueiros que se preparavam para os grandes desfiles das noites de junho, quando os bois deixavam seus currais com seus brincantes para se apresentar pelas ruas de Manaus. Entre o grupo de brincantes e a multidão que os acompanhavam juntamente com o balé dos tambores compridos das charangas, das cuícas, dos pandeiros e das matracas, num ritmo cadenciado, formando com as toadas, as músicas características do boi-bumbá, enchendo de alegria as comunidades brincantes, conforme Andrade (1984: 47)

“ Antigamente, isto é, antes da instituição do festival folclórico de Manaus, os bois, depois de se exibirem um pouco nos seus cercados, vadeavam noite adentro com seu séqüito colorido de personagens juninos de vaqueiros, amos, índios e o trio indispensável, do Pai Francisco, Catirina e Cazumbá” .

Com o decorrer das décadas, mais precisamente nos anos 80, os bois e garrotes passaram

a se apresentar na praça Francisco Pereira da Silva mais conhecida como bola da SUFRAMA, localizada na entrada do distrito industrial, para homenagear o deputado Francisco Pereira da Silva, o Pereirinha, poeta, elaborador e articulador do projeto que criou a Zona Franca de Manaus. Nesta praça esses festivais tiveram continuidade e nos dias atuais, ocorrem ,no chamado Centro de Convenções de Manaus ou Sambódromo.

Outra área de lazer importante da cidade foi o Velódromo Álvaro Maia local onde ocorriam as chamadas corridas ciclísticas de Manaus nos finais de semana, era o local de maior festividade da cidade e ponto de encontro das classes sociais mais favorecidas. O velódromo localizava-se no bairro da Cachoeirinha, entre a rua Borba e a rua Urucará, cortada pela avenida Costa e Silva e rua Santa Isabel.

Os campos oficiais de futebol da cidade de Manaus eram praticamente o do General Carneiro e General Osório, além de alguns campos de várzea, que no decorrer do ano, ficavam impossibilit ados de se jogar devido às enchentes no meio do ano, mais precisamente entre os meses de maio e julho. Bem mais tarde foi construído o Parque Amazonense, como também, o Estádio Ismael Benigno, popularmente conhecido como Estádio da Colina, além do Estádio Vivaldo Lima.

Em Manaus, os campos de várzeas, eram simplesmente aqueles que se jogavam futebol

nos finais da tarde com os amigos, as chamadas peladas. O futebol na cidade de Manaus deixava de ser de várzea e passava a ser na várzea, devido aos igarapés que cortavam a cidade e até hoje cortam, mas com elevado índice de poluição. Os chamados peladeiros que moravam e moram às suas margens, aproveitavam o período de estiagem, para construírem verdadeiros campos de futebol para sua comunidade. Tudo motivado pela mais intensa vontade de praticar o esporte preferido, sem ter que gastar dinheiro em sua construção.

Outro local muito utili zado pela população de Manaus era o campo de futebol do Parque Amazonense, localizado no Beco do Macedo, ficando numa vasta área do bairro da Vila Municipal, hoje Adrianópolis, com entrada principal pela rua Belém. Mais tarde parte dessa área foi ocupada e transformada em bairro. O terreno pertenceu a um cidadão português e depois foi doado à Maçonaria, que voltou a por em funcionamento um hipódromo e um campo de futebol, onde ocorriam os grandes clássicos do futebol Amazonense, tais como : Rio Negro e Nacional, Rodoviário e Américo, Nacional e Fast Clube e Auto Sporte e Olímpico Clube. Segundo Zamith (1999:37)

“ A partir de 1918, no Parque Amazonense, foi disputado o campeonato amazonense amador. Em seguida, também foi construído o Campo do Luso, também conhecido como Prado, havia corr idas de cavalo com regularidade aos domingos e boa organização, pelo menos até o final de 1930. A largada das corr idas era em frente às arquibancadas do estádio e tinha um percurso que formava toda a área do hoje bairro N.S. das Graças, antigo Beco do Macedo” .

Outra modalidade desportiva utili zada como lazer da população era o remo, que

ocorriam no cais do porto de Manaus nos idos de 1920, hoje conhecido como Roadway. As grandes regatas desapareceram e a reestruturação do remo em nosso estado começou em 1999, quando foi criada a Federação Amazonense de Remo (FAR). A entidade conseguiu organizar um calendário e massificar o esporte, que foi conseguida com a escolinha de remo, que funcionou na sede náutica da entidade, localizada na estrada da Ponta Negra. Outro projeto ocorre na zona leste da cidade, mas precisamente no lago do Puraquequara, onde crianças, adolescentes e jovens da rede municipal de ensino praticam assiduamente o remo. Uma nova visão sobre as políticas públicas de lazer para Manaus

As atividades de lazer transcendem, em muito, o espaço de intervenção do poder público e podem manifestar-se além do mercado e de seus fluxos financeiros.

Pensar o lazer como busca pessoal do prazer e da melhora da qualidade de vida nesses espaços públicos, na perspectiva aqui desenvolvida, objetiva construir para o debate e, principalmente, auxili ar a discussão política a respeito da natureza da intervenção de todos os cidadãos nesses espaços públicos desde sua construção até a utili zação.

A vida política por sua vez, é muito mais ampla e complexa do que as políticas públicas. Isto não quer dizer, contudo, que a ação do Estado seja desprezível ou sem importância. Muito pelo contrário; o Estado é, sem dúvida um espaço privilegiado de intervenção, tanto no sentido progressista e transformador, como desde uma perspectiva conservadora. O que importa destacar é que as políticas públicas se inserem num espaço específico, com características próprias e que não se deve esperar delas nem mais, nem menos do que elas podem dar.

Uma política de lazer adequada pode incentivar a integração do cidadão aos seus grupos

de referência mais próximos, como os vizinhos de rua ou bairro, freqüentando associações de cunho cultural e esportivo. Nos dias de hoje, quando nenhum parece capaz, ou disposto a arcar sozinho com suas responsabili dades sociais, esta rede de solidariedade e amizade pode ser utili zada em programas de mutirão e auxílio mútuo, nos quais a população, com o apoio do poder público, procura resolver seus problemas mais imediatos por meio de uma ação de natureza auto-gestionária. Grande parte das atividades hoje denominadas terceiro setor usam esse tipo de estratégia. Os exemplos vão desde cooperativas de desempregados em busca do sustento familiar, bancos do povo, até iniciativas na área de educação, habitação, saúde, etc, e porque não utili zar nas áreas públicas voltadas para o esporte e o lazer?

Tudo isso serve para ilustrar que não existem soluções simples. Não há atalhos. Uma política direcionada à busca da melhoria da qualidade de vida da população deve articular todas as instâncias sociais, num esforço conjunto e conseqüente, objetivando resultados em longo prazo, num modelo de probidade administrativa e respeito ao bem público, o que parece ainda mais difícil .

Qualquer política pública de lazer que se pense implantar, não foge a essa regra, contudo é pouco ilustrativo, além de preceituoso, falar em lazer para pobres ou de pobres. Há, evidentemente, formas de lazer mais caras, mais baratas ou até gratuitas. Porém, estas formas de lazer não são necessariamente excludentes desde outros pontos de vista que não o econômico. Da mesma forma, alternativas de lazer poderiam ser classificadas a partir de outros critérios: o esporte exige aptidão física e, em geral, um grupo social, desfrutar de uma palestra sobre arte só é possível se houver domínio de uma série de códigos culturais. Todas essas alternativas em maior ou menor grau, pressupõem o aprendizado no sentido do esforço continuado e sofrimento conjuntural que caracteriza, a busca do prazer nas atividades de lazer.

Numa situação como a nossa, a política pública de lazer necessita priorizar a suspensão da pobreza e a preparação para o exercício da cidadania, e não trabalhar com projetos paliativos temporários. Esses objetivos é óbvio, não dependem apenas do desenvolvimento e incentivo de políticas de lazer abrangentes, mais tão poucos poderão ser alcançados se considerar essa dimensão. Segundo a afirmação de Gutierrez (2001:117)

“ A questão de uma política pública voltada aos interesses da maioria da população, portanto, necessita de uma articulação entre os diferentes campos de atuação do Estado, de forma orgânica e coerente para se obter o melhor resultado possível, apesar de qualquer restrição orçamentária existente” .

Isto significa dizer que, em primeiro lugar, não existe situação ideal de orçamento, ou

seja, os gastos sociais por sua própria natureza, jogam a curva da demanda sistematicamente para cima e, segundo, os resultados dos investimentos na área social sempre serão melhores quando considerarem a inter-relação das diferentes áreas de atuação, potencializando a sinergia possível do processo.

Trata-se, portanto, de deixar o mais claro possível a falsa natureza da visão que procura priorizar uma área do social em detrimento de outras, desmistificando assim uma análise de etapas, da sociedade. Nesse sentido, as políticas referentes ao lazer da população devem ser vistas em pé de igualdade com as demais áreas de atuação do Estado, de forma que por meio de uma articulação eficiente se chegue a um resultado ótimo, dentro das limitações orçamentárias

existentes. Ao contrário quando se subestima o alcance das políticas de lazer, termina-se por limitar os resultados das ações nas outras áreas, como educação, saúde, segurança, emprego, etc.

Finalmente, convém destacar sempre que uma política eficiente não pode ser fruto de um planejamento tecnocrático, mas dependerá fundamentalmente de uma discussão ampla e democrática com a população interessada. Entendendo democrático, no amplo sentido da palavra, chamada participação dos mais variados setores populares e que sejam acompanhadas de ações concretas que permitam a manifestação em condições de igualdade com o acesso prévio à educação e a instrução à prática do debate e o livre trânsito de informações.

Considerações Finais

Durante muitos anos alimentou-se a idéia de que o desenvolvimento técnico permitiria aboli r os limites naturais como conseqüência, melhorar a qualidade de vida das pessoas. Não podemos deixar de reconhecer os benefícios à humanidade trazidos pelo progresso das ciências e da tecnologia. Vale lembrar as elevadas e inaceitáveis taxas de mortalidades infantil séculos atrás e a existência de doenças incuráveis, como a tuberculose e a lepra. Aos 30 anos de idade, as pessoas eram desdentadas, velhas, curvas e muito mais vulneráveis ̀ as epidemias.

Não existia sistema de transporte capaz de ajudar a distribuição de alimentos em lugares distintos. A infra-estrutura nem mesmo nas grades cidades. Isso sem contar que o mundo feudal foi palco de grande desequilíbrio com a natureza. A madeira era matéria-prima de embarcações, máquinas simples, habitações e construções, alem de consistir na única fonte de calor até o século XIX.

No que diz respeito à agressão a natureza, as florestas também foram sendo agredidas pela grande expansão imobili ária das cidades, principalmente a Floresta Tropical Amazônica, como foi o caso da cidade de Manaus no século passado, até então, as florestas eram submetidas a um processo de devastação severa, que culminou nos poucos espaços verdes na cidade na tão chamada Belle Époque.

Quanto à matança dos animais, até a metade do século XIX, os óleos que serviam para iluminar casas e ruas provinha de animais, que foram levados quase que a sua extinção.

Isolados, colocando em risco toda a biosfera. Como falar da qualidade de vida, da recreação e do lazer na cidade de Manaus sem considerar essas questões, sem destacar a importância do meio ambiente e sem reconhecer que há um limite para a vida, em pleno Pólo Industrial encravado na selva Amazônica?

No entanto, a cidade de Manaus retrata na atual apresentação de seu espaço urbano as situações específicas que marcavam seu crescimento ao longo de várias décadas, desde a construção da cidade pelos bares passando pelos ingleses até os dias atuais. Estas foram sendo moldadas dentro de um contexto em que foi fator predominante a ausência de mecanismo de planejamento urbano que pudesse atenuar os impactos negativos oriundos do acelerado processo de urbanização que, em períodos relativamente curtos, transformou a natureza. Essa transformação, não é apenas de natureza natural, mas também, dos hábitos e dos costumes. Então, destaca-se que o processo de ocupação do espaço urbano, produziu-se a partir de um modelo econômico que culminou com a decadência ambiental desses espaços e do ecossistema urbano em que se implantou, passando pelo período áureo da borracha até a implantação do Pólo Industrial da Zona Franca de Manaus. Portanto, para a afirmação de recreação e do lazer nos espaços públicos em Manaus como um campo em que se exercitam certas posturas e silenciam-se outras, medem-se os movimentos e a energia física gasta. Consulta-se o corpo para conhecer seus verdadeiros atributos e falhas e a

partir dessa preocupação do homem para com seu próprio corpo durante o tempo livre, em que se pode compreender a proli feração do lúdico. Ludicidade esta que pode ocupar os espaços destinados exclusivamente a um tipo de lazer, em que cada homem deve auto superar-se a todo instante através das caminhadas, Cooper, ginástica e as peladas nos campos de várzeas, além dos banhos nos rios e igarapés, como também, na vivência das recreações e das festividades e na insistência do uso de pelo menos uma parte do tempo livre com exercícios físicos, efeitos desse processo de busca de um verdadeiro lazer e do exercício de um poder polivalente, que age diretamente no corpo dos indivíduos, através de uma melhor qualidade de vida e do ato recreacional. Referências Bibliográficas ANDRADE, Moacir.1984. Manaus: Ruas Fachadas e Varandas. Manaus: Humberto Calderaro. COSTA, I.P.1997. Meio Ambiente e Desporto: uma perspectiva internacional. Porto: Faculdade de Ciências do Desporto e da Educação Física da Universidade do Porto. BENTO, J. O. 2001. et al. Da Educação Física ao Alto Rendimento. Funchal: Edição O Desporto Madeira. CAMARGO,L.O.I.1992. O que é lazer. 3 ed. São Paulo: Brasili ense. DUMAZEDIER, J. 2000. Lazer e Cultura Popular. 3 ed. São Paulo: Perspectiva. LEFEBVRE, H. 1970. La Revolucion Urbaine. Paris: Gallimard. LOUREIRO, Violeta Refkalesfky. 1992. Amazônia: Estado, Homem, Natureza. Belém: CEJUP. MARCELLINO, N. C. 1996. Políticas Públicas Setoriais de Lazer: O Papel das Prefeituras.Campinas, São Paulo: Autores Associados. ________________ 2002. Estudos do Lazer: Uma Introdução (1950). 3 ed.Campinas,São Paulo : Autores Associados. ________________ 2001. Lazer e Esportes: Políticas Públicas. 2 ed. Campinas,São Paulo :

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